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A CONCEPÇÃO DA GESTÃO ESCOLAR NA PERSPECTIVA DAS
RELAÇÕES DEMOCRÁTICAS E SUAS CONTRIBUIÇÕES NA
CONSTRUÇÃO DE UMA ESCOLA MELHOR
Autora: Rita de Cássia Cordeiro Augusto Pozza1
[email protected] Orientadora: Ms. Clarice Schneider Linhares2
Resumo
A gestão democrática defendida como prática a ser efetivada nas unidades escolares com objetivos transformadores, deve garantir vivências de trabalho coletivo, e as instituições educacionais neste contexto, caracterizam-se, como espaço privilegiado por oferecer o ensino, como um bem público. A instituição escolar constitui-se numa prática educativa em que seus membros, a partir da cultura organizacional existente, podem modificá-la, aprimorá-la, ou construir cooperativamente, uma escola que atenda aos interesses da comunidade escolar. Neste sentido, a implantação de práticas alternativas de organização e gestão como promover a aproximação da escola com as famílias, tornar melhores as relações entre os sujeitos envolvidos no processo educativo, poderão impulsionar ao cumprimento efetivo da tarefa precípua da escola: a qualidade dos processos de ensino e aprendizagem para todos os alunos. A gestão da educação tem sua razão de ser, na garantia do processo de formação humana, o qual possibilita ao educando crescer através da escola e, tornar-se mais humano na sociedade em que está inserido. Entende-se nesta perspectiva, a gestão democrática como a forma possível de aperfeiçoamento da convivência humana, que deve aprender a conhecer, reconhecer, e lidar com as diferenças. Este artigo coloca em discussão os possíveis avanços na construção de uma organização escolar pautada na democratização das relações escolares e na mobilização dos sujeitos concretos, para uma ação conjunta pela emancipação humana e social. Assim, sustenta-se na concepção que inspira a convivência humana a ser mediada por uma “veia democrática”, que precisa ser estimulada nos meios escolares através do exercício coletivo da participação, para que se possa avançar para o alargamento das relações da vida em sociedade, e ser valorizada como prática política e pedagógica.
Palavras-chave: Gestão Democrática; Participação; Diálogo.
1Graduada em Educação Física - UFPR e Pós-Graduada em Gestão da Educação - PUC-PR, participante do Programa de Desenvolvimento Educacional - PDE, professora da Rede Estadual de Ensino do Estado do Paraná.2 Graduada em Pedagogia – UFPR, mestrado em Educação- UNICAMP – Campinas, professora da UNICENTRO – Universidade Estadual do Centro-Oeste do Paraná, Guarapuava – PR.
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Abstract
The democratic governance held as a practice to be conducted in school units with altering goals, must ensure collective work experiences. In this context, educational institutions are qualified as a privileged space for offering education as a public asset. The educational institution is an educational practice in which its members, from an existent organizational structure, can modify it, improve it or create, in cooperation, a school that serves the interests of the community. In this sense, the implementation of alternative practices of organization and governance such as to promote the involvement of the school and families, to make the relation of those involved in the learning process better may result in the effective achievement of the school task: the quality of the teaching and learning processes for all the students. The governance of the education has a reason in itself, it guarantees the human formation process, which enables the learner to grow through school and become more human in the society in which he or she is inserted. Under this perspective, democratic governance is understood as a possible instrument of improving human coexistence, which must learn to know, to recognize and to deal with differences. This article raises the discussion of possible advances in the implementation of a school organization based in the democratization of school relations and in the mobilization of subjects for a joint action in favor of the social and human emancipation. Therefore, this study is based in a design that inspires human coexistence to be mediated by a "democratic vein", which needs to be stimulated in the school environment through a collective exercise of participation, so that we can move forward to the enlargement of relations of life in society, and be valued as a political and pedagogic practice.
Key-words: Democratic governance; participation; dialogue.
1 Introdução
O presente artigo tem como tema central a Gestão Democrática na
perspectiva da democratização das relações no interior das escolas apresentando-
se como eixo norteador de todo o desenvolvimento do trabalho elaborado, com o
intuito de alertar para as contradições e elementos que emperram a construção de
uma cultura democrática no âmbito escolar.
3
A escola é o espaço ideal para promover a interação social, para o
desenvolvimento de práticas participativas e democráticas, indispensáveis à
formação de cidadãos, as quais possibilitarão aos sujeitos a transformação de sua
história e consequentemente da sociedade. Neste sentido, o objetivo macro deste
trabalho de pesquisa, tem base no fortalecimento do papel do gestor democrático,
legítimo representante da comunidade escolar e a ampliação de espaços de
participação para os sujeitos nela envolvidos. A tentativa de romper com a visão
fragmentada do trabalho escolar empenham-se na proposta de que a escola seja
dotada de uma estrutura organizacional que favoreça a construção do trabalho
coletivo. O enfoque de uma nova politização dos espaços educativos concebe-os
como espaços de convivência, incentivando a participação de todos nas decisões a
serem tomadas, democratizando-as de forma consciente, apontando para a
viabilidade de práticas que favoreçam as relações sociais. Com isso fortalece o
papel dos colegiados na gestão escolar, cujos múltiplos determinantes promovem a
real participação, possibilitando uma concepção de gestão a qual busca a
democratização das relações estabelecidas no interior das escolas, determinada
pela melhoria na organização do trabalho pedagógico e da gestão escolar. O
trabalho de pesquisa tem como finalidade contribuir para a construção de uma
escola democrática compreendida neste contexto, como espaço de convivência
social, fundamentada pela ética, e dirigida por uma ação coletivo-política, no sentido
da organização de um bem público e da construção de um projeto educacional de
qualidade desenvolvido pela instituição sob a perspectiva democrática.
No entanto, para tal, a escola necessita organizar-se democraticamente
mantendo-se atrelada aos interesses da comunidade escolar. O desconhecimento
dos condicionantes institucionais inerentes à função, afeta diretamente a gestão e as
relações de trabalho, restringindo o direito de participação dos sujeitos implicados no
processo educativo.
Os gestores escolares, legítimos representantes da comunidade escolar,
professores eleitos pelo voto, são chamados subitamente a ocupar um cargo que vai
além da natureza pedagógica de sua função docente.
A eleição direta nas escolas indicada como mecanismo democrático, por si
só não pode garantir a efetivação de uma gestão essencialmente democrática,
baseada no envolvimento e na participação da comunidade escolar nos processos
de tomadas de decisões das escolas.
4
O movimento que presenciamos nas escolas até os dias de hoje, são
dinâmicas de relações verticalizadas, baseadas na tradição autoritária e
centralizadora de gestão, sendo ignorada a natureza da res publica, a qual exige
transparência nas ações e decisões e a real possibilidade de interferência e
participação coletiva, condições básicas para a construção da democracia na
perspectiva do controle social.
A educação para a cidadania não pressupõe afinal, o respeito à vontade
coletiva e a valorização da sabedoria popular?
A questão fundamental neste contexto é a compreensão do papel do gestor
como legítimo representante do poder público na coordenação geral da instituição e
a democratização das relações, na perspectiva da construção de uma cultura
democrática no interior da escola assim como a atribuição humano-social de tornar
possível a convivência entre os cidadãos.
É interessante prever de antemão, que os avanços nos processos de
democratização das relações e do poder, resultante do aprendizado coletivo,
apresentam-se na realidade como uma força aglutinadora capaz de harmonizar as
contradições existente na relação escola-sociedade, ao reconhecer a
interdependência que agregam quanto à responsabilidade social, na promoção da
igualdade de oportunidades de acesso à todos os cidadãos, através da
democratização do saber.
O fortalecimento das ações escolares em uma perspectiva democrática
calcadas no diálogo e no trabalho coletivo requer a participação real das instâncias
colegiadas nas tomadas de decisão conduzidas pelo gestor escolar, no sentido da
democratização das relações pedagógicas, sustentadas por instrumentos
avaliativos, como um processo capaz de mapear a qualidade do ensino ofertado,
com vistas a acompanhar e participar da tomada de decisão das intervenções
necessárias. A lógica de gestão democrática supõe a inserção de meios avaliativos
para garantir a qualidade social da instituição, objetivando identificar os problemas e
as alternativas para melhorias do desempenho da instituição escolar, na busca do
cumprimento de sua função social precípua, a aprendizagem de todos os
alunos.
5
2 Desenvolvimento
A gestão democrática da educação é hoje, um valor consagrado no Brasil e no mundo, embora ainda não totalmente compreendido e incorporado à prática social global e a prática educacional brasileira e mundial. É indubitável sua importância como fonte de humanização. (FERREIRA, 2000, p. 167).
A ideia de ampliar e proteger a democracia nas escolas não é apenas um
produto do nosso tempo, é tema recorrente dos estudiosos e teóricos da educação,
a discussão a respeito da dinâmica das relações, que se dão no interior das
escolas.
Assim como a democracia é uma palavra que tem múltiplos significados na
sociedade global, sua interpretação relativa às escolas também tem sido ambígua.
A gestão democrática é, antes de tudo, uma abertura ao diálogo e a busca
de caminhos mais consequentes com a democratização da escola, em razão de
seus fins maiores, postos no artigo 205 da Constituição Federal que promulga em
parágrafo único: “Todo poder emana do povo, que o exerce por meio de
representantes eleitos ou diretamente, nos termos desta Constituição.” E, referindo-
se aos princípios fundamentais, promulga em seu artigo 1º, a República Federativa
do Brasil constituir-se em Estado Democrático de Direito. Neste sentido, as Políticas
Públicas têm sido criadas como resposta do Estado às demandas que emergem da
sociedade e do seu próprio interior. Estas podem ser compreendidas como linha de
ação coletiva que concretiza direitos sociais declarados e garantidos em lei e é
mediante elas que são distribuídos ou redistribuídos bens e serviços sociais, em
resposta às demandas da sociedade. Por isso, o direito que as fundamenta é um
direito coletivo e não individual. (PEREIRA apud DEGENNSZAJH, 2002, p. 142).
Conforme destaca Pereira, é necessária a compreensão do termo público e
sua dimensão o qual deve ser: associado à política e não a uma referência exclusiva
ao Estado, mas sim à coisa pública, ou seja, de todos, sob a égide de uma mesma
lei e o apoio de uma comunidade de interesses. Portanto, embora as Políticas
Públicas sejam reguladas e frequentemente providas pelo Estado, também
englobam preferências, escolhas e decisões privadas podendo (e devendo) ser
controladas pelos cidadãos. A Política Pública expressa, dessa maneira, a
6
conversão de decisões privadas em decisões e ações públicas, que afetam a todos.
(PEREIRA, 2002, p. 12).
No decorrer da história, aconteceram retrocessos na prática da democracia,
no entanto, o mundo hodierno oferece maiores possibilidades à implementação de
processos democráticos, seja pelo desenvolvimento das mídias, do conhecimento e
das facilidades oportunizadas pela modernidade, que dá acesso aos cidadãos à
participação na vida política do país.
Neste sentido corroboramos a ideia de que os sistemas de ensino e as
escolas públicas pertencem aos cidadãos, ao público quando obviamente nega-se a
concepção patrimonialista, a dos interesses, dos donos do poder. No entanto, se
compreendida como pertencendo ao público, à cidadania, teremos a concepção
democrática, cidadã, da res publica em que a participação é princípio fundamental.
A democracia é entendida como o sistema político em que o governo deve
ser exercido pelo povo em seu conjunto, e não apenas por um homem, uma família,
uma classe ou grupo restrito de indivíduos, como acontece no despotismo, na
monarquia hereditária, na aristocracia e na oligarquia. Evidentemente, torna-se
impraticável a participação de “todos” no governo. Por conseguinte, no sistema da
democracia, o povo escolhe livremente seus representantes para governar em seu
nome, e a esta participação limitada é o que se chama democracia representativa.
[...] Um dos desafios mais importantes hoje no entendimento do papel das “políticas
públicas” “é o de ampliar e fortalecer os espaços para discussões participativas e
políticas”. [...]
As instituições educacionais caracterizam-se como espaço privilegiado, por
oferecer o ensino, como um bem público.
Compartilhamos a significativa consideração de Spósito (2002), para a qual
é preciso fazer da educação um serviço público, ou seja, transformá-lo a partir do
eixo central da res publica, e não dos interesses privados, patrimoniais, clientelistas
ou meramente corporativos.
Assim o incentivo, a valorização e o fortalecimento dos colegiados no interior
das escolas, os quais se destacam como importantes instrumentos para a
democratização da escola, e como espaços políticos de explicitação de contradições
e de conflitos de interesses do Estado, da escola, da comunidade, é algo que
precisa ser construído rigorosamente a cada dia.
7
Nas duas últimas décadas, no Estado do Paraná, muito se discutiu,
refletiu,escreveu e ouviu sobre a gestão democrática, embora com diferentes
enfoques no seu papel, efetivação e importância.
Lembramos que na década de 1990, a gestão escolar ideal, aproximava-se
do princípio da qualidade total, nos mesmos moldes da gestão empresarial, em que
o diretor é “gerente” e apregoa-se a ideologia da terceirização da escola pública pelo
próprio público, em que o estado se desresponsabiliza pelos problemas das escolas.
Esse discurso foi amplamente divulgado pelo governo federal e implementado
através dos governos estaduais e prefeituras municipais.
Segundo Paro (2008) a especificidade da gestão escolar só pode se dar
pela oposição à administração escolar capitalista, pois em termos políticos, o que
possa haver de próprio, de específico, numa gestão escolar voltada à transformação
social, deve ser necessariamente antagônico ao modo da administração da
empresa, visto que tal modo serve aos propósitos conservadores e elitistas.
Na educação, a implementação e formulação de políticas, estão
condicionadas à mobilização da sociedade e ao poder do estado, os quais irão
direcionar a consolidação das políticas públicas.
Sabe-se que a visão fragmentada da escola pública ainda perdura em
muitas unidades de ensino. Entende-se assim, que a participação e o incentivo a
esses segmentos de gestão, é algo que precisa ser construído, permitido.
Para Chauí (1991, p. 16) [...] “o reconhecimento do que é público decorre da
necessidade de entendermos que, existe uma esfera pública da vida humana, de
interface e convívio entre as pessoas [...]”, pois para ela operar esta esfera pública
da vida humana, foi erigido à democracia.
A essência da democracia está no exercício do poder, condicionado pela
concepção que se tem de cidadania e de autonomia e que determina, por sua vez,
as relações internas, ou seja, a cultura escolar.
Para que os princípios fundamentais da democracia, participação e
autonomia se efetivem na implantação de gestão democrática da educação pública,
precisam ser descolados de velhas concepções, para situar a autonomia como
espaço de poder dos cidadãos e a participação como parte da ação e decisão da
coletividade, frente às finalidades da instituição educacional.
A humanidade vive, hoje, um momento de sua história marcado por grandes
transformações decorrentes, sobretudo do avanço tecnológico, nas diversas esferas
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de sua existência quais sejam: o trabalho, a sociabilidade e a construção cultural.
Esta nova realidade exige o redimensionamento de todas as práticas, de modo a
contribuir mais eficazmente na construção da cidadania.
A escola pública, para afirmação de sua autoridade pedagógica, por muito
tempo procurou manter uma distância forçada em relação a população que a
utilizava, pois entendiam que a escola era soberana na arte de ensinar.
A partir dos anos 1980, período de transição democrática, esta situação
tende a mudar. Muitos sistemas de ensino criam os conselhos de escola,
respondendo ao grande anseio de participação da comunidade escolar, e incentivam
a dinamização dos grêmios estudantis e associações de pais e mestres. Neste
contexto, a gestão democrática amparada pela legislação, é reconhecida como meio
para a melhoria da qualidade de ensino.
Gestão Democrática, segundo Souza (2006)¹, é o processo político através
do qual as pessoas na escola discutem, deliberam e planejam, solucionam
problemas e os encaminham, acompanham, controlam e avaliam o conjunto das
ações voltadas ao desenvolvimento da própria escola. Este processo, sustentado no
diálogo e na alteridade, tem como base a participação efetiva de todos os
segmentos da comunidade escolar, o respeito a normas coletivamente construídas
para os processos de tomada de decisões e a garantia de amplo acesso às
informações, aos sujeitos da escola. 3
A gestão democrática implica a efetivação de novos processos de
organização e gestão baseados em uma dinâmica que favoreça os processos
coletivos e participativos de decisão. Neste sentido, a participação constitui uma das
bandeiras fundamentais a serem hasteadas no âmbito escolar.
[...] Tudo o que a gente puder fazer no sentido de convocar os que vivem em torno da escola, e dentro da escola, no sentido de participarem, de tomarem um pouco o destino da escola na mão, também. Tudo o que a gente puder fazer neste sentido é pouco ainda, considerando o trabalho imenso que se põe diante de nós que é o de assumir esse país democraticamente [...]. (FREIRE, 2008, p. 09).
3Palestra proferida em 2006 para os núcleos regionais de educação do Estado do Paraná pelo Prof. Dr. Ângelo Ricardo Souza da UFPR.
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Nesta perspectiva, ainda há muito que se avançar, especialmente na
concepção de educação, de gestão e de participação da comunidade escolar, e
nesse enfrentamento, está o grande desafio: democratizar as relações e as
tomadas de decisões da escola pública, atender a identidade da comunidade
escolar, e propiciar espaços de participação real, de pleno exercício da cidadania,
onde a participação deixa de ser mera “colaboração”, para tornar-se exercício de
poder.
No entanto, é preciso considerar que existe uma inter-relação entre as
políticas educacionais, organização e gestão das escolas, e as práticas pedagógicas
em sala de aula e a postura dos profissionais.
As políticas educacionais, as diretrizes organizacionais e curriculares,
postam ideias, valores, finalidades de uma intencionalidade maior, que determina o
tipo de sujeito a ser formado pelo sistema educativo, como também dar certa
conformação às ideias, atitudes e posturas aos profissionais das escolas. Assim,
temos que conhecer e reconhecer a importância da Política Educacional a que um
sistema é submetida, e contribuir para a construção coletiva de um projeto de escola
comprometido com a transformação social, que possibilite a formação de sujeitos
capazes de participarem ativamente na sociedade. Neste contexto, é importante
destacar o papel do gestor na informação e implementação das Políticas
Educacionais junto à comunidade escolar.
Grande parte das escolas públicas, ao realizarem eleições para compor o
quadro dirigente, reconhece no diretor, o papel de legítimo representante, com poder
de decidir por eles, à sua maneira. Confere-se a esse posicionamento, o fato de não
existir ainda uma cultura de participação no interior da escola, o que neste contexto,
de certa forma, acaba mascarando o verdadeiro sentido da democracia.
A rotatividade no quadro de diretores da escola, conquistada pelo processo
das eleições, torna-se fundamental para o processo de renovação, e para evitar a
perpetuação no cargo, no entanto, é importante ressaltar que o processo por si só
não garante a gestão democrática.
Segundo afirma Bobbio (2000, p. 37),
o que esta diretora possui é um mandato imperativo, na medida em que os interesses particulares, por melhor que possam parecer, acabam representando prioridade sobre os interesses coletivos, e isto burla qualquer
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alternativa de desenvolvimento da participação do demos que compõe a democracia na prática governamental.
Afinal, o que é uma escola para a democracia?
Neste sentido, o redimensionamento do papel da escola em uma lógica
democrática, requer: uma educação com qualidade para todos; a socialização do
conhecimento construído historicamente pela humanidade; a 4autonomia de gestão
administrativa e pedagógica; a participação na tomada de decisão no interior da
escola, através dos segmentos de gestão denominados instâncias colegiadas:
Conselhos Escolares, Grêmios Estudantis, Associação de Pais e Professores; e
também um Projeto Político Pedagógico construído coletivamente, acompanhado e
avaliado pela comunidade escolar.
Nesta perspectiva, é legitimo também o processo de instrumentalização da
comunidade escolar sobre o sentido de sua participação como um direito, o que
implica também, na existência de uma estrutura organizacional sólida e
responsabilidades definidas.
A implementação de práticas alternativas de organização e gestão da
escola, depende da atuação da equipe diretiva e da compreensão da gestão como
uma atividade essencialmente político-pedagógica.
O âmbito escolar aponta evidências de uma gestão democrática,
quando apresenta um Conselho Escolar ativo nas tomadas de decisão da
escola.
A gestão escolar surge no processo de redemocratização do país, quando a
”administração como condição racional das atividades de uma organização,”
segundo Chiavenato (2004), não mais atendia às necessidades da escola.
A Gestão Escolar, concebida como um processo democrático envolve
aprendizado e luta política e que extrapola a prática educativa, ou melhor, através
dela se possibilita a sua participação efetiva. E a função de dirigente escolar é uma
função política, opera em meio a relações de poder. Entende-se por poder: “a
oportunidade existente dentro de uma relação social que permite a alguém impor a
sua própria vontade mesmo contra a resistência e independentemente da base na
qual esta oportunidade se fundamenta!.” (WEBBER, 2000, p. 107).
4Autonomia representa a capacidade de definir para si as regras que conduzirão suas próprias ações. (RIOS, 1995, p. 15).
11
Para Severino (1998), a ideia de autonomia representa a relação
democrática entre todos os envolvidos no processo educativo: escola, família e
comunidade.
Certamente, construir cultura democrática no interior da escola implica
enfrentar a cultura autoritária e centralizadora em que fomos formados.
Historicamente, também, a formação dos profissionais da educação, tem apontado
para uma deficiência relativa aos conteúdos de gestão.
“O fato de alguém ser revestido de autoridade, ou seja, probabilidade de ter
cumpridas determinadas ordens, não significa que essas ordens representem a sua
vontade.” (PARO, 1995, p. 77).
O diretor possui a função de representante do poder público para a
comunidade como também a de um chefe que coordena as relações de trabalho no
interior da escola. Essa dualidade torna-se muitas vezes contraditória, mas o
dirigente deve manter-se em favor dos interesses da educação pública e dos alunos,
razão pela qual a sua função foi constituída.
Enfatiza Inês B. de Oliveira “’que uma sociedade democrática não é,
portanto, aquela na qual os governantes são eleitos pelo povo.”
Neste sentido, há pelo menos dois pontos a considerar: primeiro a
compreensão de que a educação é um direito de todos; segundo, a compreensão da
escola estatal como serviço público, no sentido de que a educação é uma ação de
interesse público e neste sentido “a lei e o funcionário público são, agentes daquele
interesse público.” (TEIXEIRA, 1996, p. 38).
E o reconhecimento do espaço escolar como um espaço público, que não
tem “dono”, seja diretor, funcionário ou professor, que toma decisões a revelia dos
outros, transformando a escola em continuação da sua própria casa, ou patrimônio,
possibilita avanços no sentido da participação e do diálogo no interior da escola.
“A natureza da res pública exige a transparência nas decisões e a real
possibilidade de interferência, condições básicas para a democracia e a
participação”. (SPÓSITO, 2002, p. 49)
A gestão democrática sustentada nos princípios do diálogo e da alteridade,
tem como base a participação efetiva de todos os segmentos da comunidade
escolar, o respeito as normas coletivamente construídas e a garantia de amplo
acesso às informações aos sujeitos.
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Nesta medida, é necessário à escola, priorizar em sua organização, a
ampliação da democracia e constituir instrumentos de democratização de suas
práticas, como as instâncias escolares, que urgem serem fortalecidas no âmbito
escolar.
É importante ter clareza do significado das Instâncias Escolares, concebidos
pela LDB, na Educação Básica: parte do mesmo pressuposto de expressar a voz da
sociedade, como exercício de poder, diante da participação das “comunidades
escolar e local.”
(LDB, art. 14) Sua função é dizer ao governo (da escola) o que a
comunidade quer o que deseja ver realizado, deliberando e dialogando com os
gestores, diante das necessidades de intervenções, com ações imediatas,
priorizando a melhoria da qualidade de ensino.
Entre os mecanismos e processos de participação que podem ser
vivenciados pela escola, estão os conselhos.
Os Conselhos na área de educação existem desde a década de 30.
Os Conselhos de Educação no Brasil foram concebidos como órgãos de
Estado, no sentido de que falam ao governo em nome da sociedade e buscam
preservar a coerência e a continuidade das políticas públicas.
Os Conselhos das Escolas foram criados como fóruns da vontade
plural da comunidade escolar, sintonizados com as políticas educacionais vigentes.
Com esta natureza, os conselhos estabelecem a mediação governo e
comunidade, ocupando a função de ponte: trabalhar no contraditório, aceitar as
diferenças, sem cair na armadilha de pretender reduzir um em detrimento de outro.
O Conselho de Escola é o órgão de democracia representativa, que
cotidianamente coordena a gestão escolar, sendo importante aliado da gestão.
Paro (1995) afirma que o Conselho de Escola tem de se supor como uma
ferramenta que objetive a superação dos condicionantes ideológicos, institucionais,
político-sociais e materiais.
A Associação de Pais, Mestres e Funcionários, instituição representativa da
comunidade escolar, tem o papel de organizar e representar os direitos destas,
muitas vezes alijados.
O Grêmio Estudantil, entidade representativa dos alunos, está a serviço da
ampliação da democracia na escola, através das funções de representação e
organização dos estudantes.
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“As escolas democráticas precisam basear-se numa definição abrangente
de nós, num compromisso de construir uma comunidade que é tanto da
escola quanto da sociedade onde ela existe.” (ESCOLAS DEMOCRÁTICAS, 2001,
p. 39).
O fortalecimento das ações da escola em uma perspectiva democrática,
requer a participação efetiva dos colegiados nas tomadas de decisões conduzidas
pelo gestor escolar, no sentido da democratização das relações pedagógicas,
sustentadas por instrumento avaliativo, como processo capaz de mapear a
qualidade do ensino ofertado, com vistas à implementação das mudanças
necessárias.
A Avaliação Institucional é um importante instrumento de avaliação, útil para
a gestão escolar, na medida em que permite levantar dados que podem
redimensionar o trabalho da gestão, tornando-se um mecanismo democrático ao
propiciar maior auto regulação institucional, responsabilização cultural, justiça social
nos termos de democratização do ensino-aprendizagem e dos resultados, e
formação de sujeitos passíveis de emancipação.
Neste caminho, é preciso se respeitar o tempo, a tradição e a cultura das
escolas. Porém, na prática, a democracia tem que ser assumida como um
instrumento de luta contra a administração autoritária na escola e a favor do bem-
estar das maiorias. Para tal, precisa ser conscientemente vivenciada através da
participação direta dos sujeitos na gestão da escola pública.
Resultados da pesquisa:
Concluída a pesquisa bibliográfica realizou-se o Projeto de Intervenção na
escola de atuação, apresentado para os diretores da rede estadual de ensino do
município de Pato Branco, nas dependências do Colégio Estadual Professor
Agostinho Pereira pertencente ao Núcleo Regional de Educação de Pato
Branco.
A implementação ocorreu em quatro encontros de quatro horas no decorrer
do segundo semestre de 2011, sendo concedida certificação de dezesseis horas aos
participantes pela IES UNICENTRO-GUARAPUAVA-PR
O projeto de implementação apresentou inicialmente mensagem para
sensibilização, questionário para abordagem do tema, objetivando promover a
reflexão, discussão e a identificação do perfil de gestão, pelo conjunto de diretores
presentes.
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No desenvolvimento foi apresentado todo o percurso dos trabalhos, da
pesquisa à produção, do Projeto de Intervenção Pedagógica, do Caderno Temático
e das Etapas da Implementação, que aborda as temáticas contidas no material
didático construído no formato de Caderno Temático, sob a orientação da Prof. Ms.
Clarice Schneider Linhares. O Caderno Temático apresenta em sua organização
três unidades, sendo a primeira unidade: O caráter público da democracia nas
escolas que discute sobre a imperiosa necessidade da democratização da gestão,
com vistas à construção de uma cultura democrática no interior das escolas; na
segunda unidade, a participação na gestão, como meio de se assegurar a gestão
democrática e a terceira unidade apresenta a avaliação institucional como
instrumento democrático de melhoria no processo de gestão da coisa pública. Na
implementação, foi possível observar junto aos participantes a necessidade da
obtenção de maiores conhecimentos sobre gestão escolar, atrelado a um projeto
educacional pautado no trabalho coletivo e amparado por instrumento avaliativo
como forma de controle social, com reais possibilidades de intervir na melhoria da
qualidade do ensino e aprendizagem.
A afirmação recorrente nas reflexões, da compreensão de que a gestão
escolar tornou-se finalmente, alvo frequente dos programas da área educacional,
mas que a sua aplicação ainda deixa muito a desejar, sendo bastante amadora, o
gestor eleito raramente tem preparo, são escolhidos pelo voto por serem populares e
as ações tomadas funcionam na base da tentativa e erro, sem profissionalismo,
constatam os mesmos. Segundo eles [...] a própria legislação é uma das causadoras
do problema uma vez que impõe às escolas a escolha do diretor entre os membros
do corpo docente, mas sem qualificação para o cargo [...]. Se a capacitação técnica
é indispensável para o bom andamento dos processos administrativos, são as
qualidades individuais que farão a diferença nas relações que se dão no cotidiano
escolar. Destacam a necessidade de programar tempo e espaço como este
momento, para reunir-se com seus pares e juntos discutir as ações, aprofundar-se
teoricamente, avaliar os planos de ação e trocar ideias acerca dos condicionantes da
gestão escolar. A questão da autonomia da gestão foi uma discussão rica e
polêmica no sentido da autonomia restrita atribuída aos gestores pelo próprio
sistema educacional, além do que na direção de uma gestão democrática, há que se
mudar também o perfil dos gestores, o qual se manifesta claramente na cultura da
organização.
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Muitas foram as contribuições dos cursistas do GTR – Grupo de Trabalho
em Rede, onde compartilhamos com professores da rede as produções e estudos
realizados no último ano, todas muito interessantes e oportunas. Surgiram propostas
como a possibilidade de participação do aluno na avaliação dos professores, um
conselho discente que seria a contrapartida da avaliação do conselho de classe. A
mobilização de alunos para conscientização da importância da participação dos pais
no processo educacional dos filhos e a integração nos colegiados.
[...] Os conselhos escolares, serão mais significativos se realmente tiverem
como pressupostos a expressão de voz da sociedade, como exercício de controle
social, via participação da comunidade escolar. Sua atribuição é dizer a escola o que
a comunidade quer, o que deseja de fato, deliberando e aconselhando os dirigentes,
no que julgarem ser prudente, sobre as ações a empreender e os meios a utilizar
para o alcance dos fins da escola [...].
[...] Um Conselho atuante acredito que fará diferença na escola. Nas escolas
em que trabalhei sem exceções, o Conselho só existe nas Atas e seus integrantes
nem sabem que fazem parte deste [...].
[...] Uma prática que está sendo aplicada na escola em que trabalho, são as
Assembléias Escolares, realizadas no período de aulas, segundo um cronograma,
nas turmas de quinto a nono anos. E já estão sendo aplicadas nas reuniões
pedagógicas é o momento utilizado para discutir assuntos como deveres e direitos,
resolver conflitos, preparar projetos, estudar, envolvendo professores, funcionários
[...].
[...] Uma experiência que vem sendo implantada em nossa escola é do
Conselho Participativo, onde primeiramente é realizado um Pré-Conselho com os
alunos nas turmas, com o professor regente desta, a pedagoga e a direção, onde os
alunos podem expor suas ideias e angústias, sendo tudo registrado em Ata.
Em seguida vem o Conselho de Classe com todos os professores e após
repassado aos pais, que se fazem presentes na escola com maior interesse e
participação [...].
[...] É imprescindível que o planejamento de todas as atividades escolares
seja feito através de uma gestão democrática, com a participação de todos os
segmentos da escola. O gestor deve, portanto, incentivar a participação, respeitando
as pessoas e suas opiniões [...].
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[...] Uma boa ou má gestão educativa exercerá influência decisiva sobre a
possibilidade de acesso às oportunidades da vida em sociedade, pois a organização
do trabalho pedagógico da escola e sua gestão, revelam seu caráter excludente ou
inclusivo [...].
O conjunto de observações apontadas pelos cursistas indicam a
necessidade de se constituir na escola, um espaço público de participação cidadã,
que não se limite ao sistema escolar, certamente o ultrapasse.
Os diretores defendem enfaticamente a ideia de formação continuada
sistemática nos programas educacionais e pessoais, os quais devem manifestar-se
de várias formas.
A metodologia desenvolvida contribuiu muito para as discussões, por estar
constituída de diversos recursos além da exposição oral dos temas, a apresentação
de slides, de vídeos, filmes, dinâmica de interação, música, recortes informativos de
jornais, leitura e discussão de textos, atividades condicionadas ao permanente
diálogo e participação. A ênfase permanente na organização da escola pública de
qualidade em seu sentido democratizado, pautada no trabalho coletivo, no qual
todos têm compromisso, responsabilidade definidas e objetivos comuns, a formação
e a humanização dos sujeitos. A discussão dos temas propostos encaminhada por
uma práxis pautada na ética da responsabilidade social, na participação ativa dos
sujeitos implicados no processo educativo e nas tomadas de decisões coletivas no
interior da escola.
Repensar a gestão da escola na perspectiva das relações democráticas e
analisar brevemente as práticas pedagógicas e as relações que se estabelecem nas
escolas, reafirma-se o veredicto de que no espaço escolar até nos dias de hoje,
prevalece ainda à cultura do individualismo. Processos cooperativos ainda são raros.
A questão do controle do poder por parte dos dirigentes e da comunidade interna da
escola ainda está muito enraizada nas práticas escolares e é evidente as ressalvas
quanto a evolução dos processos democráticos.
A ampliação da democracia na escola a partir da instituição de processos
democráticos de participação, não poderá estar descolada dos princípios
democráticos que a regem: princípio da democracia, da igualdade, da universalidade
e da laicidade. Também depende em grande parte, da disposição da comunidade
escolar e do gestor, em edificar tempo, espaço e formas de participação efetiva nos
processos de tomada de decisões e a garantia de amplo acesso às informações aos
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sujeitos da escola, as marcantes mudanças científico-tecnológicas, sociais,
econômicas, políticas e culturais reveladas no mundo contemporâneo, influenciaram
a organização da sociedade em sua totalidade, refletindo nos processos
educacionais. A organização escolar neste sentido necessita adequar a gestão
escolar na tentativa de deslocar o conceito burocrático, para a gestão compartilhada
democrática, flexível, que atenda aos anseios da comunidade usuária da escola,
reconhecida como portadora de direitos e de acesso aos bens culturais, sociais e
materiais. A participação da comunidade na Gestão Escolar, trata-se de uma
construção gradualmente possível, sendo inquestionável os benefícios para a gestão
uma vez que viabiliza relações mais democráticas e congruentes através das
parcerias educativas que se estabelecem com objetivos comuns, subsidiar as ações
escolares visando o sucesso da aprendizagem dos alunos.
A mobilização da comunidade escolar é uma conquista do gestor ao
promover um processo de ajuda mútua, um exercício conjunto de auto avaliação, o
qual torna possível a definição de prioridades, o aprimoramento e o planejamento de
novas ações e a qualidade da gestão.
Avança o entendimento de que a avaliação institucional sistemática e formal
se constitui, potencialmente, em um meio poderoso para contribuir para a melhoria
dos processos educativos e da gestão. À medida que se desenvolve, o seu poder de
indução aumenta e se torna indispensável o planejamento e o redirecionamento do
seu papel político-institucional.
Segundo o Caderno do Programa Nacional de Fortalecimento dos
Conselhos Escolares, nº 04/2004, “É imprescindível ter clareza que o incentivo às
formas democráticas de convivência escolar tem por premissa o estabelecimento de
condutas construídas coletivamente.”
O fortalecimento das Instâncias Colegiadas enquanto representação da
comunidade escolar, amplia as condições de exercício da prática participativa,
proporcionando uma importante contribuição para a democratização da escola e da
sociedade
Ao gestor democrático cabe neste caminho, ao conhecer, reconhecer os
cidadãos das comunidades escolar e local como portadores de direitos e deveres,
prover a instituição de mecanismos criadores de espaços de participação, supondo
condições objetivas de concretização de um processo capaz de viabilizar a
emancipação dos sujeitos.
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Todas as reflexões realizadas afirmam-se na convicção de que a gestão
democrática escolar, a construção coletiva do projeto político pedagógico e a
autonomia da escola, são os pressupostos fundamentais da cidadania.
Considerações Finais
A democracia como um conceito dinâmico, requer um exame constante à luz
das mudanças dos tempos. Por esses motivos, as práticas democráticas revelam
ser uma mistura polêmica de sucessos e contradições e que por este motivo,
apresentam-se em insistentes pesquisas.
Este trabalho de estudo, pesquisa e reflexão foi elaborado através da
participação no PDE - Programa de Desenvolvimento Educacional implantado pela
Secretaria de Educação do Estado do Paraná, que teve por objetivo o
aperfeiçoamento e a capacitação dos profissionais da Educação Básica no Estado,
em integração com os profissionais das Universidades.
A gestão democrática para se consolidar no âmbito escolar, necessita de
vivências democráticas, práticas incorporadas ao cotidiano escolar.
Sendo necessário portanto, que todos participem das tomadas de decisão
da escola, se expressem e se relacionem com maior liberdade, para ampliar o
trabalho coletivo e romper com a cultura autoritária e centralizadora da educação.
Neste contexto torna-se inevitável a escola hoje se constituir em um espaço
de convivência social, fundamentada pela ética, e dirigida por uma ação coletiva-
política, no sentido da organização de um bem público, da construção de um projeto
educacional de qualidade da aprendizagem à todos alunos, na perspectiva das
relações democráticas. As relações democráticas de trabalho na escola, são
fundamentais para a promoção do processo ensino-aprendizagem. Afinal, o que é
democrático na escola pública? A socialização do conhecimento para todos sem
distinções, a real democratização do saber que exige retomar concepções de
democracia, de cidadania, de direito à educação, da essencialidade do diálogo entre
todos os que fazem parte desse processo, para a importância das relações inter-
pessoais e dos projetos coletivos.
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A sociedade democrática não se expressa não se restringe pelo direito ao
voto, mas pelas possibilidades de participação que aos cidadãos são concedidas
nos processos decisórios que dizem respeito á vida, vivenciados através do
protagonismo dos seres sociais. Rompidos tanto a utopia ingênua de acreditar que a
democracia por si só pode garantir a existência de escolas democráticas, quanto o
descrédito de que possa limitar o autoritarismo na gestão, na verdade é capaz de
harmonizar as contradições ao perceber a interdependência que agregam quanto à
responsabilidade social na promoção da igualdade de oportunidade de acesso à
todos os cidadãos.
Pensar a democracia, a gestão, o sistema de relações, os processos que se
apresentam no cotidiano escolar, implica em repensar indiscutivelmente a lógica de
organização e de participação nas ações escolares.
A participação melhora a qualidade das decisões tomadas na área da
educação e tem papel preponderante na democratização da gestão.
A construção de novos percursos na escola, supõe a garantia de processos
participativos dos integrantes da Comunidade Escolar, os quais envolvem o
compromisso do partilhamento do poder, significando a ruptura do autoritarismo na
gestão escola. As contradições existentes na relação escola-sociedade precisam ser
analisadas sob a ótica das relações e como as decisões internas da escola, podem
expressar o autoritarismo e a negligência com questões e segmentos menos
privilegiados.
A concretização de uma lógica de gestão democrática é sempre processual,
no sentido de permanente aprendizado e vivências coletivas significativas. Sendo
processo efetivamente pedagógico, envolve o conhecimento da legislação, das reais
atribuições da gestão, a visão democrática que expressa-se pelos processos
participativos implementados, na organização do trabalho coletivo.
Neste caminho, é interessante prever de antemão, os avanços na
democratização das relações e do poder, resultante do aprendizado coletivo,
instalando uma nova cultura escolar. A organização da gestão escolar hoje, deve
adotar um desenho circular que pressupõe a inter-relação entre os atores sociais. O
ser humano é um ser essencialmente social sua identidade constrói-se na interação
com o outro. Através das relações sociais, cada um vai configurando uma identidade
pessoal. Assim o trabalho coletivo favorece essa interação, esse processo
relacional.
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A escola deve favorecer a prática das relações humanas, incentivando a
livre comunicação pelo diálogo, cooperação e o auxílio mútuo.
A gestão democrática exige dos integrantes do espaço escolar, uma postura
baseada em valores capazes de transformar o cotidiano escolar e promover
vivências baseadas na ética e pautadas nos valores da solidariedade, da justiça e do
respeito.
Aprender a conviver com o outro e respeitar seus direitos e limites, é um
princípio básico da convivência humana, democrática e cidadã.
A citação bíblica segundo evangelho de João 13:34, nos remete ao amor
fraterno e incondicional ao próximo ensinado por Jesus: um novo mandamento vos
dou: "Que vos ameis uns aos outros, como eu vos amei a vós." Não se trata de uma
concepção ingênua, mas de princípios cristãos capazes de acondicionar os sujeitos
à vislumbrar relações mais humanas e fraternas com o outro.
O estudo realizado está destinado àqueles que desejam estar atualizados e
que procuram aperfeiçoar cada vez mais seu trabalho.
Este artigo não tem a pretensão de exaurir o assunto, ele apenas intenciona
provocar as discussões no vasto e inesgotável campo da gestão democrática,
oferecendo um referencial a mais para aprofundamentos futuros.
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