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A prestação de serviços públicos por empresas concessionárias envolve a conciliação entre dois tipos de interesses: o público e o privado. O interesse público será atendido na medida em que o serviço prestado se caracterize como serviço adequado, ou seja, contenha os atributos de regularidade, continuidade, eficiência, segurança, atualidade, generalidade, cortesia e modicidade tarifária. Já o atendimento do interesse privado, ocorrerá quando a prestação de serviços permitir que concessionária obtenha resultado econômico-financeiro coerente com as expectativas de seus acionistas. Nesse contexto, a tese proposta é que os atributos de serviço adequado devem estar presentes na regulação e nos procedimentos que as concessionárias devem seguir, para que seja possível obter o efeito essencial dos serviços públicos que é agregar valor aos seus usuários. A obtenção desse efeito caracterizaria a conciliação entre o interesse público e o privado. Para estudar tal situação foi escolhido o setor elétrico brasileiro que, além de prestar um serviço público essencial, possui uma estratégia de inovação baseada em investimentos obrigatórios em pesquisa e desenvolvimento (P&D). A análise realizada, com métodos quantitativos e qualitativos, contemplou dados das distribuidoras de energia elétrica e diversos instrumentos regulatórios da P&D. Os resultados indicaram que os referidos investimentos não têm contribuído para o aumento da adequação do serviço prestado e tampouco com a melhoria do resultado empresarial. Assim, em especial, é sugerido que os investimentos obrigatórios em inovação sejam realizados e avaliados, primordialmente, com base na sua capacidade de ampliar o atendimento dos atributos de serviço adequado.
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PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DO PARANÁ CENTRO DE CIÊNCIAS SOCIAIS APLICADAS
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ADMINISTRAÇÃO DOUTORADO EM ADMINISTRAÇÃO
ROBERTO GREGORIO DA SILVA JUNIOR
A CONCESSÃO DE SERVIÇOS PÚBLICOS E A CONCILIAÇÃO ENTRE O INTERESSE PÚBLICO E O PRIVADO:
O CASO DA INOVAÇÃO NO SETOR ELÉTRICO BRASILEIRO.
CURITIBA 2011
ROBERTO GREGORIO DA SILVA JUNIOR
A CONCESSÃO DE SERVIÇOS PÚBLICOS E A CONCILIAÇÃO ENTRE O INTERESSE PÚBLICO E O PRIVADO:
O CASO DA INOVAÇÃO NO SETOR ELÉTRICO BRASILEIRO.
Tese de Doutorado apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Administração do Centro de Ciências Sociais Aplicadas, da Pontifícia Universidade Católica do Paraná, como requisito parcial à obtenção do título de Doutor em Administração.
Orientador: Prof. Dr. Belmiro Valverde Jobim Castor.
CURITIBA 2011
Dados da Catalogação na Publicação Pontifíca Universidadade Católica do Paraná
Sistema Integrado de Bibliotecas SIBI/PUCPR Biblioteca Central
Silva Junior, Roberto Gregorio da
S586c A concessão de serviços públicos e a conciliação entre o interesse público e 2011 o privado : o caso da inovação no setor elétrico brasileiro / Roberto Gregório da Silva Junior ; orientador, Belmiro Valverde Jobim Castor. 2011. 264 f. : il. ; 30 cm
Tese (doutorado) Pontifícia Universidade Católica do Paraná, Curitiba, 2011 Bibliografia: f. 244-264.
1. Serviço público. 2. Concessões administrativas Regulamentação. 3. Bens comuns. 4. Administração. I. Castor, Belmiro Valverde Jobim. II. Pontifícia Universidade Católica do Paraná, Programa de Pós-Graduação em Administração. III. Título. CDD 20. ed. 658
À Juliana, companheira de todas as minhas jornadas.
AGRADECIMENTOS
Ao meu caro orientador, professor Belmiro Valverde Jobim Castor, por mais
uma vez me honrar com sua orientação e, especialmente, por sua confiança,
estímulo e amizade.
Aos colegas e professores do Programa de Pós-Graduação em Administração
da Pontifícia Universidade Católica do Paraná PUCPR e da Universidade Federal
do Paraná - UFPR, pelos bons momentos de aprendizado e amizade.
Ao professor Waldemiro Gremski, à Administração da PUCPR e ao professor
Ricardo Mendes Junior, coordenador do Projeto Gestão Estratégica de
Empreendimentos Sustentáveis - GEETS na UFPR, pela oportunidade de realizar
estudos complementares.
Ao Professor Ubiratã Tortato, coordenador do Projeto GEETS na PUCPR, e à
Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior CAPES pelo
apoio na fase final do curso.
Aos meus colegas e amigos e, em especial, aos professores José Roberto
Frega e Sergio Gregorio da Silva, da UFPR, que me ajudaram na análise
quantitativa.
À minha esposa, Juliana; aos meus filhos, Tatiana e Caio; ao meu genro
Willian; e aos meus sogros, Janete e Amaury, pelo inestimável apoio e carinho.
Toma cada dia como a oportunidade permanente de aprendizado, de mudança, de evolução.
F. Alessander (CRUZ, 1997, p. 59)
RESUMO
A prestação de serviços públicos por empresas concessionárias envolve a conciliação entre dois tipos de interesses: o público e o privado. O interesse público será atendido na medida em que o serviço prestado se caracterize como serviço adequado, ou seja, contenha os atributos de regularidade, continuidade, eficiência, segurança, atualidade, generalidade, cortesia e modicidade tarifária. Já o atendimento do interesse privado, ocorrerá quando a prestação de serviços permitir que concessionária obtenha resultado econômico-financeiro coerente com as expectativas de seus acionistas. Nesse contexto, a tese proposta é que os atributos de serviço adequado devem estar presentes na regulação e nos procedimentos que as concessionárias devem seguir, para que seja possível obter o efeito essencial dos serviços públicos que é agregar valor aos seus usuários. A obtenção desse efeito caracterizaria a conciliação entre o interesse público e o privado. Para estudar tal situação foi escolhido o setor elétrico brasileiro que, além de prestar um serviço público essencial, possui uma estratégia de inovação baseada em investimentos obrigatórios em pesquisa e desenvolvimento (P&D). A análise realizada, com métodos quantitativos e qualitativos, contemplou dados das distribuidoras de energia elétrica e diversos instrumentos regulatórios da P&D. Os resultados indicaram que os referidos investimentos não têm contribuído para o aumento da adequação do serviço prestado e tampouco com a melhoria do resultado empresarial. Assim, em especial, é sugerido que os investimentos obrigatórios em inovação sejam realizados e avaliados, primordialmente, com base na sua capacidade de ampliar o atendimento dos atributos de serviço adequado. Palavras-chave: Energia. Estratégia. Inovação. Regulação. Serviço público.
ABSTRACT A public service rendered by utility companies involves conciliating two sets of interests: the public and the private. The public interest will be answered in the way that the service is characterized as adequate service, or rather, those that contain the attributes of regularity, continuity, efficiency, safety, up-dating, generality, courtesy and affordable fees. On the other hand, the attendance of private interest will occur when the services allow the utility to obtain economic and financial results consistent with the expectations of its shareholders. In this context, the thesis proposal is that the adequate service attributes must be present in the regulation and procedures which utilities must follow, so that it is possible to get the essential effect of public services which is adding value to their users. Obtaining this effect characterizes the conciliation between the public and private interests. To study this situation, the Brazilian electric sector was chosen which, besides providing an essential public service, has an innovation strategy based on mandatory investments in research and development (R&D). The analysis held, with quantitative and qualitative methods, contemplated data from electricity distribution companies and various regulatory instruments of R&D. The results indicated that these investments have not contributed to the increase of the adequacy of service rendered, neither to the improvement of business results. Therefore, in particular, it is suggested that the mandatory investments in innovation should be realized and evaluated primarily based on its ability to expand the attendance of adequate service attributes. Keywords: Energy. Innovation. Public service. Regulation. Strategy.
LISTA DE FIGURAS
Figura 1 - Esquema Conceitual........................................................................... 42
Figura 2 - Indicadores sugeridos para avaliação do processo de inovação........ 121
Figura 3 - Reestruturação do Setor Elétrico........................................................ 179
Figura 4 - Esquema metodológico....................................................................... 201
Figura 5 - Intensidade nas áreas de P&D por tipo de empresa 2006/2009...... 218
LISTA DE TABELAS
Tabela 1 - Capacidade de geração instalada no Sistema Interligado Nacional 176
Tabela 2 - Mercado Consumidor de Energia Elétrica........................................ 183
Tabela 3 - Tarifas na Distribuição da Energia Elétrica....................................... 184
Tabela 4 - Participação na Distribuição de Energia Elétrica.............................. 185
Tabela 5 - Investimentos Obrigatórios - Lei 9.991/2000 e MP 144/2003........... 190
Tabela 6 - Investimentos Obrigatórios - Lei 10.848/2004.................................. 191
Tabela 7 - Investimentos Obrigatórios - Lei 11.465/2007.................................. 191
Tabela 8 - Investimentos Obrigatórios - Lei 12.212/2010.................................. 192
Tabela 9 - Regressões em relação à intensidade de P&D................................ 204
Tabela 10 - FEC (A05): resultados dos dados em painel.................................... 206
Tabela 11 - Riqueza (A08): resultados dos dados em painel.............................. 207
Tabela 12 - TG terceirizados (A10): resultados dos dados em painel................. 207
Tabela 13 - IASC (A16): resultados dos dados em painel................................... 208
Tabela 14 - Rentabilidade (A21): resultados dos dados em painel..................... 209
Tabela 15 - Correlações significativas na Intensidade de P&D (A01)................. 211
Tabela 16 - Correlações nas áreas de P&D........................................................ 216
LISTA DE QUADROS
Quadro 1 - Fatores relacionados aos objetivos e efeitos da Inovação................ 120
Quadro 2 - Principais Entidades do Setor Elétrico............................................... 182
Quadro 3 - Critérios e parâmetros de avaliação de projetos de P&D.................. 196
Quadro 4 - Consequências do resultado da avaliação dos projetos de P&D...... 197
Quadro 5 - Intensidade de P&D nas distribuidoras 2006/2009......................... 217
Quadro 6 - Áreas para Investimento em P&D..................................................... 226
Quadro 7 - Aderência Conceitual dos Temas de P&D........................................ 228
LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS
ANEEL - Agência Nacional de Energia Elétrica
CCEE - Câmara de Comercialização de Energia Elétrica
CHESF - Companhia Hidroelétrica do São Francisco
CTEnerg - Fundo setorial de energia
CT&I - Ciência, tecnologia e inovação
DC - Definição constitutiva
DEC - Duração equivalente de interrupção do consumidor
DO - Definição operacional
EBITDA - Earnings before interest, taxes, depreciation and amortization EE - Eficiência energética
ELETROBRAS - Centrais Elétricas do Brasil S.A.
EPE - Empresa de Pesquisa Energética.
FEC - Frequência equivalente de interrupção do consumidor
FNDCT - Fundo Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico
FURNAS - Eletrobrás Furnas (empresa do sistema Eletrobrás)
IASC - Índice ANEEL de Satisfação do Consumidor
LAJIDA - Lucros antes de juros, impostos, depreciação e amortização
MME - Ministério das Minas e Energia
OECD - Organization for Economic Co-Operation and Development ONS - Operador Nacional do Sistema Elétrico
P&D - Pesquisa e desenvolvimento
PEE - Programas de Eficiência Energética
PRODIST - Procedimentos de distribuição
RA0 - Receita Operacional Anual
RSA - Relatório de Responsabilidade Socioambiental
SIN - Sistema Interligado Nacional
TEP - Tonelada equivalente de petróleo
TMA - Tempo médio de atendimento
VTCD - Variações de tensão de curta duração
SUMÁRIO
1 INTRODUÇÃO................................................................................................... 18 1.1 ESTADO E SUA PRESENÇA NA VIDA DAS PESSOAS............................... 18
1.2 INOVAÇÃO COMO ESTRATÉGIA NOS DESAFIOS ENERGÉTICOS.......... 22
1.3 APRESENTAÇÃO GERAL DA PESQUISA.................................................... 30
1.3.1 Motivações................................................................................................... 30
1.3.2 Problema proposto....................................................................................... 31
1.3.3 Objetivos pretendidos.................................................................................. 32
1.3.4 Justificativas................................................................................................. 33
1.3.4.1 Justificativa Teórica................................................................................... 33
1.3.4.2 justificativa Prática.................................................................................... 34
1.4. ASSUNTOS TRATADOS............................................................................... 35 2 METODOLOGIA................................................................................................ 38 2.1 ASPECTOS GERAIS...................................................................................... 38
2.1.1 Abordagem adotada..................................................................................... 38
2.1.2 Classificação da pesquisa............................................................................ 39
2.1.3 Estratégia de pesquisa................................................................................. 40
2.1.4 Métodos utilizados....................................................................................... 41
2.2 ESQUEMA CONCEITUAL.............................................................................. 41
2.3 ELEMENTOS CONSIDERADOS.................................................................... 44
2.3.1 Unidade de análise...................................................................................... 44
2.3.2 Variáveis...................................................................................................... 45
2.3.2.1 Intensidade de P&D.................................................................................. 46
2.3.2.2 Lucratividade............................................................................................. 46
2.3.2.3 Rentabilidade............................................................................................ 47
2.3.2.4 Energia por consumidor............................................................................ 47
2.3.2.5 Receita por consumidor............................................................................ 48
2.3.2.6 Regularidade............................................................................................. 48
2.3.2.7 Continuidade............................................................................................. 48
2.3.2.8 Eficiência................................................................................................... 49
2.3.2.9 Segurança................................................................................................. 49
2.3.2.10 Atualidade............................................................................................... 50
2.3.2.11 Generalidade........................................................................................... 50
2.3.2.12 Cortesia................................................................................................... 51
2.3.2.13 Modicidade.............................................................................................. 51
2.3.2.14 Eficiência energética............................................................................... 52
2.3.2.15 Fonte renovável ou alternativa................................................................ 52
2.3.2.16 Meio ambiente......................................................................................... 52
2.3.2.17 Qualidade e confiabilidade...................................................................... 53
2.3.2.18 Planejamento e operação....................................................................... 53
2.3.2.19 Supervisão, controle e proteção............................................................. 54
2.3.2.20 Medição e faturamento........................................................................... 54
2.3.2.21 Transmissão de dados............................................................................ 54
2.3.2.22 Novos materiais e componentes............................................................. 55
2.3.2.23 Combate ao furto e fraude...................................................................... 55
2.3.2.24 Transmissão............................................................................................ 56
2.3.2.25 Distribuição............................................................................................. 56
2.3.2.26 Geração.................................................................................................. 56
2.3.2.27 Pesquisa estratégica............................................................................... 57
2.3.2.28 Outras áreas........................................................................................... 57
2.3.3 Categorias.................................................................................................... 57
2.4 SELEÇÃO DO CASO...................................................................................... 58
2.4.1 Características gerais.................................................................................. 58
2.4.2 Base de dados............................................................................................. 59
2.5 COLETA DOS DADOS................................................................................... 60
2.5.1 Características gerais.................................................................................. 60
2.5.2 Método de coleta.......................................................................................... 61
2.5.3 Critérios de qualidade.................................................................................. 63
2.6 ANÁLISE DOS DADOS.................................................................................. 64
2.6.1 Características gerais.................................................................................. 64
2.6.2 Análise quantitativa...................................................................................... 66
2.6.2.1 Dados em painel....................................................................................... 66
2.6.2.2 Análise de correlação................................................................................ 68
2.6.3 Análise qualitativa........................................................................................ 69
2.6.3.1 Análise de conteúdo.................................................................................. 69
2.6.3.2 Aderência conceitual................................................................................. 71
2.7 LIMITAÇÕES DA PESQUISA......................................................................... 71
3 O ESTADO, POLÍTICA E SERVIÇOS PÚBLICOS........................................... 73 3.1 ESTADO E ADMINISTRAÇÃO....................................................................... 73
3.2 POLÍTICAS PÚBLICAS................................................................................... 74
3.2.1 Conceituação............................................................................................... 74
3.2.2 Avaliação...................................................................................................... 76
3.3 SERVIÇOS PÚBLICOS.................................................................................. 79
3.4 PRINCÍPIOS ADMINISTRATIVOS................................................................. 84
3.5 SERVIÇOS ADEQUADOS.............................................................................. 85
3.5.1 Conceituação............................................................................................... 85
3.5.2 Atributos de adequação............................................................................... 87
3.5.2.1 Regularidade............................................................................................. 89
3.5.2.2 Continuidade............................................................................................. 89
3.5.2.3 Eficiência................................................................................................... 90
3.5.2.4 Segurança................................................................................................. 91
3.5.2.5 Atualidade................................................................................................. 92
3.5.2.6 Generalidade............................................................................................. 93
3.5.2.7 Cortesia..................................................................................................... 94
3.5.2.8 Modicidade tarifária................................................................................... 94
3.6 INTERESSES ENVOLVIDOS......................................................................... 96
3.6.1 Interesse público.......................................................................................... 96
3.6.2 Interesse privado.......................................................................................... 98
3.6.3 Interessados................................................................................................. 100
3.6.4 Desafios e conflitos...................................................................................... 101
4 INOVAÇÃO E PERSPECTIVAS ESTRATÉGICAS.......................................... 105
4.1 INOVAÇÃO TECNOLÓGICA.......................................................................... 105
4.1.1 Conceitos..................................................................................................... 105
4.1.2 Classificações.............................................................................................. 107
4.1.3 Atividades de inovação................................................................................ 109
4.1.4 Estratégias................................................................................................... 110
4.1.5 Avaliação...................................................................................................... 116
4.1.6 Inovação regulada........................................................................................ 123
4.2. VISÃO NEO-INSTITUCIONAL....................................................................... 129
4.2.1 Contextualização.......................................................................................... 129
4.2.2 Legitimidade................................................................................................. 132
4.2.3 Isomorfismo.................................................................................................. 133
4.3 CONCEITOS DE ESTRATÉGIA..................................................................... 134
4.4 PARTICIPAÇÃO SOCIAL............................................................................... 139
4.5 RESULTADO EMPRESARIAL........................................................................ 144
4.6 CONCESSÕES DE SERVIÇOS..................................................................... 150
4.6.1 Conceituação............................................................................................... 150
4.6.2 Características............................................................................................. 152
4.6.3 Origens e situação....................................................................................... 155
4.6.4 Contratos de concessão.............................................................................. 157
4.7 REGULAÇÃO DOS SERVIÇOS PÚBLICOS.................................................. 158
4.7.1 Rédeas institucionais................................................................................... 158
4.7.2 Agências reguladoras.................................................................................. 159
4.7.3 Modelagem regulatória................................................................................ 161
5 CARACTERÍSTICAS DO SETOR ELÉTRICO BRASILEIRO........................... 163 5.1 CONSIDERAÇÕES PRELIMINARES............................................................. 163
5.2 RETROSPECTO HISTÓRICO........................................................................ 165
5.2.1 Primeiros passos.......................................................................................... 165
5.2.2 Intervenção.................................................................................................. 166
5.2.3 Estruturação................................................................................................. 167
5.2.4 Milagre e colapso......................................................................................... 169
5.2.5 Privatização e reformas............................................................................... 171
5.3 CARACTERÍSTICAS GERAIS........................................................................ 175
5.3.1 Atividades principais.................................................................................... 175
5.3.2 Regulação e competição.............................................................................. 178
5.4 PANORAMA DA DISTRIBUIÇÃO................................................................... 183
5.4.1 Dados gerais................................................................................................ 183
5.4.2 Procedimentos............................................................................................. 186
5.5 INVESTIMENTOS EM P&D............................................................................ 187
5.5.1 Antecedentes............................................................................................... 187
5.5.2 Marcos legais............................................................................................... 189
5.5.3 Manuais de P&D.......................................................................................... 193
6 ANÁLISE EMPÍRICA DO SETOR ELÉTRICO BRASILEIRO........................... 200 6.1 CONSIDERAÇÕES PRELIMINARES............................................................. 200
6.2 ANÁLISE QUANTITATIVA.............................................................................. 203
6.2.1 Dados em painel.......................................................................................... 203
6.2.1.1 Serviço adequado..................................................................................... 206
6.2.1.2 Resultado empresarial.............................................................................. 209
6.2.2 Correlação estatística.................................................................................. 210
6.2.2.1 Serviço adequado..................................................................................... 212
6.2.2.2 Resultado empresarial.............................................................................. 214
6.2.2.3 Áreas de P&D........................................................................................... 214
6.3 ANÁLISE QUALITATIVA................................................................................. 219
6.3.1 Análise de conteúdo..................................................................................... 219
6.3.2 Aderência conceitual.................................................................................... 220
6.3.2.1 Serviço adequado..................................................................................... 221
6.3.2.2 Resultado empresarial.............................................................................. 223
6.3.2.3 Áreas de P&D........................................................................................... 225
6.4 ANÁLISE CONSOLIDADA.............................................................................. 231
6.4.1 Comparativo de resultados qualitativos e quantitativos............................... 231
6.4.2 Considerações sobre o problema e questões de pesquisa......................... 233
7 CONSIDERAÇÕES FINAIS............................................................................... 235 7.1 ASPECTOS RELACIONADOS AOS OBJETIVOS DA PESQUISA................ 235
7.2 VALOR AO USUÁRIO COMO O EFEITO ESSENCIAL................................. 237
7.3 ESTRATÉGIAS DE LEGITIMAÇÃO E ISOMORFISMO................................. 240
7.4 ALGUMAS RECOMENDAÇÕES REGULATÓRIAS....................................... 241
7.5 SUGESTÕES PARA NOVOS ESTUDOS....................................................... 243 REFERÊNCIAS.................................................................................................... 244
18
1 INTRODUÇÃO
1.1 ESTADO E SUA PRESENÇA NA VIDA DAS PESSOAS
O Estado é uma construção da sociedade que abrange um povo, seu território
e seu governo. Suas ações são instrumentalizadas e operacionalizadas através da
denominada Administração Pública, tendo por principal objetivo a satisfação das
necessidades e o bem comum da coleti
p. 105) estão estabelecidos no artigo terceiro da Constituição Federal e contemplam
o seguinte:
I - construir uma sociedade livre, justa e solidária; II - garantir o desenvolvimento nacional; III - erradicar a pobreza e a marginalização e reduzir as desigualdades sociais e regionais; IV - promover o bem de todos, sem preconceitos de origem, raça, sexo, cor, idade e quaisquer outras formas de discriminação.
Assim, atuando em muitos campos, tais como, educação, saúde, segurança,
economia e diversos outros, o Estado se faz intensamente presente na vida das
pessoas. Sua presença toma forma e se manifesta, principalmente, através dos
serviços públicos que são um dever do Estado e um direito das pessoas, pois tais
serviços são considerados indispensáveis para dignidade humana. Entretanto, por
razões diversas que serão oportunamente aprofundadas, a prestação desses
serviços nem sempre é conduzida diretamente pelo Estado. Nesses casos, um dos
mecanismos utilizados é a concessão de serviços públicos a organizações
empresariais privadas.
Segundo Justen Filho (2003, p. 50) a concessão de serviços públicos,
começou a ser delineada no final da idade média, existindo registros de sua adoção
na França já no século XVI. Entretanto, sua generalização e consolidação
começaram a ocorrer somente no século XIX, quando foi largamente praticada até o
início do século XX. Posteriormente, a partir da década de quarenta, sua utilização
começou a diminuir ao mesmo tempo que a intervenção estatal começou a ganhar
19
espaço. Entretanto, nas duas últimas décadas do século XX, a concessão
novamente voltou a estar presente nas estratégias governamentais, especialmente
frente às dificuldades do Estado. Por este motivo, ainda segundo o referido autor, a
relevante.
Além disso, Bourges (2007, p. 130-131) destaca que o interesse crescente
pelos serviços públicos nas últimas décadas teria ocorrido em razão de diversos
-tecnológico, que tem propiciado
novas necessidade
Ele também considera que os serviços públicos começaram a ser rediscutidos,
atividades econômicas e na prestação de s
idéias de ineficiência econômica do setor público e de desperdício de recursos;
incapacidade de investimentos; custos elevados e endividamento público; [e]
De outro lado, com o advento do movimento neoliberal, passou a ser
tem primazia sobre a iniciativa esta
da intervenção estatal. Porém, nesse novo contexto, ficou reservado ao Estado o
particulares o sucesso em seus empreendimentos e estabelecer serviços adequados
-131).
No Brasil a figura da concessão foi utilizada ao longo do século XIX,
principalmente para a implantação de ferrovias, e no início do século seguinte, foi
aplicada em outros seto
razões desse fenômeno, está a incapacidade do Estado em propiciar a manutenção
de condições atrativas para o capital
utilizadas para abrigar os serviços públicos prestados pela administração indireta. As
exceções eram as concessões do setor de transporte rodoviário de passageiros.
20
Porém e, principalmente pela ausência de recursos públicos para os investimentos
necessários, a concessão surgiu novamente como alternativa para uma adequada
prestação dos serviços públicos (JUSTEN FILHO, 2003, p. 52).
Assim, no início da década de noventa ocorreu a retomada das concessões
no Brasil, demandando o desenvolvimento e aprimoramento dos instrumentos
institucionais de regulação e fiscalização da prestação de serviços públicos. Essas
demandas surgiram especialmente em razão do desafio administrativo estatal, em
conciliar os distintos interesses presentes na prestação desse tipo de serviço. Tais
interesses contemplam aqueles próprios da sociedade e, em especial, dos usuários
dos serviços públicos, bem como, aqueles dos particulares encarregados da
prestação dos mesmos. Também cabe lembrar, que várias das atividades de
regulação e fiscalização eram também, até então, exercidas de forma limitada por
órgãos da estrutura governamental convencional.
Normalmente, o interesse é concebido como uma utilidade econômica, mas,
também pode compreender uma vantagem de ordem moral. Assim, se manifesta
tanto em bens materiais como morais. O interesse moral é a
direitos à vida, à liberdade, ao sossego, ao bem-
material, ou mesmo em um direito ou bem intelectual, possa ser convertido ou
tran
de benefício comum ou para proveito geral, ou que se imponham por uma
diretamente a pessoa, o seu patrimônio, mostrando-se vantagem que lhe é inerente
assumidas pela iniciativa privada, para exploração norteada por postulados de
eficiênc
2006b, p. 9). Assim, as concessões envolvem dois aspectos básicos, o jurídico e o
econômico. O primeiro contempla os regramentos relacionados ao contrato de
concessão propriamente dito e às normas no entorno do mesmo. Já o aspecto
econômico, diz respeito à remuneração da concessionária, especialmente em
21
em razão do
não pelas regras competitivas do mercado (CARVALHO, 2010, p. 1-2).
Por sua vez, o serviço público propriamente dito pode ser entendido como
instituído, mantido e executado pelo Estado, através de suas
instituições e de seus órgãos, com o objetivo de atender os seus próprios interesses
-
0).
Dessa forma, de um lado tem-se o interesse privado, representado pelo
particular detentor da concessão, direcionado ao atendimento dos interesses
empresariais conforme diretrizes definidas pelos seus acionistas, como por exemplo,
a maximização de lucros, o aumento de margens operacionais, a redução de custos
e, assim, por diante. E, de outro lado, tem-se o interesse da sociedade desejando
serviços prestados com regularidade, segurança, preços módicos, entre outros
atributos. Esse contexto compreende um confronto de interesses, muitas vezes
conflitantes, que o Estado procura equacionar, senão, pelo menos minimizar,
através de ações de regulação e fiscalização.
Porém, é no ambiente das concessionárias que esse conflito de interesses
toma corpo e se manifesta com intensidade, principalmente quando da definição das
suas estratégias corporativas. Na condição de agentes do Estado para a prestação
de serviços públicos, as concessionárias além dos interesses próprios da atuação
empresarial, têm que atender ao interesse público, normalmente buscando dar
cumprimento à legislação, instruções normativas e disposições contratuais
pertinentes à concessão. As conseqüências desse conflito, por sua vez, tomam
forma nos resultados empresariais e no desempenho da prestação de tais serviços.
Assim, a relevância atribuída pelas concessionárias ao atendimento do dito interesse
público, a princípio se manifestará pela maior ou menor adequação dos serviços
prestados, avaliada segundo parâmetros definidos pelo Estado.
Para minimizar riscos e garantir que as concessões propiciem serviços
públicos adequados, o Estado desenvolve e utiliza instrumentos de regulação e
22
fiscalização, muitas vezes operacionalizados diretamente via entes estatais próprios
para tais funções, as agências reguladoras. Em alguns casos específicos, o Estado
também se utiliza de instrumentos complementares, tais como renúncia fiscal,
subsídios, financiamento facilitado e até a realização de investimentos iniciais, para
atrair o particular e, assim, garantir a disponibilização do serviço público dentro de
determinados padrões desejados.
A prestação adequada do serviço público nos termos definidos pela Lei 8.987,
de 13 de fevereiro de 1995, conhecida por Lei Geral das Concessões, e também
pelas demais disposições impostas à concessionária, implica na existência da
compatibilidade entre diversos fins, caracterizados pelas dimensões do que a lei
p. 308). Além da possibilidade de alguns confrontos entre os próprios atributos de
adequação, também há de se ressaltar os conflitos no atendimento de tais atributos,
com os fins econômicos esperados pela atividade empresarial.
Para estudar esse confronto de interesses e seu impacto no desempenho das
concessionárias no tocante aos serviços prestados, foi escolhido o setor elétrico
brasileiro que presta um serviço essencial para a vida das pessoas e indispensável
para as atividades produtivas. Outro aspecto particularmente motivador para estudar
esse setor, é que ele conta com uma política de investimentos obrigatórios em
pesquisa e desenvolvimento tecnológico (P&D), a qual, a princípio, deveria contribuir
para a obtenção de um maior nível de adequação dos serviços prestados, ou seja,
de que tais serviços atendessem os atributos de serviço adequado, conforme
estabelecido na legislação aplicável ao setor.
1.2 INOVAÇÃO COMO ESTRATÉGIA NOS DESAFIOS ENERGÉTICOS
A inovação em tecnologias energéticas é de grande importância, inclusive,
para os países desenvolvidos. Com o uso generalizado da energia nas economias
modernas, a sustentação do crescimento demanda energia a preços estáveis e com
fornecimento ininterrupto. De outro lado, o rápido aumento na demanda de energia
23
apresenta preocupações, cada vez maiores, sobre a segurança energética e sobre
os impactos do setor de energia no meio ambiente. Nesse contexto é crescente e
fundamental estimular a inovação em tecnologia de energia, para que seja possível
desenvolver e implantar soluções energéticas mais sustentáveis (OECD, 2006a,
p. 7).
No Brasil, além dos desafios associados ao aumento da capacidade de
geração de energia, cabe destacar que as grandes cidades ainda vão conviver por
sustentar o aumento do consumo de energia
também tem enfrentado problemas recorrentes na área de transmissão. Ainda no
início de 2011, estima-se que 51 milhões de pessoas foram atingidas por blecautes
na Região Nordeste e na grande São Paulo. Em 2009, foram cerca de 60 milhões de
pessoas afetadas por uma falha de transmissão que atingiu 18 estados brasileiros.
Outro aspecto que ilustra a situação são as freqüentes interrupções do fornecimento
, em média, 17 horas às
011, p. 116-117).
Além das iniciativas próprias e exclusivas das empresas, a inovação pode ser
estimulada ou até financiada através de ações governamentais, entidades setoriais e
por outras organizações. Entretanto, merece particular destaque a obrigatoriedade
imposta às concessionárias para investir em inovação no setor de energia. Tal
iniciativa é uma estratégia do setor público para enfrentar os desafios do setor
energético, expressa em leis, decretos e outros instrumentos complementares,
próprios do Estado.
É muito improvável que, após as reformas do setor elétrico, as
concessionárias investissem em P&D e em eficiência energética (EE), caso não
fossem obrigadas a isso. Nesse sentido, os instrumentos legislativos e regulatórios
são importantes, não apenas para assegurar recursos, mas, principalmente, para
dirigir o país a uma situação mais elevada de atividades nessas áreas. Entretanto,
tais instrumentos estão sob ameaças, tanto no sentido de reduzir o montante de
recursos obtidos, como de utilizá-los para outras finalidades além daquelas
relacionadas à área de energia. A situação também é preocupante frente à ausência
de mecanismos institucionais mais estáveis para o planejamento, acompanhamento
e avaliação dos investimentos em questão (JANNUZZI, 2007, p. 239).
24
Por força da Lei 9.991, de 24 de julho de 2000, as concessionárias e
permissionárias de geração, transmissão e distribuição do setor elétrico ficaram
obrigadas a investir, anualmente, uma parcela de sua receita operacional líquida em
P&D. No caso das empresas distribuidoras, a obrigatoriedade também inclui
investimentos em programas de eficiência energética (PEE). Ainda de acordo com
as regras vigentes, uma parte dos recursos, destinada aos investimentos em P&D, é
utilizada diretamente em projetos conduzidos pelas empresas, e outra parte é
transferida para o Fundo Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico
(FNDCT) e para o Ministério de Minas e Energia (MME). Ficaram isentas da
obrigatoriedade desses investimentos, apenas as empresas que geram eletricidade,
exclusivamente, a partir de pequenas centrais hidrelétricas, biomassa, cogeração
qualificada, usinas eólicas ou solares.
A competência para definir diretrizes, editar procedimentos e acompanhar os
resultados relacionados aos programas e projetos de P&D é da Agência Nacional de
Energia Elétrica (ANEEL). Essa agência, criada pela Lei 9.427, de 26 de dezembro
de 1996, na forma de autarquia especial, tem como atribuições principais a
fiscalização e regulamentação das atividades do setor elétrico brasileiro, incluindo a
mediação de conflitos entre os agentes do setor e os consumidores, bem como, a
avaliação dos serviços prestados.
Por sua vez, a obrigatoriedade dos investimentos em P&D surgiu na década
de noventa, através de cláusulas específicas em contratos de concessão, sendo,
posteriormente, consagrada pela referida Lei 9.991. Com tais investimentos,
pretendia-se privilegiar a produtividade como fator de obtenção da modicidade
eço e a máxima
Em que pesem as intenções relevantes para a sua institucionalização, a
política de P&D tem sido criticada em razão dos resultados obtidos que, estariam
aquém do desejável. Rubio (2005) observou a existência de uma defasagem entre a
regulamentação e a gestão da P&D no setor elétrico brasileiro. Na prática real essa
gestão é burocratizada, conforme induzido pela legislação em vigor, e também está
baseada em estruturas de gestão pouco eficientes. Por outro lado, ainda segundo a
referida autora, a P&D, na maioria dos casos, não inova e, apenas, gera melhorias
contínuas.
25
Outro exemplo, no mesmo sentido, é um estudo realizado junto aos gestores
de P&D de concessionárias de geração, transmissão e distribuição de energia
elétrica (QUANDT; SILVA JR; PROCOPIUCK, 2008, p. 253-254). Conforme esse
estudo, as atividades de inovação, caracterizadas pelos investimentos obrigatórios
nível de competitiv Os
referidos gestores das concessionárias também entenderam que os resultados da
P&D estão fracamente vinculados ao desempenho das empresas e às melhorias
sociais e ambientais, e que os esforços de inovação não estão alinhados com as
estratégias corporativas. Outro trabalho (SILVA JR. et al., 2010, p. 127), baseado em
indicadores de continuidade de 2005, não encontrou indícios de que os
investimentos obrigatórios em P&D contribuíram para melhoria dos serviços de
distribuição de energia elétrica.
Em um estudo realizado em 2009 (GUEDES; OLIVEIRA; RIBEIRO, 2010), foi
considerado que os resultados da P&D do setor elétrico não apresentaram
resultados animadores sob o critério da geração de patentes, que foram viabilizadas
somente em 2% dos projetos. Esse último estudo identificou, ainda, a falta de
planejamento e de interação dos gestores da P&D com as áreas técnicas das
empresas. Por outro lado, esse estudo concluiu que tais investimentos têm
propiciado alguns benefícios como publicações e capacitação de pessoal, e que
cerca de 35% dos produtos gerados nos projetos, estão tendo algum uso laboratorial
ou nas concessionárias, sendo desses, 6% em uso comercial. Cabe ressaltar que
também se considera limitada a avaliação que é baseada em indicadores
de acumulação de conhecimentos pelos quais as empresas passam antes de
A obrigatoriedade dos investimentos no setor elétrico foi um passo importante
frente às perspectivas de maior participação do setor privado e do estabelecimento
de um ambiente competitivo. Esse novo contexto passou a demandar a
intensificação dos esforços direcionados à redução de custos, otimização de
investimentos e outras medidas. Também poderia estimular a adoção de estratégias
voltadas à busca de resultados mais imediatos, comprometendo os investimentos
em tecnologia. Entretanto, reforçando as constatações anteriores já mencionadas,
26
depois de decorridos alguns anos da implantação da obrigatoriedade dos
investimentos em P&D, ainda não foi possível observar a implantação de estratégias
efetivas de inovação no setor elétrico, e tampouco melhorias qualitativas no
segmento industrial vinculado a esse setor (SOUZA; NICOLSKY, 2005, p. 6).
Além disso, considera-se que os investimentos no setor elétrico deveriam
priorizar o cidadão comum, ou mais propriamente, aquele usuário dos serviços que
deve ser baseado em
A Lei Geral das Concessões, as regulamentações da ANEEL e os contratos
com as concessionárias, conforme já referido, contemplam a expectativa de que
essas empresas prestem serviços adequados. Isso significa que a melhoria do
desempenho em determinados atributos, próprios de um serviço adequado, deveria
estar contemplada nos objetivos a serem atingidos pelas concessionárias. No caso
específico dos investimentos em P&D, cabe também questionar a aderência
conceitual existente entre os critérios de avaliação de projetos de P&D adotados
pela ANEEL, e os atributos de serviço adequado estabelecidos pela legislação. No
presente estudo, esta aderência corresponde ao alinhamento ou até mesmo
convergência entre os conceitos e as práticas existentes em um determinado
contexto, mesmo que em diferentes combinações ou intensidades (FREZZATTI et
al., 2007, p. 35). Ressalte-se ainda a instabilidade no marco regulatório da política
de P&D do setor elétrico, pois em uma década de sua implantação, já ocorreram
várias alterações na lei que lhe deu origem, bem como nos manuais da ANEEL, que
definem as regras para esses investimentos.
Por outro lado, deve ser lembrado que a tecnologia é hoje um dos mais
importantes instrumentos para garantir a competitividade de uma empresa e para
promover o desenvolvimento econômico das nações. Assim, a discussão e a
avaliação dos investimentos em P&D do setor elétrico e, de forma mais geral, sobre
a inovação e capacitação tecnológica empresarial, passam a ser fundamentais, tanto
para a ampliação do debate sobre políticas industriais, comerciais e tecnológicas
destinadas a uma maior integração competitiva internacional do país (FURTADO,
1994), como para enfrentar os desafios sociais e econômicos da atual realidade
nacional.
27
Porém, cabe destacar que muito pouco tem sido trabalhado no sentido de
discutir e avaliar os investimentos em P&D sob o interesse do usuário dos serviços,
no qu
a ocorrência pragmática de impactos positivos desse esforço de inovação na
realidade das pessoas, especialmente, das usuárias do serviço público, eis que elas
representam a essência ou a razão de ser do serviço público.
O setor elétrico com suas características de mercado regulado e em grande
parte monopolizado, com consumidores cativos em sua maioria, demanda uma
abordagem estratégica diferenciada para a questão da inovação tecnológica e,
especialmente, das atividades de P&D que lhe dão sustentação. Normalmente a
P&D está orientada para o ambiente empresarial competitivo, no qual é relevante
aumentar o faturamento, via lançamento de novos produtos e serviços, ou, ainda,
melhorar a rentabilidade, através da redução de custos ou aumento da produtividade
com novos processos. Essa orientação, por sua vez, no setor elétrico pode ter
relevância para atendimento do interesse privado, mas, somente será de interesse
público se os resultados agregarem valor para os seus usuários e para a sociedade
em geral.
A estratégia de investir em inovação tecnológica, no âmbito da prestação de
um serviço público, tem que ir além da lógica tradicional de aumentar e dar
sustentação à capacidade competitiva de uma determinada empresa ou setor. No
caso do setor elétrico, em particular, os investimentos obrigatórios em P&D também
devem propiciar benefícios diretos para os seus usuários. Os ganhos obtidos pelas
empresas com esses investimentos, de alguma forma devem ser compartilhados e
traduzidos em benefícios para a sociedade.
Outro aspecto da questão diz respeito ao fato de que as concessionárias do
setor elétrico, como toda organização empresarial, estão inseridas num ambiente de
múltiplas dimensões, entre as quais, a econômica, a social e a ambiental. Assim, ao
prestarem os serviços concedidos, tais empresas promovem vários tipos de
alterações nesse ambiente, inclusive de cunho cultural e tecnológico. O processo de
conscientização sobre esse papel e seus impactos pode ser denominado de
responsabilidade socioambiental empresarial (ANEEL, 2006a).
Há vários anos, essas questões estão contempladas na pauta empresarial
brasileira, incluindo as concessionárias do setor elétrico. Por iniciativa própria,
muitas empresas têm investido no desenvolvimento social, atuando junto a
28
empregados e seus familiares, comunidades carentes e outros segmentos, para
promover a cidadania, atenuar a exclusão social, combater a degradação ambiental
e equacionar outros problemas contemporâneos (ANEEL, 2006 a).
No âmbito do setor elétrico, esse processo de conscientização foi fortalecido a
partir de 2002, quando as concessionárias passaram a elaborar o Relatório Anual de
Responsabilidade Empresarial que, em 2006, foi transformado no Relatório de
Responsabilidade Socioambiental, contemplando, atualmente, indicadores
relacionados às dimensões: geral, governança corporativa, econômico-financeira,
social, setorial e ambiental. Além disso, diversas concessionárias, no sentido de
atender às demandas de investidores, especialmente do mercado externo, já
elaboram relatórios de responsabilidade social corporativa, segundo padrões
internacionais (ANEEL, 2006a). Dessa forma, com tal base de dados, ficam
facilitados os estudos sobre as políticas adotadas no setor elétrico, especialmente
aquelas que dizem respeito aos impactos da política de investimentos obrigatórios
em P&D.
Alcançando as prestadoras de serviços públicos, como é o caso do setor de
distribuição de energia elétrica, outro ponto merecedor de atenção é a divergência
sobre a função das empresas que, para alguns é econômica, e para outros, social.
Mesmo fora do ambiente acadêmico, essa divergência se manifesta. Uma pesquisa
sobre o papel das empresas em geral, indicou que 93% das pessoas entrevistadas,
consideraram entre dez alternativas, que a principal função empresarial é a geração
de empregos, e a última, com 10%, dar lucro aos acionistas. Por outro lado, para
82% dos executivos entrevistados, a obtenção de lucro se destacou em primeiro
lugar (BLECHER; GUROVITZ, 2005).
Por outro lado, independentemente da controvérsia sobre a função das
empresas, um grande esforço internacional tem sido desenvolvido para padronizar
elementos de avaliação do desempenho empresarial, principalmente no tocante à
responsabilidade social corporativa e à sustentabilidade. Além disso, também é
possível observar movimentos de transição dos modelos de gestão focados apenas
no desempenho financeiro, para novos formatos baseados na sustentabilidade
econômica, social e ambiental, aliás, como já indicado anteriormente (ANEEL,
2006a). Segundo Sellitto; Borchardt e Pereira (2006), a partir dos anos noventa,
começou a ocorrer um maior interesse pela medição do desempenho empresarial
que, até então, priorizava os resultados financeiros, tais como lucro e taxa de
29
retorno, em detrimento de outras dimensões de desempenho. Para os autores,
considerando diversos trabalhos, isso trazia problemas estratégicos em razão da
falta de referenciais sobre o desempenho futuro, limitações para decisões em
ambientes turbulentos, ênfase no curto prazo, perda de alinhamento estratégico e,
Por sua vez, a avaliação do desempenho inovativo em serviços públicos pode
ser subsidiada pelos indicadores utilizados em ciência, tecnologia e inovação (CT&I),
que normalmente podem compreender três categorias distintas. Uma contempla os
a
natureza e fatores presentes nos processos de produção, difusão e uso de
à formulação, acompanhamento e avaliação de políticas públicas. E, finalmente,
têm-se os indicadores
tecnológicas das empresas, assim como, das atitudes de trabalhadores, instituições
e do público em geral, em relação a temas de CT&I (VIOTTI, 2003).
Para Costa e Castanhar (2003), a avaliação de programas públicos é
setor público e da imprescindível intervenção governamental para atender à
Os autores também consideram que a:
avaliação sistemática, contínua e eficaz surge como ferramenta gerencial poderosa, fornecendo aos formuladores de políticas públicas e aos gestores de programas condições para aumentar a eficiência e efetividade dos recursos aplicados em programas sociais. (COSTA; CASTANHAR, 2003, p. 969-970).
Entretanto, tal avaliação apresenta muitos desafios como, por exemplo, os
diferentes tipos e critérios de avaliação, a variedade de procedimentos, bem como,
os elementos de operacionalização sem definições pacificadas, como é o caso dos
indicadores sociais (COSTA; CASTANHAR, 2003).
30
1.3 APRESENTAÇÃO GERAL DA PESQUISA
1.3.1 Motivações
A presente pesquisa foi motivada pelo desafio de avaliar, sob o viés da
adequação dos serviços, o atendimento ao interesse público no tocante à política de
investimentos obrigatórios em P&D no setor elétrico.
O enfrentamento de tal desafio também foi estimulado pela discussão sobre o
papel e limites do Estado no tocante à regulação; pela divergência sobre a função
das empresas, principalmente daquelas atuantes em serviços públicos; pela
discussão sobre a sustentabilidade empresarial em mercados regulados; bem como,
pela carência de instrumentos específicos para avaliar o esforço inovativo
empresarial frente ao atendimento dos atributos de serviço adequado.
Além disso, de forma geral, a administração pública brasileira, não conta com
cultura ou práticas consagradas para a avaliação de políticas e ações
governamentais. Essa situação, portanto, representa uma oportunidade para o
desenvolvimento de metodolo
A realização da pesquisa é ainda estimulada pela expectativa de que seus
resultados possam subsidiar o desenvolvimento de novos instrumentos
metodológicos e a adoção de futuros indicadores para setores objeto de
regulamentação e fiscalização pelo Poder Público, como é o caso do setor elétrico.
Essas ações poderão, adicionalmente, redundar na viabilização de comparações
temporais, dentro de bases e referências adequadamente concebidas e acumuláveis
no tempo, como também poderão contribuir na definição de prioridades estratégicas
e na avaliação do desempenho empresarial no setor.
31
1.3.2 Problema proposto
A especificação dos aspectos gerais da pesquisa demanda algumas
considerações preliminares, quais sejam:
a) a prestação de serviço público deve atender prioritariamente ao interesse
público e de forma adequada ao mesmo, ou seja, com regularidade,
continuidade, eficiência, segurança, atualidade, generalidade, cortesia e
modicidade das tarifas, conforme disposição da Lei Geral de Concessões;
b) as concessionárias têm limitações para definir suas estratégias de
investimentos em P&D, pois devem observar as regras do órgão que
regula a atividade em que atuam;
c) existem questionamentos quanto à relevância para a sociedade e,
especialmente, para os usuários dos serviços, dos retornos propiciados
pelos investimentos em P&D realizados pelas concessionárias desse
setor;
d) os usuários dos serviços públicos, a sociedade de forma geral, as
concessionárias e o órgão regulador, não dispõem de mecanismos
ajustados de comum acordo para a avaliação da adequação dos serviços
prestados.
Assim sendo, o problema de pesquisa proposto é:
Os esforços de inovação do setor elétrico brasileiro, ora caracterizados pelos investimentos obrigatórios em P&D realizados pelas concessionárias de distribuição de energia elétrica, contribuem com o resultado empresarial e com a disponibilização de serviços adequados, conforme estabelecido na Lei Geral das Concessões?
Neste sentido, foram definidas as seguintes questões de pesquisa,
considerando o âmbito do setor de distribuição de energia elétrica:
a) Como podem ser caracterizados os atributos de serviço adequado e o
resultado empresarial?
32
b) Existem indicadores do setor que possam representar os atributos de
serviço adequado e o resultado empresarial?
c) Existe aderência conceitual dos atributos de serviço adequado e do
resultado empresarial, com os instrumentos regulatórios dos projetos de
P&D?
d) Existe aderência conceitual dos atributos de serviço adequado e do
resultado empresarial, com as estratégias de investimento em P&D das
concessionárias?
1.3.3 Objetivos pretendidos
O objetivo geral da pesquisa que deu origem a presente tese, foi avaliar se os
investimentos obrigatórios em P&D realizados pelas empresas concessionárias de
distribuição de energia elétrica contribuem com o desempenho das mesmas no
tocante ao seu resultado empresarial e à prestação dos serviços segundo os
atributos de serviço adequado.
Os objetivos específicos, por sua vez, ainda no âmbito do setor de distribuição
de energia elétrica, foram os seguintes:
a) conceituar o resultado empresarial e os atributos caracterizadores de
serviço adequado, bem como identificar indicadores do setor que possam
representá-los;
b) verificar a aderência conceitual do resultado empresarial e dos atributos de
serviço adequado, com os critérios estabelecidos para avaliar os projetos
de P&D;
c) verificar a aderência conceitual do resultado empresarial e dos atributos de
serviço adequado, com as estratégias de P&D das concessionárias.
d) avaliar os impactos dos investimentos em P&D nos indicadores do setor
associados ao resultado empresarial e aos referidos atributos;
e) identificar eventuais oportunidades de melhorias no planejamento,
regulação, fiscalização e outras ações no setor.
33
1.3.4 Justificativas
As justificativas da presente pesquisa compreendem aspectos de ordem
teórica e prática, que são detalhados a seguir para ilustrar a relevância do tema
proposto. De qualquer forma, cumpre ressaltar que a presente tese trata de uma
abordagem inovadora para avaliação do esforço empresarial em inovação.
Tradicionalmente, conforme o Manual de Oslo (OECD, 2006b, p. 124), Trizotto e
Gleiser (2009, p. 192) e outras referências indicadas na seção 4.5.3, esse esforço é
avaliado sob o viés do interesse empresarial e também pelo resultado em si mesmo.
O que aqui se propõe, é uma abordagem de avaliação orientada pelo interesse
público, e mais precisamente, pelo interesse do usuário, ou, de forma similar pelo
lado da demanda, segundo os atributos de serviço adequado.
1.3.4.1 Justificativa teórica
No âmbito dos estudos organizacionais, a pesquisa em estratégia é uma das
áreas de desenvolvimento mais recente, cujos principais temas são o ambiente
estratégico, o conteúdo estratégico e o processo estratégico. A primeira perspectiva
pode abranger as formas de organização, forças ambientais, efeitos da
concorrência, populações de organizações, posicionamento, adaptação
organizacional e análises ambientais. A segunda pode contemplar produtos e
tecnologias, mercado de atuação, concorrência, vantagem competitiva e resultados
obtidos. A terceira pode envolver mudança organizacional, processo decisório,
configurações estruturais, aprendizagem organizacional, relações de poder, entre
outras (BULGACOV et al., 2007, p. 132, 151).
No âmbito da perspectiva de conteúdo estratégico são sugeridos vários temas
desem
demanda por novas dimensões para avaliação do desempenho empresarial, eis que
os critérios tradicionais de eficiência empresarial, tais como a lucratividade, devem
34
critérios de pertinência, de justiça, de equidade de suas ações,
Especificamente quanto aos resultados estratégicos, as sugestões de temas
para estudos futuros contemplam, entre outras temáticas:
o desenvolvimento de metodologias de resultados estratégicos [...] estudos dos elementos constituintes dos resultados estratégicos (econômicos, políticos, sociais, etc.), desenvolvimento de ferramentas de avaliação de resultados estratégicos [...] estudos a respeito do papel social da empresa e o impacto das novas teorias de responsabilidade social empresarial na estratégia organizacional (BULGACOV et al., 2007, p. 140).
Nesse sentido e de forma complementar aos referidos autores, Gianotti (2004,
p. 209), conclui sua pesquisa sobre avaliação estratégica no setor de ensino
superior, atividade também regulada pelo Estado, recomendando estudos sobre a
finalidade da gestão estratégica, eficiências e eficácias do desempenho institucional,
bem como sobre o uso de indicadores adequados aos diversos níveis decisórios. A
preocupação com o desempenho estratégico, especificamente no âmbito
empresarial, também é vista como uma das tendências para o futuro do campo da
estratégia, o que torna necessárias, inclusive, pesquisas relacionadas às aplicações
da teoria institucional nos estudos de estratégia (BULGACOV et al., 2007, p. 16).
Tais tendências e recomendações de estudos evidenciam a existência de
oportunidades relacionadas aos estudos teóricos e empíricos do desempenho
estratégico das organizações, especialmente, no contexto de atuação empresarial
em ambientes regulados pelo Poder Público, como é o caso do setor de serviços de
interesse público. É exatamente nesse sentido que se inseriu a pesquisa que deu
origem a presente tese.
1.3.4.2 Justificativa prática
O aumento da delegação de serviços públicos para agências autônomas e
empresas privadas, tem exigido o desenvolvimento de novas metodologias e
instrumentos de avaliação que, além de agilidade e baixo custo, devem ser capazes
de propiciar bases mais consistentes para a tomada de decisões no setor público e
35
para avaliação do desempenho de tais agências. Assim, a avaliação de resultados
torna-
CASTANHAR, 2003, p. 972).
De forma mais específica, no setor de distribuição de energia elétrica, as
demandas da sociedade, as expectativas dos stakeholders, os desafios tecnológicos
e os recursos disponibilizados para a P&D, demandam instrumentos para aprimorar
o monitoramento do desempenho estratégico das concessionárias. Tal iniciativa é,
também, particularmente relevante quando se deseja compreender as relações entre
a inovação tecnológica e a adequação dos serviços prestados. Esse esforço, por
sua vez, deve gerar subsídios para as próprias empresas, órgãos de fiscalização e
controle, usuários, investidores e para a sociedade em geral.
Dessa forma, trabalhou-se com a expectativa de que os resultados da
pesquisa poderão contribuir com a promoção da capacidade de atendimento do
interesse público, análise de riscos, modelagem institucional, concepção e
implantação de estratégias empresariais, bem como, com políticas de inovação
tecnológica no setor elétrico brasileiro e, eventualmente, em outros setores de
serviços públicos, sujeitos à regulação e fiscalização governamental. Também existe
a expectativa que essa nova abordagem de avaliação da P&D, possa se constituir
em um instrumento complementar de avaliação da política de inovação empresarial
em ambientes regulados, como é o caso em questão.
Por outro lado, cabe ressaltar que a presente tese, inserida no contexto das
políticas públicas, poderá contribuir, ainda que de forma marginal e, especialmente,
no âmbito do setor elétrico, com o conhecimento em políticas específicas, conteúdos
da política estatal, inter-relações entre estruturas e processos do sistema político-
administrativo. Também, levando em conta a dinâmica temporal dos ciclos políticos,
poderá gerar subsídios para novos estudos voltados a uma melhor compreensão
dos processos de transição (FREY, 2000, p. 243).
1.4 ASSUNTOS TRATADOS
A presente tese conta com mais seis capítulos, além do presente capítulo de
introdução. Cabe ressaltar que no presente trabalho, não foi adotada a formatação
36
usual de teses, na qual a apresentação dos aspectos metodológicos é precedida do
referencial teórico. A apresentação da metodologia, logo após a introdução, teve por
objetivo possibilitar uma apresentação mais contínua do estudo e também, propiciar,
quando possível, uma maior aproximação entre tal referencial e o caso estudado.
Nesse sentido, o segundo capítulo aborda a metodologia no qual,
inicialmente, são apresentados os aspectos gerais da mesma, compreendendo a
abordagem e a classificação da pesquisa; as características da estratégia de estudo
de caso e os métodos utilizados. Posteriormente, é apresentado o esquema
conceitual utilizado e a seguir, seus principais elementos constitutivos: unidade de
análise, as variáveis e as categorias de pesquisa, quais sejam: serviço adequado,
resultado empresarial e áreas de P&D.
O segundo capítulo trata, ainda, do setor de distribuição de energia elétrica,
escolhido para a realização da pesquisa, com apresentação de suas principais
características e as bases de dados utilizadas. Na seqüência são apresentadas as
características da coleta e da análise de dados. Com relação a essa última, são
apresentados os métodos quantitativos utilizados que foram a análise de dados em
painel e a análise de correlação. Na sequência são apresentados os métodos
qualitativos, que compreenderam a análise de conteúdo e a análise da aderência
conceitual. O capítulo é concluído com a indicação de algumas limitações da
metodologia utilizada.
O terceiro capítulo, por sua vez, trata de conceituações e abordagens teóricas
relacionadas ao Estado, políticas e serviços públicos. Inicialmente são apresentadas
conceituações relacionadas ao Estado, Administração Pública, políticas e serviços
públicos, princípios administrativos e serviços adequados, incluindo considerações
sobre os atributos desses últimos. Na seqüência são tratados os interesses
envolvidos na prestação de serviços, contemplando basicamente o interesse privado
e o público, os interessados e, ainda os desafios e conflitos presentes na prestação
de serviços públicos.
No quarto capítulo, inicialmente, são apresentados conceitos, classificações,
atividades, estratégias e modelos de avaliação da inovação tecnológica, bem como,
considerações sobre a inovação regulada. A seguir são apresentadas considerações
sobre as perspectivas estratégicas relacionadas à prestação de serviços públicos,
compreendendo a visão neo-institucionalista; os conceitos de estratégia; as
características da participação social, os entendimentos sobre a função e resultado
37
empresarial; os conceitos, características, origens e situação atual no Brasil das
concessões. O capítulo é concluído com o tema regulação dos serviços públicos,
envolvendo características institucionais, agências reguladoras e a modelagem
regulatória.
O quinto capítulo detalha características, conceitos e outros aspectos
relacionados ao caso estudado que contempla o setor elétrico e a inovação
tecnológica no âmbito desse setor. Com relação ao setor elétrico é apresentado um
retrospecto histórico sobre sua evolução no Brasil, abrangendo cinco etapas, com
destaque para a privatização e reformas realizadas nas duas últimas décadas. Na
seqüência são apresentadas as características das áreas principais, da regulação e
da competição nesse setor; sendo a área de distribuição apresentada com detalhes.
O capítulo é concluído com antecedentes, marcos legais e regulatórios, relativos aos
investimentos obrigatórios em P&D do setor de energia elétrica.
O sexto capítulo apresenta os resultados da análise empírica realizada no
âmbito do setor de distribuição de energia elétrica. Inicialmente são abordadas
algumas ocorrências relacionadas à coleta de dados, bem como o esquema de
triangulação metodológica utilizado, contemplando as interfaces entre dados,
métodos e as categorias de análise. Posteriormente, são abordados aspectos
metodológicos específicos e apresentados os resultados relacionados à análise
quantitativa, contemplando o uso de dados em painel e a correlação estatística, bem
como, aqueles relacionados à análise qualitativa, abrangendo a análise de conteúdo
e de aderência conceitual. O capítulo é concluído com um comparativo entre os
resultados dos diversos métodos utilizados e com as respostas às questões de
pesquisa.
Finalmente, o sétimo capítulo apresenta considerações relativas aos objetivos
alcançados, conclusões sobre os resultados da pesquisa no tocante ao que se
denominou campo do efeito final, que trata da agregação de valor aos usuários dos
serviços públicos, algumas sugestões para melhorias na regulação da P&D do setor
elétrico e também para novos estudos.
38
2 METODOLOGIA
2.1 ASPECTOS GERAIS
2.1.1 Abordagem adotada
A presente pesquisa possui abordagens de cunho quantitativo e qualitativo,
porém sua ênfase é qualitativa. Nessa abordagem, a amostragem é intencional, a
coleta de dados é pouco estruturada, a análise é interpretativa, e os resultados não
são generalizáveis
(VERGARA, 2008, p. 257). Segundo
Glesne (2005, p. 5), as pesquisas qualitativas têm como premissas a realidade
socialmente construída e a presença de variáveis complexas, entrelaçadas e de
difícil medição, e podem ter como fins, a compreensão, contextualização ou a
interpretação.
De uma forma simplificada, as pesquisas qualitativas são estruturadas por
quatro paradigmas interpretativos principais, que são o positivista e pós-positivista,
construtivista-interpretativo, crítico e feminista-pós-estrutural. A pesquisa realizada
está relacionada ao paradigma construtivista-interpretativo, no qual se utiliza uma
ontologia relativista, ou seja, da existência de múltiplas realidades, bem como, se
empregam narrações do tipo interpretativo, ficção etnográfica e estudo de caso, o
que foi adotado na referida pesquisa. Além disso, nesse tipo de pesquisa é usual a
adoção de critérios de fidedignidade, credibilidade, transferibilidade e
DENZIN; LINCOLN, 2006,
p. 34-35).
A abordagem qualitativa é de forma geral, adequada para estudos
aprofundados, conduzidos sem grandes preocupações de quantificação. Ela
possibilita uma maior percepção e interpretação do significado de determinados
fenômenos e, em algumas situações, permite explorar e identificar conceitos num
ambiente de fortes interações sociais (MARTINS et al., 2007).
39
Além disso, as teorias determinísticas, associadas ao uso de metodologias
quantitativas, apresentam limitações para explicar fenômenos socialmente
complexos, como é o caso do processo de inovação (LOPES; BARBOSA, 2008,
p. 11). Inclusive, conforme é próprio das abordagens qualitativas, o estudo desses
fenômenos deve considerar diferentes perspectivas, que podem ser integradas na
medida em que apresentem contribuições e críticas, umas às outras (LOPES;
BARBOSA, 2008, p. 20).
2.1.2 Classificação da pesquisa
Com base na classificação de níveis de pesquisa social, proposta por Gil
(2009, p. 26-29), as pesquisas podem ser exploratórias, descritivas ou explicativas.
As exploratórias são destinadas ao desenvolvimento, esclarecimento e modificação
de conceitos e idéias, possibilitando formular problemas ou hipóteses com maior
precisão para estudos posteriores. Por sua vez, a
características de uma determinada população ou fenômeno ou o estabelecimento
que determinam ou que contribuem para a ocorrência dos
De forma semelhante, Hair Jr. et al. (2008, p. 83-84), classificam os planos de
pesquisa na área de administração como exploratórios, descritivos e causais. Para
esses autores, a pesquisa exploratória é útil nas situações em que as questões de
pesquisa são vagas, ou que exista pouca teoria para orientar os trabalhos. Já a
descritiva, é adequada para realizar descrições, especialmente através
mensurações de eventos ou atividades. E, finalmente, a causal, é apropriada
quando se deseja testar se um evento causa efeito em outro.
Considerando tais classificações, a pesquisa realizada pode ser considerada
predominantemente descritiva. Segundo Gil (2009, p. 28), esse tipo de pesquisa tem
sido utilizado para estudar o nível de atendimento em serviços públicos e, mais que
determinar a natureza dessas eventuais relações, a pesquisa descritiva pode,
inclusive, se aproximar da explicativa. Também se aproxima da exploratória, na
medida em que pode proporcionar novas visões sobre o problema estudado.
40
2.1.3 Estratégia de pesquisa
No tocante à estratégia de pesquisa, também denominada modo de
p. 224-227), deve reunir informações detalhadas e, assim, permitir um estudo
aprofundado em uma ou várias organizações reais. Deve também preservar o papel
da teoria e envolver uma investigação empírica. Esse método, bastante utilizado em
estudos qualitativos, é caracterizado pela exploração de um único fenômeno,
limitado no tempo e na ação, compreendendo um estudo detalhado de uma
determinada e bem definida entidade, ou seja, de um caso (MARTINS et al., 2007).
No unidade que se analisa
à natureza e abrangência de tal unidade. A outra compreende os suportes teóricos
que orientam a investigação (TRIVIÑOS, 1987, p. 133-134). Por outro lado, existe
pouco consenso quanto ao conceito de estudo de caso. De qualquer forma, uma de
suas principais características é a limitação da atenção para um aspecto particular
de um contexto específico, que pode compreender desde um período de tempo até
um grupo de pessoas. Os objetivos centrais desse tipo de investigação podemser
puramente descritivos ou exploratórios, através de estudosaprofundados (BABBIE,
2006, p. 298).
Para Yin (2005, p. 32-34), o estudo de caso é uma investigação empírica de
um determinado fenômeno contemporâneo, inserido em seu contexto real, sem
definições claras dos limites entre tal fenômeno e esse contexto. Segundo o autor, a
investigação de estudo de caso trata de uma questão única, com muitas variáveis de
interesse, resultado baseado em várias fontes, e que é beneficiada por proposições
teóricas prévias a serem utilizadas na coleta e análise de dados. Pode envolver um
caso único ou múltiplos casos, bem como, evidências qualitativas e quantitativas.
A escolha do estudo de caso como estratégia de pesquisa, foi considerada
controle sobre eventos comportamentais; e, também, por focalizar acontecimentos
contemporâneos, conforme descrito por Yin (2005, p. 24).
41
2.1.4 Métodos utilizados
Foram utilizados distintos métodos e diferentes fontes de dados para
investigar um mesmo fenômeno, caracterizando o uso da triangulação, também
denominada de abordagem multimétodos. Esse procedimento metodológico, que
pode envolver a triangulação de dados, de pesquisadores, de teorias e/ou de
métodos, é utilizado como estratégia para alcançar a validade da pesquisa, e como
alternativa para obter novas perspectivas e conhecimentos (VERGARA, 2008,
p. 258).
Para Denzin e Lincoln (2006, p. 19), a triangulação é também uma tentativa
para obter maior compreensão do fenômeno estudado. Por sua vez, Yin (2005,
p. 179-180) considera que o estudo de um caso específico pode incorporar unidades
de análise ou conter dados que tenham sido coletados por outros métodos, e até
Na presente pesquisa foram utilizadas várias fontes de dados, o que
possibilitou estudar o fenômeno em diferentes momentos, locais e instituições,
correspondendo, respectivamente, aos anos dos dados coletados, às regiões de
concessão e às concessionárias de distribuição, bem como, com relação ao
arcabouço normativo ao qual às concessionárias estão subordinadas.
Com relação aos métodos, foi utilizada a triangulação do tipo simultânea,
envolvendo, ao mesmo tempo, métodos quantitativos e qualitativos que se
complementaram na conclusão da pesquisa, conforme entendimento de Vergara
(2006, p. 258). Como métodos quantitativos foram adotados os procedimentos
estatísticos da correlação e dos dados em painel e, como método qualitativo, foi
utilizada a análise de conteúdo.
2.2 ESQUEMA CONCEITUAL
Nas pesquisas qualitativas, apesar da falta de consenso quanto à utilização
de um quadro teórico, o uso de um esquema conceitual, elaborado previamente à
coleta de dados, é de grande utilidade para identificar aspectos e relações
42
relevantes nos eventos estudados. Esse esquema, dependendo do problema
pesquisado, pode compreender uma teoria, um ou mais constructos, ou até uma
metáfora. Além disso, durante a pesquisa, é possível acrescentar categorias teóricas
compatíveis com a direção inicial (ALVES-MAZZOTTI; GEWANDSZNAJDER, 2004,
p. 158).
Neste sentido, foi adotado um esquema conceitual baseado na revisão
bibliográfica e na análise do referencial teórico obtido através da mesma, bem como,
na legislação e nos regulamentos brasileiros aplicáveis ao problema proposto. Este
esquema, ilustrado na figura 1, teve por finalidade orientar a pesquisa durante a
coleta e análise de dados, como também, na fase final de conclusão.
Interesse Público
Interesse Privado
Figura 1 - Esquema Conceitual Fonte: Resultados da pesquisa.
A concepção proposta, parte do entendimento que cabe ao Estado a
responsabilidade pela prestação de serviço público. Nesse sentido, ele adota as
concessões como estratégia para viabilizar a prestação de um determinado serviço
público. Por sua vez, a concessão conta com a participação da concessionária, que
vislumbra a possibilidade de auferir lucros com tal atividade. Dessa forma, as
concessões constituem um instrumento que é do interesse público e do privado, eis
que contribuem com a consecução dos objetivos institucionais das partes
envolvidas.
Serviços Públicos
Concessões
Estratégias
Empresariais
Pesquisa e
Desenvolvimento
Resultado Empresarial
(oferta)
Serviço Adequado (demanda)
Campo do Efeito Essencial
43
Em razão do interesse público, as concessionárias do setor elétrico são
obrigadas a investir em P&D, conforme determinado pelos instrumentos próprios do
Estado. Tais investimentos foram considerados como expressão objetiva do esforço
de inovação nesse setor. Por outro lado, em que pesem as limitações estatais
normativas, esse investimentos são dependentes das estratégias que as
concessionárias adotam para desenvolver suas atividades empresariais, e outras
decorrentes da concessão. Nesse contexto, envolvendo o aparato normativo estatal
e a estratégia empresarial, é possível considerar que a definição estratégica
relacionada à P&D, envolve um esforço de compatibilização e equilíbrio entre o
interesse público e o privado. Como conseqüência, os investimentos obrigatórios
podem gerar resultados com maior ou menor grau de alinhamento aos interesses
privado, público e/ou comum.
Para avaliar esses investimentos em P&D, dentro do citado contexto, foi
considerado que os resultados dessa atividade podem ser distribuídos em dois
abriga os resultados
relacionados ao atendimento do interesse público, ora caracterizado como a
melhoria dos atributos de serviço adequado. O segundo, os que contribuem para o
atendimento do interesse privado, compreendendo, em especial, a lucratividade e a
produtividade.
esquema conceitual, é uma proposta alternativa às abordagens tradicionais e usuais
contempladas em outras pesquisas, manuais e procedimentos relacionados à
avaliação da pesquisa, desenvolvimento e inovação. Foi entendido que o confronto
de interesses e a obrigatoriedade de investimentos em P&D configuram um
ambiente institucional muito distinto dos ambientes convencionais de atuação
empresarial e do próprio Estado. Além disso, há de se considerar que o processo de
regulação pode introduzir algumas distorções ou ser até omisso, com relação aos
elementos balizadores da concessão, ora, considerados como os atributos de
serviço adequado contemplados na legislação pertinente.
A avaliação usual dos resultados da P&D é baseada no que ora se denomina
tuação em um ambiente competitivo.
Essa perspectiva contempla a identificação dos benefícios auferidos por quem
desenvolve tais atividades, como novos produtos e serviços lançados, patentes
44
obtidas, aumento do faturamento via inovações, e assim por diante. Por outro lado, a
abordagem de avaliação proposta, que se dá segundo os atributos caracterizadores
-
além dos benefícios diretos de quem investe em P&D, pois procura ir de encontro à
realidade dos benefícios gerados para os usuários dos produtos e serviços, oriundos
da P&D, ora denominada de campo do efeito essencial.
aos resultados da P&D. Porém, a abordagem
competitivo e, assim, pode ser mais adequada para o contexto da prestação de
serviços públicos, concedidos em regime de exclusividade.
2.3 ELEMENTOS CONSIDERADOS
2.3.1 Unidade de análise
organizados para a análise. Uma pesquisa pode contar com mais de uma unidade
de análise, contemplando um ou vários aspectos do problema estudado.
A especificação dessas unidades pode ser alterada no desenvolvimento da
pesquisa, pois a análise dos dados frequentemente indica a necessidade de
inclusão de novas unidades (ALVES-MAZZOTTI; GEWANDSZNAJDER, 2004,
p. 169-170).
Nos estudos de caso, a unidade de análise deve estar relacionada ao
indivíduo, evento, entidade, decisões, programas ou mudanças organizacionais.
Nesse tipo de estratégia de investigação, a unidade de análise está vinculada à
forma como foram definidas as questões iniciais de pesquisa. Ela também não é
definitiva, pois pode ser revisada em razão das descobertas obtidas durante a coleta
de dados. Além disso, essa unidade, sempre que possível, deve ser semelhante
45
-46). Na pesquisa realizada, as
empresas concessionárias do setor de distribuição de energia elétrica foram
consideradas como unidade de análise. As características desse setor e os dados
dessas empresas são apresentados, respectivamente, nas seções 4 e 5.
2.3.2 Variáveis
um termo geral utilizado para expressar a idéia central que dá suporte aos objetos
termo
específico para atender as necessidades e exigências das teorias e pesquisas
envolvidas (KERLINGER, 1996, p. 45-46). É uma abstração utilizada pelo
pesquisador e, cuja medição, sempre que utilizada pelo pesquisador, dependerá da
identificação de uma variável que o represente da forma mais concreta possível
(SELLTIZ et al., 1987, p. 1).
As variáveis podem ser apresentadas através de definições constitutivas e
operacionais. As do primeiro tipo constitutivas dizem respeito à definição de
palavras através de outras palavras. São as definições usuais, utilizadas por todos,
vez, para Kerlinger (1996, p. 46), as definições operacionais são aquelas que
atribuem um significado a uma variável, com especificações de procedimentos para
sua medição e manipulação. Esse mesmo entendimento é reforçado por Selltiz et al.
(1987, p. 1), para quem as definições operacionais são especificações detalhadas
das variáveis, através de um conjunto de valores e com instruções que possibilitem
atribuir valores específicos para uma determinada unidade de análise. De qualquer
forma, cabe ressaltar, que as definições constitutivas são limitadas, pois podem
incluir elementos sem relação com o constructo, e excluir partes que seriam
necessárias para sua adequada medição (SELLTIZ et al., 1987, p. 13). A concepção das definições teve por base o referencial teórico e as
regulamentações aplicáveis à P&D no setor elétrico. As definições constitutivas
foram apresentadas da forma mais coloquial possível e, assim, devem ser
46
consideradas como uma simplificação dos conceitos apresentados no referencial
teórico.
Por sua vez, a concepção das definições operacionais foi baseada em dados
do Relatório de Responsabilidade Socioambiental (RSA) de cada concessionária,
conforme disponibilizado no portal da ANEEL (www.aneel.gov.br), no vínculo
-Financeira >> Relatório Sócio
izadas as tarifas autorizadas para
as concessionárias, conforme disponibilizado pela ANEEL em seu portal, no vínculo
As variáveis consideradas, com suas respectivas definições constitutivas (DC)
e operacionais (DO), são apresentadas nos itens a seguir.
2.3.2.1 Intensidade de P&D
compreendendo as atividades de pesquisa científica e tecnológica do setor de
energia elétrica, bem como as relacionadas à preservação do meio ambiente,
capacitação dos recursos humanos e desenvolvimento tecnológico (Lei 9.991/2000).
em
item Indicadores Econômico-Financeiros do RSA.
2.3.2.2 Lucratividade
DC: qualidade do que proporciona ganho durante uma operação comercial ou
em outra atividade econômica (HOUAISS, 2001, p. 1788-1789).
47
earnings before interest, taxes, depreciation and amortization] ou LAJIDA [lucros antes de juros, impostos,
depreciação e amortização
item Indicadores Econômico-Financeiros do RSA.
2.3.2.3 Rentabilidade
DC: grau de êxito econômico em relação ao capital aplicado ou, também, a
capacidade de produzir rendimento (HOUAISS, 2001, p. 2428).
líquido/patrimônio líquido) (%
item Indicadores Econômico-Financeiros do RSA.
2.3.2.4 Energia por consumidor
DC: venda, transferência de posse ou direito sobre algo (HOUAISS, 2001,
p. 2848), no caso, uma quantidade de energia, dividida pelo total de uma unidade de
referência, no caso, o número de consumidores.
Indicadores Operacionais e d
Consumidores Atendidos
Operacionais e de Produtividade do RSA.
48
2.3.2.5 Receita por consumidor
DC: valor recebido, arrecadado ou apurado (HOUAISS, 2001, p. 2398),
dividido pelo total de uma unidade de referência, no caso, o número de
consumidores.
-Financeiros; dividido pelo
Operacionais e de Produtividade do RSA.
2.3.2.6 Regularidade
DC: qualidade de regular, ou seja, do que está em conformidade com regras,
leis e praxes, ou ainda, que demonstra exatidão, pontualidade, constância e
continuidade (HOUAISS, 2001, p. 2410).
gadas procedentes em relação ao
Externos do RSA.
2.3.2.7 Continuidade
rsistência das características inerentes a
2001, p. 818).
DO: (I) número acumulado de horas e suas frações, em que um consumidor
fica sem energia elétrica durante um ano, obtido da DEC (duração equivalente de
interrupção do consumidor),
49
Produtividade do RSA; e (II) número anual de vezes que houve interrupção na
unidade consumidora, obtido da FEC (freqüência equivalente de interrupção do
consumidor), conforme apresentado no item ora referido.
2.3.2.8 Eficiência
DC: capacidade de produzir um efeito real, qualidade de ser efetivo ou de
conseguir o melhor rendimento com o mínimo de dispêndio de recursos (HOUAISS,
2001, p. 1202).
DO: (I) proporção de perdas técnicas e comerciais totais, obtida do valor do
Indicadores Operacionais e de Produtividade do RSA; (II) valor adicionado por
os, capacidade de produção, vendas,
Indicadores Econômico-Financeiros do RSA.
2.3.2.9 Segurança
HOUAISS, 2001, p. 2536).
DO: taxa de gravidade dos acidentes com (I) empregados, obtida do item
In
50
de Gravidade (TG) de acidentes com terceiros por choque elétrico na rede da
2.3.2.10 Atualidade
o
do art. 6º, da Lei 8.987/1995).
DO: proporções dos valores de investimentos em (I) expansão, obtidas do
Econômico- Renovação da
Distribuição/Transmissão (expansão reforço)
-Financeiros; e
con
Econômico-
Econômico-Financeiros do RSA.
2.3.2.11 Generalidade
DC: maior parte, maioria, ou qualidade daquilo que é geral, abrangente ou
considerado em toda a sua extensão (HOUAISS, 2001, p. 1441).
DO: proporção do cumprimento de metas de universalização dos serviços de
fornecimento de
51
Externos do RSA.
2.3.2.12 Cortesia
abilidade,
p. 850).
DO: valor do Índice ANEEL de Satisfação do Consumidor1 (IASC), obtido do
ndices de satisfação obtidos pela Pesquisa IASC
2.3.2.13 Modicidade
DC: qualidade de módico, o qual, por sua vez, significa aquilo que é pouco,
escasso, com valor baixo; bem como, pode representar o moderado, comedido ou
modesto (HOUAISS, 2001, p. 1942).
DO: t mo
Residencial de uma Concessionária tipo B1 conforme
1O IASC é obtido em pesquisas anuais, junto a consumidores residenciais, que avaliam o grau de satisfação com os serviços prestados pelas distribuidoras, segundo critérios relacionados à qualidade percebida, valor percebido, confiança e fidelidade (ANEEL, 2006a).
52
2.3.2.14 Eficiência energética
DC: investimentos em P&D relacionados às tecnologias ou métodos para
reduzir o consumo de recursos das fontes de energia na geração de energia elétrica,
diminuir o consumo final de energia; bem como, aqueles destinados ao
desenvolvimento de ferramentas analíticas para avaliar a eficiência energética
(ANEEL, 2006a, p. 29).
subitem pesquisa (Manual de P&D
2.3.2.15 Fonte renovável ou alternativa
DC: investimentos em P&D relacionados às tecnologias ou aos sistemas de
geração de energia elétrica, contemplando fontes renováveis e/ou alternativas, tais
como, energia eólica, solar, hidráulica e biomassa (ANEEL, 2006a, p. 30).
subitem
investime
2.3.2.16 Meio ambiente
DC: investimentos em P&D relacionados ao entendimento dos impactos
ambientais provocados pela exploração de energia elétrica e à melhoria de medidas
mitigadoras dos mesmos (ANEEL, 2006a, p. 30).
53
subitem
item
2.3.2.17 Qualidade e confiabilidade
DC: investimentos em P&D relacionados à melhoria, medição,
monitoramento, modelagem e correlatos dos sistemas e da qualidade do
fornecimento de energia elétrica (ANEEL, 2006a, p. 31-32).
Tecnológ subitem
2.3.2.18 Planejamento e operação
âmbito da geração, transmissão e distribuição de energia elétrica (ANEEL, 2006a,
p. 32).
DO: percentual obtid
subitem
54
2.3.2.19 Supervisão, controle e proteção
telecontrole e teleproteção de sistemas de ge
energia elétrica (ANEEL, 2006a, p. 33).
Tecnológico e Científico R subitem
2.3.2.20 Medição e faturamento
DC: investimentos em P&D relacionados à medição do consumo de energia
elétrica para fins de faturamento, monitoração de grandezas físicas, melhoria e
confiabilidade do sistema elétrico (ANEEL, 2006a, p. 33-34).
presentado
subitem
ém informado no referido relatório.
2.3.2.21 Transmissão de dados
de dados via rede
subitem
55
(Manual de P&D
pe
2.3.2.22 Novos materiais e componentes
ente destinados à
transmissão e distribuição de energia elétrica (ANEEL, 2006a, 34).
Tecnológico e Científ subitem
2.3.2.23 Combate ao furto e fraude
DC: investimentos em P&D relacionados às tecnologias para combate ao furto
e fraude em redes de distribuição de energia elétrica (ANEEL, 2006a, p. 35).
subitem
de pesquisa (Manual de P&D
ém informado no
referido relatório.
56
2.3.2.24 Transmissão
DC: investimentos em P&D relacionados a produtos, materiais, processos,
sistemas e correlatos, destinados à transmissão de energia elétrica.
subitem
P&D
2.3.2.25 Distribuição
DC: investimentos em P&D relacionados a produtos, materiais, processos,
sistemas e correlatos, destinados à distribuição de energia elétrica.
DO: percentual obtido do valor do item
subitem
stimentos em P&D
2.3.2.26 Geração
DC: investimentos em P&D relacionados a produtos, materiais, processos,
sistemas e correlatos, destinados à geração de energia elétrica.
DO: percentual obtido do valor do i
subitem
nvestimentos em P&D
57
2.3.2.27 Pesquisa estratégica
ções tecnológicas identificadas como estratégicas e relevantes para o setor
Tecnológico
subitem
2.3.2.28 Outras áreas
DC: investimentos em P&D relacionados a temas diferentes dos
anteriormente discriminados.
DO: percentual obtido do valor do total de investimentos em outros, diferentes
Pesquisa e subitem
de pesquisa (Manual de P&D
referido relatório.
2.3.3 Categorias
Foram consideradas três categorias de análise: Serviço Adequado; Resultado
Empresarial; e Áreas de P&D. A primeira Serviço Adequado contempla as
variáveis de regularidade, continuidade, eficiência, segurança, atualidade,
generalidade, cortesia e modicidade. Essa categoria está associada ao conceito de
58
serviço adequado, que é um dos requisitos básicos da atual modelagem legal de
prestação de serviços púbicos. No esquema conceitual, ela está inserida no que foi
denominado campo do efeito essencial, representando os impactos do esforço de
A segunda Resultado Empresarial contempla as variáveis de
lucratividade, rentabilidade, energia por consumidor e receita por consumidor. Essa
categoria está associada às expectativas das concessionárias enquanto empresas,
ou seja, nos resultados, o que é próprio e adequado ao interesse privado de
qualquer empresa, conforme definido por seus controladores. No esquema
conceitual, representa
serviços e outras inovações para o mercado.
A terceira Áreas de P&D contempla as variáveis representativas da
intensidade de P&D, ou seja, do valor percentual aplicado em uma determinada área
em relação ao total investido, nas áreas de eficiência energética; fonte renovável ou
alternativa; meio ambiente; qualidade e confiabilidade; planejamento e operação;
supervisão, controle e proteção; medição e faturamento; transmissão de dados;
novos materiais e componentes; transmissão; distribuição; geração; pesquisa
estratégica; e outras. Essa categoria abrange os elementos que seriam indicadores
das estratégias empresariais no tocante aos investimentos obrigatórios em P&D,
conduzidos diretamente sob a gestão das concessionárias.
2.4 SELEÇÃO DO CASO
2.4.1 Características gerais
Com o advento das privatizações e reformas do Estado brasileiro,
concretizadas principalmente na década de noventa, foram implantadas diversas
inovações institucionais relacionadas à regulação dos serviços públicos, entre as
quais, destaca-se a adoção de uma nova política pública, que previu a destinação
obrigatória de recursos para a promoção de ações científicas e tecnológicas, em
áreas vinculadas aos setores nos quais os recursos eram captados e necessários.
59
Dentre esses setores, encontra-se o de distribuição de energia elétrica, que foi
escolhido para a realização do estudo de caso objeto da pesquisa realizada.
Conforme já abordado, esse setor contempla um serviço público essencial, e
que é objeto de concessão; envolve um relacionamento direto com a maioria da
população; e demanda investimentos obrigatórios em P&D, conduzidos pelas
próprias concessionárias, segundo determinações legais e regulamentos
específicos. Além disso, as concessionárias desse setor também são obrigadas a
fornecer, periodicamente, dados estruturados e sistematizados, relativos às suas
operações, disponibilizando uma rica base de dados para estudos diversos. Essas
características e elementos favoreceram sobremaneira a decisão de escolher o setor
de distribuição de energia elétrica como o caso a ser estudado.
2.4.2 Bases de dados
As principais fontes de dados utilizadas no estudo foram os Relatórios de
Responsabilidade Socioambiental, os contratos de concessão e os instrumentos de
regulação da P&D no setor elétrico. A emissão dos Relatórios, em especial, passou
a ser obrigatória a partir de 2007.
Segundo o modelo adotado pela ANEEL, as concessionárias devem
apresentar nesses Relatórios, os dados relativos aos dois anos anteriores ao da sua
emissão. Assim, a fonte disponível no período de coleta, contemplava dados de
cinco anos, ou seja, dos anos de 2005 a 2009. Essa situação, em razão do maior
horizonte temporal, ampliou as possibilidades de coleta de dados, favorecendo, em
especial, a utilização de cortes longitudinais e, consequentemente, ampliou as
alternativas para a análise dos dados.
Na consulta preliminar à base de dados da ANEEL, foi possível constatar a
indisponibilidade de alguns Relatórios e/ou de dados nos mesmos, impossibilitando
a coleta completa prevista de todas as empresas distribuidoras. Dessa forma, para
garantir a adequada análise, em alguns procedimentos foram excluídas as
concessionárias cuja disponibilidade total de dados, no período de 2006 a 2009,
tenha ficado abaixo de 80% do previsto.
60
Esse procedimento não probabilístico pode ser caracterizado como uma
amostragem por tipicidade ou, também denominada intencional, na qual se
seleciona uma parte da população que seja considerada representativa da mesma,
com base em conhecimentos sobre essas duas partes: população e amostra (GIL,
2009, p. 94). Esse aspecto também é tratado de forma similar por Stevenson (1981,
p. 167-168), quando afirma que a familiarização com a população estudada, em
algumas situações, permite o uso da amostragem por julgamento, na qual se
especificam os elementos mais representativos da mesma.
Por outro lado, segundo Vergara (2008, p. 257), a utilização de amostras
intencionais, baseadas em tipicidade ou acessibilidade, é uma das características
das pesquisas qualitativas, portanto própria para a abordagem adotada no presente
trabalho. Cabe ressaltar, que na amostragem não probabilista, são utilizados
métodos subjetivos para compor a amostra, tais como a conveniência e a intenção
(HAIR JR., 2005, p. 247).
2.5 COLETA DOS DADOS
2.5.1 Características gerais
Em um estudo de caso as evidências podem surgir de várias fontes distintas,
tais como, documentos, registros em arquivos, entrevistas e observações. Entre os
princípios dominantes para a coleta de dados, nessa estratégia de pesquisa, estão
os seguintes: a utilização de várias fontes convergentes em relação aos fatos ou
descobertas; um banco de dados para o estudo do caso; e o encadeamento de
evidências entre questões de pesquisa, dados coletados e conclusões obtidas (Yin,
2005, p. 109).
Para Martins (2006a, p. 22-66), a coleta de dados pode contemplar dados
primários, aqueles colhidos diretamente na fonte, e os secundários, que
compreendem aqueles já coletados e organizados em arquivos, relatórios e outras
fontes. Ainda, segundo o referido autor, podem ser utilizadas diversas opções
61
técnicas para a coleta de dados, individualmente ou combinadas. Entre elas, estão a
análise de conteúdo e a pesquisa documental.
Na pesquisa realizada, foram utilizadas várias fontes documentais,
envolvendo inclusive, anos distintos. Para Yin (2005, p. 112), essas fontes
compreendem, entre outras, relatórios, estudos, artigos e informativos. O autor
considera que os documentos são import
Além disso, Yin (2005, p. 125-126) considera que qualquer uma das citadas
uso isolado de um determin
da forma independente que elas geralmente são concebidas como se o
pesquisador devesse escolher a fonte mais apropriada para seu caso ou aquela com
bém recomenda a triangulação, ora
considerada como a utilização de fontes múltiplas de evidências, que podem
Foram realizados estudos transversais que correspondem àqueles que
utilizam dados coletados em um único ponto do tempo, e longitudinais, com dados
obtidos em vários pontos no tempo, representando uma série temporal de
observações. Segundo HAIR JR. et al. (2005, p. 87-88), os estudos transversais
possibilitam um panorama ou descrição em um dado momento temporal. Por sua
vez, os estudos longitudinais são utilizados para descrever eventos ao longo do
tempo e, assim, particularmente úteis quando ocorrem variações temporais nos
elementos pesquisados.
2.5.2 Método de coleta
Par
fontes oficiais governamentais e empresariais, para posteriores análises de
conteúdo qualitativas e quantitativas, conforme proposto por Bruyne et al. (1991,
p. 214). Essa análise, também denominada pesquisa documental, é similar à
pesquisa bibliográfica. No entanto, dela difere por não contemplar materiais
62
editados, tais como livros e periódicos, e, sim, relatórios, estudos e outros
documentos (MARTINS, 2006a, p. 46).
Na pesquisa foram utilizados dados secundários que, segundo Malhotra
(2006, p. 124), correspondem àqueles já coletados para outras finalidades,
apresentando, entre outras, vantagens como o fácil acesso e a localização rápida e
barata. Por sua vez, para Kerlinger (1996,
inferências.
A principal fonte de dados utilizada foi o Relatório de Responsabilidade
Socioambiental das Empresas de Energia Elétrica, elaborado pelas concessionárias
de distribuição. Também foram utilizados como fonte complementar os Contratos de
Concessão e respectivos termos aditivos, celebrados entre a Administração Pública
e as concessionárias de distribuição de energia elétrica; bem como os Relatórios
Anuais de Atividades dessas empresas, previstos em tais Contratos como uma das
obrigações das concessionárias. Cabe ressaltar que todos esses documentos
utilizados são oficiais, obedecem a procedimentos específicos de elaboração,
implicam em responsabilização de seus autores nos casos de má fé e negligência,
demandam a aprovação de instâncias competentes, e são sujeitos à fiscalização por
órgãos especializados, em conformidade com a legislação em vigor.
O Relatório de Responsabilidade Socioambiental foi instituído pela ANEEL,
através do Despacho nº 3.034, de 21 de dezembro de 2006, e sua apresentação se
tornou obrigatória a partir de 1º de janeiro de 2007. Tal documento surgiu dos
ajustes e adequações do Relatório de Responsabilidade Social Empresarial, até
então contemplado no Manual de Contabilidade do Serviço Público de Energia
Elétrica, implementado pela Resolução nº 444, de 26 de outubro de 2001.
Para a Agência, o principal objetivo desse Relatório é apresentar as políticas
e açõe
ambientalmente sustentável, socialmente justa e economicamente viável, mediante
incorporação do conceito de um . Ainda
segundo a ANEEL, o referido Relatório deve analisar riscos sociais e ambientais que
possam interferir em aspectos econômico-financeiros e na sobrevivência da
empresa. A ANEEL também considera que os indicadores, corretamente
apresentados, possibilitam avaliar e comparar o desempenho das empresas do
setor, individualmente e entre si (ANEEL, 2006).
63
O Relatório de Responsabilidade Socioambiental está estruturado em cinco
seções denominadas: dimensão geral; dimensão governança corporativa; dimensão
econômico-financeira; dimensão social e setorial; e dimensão ambiental; sendo que
cada seção contempla a descrição de atividades e indicadores de desempenho
quantitativos e qualitativos, incluindo dados sobre os investimentos obrigatórios em
pesquisa e desenvolvimento tecnológico, referentes ao seu escopo. A ANEEL
também recomenda que na introdução de cada uma dessas sessões, seja
apresentado um relato sobre o contexto e questões pertinentes à temática abordada.
2.5.3 Critérios de qualidade
Conforme Martins et al. (2007), os critérios adotados para conferir qualidade
nas pesquisas qualitativas, normalmente são os de objetividade, validade e
fidelidade. A objetividade, diz respeito à construção de um objeto de pesquisa que
implique no confronto dos conhecimentos ou das idéias com o mundo empírico. Já a
validade, demanda a correta interpretação dos resultados e pode ser reforçada com
o uso da triangulação de técnicas de pesquisa. Por sua vez, a fidelidade requer que
os resultados possuam independência em relação às circunstâncias acidentais de
pesquisa.
Na coleta de dados, foram observados critérios de fidelidade, validade,
qualidade e eficiência, conforme indicado por Bruyne et al. (1991, p. 210).
A fidelidade, que significa rigor na coleta, foi obtida com o uso de elementos
definidos operacionalmente e de fontes oficiais, contribuindo para a invariância
dessa atividade. Por sua vez, a validade, contemplando a verificação da
correspondência dos resultados obtidos com aqueles oriundos de outros processos
experimentados, foi controlada graças à utilização de dados secundários obtidos em
documentos submetidos a processos de auditorias e fiscalização. Finalmente, a
qualidade, que diz respeito à precisão dos dados, e a eficiência, ao custo da
informação, também foi garantida pelo mesmo motivo.
Para Malhotra (2006, p. 126), a utilização de dados secundários demanda a
sua avaliação segundo os seguintes critérios: especificações e metodologia; erro e
precisão; atualidade; objetivo; natureza; e confiabilidade. No caso da principal base
64
de dados utilizada o Relatório de Responsabilidade Socioambiental tais critérios
foram adequadamente atendidos, especialmente, em razão dos procedimentos
estabelecidos para elaboração desses relatórios.
A ANEEL (2006a, p. 9) recomenda que o referido relatório seja elaborado com
compromisso de veracidade e verificabilidade, de maneira a propiciar uma maior
credibilidade a tal documento. Nesse sentido, destaca que não devem ser omitidas
informações desfavoráveis, e que os dados de desempenho sejam apresentados
com explicações. Também recomenda a utilização de linguagem adequada, para
maior clareza e correto entendimento por parte dos interessados.
Além disso, a Agência entende que o referido relatório deve ser elaborado
ncia, relevância, integridade e clareza,
contas à sociedade de suas ações, relacionadas à promoção da cidadania;
continuidade e qualidade dos serviços; qualidade de vida dos seus empregados;
otimização dos recursos naturais; e adoção de melhores práticas de governança
corporativa.
As disposições normativas para elaboração do Relatório de Responsabilidade
Socioambiental, também estipulam que as informações contidas neste documento,
contemplando ações oriundas de decisões empresariais e outras da legislação,
devem ser validadas pelos respectivos Conselhos de Administração e Fiscal das
empresas. Além disso, tais informações devem ser organizadas e sistematizadas de
modo a permitir a fiscalização por parte da ANEEL, bem como, a realização de
auditoria independente, sempre que determinado pela Agência (ANEEL, 2006,
p. 10).
2.6 ANÁLISE DOS DADOS
2.6.1 Características gerais
A análise dos dados pode compreender o exame, categorização,
classificação, teste, ou até, a recombinação de evidências quantitativas e
65
qualitativas. Nos estudos de casos, em especial, existe a necessidade de uma
estratégia analítica, que pode ser baseada nas proposições teóricas; na definição e
teste de explanações concorrentes; ou, ainda, no desenvolvimento de uma
descrição de caso (YIN, 2005, p. 137-144).
Na pesquisa realizada, foi utilizada a primeira alternativa. Dessa forma, as
proposições teóricas, refletindo as questões de pesquisa e as revisões bibliográficas,
definiram os procedimentos para a coleta de dados e as estratégias analíticas
utilizadas. A análise dos dados, propriamente dita, contemplou duas etapas
principais e complementares, conduzidas de forma concomitante. Uma, de caráter
quantitativo, privilegiou a utilização das definições operacionais das variáveis. Nessa
variáveis consideradas. Essa avaliação teve por objetivo caracterizar o que é comum
entre duas variáveis, e para indicar a eventual forma de ligação entre dois
fenômenos (KERLINGER, 1996, p. 26). Onde aplicável, foi utilizada uma variável
Dummy, para avaliar a eventual influência do tipo de empresa, no caso, as
controladas e não-controladas pelo Poder Público.
Também é importante ressaltar, que a manifestação dos impactos oriundos
dos investimentos em P&D, pode demandar certo prazo, conforme indicado por
Taymor (1972) appud Sbragia (1997, p. 143). Esse pesquisador verificou no setor
alimentício, a existência de forte e positiva correlação entre os aumentos nos
investimentos em P&D e os crescimentos nas vendas, com uma defasagem de dois
anos. Este tipo de defasagem, também de dois anos, foi utilizada por Andreassi
(1999, p. 102-103) em um estudo no Brasil, sobre as relações entre indicadores de
P&D e os de resultado empresarial. Na pesquisa, o horizonte temporal dos dados
disponíveis, limitou as possibilidades das análises temporais. Porém, mesmo assim,
foram analisadas situações com defasagens de até dois anos.
Na outra etapa, de caráter qualitativo, foi utilizada a análise de conteúdo,
tendo por base os elementos do esquema conceitual. Dessa forma, procurou-se
identificar as manifestações formais com relação aos citados elementos, para uma
avaliação comparativa dos resultados obtidos. Cabe ressaltar, conforme Kerlinger
(1996, p. 30), que a comparação e caracterização da existência de relacionamento
entre distintos fenômenos, somente é viável através de suas variações, sem as
quais nenhum conhecimento científico seria possível.
66
2.6.2 Análise quantitativa
2.6.2.1 Dados em painel
A utilização de modelos de dados em painel combina a análise quantitativa de
relações entre dados transversais, também denominados seccionais, e os
longitudinais, também denominados temporais. A opção pela utilização dessa
abordagem foi motivada pela possibilidade de ocorrência de heterogeneidades
individuais, que podem ocorrer em razão da existência de características distintas
entre os indivíduos da amostra analisada, como também pelas eventuais alterações
temporais nas observações (MARTINS, 2006).
Cabe ressaltar, que as análises podem apresentar resultados distorcidos,
caso os estudos longitudinais, ou também denominados transversais, não
considerem a heterogeneidade ocasionada pelas eventuais variações nas
características analisadas, ao longo do tempo. Além disso, os dados em painel
dos dados,
menor colinearidade entre as variáveis, maior número de graus de liberdade e maior
1-2).
Esse entendimento também é reforçado por Duarte, Lamounier e Takamats
(2007), que destacam a possibilidade de maior controle sobre a heterogeneidade
dos indivíduos da amostra, como uma das vantagens dos dados em painel sobre os
modelos de série temporais e do tipo corte transversal (cross-section). Nesse
sentido, foi considerada a ocorrência de heterogeneidade entre as empresas da
amostra, bem como a dependência das observações, em razão de possíveis
alterações temporais das variáveis consideradas, conforme sugerido por
Martins (2006).
Os dados em painel têm sido utilizados em situações com horizontes
temporais modestos, como o estudo conduzido por Silva e Sousa (2002, p. 13-14),
que contemplou um lapso de tempo de cinco anos, cinco tipos de dados e
26 estados brasileiros, para identificar os fatores de endividamento desses estados.
Além disso, do ponto de vista conceitual, a utilização de dados em painel consiste na
observação de variáveis em dois ou mais períodos de tempo, em geral,
67
relativamente pequenos. Isso, normalmente ocorre em razão do alto custo para
levantamentos, ou de dificuldades para obtenção dos dados do passado (DUARTE;
LAMOUNIER; TAKAMATSU, 2007).
No caso particular de pesquisas sobre inovação que, em geral, utilizam cortes
transversais repetidos, os dados em painel constituem uma alternativa
complementar, que oferece a oportunidade de pesquisar a inovação ao longo do
tempo. Com esse método, é possível, por exemplo, analisar os efeitos de vários
indicadores de inovação sobre variáveis econômicas, tais como vendas e
produtividade (OECD, 2006b, p. 138-139). Além disso, a abordagem plurianual
captura as atividades de inovação que não ocorrem, necessariamente, em bases
regulares (OECD, 2006b, p. 115).
O objetivo da utilização desse tipo de análise foi prospectar modelos
explicativos das possíveis relações entre os atributos de serviço adequado,
investimentos em P&D e outras variáveis consideradas. Dessa forma, procurou-se
caracterizar as relações temporais de tais variáveis para, assim, examinar as
eventuais mudanças ao longo do tempo, conforme recomendado por Collis (2005,
p. 70).
Neste sentido foi avaliado o poder de explicação dos investimentos em P&D
no comportamento das diversas variáveis consideradas, através da seguinte
equação:
yt = a + 1 . yt-1 + 2 . yt-2 + b1. xt + b2 . xt-1 + b3 . xt-2 t + c, onde:
yt corresponde à variável independente, que é a intensidade de P&D, no
xt é a constante da reta de
k
coeficiente angular relacionado à variável dummy
k -regressão, ou seja,
que exprimem a dependência
em períodos passados t-1 t-2
temporais utilizadas que, na pesquisa, corresponderam a respectivamente um e dois
t o valor estimado pela equação de regressão e
68
melhor quanto menores forem as diferenças entre os valores previstos e os valores
t
Os cálculos necessários foram realizados por meio do módulo Panel Data Models, dos aplicativos PcGive 10.0 e GiveWin 2.20, contemplando opção pelo
Método dos Mínimos Quadrados e uso dos modelos estático (Static Panel Methods)
e dinâmico (Dynamic Panel Models), na modalidade pooled regression. Cabe
ressaltar que os modelos do tipo pooled
comuns para todos os indivíduos, ou seja, consideram que ocorra homogeneidade
na parte constante e na inclinação. Também foi utilizada uma variável dummy para
captar a heterogeneidade dos indivíduos, no caso, o tipo de empresa, de controle
público ou privado, conforme já mencionado na descrição dos elementos da
equação anterior.
Na análise de dados em painel, além da modelagem pooled, é possível
utilizar as modelagens com efeitos fixos e efeitos aleatórios, nas quais se considera
a existência de heterogeneidade na parte constante e homogeneidade na inclinação.
Entretanto, elas não foram utilizadas, pois se considerou que a modelagem pooled
seria adequada para a análise de um setor regulado, sem concorrentes e no qual as
empresas são obrigadas a seguir procedimentos definidos pelo órgão de fiscalização
e regulação. A única heterogeneidade considerada foi o já mencionado tipo de
empresa.
2.6.2.2 Análise de correlação
Os estudos correlacionais, segundo Stevenson (1981, p. 367), tem por
principal, identificar a ocorrência de impactos dos investimentos em P&D nos
atributos de serviço adequado e nas demais variáveis consideradas. Ou seja,
procurou-se identificar um eventual grau de relacionamento sem, entretanto,
qualquer pretensão de predizer as possibilidades e características futuras de tal
relacionamento.
69
A análise de correlação em aplicações pode ser realizada através de diversas
formas, entre as quais, as mais usuais são o coeficiente de correlação de Pearson e
o de Spearman. Para a aplicação do primeiro, que é considerada uma técnica
paramétrica, é necessário que as variáveis sejam aleatórias, não se aceitando a
seleção de valores para a análise. Também é necessário a normalidade da amostra,
ou seja, os valores considerados devem obedecer a uma distribuição normal. Por
sua vez, o coeficiente de Spearman, também, denominado de coeficiente de
correlação por postos, não apresenta tais exigências, caracterizando-se como uma
técnica não-paramétrica (STEVENSON, 1981, p. 367-385). Além disso, o coeficiente
de Spearman tem como vantagens adicionais o fato de minimizar os efeitos dos
valores extremos (outliers), que podem comprometer os resultados da correlação.
O coeficiente de Spearman tem sido utilizado por diversos autores para
estudos similares ao da presente tese, e apresenta resultados com eficiência
superior a 90%, quando aplicado em situações nas quais também poderia ser
utilizado o coeficiente de Pearson (ANDREASSI, 1999, p. 95). Dessa forma,
considerando que foi utilizada uma amostragem do tipo intencional, cujas
características podem comprometer a normalidade, optou-se pelo uso do coeficiente
de Spearman.
2.6.3 Análise qualitativa
2.6.3.1 Análise de conteúdo
A análise de conteúdo tem sido muito utilizada em pesquisas nas ciências
humanas e sociais, em situações nas quais os dados tomam a forma de textos
escritos.
Portanto, pode ser realizad
(BARDIN, 2000, p. 43-44, 135). Os dados nessa análise são obtidos através da
abranger relatórios, contratos e outros elementos (HAIR JR., 2005, p. 154). A
70
exploração do material coletado compreende basicamente a escolha das unidades
de registro, a enumeração e a classificação das ocorrências em categorias
específicas (GIL, 2009, p. 152-153).
A definição precisa das categorias de análise que correspondem à
transformação dos dados em elementos interpretáveis e com significado para o
pesquisador, é particularmente relevante na análise de conteúdo (VIEIRA et al.,
pesquisa (GIL, 2009, p. 177).
A análise de conteúdo é fortalecida com o uso de um referencial teórico
destinado, especialmente, para a construção das já mencionadas categorias de
análise. Essa construção compreende um inventário, quando são isoladas as
unidades de análise, palavras e outros elementos, e uma classificação das unidades
comuns, dando origem às categorias propriamente ditas. Sempre que possível,
podem ser utilizadas categorias já usadas e testadas em outras pesquisas
(MARTINS; 2006a, p. 34-36).
Como fonte para a análise foi utilizada a base regulatória aplicada à P&D, nas
quais foram verificadas as referências, exigências e ações alinhadas aos atributos
de serviço adequado, bem como, às áreas nas quais foram realizados os
investimentos em P&D. Para tal finalidade, foram utilizadas grades abertas,
permitindo a eventual complementação das categorias de análise e unidades de
registro previamente definidas que, posteriormente, possibilitaram avaliar as
vinculações entre os referidos elementos e as suposições teóricas consideradas.
Conforme preconizado por Vieira et al. (2007), em relação à análise de
conteúdo, procurou-se obter a validade e a fidelidade nos resultados. Com base nos
citados autores, a validade foi entendida como a adequação entre os objetivos e os
fins da pesquisa, implicando em exaustividade e exclusividade das categorias de
análise. Em relação à exaustividade, a validade demandou que todas as unidades
de registro estivessem vinculadas a uma das categorias consideradas. No tocante à
exclusividade, definiu-se que essas unidades poderiam ser inseridas em apenas
uma das categorias. Por sua vez, ainda com base em Vieira et al. (2007), a
fidelidade foi considerada como a confiança ou exatidão obtida, especialmente,
quando sobre um determinado texto, em momentos distintos, torna-se possível obter
os mesmos resultados e reproduzir a mesma análise.
71
2.6.3.2 Aderência conceitual
A aderência conceitual pode significar qu
definidos na literatura da área, sendo aceito que o faça em diferentes níveis de
GOUVÊA, 2007, p. 35). Por outro lado, pode ser aplicada na avaliação da
convergência entre os elementos conceituais e a realidade empírica, como foi o caso
de um estudo sobre a contabilidade de diversos países que utilizou a aderência
identificar quão coincidente a realidade de cada país se apresenta
em relação à abordagem conceitual. Quanto mais evidência empírica for encontrada
(FREZATTI;
AGUIAR; GUERREIRO, 2007, p. 10).
No presente estudo, a aderência conceitual foi considerada como a
convergência entre os elementos conceituais caracterizadores das variáveis que
compõem uma determinada categoria de análise e as evidências de conteúdo
apresentadas no texto analisado. Nesse sentido, ela foi utilizada para melhorar a
compreensão sobre os resultados da análise de conteúdo.
2.7 LIMITAÇÕES DA PESQUISA
A pesquisa realizada, assim como qualquer outro trabalho de cunho científico,
apresenta diversas limitações, principalmente, pelas demandas teóricas e
metodológicas que precisam ser atendidas para fazer frente à complexidade do
contexto social no qual está inserida. Os resultados foram obtidos com base em um
setor específico e num determinado contexto histórico. Entretanto, podem servir de
subsídios para estudos em outros setores de serviços públicos concessionados,
bem como, nos estudos relacionados à avaliação ex-post de processos de inovação
e de políticas públicas.
Devem ser também, em especial, destacadas as limitações relacionadas ao
esquema conceitual utilizado, que apesar da premissa de possuir suficiência
explicativa, é uma simplificação da realidade. Por outro lado, dentro de certos
72
limites, mostrou-se adequado para as finalidades da pesquisa. Sob este aspecto,
cabe ainda lembrar, que essa proposição foi concebida na tentativa de
representação das características específicas do setor de distribuição de energia
elétrica. Portanto, em que pese tal limitação, com os devidos ajustes, o presente
esquema conceitual poderá contribuir para a realização de estudos em outros
segmentos de serviços públicos.
Outra limitação diz respeito ao fato que as caracterizações dos interesses
público e privado empregadas na pesquisa, são representações parciais da
realidade, mas, mesmo assim, possibilitaram a redução da subjetividade, na medida
em que contemplaram disposições legais e documentos institucionais oficiais. No
mesmo sentido, deve ser ressaltado que as fontes de dados utilizadas podem
traduzir apenas parte das estratégicas e práticas institucionais, especialmente,
aquelas que são explicitadas; porém, constituem uma base objetiva e formal para a
realização de pesquisas. As bases de dados utilizadas também podem ter
apresentar problemas de qualidade de conteúdo, tais como dados incompletos ou
inconsistentes.
Finalmente, vale salientar que os estudos sobre políticas públicas, entre os
quais pode ser inserida a pesquisa realizada, tratam de casos empíricos e, dessa
forma, seus resultados em um primeiro momento podem apresentar apenas validade
situacional. Também os padrões de ação e estruturas, observados nos estudos
empíricos, podem estar presentes apenas conjunturalmente, como parte de um
sistema político-administrativo específico (FREY, 2000, p. 243).
73
3 O ESTADO, SERVIÇOS PÚBLICOS, POLÍTICAS E ESTRATÉGIAS
3.1 ESTADO E ADMINISTRAÇÃO
O conceito de Estado no seu sentido amplo, segundo Meirelles (1997, p. 56),
é o ponto de partida para estudos relacionados à Administração Pública. Quando
está organizado juridicamente e segue leis próprias, caracteriza o denominado
Estado de Direito. Para o referido autor, o Estado abrange todas as entidades
estatais e seus respectivos órgãos e atividades, sendo:
constituído de três elementos originários e indissociáveis: Povo, Território e Governo soberano. Povo é o componente humano do Estado; Território, a sua base física; Governo soberano, o elemento condutor do Estado, que detém e exerce o poder absoluto de autodeterminação e auto-organização emanado do Povo. (...) A vontade estatal apresenta-se e se manifesta através dos denominados Poderes de Estado [Legislativo, Executivo e Judiciário] (MEIRELLES, 1997, p. 56).
aparelhamento do Estado preordenado à realização de seus serviços, visando à
a de
suas atribuições e aos limites legais de sua competência. A prática da Administração
compreende atos de execução ou, na denominação mais conhecida, atos
administrativos, que se caracterizam como atividades neutras e, normalmente,
subordinadas à legislação e normas técnicas (MEIRELLES, 1997, 60-61).
o bem comum da coletividade administrada -se
ilícitas ou imorais quando se afastam ou se desviam desse fim, ou seja, quando não
interesse público, assim entendidas aquelas aspirações ou vantagens licitamente
almejadas por toda a comunidade administrada, ou por uma parte expressiva de
Os princípios fundamentais e os dispositivos constitucionais, vigentes no
Brasil, determinam que o Estado tem o dever de prestar serviços públicos de forma
74
exclusiva, complementar ou, ainda, de promover sua prestação através de terceiros.
Essas disposições, por outro lado, propiciam ao cidadão o direito subjetivo de exigir
que o Estado preste tais serviços direta ou indiretamente (MOTTA, 2009, p. 154).
Tais serviços, também representam uma das principais expressões do papel do
Estado, cuja principal razão de ser reside no atendimento aos cidadãos (RIBAS,
2007, p. 101).
O Estado também tem a missão de possibilitar que os serviços públicos sejam
utilizados por todos, garantindo a denominada universalização material. Dessa
estão, apenas, disponíveis para quem puder pagá- -220).
execu
(MEDAUAR, 2009, p. 325).
3.2 POLÍTICAS PÚBLICAS
3.2.1 Conceituação
Representando um campo teórico-conceitual, de característica
multidisciplinar, as políticas públicas repercutem na economia e na sociedade e
-
e interesses,
indivíduos, instituições, interações, ideologia e interesses contam, mesmo que
exi
p. 25-
formuladas e implementadas pelos governos dos Estados nacionais, subnacionais e
supranacion
75
termos político-administrativos, são destinadas à promoção do desenvolvimento de
uma sociedade (HEIDEMANN, 2009, p. 28).
As políticas públicas também podem ser consideradas como as ações
intencionais direcionadas a objetivos específicos, envolvendo diversos atores e
diferentes níveis de decisão, que toma forma através do governo. De acordo com a
perspectiva neo-institucionalista, as instituições e regras têm fundamental
importância no tocante à decisão, formulação e implantação de políticas públicas,
36-37).
No institucionalismo histórico e no estruturalista, variantes do neo-
institucionalismo, as definições dos decisores são moldadas pelas instituições.
Porém, a ação racional nas decisões, além dos auto-interesses, contempla também
alternativas, suas consequências e avaliações dos
com regras e práticas socialmente construídas, conhecidas antecipadamente e
-38). De acordo com a perspectiva neo-
-
só os indivíduos ou grupos que tem força relevante influenciam as políticas públicas,
2006, p. 39).
Para Souza (2006, p. 35), a credibilidade das políticas públicas recentemente
posição
à discricionaridade dos decisores públicos e burocratas, a qual levaria à
até mesmo a eliminação dessa discricionaridade, seria possível com a delegação de
poder para instituições independentes politicamente.
76
3.2.2 Avaliação
questionado tanto em suas funções quanto na real eficácia de suas ações
exto, a avaliação das políticas públicas
tornou- boom na década
p. 530-532). Esse ressurgimento da importância atribuída
assim como das instituições, regras e modelos que regem sua decisão, elaboração,
necessidades de reduzir gastos e as novas visões sobre o papel dos governos. Em
que regem suas decisões, elaboração e implementação, também influenciam os
p. 20).
Entre as possibilidades para avaliação de políticas públicas, Costa e
Castanhar (2003, p. 479-480) consideram três metodologias básicas. A primeira é a
avaliação de metas ex-post facto, cujo propósito é medir o grau de êxito no alcance
de metas previamente estabelecidas, compreendendo a realização de produção ou
metas de forma precisa; a existência de várias metas; a seleção de metas a serem
incluídas no processo de avaliação; mudanças nas metas ao longo da própria
A segunda metodologia, mencionada pelos referidos autores, é a avaliação de
impacto, também ex-post facto, que procura identificar os efeitos produzidos. Além
de averiguar a execução das atividades previstas, esse tipo de avaliação verifica se
os resultados finais esperados foram alcançados. A análise da efetividade do
causais entre as ações de um programa e o
A terceira metodologia compreende a avaliação de processos, também
denominada avaliação formativa, que sistematicamente investiga o desenvolvimento
de programas, de forma a medir sua cobertura, estabelecer seu grau de alcance
junto
77
Dessa forma, seu objetivo é identificar defeitos nos procedimentos, barreiras e
obstáculos para sua implementação, bem como, gerar subsídios para sua
reprogramação ou mesmo introduç
servirão de base ao trabalho dos gestores e dos avaliadores
(COSTA; CASTANHAR, 2003, p. 480).
Apesar da definição de avaliação, como forma de mensurar o desempenho,
ser quase consensual, não o são os aspectos conceituais e metodológicos
relacionados às medidas para aferição do resultado obtido, também denominadas
lugar ao que se poderia chamar de um
autêntico emaranhado conceitual, que representa um obstáculo ao uso mais
2003, p. 972-973).
operacionalização, já que constituem medidas indiretas, ou seja, que devem ser
tocante a essas medidas, denominadas indicadores, também se encontra uma
973-974).
Outros elementos das avaliações de desempenho de um programa são os
padrões de referência utilizados para julgar esse desempenho, os quais podem ser:
absolutos (as metas estabelecidas são o padrão e os desvios são registrados e analisados); históricos (comparação de resultados ao longo do tempo); normativos (comparação do desempenho com programas similares); teóricos (definidos no programa com base nos recursos disponíveis); negociados ou de compromisso (fixados segundo procedimento específico, geralmente decorrente de acordo entre gestores e formuladores do programa (COSTA; CASTANHAR, 2003, p. 975).
impactos de longo prazo) é mais importante (e politicamente tentador) quando se
Entretanto, é muito difícil, se não impossível, isolar a influência de fatores externos
sobre as mudanças ocorridas. As avaliações da produção e dos resultados
78
imediatos são as únicas que dependem apenas dos fatores ou variáveis controladas
pelos gestores.
Esse é um dos desafios a ser superado na avaliação de políticas públicas (COSTA;
CASTANHAR, 2003, p. 979).
A avaliação em questão depende fundamentalmente de uma definição clara e
precisa do que se vai apreciar. No caso de programas públicos sociais, é possível
adotar uma perspectiva de graus sucessivos de agregação de compromissos que,
depois da missão ou do propósito, contempla os objetivos e na sequência, as metas.
Além disso, para que tal avaliação possa contribuir com o teste de consistência do
planejamento, é necessário apresentar os objetivos gerais e específicos, os
indicadores de desempenho e as fontes de dados. Posteriormente, deverá ser feita a
caracterização dos recursos alocados, atividades previstas, resultados esperados
intermediários e finais, e as relações causais existentes (COSTA; CASTANHAR,
2003, p. 975).
Por outro lado, questões de ordem prática e metodológica priorizam a
utilização de indicadores relacionados, predominantemente, à produção dos
programas governamentais, tais como alcance das metas ou objetivos. O problema
dessa situação é que muitas vezes os processos de aferição, especialmente os de
produção, podem ser considerados como um fim em si mesmo (COSTA;
CASTANHAR, 2003, p. 972).
Cabe também lembrar as possíveis contribuições dos procedimentos
normativo-decisórios na busca do almejado desenvolvimento econômico, através
das práticas relacionadas às políticas públicas. Nesse sentido, são exemplos a
racionalização dos processos decisórios, o favorecimento do controle jurídico para
tratar os desvios de conduta e a geração de valores para pautar as ações do Estado,
através de debates públicos (BRUNA, 2002, 235). Esse último aspecto é também
destacado por Heidemann (2009, p. 38), segundo o qual, a operacionalização do
r ainda acrescenta que,
além de elaboradas e implementadas, as políticas públicas devem ser avaliadas
Outra perspectiva relacionada às políticas públicas diz respeito à avaliação
gestão pública propriamente dita, com base em resultados que propiciem valor
79
público, que contribuam com o atendimento das demandas e necessidades da
sociedade (DRUMMOND, 2009). A viabilização do valor público demanda que a
Administração Pública tenha capacidade atender de forma efetiva e tempestiva
as demandas ou carências da população que sejam politicamente desejadas
(legitimidade); sua propriedade seja coletiva; e, requeiram a geração de mudanças
MATIAS-PEREIRA,
2010, p. 125).
Dentro desse contexto, inclusive, se insere a questão do esforço de inovação
no setor elétrico brasileiro que, caso tratado com uma política pública, deve em
primeiro lugar resultar do esforço conjunto do Estado e da sociedade e, segundo
lugar, deve ser constantemente avaliado por tais atores. Cabe destacar, em
especial, que a obtenção de valores públicos, além de envolver a ação direta do
Estado, inclusive na condição de guardião dos mesmos, deve considerar o
comportamento das empresas privadas no mercado. Assim, tendo em vista o conflito
inevitável entre o interesse público e o privado, passa a ser fundamental contar com
uma base regulatória, para que seja possível preservar o valor público (VEEN et al.,
2009, p. 167).
Além disso, a liberalização e privatização dos serviços públicos nos setores
de infraestrutura, entre os quais se insere os de energia elétrica, demandam ações
para preservar o valor público. Entretanto, essas ações enfrentam desafios como a
dificuldade de caracterizar esse valor que pode mudar ao longo do tempo e abranger
diversas dimensões no âmbito público. A preservação do referido valor também
pode envolver os mecanismos de mercado relacionados à competição em atividades
de interesse público e os mecanismos de interação e negociação relacionadas a tal
interesse (BRUIJN; DICKE, 2006, p. 731-732).
3.3 SERVIÇOS PÚBLICOS
Os serviços públicos decorrem dos direitos fundamentais dos cidadãos
estabelecidos nas cláusulas pétreas da Constituição Federal (DINIZ, 2007, p. 107), e
se caracterizam como instrumentos para assegurar os direitos básicos dos cidadãos
(RIBAS, 2007, p. 100). É através desses serviços que o Estado concretiza os
80
direitos que dependem de sua ação efetiva, como é o caso dos direitos sociais
(RIBAS, 2007, p. 98). Esses direitos básicos são indispensáveis para garantir a
sociais, econômicos, culturais, ambientais, informacionais, genéticos, democráticos,
007, p. 93).
assegurar o pleno exercício [desses direitos], bem como concretizar, com igual
intensidade, tanto os direitos civis e políticos, quanto os econômicos, sociais e
A prestação de serviços para ser considerada como serviço público, deve
estar vinculada a pelo menos um direito fundamental e ao Estado, bem como,
subordinada às normas do Direito Público (RIBAS, 2007, p. 100). Por sua vez, um
verdadeiro e legítimo Estado Democrático de direito tem seu ordenamento jurídico
baseado nos direitos fundament
atividade realizada pela Administração Pública, em qualquer dos poderes
constituídos. Entretanto, no âmbito do Direito Administrativo, o serviço público é
proporcionam benefícios e bens às pessoas. Eles abrangem desde serviços
específicos para indivíduos, até serviços genéricos destinados à coletividade. Por
sua vez, as denominadas atividades meio não são consideradas tecnicamente como
serviço público (MEDAUAR, 2009, p. 323-324).
Uma definição mais completa de serviço público e, facilitadora de sua
compreensão, pode considerar que ele constitui uma atividade com titularidade do
Estado na sua prestação ou regulação; que seja direcionada à concretização de
necessidades sociais; promotora da dignidade
parcialmente, a um regime jurídico próprio, em que haja incidência de normas
garantidoras do interesse público, dada sua essencialidade e sua estreita vinculação
81
A definição de serviço público também pode ser baseada nos critérios
material, subjetivo e formal. Segundo o critério material, considerado objetivo ou
das necessidades dos cidadãos, de acordo com o momento histórico em que a
sociedade está inserida. Ou seja, haverá serviço público em razão da natureza da
público considerado (RIBAS, 2007, p. 78-79).
Além disso, pode ser considerado que sempre haverá serviço público,
quando:
a atividade estiver voltada à satisfação de direitos fundamentais; quando houver a vinculação com a dignidade da pessoa humana; ou quando o serviço estiver voltado à realização dos objetivos fundamentais do Estado Democrático de Direito consagrados na Constituição da República (RIBAS, 2007, p. 79).
Por outro lado, o critério material é limitado em alguns aspectos, como, por
exemplo, no caso em que a ação estatal contempla atividades voltadas ao
bem-estar das pessoas ou ao atendimento de necessidades coletivas que não são
consideradas serviços públicos (RIBAS, 2007, p. 80).
do Estado na prestação
particulares que podem ser caracterizado
No critério formal, considera-
, cabe
ressaltar, nem toda atividade realizada no âmbito público pode ser caracterizada
como serviço público. Também, alguns desses serviços, impropriamente
sos, em que o legislador atribui o caráter público a
determinadas atividades econômicas, para viabilizar seus interesses específicos
(RIBAS, 2007, p. 87). Ante o exposto, a caracterização de determinada atividade
como serviço público, implica constatar a ocorrência simultânea dos três critérios
abordados (RIBAS, 2007, p. 88).
82
mantido e executado pelo Estado, através de suas instituições e de seus órgãos,
com o objetivo de atender os seus próprios interesses e de satisfazer as
diversas formas, com denominações específicas de acordo com sua natureza,
podendo ter caráter comercial, industrial ou sem fim lucrativo. Para esse autor, são
serviços públicos aqueles executados através do Poder Público, ou de seus órgãos,
e sempre integrados à Administração Pública. Outra modalidade distinta de serviço
público, conforme apresentado por Silva (2005), são os serviços de interesse público
objeto de concessão outorgada a empresa ou instituições particulares, que os exploram, sob a
Por sua vez, Meirelles (1997, p. 297-
aquele prestado pela Administração ou por seus delegados, sob normas e controles
estatais, para satisfazer necessidades essenciais ou secundárias da coletividade ou
simples conveniênci
finalidade e destinatários, o referido autor classifica os serviços públicos em:
públicos e de utilidade pública; próprios e impróprios do Estado; administrativos e
industriais; gerais e individuais.
Nessa última classificação, ainda segundo Meirelles (1997), os serviços
públicos são aqueles prestados diretamente e exclusivamente pela Administração,
sobrevivência do grupo social e do p
serviços pró-comunidade, em razão de serem destinados ao bem comum, ou seja, à
subsistir e desenvolver- rviços de utilidade pública
para Meirelles (1997), são aqueles que a Administração reconhece como
convenientes para a coletividade, podendo prestá-los diretamente ou por terceiros,
eu
controle, mas por conta e risco dos prestadores, mediante remuneração dos
-cidadão, pois apesar do
interesse de toda a comunidade, estão voltados ao atendimento das necessidades
dos indivíduos. São ser
83
coletividade, pondo à sua disposição utilidades que lhe proporcionarão mais conforto
e bem-
Nos serviços próprios do Estado, Meirelles (1997) inclui os relacionados
intimamente com as atribuições do Poder Público e que somente pela Administração
devem ser prestados, geralmente de forma gratuita ou com preço baixo para
torná-
substancialmente as necessidades da comunidade, mas satisfazem interesses
prestados pela Administração ou por concessionários e correlatos.
Os serviços administrativos são aqueles destinados ao atendimento das
necessidades internas da Administração ou para preparar outros serviços que serão
prestados à comunidade. Por sua vez, os serviços industriais geram renda aos seus
prestadores, via tarifas ou preços públicos, fixados pelo Poder Público, e se
enquadram na categoria dos serviços impróprios, podendo ser prestados da mesma
forma que estes últimos. Os serviços gerais, são remunerados por imposto, não
possuem usuários determinados e atendem a comunidade de forma geral, sem
gerar direito subjetivo à sua utilização, são indivisíveis e, assim, impossibilitam a
mensuração de sua utilização. Os serviços individuais são destinados a usuários
determinados, sua utilização é facultativa e pode ser medida individualmente, são
remunerados via taxas ou tarifas e, também, geram direito subjetivo à sua obtenção
por parte de todos os que estão na área de atendimento e satisfazem os requisitos
estabelecidos (MEIRELLES, 1997).
No Brasil, a fonte primária da obrigação de prestar serviço público adequado,
seja diretamente pelo Poder Público ou sob o regime de concessão ou permissão,
reside no artigo 175 da Constituição Federal (MOREIRA, 2010, p. 291 e RIBAS,
2007, p. 98). Esse dispositivo constitucional, estabelece que cabe ao Poder Público
diretamente ou sob a forma de concessão ou permissão, a prestação de serviço
público segundo lei que disponha sobre o regime ao qual as empresas prestadoras
de tal serviço estarão submetidas, bem como, sobre as condições contratuais e de
fiscalização de tal atividade e, ainda, prevê a obrigatoriedade de manter adequado o
serviço prestado. Deve também ser destacado que o referido dispositivo
constitucional não faz distinção entre serviço público e serviço de utilidade pública,
pois estabelece que a prestação de serviço público pode envolver outros
84
prestadores além do Poder Público. Esse conceito amplo é o que foi adotado na
condução da pesquisa, objeto da presente tese.
3.4 PRINCÍPIOS ADMINISTRATIVOS
A prática das atividades da Administração Pública, direta e indireta, além da
observância de normas específicas, deve ser pautada por preceitos gerais,
aplicáveis aos diversos campos de atuação na qual ela se faz presente. São
conhecidos por princípios do Direito Administrativo, sobre os quais, inclusive,
pela
Constituição Federal que, nos termos do § 2º do seu artigo 5º, estabelece a inclusão
os
seguintes: legalidade, impessoalidade, moralidade, publicidade e eficiênciadesses, outros princípios, denominados implícitos, podem ser extraídos do texto
doutrinár
A prestação dos serviços públicos também se subordina a vários outros
princípios, entre os quais, estão o da
cação
(MEDAUAR, 2009, p. 326-327). Entretanto, é importante ressalvar que a aplicação
de um determinado princípio emanado da doutrina ou da lei, deve ser feita de forma
quais pouco ou nada têm
2010, p. 285).
Deve existir na prestação do serviço público, em especial, respeito ao
se tratar de ato administrativ
(RIBAS, 2007, p. 84). Esse princípio trata da preponderância do interesse público
85
bem de toda a coletividade, à percepção
dos interesses presentes numa
determinada circunstância, para que não ocorra sacrifício a priori de nenhum
133).
3.5 SERVIÇOS ADEQUADOS
3.5.1 Conceituação
O pressuposto central na concessão do serviço público é de que este
nde a esfera subjetiva
individual tanto da Administração [Pública] como dos empresários e das pessoas
2010, p. 292). Além disso, a capacidade para prestar o serviço de forma adequada
2010, p. 296).
A partir de 1980, os ordenamentos jurídicos brasileiros trouxeram algumas
modificações no conceito de prestação de serviços públicos adequados, das quais
eme
qualidade (humana e técnica), a preço acessível a todos os usuários, em
cumprimento aos deveres e ob
(MOREIRA, 2010, p. 297).
De qualquer forma, é fundamental contar com índices, parâmetros ou outros
elementos objetivos para avaliação da qualidade do serviço prestado. Específicos
para a natureza e circunstâncias de cada serviço, viabilizam o controle de
86
desempenho do prestador do serviço. Sem tais elementos não é possível imputar
subjetiva e personalíssima, proveniente de usuário ou agente público, acerca da
-309).
Neste sentido, é balizador o disposto no caput do artigo 6º da já citada Lei
pressupõe a prestaçã
condições de regularidade, continuidade, eficiência, segurança, atualidade,
generalidade, cortesia na sua prest
compreende a modernidade das técnicas, do equipamento e das instalações e a sua
finalmente, o
parágrafo 3º exclui da descontinuidade do serviço as interrupções de emergência ou
A seção V dessa referida Lei Geral das Concessões, que trata da prorrogação
das atuais concessões, em seu artigo 19, estabelece que a União poderá prorrogar
atendime
tratada nessa referida seção é o da distribuição de energia elétrica, entretanto, sem
relacionar a prorrogação à manutenção da qualidade de atendimento. Os artigos 25
e 26 dessa seção, também estabelecem que os contratos de concessão deverão
conter requisitos mínimos de desempenho técnico, aferidos via fiscalização, com
base em índices apropriados para tal finalidade; bem como a vinculação da
qualidade técnica a penalidades progressivas na proporcionalidade do prejuízo
efetivo ou potencial causado ao mercado.
As condições normativas contempladas, em especial, no referido
parágrafo 1º do artigo 6º, da Lei Geral das Concessões, devem ser cumpridas de
forma integral e harmônica para que o serviço possa ser considerado adequado.
87
de tais atributos (desde que motivada, congruente e respeitosa da modicidade
Para Justen Filho (2003, p. 302), o serviço adequado é aquele que for
eficiente, conforme detalhado no parágrafo 1º do artigo 6º, da referida legislação. Ele
o desempenho concreto das atividades
necessárias à prestação das utilidades materiais, de molde a satisfazer
necessidades dos usuários, com imposição do menor encargo possível, inclusive do
Além disso, cabe destacar que o artigo 7º da Lei Geral das Concessões,
estabelece conforme o seu inciso I, que é direito do usuário receber serviço
adequado. Também é possível acrescentar ao entendimento dessa disposição que
os usuários têm direito ao tratamento igualitário em razão da aplicação do princípio
da isonomia. Assim, qualquer pessoa que atender os requisitos legais tem direito ao
serviço público sem nenhuma distinção sendo, entretanto, admitida a diferenciação
de tarifas em função da situação pessoal dos usuários desses serviços (DI PIETRO
1996, p. 59).
3.5.2 Atributos de adequação
adequados; outros
indubitavelmente inadequados ntermediário, em que
reconhecer a existência de adequação e inadequação dependerá da análise de
da situação concreta, os atributos mais fundamentais para a idéia do serviço
prestação do serviço (JUSTEN FILHO, 2003, p. 304 e p. 308).
Os serviços adequados, além daqueles que reúnem todos os requisitos
m face das circunstâncias, possam ser
reconduzidos ao conceito, na acepção de terem sido adotadas as precauções
-se, por isso, ser
s a todos os
88
FILHO, 2003, p. 305). Ou seja, mesmo observando certa uniformidade no tocante
aos aspectos legais e regulamentares específicos no âmbito dos diversos setores
econômicos em que são realizadas concessões de serviços públicos, é possível
considerar que a caracterizaçã
A adequação dos serviços públicos também envolve uma relação de
vantagens e de encargos sob responsabilidade dos seus usuários. A elevação da
qualidade dos serviços tende a provocar um aumento nos seus custos que,
imaginável equivale a produzir a elevação do valor a ser pago pelos usuários. Isso
pode acarretar a existência de um serviço da mais elevada qualidade, de que não
(JUSTEN FILHO, 2003, p. 305).
Assim, o serviço
de vista técnico, a necessidade que
objeto de concessão não podem implicar ônus excessivos para as partes, usuários
prestação de
serviços deve estar associada à constante busca de equilíbrio entre a manutenção
de preços razoáveis para os usuários e um nível atrativo de retorno dos
investimentos que desperte o interesse empresarial na sua prestação (MOREIRA,
2010, p. 297-298).
outro lado, essa situação possibilita à autoridade administrativa o uso da
89
(BACELLAR FILHO, 2007, p. 34). Entretanto, essas indeterminações jurídicas não
devem se constituir em obstáculo para a caracterização do conceito de serviço
público e, principalmente, de seus atributos. Nesse sentido, um ponto de partida é o
já citado parágrafo 1º do artigo 6º, da Lei Geral das Concessões, que estabelece oito
atributos caracterizadores do serviço adequado. Tais atributos, apresentados a
seguir, à luz da opinião de diversos autores, são: regularidade, continuidade,
eficiência, segurança, atualidade, generalidade, cortesia e modicidade tarifária.
3.5.2.1 Regularidade
No caso específico do serviço público, a regularidade significa a prestação de
FILHO, 2003, p. 306). Esse entendimento é reforçado por Moreira (2010,
p. 301-302), para quem, a regularidade é um atributo com requisitos técnicos
próprios da especialidade e do modo de execução de um serviço. Dessa forma, um
serviço com regularidade é prestado de forma estável e segundo determinadas
regras e procedimentos de execução, previamente estabelecidos e de conhecimento
público. Já Gomide, Leite e Rebelo (2006, p. 8), entendem que a regularidade e a
continuidade, implicam em um serviço sem interrupção, exceto nas emergências, na
falta de pagamento ou por questões técnicas previamente comunicadas.
3.5.2.2 Continuidade
Para Moreira (2010, p. 302), a continuidade representa um serviço prestado
de forma permanente no tempo, sem interrupções inesperadas, em conformidade
com as regras estabelecidas e atendendo as necessidades dos usuários. Não
demanda, necessariamente, um novo serviço público e, sim, envolve aqueles que já
segundo a natureza da atividade desenvolvida e do i
90
termos práticos, a continuidade será avaliada de acordo com o serviço prestado
(JUSTEN FILHO, 2003, p. 306).
as atividades da Administração Pública devem ser realizadas de forma ininterrupta,
prestação do serviço
deve ocorrer de forma contínua, não possibilitando sua interrupção ou suspensão.
Por óbvio, se a prestação de serviço público significa o atendimento a necessidades
Cabe ressaltar, conforme já mencionado, que o parágrafo 3º do artigo 6º, da
Lei Geral das Concessões:
disciplina a exceção da continuidade. Se o serviço público for interrompido devido a situações emergenciais ou quando a paralisação se der, após competente aviso, por motivo de ordem técnica ou de segurança das instalações, ou, também, por falta de pagamento dos usuários, a descontinuidade na prestação do serviço é permitida (RIBAS, 2007, p. 86).
3.5.2.3 Eficiência
agente público, a obrigação
administrativa, que já não se contenta em ser desempenhada apenas com
legalidade, exigindo resultados positivos para o serviço público e satisfatório
1997, p. 102). Esse princípio está contemplado no caput do artigo 37, da
Constituição Federal, e também é considerado norteador de toda a Administração
Pública, pois implica em ações que sejam geradoras de resultados rápidos e
precisos em prol da população (MEDAUAR, 2009, p. 132).
A obtenção de serviço público eficiente também demanda o perfeito
cumprimento da legislação e das obrigações contratuais relativas à concessão, para
91
concessionário e do concedente no sentido de aprimorar o cumprimento do
2010, p. 303). Para Gomide, Leite e Rebelo (2006, p. 8), a eficiência contempla
serviços com: melhor utilização possível dos recursos disponíveis, menor custo
operacional e manutenção da qualidade, ou seja, com satisfação das necessidades
dos usuários.
3.5.2.4 Segurança
A segurança nos serviços significa a ausência de riscos para os seus usuários
e terceiros (GOMIDE; LEITE; REBELO, 2006, p. 8). Justen Filho (2003, p. 306),
detalha que esse atributo demanda serviços prestados sem a apresentação de
riscos, tais como os físicos e os emocionais, para os usuários e não-usuários. Por
outro lado, ainda segundo esse autor, não existe segurança, em termos absolutos,
que represente
subordinar a ocorrência dos eventos futuros a esquemas cognoscitivos e a vontade
Além disso, a eventual ocorrência de ofensa à integridade de alguma pessoa,
não significa que um dado serviço deixou de ser adequado. A adequação nesse
providências possíveis para reduzir o risco de danos, ainda que assumindo ser isso
insuficiente para impedir totalme
inviabilizar a execução do serviço em questão (JUSTEN FILHO, 2003, p. 306).
Já para Moreira (2010, p. 304), serviço seguro é o que não apresenta novos
perigos físicos, morais ou patrimoniais para seus usuários e tampouco para
terceiros. No caso de concessões, a segurança deve ser apurada tanto na
instalação como na prestação dos serviços, inclusive para evitar o surgimento do
perigo. Segundo o autor, esse atributo implica em responsabilidades para o
concessionário e para o concedente. Assim, a eventual omissão no tocante à
segurança que ocasione dano aos usuários ou terceiros, implica em indenizar os
prejuízos a eles causados.
92
3.5.2.5 Atualidade
Para Gomide, Leite e Rebelo (2006, p. 8), a atualidade representa o uso de
técnicas, equipamentos ou instalações modernos, bem como, com contínua
melhoria e expansão dos serviços. Já Moreira (2010, p. 307-308), amplia este
aperfeiçoamento do serviço a ser prestado tanto em termos tecnológicos como no
eira (2010), demanda postura ativa quanto à
inovação tecnológica, segurança e comodidade dos usuários.
iços
podem ser prestados satisfatoriamente mesmo com técnicas ultrapassadas.
Entretanto, com os avanços tecnológicos, tais serviços tendem a se tornar
necessidades a ela rela
implicam em custos que serão arcados pela comunidade. Assim, é até possível
Conforme já mencionado, o parágrafo 2º do artigo 6º, da Lei Geral de
Concessões, estabelece quatro dimensões para a atualidade:
(i) modernidade (inovação das técnicas, do equipamento e das instalações); (ii) conservação (manutenção dos benefícios adquiridos); (iii) melhoria (constante aperfeiçoamento) e (iv) expansão (incremento do número de pessoas beneficiadas e aumento de vantagens do serviço (MOREIRA, 2010, p. 308).
Finalmente, a mutabilidade ou adaptabilidade, é considerada um imperativo
de Direito Público a ser aplicado aos serviços públicos, posto que:
93
exige a atualização das formas de prestação do serviço, dentro das possibilidades econômicas do Poder Público. Nessa esteira, a evolução da tecnologia deve ser acompanhada pela Administração [Pública], não se cogitando a existência de direito adquirido à preservação das condições anteriores (RIBAS, 2007, p. 84).
3.5.2.6 Generalidade
A generalidade está princípio da universalidade material dos
o serviço público deve
ser colocado à disposição de toda a sociedade e, nos termos do principio da
impessoalidade, sem qualquer discriminação entre os seus usuários (RIBAS, 2007,
p. 85).
possível de usuários, abrangendo todas as manifestações de necessidade, sem
d
por todos os potenciais usuários [...] ainda que razões materiais e de segurança
possam acarretar a
(JUSTEN FILHO, 2003, p. 306).
Esse entendimento é compartilhado por Gomide, Leite e Rebelo (2006, p. 8),
e também por Moreira (2010, p. 304-306). Este último autor, no entanto, restringe a
generalidade do serviço à área da concessão. Para ele, além da isonomia e
ausência de qualquer tipo de discriminação, a generalidade também implica que o
serviço deve ser acessível técnica, social e economicamente. Também ressalta que
a generalização não implica em gratuidade e tampouco em atendimento fora da área
de atuação (MOREIRA, 2010, p. 304-306).
A generalidade contempla a promoção da igualdade material e o
(MOREIRA, 2010, p. 304-306). Com relação a esse último aspecto, cabe destacar
que os serviços subsidiados, destinados a pessoas mais carentes, não caracterizam
ofensa aos princípios da universalidade e impessoalidade, a vedação diz respeito à
adoção de distinções arbitrárias (RIBAS, 2007, p. 85).
94
3.5.2.7 Cortesia
tido,
prerrogativa de terem acesso aos dados do serviço que lhes digam respeito e a não
(MOREIRA, 2010, p. 306-307). Cabe ressaltar que o comportamento do prestador
de serviços, expresso por suas ações, afeta diretamente o usuário de uma forma
essencialmente intangível, apesar de que, em algumas situações, os serviços
possam incluir elementos tangíveis (TEBOUL, 2008, p. 14).
A prática da cortesia deve reprimir o trato do serviço como um favor ao
Inclusive, o prestador do serviço tem o dever de ser cortês, não podendo ser mal
dignidade humana, reconhecimento da natureza instrumental da atividade
desempenhada e tratam É tratar o usuário de forma respeitosa
(GOMIDE; LEITE; REBELO, 2006, p. 8)
3.5.2.8 Modicidade tarifária
Para Silva (2005, p. 922), a modicidade representa o moderado e se opõe à
princípios da Administração Pública de possível aplicação à modicidade é o da
impor aos indivíduos em geral, apenas as obrigações, restrições ou sanções nos
limites estritamente necessários ao atendimento do interesse público. Por outro lado,
tendo como premissa o princípio da universalidade, a modicidade deve propiciar
95
níveis tarifários que permitam a todos, usufruir do serviço público oferecido (RIBAS,
2007, p. 86-87). Para Gomide, Leite e Rebelo (2006, p. 8), a modicidade demanda
serviços com tarifas compatíveis à renda dos seus usuários.
Nos serviços públicos, esse atributo implica em uma tarifa de valor reduzido,
seja do ponto de vista relativo ou absoluto. Relativo, quando existe uma relação
auferidas pelos usuários e as tarifas
reduzido para permitir aos usuários a efetiva fruição das vantagens correspondentes
A
o projeto auto-sustentável nem mais nem menos do que o estritamente necessário
para que o serviço seja adequado às r
relevante garantir o equilíbrio econômico-financeiro do contrato, através de revisões
(MOREIRA, 2010, p. 314). Porém, é importante res
gerar a rentabilidade ordinária do projeto e caso isso não ocorra, implicará na
impossibilidade de prestação do serviço e conseqüente rescisão do contrato de
315).
Outro aspecto da questão diz respeito ao tratamento isonômico dos usuários
por parte da concessionária e do concedente. Entretanto, essa visão isonômica
também deve estar presente entre os próprios usuários, pois eventuais benefícios
concedidos a um ou mais usuários, terão reflexos na tarifa paga pelos demais.
(MOREIRA, 2010, p. 297).
Nesse sentido, Justen Filho (2003, p. 550) entende que não existe serviço
público gratuito, apesar de haverem situações em que o usuário recebe o serviço
sem dar nenhuma contrapartida. Porém, ele ressalva que tais situações não
caracterizam gratuidade do serviço, pois o mesmo está sendo custeado com
recursos públicos obtidos via impostos e outras fontes. Segundo esse autor a
concessão deve contemplar um sistema de tarifas no qual o usuário do serviço
concessão ao particular, o serviço existente era custeado pela Sociedade e, depois
96
da mesma, outorga, passou a ser custeado pelos seus usuários (JUSTEN FILHO,
2003, p. 550).
3.6 INTERESSES ENVOLVIDOS
3.6.1 Interesse público
A finalidade da Administração Pública e a do
contrário, de nada serviria a existência da estrutura jurídico-orgânica da primeira e
72). Além disso, os
dos com os
73). Porém, cabe ressaltar que o termo
p. 83).
práticas abusivas dos agentes públicos, dificultando seu controle através dos
2005, p. 81). Por exemplo, por decisão da Administração, os custos da
universalização dos serviços públicos podem, parcial ou totalmente, ser transferidos
aos seus usuários, impondo-lhes obrigações que do ponto de vista legal ou
contratual, seriam da concessionária ou do Estado. Além disso, comprometem uma
das características fundamentais da concessão, segundo a qual todo ônus e risco da
atividade cabe ao prestador do serviço (MOTTA, 2009, p. 25).
Por outro lado, também há quem entenda que, em razão do interesse público
envolvido, é possível impor encargos adicionais aos usuários dos serviços. Por
exemplo, para Bagatin (2005, p. 33), é admissível que os usuários dos serviços de
energia elétrica respondam por custos adicionais que não são, necessariamente,
derivados daqueles que eles utilizam. A autora cita o caso da criação do Programa
de Incentivo às Fontes Alternativas de Energia Elétrica (Proinfa), instituído pela
Lei 10.438, de 24 de abril de 2002, para aumentar a participação da energia oriunda
de produção independente via fonte eólica, pequenas centrais hidrelétricas (PCHs) e
97
biomassa. Segundo os dispositivos da referida lei, os custos do programa são
rateados entre os consumidores, na proporção do respectivo consumo, excluídos os
consumidores da classe de baixa renda.
Entretanto, muitas dificuldades surgem na tentativa de definição conceitual de
apresenta uma amplitude conceitual menor, pois pode estar limitada ao
um grupo determinado de
stância da atuação estatal quanto às
O interesse público
NCOURT, 2006, p. 156), pode ser
conceituado como aque
entendam de benefício comum ou para proveito geral, ou que se imponham por uma
NCOURT, 2006,
p. 157). Também é possível associá-
população, a uma percepção geral das exigência
2009, p. 143). Cabe ainda destacar a possibilidade de diferenciar o interesse público
serviço público consiste no interesse da Sociedade, que poderá coincidir com o
interesse dos usuários 2003,
p. 550).
98
3.6.2 Interesse privado
O interesse privado, ou também denominado particular, pode ser entendido
que afeta diretamente a pessoa, o seu patrimônio, mostrando-se vantagem que lhe é
Nas concessões, conforme Justen Filho (2006, p. 511-
endo
que, a obtenção de lucro seria um objetivo indireto das concessionárias. O autor
também entende que na concessão, todas as partes, ou seja, o Estado, a sociedade
recursos para o desempenho satisfatório das atividades que configuram serviços
atuar em nome próprio, não se deve atribuir relevância ao seu interesse particular.
anter economicamente viável a concessão de serviço público
é interesse também do concedente e da sociedade, uma vez que a frustração do
empreendimento prejudicará a todos e colocará em risco a continuidade do serviço
A exploração empresarial de um serviço público mediante concessão, implica
reconhecer a existência de interesse lucrativo por parte do concessionário. Porém, o
indispensável à promoção dos direitos fundamentais, é vedada sua interrupção. O
serviço público deve ser mantido, o que conduz à impossibilidade de transformá-lo
empreendimento integralmente ao particular se a concessão transformasse o serviço
em privado. Nesse caso, o insucesso da empresa seria algo pertinente apenas ao
Para os investidores, as concessões de serviços públicos são oportunidades
para remunerar o capital investido, em condições superiores àquelas praticadas no
mercado financeiro e que, dessa forma, devem ser analisadas como uma atividade
econômica. Neste sentido, os investidores precificam os riscos envolvidos e os
inserem nas suas propostas. Alguns d
particular, pois são oriundos de qualquer atividade econômica. [...] Igualmente, há
99
riscos que podem ser divididos a ambas as partes, como aqueles totalmente
imprevistos ou, conquanto previstos, de consequências
2010, p. 16).
exploração do serviço, o que significa que a remuneração será variável em vista da
sso, também sempre
se considerou que quando o serviço público objeto da concessão, apresenta riscos
elevados ou propicia margem reduzida de lucratividade, o Poder Público pode
os
os países de tradição similar à nossa, tendo sido confirmada na jurisprudência
2006, p. 513).
A aplicação das regras de direito público à concessão não se confunde com a
atividade de investimento na mesma, que é realizada por uma empresa privada ou
de economia mista. A empresa
pode e deve render lucro aos seus acionistas; caso contrário não se trataria de
concessão, mas sim de prestação de serviço público por uma empresa pública ou
privados, subordinando a sua utilização às regras do direito público (CARVALHO,
2010, p. 16).
Deve ser ressaltado que o público, em si, não visa ao lucro; mas a
atividade do particular ao investir, almeja, obviamente, obter uma remuneração por
É ainda possível questionar o entendimento de que a concessão é uma
atividade econômica conforme disposições do artigo 173 da Constituição Federal.
Segundo as mesmas, é possível a participação do Estado em atividades
econômicas quando houver o envolvimento da segurança nacional ou relevância
para o interesse coletivo. Porém, mesmo que assim não fosse, a concessão no
mínimo envolveria investimento privado em um serviço público e, assim, como toda
atividade financeira de interesse privado, teria por objetivo o lucro (CARVALHO,
2010, p. 4).
A concessão pode apresentar vantagens e desvantagens econômico-
financeiras para as partes envolvidas. Por exemplo, a concessionária pode obter um
lucro superior àquele estimado na concepção da concessão, entretanto, sem reduzir
as tarifas. Também, em crises econômicas que reduzam o uso do objeto de
100
concessão, será possível a recomposição do equilíbrio econômico-financeiro
contratual (CARVALHO, 2010, p. 8-9). Porém, nas situações em que o prejuízo
ocorrer em virtude dos riscos usuais e típicos da atividade, o investidor não terá
qualquer tipo de compensação, pois, como em qualquer investimento com risco, não
há ganho certo ou garantias contra eventuais perdas, em razão de mudanças de
ordem macroeconômica (CARVALHO, 2010, p. 16).
3.6.3 Interessados
Os usuários dos serviços públicos são todos aqueles que podem utilizar tais
serviços, mesmo que ainda não o façam. Assim, não existe distinção entre o usuário
que associações e outras formas institucionais de organização de interesses e
pessoas sejam configurada . Também, não se deve confundir o usuário do
possuir determinada nacionalidade ou até mesmo ter capacidade de fato. Por
Muitas vezes, no trato das questões de concessão de serviços públicos se
comunhão de interesses entre a Sociedade e os usuários,
tomando como suficiente a tutela aos usuários para assegurar os interesses
interesses dessas partes nem sempre serem os mesmos, também conduzem a
alguns equívocos. (JUSTEN FILHO 2003, p. 549). Outro aspecto a ser considerado
interesses próprios e peculiares, inclusive no tocante à fruição do próprio serviço
procuram apenas a satisfação de suas necessidades imediatas (JUSTEN 2003,
p. 551).
O conjunto de usuários, por si só, envolve elementos variados e
heterogêneos, cujas necessidades individuais com relação aos serviços públicos
101
não são necessariamente coincidentes. A Sociedade, por sua vez, abrange todos os
conjuntos de indivíduos, inclusive, os de usuários, mas não se reduz a eles.
Também são diferentes os critérios que definem esses segmentos. Os usuários, por
exemplo, são agregados pelo uso dos serviços. Cabe ainda destacar que os
(JUSTEN 2003, p. 550).
forma, é incapaz de se manifestar concretamente; tampouco possui instrumentos
para identificar e manifestar seus interesses. Assim, os usuários ou suas
associações, além de seus próprios interesses, podem também representar os da
Sociedade, porém, o interesse público não é reduzido ao interesse dos usuários.
Todos os segmentos da Sociedade possuem interesses específicos.
O concessionário busca o lucro; o usuário o melhor serviço com a menor tarifa ou,
transferidos, inclusive quando isso se produz por meio de elevação de carga
-554).
3.6.4 Desafios e conflitos
O processo de concretização do interesse público nas concessões se inicia
nas disposições aplicáveis da Constituição Federal; passa pela Lei Geral das
no regulamento administrativo e no edital de licitação; para depois se tornar fático no
(MOREIRA, 2010, p. 294). Porém,
nesse processo, o Poder Concedente tem o desafio de estabelecer inúmeras
59).
Também, com o desenvolvimento da atividade de regulação, existe a tendência de
102
possam ser alcançados com maior eficiência e de forma consensual, do que
impositiva (BITTENCOURT, 2006, p. 186).
Na atualidade, considera-se que o problema central nas concessões consiste
em conciliar as diferentes perspectivas envolvidas. Uma, diz respeito ao confronto
entre o equilíbrio econômico-financeiro do contrato com a execução do serviço por
conta e risco do concessionário. Outra, está relacionada ao fato de que para o
concessionário, a concessão visa lucro e envolve determinados riscos; e que para a
Administração,
compatibilizar tais perspectivas, é considerar que os riscos ordinários ficam por
conta do concessionário e, assim, não autorizam a recomposição econômico-
do equilíbrio rompido (DI PIETRO, 1996, p. 62).
Outro aspecto a ser considerado compreende o respeito às regras
econômicas, para que seja possível dispor de um ambiente adequado aos
investimentos. As alterações em tais dispositivos, quando necessárias, devem ser
negociadas pelas partes e não devem ser de iniciativa unilateral do Poder
-
financeiro do contrato, que é a regra jurídica que assegura o direito já adquirido pelo
-
nho não podem ocorrer
-17).
Adicionalmente às questões já apresentadas, Motta (2009, p. 164-166)
considera que a
contaminam e a afastam da unive
relacionado às reais intenções dos processos de privatização. Em lugar de
promoção da universalização material dos serviços públicos, o objetivo desses
processos teria sido obter recursos para pagamentos de dívidas externas e internas,
onerando posteriormente -usuário- , através do repasse às
tarifas dos ágios das vendas das empresas e do financiamento público dessas
operações de privatização. Outro vício, seria específico do setor elétrico e,
103
basicamente, compreenderia o fato de que a privatização na década de noventa,
Também cabe destacar a questão do possível conflito interno nas
concessionárias, as quais, atuando em um contexto regulado, subordinadas a leis e
regramentos diversos, devem ao mesmo tempo, atender ao interesse público e ao
procedimentos definidos como c
independentemente da imediata eficiência relativa de tais práticas e procedimentos,
tornando- RVALHO, 2003, p. 11). Esse
legitimidade institucional transforma-
2003, p. 62).
Nas concessões dos serviços públicos também existe o risco social,
lucros superiores ao previsto naquele momento no projeto, mormente em virtude de
a concessão ser um investimento amplamente diferido no tempo, atravessando
Por outro lado, a elevação da tarifa para fins de recomposição do equilíbrio
econômico-financeiro nas concessões, pode até causar futuros danos aos
concessionários, na medida em que o
abundantes e baratos; o concessionário visa a maximizar o retorno de suas
impostos ao Poder Concedente e autoridades reguladoras (MOREIRA, 2010,
p. 314).
outro conflito
existente nas concessões, que é aquele que surge do confronto entre o interesse
público, especialmente o caracterizado pelo lado dos usuários do serviço, e o
interesse particular, representado pelo interesse das empresas concessionárias de
tal serviço. Além disso, o atendimento à maior parte dos atributos do serviço
adequado, também apresenta conflito entre si. Por exemplo, o uso da melhor técnica
104
de atendimento implica em maiores investimentos e custos. Assim, a obtenção de
um nível mais elevado de adequação dos serviços sob o viés desses atributos,
implicará em tarifas mais elevadas, ou seja, comprometerá a modicidade tarifária,
também um dos atributos em questão.
Por outro lado, deve ser considerada a existência de um
ou dos fins envolvidos, o que significa dizer que todos os atributos
estabelecidos devem ser objeto de atenção simultânea. No caso da modicidade
tarifária, sua avaliação somente pode ser realizada de forma relativa, pois ela será
dependerá das circunstâncias concretas e da intensidade com a qual se efetivam os
demais atributos estabelecidos (JUSTEN FILHO, 2003, p. 308).
Em outro exemplo, a ausência de atendimento de um determinado serviço
o por um serviço
que não se presta. De outro lado, um serviço perfeito, ou seja, aquele que atende a
à menor tarifa possível para sua manutenção (inclusive com a margem de lucro do
(JUSTEN FILHO, 2003, p. 308).
Finalmente, cabe destacar que o direito subjetivo da denominada liberdade de
li
sim, de uma ação orientada para a obtenção de um maior comprometimento do
setor privado, com a con
(BITTENCOURT, 2006, p. 187). Além disso, a Constituição Federal, nos termos do
inciso XXIII do seu artigo 5º, assegura o direito de propriedade, desde que ela
cumpra com a sua função social (MOTTA, 2009, p. 210).
105
4 INOVAÇÃO E PERSPECTIVAS ESTRATÉGICAS
4.1 INOVAÇÃO TECNOLÓGICA
4.1.1 Conceitos
Tem sido possível observar a crescente importância dada à inovação nas
estratégias de promoção do desenvolvimento econômico e naquelas destinadas ao
aumento da competitividade das empresas. Em muitas organizações, a inovação é
considerada como um elemento fundamental para a sua atuação (SANTOS;
ROMEIRO, 2008, p. 479). E, com relevância cada vez maior, os seus conceitos
passam a ser abordados com diferentes enfoques.
A inovação pode ser vista como algo novo, que agrega riqueza ou valor
social, ou ainda, pode contemplar novidades geradoras de ganhos para aqueles que
as implantam ou, de forma mais objetiva, que gerem lucros (ZAWISLAK, 2005, p. xi).
(PIERACCIANI, 2008, p. 63). A capacidade de inovar possibilita atender às
necessidades do mercado e a enfrentar a concorrência, razão pela qual é
considerada determinante para a competitividade de uma empresa
(VASCONCELLOS et al., 1997, p. 22). Nesse sentido, demanda uma gestão técnica,
estratégica e orientada para resultados, geração de receitas e de lucros
(PIERACCIANI, 2008, p. 59).
A inovação é caracterizada por resultados originais, satisfatórios e aplicáveis,
obtidos através de um novo enfoque propiciado pela criatividade. Essa, por sua vez,
caracteriza-se pela descoberta, deliberada ou não, de novas maneiras de
desenvolver uma idéia, resolver um problema ou abordar uma situação (PONTI,
2009, p. 30). Porém, cabe ressaltar, que a criatividade e a inovação não devem ser
confundidas. As idéias ou, criatividade, representam apenas uma pequena parcela
do esforço de inovar
106
De forma mais específica, a inovação tecnológica pode ser entendida como o
processo de transposição para a economia, de uma idéia ou invenção que
contempla uma concepção, esboço ou modelo de um novo produto, processo ou
serviço, ou ainda a melhoria daqueles já existentes. A inovação compreende a
trajetória percorrida desde tal idéia, o uso de tecnologias disponíveis ou
desenvolvidas para um fim específico, até a criação de um novo produto, processo
ou serviço; com sua posterior disponibilização para o consumo ou uso (VALERIANO,
1998, p. 29).
produtos, p
perspectiva mais moderna e interessante, as inovações podem ocorrer em diversas
dimensões, tais como, processos, agregação de serviços e relacionamento com
clientes e comunidade (TERRA, 2007, p. 23). A inovação também pode significar ter
uma nova idéia ou aplicar as idéias de outros em novidades ou de um modo novo.
Portanto, além de novos produtos ou melhoria dos já existentes, a inovação pode
envolver a otimização organizacional, alterações nos modelos de negócio e até pode
dar uma nova vida a uma velha idéia, neste caso, denominada inovação histórica.
Não se restringe às aplicações tecnológicas, em que pese estar intimamente
o mais amplo,
sentido, é o microcrédito iniciado por Muhammad Yunnus, ganhador do Prêmio
Nobel da Paz, em 2006 (SAKAR, 2007, p. 29-31). Outro exemplo é a inovação
relacionada às estratégias de preços, quando, por exemplo, são alterados conforme
a demanda, ou quando o consumidor pode escolher as especificações, pagando
mais ou menos por essa personalização. No entanto, não é considerada inovação a
diferenciação dos preços em função dos segmentos de consumo (OECD, 2006b,
p. 61).
Conforme o Manual de Oslo (OECD, 2006b, p. 55), inovação:
é a implementação de um produto (bem ou serviço) novo ou significativamente melhorado, ou um processo, ou um novo método de marketing, ou um novo método organizacional nas práticas de negócios, na organização do local de trabalho ou nas relações externas.
107
A implementação de um produto significa sua efetiva introdução no mercado
marketing e métodos
organizacionais são implementados quando eles são efetivamente utilizados nas
Do ponto de vista legal, no Brasil, a inovação está definida no inciso IV do
artigo 2º da Lei 10.973, de 2 de dezembro de 2004, e do inciso de mesmo número e
artigo, do Decreto 5.563, de 11 de dezembro de 2005. Segundo tais dispositivos
.
O Decreto em questão regulamenta a referida Lei 10.973/2004, que dispõe sobre
incentivos à inovação e à pesquisa científica e tecnológica no ambiente produtivo.
4.1.2 Classificações
A inovação tem sido classificada de diversas formas, entre as quais, a
apresentada pelo Manual de Oslo (OECD, 2006b, p. 57-61), segundo o qual, a
inovação pode ser:
Uma inovação de produto é a introdução de um bem ou serviço novo ou significativamente melhorado no que concerne a suas características ou usos previstos. Incluem-se melhoramentos significativos em especificações técnicas, componentes e materiais, softwares incorporados, facilidade de uso ou outras características funcionais. Uma inovação de processo é a implementação de um método de produção ou distribuição novo ou significativamente melhorado. Incluem-se mudanças significativas em técnicas, equipamentos e/ou softwares. Uma inovação de marketing é a implementação de um novo método de marketing com mudanças significativas na concepção do produto ou em sua embalagem, no posicionamento do produto, em sua promoção ou na fixação de preços. Uma inovação organizacional é a implementação de um novo método organizacional nas práticas de negócios da empresa, na organização do seu local de trabalho ou em suas relações externas.
Tidd, Bessant e Pavitt (2005, p. 30), com algumas semelhanças à referida
conceituação da OECD, sugerem quatro categorias abrangentes de inovações,
108
Inovação de produto mudanças nas coisas (produtos/serviços) que uma empresa oferece; Inovação de processo mudança na forma em que os produtos/serviços são criados e entregues; Inovação de posição mudanças no contexto em que produtos/serviços são introduzidos; Inovação de paradigma mudanças nos modelos mentais subjacentes que orientam o que a empresa faz.
Ainda segundo Tidd, Bessant e Pavitt (2005, p. 31-32), existe outra forma de
classificar as inovações, baseada no grau de novidade envolvido nas mesmas.
Nesse sentido, a inovação pode ser do tipo incremental, quando contempla
melhorias menores de características incrementais, tais como, melhorias em
componentes ou até mesmo novas versões de um mesmo produto; ou, do tipo
radical, quando ocorre a transformação na forma como as coisas são vistas ou
utilizadas, podendo, em alguns casos, implicar até em mudanças na base da
sociedade. São exemplos, respectivamente: os materiais avançados que melhoram
o desempenho de componentes e a revolução da tecnologia de informação e
comunicação transformando o mundo dos negócios.
A inovação também pode ser do tipo fechada ou aberta. Na inovação fechada
a totalidade do processo inovativo. Normalmente esse tipo de inovação, baseada na
proteção da propriedade intelectual, propicia maiores retornos pela introdução
pioneira no mercado. Por outro lado, a inovação aberta compreende a melhor
utilização das idéias externas e internas à organização. Nessa abordagem, a
propriedade intelectual própria utilizada por terceiros é fonte de receita e, a
propriedade de terceiros, é adquirida sempre que gerar vantagens nos negócios
próprios (CARVALHO, 2009, p. 18-24).
Por sua vez, Cristensen e Raynor (2003, p. 32-34) classificam a inovação em
dois tipos distintos: as inovações sustentadoras e as disruptivas. Para eles, as
inovações sustentadoras são aquelas que se traduzem em produtos ou serviços
com desempenho superior em relação aos previamente disponibilizados e que,
basicamente, são destinados aos clientes mais exigentes do mercado atual. Já as
inovações disruptivas, ainda segundo os referidos autores, contemplam produtos
menos sofisticados que rompem o padrão vigente. Com soluções mais simples, mais
convenientes e mais baratas, as inovações disruptivas possibilitam o atendimento de
109
novos segmentos, como os clientes menos exigentes e os atuais não consumidores.
Também, cabe destacar que, embora as inovações sustentadoras sejam
fundamentais para promover o crescimento dos atuais negócios, as inovações
disruptivas oferecem novas alternativas para o crescimento bem sucedido
(CRISTENSEN, RAYNOR, 2003, p. 101).
inovação pode tornar irrelevante a concorrência, na medida em que proporciona
mais valor para os clientes nos mercados existentes ou que, através desse valor,
possibilita a criação de novos mercados. A inovação de valor não envolve
necessariamente novas tecnologias, mas contempla a oferta de valor superior para
os clientes com preços acessíveis (KIM, MAUBORGNE, 2004, p. 334- 337).
4.1.3 Atividades de inovação
As atividades de inovação podem ser caracterizadas pelo conjunto de ações
científicas, tecnológicas, organizacionais, financeiras e comerciais que conduzem,
ou visam conduz
de inovações. As atividades de inovação também inserem a P&D que não está
diretamente relacionada ao desenvolvime . Porém,
cabe destacar que a P&D é fundamental para o processo de inovação, e que toda
P&D é considerada atividade de inovação (OECD, 2006b, p. 35, 56, 105). Para
A P&D contempla as pesquisas, básicas ou aplicadas, destinadas à aquisição
de novos conhecimentos, obtenção de invenções ou de modificações técnicas
específicas; bem como, as atividades de desenvolvimento e avaliação de novos
conceitos de produtos ou processos. As atividades de P&D podem ser
desenvolvidas internamente, com equipes e instalações próprias, ou externamente,
quando são contratadas junto a instituições de pesquisa, outras empresas e
entidades correlatas. (OECD, 2006b, p. 44-45, 112-113).
As demais atividades de inovação são aquelas destinadas ao fortalecimento
da capacidade para desenvolver inovações, ou para adotar com sucesso, inovações
110
já desenvolvidas. Essas ações, no tocante a produtos e processos, podem
contemplar também junto a entidades de pesquisa, outras empresas e entidades
correlatas, a aquisição de conhecimentos externos como patentes e invenções não
patenteadas, marcas registradas, novos conceitos para produtos e processos, e
similares. Contemplam ainda a aquisição de máquinas, equipamentos e outros bens
de capital, inclusive, sistemas computacionais, instalações e correlatos necessários
para viabilizar as inovações, bem como, as atividades de design, planejamento e
teste de novos produtos, serviços, processos produtivos e métodos de distribuição
que não tenham sido inseridos na P&D, e, ainda, as atividades de treinamento
interno e externo, relacionadas ao desenvolvimento ou implementação de
inovações. As atividades dirigidas às inovações de marketing e as organizacionais,
compreendem o planejamento, desenvolvimento e implantação de novos métodos
de marketing e cunho organizacional, inclusive, com a aquisição de conhecimentos
externos (OECD, 2006b, p. 44-45, 112-113).
O papel da P&D no processo de inovação é especialmente relevante nos
setores de alta tecnologia. Em outros setores, muitas vezes, a estratégia de
inovação é baseada na adoção de conhecimentos e de tecnologias disponíveis. As
diferenças no enfoque estratégico da inovação, tais como a ênfase em inovações
incrementais ou radicais, implicam em diferentes demandas relacionadas às
estruturas organizacionais e a outros elementos institucionais das empresas, tais
como procedimentos e direitos de propriedade intelectual, e que, conforme o caso,
podem variar bastante de papel e de importância (OECD, 2006b, p. 46).
4.1.4 Estratégias
A discussão sobre os aspectos que fundamentam e justificam os
investimentos em inovação, é fundamental para o sucesso de países e organizações
(OLIVEIRA, 2010, p. 1). Os investimentos empresariais em inovação ocorrem por
mercados, eficiência, qualidade ou à capacidade de aprendizado e de
considerar que os produtos e serviços inovadores proporcionam crescimento
111
econômico e empregos, bem como, podem ampliar a população atendida quando,
em especial, são mais baratos e permitem o atendimento mais conveniente de
segmentos que até então tinham pouco ou nenhum acesso aos mesmos
(AHLSTROM, 2010, p. 20-21).
Porém, pode ser considerado que o principal motivo para as empresas
inovarem é a possibilidade de melhorar seu desempenho, especialmente, através do
aumento da demanda e/ou pela redução de custos. Por exemplo, as inovações em
produtos podem se constituir em importante fonte de diferenciação ou, ainda,
contribuir para o aumento das vendas e das margens. Já as de processo, podem
aumentar a produtividade, possibilitando vantagens de custos sobre a concorrência
(OECD, 2006b, p. 36-37).
Entre os fatores mais citados que estimulam o esforço inovativo, estão a
busca de vantagem competitiva sustentável, de novas alternativas para crescimento
do negócio, de oportunidades para aumentar a participação no mercado e da receita
no longo prazo. A inovação também é utilizada como uma forma de reação
longo prazo, e que as pessoas constituam-se no principal investimento a ser
-16).
Para se tornar perenes, as empresas devem ter adotar uma abordagem
integrada que considere os processos, as pessoas, as tecnologias, o mercado e as
dimensões competitivas, que tiver como objetivo prolongar a vida das organizações
sempre algum tipo de pesada ameaça ou mudança no contexto competitivo exigindo
certa: não inovar é o maior
A transformação de uma empresa em inovadora depende de um esforço de
mudança planejada, no qual, o desenho de uma estratégia de inovação é
de inov
planejadas em equipes, ambiente, processos e outros elementos que potencializem
-se, sem uma estratégia de transformação completa e
112
bem formulada, não haverá mudanç
necessário, em especial, compreender as expectativas e as dinâmicas das decisões
dos clientes (PIERACCIANI, 2008, p. 34-35).
A definição de estratégias de inovação demanda a análise das capacitações,
interações e vínculos dos agentes envolvidos, bem como da organização, gestão e
comercialização da tecnologia, entre outros fatores. Cabe destacar, especialmente,
que o processo de inovação, em razão de sua natureza social e interativa, implica no
fornecedores e outras fontes de conhecimento, como as
suas ligações comerciais com client
esforço tecnológico interno e os vínculos com universidades e institutos de pesquisa
A inovação pode contemplar diferentes tipos de estratégias. Algumas
empresas competem com base na liderança na inovação de produtos, outras
sustentam esse posicionamento pela inovação de processos, e também, existem
aquelas que seguem rapidamente as mais inovadoras (TERRA, 2007, p. 25). Além
disso, a estratégia pode ser caracterizada pelo tipo de inovação. Na estratégia
baseada na inovação aberta, a geração e retenção de valor residem na capacidade
de buscar e integrar alternativas no ambiente competitivo que possibilitem dar
atendimento ágil e rápido às necessidades do mercado. Já na estratégia baseada na
inovação do tipo fechada, a concepção de valor é sustentada pelo pioneirismo na
introdução da inovação no mercado, que se traduz em preços privilegiados, e a
detenção desse valor, se dá com o uso de instrumentos de proteção intelectual
(CARVALHO, 2009, p. 29). Nessa abordagem inclusive, existem indicativos de que
as empresas podem alcançar maior rentabilidade quando sua estratégia de inovação
contempla o uso de patentes e segredos industriais, possibilitando-as usufruir de
monopólios temporários (SANTOS; ROMEIRO, 2008, p. 479).
As condições para a inovação bem-sucedida compreendem basicamente: o
compromisso da administração com as mudanças; a adoção de perspectivas de
longo prazo; a flexibilidade e capacidade de aceitar riscos; bem como, a promoção
de um ambiente interno favorável às inovações (ADAIR, 2010, p. 20-33). Além disso,
o estilo estratégico empresarial deve possuir compatibilidade com a natureza das
oportunidades tecnológicas e, o controle financeiro deve ser dosado para não
113
desestimular a inovação (TIDD; BESSANT; PAVITT, 2005, p. 252). De qualquer
forma, o sucesso de uma estratégia de inovação depende do:
entendimento dos parâmetros fundamentais do jogo competitivo (mercados, concorrentes, forças externas, etc.) e também do papel que o conhecimento tecnológico pode desempenhar como um dos recursos desse jogo: como o conhecimento pode ser acumulado e compartilhado, ser utilizado em novos serviços/produtos e processos, como se pode adquirir conhecimento complementar ou tê-lo como apoio (TIDD; BESSANT; PAVITT, 2005, p. 383).
Por outro lado, as estratégias empresariais em inovação devem considerar
três componentes essenciais. Um, é a posição da empresa em relação às posições
os de produtos, processos e tecnologias, e em
respeito aos caminhos tecnológicos disponíveis para a empresa em razão de suas
competências já desenvolvidas, bem como, das oportunidades emergentes que tais
capacidades permitem aproveitar. O terceiro contempla os processos
organizacionais utilizados pela empresa para integrar a aprendizagem estratégica
nos seus limites funcionais e departamentais (TIDD; BESSANT, 2005, p. 147-148).
A estratégia da inovação, quando abordada sob o enfoque da P&D, pode ser
classificada em três tipos distintos. O primeiro, denominado de P&D de primeira
geração, é quando são contratadas pessoas qualificadas, disponibilizadas
instalações adequadas e outros recursos para a P&D, com a expectativa de que tais
ações produzam resultados comercialmente viáveis, caracterizando o que pode ser
geração, é quando as atividades de P&D são conduzidas através de projetos
estruturados, com quantificação de custos e de benefícios de cada projeto,
possibilitando uma avaliação do progresso em relação aos objetivos pretendidos. O
terceiro, denominado P&D de terceira geração, leva em conta as demandas de cada
negócio e da corporação como um todo, nas quais os investimentos e as
expectativas de resultados são equilibrados em um conjunto de projetos (ROUSSEL;
SAAD; BOHLIN, 1992, p. 7-10).
As estratégias mais ofensivas em P&D são direcionadas à geração de novos
produtos e processos, enquanto as menos ofensivas se caracterizam pela busca de
pequenos aprimoramentos em produtos e processos, ou ainda, de novas aplicações
114
ou adaptações dos mesmos (KRUGLIANSKAS, 1997, p. 44). No tocante às
estratégias de inovação sob um enfoque mais amplo, cabe destacar que as
empresa possui apenas um conhecimento muito imperfeito do seu cenário, de suas
próprias forças e fraquezas e de possíveis índices e di
Esse entendimento implica em tomar medidas deliberadas em direção a um objetivo
proposto, avaliar os seus efeitos, promover os eventuais ajustes necessários no
objetivo e decidir sobre os próximos passos (TIDD; BESSANT; PAVITT, 2005,
p. 134).
Para Marcovitch (1997, p. 11), citando exemplos nas áreas de energia e
telecomunicações, entre outros, os esforços em inovação das empresas estatais
empresa
sentido, as ações da inovação estariam inseridas no que o referido autor, então
crescimento empresarial es
As estratégias de inovação são dependentes da forma como se dá a reação
das empresas aos desafios impostos pela abertura dos mercados e à globalização
cnológicas
possibilidades para aproveitar as oportunidades (MANUAL DE BOGOTÁ, 2001,
p. 56).
O atual destaque dado à inovação como um elemento de fundamental
importância para a
competências, que não são triviais e por vezes demandam investimentos de longo
a gestão da inteligência,
ampliando e atualizando o conhecimento para torná-lo um instrumento de
num contexto complexo e dinâmico, com mudanças que podem contemplar a
tecnologia, a organização ou até o cenário econômico da empresa. Dessa forma,
normalmente, é difícil: identificar as oportunidades e ameaças tecnológicas; definir
as estratégias de inovação; e prever os resultados. Porém, independentemente da
115
(TIDD; BESSANT, 2005, p. 147).
Quando considerada a dimensão tecnológica da inovação, o uso da
tecnologia como fator de competitividade depende de um alinhamento do plano de
desenvolvimento tecnológico com a estratégia corporativa, o que significa dizer que
deve existir sintonia das atividades de P&D com as metas da empresa relacionadas
às suas expectativas de liderança no mercado, de preços competitivos e de
diferenciação de seus produtos (VASCONCELLOS et al., 1997, p. 23). Recomenda-
se, inclusive, que sejam analisadas as relações das atividades inovadoras com as
estratégias empresariais concebidas para melhorar a competitividade e para
aproveitar oportunidades de maior rentabilidade e de crescimento nos mercados
específicos em que as empresas operam (MANUAL DE BOGOTÁ, 2001, p. 56). No
ações organizacionais que, levando em conta o que tem (conhecimento disponível)
e os sinais que recebe (informações), busque continuamente caminhos diferentes
Outro aspecto a considerar nas estratégias de inovação das empresas é a
construção do capital social, pois a confiança, os valores e as normas institucionais,
causam impactos importantes nas trocas de conhecimentos no âmbito das relações
externas e internas das empresas (OECD, 2006b, p. 89). Assim, a criação e a
apropriação de inovações dependem, aind -
financeiros da empresa, mas principalmente do ambiente institucional no qual está
no contexto da inovação, em especial, deve valorizar o novo, a participação dos
empregados e até o erro como forma de aprendizado. Deve ainda, contar com
er
construída por uma liderança forte, agente de mudanças, e para a qual os resultados
de curto prazo são secundários (PIERACCIANI, 2008, p. 50). Cabe ressaltar que a
conjunto de habilidades e de conhecimentos gerenciais diferente daquele
Como as inovações envolvem coisas novas e não experimentadas, parcial ou
totalmente, apresentam riscos. Assim, os lucros que são a essência da ação
116
empresarial, devem ser vistos como o pagamento para empresa ser inovadora e
o
erro é parte do processo de aprendizagem da inovação (PUPO; HOMMA, 2008,
p. 190).
No processo de inovação, os produtos, serviços e as organizações e
instituições, devem passar por mudanças com a finalidade de se tornarem melhores.
Nesse sentido, a inovação como instrumento de mudança, pode ser vista como
alguns pequenos, alguns grandes em uma direção
Finalmente, é importante destacar que as mudanças envolvendo produtos e
serviços inovadores, personalizados e com alta qualidade, irão demandar
habilidadesde alto nível para desenvolver, produzir e entregar tal tipo de produção.
Nesse sentido, existem fortes evidências indicando que um nível de qualificação
profissional superior influencia diretamente o potencial dos indivíduos e das
organizações no tocante à promoção de inovações (TONER, 2011, p. 37, 39). Para
que uma empresa possa operar de forma realmente criativa e inovadora, o que pode
levar vários anos, é fundamental que ela promova o desenvolvimento pessoal e
profissional de sua equipe. Esse desenvolvimento, inclusive, poderá ser demandado
por trabalhadores e dirigentes no sentido de as empresas em que atuam, também
lhes permitam aprender (PONTI, 2009, p 164).
4.1.5 Avaliação
A avaliação tecnológica compreende a utilização de métodos, técnicas e
m
Por sua vez, na avaliação das atividades de inovação, além dos aspectos
técnicos e econômicos, é fundamental considerar a relevância social e ambiental
dos resultados pretendidos ou obtidos (STEMMER, 1998, p. 170 e DAGNINO et al.,
117
2004, p. 55-62). Além disso, na avaliação do esforço inovativo também é importante
natureza essencialmente incremental do progresso em P&D e demais atividades a
2005, p. 252).
De todas as alternativas utilizadas para tal avaliação, merece destaque a
para comparar empresas, setores e países, ou até mesmo para caracterizar o nível
tecnológico dos mesmos. Esse indicador que mede o esforço para gerar novos
conhecimentos, corresponde ao percentual da receita líquida de vendas que é gasto
com P&D (FURTADO; QUADROS; DOMINGUES, 2011, p. 26-27).
No ambiente empresarial, os indicadores mais utilizados para avaliar a
inovação compreendem as estatísticas de P&D, tais como as relacionadas aos
gastos, pessoal alocado, patentes obtidas, contabilização e classificação de
anúncios de novos produtos; os indicadores bibliométricos, contemplando as
contabilização de artigos científicos; bem como, as técnicas semiquantitativas
relacionadas à avaliação de desempenho do departamento de P&D (SBRAGIA et
al., 2006, p. 40). Porém, cabe ressaltar que ainda são poucas as empresas que
s, não estão
resultados financeiros, principalmente aqueles relacionados ao aumento de vendas,
faturamen
exceções dizem respeito às avaliações de inovação organizacional e de inovação de
p. 2).
as convencionais de mensuração
de projeto são de utilidade limitada para a avaliação de projeto e alocação de
resultados e das dificuldades para estimar o retorno financeiro do aprendizado
118
tecnológico associado à tal atividade, especialmente nos estágios iniciais da P&D,
quando as incertezas são bastante altas e as escolhas são, essencialmente,
subjetivas (TIDD; BESSANT: PAVITT, 2005, p. 252). Gomes (2003, p. 112) reforça
essa assertiva, ao entender que as avaliações de P&D realizadas antes do início dos
respectivos projetos, também denominadas ex anteincertezas de seus resultados, a forte característica não-linear da P&D e a
dificuldade na mensuração dos diversos e possíveis impactos econômicos, sociais e
Segundo Sbragia et al. (2006, p. 40-43) os estudos sobre os indicadores de
inovação tecnológica tem sugerido que:
a) em alguns setores de atividade pode existir relação entre os gastos de
P&D e a lucratividade da empresa;
b) a P&D pode influenciar o crescimento das empresas, porém não de forma
exclusiva, mas em razão de outros fatores que contribuem nesse sentido;
c) o mercado pode estimular os investimentos da empresa em inovação,
especialmente quando ela está sob pressão de concorrentes e, de outro
lado, sendo essa pressão inexistente, ela tende a reduzir tais
investimentos;
d) pode existir forte correlação positiva entre os gastos em P&D e o
percentual do faturamento obtido com produtos novos ou melhorados;
e) em alguns setores, o número de patentes obtido pode não ter relação com
o lucro ou com a participação de mercado que, caso existente, seria muito
fraca; porém, outros estudos indicaram a possibilidade de relação entre o
número de patentes e a evolução do faturamento.
Dessa forma, Sbragia et al. (2006, p. 45) concluem que existe uma:
relação significativa entre gastos em P&D e produtos novos introduzidos no mercado. No entanto, a relação entre gastos em P&D e participação de mercado, lucratividade ou faturamento já é mais controversa, dado que diversas variáveis acabam interferindo no processo.
Com tal entendimento sobre o impacto da P&D fica evidente que o principal
benefício para os clientes é dispor de produtos novos ou melhorados. Por analogia,
119
quando se fala na prestação de serviços, o esforço da inovação deve se traduzir em
serviços novos ou melhorados.
A avaliação dos esforços e investimentos realizados em inovação, que é
fundamental para verificar se os retornos esperados estão sendo obtidos, deve ser
feita com base na caracterização dos resultados. Essa tarefa, por sua vez, é
facilitada pelo uso de indicadores que possibilitam uma análise global do
ibilitam o
estabelecimento de metas quantificadas e o controle de resultados para uma análise
crítica do desempenho da organização, para a tomada de decisões e para o
re-
As inovações podem, em maior ou menor grau, contribuir para a consecução
dos objetivos empresariais e gerar os efeitos desejados ou, até mesmo, efeitos
objetivos refiram-se aos motivos das empresas para a inovação, os efeitos dizem
1
apresenta fatores que podem ser considerados relevantes para a consecução dos
objetivos e obtenção de efeitos relacionados aos quatro tipos de inovação propostos
120
Relevante para: Tipo de inovação
produto processo organiza-cional marketing
Competição, demanda e mercados Reposição de produtos tornados obsoletos X Aumento da gama de bens e serviços X Desenvolvimento de produtos não agressivos ao meio ambiente X Aumento ou manutenção da parcela de mercado X Entrada em novos mercados X X Aumento da visibilidade ou da exposição dos produtos X Tempo reduzido de resposta às necessidades dos consumidores X X Produção e distribuição Aumento da qualidade de bens e serviços X X X Aumento da flexibilidade de produção ou provisão de serviços X X Aumento da capacidade de produção ou de provisão de serviços X X Redução dos custos unitários de produção X X Redução de consumo de materiais e energia X X X Redução dos custos de concepção dos produtos X X Redução dos tempos de produção X X Obtenção dos padrões técnicos industriais X X X Redução dos custos operacionais para a provisão de serviços X X Aumento da eficiência ou da velocidade do fornecimento e/ou distribuição de bens ou serviços X X Melhoria da capacidade de TI X X Otimização do local de trabalho Melhoria da comunicação e da interação entre as diferentes atividades de negócios X Melhoria do compartilhamento e da transferência de conhecimentos com outras organizações X Melhoria da capacidade de adaptação às diferentes demandas dos clientes X X Desenvolvimento de relações fortes com os consumidores X X Melhoria das condições de trabalho X X Outros Redução de impactos ambientais ou melhoria da saúde e da segurança X X X Execução de exigências regulatórias X X X
Quadro 1 - Fatores relacionados aos objetivos e efeitos da Inovação Fonte: Manual de Oslo (OECD, 2006b, p. 124)
Por outro lado, entre as diversas alternativas utilizadas para a avaliação da
inovação nas empresas, Trizotto e Geisler (2009, p. 192-193) sugerem um conjunto
de indicadores divididos em três grupos: de entrada, de processo e de saída;
conforme indicado na figura 2.
121
Figura 2 - Indicadores sugeridos para avaliação do processo de inovação
Fonte: Trizotto; Geisler, 2009, p. 192.
Ainda segundo Trizotto e Geisler (2009, p. 194-196), os indicadores de
entrada compreendem os recursos humanos e financeiros diretamente envolvidos
r a disposição da empresa em assumir
do processo de
as pela empresa
são suficientes para definir eventuais mudanças estratégicas no âmbito da inovação,
relação
Para mensurar os resultados da inovação, o Manual de Oslo (OECD, 2006b,
p. 29) considera que são diretamente relevantes os indicadores relacionados aos
recursos destinados à P&D e à estatística de patentes. Destaca que a validade dos
dados sobre P&D foi constatada em vários estudos como, por exemplo, os
técnicas econométricas, tanto para países como para setores e
ENTRADA
PROCESSO
SAÍDA
Percentual do faturamento investido pela empresa em atividades de pesquisa e desenvolvimento (P&D).
Percentual de colaboradores envolvidos no processo de inovação.
Percentual das idéias geradas que foram aprovadas.
Índice de desistência.
Taxa de atraso no cronograma de projetos.
Taxa de extrapolação no orçamento de projetos.
Número de produtos lançados.
Percentual de patentes concedidas à empresa.
Percentual de faturamento proveniente de produtos lançados nos últimos dois anos.
Retorno sobre o investimento dos novos produtos (ROI).
122
próprio Manual ressalta que os referidos dados têm duas limitações principais. Uma,
é que a P&D está relacionada às mudanças técnicas, mas seus dados não
possibilitam medir tais mudanças. A segunda, é que a P&D não contempla todos os
esforços nessa área, pois existem outras formas de promover mudanças técnicas
como, por exemplo, o aprendizado pela prática.
Por sua vez
garantido pelos esc que possibilita seu detentor sua
exploração durante um determinado prazo, mas em contrapartida,
ais utilizadas
dinamismo tecnológico de uma empresa ou país, bem como, indicar eventuais
de
exemplo, o fato de muitas inovações deixarem de ser patenteadas enquanto outras
são objeto de diversas patentes, ou, que muitas delas não possuem valor
tecnológico e tampouco econômico, mas outras são de alto valor (OECD, 2006,
p. 29-30).
Pieracciani (2008, p. 134), considera que no Brasil o uso do número de
uma patente é ainda preciso enfrentar os notórios problemas e a lentidão do nosso
Já
Carvalho (2009, p. 121-123) ressalta que o sistema de patentes também apresenta
limitações para mapear alguns tipos de inovações, como os softwares, e que, dessa
forma, o número de patentes não seria um indicador adequado para avaliar os
desejos dos clientes, se ela não representar valor, na avaliação deles, de nada terá
tanto tecnológicos como de mercado, e chegou ao mercado, gerando valor para os
stakeholders env
O sucesso da P&D pode ser caracterizado quando ela satisfaz as
expectativas da administração e contribui para a gestão estratégica da organização.
Neste contexto, ela é exitosa se conduz a novos produtos e processos, ou se
123
fornece elementos para decidir quanto à continuidade de investimentos. Em outras
palavras, a P&D é útil para decidir com relação ao desenvolvimento de novos
produtos e processos, bem como, para reduzir perdas e investimentos. Alcançar
100% de sucesso em P&D é um ideal, mas não uma realidade. Por outro lado, é
possível ter pleno sucesso na obtenção de dados para apoiar decisões relativas à
continuidade de projetos ou para buscar alternativas de investimentos na P&D
(CLELAND; BURSIC, 1992, p. 127-128).
Para Foster (1986, p. 20), a inovação é como uma batalha no mercado que,
de um lado envolve os inovadores ou atacantes, que tentam ganhar dinheiro com a
mudança na ordem das coisas; e, de outro lado, os defensores, que procuram
proteger seu fluxo de caixa existente. Assim, o autor considerou que para
compreender o papel da P&D no sucesso corporativo é necessário discutir os lucros
advindos de tal atividade, considerando que a mesma tem um ciclo no qual,
inicialmente a tecnologia avança vagarosamente, então acelera, e depois,
invariavelmente declina. Ainda segundo Foster (1986, p. 167), o progresso
tecnológico não é o objetivo final, pois o que deve ser buscado é a maximização do
retorno de recursos limitados, no caso investimentos em P&D, através da melhoria
em produtos e processos que possibilitem capturar mercados.
4.1.6 Inovação regulada
As experiências internacionais indicam que as atividades de P&D públicas e
a capacidade de lidar com os desafios energéticos, sociais e ambientais [que são de
P&D relacionadas ao interesse público é, especialmente acentuado pela tendência
de redução no investimento público e privado destinado à P&D; bem como, pela
(GOMES, 2003, p. 112).
Internacionalmente, os investimentos individuais das concessionárias de
energia têm diminuído desde o início da década de noventa, mas não chegaram a
124
desaparecer. Uma das possíveis razões desse comportamento foi o processo de
desregulamentação do setor elétrico, que provocou a redução dos investimentos
globais em P&D. O aumento das pressões competitivas nesse novo contexto passou
a demandar, por exemplo, medidas para corte de custos e redução de investimentos
que serão tornados públicos em lugar de serem transformados em ativos
empresariais. As reformas no setor elétrico concretizadas em diversas partes do
mundo, também criaram, especialmente para os países em desenvolvimento, novos
desafios para o setor público relacionado, tais como, compreender a operação do
mercado, identificar oportunidades de financiamento e desenvolver mecanismos
para alocação de recursos públicos e privados (JANNUZZI, 2005, p. 1753).
Em uma avaliação mais detalhada do declínio nos investimentos em P&D no
setor elétrico, nas últimas duas décadas, contemplando as dez maiores empresas
de energia elétrica do mundo, tornou-se possível observar que esse declínio foi
acentuado nas empresas privadas ou recentemente privatizadas, enquanto naquelas
sob controle público, os esforços em P&D não foram reduzidos. Na citada avaliação,
ra
incompatível como objetivo de aumentar
foram indentificados indícios de que o investimento em P&D contribuisse com a
lucratividade. (STERLACCHINI, 2010, p. 1, 21).
Em vários países, novos mecanismos têm sido implantados para captar
recursos diretamente dos consumidores e financiar programas de P&D e eficiência
energética. Nos EUA, por exemplo, muitos estados instituíram os fundos de
benefício público (public benefits funds), para manter investimentos prioritários em
eficiência energética, energia renovável, P&D e em alguns serviços de baixa
lucratividade. Em geral, esses fundos não criam novos encargos para os
consumidores e são competitivamente neutros, ou seja, visam proporcionar
benefícios a todos (JANNUZZI, 2005, p. 1754).
Por outro lado, em razão da tendência de redução dos investimentos em P&D
no setor elétrico, tem sido reconhecida a necessidade de se adotar políticas mais
radicais, no sentido de obrigar as concessionárias privadas do setor a investir em
P&D ou ainda, de aumentar a presença de empresas com controle público ou
configuradas na forma de parcerias público-privadas. Caso contrário, não será
possível mobilizar recursos para P&D em volume suficiente para garantir fontes de
energia seguras, baratas e limpas que a sociedade necessita com urgência
125
(STERLACCHINI, 2010, p. 21). Também cabe destacar a experiência de alguns
países como a França, Suécia e Canadá, em que grandes empresas elétricas sob
controle governamental, conseguem mobilizar volumes suficientes de recursos para
os investimentos em P&D, sem gerar ineficiências e tampouco sem impedir a
abertura dos mercados de eletricidade para as diversas formas de competição
(STERLACCHINI, 2010, p. 23).
Sob um outro enfoque, é usual observar demandas crescentes para a
promoção do aumento de recursos destinados à P&D. Entretanto, é necessário
considerar a natureza da inovação envolvida, pois o simples aumento de recursos
não garantirá que os resultados desejados sejam obtidos. É importante dispensar
uma maior atenção à governança da inovação, sendo necessário nesse sentido, ter
como objetivos o desenvolvimento de canais para suportar a difusão do
conhecimento e o processo de aprendizado; bem como, uma maior coordenação
das relações entre os atores públicos e privados envolvidos. De qualquer forma, a
consecução dos objetivos estabelecidos ficará comprometida se não for
compreendida a dinâmica das instituições que estabelecem as leis, regras e
procedimentos e, em especial, como a legitimidade de tais ações é concretizada.
Dentro dessa visão, é possível considerar que a governança da inovação não é um
problema técnico, mas sim regulatório (BELLANTUONO, 2009, p.34).
Também cabe destacar, que as mudanças estruturais nas organizações
concorrência, mas em razão de outros processos que tornam as organizações mais
semelhantes sem necessariamente fazê-las mais ef
como fonte de legitimidade, mas não necessariamente de melhoria do desempenho
(CALDAS; FACHIN, 2005, p. 49-50). Esse entendimento, no caso específico do
setor elétrico, remete a uma questão, conforme recomendado por Lopes e Barbosa
(2008, p. 20-
No caso do setor elétrico brasileiro, existe a atuação conjunta de instituições
públicas e privadas para o desenvolvimento de inovações, que apesar das
não tem
como conhecer todas as atividades empresariais, a não ser que as reproduza
126
objetivos sociais, distintos dos objetivos da própria firma, sem ter controle e
conhecimento p 47).
Apesar dessa assimetria, a regulação influencia significativamente a
estratégia tecnológica da empresa regulada, na medida em que cria barreiras
à entrada de novas empresas, promove um ambiente protegido de pressões
competitivas e, assim, é removido um poderoso estímulo à inovação tecnológica.
inovação no que toca ao tamanho das firmas e possibilidades de cooperação
inter-firmas. O problema está em que, sem perspectivas concretas de perder suas
questão diz respeito à possibilidade das inovações alterarem de forma significativa
as condições competitivas, especialmente, através da criação, ampliação ou até
mesmo, eliminação dos monopólios naturais (ARAÚJO, 2001, p. 49-50).
A P&D no setor elétrico compreende um conjunto diversificado e complexo de
atividades, muitas das quais, demandam tempo, são caras e tem retorno incerto.
Tais atividades podem contemplar desde o desenvolvimento de novas tecnologias,
até a adaptação e introdução de inovações incrementais. A P&D, entre outras ações,
envolve a criação e manutenção de instalações e infraestrutura para pesquisa; o
estabelecimento de normas, certificação e ações correlatas; a qualificação de
pessoal em todos os níveis; e a capacidade para criar competências em áreas
relevantes para melhorar e desenvolver os atuais e futuros serviços e tecnologias
em energia. Por sua vez, o uso sócio-econômico dos resultados dessas atividades,
que está entre os principais objetivos da P&D, demanda esforços coordenados de
atores públicos e privados (JANNUZZI, 2003, p. 7).
Um outro aspecto da questão, especialmente no caso brasileiro, é que as
reformas no setor introduziram novos atores, tais como, as concessionárias
privadas, as agências reguladoras e as instituições de ensino e pesquisa, que
possuem diferentes objetivos e motivações para promover ações de P&D
(JANNUZZI, 2003, p. 9). Além disso, conforme Santos e Romeiro (2008, p. 481), tem
faltado preocupação com a priorização da capacidade inovativa das empresas
autores consideram que a atividade de
P&D, em lugar de estar demasiadamente concentrada nas universidades e
127
laboratórios de pesquisa, deveria estar mais presente no setor empresarial, que
.
Por outro lado, é muito difícil categorizar e especificar os benefícios públicos
gerados pela P&D, seja de forma geral ou mais específica. No caso da P&D no setor
de energia, esses benefícios podem compreender: aspectos técnicos e econômicos,
como aumento da competitividade industrial e da eficiência energética; ações
relacionadas às mudanças climáticas, qualidade do ar e biodiversidade, entre outras
temáticas ambientais; bem como, ampliação do acesso à eletricidade, geração de
empregos, redução do custo da energia para os consumidores e diversos benefícios
sociais. Com a P&D no setor elétrico, destacam-se ainda, os benefícios públicos de
cunho estratégico como, por exemplo: maior confiabilidade do sistema; redução de
perdas; melhoria da qualidade da energia; promoção do desenvolvimento regional;
aumento da capacidade de desenvolver competências tecnológicas próprias;
diversificação da matriz energética; maior segurança no fornecimento de energia e
criação de uma base industrial associada às tecnologias energéticas (JANNUZZI,
2003, p. 9-10).
O conceito de P&D de interesse público pode abranger as atividades de
em
economicamente, essas atividades são excluídas dos interesses empresariais
(GOMES; JANNUZZI, 2004). Em 2003, uma pesquisa sobre o setor elétrico
brasileiro constatou que existia pouco interesse das concessionárias no
desenvolvimento de atividades de P&D
os esforços em atividades de P&D de interesse público, caso contrário as empresas
As reformas institucionais no setor
energético brasileiro não implicam, necessariamente, em diminuição das atividades
de P&D de interesse público nesse setor, mas a experiência tem mostrado que
essas atividades podem ser ameaçadas caso não existam políticas públicas
explícitas e regulamentações implementadas a seu favor (JANNUZZI, 2003, p. 42).
No caso específico do setor elétrico brasileiro foram encontrados indícios de
relevante
128
[concessionárias do setor elétrico], apesar do volume significativo de investimentos
em P&D e das intenções subjacentes às diretrizes estratégicas e políticas para
.,
PROCOPIUCK, 2008, p. 254). Além disso, considera-se que a obtenção de
resultados objetivos com as atividades de P&D demanda o aprimoramento da
regulação desse setor e maior comprometimento com a utilização mais adequada
dos recursos investidos (MARTINI; MAFFEI, 2005, p. 7).
Um ponto de partida nesse sentido é compreender os diferentes objetivos
envolvidos na P&D do setor elétrico brasileiro. Uma tentativa é a classificação dessa
atividade em três categorias, quais sejam: P&D de interesse público, P&D de
definida como aquela que abrange atividades de P&D amplamente alinhadas com o
desenvolvimento público e que apresentam elevadas repercussões sociais e baixos
retornos de interesse privado, e, por isso, demandam financiamento público para
serem implementadas (JANNUZZI, 2003, p. 12). Esse interesse público deve ser
socialmente construído e estar alinhado com os objetivos de desenvolvimento
nacional (JANNUZZI, 2003, p. 43).
Entretanto, cabe ressaltar que num estudo sobre o papel do setor público nas
atividades de ciência e tecnologia, contemplando os casos da Embrapa e da
de ser definido a priori, dado que diferentes segmentos possuem diferentes lógicas e
2007, p. 98).
comercial, compreende atividades que as empresas reconhecem como estratégicas
para suas operações, e cuja finalidade é obter um melhor posicionamento no
mercado competitivo. Esse tipo de P&D objetiva, especialmente, a obtenção de
inovações para reduzir custos e, privilegia as ações de baixo risco e de rápido
retorno comercial, bem como, os projetos orientados para a diferenciação de
produtos e serviços que contribuam para uma maior participação no mercado. Outra
característica é o interesse em patentes e outros direitos de propriedade intelectual
para obtenção de benefícios comerciais. Esse tipo de P&D também pode apresentar
benefícios de interesse público, como o eventual repasse às tarifas das reduções de
129
custo obtidas. Entretanto, a prioridade é sempre maximizar o retorno econômico
para a empresa (JANNUZZI, 2003, p. 13).
Por sua vez, a P&D do tipo
desenvolvidas pelas empresas do setor energético que seguem as diretrizes fixadas
pelo órgão regulador. Apesar de poder gerar benefícios públicos, distingue-se da
P&D de interesse público, porque muitas vezes contempla o investimento obrigatório
das concessionárias, o qual pode, ou não, ser incluído na estrutura tarifária dos
serviços prestados. Esse tipo de P&D, portanto, pode propiciar benefícios públicos e
também benefícios privados, de interesse das concessionárias, mas não
necessariamente motivados pelas forças competitivas (JANNUZZI, 2003, p. 37).
4.2 VISÃO NEO-INSTITUCIONAL
4.2.1 Contextualização
No âmbito do setor elétrico brasileiro, diversos estudos têm sido realizados
com o suporte da perspectiva neo-institucionalista. Entre eles, podem ser
destacados os seguintes:
Condições para a integração elétrica na América do Sul e sua
dependência de investimentos, instituições e marcos regulatórios (NEVES,
2007).
Controle social na regulamentação do setor elétrico (FARIAS, 2004).
Dinâmica e oportunidades de negociação na tomada de decisão do setor
elétrico (FRANÇA, 2007).
Institucionalização da gestão do conhecimento e o poder de competição
das empresas do setor elétrico-eletrônico (KUNIYOSHI, 2008).
Institucionalização do modelo regulatório do setor elétrico, através de um
estudo de caso contemplando as distribuidoras de energia elétrica
(ANTUNES, 2006).
130
Respostas estratégicas de uma empresa do setor elétrico em relação a
pressões institucionais e responsabilidade social corporativa (MORAIS,
2010).
Segundo a abordagem institucional, as ações sociais e o Estado são
moldados pelos fenômenos constitutivos do ambiente institucional, contemplando
aspectos sociais, políticos, econômicos, culturais e outros (VIEIRA; CARVALHO,
2003, p. 13). Sua origem reside na sociologia organizacional, tendo por objetivo
organizações e sua relação com o ambiente, preconizando que, de acordo com esse
ambiente, as orga
Com a teoria institucional, a realidade organizacional passou a ser
considerada como objeto de construção social, segundo regras elaboradas na
sociedade que podem ser absorvidas e suportadas pela opinião pública ou, ainda,
impostas por força da lei. Além disso, a interação da organização com o ambiente no
qual está inserida, passou a ser reconhecida como de importância para a sua
sobrevivência e equilíbrio (ANTUNES, 2006, p. 32-33). Entre os desdobramentos
dessa teoria encontra-se a perspectiva neo-institucionalista que, inclusive, é
considerada como uma continuidade da mesma (SELZNICK, 1996, p. 275-276).
Por outro lado, na análise de organizações, o neo-institucionalismo apresenta
algumas divergências relevantes em relação à teoria institucional. Entre essas,
destacam-se o conflito de interesses na concepção das ações organizacionais e o
ambiente considerado como parte constitutiva da organização (FONSECA,
2003, p. 49). Além disso, ao contrário do institucionalismo tradicional, o neo-
institucionalismo não tem a pretensão de explicar tudo via instituições, pois existem
situações em que os processos políticos são pouco consolidados. Considerando os
limites explicativos dos fatores institucionais, é também necessário atentar para o
-
2000, p. 233-234).
Nas últimas duas décadas, o neo-institucionalismo vem conquistando maior
destaque no campo dos estudos organizacionais, sendo apontado como uma
alternativa à visão racionalista, na medida em que dá atenção às redes relacionais e
aos sistemas culturais que modelam e dão sustentação às ações e estruturas
organizacionais (FONSECA, 2003, p. 47). Para Frey (2000, p. 231-233), nessa
131
perspectiva, as instituições assumem um significado estratégico e uma função
relacional, regulando relações, gratificações e distribuição de posições sociais.
O neo-institucionalismo também ampliou o conceito de instituição, abrigando
um maior número de situações, e reafirmando as instituições como importantes
objetos de estudos políticos e sociais (RAMALHO, 2007, p. 7). Com ele vieram os
conceitos de campo organizacional, legitimidade, isomorfismo e pressões
institucionais. Segundo essa perspectiva,
determinada pela extensão do alinhamento organizacional com o ambiente
Também considerado como a ênfase sociológica da abordagem institucional,
o neo-institucionalismo deu uma importante contribuição para os estudos
das atenções da relação entre as organizações e o ambiente, tornando-as assim
p. 21). Sua difusão no Brasil está associada ao interesse que despertou para
explicar as razões da convergência em torno de práticas comuns nas organizações,
; CRUBELLATE, 2009, p. 108).
Por sua vez, Clegg et al. (2004, p. 29) consideram que o neo-institucionalismo
deu importância à legitimidade na vida organizacional, bem como, às práticas
Meyer e Rowan (1991, p. 41-62), entre diversas proposições relacionadas às
organizações institucionalizadas, sugerem que a incorporação de elementos
socialmente legitimados nas suas estruturas formais, podem maximizar a sua
legitimidade e aumentar a sua capacidade de sobrevivência. Fonseca (2003, p. 52),
complementa tal entendimento, afirmando que, para os adeptos da abordagem
usive, ocorre
eficiência e da demanda da
132
4.2.2 Legitimidade
A abordagem neo-institucionalista, segundo Scott (2008, p. 47-71), está
sustentada em três pilares que promovem a legitimação organizacional: o regulador,
o normativo e o cognitivo. O regulador possui um caráter coercitivo, com uma lógica
instrumentalista, traduzida em regras, leis e sanções, e cuja legitimação se dá por
legitimação organizacional é a conformidade às exigências legai
contempla a adequação e aceitação de normas e valores que com o passar do
tempo, subordinam e determinam os comportamentos dos indivíduos, implicando,
portanto, em uma legitimação moralmente governada. No cognitivo, as interações
sociais no ambiente possibilitam a criação e consolidação compartilhada de regras e
valores. Dessa forma, a base da legitimação é culturalmente sustentada. Para
Fonseca (2003, p. 51), com base nos pressupostos desse pilar, a sobrevivência das
organizações é ju
técnicas e financeiras, mas também pela conformação a fatores normativos de apoio
A legitimidade possibilita a manutenção ou mudança de práticas
organizacionais e das próprias organizações e sua busca, segundo Meyer e Silva Jr.
(2009) é utilizada pelas empresas como instrumento para fortalecer a presença no
mercado . Para obter legitimidade, ainda de acordo com os referidos autores, as
organizações empresariais adotam diversos tipos de estratégias, entre as quais
estão a assinatura de acordos e códigos de conduta, como demonstração do
respeito a padrões socialmente aceitos, até o apoio e promoção de ações
educacionais, culturais e outras causas reconhecidas como relevantes pela
sociedade. Outra estratégia utilizada é o isomorfismo, quando se reproduzem
práticas organizacionais e outros tipos de ações usuais e típicas em um determinado
mercado. A legitimação também pode ser obtida mediante os discursos, através dos
quais se busca influenciar os contextos em que estão inseridos e, especialmente, o
ambiente de negócios. Finalmente, Meyer e Silva Jr. (2009), lembram que a
legitimidade implica em uma dinâmica social no tempo e no espaço, demandando o
reexame constante das estratégias utilizadas para a sua obtenção.
133
4.2.3 Isomorfismo
O isomorfismo pode ser entendido como a busca da homogeneidade no
tocante a estruturas, processos e ações organizacionais (KUNIYOSHI, 2008, p. 50).
Ou ainda, como o conjunto de p
CARVALHO, 2003, p. 14). Sua adoção causa impactos positivos no desempenho
simbólico da organização, contribuindo para a sua aceitação, reputação e
legitimidade junto a diversos segmentos da sociedade (MORAIS, 2010, p. 55).
Também facilita as transações interorganizacionais em razão da similaridade, e
favorece o funcionamento interno da organização, em virtude do uso de regras
socialmente aceitas. Por outro lado, a interferência na estratégia organizacional dos
A competição entre as organizações nas situações de incerteza ambiental,
segundo Fonseca (2003, p. 52), compreende a disputa por recursos e
consumidores, bem como, a busca por legitimidade institucional. Esse confronto
torna
diminuindo a variedade e a instabilidade dos arranjos organizacionais em vigor em
esse contexto, de acordo com Fonseca (2003, p. 52-53),
emergem o isomorfismo competitivo,
das relações de troca entre os integrantes de um dado espaço organizacional, e o
Segundo DiMaggio e Powell (1991, p. 67-74), o isomorfismo institucional pode
se manifestar nas formas coercitiva, mimética ou normativa, de modo simultâneo ou
exclusivo. Para os autores, o isomorfismo coercitivo implica em adoção pelas
organizações, de estratégias similares em decorrência das pressões oriundas de
outras organizações das quais sejam dependentes, ou ainda, das expectativas
culturais da sociedade na qual elas operam, sendo que em alguns casos, as
mudanças organizacionais são resultado direto das exigências governamentais.
Fonseca (2003, p. 53) considera que esse comportamento das organizações ocorre
co e de pressões formais e
,
134
procedimentos padronizados pode dar-se, também, devido às relações de
autorid isomorfismo mimético é definido por
DiMaggio e Powell (1991, p. 67-74), como aquele que compreende a imitação de
estratégias e arranjos organizacionais praticados por outras organizações, com a
expectativa de reprodução do sucesso ou da legitimidade que elas parecem ter.
Dessa forma, tais organizações têm a expectativa de reduzir a incerteza em suas
operações, atenuar a ambiguidade de seus objetivos, ou superar as limitações de
compreensão de suas tecnologias organizacionais. Finalmente, os referidos autores
(DIMAGGIO; POWELL, 1991, p. 67-74) conceituam o isomorfismo normativo como
aquele que surge da profissionalização das organizações, a qual, especialmente
através de dirigentes e profissionais qualificados, contempla o compartilhamento e
disseminação de determinadas normas e procedimentos específicos de trabalho. Tal
profissionalização, com bases no processo educacional e redes profissionais,
conforme entendido por Fonseca (2003, p. 54),
comuns de interpretação e ação em face dos problemas e exigências internos,
O neo-
mudança organizacional isomórfica, são abertas novas possibilidades de abordagem
do problema proposto. São exemplos os usos do isomorfismo mimético, para
entender a difusão de modismos de gestão; do isomorfismo coercitivo, para
compreender a institucionalização e aplicação de elementos, como os programas de
qualidade; e ainda, a aplicação do isomorfismo normativo, para avaliar a
institucionalização de objetos diversos, como os códigos de ética (CALDAS;
FACHIN, 2005, p. 48 e 50).
4.3 CONCEITOS DE ESTRATÉGIA
O principal consenso dos estudiosos do campo da estratégia é
há consenso na sua definição. Não tanto pela dificuldade em encontrar definições
para o termo, mas principalmente pela multiplicidade de aspectos envolvidos em sua
.
135
, considera que a
atégia implica que todos os indivíduos de uma organização possam
deliberadamente o desenvolvimento e ajuste da
,
direção e o escopo de uma organização no longo prazo, que obtém vantagem em
um ambiente em mudança através de sua configuração de recursos e competências
com o objetivo de atender às expectativas dos stakeholders
As estratégias, presentes nos diferentes níveis organizacionais, podem
indica, são aquelas diretrizes fundamentais que condicionam todas as demais.
Abaixo delas vêm as estratégias funcionais, relativas a diferentes aspectos da ação
seja, á relacionada ao objetivo geral e escopo de uma
, ; e a
funcional,
t al., 2007).
Dentre as várias taxionomias dos desenvolvimentos na área da estratégia,
como um processo reativo. Nessa perspectiva, cresce a relevância do ambiente que,
considerado como o conjunto de forças fora da organização, é o agente central
responsável pela motivação das suas ações e, em particular, pela geração de sua
considerar a organização passiva, algo que passa seu tempo reagindo a um
estratégia no entorno de três forças centrais, que são o ambiente, a liderança e a
organização (MINTZBERG et al., 2000, p. 210).
Na perspectiva ambiental, a organização deve responder às forças do
ambiente, sob o risco de comprometer a sua existência. Dessa forma, a liderança é
um elemento passivo, responsável pela leitura do ambiente e pela condução da
adaptação da organização ao mesmo. Ainda segundo essa perspectiva, as
136
permanecem até que os recursos se tornem escassos ou as condições
demasiadamente hostis. al., 2000, p. 211).
Essa perspectiva estratégica é particularmente favorável aos estudos do setor
elétrico, especialmente em razão de sua sintonia com a teoria, bem como, pela
aderência aos pressupostos e requisitos da operação empresarial dentro de um
ambiente regulado e de interesse público.
Segundo Andrews (1996, p. 33-43), a estratégia pode ser avaliada com base
em algumas questões. Nesse sentido, o autor sugere responder se a estratégia: está
identificada ou explicitada através de palavras ou práticas; explora completamente
as oportunidades; tem consistência com recursos e competência corporativos;
apresenta risco compatível com referências econômicas e pessoais; é apropriada
aos valores pessoais e aspirações dos principais gestores, bem como, ao nível
desejado de contribuição para a sociedade; constitui estímulo ao esforço
organizacional e comprometimento; e, finalmente, conta com indicações prévias de
resposta por parte do mercado. Para o referido pesquisador, é necessário
reexaminar a estratégia quando as respostas não forem satisfatórias, ressaltando
que,
Por sua vez, os resultados genéricos esperados da estratégia podem ser
situados em um eixo contínuo, delimitado por duas posições distintas, uma pontual,
contemplando a maximização do lucro, e outra plural, admitindo diversas
possibilidades de resultado além do lucro (WHITTINGTON, 2002, p. 2-3). No tocante
aos interesses diversos presentes nos serviços de interesse público, é possível
considerar que em um desses extremos estaria o interesse privado, ora retratado
pelas motivações de cunho lucrativo das empresas, e noutro, estaria o interesse
público, ora caracterizado pelo atendimento aos atributos de serviço adequado.
Deve ser considerado que a estratégia bem sucedida, não deve tratar da
criação de vantagens competitivas sobre a concorrência. Isso não significa
desconsiderar a competição, mas
necessidades dos clientes. A estratégia toma a forma na determinação em criar
valor para os clientes. Também toma forma na determinação em evitar a
competição, sempre que -68). Além disso, a
137
resultados passados, ou seja, as medidas financeiras são indicadores de ocorrência
de criação de valor e não estão focadas na capaci
(BULGACOV et al., 2007, p. 69).
Com base nesses entendimentos, a criação de valor para os clientes deve ser
considerada como o efeito essencial da estratégia, nos casos em que a prestação
de serviço público se dá na condição de monopólio natural, ou seja, quando a
concorrência não é possível e, portanto, não há adversários e tampouco disputas no
mercado de atuação. Nesse contexto, inclusive, os próprios requisitos de
competitividade podem ser questionados. Segundo Castor e Zugman (2008, p. 54),
a capacidade de competir, ou seja, a competitividade, resulta de diversos fatores
adequados ao tipo de disputa que se está travando, conhecimento dos adversários, conhecimento do terreno e conhecimento
das circunstâncias
Por outro lado, o desempenho estratégico demanda medição e controle dos
objetivos da estratégia, contemplando os seus resultados, ou ainda, aqueles
oriundos das ações derivadas da estratégia (SELLITTO; WALTER, 2005). A
obtenção de r
adequada e especial atenção aos processos que fazem a organização funcionar.
Eles compreendem o controle das operações e influenciam a tradução da estratégia
, impõem
desafios adicionais na avaliação do desempenho estratégico. (JOHNSON et al.,
2002). Segundo a revisão de Sellitto et al. (2006) a conexão entre a estratégia e a
desempenho tem duas funções: medir o sucesso de uma estratégia e verificar a
O controle estratégico, propriamente dito, pode ser realizado sobre as
entradas ou sobre os resultados. As primeiras dizem respeito aos recursos
consumidos na estratégia, tais como os financeiros e o comprometimento humano.
O controle sobre os resultados visa assegurar a obtenção de metas, competitividade
e outros efeitos satisfatórios. Os controles também podem ser diretos, quanto
envolvem supervisão ou monitoramento próximos; ou indiretos, quando são mais
138
combinação d
2005).
própria sobrevivência da empre
influência do resultado organizacional em relação aos stakeholders e à sociedade
,
ormalmente utilizados indicadores como
rentabilidade, aumento de vendas, e outros além dos financeiros, como, por
exemplo, recursos humanos, tecnologia, suprimentos, produção e marketing. Já na
área social, entre as empresas,
, os indicadores podem
compreender a geração de empregos, benefícios trabalhistas, saúde, segurança,
direitos humanos, educação, ética, respeito às leis e vários outros. Já na área
ambiental, o resultado pode ser avaliado com base em indicadores relacionados aos
materiais utilizados na produção, geração de lixo e poluentes, uso de energia e
água, biodiversidade, acidentes ambientais e correlatos (BULGACOV et al., 2007,
p. 70-76). Ainda na área ambiental, também podem ser considerados
especificamente para
prevenção (formalização, crescimento, prevenção e cadeia de prevenção) e
Finalmente, cabe lembrar que a busca da sustentabilidade no contexto
empresarial começou a transformar o ambiente competitivo na medida em que está
forçando as empresas a mudar suas visões sobre produtos, processos, tecnologias
e modelos de negócios. Na perspectiva da sustentabilidade os pioneiros em sua
adoção desenvolvem competências que se traduzem em vantagem competitiva,
especialmente, por proporcionarem um melhor posicionamento de mercado. Dessa
forma, os concorrentes são pressionados a também buscar tais competências
(NIDUMOLU; PRAHALAD; RANGASWAMI, 2009, p. 3-4).
139
4.4 PARTICIPAÇÃO SOCIAL
determinada época, destacam-se como verdadeiros mitos a serviço desse processo
-modernidade, a eficiência, em especial,
Porém, a compatibilização entre eficiência e legitimidade demanda uma maior
participação soc
âmbito da legislação ordinária brasileira, é possível encontrar vários casos de
de garantir a participação popular na
públicas, contratos de gestão e conselhos consultivos (BACELLAR FILHO, 2007,
p. 23). Ou seja, a participação social tem tomado forma, especialmente através das
previsões legais de controle social.
Além disso, o controle social tem se caracterizado como o sistema mais
efetivo e eficaz de fiscalização, em razão de ser exercido diretamente pela
ixos, geralmente suportados pela
própria sociedade, notadamente no trabalho investigatório que vem sendo procedido
No serviço público, o controle
na fiscalização das
opções políticas, representando o desenvolvimento não somente de uma
democracia representativa, mas sim, e principalmente, de uma democracia
87).
No caso brasileiro, a busca da compatibilidade entre o:
chamado Estado Eficiente e o Estado Social é uma decorrência necessária do constitucionalismo social imposto pela Constituição Federal de 1988. Ademais, independentemente de qualquer exigência político-normativa, o princípio da eficiência é inerente à própria estrutura do Estado Interventor,
140
devido à sua perene necessidade de legitimação (GABARDO, 2003, p. 195).
Em várias de suas disposições, a Constituição Federal prevê a participação
social na Administração Pública direta e indireta. O seu parágrafo 3º do artigo 37, em
especial, estabelece que cabe à lei disciplinar as formas dessa participação,
regulando aspectos relacionados a reclamações sobre os serviços públicos, sendo
iação
Além disso, o parágrafo 6º do
mesmo artigo constitucional, estabelece que tanto as pessoas jurídicas de direito
público, como as de direito privado prestadoras de serviços públicos, devem
prerrogativas reconhecidas aos usuários do serviço público no Brasil, estendem-se,
em termos de obrigação, às a
p. 22-23).
O direito de participar da administração do serviço público, tanto o prestado
diretamente pelo Estado, como o indiretamente pelo particular, está abrigado na
Constituição Federal e nas disposições legais dela decorrentes. Porém, em respeito
ao principio constitucional da livre iniciativa, o ordenamento jurídico não pode e não
dão-
(MOTTA, 2009, p. 162, 220).
-
interpretação do direito de reclamação, previsto no inciso I, parágrafo 3º do artigo 37,
da Constituição Federal. No caso do cidadão-usuário, esse direito propicia a sua
No caso do consumidor, o exercício desse direito
agente ativo da administração da atividade econômica privada. Não atua na
materialização do bem ou serviço que consome. Ao contrário, o cidadão-usuário é
141
Existem tentativas para implantar políticas públicas participativas,
aco
quais têm sido promovidas por organismos multilaterais, dispositivos constitucionais
e, ainda, por compromissos de alguns partidos políticos (SOUZA, 2006, p. 35).
De forma mais es
condução da política regulatória capitaneada pelas agências, pressupõe uma cultura
pública, pressuposto para o enfrentamento do autoritarismo social [...] e da
apropriação do público pelo priva
decisões viáveis por parte das agências reg
LEHFELD, 2008, p. 103-104).
Também contribui para esse novo processo de participação social, o
incapacidade de apreender a complexidade do meio social, de forma a poder
desenvolver uma atuação pública apta a alcançar determinados resultados tidos
obviamente coloca-se como questão preliminar à determinação das políticas
públicas que visam alcançá-lo, não é inequívoco e generalizável a toda e qualquer
(FARACO, 2002, p. 89).
Por outro lado, especificamente no âmbito específico do setor elétrico, Silva e
Yamaguchi (2009, p. 94), observaram deficiências no processo de participação
social na formulação de políticas públicas desse setor. Analisando as audiências e
consultas públicas da ANEEL, os autores verificaram que os participantes da
Silva e Yamaguchi (2009, p. 95-100), os
resultados obtidos indicam que os problemas observados estão relacionados à
forma de condução de todas as etapas do processo de consulta, bem como, à
deficiente normatização dos procedimentos adotados, que não resolve, por exemplo,
questões relacionadas a prazos de análise, ausência de debates e de
esclarecimentos relacionados às contribuições encaminhadas.
142
desempenham um papel de legitimação, favorecem a racionalização e são também
uma fonte geradora dos
tornou-se expediente corriqueiro nas leis de regulação ec
p. 254).
uação de burocracias estatais
independentes está, por um lado, vinculada às garantias jurídicas de participação
pública existentes e à institucionalização de tais garantias, na forma de mecanismos
participação efetiva de representantes dos interesses de todos os setores da
apresenta potencial democrático, especialmente, pela institucionalização e garantia
jurídica dada à participação pública. Entretanto, essa participação não pode, apenas
nos atos normativos das Agências, uma vez, que a participação pública não é
efetiva, pre
(MATTOS, 2002, p. 229).
informação, petição, processo legal, ação popular e civil pública. De outro lado,
-
(LEHFELD; LEHFELD, 2008, p. 103). A operacionalização da regulação estatal via
agências, apresenta significativos problemas de adaptação das mesmas à estrutura
organizacional administrativa e ao sistema jurídico vigente. Uma das dificuldades,
reside na resistência encontrada pelas mesmas junto ao sistema administrativo
brasileiro, caracterizado pela forte centralização e hierarquia. Por outro lado, a
legitimação desse modelo regulatório demanda a viabilização da participação efetiva
relaciona-se diretamente com o fortalecimento e ampliação dos instrumentos
p. 103).
Neste sentido, cabe lembrar que o debate sobre políticas públicas tem sido
influenciado pelo neo-institucionalismo, que defende a importância das instituições e
143
regras para a decisão, formulação e implementação das referidas políticas. Também
há de se destacar, a teoria da escolha racional, que questiona dois mitos. Um,
a
públicas, em uma democracia, compreendem ação e distribuição de bens coletivos,
bem como, demand
37-40).
decisão que seja do interesse comum, tanto mais quando contrastados interesses
normativa do Poder Executivo é questão que está longe de ser resolvida. Nenhuma
das teorias examinadas é capaz de fornecer critérios suficientes para aferir-se, em
-238).
Também há de se considerar que a influência política dos pequenos grupos
tende a ser maior que a dos gr
participantes dos primeiros têm maiores incentivos para atuarem [...]. Esse é o
motivo pelo qual grupos de consumidores, de pagadores de impostos e
desempregados dificilmente se organizam, qual seja, os benefí
com a ação coletiva na suposição de que outros o farão, o que seria suficiente para
estratégia racional, os esforços necessários não serão concretizados e, como
conseqüência, os resultados esperados não serão alcançados (BUENO, 2007,
p. 111-112).
Por sua vez, é mais fácil constituir grupos de grandes empresas de um
determinado setor, no sentido de obterem para si, vantagens como a transferência
de recursos da sociedade. Entretanto, mesmo estes pequenos grupos, não ocorrem
de forma espontânea, demandando tempo e condições favoráveis, tais como a
existência de associações e similares para a ação coletiva; e ainda, a existência de
fatores externos, como revoluções políticas ou mudanças drásticas na economia.
Nesses casos, a atuação tende a ser semelhante à dos indivíduos. Em geral, haverá
redução da eficiência com que a economia opera, e a vida política se tornará mais
144
pois organizações que incluem maior número de pessoas tendem a ser mais
-113).
4.5 RESULTADO EMPRESARIAL
O estudo da função das empresas, em geral, contempla a abordagem
econômica e a social. A primeira, a econômica, representa o ponto de vista clássico
e é suportada , segundo a qual, a missão da empresa é dar
lucro aos seus investidores (FARAH, 2005). De acordo com essa
empresas não devem assumir qualquer responsabilidade social além de dar tanto
lucro quanto possível aos proprietários da empresa [...]. Realizar outras atividades
de responsabilidade social é visto como perturbação do relacionamento econômico
fundamental 280).
Por sua vez, a abordagem social que representa o ponto de vista
contemporâneo, considera que as empresas responsáveis por ajudar a manter
e melhorar o bem estar da sociedade como um todo
p. 279). Nesse sentido, Farah (2005) considera que:
a função social da empresa implica que os bens de produção devem ter uma destinação compatível com os interesses da coletividade. A obrigação do proprietário desses bens é pô-los em uso para realizar a produção e a distribuição de bens úteis à comunidade, gerando riquezas e empregos. Uma empresa geradora de riqueza e emprego cumpre sua função social.
Além disso, a atuação empresarial em responsabilidade social pode ser
exigida iam o envolvimento nela. E, em
Entretanto, as divergências surgem quando a responsabilidade social não for
obrigatória e quando não há lucro. Nessas duas situações, a abordagem clássica é
contra as ações em responsabilidade social e a contemporânea é a favor desde que,
os custos incorridos na mesma não sejam elevados (CERTO; PETER, 1993, p. 282,
284).
145
Para Farah (2005), outro aspecto a ser considerado é que a crescente
intervenção econômica e social por parte do Estado, implicou em
notável na concepção do direito de propriedade [...] que, de início, era individual, e
adquiriu um caráter social; e sendo, a princípio, um direito, tornou-se um direito-
Assim, passou-se a considerar que a propriedade tem uma função social,
devendo propiciar benefícios para toda a sociedade e não apenas ao seu
proprietário. No caso específico da empresa esse entendimento implica em
considerá-la como uma instituição destinada à satisfação das necessidades sociais,
cujo funcionamento é autorizado e baseado em regras definidas pela sociedade. No
novo contexto roduzir lucros [...]. A missão da
empresa é produzir e distribuir bens e serviços, bem como criar empregos (FARAH,
2005).
Por outro lado, Blecher e Gurovitz (2005) entendem que a empresa deve
emprego, justiça
social
Entretanto, esses autores também reconhecem a importância crescente do papel
social da empresa em relação ao econômico, especialmente, em razão do aumento
expressivo das demandas sociais no âmbito do setor empresarial. Ainda segundo,
Blecher e Gurovitz (2005), entre os riscos gerados por essa situação, está a
possibilidade de confundir os papéis do Estado e da empresa. Eles ainda destacam
que a os a um governo que não cumpre seu papel. E
também paga por meio de custo adicional das empresas que pode simplesmente
empresas estão subordinadas a normas e padrões de responsabilidade social sem,
entretanto, ter como medir o benefício das ações sociais em seu negócio.
Já Fischer (2004) considera que as duas posições relativas à missão da
empresa, a principio, são defensáveis. A autora considera que não há discussão de
que a missão empresarial primordial é dar lucro, pois sem o mesmo não há
emprego, renda ou desenvolvimento. Ela também entende que não há discussão
sobre o fato de que os impostos pagos pelas empresas deveriam financiar serviços
públicos de qualidade e, vai além, considerando
ser substituídos em suas responsabilidades pelas empresas o
Estado cumpr Com o passar do tempo,
ainda segundo Fischer (2004), a discussão sobre a missão das empresas perde
146
sentido pois, cada vez mais, o mercado exige além do retorno econômico, o
atendimento das demandas relacionadas à responsabilidade social e à
sustentabilidade.
Ainda no tocante às iniciativas empresariais no âmbito social, Certo e Peter
(1993, p. 285) consideram que:
Em primeiro lugar, as empresas são consideradas entidades socialmente responsáveis, na medida em que atuem voluntariamente para manter ou aumentar o bem-estar social, em vez de serem forçadas a fazê-lo. apenas por regulamentação governamental [...]. Segundo, raramente existem padrões precisos para determinar se uma empresa está agindo de forma responsável socialmente. Em alguns casos, as atividades de responsabilidade social de uma empresa podem ser comparadas com as de outras empresas da mesma indústria. Entretanto, nem sempre essa é uma boa medida.
A questão da função social da empresa é disciplinada no ordenamento
jurídico brasileiro, desde 1976:
com a promulgação da Lei no 6404 (Lei das Sociedades por Ações). Foi somente, entretanto, com a Constituição Federal de 1988 Constituição Cidadã que a função societal da propriedade é erigida à categoria de princípio constitucional, o que demonstra o interesse do legislador pátrio não preocupar-se tão somente com a disciplina das atividades empresariais, onde o principal objetivo é a maximização dos lucros. Preocupa-se também, com a busca para a construção de uma sociedade mais justa e igualitária através do princípios da propriedade e função social da empresa (MOI, 2008, p. 471).
Nesse sentido, Farah (2005) ressalta o artigo 170 da Constituição Federal,
que tratando da ordem econômica, fixa, entre outros, os princípios da função
econômica da propriedade, conforme inciso III; da defesa do consumidor, disposto
no inciso V; e da busca do pleno emprego, contemplado no inciso VIII. O autor
também destaca que a Lei 6.404, de 15 de dezembro de 1976, no seu artigo 115,
estabelece a prevalência do interesse da companhia em relação ao do acionista.
Segundo tal dispositivo, o acionista está proibido de obter para si ou terceiros,
vantagem indevida ou que possa trazer prejuízo para a companhia ou para outros
acionistas, sendo o seu voto considerado abusivo, quando prejudicar tais partes.
Farah (2005) ainda destaca que o artigo 116 da mesma lei, em seu parágrafo único,
estabelece que o acionista controlador deve utilizar seu poder para fazer a empresa
cumprir sua função social, além de seu dever e responsabilidades em relação aos
147
direitos e interesses dos que trabalham na empresa, bem como, com a comunidade
na qual ela atua.
compatibilizar a fruição individual do bem e evitar que seu proprietário dela se utilize
relaciona-se com a geração de riquezas, manutenção e criação de novos postos de serviços, o pagamento de tributos devidos, o desenvolvimento de novos processos tecnológicos, a movimentação e fortalecimento do mercado, além é claro da obtenção do lucro. Assim, hoje, o objetivo da empresa não se funda mais única e exclusivamente na obtenção do lucro, mas no exercício de sua função social (MOI, 2008, p. 394).
Cabe lembrar que nos discursos políticos e empresariais, existe uma
presença, cada vez maior, da suste
perseguir o desenvolvimento sustentável em termos econômicos, sociais e
ambientais; e empresas conscientes de suas obrigações éticas se comprometem a
adotar boas práticas em termos ambientais e sociais e a realizar investimentos
2008, p. 240-241).
No tocante à estratégia, a ênfase na dimensão social ou econômica da
atuação empresarial dependerá de muitos fatores, entre os quais, o tamanho da
empresa; competitividade da indústria; capacidade para investir em responsabilidade
social; e conseqüências de eventual omissão, nessa última atividade. Essas
responsabilidade social variam de acordo com seus objetivos, mas podem
compreender a área econômica funcional, qualidade de vida, investimento social e
solução de problemas (CERTO; PETER, 1993, p. 284, 302-305).
Por sua vez, a perspectiva da sustentabilidade no contexto empresarial
demanda que as e
econômicos, sociais e ambientais conhecidos como os três pilares do
podem ser considerados um mandato moral, uma exigência legal, ou até mesmo,
148
um custo próprio dos negócios, através do qual se é possível obter ou manter a
legitimidade e o direito de atuar empresarialmente. Por outro lado, muitas empresas
consideram que de ser conciliada ao
objetivo de aumentar o valor para o acionista mas, inclusive, entendem que a
criação de um mundo mais sustentável irá exigir que as empresas sacrifiquem os
(HART; MILSTEIN, 2004,
p. 66).
Para tais empresas, o esforço em prol da sustentabilidade comprometea
competitividade em razão de gerar custos adicionais sem trazer
benefíciosfinanceirosimediatos. Porém, frente à irreversibilidade da perspectiva da
sustentabilidade, são propostas soluções que contemplam desde uma
regulamentação mais rigorosa, partindo-se da premissa que as ações voluntárias
serão insuficientes; até ações de educação e organização dos consumidores, para
que esses forcem as empresas a se tornar sustentáveis. Como a legislação e
educação, apesar de necessárias, podem não resolver os desafios de forma rápida
ou completa, a sustentabilidade passa também a ser uma fonte de oportunidades
para as inovações organizacionais e tecnológicas (NIDUMOLU; PRAHALAD;
RANGASWAMI, 2009, p. 3-4).
Por outro lado, cabe destacar que muitas empresas podem estar
subestimando as oportunidades de negócios relacionadas à sustentabilidade. É
possível conciliar as contribuições para um mundo mais sustentável com a geração
de valor ao acionista, através da identificação e adoção de estratégias e práticas
(HART; MILSTEIN, 2004, p. 66). São exemplos nesse sentido, as ações
relacionadas ao aumento de lucros e à redução dos riscos via combate à poluição; à
aceleração da inovação e do reposicionamento por meio de tecnologias limpas; à
consolidação da trajetória de crescimento com a adoção de uma visão de
sustentabilidade; e à otimização da reputação e da legitimidade através do
gerenciamento de produto, no qual se integra a perspectiva dos stakeholders
externos, tais como, fornecedores, clientes, órgãos reguladores, comunidades locais
e outros (HART; MILSTEIN, 2004, p. 70-75).
Além disso, também é importante ressaltar o poder de influência exercido
pelas empresas junto à sociedade. Uma das fontes desse poder reside na legislação
emanada nos diversos níveis de governo, como é o caso dos negócios regulados.
149
nteresse especial no controle das
be
lembrar o papel das decisões éticas e a auto-regulamentação na condução dos
p. 285-297).
Um outro aspecto a ser considerado diz respeito à dissociação entre
propriedade e gestão nas empresas por ações que surgiu, especialmente, em razão
da fragmentação do capital acionário e da profissionalização na gestão dessas
empresas. Nesse tipo de situação pode ocorrer a assimetria informacional, ou seja,
a posse pelo gestor de informações desconhecidas pelos proprietários, podendo
ensejar o conflito de agência caso sejam distintos os interesses pessoais dos
gestores e os dos proprietários. Para superar esse tipo de conflito surgiu a
governança corporativa (BORTOLI, 2008, p. 177-178). Ela é entendida como um
sistema de direção, monitoramento e incentivo que contempla, especialmente, as
relações entre acionistas, conselho de administração, direção e órgãos de controle.
Por sua vez, as boas práticas de governança corporativa são traduzidas em
recomendações objetivas, alinhando interesses com a finalidade de preservar e
otimizar o valor da organização, facilitando seu acesso a recursos e contribuindo
para sua longevidade (IBGC, 2009, p. 19).
Tanto a governança corporativa como a responsabilidade social demandam
esforços no sentido de buscar o equilíbrio dos interesses dos acionistas e dos
demais públicos atingidos pelas atividades empresariais a cumprir as
determinações legais e contribuir com a promoção do desenvolvimento sustentável,
realização do bem comum e da dignidade da pessoa humana (BORTOLI, 2008,
p. 189).
A atuação empresarial, inclusive no caso das concessionárias de serviço
público, demanda uma adequação ao contexto institucional no qual os negócios
acontecem, o que muitas vezes implica no compartilhamento e equilíbrio dos
interesses presentes. Assim,
interesses que não são seus, estabelece-se uma perda de identidade e uma
subordinação, consentida ou decorrente de sua falta de condição primária de
150
necessidade de colocar em prática os próprios interesses, associada à existência
estratégicas, as concessões, os acordos, as parcerias e mesmo os esquemas de
interesse público na estratégia da concessionárias, poderia colocar em risco os
interesses privados próprios da empresa. Entretanto, há de se esclarecer, que tais
objetivos não são necessariamente conflitantes e, conforme, já se demonstrou,
podem ser considerados complementares. Ou seja, sem o interesse público, o
negócio, representado pela prestação de serviço público, não existe; sem o
resultado empresarial via lucro e/ou rentabilidade, a empresa não sobrevive; e, sem
a empresa, o serviço não é prestado. Com esse entendimento, o resultado
empresarial é ora caracterizado, como aquele de surge de operações lucrativas e
rentáveis.
4.6 CONCESSÕES DE SERVIÇOS
4.6.1 Conceituação
A prestação dos serviços públicos pode ser transferida a entes privados pela
Administração Pública, através de instrumentos clássicos como a concessão,
exemplo, o arrendamento e a franquia. Em todos eles, a Administração Pública
mantém o vínculo com a atividade, por isso fixa normas para sua execução, fiscaliza
serviço público é atividade imune à
privatização, admitindo-se, no máximo, o seu repasse ou delegação à iniciativa
privada, atitude submissa, todavia, à onipresente regulação e fiscalização pelo
No Brasil, a Lei 8.987/1995, também conhecida por Lei Geral das
Concessões, atualmente é a que trata do regime de concessão e permissão da
151
prestação de serviços públicos, previsto no artigo 175 da Constituição Federal.
Segundo essa lei, a concessão pode ser atribuída a uma empresa ou consórcio de
empresas, sendo aplicada à prestação de serviços de longa duração, inclusive, para
propiciar retorno dos investimentos realizados. Já, a permissão é atribuída em
caráter precário à pessoa jurídica ou pessoa física, nos casos de contratações de
média ou curta duração (MEDAUAR, 2009, p. 337). Doravante, será utilizada de
forma genérica, apenas a figura da concessão.
sujeitos destinada à ampliação dos esforços necessários à prestação das utilidades
Essa atividade, portanto,
possa se comprometer com tal finalidade (JUSTEN FILHO, 2006, p. 514).
parte
isoladamente, tudo o que procede de ação individual, isto é, de ação pessoal,
limitada a cada qual, donde, portanto, se exclui toda idéia de geral, de comum ou
coletivo (SILVA, 2005, p. 1008). De forma similar também pode ser entendido o
serão utilizados como sinônimos.
Através da concessão, ocorre a delegação pelo Estado a uma pessoa física
Caracteriza-se, assim, como uma forma indireta de prestação de um serviço público,
na qual o Poder Público tem a prerrogativa legal, em determinadas condições, de
retomar a atividade objeto do contrato (BACELLAR FILHO, 2007, p. 24).
pelo qual o Estado
público assim o determinar, em virtude de conveniência e oportunidade,
descumprimento de obrigações pelo concessionário ou por ilegalidade na sua
concessão, a reversão ao Poder Público dos bens objeto da mesma, pois, caso
152
p. 186).
Também merece destaque a Lei 11.079, de 30 de dezembro de 2004, que
instituiu normas para licitação e contratação de parceria público-privada. Nos termos
do artigo 2o -privada é o contrato administrativo de
é a concessão prevista na Lei de Concessões, que contempla além da tarifa cobrada
dos usuários, o pagamento do parceiro público ao parceiro privado, conforme
estabelecido no § 1º do referido artigo 2º. Por sua vez, a concessão administrativa,
nos termos do artigo 2º, ainda do mesmo artigo, é caracterizada pela contratação da
prestação de serviços, dos quais a Administração Pública é usuária direta ou
indireta, mesmo que esteja envolvida a execução de obra ou até mesmo o
fornecimento e instalação de bens. Finalmente, conforme § 3º do referido artigo, não
caracterizam parceria público-privada as concessões comuns, ou seja, aquelas
abrigadas pela Lei Geral das Concessões, quando não houver previsão de
pagamentos ao parceiro privado por parte do parceiro público.
A contratação de parceria público-privada segundo as disposições do
artigo 4º da já citada Lei 11.079/2004, deve observar entre outras diretrizes: a
eficiência na missão de Estado e no uso dos recursos da sociedade; o respeito aos
interesses e direitos dos usuários dos serviços e dos particulares encarregados da
sua execução; a repartição dos riscos envolvidos entre as partes e a
sustentabilidade financeira; e os benefícios socioeconômicos das parcerias.
4.6.2 Características
Estad
assume o seu desempenho diretamente em face dos usuários, mas sob controle
(JUSTEN FILHO, 2006, p. 510).
153
Plurilateral, porque envolve necessariamente: o poder concedente, a
sociedade personificada em um ente representativo e o particular, que é o
depende de nenhuma ratificaçã
-511).
A natureza organizacional da concessão, por sua vez, surge do envolvimento
a prestação de um serviço público adequado e satisfatório se configura como um objetivo comum, compartilhado pelo Estado, pela sociedade civil e pelo concessionário. A concessão é um meio de obter a colaboração dos particulares no desempenho de serviços públicos (JUSTEN FILHO, 2006, p. 511).
Existem vários modelos de concessão. Há aquele em que o concessionário
execução de obra, a qual, após encerrado o prazo de concessão, é incorporada ao
patrimônio público. Também existe a concessão de obra pública a ser edificada, que
é o instrumento de satisfação dos usuários, sendo que não existe, propriamente
nesse caso, a disponibilização de um serviço. E, finalmente, a concessão de obras
já ex
p. 514-516).
As concessões possuem alguns elementos básicos que, segundo Medauar
(2009, p. 329), compreendem:
a) o poder concedente, que pode ser a União, Estado, Distrito Federal,
b) a concessionária, uma empresa ou consórcio de empresas, que executa o
regra, recebe remuneração diretamente do usuário do serviço, pagando
154
c) as normas para realização dos serviços, emanadas do Poder Concedente
que também fiscaliza, impõe sanções e reajustas as tarifas;
d)
Com a concessão, o serviço público não é transformado em privado. Ou seja,
privad
mas a titularidade de prestação do serviço continua nas mãos do Estado, o qual
(JUSTEN FILHO, 2006, p. 512). Além disso, as empresas privadas quando
assumem a condição de concessionárias, não são transformadas em órgãos da
Administração Pública e tampouco passam a fazer parte dela. Porém, na prestação
da atividade, ficam subordinadas à legislação e princípios próprios do Direito
Público, bem como, aos regramentos específicos do setor de atuação (MEDAUAR,
2009, p. 325 e 329).
á em jogo não é o pessoal,
(MOREIRA, 2010, p. 295). A concessão também impõe aos seus usuários o ônus
inerente à disponibilização dos serviços concessionados, o que normalmente é
desoneração da Sociedade e
2003, p. 551).
Essa alteração no custeio de serviços públicos gera algumas conseqüências
relevantes do ponto de vista social. Medi
faz-
não havendo concessão, a prestação dos serviços é custeada por toda a sociedade,
independentemente de ser usuária efetiva ou potencial dos serviços. Nessa
situação, os usuários em geral são beneficiados, pois todos os demais pagam pelos
serviços, apesar de não o utilizarem. De outro lado, após a concessão, é possível
155
considerar situações em que o Estado utilize a tarifa com instrumento de receita
complementar. Nessa condição, os usuários além de pagar pelo serviço que
utilizam, irão contribuir com outros dispêndios do Estado. Em que pese o ônus
imposto aos usuários, o que se estaria buscando seria o atendimento a um interesse
da sociedade. Tais situações evidenciam algumas das possibilidades de interesses
distintos, entre a sociedade e os usuários de tais serviços (JUSTEN FILHO, 2003,
p. 551-552).
Essa última questão, em especial, relacionada aos interesses envolvidos,
será aprofundada mais adiante, por sua particular relevância para evidenciar o
conflito potencial existente nas operações das empresas concessionárias de
serviços públicos. De um lado, essas empresas devem se subordinar ao interesse
público, em razão da natureza específica de sua atividade, e, de outro, devem dar
atendimento ao interesse particular, próprio de qualquer atividade empresarial. De
qualquer forma, ainda existem mais algumas características da concessão e da
regulação que necessitam de aprofundamento, e que são tratadas a seguir.
4.6.3 Origens e situação
stação de serviços que
encargos esses que o poder público não podia assumir seu uso na época, recaiu
principalmente sobre o transporte ferroviário, fornecimento de água, gás,
A figura da concessão, contemplando a exploração empresarial e privada de
serviços públicos, muitas vezes é caracterizada como sendo uma prática de política
neoliberal. Entretanto, ela não pode ser reduzida dessa forma. A concessão tem sua
origem histórica no Estado francês, um dos mais refratários às políticas neoliberais e
concessão de serviço público foi (e pode ser) utilizado tanto no âmbito do Estado de
Bem-Estar social clássico como também se presta como instrumento de implantação
156
solução peculiar ou privativa a um modelo ideológico 9).
ais,
instabilidade econômica gerada pelas guerras mundiais e pelos movimentos
criaram-se empresas estatais que absorveram parte das concessões do setor
privado. E assim surgiram as outorgas, não ao setor privado, mas a entes da
pela concessão, num contexto de reforma do Estado, de privatização, mas com
justificativa idêntica àquela que norteou sua elaboração no século XIX: execução de
2009, p. 328-329). No caso brasileiro, esse contexto de resgate das concessões, em
1995, deu origem à já citada Lei Geral das Concessões, entretanto, sem maiores
novidades frente às características usuais das mesmas, até então.
Todavia, essa lei de c
aberto de princípios e regras, com intensa capacidad
201, p. 288-289). Ela teve como base as disposições do artigo 175 da Constituição
Federal de 1988, as quais também ensejaram a edição da Lei 9.074, de 7 de julho
de 1995
passíveis do regime de concess
eriormente,
sofreram alterações (MEDAUAR, 2009, p. 329).
157
4.6.4 Contratos de concessão
As concessões tomam forma através de contratos específicos que expressam
acordos, contemplando a vontade do Poder Público em transferir, e do interesse do
particular em executar a prestação de um serviço público. Surgem do entendimento
- rtante esse tipo de
(CARVALHO, 2010, p. 1). Esse tipo de contrato difere dos contratos de Direito
Privado, especialmente, em razão da presença de entes estatais como uma das
imutabilidade do que
Para defender o interesse público são atribuídas prerrogativas específicas a
uma das partes, que é a Administração Pública, entre as quais estão as de
viço e a fiscalizar a atividade do
Especificamente, a prerrogativa de modificação unilateral dos contratos
administrativos, inclusive os de concessão, atualmente é objeto de contestação.
Porém, no ordenamento jurídico brasileiro, tal prerrogativa encontra amparo e é
p. 220-221).
Outro aspecto relevante a ser considerado, é que a relação contratual tem
uma dinâmica temporal, pois os recursos, condições e necessidades existentes por
ocasião da celebração do contrato, irão se modificar ao longo do tempo,
especialmente, naqueles casos de concessões por longo prazo. Também existem
diferenças, entre outras, geográficas, econômicas e demográficas, nas regiões de
concessão, que irão influenciar os arranjos contratuais específicos para cada uma
exercício de competência discricionária
por parte do poder concedente, de molde a compatibilizar com a colaboração dos
usuários e concessionário o perfil dos requisitos legais a cada caso concreto, nas
2010, p. 300).
158
Além disso, as concessões são concretizadas dentro de um prazo
determinado, mesmo que longo. Uma das premissas nessa determinação, é que
após decorrido certo tempo,
público concedido de modo satisfatório, com tarifas mais baratas que as aplicadas
premissa, é que após tal decurso temporal, o Estado possa obter melhores
condições de transferência de tais serviços, em razão de novos interessados em
explorá-los, ou até mesmo, por uma conjuntura mais favorável que a existente por
ocasião da concessão (CARVALHO, 2010, p. 8).
4.7 REGULAÇÃO DE SERVIÇOS PÚBLICOS
4.7.1 Rédeas institucionais
A visão clássica da lei mostrou-
necessidades econômicas e políticas que se foram tornando cada vez mais
-se que a lei, emanada pelos
representantes eleitos pela sociedade, expressava a vontade geral e, assim, seria
-
econômico, evidenciou-
rédeas do processo econômico, para
em maior ou menor medida, administrar o mercado, orientando as relações
-234).
as instituições, possuem um papel de vital importância em relação ao desempenho
econômico, havendo um grande número de economistas que se vêm dedicando ao
estudo dessa questão, no âmbito da, assim chamada, Economia Institucional
159
(BRUNA, 2002, p. 232). As instituições e regras consolidadas constituem elementos
importantes para o desenvolvimento, especialmente, em razão de suas relações
estreitas com a promoção de investimentos sustentáveis e disponibilização de
adequada infraestrutura (ANTUNES, 2006, p. 20).
A literatura econômica tem demonstrado que os gastos, púbicos e privados,
retorno dos insumos privados, incentivam o investimento, garantindo dinamismo à
-se, o
crescimento da economia não representa necessariamente a redução das
desigualdades sociais e tampouco a ampliação do acesso aos serviços essenciais
(COUTINHO, 2002, p. 66-67).
O desenvolvimento econômico exigindo uma política econômica que
apresenta custos
vas ávidas de obtenção de resultados
política econômica, são configuradas instituições permanentes e específicas, bem
como, mecanismos de regulação econômica, através das chamadas agências
independentes ou autônomas (NUSDEO, 2002, p. 18-24).
4.7.2 Agências reguladoras
Como titular da responsabilidade de prestar os serviços públicos, o Estado é o
f
160
No Brasil, um dos processos recentes e mais expressivos, relacionado à
redefinição do papel de intervenção do Estado no mercado, foi a criação, na década
Executivo, para o exercício das funções normativa e reg
acteriza a
ação da administração direta do Poder Executivo, sobretudo em razão da existência
de mecanismos que permitem a participação ampliada do cidadão na definição
-183). Entretanto,
nesse novo contexto, passou a ser necessário caracterizar o interesse da sociedade
em relação à regulação.
atividade da burocracia estatal, segundo o qual a atuação do Estado deve garantir
f
a regulação econômica é realizada através agências reguladoras independentes,
que são órgãos administrativos, compostos por profissionais especializados, com a
função de
tomadas pelas agências
198).
Por outro lado, um dos grandes desafios da regulação brasileira é combinar
não necessariamente rentáveis na
ampliação das redes de infra-estrutura2 associadas a serviços públicos, promovendo
a universalização3
políticas públicas de conteúdo social, que permitam a inclusão de cidadãos em
indução do crescimento econômico e também de aumento do bem-
(COUTINHO, 2002, p. 65). 2
(COUTINHO, 2002, p. 65). 3 I bid.
161
O Brasil, que ainda possui características de subdesenvolvimento:
deve (conteúdo jurídico) e pode (conteúdo econômico) valer-se da regulação, dentro de seus limites próprios, e sem prejuízo de mecanismos de mercado, para promover a universalização do serviço público por meio da execução de políticas de conteúdo redistributivo (COUTINHO, 2002, p. 69).
definem quais os novos papéis do Estado e do setor privado num jogo de forças até
há
serviço público e, de outro lado, sua contrapartida: obrigações de investimentos em
expansão das redes, segurança, continuidade do serviço e cobrança de tarifas
4.7.3 Modelagem regulatória
ormalmente se observa que as
agências que dão forma à regulação, são debatidas sob o enfoque operacional,
relegando a um segundo plano, as finalidades do processo regulatório. Além disso, a
discussão dos seus aspectos institucionais como, por exemplo, a sua natureza
jurídica, muitas vezes prevalece sobre as formas de garantir que tais órgãos atinjam
seus objetivos. Para isso é imprescindível contar com princípios regulatórios legais
ação
2002, p. 61-62).
Outra questão relevante diz respeito à legitimidade dos regulamentos
delegados, ou seja, o fundamento da regulação estatal. Entre os principais modelos
para tal finalidade, destaca-
mercados um caráte
162
a imparcialidade dos agentes públicos
Porém, a indeterminação do conceito de interesse público confere às autoridades
administrativas um amplo espaço para o exercício discricionário e uso de critérios
genéricos nas decisões normativas (BRUNA, 2002, p. 236-238).
das forças políticas e com funcionamento similar ao mercado. A confiança dessa
(modelo de interesse público) ou no conhecimento científico (modelo de
-238).
A regulação, com os devidos ajustes para os diversos tipos de serviços
públicos, deve ser exercida com a certeza de defesa dos cidadãos. A competência
regulatória nos serviços p
apresenta sob a forma de uma garantia da coletividade que impõe ao Estado, direta
de forma tal que a
prestação dos serviços públicos seja voltada à satisfação dos direitos fundamentais,
observando-se, no exercício de suas funções, os princípios e regras que disciplinam
Respeitadas as disposições constitucionais, cabe à regulação dar eficácia
material aos serviços públicos a cargo direto ou indireto do Estado, através de
suporte jurídico adequado às atividades econômicas privadas ou estatais. Dessa
forma, entre outros benefícios, ela contribui com a promoção da cidadania e
dignidade da pessoa humana (MOTTA, 2009, p. 219).
163
5 CARACTERÍSTICAS DO SETOR ELÉTRICO BRASILEIRO
5.1 CONSIDERAÇÕES PRELIMINARES
A energia é reconhecida como de fundamental importância para o
desenvolvimento de qualquer nação e, nesse sentido, é uma variável estratégica
que tem merecido a atenção dos governantes e de diversos segmentos da
energia em suas diversas formas, salienta a necessidade de um uso mais racional e
efetivo, por toda a sociedade, dos recursos energéticos, principalmente os não
atuação, tanto com relação à oferta e demanda, como no tocante à integração com
outros setores energéticos e, além desses, com o restante da economia. Seu valor
econômico está associado à qualidade de seu fornecimento, contemplando atributos
como o fornecimento ininterrupto (disponibilidade), respeito a determinados padrões
(conformidade), restauração operacional rápida (restaurabilidade) e absorção de
mudanças planejadas ou acidentais (flexibilidade). Por outro lado, a falta de
qualidade, ou até mesmo, a ausência no fornecimento da energia, representa um
custo econômico para a sociedade em geral (BORENSTEIN; CAMARGO, 1997,
p. 21-31).
Como os serviços de energia elétrica são fundamentais para o progresso
econômico e social, bem como, para a qualidade de vida das pessoas, sua natureza
é considerada estatal e a titularidade da sua prestação é de entidade pública.
Presente, no dia a dia das pessoas e nos mais diversos setores das economias
modernas, a eletricidade é um bem econômico que possui valor de uso. Porém,
das -231).
A Lei 9.074/1995, já mencionada, que estabeleceu normas para outorga e
prorrogações das concessões e permissões de serviços públicos, reconheceu a
natureza de serviço público do setor de energia elétrica e a sua universalização
material, entendendo ser indispensável à sobrevivência humana. Mesmo com a
164
-159).
A importância da energia elétrica no Brasil pode ser ilustrada pelos dados de
consumo energético do país. Em 2000, o consumo final de eletricidade foi de
28.509 103 toneladas equivalentes de petróleo (TEP), enquanto o consumo total foi
de 171.949 103 TEP (EPE, 2010, p. 18, 20). Essa participação da eletricidade no
consumo final, não se alterou na última década, quando o consumo total brasileiro
cresceu 28,7%. Em 2009, no consumo final de energia no Brasil, a eletricidade
respondeu por 36.638 103 TEP, correspondendo a 16,6% do total consumido
naquele ano, que foi 221.334 103 TEP. Ainda com base em dados de 2009, cabe
destacar que o setor industrial respondeu por 43,7% do consumo nacional de
eletricidade, seguido pelo setor residencial com 23,9%, e pelo comercial com 15,1%.
Os demais setores, respectivamente, responderam por: público, 8,6%; energético,
4,4%; agropecuário, 3,9%; e transportes, 0,4% (EPE, 2010, p. 28).
As atividades dos sistemas elétricos demandam instalações e equipamentos
sofisticados que estão espacialmente distribuídos em grandes extensões territoriais.
Suas operações são complexas e também exigem tecnologia, processos decisórios
sofisticados, pessoal qualificado, normas e procedimentos padronizados, entre
outros importantes fatores. Por outro lado, as demandas crescentes por energia
elétrica impõem o desafio de significativos investimentos em geração, transmissão e
caminho para a busca de soluções alternativas que viabilizem o crescimento
-38).
Porém, cabe especial destaque à questão da geração. Estima-se que quase
60% das novas usinas hidrelétricas e outros empreendimentos para expansão de
algum tipo de restrição
(RITTNER, 2009). Nesse contexto, o grande desafio do setor elétrico passou a ser a
busca de alternativas para garantir a expansão da oferta de energia, visando atender
uma demanda de energia elétrica com crescimento estimado de 5,0% por ano entre
2010 até 2019, impulsionada, especialmente, pela expectativa de aumento de 6,2%
anuais mo consumo da classe comercial e de 5,1% anuais da classe industrial
(BRASIL, 2010, p. 14).
165
5.2 RETROSPECTO HISTÓRICO
5.2.1 Primeiros passos
pioneirismo empresarial, inovação tecnológica e os fundamentos econômicos em
especial a busca pelo aproveitamento das economias de escala que proporcionaram
introdução da energia elétrica no Brasil se deu pouco tempo depois de Thomas
Edison ter criado a indústria elétrica americana. Em 1879, ele inventou a primeira
lâmpada incandescente que era competitiva com a iluminação a gás e, logo a seguir,
Nessa mesma époc
Goytacazes, no estado do Rio de Janeiro, aprovou a troca da iluminação pública a
Nesses primórdios, outro fato relevante foi a inauguração da Usina de Marmelos, em
1889, a primeira hidrelétrica do continente sulamericano implantada para atender
uma fábrica de tecidos e a iluminação da cidade de Juiz de Fora, em Minas Gerais.
Posteriormente, outras iniciativas de geração de eletricidade de cunho privado e
).
O crescimento do consumo da energia elétrica brasileiro, tanto em atividades
urbanas como industriais, despertou o interesse empresarial estrangeiro e, dessa
forma, surgiram nos anos de 1887 e 1904, as primeiras empresas estrangeiras no
país atuantes no setor de energia elétrica. Elas iniciaram suas operações em São
Paulo e Rio de Janeiro, os dois principais mercados elétricos brasileiros de então.
Em 1908 foi inaugurada a a usina hidrelétrica de Fontes, que após ampliada, ficou
com potência de 24 mil kW, à época, a maior do Brasil e entre as maiores do mundo
(LEITE, 2007, p. 57).
166
Nos anos seguintes, a geração de energia aumentou de forma expressiva,
ultrapassando 367.000 kW em 1920, quando em 1883 era apenas de 52 kW. Nesse
período, também foi destaque a participação da geração hidrelétrica no país,
diferencial em relação à geração térmica a carvão utilizada em muitos outros países,
e definindo a trajetória da indústria elétrica brasileira (PINTO JR. et al., 2007,
p. 199).
Os primeiros passos da energia elétrica no Brasil, foram marcados pela
ausência de legislação específica para o setor, que era então regido por atos de
concessão e contratos correspondentes entre concessionários e o poder público,
isolados, abrangendo,
essencialmente, as grandes concentrações urbanas, por intermédio de
-200).
5.2.2 Intervenção
riquezas naturais
do setor elétrico brasileiro começou a mudar, tendo sido regulamentado no ano
seguinte, juntamente com o setor de águas, através da promulgação do
Decreto 26.234, de 10 de julho de 1934, que instituiu o Código de Águas. Com esse
instrumento, o uso de fontes de energia hidráulica, mesmo que privadas, passou a
depender de concessão governamental, a qual poderia compreender de 30 a 50
anos, porém, exclusivamente para brasileiros ou empresas organizadas no país
(BORENSTEIN; CAMARGO, 1997, p. 70).
setor elétrico começou a se defrontar com novas dificuldades que comprometeram
os serviços prestados, especialmente com o advento da Segunda Guerra Mundial,
tais como: as alterações institucionais advindas da Constituição de 1937; as
167
restrições de importações e as limitações do parque industrial nacional frente às
demandas de equipamentos para manutenção e expansão dos serviços; bem como,
o processo de inflação crônica instaurado durante essa guerrra (LEITE, 2007,
p. 76-77).
Não obstante os fatores apontados, iniciou-se a intervenção estatal no setor
elétrico, através dos estados que na época detinham os sistemas de energia.
Através do Decreto-Lei 8.031, de 3 de outubro de 1945, foi criada a Companhia
Hidroelétrica do São Francisco (Chesf), para construir uma grande usina hidrelétrica
de âmbi
cinquenta, foi encaminhado pelo então presidente Getúlio Vargas, ao Congresso
Nacional, o Plano Nacional de Eletrificação, prevendo a unificação da frequencia do
sistema elétrico em 60 Hz; a interligação dos sistemas elétricos isolados; o
recursos extra-setoriais, sob a coordenação do Estado, para fazer face aos
(BORENSTEIN; CAMARGO, 1997, p. 72-73).
5.2.3 Estruturação
Na fase inicial do pós-guerra, o desenvolvimento do setor elétrico brasileiro
enfrentava muitas dificuldades, especialmente pela falta de financiamento nacional e
indefinições quanto às tarifas. Apesar da demanda crescente, as deficiências do
setor também aumentavam. Nesse contexto, foi criado um fundo de eletrificação,
contemplando a distribuição dos recursos para a União, Estados e Municípios
(LEITE, 2007, p. 99).
Com o Decreto 41.019, de 26 de fevereiro de 957, foi aprovada
para os serviços de eletricidade, até o
168
Nesse mesmo ano, foi aprovada a fundação da Central Elétrica de Furnas (Furnas),
e concedida autorização para estudos preliminares sobre o potencial hidrelétrico das
Sete Quedas no Paraná. Em 1960, é criado o Ministério de Minas e Energia, e no
ano seguinte, após sete anos de debates no Congresso, é autorizada a criação da
Eletrobrás, a qual veio, posteriormente, a incorporar a Chesf e Furnas (LEITE, 2007,
p. 123).
Até os primeiros anos da década de sessenta houve um crescimento
significativo da capacidade de geração de eletricidade, apesar da ausência dos
investimentos privados diretos nesse segmento. Nesse período se avançou na
estruturação do setor, tanto do ponto empresarial quanto do econômico. Também
ocorreu a expansão dos sistemas elétricos, especialmente territorial, abrindo
perspectivas para sua futura interligação. A dificuldade técnica, nesse sentido,
representada pelas duas frequências distintas, de 50 Hz e 60 Hz, utilizadas nas
redes de distribuição, foi superada por ocasião da Lei 4.454, de 6 de novembro de
1964, que estabeleceu como padrão a de 60 Hz.
Outro desafio institucional, ainda na década de sessenta, foi o
estabelecimento de uma remuneração adequada no setor, para fazer frente aos
investimentos necessários. Como tentativa de equacionamento dessa questão, foi
aprovada a Lei 5.655, de 20 de maio de 1971, que estabeleceu para as
concessionárias, uma remuneração de 10% e 12% sobre o investimento
remunerável (LEITE, 2007, p. 124, 143-148).
Um pouco antes, através do Decreto 57.297, de 19 de novembro de 1965, a
distribuição de energia para os div da Região Centro-
Sul do país. E alguns anos depois, em 1973, foi realizada a primeira tentativa de
planejamento integrado no sistema elétrico brasileiro, que contemplava a região Sul,
Sudeste e a Itaipu Binacional, que seria constituída como empresa somente no início
planejamento, o Grupo Coordenador do Planejamento dos Sistemas Elétricos
das técnicas de planejamento, tais como, as relacionadas aos critérios de
169
priorização de obras, rateio de energia, potência por empresa e o critério de energia
garantida (BORENSTEIN; CAMARGO, 1997, p. 77).
5.2.4 Milagre e colapso
No início da década de setenta, com os aumentos expressivos do petróleo,
especialmente em 1973, é proposto o II Plano Nacional de Desenvolvimento
(II PND), indicando, em especial, a necessidade de mudanças na matriz energética
nacional. Entretanto, para controlar a inflação, as tarifas de energia elétrica não
foram reajustadas, inviabilizando a capitalização do setor e limitando a sua
expansão com recursos próprios. Por outro lado, graças a recursos externos, os
investimentos na época foram expressivos. Em doze anos, no período de
1967-1979, o sistema elétrico através de sua capacidade instalada de geração,
expandiu-se 272%. Porém, no final dessa década foi possível observar uma redução
aumento do preço do petróleo, a restrição tarifária e o investimento em grandes
-78).
A década de setenta também foi marcada pelos percalços do programa
nuclear brasileiro para a geração de energia elétrica, em cooperação com o governo
da Alemanha. As obras das usinas nucleares de Angra I, iniciada em 1971, bem
como as II e III, inicialmente previstas para começar em 1974, enfrentaram desde
problemas técnicos até políticos, sendo seus cronogramas sucessivamentes
EITE, 2007,
p. 220-223).
Em 1974, havia sido criado um instrumento de equalização tarifária para,
consumidores, seja na atratividade econômica da instalação de novas indústrias, em
Geral de Garantia (RGR), possibilitou manter a remuneração legal às
concessionárias com custos maiores, via captação de recursos junto a todas as
trangulamento tarifário e a diminuição de recursos
170
CAMARGO, 1997, p. 82).
Essa situação foi agravada na década de oitenta, pelo comportamento de
muitas concessionárias estaduais, que deixaram de efetuar os recolhimentos
devidos à Eletrobrás, não pagaram a energia comprada das empresas federais,
passaram a desrespeitar a legislação, e aumentaram a disputa pelas escassos
intensificaram-se as demandas organizadas dos grandes consumidores
(BORENSTEIN; CAMARGO, 1997, p. 83).
Na década de oitenta, as projeções de expansão do mercado de energia
elétrica nacional, contempladas em diversos planos setoriais, ficaram aquém do
previsto, face o segundo choque do petróleo, a súbita elevação das taxas de juros e
outros fatores que comprometeram o crescimento econômico nacional. Nessa
década, também foram iniciadas as obras das hidrelétricas de Tucuruí e de Itaipu.
Esta última, iniciada em 1975, começou a operar em 1983. Por outro lado, a
estratégia de controlar preços e tarifas para combater a inflação, implicou na
diminuição da rentabilidade e dos recursos próprios para investimentos, bem como
no endividamento a custos mais altos para as empresas do setor (LEITE, 2007,
p. 214-216).
Ainda na década de oitenta, com o agravamento da situação econômica e
financeira do setor elétrico, foi elaborado um plano de recuperação setorial,
denominado Plano de Recuperação do Setor de Energia Elétrica (PRS), que
aprovado ao final de 1985, continha, entre outros, objetivos voltados à capitalização
das concessionárias, redução do nível de endividamento, e a progressiva elevação
da remuneração dos investimentos. Porém, no ano seguinte, com o Plano Cruzado,
as tarifas foram congeladas e limitaram a capacidade de investimentos por parte das
concessionárias. Já, em 1987, algumas medidas de recuperação do setor
começaram a ser debatidas, mas foi com o advento da Constituição de 1988, que se
iniciou um intenso processo de modificação institucional da energia elétrica no Brasil
(LEITE, 2007, p. 248).
171
5.2.5 Privatização e reformas
No início da década de noventa, através da Lei 8.031, de 12 de abril de 1990,
foi criado o Programa Nacional de Desestatização, que surgiu do espírito de
sem distinção da origem do capital, e a extinção dos monopólios, sem maior atenção
-287).
As reformas institucionais no setor elétrico, especialmente motivadas pela
impossibilidade das empresas estatais sustentarem os investimentos necessários,
contemplaram o estímulo à iniciativa privada para participar de novos
empreendimentos e da citada privatização de ativos existentes. As mudanças
realizadas, inspiradas em experiências internacionais, tiveram por objetivo introduzir
um ambiente competitivo e uma nova modelagem de regulação no setor. Porém, as
especificidades do caso brasileiro, entre as quais a elevada base de geração
hidráulica e as grandes distâncias entre geradores e consumidores, impuseram
algumas restrições às soluções utilizadas em outros países (PIRES, 2000, p. 7).
Mesmo assim, o quadro em vigência por mais de trinta anos, começou a mudar,
lembrando que até então:
as grandes empresas sob controle federal eram exclusivamente geradoras e não participavam da distribuição. As grandes empresas estaduais eram verticalizadas [possuíam geração, transmissão e distribuição]. As empresas privadas e as estaduais, de menor porte, se atinham à distribuição. A operação dos sistemas integrados e o planejamento da expansão se mantinham sob o comando do governo federal por intermédio da Eletrobrás (LEITE, 2007, p. 291).
Apesar das incertezas envolvidas em razão das novas mudanças
institucionais que então se iniciavam no setor, bem como, pela ausência de um
marco regulatório consolidado, foram iniciados e concretizados os processos de
privatização de diversas empresas sob controle federal e estadual. Por outro lado,
em razão das contestações políticas e outros fatores, várias empresas não foram
privatizadas, resultando na necessidade de convívio de empresas estatais e
privadas (LEITE, 2007, p. 299-301). O esforço de desverticalização de grandes
empresas que atuavam na geração, transmissão e distribuição de energia elétrica,
172
também implicou na criação de novas empresas para atuar especificamente em
cada um desses segmentos, como em vários casos, redundou na transferência de
tais negócios para outros controladores. Nesse processo, a maior parte das
2007, p. 233).
O processo de mudanças institucionais no setor elétrico foi iniciado com a
edição da abrangente e já citada Lei Geral de Concessões (Lei 8.987/1995) que,
entre outros aspectos, estabeleceu a necessidade de licitação via concorrência, para
a realização de concessões (LEITE, 2007, p. 287). De qualquer forma, as reformas
no setor obtiveram maior consistência em 1997, quando foram implementadas novas
9.427/96, que instituiu a Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel), e a lei
9.648/98, que definiu, entre outras coisas, as regras de entrada, tarifas e estrutura
com experiências internacionais, contemplavam:
a introdução de competição nos segmentos de geração e comercialização de energia elétrica; a criação de um instrumental regulatório para a defesa da concorrência nos segmentos competitivos (desintegração vertical, tarifas de uso da rede não discriminatórias, etc.), com destaque para a garantia do livre acesso nos sistemas de transporte (transmissão e distribuição), e, por fim, o desenvolvimento de mecanismos de regulação incentivada nos segmentos que permanecem como monopólio natural (PIRES, 2000, p. 12).
A instituição da ANEEL, que teve por objetivo disponibilizar ao Estado um
órgão especializado e mecanismos de controle dos serviços no setor, foi entretanto,
criticada por muitos cientistas políticos em razão do modelo das agências
tonomia num ambiente de baixo controle
No novo modelo também foi instituído o Mercado Atacadista de Energia
(MAE), nos termos da Lei 9.648, de 27 de maio de 1998. Submetido à
regulamentação da ANEEL, o MAE foi criado para viabilizar as atividades comerciais
de compra e venda de energia elétrica realizadas pelos agentes do setor, no âmbito
, p. 235).
173
Outro órgão criado foi o Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS),
composto por empresas do segmento, consumidores e representantes do Poder
Concedente. Instituído pela Lei 9.648/1998, e sob a fiscalização e regulação da
ANEEL, o ONS coordena e controla a geração e transmissão de energia elétrica no
sistema elétrico interligado, com o objetivo de otimizar sua operação, visando o
menor custo segundo padrões técnicos, critérios de confiabilidade e regras de
mercado (LEITE, 2007, p. 306).
Ainda na década de noventa, o governo federal conduziu um estudo
abrangente sobre as possíveis reformas no setor elétrico, que iniciado em 1996, foi
concluído no final de 1997. Basicamente, esse estudo contemplou: os arranjos
comerciais; as medidas legais e regulatórias; as mudanças institucionais, inclusive
no âmbito governamental; e, também, os mecanismos de financiamento e alocação
de riscos. Na estrutura de governo, os trabalhos de reestruturação ficaram a cargo
de uma organização que ficou conhecida por RE-SEB, que além da equipe de
consultoria contratada para o referido estudo, contou com a participação de
aproximadamente duzentos especialistas nacionais (LEITE, 2007, p. 297-298).
Parcela significativa dos resultados desse trabalho deu origem às mudanças
institucionais do setor, iniciadas naquela oportunidade.
Já no final dos anos noventa, os principais reservatórios das usinas
hidrelétricas das Regiões Sudoeste, Centro-Oeste, Norte e Nordeste estavam com
pouca água, abaixo do aceitável para a segurança do sistema elétrico. Apenas na
Região Sul, os reservatórios mantinham níveis aceitáveis. Já no início de 2001, os
reservatórios da Região Sudoeste/Centro-Oeste estavam com apenas 30% de sua
capacidade. Além da inexistência de estímulos para contratação de energia térmica
complementar, a construção de usinas estava atrasada e também havia insuficiência
na capacidade de transmissão da Região Sul para a Sudeste. Este contexto
caracterizou o colapso físico do sistema elétrico e deu origem ao racionamento de
energia elétrica, em 2001. Dentre as várias medidas adotadas, destaca-se a criação
-322).
Em junho de 2001, entrou em vigor o Programa Emergencial de Redução de
Consumo, com duração até fevereiro de 2002, o qual iniciou o racionamento de
consumidores, além de outras providências, mas com o objetivo central de redução
174
participação positiva da sociedade que, na indústria, residências e outros
segmentos, contribuiu para a redução do consumo de eletricidade. O consumo de
eletricidade, que foi de 15 milhões de MWh em abril de 2001, caiu para 11 milhões
em julho do mesmo ano e, após a fase de recomposição, estabilizou em um pouco
mais de 12,5 milhões de MWh, no período de abril de 2002 até o final de 2004
(LEITE, 2007, p. 323).
No início do novo governo federal, em 2003, o setor elétrico ainda estava
desorganizado em razão da reforma, que não chegou a ser totalmente implantada, e
das turbulências causadas pelas medidas emergenciais adotadas durante o
racionamento de 2001. Também, em razão de uma nova visão institucional para o
entre outros resultados, redundou na aprovação das Leis 10.847 e 10.848, ambas
de 15 de março de 2004 (LEITE, 2007, 378-386).
A primeira lei criou a Empresa de Pesquisa Energética (EPE), que em
estudos e pesquisas destinadas a subsidiar o planejamento do setor energético, tais
como energia elétrica, petróleo e gás natural e seus derivados, carvão mineral,
a Lei 10.848/2004, alterou oito leis anteriores, que contemplavam aspectos
relacionados à remuneração legal das concessionárias; níveis tarifários; outorga e
prorrogação de concessões; regulação e fiscalização; política energética;
reestruturação da Eletrobrás; investimentos obrigatórios em P&D e em eficiência
energética; energia emergencial; incentivo às fontes alternativas; e universalização
da energia elétrica.
Essas alterações, em essência, contemplam duas concepções principais.
restabelecimento do planejamento de longo prazo pela EPE; da criação do Comitê
de Monitoramento do Setor Elétrico para acompanhar o atendimento da demanda e
recomendar ações preventivas; e à inclusão do presidente e de diretores designados
pelo MME no ONS, ente privado encarregado da operação do sistema interligado
nacional (LEITE, 2007, p. 384-385).
consiste num pool que compra a energia das geradoras e a revende às
175
distribuidoras, o qual é administrado pela Câmara de Comercialização de Energia
Elétrica (CCEE), que substitui o MAE do modelo anterior. Nessa modelagem existe
0% da demanda prevista para os cinco anos seguintes
destaca-se a relacionada às concessões de recursos hídricos, que passou a ser
p. 385).
5.3 CARACTERÍSTICAS GERAIS
5.3.1 Atividades principais
O setor elétrico compreende as atividades de geração, transmissão e
distribuição, podendo esta última, ser desmembrada em distribuição física e
comercialização. Tais atividades possuem uma interdependência que
estruturas de custo distintas, sendo que a atividade de geração é mais intensiva em
capital, e compreende investimentos com longo tempo de maturação (PINTO JR. et
al., 2007, p. 130-131).
A geração de energia elétrica é realizada em instalações, normalmente
denominadas usinas, que podem utilizar diferentes fontes energéticas, tais como a
hidráulica, térmica, eólica, biomassa e outras. No caso brasileiro, a participação
dessas diversas fontes na capacidade de geração nacional, encontra-se
apresentada na tabela 1. As fontes hidráulicas representam praticamente 82% da
capacidade de geração de eletricidade, sendo seguidas pelas fontes térmicas, com
pouco mais de 17%.
176
Tabela 1 - Capacidade de geração instalada no Sistema Interligado Nacional(*) Tipo Capacidade (MW) % por tipo % por grupo
Hidráulica nacional 68.188,5 74,34% 81,97%
Hidráulica Itaipu 7.000,0 7,63% Térmica convencional 13.944,7 15,20%
17,39% Termonuclear 2.007,0 2,19% Eólica 357,5 0,39%
0,64% Biomassa 33,2 0,04% Outros 196,5 0,21% Total 91.727,4 100,00% 100,00%
(*) não inclui usinas com capacidade menor que 30 MW. Fonte: ONS
A geração, também denominada produção, pode ser conduzida por diferentes
agentes que são o concessionário, o autoprodutor e o produtor independente. Este
comércio, por
possibilita sob certas condições, a participação de empreendedores na atividade,
como é o caso do produtor independente, a atividade de geração é considerada
concorrencial.
Por sua vez, a atividade de transmissão corresponde às operações
necessárias para o transporte da energia que, normalmente demandam subestações
e linhas de transmissão. As operações nesse segmento são orientadas para o
máximo aproveitamento, ou seja, a minimização de perdas energéticas. É uma
atividade considerada como um monopólio natural, em razão de ser intensiva em
capital, contar com altos custos irrecuperáveis e, dessa forma, inviabilizar
economicamente a concorrência (FINN, 2007, p. 239).
Já a atividade de distribuição contempla o esforço para disponibilizar a
energia elétrica diretamente nas unidades consumidoras e, as instalações típicas
dessa atividade, sob o enfoque da distribuição física, compreendem subestações,
transformadores e redes de distribuição. A distribuição de energia pode ser feita em:
alta ou baixa tensão acima ou abaixo de 2,3 kV e o consumo pode ser estabelecido pelo sistema convencional ou sazonal, de acordo com o horário do dia ou período do ano. Todavia, a qualidade da energia fornecida depende das condições em que se encontram as redes de distribuição (FINN, 2007, p. 240).
177
A exemplo da transmissão, a distribuição é considerada um monopólio
natural, pois não seria conveniente, tanto sob o critério econômico como ambiental,
a construção de redes de diferentes concessionárias para atender à mesma área.
Além disso, por compreender um relacionamento direto com os usuários, a
que se verifica uma maior atuação do poder público, principalmente, na regulação e
-241).
Já a distribuição sob o enfoque da comercialização, compreende as
atividades de compra e venda de energia pelos novos agentes de comercialização,
pelos consumidores livres, e também, pelos tradicionais geradores e distribuidores.
Esses agentes de comercialização, que tem suas atividades reguladas pela
ANEEL, podem comercializar energia com as tradicionais distribuidoras, com os
consumidores livres e com as geradoras, incluindo os produtores independentes e
os autoprodutores. Assim, com esse conjunto de atores e flexibilidade de
participação, a comercialização é também considerada como uma atividade
concorrencial.
Outra característica importante do setor elétrico brasileiro é a existência do
Sistema Interligado Nacional (SIN), que possibilita a cooperação entre os agentes do
setor, bem como a otimização do uso dos reservatórios das usinas hidrelétricas, que
representam a maior parte da base de geração de eletricidade no país. Através do
SIN, é viabilizada a troca de energia em praticamente todo o território nacional,
abrangendo empresas das regiões Sul, Sudeste, Centro-Oeste, Nordeste, e parte da
região Norte do país. Destaca-se que está fora desse sistema apenas 3,4% da
capacidade nacional de produção de eletricidade, caracterizada por pequenos
sistemas isolados, principalmente na região amazônica (ONS, 2001).
As decisões no setor elétrico já foram bastante centralizadas, destacando-se
nesse sentido a Eletrobrás, que desde a sua criação em 11 de junho de 1962,
financeiro e transformou-se em holding das quatro geradoras federais (responsáveis,
ao longo da década de 90, por cerca de 50% da energia ger
institucional estatal
permaneceu praticamente inalterado por mais de três décadas, porém, a partir da
178
década de oitenta começou a apresentar sinais de esgotamento. A demanda por
novas alternativas institucionais começou a tomar corpo por diversos fatores, entre
os quais, as crises financeiras dos governos estaduais e federal, problemas de
gestão em várias concessionárias e sistema regulatório inadequado (PIRES, 2000,
p. 9). O quadro institucional do setor elétrico brasileiro, atualmente vigente, é
resultado das reformas promovidas no final do século XX e início do século XXI,
conforme já detalhado.
5.3.2 Regulação e competição
No fim dos anos setenta, a eficiência do modelo do setor elétrico no âmbito
internacional, passou a ser questionada com uma nítida inspiração liberal e com o
pressuposto de que o baixo desempenho das empresas do setor, controladas pelo
Poder Público, resultava da falta de concorrência e da gestão ineficiente do Estado
nas atividades de infraestrutura. As primeiras reformas radicais do setor elétrico
ocorreram na Grã-Bretanha, e serviram de referência para as medidas que, na
sequência, foram adotadas em outros países. Essas reformas, em maior ou menor
grau, compreenderam: a desverticalização das atividades típicas; a introdução da
concorrência nos diferentes segmentos do setor; a liberação a terceiros para acesso
às redes; a adoção de novos modelos contratuais; a criação de um órgão específico
para coordenar o despacho da eletricidade e de novos órgãos reguladores; a
privatização das empresas públicas e a implementação de novos mecanismos de
regulação e fiscalização (PINTO JR. et al., 2007, p. 180).
No Brasil, não foi diferente. A reestruturação do setor elétrico trouxe
mudanças essenciais na estrutura de mercado, dentre as quais: a passagem do
Estado da condição de empreendedor para regulador; a desverticalização das
atividades de geração, transmissão, distribuição e comercialização; a regulação
mínima voltada para a competição; e a quebra do monopólio em diversas atividades,
pela introdução do produtor independente de energia, do comercializador de energia
e do consumidor livre. Essas mudanças, inicialmente, contemplaram a criação da
ANEEL, do MAE e do ONS; o livre acesso às redes elétricas; a definição de limites
de concentração de mercado, de auto-suprimento e do valor normativo; e ainda, a
179
instituição dos investimentos obrigatórios em P&D (ABDO, 2001). Cabe lembrar que,
pouco tempo depois, o MAE foi substituído pela CCEE, conforme já mencionado.
As reformas no setor elétrico criaram novas oportunidades de negócios e
implicaram em redefinição das estratégias tradicionais das empresas do segmento.
e as empresas
pudessem enfrentar concorrentes em um determinado tipo de atividade, enquanto,
em outro, pudessem dispor de um monopólio (PINTO JR. et al., 2007, p. 181).
Face às reformas ocorridas, a regulamentação passou a ter graus
diferenciados em razão do tipo de atividade no setor, e tornou-
p. 237). A figura 3 ilustra esse novo contexto.
Figura 3 - Reestruturação do Setor Elétrico Fonte: Adaptado de Abdo (2001).
Com o advento da Constituição de 1988, foi introduzido um novo papel para a
Administração Pública com relação à prestação de serviços públicos. Seguindo uma
Atividade Setorial
Mercado
Regulamentação
Geração
Transmissão
Distribuição
Comercialização
Mínima
Concorrência
Forte
Monopólio Natural
Mínima
Concorrência
180
tendência internacional, nessa oportunidade, o Est
funções de normatização, fiscalização e regulação das atividades econômicas,
contexto, os serviços de eletricidade foram inseridos em um novo modelo que
poderia incentivar a concorrência entre agentes do setor
proporcionar,
p. 232-233).
Em alguns setores, como é o caso da energia elétrica, a delegação de
competências do Estado para privados atuarem em serviços públicos, demanda a
presença de entidades com funções técnicas e administrativas. No Brasil, essas
(BITTENCOURT, 2006, p. 55).
No caso específico do setor elétrico, as mudanças promovidas a partir da
década de noventa, permitiram que várias atividades pudessem, com relativa
facilidade, ser desenvolvidas de
incluem-se as empresas geradoras de energia e autoprodutores, que detêm a
grosso com grandes
envolve extensas linhas urbanas induplicáveis e constitui atividade natural, por
p. 300).
reestruturação do setor elétrico foi a criação de uma nova espécie de consumidor,
denominado
quem vai comprar a energia elétrica. A tendência é que no futuro, esse direito de
escolha, esteja disponível para todos os consumidores (FINN, 2007, p. 241).
Através dos artigos 15 e 16 da Lei 9.074/1995, as prorrogações das atuais e
novas concessões de distribuição, passaram a ser feitas sem exclusividade de
fornecimento para os consumidores com carga igual ou maior que 10 MW e em
tensão de 69 kV ou superior, que ficaram liberados para comprar a energia de
qualquer produtor independente. Após três anos da promulgação dessa lei, a
181
compra em questão tornou-se possível junto a qualquer concessionário,
permissionário ou autorizado de energia elétrica do sistema interligado. Decorridos
cinco anos, ou seja, a partir de 2000, foram incluídos nessa permissão de compra,
os consumidores com carga de consumo igual ou superior a 3 MW e também em
tensão de 69 kV ou superior. Desde 2003, ou seja, após decorridos oito anos da
referida lei e conforme nela preceituado, o Poder Concedente pode reduzir os limites
de carga e tensão estabelecidos, o que na prática possibilita a abertura total do
mercado de distribuição de energia elétrica.
Por outro lado, dentro de uma visão mais geral, cabe destacar que o atual
contexto regulatório do setor elétrico tem suas diretrizes fixadas pela Resolução nº 5,
de 21 de julho de 2003, do Conselho Nacional de Política Energética, que segundo
seu artigo 1º, são as seguintes:
I - Prevalência do Conceito de Serviço Público para a produção e distribuição de energia elétrica aos consumidores cativos; II - Modicidade Tarifária; III - Restauração do Planejamento da Expansão do Sistema; IV - Transparência no processo de licitação permitindo a contestação pública, por técnica e preço, das obras a serem licitadas; V - Mitigação dos Riscos Sistêmicos; VI - Manter a operação coordenada e centralizada necessária e inerente ao sistema hidrotérmico brasileiro; VII - Universalização do acesso e do uso dos serviços de eletricidade; e VIII - Modificação no processo de licitação da concessão do serviço público de geração priorizando a menor tarifa.
Ainda no tocante à referida Resolução, cumpre destacar que na sua
-se aposta a
manifestação de que o modelo do setor elétrico então vigente, não havia obtido os
do serviço e
desequilíbrios entre oferta e demanda, de apresentar de forma adequada os sinais
de preços e, portanto, sinai
rever as bases institucionais para o setor elétrico. Porém, não houve sinalização
com perspectivas de ampliação do ambiente competitivo e tampouco novas
iniciativas de privatização.
182
Como conseqüência d
mudanças no quadro das principais entidades deste segmento, que atualmente
compreende: o Ministério de Minas e Energia, o Conselho Nacional de Política
Energética, a Empresa de Pesquisa Energética, o Comitê de Monitoramento do
Setor Elétrico, o Operador Nacional do Sistema Elétrico, a Câmara de
Comercialização de Energia Elétrica e a Agência Nacional de Energia Elétrica
(ANEEL, 2011d, p. 4-5). As atribuições básicas dessas entidades encontram-se
detalhadas no quadro 2.
Entidades Atribuições Básicas
Ministério de Minas e Energia MME
O MME encarrega-se da formulação, do planejamento e da implementação de ações do governo federal no âmbito da política energética nacional.
Conselho Nacional de Política Energética
CNPE
Órgão de assessoramento do Presidente da República para formulação de políticas nacionais e diretrizes de energia, que visa, dentre outros, o aproveitamento racional dos recursos energéticos do país, a revisão periódica da matriz energética e o estabelecimento de diretrizes para programas específicos. É órgão interministerial presidido pelo Ministro de Minas e Energia MME.
Empresa de Pesquisa Energética EPE
(Decreto 5.184/2004)
Empresa pública federal dotada de personalidade jurídica de direito privado e vinculada ao MME. Tem por finalidade prestar serviços na área de estudos e pesquisas destinadas a subsidiar o planejamento do setor energético. Elabora os planos de expansão da geração e transmissão da energia elétrica.
Comitê de Monitoramento do Setor Elétrico CMSE
Constituído no âmbito do MME e sob sua coordenação direta, tem a função de acompanhar e avaliar permanentemente a continuidade e a segurança do suprimento eletroenergético em todo o território nacional.
Operador Nacional do Sistema Elétrico ONS
(Lei 9.648/1998)
Entidade jurídica de direito privado, sem fins lucrativos, sob regulação e fiscalização da ANEEL, responsável pelas atividades de coordenação e controle da operação da geração e da transmissão de energia elétrica do Sistema Interligado Nacional (SIN).
Câmara de Comercialização de
Energia Elétrica CCEE (Decreto 5.177/2004)
Entidade jurídica de direito privado, sem fins lucrativos, sob regulação e fiscalização da ANEEL, tem a finalidade de viabilizar a comercialização de energia elétrica no SIN e de administrar os contratos de compra e venda de energia elétrica, sua contabilização e liquidação.
Agência Nacional de Energia Elétrica ANEEL
(Lei 9.427/1996)
Autarquia sob regime especial, vinculada ao MME, tem a finalidade de regular e fiscalizar a produção, a transmissão, a distribuição e comercialização de energia elétrica, em conformidade com as políticas e diretrizes do governo federal. É o órgão responsável pela elaboração, aplicação e atualização dos Procedimentos de Distribuição (PRODIST).
Quadro 2 - Principais Entidades do Setor Elétrico Fonte: ANEEL (2011d, p. 4-5).
183
5.4 PANORAMA DA DISTRIBUIÇÃO
5.4.1 Dados gerais
Em 2009, o setor de distribuição de energia elétrica brasileiro era composto
por 64 concessionárias, das quais 19 com controle público (29,7%), e 45 com
controle privado (70,3%). Em termos de atendimento às unidades consumidoras
residenciais, as concessionárias com controle público respondiam por 30,9% do
mercado e as privadas por 69,1%. Em outubro de 2010, a distribuição de energia
elétrica alcançou a marca de 68,6 milhões de unidades consumidoras atendidas,
representando um acréscimo de 39% em relação a 2001, quando o país possuía
49,35 milhões de unidades (ANEEL, 2011a).
De forma mais detalhada, no tocante ao consumo, à receita de fornecimento e
ao número de unidades consumidoras por classe de consumo, a Tabela 2
demonstra a situação brasileira vigente naquela oportunidade.
Tabela 2 - Mercado Consumidor de Energia Elétrica
Classe de Consumo Consumo Receita Consumidores
MWh % R$ milhões % unidades % Residencial 9.199.234 34,7 2.796,23 39,6 58.329.331 85,0 Industrial 6.772.305 25,6 1.541,96 21,8 572.304 0,8 Comercial, Serviços e Outras 5.664.402 21,4 1.650,61 23,4 4.960.881 7,2 Rural 1.231.439 4,7 255,76 3,6 3.910.342 5,7 Poder Público 1.107.056 4,2 353,04 5,0 517.871 0,8 Iluminação Pública 1.045.221 3,9 176,82 2,5 76.520 0,1 Serviço Público 981.323 3,7 209,47 3,0 69.147 0,1 Rural Aquicultor e Irrigante 417.479 1,6 68,05 1,0 158.263 0,2 Consumo Próprio 55.918 0,2 15,72 0,2 8.451 0,0 Total Geral 26.474.377 100,0 7.067,66 100,0 68.603.110 100,0
Fonte: Adaptado dos dados ANEEL, relativos a outubro de 2010 (ANEEL, 2011b)
A classe residencial representava a maior parcela do mercado brasileiro de
distribuição; respondendo por 85% do número de unidades consumidoras, 39,6% da
receita de fornecimento, e por 34,7% do consumo de energia elétrica. Em termos de
184
consumo, a classe industrial vem logo a seguir, em razão de responder por 25,5%
d
consumidoras.
Ainda em outubro de 2010, a tarifa média de fornecimento de energia elétrica
no país era de R$ 240,16. A mais baixa, no valor de R$ 161,41, era destinada à
3 apresenta os valores médios tarifários então praticados para
cada classe de consumo, bem como, os valores percentuais das tarifas médias de
cada uma dessas classes em relação à tarifa média brasileira, bem como em relação
à menor tarifa média vigente no mercado brasileiro.
Tabela 3 - Tarifas na Distribuição de Energia Elétrica
Classe de Consumo Tarifa média de fornecimento - R$
% em relação à média geral
% em relação à média mais baixa
Residencial 303,96 126,6 188,3 Industrial 245,34 102,2 152,0 Comercial, Serviços e Outras 293,69 122,3 182,0 Rural 207,69 86,5 128,7 Poder Público 318,90 132,8 197,6 Iluminação Pública 169,17 70,4 104,8 Serviço Público 213,45 88,9 132,2 Consumo Próprio 307,26 127,9 190,4 Rural Aquicultor 180,69 75,2 111,9 Rural Irrigante 161,41 67,2 100,0 Total Geral 240,16 100,0 148,8
Fonte: Adaptado dos dados ANEEL, relativos a outubro de 2010 (ANEEL, 2011b)
É possível destacar que o maior segmento consumidor do país a classe
tões tarifárias, são
favorecidos em termos de tarifas mais baixas, os segmentos rurais compreendendo
Com base em dados de outubro de 2010, o Brasil possui 99 agentes de
distribuição de energia elétrica, dos quais 63 são concessionárias e 26 são
cooperativas de eletrificação rural. As três concessionárias com o maior número de
185
unidades atendidas são, em primeiro lugar, a Cemig Distribuição S/A, de Minas
Gerais, com 7 milhões de unidades ou 10,2% do total do mercado; em segundo, a
Eletropaulo Metropolitana Eletricidade de São Paulo S/A, com 6 milhões ou 8,8% do
total; e, em terceiro, a Companhia de Eletricidade do Estado da Bahia (Coelba), com
4,84 milhões ou 7,1% do mercado (ANEEL, 2011a). O panorama de atendimento do
mercado por parte das maiores concessionárias, pode ser observado na Tabela 4.
Tabela 4 - Participação na Distribuição de Energia Elétrica
Posição Agente Unidades Consumidoras Participação % Participação
acumulada % 1 CEMIG-D 7.030.386 10,2 10,2 2 ELETROPAULO 6.069.010 8,8 19,1 3 COELBA 4.846.286 7,1 26,2 4 COPEL-DIS 3.689.710 5,4 31,5 5 LIGHT 3.642.427 5,3 36,8 6 CPFL-PAULISTA 3.580.997 5,2 42,1 7 CELPE 3.073.546 4,5 46,5 8 COELCE 2.838.436 4,1 50,7 9 RGE 2.500.326 3,6 54,3
10 AMPLA 2.327.314 3,4 57,7 11 CELG-DIS 2.293.159 3,3 61,1 12 CELESC-DIS 2.264.133 3,3 64,4 13 ELEKTRO 2.174.854 3,2 67,5 14 CEMAR 1.808.853 2,6 70,2 15 CELPA 1.747.426 2,5 72,7 16 BANDEIRANTE 1.493.059 2,2 74,9 17 CEEE-DIS 1.458.672 2,1 77,0 18 CPFL-PIRATININGA 1.398.903 2,0 79,1 19 ESCELSA 1.228.268 1,8 80,9 20 AES-SUL 1.175.808 1,7 82,6 21 COSERN 1.117.874 1,6 84,2 22 EPB 1.094.525 1,6 85,8 23 CEMAT 1.032.070 1,5 87,3 24 CEPISA 943.670 1,4 88,7 25 CEAL 870.006 1,3 89,9 26 OUTRAS 6.903.392 10,1 100,0
TOTAL 68.603.110 Fonte: Adaptado dos dados ANEEL, relativos a outubro de 2010 (ANEEL, 2011a, 2011b)
Da análise dos dados apresentados na tabela acima, é possível constatar que
grande parte do mercado de distribuição de energia elétrica encontra-se
concentrada em apenas 25 concessionárias, que atendem praticamente 90% das
186
unidades consumidoras do país. Caso sejam consideradas apenas as 10 primeiras
concessionárias em volume de atendimento, verifica-se que essas respondem por
pouco mais da metade do mercado, ou seja, atendem 57,7% das unidades
consumidoras.
5.4.2 Procedimentos
As atividades técnicas relacionadas às operações dos sistemas de
distribuição de energia elétrica no Brasil, contemplando aspectos do funcionamento
e desempenho de tais sistemas, são normatizadas e disciplinadas pelos
Procedimentos de Distribuição (PRODIST). Tais documentos são elaborados pela
associaç
técnicos para as atividades relacionadas ao planejamento da expansão, à operação
2011d, p. 3).
aos sistemas elétricos de distribuição, que incluem todas as redes e linhas de
distribuição de energia elétrica em tensão inferior a 230kV, seja em baixa tensão
-se estruturado em oito
módulos que são: (1) introdução; (2) planejamento da expansão do sistema de
distribuição; (3) acesso ao sistema de distribuição; (4) procedimentos operativos dos
sistemas de distribuição; (5) sistemas de medição; (6) informações requeridas e
obrigações; (7) cálculo de perdas na distribuição; e (8) qualidade da energia elétrica
(ANEEL, 2011d, p. 5-6).
O módulo 1 apresenta os objetivos gerais, a legislação em vigor e um
glossário técnico. Por sua vez, o módulo 2 define pontos de conexão, requisitos
mínimos e critérios básicos de informação e demais procedimentos necessários para
o planejamento da expansão do sistema. Já o módulo 3 estabelece as condições de
conexão e de uso do sistema. O módulo 4 uniformiza procedimentos de
187
relacionamento entre os centros de operação das distribuidoras, das transmissoras e
dos centros de despacho de geração distribuída; define recursos mínimos de
comunicação e outros necessários à operação do sistema. No módulo 5 é tratada a
especificação das grandezas elétricas aplicáveis ao faturamento, à qualidade da
energia elétrica, ao planejamento da expansão e à operação do sistema. Nesse
projeto, montagem, comissionamento, inspeção e manutenção dos sistemas de
temas. O módulo 6 apresenta um
detalhamento do processo de intercâmbio das informações técnicas entre agentes
do sistema e, ainda, estabelece as suas obrigações, no sentido de atender aos
requisitos e procedimentos estabelecidos. Por sua vez, o módulo 7 estabelece a
metodologia e procedimentos para apuração de perdas, bem como os indicadores a
serem utilizados para avaliação das mesmas. E, finalmente, o módulo 8 trata da
qualidade do produto e do serviço prestado, contemplando, entre outros aspectos,
aqueles relacionados à continuidade de fornecimento, tempo de atendimento e
monitoramento automático dos indicadores de qualidade (ANEEL, 2011d, p. 6-12).
5.5 INVESTIMENTOS EM P&D
5.5.1 Antecedentes
A promoção do desenvolvimento sustentável, especialmente nos países em
desenvolvimento, demanda mudanças radicais nas formas de produzir e usar
energia, processo no qual, a eficiência energética e a P&D são fatores essenciais.
Essas mudanças, por sua vez, implicam na identificação de mecanismos internos
para financiamento, bem como, na criação de estrutura institucional e capacitação
de recursos humanos para as ações necessárias. Países como a África do Sul,
Brasil, China e Índia estão se esforçando nesse sentido (JANNUZZI, 2007, p. 235).
No caso brasileiro, uma das principais estratégias para superar esses desafios foi a
implantação da obrigatoriedade de investimentos em EE e em P&D no setor elétrico.
188
Com o início do processo de reestruturação e dos movimentos em direção à
privatização desse setor, durante os anos noventa, começaram a surgir dúvidas
quanto à continuidade das ações de EE, especialmente através do Programa de
Conservação de Energia Elétrica - PROCEL e também de continuidade das ações
de P&D, principalmente, via manutenção do Centro de Pesquisas de Energia
Elétrica - CEPEL, vinculado ao Grupo ELETROBRÁS, principal centro de pesquisa
do setor e extremamente dependente de contratos com concessionárias sob
controle público (JANNUZZI, 2007, p. 236).
Neste contexto, surgiu a obrigatoriedade de investimentos em EE e P&D,
inicialmente, via contratos de concessão de distribuição e geração, e a seguir,
através da legislação específica já abordada (Lei 9.991/2000), que foi objeto de
regulamentação via decretos e resoluções da ANEEL, especialmente, do Manual de
P&D que será tratado na sequência. Cabe ressaltar que as experiências
internacionais relacionadas à privatização e abertura à competição no setor elétrico,
desenvolvimento (P&D), seu redirecionamento para atividades de curto prazo e de
interesse próprio das concessionárias e na interrupção de programas de cooperação
Deve ser destacado que na época de criação da Lei 9.991/2000, existiam
evidências suficientes indicando que a concentração de esforços em determinados
programas não maximizava os benefícios sociais. Porém, com essa lei surgiu uma
nova modelagem de financiamento e utilização de recursos no setor elétrico, na
qual, além da obrigatoriedade das ações de P&D e EE por parte das empresas do
setor, também se destaca o surgimento do Fundo Setorial de Energia (CTEnerg),
destinado ao financiamento de ações de interesse público na área de energia,
especialmente aquelas relacionadas à eficiência energética. Posteriormente, com a
criação da EPE, parte dos recursos da Lei 9.991/2000 foi remanejada para financiar
essa empresa (JANNUZZI, 2007, p. 236-237). Também, foi possível observar
algumas ações governamentais no sentido de restringir a utilização dos recursos do
CTEnerg, inclusive, para sua finalidade fim, qual seja, a área de energia (JANNUZZI,
2007, p. 238).
A reestruturação do setor elétrico brasileiro, nos anos noventa, acentuou
falhas de mercado, especialmente pela:
189
criação de um ambiente competitivo e introdução de agentes privados num setor anteriormente marcado pela forte e centralizada presença do Estado em suas atividades e planejamento. Neste contexto, justifica-se garantir investimentos em P&D de interesse público, pois muito dificilmente esse tipo de atividade seria realizada pelas empresas privadas. (GOMES; JANNUZZI, 2004)
Além disso, as empresas nacionais e multinacionais estabelecidas no Brasil
sistema setorial de inovação e que influenciam na formação da taxa privada de
5.5.2 Marcos legais
A Lei 9.991/2000 é considerada o marco legal inicial que estabeleceu a
obrigatoriedade de investimentos em P&D e em eficiência energética no setor
elétrico por parte das geradoras, transmissoras e distribuidoras, conforme já
abordado e detalhado na introdução. Essa lei também, conforme o parágrafo único
do seu artigo 1º, determinou que as concessionárias de distribuição devem recolher
ao Tesouro Nacional um adicional de 0,30% de sua receita operacional líquida até o
final de 2012. Tais recursos, conforme o parágrafo 6º do artigo 4º da referida lei,
devem ser aplicados nas seguintes atividades do setor elétrico: universalização;
projetos socioambientais; eficiência e pesquisa energética; e pagamento de faturas
de energia elétrica de órgãos públicos estaduais e municipais; sendo os eventuais
saldos positivos devolvidos às empresas revertidos para fins de modicidade tarifária.
A referida lei, nos termos do parágrafo 2º do seu artigo 4º, também estabelece
energia elétrica, devem estar incluídos os que tratem da preservação do meio
Outra destinação, prevista no inciso III desse mesmo artigo, diz respeito aos
planejamento da expansão do sistema energético, bem como os de inventário e de
190
E, finalmente, cabe destacar que os recursos destinados ao FNDCT nos
termos do parágrafo 1º do artigo em questão, d
e projetos de pesquisa científica e desenvolvimento tecnológico do setor elétrico,
determinou a constituição de um Comitê Gestor, no âmbito do Ministério de Ciência
acompanhar a implementação das ações e avaliar anualmente os resultados
A Lei 9.991/2000, em apenas uma década de vigência, já sofreu diversas
alterações que estão ilustradas nas tabelas 5, 6, 7 e 8, apresentadas a seguir, que
também discriminam os investimentos obrigatórios em P&D. A primeira tabela indica
os percentuais que foram fixados em lei, obrigando as empresas do setor elétrico a
investir em P&D, procedimento que até então era previsto apenas em contratos de
concessão das áreas de geração e distribuição, assinados na década de noventa.
Também se destacam nesse primeiro instrumento legal, a previsão de aplicações
obrigatórias em eficiência energética para as empresas do setor de distribuição e os
repasses compulsórios para o FNDCT.
A tabela 5 também apresenta a modificação introduzida pela Medida
Provisória 144, de 10 de dezembro de 2003, no tocante aos investimentos
obrigatórios em P&D estabelecidos pela Lei 9.991/2000. Nesse sentido, o principal
destaque cabe à destinação de recursos para o MME, para a realização de estudos
e pesquisas relacionados ao planejamento da expansão do sistema energético, bem
como, ao aproveitamento de potenciais hidrelétricos.
Tabela 5 - Investimentos Obrigatórios Lei 9.991/2000 e Medida Provisória 144/2003 (em valores percentuais da Receita Operacional Líquida)
Segmento
Lei 9.991/2000 MP 144/2003 (alterou artigos da Lei 9.991/2000)
Vigência: 24/07/2000 à 11/12/2003 Vigência: 11/12/2003 à 14/03/2004
P&D PEE FNDCT P&D PEE FNDCT MME
Distribuição 0,25 0,50 0,25 0,125 0,50 0,25 0,125
Geração 0,50 - 0,50 0,25 - 0,50 0,25
Transmissão 0,50 - 0,50 0,25 - 0,50 0,25 Legenda: P&D - Pesquisa e Desenvolvimento; PEE - Programa de Eficiência Energética; FNDCT - Fundo Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico e MME - Ministério de Minas e Energia. Fonte: ANEEL.
191
Já a tabela 6, apresenta as alterações no percentual de investimentos em
P&D, introduzidos pela Lei 10.848/2004, através da qual, no segmento de
distribuição de energia elétrica, aumentaram os recursos destinados à P&D, ao
FNDCT e ao MME, com redução daqueles destinados ao PEE.
Tabela 6 - Investimentos Obrigatórios Lei 10.848/2004 (em valores percentuais da Receita Operacional Líquida)
Segmento
Lei 10.848/2004 (alterou artigos da Lei 9.991/2000)
Vigência: 15/03/2004 à 31/12/2005 Vigência: a partir de 1º/01/2006
P&D PEE FNDCT MME P&D PEE FNDCT MME
Distribuição 0,20 0,50 0,20 0,10 0,30 0,25 0,30 0,15
Geração 0,40 - 0,40 0,20 0,40 - 0,40 0,20
Transmissão 0,40 - 0,40 0,20 0,40 - 0,40 0,20 Legenda: P&D Pesquisa e Desenvolvimento; PEE Programa de Eficiência Energética; FNDCT fundo nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico e MME Ministério de Minas e Energia. Fonte: ANEEL.
Por sua vez, a tabela 7 mostra a nova alteração na destinação dos
investimentos obrigatórios das concessionárias do setor elétrico, promovida pela
Lei 11.465, de 28 de março de 2007, que prorrogou até 31 de dezembro de 2010, a
obrigação das empresas de distribuição a aplicarem, no mínimo, 0,50% (cinqüenta
centésimos por cento) de sua receita operacional líquida em PEE. Os valores
anteriormente fixados pela Lei 10.848/2004, por sua vez, passaram a ter vigência a
partir de 1º de janeiro de 2011.
Tabela 7 - Investimentos Obrigatórios Lei 11.465/2007 (em valores percentuais da Receita Operacional Líquida)
Segmento
Lei 11.465/2007 (alterou incisos I e III do artigo 1º da Lei 9.991/2000)
Vigência: 28/03/2007 à 31/12/2010 Vigência: a partir de 1º/01/2011
P&D PEE FNDCT MME P&D PEE FNDCT MME
Distribuição 0,20 0,50 0,20 0,10 0,30 0,25 0,30 0,15
Geração 0,40 - 0,40 0,20 0,40 - 0,40 0,20
Transmissão 0,40 - 0,40 0,20 0,40 - 0,40 0,20 Legenda: P&D Pesquisa e Desenvolvimento; PEE Programa de Eficiência Energética; FNDCT fundo nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico e MME Ministério de Minas e Energia. Fonte: ANEEL.
192
A alteração mais recente e que representa a situação atualmente vigente, foi
introduzida pela Lei 12.212, de 20 de janeiro de 2010, que novamente prorrogou a
vigência da obrigatoriedade de investir 0,5% em eficiência energética, transferindo
para 1º de janeiro de 2016, o início de aplicação da redução para 0,25% dos
investimentos nessa área. Com essa nova lei, as empresas de distribuição também
ficaram obrigadas a aplicar, no mínimo, 60% dos recursos destinados à eficiência
energética, em ações destinadas às unidades consumidoras beneficiadas pela Tarifa
Social, conforme demonstrado na tabela 8 a seguir.
Tabela 8 - Investimentos Obrigatórios Lei 12.212/2010 (em valores percentuais da Receita Operacional Líquida)
Segmento
Lei 12.212/2010 (alterou incisos I e III do artigo 1º da Lei 9.991/2000)
Vigência: 21/01/2010 à 31/12/2015 Vigência: a partir de 1º/01/2016
P&D PEE FNDCT MME P&D PEE FNDCT MME
Distribuição 0,20 0,50 0,20 0,10 0,30 0,25 0,30 0,15
Geração 0,40 - 0,40 0,20 0,40 - 0,40 0,20
Transmissão 0,40 - 0,40 0,20 0,40 - 0,40 0,20 Legenda: P&D Pesquisa e Desenvolvimento; PEE Programa de Eficiência Energética; FNDCT fundo nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico e MME Ministério de Minas e Energia. Fonte: ANEEL.
A Lei 9.991/2000 também foi regulamentada através de três decretos. O
primeiro emitido foi o Decreto 3.867, de 18 de julho de 2001, que entre outros
aspectos, estabeleceu atribuições para o citado Comitê Gestor e, com respeito aos
recursos destinados ao FNDCT, definiu que as atividades de pesquisa científica e
desenvolvimento tecnológico, nos termos do parágrafo único do seu artigo 1º,
compreendem:
I os projetos de pesquisa científica e tecnológica; II o desenvolvimento tecnológico experimental; III o desenvolvimento de tecnologia industrial básica; IV a implantação de infra-estrutura para atividades de pesquisa; V a formação de recursos humanos; e VI a difusão do conhecimento científico e tecnológico.
O segundo, Decreto 5.879, de 22 de agosto de 2006, tratou do recolhimento
dos recursos destinados ao custeio dos estudos e pesquisas de planejamento da
expansão do sistema energético e demais atividades já mencionadas. Já o terceiro,
193
Decreto 7.204, de 8 de junho de 2010, regulamentou a coleta dos recursos
destinados ao ressarcimento de Estados e Municípios que tiverem perda de receita
com o ICMS sobre combustíveis fósseis utilizados na geração de energia elétrica,
nos dois anos seguintes à interligação dos seus sistemas isolados ao SIN.
Finalmente, cabe ressaltar que o enfoque do presente trabalho são os
investimentos que as distribuidoras são obrigadas a realizar em P&D sob sua
responsabilidade e gestão. Esses investimentos, de acordo com a regulamentação
vigente no setor elétrico brasileiro, devem seguir as diretrizes e procedimentos
fixados pela ANEEL, no denominado Manual de P&D, cujas características serão
abordadas a seguir.
5.5.3 Manuais de P&D
A P&D no setor elétrico brasileiro está regulada pela ANEEL, através do
se encontra na sua quarta versão. A primeira versão desse
manual, destinada às atividades de P&D nos anos de 1999 e 2000, detalhou os
procedimentos para a apresentação dos programas e respectivos projetos das
concessionárias de geração e distribuição de energia elétrica, as quais, segundo
0,1% e 0,25%, respectivamente, da Receita Operacional Anual (RA0) apurada no
Nesse manual também foram apresentados diversos conceitos relacionados
aos projetos de P&D, entre os quais, o conceito das atividades de P&D, qual seja:
estoque de conhecimentos e no uso deste estoque para perscrutar novas
básica dirigida, pesquisa aplicada e desenvolvimento experimental (ANEEL, 1999,
p. 1).
Segundo as diretrizes então estabelecidas, cada concessionária deveria
apresentar seus projetos de P&D, através de um Programa Anual de P&D, cabendo
à ANEEL a análise e aprovação des
194
execução dos projetos aprovados, bem como fiscalização destes, quando
com Agências Estaduais delegadas para o exercício destas atividades ou, ainda,
Por sua vez, os projetos de P&D podiam ser executados diretamente pelas
concessionárias ou por entidades sediadas no Brasil, cabendo à ANEEL, o
levantamento, cadastramento e disponibilização de informações sobre tais
entidades, bem como, o cadastramento dos projetos de P&D e divulgação de seus
resultados.
A segunda versão do manual foi lançada em 2001, após a promulgação da já
mencionada Lei 9.991/2000, tendo por
projetos de P&D de modo a alocar eficientemente os recursos disponíveis para gerar
inovação tecnológica, vetor de crescimento de todas as economias desenvolvidas do
planeta, e não a simples atualização tecnol
sentido, apresentou revisões em diversos procedimentos, entre os quais, os
aplicados à elaboração, análise e fiscalização dos projetos. Também incluiu
orientações sobre as contribuições obrigatórias ao FNDCT e introduziu a submissão
eletrônica dos projetos e Programas Anuais de P&D (ANEEL, 2001, p. 1).
Já a terceira versão, lançada em 2006, expressou:
as alterações legais e regulamentares relacionadas ao Programa de P&D, os aperfeiçoamentos identificados pelas áreas responsáveis do Programa de P&D na ANEEL, e o esforço em oferecer ao Setor de Energia Elétrica procedimentos para catalisar a busca do novo envolvida nas atividades de pesquisa, desenvolvimento e inovação tecnológica (ANEEL, 2006, p. 1).
Os critérios de avaliação das propostas de projetos de P&D, estabelecidos na
terceira versão do manual, contemplavam: a factibilidade do plano de pesquisa; a
transferência de resultados; a qualificação e disponibilidade do coordenador e da
equipe; a razoabilidade dos cust
energia elétrica, entidade(s) executora(s) ou participante(s), setor elétrico,
Essa versão também apresentou as seguintes áreas em que seriam
necessários investimentos em P&D: eficiência energética; fonte renovável ou
alternativa de geração de energia elétrica; meio ambiente; qualidade e
confiabilidade; planejamento e operação de sistemas elétricos; supervisão, controle
195
e proteção de sistemas elétricos; medição e faturamento; transmissão de dados por
redes elétricas; novos materiais e componentes; desenvolvimento de tecnologia para
combate a furto e fraude de energia elétrica e pesquisa estratégica (ANEEL, 2006,
p. 29-35).
A quarta e atual versão do manual, lançada em 2008, a exemplo da terceira,
também aprestou revisões para atender as alterações da legislação e regulatórias
do setor, bem como as necessidades de aperfeiçoamentos identificadas pelas
unidades da ANEEL, responsáveis pelas atividades relacionadas aos programas de
P&D (ANEEL, 2008, p. 8). Nessa versão, a ANEEL deixou de relacionar os temas
para investimentos em P&D, entendendo que as atividades do setor são amplas,
genéricas e dinâmicas e, dessa forma, não devem estar restritas a temas estáticos.
Por outro lado, a referida Agência assumiu a responsabilidade, enquanto
órgão regulador, de identificar os principais desafios tecnológicos e prioridades do
setor e, assim, passou a disponibilizar em seu portal temas e subtemas para os
investimentos em P&D, que serão atualizados e complementados sempre que
projetos de P&D sejam enquadrados em um desses temas e subtemas (ANEEL,
2008, p. 17).
Uma novidade em relação aos procedimentos até então vigentes, foi que a
avaliação dos projetos começou a contemplar duas etapas. Uma, a avaliação inicial,
de caráter opcional, que tem por objetivo avaliar o enquadramento do projeto como
P&D, bem como sua relevância para o setor elétrico. Outra, a avaliação final, de
ra a
avaliação, em ambas as etapas, os critérios de originalidade, aplicabilidade,
relevância e razoabilidade dos custos, aos quais são atribuídos pontos que definem
a aprovação ou não do projeto, cujas características básicas estão detalhadas no
quadro 3 (ANEEL, 2008, p. 19-22).
196
Critérios Parâmetros
Originalidade
avaliação inicial: estado-da-arte, desafios e avanços propostos, problema a ser solucionado, ausência ou custo elevado de solução disponível. avaliação final: produto pretendido alcançado e/ou técnica inovadora proposta implementada, sendo nos casos cabíveis, apresentadas justificativas e avaliado o mérito científico da pesquisa realizada.
Aplicabilidade âmbito e potencial de aplicação: especialmente, do produto principal no tocante à instituição (executora da P&D, concessionária ou setor elétrico) e à abrangência (área, segmento, classe, número de consumidores, etc.).
Relevância
capacitação profissional: número e tipo de monografias, dissertações e teses defendidas pela equipe do projeto de P&D ou pela participação em disciplinas de pós-graduação. capacitação tecnológica: produção técnico-científica - pertinência de publicações em periódicos e anais; apoio à infraestrutura de P&D - pertinência de materiais permanentes e equipamentos, área e entidade beneficiada; propriedade intelectual - solicitações de patentes, modelos de utilidade, registro de software ou desenho industrial. impactos socioambientais: benefícios e/ou prejuízos ao meio ambiente e à sociedade, contemplando, especialmente, impactos ambientais (água, ar ou solo), diversificação da matriz energética e desenvolvimento de nova atividade econômica (lazer, turismo, pesca, agricultura, etc.).
impactos econômicos: descrição detalhada no critério de razoabilidade dos custos.
Razoabilidade dos custos
produtividade: mudanças em processos, reduzindo homem-hora, materiais, insumos e/ou tempo de execução de atividades. qualidade do fornecimento: redução do índice de reclamações, dos índices de continuidade (DEC, FEC e TMA) e dos índices de qualidade da energia fornecida, como VTCDs e outros distúrbios na rede. gestão de ativos: ganhos pela redução ou postergação de investimentos na expansão ou manutenção de sistema elétrico; e redução do índice de roubo de equipamentos ou materiais. perdas não-técnicas (ou comerciais): redução de fraudes e desvios, erros de medição e faturamento, ou da inadimplência nas diversas classes de consumo. mercado da empresa: redução do custo da energia gerada ou adquirida e/ou dos erros de previsão do mercado futuro de energia elétrica. eficiência energética: ganhos com a eficiência energética na geração, transmissão ou distribuição; ou no uso final da energia elétrica, via economia de energia ou redução da demanda no horário de ponta.
Quadro 3 - Critérios e parâmetros de avaliação dos projetos de P&D Fonte: ANEEL (2008, p. 52-58)
O sistema de notas e conceitos na avaliação dos projetos é aplicado tanto na
fase inicial, quando as propostas de projetos são avaliadas com base nos resultados
esperados; como na final, através da avaliação dos resultados obtidos. De acordo
com as notas obtidas segundo os quatro critérios citados, o projeto pode receber
197
conceito de inadequado, insuficiente, aceitável, bom e excelente, conforme
detalhado no quadro 4.
Nota (N) Conceito Consequências
Inadequado reprovação e gastos do projeto estornados à conta P&D.
2,0 < N < 3,0 Insuficiente aprovação parcial e gastos reconhecidos parcialmente (10% a 90%), conforme a nota do projeto, com a diferença estornada à conta P&D.
Aceitável aprovação e gastos reconhecidos total ou parcialmente, dependendo da aprovação dos gastos incorridos, com a diferença estornada à conta P&D.
Bom aprovação e gastos reconhecidos total ou parcialmente, dependendo da aprovação dos gastos incorridos, com a diferença estornada à conta P&D.
Excelente aprovação e gastos reconhecidos total ou parcialmente, dependendo da aprovação dos gastos incorridos, com a diferença estornada à conta P&D.
Quadro 4 - Consequências do resultado da avaliação dos projetos de P&D Fonte: ANEEL (2008, p. 58-60)
Nesse processo de avaliação dos projetos finalizados, o principal risco para
empresa é que os seus dispêndios incorridos nos projetos sejam rejeitados ou
parcialmente aceitos. Nesses casos, os valores correspondentes deverão ser
estornados à conta de P&D, o que significa dizer, que a empresa deverá investir tais
valores em novos projetos.
A versão de 2008 do Manual de P&D, também apresenta o conceito de
mpresa ou no mercado de produtos,
processos, métodos ou sistemas não existentes anteriormente, ou com alguma
característica nova e diferente daquela até então em vigor, com fortes repercussões
ecnológica pode
compreender produtos ou processos. As inovações tecnológicas de produtos
ocorrem quando as características de um produto são alteradas para propiciar
combinação de tecnologias existentes para atender novos usos ou, ainda, melhorar
-
investimentos proporcionalmente pequenos frente às estimativas de ganhos. Por sua
vez, as inovações tecnológicas de processos, compreendem as mudanças
198
novos equipamentos ou novos métodos de organização e de gerência. O
aperfeiçoamento das organizações não pode ser obtido utilizando-se plantas ou
métodos convencionais, ou sem aumentar a eficiência do processo produtivo de
equipamentos ou tecnologias existentes (ANEEL, 2008, p. 65).
Atualmente, as atividades de P&D reguladas pela ANEEL compreendem as
reendedora, desenvolvidas
sistematicamente, com vistas à geração de novos conhecimentos ou aplicação
inovadora de conhecimentos existentes, inclusive para investigação de novas
a
pesquisa aplicada, desenvolvimento experimental, cabeça-de-série, lote pioneiro e
inserção no mercado.
m por
busca de conhecimento sobre novos fenômenos, com vistas ao
desenvolvimento de produtos e processos inovadores. Envolve a análise de
propriedades, estruturas e conexões para formular ou comprovar hipóteses, teorias
, por exemplo, estudos relacionados às propriedades
elétricas e morfológicas de materiais condutores e isolantes. Por sua vez, a
vistas ao desenvolvimento ou aprimoramento de produtos e processos. Conduz à
descoberta de aplicações do conhecimento advindo da pesquisa básica dirigida ou
outras possibilidades, do desenvolvimento de equipamentos, componentes e
sistemas (ANEEL, 2008, p. 61).
demonstração da viabilidade técnica ou funcional de novos produtos, processos,
Pode compreender, por exemplo, o desenvolvimento de softwares; protótipos de
equipamentos; aperfeiçoamentos graduais em produtos, processos, ou serviços
existentes; projetos de demonstração e projetos piloto, entre outras possibilidades
(ANEEL, p. 61-62).
A abeça-de- ao aperfeiçoamento do
protótipo obtido anteriormente, compreendendo a melhoria do seu desenho e de
199
suas especificações, bem como, a caracterização básica da linha de produção e do
produto. Posteriormente, a fa
-de-
validação, análise de custos e refino do projeto, com vistas à produção industrial
em- que
encerra a cadeia da inovação e tem por objetivo difundir os resultados obtidos no
âmbito do setor elétrico. Essa fase pode compreender atividades relacionadas aos
estudos mercadológicos, materiais de divulgação, registros de patentes e serviços
jurídicos (ANEEL, 2008, p. 62).
Atualmente, ainda em conformidade com a quarta edição do manual de P&D,
as empresas também são obrigadas a atualizar e apresentar anualmente, seu plano
estratégico de P&D que, para um horizonte mínimo de cinco anos, deve contemplar
os temas dos projetos, os objetivos pretendidos e as justificativas para a escolha
desses temas e de suas linhas de pesquisa (ANEEL, 2008, p. 25). Além dos projetos
de seu interesse exclusivo, as concessionárias podem também desenvolver projetos
de P&D cooperativo, entre duas ou mais empresas, e projetos estratégicos que são
p. 30-31).
200
6 ANÁLISE EMPÍRICA DO SETOR ELÉTRICO BRASILEIRO
6.1 CONSIDERAÇÕES PRELIMINARES
A análise de dados compreendeu a utilização de três fontes de dados
distintas, divulgadas pela ANEEL em seu portal eletrônico:
a) Relatórios Anuais de Responsabilidade Socioambiental das Empresas de
Energia Elétrica (RSA);
b) Manual do Programa de Pesquisa e Desenvolvimento Tecnológico do
Setor de Energia Elétrica (Manual de P&D);
c) Temas para Investimento em P&D (Temas de P&D).
Ressalta-se que para os fins da pesquisa, , supracitados,
foram considerados como os instrumentos reguladores da P&D. Por outro lado, tal
exame foi realizado com a utilização dos métodos de análise de dados em painel;
correlação estatística; e análise de conteúdo.
Para fins de estruturação dos trabalhos, também foram consideradas as três
categorias de análise descritas anteriormente, na sessão de metodologia, que são o
Serviço Adequado, Resultado Empresarial e Áreas de P&D. O relacionamento
desses elementos é apresentado na figura 4.
201
- - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - Bases de dados - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - Métodos - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - Categorias de Análise - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - -
Figura 4 - Esquema Metodológico Fonte: Resultados da pesquisa
A análise quantitativa, contemplando os métodos de dados em painel e de
correlação estatística, foi baseada nos dados obtidos dos RSAs abrangeu as três
citadas categorias de análise. Por sua vez, a análise qualitativa, contemplando o
método da análise de conteúdo, foi fundamentada nos dados oriundos do Manual e
dos Temas de P&D. E, os resultados da análise, envolvendo a categoria Áreas de
P&D, foram utilizados para identificar eventuais relações com as outras duas
categorias, quais sejam Serviço Adequado e Resultado Empresarial.
Por outro lado, cabe destacar que a maior parte dos dados para análise foram
obtidos dos RSAs das concessionárias de distribuição, disponíveis no portal da
ANEEL, o qual, na data do levantamento, apresentava os relatórios relativos aos
anos de 2007, 2008 e 2009. Nessa oportunidade, foram localizados relatórios de,
respectivamente, 62 distribuidoras em 2007, 64 em 2008, e 63 em 2009, totalizando
189 relatórios. Como o levantamento preliminar para a pesquisa foi realizado com a
base de 2008, inicialmente considerou-se que a população do setor de distribuição
seria composta de 64 concessionárias.
Relatórios de Responsabilidade
Socioambiental
Manual de P&D
Temas para Investimento em
P&D
Dados em Painel
Correlação Estatística
Análise de Conteúdo e Aderência Conceitual
Serviço Adequado
Resultado Empresarial
Áreas de P&D
202
Conforme as disposições do Manual de Elaboração do RSA (ANEEL, 2006b),
os indicadores devem ser fornecidos com relação a três períodos distintos:
a) ano base;
b) defasagem de um ano (ano-1);
c) defasagem de dois anos (ano-2).
Dessa forma, no levantamento também foram apurados dados relativos aos
anos de 2005 e 2006, além dos anos de 2007, 2008 e 2009. Para o levantamento
inicial, foram consultadas as bases de 2007 e 2009, sendo utilizada a base de 2008
apenas para confirmação e/ou eventual complementação de dados. De qualquer
forma, o levantamento para as análises quantitativas envolveu 37 tipos de dados,
demandando mais de 11,6 mil registros.
Foi constatado que diversas concessionárias, inclusive de grande porte, não
seguiram as diretrizes fixadas pelo referido manual, ou, quando o fizeram, também
em vários casos não apresentaram os dados completos na forma prevista. Outro tipo
de ocorrência foram as discrepâncias de dados de um para outro ano, constatadas
nos relatórios de algumas concessionárias. Nesses casos, optou-se por utilizar
sempre o dado mais recente disponível. Especificamente no tocante aos
investimentos em P&D, em alguns relatórios foram observadas divergências entre os
valores percentuais e os expressos em reais. Nesse sentido, todos os dados foram
colhidos em valores monetários. Nos poucos casos das empresas que não
especificaram
Esse item também abrigou eventuais diferenças entre o valor total de investimentos
em P&D e os valores específicos investidos em cada área.
Para garantir consistência operacional de algumas análises estatísticas
realizadas, foram retiradas da base de dados utilizada, as informações relativas ao
ano de 2005. Nesse ano foi constatado um índice elevado de indicadores não
apresentados nos relatórios.
203
6.2 ANÁLISE QUANTITATIVA
6.2.1 Dados em painel
A análise de dados em painel compreendeu a utilização de 19 modelos
básicos, nos quais
considerada como variável independente, tendo em vista que os investimentos
pertinentes às mesmas são obrigatórios. Também foram consideradas defasagens
de um e dois anos, entre o investimento em P&D e o resultado da variável
dependente, bem como, foi utilizada uma variável dummy, para analisar o efeito do
tipo de empresa, no caso, as controladas e as não controladas pelo Poder Público.
Cada um dos modelos contemplou uma variável dependente específica que,
juntamente com a variável independente, deram origem às variáveis regressoras e
eventuais constantes. A combinação dessas alternativas implicou na análise de 76
possibilidades, cujo resumo de resultados está apresentado na Tabela 9, que
apresenta as regressões em relação à intensidade de P&D. Também foi necessário
depurar a amostra, pois diversas concessionárias não apresentaram informações
completas. Essa depuração consistiu em eliminar os dados das concessionárias que
no período de 2006 a 2009, apresentaram menos de 80% dos dados previstos.
Dessa forma, o tamanho da amostra ficou reduzido para 42 concessionárias.
204
Tabela 9 - Regressões em relação à intensidade de P&D
Variáveis Defasagens Temporais
Um ano Dois anos
sigla denominação regressores
regressores com dummy*
regressores
regressores com dummy*
A03 Regularidade Reclamações NA NA NA NA
A04 Continuidade DEC A04(-1) NA A04 (-1) A04(-1) e G2
A05 Continuidade FEC A05(-1) A05(-1) A05(-1) e
A01(0 e -2) A05(-1) e
A01(0 e -2)
A06 Eficiência Perdas totais A06(-1) A06(-1) A06(-1) A06(-1)
A07 Eficiência Valor adicionado A07(-1) e K A07(-1) e K A07(-1) e K A07(-1) e K
A08 Eficiência Riqueza a distribuir A08(-1) A08(-1) A01(-2) A01(-2)
A09 Segurança TG empregados NA NA A09(-2) A09(-2)
A10 Segurança TG terceirizados
A10(-1) A10(-1) A10(-1) A10(-1) e A01 e A01 e K e K
A11 Segurança TG consumidores A11(-1) A11(-1) A11(-1 e -2) A11(-1 e -2)
e K
A12 Atualidade Expansão dis/tra A12(-1) A12(-1) A12(-1) A12(-1)
A13 Atualidade Renovação dis/tra A13(-1) A13(-1) e K NA NA
A14 Atualidade Subtransmissão NA NA NA NA
A15 Generalidade Universalização A15(-1) A15(-1) A15(-1 e -2) A15(-1 e -2)
A16 Cortesia IASC
A16(-1) A16(-1) A16(-2), A16(-2), e K e K A01(-2) e K A01(-2) e K
A17 Modicidade Tarifas residenciais
A17(-‐1) A17(-‐1) A17(-‐1 E -‐2) A17(-‐1 E -‐2) e K e K e K e K
A20 Lucratividade Ebitda / Lajida NA NA NA NA
A21 Rentabilidade do patrimônio líquido
A21(-1), A21(-1) NA NA A01(-1) e K e K
A22 Energia / consumidor GWh / cons. cativos
A22(-1) A22(-1) A22(-2) A22(-2) K K
A23 Receita / consumidor R$ mil / cons. cativos A23(-1) e K A23(-1) e K A23(-1 e -2) A23(-1 e -2)
(*) inclui tipo de empresa. Legenda: RS: regressão com significância, K: constante, G: constante do tipo de empresa (dummy), NA: não aplicável (não foi constatada significância para a regressão). Fonte: Resultados da pesquisa.
Para identificar as variáveis regressoras com significância, foram efetuadas
estimativas com o Método Mínimos Quadrados Ordinários (Ordinary Least Squares -
205
OLS). A seguir, foram selecionados os casos em que o coeficiente Wald (joint), que
apresentou valor inferior a 0.05, indicando significância para a regressão.
Posteriormente, nos casos selecionados, foi verificada a significância de cada
variável isolada, com o critério t-prob < 0.05, indicando nesses casos, significância
, que indica
aproximadamente o percentual de variância da variável dependente, que é explicado
pelas variáveis regressoras.
Nas 76 possibilidades analisadas, foi possível constatar a ausência de
indicações significativas no tocante ao tipo de empresa, sugerindo que, em relação
às variáveis estudadas, não faz diferença o controle das concessionárias de
distribuição ser público ou privado. De forma mais específica, foi observado que em
48 casos (63,2%), a significância estava associada à auto-regressão, ou seja, ao
próprio comportamento anterior da variável dependente que, em vários casos,
também estava associada a uma constante. Por outro lado, outros 19 casos (25%)
não apresentaram indicativos de significância na regressão. Dessa forma, para
88,2% das possibilidades estudadas, não é possível afirmar que existe correlação
significativa das variáveis dependentes em relação à variável independente, ou que,
caso existente, a correlação não é significativa.
Com base nesses primeiros resultados, ficou descartada a possibilidade da
variáveis dependentes estudadas, quais sejam, respectivamente, para as seguintes
categorias:
a)
b) ,
Por outro lado, a situação das demais variáveis, contempladas nos 11,8% das
possibilidades restantes, demanda algumas considerações mais detalhadas.
206
6.2.1.1 Serviço adequado
Conforme já exposto, na categoria Serviço Adequado merecem um exame
mais detalhado os casos das variáveis: FEC (A05), Riqueza (A08), TG terceirizados
(A10) e IASC(A16).
No tocante à variável FEC (A05), nas quatro possibilidades analisadas, duas
indicaram significância na regressão em relação à própria variável, A05(-1),
caracterizando a condição de auto-regressão. Nas outras duas alternativas, que
também apresentaram significância na regressão, além da dependência dessa
mesma variável regressora, A05(-1), também foi constada significância em relação à
variável independente, através de duas regressoras, A01 e A01(-2), ou seja, variável
independente no tempo zero e com defasagem de dois anos. Os respectivos
resultados são apresentados na tabela 10.
Tabela 10 - FEC (A05): resultados dos dados em painel
Regressores significantes
Defasagem 2 anos sem dummy Defasagem 2 anos com dummy
coeficiente t-prob coeficiente t-prob
A05(-1) 0.985635 0.000 0.989246 0.000
A01 743.005 0.017 697.903 0.026
A01(-2) -757.244 0.016 -802.284 0.012
R^2 0.9641581 0.9647427
Fonte: Resultados da pesquisa.
Nos casos em que a variável FEC apresenta significância na dependência da
variável independente, é possível observar, com base no valor do coeficiente, uma
baixa dependência em relação ao seu comportamento anterior defasado de um ano,
A05(-1), especialmente quando comparado aos coeficientes obtidos para a variável
independente (A01). Com relação a essa última, é possível considerar um impacto
positivo no ano zero e um impacto negativo quando se considera uma defasagem de
dois anos. Partindo-se da premissa que o impacto da P&D demanda um certo tempo
para ocorrer, é possível considerar que a variável independente, defasada de dois
anos, influencie negativamente o comportamento da variável dependente. Ou seja, a
207
Intensidade de P&D tende a reduzir o valor da FEC, especialmente, ainda, se
considerado o elevado poder de explicação dado por R^2 (96%).
Com relação à variável Riqueza (A08), nas quatro possibilidades, todas com
um viés auto-regressivo, duas indicaram significância na regressão associada à
variável independente defasada de dois anos, A01(-2). Os resultados pertinentes
encontram-se expostos na tabela 11.
Tabela 11 - Riqueza (A08): resultados dos dados em painel
Regressores significantes
Defasagem 2 anos sem dummy Defasagem 2 anos com dummy
coeficiente t-prob coeficiente t-prob
A01(-2) 27423.4 0.002 27401.0 0.002
R^2 0.3367681 0.3372166
Fonte: Resultados da pesquisa.
Em ambos os casos da variável Riqueza, é possível observar, com base no
valor do coeficiente, um impacto positivo da variável Intensidade de P&D, quando se
considera uma defasagem de dois anos. Assim, a variável independente tende a
aumentar o valor da Riqueza, com uma explicação de R^2 na ordem de 34%.
No caso da variável TG terceirizados (A10), entre as quatro possibilidades
consideradas, duas indicaram significância na regressão em relação à variável
independente no tempo zero (A01) e, mesmo assim, associada à própria variável,
A10(-1), ou seja, auto-regressão com defasagem de um ano. Nas possibilidades
envolvendo a defasagem de dois anos, os resultados indicaram apenas significância
para a dependência em relação à própria variável, ou seja, auto-regressão; e de
dependência de uma constante. Os resultados relativos à dependência da variável
TG terceirizados (A10)em relação à variável independente estão apresentados na
tabela 12. Tabela 12 - TG terceirizados (A10): resultados dos dados em painel
Regressores significantes
Defasagem 1 ano sem dummy Defasagem 1 ano com dummy
coeficiente t-prob coeficiente t-prob
A10(-1) 0.0830838 0.019 0.0841184 0.018
A01 1.68924e+006 0.022 1.75555e+006 0.020
R^2 0.13877992 0.1418209
Fonte: Resultados da pesquisa.
208
Em ambos os casos da variável TG terceirizados (A10), com base no valor do
coeficiente de regressão, foi constatada uma baixa dependência da mesma em
relação ao seu comportamento anterior defasado de um ano,expresso por A10(-1).
Essa baixa dependência é, especialmente, ressaltada quando se considera o baixo
valor dos coeficientes obtidos, com e sem a variável dummy, em relação à variável
independente (A01). Porém, foi constatada a possibilidade de um impacto positivo
da intensidade de P&D (A01) em relação à TG terceirizados (A10) no ano zero, ou
seja, no mesmo ano em que o investimento é realizado verifica-se uma alteração
positiva na variável em questão. Partindo-se da já mencionada premissa de que o
impacto da P&D demanda um certo tempo para ocorrer, é possível considerar que
se esteja frente a uma correlação espúria. Reforçando tal entendimento, também
não é razoável considerar que a Intensidade de P&D contribua para uma maior
gravidade dos acidentes com pessoal terceirizado, no caso, representada pela
variável em questão (A10).
No tocante à variável IASC (A16), as quatro possibilidades indicaram
significância na regressão e, todas com indicativo de auto-regressão e dependência
de uma constante. Entretanto, nas possibilidades com defasagem de dois anos, foi
identificada a dependência em relação à variável Intensidade de P&D. Os
respectivos resultados, relativos a essas duas últimas variáveis, são apresentados
na tabela 13.
Tabela 13 - IASC (A16): resultados dos dados em painel
Regressores significantes
Defasagem 2 anos sem dummy Defasagem 2 anos com dummy
coeficiente t-prob coeficiente t-prob
A16(-2) 0.575191 0.000 0.574502 0.000
A01(-2) -2105.37 0.001 -2106.34 0.001
K 22.1144 0.001 22.1391 0.001
R^2 0.5547605 0.5547683
Fonte: Resultados da pesquisa.
Em ambos os casos da variável IASC, é possível observar uma baixa
dependência em relação ao seu comportamento anterior defasado de dois anos,
A16(-2) e à constante (K). Com relação à variável independente defasada de dois
anos, A01(-2) é possível considerar um impacto negativo, ou seja, é possível
209
considerar a reduzir o valor da variável IASC, com
um razoável poder de explicação dado por R^2 (55%).
6.2.1.2 Resultado empresarial
Conforme já exposto, na categoria Resultado Empresarial, a variável
Rentabilidade (A21) é a única a merecer maiores considerações. Dois dos quatro
modelos não apresentaram significância de regressão, e os outros dois
apresentaram dependência da própria variável, de uma constante e, apenas em um
dos casos, da variável independente defasada em um ano, A01(-1). Na tabela 14,
apresentam-se os resultados relativos aos casos com significância.
Tabela 14 - Rentabilidade (A21): resultados dos dados em painel
Regressores Defasagem 1ano sem dummy Defasagem 1 ano com dummy
significantes coeficiente t-prob coeficiente t-prob
A21(-1) 0.319764 0.024 0.328761 0.023
A01(-1) -12301.7 0.047 não significante
K 34.8794 0.031 38.2376 0.037
R^2 0.0996076 0.1010878
Fonte: Resultados da pesquisa.
Com base nos resultados apresentados para a Rentabilidade, relativos à
defasagem de um ano sem dummy, é possível constatar que a maior dependência é
com relação à variável independente defasada em um ano, porém de caráter
negativo, ou seja, a Intensidade de P&D após um ano, implica em redução da
rentabilidade.
210
6.2.2 Correlação estatística
Na análise via correlação estatística de Spearman, foram analisadas
19 variáveis, contemplando as 42 concessionárias selecionadas segundo o critério já
mencionado, ou seja, aquelas que apresentaram mais de 80% dos dados previstos.
Para tal finalidade, foi utilizado o software SSPS. Além da amostra geral, as
concessionárias também foram analisadas segundo dois tipos de empresa: as com
controle público (tipo 1), e as com controle privado (tipo 2). As 19 variáveis
dependentes (A03 a A17 e A20 a A23) foram analisadas de acordo com seu valor
em 2009 (ano zero). Já para a variável independente (A01), foram considerados três
cortes transversais, 2007, 2008 e 2009. Dessa forma foi possível avaliar o grau de
relacionamento entre a variável dependente e as dependentes, com defasagem de
dois anos, de um ano e sem defasagem. A combinação dos cortes transversais,
conjuntos de dados (geral, tipo 1 e 2) e as 19 variáveis, gerou 171 possibilidades
para discussão.
Para a avaliação inicial, foram selecionadas apenas as possibilidades de
correlações com significância menor que 0,05 (2-tailed). Dessa forma, com os dados
processados foram obtidas 28 (16,4%) ocorrências com significância, sendo 12 (7%)
no conjunto geral, 6 (3,5%) no subconjunto das empresas do tipo 1, e 9 (5,3%) no
das empresas do tipo 2.
Por outro lado, não foram encontradas correlações significativas entre a
variável independente (com valores de 2007, 2008 e 2009) em relação a cinco
variáveis dependentes (com valores de 2009), quais sejam, para as seguintes
categorias, respectivamente:
a) Serviço Adequado: Riqueza (9A08), TG empregados (9A09), TG
consumidores (9A11) e IASC (9A16);
b) Resultado Empresarial: Energia/consumidor (9A22).
Também não foram encontradas correlações significativas das variáveis
dependentes analisadas em separado, nos grupos tipo 1 e 2, em relação à variável
independente defasada de dois anos. Considerando o conjunto geral, ou seja, com
as empresas do tipo 1 e 2 na mesma amostra, foi identificado apenas um caso de
correlação significativa da variável independente defasada de dois anos, referente à
variável Reclamações (9A03). Nesse caso, para uma amostra com 32 empresas, foi
211
obtido um coeficiente de Spearman (rsp) igual a 0,361287, e uma significância de
0,04219. Os demais casos selecionados com base no critério de significância da
correlação de Spearman são os constantes da tabela 15.
Tabela 15 - Correlações significativas na Intensidade de P&D (A01)
Variáveis Base 2009 Geral Tipo 1 Tipo 2
2008 2009 2008 2009 2008 2009 (8A01) (9A01) (8A01) (9A01) (8A01) (9A01)
9A04 coef.
-0,37864
-0,46982 DEC sig.
0,01907
0,01012
N
38
29 9A05 coef. -0,32708
-0,37837
FEC sig. 0,04503
0,04298
N 38
29
9A06 coef. -0,42120 -0,41989
-0,54112 Perdas sig. 0,00943 0,00967
0,00294
N 37 37
28 9A07 coef. -0,38156
-0,78333
Valor adicionado sig. 0,01979
0,01252
N 37
9
9A10 coef.
0,8571429
TG terceirizados sig.
0,0136973
N
7 9A12 coef. -0,45118 -0,4756
-0,62051 -0,48855
Expansão dist/tra sig. 0,00740 0,0045
0,00072 0,01133
N 34 34
26 26
9A13 coef. -0,60897
-0,83333
-0,57950 -0,37165 Renovação dis/tra sig. 0,00036
0,01018
0,00471 0,08856
N 30
8
22 22
9A14 coef.
-1 Subtransmissão sig.
0,000001
N
4 9A15 coef.
-1
Universalização sig.
0,000001 N
3
9A17 coef. -0,36866 -0,40182
-0,40177 -0,50794 Tarifas sig. 0,02275 0,01240
0,03074 0,00491
N 38 38
29 29
9A20 coef.
0,387284 Ebitda/Lajida sig.
0,019617
N
36 9A21 coef.
-0,766667
Rentabilidade sig.
0,015944
N
9
9A23 coef.
0,415568 Receita/consumidor sig.
0,024964
N
29 Legenda: coef.: coeficiente de Spearman; sig.: significância a 0.05; N: número de empresas.
Fonte: Resultados da pesquisa.
212
Na sequência, os casos selecionados pela significância foram depurados com
base nos valores dos coeficientes rsp considerados relevantes, segundo o critério
utilizado por Feliciano (2009, p.
[de Spearman] superiores a 0,5 e inferiores a -0,5 indicam, respectivamente,
correlação positiva e negativa substancial, tornando-se mais forte à medida que tais
valores se aproximam dos limites de 1 e -
conjuntos analisados são muito semelhantes, - significa que
eles são bastante diferentes. Por sua vez, a proximidade de zero, sugere a ausência
de relacionamento entre os referidos conjuntos (STEVENSON, 1981, p. 383). A
diferença dos conjuntos, caracterizada pelo sinal negativo, indica que os valores
mais elevados de um conjunto estão associados aos valores mais baixos do outro
conjunto analisado.
Juntamente com esse critério, também foram excluídos os casos em que o
número de empresas (N) considerado na correlação, foi igual ou menor que 10% do
total de empresas analisado no conjunto geral, que no caso, correspondeu a 42
concessionárias. O resultado da aplicação desses dois critérios adicionais, além do
relativo à significância, reduziu para seis variáveis dependentes, os casos de
correlação com a variável Intensidade em P&D, quais sejam, respectivamente para
as seguintes categorias:
a) Serviço Adequado: Valor adicionado (9A07), TG terceirizados (9A10),
Expansão dist/tra (9A12), Renovação dis/tra (9A13) e Tarifas (9A17);
b) Resultado Empresarial: Rentabilidade (9A21).
Um maior detalhamento desses casos é apresentado a seguir.
6.2.2.1 Serviço adequado
No caso da variável Valor adicionado (9A07), foi obtido um coeficiente
rsp = -0,78333, com significância de 0,01252, envolvendo nove empresas do tipo 1
(controle público). Dessa forma, é possível considerar a existência de correlação
negativa da Intensidade de P&D em 2008 (defasagem de um ano), com o Valor
213
adicionado em 2009. Assim, há indicativo de uma correlação relevante entre as
diferenças dessas duas variáveis, ou seja, quanto menor o valor de uma, maior o
valor da outra. Porém, cabe destacar, que essa constatação envolve apenas nove
empresas, sendo que no grupo geral e no das empresas com controle privado,
segundo os critérios utilizados, não surgiu tal evidência.
No tocante à variável TG terceirizados (9A10), foi obtido um coeficiente
rsp = 0,857143, com significância de 0,013697, envolvendo sete empresas do tipo 1
(controladas pelo Poder Público). Portanto, é possível considerar a existência de
correlação positiva da Intensidade de P&D em 2009, ou seja, sem defasagem
temporal, com a variável em questão que trata da taxa de gravidade dos acidentes
com pessoal terceirizado. Assim, apesar do indicativo de uma correlação relevante
entre as duas variáveis, é possível se tratar de uma correlação espúria, em primeiro
lugar porque significaria aceitar que a P&D poderia estar propiciando um aumento
na gravidade de acidentes de trabalho e, em segundo, porque havia a suposição da
ocorrência concomitante da atividade e do seu impacto. Além disso, essa correlação
envolve apenas sete empresas, sendo que no grupo geral e no das empresas com
controle privado, segundo os critérios utilizados, não surgiu tal indicativo.
Com relação à variável Expansão dist/tra (9A12), foi obtido um coeficiente
rsp = -0,62051, com significância de 0,00072, envolvendo 26 empresas do tipo 2
(controle privado). Dessa forma, é possível considerar a existência de correlação
negativa da Intensidade de P&D em 2008 (defasagem de um ano), com a Expansão
dis/tra em 2009. Há indicativo de ocorrência de uma correlação relevante entre as
diferenças dessas duas variáveis, demonstrando comportamentos opostos de uma
em relação à outra. Porém, essa constatação, apesar de envolver uma parcela
expressiva das empresas com controle privado, não foi observada no grupo geral
(empresas tipo 1 e 2), e tampouco no grupo controlado pelo Poder Público.
No caso da variável Renovação dis/tra (9A13), foram obtidas correlações
significativas e relevantes nos três grupos, quando considerada uma defasagem de
dois anos para a variável independente. Na análise do grupo geral foi obtido um
coeficiente rsp = -0,60897, com significância de 0,000355, envolvendo 30 empresas.
Por sua vez, na análise do grupo tipo 1, foi obtido um coeficiente rsp = -0,83333, com
significância de 0,010176, envolvendo 8 empresas. E, finalmente, no grupo 2, foi
obtido um coeficiente rsp = -0,5795, com significância de 0,004706, envolvendo 22
empresas. Com base em tais resultados, é possível considerar a existência de
214
correlação negativa entre a Intensidade de P&D em 2008 (defasagem de um ano), e
a Renovação dis/tra em 2009. Ou seja, pode ser considerado que a intensidade dos
investimentos em P&D, no horizonte temporal de um ano, tende a influenciar em
sentido contrário, a intensidade dos investimentos em renovação da distribuição e/ou
transmissão. Intensidade essa, que corresponde ao percentual do valor dos
investimentos na atividade, P&D ou expansão, divididos pelo valor da receita
operacional líquida da concessionária.
6.2.2.2 Resultado empresarial
Após a depuração dos casos, na categoria Resultado Empresarial, as
variáveis relacionadas ao Ebitda/Lajida (9A20) e à Receita/consumidor (9A23) foram
consideradas não relevantes com base no critério já mencionado, ou seja, por
apresentarem um coeficiente de correlação inferior a 0,5. Por sua vez, conforme
abordado, não foram encontradas correlações significativas da variável
independente em relação à variável Energia/consumidor (9A22).
Assim, nessa categoria, restou apenas a variável Rentabilidade (9A21), para
a qual foi obtido um coeficiente rsp = -0,76667, com significância de 0,015944,
envolvendo nove empresas do tipo 1 (controle público). Assim, é possível considerar
a existência de correlação negativa da Intensidade de P&D em 2008 (defasagem de
um ano), com a Rentabilidade em 2009. Por outro lado, essa indicação diz respeito a
apenas nove empresas, sendo que no grupo geral e no das empresas com controle
privado, não surgiu tal referência.
6.2.2.3 Áreas de P&D
A intensidade dos investimentos em P&D em 15 áreas temáticas, da amostra
de distribuidoras de energia elétrica, foi analisada através da correlação de
Spearman. Essas áreas correspondem às variáveis descritas na metodologia para a
categoria Áreas de P&D. Os dados utilizados, relativos ao período de 2006 a 2009,
215
foram obtidos dos RSAs. Foram calculadas as correlações, considerando-se as
combinações possíveis entre as séries de uma mesma variável, totalizando um
conjunto de 90 possibilidades. Nesse conjunto, foram observados apenas seis casos
(6,7%) em que a correlação defasada de dois ou três anos não foi significativa.
Desses, três casos diziam respeito à variável A01, um à variável A08, e dois à
variável A10.
Entretanto, julgou-se relevante para a análise, considerar apenas as
correlações entre um ano e outro, de forma a avaliar se o comportamento de
investimento em um determinado ano, tinha correlação com o seguinte. Assim,
foram avaliadas as correlações entre 2006 e 2007, 2007 e 2008, e 2008 e 2009.
Os resultados obtidos encontram-se exibidos na tabela 16, com todos apresentando
correlação significativa. Cabe ressaltar que, em razão da característica dos dados
disponíveis, o número de elementos das séries utilizadas não foi constante, fato que,
entretanto, não prejudicou a análise.
Por outro lado, considerando-se o critério utilizado por Feliciano (2009,
p. 123), já mencionado anteriormente, para caracterização dos valores dos
coeficientes rsp considerados relevantes, ou seja, aqueles superiores a 0,5 e
inferiores a -0,5, foi possível constatar que do total de 45 casos tabelados, apenas
três (6,7%) podem ser enquadrados na condição de não relevantes, apesar de
significantes. Um está relacionado à variável Eficiência energética (A01), no período
2007/2008, outro à variável Transmissão de dados via rede elétrica (A06), em
2008/2009, e um terceiro, à variável Desenvolvimento de tecnologia de combate à
fraude e furto (A10), no período 2007/2008.
216
Tabela 16- Correlações nas áreas de P&D
Sigla Denominação Correlação 2006/2007 2007/2008 2008/2009
A01 Eficiência energética coef. 0,585 0,363 0,790 sig. 0,000 0,032 0,000
A02 Fonte renovável ou alternativa coef. 0,823 0,804 0,599 sig. 0,000 0,000 0,000
A03 Meio ambiente coef. 0,820 0,540 0,868 sig. 0,000 0,001 0,000
A04 Qualidade e confiabilidade coef. 0,769 0,652 0,747 sig. 0,000 0,000 0,000
A05 Planejamento e operação coef. 0,725 0,665 0,700 sig. 0,000 0,000 0,000
A06 Supervisão, controle e proteção coef. 0,663 0,601 0,438 sig. 0,000 0,000 0,008
A07 Medição, faturamento e combate a perdas comerciais
coef. 0,828 0,737 0,687 sig. 0,000 0,000 0,000
A08 Transmissão de dados via rede elétrica
coef. 0,881 0,581 0,938 sig. 0,000 0,000 0,000
A09 Novos materiais e componentes coef. 0,693 0,650 0,708 sig. 0,000 0,000 0,000
A10 Desenvolvimento de tecnologia de combate à fraude e furto
coef. 0,657 0,466 0,693 sig. 0,000 0,005 0,000
A11 Transmissão de energia elétrica coef. 1,000 1,000 1,000 sig. ---- ---- ----
A12 Distribuição de energia elétrica coef. 0,717 0,675 1,000 sig. 0,000 0,000
A13 Geração de energia elétrica coef. 1,000 1,000 1,000 sig. ---- ---- ----
A14 Pesquisa estratégica coef. 0,998 1,000 0,827 sig. 0,000 ---- 0,000
A15 Outros coef. 0,907 0,809 0,916 sig. 0,000 0,000 0,000
Elementos da amostra ---- 37 35 36
Legenda: coef.: coeficiente de Spearman; sig.: significância a 0.05; N: número de empresas. Fonte: Resultados da pesquisa.
Com base nos resultados obtidos, é possível concluir que de uma forma geral,
as estratégias das distribuidoras, caracterizadas pela escolha das áreas nas quais
os investimentos em P&D foram realizados, não sofreu alterações relevantes de um
ano para outro, dentro do horizonte temporal considerado.
Outro aspecto importante observado, diz respeito às diferenças entre a
intensidade de P&D nas diversas áreas consideradas. Através da média dos valores
217
dessa intensidade, no período de 2006 a 2009, foi possível constatar que as
principais áreas de investimento são a Qualidade e confiabilidade (A04), Supervisão,
controle e proteção (A05), e a Medição, faturamento e combate a perdas comerciais
(A06). Tal constatação é aplicada tanto no âmbito geral das distribuidoras, como
também quando elas são segmentadas pelo tipo de controle, público (tipo 1) ou
privado (tipo 2). Os resultados estão detalhados no quadro 5.
Sigla Área Geral Tipo 1 Tipo2 A01 Eficiência energética 2,8 7,3 1,4 A02 Fonte renovável ou alternativa 5,7 10,1 4,4 A03 Meio ambiente 5,5 1,8 6,6 A04 Qualidade e confiabilidade 21,6 23,2 21,1 A05 Planejamento e operação 20,8 11,3 23,9 A06 Supervisão, controle e proteção 15,8 10,3 17,5 A07 Medição, faturamento e combate a perdas comerciais 4,9 7,8 3,9 A08 Transmissão de dados via rede elétrica 1,5 2,5 1,2 A09 Novos materiais e componentes 1,9 0,5 2,2
A10 Desenvolvimento de tecnologia de combate à fraude e furto 4,9 8,9 3,6
A11 Transmissão de energia elétrica 0,5 0,5 0,4 A12 Distribuição de energia elétrica 0,9 1,8 0,6 A13 Geração de energia elétrica 0,1 0,6 0,0 A14 Pesquisa estratégica 2,1 4,2 1,5 A15 Outros 11,1 9,3 11,6
Quadro 5 - Intensidade de P&D nas distribuidoras 2006/2009 Legenda: Geral - todas as distribuidoras, Tipo1 - controle público, Tipo 2 - controle privado.
Fonte: Dados da pesquisa.
Entretanto, cabe ressaltar, que quando considerado o tipo de empresa, a área
de Qualidade e confiabilidade (A04) se destaca em primeiro lugar no âmbito das
distribuidoras com controle público, enquanto que na esfera do controle privado,
esse destaque cabe à área de Supervisão, controle e proteção (A05).
Em termos gerais, a área com menor intensidade de P&D é a de Geração de
energia elétrica (A13), vindo a seguir, a área de Transmissão de energia elétrica
(A11). No âmbito das distribuidoras com controle público, a área de menor interesse,
além das duas já citadas, é a de Novos materiais e componentes (A09). Já no
âmbito das empresas com controle privado, se destaca a ausência de investimentos
em Geração de energia elétrica (A13). Logo a seguir, com baixa intensidade, vem a
já citada área de Transmissão de energia elétrica e, por fim, a área de Distribuição
218
de energia elétrica (A12). Um panorama comparativo desse contexto de
comportamento no tocante às áreas de P&D, pode ser observado na figura 5.
Figura 5 - Intensidade nas áreas de P&D por tipo de empresa 2006/2009
Fonte: Dados da pesquisa.
De qualquer forma, cabe ressaltar que a dinâmica regulatória presente na
área de P&D, especialmente se associada à dinâmica própria dos desafios e
avanços tecnológicos, pode implicar em alterações no quadro apresentado. Um
exemplo nesse sentido diz respeito à área Distribuição de energia elétrica (A12), que
no período recebeu pouca atenção, em que pese estar relacionada diretamente à
área de atuação das empresas consideradas. Uma das possíveis razões dessa
ocorrência, pode ser a alteração ocorrida no Manual de P&D, em 2008, quando
foram suprimidos os Temas de P&D, dando maior liberdade às empresas. Outro
provável motivo, residiria no fato de que os demais temas, já contemplados, seriam
suficientes para abrigar os interesses estratégicos das empresas.
219
Ante o exposto, é possível considerar que de forma geral, as estratégias das
distribuidoras no tocante às prioridades de investimento em P&D são similares, e
que, conforme já abordado, esse comportamento estratégico não tem se alterado no
período considerado, de 2006 a 2009.
6.3 ANÁLISE QUALITATIVA
6.3.1 Análise de conteúdo
A análise de conteúdo contemplou a versão atual do Manual de P&D do Setor
Elétrico, lançada em 2008, e as áreas temáticas para investimento em P&D
Educação/Pesquisa e Desenvolvimento,
Pesquisa e Desenvolvimento, . Cabe ressaltar,
que esses temas apresentam uma dinâmica evolutiva, pois a ANEEL pode proceder
adequar a possíveis demandas de produtos e serviços identificados como relevantes
Os dados obtidos foram classificados segundo as categorias Serviço
Adequado, Resultado Empresarial e Áreas de P&D, detalhadas na metodologia já
apresentada. As unidades de registro tiveram como referência inicial as variáveis
das respectivas categorias de análise, também indicadas na metodologia. Por sua
vez, a ênfase da análise realizada nas categorias foi temática, quando se procura
informacional,
A opção por essa abordagem, teve por objetivo buscar uma melhor compreensão do
enfoque regulatório no âmbito da P&D, em relação às categorias de Serviço
Adequado e de Resultado Empresarial.
A ênfase da análise de conteúdo foi qualitativa, apesar de terem sido
utilizadas referências à freqüência de palavras relacionadas às categorias e
220
a indicadores não frequenciais susceptíveis de permitir inferências; por exemplo, a
presença (ou a ausência), pode constituir um índice tanto (ou mais) frutífero que a
qualquer forma de quantificaçã
Entretanto, para uma melhor visualização do resultado dessa análise
qualitativa, foi utilizado o conceito de aderência conceitual. Assim, o conteúdo do
Manual de P&D foi analisado em termos de aderência ao conteúdo das categorias
de análise Serviço Adequado e Resultado Empresarial. De forma similar, foi
analisada a aderência conceitual do conteúdo dos Temas de P&D, em relação aos
conteúdos das duas outras categorias supracitadas.
6.3.2 Aderência conceitual
Na análise da aderência conceitual foi buscada a identificação da
convergência entre os elementos conceituais das variáveis estudadas e as
evidências de conteúdo dos textos analisados que foram o Manual de P&D e os
Temas de P&D. Cabe ressaltar, inclusive, que na análise de conteúdo existe a
possibilidade de utilizar aproximações semânticas para representar uma
determinada informação de forma condensada (BARDIN, 2000, p. 53). Assim, foram
adotadas três possibilidades de condensação da análise no tocante à aderência
conceitual:
a) Existente: quando os elementos conceituais adotados forem considerados
presentes, no todo ou em parte, nos conteúdos analisados;
b) Potencial: quando os elementos conceituais adotados puderem, apesar de
não estarem explicitados, possuir alguma relação de significado com os
conteúdos analisados;
c) Indefinida: quando se considera que os elementos conceituais não
estavam presentes no conteúdo analisado e, tampouco, que existiria a
possibilidade de relação de significado entre os referidos conceitos e tal
conteúdo.
221
6.3.2.1 Serviço adequado
A regularidade, continuidade, eficiência, segurança, atualidade, generalidade,
cortesia e modicidade, que são os atributos do serviço adequado, praticamente não
sentido de atributo, são utilizadas apenas uma vez cada uma. Entretanto, cabe
como um dos parâmetros de avaliação dos projetos de P&D. Segundo essa Agência
melhoria da qualidade dos serviços prestados pode ser avaliada
pela redução do índice de reclamações, dos índices de continuidade (DEC, FEC e
TMA4) e dos índices de qualidade da energia fornecida, como VTCD5s e outros
pela ANEEL, como um dos benefícios para as empresas de energia elétrica, que
pode surgir dos resultados secundários da P&D (ANEEL, 2008, p. 18).
No tocante aos demais atributos de serviço adequado, cabe destacar que a
aparecem nenhuma vez. A única ressalva, nesse último conjunto, diz respeito à
atributos de serviço adequado, quando relacionada à questão tarifária, aparece
quatro vezes envolvendo dois contextos distintos. Em um deles, a modicidade é
vista como um subproduto dos resultados secundários da P&D, que pode surgir
como uma possível conseqüência de uma série de benefícios para as empresas de
energia, conforme ilustra o texto a seguir:
Como resultados secundários de um projeto de P&D incluem-se a capacitação de recursos humanos, a criação ou o aprimoramento de infra-estrutura, a geração de novos conhecimentos e o desenvolvimento de tecnologias mais eficientes. Para as empresas de energia elétrica, esses resultados podem se converter em novos negócios e receitas, ganhos de produtividade, otimização de processos, melhoria da qualidade dos serviços
4 TMA = tempo médio de atendimento. 5VTCD = variações de tensão de curta duração.
222
prestados, redução de custos e, conseqüentemente, modicidade tarifária para o usuário final (ANEEL, 2008, 18).
O outro contexto, trata da possibilidade de obtenção de receitas pela
comercialização dos resultados da P&D. No caso das distribuidoras e transmissoras,
tais rece
receitas e, as concessionárias que atuam em geração e transmissão, deverão
compartilhar com a sociedade apenas às receitas oriundas da transmissão. Por
outro lado, para incentivar a realização de investimentos em P&D nas regiões
Norte (N), Nordeste (NE) e Centro Oeste (CO), a ANEEL instituiu uma diferenciação
na distribuição dessas receitas oriundas da comercialização da P&D, conforme
detalhado a seguir:
Para as Empresas localizadas nas regiões N, NE ou CO que destinarem pelo menos 60% do valor do projeto a instituições de pesquisa sediadas nessas regiões, o compartilhamento das receitas será de 70% para apropriação pela Empresa e de 30% para a modicidade tarifária. O mesmo compartilhamento se aplica para as Empresas das demais regiões que destinarem pelo menos 10% do valor do projeto a instituições de pesquisa sediadas naquelas regiões. Caso não sejam comprovadas tais destinações para as regiões N, NE ou CO, o compartilhamento será de 50% para apropriação pela Empresa e de 50% para a modicidade tarifária (ANEEL, 2008, p. 24).
da P&D,
governamental voltada à regionalização das ações de P&D.
De forma geral, foi considerado que as diretrizes do Manual de P&D
apresentam aderência conceitual do tipo indefinida no tocante às variáveis
Eficiência, Segurança, Atualidade, Generalidade, Cortesia e Modicidade, e, com
relação às duas variáveis restantes Regularidade e Continuidade foi considerado
que a aderência é potencial.
223
6.3.2.2 Resultado empresarial
Na atual versão do Manual de P&D, a inovação é conceituada como a
introdução na Empresa ou no mercado, de produtos, processos, métodos ou
sistemas não existentes anteriormente, ou com alguma característica nova e
diferente daquela até então em vigor, com fortes repercussões
(ANEEL, 2008, p. 65).
Com o esforço da P&D:
deseja-se promover e viabilizar o ciclo completo da cadeia da inovação, incentivando a associação de Empresas em torno de iniciativas que disponham de escala apropriada para desenvolver conhecimento e transformar boas idéias, experimentos laboratoriais bem sucedidos e sofisticados modelos matemáticos, em resultados práticos que melhorem o desempenho das organizações e a vida das pessoas (ANEEL, 2008, p 16).
Além disso, a transformação dos resultados das pesquisas em inovações
Em que pese a indicação desses dois objetivos da inovação no setor elétrico:
um de interesse privado, que é a melhoria do desempenho das organizações, e
outro, de interesse público, que é a melhoria da vida das pessoas, as diretrizes
expressas no Manual de P&D sugerem que o esforço de inovação no setor está
direcionado para a obtenção de resultados empresariais.
Um dos exemplos nesse sentido, é o fato da ANEEL considerar que os
o modo como essa Agência trata a P&D no setor de energia elétrica, ou seja, como
bem definidos, porque é diferente da pesquisa acadêmica pura, que se caracteriza
, p. 7).
Essa ênfase empresarial também pode ser ilustrada pelo fato que a palavra
apenas cinco
224
apenas uma vez. As palavras
Outra passagem indicativa da orientação para o setor empresarial, refere-se
à capacitação e ao desenvolvimento tecnológico das empresas de energia elétrica,
visando à geração de novos processos ou produtos, ou o aprimoramento de suas
(ANEEL, 2008, p. 16). Também, apesar de não terem sido
relacionada conceitualmente à categoria Resultado Empresarial. Também não foram
consumi
Cabe ainda ressaltar, que o produto principal de um projeto de P&D é
(ANEEL, 2008, p. 52). Esses el
possuem potencial econômico na medida em que podem ser utilizados para
obtenção de vantagens operacionais e comerciais, sendo, a princípio, de interesse
empresarial. Da mesma forma, os resultados secundários da P&D, tais como a
capacitação de recursos humanos, o aprimoramento de infraestrutura e os novos
conhecimentos e tecnologias, são considerados pela ANEEL como resultados que
otimi
Ante o exposto, foi considerado para as diretrizes do Manual de P&D em
relação às variáveis Lucratividade e Rentabilidade, apresentam aderência conceitual
s variáveis Energia e Receita por consumidor, foi
considerada que a aderência conceitual é indefinida.
225
6.3.2.3 Áreas de P&D
Para a ANEEL, os principais desafios tecnológicos do setor elétrico brasileiro
estão expressos nos temas e subtemas de interesse para investimentos em projetos
de P&D. A Agência disponibiliza os referidos conteúdos em seu portal e, sempre que
julgar necessário, pode adequá-
, p. 17).
Cabe ressaltar, que o manual de elaboração do RSA também apresenta uma
relação de áreas de P&D, que são utilizadas pelas concessionárias para
apresentação de suas informações anuais. Essas áreas de P&D, também foram
empregadas na definição das variáveis operacionais da presente pesquisa. As áreas
de P&D indicadas no manual do RSA estão referenciadas à terceira edição do
Manual de P&D, lançada em 2006, que é o mesmo ano do lançamento do RSA.
O comparativo entre essas áreas temáticas, consideradas as três bases, é
apresentado no quadro 6.
Por outro lado, a presente análise compreendeu apenas as conceituações
dos Temas de P&D disponibilizados no site da ANEEL, que representam a condição
vigente por ocasião da coleta dos dados.
226
Relatório de Responsabilidade Socioambiental Manual de P&D (2006) Temas de P&D
Eficiência energética Eficiência energética Eficiência energética
Fonte renovável ou alternativa Fonte renovável ou alternativa de geração de energia elétrica
Fontes alternativas de geração de energia elétrica
Meio ambiente Meio ambiente Meio ambiente
Gestão de bacias e reservatórios
Qualidade e confiabilidade Qualidade e confiabilidade Qualidade e confiabilidade dos serviços de energia elétrica
Planejamento e operação Planejamento e operação de sistemas elétricos
Planejamento de sistemas de energia elétrica Operação de sistemas de energia elétrica
Supervisão, controle e operação Supervisão, controle e operação de sistemas elétricos
Supervisão, controle e proteção de sistemas de energia elétrica
Medição Medição e faturamento Medição, faturamento e combate a perdas comerciais Desenvolvimento de tecnologia de
combate à fraude e furto
Desenvolvimento de tecnologia para combate a furto e fraude energia elétrica
Transmissão de dados via rede elétrica
Transmissão de dados por rede elétrica --------------------
Novos materiais e componentes Novos materiais e componentes --------------------
-------------------- Pesquisa estratégica --------------------
-------------------- -------------------- Geração termelétrica
-------------------- -------------------- Segurança
Quadro 6 - Áreas para Investimento em P&D Fonte: ANEEL (2006a, p. 36; 2006, p. 29-35; 2011c).
de interesse nacional e
de grande relevância para o setor elétrico, envolvendo elevada complexidade em
termos científicos e/ou tecnológicos e baixa atratividade para investimento como
o
e coordenado de várias concessionárias e entidades executoras, além de grande
aporte de recursos. Entretanto, cabe ressaltar que tais assuntos são considerados
preferenciais, mas não são obrigatórios, podendo os projetos de P&D ser
enquadrados em outras temáticas (ANEEL, 2011c). O desenvolvimento de projetos
227
estratégicos, ou seja, aqueles que tratam dos referidos temas, são objeto de
chamadas promovidas pela ANEEL (2008, p. 31, 2011c).
Na análise de conteúdo dos Temas de P&D, praticamente não foram
referenciadas às variáveis das categorias Resultado Empresarial e Serviço
Adequado. Da primeira categoria, as palavras lucratividade e rentabilidade não
tiveram nenhuma ocorrência constatada, sendo encontrada apenas uma ocorrência
para a palavra produtividade. No tocante à segunda categoria, não houve menção
às palavras regularidade, continuidade, atualidade, generalidade, cortesia e
modicidade. Entretanto, foram constatadas três referências à palavra eficiência
(exceto aquelas relacionadas à eficiência energética), também três para segurança e
duas para universalização. Foram ainda registradas oito ocorrências para a palavra
perdas, que operacionalmente está associada ao conceito de eficiência, bem como,
duas para a palavra universalização, associada à generalidade. Destacou-se
também a constatação de 20 referências à palavra qualidade, associada à prestação
dos serviços. De forma mais específica, tendo como referência a conceituação das
categorias Resultado Empresarial e Serviço Adequado, os seguintes temas foram
classificados na condição de aderência indefinida:
a) Fontes alternativas de geração de energia elétrica;
b) Meio ambiente;
c) Gestão de bacias e reservatórios;
d) Geração termoelétrica.
Os resultados sistematizados, com respeito à aderência conceitual atribuída
aos Temas de P&D, são apresentados no quadro 7 e, na sequência, são
apresentados comentários mais detalhados.
228
Temas Categorias de Análise Aderência Conceitual
Eficiência energética Resultado empresarial indefinida
Serviço adequado potencial
Fontes alternativas de geração de energia elétrica Resultado empresarial indefinida
Serviço adequado indefinida
Meio ambiente Resultado empresarial indefinida
Serviço adequado indefinida
Gestão de bacias e reservatórios Resultado empresarial indefinida
Serviço adequado indefinida Qualidade e confiabilidade dos serviços de energia elétrica
Resultado empresarial potencial Serviço adequado potencial
Planejamento de sistemas de energia elétrica Resultado empresarial potencial
Serviço adequado potencial
Operação de sistemas de energia elétrica Resultado empresarial potencial
Serviço adequado indefinida Supervisão, controle e proteção de sistemas de energia elétrica
Resultado empresarial potencial Serviço adequado indefinida
Medição, faturamento e combate a perdas comerciais
Resultado empresarial potencial Serviço adequado potencial
Geração termelétrica Resultado empresarial indefinida
Serviço adequado indefinida
Segurança Resultado empresarial potencial
Serviço adequado existente
Quadro 7 - Aderência Conceitual dos Temas de P&D Fonte: Resultados da pesquisa.
condição de aderência existente, em razão de sua aderência conceitual ao atributo
iço Adequado. O referido tema de P&D, compreende
equipes de manutenção quanto o desenvolvimento tecnológico de dispositivos e
equipamentos para auxílio na inspeção e manutenç
pode contemplar projetos de P&D relacionados, por exemplo, à mitigação de efeitos
nocivos de campos eletromagnéticos, novos materiais e equipamentos de proteção
individual, e à automação da inspeção e manutenção de sistemas elétricos (ANEEL,
2011c). Tendo em vistas os impactos dos acidentes nos custos operacionais, o tema
também foi considerado como do tipo aderência potencial à categoria Resultado
Empresarial.
229
rojetos
recursos das fontes de geração de energia elétrica quanto o consumo de energia
conceitual é do
que os resultados dos projetos nessa área temática poderão disponibilizar opções
energeticamente eficien
aderência conceitual desse tema com os conceitos das variáveis da categoria de
Resultado Empresarial.
metodologias, técnicas e ferramentas de auxílio ao planejamento de sistemas
elétricos [...] no âmbito do Sistema Interligado Nacional (SIN) ou dos sistemas
integração da geração distribuída e, em especial, a universalização dos serviços de
energia elétrica. Também pode compreender projetos de P&D relacionados
ção de
impactos socioambientais (ANEEL, 2011c). Dessa forma, foi considerado que
apresenta aderência potencial em relação às categorias Resultado Empresarial e
Serviço Adequado.
metodologias, técnicas e ferramentas de auxílio à operação de sistemas elétricos
distribuição, os projetos de P&D podem contribuir com as empresas nos casos em
que se praticar a regulação por
empresas de energia elétrica a oferecerem qualidade crescente nos serviços
(ANEEL, 2011c). Neste sentido, esse tema foi considerado como de aderência
potencial à categoria Resultado Empresarial.
contempla, por exemplo, projetos relacionados ao monitoramento, telecontrole e
importância fundamental na eficiência e eficácia
230
qualidade, confiabilidade e operação do sistema elét
forma, como no item anterior, o tema referido apresentou aderência potencial à
categoria Resultado Empresarial.
Qualidade e Confiabilidade dos Serviços de Energia
r, que a qualidade da energia elétrica
depende tanto das empresas de energia elétrica, que a produzem, transmitem e
distúrbios no sistema elétrico. Essa qualidade pode ser afetada por harmônicos e
sem considerar as interações econômicas entre as empresas de energia elétrica e
gar benefícios ou penalidades nos contratos firmados entre os consumidores e
possível considerar que os resultados de projetos de P&D nessa área, possuem
aderência potencial em re
distribuidoras registram elevadas
perdas anuais, tanto técnicas quanto comerciais. Estima-se que, no Brasil, as perdas
na rede de distribuição elétrica são responsáveis por cerca de 15% da energia
m em
infratores. As ocorrências de furto e fraude, e conseqüente perda comercial, têm
dificultado os esforços das empresas em regularizar o fornecimento e a cobrança
adequada do se Por sua vez, a
área temática apresenta aderência pot
231
6.4 ANÁLISE CONSOLIDADA
6.4.1 Comparativo dos resultados quantitativos e qualitativos
De forma geral, na análise quantitativa não houve coincidência entre os
resultados da análise via dados em painel e de correlação. O único caso que,
eventualmente poderia ser considerado uma exceção, é o da variável Rentabilidade.
Nos dois tipos de análise quantitativa, foi observado que a Intensidade de P&D, com
defasagem de um ano, poderia estar ocasionando um impacto negativo na variável
Rentabilidade. Entretanto, cabe ressaltar que na análise de correlação, essa
constatação contemplou apenas nove empresas. Também, em ambas as análises,
não foram identificadas diferenças que possam ser consideradas relevantes no
comportamento das empresas com controle público em relação ao daquelas com
controle privado.
A análise de dados em painel, com relação à categoria Serviço Adequado,
indicou três casos com possível impacto:
a) FEC (tendência de redução);
b) Riqueza (tendência de aumento);
c) IASC (tendência de redução).
Esses casos ocorrem com defasagem de dois anos entre a variável
independente (Intensidade de P&D) e as referidas variáveis dependentes. Uma
única exceção foi a TG terceirizados com tendência de aumento, observada na
defasagem de um ano. Porém, conforme já apontado, esse caso apresenta indícios
de ser uma relação espúria. Na categoria Resultado Empresarial, o único indicativo
de impacto contemplou a variável Rentabilidade, conforme já mencionado.
A possível influência da Intensidade de P&D no sentido de reduzir a FEC,
merece um maior aprofundamento, posto que não foi observado o mesmo
comportamento em relação à DEC. Além disso, essas duas variáveis, que são
indicadores de continuidade, recebem tratamento específico da ANEEL, através de
fixação de metas para as concessionárias, sujeitando-as a sanções, no caso de não
cumprimento das mesmas. Ou seja, a variação desses indicadores poderia ser, além
232
de outros fatores, mais dependente da imposição dessas metas do que dos
investimentos em P&D.
Na análise de correlação, por sua vez, não foi identificado nenhum indício de
impacto relevante quando considerada a defasagem de dois anos entre a
Intensidade de P&D e as variáveis dependentes das duas categorias citadas. Os
casos com indicativo de impacto ocorrem com um ano de defasagem e, no grupo
geral (empresas com controle público e privado), contemplando as variáveis
Expansão dis/tra (tendência de redução) e Renovação dis/tra (tendência de
redução), da categoria Serviço Adequado. Na categoria Resultado Empresarial, o
único indicativo já mencionado, contempla a variável Rentabilidade.
No tocante às Áreas de P&D, foi possível concluir de forma geral, que não
ocorreram alterações relevantes de um ano para outro, e dentro do horizonte
temporal considerado nas áreas escolhidas para os investimentos em P&D.
Também não foram identificadas diferenças significativas nas escolhas dessas áreas
entre as empresas com controle público e com controle privado.
As áreas com maior volume médio de investimentos em P&D, apurados em
valores percentuais do total investido por cada empresa, foram:
a) Qualidade e confiabilidade;
b) Planejamento e operação;
c) Supervisão, controle e proteção.
Por outro lado, sob o enfoque qualitativo, no tocante à análise de conteúdo do
Manual de P&D, na categoria Serviço Adequado, não se constatou nenhuma
ocorrência que pudesse ser classificada como aderência existente. Porém, foi
identificada a possibilidade de aderência potencial com relação às variáveis
Regularidade e Continuidade. Ainda, no tocante ao referido Manual, na categoria
Resultado Empresarial, foi considerado que a aderência pode ser classificada como
lidade.
No tocante aos Temas de P&D, foi constatado apenas um caso de aderência
existente, que é entre o tema Segurança e a variável de mesma denominação, da
categoria Serviço Adequado. Ainda com relação a essa categoria, foi considerado
que existe aderência potencial em relação a quatro temas, que são:
a) Eficiência energética;
b) Qualidade e confiabilidade dos serviços de energia elétrica;
c) Planejamento de sistemas de energia elétrica;
233
d) Medição, faturamento e combate a perdas comerciais.
Com relação à categoria Resultado Empresarial, não foi constatada nenhuma
aderência existente. Nessa categoria, foi considerado que a aderência é potencial
com relação aos seguintes temas:
a) Qualidade e confiabilidade dos serviços de energia elétrica;
b) Planejamento de sistemas de energia elétrica;
c) Operação de sistemas de energia elétrica;
d) Supervisão, controle e proteção de sistemas de energia elétrica;
e) Medição, faturamento e combate a perdas comerciais;
f) Segurança.
6.4.2 Considerações sobre o problema e questões de pesquisa
No tocante ao problema da pesquisa, apresentado no capítulo introdutório, na
sessão 1.3.2, não foram encontrados indícios relevantes de que os investimentos
obrigatórios em P&D, realizados pelas concessionárias de distribuição de energia
elétrica, contribuem com a disponibilização de serviços adequados conforme
estabelecido na Lei Geral das Concessões. Também não foram encontrados indícios
relevantes de que esses investimentos tenham contribuindo com a melhoria do
resultado empresarial. Com relação às questões de pesquisa, as considerações são
apresentadas a seguir.
Os atributos de serviço adequado, apesar de serem juridicamente
indeterminados, podem ser caracterizados via instrumentos contratuais e
regulatórios. Inclusive, para a maior parte desses atributos, já estão disponíveis
indicadores como os apresentados nos RSAs. Obviamente, é necessário um
aprofundamento conceitual e técnico para a adequada definição e, recomendável,
para regulação desses atributos. Nos RSAs também estão disponíveis indicadores
que podem ser utilizados para caracterizar o resultado empresarial. De qualquer
forma, os indicadores utilizados na pesquisa podem ser considerados um ponto de
partida para tal finalidade.
Também não foi observado nenhum caso de aderência conceitual do tipo
234
dos projetos de P&D. Cabe ressaltar, que os critérios e parâmetros de originalidade,
aplicabilidade, relevância e razoabilidade dos custos, já apresentados anteriormente
e que são atualmente utilizados para a avaliação dos projetos de P&D, não tratam
explicitamente dos atributos de serviço adequado e, quando o fazem, é de forma
indireta e muita restrita a alguns desses atributos. Por outro lado, esses elementos
tendem a ser importantes condicionantes na definição dos projetos de P&D.
Outro aspecto, é que as estratégias de investimento em P&D das
distribuidoras, caracterizadas pelas áreas que recebem o maior volume de recursos
para aplicação neste segmento, possuem apenas aderência conceitual do tipo
investimentos nessas áreas que compreendem a qualidade e confiabilidade; o
planejamento e operação; bem como, a supervisão, controle e proteção; a princípio,
não apresentam perspectivas de impactar positivamente atributos como a
atualidade, a cortesia e a modicidade tarifária, pois existem diferenças conceituais
relevantes entre esses atributos e aquelas áreas.
A obtenção de resultados positivos dos investimentos em P&D no tocante ao
interesse público, caracterizado pela disponibilização de serviço adequado, em
primeiro lugar, depende da obtenção de resultados aderentes aos atributos deste
tipo de serviço e, em segundo lugar, da implantação efetiva desses resultados, sem
o que não há que se falar em impactos positivos no campo dos efeitos finais.
235
7 CONSIDERAÇÕES FINAIS
7.1 ASPECTOS RELACIONADOS AOS OBJETIVOS DA PESQUISA
No tocante ao objetivo geral, os resultados da pesquisa indicaram que não
existe alinhamento entre os investimentos obrigatórios em P&D realizados pelas
distribuidoras de energia elétrica e o desempenho apresentado na prestação desses
serviços segundo os atributos de serviço adequado. Ou seja, não foram encontrados
indícios de que os referidos investimentos em P&D estejam causando impactos na
regularidade, continuidade, eficiência, segurança, atualidade, generalidade, cortesia
e modicidade tarifária no âmbito dos serviços de distribuição de energia elétrica.
Outra constatação da pesquisa é a ausência de indícios de que esses
investimentos em P&D tenham contribuído com a melhoria dos resultados
empresariais, ora caracterizados pela obtenção de lucratividade e rentabilidade.
Também não foram indicações significativas em relação às variáveis estudadas, de
que faça diferença o tipo de controle das concessionárias de distribuição ser público
ou privado.
Entretanto, isso não significa que a estratégia de obrigar as concessionárias a
investir em P&D seja ineficaz ou até mesmo que deva ser abandonada. A pesquisa
não tratou da análise de resultados específicos dos projetos de P&D, como por
exemplo, patentes obtidas, novos produtos ou redução de custos operacionais. Ela,
tampouco, abordou o aumento da capacitação técnico-científica ou a mitigação de
impactos ambientais que são outros dois objetivos contemplados na legislação que
instituiu os investimentos obrigatórios em P&D no setor elétrico. De qualquer forma,
com base no referencial teórico considerado, é possível supor que tais investimentos
tenham propiciado relevantes benefícios, entretanto, eles não foram objeto da
pesquisa realizada.
Considerando que o interesse público é caracterizado pela prestação de
serviço adequado e que o interesse privado é caracterizado pelo resultado
empresarial, foi constatada a ausência de indícios relevantes de que os
investimentos obrigatórios em P&D estejam contribuindo com o atendimento desses
dois tipos de interesse. Além disso, esses interesses não são necessariamente
236
convergentes ou de fácil compatibilização. Por exemplo, a adoção de serviços com
modicidade tarifária pode comprometer a lucratividade. Esse confronto de interesses
- público e privado - apesar de não ser explícito, se manifesta de diversas formas no
arcabouço legal e no marco regulatório quando, por exemplo, são debatidas
alterações nas tarifas ou metas de desempenho nos serviços. Entretanto, chama
particular atenção o fato de que os atributos de serviço adequado, apesar de
contemplados na legislação que suporta a concessão, de forma geral não são
instrumentalizados operacionalmente em sua totalidade na regulação e tampouco
nos contratos de concessão, inviabilizando na prática, o seu efetivo
acompanhamento e controle.
De outro lado, se a P&D não contribui com o interesse público e com o
privado, é possível considerar que ela esteja subordinada a uma outra lógica
institucional. Nesse sentido, uma possibilidade é que as atividades de P&D estejam
subjugadas por estratégias de legitimação e isomorfismo. Os resultados da P&D não
contribuindo com o resultado empresarial e tampouco com o serviço adequado,
podem estar sendo condicionados pela busca de legitimação e adoção de
comportamentos isomórficos por parte das distribuidoras. Outra possibilidade, é que
o modelo regulatório possua uma orientação estratégica inadequada, pois não
estaria dirigida à produção do efeito essencial de agregar valor para os usuários dos
serviços. Essas alternativas são abordadas em itens específicos, apresentados na
seqüência.
Por sua vez, com relação aos objetivos específicos da pesquisa
realizada,cabe destacar em primeiro lugar, que foi possível conceituar os atributos
caracterizadores de serviço adequado, bem como, identificar alguns indicadores
utilizados no setor elétrico que, apesar de algumas limitações, podem ser utilizados
para representar tais atributos. Em segundo lugar, através das definições
operacionais de variáveis relacionadas a tais indicadores, foi possível constatar que
em termos gerais, existe pouca aderência conceitual entre os atributos de serviço
adequado e os critérios estabelecidos para avaliar os projetos de P&D.
Em terceiro, também se constatou a baixa aderência conceitual entre os
atributos de serviço adequado e as estratégias de P&D das concessionárias, assim
entendidas, como as escolhas das áreas para realização dos investimentos
obrigatórios. Em quarto, conforme já exposto no tocante ao objetivo geral, foram
avaliados os impactos dos investimentos em P&D nos indicadores do setor
237
associados aos referidos atributos. E, finalmente, foram identificadas algumas
oportunidades de melhorias para o planejamento, regulação, fiscalização e outras
ações no setor que serão abordadas na seqüência.
7.2 VALOR AO USUÁRIO COMO O EFEITO ESSENCIAL
A regulação da P&D do setor elétrico está orientada para resultados
empresariais refletindo, inclusive, a tradicional abordagem teórica sobre o assunto.
Porém, na formatação atual, ela é própria para um ambiente competitivo, no qual a
inovação é considerada como uma estratégia para superar concorrentes. Os
processos usuais de avaliação final da inovação, inclusive, são baseados no lado da
oferta, ou seja, da empresa que coloca produtos e serviços no mercado. Nesses
processos se parte do pressuposto que a agregação de valor para o cliente, ou seja,
no lado da demanda, é traduzida em maiores volumes de vendas e de participação
no mercado.
Porém, essa abordagem é inadequada quando se trata da prestação de um
serviço público, especialmente, numa condição não concorrencial como é a situação
atual do setor de distribuição de energia elétrica no Brasil. Exceção feita aos
consumidores livres, a grande maioria dos usuários brasileiros de energia elétrica
somente pode comprar energia de um único fornecedor. Por outro lado, apesar da
ausência de concorrentes esse setor conta com a presença de interesses distintos e
que não são, necessariamente, complementares ou convergentes. Existem
interesses específicos dos usuários, das concessionárias, dos fornecedores e
diversos outros atores, inclusive do próprio Poder Público. Assim, com base na atual
modelagem regulatória do setor elétrico brasileiro e pelos critérios de avaliação da
inovação nela contemplados, é possível considerar que,atualmente,o objetivo central
do esforço de inovação é promover resultados de cunho empresarial, ou de forma
mais específica, de interesse privado.
A atual abordagem da P&D no setor elétrico se mostra inadequada porque,
além da ausência do mercado concorrencial, abrange um serviço público e, dessa
forma, deveria promover o atendimento de critérios de adequação dos serviços.
Portanto, dentro desse contexto, o objetivo da P&D deveria ser a agregação de valor
238
aos usuários dos serviços públicos. Para que isso ocorra é necessário contemplar o
uso dos atributos de serviço adequado nas diretrizes da P&D, especialmente no
tocante à sua avaliação. Tal medida permitiria caracterizar e dar forma ao efeito
essencial dos serviços públicos que é agregar valor aos seus usuários os quais, por
sua vez, são a razão da existência de tais serviços. Essa nova abordagem é uma
possível contribuição da pesquisa realizada na medida em que pode estimular o
debate sobre a construção e aperfeiçoamento de mecanismos regulatórios e,
especialmente, de melhorias nos processos de contratação e avaliação dos serviços
públicos e, de uma forma mais específica, da inovação tecnológica no âmbito dos
serviços públicos.
Com esse novo enfoque,a conciliação entre o interesse público e o privado
poderia ser concretizada com base nos atributos de serviço adequado, tendo como
premissa a obtenção do efeito essencial. Por outro lado, isso não significa tratar os
serviços públicos, como tradicionalmente ocorre, com a perspectiva de supremacia
do interesse público sobre o interesse privado, que no caso das concessões, é
representado pelo interesse empresarial motivador da prestação de tais serviços.
Entretanto, a prevalência do interesse público não pode sufocar o interesse privado,
caso contrário, não haveria como utilizar a estratégia da concessão para prestar os
serviços que a sociedade necessita e, no caso de serviços já concedidos, colocaria
em risco a continuidade dos mesmos.
Cabe ainda
sobre o privado tem sido alvo de freqüentes
no novo regime estabelecido pela Constituição d
automaticamente, pode subordinar os interesses privados (BREUS, 2007, p. 269).
Nesse sentido, a conciliação entre o interesse público e o privado, demanda a
viabilização do efeito essencial que, de forma objetiva, tomaria forma através do
serviço público prestado em conformidade com os atributos do serviço adequado.
A abordagem proposta é particularmente aplicável à avaliação de serviços e
até do esforço de inovação, principalmente, no contexto dos serviços públicos.
Priorizando a transferência de valor para os usuários, ela está sintonizada com o
entendimento de diversos pesquisadores, segundo distintas perspectivas. Para
Ohmae (1998, p. 67-68) a estratégia deve agregar valor ao cliente e não deve ser
vista como um instrumento para derrotar os concorrentes. Por sua vez, Pieracciani
239
De forma similar, Kim e Mauborgne (2004, p. 334-
337) propõem a inovação de valor, segundo a qual a inovação deve ser baseada na
agregação de valor para o cliente. Além disso, Adair (2010, p. 9) considera que é
necessário ter resultados que expressem a implementação das inovações. Já para
Motta (2009, p. 72), a finalidade da existência do Estado e da Administração Pública
é o cidadão. E, concluindo, para Heidemann (2009, p. 32), o objetivo final da
s cidadãos lhes
sejam prestados por sensibilidade e por correspondência a seus mais legítimos
A possibilidade de avaliar a P&D sob os critérios de serviço adequado,
privilegia a agregação de valor para os usuários (lado da demanda) em lugar do
resultado empresarial (lado da oferta). Cabe ressaltar que na literatura que trata dos
sistemas usuais de avaliação da inovação tecnológica, não foram encontradas
abordagens com enfoque similar. Alguns estudos e modelos de gestão, como os
baseados em sustentabilidade e responsabilidade social, tem incluído a
preocupação com os clientes, entre outros atores, no contexto das decisões
organizacionais. Porém, o fazem não de forma exclusiva ou prioritária. Nesse
sentido, é recomendável estudar a abordagem de avaliação ora proposta com maior
profundidade, inclusive, para sua eventual aplicação em outros contextos de
serviços públicos e até de mesmo de atuação empresarial.
Também cabe destacar que a não utilização dos atributos de serviço
adequado na avaliação do esforço de inovação,implica em medições dissociadas do
efeito essencial e faz com que a atenção nas concessões fique concentrada nas
questões tarifárias e em alguns aspectos técnicos, em detrimento das demais
variáveis de interesse público. Assim, o mundo real da prestação de serviços
públicos fica distante do mundo ideal expresso nas leis e regulamentos e,
principalmente, dos seus usuários.
240
7.3 ESTRATÉGIAS DE LEGITIMAÇÃO E ISOMORFISMO
No tocante às estratégias de legitimação e isomorfismo, cabe destacar que
para as empresas do setor a realização dos investimentos em P&D é importante
para que elas não incorram em multas e outras eventuais penalidades por parte do
ente fiscalizador e regulador. Para elas, o mais importante pode ser o cumprimento
das disposições legais, contratuais, regulatórias e demais medidas necessárias para
garantir sua legitimidade e não colocar em risco a concessão.
No caso das concessões que contemplem um monopólio natural, a
competição, especialmente no tocante aos preços, se dá antes da operação, ou
seja, antes de atuar no mercado. É quando várias empresas disputam uma
determinada concessão que, depois de obtida, é explorada comercialmente durante
vários anos ou, até mesmo, décadas, como ocorre no setor elétrico. Nesse contexto,
a estratégia empresarial pode estar contemplando a busca de maior legitimação
para, com ela, consolidar e ampliar as perspectivas de continuidade do negócio, ou
seja, para manter e rentabilizar a concessão.
De outro lado, é também possível considerar o comportamento isomórfico das
distribuidoras, seja no tocante à relativa estabilidade nas áreas prioritárias para
investimento em P&D, bem como, pela ausência de diferenças relevantes no
desempenho entre as empresas com controle público e privado. Além disso, a
própria regulação tende a inibir práticas distintas daquelas contempladas nas regras
e procedimentos estabelecidos. As concessionárias se subordinando a esse
regramento institucional, próprio de um setor regulado, enfrentam restrições para dar
atendimento a seus interesses particulares. Por outro lado, se soma a essa situação,
o caráter difuso e até indeterminado do interesse público. Nesse contexto, as
iniciativas de promoção da inovação tecnológica, como é o caso da P&D do setor
elétrico, acabam por não se traduzir em resultados concretos e objetivos.
As concessionárias adotando estratégias e reproduzindo práticas de outras
empresas do mesmo setor, segundo um mesmo suporte regulatório, tendem a ter
comportamentos e desempenhos similares, inclusive, em relação à P&D. Talvez as
multas e o risco de perda da concessão sejam estímulos suficientes para que os
serviços sejam conduzidos de forma aceitável e os investimentos sejam realizados
dentro do mínimo estabelecido. De qualquer forma, a existência de regras
241
institucionalizadas é fundamental para isso aconteça, porém, condiciona o
comportamento e, conseqüentemente, até o desempenho das concessionárias. Ou
seja, as regras que têm por objetivo garantir padrões mínimos de desempenho,
paradoxalmente, podem comprometer os objetivos do próprio interesse público na
medida em que as empresas passam a adotar comportamentos isomórficos,
reduzindo as diferenças entre si, atenuando os referenciais de comparação, e até
mesmo, dificultando a identificação de necessidades para aprimoramento do sistema
regulatório.
7.4 ALGUMAS RECOMENDAÇÕES REGULATÓRIAS
Com base na análise da regulação setorial da P&D e no referencial teórico
utilizado, foi possível constatar que existem algumas oportunidades para melhorias
no modelo regulatório vigente. Uma delas diz respeito ao fato de que essa
modelagem regulatória adota uma política de promoção da inovação, porém, limita a
participação de fabricantes de materiais e equipamentos à condição de instituição
parceira. Essa condição implica que esses agentes devem aportar recursos para
participar dos projetos de P&D, comprometendo a atratividade dessas atividades
junto ao setor produtivo.
Por outro lado, as demais partes envolvidas, como as universidades e centros
de pesquisa, bem como as próprias concessionárias, não fabricam e nem colocam
produtos no mercado, ou seja, individualmente, não tem condições de completar o
ciclo de inovação. Assim, a efetiva transformação dos resultados da P&D em
empregos, renda e novos negócios; precisa da efetiva participação do setor
industrial e outros tipos de empresas nas atividades de P&D, sem o que não há que
se falar em inovação. Para Santos e Romeiro (2008, p. 481), no Brasil faltou
preocupação com a priorização da capacidade de inovação das empresas
brasileiras. Entre outros aspectos, eles consideram que a atividade de P&D, em
lugar de estar demasiadamente concentrada nas universidades e laboratórios de
para se fazer pesquisa de inovação t
242
Outra questão, é que a regulação do setor elétrico inibe o processo inovativo
na medida em que procura eliminar os riscos, penalizando o insucesso dos
resultados da P&D. Entretanto, os riscos são inerentes às atividades inovadoras, nas
quais o
preços, montante de vendas etc.) que permeiam as avaliações de projetos e
-238). Além
disso, a atual regulação pode ensejar a continuidade de projetos, que, com base em
avaliações intermediárias, teriam indicação de resultados inadequados. Também a
baixa tolerância ao risco do processo regulatório compromete, em especial, a
flexibilidade e a construção de um ambiente favorável à inovação.
Em relação a outros setores de serviços públicos objeto de concessão, a
regulação do setor elétrico brasileiro está bem estruturada, mas, ainda demanda
melhorias nas bases de dados, como é o caso dos Relatórios de Responsabilidade
Socioambiental, nos quais foram constatados problemas de inconsistência conforme
já relatados. Também, não há regulação relacionada aos atributos de serviço
adequado e tampouco há detalhamento operacional desses atributos nos sistemas
de governança, de avaliação de desempenho ou correlatos e, principalmente nos
contratos de concessão, apesar das expressas determinações da legislação nesse
sentido.
No âmbito da fiscalização e regulação do setor elétrico, apesar da utilização
de mecanismos de participação social como as consultas e audiências públicas, ela
ainda é muito limitada. A viabilização de tal participação, relevante para consolidar o
modelo de regulação, é muito complexa e envolve vários desafios. Um desses
desafios compreende a formação de coalizões políticas que, além de promover a
estabilidade do marco regulatório, devem ter a capacidade para equacionar
desenvolvimento econômico e de promover a inclusão social de grande parte de sua
Outro importante desafio é representado pela
diversidade de interesses envolvidos, inclusive, no âmbito dos próprios usuários.
243
7.5 SUGESTÕES PARA NOVOS ESTUDOS
A pesquisa realizada indicou uma nova abordagem para avaliar os serviços públicos
e o esforço de inovação que, entretanto, demanda diversos estudos
complementares. Um exemplo é a necessidade de discutir com maior profundidade
a conceituação de serviço adequado e de seus atributos, bem como, os parâmetros
que podem ser utilizados para sua operacionalização em regulamentos, contratos e
em outros instrumentos utilizados nas concessões. Outra sugestão diz respeito ao
aprofundamento dos estudos sobre estratégias empresariais em ambientes
regulados, especialmente, nos casos de monopólios naturais; bem como, sobre as
parcerias público-privadas, sistemas de governança, avaliação de desempenho,
gestão de projetos e ações correlatas, utilizados nesses ambientes.
Também é recomendável realizar estudos com horizontes temporais mais
ampliados, especialmente para avaliar a defasagem entre a conclusão de
investimentos e outros eventuais tipos de intervenções e os impactos desejados.
Nesse sentido, é necessário estudar a utilização de novas aplicações do ferramental
disponível ou até mesmo desenvolver novas alternativas para condução dos futuros
trabalhos de investigação. No caso da análise de dados em painel, além da
modelagem pooled contemplada na pesquisa, é recomendável que futuros estudos
contemplem a utilização das modelagens com efeitos fixos e efeitos aleatórios.
Concluindo, é importante ter claro que as questões relacionadas aos serviços
públicos, como as do setor de energia, não são de responsabilidade exclusiva dos
seus usuários, das concessionárias e da Administração Pública. Tais questões são
de interesse de toda a sociedade e dessa forma, devem ser inseridas, em especial,
na agenda acadêmica. Somente assim, será possível uma melhor compreensão dos
fenômenos envolvidos e contar com elementos consistentes para subsidiar as
decisões necessárias.
244
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