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A CONCORDNCIA PLURAL VARIVEL NO SINTAGMA NOMINAL DO PORTUGUS REESTRUTURADO DA COMUNIDADE DE ALMOXARIFE, SO TOM
(Desenvolvimento das Regras de Concordncia Variveis no Processo de Transmisso-Aquisio Geracional)
Vol. 1
por
Carlos Filipe Guimares Figueiredo
Dissertao de Doutoramento em Lingustica
2010
FACULDADE DE CINCIAS SOCIAIS E HUMANAS
DEPARTAMENTO DE PORTUGUS
UNIVERSIDADE DE MACAU
A CONCORDNCIA PLURAL VARIVEL NO SINTAGMA NOMINAL DO PORTUGUS REESTRUTURADO DA COMUNIDADE DE ALMOXARIFE, SO TOM
(Desenvolvimento das Regras de Concordncia Variveis no Processo de Transmisso-Aquisio Geracional)
Vol. 1
por
Carlos Filipe Guimares Figueiredo
Orientador: Professor Doutor Alan Norman Baxter
Departamento de Portugus
Dissertao em Lingustica para obteno do grau de Doutor.
2010
Faculdade de Cincias Sociais e Humanas
UNIVERSIDADE DE MACAU
Copyright 2010 by Guimares Figueiredo, Carlos Filipe University of Macau
Ao meu pai, que partiu em vsperas de eu me licenciar.
minha me, exemplo mpar de sacrifcio e dedicao.
Nani e ao Diogo, pela felicidade que trazem minha existncia.
Ao meu irmo Rui e aos meus filhos Jos Manuel e Ana Ctia.
minha sogra Maria Ivone.
i
ii
Agradecimentos
Durante o perodo de tempo em que decorreu o presente estudo, fui acumulando
dvidas, impossveis de saldar. A primeira destas para com todas a minhas fontes de
informao, as quais permitiram que partilhasse das suas vidas e dos seus
conhecimentos. De entre as fontes profissionais, tive o privilgio de cultivar amizade
com algumas. Sem estabelecer prioridades, gostaria de referir o grande apreo e
profundo sentimento de gratido para com o meu orientador, Prof. Alan Norman Baxter,
que, paciente e tolerantemente, dedicou horas sem fim a revises, permitindo-me
entender os objectivos e caminhos do rigor cientfico.
A segunda dvida de gratido para com a Universidade de Macau, que no s me
concedeu a oportunidade para encetar um novo caminho na minha vida profissional mas
tambm me proporcionou apoio e auxlio para levar a cabo a presente pesquisa. De entre
o corpo profissional da Universidade, um agradecimento especial para a Prof. Maria
Antnia Espadinha, que permitiu que fosse acolhido no seio desta famlia e me deu
estmulo antecipado, ajudando a lanar este projecto. Os agradecimentos estendem-se ao
Hugo Cardoso, pelas sugestes e apoio na reviso de texto, bem como ao Aldino Dias,
pelo incentivo e ajuda na reviso de texto. Quero tambm agradecer a todos aqueles que,
de uma forma ou de outra, se interessaram pelo andamento da pesquisa. De entre estes,
no posso deixar de citar a Paula Campos, a Sara Gonalves, a Ana Paula Godinho, a
Leonor Seabra, a Zhang Jing, o Yao Jing Ming e a Gao Lili, pela amizade e sentido de
cooperao.
Mas as minhas dvidas intelectuais vo para alm do corpo docente da Universidade
de Macau. Esta pesquisa uma excrescncia do gosto pela Lingustica, que nasceu
durante o percurso de obteno da minha licenciatura. O fascnio pelas variedades de
portugus estava no gene, sem que me apercebesse, e palpitava de cada vez que, em
Angola, ao abandonar a sala-de-aulas da escola primria, mudava o tipo de discurso para
comunicar, de modo genuno, com os colegas, fosse no ptio do recreio fosse nas
brincadeiras de rua. As vicissitudes da vida determinaram que tivesse de interromper os
estudos, quando aportei em Portugal, integrado no grosso dos retornados que buscava,
na metrpole, alternativas de sobrevivncia, finda que estava a aventura portuguesa da
expanso colonial. Lembro-me, ento, como me soava a estranho o idioma que
iii
aprendera nas carteiras da escola primria, de cada vez que contactava com falantes das
diversas regies de Portugal. Retomando os estudos, j em fase em que comeavam a
despontar os primeiros cabelos brancos, o incentivo dos Profs. Malaca Casteleiro e
Maria Jos Grosso foi determinante para que reavivasse em mim o interesse em tentar
perceber a riqueza encerrada na minha variedade de portugus e entender que a
mesma poderia dar contributo valioso para os estudos da aquisio, em particular, e da
Lingustica, em geral. Para ambos, deixo registada uma palavra de apreo muito
especial.
Ao ser integrado no quadro profissional da Universidade de Macau, estava-me
reservada a grata surpresa de poder dar continuidade a dois percursos que me completam
pessoal e profissionalmente: exercer a carreira de docente, contactando com alunos que
me ajudam a descobrir a profundidade de sentimentos e me animam para me envolver
em projectos didcticos; desenvolver trabalhos de pesquisa sobre temas que me fascinam
e que podem dar contributo valioso para os estudos em Lingustica, para alm de
permitirem que contacte com especialistas que me possibilitam um cada vez maior
crescimento intelectual.
A nvel estreitamente pessoal, tenho ainda mais dvidas que nunca poderei saldar.
Para com os meus pais, Cu e Amlcar, mpares nos exemplos de rectido humana e
verdadeiros azimutes para me indicarem o trajecto da persistncia, sacrifcio e esforo.
Para com o meu irmo Rui, sempre na vanguarda para me escudar nos momentos mais
difceis. Para com a minha sogra, Maria Ivone, nunca ausente com o seu estmulo e
apoio. Para com o Jos Manuel e a Ctia, que me acolherem e aceitaram no seu seio
como pai, ajudando-me a preencher a minha vida.
Para com a Nani, a minha dvida impagvel deve-se ao sofrimento em silncio,
pacincia e tolerncia pelas minhas horas de ausncia, dedicadas ao presente estudo.
Quanto ao Diogo, a dvida tem a ver com a adolescncia que no sentiu a minha
presena diria, devido tambm ao tempo votado a este projecto. Vocs so, ambos, a
magia da minha vida, o meu porto de acolhimento, o meu tudo.
iv
RESUMO
A pesquisa analisa a aquisio de marca de plural (PL) no sintagma nominal (SN) de
uma variedade de portugus reestruturado, falada pela comunidade bilingue (crioulo e
portugus) de Almoxarife, So Tom. Numa perspectiva da sociolingustica
variacionista, so feitas comparaes com variedades africanas de portugus que tm
substratos do grupo nger-congo atlntico (o portugus vernacular de Angola, o
portugus do Maputo, Moambique, e o portugus de uma comunidade de descendentes
de serviais na ilha de So Tom), o portugus cabo-verdiano, uma variedade brasileira
de portugus rural e variedades brasileiras de portugus urbano. O estudo recorreu ao
pacote GOLDVARB X, que permite identificar as variveis lingusticas e
extralingusticas que influenciam a marcao plural nos constituintes do SN do
portugus de Almoxarife (PA), determinando a natureza da concordncia plural varivel
(CPL-var) a nvel comunitrio. A anlise estrutural da concordncia no SN sustentada
por um quadro terico heterogneo da rea da aquisio de primeiras lnguas (L1s),
aquisio bilingue e aquisio de L2s (ASL), enfocando, particularmente, o papel da
Gramtica Universal (GU) na ASL, bem como os preceitos da Morfologia Distribuda
(MD) acerca da marcao varivel nos elementos do SN. Comparando o portugus com
o santomense, o crioulo de Cabo Verde (CCV) e certas lnguas do grupo nger-congo
atlntico, determina-se o impacto das caractersticas tipolgicas das L1s tanto na
interlngua como na posterior lngua nativizada que emerge em situao de transmisso
lingustica irregular, visando explicar a forma como ambos os sistemas podem ser
modelados por aspectos lingusticos, psico-cognitivos e sociohistricos. Uma das
propostas do trabalho, baseada na Teoria dos Princpios e Parmetros, a hiptese de
ocorrerem paralelismos na aquisio da marca de PL e desenvolvimento da CPL no SN
das L1s de falantes monolingues e bilingues, por um lado, e das L2s, por outro lado.
Assume-se tambm que os falantes adultos de L2s acedem parcialmente GU e que os
parmetros desactivados aps o perodo crtico da aquisio no so totalmente
reinstanciados. Os valores obtidos revelam que a CPL-var motivada, essencialmente,
por condicionantes do tipo estrutural, no se vislumbrado uma influncia significativa
das variveis do tipo fonolgico e semntico no desenho da mesma. A varivel classe
gramatical revelou que, em SNs de estrutura reduzida ocorre relao entre posio e
v
categoria gramatical: determinantes e primeira posio (posio pr-nuclear), nomes e
segunda posio (ncleo) e adjectivos e terceira posio (posio ps-nuclear). Quanto
s variveis extralingusticas, identificaram gramticas em competio, com a dos
falantes mais idosos evidenciando proximidade gramtica do substrato e a das
geraes mais novas caminhando no sentido de uma ligeira aquisio das regras da
gramtica da lngua-alvo (LA). A comparao dos resultados do PA com os das outras
variedades africanas e brasileiras de portugus permitiu concluir que o portugus
adquirido em situao de contacto por falantes de um crioulo portugus (CP) atlntico
manifesta os mesmos padres de variao do portugus adquirido numa situao de
transmisso lingustica irregular, na qual a lngua ancestral no um CP atlntico.
vi
ABSTRACT
This study focuses on the acquisition of plural (PL) marking in the noun phrase of a
variety of restructured Portuguese spoken by the bilingual (Creole Portuguese)
community of Almoxarife (So Tom). Within a variationist sociolinguist perspective,
comparisons are made with African varieties of Portuguese which have Niger-Congo
Atlantic substrates (Angola vernacular Portuguese, Maputo Portuguese in Mozambique,
and the Portuguese of descendents of indentured Africans in So Tom), the Portuguese
of Cape Verde, as well as one rural and two urban varieties of Brazilian Portuguese. The
study of variation in PA makes use of the GOLDVARB X package, which permits the
identification of linguistic and extralinguistic variables influencing plural marking of
noun phrase constituents, thereby determining the nature of variable plural agreement at
a community level. The structural analysis of noun phrase plural agreement is rooted in a
heterogeneous theoretical framework within the domain of first language (L1)
acquisition, bilingual acquisition, and second language acquisition (SLA), with
particular emphasis on the role of Universal Grammar (UG) in SLA, as well as the tenets
of Distributed Morphology (DM) with regard to variable marking of NP constituents.
Comparisons of Portuguese with Santomense, Cape Verdean Creole (CVC) and certain
Niger-Congo Atlantic languages establish the impact of L1 and its typological
characteristics on both the learners interlanguage and the nativised language in a
context of imperfect language shift, in order to explain how both systems can be shaped
by linguistic, psycho-cognitive and sociohistorical aspects. One of the working
hypotheses is that the acquisition of plural marking parallels the development of NP
number agreement in monolingual/bilingual L1s and L2s, based on the Theory of
Principles and Parameters. It is also assumed that adult L2 speakers access UG partially
and that parameters deactivated after the critical period are not entirely reset.
The values obtained demonstrate that PLA-var is essentially motivated by structural
constraints, since phonological and semantic variables appear not to intervene
significantly in shaping it. The grammatical class variable revealed that, in simple NPs,
there is a correlation between position and grammatical category: determiners and first
(pre-head) position, nouns and second (head) position, adjectives and third (post-head)
position. Extra-linguistic variables, on the other hand, unearthed competing grammars:
vii
that of the older speakers approaching substrate models, and that of the younger
generations moving towards partial acquisition of target-language (LA) grammatical
rules. The systematic comparison of PA results with those for other African and
Brazilian varieties of Portuguese led to the conclusion that the Portuguese acquired in
contact situations by speakers of an Atlantic Portuguese-based Creole displays the same
patterns of variation as the Portuguese acquired in an imperfect language shift setting for
which the ancestral language is not an Atlantic Portuguese-based Creole.
viii
ndice Lista de abreviaturas
Lista de tabelas
Lista de figuras
Introduo ................................................................................................................................
1
Captulo 1. O tema ...................................................................................................................
11
1.1. Portugus do Brasil e concordncia nominal varivel de nmero .....................................
11
1.2 Variedades africanas de portugus e concordncia nominal varivel de nmero ...............
31
1.2.1. Variedades africanas de portugus com substrato do grupo nger-congo atlntico ...
31
1.2.1.1. Portugus dos tongas (Roa Monte Caf, So Tom) .......................................
31
1.2.1.2. Portugus vernculo de Angola ........................................................................
38
1.2.1.3. Portugus de Moambique ................................................................................
40
1.2.2. Variedades africanas de portugus com substrato crioulo .........................................
45
1.2.2.1. Portugus caboverdiano e seu substrato (crioulo de Cabo Verde) ....................
45
1.2.2.2. Portugus de Almoxarife (So Tom) e seu substrato (santomense) ................
59
1.2.2.3. A comunidade de Almoxarife ...........................................................................
85
1.2.2.3.1. Caractersticas da fala de Almoxarife ...................................................
90
1.3. Concluses parciais ............................................................................................................
99
Captulo 2. Fundamentao terica ..........................................................................................
103
2.1. Os pressupostos terico-metodolgicos sobre aquisies de L1, bilingue e L2 ................
106
2.1.1. Variao e sistematicidade na interlngua: perspectiva generativista ........................
108
2.1.2. Variao e sistematicidade na interlngua: perspectiva psicolingustica ...................
113
2.1.3. Variao e sistematicidade na interlngua: perspectiva sociolingustica ...................
114
2.1.4. Variao e sistematicidade na interlngua: aplicao da perspectiva heterognea ao estudo do PA .........................................................................................................................
116
2.2. Abordagens tericas sobre aquisio de L1 .......................................................................
123
2.2.1. Modelo generativista ..................................................................................................
124
2.2.2. A teorizao em torno da GU .....................................................................................
125
2.2.2.1. O Modelo de Princpios e Parmetros (Parameter settings) .............................
125
2.2.2.1.2. Teoria das Regncias e Ligaes ............................................................
127
2.2.3. Papel da GU na aquisio da L1 .................................................................................
130
2.2.4. GU e estudos de aquisio ..........................................................................................
135
2.3. Abordagens tericas sobre aquisio bilingue ...................................................................
137
ix
2.3.1. Acesso ao lxico por parte do bilingue ......................................................................
138
2.3.2. Papel da GU na aquisio bilingue: a Hiptese da Diferenciao da Linguagem .....
141
2.4. Abordagens tericas sobre aquisio de L2s ....................................................................
145
2.4.1. O modelo generativista e papel da GU na aquisio de L2s ....................................
146
2.4.1.1. GU e teorias em torno da aquisio de L2s ......................................................
147
2.4.2. Aquisio de L2s e modelos psicocognitivos ...........................................................
152
2.4.2.1. Conexionismo (Connectionism) e modelos de processamento paralelo distribudo .......................................................................................................................
153
2.4.2.2. Teoria da Processabilidade (Processability Theory) ......................................
154
2.4.2.3. Modelo dos Quatro Morfemas (The 4M Model) ................................................
160
2.4.3. Modelo da mudana evolucionista da lngua .............................................................
161
2.5. Variao: pressupostos tericos .........................................................................................
166
2.5.1. Variveis extralingusticas, variao e mudana .......................................................
169
2.5.2. Variveis lingusticas e contexto ................................................................................
172
2.5.3. Modelos matemticos para reproduo do efeito global dos dados empricos ..........
174
2.6. Concordncia de nmero PL a nvel do SN .......................................................................
178
2.6.1. Posicionamento e flexo em nmero dos constituintes do SN: vises descritivistas
178
2.6.2. O quadro terico da concordncia ..............................................................................
186
2.6.2.1. Concordncia e ncleos funcionais ...................................................................
187
2.6.3. O SN no portugus europeu .......................................................................................
195
2.6.4. Categorias funcionais e categorias lexicais ................................................................
197
2.6.4.1. Aquisio do sintagma determinante .........................................................
201
2.6.4.2. Aquisio de gnero e nmero ...........................................................................
206
2.6.5. Aquisio do sintagma determinante em L2 ..............................................................
214
2.6.6. Aquisio da concordncia de PL no sintagma determinante ....................................
218
2.7. Aquisio das categorias funcionais da L2: os casos do santomense e do PA ..................
225
2.8. A refixao dos parmetros ...............................................................................................
229
2.9. Concordncia varivel ao nvel do SN ...............................................................................
231
2.10. Fossilizao ......................................................................................................................
239
2.10.1. Fossilizao e variao .............................................................................................
239
2.10.2. Potenciais causas de fossilizao .............................................................................
242
2.10.3. GU e fossilizao .....................................................................................................
244
2.10.4. Fossilizao no PA ...................................................................................................
246
x
2.10.4.1. PA: transferncia e fossilizao fonolgica .....................................................
246
2.10.4.2. PA: transferncia e fossilizao morfossintctica ............................................
250
2.11. Aquisio massiva de L2s: lnguas crioulas e teorias de aquisio de L2s ...................
253
2.11.1. Universais lingusticos vs. transferncia: a Hiptese da Interlngua (Interlanguage Hypothesis) ...........................................................................................................................
253
2.11.1.1. Teoria da Processabilidade e flexo morfolgica das lnguas emergentes por contacto .....................................................................................................................
254
2.11.1.2. Teoria da Processabilidade e processamento sintctico das lnguas emergentes por contacto ..................................................................................................
257
2.11.2. Hiptese do Desenvolvimento Moderado da Transferncia (Developmentally Moderated Transfer Hypothesis) .........................................................................................
260
2.11.3. Transmisso lingustica irregular .............................................................................
263
2.11.3.1. Vectores para a emergncia da transmisso lingustica irregular ....................
264
2.11.3.1.1. Sociohistria e transmisso lingustica irregular .................................
267
2.11.3.1.2. Transmisso lingustica irregular: parmetros lingusticos .................
269
2.11.3.1.3. Transmisso lingustica irregular e gramaticalizao: heterognese GU/transferncia ..........................................................................................................
273
2.11.3.2. Variedades crioulizantes ..................................................................................
279
2.11.3.3. Transmisso lingustica irregular e variao: gramticas em competio .......
282
2.12. Princpio da coeso estrutural e variao a nvel do sintagma determinante ...................
294
2.13. Concluses parciais ..
295
Captulo 3. A metodologia .......................................................................................................
299
3.1. Aplicao dos mtodos quantitativos no estudo da aquisio de lnguas ..........................
299
3.1.1. Recolha e transcrio dos dados do corpus ................................................................
302
3.1.2. Tratamento dos dados ................................................................................................
307
3.1.3. Os dados dos informantes ..........................................................................................
307
3.1.4. Caracterizao dos dados ...........................................................................................
309
3.2. O suporte computacional ....................................................................................................
312
3.3. Descrio da varivel dependente e das variveis independentes .....................................
315
3.3.1. Varivel dependente ...................................................................................................
316
3.3.2. Variveis independentes .............................................................................................
317
3.4. Codificao dos dados ........................................................................................................
319
3.5. Varivel dependente constituda ........................................................................................
321
3.6. Variveis independentes constitudas ................................................................................
322
xi
3.6.1. Varivel independente salincia fnica e suas subvariveis ......................................
322
3.6.1.1. Salincia fnica ...............................................................................................
322
3.6.1.2. Tonicidade (Tonicidade dos itens lexicais singulares) ...................................
330
3.6.2. Varivel independente marcas precedentes ao item analisado .................................
334
3.6.3. Varivel independente contexto fonolgico posterior ...............................................
338
3.6.4. Varivel independente classe gramatical do item analisado .....................................
343
3.6.4.1. Constituio e definio dos factores para a varivel classe gramatical ........
345
3.6.5. Varivel independente posio do item analisado em relao ao ncleo do SN ......
350
3.6.6. Varivel independente posio do item na cadeia do SN (Posio linear) ...............
354
3.6.7. Varivel independente marcao de gnero ..............................................................
359
3.6.8. Varivel independente ordem do item na cadeia dos constituintes flexionveis em nmero ..................................................................................................................................
362
3.6.9. Varivel independente grau de concordncia de nmero no SN ...............................
364
3.6.10. Varivel independente trao semntico do SN (Animacidade) ................................
365
3.6.11. Varivel independente sexo ......................................................................................
368
3.6.12. Varivel independente idade ....................................................................................
371
3.6.13 Varivel independente estadia (Permanncia fora da comunidade) ........................
372
3.6.14. Varivel independente escolaridade ........................................................................
374
3.7. Codificao dos itens de acordo com os cdigos atribudos aos factores ..........................
377
3.8. Quantificao dos dados para seleco das variveis independentes e dos factores a serem incorporados na anlise final ..........................................................................................
378
3.8.1. Iterao entre grupos de factores ................................................................................
381
3.8.2. Variveis independentes a serem incorporadas na anlise final ................................
388
Captulo 4. Anlise dos resultados: varivel dependente e variveis independentes do tipo estrutural ....................................................................................................................................
405
4.1. Resultados das variveis constitudas e respectivas anlises .............................................
407
4.1.1. Varivel dependente ...................................................................................................
407
4.1.2. Variveis independentes do tipo estrutural ................................................................
409
4.1.2.1. Varivel independente posio em relao ao ncleo do SN .........................
410
4.1.2.1.1. Relao entre classe gramatical e posio em relao ncleo do SN .....
411
4.1.2.2. Varivel independente ordem do item na cadeia dos constituintes flexionveis
415
4.1.2.2.1. Relao entre ordem do item na cadeia dos constituintes flexionveis e posio linear ......................................................................................................
417
4.1.2.3. Varivel independente classe gramatical ..........................................................
420
xii
4.1.2.4. Varivel independente marcas precedentes ao item analisado .........................
424
4.1.2.4.1. Marcas precedentes: influncia dos factores individuais na marcao PL do elemento analisado .......................................................................................
435
4.1.2.4.2. Marcas precedentes: contribuio dos factores amalgamados para a marcao PL elemento analisado ............................................................................
446
4.1.2.4.2.1. Factores amalgamados para estudo do efeito das marcas precedentes na marcao PL do elemento analisado: anlise I ...................
447
4.1.2.4.2.2. Factores amalgamados para estudo do efeito das marcas precedentes na marcao PL do elemento analisado: anlise II .................
453
4.1.2.4.2.3. Factores amalgamados para estudo do efeito das marcas precedentes na marcao PL do elemento analisado: anlise III ............
457
4.1.2.4.3. Relao entre marcas precedentes, posio linear e classe gramatical na marcao PL dos itens do SN ..............................................................................
462
4.1.2.4.4. Anlises alternativas considerando marcas precedentes, posio linear e classe gramatical ......................................................................................................
464
4.1.2.4.5. Faixas etrias e perfil de marcao motivado pelas marcas precedentes
470
4.1.2.4.6. Marcas precedentes representadas por marcador semntico ....................
475
4.1.2.5. Varivel independente grau de concordncia de nmero no SN .......................
483
4.1.2.6. Varivel independente posio do item na cadeia do SN (Posio linear) .......
491
4.1.2.6.1. Relao entre posio linear e classe gramatical na marcao PL dos itens do SN ...............................................................................................................
494
4.1.2.6.2. Relao entre posio linear e posio em relao ao ncleo do SN na marcao PL dos itens do SN ..................................................................................
503
Captulo 5. Anlise dos resultados: variveis independentes do tipo semntico e fonolgico; variveis extralingusticas ........................................................................................................
537
5.1. Varivel independente do tipo semntico ..........................................................................
538
5.1.1. Varivel independente trao semntico do SN (Animacidade) ..................................
538
5.2. Variveis independentes do tipo fonolgico ......................................................................
541
5.2.1. Varivel independente salincia fnica (Processos morfofonolgicos de formao de PL) ...................................................................................................................................
541
5.2.1.1. Relao entre salincia fnica e escolaridade na marcao PL do PA ...........
548
5.2.2. Varivel independente tonicidade (Tonicidade dos itens lexicais singulares) ..........
553
5.2.2.1. Relao entre tonicidade e escolaridade na marcao PL do PA e do MRJ ....
555
5.2.2.2. Efeito da salincia (salincia fnica x tonicidade) na marcao PL dos itens do SN do PA ...................................................................................................................
557
5.2.2.3. Efeito da salincia (salincia fnica x tonicidade) na marcao PL do PA e da NURC ........................................................................................................................
561
xiii
5.2.2.4. Relao entre salincia (salincia fnica x tonicidade) e escolaridade (PA e NURC) ...........................................................................................................................
564
5.2.2.5. Efeito da salincia (salincia fnica x tonicidade) na marcao PL do PA e do PT ..............................................................................................................................
567
5.2.2.6. Relao entre salincia (salincia fnica x tonicidade) e idade na marcao PL dos itens do SN do PA e do PT ................................................................................
570
5.2.2.7. Efeito da salincia (salincia fnica x tonicidade) na marcao PL dos itens do SN: 3 variedades de portugus ...................................................................................
576
5.2.3. Varivel independente contexto fonolgico posterior ...............................................
581
5.2.3.1. Efeito do contexto fonolgico posterior na marcao PL dos itens do SN, englobando consoantes segundo os traos de fonte .......................................................
584
5.2.3.2. Efeito do contexto fonolgico posterior na marcao PL dos itens do SN, englobando as consoantes num nico factor ..................................................................
588
5.2.3.3. Efeito do contexto fonolgico posterior na marcao PL dos itens do SN, englobando as pausas num nico factor .........................................................................
591
5.2.3.4. Efeito do contexto fonolgico posterior na marcao PL dos itens do SN, englobando consoantes segundo os traos de classe principal .......................................
593
5.2.3.5. Efeito do contexto fonolgico posterior na marcao PL dos itens do SN, englobando consoantes segundo os traos coronal e no-coronal .................................
596
5.2.3.6. Efeito do contexto fonolgico posterior na marcao PL dos itens do SN, englobando consoantes segundo o modo de articulao: 6 factores ..........................
599
5.2.3.7. Efeito do contexto fonolgico posterior na marcao PL dos itens do SN, englobando consoantes segundo o modo de articulao: 7 factores ......................
601
5.2.3.8. Efeito do contexto fonolgico posterior na marcao PL dos itens do SN, englobando consoantes segundo as zonas de articulao ..............................................
605
5.2.3.9. Efeito do contexto fonolgico posterior na marcao PL dos itens do SN, englobando consoantes segundo os pontos de articulao .............................................
608
5.2.3.10. Efeito do contexto fonolgico posterior na marcao PL da salincia fnica
612
5.2.3.10.1. Efeito do contexto fonolgico posterior na salincia fnica, englobando consoantes segundo os traos de fonte, para a marcao PL dos itens do SN ....................................................................................................
613
5.2.3.10.2. Efeito do contexto fonolgico posterior na salincia fnica, englobando consoantes segundo os traos de classe principal, para a marcao PL dos itens do SN ..............................................................................................
627
5.2.3.10.3. Efeito do contexto fonolgico posterior na salincia fnica, englobando consoantes segundo os traos coronal e no-coronal, para a marcao PL dos itens do SN ..............................................................................
629
5.2.3.10.4. Efeito do contexto fonolgico posterior na salincia fnica, englobando consoantes segundo o modo de articulao, para a marcao PL dos itens do SN: 6 factores ............................................................................
631
xiv
5.2.3.10.5. Efeito do contexto fonolgico posterior na salincia fnica, englobando consoantes segundo o modo de articulao, para a marcao PL dos itens do SN: 7 factores ............................................................................
633
5.2.3.10.6. Efeito do contexto fonolgico posterior na salincia fnica, englobando consoantes segundo as zonas de articulao, para a marcao PL dos itens do SN ...............................................................................................
635
5.2.3.10.7. Efeito do contexto fonolgico posterior na salincia fnica, englobando consoantes segundo os pontos de articulao, para a marcao PL dos itens do SN ...............................................................................................
637
5.2.3.11. Efeito das marcas precedentes na salincia fnica .........................................
640
5.3 Variveis extralingusticas .............................................................................................
652
5.3.1. Varivel independente escolaridade ....................................................................
653
5.3.2. Varivel independente idade ................................................................................
663
5.3.3. Varivel independente estadia (Permanncia fora da comunidade) ...................
671
5.3.4. Varivel independente sexo ..................................................................................
674
Concluses finais .....................................................................................................................
681
Referncias bibliogrficas .........................................................................................................
711
I. Bibliografia consultada e citada ......................................................................................
711
II. Bibliografia pertinente consultada ..................................................................................
753
III. Stios pertinentes consultados ........................................................................................
785
Curriculum vitae do autor ......................................................................................................... 789
xv
xvi
Lista de abreviaturas ADJ Adjectivo
Adjt Adjunto
ADV Advrbio
AFX Afixo
AHM Arquivo Histrico Militar (Lisboa)
AP Complemento pr-nominal
ART Artigo
AISL Aquisio imperfeita de segundas lnguas
ASL Aquisio de segundas lnguas
AUX Verbo auxiliar
CCV Crioulo de Cabo Verde
cf. Conforme
CGB Crioulo da Guin Bissau
CGEN-var Concordncia varivel de gnero
CGG Crioulo do Golfo da Guin
Cod. Cdigo
CODs Construes com Objecto Duplo
COMP Complementador; marcador completivo; marcador comparador
Conc. Concordncia
CP Crioulo de base portuguesa
CPLP Comunidade dos Pases de Lngua Portuguesa
CPL-var Concordncia plural varivel
CPreps Construes com Preposies
CVSs Construes com Verbos Seriais
DEF Definido
DEM Demonstrativo
DES Descries estruturais
DET Determinante
DLPs Dados lingusticos primrios ou triggers
DOC Construes com duplo objecto
doc. Documento
DOC. Documentalista
xvii
EP Espanhol do Panam
EPR Espanhol de Porto Rico
Esp Espanhol
Estrutura-P Estrutura profunda
Estrutura-S Estrutura de superfcie
ex. Exemplo
FE-1 Faixa etria 1 (20 40 anos)
FE-2 Faixa etria 2 (41 60 anos)
FE-3 Faixa etria 3 (+ 60 anos)
Fem. Feminino
FFFH Failed Functional Features Hypothesis (Falha do Restabelecimento dos Parmetros)
Fig. Figura
fl. Folha
FL Forma Lgica
FLEX Flexo
FL0 Estado inicial do processo de aquisio de uma lngua
FLf Estado final do processo de aquisio de uma lngua
FTFA Full Transfer Full Acess Hypothesis (Acesso Total aos Princpios e Parmetros)
FUT Futuro
GEN Gnero
GU Gramtica Universal
HEL-Ba Dialecto de Helvcia, Bahia (Brasil)
HI Hiptese da Interlngua
I Sintagma entoacional
i.e. Isto
IFX Infixo
IL Interlngua
IMP Imperfectivo
IND (Presente do) Indicativo
INDF Indefinido
ININT Ininteligvel
INF Informante
xviii
INT Interrogativo(a); interrogao
L Lngua
L1 Lngua primeira
L2 Lngua segunda
LA Lngua-alvo
LDB Lei de Directrizes e Bases da Educao
LCV Lngua Caboverdiana
LE Lngua estrangeira
LF Lngua-fonte
LM Lngua materna
LO Lngua de origem
LOC Locativo
Masc. Masculino
MD Morfologia distribuda
MLF Matrix Language Frame Model
MLU Mean Lenght of Utterance (Comprimento Mdio do Enunciado)
MRJ Dialecto do Municpio do Rio de Janeiro (Brasil)
MSIH Missing Surface Inflection Hypothesis
MSpec Especificador de marcao
N Nome; substantivo
NEG Negao; negative
NUM Numeral
NURC Norma urbana culta (Brasil)
OD Objecto directo
OInd Objecto indirecto
OP Orao pequena
p. Pgina
PA Portugus de Almoxarife (So Tom)
PB Portugus do Brasil
PCV Portugus de Cabo Verde
p.e. Por exemplo
PE Portugus europeu
Pe. Padre
xix
PEH Princpio do Espelho
PERF Perfectivo
PF Forma Fonolgica
PFX Prefixo
PIL Princpio da Integridade Lexical
PL Plural
PLd Portugus de Luanda (Angola)
PM Portugus de Moambique
PMn Portugus de Minas Gerais (Brasil)
PMp Portugus do Maputo (Moambique)
POP Grupo do portugus popular
POS Possessivo
pp. Pginas
PP Pronome pessoal
PPA Portugus de Porto Alegre, Brasil
pr. Peso relativo
proc. Processo
PREP Preposio
PRET Pretrito
PRO Pronome
PROG Progressivo
PST Portugus de So Tom
PT Portugus dos tongas (So Tom)
Ptg Portugus
PtgLA Portugus lngua-alvo
PtgL1 Portugus lngua primeira
PtgL2 Portugus lngua segunda
PtgLE Portugus lngua estrangeira
PtgLM Portugus lngua materna
PVA Portugus vernculo de Angola
PVB Portugus vernculo do Brasil
Q Quantificador
REL Pronome relativo
xx
SADJ Sintagma adjectival
SADV Sintagma adverbial
SCOMPL Sintagma complementador
SDET Sintagma determinante
SFLEX Sintagma flexional
SFX Sufixo
Spec Especificador
SPREP Sintagma preposicional
SG Singular
SN Sintagma nominal
SNN Sintagma nominal nu
SQ Sintagma quantificador
SUJ Sujeito
SV Sintagma verbal
T Projeco mxima de informaes de tempo
Trad. Traduo; tradutor
TMA Tempo, modo e aspecto
UNI Grupo do portugus universitrio
xxi
xxii
Lista de tabelas
Tabela
Ttulo da tabela
Tabela 1.1 Informao encerrada nos SNNs do santomense .........................................
72
Tabela 2.1 Hierarquia hipottica da articulao dos processamentos na aquisio da interlngua ......................................................................................................
158
Tabela 3.1 Articulao dos processamentos na aquisio da interlngua inglesa ...........
159
Tabela 4.1 Taxionomia dos factores motivadores da fossilizao ..................................
246
Tabela 5.1 A assuno: similaridades estruturais configuram transferncia ..................
258
Tabela 6.1 Os factos: similaridades estruturais podem no representar transferncia ....
259
Tabela 7.1 Inverso da ordem frsica na interlngua alem ............................................
259
Tabela 8.1 Informantes de Almoxarife: faixas etrias e seus aspectos sociais ...............
309
Tabela 9.1 A varivel dependente (anlise atomstica) ...................................................
317
Tabela 10.1 Variveis independentes (anlise atomstica) ................................................
319
Tabela 11.1 Factores constitudos para a varivel dependente .........................................
321
Tabela 12.1 Factores constitudos para a varivel independente salincia fnica ............
329
Tabela 12.2 Factores constitudos para a varivel independente tonicidade ....................
333
Tabela 12.3 Factores constitudos para a varivel independente marcas precedentes ao item analisado ...............................................................................................
337
Tabela 12.4 Factores constitudos para a varivel independente contexto fonolgico posterior ........................................................................................................
342
Tabela 12.5 Factores constitudos para a varivel independente classe gramatical do item analisado ...............................................................................................
349
Tabela 12.6 Factores constitudos para a varivel independente posio do item analisado em relao ao ncleo do SN .........................................................
354
Tabela 12.7 Factores constitudos para a varivel independente posio do item na cadeia do SN ..................................................................................................
358
Tabela 12.8 Factores constitudos para a varivel independente marcao de gnero ....
361
Tabela 12.9 Factores constitudos para a varivel independente ordem do item na cadeia dos constituintes flexionveis em nmero ..........................................
363
Tabela 12.10 Factores constitudos para a varivel independente grau de concordncia de nmero no SN ...........................................................................................
364
Tabela 12.11 Factores constitudos para a varivel independente trao semntico do SN .
368
Tabela 12.12 Factores constitudos para a varivel independente sexo ..............................
370
Tabela 12.13 Factores constitudos para a varivel independente idade ............................
372
Tabela 12.14 Factores constitudos para a varivel independente estadia ..........................
373
Tabela 12.15 Factores constitudos para a varivel independente escolaridade ................. 377
xxiii
Tabela 13.1 Exemplo de cadeia de cdigos resultante da codificao dos elementos do SN ..................................................................................................................
378
Tabela 14.1 Escala hierrquica decrescente das variveis independentes seleccionadas como vlidas para anlise da CPL-var no SN do PA ....................................
384
Tabela 15.1 Varivel dependente: percentuais de marcas plural nos itens do SN do PA .
407
Tabela 15.2 Percentuais de SNs plenamente marcados no PA ........................................
407
Tabela 15.3 Percentuais de SNs plenamente marcados: 2 variedades de portugus .......
408
Tabela 15.4 Percentuais de marcas PL nos itens do SN: 7 variedades de portugus ........
409
Tabela 16.1 Efeito da posio em relao ao ncleo do SN na marcao PL dos itens do SN do PA ..................................................................................................
410
Tabela 16.2 Relao entre classe gramatical e posio em relao ao ncleo do SN: distribuio das classes gramaticais relativamente ao ncleo do SN ............
412
Tabela 17.1 Efeito da varivel independente ordem na cadeia dos constituintes flexionveis na marcao PL dos itens do SN ...............................................
416
Tabela 17.2 Efeito da relao entre posio linear e ordem do item na cadeia dos constituintes flexionveis na marcao PL dos itens do SN ..........................
418
Tabela 18.1 Efeito da classe gramatical na marcao PL dos itens do SN ......................
420
Tabela 18.2 Categoria gramatical: efeito da classe gramatical na marcao PL no elemento analisado: 3 variedades de portugus ............................................
421
Tabela 19.1 Efeito das marcas precedentes na marcao PL dos itens do SN .................
426
Tabela 19.2 Marcas precedentes: contribuio dos factores individuais para a marcao PL do elemento analisado EPR e 5 variedades de portugus ....
436
Tabela 19.3 Marcas precedentes: configurao SS_ (item na terceira posio, duas marcas formais precedentes) Informantes e grau de escolarizao ............
443
Tabela 19.4 Efeito das marcas precedentes na marcao PL dos itens do SN do PA [Factores amalgamados: Anlise I] ...............................................................
450
Tabela 19.5 Marcas precedentes: contribuio dos factores amalgamados para a marcao PL do elemento analisado 3 variedades de portugus ................
452
Tabela 19.6 Efeito das marcas precedentes na marcao PL dos itens do SN do PA [Factores amalgamados: Anlise II] ..............................................................
455
Tabela 19.7 Marcas precedentes: contribuio dos factores amalgamados para a marcao PL do elemento analisado 2 variedades de portugus ................
455
Tabela 19.8 Efeito das marcas precedentes na marcao PL dos itens do SN do PA [Factores amalgamados: Anlise III] ............................................................
458
Tabela 19.9 Marcas precedentes: contribuio dos factores amalgamados para a marcao PL do elemento analisado 3 variedades de portugus ................
460
Tabela 19.10 Efeito das marcas precedentes na marcao PL dos itens do SN do PA: faixas etrias .................................................................................................
473
xxiv
Tabela 20.1 Efeito do grau de concordncia de nmero no SN na marcao PL dos itens do SN do PA .........................................................................................
484
Tabela 20.2 Efeito do grau de concordncia de nmero no SN no percentual de marcao PL dos itens do SN: comunidade e faixas etrias .........................
488
Tabela 21.1 Grupo de factores posio do item na cadeia do SN e respectivos factores, para estudo da configurao do SN PL do PA. [Grupo de factores a testar para incorporao na anlise de dados] .........................................................
492
Tabela 21.2 Teste de significncia estatstica dentro do grupo de factores posio do item na cadeia do SN .....................................................................................
492
Tabela 21.3 Efeito da posio linear na marcao PL dos itens do SN do PA ................
493
Tabela 21.4 Posio linear: contribuio dos factores individuais para a marcao PL do elemento analisado: 2 variedades de portugus .......................................
594
Tabela 21.5 Relao entre posio linear e classe gramtica: distribuio das classes gramaticais pelas diversas posies do SN ...................................................
595
Tabela 21.6 Efeito da relao entre posio linear e posio em relao ao ncleo do SN na marcao PL dos itens do SN do PA: total de ocorrncias e percentuais de marcao ................................................................................
504
Tabela 21.7 Efeito da relao entre posio linear e posio em relao ao ncleo do SN na marcao PL dos itens do SN do PA ..................................................
504
Tabela 21.8 Relao entre posio linear e posio em relao ao ncleo do SN na marcao PL dos itens do SN do PA: comunidade e faixas etrias ..............
507
Tabela 21.9 Relao entre posio linear e posio em relao ao ncleo do SN na marcao PL dos itens do SN: 6 variedades de portugus ............................
514
Tabela 22.1 Efeito do trao semntico do SN na marcao PL dos itens do SN do PA ...
538
Tabela 22.2 Trao semntico do SN: contribuio dos factores individuais para a marcao PL do elemento analisado 3 variedades de portugus ................
539
Tabela 23.1 Efeito da salincia fnica na marcao PL dos itens do SN do PA ..............
541
Tabela 23.2 Salincia fnica: contribuio dos factores individuais para a marcao PL do elemento analisado 7 variedades de portugus ......................................
544
Tabela 23.3 Relao entre salincia fnica e escolaridade na marcao PL dos itens do SN do PA .......................................................................................................
550
Tabela 24.1 Efeito da tonicidade na marcao PL dos itens do SN do PA ......................
553
Tabela 24.2 Tonicidade: contribuio dos factores individuais para a marcao PL do elemento analisado 3 variedades de portugus ...........................................
554
Tabela 24.3 Relao entre tonicidade e escolaridade na marcao PL dos itens do SN do PA .............................................................................................................
556
Tabela 24.4 Salincia resultante do cruzamento entre salincia fnica e tonicidade (todos os dados): grupo de factores constitudo consoante metodologia de Lopes ........................................................................................................
559
xxv
Tabela 24.5 Efeito da salincia (salincia fnica x tonicidade) na marcao PL dos itens do SN do PA: grupo de factores constitudo consoante metodologia de Lopes ........................................................................................................
560
Tabela 24.6 Salincia (salincia fnica x tonicidade): contribuio dos factores individuais para a marcao PL no elemento analisado 3 variedades de portugus ..................................................................................................
562
Tabela 24.7 Relao entre salincia e escolaridade na marcao PL dos itens do SN do PA: grupo de factores constitudo consoante metodologia de Lopes ............
565
Tabela 24.8 Salincia resultante do cruzamento entre salincia fnica e tonicidade (todos os dados): grupo de factores constitudo consoante metodologia de Baxter .......................................................................................................
568
Tabela 24.9 Efeito da salincia (salincia fnica x tonicidade) na marcao PL dos itens do SN do PA: grupo de factores constitudo consoante metodologia de Baxter .......................................................................................................
568
Tabela 24.10 Salincia (salincia fnica x tonicidade): contribuio dos factores individuais para a marcao PL do elemento analisado 2 variedades de portugus ..................................................................................................
569
Tabela 24.11 Relao entre salincia e idade na marcao PL dos itens do SN do PA: grupo de factores constitudo consoante metodologia de Baxter ..................
572
Tabela 24.12 Salincia resultante do cruzamento entre salincia fnica e tonicidade (todos os dados): grupo de factores constitudo consoante metodologia de Jon-And ....................................................................................................
577
Tabela 24.13 Efeito da salincia (salincia fnica x tonicidade) na marcao PL dos itens do SN do PA: grupo de factores constitudo consoante metodologia de Jon-And ....................................................................................................
577
Tabela 24.14 Salincia (salincia fnica x tonicidade): contribuio dos factores individuais para a marcao PL do elemento analisado: 4 variedades de portugus ..................................................................................................
579
Tabela 25.1 Efeito do contexto fonolgico posterior na marcao PL dos itens do SN do PA .............................................................................................................
581
Tabela 25.2 Efeito do contexto fonolgico posterior (englobando consoantes segundo os traos de fonte) na marcao PL dos itens do SN ....................................
585
Tabela 25.3 Efeito do contexto fonolgico posterior (englobando consoantes num nico factor) na marcao PL dos itens do SN .............................................
589
Tabela 25.4 Efeito do contexto fonolgico posterior (englobando pausas num nico factor), na marcao PL dos itens do SN ......................................................
592
Tabela 25.5 Efeito do contexto fonolgico posterior (englobando consoantes segundo os traos de classe principal) na marcao PL dos itens do SN ....................
594
Tabela 25.6 Efeito do contexto fonolgico posterior (englobando consoantes segundo os traos coronal e no-coronal) na marcao PL dos itens do SN ...............
598
Tabela 25.7 Efeito do contexto fonolgico posterior (englobando consoantes segundo o modo de articulao) na marcao PL dos itens do SN: 6 factores ..............
600
xxvi
Tabela 25.8 Efeito do contexto fonolgico posterior (englobando consoantes segundo o modo de articulao) na marcao PL dos itens do SN: 7 factores ..............
602
Tabela 25.9 Efeito do contexto fonolgico posterior (englobando consoantes segundo as zonas de articulao) na marcao PL dos itens do SN ............................
606
Tabela 25.10 Efeito do contexto fonolgico posterior (englobando consoantes segundo os pontos de articulao) na marcao PL dos itens do SN ..........................
611
Tabela 25.11 Efeito do contexto fonolgico posterior (englobando consoantes segundo os traos de fonte) na marcao PL da salincia fnica ................................
613
Tabela 25.12 Efeito do contexto fonolgico posterior (englobando consoantes segundo os traos de classe principal) na marcao PL da salincia fnica ...............
628
Tabela 25.13 Efeito do contexto fonolgico posterior (englobando consoantes segundo os traos coronal e no-coronal) na marcao PL da salincia fnica ..........
630
Tabela 25.14 Efeito do contexto fonolgico posterior (englobando consoantes segundo o modo de articulao) na marcao PL da salincia fnica: 6 factores .........
632
Tabela 25.15 Efeito do contexto fonolgico posterior (englobando consoantes segundo o modo de articulao) na marcao PL da salincia fnica: 7 factores .........
634
Tabela 25.16 Efeito do contexto fonolgico posterior (englobando consoantes segundo as zonas de articulao) na marcao PL da salincia fnica .......................
635
Tabela 25.17 Efeito do contexto fonolgico posterior (englobando consoantes segundo os pontos de articulao) na marcao PL da salincia fnica .....................
637
Tabela 25.18 Efeito das marcas precedentes na marcao PL da salincia fnica ............
641
Tabela 25.19 Itens com singular em s e r (Marcao fonolgico-geracional) ................
644
Tabela 26.1 Grupo de factores escolaridade e respectivos factores, para estudo da configurao do SN PL do PA: grupo de factores para teste de factores a incorporar na anlise de dados ......................................................................
655
Tabela 26.2 Efeito da escolaridade na marcao PL dos itens do SN do PA ...................
656
Tabela 26.3 Escolaridade: contribuio dos factores individuais para a marcao PL do elemento analisado 4 variedades de portugus ..........................................
658
Tabela 27.1 Efeito da varivel idade na marcao PL dos itens do SN do PA .................
663
Tabela 27.2 SNs plenamente marcados no PA: valores por idade ..................................
664
Tabela 27.3 Idade: contribuio dos factores individuais para a marcao PL do elemento analisado 6 variedades de portugus ...........................................
668
Tabela 28.1 Efeito da estadia na marcao PL dos itens do SN do PA ............................ 673
Tabela 29.1 Efeito da varivel social sexo na marcao PL dos itens do SN do PA ........
674
Tabela 29.2 Marcao PL dos itens do SN do PA: valores por idade e sexo ...................
675
Tabela 29.3 SNs plenamente marcados no PA: valores por sexo ....................................
676
Tabela 29.4 Varivel social sexo: contribuio dos factores individuais para a marcao plural do elemento analisado 5 variedades de portugus ...........................
678
xxvii
xxviii
Lista de figuras
Figura
Legenda
Figura 1 Dialecto de HEL-Ba e PT: desenvolvimento da atribuio de PL ....................
36
Figura 2 Marcao plural no CCV (Marcador visvel em DET) ......................................
56
Figura 3 Marcao plural no CCV (Ausncia de marcador em DET) ..............................
56
Figura 4 Estrutura sintctico-discursiva dos sintagmas nominais nus no santomense ....
72
Figura 5 Estrutura sintctica do SDET no santomense (marcao de nmero) ................
76
Figura 6 ndice demogrfico de Santana e Almoxarife ...................................
86
Figura 7 Percentagem das crianas com 5-17 anos que tm acesso escolaridade ........
89
Figura 8 Evoluo da populao de So Tom e Prncipe 1940 a 2001 ...................
90
Figura 9 Modelo de Princpios e Parmetros ...................................................................
129
Figura 10 Modelo de aquisio das lnguas........................................................................
130
Figura 11 Estrutura X-barra ...............................................................................................
131
Figura 12 Estrutura alternativa gerada a partir da estrutura X-barra .................................
132
Figura 13 Modelo de transmisso/aquisio de L1 ............................................................
132
Figura 14 Incrementao estrutural da interlngua ............................................................
156
Figura 15 Processamento-S e Processamento Frsico .......................................................
158
Figura 16 Spell-out em morfologia distribuda ..................................................................
188
Figura 17 Modelo da morfologia distribuda .....................................................................
189
Figura 18 Estrutura minimalista da concordncia sintagmtica: deslocao do objecto para receber caso ...............................................................................................
194
Figura 19 Estrutura do SDET: parte funcional e parte lexical ............................................
198
Figura 20 Estrutura do SDET: n funcional SNUM ............................................................
202
Figura 21 Representao funcional da estrutura do SN .....................................................
202
Figura 22 Movimento de N para NUM ...............................................................................
226
Figura 23 Sintaxe na OP para concordncia ......................................................................
234
Figura 24 Sintaxe da concordncia sujeito/verbo (PA e PB) .............................................
236
Figura 25 Sintaxe da concordncia interna ao SN (PA e PB) ............................................
236
Figura 26 Sintaxe do possessivo ncleo para a concordncia ...........................................
237
Figura 27 Fossilizao temporria e fossilizao permanente ...........................................
247
Figura 28 Modelo de aquisio em situao de contacto de lnguas .................................
283
Figura 29 Ingls: ausncia de Mov-V ................................................................................
288
Figura 30 Portugus e francs: Mov-V-para-I ...................................................................
288
xxix
xxx
Figura 31 PA: Mov-V-para-I .............................................................................................
288
Figura 32 CCV: Mov-V-para-I ..........................................................................................
288
Figura 33 Configuraes de Mov-V para diferentes lnguas .............................................
289
Figura 34 Estrutura do SN na FL0 da aquisio ................................................................
528
Figura 35 Romeno: movimento de N e consequente fixao de DET ................................ 529
INTRODUO
No h nada mais perigoso que uma ideia, quando s temos uma. (Paul Claude)
As lnguas que emergem em situao de contacto lingustico tm fornecido material
de valor inquestionvel para o avano dos estudos de um dos temas mais debatidos na
actual lingustica: a aquisio. O fascnio pelos vernculos, que cedo marcou presena
em estudos sobre lnguas,1 ganhou dimenso acrescida no Brasil, pas no qual a lngua
portuguesa o reflexo de uma situao sociolingustica bipolarizada (Lucchesi, 1994,
1996, 1998a, 1999, 2000a, 2001; Baxter & Lucchesi, 1997), dividida entre o padro
mais normatizado e o padro que exibe concordncia varivel, afectando estruturas das
variedades de fala mais populares. No caso concreto da CPL-var registada entre os
elementos que compem o SN, a mesma apontada como um fenmeno geral e
categrico2 dos mais marcantes do portugus do Brasil (PB), e que o distingue do
portugus europeu (PE). O fenmeno, tem tambm sido amplamente estudado (p.e.
Braga & Scherre, 1976; Braga, 1977; Scherre, 1978, 1988; Ponte, 1979; Nina, 1980;
Guy 1981a; Fernandes, 1996; Carvalho, 1997a; Lopes 2001, P. Ribeiro, 2003; Tieppo,
2003; Baxter, 2009), originando um debate aceso acerca das motivaes que o
determinam. Sucintamente, a discusso em torno destas motivaes remete, actualmente,
para quatro hipteses de condicionamentos:
(i) A hiptese de influncias das lnguas de substrato africano, levantada por Guy
(1981a) e que sugere que essa variao provir de um ou mais substratos. Assim
sendo, o cenrio apontar para a possibilidade de o PB se estar a descrioulizar
(Guy, 1981a, 1989; Houaiss, 1985; Holm, 1987) a partir de uma lngua crioula
histrica, influenciada por lnguas africanas;
(ii) A hiptese da transmisso lingustica irregular (imperfect language shift),3
postulada por Baxter & Lucchesi (1997), e que prope que a mudana de lngua e
reestruturao se ficar a dever a um forte input de dados de PtgL2 (transmisso
irregular) no processo de aquisio de L1, criando uma crioulizao leve;
(iii) A hiptese oposta s primeiras, isto , a questo da deriva romnica, avanada por
Naro (1981), Scherre (1988) e Naro & Scherre (1993, 2000, 2007a), ambos
1
defendendo que as derivaes direccionadas de fenmenos histricos internos
prpria lngua estaro na origem da variao;
(iv) Por ltimo, a hiptese mais eclctica avanada por Holm (1998; 2004), que prope
explicar a formao das lnguas reestruturadas com uma matriz sociolingustico-
histrica, assimilando as trs perspectivas anteriormente apontadas: (1) a deriva;
(2) a transmisso lingustica irregular, com influncias das L1s ancestrais
(Winford, 2003a); (3) a influncia ou influncias de lnguas pidgin ou lnguas
crioulas.
O comportamento do fenmeno da concordncia nominal no SN do PB popular
marcado por reduo das categorias morfolgicas e pode ser conotado ao das lnguas
africanas (Guy, 1981a:301-302) do grupo nger-congo atlntico (Baxter, 2009:292), que
o transmitiram tambm aos CPs atlnticos e variedades reestruturadas de portugus
africano. Assim, importante que se considere, neste trabalho, o funcionamento da regra
da concordncia nominal de nmero no s em outras lnguas resultantes de um
processo intenso de transmisso lingustica irregular, tenham elas CPs atlnticos
(portugus da comunidade de Almoxarife, So Tom, e portugus cabo-verdiano) ou
lnguas do grupo nger-congo atlntico (portugus vernculo de Angola, portugus do
Maputo e portugus dos Tongas, So Tom), como substrato directo. Nesta
conformidade, foram j levados a cabo estudos comparativos, numa perspectiva
sociolingustica, sobre o portugus dos Tongas (PT) (Baxter 2004, 2009), o PA
(Figueiredo, 2008, 2009a, 2009b), o portugus do Maputo (PMp) (Jon-And, 2008) e o
portugus de Cabo Verde (PCV) (Jon-And, 2009). Nestes trabalhos, tem sido apontado
um perfil de variao e funcionamento dos factores condicionantes estruturais
semelhantes aos do PB. Portanto, de certa forma corroborado o pressuposto de Guy
(1981a), quanto aos mecanismos responsveis pela CPL-var no SN, quando o portugus
adquirido por falantes de uma L1 do grupo nger-congo atlntico ou de um CP. De
facto, os ancestrais falantes das variedades de portugus referidas podero, durante a
fase de aquisio do PtgL2, ter associado os determinantes do portugus aos
classificadores pr-nominais que controlam a pluralizao no SN das lnguas do grupo
nger-congo atlntico. Em resultado de tal, a CPL-var de tais variedades, a exemplo do
2
que acontece no portugus vernacular do Brasil (PVB), fortemente condicionada pelo
item colocado na posio imediatamente anterior ao ncleo do SN.
Face s questes expostas, a pesquisa que aqui se prope levar a cabo pretende
aprofundar e complementar os estudos j iniciados por ns sobre a CPL-var no SN da
variedade reestruturada de portugus falada pelos almoxarifanos, membros bilingues em
santomense e portugus (reestruturado) de uma comunidade semi-isolada de So Tom,
que descende de antigos escravos resgatados em frica e enviados para a ilha, alguns
dos quais, possivelmente, remetidos depois para o Brasil. O PA, que tem como substrato
um CP do Golfo da Guin, o santomense, formou-se no bojo do contacto entre falantes
deste e do portugus,4 que determinou uma situao de transmisso lingustica irregular
no processo de nativizao do PtgL2 falado pelos primeiros.
Um dos aspectos centrais no mbito dos estudos sobre ASL e reestruturao de
lnguas emergentes em contexto de transmisso lingustica irregular prende-se com a
natureza altamente varivel evidenciada em muitos dos elementos que compem a
cadeia frsica: utilizao de determinantes, aplicao da concordncia de gnero e
nmero nos constituintes do SN, uso de preposies, construes relativas, categorias de
Tempo, Modo e Aspecto (TMA), etc. Algumas das questes que determinaram a
seleco da variao da concordncia de nmero entre os elementos flexionveis do SN
no PA, como objecto primordial do nosso estudo, foram j avanadas em Figueiredo
(2008, 2009a, 2009b). Contudo, continua por se precisar at que ponto certos factores
lingusticos e extralingusticos podero determinar o actual estado de variao registado
no PA. medida que progredimos na anlise dos fenmenos que determinaro a CPL-
var no SN, mais convictos ficmos de que o processo de aquisio da marcao e
desenvolvimento das regras da concordncia PL reflecte uma intrincada correlao de
foras no s entre caractersticas tipolgicas das L1s e lnguas-alvo em contacto mas
tambm entre todas estas lnguas e factores de aquisio universais, independentes das
mesmas.
Desta forma, a nossa anlise combina, essencialmente, vrios aspectos da gramtica
generativa (Teoria dos Princpios e Parmetros da Gramtica Generativa), para
explicao da aquisio da concordncia nominal, e da sociolingustica quantitativa,
para apuramento dos pesos relativos dos contextos lingusticos e extralingusticos na
3
estruturao do SN e desenvolvimento das suas regras de concordncia. Paralelamente, o
peso quer de modelos psicolingusticos e cognitivos, como o Modelo dos Quatro
Morfemas (The 4M Model Myers-Scotton & Jake, 2000a, 2000b; Myers-Scotton,
2002), o modelo da mudana evolucionista da lngua (Givn, 1998; Croft, 2000;
Mufwene, 2001; Clements, 2009) ou o modelo da incrementao dos processamentos
lingusticos assente numa hierarquia universal inata (The Processability Theory
Pienemann, 1988, 2005b), quer os pressupostos da MD, avanados por Halle & Marantz
(1993), Costa & Silva (2006b) ou Noyer (2006), foram tambm por ns tidos em
considerao. O ecletismo que decidimos adoptar foi determinado pelo propsito de se
observar at que ponto a variao inerente fala dos almoxarifanos, um grupo de
indivduos que compartilha a mesma L1, reflecte ou no aquisio de acordo com os
princpios da GU, e se a variao actual resulta de reestruturao determinada por
gramticas em conflito. Por outro lado, o mtodo utilizado na recolha de dados seguiu as
premissas propostas por Labov (1972a, 1983) e Weinreich, Labov & Herzog (2006
[1968]), que apontam o discurso espontneo de uma dada lngua como o corpus ideal
para os estudos e anlises em lingustica, visto contribuir de forma incontornvel para
ajudar a compreender cinco questes problemticas e fundamentais acerca da variao
registada na fala das comunidades: (i) a problemtica da restrio (constraints
problems), que estabelece os limites entre variao e mudana; (ii) a problemtica da
transio (transition problem), que determina a ocorrncia de diferentes fases de
variao at se consumar o processo de mudana; (iii) a problemtica do encaixamento
(embedding problem), que observa a relao estabelecida entre mudana e factores da
estrutura sociolingustica; (iv) a problemtica da avaliao (evaluation problem), que
analisa a atitude dos falantes relativamente variao; (v) a problemtica da
implementao (actuation problem), que se debrua sobre as potenciais causas
conducentes mudana lingustica.
Paralelamente, a observao do desenvolvimento dos factores identificados como
condicionadores da aquisio da regra de concordncia no processo de transmisso
geracional permitir uma concluso acerca do perfil da concordncia e sua influncia na
variao registada a nvel do SN na fala actual de Almoxarife. A comparao com os
perfis registados noutras comunidades ajudar tambm a coligir, por certo, elementos
4
que permitiro confirmar se o portugus adquirido em situao de contacto por falantes
de um CP manifesta padres de variao semelhantes aos do portugus resultante de
uma situao de transmisso lingustica irregular na qual a lngua ancestral no um CP
(Figueiredo, 2008; 2009a). Constatada esta premissa, poder-se- trazer mais alguma luz
a um dos dilemas que tem preocupado a actual crioulstica: tero as variedades
parcialmente reestruturadas em situao de contacto sido desenvolvidas por influncia
de uma lngua crioula (ou por lnguas crioulas), ancorando a CPL-var no SN em
mecanismos sintcticos dos substratos (Guy, 1981a:3001-302), ou, em contrapartida,
ficaram a dever-se a processos internos prpria lngua, independentes de tal influncia,
como a deriva romnica (Naro, 1981; Scherre, 1988; Naro & Scherre, 1993, 2000,
2007a)?
Tendo como entendimento o pressuposto de que a ASL por adultos implica um
acesso parcial GU (Hawkins, 1993, 1998, 2001; Yip, Rutherford & Clashen, 1995;
Hawkins & Chan, 1997; Franceschina, 2002, 2003), debateremos algumas diferenas
registadas a nvel da aquisio de L1s e L2s, enfocando questes como a aquisio das
categorias funcionais. A escolha de uma comunidade especfica que produz variao
relativamente uniforme na sua fala foi tambm determinada pelo propsito de se
utilizarem os dados levantados como corpus de controlo, para ajudar a fornecer resposta
questo que Figueiredo (2008; 2009a) tem vindo a constatar, ou seja, que o portugus
adquirido em situao de contacto por falantes de um CP manifesta padres de variao
semelhantes aos do portugus resultante de uma situao de transmisso lingustica
irregular em que a lngua ancestral no um CP. Assim julgamos estarem reunidas
condies para melhor se identificarem as caractersticas lingusticas da comunidade,
uma vez que este tipo de produo tem a vantagem de evitar artificialidades que
adulteram os resultados dos dados submetidos a anlise. Efectivamente, as limitaes
impostas fala em tempo real impedem que, por exemplo, os falantes mais
escolarizados possam assumir um controlo metalingustico nas suas produes.
A anlise do desempenho individual de cada um dos informantes foi feita com
recurso ao pacote GOLDVARB X, que permitiu identificar no s as variveis
lingusticas e extralingusticas que influenciam a marcao plural nos constituintes do
SN da fala de Almoxarife mas tambm que a variao registada a nvel da concordncia
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dos itens flexionais sistemtica. A aplicao ou ausncia das regras de concordncia na
sintaxe aparente do PAL1 poder estar relacionada quer com a tipologia do santomense
quer com a tipologia dos substratos africanos deste. No obstante, se esta fosse a nica
justificao para a variao, no se entenderia o porqu de os falantes almoxarifanos
aplicarem regularmente a regra em determinados contextos. Deste modo, tentaremos
verificar no s se a variao em anlise resulta da interaco complexa entre gramticas
da L1 e da LA mas tambm avaliar a forma como os princpios universais e
psicolingusticos subjazem construo das referidas gramticas.
O nmero de variedades de portugus africano e brasileiro a que recorremos para
estudos comparativos com o PA, o extenso quadro terico que apoiou o nosso estudo e a
metodologia pela qual optmos produziram, em agregado, uma quantidade elevada de
tabelas e dados para anlise. Desta forma o nosso estudo alcanou dimenso
considervel, facto que, reconhecemos, o torna bastante volumoso. Depois de
reflectirmos sobre este aspecto, optmos por no reduzir muito a dimenso inicial do
trabalho, pois, ao faz-lo, teramos que retirar tambm achados que consideramos
importantes para estudo da CPL-var numa perspectiva comparada. Desta forma,
elaboraram-se cinco captulos, cabendo ao primeiro destes estabelecer o pano de fundo
sociohistrico da comunidade de Almoxarife e apresentar tambm uma resenha dos
contextos sociohistricos das comunidades cujas lnguas foram j observadas em
estudos anteriores, os quais serviro para efectuarmos a nossa anlise numa perspectiva
comparada. Nesta parte do trabalho, dirigiremos a ateno para particularidades
sociohistricas que determinaram a aquisio do portugus em determinadas regies do
Brasil (Rio de Janeiro, Salvador, Helvcia e Rio de Contas) e de frica (Angola,
Moambique, Cabo Verde e So Tom). A identificao das condicionantes
sociolingusticas que podero ter determinado o desenvolvimento da CPL-var no SN de
todas essas variedades de portugus, com especial relevncia para a da comunidade de
Almoxarife, objecto nuclear do nosso estudo, permitir ver que tais condicionantes se
tocam em muitas das suas especificidades, sugerindo transferncia morfossintctica, que
se manteve depois por transmisso irregular. A fim de melhor se observarem estes
fenmenos, o captulo finaliza apresentando alguns dos traos gerais que caracterizam a
fala de Almoxarife e listando alguns paralelismos morfossintcticos, a nvel do SN, que
6
os mesmos estabelecem com variedades de portugus (brasileiras e africanas), CPs
atlnticos e lnguas africanas, com especial incidncia para as lnguas do grupo nger-
congo atlntico.
No captulo 2 sero apresentados os pressupostos tericos do nosso trabalho,
elaborando-se no s um panorama acerca das teorias de aquisio de L1, bilingue e L2
mas tambm da forma como determinados estudos da actual Sociolingustica
Variacionista tm procurado estabelecer a relao entre o comportamento lingustico dos
falantes que integram uma dada comunidade de fala (lngua-E) e a sua competncia
lingustica enquanto usurios nativos de uma determinada lngua natural (lngua-I).
Neste captulo daremos ainda conta das perspectivas gerais sobre a variao na L2 e
causas que podero determinar fenmenos de fossilizao. Estes aspectos implicam que
se abordem tambm as questes em torno da morfossintaxe do SN no PE, PB e PA,
observados numa perspectiva comparada. Apresentaremos ainda o quadro terico da
concordncia a nvel frsico e a nvel do SN, abordando os pressupostos acerca da
interface entre mdulos gramaticais, com enfoque nas abordagens dos Princpios e
Parmetros da Gramtica Generativa (Chomsky, 1957, 1965), Minimalismo (Chomsky,
1996 [1995]) e MD (Halle & Marantz, 1993; Costa & Silva, 2006b; Noyer, 2006). Sem
deixar de levar em conta as diferenas registadas a nvel da concordncia plural no SN
do PE e do PB, comentaremos as perspectivas acerca da aquisio das categorias
funcionais em L1s e em L2s e condicionamentos que determinam a CPL-var no SN
das segundas. Estes condicionamentos conduzem-nos, ento, s questes em torno da
transmisso lingustica irregular e sua determinao na reestruturao de lnguas,
nomeadamente no desenho da configurao sintagmtica do PA.
Quanto ao captulo 3, ser dedicado descrio da metodologia aplicada na recolha,
seleco, codificao e tratamento dos dados. Neste captulo apresentaremos e
descreveremos ainda o tipo de variveis lingusticas e extralingusticas a que recorremos
para postular hipteses acerca das motivaes que podero determinar a CPL-var no SN
do PA. No mesmo captulo faz-se, ainda, uma descrio acerca do suporte estatstico
computacional a que recorremos para quantificar e analisar os dados.
Os resultados da anlise sero apresentados em dois captulos. No captulo 4,
tratmos os dados e analismos os resultados das variveis dependentes e dos grupos de
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factores lingusticos do tipo estrutural, comparando os nossos resultados com os de
outros trabalhos sobre a CPL-var no SN de variedades brasileiras e africanas de
portugus. No captulo 5, recorremos a idntica metodologia para tratamento de dados e
anlise de resultados das variveis lingusticas dos tipos semntico e fonolgico, bem
como das variveis extralingusticas.
Aps o captulo 5, sero apresentadas as concluses do estudo. Determinou-se que a
variao da concordncia de nmero entre os elementos flexionveis do SN
sistemtica e orientada por contextos lingusticos especficos. Estes aspectos permitem
prever em que tipo de estruturas que os aprendentes do PtgL2 que tenham lnguas
crioulas como L1 revelam propenso para colocar, ou no, as marcas formais de PL. Os
resultados permitiram concluir tambm que a aplicao da regra de concordncia no PA
se encontra em estdio de variao estvel, fazendo antever uma situao de mudana
lingustica em progresso. Paralelamente, verificou-se que o portugus adquirido em
situao de contacto por falantes de um CP manifesta os mesmos padres de variao do
portugus adquirido numa situao de transmisso lingustica irregular na qual a L1
ancestral no um CP (Figueiredo, 2008; 2009a).
Dada a quantidade de pginas produzida, e para facilitar o manuseamento do trabalho,
optmos por dividi-lo em duas partes, estando includos no primeiro volume a
introduo e os trs primeiros captulos. Quanto ao segundo volume, dele fazem parte os
captulos 4 e 5, dedicados anlise dos resultados, bem como as concluses do estudo e
a lista bibliogrfica consultada. No final do texto de cada um dos volumes, encontram-se
inseridas as notas de fim de texto respeitantes ao mesmo.
Resta apenas referir que, durante o perodo que decorreu a presente in