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Web-Revista SOCIODIALETO • www.sociodialeto.com.br Bacharelado e Licenciatura em Letras • UEMS/Campo Grande M e s t r a d o e m L e t r a s • U E M S / C a m p o G r a n d e I S S N : 2 1 7 8 - 1 4 8 6 • V o l u m e 5 • N ú m e r o 1 4 • n o v e m b r o 2 0 1 4
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A INFLUÊNCIA DA LOCALIDADE SOBRE A CONCORDÂNCIA
NOMINAL
Mara Pereira Mariano (UFRJ)1
RESUMO: A concordância nominal é um fenômeno variável de realização versus não realização da
regra, em que a variante plural [s] é considerada de prestígio, enquanto a variante [0] é estigmatizada. O
presente trabalho analisou o fenômeno da concordância nominal entre os constituintes do sintagma
nominal em redações escolares de alunos do Ensino Fundamental II de escolas públicas e privadas em
quatro bairros diferentes da cidade do Rio de Janeiro (Jardim Guanabara, Vila da Penha, Quintino e Santa
Cruz). Utilizando do escopo teórico-metodológico da Sociolinguística laboviana, submeteram-se os dados
ao programa variacionista GoldVarb-X. Encontraram-se 2.659 ocorrências e apenas 150 não
apresentaram a marca formal de número (5,5%). Para este resultado, foi possível observar que atuam
sobre o fenômeno da concordância nominal fatores linguísticos e sociais. A variável social localidade
mostrou-se importante para o fenômeno em pauta, revelando que as escolas públicas que ficam em
Quintino e Santa Cruz desfavoreceram a regra padrão, enquanto as particulares da Vila da Penha e do
Jardim Guanabara – Ilha do Governador – favoreceram a variante de prestígio. Apesar da correlação entre
as variantes natureza da instituição e localidade, não se pode afirmar, categoricamente, que esse
resultado advenha da natureza da instituição (pública x privada), já que não foi possível controlar a ação
dessa variável. Dessa maneira, o resultado aqui encontrado é uma questão relacionada aos bairros
estudados, com suas especificidades sociais, econômicas e culturais. Portanto, acredita-se que esta
pesquisa pôde contribuir com uma descrição e explicação do fenômeno da concordância nominal na
modalidade escrita, provando a atuação de fatores extralinguísticos sobre o fenômeno analisado. Além
disso, pôde-se notar que a variação da concordância é realmente um fenômeno inerente aos falantes, já
que está presente em indivíduos de diferentes localidades, gênero e ano escolar.
PALAVRAS-CHAVES: Concordância nominal; Sociolinguística; Modalidade escrita; Localidade;
Ensino.
ABSTRACT: The nominal correlation is a phenomenon variable versus embodiment not performed rule,
wherein the variant plural [s] is considered prestigious, while the variant [0] is stigmatized. This study
examined the phenomenon of nominal agreement between the constituents of the noun phrase in school
writings of elementary school students from public and private II in four different districts of the city of
Rio de Janeiro (Jardim Guanabara, Vila da Penha, Santa Quintino and Santa Cruz). Using the theoretical
and methodological scope of Sociolinguistics laboviana, submitted the data to the variational GoldVarb X
program. 2659 events were found and only 150 showed no formal number mark (5.5%). For this result,
we could observe that work on the phenomenon of linguistic and social factors nominal agreement. The
locality social variable proved to be important for the phenomenon in question, revealing that public
schools that are located in Santa Cruz and Quintino unfavorable to the default rule, while private Vila da
Penha and Jardim Guanabara - Ilha do Governador - favored the variant prestigie. Despite the correlation
between variants of the institution and location, we can't state categorically that this result arising by
nature (public x private) institution, as it wasn't possible to control the action of this variable. Thus, the
result here is a related question to the neighborhoods studied, with its social, economic and cultural
specificities. Therefore, it's believed that this research could contribute to a description and explanation of
the phenomenon of nominal agreement in written form, proving the role of extralinguistic factors on the
1 Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), mestre, [email protected].
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phenomenon analyzed. Furthermore, it could be noted that the variation agreement is really a
phenomenon inherent to speakers, which are already present in individuals from different localities,
gender and school year.
KEYWORDS: Nominal agreement; Sociolinguistics; Writing modality; Locality; Education.
Introdução
O presente trabalho tem como tema a variação da concordância nominal (CN)
entre os constituintes do sintagma nominal (os docinhos/ todas as bolinha/ porção de
pedregulho grosso) na escrita de alunos do ensino fundamental, observando não só o
núcleo, mas também os elementos periféricos às margens direita e esquerda desse
núcleo.
Sabe-se que a concordância nominal é um fenômeno variável de realização
versus não realização da regra. É uma variação inerente ao sistema linguístico do
falante, já que ocorre em contextos linguísticos e sociais semelhantes.
Apesar de ser um processo natural, nem toda variante é bem aceita por todos os
membros de uma comunidade de fala, arraigados a uma visão distorcida da língua e de
sua própria norma de uso, uma vez que acreditam deter e usar apenas uma variedade (a
prestigiosa) e esta ser regular e sistemática. Assim, a realização da variante plural [s] é
considerada de prestígio, enquanto a variante zero [0] é estigmatizada e julgada como
“erro” e sinal de não saber falar e escrever o português. Outra justificativa para a
utilização de uma variante em detrimento de outra é a ideia de pertencimento a um
grupo. Sabe-se que os falantes de uma mesma comunidade compartilham do mesmo
juízo de valor sobre determinados traços linguísticos. Por isso, é comum muitos
indivíduos manterem, principalmente na fala, a variante típica de seu grupo social para
não serem “excluídos” e preservarem sua identificação com este grupo, mesmo que esta
variante seja aquela considerada não padrão.
A despeito de se considerar a existência da variação, sabe-se que todas as
variantes possuem igual valor e não há variante inferior a outra. São os falantes das
camadas mais altas, aqueles que detêm o poder econômico e político, que escolhem e
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classificam uma das normas como a padrão, a “correta”. Obviamente que essa escolha
se encontra mais de acordo com a norma utilizada por estes.
Esse artigo tem por objetivo apresentar a relação entre o uso da variante -s e a
localização da escola pesquisada afim de mostrar em que medida a regra de
concordância nominal é mais ou menos aplicada em uma comunidade linguística. Dessa
forma, será possível observar a importância de um fator social sobre o fenômeno em
pauta.
1. Revisão da literatura
1.2. Concordância nominal nas gramáticas normativas
As gramáticas tradicionais (GT) costumam apresentar um capítulo referente à
concordância nominal e verbal. Nessas gramáticas, também já é possível notar a
variação presente no fenômeno da concordância, apesar de não utilizarem o termo
variação.
Na gramática de Celso Cunha e Lindley Cintra (2007), não há um capítulo à
parte para o tema da concordância nominal. Apesar disso, a concordância de nome
aparece em duas seções da gramática: uma destinada aos adjetivos e outra aos pronomes
possessivos (pp. 284 e 333, respectivamente).
Na seção referente aos adjetivos, os autores mostram a regra geral de
concordância nominal “o adjetivo, dissemos, varia em gênero e número de acordo com
o gênero e o número do substantivo ao qual se refere” (pp.284). A partir desta
definição, Cunha e Cintra apresentam alguns exemplos que comprovam a relação de
concordância existente entre o substantivo e o adjetivo, mesmo que estejam distantes na
oração.
Após os exemplos, os autores descrevem o comportamento do adjetivo a partir
da quantidade de substantivo presente no SN ao qual ele se refere. Desse modo, quando
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só há um substantivo, a gramática prevê que o adjetivo concorde em gênero e número
com o único substantivo a que ele se refere (regra geral). Entretanto, quando o adjetivo
se refere a mais de um substantivo, os autores afirmam ser necessário observar (i) o
gênero do substantivo, (ii) a função do adjetivo e (ii) a posição do adjetivo.
Primeiramente, Cunha e Cintra (op. cit.) apresentam o adjetivo na função de
adjunto adnominal anteposto ao substantivo. Nessa posição, segundo os autores, o
adjetivo concorda em gênero e número com o substantivo mais próximo (ex.: Vivia em
tranquilos bosques e montanhas/ Vivia em tranquilas montanhas e bosques). Porém,
quando os substantivos forem nomes próprios ou de parentesco, o adjetivo vai para o
plural (ex.: Conheci ontem as gentis irmã e cunhada de Laura.)
Por outro lado, há os adjetivos com função de adjunto adnominal que vêm
pospostos ao substantivo. Nessa parte, os autores mostram que a concordância vai
ocorrer a depender do gênero e do número dos substantivos. Além disso, há em todos os
exemplos, casos mais comuns e casos mais raros de concordância, como se pode ver nas
orações a seguir retiradas do item 1 (pp. 285):
1. Se os substantivos são do mesmo gênero e do singular, o adjetivo toma o
gênero (masculino ou feminino) dos substantivos e, quanto ao número, vai:
a) Para o singular (concordância mais comum):
Ex.: A professora estava com um vestido e um chapéu escuro.
b) Para o plural (concordância mais rara):
Ex.: A professora estava com um vestido e um chapéu escuros.
Nos itens subsequentes, os autores continuam sua análise, observando, no item
2, os substantivos de gêneros diferentes e do singular (Ex.: A professora estava com
uma saia e um chapéu escuro.). No item 3, os substantivos são do mesmo gênero, mas
de números diversos (Ex.: Ela comprou dois vestidos e um chapéu escuro). Já no item
4, os gêneros são diferentes e estão no plural (Ex.: Ela comprou saias e chapéus
escuros); e, por último, há o item 5, que apresenta gêneros e números diferentes (Ex.:
Ela comprou saias e chapéu escuros).
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Observe-se que, para um melhor entendimento, foi apresentado, aqui, apenas um
exemplo dos casos mais comuns. Contudo, em cada item, havia dois exemplos
referentes à concordância mais comum e exemplos referentes à concordância mais rara.
Logo, pode-se inferir que os autores têm conhecimento da variação que existe no
fenômeno da concordância, pois apresentaram os casos mais ou menos usuais,
evidenciando a variabilidade da regra formal de número.
Por fim, os autores mostram a regra de concordância quando o adjetivo exerce a
função de predicativo do sujeito composto. Conforme Cunha e Cintra (op. cit.), a regra
para o adjetivo com função predicativa não é muito diferente da regra que funciona para
o adjetivo como adjunto adnominal. Desse modo, os autores só apresentam casos
preferenciais, mas mostram também outras possibilidades existentes. Este fato
comprova mais uma vez a variação no fenômeno em pauta e a consciência dessa
variação pelos autores.
Já na seção voltada para os pronomes, os autores apenas afirmam que “o
pronome possessivo concorda em gênero e número com o substantivo que designa o
objeto possuído; e, em pessoa, com o possuidor do objeto em causa (pp. 333).” Além
disso, os possessivos podem concordar com o elemento mais próximo quando se
referirem a mais de um substantivo (ex.: “E o meu corpo, minh’alma e coração/Tudo
em risos poisei em tua mão...” (F. ESPANCA, S, 177.) – pp. 334).
Em outra gramática normativa, a de Rocha Lima (1999) - Gramática Normativa
da Língua Portuguesa -, também não há um capítulo destinado à concordância nominal.
É nos capítulos referentes às funções do substantivo e no do emprego do adjetivo que se
pode encontrar uma sessão destinada à concordância dentro do SN.
No capítulo Funções do substantivo, há uma sessão denominada singular e
plural em que se pode observar o fenômeno da concordância nominal. O autor afirma,
nessa sessão, que o substantivo, quando acompanha certos pronomes indefinidos, com
sentido de quantidade ou algumas expressões, costuma vir no singular. Por exemplo,
(“... quanta vez, rodando aos ventos maus, / O primeiro pegão, como a baixeis,
quebrava!” - Olavo Bilac (pp.291).
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É interessante destacar que o autor utiliza a palavra costuma, pois ele não nega a
possibilidade de se flexionar tanto o pronome indefinido como o substantivo. Esta
afirmação pode ser constatada na própria gramática, em que o autor diz ser facultativa a
concordância citada anteriormente e mostra que o próprio Olavo Bilac em outro poema
aplicou a outra regra de concordância:
“Quantas vezes Fernão, do cabeço de um monte,
Via lenta a subir do fundo do horizonte
A clara procissão dessas bandeiras de ouro!” (pp. 292)
Além desse tipo de concordância, o autor mostra que, ao se referir a uma coisa
que pertence singularmente a cada um de vários indivíduos, o substantivo
obrigatoriamente vem no singular (ex.: Eles puseram o chapéu na cabeça e não os
chapéus nas cabeças. pp. 292)
No item 3 e 4, o autor mostra casos em que o substantivo deve ficar no plural. O
primeiro caso refere-se aos substantivos que indicam horas, datas e páginas de livros.
Segundo Rocha Lima, tais construções têm origem no uso dos cardinais em vez dos
ordinais (ex.: a ou aos 10 dias de setembro = no décimo dia de setembro).
No item 4, o substantivo vai para o plural, pois está modificando vários adjetivos
que expressam diversas espécies contidas no gênero geral indicado pelo substantivo
(ex.: As línguas portuguesa, espanhola e francesa.). Sobre este item, o autor apresenta
uma nota de rodapé mostrando que também é aceitável usar um artigo antes do
substantivo que se refere a diversos adjetivos. Dessa forma, o substantivo pode ser
omitido e o artigo aparecerá também antes dos outros adjetivos. Veja como fica a
mesma frase agora com este outro tipo de concordância: A língua portuguesa, a
espanhola e a francesa.
Como já foi dito antes, há outra sessão da gramática de Rocha Lima que também
trata do tema concordância nominal. É no capítulo sobre o emprego do adjetivo que se
pode encontrar uma sessão chamada Concordância do adjetivo com o substantivo.
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Nessa sessão, o autor mostra que o adjetivo concorda com o substantivo de
acordo com três preceitos gerais. Primeiro, o adjetivo que concorda com apenas um
substantivo deve tomar o gênero e o número desse substantivo: homem alto, mulher
alta, homens altos, mulheres altas (pp.305).
O segundo preceito refere-se à concordância do adjetivo com vários substantivos
de gêneros diferentes e do singular. Neste caso, o adjetivo pode ficar no masculino
plural ou concordar com o substantivo mais próximo: O pai e a mãe extremosos ou
extremosa. (pp.305). Ainda de acordo com o autor, a escolha de uma ou outra
concordância fica sujeita a eufonia e a clareza, conforme a intenção do escritor. Em
outras palavras, pode-se constatar uma variação no que concerne à concordância do
adjetivo com vários substantivos. Contudo, quando o adjetivo está precedendo os
substantivos, obrigatoriamente deve concordar com o primeiro substantivo: Boa hora e
local escolheste! (pp.305).
O último preceito refere-se à concordância do adjetivo com mais de um
substantivo que possuem gêneros e números variados. Segundo o autor, as mesmas
condições do item anterior serão seguidas. Desse modo, há mais de uma possibilidade
de concordância. Veja os exemplos abaixo listados por Rocha Lima (pp.306).
Agastamentos e ameaças fingidos ou fingidas
Prantos, lamentações e magoas dolorosos ou dolorosas
Propósitos e tentativas malogradas
Após os exemplos acima, o autor faz uma observação na qual afirma que a regra
lógica é a concordância do adjetivo com todos os substantivos, tendo o masculino plural
a preferência. Entretanto, a eufonia e a clareza podem impor a concordância com o
elemento mais próximo. Mais uma vez, fica claro que o fenômeno da concordância é
variável e está sujeito a influências externas.
Na gramática de cunho pedagógico analisada, a Gramática ilustrada (1982), de
Hildebrando André, há um capítulo referente à concordância nominal. Entretanto, não
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há uma definição sobre o que é concordância, e o capítulo já se inicia mostrando a regra
geral em que o adjetivo deve concordar com o substantivo.
Logo após, o autor apresenta os casos especiais. Nessa parte, é apresentada,
primeiramente, a concordância do adjetivo em função de adjunto adnominal, que pode
vir posposto ou anteposto a dois ou mais substantivos. O autor mostra que o adjetivo
posposto pode concordar com o elemento mais próximo ou ir para o masculino plural,
concordando com todos os substantivos. André (1982) apresenta inúmeros exemplos e
faz uma observação mostrando usos mais frequentes em que o adjetivo concorda com o
elemento mais próximo.
Para os adjetivos antepostos aos substantivos, afirma que a concordância é
geralmente feita com o elemento mais próximo e apresenta uma observação de um uso
em que o adjetivo deve ir para o masculino plural mesmo antecedendo um substantivo.
É o caso de adjetivos que se referem a nomes próprios de pessoas ou títulos (ex.: “Como
nos ensinam os grandes Machado de Assis e José de Alencar” – pp.274).
Ainda sobre os adjetivos na função de adjunto adnominal, o autor mostra que é
possível que dois ou mais adjetivos fiquem no singular quando um substantivo está no
plural. Porém, admite construções paralelas (ex.: “os poderes temporal e espiritual”, “o
poder temporal e o espiritual”, “o poder temporal e espiritual” – pp. 274).
A mesma linha de apresentação ocorre com os adjetivos com função de
predicativo. Primeiramente, o autor mostra a regra geral, em que o predicativo concorda
em gênero e número com o substantivo a que se refere, mas se este se referir a dois ou
mais substantivos do mesmo gênero deve ir para o plural, mantendo o gênero dos
substantivos ou indo para o masculino no caso de substantivos de gêneros diferentes
(ex.: “Sócrates e Zico voltaram cabisbaixos da sala do diretor.” / “O namorado e a
namorada passeavam enciumados.” – pp. 274). Contudo, a seguir, ele faz algumas
observações em que o predicativo pode concordar com o elemento mais próximo (ex.:
“Estava deserta a vila, a casa, o templo” – pp. 275). Após essas observações, o autor
lista uma sequência de palavras e expressões que podem ser variáveis ou invariáveis no
português, como só, salvo, meio, anexo, etc.
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Como se pôde notar mais uma vez, mesmo não mencionando a palavra variação,
o autor não deixou de apresentar exemplos em que é possível perceber a variação
presente no fenômeno da concordância de número. Em todos os casos, há sempre uma
regra, mas que vem seguida de construções que também são aceitas, construções que
diferem daquelas que a regra geral prescreve.
1.2. Concordância nominal nas pesquisas linguísticas
Há muitos trabalhos sobre o fenômeno da concordância e, a partir dos resultados
alcançados, pôde-se perceber o quanto esse fenômeno no português do Brasil é
complexo, mostrando-se ora como um sistema que caminha em direção à perda da
marca morfológica de número e ora como um sistema que representa uma variação
estável. Essa diferença é perceptível, principalmente, quando se observam falantes de
diferentes níveis de escolaridade.
Em estudo mais recente, Naro e Scherre (2004) afirmam que o fenômeno da
concordância pode ser interpretado como uma “mudança sem mudança”, já que a
mudança que ocorre é quantitativa e não qualitativa:
no sentido de que é uma variação que não reflete mudança clara para todos os
falantes nem reflete apenas uma linha de mudança, embora estejamos
capturando aumento de concordância em função de maior exposição ao
ambiente escolar, seja em termos de grupo ou de indivíduo, e também
aumento de concordância em faixas etárias mais jovens, com um vislumbre
de mudança geracional (NARO e SCHERRE, 2006).
Desse modo, percebe-se que a variação que existe no fenômeno em pauta não se
manifesta igualmente entre todos os falantes. Além disso, não há uma única linha de
mudança, pois, apesar de muitas amostras revelarem um aumento dos índices da
variante padrão -s, sem as fortes amarras sociais de prestígios, poderia haver uma
reversão nesse fenômeno em direção à diminuição da marca morfológica de número.
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Entretanto, na amostra analisada, os autores mostraram um aumento de concordância
devido à influência da escola. (pp. 120).
Por isso, Naro e Scherre (2004) afirmam que o melhor modelo para explicar o
fenômeno da concordância de número no PB é o modelo do fluxo e contrafluxos, que
representa uma mudança superficial, em que falantes ou grupos de falantes apresentam
maior ou menor índice de concordância em termos de percentuais globais, devido ao
movimento desses indivíduos por diferentes ambientes sociais. Isso revela que os
falantes brasileiros, independentes do nível de escolaridade, podem fazer mais ou menos
concordância, a depender do seu interlocutor e da formalidade de uma conversa, de
maneira inconsciente.
Scherre (1988), em sua tese de doutorado, já mostrou como há no PB duas
situações distintas em relação à concordância nominal. Segundo a autora, nos falantes
de concordância alta, percebe-se uma variação estável com uma gradação etária; já nos
falantes com baixa concordância, o que se nota é uma mudança em direção a um
sistema de perda da concordância (pp. 509). Além disso, Scherre (1988) afirma que as
diferenças entre os falantes do PB são mais quantitativas do que qualitativas, já que os
mesmos condicionadores influenciam tanto os falantes mais escolarizados quanto os
menos escolarizados. A autora também mostrou que a variação é inerente ao falante,
pois grupos de indivíduos apresentaram comportamento uniforme em relação às
variáveis linguísticas importantes como saliência fônica e posição linear. Scherre
(1988) também negou a influência de processos descrioulizantes2, mas confirmou o
forte papel da escola como responsável pela manutenção da variante de prestígio.
Outro trabalho interessante sobre concordância, tanto nominal quanto verbal, é o
trabalho de Scherre e Naro (1998), que mostrou como a variação de número no PB
apresenta um sistema perfeito em que é possível prever em quais contextos os falantes
são mais propensos a não realizar ou a realizar a regra de número, já que a variação não
2 O processo descrioulizante é um ato de descrioulizar, de reestruturar uma língua crioula, conforme as
regras e influências de uma língua padrão. Isso ocorre devido à falta de prestígio que é atribuída à língua
crioula. Desse modo, essa língua desprestigiada sofre interferências de uma língua de prestígio e aos
poucos vai desaparecendo.
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é aleatória. Nesse trabalho, os autores concluíram que a variação da concordância está
internalizada na mente do falante do português do Brasil. Além disso, é um fenômeno
altamente estruturado tanto por fatores linguísticos quanto por fatores sociais.
Além de Naro e Scherre, há outros linguistas que também estudaram o fenômeno
da concordância. Brandão (2011) observou a concordância nominal em duas variedades
do português: a brasileira e a de São Tomé e Príncipe (PST). Comparando essas duas
variedades, a autora notou que a variante padrão e a estigmatizada (ausência de
concordância) estão presentes tanto no PB quanto no PST e que, em ambas as
variedades, há condicionamentos de ordem estrutural e social que influenciam no
cancelamento ou não da marca de plural.
Os resultados provaram também que houve pouco cancelamento da marca
formal de número nas duas variedades estudadas e que em ambas há uma tendência dos
elementos pré-nucleares receberem mais marcas de número. Além disso, a variável
posição linear e relativa dos constituintes do SN apresentou o mesmo padrão estrutural
nas duas amostras.
Contudo, a autora apresenta algumas diferenças entre o PB e o PST. Uma delas é
que a variável nível de escolaridade se mostrou mais relevante no PST, em que há uma
ordem gradativa de cancelamento da marca desde o indivíduo de nível fundamental até
o de nível superior. Já no PB, há uma oposição entre os indivíduos de nível superior e os
de nível fundamental e médio. Outra diferença foi percebida na variável processo
morfofonológico de formação de plural, que se tornou importante apenas no português
do Brasil, enquanto as variáveis gênero e contexto fonológico foram significativas
somente no português de São Tomé e Príncipe. Diante desses resultados, a autora chega
à conclusão de que as duas modalidades apresentam divergências, mas também
convergem em diversos pontos.
Em outro trabalho, Brandão e Vieira (2012) compararam o comportamento da
concordância nominal e verbal no PB, PE e PST e concluíram que, nas três variedades
do português, há preferência pela variante padrão, embora no PE, este fenômeno seja
considerado como uma regra categórica, enquanto no PB e no PST é uma regra variável.
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Ademais, as autoras mostraram que a preferência pela concordância decorre do acesso à
escola por parte dos indivíduos e que há variáveis estruturais nos níveis sintáticos e
semânticos que atuam igualmente no PB e no PE.
Vale citar, ainda, o trabalho de Capellari e Zilles (2002), intitulado A marcação
de plural na linguagem infantil – estudo longitudinal. Nesse trabalho, as autoras
observam a fala de uma criança de classe média de 4 a 8 anos de um projeto
denominado DELICRI (Desenvolvimento da Linguagem da Criança em Fase de
Letramento) do Rio Grande do Sul, durante os anos de 1992 a 1996, em uma escola
particular de Porto Alegre. O corpus foi constituído de dezoito entrevistas, de duração
em torno de dez minutos.
Nesse trabalho, não estava sendo observada a emergência da marcação de plural
na fala da criança, mas sim em que medida a fala da criança é compatível com a fala de
um adulto. Além disso, as autoras também se interessam pela fase de alfabetização, pois
é o momento em que a criança é exposta a língua padrão.
O primeiro ponto destacado pelas autoras é o baixo número de SNs plurais por
cada faixa etária. No total, havia 126 SNs e, dentre esses, 50 eram de SNs padrão e 76
não padrão. Esses dados foram divididos em relato pessoal e contando historinha, pois
as autoras estavam observando a influência do texto escrito na fala da criança. Com
isso, elas perceberam que havia mais SNs do tipo padrão, quando as crianças contavam
alguma historinha, influência do texto escrito que pode ter sido memorizado por ela.
Outro dado interessante apresentado pelas autoras é o fato de a marcação de
plural aparecer somente no possessivo em SNs como a minhas prima. Segundo elas,
isso ocorre devido a um processo assimilatório entre o artigo e o possessivo em que a
marca de número continuaria no primeiro elemento do SN “aminhas prima”.
As autoras concluem em seu trabalho que há algumas semelhanças entre a fala
infantil e a fala adulta, como o desfavorecimento da regra de marcação de número nos
itens diminutivos, assim como em SNs que apresentam uma preposição entre
constituintes sintáticos (Milhares de borracha). Elas também questionaram a variável
posição nuclear e não-nuclear, porque perceberam que alguns elementos não fazem
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parte da estrutura do SN como o operador todos. Com base em outros estudos, as
autoras mostram que esse quantificador tem algumas peculiaridades que o deixam fora
de um SN. Assim, o operador todos é o único que pode preceder pronomes e, além
disso, pode se movimentar para depois do SN, depois do verbo e até para o fim da
oração (apud PONTES 1996). Já Perini (1998 apud CAPELLARI e ZILLES, 2002)
considera esse operador como um predeterminante devido ao seu movimento (Todos os
meninos saíram ou Os meninos todos saíram).
Por fim, as autoras afirmam que a influência da escola não pôde ser vista
claramente nesse trabalho, mas foi possível ver que a criança põe em prática duas
gramáticas, a depender do contexto discursivo em que esteja inserida. Assim,
comprovou-se a influência de textos escritos, estimulando o uso dos plurais do tipo
padrão na fala da criança, quando estas contavam historinhas. As autoras concluem
dizendo que cabe à escola incentivar a leitura desde a infância, pois assim os alunos
terão mais chance de assimilar as regras formais de marcação de número do que ensinar
exercícios mecânicos de não “comer” os -s.
Cabe, enfim, apresentar algumas considerações acerca da variação de número na
modalidade escrita. Christino e Silva (2012), em texto intitulado Concordância verbal e
nominal na escrita em Português-Kaingang, apresentam interessantes observações
sobre a escrita do português por falantes bilíngues indígenas. Sobre a concordância no
sintagma nominal, os resultados revelaram que cerca de 40% das ocorrências
apresentam marca de número somente no elemento mais à esquerda (“eu sempre ficava
com dúvida nas aulaᴓ de Antropologia”; “e as apresentaçãoᴓ dos trabalhoᴓ na frente”),
fato considerado natural, visto que essa é a estratégia também empregada pelo
português popular com que os indígenas têm contato. Houve, ainda, um pequeno índice
(9%) de marcação nos primeiros elementos do SN (“eu vi, e ouvi muitas coisas
interessante”). No entanto, chama a atenção a ausência de marcação de número no
determinante mais à esquerda do núcleo do SN (“limpar o cemitérios”; “e que cada
aluno valorize este cursos, para sua vida profissional e trabalhar em sua
comunidades”; a funções dos pein era de cuidar do bem estar do rezadores e marcar
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as sepulturas do mortos recentes”), estratégia recorrente em 41,3% dos produtores de
texto (57 autores). As autoras sugerem que tal fato se deve à influência da língua
materna dos professores indígenas (Kaingang), cuja prevalência é ser uma língua de
cabeça à direita, ou seja, a marcação das categorias morfossintáticas se dá na porção
direita do SN, diferentemente do que ocorre com o português popular. No corpus
analisado, encontraram-se algumas estruturas semelhantes às dos indígenas:
<a> olimpíadas é um evento que deixa todos esperançosos, ansiosos e
confiantes (aluna do 8º ano – do colégio ZeroHum – Ilha do Governador)
Chapeuzinho pegotou para que <esse > olhos tão grande (aluna do 6º ano – da Escola
Municipal Oswaldo Teixeira - Quintino)
As características psicológicas dele era normal, não tinha nenhum problema mental e
<a> características físicas de e, pequeno e magro (aluno do 9º ano – da Escola
Municipal Oswaldo Teixeira - Quintino)
Que e muito extrovertida, brincalhona e adora fazer muitas, muitas perguntas <do >
adultos (aluna do 9º ano – da Escola Municipal Fernando Azevedo – Santa Cruz)
tenque aprender <a > varias matéria tipo: química, ciência, mais com formula, outras
matérias etc... (aluno do 6º ano – do colégio particular Esplendor – Vila da Penha)
O melhor, é comer <bastante > frutas, de preferência no horário do lanche (aluna do
7º ano – do colégio particular ZeroHum – Ilha do Governador).
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2. Fundamentação teórica
A presente pesquisa foi embasada pela teoria Sociolinguística Variacionista que
observa a língua no contexto social. Nessa teoria, a relação entre língua e sociedade é
indispensável. Assim, a Sociolinguística correlaciona variações linguísticas às
diferenças sociais, entendendo que a diversidade é uma característica funcional e
inerente aos sistemas linguísticos, e o papel da Sociolinguística é observar esta
diversidade em suas determinações linguísticas e não-linguísticas.
De acordo com Labov (1994), a linguagem é um instrumento de comunicação
que une forma e conteúdo (significante e significado). Por ser um instrumento
comunicativo, é natural que as línguas não sejam homogêneas; pelo contrário, elas são
heterogêneas e variam constantemente. Toda comunidade de fala possui
heterogeneidade e essa heterogeneidade está na competência do falante.
Todavia, a variação não ocorre por acaso ou pelo livre arbítrio do falante. Há
motivações do sistema linguístico que o falante segue, sem escolha. Essas motivações
podem ser de natureza extralinguística e linguística.
Labov (1994), citando Meillet, concorda que há uma relação entre estrutura
linguística e estrutura social, como se pode notar no fragmento abaixo:
A única variável a que podemos recorrer para explicar a mudança linguística
é a mudança social, da qual as variações linguísticas são apenas
consequências. Temos que determinar que estrutura social corresponde a uma
estrutura linguística dada e como, de modo geral, as mudanças na estrutura
social se traduzem em mudanças na estrutura linguística3.
A partir dessa relação entre língua e sociedade, é possível notar a existência de
um valor social sobre uma variante. Esse valor está associado ao grupo que a introduziu
e com as relações econômicas e culturais que este grupo detém. Desse modo, o falante
3 la única variable a la que podemos acudir para explicar el cambio linguístico es el cambio social, del
cual las variaciones linguísticas son sólo consecuencias. Tenemos que determinar qué estructura social
corresponde a uma estructura linguística dada y cómo, de modo general, los câmbios em la estructura
social se traducen em câmbios em la estructura linguística. (1994, pág. 65)
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reconhece a força da norma de prestígio através da mídia, da escola e de pessoas
amplamente conhecidas, sendo as variantes estigmatizadas relacionadas à origem social
de menor prestígio, enquanto as variantes não-estigmatizadas estão relacionadas às
classes dominantes, que traçam uma avaliação impressionista acerca das variedades de
fogem ao padrão, desconhecendo a variação decorrente das situações de uso, bem como
a legitimidade das diferentes variedades como sistemas comunicativos e de expressão
do pensamento.
Essa noção de prestígio ou desprestígio sobre uma variante remete a um dos
problemas da mudança proposto por Labov (2006). Esse problema seria o da avaliação,
em que é possível verificar em que medida a avaliação subjetiva de um indivíduo frente
às variantes pode interferir no processo de mudança.
Talvez, no caso da concordância nominal no português do Brasil, o problema da
avaliação esteja interferindo no processo de mudança em direção a um sistema de perda
das marcas morfológicas de número e, obviamente, influenciando a presença da marca
formal, já que a ausência da marca [s] de plural é associada a não saber falar “certo”,
sendo, pois, a variante zero considerada desprestigiosa. Já a marcação morfológica da
concordância de número está relacionada ao “bem falar” e é a norma de prestígio social.
É interessante notar que algumas variantes podem ser representativas de
determinados grupos sociais. É o que ocorre com a variante zero usada por muitos
falantes como um meio de inserção na sua comunidade. Às vezes, esses falantes até
conhecem a variante padrão; entretanto, seu uso não é comum em sua comunidade e
usá-la pode ser interpretado como pedantismo; por isso, eles acabam inconscientemente
preferindo usar a variante estigmatizada para não se sentirem excluídos socialmente.
Ainda no campo da Sociolinguística, há um estudo mais recente de Freitag,
Martins e Tavares (2012) que apresenta uma nova concepção para se pensar os estudos
linguísticos de acordo com Eckert (2012). Os autores discutem as três ondas dos estudos
sociolinguísticos que, segundo ela, são maneiras de pensar a variação como uma prática
e uma metodologia.
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A primeira onda estabelece uma relação entre as variáveis linguísticas e as
categorias sociais como sexo, idade e escolaridade. Essa onda é bem conhecida entre os
linguistas brasileiros, pois é o tipo de pesquisa mais comum dentro da Sociolinguística
Variacionista, uma vez que estabelece correlações entre variáveis linguísticas e sociais
(classe social, gênero, idade, escolaridade etc.).
Já a segunda onda apresenta uma abordagem etnográfica e seu objetivo é
mostrar como o vernáculo recebe uma identificação com determinada comunidade de
fala. Nesses estudos, é possível notar o valor social que as variantes em estudo recebem
por parte dos falantes de um determinado local, sendo o foco os conceitos de
comunidades de fala e de identidade de grupo. Em relação à concordância no sintagma
nominal, é preciso ressaltar que a ausência da marca morfológica é estigmatizada
socialmente e sua aquisição coloca o falante em posição de prestígio, ainda que a
abordagem se baseie em categorias sociais amplas como gênero, faixa etária e
escolaridade.
Por último, a autora descreve a terceira onda para os estudos linguísticos. Essa
terceira onda combina os postulados das duas primeiras; entretanto seu foco não está na
comunidade de fala e sim na comunidade de prática. Entende-se por comunidade de
prática o conjunto de indivíduos que possuem perspectivas, valores e conhecimento em
comum e esses indivíduos interagem entre si. Dessa forma, nessa terceira onda, o foco
está na variação como uma maneira de identificação social. Conforme Eckert (2012),
toda variação pode receber um valor social independentemente de essa avaliação ser
conscientemente controlada ou socialmente significativa. Esse agrupamento de
indivíduos (comunidade) domina perspectivas, valores e conhecimento, interagindo
entre si para, na prática, aperfeiçoar esses valores e conhecimentos.
Essa terceira onda surge com o objetivo de criar análises mais confiáveis e que
represente melhor um determinado grupo social, uma região ou até mesmo a variedade
do português brasileiro. Para os autores, as pesquisas que observam a comunidade de
prática podem construir um corpus que realmente seja representativo para uma
comunidade.
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Ainda nesse estudo, os autores apresentam alguns corpora que estão sendo
formados a partir dos postulados dessa terceira onda (Banco de fala culta de
Itabaiana/SE, Banco de falares sergipanos e Banco de dados FALA-Natal). Portanto,
para a constituição desse material, os pesquisadores precisam conhecer mais
detalhadamente o perfil de seus informantes, conhecendo algumas particularidades da
sua vida pessoal, como o que gostam de fazer nas horas livres, se pertencem a algum
grupo (igreja, clube, esporte) e até sua rotina diária. Somente dessa forma, de acordo
com os autores, é possível formar um corpus que seja realmente representativo de certa
comunidade.
Essa pesquisa não foi realizada tipicamente nos moldes da terceira onda, pois
não foi possível o conhecimento detalhado de cada informante – no caso, de cada aluno.
Mas o perfil das localidades em que as escolas se encontram já contribui para o
conhecimento do perfil socioeconômico dos alunos pertencentes a essas instituições de
ensino que compõem o nosso corpus.
3. Aspectos metodológicos
3.1. Constituição do corpus
3.1.1. Redações
O corpus do trabalho foi composto por redações escolares de alunos do ensino
Fundamental II, de quatro escolas diferentes. Duas dessas escolas são públicas e duas
são particulares e se encontram em localidades distintas uma das outras.
Para a constituição desse corpus, desejava-se conseguir vinte redações por ano
de escolaridade, divididas em gênero – dez femininas e dez masculinas – em todas as
instituições escolares. Contudo, isso não foi possível, pois em algumas séries/anos não
havia essa quantidade de alunos ou não havia a quantidade de meninos ou meninas que
se desejava. Assim, o quadro abaixo mostra detalhadamente como esse corpus foi
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constituído, a partir das limitações encontradas, sabendo que isso não atrapalharia o
resultado da pesquisa, já que o programa estatístico utilizado – GoldVarb-X – pondera
essas assimetrias.
Ano de escolaridade / Gênero
Instituição
6º ano 7º ano 8º ano 9º ano
F M F M F M F M
Colégio e curso Esplendor 10 10 7 8 10 10 10 7
Colégio ZeroHum 6 4 10 10 10 10 10 8
E. M. Oswaldo Teixeira 10 10 10 10 10 10 10 10
E. M. Fernando Azevedo 7 10 10 10 10 10 10 10
Tabela 1: quantidade de redações por ano de escolaridade, gênero e instituição.
Dessa forma, foram analisadas, ao total, 297 redações. Do Colégio e Curso
Esplendor havia 72 redações, já do colégio ZeroHum havia 68. Nas escolas municipais,
foi mais fácil conseguir o número de redações desejáveis, devido ao maior número de
turmas. Assim, da Escola Municipal Oswaldo Teixeira, foram coletadas 80 redações; já
da Escola Municipal Fernando Azevedo, foram coletadas 77 redações.
Em relação ao ano de escolaridade, no 6º ano coletaram-se 67 redações, no 7º
ano 75, no 8º ano analisaram-se 80 redações e no 9º ano foram também 75 redações. O
número de redações foi menor no 6º ano, pois algumas turmas eram pequenas, com
poucos alunos.
3.1.2. Localização das escolas pesquisadas
As informações abaixo foram coletadas com base no Censo de 2000 (Cavallieri;
Lopes, 2008), realizado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. Trata-se de
indicadores que expressam o Índice de Desenvolvimento Social (IDS), bem como o
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ranqueamento das localidades analisadas quanto ao seu Índice de Desenvolvimento
Humano (IDH).
O IDS é uma avaliação do atendimento às necessidades básicas do cidadão e é
calculado a partir da observação dos quesitos i) acesso ao saneamento básico, ii)
qualidade habitacional, iii) grau de escolaridade e iv) disponibilidade de renda, cujos
resultados são comparados aos de outras cidades em diferentes situações econômicas.
Trata-se, pois, de um medidor da qualidade de vida dos habitantes das localidades
consideradas.
Já o IDH teve por objetivo “desviar o foco do desenvolvimento da economia e
da contabilidade de renda nacional para políticas centradas em pessoas” (HAQ, 1995
apud CAVALLIERI; LOPES, 2008), medindo o bem estar humano a partir do nível de
educação da população. A taxa de analfabetismo se mede pelo número de pessoas com
quinze anos ou mais que não concluiu o primeiro ciclo de estudos (Ensino
Fundamental). Outro indicador é a taxa de escolarização, que se relaciona à soma das
pessoas matriculadas no ensino fundamental, médio, superior, supletivo e pós-
graduação, dividida pelo total de pessoas entre 7 e 22 anos da localidade. Considera-se
ainda a longevidade, a expectativa de vida ao nascer e a quantidade de anos que uma
pessoa pode viver. Tal medida reflete as condições de saúde e de salubridade da
localidade, considerando o número de mortes precoces. Além desses fatores, a renda per
capita da população – outro comparativo – é calculada a partir do poder de compra. O
IDH mede, enfim, o desenvolvimento das localidades, estando ambos os índices (IDH e
IDS) intimamente relacionados.
3.1.2.1. Particulares
3.1.2.1.1. Jardim Guanabara – Ilha do Governador
Das quatro localidades pesquisadas, Jardim Guanabara, pertencente à 20ª.
Região Administrativa (R.A. Ilha do Governador), é a que apresenta melhor Índice de
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Desenvolvimento Social e Índice de Desenvolvimento Humano. Embora não figure na
Zona Sul do Rio de Janeiro, seu Índice de Desenvolvimento Social é de 0,0745,
ocupando a 15ª posição entre os bairros da cidade do Rio de Janeiro, de acordo com
dados de 2008 (CAVALLIERI; LOPES, 2008), e apresenta o 3º. melhor IDH do
município (.963).
Jardim Guanabara é um bairro valorizado na Zona Norte da cidade do Rio de
Janeiro e surgiu do loteamento do terreno da Fábrica de Produtos Cerâmicos Santa
Cruz. Tem como caracterísitca ser bastante residencial e, no entorno, cercado de
restaurantes, bares, áreas de lazer e praias (da Bica e do Engenho Velho) que, apesar de
não ser banhável por encontrar-se nos fundos da Baía de Guanabara, é ponto de
encontro de moradores pertencentes à classe alta e média-alta. Outra característica é que
não está próximo a comunidades carentes, e a existência de um clube (Iate Clube Jardim
Guanabara – 1953) e do Parque Municipal Marcello de Ipanema (1995), com uma
preservada área verde.
3.1.2.1.2. Vila da Penha
O bairro de Vila da Penha, pertencente à 14ª. Região Administrativa (R.A. -
Irajá), ocupa o 21º. lugar, no que diz respeito ao Índice de Desenvolvimento Humano
(0,909), e o 36º. lugar em relação ao índice de Desenvolvimento Social, em comparação
às demais cidades, e o 6º. lugar, em relação aos demais bairros da Zona Norte
(CAVALLIERI; LOPES, 2008). Trata-se de um bairro residencial de classe média e tem
sido alvo da expansão imobiliária nos últimos anos. Suas origens remontam a época dos
engenhos de açúcar e aguardente da região, que, com a falência, foram desmembrados
por seus proprietários em vários terrenos.
A Vila da Penha faz limites com os bairros de Vista Alegre, Brás de Pina e Vila
Kosmos, apresentando variadas opções de lazer, tais como: espaço para caminhada e
prática de esportes (Largo do Bicão), bares, restaurantes e redes de fast foods, casas de
espetáculo (Olimpo), clube (Mello Tênis Clube e casa do Viseu), além de um grande
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shopping e da lona cultural João Bosco, uma espécie de anfiteatro herdado da ECO-92,
em que são oferecidos desde shows a diversos cursos gratuitos ou de baixo custo. O
bairro conta, ainda, com infraestrutura de comércio e uma biblioteca em construção
(Biblioteca Comunitária Tobias Barreto de Meneses), cujo projeto arquitetônico é de
Oscar Niemeyer.
3.1.2. 2. Públicas Municipais
3.1.2.2.1. Quintino Bocaiúva
O bairro de Quintino, pentencente à 15ª Região Administrativa (Méier), localiza-
se na Zona Norte da cidade e apresenta Índice de Desenvolvimento Humano de 0, 850,
equivalendo ao 55º lugar. Seu Índice de Desenvolvimento Social é 0,603, o 63º lugar,
entre as cidades do Rio de Janeiro. Trata-se de um bairro residencial, com uma
população de cerca de 40.000 habitantes.
Em Quintino, funciona o complexo Centro de Educação Técnica e
Profissionalizante, onde estão a Escola Técnica Estadual República, o Instituto Superior
de Tecnologia em Ciências da Computação do Rio de Janeiro, além de instituições que
oferecem cursos de idiomas, técnicos e profissionalizantes, contando com as escolas
municipais Osvaldo Teixeira, Quintino Bocaiúva e Haiti, e particulares João Lyra Filho
e Guarany.
Nos anos 1960 e 1970, Quintino apresentava vida social movimentada, com
associações sociais e recreativas com torneios de futebol, ranchos carnavalescos
(Decididos de Quintino, Aliados de Quintino e Aliança), que atraíam visitantes de
vários lugares. Mas, a partir de 1980, a decadência dos ranchos, que tentaram
transformar-se em escolas de samba, desencadeou também a decadência da vida social
do bairro e consequente aumento da violência. Isso distanciou os vizinhos dos bairros
limítrofes Cascadura, Cavalcante, Piedade, Freguesia, Tanque e Praça Seca.
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3.1.2.2.2. Santa Cruz
Santa Cruz, pertencente à 19ª. região administrativa, é um extenso bairro
populoso de classe média, média-baixa e baixa, também da Zona Oeste da cidade,
cortado pela malha ferroviária urbana e localizando-se bastante distante do centro do
Rio de Janeiro. Possui paisagem diversificada, com áreas comerciais, residenciais e
industriais, sendo sede da XIX Região Administrativa. Seu Índice de Desenvolvimento
Humano é de 0, 742, sendo o 119º colocado na cidade do Rio de Janeiro, e Índice de
Desenvolvimento Social 0,476, 147º lugar, o mais baixo dentre as localidades
pesquisadas. Faz limites com os municípios de Itaguaí a oeste e Seropédica a norte, e os
bairros de Sepetiba ao sul, Paciência e Cosmos a leste e Guaratiba a sudoeste.
É região em franco desenvolvimento, em função da instalação do Porto de
Itaguaí; no entanto, por ser uma região muito ampla, apresenta contrastes como o fato
de ser um dos bairros mais populosos e, ao mesmo tempo, conter grandes áreas
despovoadas e inexploradas.
Santa Cruz foi área em que se localizava a Fazenda de Santa Cruz, grande
engenho de açúcar que, com a chegada da família Real, foi transformada em local de
veraneio, sendo o antigo convento adaptado às funções de paço real - Palácio Real de
Santa Cruz. A fazenda chegou a produzir excelente chá, cuja produção era totalmente
comercialidada, além de ter sido palco de grandes eventos históricos, como a assinatura
da lei de alforria dos escravos do governo imperial pela princesa Isabel; foi uma das
primeiras localidades a se beneficiar com o sistema de entrega em domicílio de cartas
pelo correio, tendo sede ali a primeira agência dos Correios (1842), bem como teve
instalado o primeiro telefone, comunicando-se com o Paço de São Cristóvão e a estação
de trem (1878). Em função de sua importância, Santa Cruz deu sede a vários palacetes,
como o Palacete Princesa Isabel, o Marco Onze, a Fonte Wallace, e teve até o Hangar
do Zeppelin. No entanto, depois da Proclamação da República, Santa Cruz perdeu seu
prestígio, embora muitos imigrantes estrangeiros tenham desenvolvido o comércio
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(árabes) e a agricultura local (japoneses), na década de 1930, e transformado o bairro
em grande produtora de alimentos para todo o Rio de Janeiro.
Já na década de 1970, o bairro passou a importante distrito industrial, sediando
grandes indústrias, e hoje se encontra em crescimento, com comércio desenvolvido e
um sistema educacional público e privado que supre adequadamente a demanda por
educação básica. No entanto, há carência no ensino médio tanto de rede pública quanto
privada. Para atender a demanda por mão-de-obra qualificada, há o CETEP e o o
SESI/SENAI, que oferecem vários cursos profissionalizantes. O bairro ainda sedia o
Batalhão Escola de Engenharia e a Base Aérea de Santa Cruz. Apesar disso, a
localidade enfrenta diversos problemas relacionados ao sistema de transporte,
saneamento básico, meio ambiente, tráfico de drogas, além da ação de milícias nas
comunidades carentes.
Quanto à saúde pública, Santa Cruz é servido pelo Hospital Municipal D. Pedro
II e postos de saúde, com destaque ao Hospital Dom Pedro II, além da Policlínica
Lincoln de Freitas e vários hospitais privados. Porém, a maior parte dos moradores
(70%) depende do sistema público de saúde e sofre com a falta de médicos e leitos da
rede de hospitais.
Segue abaixo uma tabela comparativa dos quatro municípios considerados:
Bairro Esp. de
vida ao
nascer
(em
anos)
Freq.
Alfab.
de
adultos
(%)
Freq.
escolar
(%)
Renda
per
capita
(2000)
IDH
longe
vidade
IDH
educa
ção
ÍDH
renda
IDH ÍDS
(2008)
Jd.
Guanabara 80,47 98,92 111,15 1316,86 0,924 0,993 0,972 0,963 0.745
(15º.) Vila da Penha
77,64 98,79 103,71 669,34 0,877 0,992 0,859 0,909 0,663
(36º.) Quintino
Bocaiúva 73,91 96,80 91,97 424,67 0,815 0,952 0,783 0,850 0,605
(63º.) Santa Cruz 65,52 93,19 79,82 206,23 0,675 0,887 0,662 0,742 0,476
(147º.)
Tabela 2: dados estatísticos sobre os bairros estudados.
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Como se vê, é possível construir um continuum referente a todas as informações
do quadro, mostrando que o bairro de Jardim Guanabara apresenta os melhores índices
no que tange à qualidade de vida, tendo o 3º melhor IDH do município, e o bairro de
Santa Cruz, na outra ponta do continuum, apresenta os índices mais baixos em todos os
quesitos do quadro. Já os bairros de Vila da Penha e Quintino ficam no meio do
continuum, pois apresentam resultados superiores ao de Santa Cruz, mas inferiores ao
bairro do Jardim Guanabara. Dessa forma, pode-se dizer que há uma gradação, de
acordo com suas características socioeconômicas.
Continuum referentes às condições de vida.
+ -
Jd. Guanabara Vila da Penha Quintino Bocaiúva Santa Cruz
Segue abaixo o mapa do Estado do Rio de Janeiro, com destaque à localização
dos bairros considerados na pesquisa, com fins à visualização da distribuição espacial
de cada um deles em relação ao centro sócio-cultural (Centro).
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3.2. Constituição da variável localidade
Como já foi exposta na seção referente à constituição do corpus, a pesquisa
coletou redações de quatro lugares distintos, tentando estabelecer um continuum que
parte de um lugar que atende a um público menos favorecido (Santa Cruz e Quintino
Bocaiuva), perpassa por um bairro mais ascendente com um público misto (Vila da
Penha) e finaliza em um bairro de classe média alta (Ilha do Governador – Jardim
Guanabara).
Desse modo, acredita-se que os estudantes da escola que se encontra em Santa
Cruz e Quintino apresentarão maior tendência ao uso da variante <0> do que os falantes
do Jardim Guanabara, devido ao contato linguístico que tais estudantes recebem do
meio social em que se encontram, além dos contrastes relativos ao nível
socioeconômico revelados pelos IDH e IDS de cada bairro.
Há quatro variantes para a variável localidade. São elas:
Quintino Bocaiúva
Santa Cruz
Vila da Penha
Jardim Guanabara
Tabela 3: constituição da
variável localidade.
4. Resultado
4.1. Resultados gerais
Com as 297 redações analisadas, foram coletados 2.659 elementos que
constituíam os SNs plurais observados. Dentre esses elementos, 2.507 apresentaram a
marca morfológica de número e apenas 150 exibiram a variante ᴓ. Esse resultado
corresponde a 94,5% de concordância contra 5,5% de não concordância entre os termos
do SN.
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Portanto, pelo resultado obtido, é coerente dizer que o fenômeno da
concordância nominal se enquadra na regra laboviana do tipo III – regra variável –, já
que apresenta percentuais entre 5% a 95%, porém esse percentual está bem próximo de
uma regra semi-categórica (95% a 99%). Dessa maneira, vale ressaltar que se trata de
escrita em que há a influência da escola, pois todas as produções textuais foram feitas
no ambiente escolar.
Outro fator relevante é que as redações foram produzidas como forma de
avaliação e, por isso, havia, ainda, uma pressão maior sobre a escrita desses alunos. Nas
escolas municipais, a prova de produção textual era uma avaliação da Secretaria
Municipal de Educação, que observa, a partir de uma série de provas, o desempenho dos
alunos do ensino público, assim como o desempenho dessas escolas e dos professores
que ali trabalham.
Assim, a partir desse resultado, pode-se afirmar que a hipótese sobre o aumento
da concordância no PB foi comprovada, pois nesse corpus houve um número bem
maior de concordância padrão na escrita. Na fala, Scherre (1988) e Vieira e Brandão
(2012) já mostravam que havia uma preferência pela concordância padrão tanto no
português do Brasil como em outras variedades do português. Com isso, percebe-se que
a escola vem cumprindo seu papel de manter a norma padrão, principalmente na escrita,
mas também tem trazido para a fala, variantes até então restritas à escrita formal.
Para a pesquisa, foi usada como fator de aplicação a variante prestigiada [s],
ainda que também tenham sido analisados os fatores que cancelam a marca de
concordância padrão na escrita. O input geral foi de 0.944, e o input da melhor rodada
selecionada foi de 0.962 e o nível de significância, 0.013.4
4 O input consiste no ponto de referência para aplicação da regra, “o nível geral de uso de determinado
valor da variável dependente” (GUY, ZILLES, 2007: 238). O nível de significância corresponde à medida
que define o grau de confiança dos resultados obtidos; são estatisticamente significativos os índices iguais
ou inferiores a .005, e o peso relativo é o resultado da análise probabilística da correlação entre as
variáveis em estudo, “indica o efeito deste fator sobre o uso da variante investigada neste conjunto (...) o
peso é „relativo‟ ao nível geral de ocorrência da variante, indicada pelo input”: quanto mais próximo de 1
(um), mais o fator favorece a aplicação da regra (op. cit., p. 239).
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Cabe esclarecer os resultados dos percentuais e pesos relativos das tabelas.
Nestas, embora os percentuais de concordância sejam elevados, os pesos relativos
mostram-se desfavoráveis à aplicação da marca morfológica de concordância, em
alguns contextos. Como esclarecem Guy e Zilles (2007: p. 211-213), o GoldvarbX
fornece “uma representação abstrata dos efeitos de contexto independentemente dos
níveis gerais de uso de um processo”. Os pesos são relativos a um ponto neutro (.50).
Assim, os resultados abaixo deste ponto neutro indicam que esses contextos são
desfavoráveis à concordância nominal, ainda que os percentuais não revelem isso. A
análise multivariada faz essa ponderação, sendo confiável a análise do peso relativo: “os
valores dos pesos darão uma indicação superior dos efeitos do contexto” (p. 213).
Dessa forma, o programa selecionou seis variáveis, na seguinte ordem de
significância: marcas no elemento precedente, animacidade, localidade, ano de
escolaridade e posição linear relativa do constituinte no SN. Observa-se, pois, a co-
atuação de variáveis linguísticas e sociais.
4.3. Resultado da variável Localidade
A variável localidade foi a terceira variável relevante para o fenômeno da
concordância nominal. Essa variável observa o lugar em que se encontram as escolas,
verificando a importância do contexto social para o fenômeno em estudo. Assim, a
próxima tabela mostra esse resultado:
Localidade Concordância padrão
(variante -s)
APL/T 2509/2659 = 94,5%
Input
inicial 0.944
de seleção 0.962
Significância
0.013
Aplic./total % PR
Vila da Penha 826/856 96% .61
Santa Cruz 513/543 95% .51
Ilha do Governador 723/766 94% .48
Quintino 446/494 90% .32
Tabela 4: atuação da variável localidade – concordância padrão.
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Como se nota, os informantes da escola Municipal localizada em Quintino
apresentaram maior tendência ao cancelamento da marca -s de plural (.32, 90% -
446/494), enquanto os do colégio na Vila da Penha favorecem a variante prestigiada
(.61, 96% - 826/856). Já aqueles da Escola Municipal em Santa Cruz e na Ilha do
Governador apresentaram um peso relativo que revela neutralidade (.51, 95% - 513/543;
.48, 94% - 723/766, respectivamente), no que tange ao uso da variante de prestígio, com
um leve favorecimento para a escola em Santa Cruz e desfavorecimento para a escola
que fica no Jardim Guanabara – Ilha do Governador. Desse modo, os resultados da
variável localidade podem ser representados por este continuum:
- concordância + concordância
Quintino Ilha do Governador Santa cruz Vila da Penha
Esse resultado não confirma as hipóteses iniciais desta pesquisa. Acreditava-se
que o colégio na Ilha do Governador fosse aquele que apresentaria maior tendência à
concordância, devido a fatores sócio-econômicos já comentados na seção 4.1.2.1, como
o maior índice de educação (0,993), a maior taxa de frequência escolar e de
alfabetização de adultos (111,15 e 98,92, respectivamente), além de ser o lugar que
ocupa a 3ª posição no ranking de melhor IDH do município (.963).
Também se postulava que a Escola Municipal em Santa Cruz fosse aquela com a
menor tendência à concordância, em função dos baixos índices socioeconômicos, como
o menor percentual de alfabetização de adultos (93,19) em relação às demais
localidades, o menor índice de frequência escolar (79,82) e o menor índice de
desenvolvimento social em 2008 (0,476), este muito abaixo dos outros bairros
considerados.
Talvez o resultado de quase neutralidade para o colégio da Ilha do Governador
tenha alguma relação com o tipo de dado presente no corpus produzido pelos falantes
dessa instituição, já que a maior parte são do tipo uma porção de, um monte de, uma
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camada de (partitivos) estava nas redações desses alunos. Como foi mencionado, tanto
o pré-núcleo como o núcleo desses elementos partitivos apareceram, em sua maioria,
sem marca de número. Em alguns casos, até os termos posteriores não recebem a marca
de -s plural:
“uma porção de pedregulho fino” (aluno do 9º ano – Colégio ZeroHum – Ilha
do Governador)
“um monte de doentes” (aluna do 8º ano – Colégio ZeroHum – Ilha do
Governador)
“pela camada de pedregulhos finos” (aluna do 9º ano – Colégio ZeroHum – Ilha
do Governador)
Ao se proceder à análise retirando os SNs do tipo uma porção de, a maioria de,
um monte de e os SNs que apresentavam termo precedente invariável, a hipótese inicial
pôde ser comprovada: Santa Cruz e Quintino (onde se localizam as escolas municipais)
desfavorecem a aplicação da regra de número (.38 e .24, respectivamente). Já os bairros
Vila da Penha e Jardim Guanabara/Ilha de Governador (onde se localizam as escolas
particulares) a favorecem (.64 e .60, respectivamente), confirmando-se agora o
favorecimento da concordância na Ilha e não mais a neutralidade. Observe a tabela e o
novo continuum para a variável localidade:
Localidade Concordância padrão
(variante -s)
APL/T 2401/2498 = 96,1%
Input
inicial 0.961
de seleção 0.976
Significância
0.038
Aplic./total % PR
Ilha do Governador 715/734 98% .64
Vila da Penha 698/708 97% .60
Santa Cruz 492/512 96% .38
Quintino 436/479 91% .24
Tabela 5: atuação da variável localidade sem os SNs partitivos e os termos
invariáveis – concordância padrão.
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- concordância + concordância
Quintino Santa cruz Vila da Penha Ilha do Governador
Com base nesta variável e no fato de que cada localidade corresponde à natureza
da instituição pesquisada (pública ou privada), podem-se comparar os seus
desempenhos. Assim, as escolas privadas (Vila da Penha e Ilha) tenderam ao
favorecimento da regra padrão, ao passo que as públicas (Santa Cruz e Quintino)
tenderam a um desfavorecimento. Tal resultado pode refletir a qualidade do ensino, o
que corrobora os índices apresentados na tabela 17, do item 5.2.3, no que se refere aos
adultos alfabetizados (93,19 e 96,80, respectivamente), frequência escolar (79,82 e
91,97, respectivamente) e educação (0,887 e 0,783, respectivamente), todos mais baixos
do que os encontrados para Vila da Penha e Jardim Guanabara/Ilha do Governador.
É relevante, ainda, mostrar algumas observações sobre essas instituições, para
que se possa ver a diferença entre elas. Primeiramente, é importante saber que as escolas
municipais – Quintino e Santa Cruz – foram aquelas que apresentaram um corpus mais
completo, com maior número de redações, porém apresentaram menor número de dados
(498 e 542, respectivamente). Isso porque, apesar de haver número maior de produções
textuais, essas redações eram bem pequenas, muitas não passavam de dois parágrafos.
Além disso, essas redações apresentavam um modelo de construção, ou seja, a
maioria delas seguia um padrão de escrita, talvez ensinado durante as aulas, para que os
alunos conseguissem produzir bom texto na prova da Secretaria Municipal de Educação.
Por isso, algumas redações começavam da mesma maneira, como uma receita (“Dos
livros que li nesse bimestre” ou “Dos livros lidos esse bimestre” – muitos alunos do 7ª
ano da Escola Municipal Fernando Azevedo).
Esse fato é relevante, já que os professores e as escolas não querem ser avaliadas
negativamente, pois, em função disso, podem perder benefícios que o município
distribui àquelas escolas que tiverem um desempenho satisfatório. Desse modo, talvez o
percentual de concordância padrão (90% - Quintino e 95% Santa Cruz) não reflita
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exatamente o que é produzido por essas comunidades, como demonstra o valor dos
pesos relativos (.32 e .51, respectivamente).
Uma observação importante a se fazer se refere à produtividade de cada
instituição. As escolas particulares exibiram redações maiores e, por isso, obtiveram-se
mais dados. Foram mais de 200 dados de diferença entre as escolas públicas e as
privadas. Aparentemente, esse é um fato irrelevante, já que o programa faz essa
ponderação. No entanto, essa diferença mostra uma realidade diferente entre essas
instituições, pois foi possível inferir que os alunos das escolas particulares escrevem
mais, estão mais acostumados com a prática da escrita e, talvez, tenham até mais
facilidade, ainda que não se tenha encontrado redação considerada como um modelo de
escrita. Os alunos dos colégios da Ilha e da Vila da Penha produziram redações menos
presas a receitas, mais criativas e de diferentes tipologias, a depender do ano escolar do
aluno, enquanto as escolas municipais produziram em massa a narração, em todos os
anos de escolaridade.
Contudo, não se pode afirmar, categoricamente, que essas diferenças advenham
da natureza da instituição (pública x privada), já que não foi possível controlar a ação
dessa variável. Dessa maneira, o resultado aqui encontrado é uma questão relacionada
aos bairros estudados, com suas especificidades sociais, econômicas e culturais.
5. Considerações finais
Esta pesquisa sobre o fenômeno da concordância nominal em SNs simples e
complexos pôde comprovar o aumento em direção à aplicação da marca de
concordância na escrita de alunos do 6º ao 9º anos de diferentes instituições e
localidades em relação a trabalhos antigos sobre o mesmo fenômeno, já que a variante
prestigiada -s se manifestou em 94,5% dos dados analisados. Esse resultado confirma a
hipótese do aumento da concordância padrão no português brasileiro. Além disso, a
presença majoritária da variante de prestígio parece estar relacionada à modalidade
escrita, que é mais monitorada. Também não se pode esquecer da influência da escola
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como a grande mantenedora da variante padrão, pois as redações analisadas foram
produzidas no ambiente escolar.
A variável localidade mostrou que as escolas públicas que ficam em Quintino e
Santa Cruz desfavoreceram a regra padrão, enquanto as particulares da Vila da Penha e
do Jardim Guanabara – Ilha do Governador – favoreceram a variante de prestígio. Além
disso, foi possível discutir com esses resultados as peculiaridades entre as escolas
públicas e as privadas, mostrando que estas apresentaram maior produtividade de
concordância.
Portanto, acredita-se que esta pesquisa pôde contribuir com uma descrição e
explicação do fenômeno da concordância nominal na modalidade escrita, mostrando em
que contextos há uma tendência à produção da variante zero e, assim, traz informações
importantes para o ensino do português. Com isso, o professor de língua poderá prever
em que ambientes há uma tendência de seus alunos não realizarem a variante -s, na
escrita, e esses contextos poderão servir como ponto de partida para o ensino da variante
padrão, permitindo a eles o acesso à “norma culta”.
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WEINREICH, Uriel & William Labov & Marvin Herzog. Fundamentos Empíricos
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(tradução de Marcos Bagno).
Recebido Para Publicação em 30 de outubro de 2014.
Aprovado Para Publicação em 25 de novembro de 2014.