A CONSTITUIÇÃO COMO FONTE DE DIREITO ADMINISTRATIVO

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    A CONSTITUIO COMO FONTE DE DIREITO

    ADMINISTRATIVO1

    A Constituio como fonte de Direito Administrativoo Constituio administrativa conjunto de princpios e

    normas constitucionais que tm como objecto a

    Administrao Pblica em sentido orgnico e material;

    o No podemos entender a Constituio em sentido polticoestrito, como sendo apenas o estatuto jurdico da pessoa

    colectiva pblica Estado, pois ela apresenta normas relativas

    a cada ramo de Direito infra-estadual, sendo o Direito

    Administrativo o mais tratado na Lei Fundamental;

    o A Constituio da Repblica Portuguesa de 1976 no temparalelo com as constituies monrquicas e a Constituio

    Republicana de 1911, sendo que a Constituio de 1933

    aquele que mais se aproxima dela (mas ainda fica longe), nos

    artigos 24. a 28. e em normas esparsas (como uma espcie

    de embrio da constituio administrativa);

    o Na Constituio espanhola de 1978 e na ConstituioBrasileira de 1988, no se consagra, de modo to extenso, oDireito Administrativo;

    o Razes que motivam a constituio administrativa O crescimento da importncia do Direito

    Administrativo traduz-se na fase urea do Estado Social

    de Direito, por fora da Administrao de prestaes

    e infra-estadual e a sua interferncia na vida

    econmico-social; Reforo das garantias administrativas procedimentais e

    contenciosas dos particulares face Administrao

    1 Os apontamentos apresentados foram recolhidos em aulas tericas de Direito Administrativo I,

    ministradas pela Exmo. Prof. Doutor Lus Filipe Colao Antunes, na Faculdade de Direito da Universidade

    do Porto (FDUP), no ano lectivo 2010/2011.

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    Pblica (posies jurdicas substantivas para defesa dos

    interesses legalmente protegidos)

    o Princpios constitucionais gerais com incidnciaadministrativa (ainda que no tenham como objecto a

    Administrao)

    Princpio do Estado de Direito (artigos 2. e 3. CRP); Princpio da separao de poderes ; Princpio da sujeio da Administrao Pblica Lei; Princpio democrtico (reflecte-se no auto-governo de

    determinadas entidades por exemplo: artigo 76.,

    n.2 CRP);

    Princpio da participao na Administrao (artigo267., nmeros 2 e 5 CRP);

    Princpio do Estado Social fundamental e integradordos Direitos Econmicos, Sociais e Culturais (artigo 58.

    e seguintes). Constitui o fundamento constitucional da

    prpria Administrao de prestao de servios (de

    natureza educativa, sanitria, entre outros);

    Princpio do Estado unitrio (compatvel com aautonomia regional artigo 225. e seguintes CRP e a

    autonomia administrativa das autarquias locais artigo

    235. e seguintes CRP)

    Princpio da integrao europeia (artigo 8., n.4 CRP):com este princpio, legitimam-se decises

    administrativas comunitrias, constantes de

    regulamentos e directivas (actos legislativos), que

    incidem sobre a esfera jurdica das Administraes

    nacionais e dos particulares; Princpio da hierarquia do Direito Comunitrio Princpio da reserva administrativa parlamentar

    (artigos 164. e 165. CRP) destes artigos, constam

    matrias da reserva absoluta ou relativa de

    competncia legislativa da Assembleia da Repblica.

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    Destacam-se, ao nvel do Direito Administrativo, as

    alneas d), n) e o) do artigo 164. CRP e as alneas d),

    e)2, l), q), s), t), u), v), z) e aa) do n.1 do artigo 165.

    CRP.

    o Direitos fundamentais na Administrao Artigo 18., n.1 CRP vinculao directa aos Direitos,

    Liberdades e Garantias;

    Artigos 20. e 268. CRP princpio da tutelajurisdicional efectiva e plena;

    Artigo 22. CRP princpio da responsabilidade civiladministrativa por danos causados por aco (facere)

    ou omisso (nonfacere);

    Artigo 47. CRP direito de acesso funo pblica; Artigo 48. CRP direito participao na vida pblica; Artigo 52. CRP (em particular, o n.3) direito de

    petio e direito de aco popular

    o Princpios e normas constitucionais relativos organizaoadministrativa ( actividade administrativa)

    Artigo 267., n.2 CRP descentralizao edesconcentrao administrativas;

    Artigo 6. CRP descentralizao administrativa(Administrao Autnoma, territorial e no-territorial)

    e desconcentrao administrativa (d lugar

    Administrao perifrica);

    Princpio da descentralizao administrativa, que dlugar Administrao indirecta do Estado e Administrao autnoma regional e local 3;

    2A matria constante da alnea e) alvo de regulao em Cdigo prprio.

    3Administrao autnoma local: por exemplo, empresas pblicas municipais.

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    Pluralidade de Administraes territoriaisy Administrao do Estado (artigos 182. e 199.

    CRP) Administrao departamental, do tipo

    ministerial;

    y Administrao autnoma do Estadoo Princpio da autonomia administrativa

    Regional (artigos 225. e seguintesCRP, em especial artigo 227. CRP)

    total independncia face ao Estado

    Local sujeita a mera tutela e tutelade mera legalidade do Estado4

    (artigo 242. CRP). Prossegue os

    interesses pblicos locais daquela

    colectividade. Composta por

    municpios e freguesias (pessoas

    colectivas locais com atribuies

    gerais, no to abrangentes),

    beneficiando de autonomia

    administrativa, financeira e

    regulamentar.

    y Administrao indirectao Sujeita a tutela de legalidade,

    superintendncia 5 e de mrito6 do Estado

    Artigo 199., d) CRP competncia administrativa doGoverno de dirigir os servios e a actividade da

    administrao directa do Estado, superintender na

    4O Estado afere da mera correco da actividade administrativa do ponto de vista legislativo.

    5Poder de orientao do Estado.

    6Incide sobre as opes, tcnicas, administrativas e urbansticas dos institutos pblicos.Os institutos

    pblicos so meramente instrumentais, estando destinados prossecuo de fins e interesses pblicos

    impostos pela Administrao Central.

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    administrao indirecta e exercer a tutela sobre esta e

    sobre a administrao autnoma;

    Consagrao constitucional das associaes pblicas(essencialmente as ordens profissionais), das entidades

    administrativas independentes (reguladoras, como aComisso do Mercado de Valores Mobilirios, ou de

    garantia de Direitos Fundamentais, com a Entidade

    Reguladora para a Comunicao Social ou o Provedor

    de Justia) e da forma de privatizao do Direito

    Administrativo (artigo 267., n.6 CRP entidades

    privadas que exeram poderes pblicos);

    o Princpios e normas constitucionais relativos actividadeadministrativa (artigo 266. CRP + artigos 3. a 12. CPA)

    Actividade administrativay De natureza material

    o Princpio da prossecuo do interessepblico (artigo 266., n.1 CRP);

    o Princpios da legalidade,proporcionalidade, imparcialidade, boa-f

    e justia (artigo 266., n.2 CRP).

    y De natureza procedimentalo Imposio de disciplinas de

    processamento da actividade

    administrativa (artigo 267., n.5 CRP).

    No se distingue processo de

    procedimento administrativo, sendo que

    o processo era visto como uma fase doprocedimento (ver artigos 166. e

    seguintes CPA, relativos ao recurso

    hierrquico necessrio, que no constitui,

    hoje, pressuposto obrigatrio para o

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    particular, falando-se actualmente em

    recurso facultativo).

    o Direitos e Garantias dos Particulares constitucionalmenteconsagrados

    De natureza procedimentaly Existncia de procedimento administrativo

    (artigo 267, n.5 CRP);

    y Direito a ser informado sobre o andamento doprocedimento (artigo 268., n.1 CRP);

    y Direito de acesso aos documentosadministrativos (artigo 268., n.2 CRP);

    y Direito notificao dos actos (artigo 268., n.3CRP);

    y Direito fundamentao expressa dos actosadministrativos (artigo 268., n.3 CRP)

    permite aos particulares conhecerem a

    fundamentao que presidiu quele acto

    administrativo e efectuarem, do melhor modo, a

    sua defesa;

    y Princpio de acesso aos tribunais;y Princpio da tutela jurisdicional efectiva e plena

    existncia de via judicial adequada, que existe

    sempre (no pode haver denegao de justia).

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    o Revises constitucionais (1982, 1989, 1997) e suas marcas Contriburam para a densificao do peso da

    constituio administrativa;

    Assiste-se a uma espcie de fadiga constitucional naConstituio, face a sucessivas revises constitucionais,que contrariam o esprito de estabilidade da Lei

    Fundamental;

    Principais marcas das revises constitucionaisy Crescente vinculao constitucional da

    Administrao Pblica

    o Comparar artigo 267. (CRP 1976) com oactual artigo 266.

    No artigo 267. (CRP 1976), aAdministrao apenas estava sujeita

    aos princpios da legalidade,

    imparcialidade e justia;

    Actualmente, tambm se constata avinculao aos princpios da

    igualdade e da proporcionalidade

    (em matria administrativa

    discricionria e boa-f).

    y Maior complexidade da estruturaorganizacional da Administrao

    o Comparar artigo 268. (CRP 1976) com oactual artigo 267.

    Constitucionalizao dasassociaes pblicas (artigo 267.,

    n.1, com a RC 1982);

    Consagrao constitucional dasentidades administrativas

    independentes (artigo 267.,

    nmeros 3 e 4 CRP, com a RC 1997).

    A criao de entidades

    administrativas independentes

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    constitui uma forma de

    desgovernao ou total liberdade

    criao?A mesma questo se coloca

    para a constitucionalizao de

    entidades colectivas privadas noexerccio de poderes pblicos (artigo

    267., n.6 CRP).

    y Reforo dos Direitos Fundamentais dosparticulares face Administrao

    o Redaco originria da CRP (artigo 267.) consagrao de dois direitos dos

    particulares:

    Direito de acesso aosprocedimentos em que fossem

    directamente interessados

    (informaes sobre andamento do

    processo e acesso aos dados

    constantes do mesmo);

    Conhecimento das decises finaistomadas (que no so actos

    definitivos).

    o Redaco actual da Constituio, com asrevises constitucionais (artigo 268,

    nmeros 2 e 3 CRP) consagrao de mais

    direitos:

    Direito de acesso aos arquivos eregistos administrativos (direito

    informao).

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    y Constitucionalizao da justia administrativa(contencioso administrativo)

    o Recurso contencioso de anulao7 (CRP1976);

    o Aco para o reconhecimento de direitose deveres legalmente protegidos (RC

    1982);

    o Sub jectivao da justia administrativa emodelo mais garantstico (RC 1989)

    Um acto impugnvelindependentemente da sua forma;

    Critrio da lesividade do acto8 e noapenas da ilegalidade como razo

    de impugnao do acto;

    Acaba com a dvida da naturezajudicial dos tribunais administrativos

    de pleno direito, sob reserva

    constitucional (artigo 209., n.1,

    alnea b) CRP)9

    o Reforo de duas dimenses da tutela(artigo 268., n. 4 CRP RC 1997)

    Cautelar adopo de providnciascautelares;

    Condenatria poderescondenatrios, conduzindo a justia

    de plena jurisdio.

    o Em vez de recurso de anulao, h lugar aaco de condenao prtica do acto

    7Implica a existncia de acto administrativo, ainda que ficcionado.

    8A existncia do critrio da lesividade do acto retira sentido ao direito de aco popular, para defesa de

    interesses difusos (artigo 52. CRP), e da aco pblica.9

    Hierarquia dos Tribunais Administrativos: 1. instncia: Tribunais Administrativos e Fiscais; 2.

    instncia: Tribunais Centrais Administrativos do Norte (Porto) e do Sul (Lisboa); ltima instncia:Supremo Tribunal Administrativo. Por fora da Reforma da Justia Administrativa 2002-2004, com

    alteraes significativas na legislao administrativa, foi introduzida a alada.

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    legalmente devido (artigo 179., n.5

    CPTA sentena substitutiva do acto

    ilegalidade omitido ou recusado).

    As Revises Constitucionais foram o elementopropulsivo e mais directo da reforma legislativa, tendo-

    se antecipado ao legislador ordinrio. Com a Reforma

    da Justia Administrativa, colocou-se fim

    inconstitucionalidade por omisso;

    Note-se o papel do Direito Comunitrio em matria deaprofundamento da tutela cautelar em contencioso

    administrativo, tal como consta de acrdos do TJUE.

    o Questes que se colocam em relao ao DireitoAdministrativo Constitucional

    O artigo 269. CRP constitui uma garantiaconstitucional funo pblica. Como ver este artigo

    em face da privatizao da Administrao Pblica?

    Existe plena liberdade para criar pessoas colectivas deDireito Privado?

    Existe plena liberdade para criar entidades privadasindependentes?

    Ou, se quisermos, de um modo global, existe umareserva constitucional de Direito Administrativo?

    y Existem imensas inconstitucionalidadescometidas em virtude do processo de

    privatizao, com alterao do Direito

    ordenador;y A Administrao de hoje privilegia ideias de

    rapidez e de resultados;

    y A celebrao de contratos individuais detrabalho impede contestao de ilegalidades;

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    y O Direito Constitucional e o TribunalConstitucional no tm sido capazes de parar tal

    processo de privatizao;

    y O princpio da legalidade-fundamento funcionana actividade administrativa de prestao deservios (por exemplo: subsdios)?

    o Fontes do Direito Administrativo A Lei ainda a principal fonte de Direito

    Administrativo, enquanto fundamento da actividade

    administrativa, como base jurdica que . Podemos

    apresentar uma hierarquia do Direito Administrativo:

    y 1. - Direito Administrativo Comunitrio10;y 2. - Direito Administrativo Constitucional;y 3. - Direito Administrativo Internacional11;y 4. - Lei;y 5. - Regulamentos Independentes e Autnomos; y 6. - Princpios gerais;y 7. - Costume (com valor residual).

    Fontes quanto ao objecto12:y Normas organizatrias definem as estruturas

    orgnicas;

    y Normas procedimentais disciplinam aactividade da Administrao;

    y Normas materiais fixam os parmetrosnormativos para desenvolver uma actividade.

    10Insusceptvel de fiscalizao da constitucionalidade.

    11Susceptvel de fiscalizao da constitucionalidade.

    12As normas procedimentais e as normas materiais revelam-se de difcil distino, sendo que o CPA

    integra os dois tipos de normas.

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    o Interpretao e integrao de normas Interpretao regulamentar das Leis

    y Artigo 112., n.5 CRP a Lei no pode delegarnum regulamento a sua interpretao ou

    integrao.o No se probem regulamentos de

    execuo;

    o Visa inibir os abusos de inverso da ordemhierrquica;

    o No existe uma forma clara da ideia deprecedncia de Lei, quanto aos

    regulamentos independentes.