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Departamento de Artes & Design A CONSTITUIÇÃO DA FORMAÇÃO VISUAL NA ESCOLA: UM OLHAR SOBRE A EVOLUÇÃO GRÁFICA DOS LIVROS DE LEITURA PARA CRIANÇAS E JOVENS OFERTADOS NA ESCOLA Aluno: Danilo Mattos Orientadora: Jackeline Lima Farbiarz Co-orientadora: Maíra Gonçalves Lacerda Introdução Saber lidar com as imagens, compreendê-las e construir significado para elas, torna-se tarefa premente para os sujeitos. Contudo, ao contrário da cultura escrita, não existem mecanismos de ensino próprios para a formação visual do indivíduo na instituição escolar. Compreendida enquanto linguagem, a representação imagética não encontra lugar específico como conteúdo nos Parâmetros Curriculares, deixando importante lacuna, seja na disciplina de Língua Portuguesa, que trata da linguagem escrita, seja na de Artes, que trata da imagem em si. Faltam, assim, elementos para apreciação do livro de literatura, suporte para a língua e para a arte; e, mais ainda, do livro de literatura para crianças e jovens, que, em sua grande maioria, encontra na relação fabular-icônica o espaço propício à fruição da poesia e da ficção. Tal deficiência impede, muitas vezes, um olhar sobre o objeto livro para além da experiência de fruição literária, como um projeto interdisciplinar de Design na Leitura (Farbiarz, 2006) que inclui a integração das linguagens que o compõem e a adequada antevisão do leitor enquanto instância cultural e social participante de um cenário de políticas públicas de leitura. Por este viés, e como parte integrante da pesquisa de doutorado em Design em andamento intitulada A formação visual do leitor por meio do Design na Leitura: livros para crianças e jovens, desenvolvida por Maíra Gonçalves Lacerda e orientada por Jackeline Lima Farbiarz no programa de pós-graduação em Design da PUC-Rio, colocam-se as seguintes perguntas: Qual a participação do Design, presente nos livros de literatura para crianças e jovens chancelados pelas políticas públicas e disponibilizados nas escolas, para a formação visual do leitor? No que tange ao Design dos livros de literatura para crianças e jovens chancelados pelas políticas públicas, existe uma “evolução gráfica” correspondente ao desenvolvimento escolar do futuro leitor e a sua consequente formação visual? Objetivos a serem alcançados na Tese de doutorado (1) Organizar um panorama a respeito da “evolução gráfica” dos livros de literatura para crianças e jovens chancelados pelas políticas públicas, relacionando os aspectos gráficos com o desenvolvimento escolar do futuro leitor na Educação Infantil e nos anos iniciais do Ensino Fundamental; (2) favorecer a organização de um corpus que permita sensibilizar o designer de livros para crianças e jovens quanto ao papel que exerce para a formação visual do leitor; (3) colaborar para a formação continuada dos demais mediadores de leitura. Objetivos a serem alcançados na Iniciação científica (1) Contribuir com a organização do panorama a respeito da “evolução gráfica” dos livros de literatura para crianças e jovens chancelados pelas políticas públicas; (2) contribuir com a organização de um corpus que permita sensibilizar o designer de livros para crianças e jovens quanto ao papel que exerce para a formação visual do leitor.

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Departamento de Artes & Design

A CONSTITUIÇÃO DA FORMAÇÃO VISUAL NA ESCOLA: UM

OLHAR SOBRE A EVOLUÇÃO GRÁFICA DOS LIVROS DE LEITURA

PARA CRIANÇAS E JOVENS OFERTADOS NA ESCOLA

Aluno: Danilo Mattos

Orientadora: Jackeline Lima Farbiarz

Co-orientadora: Maíra Gonçalves Lacerda

Introdução

Saber lidar com as imagens, compreendê-las e construir significado para elas, torna-se tarefa

premente para os sujeitos. Contudo, ao contrário da cultura escrita, não existem mecanismos de

ensino próprios para a formação visual do indivíduo na instituição escolar. Compreendida

enquanto linguagem, a representação imagética não encontra lugar específico como conteúdo

nos Parâmetros Curriculares, deixando importante lacuna, seja na disciplina de Língua

Portuguesa, que trata da linguagem escrita, seja na de Artes, que trata da imagem em si. Faltam,

assim, elementos para apreciação do livro de literatura, suporte para a língua e para a arte; e,

mais ainda, do livro de literatura para crianças e jovens, que, em sua grande maioria, encontra

na relação fabular-icônica o espaço propício à fruição da poesia e da ficção. Tal deficiência

impede, muitas vezes, um olhar sobre o objeto livro para além da experiência de fruição

literária, como um projeto interdisciplinar de Design na Leitura (Farbiarz, 2006) que inclui a

integração das linguagens que o compõem e a adequada antevisão do leitor enquanto instância

cultural e social participante de um cenário de políticas públicas de leitura.

Por este viés, e como parte integrante da pesquisa de doutorado em Design em

andamento intitulada A formação visual do leitor por meio do Design na Leitura: livros para

crianças e jovens, desenvolvida por Maíra Gonçalves Lacerda e orientada por Jackeline Lima

Farbiarz no programa de pós-graduação em Design da PUC-Rio, colocam-se as seguintes

perguntas: Qual a participação do Design, presente nos livros de literatura para crianças e jovens

chancelados pelas políticas públicas e disponibilizados nas escolas, para a formação visual do

leitor? No que tange ao Design dos livros de literatura para crianças e jovens chancelados pelas

políticas públicas, existe uma “evolução gráfica” correspondente ao desenvolvimento escolar

do futuro leitor e a sua consequente formação visual?

Objetivos a serem alcançados na Tese de doutorado

(1) Organizar um panorama a respeito da “evolução gráfica” dos livros de literatura para

crianças e jovens chancelados pelas políticas públicas, relacionando os aspectos gráficos com

o desenvolvimento escolar do futuro leitor na Educação Infantil e nos anos iniciais do Ensino

Fundamental; (2) favorecer a organização de um corpus que permita sensibilizar o designer de

livros para crianças e jovens quanto ao papel que exerce para a formação visual do leitor; (3)

colaborar para a formação continuada dos demais mediadores de leitura.

Objetivos a serem alcançados na Iniciação científica

(1) Contribuir com a organização do panorama a respeito da “evolução gráfica” dos livros de

literatura para crianças e jovens chancelados pelas políticas públicas; (2) contribuir com a

organização de um corpus que permita sensibilizar o designer de livros para crianças e jovens

quanto ao papel que exerce para a formação visual do leitor.

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Percurso metodológico

1. Mapear livros selecionados pelo Plano Nacional Biblioteca da Escola para a

Educação Infantil e os anos iniciais do Ensino Fundamental

Começamos o projeto com um processo de catalogação de cerca de 200 livros que foram

disponibilizados em 2014 pelo Programa Nacional Biblioteca da Escola (PNBE), para escolas

públicas que atendem Educação Infantil e anos iniciais do Ensino Fundamental. Os acervos do

PNBE são organizados de acordo com a etapa escolar, para o uso coletivo de alunos e

professores, de acordo com a tabela abaixo:

Etapa

escolar

Quantidade

de acervos

Distribuição de

acervos

Categorias

contempladas

Educação

Infantil

(Etapa

Creche)

Dois acervos

com 25

obras cada,

num total de

50 obras.

Escolas de 1 a 40

alunos recebem 1

acervo.

Escolas com mais

de 40 alunos

recebem 2 acervos

diferentes.

Textos em verso (quadra, parlenda,

cantiga, trava-língua, poema).

Textos em prosa (clássicos da

literatura infantil, pequenas

histórias, textos de tradição

popular).

Livros com narrativa de palavras-

chave (livros que vinculem imagens

com palavras).

Livros de narrativas por imagens.

Educação

Infantil

(Etapa

Pré-

escola)

Dois acervos

com 25

obras cada,

num total de

50 obras.

Escolas de 1 a 40

alunos recebem 1

acervo.

Escolas com mais

de 40 alunos

recebem 2 acervos

diferentes.

Textos em verso (poema, quadra,

parlenda, cantiga, trava-língua,

adivinha).

Textos em prosa (clássicos da

literatura infantil, pequenas

histórias, teatro, textos da tradição

popular).

Livros de narrativas por imagens.

Anos

inicias do

Ensino

Funda-

mental

Quatro

acervos com

25 obras

cada, num

total de 100

obras.

Escolas de 1 a 50

alunos recebem 1

acervo.

Escolas de 51 a

150 alunos

recebem 2 acervos

diferentes.

Escolas de 151 a

300 alunos

Textos em verso (poema, quadra,

parlenda, cantiga, trava-língua,

adivinha).

Textos em prosa (pequenas

histórias, novela, conto, crônica,

teatro, clássicos da literatura

infantil).

Livros de imagens e livros de

histórias em quadrinhos (dentre os

Departamento de Artes & Design

recebem 3 acervos

diferentes.

Escolas com mais

de 300 alunos

recebem 4 acervos

diferentes.

quais se incluem obras clássicas da

literatura universal, artisticamente

adaptadas ao público dos anos

iniciais do Ensino Fundamental).

Tabela 1. Formação dos acervos PNBE 2014 – etapas escolares e categorias contempladas;

quantidade e distribuição dos acervos.

Para a melhor visualização dos livros selecionados pelo Programa e para facilitar o

processo de pesquisa, criamos um sistema de tabelas com busca integrada no programa Excel.

Figura 1. Tabela de livros catalogados no Excel.

As categorias compreendidas nessa catalogação estão subdivididas em:

Título: que compreende o título da obra.

Texto ou Adaptação: que compreende o escritor e, no caso de uma obra

estrangeira, o tradutor.

Ilustrações: que compreende o ilustrador, muitas vezes esse sendo o próprio

escritor da obra também.

Categoria: previamente organizadas pelo PNBE, estão agrupados em livro com

narrativa de palavras–chave, livros de imagens e livros de história em

quadrinhos, livros de narrativa por imagens, texto em prosa e texto em verso.

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Número do Acervo: uma subcategoria destinada a esclarecer á qual acervo

pertencem as obras.

Acervo: estão incluídos nessa categoria crianças de 0-3 anos e de 4-5 anos que

compreendem educação infantil, anos iniciais do ensino fundamental e educação

de jovens e adultos.

Editora do PNBE: que define a editora que publicou o livro para o Programa.

Editora Comercial: que define a editora que publicou o livro para o comércio

varejista.

2. Categorizar os livros selecionados no que tange a sua evolução gráfica com base em

Linden (2011), Haslam (2007) e Lupton & Phillips (2008), a partir de uma

perspectiva específica do Design (levantamento quantitativo)

Após a catalogação dos livros selecionados, iniciamos o processo de análise de amostra

representativa de cada acervo por meio da organização de diversas fichas com informações

mais detalhadas e aprofundadas dos livros juntos com fotos. As categorias de análise são

conceitos teóricos desenvolvidos como parte integrante da pesquisa de doutorado desenvolvida

por Maíra Gonçalves Lacerda e orientada por Jackeline Lima Farbiarz no programa de pós-

graduação em Design da PUC-Rio. A ficha informativa é dividida em sete tipologias, e mesmo

com um estudo preciso pode adquirir um caráter subjetivo de difícil classificação.

A primeira tipologia é referente à classificação da materialidade e do conteúdo verbo-

visual nos livros para crianças e jovens, com categorias livremente adaptadas a partir das

delimitações apresentadas por Sophie Van der Linden para diferenciar os livros que contêm

imagens (LINDEN, 2011, p. 24-26). Ela apresenta uma classificação dos livros quanto á sua

materialidade e ao seu conteúdo verbo-visual e divide-se em nove categorias sendo estas:

Livro sem ilustração: obras compostas somente por texto.

Livros com vinhetas: obras que apresentam texto acompanhado de vinhetas

ilustradas.

Livro com ilustração: obras que apresentam o texto acompanhado de

ilustrações, sendo que o texto é espacialmente predominante e autônomo do

ponto de vista do sentido.

Livro ilustrado: obras em que a narrativa se faz de maneira articulada entre

texto e imagens.

Livro de imagem: narrativa totalmente visual, sem a presença de texto.

Historia em quadrinhos: articulação de imagens sequenciais organizadas em

disposição compartimentada.

Livro pop-up: acomodam em suas páginas sistemas de esconderijos, abas,

encaixes etc., permitindo mobilidade dos elementos, ou mesmo um

desdobramento em três dimensões.

Livro-brinquedo: objetos híbridos, situados entre o livro e o brinquedo.

Livros interativos: Suporte de atividades diversas, como pinturas, construções,

recortes, etc.

A tipologia 2 trata das possibilidades de diferencial gráfico nos livros para crianças e

jovens, com categorias organizadas a partir dos conceitos desenvolvidos por Haslam (2007,

p.30). A tipologia organiza seis categorias que especificam o trabalho que se sobressai no

projeto gráfico de um livro, dividindo-se em:

projeto gráfico diferenciado no suporte

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projeto gráfico com trabalho diferenciado na malha gráfica

projeto gráfico com trabalho tipográfico diferenciado

projeto gráfico com trabalho cromático diferenciado

projeto gráfico com trabalho diferenciado no acabamento

projeto gráfico sem nenhum trabalho diferenciado.

A tipologia 3 é baseada na listagem dos novos fundamentos do Design realizada por

Lupton e Phillips (2008) e identifica a presença desses fundamentos tanto no projeto gráfico

dos livros quanto nas ilustrações. É a maior de todas as tipologias sendo composta de 16 opções

as quais são:

Presença diferenciada dos elementos ponto, linha e plano.

Presença diferenciada dos elementos ritmo e equilíbrio.

Presença diferenciada do elemento escala.

Presença diferenciada do elemento textura.

Presença diferenciada do elemento cor.

Presença diferenciada dos elementos figura e fundo.

Presença diferenciada dos elementos enquadramento.

Presença diferenciada do elemento hierarquia.

Presença diferenciada do elemento camadas.

Presença diferenciada do elemento transparência.

Presença diferenciada do elemento modularidade.

Presença diferenciada do elemento grid.

Presença diferenciada do elemento padronagem.

Presença diferenciada do elemento diagrama.

Presença diferenciada dos elementos tempo e movimento.

Livro sem presença diferenciada de nenhum elemento.

A tipologia 4 apresenta as instancias de significação da obra a partir da organização feita

por Linden (2011, p.122-123). Ela divide-se em 5 categorias sendo elas:

Texto como instancia primária: o texto é lido primeiro e é o principal

veiculador da narrativa.

Imagem como instância primária: imagem é preponderante no âmbito espacial

e semântico deixando o texto em segundo plano.

Interação entre texto e imagem como instância primária: texto e imagem

possuem a mesma importância para dar um sentido á narrativa além de ocuparem

espaços semelhantes.

Texto como instancia única de significação: texto constrói a narrativa de

maneira independente.

Imagem como instancia única de significação: todo o sentido parte da

imagem.

A tipologia 5 apresenta a qualificação das imagens pertencentes aos livros para crianças

e jovens de acordo com seu status, também a partir da organização realizada por Linden (Ibid.,

p. 44-45). Essa tipografia não avalia livros sem ilustrações e é composta de três categorias sendo

elas:

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Imagens isoladas: imagens independentes que não interagem entre si no

decorrer do livro, apresentam-se separadas umas das outras, sem se avizinharem

no espaço da pagina dupla e não possuem conexão direta na construção da

narrativa.

Imagens sequenciais: imagens que pertencem a uma sequencia articulada,

unidades de um conjuntos que se encadeia icônica e semanticamente.

Imagens associadas: meio termo entre imagem isolada e a imagem sequencial,

não sendo nem totalmente independentes nem solitárias por completo.

Apresentam coerência interna e são ligadas por uma continuidade plástica ou

semântica.

A tipologia 6 trata da relação entre texto e imagem na construção da narração do livro,

dessa forma não avalia livros sem ilustração ou de imagem. As categorias são formadas a partir

do pensamento de Linden (Ibid., p. 120-121) e estão divididas em três categorias:

Relação de redundância entre texto e imagem: as duas linguagens se remetem

a mesma narrativa e não produzem nenhum sentido suplementar, podendo se

composta de sobreposição total ou parcial dos conteúdos.

Relação de colaboração entre texto e imagem: texto e imagem trabalham em

conjunto em vista de um sentido comum.

Relação de disjunção entre texto e imagem: texto e imagem não entram em

estrita contradição, mas não se detecta um ponto comum podendo vincular

historias ou narrações paralelas.

A tipologia 7 explora diferentes diagramações entre texto e imagem nos livros para

crianças e jovens. Também parte da organização de Linden (Ibid., p. 68-69) em quatro

categorias e não avalia livros sem ilustração ou livro de imagem.

Diagramação em dissociação de texto e imagem: texto e imagem encontram-

se em paginas separadas com alternância da leitura de ambos.

Diagramação em associação de texto e imagem: texto e imagem compartilham

a pagina que apresenta ao menos um enunciado verbal e um visual em seu

espaço.

Diagramação em compartimentação de texto e imagem: divide o espaço da

página em diversas imagens emolduradas.

Diagramação em conjunção de texto e imagem: não se pode separar texto e

imagem.

Como exemplo do processo, escolheu-se trabalhar com o livro Carvoeirinhos, de Roger

Mello, visto que a partir do mesmo é possível adquirir uma análise completa da categorização

que iremos estudar a partir de sua ficha. Ele serve de exemplo por conta de sua estrutura

diferenciada à qual trataremos a seguir com imagens e informações.

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Figura 2. Capa do livro Carvoeirinhos, de Roger Mello, publicado pela editora Companhia

das Letrinhas.

Na tipologia 1 ele se classifica como livro ilustrado, visto a diversificação balanceada

que podemos observar entre texto e imagem ao decorrer do livro. Há sempre uma ilustração

acompanhada do texto e por vezes elas aparecem sozinhas, por outro lado às vezes o texto

aparece em destaque na pagina, mas as imagens nunca são deixadas completamente de lado.

Na tipologia 2 o livro se encaixa na opção de projeto gráfico com trabalho diferenciado

no suporte, visto a encadernação e a capa dura. Além disso, seu diferencial gráfico comtempla

mais opções e ele possui um projeto gráfico com trabalho cromático diferenciado, por conta de

uma palheta de cores especifica que se destaca. O livro trabalha em tons cinzentos e escuros

lembrando carvão, mas dá espaço para cores variantes do laranja que gritam em certas paginas

chamando atenção para determinados pontos específicos ou personagens. Ainda está incluso

em uma terceira subcategoria de projeto gráfico com trabalho diferenciado no acabamento,

graças à página recortada que representa o fogo.

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Figura 3. Exemplo de trabalho diferenciado no acabamento do livro Carvoeirinhos (1).

Figura 4. Exemplo de trabalho diferenciado no acabamento do livro Carvoeirinhos (2).

Na tipologia 3 o livro se destaca com presença diferenciada no enquadramento, por

conta do foco de suas ilustrações muitas vezes pegando partes do corpo, objetos, personagens

á distancia, etc. Há também um diferencial na hierarquia, e podemos observar isso tanto no

projeto gráfico quanto na ilustração, visto a forma como as cores são trabalhadas de maneira a

sugerir mais importância e chamar mais atenção ao laranja no cenário cinzento ou preto. Por

fim, há o trabalho de camadas na ilustração, onde o livro aparenta ser feito por colagem de

diversos materiais sobrepondo uns aos outros.

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Figura 5. Exemplo de colagem e do trabalho de cor presente no livro Carvoeirinhos.

Na tipologia 4 o livro possui o texto como instancia primária, pois a narrativa segue a

história através da escrita. Na tipologia 5 o livro se encontra na categoria de imagens isoladas,

pois as imagens não possuem sentido como uma narrativa linear muitas vezes funcionando

sozinhas e encaixando-se na história com a ajuda do texto. Na tipologia 6 o livro se encaixa na

relação de redundância entre texto e imagem porque as imagens muitas vezes reproduzem a

narrativa do texto ao invés de complementa-lo com novas informações. Na tipologia 7, por sua

vez, há a diagramação em associação entre texto e imagem, pois a relação entre ambos caminha

balanceada até o final do livro. Às vezes o texto cede lugar á imagem ou ela aparece sozinha

completando a página, mas ambos criam um sentido no design do livro e na formação do projeto

gráfico do mesmo.

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Figura 6. Exemplo da relação entre imagem e texto presente no livro Carvoeirinhos

Figura 7. Exemplo de colagem e de associação entre texto e imagem

Além das categorias específicas, na ficha de análise há informações complementares

para a identificação do livro como título, acervo, formato, número de páginas, design gráfico

(que é quem trabalhou no design do livro), referencia bibliográfica e, ao final, o questionamento

de qual técnica e estilo da ilustração foi feito para a composição imagética. No caso do exemplo

apresentado do livro Carvoeirinhos este último é colagem.

Há diversas outras fotos dos livros classificados procurando mostrar não somente a

estrutura como a relação entre texto e imagem e as maiores características do que predomina

nesses determinados livros. Um aspecto importante é tirar a foto da contracapa do livro onde é

possível reunir as informações de sua publicação tais como editora, ano de publicação, artista,

autor, etc.

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Figura 8 e 9. Respectivamente capa do livro Asa de Papel, de Marcelo Xavier, publicado

pela editora Formato, e exemplo da arte do interior do livro

No livro Asa de Papel, de Marcelo Xavier, o que chama a atenção é o tipo de arte

escolhida para reproduzir a história que é contada, através de fotos de cenários e bonecos de

massa de modelar, o que aproxima o mesmo de seu público-alvo infantil.

Durante o processo de catalogação e categorização dos livros, descobrimos também que

alguns livros distribuídos pelo PNBE são diferentes de suas versões comerciais, dirigidas ao

mercado varejista e encontradas nas livrarias. Livros que possuem capa e páginas grossas, com

resistência e manejo apropriado para crianças, como Um Elefante se Balança de Mariana

Dubuc, acabaram por ser distribuídos em uma versão impressa em papel de gramatura mais

fina, que barateia o custo de produção. Para mostrar essa diferença, presente tanto nesse livro

como em Aperte Aqui, de Hervé Tullet, optamos pela utilização de mídias alternativas com a

produção de dois GIFs no Adobe After Effects.

Figura 10 e 11. Respectivamente capa dura do livro Um Elefante se Balança, de Mariana

Dubuc, publicado pela editora DCL, e exemplo do trabalho diferenciado no suporte a partir

de uma encadernação resistente.

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3. Organizar um panorama a respeito da “evolução gráfica” dos livros de literatura

voltados para crianças e jovens chancelados pelas políticas públicas, relacionando-o

ao desenvolvimento escolar do futuro leitor, tomando por base os Parâmetros

Curriculares Nacionais

A partir da categorização dos livros pelas tipologias apresentadas previamente – por meio do

preenchimento de fichas de análise, da sua organização pelas etapas escolares a que se destinam

e posterior condensação dos dados em números percentuais –, apresentamos, a seguir, alguns

dados descritivos dos acervos estudados por meio de método estatístico. A partir desses dados,

pretendemos alcançar resultados que nos permitam compreender os objetos-livro que estão

sendo produzidos pelo mercado editorial e oferecidos para crianças e jovens no Brasil.

Tipologia 1 – Classificação da materialidade e do conteúdo verbo-visual

Tipologia 2 – Presença de diferencial gráfico

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Tipologia 3 – Presença diferenciada dos elementos do design gráfico

No Design

Na ilustração

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Tipologia 4 – Classificação das instâncias de significação

Tipologia 5 – Status das ilustrações

Tipologia 6 – Relações entre texto e imagem nos aspectos narrativos

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Tipologia 7 – Classificação das diagramações para texto e imagem

Conclusões

Nesta pesquisa, entende-se o design de livros como mediador de leitura, ou seja, como

capaz de intermediar a relação entre texto literário e leitor, de estabelecer o intercâmbio entre

representações do real e as possibilidades instauradas pela leitura. No atual estágio do trabalho,

os livros da Educação Infantil e dos anos iniciais do Ensino Fundamental estão mapeados,

catalogados e categorizados, restando a catalogação dos livros disponibilizados para os anos

finais do Ensino Fundamental e do Ensino Médio, como subsídios para uma reflexão sobre a

evolução gráfica dos objetos-livro que acompanhe o desenvolvimento escolar do leitor, o que é

tema da tese de doutorado em desenvolvimento de Maíra Gonçalves Lacerda, sob a orientação

da profa. Jackeline Lima Farbiarz. Todavia, a visão parcial do material analisado dá conta da

inexistência de critérios vinculados a perspectiva de uma formação visual do leitor.

A partir da análise quantitativa e da catalogação do acervo abrimos espaço para um

estudo mais aprofundado da progressão e do desenvolvimento gráfico que entra em contato

com os jovens leitores de escolas publicas. A participação do design entra em uma análise

qualitativa apresentando aspectos para observação e críticas a respeito do seu posicionamento

em relação á leitura. Dessa forma podemos analisar até que ponto o design está sendo usado e

aplicado nos livros dispostos para a educação de crianças e jovens e acentuar a importância do

mesmo no papel da formação visual do jovem leitor.

Referências

1 - FARBIARZ, Jackeline Lima. Design na leitura: um dos percursos do Núcleo de Estudos

do Design do Livro da PUC-Rio. [2006] Disponível em: http://www.dad.puc-

rio.br/nel/artigos/06-farbiarz-livro.pdf. Acesso em: 09 agosto 2010.

2 - HASLAM, Andrew. O livro e o designer II: Como criar e produzir livros. Tradução Juliana

A. Saad e Sérgio Rossi Filho. São Paulo: Edições Rosari, 2007.

3 - LACERDA, Maíra Gonçalves; FARBIARZ, Jackeline Lima; OLIVEIRA, Izabel Maria de.

Design na leitura: uma possibilidade de mediação entre o jovem e a leitura literária. Rio de

Janeiro, 2013. Dissertação (Mestrado em Design) – Pontifícia Universidade Católica do Rio de

Janeiro.

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4 - LINDEN, Sophie Van der. Para ler o livro ilustrado. Tradução Dorothée de Bruchard. São

Paulo: Cosac Naify, 2011.

5 - LUPTON, Ellen; PHILLIPS, Jennifer Cole. Novos fundamentos do design. Tradução

Cristian Borges. São Paulo: Cosac Naify, 2008.