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VIII EPEA - Encontro Pesquisa em Educação Ambiental Rio de Janeiro, 19 a 22 de Julho de 2015 Realização: Unirio, UFRRJ e UFRJ 1 ALFABETIZAÇÃO ECOLÓGICA E INTELIGÊNCIA NATURALISTA: A CONTRIBUIÇÃO DE CAPRA E GARDNER PARA A EDUCAÇÃO AMBIENTAL CRISTHIANE DA SILVA CAVALCANTE FRANCISCO JOSÉ PEGADO ABÍLIO Resumo: Uma vez delineados os estudos em Educação Ambiental, considerando as grandes contribuições obtidas ao longo dos últimos anos, dois grandes teóricos do panorama educacional mundial trazem em seus discursos uma sintonia de ideias e concepções entrelaçadas, voltadas a temática ambiental. Confirmando assim a importância da alfabetização ecológica proposta por Fritjof Capra e a compreensão a cerca da inteligência naturalista proposta por Howard Gardner podemos observar uma contribuição para as discussões no panorama ambiental. A problemática em questão que origina a temática deste ensaio teórico, resulta em um entrave no âmbito da educação relacionada a fragmentação dos saberes, mas vai além disso quando também se refere a algo mais grave a fragmentação do ser humano com a natureza. Nesse sentido, perceber o ser humano como parte do ambiente tem sido algo pertinente a ser abordado na formação de professores para a disseminação da educação ambiental no âmbito escolar. Palavras-chave: Alfabetização ecológica. Educação ambiental. Formação. Inteligência Naturalista. Abstract: Once the studies outlined in Environmental Education, considering the large contributions received over the last few years, two major theorists of the world educational panorama bring in their speeches one line of interwoven ideas and concepts, focused on environmental issues. Thus confirming the importance of ecological literacy proposed by Fritjof Capra and understanding about the naturalist intelligence proposed by Howard Gardner can observe a contribution to environmental education. The issue in question originating the theme of this theoretical essay, results in an obstacle in the context of related education fragmentation of knowledge, but goes beyond that when also refers to something more serious fragmentation of the human being with nature. In this sense, see the human being as part of the environment has been something relevant to be addressed in teacher education for the dissemination of environmental education in schools. Keywords: Ecological Literacy. Environmental education. Training. Naturalistic Intelligence. 1. Introdução: A temática ambiental se faz presente em nosso cotidiano cada vez mais ampliando as discussões e fomentando estudos voltados para a educação ambiental. Este ensaio teórico aborda o amadurecimento das bases e o desenvolvimento de metodologias voltadas para a prática em educação ambiental voltados a professores das séries iniciais do ensino fundamental, tendo por base um dialogo entre Fritjof Capra 1 e Howard Gardner 2 . A partir desta contribuição de ambos teóricos podemos pensar em estratégias pedagógicas, que com base em uma formação de professores possa fornecer 1 Cientista e escritor, bem como um educador e ativista ambiental, autor dos livros: O Ponto de Mutação, O Tao da Física, Conexões Ocultas e autor-colaborador de Alfabetização Ecológica. 2 Psicólogo cognitivo e educacional estado-unidense, ligado à Universidade de Harvard e conhecido em especial pela sua teoria das inteligências múltiplas.

a contribuição de capra e gardner para a educação ambiental

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VIII EPEA - Encontro Pesquisa em Educação Ambiental Rio de Janeiro, 19 a 22 de Julho de 2015

Realização: Unirio, UFRRJ e UFRJ

1

ALFABETIZAÇÃO ECOLÓGICA E INTELIGÊNCIA NATURALISTA: A

CONTRIBUIÇÃO DE CAPRA E GARDNER PARA A EDUCAÇÃO

AMBIENTAL

CRISTHIANE DA SILVA CAVALCANTE

FRANCISCO JOSÉ PEGADO ABÍLIO

Resumo: Uma vez delineados os estudos em Educação Ambiental, considerando as

grandes contribuições obtidas ao longo dos últimos anos, dois grandes teóricos do

panorama educacional mundial trazem em seus discursos uma sintonia de ideias e

concepções entrelaçadas, voltadas a temática ambiental. Confirmando assim a

importância da alfabetização ecológica proposta por Fritjof Capra e a compreensão a

cerca da inteligência naturalista proposta por Howard Gardner podemos observar uma

contribuição para as discussões no panorama ambiental. A problemática em questão que

origina a temática deste ensaio teórico, resulta em um entrave no âmbito da educação

relacionada a fragmentação dos saberes, mas vai além disso quando também se refere a

algo mais grave a fragmentação do ser humano com a natureza. Nesse sentido, perceber

o ser humano como parte do ambiente tem sido algo pertinente a ser abordado na

formação de professores para a disseminação da educação ambiental no âmbito escolar.

Palavras-chave: Alfabetização ecológica. Educação ambiental. Formação. Inteligência

Naturalista.

Abstract: Once the studies outlined in Environmental Education, considering the large

contributions received over the last few years, two major theorists of the world

educational panorama bring in their speeches one line of interwoven ideas and concepts,

focused on environmental issues. Thus confirming the importance of ecological literacy

proposed by Fritjof Capra and understanding about the naturalist intelligence proposed

by Howard Gardner can observe a contribution to environmental education. The issue in

question originating the theme of this theoretical essay, results in an obstacle in the

context of related education fragmentation of knowledge, but goes beyond that when

also refers to something more serious fragmentation of the human being with nature. In

this sense, see the human being as part of the environment has been something relevant

to be addressed in teacher education for the dissemination of environmental education in

schools.

Keywords: Ecological Literacy. Environmental education. Training. Naturalistic

Intelligence.

1. Introdução: A temática ambiental se faz presente em nosso cotidiano cada vez mais

ampliando as discussões e fomentando estudos voltados para a educação ambiental.

Este ensaio teórico aborda o amadurecimento das bases e o desenvolvimento de

metodologias voltadas para a prática em educação ambiental voltados a professores das

séries iniciais do ensino fundamental, tendo por base um dialogo entre Fritjof Capra1 e

Howard Gardner2. A partir desta contribuição de ambos teóricos podemos pensar em

estratégias pedagógicas, que com base em uma formação de professores possa fornecer

1 Cientista e escritor, bem como um educador e ativista ambiental, autor dos livros: O Ponto de Mutação,

O Tao da Física, Conexões Ocultas e autor-colaborador de Alfabetização Ecológica. 2 Psicólogo cognitivo e educacional estado-unidense, ligado à Universidade de Harvard e conhecido em

especial pela sua teoria das inteligências múltiplas.

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bases teóricas e metodológicas com relação ao meio ambiente, formando-os como

sujeitos ecológicos formadores de sujeitos críticos para as questões ambientais atuais.

Vivemos, portanto, em busca de novas formas de viver em que tudo seja mais

prático e simples e essa busca desenfreada por tal objetivo remete o ser humano a uma

relação de estranhamento e afastamento de nossas essências naturais.

'Essa postura nos posicionou diante uma relação de caos com a natureza, o

humano querendo cada vez mais se tornar máquina, esquecendo-se de sua essência

orgânica, nossas sociedades competitivas e capitalistas almejam o progresso

negligenciando o aspecto natural do qual viemos.

Segundo Prigogine (1997), sistemas não podem evoluir, ou seja, gerar novos

padrões em estados de equilíbrio ou próximos do equilíbrio. Reconhecendo a teoria do

caos em que nos encontramos, podemos refletir e observar o que talvez na mais perfeita

ordem não fosse visível, que seria uma nova postura a ser praticada por nós cidadãos

planetários em um era acometida por problemas em diversas ordens. Imaginemos que um professor ao se deparar com um aluno em processo de

construção do conhecimento, em que o mesmo ainda não domina determina aptidão

para tal saber e este professor o provoca na busca de respostas para compreender este

novo conhecimento, de que maneira ele, o professor, o faz? Gerando um desconforto,

uma dúvida, um caos em seus pensamentos e sua inquietação na busca pela resposta, ou

seja, o caos ocasionado no processo de criação do conhecimento culminará no domínio

do saber adquirido pelo aprendente.

Este exemplo pode ilustrar a atual situação em que nos encontramos. Como

saber o que é necessário à sobrevivência dos dias de hoje em meio ao caos que assola e

alastra a humanidade envolta em um sistema capitalista que nega nossas origens

naturais, orgânicas e humanas?

A partir desta dúvida que paira em nossas mentes e imersos na realidade citada,

podemos compreender novas soluções para amenizar o “ x da questão”, passamos a

enxergar através da cortina de fumaça, desenvolvemos nossos sentidos, percepções e

aptidões para alcançar uma resposta que nos remeta a uma mudança de realidade, de

situação que gere melhorias e sobrevivência aos padrões de vida igualitários e não

prejudicais a nossa sobrevivência.

Ao conhecer as teorias dos grandes cientistas de nossa época, os quais já

evidenciam que o caos gera uma ordem e uma nova postura de pensamentos podemos

compreender que estamos diante de uma nova fase em que podemos e devemos assumir

nossa postura comprometida com a busca por uma ciência que contemple um modo de

vida menos prejudicial ao planeta, menos distante de nossa origem natural de ser

biológico.

A partir desta realidade e faz necessária uma nova modalidade de aprendizagem

na qual um ensino voltado para o aspecto ambiental seja incorporado na prática

pedagógica de forma contextualizada com a realidade que necessitamos a cada dia.

Atualmente podemos a partir da realidade que temos hoje observarmos uma

fragmentação dos fatos, dos conhecimentos, das informações não se conecta para a

obtenção de uma visão do todos os indivíduos não percebem a relação de dependência

dos casos entre si.

Estamos condicionados a um sistema que perturba a visão sistêmica das relações

socioambientais, da nossa relação de dependência como o ambiente, cada vez mais o ser

humano se considera a parte deste processo.

Com relação a este ponto Capra (2006) nos diz que: temos dificuldade para

pensar em termos sistêmicos porque vivemos numa cultura materialista, tanto com

respeito a seus valores quanto à sua visão de mundo essencial.

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Antes de tudo, podemos repensar como e porque a educação se torna tão

fundamental para este estudo, uma vez que a relação que o homem estabelece com o

meio ambiente perpassa pela via educativa e destacamos o processo educativo como

alicerce da construção para uma sociedade em que os sujeitos tenham a capacidade de

estabelecer comportamentos e ações que tragam benefícios para os indivíduos viverem

em situação de equidade socioambiental.

Em Capra (2006) temos que a sobrevivência da espécie humana dependerá de

nossa alfabetização ecológica (conhecimento dos princípios básicos da ecologia), ou

seja, da nossa capacidade para entender tais princípios (interdependência, reciclagem,

parceria, flexibilidade, diversidade) e a sustentabilidade, como consequência de todos.

Perante essa nova demanda do cenário pós-moderno, é evidente que o panorama

educacional necessita repensar suas práticas e posturas, o papel da escola, a formação de

seus docentes de acordo com a nova necessidade de se repensar os processos de ensino

e aprendizagem dentro deste novo universo.

Observamos desta forma que se faz necessária uma nova modalidade de

aprendizagem na qual um ensino voltado para o aspecto ambiental seja incorporado na

prática pedagógica de forma contextualizada com a realidade que necessitamos a cada

dia.

Partindo deste pressuposto, temos uma abordagem de caráter filosófico ao nos

deparar com a teoria de Capra sobre “alfabetização ecológica”, teoria esta que possui

relevância a partir do momento em que evidencia uma formação ecológica do sujeito.

As crianças atualmente não se percebem integralmente como indivíduos da

espécie homo sapiens e que nossa espécie é parte integrante e atuante do ambiente e que

com isso é preciso torná-las consciente de suas ações sobre o meio (Capra 2006).

A relação entre o aspecto cognitivo associado aos aspectos de vida do individuo,

nos apresenta um víeis para um melhor entendimento de como o processo de ensino e

aprendizagem devam ser flexíveis para que assim possam se adaptar a um processo de

conhecimento que ao invés de dissociar o saber contribua para as reais necessidades da

sociedade.

Atualmente observamos o quão nos encontramos rodeados de situações de

inúmeras naturezas e que para isso precisamos compreender que toda essa gama de

acontecimentos que permeia nosso cotidiano está relacionada de forma transdisciplinar.

E assim vemos que o individuo deva cada ver mais está adaptado a compreender

de forma sistêmica como estamos envoltos em uma forma complexa de vida.

Desta forma a discussão a cerca da alfabetização ecológica difundida por Fritjof

Capra e a inteligência naturalista proposta por Howard Gardner se encontram no novo

panorama de compreensão para novas posturas relativas a um processo de

aprendizagem comprometido com a relação dos indivíduos com o mundo em seu

aspecto holístico propiciando a Educação Ambiental um novo referencial teórico que

pode contribuir para a forma de compreender e nortear novas ações voltadas a um

universo educacional comprometido com o todo.

Com isso a luz das reflexões surgidas a partir da teoria das inteligências

múltiplas (GARDNER 1995) podemos observar um elo entre a necessidade de se ter

uma alfabetização ecológica considerando-se a inteligência naturalista proposta por

Howard Gardner como alicerce para construção do sujeito ecológico.

Podemos, portanto, perceber um elo entre a teoria filosófica de Capra ao propor

uma alfabetização ecológica e a teoria cognitiva de Gardner em reconhecer que

possuímos inteligências que podem ser ativadas para determinada finalidade de acordo

com nossas necessidades.

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Compreendemos, portanto, que é possível estabelecer uma relação a partir da

alfabetização ecológica e inteligência naturalista com a finalidade de contribuir para

implementação da educação ambiental.

De acordo com Gardner (2000) podemos compreender a inteligência como um

potencial biopsicológico para processar informações que pode ser ativado num cenário

cultural para solucionar problemas ou criar produtos que sejam valorizados numa

cultura (...) e tais inteligências são potenciais – neurais presumivelmente – que poderão

ser ou não ativadas, dependendo dos valores de uma cultura específica, das

oportunidades disponíveis nessa cultura e das decisões pessoais tomadas por indivíduos

e/ou suas famílias, seus professores e outros.

Com isso a luz das reflexões surgidas a partir da teoria das inteligências

múltiplas (GARDNER, 1995) podemos fazer um elo entre a necessidade de se ter uma

alfabetização ecológica considerando-se a inteligência naturalista proposta por Howard

Gardner como alicerce para construção do sujeito ecológico

Podemos, portanto, perceber um elo entre a teoria filosófica de Capra ao propor

uma alfabetização ecológica e a teoria cognitiva de Gardner ao reconhecer que

possuímos inteligências que podem ser ativadas para determinada finalidade de acordo

com nossas necessidades.

Esse diálogo torna-se claro nos dois autores, primeiramente em Gardner (2000)

ao afirmar que reconhecendo nossa individualidade, podemos descobrir nosso vínculo

comum mais profundo – que somos todos um produto conjunto da evolução natural e

cultural. Torna-se necessário, portanto, possuirmos uma postura de forma complementar

e sinérgica, para assegurar a sobrevivência da natureza e da cultura para as gerações

futuras.

Capra (2006) quando afirma que entender as coisas sistemicamente significa,

literalmente, colocá-las dentro de um contexto e estabelecer a natureza de suas relações.

Em Leff (2001), notamos que é preciso estabelecer uma racionalidade ambiental,

um saber ambiental e para se cultivar esse conhecimento é necessário associar as áreas

de conhecimento para que haja intercâmbios teóricos entre as ciências.

Ao nos deparamos com essa realidade consequência de modo de vida cada vez

mais afastado do aspecto ambiental, razão de nossa existência nos encontramos perante

a uma urgente necessidade de busca por melhores estratégias de ensino que contribuam

para a educação ambiental, uma vez que se faz pertinente diante tal problemática.

Diante disto (Capra 2006) aponta que a sobrevivência da espécie humana

dependerá de nossa alfabetização ecológica (conhecimento dos princípios básicos da

ecologia), ou seja, da nossa capacidade para entender tais princípios (interdependência,

reciclagem, parceria, flexibilidade, diversidade) e a sustentabilidade, como

consequência de todos.

Além de que em se tratando de novos paradigmas no campo das ciências temos

visto que a maneira de se interpretar os fatos de maneira isolada tem nos levado a uma

forma errônea pela qual ao invés de integrar temos fragmentado cada vez não apenas

nossos conhecimentos, mas nossa forma de nos vermos no mundo.

A este respeito, Capra (2006), nos afirma que mais estudamos os principais

problemas de nossa época, mais somos levados a perceber que eles não podem ser

entendidos isoladamente. São problemas sistêmicos, o que significa que estão

interligados e são interdependentes.

A partir deste contexto a alfabetização ecológica pode ser trabalhada através da

teoria da inteligência naturalista – uma vez que temos cada vez mais indivíduos

dissociados do meio ambiente – o fato de abordar a alfabetização ecológica teoria

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defendida por Capra em um universo em que o público alvo encontra-se condicionado a

não reconhecer o valor intrínseco do aspecto ambiental para a sua sobrevivência.

Podemos, portanto, perceber um elo entre a teoria filosófica de Capra ao propor

uma alfabetização ecológica e a teoria cognitiva de Gardner ao reconhecer que

possuímos inteligências que podem ser ativadas para determinada finalidade de acordo

com nossas necessidades.

Esse diálogo torna-se claro nos dois autores, primeiramente em GARDNER

(2000) ao afirmar que reconhecendo nossa individualidade, podemos descobrir nosso

vínculo comum mais profundo – que somos todos um produto conjunto da evolução

natural e cultural.

E também em Capra (2006) quando afirma que entender as coisas

sistemicamente significa, literalmente, colocá-las dentro de um contexto e estabelecer a

natureza de suas relações. Sendo assim, compreendendo que uma alfabetização

ecológica se faz pertinente, podemos a partir da compreensão de que podemos identifica

e desenvolver uma inteligência naturalista nos indivíduos pode assim com esta junção

fornecer uma contribuição de como melhor desenvolver práticas coerentes à educação

ambiental.

Envoltos nesta realidade, nos defrontamos perante uma sociedade que necessita

da construção de um novo saber pautado numa melhor compreensão a cerca dos

processos de ensino e aprendizagem que permeiam o processo educativo vigente, se

apresenta de forma oportuna identificar práticas que não sejam apenas de caráter

tecnicista da questão educacional, ir além, perceber enfim que se faz de suma

importância reconhecer o quão importante é estabelecer novas práticas voltadas a uma

pedagogia que considere a forma como o individuo se relaciona com o todo.

A partir deste aspecto a Educação Ambiental passa a obter uma nova dimensão,

na qual pode contar com a contribuição de novas práticas educativas que tem por

característica uma interação com formas de ensino e aprendizagem comprometidas com

as ações dos indivíduos e do mundo que nos cerca. A tese aqui mencionada busca

demonstrar que a utilização da abordagem da alfabetização ecológica pode ser

enriquecida com a teoria da inteligência naturalista culminando assim para uma

contribuição em relação as metodologias em educação ambiental.

Atendo-nos a uma nova postura educativa da qual a Educação Ambiental se

manifesta como eixo norteador para novas posturas relativas a nova forma de ver o

mundo, além de nos encontramos em uma urgência de informação de como se portar em

nosso habitat natural que se encontra em conflito com um sistema que o degrada cada

vez mais de forma irresponsável, portanto uma nova forma de aprendizagem se faz

necessária aos dias atuais.

A este respeito podemos concordar com Lovelock (2006) quando afirma que

além dos aspectos pedagógicos, precisamos com urgência, incentivar um maior respeito

pela condição humana, compreender o direito de cada ser que habita este planeta.

Em Assmann (1998), observamos que é preciso ver as coisas de um modo mais

abrangente, perceber com nitidez o quanto é importante examinar o processo de

aprendizagem e compreender a íntima relação que existe entre cognição e vida.

Fazer com que os indivíduos se percebam como seres biopsicossocial é a

necessidade da educação atualmente, com isso entendemos que o processo de ensino e

aprendizagem da Educação Ambiental permeia em um novo campo em que as

mudanças de paradigmas estão no centro da busca de novas formas de conhecimento,

preconiza-se novas posturas com relação a construção de novos processos pedagógicos

encontram-se a procura de novas formas de mecanismos de aprendizagem.

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A Educação Ambiental traz em sua essência uma nova postura de se pensar uma

educação contextualizada de com o panorama ambiental que posiciona o sistema

educacional perante uma nova necessidade de saber, de conhecimento necessário ao

desenvolvimento de toda sociedade e vem ser um elo significativo entre as relações

humanas e a interação dos indivíduos no habitat natural é de suma importância para o

desenrolar de novas posturas dos indivíduos atualmente.

Compreender que a Educação Ambiental é uma necessidade para formação

humana já se faz presente no universo do saber cientifico do panorama educativo, mas a

compreensão apenas não basta para que tal necessidade seja contemplada de forma

coerente com nossa realidade. É preciso compreender a questão ambiental além de suas

dimensões biológicas, químicas e físicas, enquanto questões sociopolíticas como afirma

Abílio (2005).

Em Abílio (2008), podemos perceber uma definição da EA como processo

educativo idêntico à educação formal, só que dando-lhe uma dimensão ambiental

contextualizada e adaptada à realidade interdisciplinar, vinculada aos temas ambientais

locais e globais. Essa definição proposta por Abílio nos lança perante um novo processo

de emancipação do contexto ambiental permeando a educação atualmente, o mesmo

enfoca que é necessário uma educação acoplada com os contextos ambientais de forma

local e global.

A Educação Ambiental deve ocorrer de maneira relacionada com a ação do

homem e suas causas, podemos compreendê-la ainda como uma mudança de valores no

âmbito social.

De acordo com a conceituação de Educação Ambiental Branco (2003) nos afirma

que seria a educação ambiental um conjuntos de iniciativas educacionais de todos os

setores da sociedade, na busca de uma consciência ambiental.

POR UMA EDUCAÇÃO ALÉM DOS MUROS ESCOLARES

“Eu acho que aquela parte da educação que tem início nas salas de

aulas deveria nos preparar para entender a nossa participação na teia

da vida – que nenhuma pessoa é uma ilha e nem deveria querer ser” .

(CAPRA, 2006, p. 135)

Estamos diante um novo processo de transformação da educação, aos pouco se

faz necessário reorientar o modo como os indivíduos vivem e educam as futuras

gerações. A escola, a sociedade e a comunidade precisam perceber que a forma como

levam suas crianças a atingir seus níveis de desenvolvimento humano deve atualmente

passar por um contexto entrelaçado com vários aspectos.

Educar hoje é perceber que a educação vai além dos muros e bancos escolares, o

sujeito atualmente precisa estar inserido pedagogicamente em seu contexto geográfico,

político, social, ambiental, econômico e cultural para que possam pensar de forma

sistêmica e perceber que tudo não se trata de uma grande rede em que todas as partes

estão entrelaçadas.

A educação encontra-se diante um desafio: nossas crianças tem consciência que

existe uma dinâmica fora da sala de aula? Que somos moradores do mesmo lar

independente do lugar em que nos encontramos? Temos crianças com tal consciência e

visão de mundo?

Freire (1979) aponta que o ensino deve ser baseado no diálogo que busque um

conhecimento participativo e transformador, que a vivência e a realidade sirvam para

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enxergar e ler o mundo, este fato precisa ser considerado para que a real aprendizagem

se realize.

Capra (2006) ao propor uma pedagogia que facilite o entendimento da

compreensão do mundo através dos princípios da ecologia, como sendo base para que

os indivíduos cultivem um respeito a natureza, enfoca uma abordagem de caráter

multidisciplinar baseada na experiência e na participação.

Podemos observar que a leitura de mundo tanto difundida por Freire comunga

quase que simultaneamente com a tomada de consciência de Capra ao afirmar que o ser

humano toma conhecimento a partir de sua visão d emundo que nós mesmos fazemos

parte da teia da vida.

Estamos diante, portanto, de uma afirmação: a crise ecológica é em parte uma

crise da educação. Há muito tempo fomos influenciados pela ciência a possuir uma

visão de mundo pautada no modelo cartesiano, o qual a ciência procurava suas razões

absolutas, suas convicções comprovadas em laboratório e teorias desencontradas com

outros aspectos importantes, mas que por se encontra na maioria das vezes no campo

das ideias ou da filosofia não se tornou parte considerável do mundo cientifico.

Esta forma de ver o mundo moldou a educação durante séculos, nos tornando

racionais a ponto de cada vez mais nos afastando de uma compreensão holística, de um

pensamento sistêmico e de uma visão de mundo menos fragmentada.

Podemos, então compreender que a necessidade atualmente é que em outras

palavras os indivíduos precisam ser ecologicamente alfabetizados, pois assim teríamos

uma transformação mais profunda no conteúdo, no processo e no alcance de uma

pedagogia em todos os níveis de ensino, baseada numa teoria prática que tem como

fundamento o pensamento sistêmico, a ecologia e a educação.

O conceito de alfabetização ecológica é difundido por Capra como uma

pedagogia pautada no pensamento ecológico de compreender a vida e no pensamento

sistêmico o qual afirma que todos estamos inseridos numa grande teia da vida.

Segundo Capra (2006), o termo Alfabetização Ecológica reconhece que:

O desequilíbrio dos ecossistemas reflete um desequilíbrio

anterior da mente, tornando-se uma questão fundamental nas

instituições voltadas para o aperfeiçoamento da mente. Em outras

palavras a crise ecológica é em todos os sentidos, uma crise da

educação; É da educação, não está meramente na educação; Toda

educação é Educação Ambiental (...) com a qual por inclusão ou

exclusão ensinamos aos jovens que somos parte integral ou separada

do mundo natural; A meta não é o mero domínio de matérias

especificas, mas estabelecer ligações entre a cabeça, a mão, o coração

e a capacidade de reconhecer os diferentes sistemas.(página 11).

Desta forma, percebemos que alfabetizar um sujeito ecologicamente se faz

necessário de no mínimo uma compreensão sobre os princípios básicos da ecologia, de

ecologia humana e dos conceitos de sustentabilidade, favorecendo ainda uma

aprendizagem para a solução de problemas.

Segundo Orr (2006)

Qualquer que seja a situação da nossa pesquisa pedagógica, a

vida da mente é e continuará sendo um processo misterioso e fortuito,

só um pouco influenciado pela educação formal ( as vezes sem

nenhum efeito positivo) (p. 11)

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Com essa afirmativa de Orr, compreendemos que a forma como nossa mente

aprende e absorve o mundo que está a nossa volta se dá de maneira complexa em que

muitas vezes as vivencias dentro da escola, no campo da educação formal pouco

significam para uma aprendizagem pertinente e necessária ao contexto mundial em que

estamos inseridos atualmente.

INTELIGÊNCIA NATURALISTA: NECESSÁRIA A ALFABETIZAÇÃO

ECOLÓGICA?

Como a natureza manufatura superfícies (como as conchas dos

moluscos) que são mais duras do que a cerâmica produzida pela nossa

alta tecnologia e fios de seda (fiados pelas aranhas) que são cinco

vezes mais resistentes do que o aço? (CAPRA, 2006, p. 14)

Considerada um das últimas inteligências a ser descoberta e estudada pelo

psicólogo e neurocientista Howard Gardner surgindo de uma teoria intitulada:

Inteligências Múltiplas (1983), a inteligência naturalista é a oitava inteligência apontada

por Gardner em seus estudos.

Os estudos relacionados a inteligência apontam Alfred Binet (1857- 1911) como

um de seus percussores, médico e psicólogo, Binet passou a desenvolver pesquisas no

campo da avaliação da inteligência medindo as habilidades dos indivíduos.

Seu campo de estudo foram inicialmente as escolas primarias francesas a qual

apresentavam interesse em conhecer o nível de conhecimento de suas crianças. A partir

desta realidade Binet criou um instrumento que almejava identificar nas crianças as

habilidades linguísticas e matemáticas, pois estas eram as mais valorizadas pelos

institutos de educação da França na época.

Desde então vários testes com o objetivo de identificar os níveis, os tipos, as

habilidades e potenciais de inteligência passaram a surgir e ter sua importância no

campo da educação como forma de contribuir e direcionar a aprendizagem humana.

Surge, portanto a “Escala de Inteligência de Stanford-Binet”, desenvolvida pela

Universidade de Stanford na Califórnia. Mesmo com o surgimento de tal experimento

Binet declarou que a inteligência se tratava de algo muito complexo para ser medido de

forma tão exata.

Gardner em 1989, vai mais além ao afirmar que a inteligência e suas habilidades

cognitivas são bem mais complexas, pois nosso sistema nervoso é capaz de processar

diferentes tipos de informações, além de atuar diferentemente a partir de habilidades

que possuem mais ou menos importância em determinadas culturas.

Portanto, a partir da teoria das Inteligências Múltiplas propostas por Gardner,

somos levados a pensar que a inteligência define um sujeito dependendo de sua

realidade, o contexto em que está inserido e que uma inteligência não deve se sobrepor a

outra, e sim que os indivíduos possam ter a possibilidade de experimentar todas e,

talvez caso se identifique com uma ou mais inteligência do que as demais que estas

sejam trabalhadas a ponto de atingir níveis satisfatórios para o seu desenvolvimento.

E essa questão é evidenciada por Gardner quando ele evidencia que:

O ponto essencial na teoria das IM, é que não existe apenas uma

capacidade mental subjacente. Ao invés, várias inteligências,

funcionando em combinação, são necessárias para explicar como os

seres humanos assumem papéis diversos, como físicos, fazendeiros,

feiticeiros, dançarinos (GARDNER, 2000, p.61).

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Desta forma, notamos que a teoria das IM busca compreender os tipos de

habilidades cognitivas dos indivíduos, com o intuito de reconhecê-las como parte do

desenvolvimento humano e não como uma classificação severa e taxativa em que define

se um individuo terá predisposição para certas áreas ou outras. Compreende-se ainda

que a partir das IM os indivíduos possam ter múltiplas capacidades.

Gardner ao demonstrar a inteligência naturalista nos comprova que esta se

apresenta da seguinte forma:

(...) a inteligência do naturalista é tão arraigada como as outras

inteligências. Há, para começar, as capacidades essências para

reconhecer exemplos como membros de um grupo (mais formalmente,

de uma espécie); para distinguir entre os membros de uma espécie;

para reconhecer a existência de outras espécies próximas; e para

mapear as relações, formal ou informalmente, entre as várias espécies.

Evidentemente a importância de uma inteligência naturalista está bem

comprovada na história evolucionária, onde a sobrevivência de um

organismo depende de sua habilidade de distinguir entre espécies

semelhantes, evitando algumas (predadoras) e investigando outras

(para servir de presa ou brinquedo). A capacidade do naturalista se

apresenta não só nos primatas evolucionariamente próximos dos seres

humanos; as aves também podem discernir as diferenças entre

espécies de plantas e animais (inclusive diferenças que não existam

em seu ambiente esperado, “normal”) e até reconhecer as formas

humanas numa fotografia. (GARDNER, 2000, p. 65,66).

A partir desta afirmação, reconhecemos que a inteligência naturalista descrita

por Gardner representa e esta comprovada ao logo da história da evolução humana

atrelada a capacidade de sobrevivência dos seres vivos como o mecanismo cognitivo na

sua capacidade e habilidade em reconhecer determinadas formas de comportamento que

lhe favoreça condição essencial a vida.

Em Capra (2006), notamos que atualmente precisamos ter a capacidade de

resolver problemas sistematicamente, associados a uma rede de aspectos das mais

variadas origens, é necessário sermos alfabetizados ecologicamente e para que isso

ocorra precisamos reconhecer o nosso tipo de inteligência, as nossas capacidades

cognitivas e habilidade que nos aproxime desta aprendizagem tão necessária a nossa

sobrevivência.

A alfabetização ecológica comunga paralelamente a inteligência naturalista

quando percebemos que reconhecer que uma nova forma de moldar uma educação

necessária e comprometida com a realidade mundial vivenciada atualmente, consiste em

alfabetizar nossas crianças não apenas em letras, números e códigos, mas também uma

alfabetização que faça uso de nossas raízes naturais, demonstrando que além de

indivíduos letrados devemos ser antes de tudo alfabetizados a partir do nosso meio

natural, fortalecendo assim a formação de um sujeito biopsicossocial.

Para tal situação Gardner aponta que

Até agora a maioria das escolas na maioria das culturas

enfatizou uma certa combinação de inteligências linguísticas e lógicas.

Indubitavelmente, esta combinação é importante para dominar a

agenda da escola, mas fomos muito longe ao ignorar as outras

inteligências. Ao minimizar a importância das outras inteligências

dentro e fora da escola, nós levamos muitos estudantes, que fracassam

em exibir a mistura “adequada”, à crença de que são tolos, e não

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tiramos vantagens dos modos nos quais as múltiplas inteligências

podem ser exploradas para atingir as metas da escola e da cultura mais

ampla. (GARDNER, 1994, p. 74).

Sendo assim, compreendemos que a inteligência naturalista se faz presente no

processo de compreensão e implementação da alfabetização ecológica, uma vez que a

educação atualmente tem a necessidade de mudar a insistência de um ensino baseado

ainda no modelo cartesiano e passar a nutrir suas diretrizes em uma educação vinculada

ao pensamento sistêmico que consiste em perceber que tudo a nossa volta está

interligado e essa visão de mundo precisa ser compreendida desde de cedo nos

indivíduos proporcionado assim uma alfabetização de caráter ecológico.

Potencializar e trabalhar as habilidades das crianças reconhecendo que estas

podem vir a desenvolver uma inteligência naturalista ou reconhecer que algumas já

evidenciam em si características da mesma é antes de mediar sua pontenciabilidade

reconhecer que o desenvolvimento da inteligência naturalista é tão primordial ao

desenvolvimento do ser humano como inseri-lo no mundo das letras.

Com isso a alfabetização ecológica traz em sua essência uma pedagogia que

reconheça como desenvolver a capacidade dos indivíduos compreenderem que também

fazem parte do sistema natural do planeta, que não são seres a parte desta, e que

convivendo com ela devem ter a sensibilidade de reconhecer que seu comportamento

está intrinsicamente associado à vida natural.

Capra demostra a este respeito que

A educação por uma vida sustentável estimula tanto o

entendimento intelectual da ecologia como cria vínculos emocionais

com a natureza. Por isso, ela tem mais probabilidade de fazer com que

nossas crianças se tornem cidadãos responsáveis e realmente

preocupados com a sustentabilidade da vida; que sejam capazes de

desenvolver uma paixão pela aplicação dos seus conhecimentos

ecológicos à reformulação de nossas tecnologias e instituições sociais,

de maneira a preencher a lacuna existente entre a prática humana e aos

sistemas da natureza ecologicamente sustentáveis. (CAPRA, 2006, p.

15).

E esse entendimento intelectual da ecologia mencionado acima faz menção a

inteligência naturalista proposta por Gardner ao afirmar que os sujeitos com potencial e

tendências a esta inteligência se configuram em sujeitos que terão maior possibilidade

de reconhecer e tentar solucionar problemas tão presentes na sociedade atualmente,

problemas de caráter ecológico, socioambiental.

Morin (2003) em sua obra Os sete saberes necessários à educação do futuro, e

um desses saberes necessários a educação do futuro será a compreensão de nossa

condição planetária, como afirma que esse fenômeno que estamos vivendo hoje, em que

tudo está conectado, é outro aspecto que o ensino ainda não se deu conta.

Assim como o planeta e seus problemas, a aceleração histórica, a quantidade de

informação que não conseguimos processar e organizar. Este ponto é importante porque

existe, neste momento, um destino comum para todos os seres humanos. O crescimento

da ameaça letal se expande em vez de diminuir: a ameaça nuclear, a ameaça ecológica,

a degradação da vida planetária. Ainda que haja uma tomada de consciência de todos

esses problemas, ela é tímida e não conduziu ainda a nenhuma decisão efetiva. Por isso,

faz-se urgente a construção de uma consciência planetária.

Morin ainda demonstra que

Page 11: a contribuição de capra e gardner para a educação ambiental

11

A educação deve favorecer a aptidão natural da mente em

formular e resolver problemas essenciais e, de forma correlata,

estimular o uso total da inteligência geral. Este uso total pede o livre

exercício da curiosidade, a faculdade mais expandida e a mais viva

durante a infância e a adolescência que com frequência a instrução

extingue e que, ao contrario e que ao contrario se trata de estimular,

ou caso, esteja adormecida acordá-la. (MORIN, 2000, p.39)

Torna-se, portanto, evidente que o estímulo a inteligência pautada na resolução de

problemas relacionados a época em que estamos vivendo, época esta marcada por uma

crise ecológica em que o sujeitos não foram alfabetizados além de tudo de forma

ecológica e tão sua inteligência naturalista não foi potencializada, nos vemos portanto,

perante aos frutos dessa educação descontextualizada com o mundo.

É importante salientar que inteligência naturalista, portanto, se configura da

seguinte forma

Neste sentido, a inteligência naturalista - como as outras

inteligências – é “supra-sensorial”. Por outro lado, a inteligência

naturalista pode parecer apenas o exercício da nossa inteligência

logico-matemática – capacidade de categorizar. Mas essa analise

redutiva também não funciona. Mas essa analise redutiva também não

funciona. A descriminação entre duas entidades é anterior a sua

classificação, e na verdade, qualquer esquema de classificação

biológico é sempre secundário a alguns critérios percebidos. Como

regra prática podemos invocar a seguinte sequência: primeiro,

percebemos os objetos por um ou mais modalidades dos sentidos; a

seguir, fazemos alguma distinção consequente pelo uso da inteligência

naturalista; por fim, classificamos (e talvez, reclassificamos) de

acordo com critérios lógicos específicos (GARDNER, 2005, p. 48).

Despertar, fomentar e favorecer uma inteligência de caráter naturalista é

contribuir para a alfabetização ecológica de sujeitos comprometidos com sua condição

de cidadão planetário.

A alfabetização ecológica aliada à teoria das IM especificamente à inteligência

naturalista, pode ser a chave para a implementação de uma mudança duradora na

educação necessária atualmente.

O estímulo a uma inteligência naturalista servirá como elo entre a alfabetização

ecológica e a educação sistêmica que representa uma grande mudança além de

abrangente, pois envolve uma série de fatores como: ambiente, estruturas, padrões de

economia e comunicação, valores e prioridades.

O caminho é longo e, além disso, precisamos juntar os pedaços de uma educação

que foi fragmentada ao longo dos tempos. É preciso ainda compreender as novas formas

de desenvolver a formação humana, analisando sua forma de ver o mundo, sua

inteligência, como se dão as aprendizagens e quais as melhores maneiras de solucionar

os problemas.

Desta forma, a educação das crianças para um mundo que seja capaz de perceber

que o estamos diante uma crise que necessita cada vez mais de indivíduos conscientes

de sua condição terrena, que seja capaz de formular soluções de sobrevivência e

permanência da espécie humana, sem atingir o ambiente natural de forma agressiva e

inconsequente.

Page 12: a contribuição de capra e gardner para a educação ambiental

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O conhecimento científico aliado ao pensamento sistêmico corrobora para uma

nova compreensão do sujeito que faz uso de suas inteligências em busca da plenitude do

desenvolvimento das capacidades cognitivas do ser humano.

A alfabetização ecológica fazendo uso da inteligência naturalista fornece como

produto uma pedagogia pautada no saber ambiental, que todos nós como seres

biopsicossociais somos capazes de desenvolver, ou como afirmou Morin, somos

capazes de despertá-lo.

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