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1 A COR QUE TEM AS NUVENS. SAMUEL IVANI

A COR QUE TEM AS NUVENS. · sua alma, todo o seu ser com aquela felicidade. Não queria contê-las e não podia contê-las. Aquelas lágrimas em contraste com um belo sorriso no rosto

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A COR QUE TEM AS NUVENS.

SAMUEL IVANI

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SUMÁRIO:

O ínicio depois do fim ...................................................... 5

A cor que tem as nuvens ................................................ 12

O dia na praia ................................................................... 16

O ápice da dor .................................................................... 24

Um dia antes do casamento: ........................................ 36

O que é felicidade? .......................................................... 47

Sala de tentativa de justiça .......................................... 52

Os biscoitos em forma de bichos ................................ 57

A biblioteca ........................................................................ 60

Um comentário extra ..................................................... 65

Os palhaços ....................................................................... 66

Um pouco a frente na vida de léo ............................... 72

"Coragem" ......................................................................... 73

Um pouco a frente na vida de léo ............................... 82

Tornados ............................................................................ 83

O livro de total felicidade ............................................. 103

Uma prova de amor ...................................................... 114

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O acontecimento ............................................................ 117

Adaptando-se a nova realidade .................................. 135

O dia do encontro e depois dele ................................. 139

A felicidade como pode acontecer .............................. 147

Dedicatória:

Dedico esta obra a minha irmã: Jane Nascimento; que assim

como eu é uma amante dos livros e da literatura, e que de vez

em quando resolve também aventurar-se com as palavras, sendo

que me ajudou na medida do possível para tornar este livro o

mais legível possível. Dedico também aos leitores mais atentos

que com certeza irão tirar uma lição de vida desta obra. Sendo

que este livro só terá algum sentido para mim a parti destes

leitores que darão algum sentido a ele em suas vidas reais.

Prólogo:

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Nesta obra tentei a todo custo repassar a felicidade em todos os

seus ricos momentos. Creio que nem sempre obtive sucesso, no

entanto minhas tentativas talvez não tenham sido inteiramente

em vão, pois não importando em que situação a vida dos

personagens se encontrem a felicidade é descrita com a

graciosidade da felicidade que possuo em minha mente.

Descrevo com a capacidade que possuo de ser feliz sempre, e

com o único instrumento que se é possível acionar todos os

sentimentos a vontade de nossos desejos; que é a mente humana.

Não pensei que poderia ter orgulho deste livro, pois no início

ao criar o enredo da estória, cheguei a conclusão que esta fosse

apenas um romance clichê que se ver todo dia no cenário

livreiro. No entanto ao finalizá-lo reconheci que se for possível

que eu crie algo que supere esta obra definitivamente descobrirei

e me convencerei que sou deveras um escritor.

Atente para um detalhe a respeito da estrutura do livro. Ele é

formado por capítulos que se alternam entre futuro e passado,

que descreve a vida de Emily, personagem principal, regredindo,

voltando no tempo, enquanto a vida de Léo segue o curso natural

em frente sempre.

Espero sinceramente que você leitor, consiga sentir a felicidade

que tentei repassar com esta obra. Se não, ao menos aprenda

com ele que se é possível ser feliz sempre.

“Das nuvens observo a vida em todos os seus ângulos e

âmbitos, sem perder os detalhes que tornam qualquer relato uma

boa estória. Daqui posso ver além do que os que se encontram

em terra. Daqui posso sentir além dos olhos, posso

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principalmente ver e descrever a áurea, ou alma que se reflete

nos corações dos homens.”

Das nuvens observo e conto esta estória.

CAPITÚLO I

O inicio depois do fim

- Hoje fiz por merecer meu ultimo ontem ao seu lado, ontem

esse que me fez merecer todos os amanhãs futuros.

Disse o jovem deixando as lágrimas deslizarem suas bochechas

rosadas por causa da exposição ao sol e praia no dia anterior.

Pela primeira vez na vida desaguava de seus olhos lágrimas que

não eram de sangue dor ou sofrimento. Alguém lhe

ofereceu um lenço que recusou sem pensar na desfeita que estava

fazendo a uma linda jovem educada ao seu lado. Não queria

conter aquelas lágrimas, queria mais que elas inundassem toda a

sua alma, todo o seu ser com aquela felicidade. Não queria

contê-las e não podia contê-las. Aquelas lágrimas em contraste

com um belo sorriso no rosto era uma promessa que havia feito

há tempos.

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Todos naquela cerimônia estranhavam aquele jovem a lacrimejar

e sorrir ao mesmo tempo;

- como podia ele sorrir em um momento tão triste? Sussurravam

todos ali como se o jovem não pudesse ouvir aquele disparate.

- Por que as pessoas acham que podem murmurar a vontade dos

que choram como se elas não estivessem ouvindo? Pensava ele

sem realmente se importar com o que diziam. Seu estômago

fervilhava ao imaginar nas possibilidades de seu futuro, no

passado que havia aprendido há pouco tempo a construir.

Todas aquelas pessoas de roupas coloridas e óculos em forma de

estrelas, contrastava com a tristeza em seus rostos maquiados.

Tristeza que ninguém deveras merecia. Tristeza essa que a

anfitriã jamais desejou.

A vida sem respirar não exerce forte influência nos que ainda

respiram. Repetia o jovem essas palavras vagarosamente em sua

mente, palavras essas que merecidamente enfeitavam uma faixa

reluzente de “glitter” que duas crianças carregavam a frente

daquela fila de indivíduos coloridos a caminhar a passos lentos.

O jovem acompanhado de uma linda garota enfeitada de

plumas nas cores do arco-íres, que segurava o seu braço

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enquanto caminhavam, suas mãos mesmo com luvas transferiam

um calor de vida, de vida de segundos atrás e do passado que

ainda construiriam juntos. Era a imagem do contraste da

sociedade moderna, da sociedade medieval, ou seja, de toda a

humanidade que viveu e ainda viverá em sociedade, este era um

casal formado a partir da alegria de viver o passado, de viver os

milésimos de segundos passados que a todo o momento

construímos.

Todos caminhavam desconsolados e conformados, dois

sentimentos tão antagônicos e que naquele momento andavam

juntos. Porém aquele belo casal não. Eles caminhavam felizes

com lágrimas de felicidade brotando de seus olhos. Caminhavam

na estrada da felicidade futura que aquela bela anfitriã

propositadamente lhe ensinara a conquistar.

O tempo estava se fechando, as nuvens começavam a encher o

céu com aquele azul escuro, e como uma grande cortina

começava a se fechar e cobrir os raios de sol que abrilhantavam

aquele dia, logo um leve sereno ensaiava uma chuva.

- Jamais umas gotículas de águas poderiam destruir a alegria de

um momento. Era o que ouvira o jovem Léo por várias vezes sair

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da boca daquela que agora lhe proporcionava o ultimo sorriso

regado a lágrimas.

Em todas as direções que se olhasse durante aquela caminhada,

se viam nomes e datas, fins e inícios. O que poderia representar

com tanta clareza os fins e os inícios se não aquelas datas?

Aquela que hoje todos viam o seu fim representava o inicio para

duas pessoas ou quem sabe para muitos outros.

À medida que caminhavam se aproximavam cada vez mais

daquele monumento que todos detestavam, no entanto aquele era

diferente, havia linhas perfeitas que dava forma a um belo

coração violeta, em vez das datas que tanto ditavam os fins e os

inícios de alguém. Havia apenas uma frase “O tempo de minha

vida não determina a intensidade dela.” Com o nome da anfitriã

logo abaixo esculpido com pouca destreza, provavelmente por

amadores. Emily viveu dezoito anos longos e com a intensidade

de um imortal.

Caminhavam todos em direção aquela escultura de linhas

perfeitas com escritos não tão perfeitos. O sereno começava a se

intensificar obrigando todos a abrirem seus guarda chuvas

coloridos e enfeitados com rendas nas bordas. A anfitriã

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definitivamente havia pensado em tudo, em todos os detalhes

para aquele dia de inicio.

Os passos se encerram, era chegada a hora daquele monumento

finalmente cumprir seu objetivo, iria fazer jus a sua existência

com o único intuito que as pessoas normais dão aquele objeto

inanimado. Demonstrar os fins e inícios de alguém. Mas esse de

cor diferente não, Já havia servido a vários propósitos, e hoje ele

não representaria a descrição de fins inícios e sim a

representação de um passado de alguém que viveu intensamente.

As lágrimas se intensificaram, era chegada à hora da ultima visão

daquela anfitriã de corpo presente. Era de uma dor indescritível

para todos ali, porém para aquele casal não. O que para todos

representavam o fim de alguém para aqueles dois representava

um inicio de uma história, não de uma vida. De uma história!

Algumas poucas palavras foram ditas por parentes e pelo

reverendo, não era preciso adiar a despedida. - Adiar as

despedidas só intensifica a saudade- Sábias palavras que a

anfitriã a todo o momento repetia a todos a sua volta. Dizia ela

que a saudade é um sentimento do futuro, não devemos antecipá-

la. A saudade deve ser um sentimento destituído de sentir falta.

Saudade em conjunto com a falta não é saudade é sofrimento.

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- Saudade soa tão bem foneticamente quando falo que não posso

vinculá-la ao sofrimento. Dizia ela sempre a vislumbrar algo no

alto em seu campo de visão.

A anfitriã há tempos já não se encontrava ali, aqueles

protocolos, tradições comuns aquele tipo de evento,

definitivamente não eram necessários. Queria a anfitriã que tudo

fosse com o mínimo de lágrimas e dor, o tempo da cerimônia só

elevaria a dor e as lágrimas. Todos ali faziam questão de atender

a seus pedidos, muitos com a ilusão que estavam honrando o que

foi aquela que hoje já não era pelo menos em corpo. No entanto

aquele jovem casal estava ali honrando o único e real desejo que

a anfitriã havia formulado com todos aqueles pedidos. Que ela

representasse pelo menos dois inícios reais para duas pessoas.

Dizia ela que antes de partir, queria conceber o inicio para pelo

menos duas pessoas assim seu fim seria positivo.

Uma ultima olhada naquele ultimo vestido rosa, não havia flores,

de nenhuma cor, não queria ela nada que representasse o fim

comum, que representasse o derradeiro suspiro, queria em volta

de si apenas serpentinas carnavalescas enfeitando seu

ectoplasma. Quanto menos se mostrasse a dor menos a sentiriam;

assim acreditava aquela doce vida que tanto foi.

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Quatro homens desconhecidos ergueram seu ultimo vestido

rosa, e direcionou-na a porta, a porta para o infinito, ou para o

fim de seus inícios, no plural, como sempre repetia aquela

anfitriã de uma cerimônia já terminada há horas atrás. A mãe

chorava inconsoladamente naquele ultimo momento. O jovem

casal abraçado em um dos poucos momentos que se deixaram

levar pela dor, dor que tanto a anfitriã havia ensinado a driblar.

As cordas foram retiradas, seu vestido rosa agora se encontrava

no alto da mais bela colina, não seria ela enterrada seria ela

elevada aos ventos por inúmeras fadas reluzentes, que jogavam

areia colorida para abrilhantar aquela bela anfitriã de vestido rosa

na sua ultima casa de boneca. Era assim que ela queria ser vista

no fim que todos agora viam, fim que para ela já acontecera a

horas atrás.

Pediu ela que todos se retirassem antes do ultimo e inevitável ato

das tradições humanas. Por que a vida não devia ser vista

naquele fim.

Dizia a sempre feliz:- não precisam ficar receosos de me darem

as costas, pois a horas estou à sua frente.

Com essas palavras em mente aquele belo casal de jovens foram

os primeiros a fazerem caminho e olhar para frente. Logo todos a

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passos lentos os seguiram. Nada deixaram ali, pois aquela que

preparara aquela cerimônia estava agora a sua frente. Em todos

os sentidos desta frase. E a saudade sem sentir falta devia ser

sentida apenas tempos depois.

A chuva agora já tomava proporções de uma quase tempestade.

- A vida a partir deste ponto deve ser vivida com a intensidade de

segundos, não com a acomodação rude de anos que achamos que

ainda viveremos. Dizia em coro o casal essa frase que aprendera

com o tempo, todo o seu real sentido. Fora o ultimo espetáculo

de Emily, assim como ela desejou tudo ocorrera na mais perfeita

ordem. Sentia todos agora um vazio justo, vazio que não

demoraria a ser preenchido. Foram-se todos para suas casas,

levando consigo um vazio, vazio este sentido por aquele casal,

mas não na mesma proporção que os demais.

Capitulo II

A cor que tem as nuvens

O jovem Léo sussurrou uma frase que repetia sempre, apenas

para seu contentamento:

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- E agora amor, vamos para casa? Uma frase tão simples, que

para ele lhe proporcionava uma felicidade indescritível, uma

satisfação que facilmente se identificava no brilho do seu olhar

ao falar. Ela respondeu:

- Vamos! Mas primeiro vamos nos libertar desse guarda chuva

que no momento nos impede de vivenciar esta bela chuva que cai

sobre nós, e de vislumbrar a bela cor azul escura do céu.

- Beleza! Lembrando o dia que sem querer havia dito que o céu

estava escuro, que o tempo estava feio e que Emily o repreendera

imediatamente dizendo: Não há fenômeno maior e mais belo

quanto à formação de uma chuva por mais que seja uma

tempestade. Aliás, quanto mais intensa a chuva mais belo o

espetáculo de sua formação e de sua execução. A cor do céu é

exuberante quando nublado, é de um azul que só se ver em penas

de galinha. Boba a comparação, mais Emily se lembrava de

galinhas que havia no quintal de casa quando criança. Ao vir a

chuva se formar vinculava a cor do céu com a das galinhas.

- A chuva é algo magnífico, grande, incontrolável, dizia ela

sempre com o olhar para o alto, fascinada com aquele fenômeno.

Dizia a sorrir que sonhava a noite com ela voando bem no centro

da formação de uma chuva com muitos ventos onde podia ver de

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perto aquele fenômeno, sentir o vento em seu rosto com

respingos de água. E Gritava desesperadamente a vivenciar

aquele espetáculo. Dizia Emily que se caso chovesse no dia de

seu ultimo espetáculo não seria o céu chorando de tristeza e sim

ele deixando se levar por gritos e lágrimas de alegria por aquela

que foi a sua maior fã agora encontrar-se mais próxima dele, e de

seus espetáculos.

- A chuva é o elixir da vida, a representação perfeita de que

união faz a força. A chuva acontece quando gotículas de água se

unem e vence a resistência do ar, e então caem sobre nós, é a

representação mais clara de vida.

O céu a imensidão, independente das condições climáticas a

encantava ao máximo. Ao se imaginar flutuando em meio aquela

imensidão de ventos e cores Emily parecia esquecer-se de tudo.

-Lembra Sonia, quando Emily nos contou pela primeira vez o

seu desejo? No primeiro momento achamos absurdo. Falou o

jovem a correr na chuva, sorrindo vindo abraçar aquela que hoje

representava a intensidade da vida para ele.

- Claro que lembro! Disse Sonia com um belo sorriso no rosto já

nos braços de Léo.

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- Podia imaginar alguém tão “forte” ter um sonho tão “fraco”?

Disse Léo ensaiando um beijo de amor com o desejo em seus

olhos como se fosse o seu primeiro beijo.

Emily disse que havia visto um documentário na TV, que

mostravam desastres naturais e a fúria da natureza, e que nos

Estado unidos havia empresas que levavam turistas viciados em

adrenalina para ver os tornados e suas formações. Munidos de

ferramentas potentes de meteorologia não havia perigo algum

nesta aventura.

- Vocês conseguem imaginar algo tão magnífico quanto o céu, na

formação dos tornados? Aquelas células enormes o céu todo

azul e o vento no rosto, Deve ser magnífico! Dizia Emily com os

olhos brilhando cheio de esperança.

- Eu confesso que me deu vontade de rir no momento que ela

descreveu o sonho pra gente.

– Eu também! Concordou Sônia com um sorriso nos olhos e nos

lábios.

- Engraçado! Hoje estamos sendo banhados pelo elixir da vida,

enquanto ontem estávamos nos deliciando em um belo dia de sol

na praia. Acho que a beleza do tempo está em suas mudanças, o

clima de hoje não é o mesmo o clima de amanhã. A vida deve ser

assim; a felicidade de ontem não deve representar a felicidade de

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hoje, devemos construir a felicidade a cada dia, a cada dia não, a

cada novo segundo devemos encontrar novos motivo para ser

feliz. Dizia Léo com os olhos em direção ao alto para a linha do

horizonte. Gesto que costumeiramente Emily repetia nos seus

dias de vida vivida intensamente.

- Acabo de rever em minha mente a ultima cena que lembro de

Emily, do nosso ultimo ontem ao seu lado. Comentou sonha.

Capitulo III

O dia na praia

Estava Emily protegida por aquele grande guarda sol na praia, a

matutar e vislumbrar o céu com suas cores, mesmo com o grande

mar a sua frente, Emily parecia ignorar o balanço das ondas e o

cheiro salgado e frio das águas em movimento.

Estavam os três naquele belo inicio de dia de sol na praia, a

realizar o sonho de Sônia e de Emily. Tal como ela descrevia

estavam os três na praia com um tapete vermelho devidamente

posto na areia enrugada por causa das pegadas das pessoas que

outrora estiveram ali.

Um semi arco feito da folha de uma palmeira retirada por Léo

anteriormente, todo enfeitado de flores, brancas e vermelhas

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ajudava a enfeitar o lugar. Hoje as flores estavam cumprindo o

papel do qual elas nascerem para cumprir, que é embelezar a

vida, hoje sim, elas foram exigidas e bem utilizadas. Alguns

ramos entrelaçavam o semi-arco posto ao final do tapete

improvisado de lençóis tingindo de vermelho. Emily estava

sentada protegida do sol ao final do tapete logo depois do arco

como um verdadeiro guru do amor esperando o casal que iria se

casar naquele dia na praia.

Sônia estava trajando um vestido branco, na altura pouco acima

do joelho, leve, com rendas em suas extremidades que ela mesma

havia confeccionando na supervisão de Emily. Usava também

um colar de búzios enfeitando o seu colo amostra. Léo estava

vestido de acordo com as exigências de Emily e Sônia, uma calça

também de cor branca arregaçada até os joelhos e uma camisa de

mangas longas de mesma cor, a beleza masculina rústica e

simples. Emily trajava um vestido também branco, no entanto

não havia enfeites, não necessitava de enfeites, o tecido do

vestido já aparentava renda, alem disso sua beleza dispensava

qualquer ajuste.

O casal caminhava sobre o tapete vermelho em direção a

Emily, uma leve musica instrumental dava trilha sonora ao

momento tão especial para os três. A medida que se

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aproximavam de Emily as emoções se intensificavam, as

lágrimas em conjunto com sorrisos mais uma vez entrava em

cena, como em quase todos os momentos desde que ambos se

conheceram.

As emoções preenchiam os espaços vazios naquela praia deserta

em conjunto com o vento que também se encarregava desta

missão, e de balançar a esmo os cabelos castanhos de Sônia,

cujos fios eram longos e macios. Léo vislumbrava aquela cena.

Passaram o semi-arco decorado de flores e ramos, chegaram a

Emily que diminuiu a musica, e se preparou para dizer às

palavras que foram escritas premeditadamente para aquele

momento:

- Estamos aqui reunidos para a união de Sonia e Léo, brincou

Emily com um largo sorriso no rosto.

Vamos aos discursos primeiro Sônia para Léo, depois Léo para

Sônia.

- Digo aqui antes de seus discursos que não estão aqui vivendo a

vida de alguém que não sejam a de vocês, e este ato faz a vida

que há em (mim) ter todo o sentido que um dia mereci. Emily

dizia essas palavras com toda a força abundante em seu corpo, a

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força que repassava para o jovem casal que hoje selaria um amor

de tempos atrás.

Léo e Sônia Deram as mãos e Sonia começou repetir as palavras

com voz trêmula, e um justo nervosismo pela emoção que havia

em toda parte especialmente nos três ali presentes.

- Meu amor de hoje e sempre, meu amor de segundos atrás, meu

amor das incertezas dos segundos à frente, incertezas apenas dos

segundos à frente, não desses segundos do amor presente que

agora sinto. Meu amor eterno de puras certezas, o tempo não é

certo, mas o amor que sinto, certo ou não, neste segundo presente

é eterno. - Meu amor, sem medo digo hoje aqui, neste presente

que como presente me entrego a ti inteiramente para que cada

amanhã que tivermos além deste momento façamos por merecer

os (ontens) que já tivemos. Meu amor, não quero e não mereço

meus amanhãs seguintes se não estiver ao seu lado.

Estas palavras chegariam ao mais profundo sentimento que o

casal podia sentir.

Com os olhos firmes nos olhos de Sônia Léo deixava fluir as

palavras que muito antes havia escrito com o mais puro

sentimento que o tempo presente podia lhe proporcionar.

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- Meu amor, hoje... Hoje com esses segundos que vivo e em

nome dos segundos que já vivemos, vivo a maior honra do

homem, pois não há honra maior para um homem do que a

chance mesmo que imaginária de viver todos os seus amanhãs ao

lado de quem se ama. Desejo intensamente viver meus segundos

futuros ao teu lado hoje e sempre. Não desejo e não mereço nem

um ontem sem ti. Se houver algum ontem a partir de agora e que

não esteja ao meu lado, tenha certeza que o vivi e não mereci.

Meu amor, com essas palavras em honra a ti, esses segundos

passados que usei a dizê-las de certo que os mereci. Amo-te!

Sônia.

Nas mentes e nos corações de todos havia mais lágrimas que as

águas que balançavam no mar em leves ondas daquela manhã de

sol.

Emily selou o amor e a união dos dois, com as sábias palavras de

sempre:

- o que o amor uniu o tempo não separa, que seus segundo sejam

eternos.

Neste instante as lágrimas desceram dos olhos secos de Emily

como em uma cachoeira de vazão de todas as águas do universo.

Segundos depois sorrisos demorados, sorrisos merecidos aos

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recém casados. Nada além de felicidade poderia preencher todos

os espaços que havia ali. Naquela praia deserta não poderia haver

tantos espaços livres, eram precisos sorrisos, milhões deles, e os

mais largos e demorados sorrisos para preencher os vazios.

E começam a dançar o belo casal a musica que fora escolhida

anteriormente para aquele momento, uma dança romântica com

os braços sobre os ombros e olhos nos olhos, dançavam em suas

mentes, coladinhos como deveria ser até os fins de seus dias. A

mais justa dança que um casal podia dançar era representada

naquele momento lindo e romântico. Léo, ao final da dança com

o sorriso necessário levanta a moça de vestido branco e a eleva

as alturas, girando-a na mais pura felicidade, girando com todas

as cores do arco-íres. Girando-a tanto que todas as cores

resumiam-se apenas ao branco, branco da junção de todas elas,

branco da junção do amor, alegria e paz que sentiam.

Emily acorda para a realidade e diz: - que musica lenta, agora é

necessário uma musica agitada para combinar com a alegria

deste momento.

Vamos dançar “Macarena” e soltou a musica mudando

totalmente a trilha sonora daquele dia dos sonhos. Léo e Sônia

dançavam a coreografia aos gritos com a ilusão que sabiam a

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letra da música. Emile batia palmas fortes com toda força que

transbordava em suas mãos suaves, com a felicidade que podia

viver aquele momento.

Depois de tocar toda a música, de dançarem era hora de irem

para casa, já estavam a algum tempo ali, o sol forte não faria bem

para ninguém, Emily precisava tomar sua sopa matinal, e logo

começaria a encher de gente na praia para aproveitar o belo dia

de sol.

CAPITULO III

DEPOIS DA PRAIA

Já em casa depois daquele lindo casamento amador, Emily se

encontra sentada na velha cadeira de madeira. Pouco depois do

meio dia a vida se abriu para ela e o tempo se fechou. Finalmente

com os olhos fechados, olhos que muito viram, se foram às

necessidades, se foram os objetivos dos segundos presentes. O

tempo e o espaço já não importavam. Sua atitude física para seu

ultimo espetáculo havia acabado de concluir.

Sua mãe ao olhar para ela de olhos fechados, com aquela

corriqueira calmaria, com o canto da boca curvado como se

estivesse com um leve sorriso, pensa que Jamais a vira tão feliz.

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A vida ainda fluía em sua calmaria, porém alguns segundos se

passaram sem que ela nada fizesse, nem sequer um gesto. Sua

mãe esperou mais um pouco a distância, esperava que ela

esboçasse qualquer reação, qualquer ato físico ainda que

minúsculo, a vida passara em sua mente, não a sua a de Emily.

Ela sabia que o inevitável acabara de acontecer, porém ela queria

dar uma chance para a vida compreender e voltar atrás, de

refazer aquela injustiça. Ela havia esperado já tanto tempo, o que

seria mais alguns segundos? Era preciso esperar, talvez a única

espera boba de sua vida, no entanto precisava dar a ela aquela

chance, aquela fé, aquela vontade que ela se levantasse daquela

velha cadeira e corresse para os seus braços, com seus longos

cabelos castanhos a balançar com o vento. Ela precisava esperar

de longe, para adiar a dor. Tanto que Emily havia falado para não

adiar o inevitável para não intensificar a dor.

As lágrimas mais uma vez entraram em cena e elas continuariam

ali por longas horas. Então o grito, o grito e a fuga da realidade,

um grito que levaram sua mente em constantes giros rápidos até

as nuvens brancas do dia lindo de sol. Correu até a cadeira,

segurou Emily em seus braços já aceitando a realidade, porem

não podia exigir de si mesma a fuga da dor daquele momento. A

partir de então nada mais viu ou sentiu. Adormeceu, parou no

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tempo, parou na vida que Emily demonstrou pelo tempo que lhe

foi proporcionado.

Passou-se o dia, viu-se apenas sendo ajudada por Sonia a colocar

sua roupa colorida e se dirigirem para o fim que tolamente todos

achavam que aconteceria ao final daquela caminhada, porém

Emily já sabia que há tempos estaria à frente de todos. Mais era

inevitável os costumes, a honra dada aquela cerimônia que ela

aos poucos preparou nos seus mínimos detalhes. As vestes de sua

mãe apesar de colorida era a menos cheia de cor. Emily não

precisava que as cores das vestes de sua mãe chamasse a atenção

de todos naquele dia, e pediu que todos usassem roupas mais

coloridas que ela.

Léo vestiu seu terno no quarto ao lado, não era menos colorido

que o terno do coringa do Bátima. Emily havia brincado quando

o ajudara a escolher em uma loja de fantasias, Léo recordava e

sorria tentando manter a duras penas as lembranças boas em sua

mente, Porém não podia negar a sensação de alivio que fluía em

seu corpo. Sabia que Emily havia chegado ao seu ultimo

espetáculo atingido todos os objetivos que tinha idealizado. Os

objetivos que a vida como era lhe permitiu idealizar. Ele já havia

se preparado para aquele momento, quem mais teme o fim, mais

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se prepara para ele. Depois de prontos, todas aquelas cores

davam ao momento a leveza que Emily havia exigido.

Prontos e excessivamente coloridos todos se encaminhavam em

direção a ultima casa de boneca de Emily.

Capitulo IV

O ápice da dor

Dois dias antes do casamento na praia, Emily havia agido de

forma estranha. Em um ato que ninguém compreendera, e

mesmo assim compreensível para todos; como alguém tão

serena, tão calma até em meio ao caos havia perdido o controle

de forma tão violenta?

Emily havia destruído o seu quarto, quebrado todos os seus

objetos valiosos, todas as bonecas que havia guardado desde a

sua infância, dos quais tinha tanto apreço. Seus espelhos, suas

caixas de jóias, quadros, nada sobrara, nada escapou de sua fúria,

de seu justo descontentamento, porém incomum as suas atitudes

costumeiras. Sua serenidade teve que contê-la a força para não se

machucar em seu ato de derramar emoções tão humanas, de seu

caos acumulado ao decorrer de longos tempos passados. Até o

mais sereno dos homens acumula em seu coração emoções

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inerentes aos momentos de turbulência e caos e um dia essas

emoções precisam ser descarregadas.

Emily havia chorado, havia visto toda a injustiça da vida, havia

visto que merecer ou não merecer não é critério para que as

alegrias e as tristezas, as conquistas e as derrotas surjam na vida

de um ser humano. Ela havia quebrado, jorrado aos fragmentos

dos objetos e suas emoções e indignações. Emily estava cansada

de aceitar as formas perfeitas inexistentes para ela, ela havia

quebrado a vida imperfeita, quebrado as formas e as lembranças

perfeitas dos (ontens) que há tempos não merecia. Gritos de dor,

gritos de sofrimento, de agonia, gritos de qualquer sentimento

menos de esperança. Gritos que daria para ouvir nas estrelas com

suas formas imperfeitas.

Seu pai e sua mãe desesperados sobem as escadas a pressas e

com toda razão os gritos eram desesperadores.

Chegam frente à porta, os gritos só intensificam. O pai tenta

arrombar a porta, mas estava aberta. Dentro do quarto viram que

havia quebrado tudo, restava apenas sua mente forte como

sempre foi, restavam as lágrimas. Seu corpo no chão a segurar

sua ultima boneca inteira, seu vestido sujo de poeira dos vasos de

plantas e flores que a muito repugnava e que agora não estavam

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mais ali, Não em sua forma perfeita como humanos gostam de

ver.

- A perfeição aos olhos humanos mãe, são úteis para mim? Que

formas se encaixam a minha pessoa? Não há mais estereótipos,

formas perfeitas, que deformados criam em suas imperfeições.

Não fazem sentido, não para mim. Há uma formula perfeita para

mim mãe? Emily rasgava suas cordas vocais com a força que lhe

sobrara, força que obrigava o universo a si curvar a sua dor de

segundos presentes, dor que passaria necessariamente segundos a

frente.

Léo chegara à varanda da casa com as palhas verdes que serviam

perfeitamente para o semi arco do casamento. Era preciso conter

as lágrimas e a fraqueza justa a todos os homens, mas não a

Emily. Ela não queria que ele a naquele estado deprimente.

Precisava ser forte, ou pelo menos parecer ser. Não podia descer

não naquelas condições deprimentes, indignas e justas.

A mãe desce sozinha. Léo estranha:

- Cadê Emily, Não vai descer? Sua mãe responde ofegante com

um ar de preocupação que ela havia amanhecido indisposta,

estava no momento dormindo.

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Léo não estranhou. Ninguém estranharia, no entanto Léo ignorou

a mãe de Emily, subiu as escadas em disparada, entrou no quarto.

Tudo a sua volta que podia ser quebrado com a força física

humana, encontrava-se em pedaços, sabia ele, que a força da

mente podia ir além, podia quebrar muito além daqueles objetos

quebráveis e invisíveis, havia muito ali já quebrado há tempos

atrás.

Ele queria algo para quebrar também, ia a todas as direções sem

direções físicas e mentais, estava perturbado, precisava de algo

para quebrar urgentemente, para diminuir os danos. Para que não

se quebrasse a serenidade do passado, que naquele momento se

encontrava tão distante dos segundos presentes. Sequer sabia

onde colocar as mãos naquela perturbadora situação, não sabia se

as colocava na cabeça, ou na cintura, ou se si livrava delas de

uma vez. Quem poderia saber os objetivos das mãos naquele tão

incomum momento? -talvez um abraço! Pensou ele! Esse, talvez

seja o objetivo que deseja minhas mãos agora, porém havia

muito além em jogo. O que poderia representar um caloroso e

triste abraço naquele momento? Poderia trazer a dor tão temida

à tona? Dor que talvez sempre estivesse ali, apenas a

escondessem tolamente.

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Ele percorria os quatro cantos do quarto, Emily ainda sentada a

chorar, com sua ultima boneca inteira nas mãos. Via-se em suas

expressões o quanto ela gritava, no quase silêncio de poucos

soluços. Ela ignorava a presença de Léo, mas sabia que ele se

encontrava ali com as mesmas dores, com o mesmo desejo de

quebrar tudo. Léo não sabia como reagir diante daquela situação.

Situação tão perturbadora em outra situação um simples abraço

resolveria, mas naquela hora, um abraço talvez não fosse correto.

Tantas questões passavam em sua mente que no momento não

tinha condições de pensar racionalmente. - O que poderia ser

racional? As malditas formas dos imperfeitos reinando a mente

de um imperfeito que naquele instante precisava agir

corretamente.

Léo não sabia como agir!

Os malditos muros que nós humanos construímos. Maldita

habilidade que temos de construirmos muros onde eles não são

necessários, muros que apenas separam a água da plantação,

malditos muros que impedem as flores de florescerem!

Devíamos construí-los apenas para represar a água até as

plantações, onde a fertilidade da vida simples pudesse nunca ser

impedida de florescer livremente.

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Naquele momento nada além de um abraço, abraço talvez não

plausível! Porém era o que ele queria fazer, precisava fazer,

precisava abraçá-la, ele queria abraçá-la e gritar com ela.

Abraçou Emily com a força que lhe restava, e gritou:

- Aaaah! – ááááh! Nada além de gritos que nada diziam podia ser

dito. Gritavam! Quebravam as injustiças da vida juntos. Léo há

muito tempo queria quebrar tudo a sua volta. Jamais tinha

conseguido! Emily mais uma vez mesmo demonstrando

fraqueza, demonstrava ser mais forte que todos. Ser forte e calma

perante o caos. Não podia haver momento de mais serenidade e

sinceridade do que aquele. Eles estavam exalando com a calma

possível em meio ao caos todos os sentimentos acumulados no

passado.

Havia a necessidade dos gritos, e gritaram por alguns minutos

em silencio! Talvez o universo os ouvisse, era preciso o mais

rígido silencio para atingir as ondas sonoras para alcançar o

universo de suas vidas. Quanto mais o tempo passava mais

gritavam ao chão. Abraçados, com toda dor que mereciam sentir,

dor que precisavam sentir!

Emily depois de alguns minutos apenas gritando em silencio

disse:

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- Era preciso que tudo físico ligado a minha existência física

fosse quebrado. Destruído! Ninguém precisa sentir a minha

presença em algo tão palpável. Eu não estarei aqui com esses

objetos. Não precisam desta ilusão. Ninguém precisa.

- Me ajude a levar todos esses destroços para o lixo! Léo não

compreendia como alguém podia ser tão sereno em um momento

tão perturbador. Ele sem forças, apenas concordou com um gesto

qualquer de confirmação! Léo beijava o lenço quente em sua

cabeça, lenços castanhos e lisos com o cheiro de sempre.

Deslizava a mão direita em seus longos e lisos cabelos castanhos

de outrora, eles estavam ali em suas mãos vivos como nunca.

Assim era seu desejo!

Emily demonstrou interesse em se levantar daquela dor. Era

preciso voltar para a realidade. Levantaram-se e começaram a

juntar os destroços que os dois aos gritos quebraram. A Terra

molhada das plantas que nunca mereceram estar ali, ela teria

maior gosto em se livrar delas, por razões simples aquelas

plantas a repugnavam.

Depois de Léo juntar os últimos estilhaços, Emily ainda segurava

sua ultima boneca, ninguém perguntou por que ela havia salvado

aquela boneca simples. Ela mesma talvez não soubesse, No

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entanto aquela boneca que com certeza não dava para quebrar

por ser de um material inquebrável, voltou ao seu lugar habitual.

Se fosse possível, com certeza ela a quebraria também.

Depois de todos os cacos em sacos plásticos, Emily começou

falar dos planos para o dia seguinte, apenas para fugir da dor do

momento passado;

-E o casamento na praia amanhã? Como está indo os

preparativos?

- Estão indo como planejado! Disse Léo com uma segurança que

de certo não era sua, era a segurança que Emily agora já deixava

transparecer como sempre.

- Cuide para que tudo ocorra como planejado! Sonia merece e

você também! Emily falava confortadamente como se nada

tivesse acontecido. Já preparamos os nossos vestidos e sua roupa.

Tem que ser exatamente como planejamos. Nada pode dar

errado! Dizia Emily já com o sorriso costumeiro, da maneira

como podia transparecer alegria.

A capacidade inerente que os humanos possuem de fingir e

esquecer acontecimentos recentes reinava naquele momento!

Eram cômodas suas atitudes! E já muito tinham desaguado parte

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de suas emoções guardada a duras penas ao longo de tempos

passados.

Emily ainda limpava resquícios das ultimas lágrimas físicas que

haviam secado em seu rosto, e fingia que nada acontecera. Leo

seguia apenas os passos da personagem que iniciara aquele tão

desafiante momento para ele. Porém suas lágrimas ainda corriam

na pele de seu coração, as mais doloridas que poderiam

escorregar no coração de um homem, no entanto era preciso

secá-las, nem que fosse com a mesma dor que iniciaram, Emily

não as mereciam, ele menos ainda.

Léo precisava ir para a praia preparar o local para seu casamento

não oficial que representaria para os três a vida, o real laço de um

casal apaixonado.

Dirigiu-se até praia, Enquanto preparava o arco sentado na areia

fria e branca, ele imaginava na vida, nos momentos, o quanto a

reviravolta na vida independe de tudo para que aconteçam.

CAPITULO V

A vida segue

A vida continua para uns mesmo quando termina para outros. O

casal agora podia morar sozinhos em sua casa recém reformada,

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fruto de seus trabalhos. Era para onde se dirigiam no momento,

para o seu aconchego, caminhavam, corriam na chuva que agora

já diminuía. Apenas uma leve garoa respingava nos telhados e

calçadas da simpática rua que moravam. Flutuavam em direção a

sua casa ouvindo o som dos respingos típicos de finais de chuva.

Acalmava até o mais turbulento dos corações, caminhavam e

cantavam “macarena” ainda com a ilusão que conheciam a letra,

a felicidade visivelmente transbordava os dois.

Já em casa, Léo cansado e livre das roupas molhadas, se

preparava para dormir, o dia havia sido longo e árduo, estava

exausto, sensação que não era diferente em Sônia. Não só por

aquele dia, os dias anteriores também haviam sido cheios de

acontecimentos de tirar à calma e serenidade de qualquer um.

Léo e Sônia acordaram com o vento litorâneo e raios de luz no

dia seguinte, que balançavam as cortinas brancas e quase

transparentes da janela, efeito causado pelos raios de sol que a

atravessavam:

- O dia realmente está radiante, disse Sonia, com a felicidade que

entrava na casa dos dois pela janela. Certos que não precisavam

de felicidade exterior. Para eles, toda felicidade que

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necessitavam estavam dentro deles próprios, nas sensações que

já acumularam e, nas que irão lutar para conseguir a cada novo

segundo.

Sônia com um leve sorriso e tocando as bochechas rosadas de

Léo disse: dormimos com a janela aberta, podíamos ter

contraídos um resfriado. Beijou Léo, respirou fundo e disse:

- preciso fazer o nosso café!

– Vá meu amor! Disse Léo querendo apenas apreciar a sua

adorável esposa nos afazeres rotineiros de uma casa de família.

Havia em Léo a felicidade que merecia pelo ontem passado, e os

amanhãs futuros ao lado de Sônia.

Para ele nada faltava, assim como tinha que ser, assim como a

vida exigia, mesmo que injustamente. Porém a vida, a realidade

não trabalha com um censo de justiça que conhecemos. Talvez a

justiça sejamos nós que devemos construir. Todo homem deve

compreender a autonomia que possui para fazer a justiça em

relação a sua própria vida.

Lembrou de Emily e sentiu o vazio que mesmo não querendo

sentir, mesmo sabendo que não era o que Emily desejava não

podia evitá-lo. Sentiu aquele calafrio quando se pensa que

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alguém ou algo não volta mais, porém se conteve na medida do

possível.

CAPITULO V

Um dia antes do casamento: o coração violeta

Emily no dia anterior havia agido com tanta serenidade quanto

lhe era possível e comum as suas atitudes. Definitivamente a

vida dar reviravoltas sem perguntar a ninguém se é hora ou lugar

apropriado para acontecer.

Emily como sempre, chegou ao lado de Léo e Sonia que se

encontrava no quintal, com os retalhos de renda necessários para

seus vestidos. Aquela velha cabana de madeira no quintal de

Emily havia servido de palco para vários espetáculos da vida,

simples como ela é. Uma cabana octogonal com uma velha

pintura branca, um banco suspenso por correntes, uma cadeira de

balanço de madeira também branca.

Emily sentou-se e começou a impulsionar o velho banco com

seus pés fortes, na medida em que conseguiam ser. E começou

um lento balanço. Trazia nas mãos um molde de madeira, com

linhas perfeitas na forma de um coração. Léo estranhou aquele

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molde e perguntou, com suavidade na voz que aprendeu a usar

desde que conheceu Emily:

- O que é isso na sua mão? Não me diga que é um porta retrato

em forma de coração? Brincou Léo com o bom humor de quase

sempre.

- De certa forma talvez seja! Disse Emily: Aqui merecidamente

irá ficar minha foto, a melhor, de lembrança!

–Vamos Léo! Pegue cimento e um pouco de terra vamos

precisar para colocar minha foto neste molde!

-Vá até a garagem lá tem cimento suficiente. Disse Emily

demonstrando saber o que estava fazendo.

Léo sem pensar foi até a garagem e apanhou todo cimento que

restava ali, e um pouco de areia.

–Prepare a massa! Disse Emily com um tom autoritário e forte

que Léo jamais havia visto em suas atitudes. Ela parecia querer

demonstrar uma personalidade naquele momento que com

certeza não era de sua índole.

Léo não sabia para que serviria aquele molde ou a peça que dele

sairia. Ele estranhou o tom forte de Emily, no entanto nunca

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imaginou que o coração que iriam construir naquele momento

serviria de monumento do ultimo ato de seu espetáculo.

Léo começou a preparar a massa assoviando demonstrando a

calmaria de sua mente naquele instante presente. Enquanto Sônia

costurava seu vestido na supervisão de Emily que no calmo

balanço do velho banco a vislumbrar a sua volta a altura da sua

linha do horizonte, o mundo. Uma leve brisa de verão fazia com

que as flores do pequeno jardim dançassem à vontade da

natureza. Aquelas flores sim representavam beleza para Emily, o

brilho do sol as erva rasteiras, algumas verdes outras já secas

devido ao sol forte de sempre, o céu azul, o calor que ela

conseguia sentir na sua pele sedosa da forma como lhe era

possível. Emily podia passar horas a vislumbrar aquela cena.

Olhar a natureza em seus leves movimentos dava a ela a idéia

que o tempo parava. Não havia ontem, amanhã, não havia tempo,

não precisava de tempo.

– Ah a necessidade do tempo! Para que essa necessidade? Agora

devia ser sempre eternidade! Pensava ela em sua mente forte,

forte como continuamente foi.

Depois de terminar a massa, Léo enxugou o suor da testa, fitou

o sol, vislumbrou Sonia, até o olhar chegar a Emily, ele parou e

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ficou olhando por alguns segundos: Emily olhava para o

horizonte com sua calmaria costumeira, ele realmente admirava

aquela tranqüilidade, sua serenidade, sua vida. O tempo não a

havia abalado, muito pelo o contrário havia deixado-a serena e

mais bela da forma como sua mente podia transparecer.

Léo gritou:

- Está pronta a massa!

- Preencha o molde! Disse Emily com a estranha firmeza que

podia representar aquele momento.

Léo foi até ela, pegou o molde, o colocou na lisa madeira do piso

da cabana e preencheu com massa de cimento.

– Deixe bem liso e uniforme! Disse Emily. Ela queria a forma

perfeita da forma como as suas imperfeições podiam criar. Ela

não precisava da perfeição, muito menos os que iriam ficar em

plena respiração e metabolismo biológico, porem exigiriam a

perfeição da forma como conhecem! Os humanos exigem a

perfeição que nem de longe possuem em suas vidas ou na vida a

sua volta.

Emily levantou depois firme e forte, como podia, e disse escreva

com essas formas de letras a frase Léo.

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Léo perguntou:

- que frase?

Emily ficou em silencio, um maldito silencio necessário, repetia

há tempos a palavra esquecimento. Ela havia conseguido vários

objetivos com aquela pergunta de Léo. No entanto as dúvidas, as

malditas dúvidas não necessárias reinavam a sua cabeça. - Elas

acabariam e já! Repetia Emily sem cansar em sua mente essa

frase! E as dúvidas se foram. De acordo com a necessidade.

Repetiu Léo:

- Que frase? Desta vez sim! Emily havia interpretado aquela

pergunta com a racionalidade que lhe restava.

“O tempo de minha vida não determina a intensidade dela.”

Léo parou, ficou em silencio, o tempo voltou em sua mente.

Alguns segundos se passaram, Léo retorna do seu transe e

começa a afogar as letras na massa ainda flexível, para formar a

frase reproduzida por Emily.

Sonia continuava concentrada a costurar manualmente o seu belo

vestido branco.

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Ao terminar a frase e usar quase todo o espaço daquele coração

de cimento. Emile levanta e com os dedos começa a desenhar o

seu nome nele. Sabia que aquele coração logo se petrificaria,

ficaria imaleável aponto de não poder influenciar mais nada em

sua estrutura, porém essa era uma característica justa e necessária

aquela escultura, que já tinha em sua forma muito de seu molde

original. Ela pouco podia modificá-lo a ponto de manter a

perfeição necessária a todas as esculturas, a menos que o

destruísse quando ainda estava mole. Talvez fosse racional

aquele ato, destruir aquele coração seria o correto a si fazer, para

que ele fosse deformado como o seu, que já não era possível de

concertar. Mais a justiça interior não representa a justiça que

podemos transparecer ao mundo, justiça criada com as formas

perfeitas idealizadas por quem se beneficiam delas.

O tempo passou Sônia já havia acabado de costurar as rendas

exigidas em seu vestido. Pediu o vestido de Emily para fazer o

mesmo, porém ela interveio dizendo que não era necessário, seu

vestido haveria de ficar na sua forma original. Para que algo em

sua superfície fosse da forma como era antes. Como ela havia

imaginado. Ela queria poder olhar para si e se enxergar na forma

perfeita de antes. Com a forma que a vida a criou nas suas

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imperfeições. – Em minha mente sou livre! Dizia ela, não a fitar

o vestido, mas olhando o céu como sempre fazia.

- Agora é esperar secar o belo coração para dar a cor necessária a

ele. As cores das esculturas que são predeterminadas pelas regras

dos que não compreendem as cores. Pensou Emily. Ela não

gostava dos padrões da vida que determina até as cores de tudo.

- por que os corações têm que serem vermelhos? Dizia ela

sempre! Queria que os corações fossem verdes, ou azuis. Por que

ela não podia mudar a forma de algo que normalmente é de uma

forma comum para algo mais interessante? Ou mudar a cor de

algo que a vida predeterminou que seria branco ou cinza pra

outra cor? Ela definitivamente queria que aquele coração fosse

de outra cor! Não queria que ele fosse cinza como seu objetivo

real, nem vermelho como seu objetivo secundário.

Ela queria que fosse de outra cor, mais queria que fosse de uma

cor neutra no mundo dos vivos, roxo, lilás para ser uma cor mais

forte.

Pediu a Léo que depois que o coração secasse o pintasse de

violeta. O violeta, com exceção das flores, não representava além

nenhuma forma determinada. Lilás devia ser a cor a ser usada.

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- O “purple” da vida sem formas. - Quando essa escultura

chegar ao seu real objetivo, já não me importarei com as formas

perfeitas. Já não terei mais necessidade delas. Dizia a Léo às

palavras que serviram para compreender o que na verdade

estavam construindo com aquela forma de coração.

Ele parou, olhou para Emily. E colocou para fora o que desejava

há tempos:

- Sabe Emily! Cansei dessa sua vida mórbida. Dessa sua mania

de preparar o fim. Por que não prepara a vida? A vida está ai,

você está respirando! Sabe! Eu não queria ter pena de você,

mais você não está me dando muitas escolhas. Suas atitudes são

dignas unicamente de pena. Não me peça para não senti-la, por

que creio que não tenho muitas opções. Há tanta vida em você,

posso ver em seu olhar, em seus gestos involuntários, mais essa

vida não reflete em suas atitudes voluntárias. Você não pode

exigir que alguém viva se você mesmo não acredita na sua vida.

Você não pode passar uma verdade do qual você mesmo não

acredita.

- Por favor! Eu preciso da vida em você, quase sempre precisei.

Emily não perdeu a calma nem a serenidade nem diante de tão

duras palavras.

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- Léo, não pense que minhas esperanças algum dia se foram, no

entanto eu preciso de motivos para viver. Todos nós precisamos!

Eu encontrei os meus motivos em vocês. Não tire de mim essa

vida. Vocês não têm esse direito! Dizia Emily essas palavras em

fim olhando nos olhos de Léo.

- Eu não posso ignorar a realidade, a minha vida está muito além

de minha realidade. Ela será continuada na felicidade de vocês.

Não me neguem isso!

A vida é tão simples. Emily queria acreditar que seu fim

representaria dois inícios e de certa forma conseguiu.

Encontravam-se, naquela cabana em um belo dia de sol, a

discutir um assunto não tão belo. Emily sabia de suas condições,

no entanto a esperança de viver para sempre jamais saíra de sua

mente. A vida humana tem suas artimanhas de sobrevivência, a

vida de quem vive é sempre eterna.

– agora é sempre eternidade. Dizia Emily mais uma vez a

vislumbrar as nuvens que corriam as pressas em direção ao seu

fim, que seria a chuva, fim esse que representa milhares de

inícios. Em todos os sentidos, seu fim representava a

sobrevivência de várias vidas, vida que nem mesmo ela possuía.

Nada podia representar mais saldo positivo que nas equações das

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gotículas de águas que se juntam e formam chuva. Como se já

não fosse suficiente, tempos depois essas gotículas voltam ao seu

ciclo, e jamais se desfaz por completo. – como eu queria ser

como as nuvens de chuva; Encher-me ao máximo de mim, e se

só então desaguar minha existência a todos os meus objetivos, e

depois voltar ao meu mínimo e recomeçar preencher-me de todos

os sentidos para novamente desaguar. Sairia de mim apenas o

máximo, andaria sempre entre as estrelas e jamais cairia nos

meus mínimos que de muito não me servem.

- Como seria bom se todos os humanos resguardassem as suas

gotículas de vida até possuir força suficiente para fazer a

diferença, no entanto a natureza do ser humano ambiciosa não

possui o talento das nuvens. Como exigir dos homens os talentos

das nuvens? Devíamos ser como as estrelas, elas brilham tanto

que mesmo depois que morrem a sua luz viaja no espaço por um

longo período de tempo. E ainda continuamos vendo-as como se

estivessem vivas. Como exigir dos homens as capacidades das

estrelas? Devia ser simples, já que viemos da mesma natureza.

Mais não!

- Digo a vocês aqui hoje Léo e Sonia que se não for luz que

deixarei brilhando na mente das pessoas, desejo que de mim

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esqueçam, esqueçam como mereço ser esquecida já que nada

brilhei.

Léo ouvia estático, sabia que Emily já muito havia feito por ele.

Ninguém em sua vida havia brilhado mais que ela.

Disse Léo: - saiba Emily, que nem um milhão de anos seu brilho

cessará em minha mente. - Desculpe por ter agido assim. Sei que

não merecia!

- Há sentido mais em mim que em vocês; brincou Emily.

Ele sorriu e começou chover, a chuva se iniciou devido o desejo

de Léo que naquele momento chovesse, ele queria demonstrar a

serenidade que Emily refletia, no entanto não conseguia, os

ventos da mais triste chuva o açoitavam com as finas cordas da

realidade. E doía, doía como devia doer, doía na intensidade que

merecia sentir. Era uma dor justa. Léo a escondia, mas ela estava

lá, negá-la não a diminuiria, no entanto a dor é transferível e

ninguém além dele merecia senti-la, e a resguardou. Um dia

aquelas dores haveriam de ganhar peso para cair assim como

aquela leve chuva que caia em sua mente que mais tarde se

transformaria em tempestade e ele teria que deixá-la fluir. Nem

que essa tempestade destruísse tudo a sua volta.

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Aquela chuva devia ficar apenas em sua mente, não desejaria que

aquelas gotículas egoístas molhasse a escultura de Emily.

Comprometeria a sua forma perfeita. O dia se passou no piscar

de olhos, a vida ali fluía em conjunto com a dor talvez nem tão

egoísta de Léo.

Léo voltou para sua residência. Sonia também! Emily ficou na

sua solidão inspiradora e costumeira. Definitivamente Emily

gostava da solidão, sozinha podia ser ela mesma, não sofria

influencia do mundo animado a sua volta, e encontrava a sua

plena felicidade. A felicidade que apenas ela podia arrancar dos

recônditos de sua mente, essa felicidade por um tempo conseguiu

se camuflar em dores e injustiças, mas ela já sabia onde se

escondia e sempre que necessitava a encontrava com facilidade.

Ela havia encontrado esta felicidade no alto, nas nuvens onde o

homem não consegue ir sozinho, no entanto, eram poucas as

vezes que Emily saia de lá.

CAPITULO VI

O que é felicidade

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Léo levanta escora na parede pintada de verde limão de sua

casa, a parede tinha o cheiro frio de tinta fresca, ficou lá

observando sua linda esposa cuidando dos afazeres domésticos.

Nada podia arrancar aquela felicidade dele.

A vida comum de um lar comum. Sônia de camiseta e meia,

linda, com suas poucas sardas abaixo dos olhos castanhos claros

e grandes, que combinava perfeitamente com seus cabelos

castanhos que ao sol parecia laranja. Léo observava e sonhava,

fazia planos. A descrição de forma perfeita de felicidade podia

ser descrita para Léo naquele instante. Por um longo tempo Léo

viveu sem ter sequer sonhos. A pior decadência de um homem

pode ser descrita quando ele perde a capacidade de sonhar.

Agora Ele podia sentir já a felicidade futura, que de certo não era

menor que a felicidade que sentia naquele momento. Como

sempre dizia Emily:

“A felicidade perfeita é a felicidade sentida agora.”

Emily tinha uma teoria que a felicidade nunca devia ser pautada

em momentos passados. Agora podia perfeitamente ser pautada

nos momentos futuros, antecipar a felicidade.

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- É algo vantajoso anteciparmos a felicidade. Já que antecipamos

a dor, por que não também a felicidade? Dizia Emily sempre que

tinha oportunidade.

Sônia compartilhava os mesmos sentimentos de Léo Já que a

felicidade ali se baseava na reciprocidade, a felicidade

multiplicada por dois.

- sabe Sonia, disse Léo levando a xícara do café horrível que

Sonia havia feito. Em tudo, novelas, filmes, livros, o sofrimento

é descrito em mais de noventa por cento do enredo da história. É

como se a felicidade para os humanos não fosse interessante de

ser lida ou vista. Lutamos a vida inteira para sermos felizes, no

entanto se tivesse um livro que descrevesse só a felicidade talvez

não fosse interessante.

- Léo, os humanos gostam de ver superação, gostam de ver o

sofrimento que passam na vida, si vêem dentro da história,

quando o personagem vence em um romance eles se realizam. E

sentem a felicidade que os personagens sentem. Quanto mais

árdua a batalha, mais se valoriza a conquista.

- Eu sei! Mais você não acha que a felicidade já que é o ápice da

história devia ocupar uma parte maior no enredo?

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- A felicidade possui um padrão, todos a conhecem. Não precisa

ser descrita. Respondia Sonia a sorrir com as caretas que Léo

fazia ao tentar tomar o café gosto de qualquer coisa menos de

café.

- Se todos a conhecemos por que é que não a conquistamos com

tanta facilidade?

- Pergunta retórica. Meu caro!

- Sabe, por que a felicidade não ocupa uma parte maior nas

histórias? Por que a felicidade para sempre se for descrita um

pouco além, em pouco tempo já encontra as adversidades. A

felicidade eterna não existe. Neste momento Sonia prova com a

expressão feliz o café feito com suas próprias mãos de fadas.

Expressão que não durou muito, logo cuspiu o horrível liquido

que levara a boca;

- Meu Deus Léo, como você consegue tomar esse café? Parece

que eu coloquei sal no lugar de açúcar.

Léo brinca: - é o preço da felicidade, minha vida!

- Não é um preço alto demais? Indaga Sônia ao tentar tirar aquele

gosto horrível da boca.

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- Se esse ato se repetir sempre com certeza vai ser. Léo sorrir e

em um ato sorrateiro agarra Sonia e a beija;

- Vamos tomar café na lanchonete.

- Desculpa, dizia Sonia desapontada.

-Não se preocupe. É um erro muito comum. Eu te amo!

Independente do sabor do seu café. Brincou Léo com o velho

bom humor de sempre. - Acho que vou escrever um livro

descrevendo a partir da felicidade para sempre das histórias.

Dando ênfase a felicidade. O que você acha Sônia?

- Apoio você em qualquer projeto. Meu amor! Dizia Emile

enquanto sem querer lambia a colher salgada do café frustrado

que acabara de fazer. A doce ilusão com o salgado gosto da

decepção e uma careta horrível após reprovar o gosto de seu feito

comum e memorável.

- Vamos para a lanchonete, antes que eu salgue nossa vida.

Dizia Sônia indo em direção ao quarto para se trocar.

Saíram de casa, em direção a lanchonete. No caminho não ao a

acaso encontraram a garota que para eles representavam uma

importante figura em suas vidas. A distância não era algo comum

em cidades médias, tudo era próximo, não que fosse exatamente

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próximo apenas os meios de transportes permitia uma locomoção

rápida a toda parte.

Léo não planejou uma viagem de lua de mel, já havia viajado há

pouco tempo atrás, e não queria se distanciar de seu novo e

primeiro trabalho que o gratificava tanto com a alegria de ajudar

e disseminar a felicidade as pessoas.

CAPITULO VII

Sala da tentativa de justiça

Vários dias antes da construção do belo coração violeta que

lhe servira como muitas lições de vida; Apenas várias visitas

rotineiras a liga do jaleco sem cores. Eram todos super heróis

sempre testando novos super poderes em Emily que de certa

forma mantinha também o seu super poder. O super poder de

convivência comum com os demais, e o maior de todos os

poderes, os sorrisos; sorrisos que refletiam a vida que a falta de

cores na sala da tentativa de justiça não refletia.

Emily não gostava da falta de cores, deixavam sua boca cada vez

mais sem saliva. Dizia ela que queria sempre na sua vida as

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cores, cores que refletiam a beleza da vida como o carnaval com

suas fantasias coloridas.

Em uma dessas visitas, uma das poucas que Léo ainda a

acompanhou, nos corredores da sala da tentativa de justiça, como

piloto conduzindo a nave que Emily era obrigada a usar naqueles

blocos sem cores e sua mãe a carregar um equipamento qualquer;

observando a falta de cores, vistas apenas algumas poucas flores

já sem vidas em vasos de vidros com água suja dizia:

- Um dia quero ir á uma festa de carnaval com tudo que tenho

direito; fantasias coloridas, óculos em forma de estrelas, muitas

serpentinas, confetes e músicas divertidas e dançantes. As cores

me fascinam!

Léo olhava para os lados observando a mesmice das dores mais

heterogenias que havia em toda parte, concordava e fazia uma de

suas ultimas promessas a Emily:

- Vamos preparar uma festa de carnaval pra gente com todas as

fantasias e cores possíveis.

- Acho que precisamos de um pouco de diversão carnavalesca.

A mãe de Emily concordava com a animação que conseguia

transmitir naquele momento.

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Emily queria uma festa de carnaval. Todos haviam lhe feito uma

promessa sem pretensões reais de cumprir pelo menos não antes

da época do carnaval.

As circunstâncias, no entanto obrigaram em honra a se próprios a

cumprir.

As viagens a sala de tentativa de justiça sempre eram cansativa

para Emily. Sempre que voltava tinha pouca chance de se

alimentar com as cores que lhe faltava. Dormia assim que

chegava, e é tão raro sonhos com cores vivas. Eles normalmente

são experiências opacas: - Os sonhos coloridos deviam ser mais

valorizados. Emily dizia estas palavras com a felicidade que

havia internamente em sua mente.

A liga do jaleco sem cor sempre fazia de tudo para tornar cada

fez mais forte os super poderes de Emily, no entanto nas horas

seguintes dos procedimentos ela ficava definitivamente pior.

Efeitos colaterais, os homens se orgulham e admiram as formas

perfeitas, e, no entanto, ainda não criaram uma máquina perfeita,

uma que não libere calor ou converta completamente a energia

em trabalho. Os malditos efeitos colaterais da vida.

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A vida para ser justa com Emily precisava dos efeitos

colaterais, da tão famigerada causa e conseqüência, ação e

reação. Emily por um curto período gastou tempo martelando

essas idéias em sua cabeça, mas ela não identificava as suas

ações que lhe propiciaram aquela reação. O porquê de a vida lhe

tirar o sentimento de imortalidade inerente a todo humano

comum. O porquê daquele tempo, que mesmo incerto, a vida lhe

privou. Depois de nada encontrar descobriu que não adianta

tentar encontrar justiça na vida com suas imperfeições. Elas

definitivamente não existem. Então passou a tentar encontrar

novos motivos para voltar a sentir a sensação de ser imortal dos

humanos tão comuns quanto ela.

O tempo livre de Emily tinha relativamente aumentado, ela não

podia fazer muito, então tinha tempo para analisar a vida, e

entender o instrumento principal para a luta diante das

adversidades, a sua mente. Na verdade quanto mais rápido se

pensa menos o tempo passa, o tempo é relativo, como dizem. A

sua mente havia se expandido, o tempo e as privações lhe

propiciaram essa reação.

Léo fita pelo retrovisor os olhos caídos e ainda assim fortes de

Emily, agora fora da sala de tentativa de justiça, daquela falta de

cores, já dentro de seu carro. Ambos voltam para a correria na

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rua engarrafada, bem comum a sua cidade natal, que tanto lhes

acolhera quando o seguimento da sociedade que devia acolhê-los

falhou nesta missão tão simples. A vida lhe passara pela mente,

mais uma vez, a maldita tristeza ensaiou cair, evidenciada por

suas mãos tremulas ao volante que firmemente segurava para não

perder o controle do carro, ou da sua vida. Não seria o momento

adequado, mas ele já não suportava tanto sentimento guardado

em sua mente e coração.

Ele começa a lutar com a mesma força física e mental que

apertava o volante do carro, e começa a pensar em Sônia, não

que Sônia significasse a sua fuga das responsabilidades ou da dor

que aquelas circunstancias o faziam sentir com relação a Emily.

Sonia era seu porto seguro e Emily com certeza aprovaria aquela

tentativa de driblar a dor.

Léo, já não tinha muito tempo para dedicar a Emily, havia na sua

vida outro alguém muito especial, e Emily fazia questão que ele

se dedicasse ao máximo ao amor que sentia por Sonia. Havia

apenas algumas atividades que realizavam juntos, como quando

resolveram pessoalmente decorar a biblioteca que tanto lhes dava

orgulho.

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CAPITULO. VIII

Os biscoitos em forma de bichos

Léo e Sonia começavam a sua vida a dois, dividindo o mesmo

teto, compreendendo as particularidades, entendendo que a vida

a dois não é tornar uma só vida, e sim duas vidas que aprendem a

conviver pacificamente.

A sua vida simples, a felicidade como dizem é muito clichê.

Sonia trabalhava com Léo na biblioteca que conseguiram

montar na cidade com ajuda de Emily, que agora já tinha um

numero de livros razoáveis. Biblioteca que a essa altura

funcionava como terapia para aplacar a dor que vez ou outra a

lembrança de Emily trazia. A terapia da convivência com os

sorrisos de crianças e jovens que gostavam de se aventurar em

viagens nas costas de um livro, e conhecer novos mundos.

Todos os dias eles faziam questão de abrir a biblioteca cedo,

para não proporcionar a decepção aos visitantes assíduos. Como

uma garota em especial. Tinha nove anos, mas odiava ser

chamada de garotinha, todos os dias ia a biblioteca para ler um

livro ou para simplesmente conversar com Léo e Sonia. Sempre

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comendo seus biscoitos em forma de bichos. Dizia ela que não

era o gosto do biscoito, era aquela curiosidade de saber qual

animal iria pegar depois. O mistério e a expectativa era o segredo

da empresa que fabricam os biscoitos.

Léo passou a gostar dos biscoitinhos. Comprovou que a diversão

em desvendar os animais independia da idade - biscoitos com

forma de animais são sempre divertidos. Dizia ele.

Roberta era como ela se chamava; um nome forte que não

combina muito com criança, no entanto todas as “Robertas”

adultas um dia já foram crianças. Ela sempre dizia que odiava

diminutivos, gostaria de ser chamada por seu primeiro Nome e

completo. Apesar da pouca idade já tinha personalidade forte,

assim como seu nome.

Roberta era uma das crianças que ajudou a carregar a faixa no

ultimo espetáculo de Emily, talvez ela tenha sido uma das

pessoas que mais a compreendeu durante a parte mais intensa da

sua vida.

Elas sempre conversavam, e dessas conversas sempre havia

muitos risos e gargalhadas que não necessitavam de sentido.

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Léo adorava conversar com a garota de personalidade forte, e

de assuntos sempre interessantes. Era incrível o vinculo afetivo

que tinha criado com Roberta. Os humanos criam vínculos

afetivos com lugares, músicas, pessoas ou qualquer coisa que

tem algum tipo de relação com quem amam. Léo adorava a

presença de Roberta, Conversavam muito. Ela de alguma forma

lembrava Emily, não por sua personalidade, mas por passarem

tanto tempo juntas e gostar tanto uma da outra que partes de uma

já se encontrava na outra. Em Roberta havia uma parte de Emily,

por isso além de gratificante era reconfortante para Léo a

presença dela, era como estar novamente com Emily.

Ela sempre lia livros infantis para Léo quando tinham tempo. A

vida estava definitivamente maravilhosa para todos, da forma

que sempre desejou Emily.

Roberta não surgira na vida de Léo ao acaso, ela sempre se

encontrava no hospital quando ele levava Emily para as suas

seções.

CAPÍTULO VX

A biblioteca

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Alguns dias anteriores. Estavam todos felizes e empolgados com

a decoração final daquele recinto que seria a biblioteca solidária,

idéia de Léo que pode se confirmar na empolgação de Emily

Sonia e Roberta. As partes grosseiras da decoração já haviam

sido concretizadas por alguns funcionários idôneos, restava agora

apenas à decoração nos seus detalhes mínimos, Roberta

carregava um vaso e colocava em qualquer lugar propicio e

adequado seguindo as orientações de Emily e Sonia que havia se

demonstrado decoradoras de uma elegância louvável. Léo

carregava e desenrolava um tapete com a imagem magnífica do

pequeno príncipe em seu minúsculo mundo, tapete que se

encaixou perfeitamente na entrada do imóvel que sempre esteve

lá próximo a sala de tentativa de justiça, do qual Léo jamais tinha

se interessado em usá-lo pra alguma coisa. Pensou em algumas

vezes fazer com que Emily se mudasse para lá, na intenção de

ajudar, deixando ela mais próximo daquele local que necessitava

sem muito gosto retornar sempre. No entanto a ideia não vingou.

Emily não queria sair de sua rotina, nada que pudesse influenciar

as suas atividades corriqueiras e que a impedisse mesmo que

ilusoriamente de ser alguém tão normal como os demais, a

deixavam empolgada e inclinada a aceitar.

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Um quadro era posto ali, uma arrumação de uns livros aqui.

Todos se empenhavam com todo gosto para deixar aquele local

agradável aos olhos. E como queria a alma dos que necessitam

de felicidade.

Emily sobe em uma pequena escada, e inicia a arrumar alguns

livros de uma coleção bem antiga que achara na casa de Léo. Ela

passa a enfileirar aqueles livros de capas marrons e folhas

amareladas e com cheiro de mofo. Ao tocar um de titulo dourado

passou a refletir. Como ela queria ser um livro de letras

douradas, sem um visual impactante e capa de cor quase

vermelha. Apenas com um titulo bem elaborado para aguçar a

curiosidade dos leitores mais atentos. Um livro de conteúdo

complexo, mas de fácil compreensão, facilmente camuflado

dentre tantos outros. Um livro de capa grossa e folhas

amareladas de tanto lida na estante de qualquer leitor que

compreende a vida um pouco além de sua superficialidade. Sorte

daquele que notar-me em meio há tantos superficialmente iguais

a mim, e ter a curiosidade e oportunidade de folhear-me com a

minuciosidade necessária para fazer analogias com a vida.

Somente estes, serão dignos de minhas palavras. Ou posso ser

apenas um livro nunca lido em meio à poeira que cega os

homens, ainda sim, ser um livro. Quem haveria no universo de

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tirar isto de mim? Os livros são eternos bem diferentes de

muitos humanos que são esquecidos pouco tempo depois que

deixam de respirar o mesmo ar que os demais ainda usufruem.

Quem poderia tirar dela a chance de preencher o pequeno espaço

numa estante rústica de um leitor vislumbrado com a magia dos

livros, e em contra partida preencher algum vazio gigante que

eventualmente possa haver nos corações dos homens que lêem

para se encherem de vida?

Emily esquece-se em quais condições se encontrava. Na medida

em que se perdia em meio ao universo de sua imaginação, seus

pés perdem a sustentação da mesma forma que sua mente se

desprende da realidade e desaba em direção ao chão que lhe era

mais próximo. A lei da gravidade não perdoa, esta é a prova que

a ordem da vida quando foge de seu curso natural não deixa

culpados. Quando algo assim ocorre, a busca por estes culpados

que não existem só intensificam a dor. A lei da gravidade

funciona até nas condições que não devia. Se houvesse uma hora

em que ela não devesse existir seria naquele momento em que

Emily desabava em direção ao assoalho da nova biblioteca. No

entanto como esperado, Emily cai e por pouco não se machuca

seriamente, Léo sempre atento a agarra antes que ela toque ao

piso de madeira avermelhada daquele local charmoso.

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Uma cena digna de cinema. Léo a agarra pela cintura olha em

seus olhos e a nota bela em seu vestido rosa de laço violeta em

volta da silhueta insinuante de uma mulher graciosa,

características que apenas preenchia a sua imaginação fértil.

Alguns segundos em troca de olhares fixos e diz Emily:

- Achei que me esborracharia no piso.

- Ainda bem que não aconteceu! Estragaria a nossa animação

nesta decoração.

Voltaram todos ao seu trabalho, voltaram à decoração de suas

vidas como devia ser diante da realidade. O tempo passa tudo

ocorrera como combinado. Roberta já cansada precisava voltar

ao aconchego que fosse possível ao lado de sua mãe. Emily

exausta já não conseguia se por de pé, sua mente cansada tanto

quanto o corpo, os acontecimentos de outrora a fizeram refletir

mais ainda sobre a vida, por sorte apenas as motivações lhe

caíram à mente. Seu corpo frágil apenas acarretava preocupação

exagerada em todos, no entanto fugir e se isolar apenas

evidenciaria uma covardia que ela de certo não cultivava. Com

certeza esta não seria uma opção aceitável. Alem disso a firmeza

em sua mente compensava qualquer infortúnio que fosse

propiciado pela fragilidade de seu corpo físico. O mundo exigia

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que ela fosse frágil. As pessoas também imaginavam que era

assim, e de certa forma era verdade. Ela aceitara com maturidade

todos os sintomas e efeitos colaterais do tratamento, porém, em

sua mente ninguém podia tocar e jamais permitiria que suas

convicções se perdessem em um pensamento externo qualquer

que não proviesse de sua própria mente. Sua mente a cada dia se

tornava mais forte, fato que lhe era bastante útil.

CAPÍTULO X

Um comentário extra

A vida passa, apenas passa na pacata existência de Léo e Sonia.

Talvez a real felicidade de um homem esteja neste passar lento

da vida sem grandes acontecimentos, nesta maldita ordem que

não se altera, não para melhor. Talvez até melhore sempre, no

entanto o homem é que não atenta quando as mudanças lhe

proporcionam melhorias. Entretanto da uma ênfase exagerada

quando a ordem desmorona suas vidas em profundo sofrimento.

Definitivamente a felicidade é tão simples e clichê que só a

notamos depois de experimentar a falta dela.

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CAPITULO XI

“palhaços”

No aniversário de Roberta, Emily com o seu brilho intenso e

ainda se expandindo. Léo Sônia e Emily haviam preparado uma

festa surpresa para ela. Ali mesmo na sala de tentativa de justiça.

Todos adoravam Roberta não por sua situação em questão, e, sim

pelo encanto que emanava de seu semblante e sua suave e forte

voz de criança. Havia balões, serpentinas, na medida em que as

condições físicas do ambiente permitiam. Emily fantasiada de

palhaço e Léo também. Mesmo sabendo que Roberta odiava

palhaços, no entanto como Sônia mesmo dizia:

- Temos que causar nesta festa.

Roberta por inúmeras vezes já havia dito para todos que odiava

palhaços, eles na sua maioria não são engraçados, eles apenas

demonstram uma alegria falsa, contam umas piadas ensaiadas

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anteriormente, seus gestos ansiosos não demonstram alegria,

pelo contrário demonstram apenas pressa em receber seus

pagamentos. Para Roberta os palhaços verdadeiros são aqueles

que até sem maquiagem são engraçados, características essas que

poucos cultivam.

Ninguém sabia de onde um ser humano com tanta pouca idade

tirava tantas teorias sobre tudo. Talvez as longas horas em frente

à televisão da sala de tentativa de justiça lhe davam as idéias

necessárias.

Porém aquele dia, todos estavam de palhaços e com a difícil

missão de passarem a alegria verdadeira que muitos palhaços não

possuem.

Roberta estava na casa de Emily, como combinam a mãe de

Emily a levaria para encontrar os palhaços na sala de tentativa de

justiça, depois do tempo necessário para Léo e sonha arrumarem

tudo. Talvez não se encontrasse lá uma cena apropriada para a

alegria necessária para aquele dia; um garoto em cadeira de

rodas, uma senhora que servia outra senhora um chá qualquer de

aquecimento da alma, uma jovem que parecia estar com poucos

meses de grávida acompanhada pelo o que parecia ser a mãe ou a

sogra.

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Emily sempre com a animação infinita de sua mente, dizia:

- A alegria estar em nós, em nossas mentes, talvez consiga até

transferir um pouco desta alegria a todos aqui.

Emily exibia seu grande sorriso que se evidenciava com a

maquiagem vermelha, que na maioria dos palhaços servia para

forçar um sorriso que não havia em sua alma. No entanto em

Emily a maquiagem apenas equilibrava o tamanho de seu sorriso

e alegria com o gesto físico que exalam os sorrisos.

Tudo preparado para a chegada de Roberta; um suspense

desnecessário, pois ela já devia ter percebido a trama de seus

companheiros há tempos, todos ali já haviam notado a esperteza

de Roberta. No entanto era inevitável que todos se sentissem

desesperado para ver a reação dela diante de todos aqueles

palhaços, de todas aquelas cores incomuns aquele local na sua

íntegra.

Roberta se aproximava, segundo o telefonema em códigos que

Léo recebera da mãe de Emily; os corações aceleraram

constantemente e no mesmo ritmo. Roberta chega à lanchonete;

segurava a mão da mãe de Emily, as luzes estavam a todo vapor,

as condições não permitiam que as luzes fossem desligadas, fato

que não diminuiu a intensidade da surpresa de Roberta. Certo

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que ela já sabia da surpresa que todos há alguns dias vinham

preparando, no entanto aqueles palhaços, aquelas cores, foram de

um espanto total para ela.

Ela se desprende das mãos que a segurava, e suavemente se

dirige até Léo, até então sem reconhecer as pessoas por traz das

maquiagens e fantasias. Ao fitar diretamente aos olhos de Léo o

reconhece, a alegria que não devia ser contida emanou por seus

braços e seu largo sorriso que se abriram em um longo abraço.

Ela viu em Léo que naquele grande sorriso maquiado havia a

alegria verdadeira, a alegria pelo dom de passar felicidade sem o

desejo por recompensa.

Roberta sai de seu personagem forte como sempre e deixa cair

uma lágrima de alegria, que para Léo significou a ligação de um

interruptor que havia em seus olhos e coração. Interruptor que

impedia que suas lágrimas desaguassem na ordem da natureza

imutável que diante de situações árduas deveriam correr

naturalmente para desaguar a dor. Porém ele as conteve com a

força que talvez não tivesse, mas que a encontrou em algum

recôndito de sua mente, pois o momento exigia que ele apenas

deixasse os sorrisos dominarem seu semblante.

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Roberta desce de seu longo abraço e corre em direção a Emily, a

alegria era justa e necessária. A justiça estava sendo concretizada

naquele ato reconfortante em todos que se encontravam na

lanchonete.

Abraça Emily na intensidade das cores daqueles balões que não

paravam quietos, a música era baixa, no entanto os ouvidos de

todos ali eram sensíveis o suficiente para ouvi-la na intensidade

dos sons que motivam os homens a feitos inimagináveis.

Emily agarra Roberta, com a força física que neste momento

transbordava em seus membros e a gira rodopia a vida juntas, na

tentativa não de mudar a ordem ou voltar no tempo, rodopia

apenas no intuito de sentir aquele momento. Roberta em seus

braços como em um espalha brasa. Emily sentia-se como o sol

no centro de tudo, com o poder e a sensação que podia sim, fazer

justiça em relação a sua vida.

Quando finalmente a realidade as deixa tontas de tanto girar as

suas vidas, Emily deixa Roberta deslizar em seus braços e

permite que seus pés toquem o chão novamente.

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E começaram todos a dançar ao som instrumental da charmosa

musica árabe. E suas típicas coreografias, Roberta adorava a

dança do ventre e seus passos de alegrias. Os palhaços ali

definitivamente gostavam dela e sorriam verdadeiramente.

Roberta estava feliz e agradecia todos com obrigados que saiam

espontaneamente de sua boca, e com a desenvoltura de sempre

pede para fazer um discurso. Todos ali em um coro disseram que

queriam muito ouvi-la.

Roberta sobe em um banco que parecia às cadeiras da lanchonete

ligadas uma nas outras.

- A felicidade que costumo encontrar em meus livros; encontrou

em todos vocês meus amigos. Sabe ao ler uma história qualquer

eu vivo a felicidade que com certeza há em mim, no entanto o

mundo real a minha volta impede que a felicidade plena me

preencha, devido às condições que todos aqui conhecemos. Digo

meus queridos amigos que agora eu posso sentir a felicidade

plena que todo ser humano merece. Quer dizer, nem todos

merecem esta felicidade, mas importante é que todos a buscam,

mas, nem todos conseguem. O que quero dizer é que estou feliz!

Roberta finalizou se embaralhando com as palavras, porém todos

compreenderam o que ela tentou passar.

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A partir deste momento surgiram em Léo à idéia de proporcionar

a felicidade a mais pessoas:

- Acho que posso construir uma biblioteca em um prédio em

desuso. Disse Léo empolgado a Emily.

Léo correu e agarrou Roberta:

- Que tal montarmos uma biblioteca?

- Legal! Assim podemos proporcionar a felicidade a mais

pessoas.

- É sim! Concordou Léo.

-A felicidade é tão simples! E se esta felicidade estiver em algo

tão simples como os livros, uma biblioteca é uma boa idéia para

investir o dinheiro que tenho sem muito orgulho. Não acha

Emily?

- Sim claro!

Todos que ali estavam tinham o sentimento de missão cumprida,

pois Roberta nunca se sentira tão feliz, e ainda esta felicidade era

um sentimento de todos. Nada pode ser mais gratificante para o

homem do que proporcionar a felicidade para alguém e esta

felicidade significar também a sua própria satisfação. O mundo

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egoísta às vezes tem suas atitudes nobres, e tais atitudes tornam a

vida suportável a quem não foi agraciada com o dom de saber

apreciar a verdadeira recompensa e razão da vida, que é respirar.

CAPÍTULO XII

Um pouco mais a frente no tempo na vida de Léo.

Léo e Sônia revezavam na administração da biblioteca

solidária; diariamente recebiam vários livros de doações de

pessoas sensibilizadas com a causa e de muitas outras que

trocavam livros por outros. A proximidade da sala de justiça da

liga do jaleco sem cor fazia com que cada vez mais pessoas se

comovessem com aquela atitude nobre de espalhar felicidade. O

sofrimento definitivamente torna as pessoas mais humanas.

Dizem que só se percebe que tem olhos quando eles param de

funcionar perfeitamente. Da mesma forma as pessoas só

percebem que necessitam uma das outras quando estão prestes a

perder alguém que é importante para elas. Um sentimento que

prova o quanto homem pode ser uma criatura desprezível.

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Roberta abrilhantava mais ainda aquela atitude nobre e

necessária de Léo e Sônia. Roberta era um símbolo daquele local

e passava horas lendo em voz alta para Léo que chegava a delirar

com sua constante boa atuação.

CAPÍTULO XIII

“Coragem”

Emily havia conhecido Roberta alguns dias depois de sua

viagem aos estados unidos, sendo que Roberta seria quem

inspiraria em Léo a idéia de abrir a biblioteca.

Em uma de suas visitas a sala de tentativa de justiça; se

encontrava ao lado daquele lugar de poucas cores, uma garotinha

segurando um pacote de biscoitos simplesmente olhando as

pessoas que passavam como se esperasse alguém ou algo. Emily

não pode deixar de notá-la! Havia nela alguma coisa que a

fascinava, havia vida em seus olhos e ao mesmo tempo

desesperança, havia alegria querendo saltar, pular daquele corpo,

mas algo impedia que essa alegria e esperança aflorassem

livremente. Talvez o ambiente em que ela se encontrava seria o

responsável por aquela sensação.

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Emily odiava sentir pena, tanto quanto odiava ser digna de pena,

no entanto sentiu ao fitar aquela garota, um misto de pena com a

mesma esperança ofuscada que via no olhar azul como o mar,

um mar de calmos ventos e ao mesmo tempo de tormenta da

linda garota dos biscoitos. Facilmente se via naquela linda

menina de vestido azul de laço ainda mais azul amarrado na

cintura o quanto aquela garotinha era forte.

Emily havia aprendido ver além, ver no olhar a personalidade

das pessoas, “aquilo que te casta te potencializa.” Tudo que a

vida privou de Emily ela havia compensado com a sua mente

maleável. Da mesma forma que pessoas que perdem órgãos

cruciais como os olhos, aguçam outros sentidos para compensar

a falta. Emily havia encontrado o sentimento de imortalidade

essencial a todo ser humano em sua mente que a cada dia

encontrava os motivos para intensificar mais ainda a sua vida.

Ela precisava falar com aquela garotinha, pediu que sua mãe

parasse a sua nave especial que a levaria para a sala de tentativa

de justiça ao passar pela a menina dos olhos azuis.

- Oi garotinha!

- Não me chame assim! Odeio esses diminutivos.

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- Então me diga o seu nome para que eu possa me dirigir a

corretamente.

Ela aparentemente ignorou o pedido de Emily. E disse:

- O seu lenço do bob esponja é ridículo! Devia usar um

personagem mais cheio de vida. Como o “Coragem”.

- Conhece o “Coragem”?

- para falar a verdade você já estar bem grandinha para usar

lenços personalizados de personagens de desenhos. Não acha?

Emily respondeu:

- Eu gosto deles! E conheço o “Coragem” gosto muito do seu

medo que não o impede de enfrentar a vida como ela é.

- Sabe garota... Garota você estar certa! Nenhum personagem

passa mais uma lição de vida quanto o “Coragem”. Vou pensar

seriamente nisso.

A garota olha para Emily e não esboça reação alguma de

estranheza, olhou para Emily como ela sempre desejou ser vista;

alguém normal com toda a vida que havia dentro de si. E disse

com as mãos no queixo como alguém que sabia o que estava

fazendo:

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- vamos ver o que seria seu style.

- Acho que seria legal você usar um lenço do “Slipknot” ; rock in

roll. Acho que seria mais seu estilo.

Emily riu como nunca havia conseguido rir naquele ambiente

sem cores. Cada segundo que passava a conversar com aqueles

lindos olhos azuis, mais ficava fascinada.

- Mas você ainda não disse seu nome!

- É Roberta! E gosto que me chamem de Roberta, sem

abreviações ou diminutivos.

- Você é inteligente! Disse Emily já se despedindo, já era hora de

mais uma seção dolorida e precisa de tentativa de prolongar seus

super poderes.

Já a uma distancia significativa a garota grita;

- Gosta de biscoitos?

Quebrando o silencio horroroso de poucos sussurros daquele

lugar.

Emily apenas acenou com a mão, com um gesto qualquer de

confirmação. E continuo. Já estava atrasada para a sua missão,

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Repetitiva missão das tentativas ainda que nulas de manterem

viva a chama, talvez não a chama propriamente dela, no entanto

havia tantas outras labaredas a se manterem brilhando na

intensidade das estrelas naquelas missões diárias.

Ao se passar o tempo necessário Emily retorna ao mesmo

corredor um pouco mais forte que antes, no entanto com menos

força.

E agora com a necessária garrafa de elixir da vida em suas mãos,

sua boca ficava seca, sempre que os heróis da vida tentavam com

todo sucesso manter o desejo e a esperança em sua mente. Emily

olha em direção ao local onde vira menina adorável e cheia de si

que tanto a havia encantado, e nota que ela ainda se encontrava

lá, com outra roupa alegre, mais ainda naquele lugar de poucas

cores.

Emily olha em sua direção, esboça o maior sorriso que sua

imaginação conseguia deixar transparecer em direção a doce e

forte menina. Ela sorrir corre em sua direção, oferece no gesto

gentil como os seus olhos, os biscoitos que costumeiramente

carregava com sigo. Emily sorrir. Sua mãe diz: que ela não pode

comer biscoitos, suas gengivas estão sensíveis. Roberta entende

com uma naturalidade desconfortante atípica de uma criança.

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Mas a mãe promete que ela iria encontrá-la para comerem juntos

e conversarem. Emily confirma com a verbal voz que lhe restava.

Ela queria ir apenas para casa. Estava cansada. O cheiro daquele

local quase sem cor já a incomodava.

No entanto os olhos, e o gesto da garotinha não saíram de sua

mente e alimentaram os seus sonhos enquanto descansava. Nos

sonhos a realidade enchia a vida de Emily com a alegria que ela

tentava a todo custo manter depois que acordava:

- Os sonhos podem te acordar para um pesadelo, ou para um

sonho maior ainda. Essa ordem só depende do próprio individuo.

Dizia Emily com naturalidade a vislumbrar sempre algo no alto,

como se visse alguém ou algo com o qual poderia conversar e

dizer o que quisesse com a certeza que seria ouvida. Em seus

sonhos esse gesto fazia tanto sentido quanto a sua existência,

bem mais que na realidade de olhos abertos e acordada.

Emily fez questão de voltar à sala de quase justiça no dia

seguinte, por alguma razão acreditava que Roberta se encontrava

ainda lá. Logo ao chegar ao local a nota com o semblante de

calmaria e sabedoria que sempre passava. Emily não

compreendia aquela calmaria que aquele ser humano passava a

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ela, no entanto sabia que a sua companhia a faria muito bem.

Aproximou-se de Roberta:

- Olá moça dos biscoitos!

Disse Roberta com o sorriso aberto e contente ao ver Emily:

- Olá, hoje infelizmente estou sem biscoitos.

- Não se preocupe.

- Podemos ir até a rua comprar.

- Não precisa.

- Biscoitos fazem mal para os dentes, apesar de divertidos.

- Por que tudo que é muito bom tem sempre que ter algo que

impede a sua perfeição?

Indagou Roberta com a compreensão que lhe era possível na sua

pouca idade.

- Talvez necessitemos deste equilíbrio, se não enjoaríamos

rapidinho daquilo que é bom. Emily compreendia aquela regra

da vida como ninguém.

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- Mas podemos comer algo um pouco mais saudável. Gosta de

sorvete?

- Adoro!

Caminharam até a rua em direção a banca de sorvete.

- Diga-me Roberta, por que está sempre aqui?

- Minha mãe, ela estar passando uns tempos aqui, tenho que ficar

com ela o tempo o todo. Roberta saltitava segurando a mão de

Emily com força.

- Sua mãe, o que ela tem?

- Ela está doente, os médicos dizem que as esperanças estão

vivas, porém apenas até que ela vá para o céu, e disseram que

não demora muito para que ela viaje.

- Eles tentam amenizar os fatos para que eu não sofra, mas sei

bem o que estar acontecendo.

- Eu sinto muito. Emily estava vendo o exemplo perfeito de

como queria que todos agissem diante de sua situação.

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Desde esse dia Emily passava horas com a doce pessoa que era

Roberta, doce e forte como ela gostaria que todos fossem ao seu

redor.

Roberta se tornara uma personagem crucial a sua constante luta

por encontrar sentido a vida.

CAPITULO XIV

Um pouco a frente no tempo na vida de Léo.

Léo agora tinha tempo e disposição para por em prática todos

os planos que havia desenvolvido no passado e os novos planos.

A sua felicidade simples precisava ser descrita de alguma forma,

e sua conversa com Roberta estava lhe enchendo de ideias.

Roberta estava lendo o pequeno príncipe, o livro da felicidade

para Léo. Ele já tinha lido várias vezes, no entanto Roberta era

de uma graciosidade ao ler, sua boa dicção, seu timbre de criança

deixava a narração com o charme necessário ao livro. Léo ouvia

atentamente e tinha a idéia de escrever seu livro, cujo conteúdo

seria inteiramente enredando a felicidade. Ele estava entendendo

ou percebendo que a felicidade plena só é possível enquanto

criança, se não, no mínimo a felicidade é natural nesta fase da

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vida. Em outras desenvolvemos as formulas de sermos felizes e

gastamos tempo demais nas formulações e esquecemos-nos de

ser felizes. Quando criança se é feliz sem fórmulas, apenas se

vive a felicidade. Suas idéias fluíam naturalmente, era a sua

chance de viver a infância no seu perfeito encanto, com o

encanto que toda criança que respira merece, porém a vida é

injusta. Enquanto criança, ainda não se tem autonomia para

fazer a justiça em relação a vida.

CAPITULO XV

Tornados

Uma de sua ultimas entregas inteiramente em prol de Emily

havia sido na viagem para os Estados Unidos, para uma visita a

sala de esperança de justiça daquele país. Que diziam ter sua

esperança, baseada no poder econômico, relativamente maior

que a nossa.

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Emily não estava interessada em servir de cobaia para nem uma

experiência inovadora para evitar um capricho que a vida lhe

propusera. Ela só queria realizar um velho sonho, que não sabia

como surgira em sua mente. Apenas sabia que queria ver a

formação de tornados, e Léo estava disposto a realizar este

sonho.

Foram todos para a terra do tio Sam exatamente na época da caça

aos tornados, data escolhida propositadamente. chegaram

primeiramente na a capital do país, só depois iriam para a região

de Oklahoma, onde fica a famigerada “Tornado Alley” região

montanhosa dos estados unidos com eventos anuais de

tempestades, furacões e tornados. Léo já havia pesquisado

anteriormente, feito todos os preparativos, Contratado os

serviços de uma empresa séria de caça a tornados para

aventureiros. Emily estava pronta para se tornar uma “storm

chasers” mesmo sabendo dos riscos. Riscos estes que eram com

certeza amenizados com a contratação de uma agência séria,

especializada nesta área. Sabia ela que, mesmo com cautela e

segurança, a caça a tempestades apresenta riscos como; queda de

raios, granizo, grandes inundações, isolamento por conta de

estradas destruídas, destruição da rede elétrica e visibilidade

reduzida por conta de chuva, poeira ou nevoeiro.

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Emily não estava preocupada, esse era um sonho que há tempos

evoluía em sua mente e não queria perder a chance de realizá-lo.

A viagem aconteceu no mês ápice da temporada de tornados,

uma bela e ensolarada manhã de junho no país de onde saíram.

- Definitivamente a natureza e o homem são incríveis. Estamos

saindo aqui de um local calmo e ensolarado e em questão de

horas estaremos próximos do mais belo espetáculo da natureza

com toda a sua grandiosidade. Emily suavemente deixava essas

palavras saltarem de sua mente a Léo já no avião.

Sônia e a mãe de Emily as acompanhavam algumas poltronas à

frente, no entanto nem Sonia nem a mãe de Emily sabiam que

ambos tinham planos mais ambiciosos para aquela viagem.

O tempo passou apenas algumas poucas turbulências ao longo da

viagem, Emily não tirava os olhos da janela; adorava ver o

contraste das nuvens brancas com as que do alto pareciam cinza,

porém ela havia criado a sua própria cor das nuvens, ela não iria

mudar seu fascínio por aquela forma de vida tão extraordinária;

Fitava aqueles algodões de água e imaginava o quanto estava

próximo de tão rara beleza da natureza, no entanto todo aquele

metal à sua volta a impedia de sentir o vento, sentir a sua própria

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vida em sopro em meio às rajadas de ventos que soprava além

daquelas paredes de metal que os mantinham pairando no ar.

Ao chegarem, se dirigiram para o hotel. Nos primeiros dias de

viagem não havia espaço para nada, se não para alimentar uma

esperança que havia nos corações de todos que se encaminharam

para aquele país, uma esperança que de certo era apenas uma fé

boba, uma vontade. Talvez não fé, era apenas desejo, um desejo

que a vida de todos retornasse a seu curso natural, pelo menos ao

do resto da humanidade, porém Emily seguia o curso de sua vida

da forma como ela lhe impusera. Havia em sua mente o

pensamento de injustiça, no entanto quando o tempo de um

indivíduo é encurtado ele passa a possuir todas as características

das faixas etárias da vida que ainda não viveu, e adquire a

capacidade louvável de reviver em sua mente as fases que um dia

já viveu com uma intensidade incrivelmente maior.

Emily havia adquirido uma maturidade que não havia nela

pouco tempo atrás, de vez em quando era rabugenta, e

principalmente tinha se tornado uma sonhadora como nos tempos

de criança e adolescente, se bem que não havia muito tempo que

vivera estas fases.

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Ela tinha a maturidade para viver a intensidades de seus

segundos presentes sem pensar no passado ou futuro. Uma

característica que talvez não seja de uma pessoa madura e sim de

uma criança feliz, Emily era feliz apesar de tudo, apesar da vida

ter sido injusta. No fundo ela sabia que não podia tratar a vida

coletiva como uma entidade que decide os acontecimentos da

existência dos homens.

A vida é assim simples! Não é um ser que determina nada. É a

existência biológica de qualquer ser vivo que tem o prazer de

viver. O ser humano já ao nascer estar sujeito a todos os bens que

lhe é possível e os males, que esses sim, sem restrições são

possíveis a todo individuo independente de raça cor ou credo.

Emily tinha motivos para sonhar e querer realizar, porém muitos

destes sonhos se criavam em sua mente e se realizavam ali

mesmo, nos recônditos das nuvens de sua mente, talvez estes

sejam os sonhos realizáveis mais reais.

Emily passou três dias nos incontáveis testes que o dinheiro de

Léo diminuído bastante com a taxa de cambio podia pagar.

A esperança que apenas uma boa quantia em dinheiro podia

sustentar. Emily não necessitava daquela esperança, a sua real

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esperança estava em sua mente humana capaz de viver o presente

com a intensidade instintiva dos animais irracionais.

Depois de dois dias descansando dos atos heróicos daqueles

super heróis de poucos, dos mais favorecidos para ser mais

especifico.

- Definitivamente o senso que os humanos têm de justiça deve

estar completamente errado. Justiça há apenas em filmes e em

histórias em quadrinhos. Pensava Emily com seus botões

fechados.

Emily já não agüentava a ansiedade para ver os tornados.

Era chegada à hora, Léo sairia da capital com Emily até o estado

de Oklahoma para de certa forma realizar um sonho que também

era dele. Havia apenas um entrave em tudo isso. Sonia e a mãe

de Emily teriam que saber, era um pacote de dez dias não haveria

desculpas que poderiam usar para disfarçar uma viagem a

Oklahoma de tanto tempo. Então todos haveriam de se

encaminhar até lá para a caça aos tornados, essa nomenclatura

para Emily era revigorante, se sentia com a vida das estrelas.

A mãe de Emily ao ouvir os relatos dos dois sonhadores

estranhou de inicio, no entanto as frustrações da vida e das

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tentativas em vão da ida a aquele país fizeram com que ela não

negasse um pedido tão cordial, e de uma bondade esplendorosa

que se via facilmente nos olhos de Léo que descrevia com

graciosidade seus planos com Emily. Não podia negar, era a

realização de um sonho de alguém que para ela era a vida.

Emily ouvia Léo relatando o seu sonho que também era dela. Ela

ouvia aquela voz que a fazia se sentir esplendorosa.

Sem nem um entrave viajaram até a terra dos tornados. Ao

chegarem se dirigiram para o alojamento que por fora parecia

singelo, no entanto era um forte construído para a proteção de

tornados.

- Devíamos ter um sonho mais seguro como caçar auroras

boreais, não acha Sônia? Perguntou Emily.

- É, por que vocês estão sozinhos nessa, eu não vou participar de

uma aventura tão arriscada.

- arriscada sim, mas pense na emoção e na beleza da formação de

um fenômeno tão grandioso da natureza!

- Não, prefiro a firmeza e o conforto de um local totalmente

seguro. Retruca Sônia.

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- Você que sabe, eu e Léo vamos com certeza.

- Vieram aqui para isso. Concluiu Sônia.

Sonia estava feliz por viajar para a maior potencia econômica do

mundo, para ela já era emoção suficiente, enquanto a mãe de

Emily, não conseguia esconder suas frustrações pela a pouca

esperança que a liga do jaleco sem cor daquele país a dera.

O especialista que os acompanharia naquela aventura era um

senhor pouco acima dos quarenta anos, cabelos loiros, um bigode

ruivo, e adorava fazer piadas, e brincar de assustar seus clientes,

dizia ele que era para aumentar a emoção de ver os tornados.

Disse ele logo no primeiro contato na chegada ao alojamento.

- Só existe uma regra em relação a tornados; se você não estiver

vendo o tornado indo a nenhuma direção visível, acredite ele

estar vindo em sua direção então é hora de correr. Lembrem

dessa regra. Sorriu abertamente o senhor loiro de bigode ruivo e

aparência forte.

Por sorte a mãe de Emily não entendeu.

- Mas não se preocupem. Eu me encarrego de indicar a direção

do salve-se quem puder. Brincadeira! Prometo que vão estar

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seguros, já estou a mais de dez anos neste ramo, e nunca perdi

nem um soldado.

Léo no embalo das brincadeiras do senhor John brincou.

-Também com o preço que o senhor cobra se não garantir a

segurança. Estaríamos pagando pelo quê? Esta não foi uma das

suas brincadeiras mais inteligentes, no entanto John moldou sua

piada com outra qualquer para dar leveza ao momento.

- E ainda há uma chance de não ocorrer os tornados, não posso

garantir é um fenômeno da natureza somos pequenos demais

para controlar algo assim.

Emily pensou; a beleza dos tornados está exatamente na sua

grandiosidade. A cada segundo que se passava aumentava sua

ansiedade.

O senhor John começou a passar as instruções sérias.

E de vez e sempre uma piada para descontrair.

- Sabe o que faz os tornados perderem força e acabarem suas

atividades na vida terrena?

Emily gritou empolgada:

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- Não!

- É exatamente os destroços que ele suga quanto mais ele devorar

mais enche sua barriga e vai naturalmente perdendo força até que

desaparece. Então senhoras e senhores, se sentirem muito medo,

se joguem no tornado para que ele aplaque sua fúria o mais

rápido possível. No entanto creio que quem escolhe este tipo de

aventura turística não conhece o medo. Não é verdade? Disse

essas palavras fitando os olhos claros de Emily.

Emily por alguns instantes havia se esquecido de tudo, era

novamente em seu corpo e mente normal, como qualquer

individuo louco por aventura. Ela estava cheia de vida

exatamente como imaginou que seria.

Sônia ouvia sem entender muito bem o inglês, ela não iria se

aventurar com os dois, e não demonstrou interesse em ouvir as

palavras de John, o simpático homem sempre ao lado de sua

esposa, essa sim era totalmente ruiva, com grandes olhos azuis, e

sardas típicas dos ruivos.

Todos estavam encantados com o casal, e suas típicas

brincadeiras, a mãe de Emily não compreendia nada, mas sorriso

é uma linguagem universal e ela sorria com a alegria de sua filha,

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que demonstrava uma felicidade que há muito tempo não notava

em seu semblante.

A primeira tentativa foi no segundo dia de sua estadia na região

de “Tornado Alley”. Emily e Léo ansiosos se dirigiram para o

jipe moderno do casal que os acompanhavam, começaram a curta

viagem até o sonho de Emily. Claro que havia mais turistas

britânicos, esses sim buscavam apenas estar em uma situação de

risco, para dar sentido a uma vida melancólica de países

desenvolvidos. Jovens universitários, um casal de uns trintas e

poucos anos que estavam em uma viagem romântica, um

meteorologista japonês, como se em seu país já não tivesse

fenômenos da natureza o suficiente. Porém nenhuma situação era

tão atípica quanto à de Emily e Léo; um casal de um país tropical

de belezas incontáveis estava ali para ver tornados. Todos

notavam o lenço que Emily usava, porém todos apenas

encantados com aquela cena incomum nada falavam sobre, nem

uma indagação desnecessária; apenas conversas sobre o que os

esperavam a poucos quilômetros. Parecia que todos notavam a

alegria de Emily e seu desejo de se sentir na igualdade justa em

relação ao restante dos aventureiros. Todos eram de uma

educação impecável, principalmente o jovem japonês, que a todo

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o momento citava uma curiosidade que descobrira em seus

estudos sobre tornados durante a viagem:

- Só nesta região ocorre cerca de oitocentos tornados por ano.

- Imagine um funil girando sem parar na atmosfera. Agora

acrescente tempestades, chuvas e ventos que podem alcançar até

610km/h. Isso é um tornado, explica o jovem empolgado de

olhos puxados.

Emily estava encantada com tudo aquilo, ninguém estava lhe

proporcionando qualquer privilégio, definitivamente ela se

igualava a todos aqueles caçadores de tornados, e não era devido

à situação que não permitia os costumeiros privilégios. Era por

que todos compreendiam ou via nos olhos de Emily o seu desejo

de ser mais uma vez aquele ser humano vivo nos dois planos da

vida, mente e corpo. Perguntas não eram necessárias, bastava

olhar em seus olhos para ver a sua felicidade.

Ao chegaram a um local aberto, apenas capim verde dos dois

lados da estrada, via-se um contraste entre a vegetação verde

uniforme e o céu nublado em partes e em outras azuis como

nunca. Algumas plantações de milho ao longe, que só

abrilhantava aquela paisagem. Um local perfeito para observar o

círculo do horizonte. Emily já se encontrava em transe ao

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observar todo aquele verde em contraste com o pouco azul do

céu.

Desceram todos do jipe, e John com seu tom cômico de sempre

dizia;

- Vamos torcer para não termos que enfrentar um f5.

Todos sem exceções riram.

Emily queria ir para a vegetação verde, sentir toda a vida que

havia ali a perder de vista. Ela queria correr, correr entre as cores

que pareciam estar mais vivas que nunca, no entanto a realidade

a impedia.

- Além daquele verde magnífico havia insetos, serpentes.

Explicava John para que não se distanciassem.

Ingressaram todos em uma estrada de terra com poucos locais

secos para pisar, lamaçais já davam uma nova cor às botas de

Emily. Caminharam até uma pequena estrutura de madeira que

se assemelhava a uma ponte, de certo porque com chuvas mais

intensas aquele local alagava em proporções maiores, já que não

havia lago ou qualquer local propicio para pontes ali. Apenas um

pequeno declive no terreno.

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- Espero que não ocorra uma enchente repentina hoje. Sussurrou

Emily no ouvido de Léo apoiando-se em seu ombro.

- Espero que não. Segure-se em mim, o terreno é bem imigre.

Disse Léo sorrindo e mirando em seus olhos. Emily segura mais

forte em seu ombro e sorrir, em um gesto simples olham para

frente com um ar de felicidade admirável. Emily sentido-se

segura, e sem preocupações.

O tempo naquele momento havia parado, havia apenas o presente

da forma como sempre sonhou.

John em um tom de voz alto diz:

- Parece que estamos com sorte! Vejam há uma super célula em

formação logo à frente. Ele já havia visto, e seus equipamentos

meteorológicos já o tinham alertado do fenômeno a tempos atrás,

ele apenas gostava de demonstrar aos turistas a emoção de

encontrar o tesouro como “Indiana Jones”. Ele não precisava

disfarçar muito, via-se em seu semblante a emoção de estar

prestes a mostrar algo com que ele já se encantava há tempos.

- Acredite, não importa quantas vezes você ver um tornado, a

experiência nunca se torna monótona, é sempre de uma emoção

impar. Dizia John com uma atuação real de empolgação guiando

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o grupo para uma área de boa visão e que ficasse bem próximo

da estrada.

A esposa de John ficara no carro com os equipamentos passando

via rádio todas as informações para garantir a segurança.

A empolgação de John era multiplicada no coração de Emily. Ela

notou a grande nuvem de quilômetros e azul no céu, ventos

fortes, respingos de chuva em seu rosto.

Esperaram alguns minutos, o tornado começou a se formar nas

nuvens e rapidamente toca o solo. Emily com os olhos fixos

naquele fenômeno, os respingos se tornaram gotas de chuva

forte, Léo colocou a capa em Emily, ela não tirava os olhos do

pequeno tornado, a correr paralelo a ela. Enquanto Léo filmava

aquela maravilha, Emily gritava de emoção, ela não queria

pensar em nada, na vida, na vida dos que os cercam, em nada,

sua mente se esvaziava em quanto gritava de emoção.

- Dá um (tchauzinho) pra câmera! E um sorriso claro! Disse Léo

mirando a moderna filmadora em sua direção. Emily acena

involuntariamente, seus olhos fixos no tornado se desmanchavam

em lágrimas que se disfarçavam com as gotículas de chuva. Há

tantas utilidades na chuva! Pensou Emily com seus botões.

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Emily queria seguir o tornado, queria sumir junto com ele, em

ninguém havia mais destroços do que em sua existência curta, a

vida já era para si destruída. Ela era bela, no entanto os

periféricos de sua mente já haviam sido arrasados pela existência

avassaladora das injustiças de estar viva. Gritava desejando que o

tornado a ouvisse, que o tornado compreendesse seus gritos que

ninguém mais podia compreender. Ela era um tornado carregado

dos destroços de uma vida que se destruía com o tempo que

corria paralelo a tantas outras vidas que precisavam ser poupadas

de suas mazelas e tristezas. Emily disfarçava até seus gritos para

não parecerem que ela queria ser ouvida. Porém um dia ela teria

que expulsar todos aqueles gritos que não foram ouvidos.

Naquele momento extraordinário, ao redor de Emily havia

equilíbrio entre a grandiosidade de sua mente e a imensidão da

realidade. Naquele instante Emily compreendeu seu fascínio por

tornados, e tempestades. As explicações surgiam em sua mente

como a chuva que banhava seu rosto devido o forte vento

impulsionado pelo tornado. Compreendeu que via a realidade

pequena demais em relação à grandiosidade de sua mente. Com

aquele espetáculo entendeu que na verdade ela buscava apenas o

equilíbrio entre as aspirações de sua mente sonhadora e a dura

realidade que assolava sua existência. E ao presenciar tão

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incontrolável fenômeno da natureza ela encontrou este equilíbrio

que há tempos buscava, mesmo sem ter consciência dessa falta

que havia em sua existência.

O tornado de sua vida ia-se em tese de acordo com que o real

desaparecia para os olhos de Emily. Infelizmente o tornado

durara apenas alguns minutos, mas foi tempo suficiente para que

Emily atingisse todos os seus objetivos.

Nada além podia ser visto a escuridão sombria de qualquer

sentimento que insistia assolar a existência significativa a

cegaram. Emily se encontrou ao ver dentro de si, por sorte alguns

movimentos involuntários refizeram o caminho de onde viera.

Voltaram ao jipe Emily aparentemente, e de certa forma contente

e em silêncio dirigia-se de volta ao seu mundo real.

O tornado durou alguns minutos, eram fenômenos rápidos e

devastadores. Já era quase noite precisavam voltar para o

alojamento. Emily estava cansada daquela aventura que para ela

tinha sido apenas a observação de algo que a encantava, no

entanto em sua mente aprofundara sua dor, mesmo tendo

desaguado parte dela durante os minutos que durara aquela

exibição da natureza que equilibrara a imensidão do universo em

sua mente com a realidade pequena e comum da vida.

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- Foi um golpe de sorte termos presenciado um tornado no

primeiro dia de caça! Não acha Emily?

Indagou Léo na intenção de instigar voz naquele silencio em

Emily. Aparentemente ela devia estar feliz, por ter visto de perto

algo que preencheu em parte seus sonhos por um longo tempo,

no entanto se encontrava em um silencio que já se tornava

perturbador para Léo.

Emily permaneceu em silêncio por alguns segundos após a

tentativa de Leo iniciar um assunto. Olhou em seus olhos, apenas

um singelo sorriso de canto de boca como que forçado. Léo

estranhou o seu comportamento:

- Não compreendo sua atitude, não era o seu sonho Emily?

- Não leve a mal minhas atitudes. Hoje fui muito feliz e ainda

estou sendo em minha mente. Estou em silêncio apenas curtindo

as lembranças dos poucos minutos que presenciei um belíssimo

tornado.

- Você viu? Algo de uma força tão magnífica, não acha?

- Não se preocupe vou ser eternamente grata por ter me

proporcionado a realização deste sonho que por um tempo o

tratei apenas como utopia.

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- Não tem de que, sua alegria é minha missão! Moça dos olhos

castanhos que me agrada muito quando estes demonstram

felicidade. Brincou Léo dizendo as mais sinceras palavras que

um homem podia dizer para alguém que tem um curto tempo de

vida.

Ao voltarem para o alojamento. Encontraram Sônia entediada

lendo uma revista de automóveis no sofá a luz de velas, enquanto

a mãe de Emily rezava assustada com os fortes ventos que

provocaram a queda de luz na região.

- Então viram os tornados, aventureiros? Perguntou Sônia com

um ar de felicidade ao ver que agora teria companhia para uma

boa conversa.

- Claro! Disse Emily quebrando o silêncio de poucas palavras

durante o percurso até o alojamento.

- Emily não parece tão feliz, quase não falou depois de ver o

tornado. Disse Léo.

Retrucou Emily:

- Acredito que minhas palavras só iriam atrapalhar o estudante

japonês empolgado que tagarelava sem parar.

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Concordou Léo com qualquer gesto de confirmação:

- Amanhã já podemos ir embora! Já vimos o tornado, acredito

que Emily não agüenta mais um dia de tantas emoções e esforço

físico.

- É podemos sim. Disse em couro Sônia e a mãe de Emily.

- Concordo! Acho que esta experiência foi inesquecível, e se

ficarmos aqui só será mais despesas para Léo. Afirmou Emily.

Sônia já havia aproveitado a capital daquele país como compras

e visitas a cartões postais enquanto Emily participava das

tentativas de manter a esperança viva em todos do seu ciclo de

amizades. No fundo Emily também precisava daquela esperança.

Todos precisam acreditar até que o fim chegue e seja inevitável.

No dia seguinte; aeroporto, apenas a mesma burocracia de

sempre passaporte, viagem longa e tranqüila de volta as suas

pacatas vidas.

Ao chegarem a casa Emily queria apenas dormir e descansar da

longa viagem, e de pensamentos que a perturbavam, e de

lembranças, mesmo aquelas que serviram para o seu equilíbrio e

contentamento. Emily agora cada vez mais tinha fascínio pela

natureza e pelo céu, o céu de incontroláveis e belos fenômenos.

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Queria dormir e sonhar com o céu azul de nuvens carregadas de

águas, para amenizar os pensamentos que faziam apenas ela ver

a vida real e biológica, injusta e sem culpados.

“Dormiu e sonhou!”

CAPÍTULO XVI

O livro de total felicidade

Léo começou a escrever o livro que, segundo ele, seria o livro da

felicidade. Em teoria a felicidade devia ser algo vantajoso ao ser

visto na sua íntegra em algo que transpusesse alegria, no entanto

a superação necessária a toda boa história era também preciso ser

utilizada.

- Muitas pessoas possuem vidas comuns, não passam por grandes

sofrimentos e vencem na vida. Então a vida já é uma superação,

não concorda amor? Perguntou a Sonia.

- É a idéia que a felicidade é relativa diminui um pouco seu

conceito, no entanto há muito sentido em suas palavras.

- Então está decidido, em meu livro contarei a historia de uma

vida comum de felicidade inicial e constante evolução da mesma.

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Léo então inicia as primeiras palavras enquanto Sônia prepara

algo para comerem depois de um longo e gratificante dia na

biblioteca.

Ela larga o fogão e com o ato costumeiro de permanecer com

uma colher na boca em quanto cozinhava, vem em sua direção:

- Deixe-me ver suas primeiras palavras.

- Não! Disse Léo.

- Não se aprece. Você só irá ver quando a obra estiver completa.

Curiosa! Tirou os dedos dos teclados e beijou seu ombro com

aquele cheiro magnífico de sabonete que ele adorava, olhou em

seus olhos castanhos cor de qualquer coisa bela, sorriu e

continuou a digitar no teclado as palavras que segundo ele seria

as de um Best seller.

CAPÍTULO XVII

Antes da viagem aos Estados unidos: o pedido

Léo caminhava com Emily em uma calçada escura numa rua

qualquer da cidade; cheia de vida, de vitrines. Há passos lentos,

um segurando-se na insegurança do outro. Uma conversa casual

ali, outra aqui, na tentativa de esquecer a realidade que Emily já

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aceitara com a serenidade de uma sábia oriental que vive nas

montanhas de uma névoa qualquer.

- Acho que está na hora de você arranjar alguém. Disse Emily

demonstrando segurança no que dizia.

Léo estranhou aquele comentário:

- Por que deveria? Perguntou ele.

- Há você já não é tão jovem! Precisa pensar no futuro, na vida à

frente. E não sei se você sabe, mas na sociedade em que vivemos

quem não casa até os trinta é considerado um fracassado.

- Ainda estou bem distante dos trinta.

- Não quero saber, você precisa continuar a sua vida, conhecer

alguém especial.

- Eu já tenho você de especial na minha vida.

- Sabe do que estou falando!

Léo notou seu tom de seriedade ao dizer aquelas palavras.

- Pois me apresente alguém! Disse ele ainda em um tom cômico

não querendo crer nas palavras que saia da boca de Emily, ou do

coração.

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Caminhavam eles em uma desconcertante estranheza de assunto.

Léo queria corresponder às expectativas de Emily quanto aos

seus desejos de ser feliz enquanto ainda podia respirar.

Mas aquele assunto lhe deixava intrigado, com incertezas, com

um desagradável desconforto no estômago, uma sensação que o

impedia de expressar o seu real sentimento naquele momento,

apenas sorrisos amarelos transpareciam em sua face que de

forma alguma desejaria ouvir aquelas palavras:

- Falo sério! Emily fixa os olhos em Léo.

- Que tal aquela moça ali entregando panfletos do outro lado da

rua?

Léo mira para a rua e nota uma moça inegavelmente linda, de

cabelos longos a entregar panfletos para os poucos que

aceitavam.

- Mas, você sabe que não posso Emily.

- Por que não? É lógico que pode e deve.

Emily queria do fundo de sua alma que Léo encontrasse alguém,

viver para alguém que tivesse uma vida tão longa quanto à dele.

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Léo remoia sentimentos em sua mente e coração, sentimentos

esses que não condiziam com a realidade, talvez com o mínimo

de vida real que restara ou lhe sobrara dos tempos passados que

não foram tão fácies de se viver, no entanto os desejos de Emily

tinham sentido. A vida precisava começar, não seria um

recomeço, seria puramente um inicio.

Emily sabia que precisava representar alguns inícios, não para

que sua vida biológica tivesse sentido, jamais tem. Seria para que

sua mente repousasse em sua colina perto do céu e poder ver a

felicidade de todos que ela ama em sua plena e temporária

satisfação.

Depois de remoer, engolir e regurgitar essas idéias, Léo decide

atender os desejos de Emily e tentar uma aproximação com a

linda moça dos panfletos.

Léo deixa Emily em sua solidão solidária e atravessa a rua.

Aproxima-se da moça que lhe oferece um panfleto de qualquer

ação solidária de alguma ONG que ele não conhecia.

- Oi. Disse Léo sutilmente para não assustar a bela jovem.

- Oi!

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- Eu sou um mágico! A moça estranhou um desconhecido em

plena tarde com aquela atitude.

Léo faz gestos com as mãos repetidamente, tentando imitar um

mágico, sem obter resultado:

- Deveria surgir uma rosa, disse o jovem galante.

- Acho que estou perdendo os meus poderes.

A jovem riu e complementou:

- O problema devo ser eu. Talvez eu seja sua “criptoníta.”

- Qual o seu nome?

- Sônia. Respondeu a moça sem pestanejar.

- Estou com aquela linda jovem do outro lado da rua. Podemos

ajudá-la a entregar os panfletos.

- Toda ajuda é bem vinda. Disse ela com o tom de segurança.

Léo logo notou que Sônia era uma moça bastante sociável além

de agradável aos olhos.

Léo vai até o outro lado da rua e volta trazendo Emily,

conduzido-a pelo braço.

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Foram feitas as apresentações clichês comuns a pessoas

desconhecidas, e começaram a abordar as pessoas naquele final

de tarde. A aparência de Emily e o lenço mágico em sua cabeça

ajudaram e muito as pessoas a aceitarem os panfletos.

Emily sabia que o sucesso naquela atividade temporária se devia

muito mais a sua simpatia que as razões a levaram a usar aquele

lenço. Quando o destino de ágüem já está traçado sem muitas

chances de mudá-lo, o recomendável é aproveitar todos os

benefícios que a vida oferece e da melhor forma possível antes

que este se concretize.

Todos conversavam e trabalhavam; Léo sempre muito simpático

e brincalhão, Sonia demonstrava ser de uma inteligência

louvável.

Eles conversavam e ganhavam intimidade, não era uma tarefa

difícil tanto Emily quanto Sônia possuíam características muitos

sociáveis que facilitavam, e muito, a convivência de pouco

tempo.

O tempo passou, já era tarde quase noite, não havia sido

exaustiva a entrega de panfletos como esta narração exigia.

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Léo então convida Sônia espontaneamente para tomar um

sorvete e claro; Emily teria que ir junto.

Sonia não recusou, estava faminta, e cansada bem mais que Léo,

pois já trabalhava a bem mais tempo.

Foram-se os três para a sorveteria, Emily sempre a puxar assunto

com Sonia na tentativa de convencer Léo que Sonia era uma

moça interessante e como ela tinha interesse que eles se

conhecessem mais profundamente. Um assunto ali outro aqui,

aquela amizade prometia. Não foi preciso muito tempo para que

Léo se encantasse por Sonia e Sonia começava a admirar a

bondade nítida em seus olhos.

Sonia curiosa pergunta por que Emily usa aquele lenço.

Emily fez questão de responder:

- O destino e a vida me agraciaram com algumas injustiças

irreversíveis.

- Eu sinto muito! Disse Sonia.

- Não se preocupe já superei e aceitei o destino, superei não,

apenas vou viver meus últimos trilhões de segundos fazendo o

que desejo, fazendo a vida ter sentido. Descobri que o tempo de

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vida de alguém não deve determinar a intensidade dela. Por tanto

vou viver intensamente proporcionando a minha felicidade e na

medida do possível proporcionando a felicidade dos que me

cercam.

- É um bom sentido para a vida. Sonia parecia bem mais

encantada com Emily do que com Léo.

Emily complementou:

- Por tanto estou tentando arranjar uma namorada decente para

este meu amigo aqui.

Léo tímido e incomodado com o comentário saiu e foi ao

banheiro.

Sonia sorriu.

- Deve haver muitas moças capazes nesta cidade e especialmente

belas.

- É mais ele gostou de você. Com Léo no banheiro as duas já a

vontade trocavam confidencias como se se conhecem por uma

vida. Sonia era uma moça respeitosa e de uma calma elegante e

formidável. Certo que não era nem uma garota da alta sociedade,

entretanto era uma moça esforçada, batalhadora, inteligente,

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definitivamente encantadora. Sonia ao certo não era uma garota

fácil de ser convencida, no entanto ela se encantara com aqueles

dois e nada a impedia de continuar uma amizade já iniciada. Era

preciso apenas deixar o destino se encarregar de caprichar na

construção daquela amizade, ou não, uma bela amizade é

construída com laços entrelaçados pelas pessoas e não por

capricho de destino. O destino se encarrega apenas de unir as

pessoas, seja pela razão que for. .

- Eu fiz o fujão, prometer que vai fazer de tudo para ser feliz e

me fazer feliz. Então está ele atado aos meus desejos e planos.

Brincou Emily

- Maquiavélica você!

Léo retorna depois de longos minutos no banheiro. Nunca

saberemos o que Léo fez durante todo aquele tempo de reclusão

no toalete, no entanto podemos imaginar o que alguém faz diante

do sacrifício.

Depois deste encontro um tanto peculiar Emily fazia questão de

manter uma proximidade acentuada entre Léo e Sonia. Ela queria

e precisava que Léo aprendesse a amá-la.

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Certo dia após o encontro de apresentações, o romance inevitável

de Léo e Sônia fora elucidado, também pudera com uma

alcoviteira de tamanha elegância como! Sonia não sabia muito da

história que unia Léo a Emily, e na verdade não importava, ela

estava feliz com Léo. A cada dia que passava mais ela admirava

os dois, que em tão pouco tempo havia se tornado amigos tão

expressivos e Léo um conseqüente e inevitável amor.

Emily parecia um tanto controladora, no entanto era graciosa e

engraçada ao usar as palavras, sem contar que a situação em que

se encontrava lhe proporcionava um mimo especial de todos que

lhe permitiam a condição de guru do amor sem ser contestada.

Ela também fazia questão de que os dois tivessem seus próprios

momentos para construírem seus sonhos e fazerem planos.

Léo passou a diminuir o tempo que gastava com Emily, fazia

questão de está com Sônia sempre que podia.

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CAPÍTULO XVIII

Uma prova de amor

Léo gastava horas do seu dia em seu projeto de felicidade, fazia

uma pausa apenas quando Roberta aparecia para visitá-lo, ou

quando ele mesmo ia vê-la na sala de tentativa de justiça. As

visitas não eram raras já que ficava próximo de sua biblioteca.

A cada dia a mãe de Roberta se aproximava mais da viagem

inevitável que a levaria para o descanso interminável de sua

alma. Roberta não se dava conta que ficaria sozinha no mundo,

jamais conhecera seu pai. Sua mãe jamais tinha contado o que

acontecera, disse apenas que ele havia sumido pouco tempo

depois de saber que ela estava grávida. Ela não tinha a menor

intenção de esconder a identidade de seu pai, apenas sempre

disse que não valia apena conhecê-lo.

A história de Roberta seguia a ordem de muitos que vivem em

meio às mazelas da sociedade. Roberta sempre aceitara o fato

com serenidade, e como sempre ouviu de sua mãe que seu pai

não traria uma vantagem imaginável fez com que ela sempre

aceitasse o fato com sabedoria. Na verdade sua mãe sequer

permitiu que ela aguçasse uma curiosidade sobre o pai. A

realidade de uma vida se difere e muito de roteiros de filmes e

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boas estórias dramáticas. Dramas da vida real que dariam e dão

bons roteiros são exceções as regras.

A vida de Roberta apesar da dura realidade que se encontrava

não havia um drama acentuado, não em seu ponto de vista. É

incrível e notável a capacidade que os humanos possuem de

sempre ver a vida do outro, mais dramática que a sua, fazendo

assim a magia dos filmes, dos livros da vida, da grama mais

verde...

Léo tinha consciência da realidade de Roberta e jamais a

abandonaria:

- Como abandonar alguém que ele aprendera a gostar tanto?

Dizia ele para Sonia, que acenava com a cabeça em um gesto de

confirmação. Ele via Emily em Roberta, no entanto era inegável

e gratificante ver nela uma personalidade tão diferente e forte

que a deixava especialmente magnífica.

- Não me preocupo Léo, quando chegar à hora, sei que vai agir

com sabedoria.

- Roberta não tem ninguém alem da mãe. Não vou abandoná-la.

- A ordem da vida é inevitável e ela irá ficar sem ninguém logo.

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- Você já faz muito por ela, você é um exemplo de ser humano.

Disse Sônia com os olhos a lacrimejar de emoção.

- Como está seu livro?

- Perfeito. Disse ele

- Ta conseguindo manter a felicidade em toda a estória?

- Com certeza. A felicidade é apenas sensações. Como dizem a

dor é inevitável, mas o sofrimento é opcional. É claro que a vida

às vezes pode ser dura a ponto de não ser possível sermos

racionalmente felizes, no entanto às vezes precisamos nos

beneficiar de nossas características irracionais e menos humanas.

- tudo bem, se você diz que a felicidade é sempre possível eu

acredito.

- Antes pensava que não, porém a vida me mostrou que é sim

possível.

- Espero que termine logo. Estou curiosa para lê a sua obra de

arte.

- Não se preocupe que será a primeira a ler. E não irá demorar,

muito já passei da parte que escrevo o livro, agora ele estar se

escrevendo. A sensação é como um orgasmo para quem escreve.

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- Nossa! Bela analogia.

Léo se encontrava hoje em plena felicidade de seus segundos

presentes, e Sonia compartilhava este sentimento. Ele pensava no

que já havia passado; nas dificuldades de outrora e hoje estava

com uma família bem estruturada, apesar de apenas dois

membros diretos; na verdade três. Roberta já era considerada da

família.

CAPITULO XIX

O acontecimento

Uma bela tarde na praia um belo casal a correr, movidos por

típicas brincadeiras e beliscões de uma paixão em plena

vivacidade. Corriam, manifestavam e exercia um amor de

verdade, quando em uma brincadeira qualquer Emily deita-se

suavemente na areia branca e fofa da praia. Léo um pouco atrás

continua a correr até alcançá-la, imaginando que ela se deitara

apenas para descansar. Com a intenção de fazer o mesmo repete

seu gesto deitando-se em posição contrária a dela. Tenta abraçá-

la e ela não se mexe, é então que ele percebe que algo está

errado. Ele senta para poder observá-la melhor e nota que seus

olhos estão fechados e sua pele pálida como nunca. Uma triste

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frieza enche seu coração e uma preocupação justa preenche todo

seu corpo.

Ele com a calma que lhe era possível e com reação que lhe vinha

à mente pega o corpo flácido e quase sem vida em seus braços e

corre até o carro, depois de verificar que ela ainda respirava.

Coloca-a no banco de trás e com o devido cuidado a envolve

com o cinto e avidamente se direciona para o hospital da cidade.

Chegando ao hospital com a ajuda dos enfermeiros Emily

rapidamente é encaminhada para o atendimento devido à

gravidade da situação. Léo tenta acompanhar a maca, entretanto

é impedindo com êxito por um enfermeiro que se utiliza das

frases clichês para desvencilhá-lo de sua caminhada e da ligação

que tinha com aquela doce garota que agora com certeza estava

precisando de sua ajuda.

Léo obrigou-se a ficar na sala de espera com a típica aflição das

esperas que sempre trazem maus pensamentos. Aproveitou o

momento para avisar a mãe de Emily que prontamente desliga o

telefone e se direciona para o hospital. Ao chegar o ver em uma

agonia justa. A partir de então, apenas às típicas cenas clichês se

sucedem, as cenas que eram predeterminadas pela situação de

Emily que tão comum a vida humana não precisam ser descritas.

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Ele conta o que ocorrera na praia em todos os detalhes, deixando

a mãe ainda mais desnorteada. A falta de noticia e as constantes

suposições sobre o que poderia ter ocorrido com Emily deixavam

os dois desesperados.

Depois de um longo tempo de espera o médico de jaleco verde

claro se aproxima:

- Familiares de Emily Lewick!

- Somos nós! Responderam em coro.

-Diga-me doutor o que aconteceu com Emily? Indaga mãe de

Emily com a voz tremula de aflição.

-Tenho que ser sincero com vocês, as notícias não é das

melhores. Ela está com um quadro avançado de câncer na

hipófise. Devido ao seu estado o tempo de vida dela não passará

de... Estipulou um tempo curto de vida para Emily.

Léo não conteve as lágrimas e sentou-se sem forças em uma

cadeira acolchoada ao seu lado. Inevitavelmente em sua mente

começaram as indagações, as malditas indagações como se a

vida não pudesse continuar de forma alguma a partir daquela

notícia. E quando Emily souber? Qual será a sua reação? O que

vamos fazer? O que eu vou fazer? Como vou encará-la? E o que

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fazer com meus sentimentos? O que fazer com os sentimentos

dela? As perguntas, as incertezas, a vida em contraste com a falta

de vida preenchiam involuntariamente sua cabeça.

A falta antecipada da presença de Emily já o afligia o mundo

como ele conhecia estava desmoronando em sua mente. As

lágrimas escorregavam sobre sua face em desespero como uma

cachoeira desaguando todas as alegrias de sua mente. A sua dor

era neste momento dupla e justa, ele sofria por ele e por Emily,

imaginando a dor que sentiria ao ter que conviver com aquela

nova realidade.

Ele sequer ouviu as ultimas palavras do médico que já se

retirando proporcionava a família um gesto automático de apoio.

A mãe de Emily senta-se em desespero, suas mãos não se

encontravam, seus gestos desconexos denunciavam a dor que

qualquer um entenderia só de imaginar, entretanto nunca a

imaginação de alguém chegaria à intensidade que é sentir

deveras a dor que os dois sentiam e transmitiam em um

profundo desconcerto.

Léo não perguntara se Emily estava acordada e já estava ciente

do que lhe ocorrera, aquela noticia o perturbou de tal forma que

lhe tirara a capacidade de raciocínio lógico.

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Emily aparece naquela nave de rodas que não a elevaria até as

nuvens, no entanto era o inicio de um caminho até lá bastante

significativo. Nave esta que seria sua companheira em muitas

visitas aquele mesmo local a partir do fatídico dia de verão que

mudaria sua vida para o eterno tempo lhe restava.

A mãe olha aquela cena e as lágrimas começam a desaguar uma

dor agora já desmerecedora. Emily pede em um gesto qualquer

em conjunto com um carinho que a mãe se acalme. Léo

paralisado em sua mente corre em todas as direções no corredor

sem saber como reagir. Embora o desespero fosse normal

naquele momento ele tinha receio que Emily não suportasse sua

dor e também se desesperasse. Sem resistir às emoções ele se

entrega e desaba sobre o colo de Emily em um choro aterrador e

justo.

Emily passa a mão em seus cabelos e apenas diz as primeiras

palavras que lhe vem à cabeça, palavras estas que

definitivamente não partiam do coração:

- A vida imprevisível me proporcionou este destino, não cabe a

vocês intensificarem minha dor; preciso que todos sejam com

certezas mais fortes que eu.

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É uma tarefa árdua, porém necessária. Emily estava sendo

sensata, uma sensatez que Léo quis acreditar que ela adquiriu

devido ao efeito de algum remédio. Ele sofria como nunca

naquele momento, a sua felicidade estava em jogo, a sua vida

planejada com tanto amor sentado ao cais na praia mais calma da

cidade ia-se com aquela triste notícia. Emily sempre calma

tentava sem sucesso acalmar os dois ali presentes, seria uma

tarefa árdua e que levaria um tempo para ser concluída, talvez

nunca totalmente, no entanto a habilidade do ser humano de

resguardar suas dores é admirável e a partir de entao precisaria

ser bem e sempre utilizada por todos.

Eles precisavam retornar para casa, Emily por enquanto não

tinha mais nada a fazer naquele local, entretanto precisaria voltar

ali mais do que gostaria. Ali ou a qualquer outro que seguisse a

mesma linha e falta de cores deste.

Sem condições nem para controlar suas emoções Léo entra em

contato com um amigo para levá-los até a casa de Emily. Ao

chegarem todos presenciaram um novo tipo de dor, a de retornar

aos locais que conviviam em plena felicidade e agora ter que

notá-los e já sentir uma saudade de poucas horas atrás. A cada

novo olhar em qualquer que fosse o local daquela casa nascia

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uma nova lágrima, e as dores se intensificavam, foi ai que nem

Emily se conteve e se deixou levar pelas as emoções.

Léo leva-a até o quarto, onde por muito tempo serviria de local

para resguardar suas dores e que por longo período foi o local

onde guardou boas lembranças. Emily fita sua coleção de

bonecas, sua escrivaninha, penteadeira. Toda uma vida se

encontrava naquele quarto, ainda intacta. Ela olha para agenda

onde escrevera todos os momentos importantes de sua vida, e a

vida começa a passar rapidamente em sua cabeça: as alegrias

passadas, as lembranças ao lado de Léo. Sua felicidade ia-se de

acordo com que as recordações surgiam em sua mente.

Léo não iria abandoná-la naquele momento, e a todo instante

fazia questão de repetir isto para ela em palavras e gestos de

carinho, beijos e abraços que Emily aceitava comprazer. O medo

finalmente ou já atrasado surgira em seu coração, pensou na

morte, no fim de sua vida e no destino injusto que a vida

composta de células frágeis e desordenada lhe proporcionara.

Então a sensatez começa a dar o ar da graça novamente nos

pensamentos de Emily:

- Já que a vida me ofereceu este fim, vamos ter que aprender a

ser feliz com o mínimo que me resta. O que eu cabo de dizer?

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Questionou ela a si mesma. Que palavras mais indignas acabam

de sair de minha boca! Nunca mais repetirei palavras tão

injustas. Léo! Ainda sou eterna e a vida está em mim. A

felicidade que todos desejam ainda se encontra intacta em meu

coração e mente. Não perderei tempo imaginando momentos que

me farão felizes, vou tratar de ser feliz nos meus segundos

presentes, assim como havíamos planejado. Não importa o meu

tempo de vida, ele não determinará a intensidade nem a

dimensão de minha felicidade. Dizia estas palavras aos gritos

torvos forçando sua garganta com toda força e poder que havia

em sua mente.

Léo apenas concordava estático àquela reação. Pensamentos

injustos e humanos transitavam sua cabeça em uma constante

discrepância entre mente e coração. Havia tanto a si pensar sobre

tudo o que ocorrera desde aquele momento de alegrias na praia

que se transformou em uma tristeza incomensurável. Naquele

momento a vida dera uma reviravolta de todos os graus possíveis

e o deixara com uma dor profunda, aguda e sem precedentes.

Ele não conseguia pensar racionalmente em nada, na verdade a

única racionalidade possível em uma situação tão árdua seria

permitir-se sentir toda dor possível. E foi o que Léo fez, deixou

que toda aquela dor o inundasse com qualquer sentimento que as

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malditas reações químicas em seu corpo o transmitiam nas mais

variadas sensações.

Sentou-se ao assoalho próximo a cama de Emily e deitou

levemente a cabeça em suas pernas. Ela agitava seus braços em

um movimento continuo como um tíquete nervoso, talvez em

uma tentativa de mostrar ao universo que ela podia ainda

movimentar-se e expulsar as injustiças ou o curso natural da vida

que em casos como este não tinha culpado.

Léo apenas grita, resmunga os mais altos alardes que um ser

humano pode emitir no silencio de poucos soluços que se

evidenciavam nos sopapos de seu corpo ao colo de Emily. Sentia

o calor da vida de sua amada numa leve camisola de linho de cor

branca. Ele não queria deixar de senti-la ele não podia deixar de

senti-la em seus braços. Ela dera um sentido a sua vida sem

razões, dera um sentido e um valor ao ar que respirava. A vida

lhe passava diante dos olhos que permaneciam fechados, olhos

que nada viam senão aquela dor incalculável.

Vira seu pai em constante ausência por conta do trabalho, sua

mãe indiferente sempre, a morte dela não justa, no entanto as

suas próprias atitudes e seu intimo relacionamento com o álcool

a levaram ao inevitável fato do fim de sua vida. Recordara o

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quanto a sua vida não fazia sentido antes de conhecer Emily, o

quanto o ato de voltar para casa era algo desagradável para ele

em vez de ser prazeroso. o quanto a palavras lar era uma palavra

usada incorretamente quando usada para se referir a sua casa. Por

sorte não se encandeou por caminhos que o levariam a mazelas

sem volta da sociedade, fato que se consumaria logo caso não

tivesse conhecido Emily.

Toda a sua vida, desde a infância, onde foi tratado com o mínimo

para não dizer nada de carinho por parte dos pais passava como

um filme em sua mente. Era inevitável o pensamento de que a

vida o estava destinando a não amar e não ser amado. Por que

agora que estava tudo ocorrendo como ele sempre sonhou o

universo resolvera lhe tirar tudo novamente? Disse numa

tentativa de encontrar os culpados para o curso de sua vida.

O tempo passou Emily em seu silencio necessário deixou que

Léo sentisse a dor que lhe era útil sentir, usou esse tempo para

organizar as idéias, para também antecipar o conformismo

humano muito útil a nossa sobrevivência.

Em silencio, depois de mais de uma hora, quando todas as

lágrimas do dia si esgotarem, Léo em uma aparente calma

levanta-se olha nos olhos de Emily, toca seu rosto, enxuga os

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últimos vestígios de lágrimas em sua face, da as costas e sem

dizer qualquer palavra segue para a porta do quarto e si vai.

Emily não esboçou reação alguma, qualquer que fosse sua

atitude poderia acarretar outra daquelas emoções sem fim.

Desconsolado retorna a sua casa, deita-se e fecha os olhos na

esperança de que o amanhã jamais chegue. Na esperança tola que

todos nós um dia na vida já sentimos; dormir para acordar de um

pesadelo que é a vida, sonhando acordado que vai despertar no

outro dia em uma nova realidade em que nada do que ocorrera

hoje fora real. Na verdade ele desejava que jamais acordasse

daquele sono para não ver a realidade novamente, porém a vida e

sua ordem são inevitáveis para todos.

Na manhã seguinte Léo acorda, abre ligeiramente os olhos, mas

torna a fechá-los numa tentativa de esquecer que ainda vive uma

triste realidade, porém sem sucesso. Ele olha a sua volta, nota os

raios de sol que atravessam a fina cortina da janela, e então

aquela sensação invade suas entranhas como um parasita que

entra pela boca e começa a devorá-lo rapidamente por dentro.

Uma ânsia de vomito lhe cai ao estômago com a força de um

meteoro. A vida continuava, o dia retornava com suas malditas e

velhas cores opacas.

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Não queria levantar da cama, mais uma vez fecha os lhos para

tentar dormir, numa tentativa sem sucesso. Tentativas essas que

se repetiram incontáveis vezes aquela manhã, embora a realidade

sempre lhe mostrando a sua cortante existência, ele não parava

de tentar. A fé é de longe a mais perigosa peculiaridade do

homem. Às vezes ela nos prende numa realidade inexistente de

que ainda se é possível conviver com a vida real, entretanto ela

pode também nos levar a loucura de esquecermos a vida real por

completo e passamos a viver uma realidade particular em

conjunto com a imaginação, se é que dá para distinguir fielmente

esses dois conceitos.

Para alguns, a fé não nos priva da realidade, mas nos faz crer que

é possível encontrar um novo caminho, uma nova solução, ainda

que não a esperada, o que nos dá esperança e nova força para

continuar. Cada pessoa crie seu próprio conceito de fé. Leo, no

entanto, talvez quisesse uma nova realidade, só que cada vez que

abria os olhos à realidade lhe era inevitável. Sem conseguir

retornar ao seu sono do esquecimento e fuga da vida que tanto

desejara, então resolve levantar e enfrentá-la.

O que se seguiu foram apenas atividades corriqueiras de toda

manhã, só que com uma falta de força e vigor aceitável; banho,

escovação de dentes, um café preto com pouco açúcar, pega o

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carro na garagem, respira fundo, era chegada à hora de rever

Emily. Neste momento já sentia um sentimento agradável no

coração, um desejo de rever a beleza de sua amada era inevitável

e gratificante. Era a paixão revelando o seu poder no forte

homem de pouca fé, foi esse sentimento que o dominou,

limpando sua áurea de qualquer vestígio de dor. Já na estrada

acelera, pois o desejo de rever os olhos de Emily era quase que

incontrolável.

Estaciona em frente a casa, e então nota o ar mórbido que havia

se instalado naquele local, ele o repugna e entra sem bater. Todos

estavam sentados a mesa do café, expressões cansadas, olheiras,

o que indicava que pouco si dormira ali.

Léo senta-se próximo a Emily, seus olhos ameaçam novamente

desaguar. Uma ou outra lágrima ainda ameaçava cair como a

situação o exigia, porém ele as conteve a duras penas.

Uma palavra de comprimento cordial aos sogros, uma pergunta

clichê de como estavam, se estavam bem, como passaram a

noite. Respostas clichês; na medida do possível foi tudo bem.

Emily levanta-se do seu silêncio, olha para Léo e deixa fluir as

primeiras palavras desde a noite anterior:

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- Léo você me leva até a praia?

Léo não estranhou seu comportamento, levanta-se já pegando a

jaqueta que estendera nas costa da cadeira e segue em direção a

porta. Uma ou outra recomendação da mãe, agora as

preocupações com Emily tinham que ser dobradas. Sua nova

realidade a obrigava a acometer-se de alguns privilégios,

privilégios estes que ela não desejava e certamente não os

usufruiria. Se para obtiver privilégios era necessário passar por

aquela situação, melhor seria não ter vantagem alguma. A mãe

desejando demonstrar-se forte deixa-a ir fingindo pouca

preocupação.

- Nós precisamos conversar. Disse Emily olhando firme nos

olhos de Léo já dentro do carro:

- É claro meu amor.

Chegam à velha e adorada praia onde se conheceram. Descem do

carro, dirigem-se até o velho cais de sempre. Emily fita seus

olhos com aquele doce olhar que costumeiramente acalmava Léo

e o faziam sentir-se nas nuvens.

- O que menos precisamos é negar a realidade, precisamos

aprender a sermos felizes com o que a vida sentenciou. É certo

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que não tenho muito tempo de vida, e como minha felicidade

depende inteiramente em fazer as pessoas que amo felizes, vou

dedicar a minha curta eternidade a tratar de encontrar meios para

sermos felizes hoje, e também meios para os que aqui

permanecerem sejam felizes mesmo após minha viagem as

nuvens.

Léo estava encantado e agora sim estranhando a atitude de

Emily. Como ela podia agir com tanta serenidade diante de uma

situação tão aterradora? Das duas uma, ou ela já havia

conseguido praticar o bendito conformismo humano, ou estava

fingindo muito bem.

Emily falava sem parar, apenas desejando dizer tudo que havia

planejado anteriormente. Passara a noite planejando sua vida,

reformulando de acordo com a nova realidade. A vida teria que

ser agora vivida como nunca, dizia ela deixando seus lábios

levemente encostarem um no outro, fluindo o mais belo timbre

que alguém podia emitir ao falar. Pelo menos era o que Léo

ouvia e sentia ao olhar o movimento da boca de sua amada que

julgava ser eterna enquanto falava.

Ele apenas a observa, já não ouvia ou não compreendia suas

palavras apenas se deliciava com o som que emitia Emily ao

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falar qualquer coisa. Ele a silencia com um beijo, um beijo que

para ele tinha sido o mais intenso de sua vida. Sentia sua amada

vibrar durante aquele beijo enquanto segurava seus braços.

Como ele queria que o tempo parasse naquele momento, como

eles queriam que o tempo parasse! Inevitavelmente cai uma

lágrima salgada dos olhos de ambos, talvez desde então, as

lágrimas mais justas que alguém já derramou enquanto beijava.

Lágrimas que com certeza não provinham dos olhos, lagrimas

que vinha das mais profundas vielas do coração e que seguiu o

caminho mais íngreme que existia para chegar até suas faces

encostadas uma à outra. Aquelas lágrimas chegavam até a

superfície, no entanto o percurso que percorrera não havia sido

fácil. Ela vinha cortando os sonhos de ambos, sonhos que fora

idealizados há algum tempo pelo jovem casal, que agora

choravam muitos mais seus questionamentos que propriamente

suas convicções sobre a nova realidade.

Este beijo durou a eternidade nas mentes do casal apaixonado, a

vida merecia aquele beijo eterno, o universo para ser ao menos

um pouquinho justo precisava eternizar aquele instante de amor.

A vida real em contradição com seus desejos exigiam que aquele

beijo durasse apenas alguns segundos. Retornaram a beleza da

praia que podiam ver e tocar, pelo menos em tese. Seus olhos

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encharcados revelavam o quanto pode ser dura a vida. Entretanto

as palavras de Emily contradiziam tudo que a vida real queria

impor a alguém tão cheia de vida como aquela menina, àquela

mulher- que se encontrava sentada ao cais da vida pronta para

partir.

Dizia Emily soluçando:

- A felicidade está muito mais em mim.

Léo queria por força discordar de Emily, no entanto ele não sabia

quais eram seus planos. Pensou ele que viveria intensamente

aquele amor até o fim assim como no cinema. Mais Emily

sempre ligada à realidade não podia permitir que Léo sentisse

aquele sentimento até o seu ultimo dia na terra, não naquela

intensidade, seria muito duro para ele. Então tratou de encontrar

meios para tornar aquela paixão em amizade, fato que conseguiu

a duras penas e longos períodos tratando-o como apenas um

amigo. Rejeitando suas tentativas de beijá-la; não se dirigindo a

ele pelos apelidos carinhosos que inventaram no auge da paixão;

não demonstrando o que sentia em seu coração, que se rasgava

em milhões de minúsculos pedaços toda vez que tinha que

abrigar em calabouços de sua alma aquele sentimento tão

intenso.

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E para remontá-lo? Não era possível que todos os pedaços

voltassem para seu local original, sendo que toda vez que se

estilhaçava; pouco daquele novo velho coração permanecia ao

chão sem jamais retornar ao que outrora foi, entretanto ela jamais

deixou de ser feliz por qualquer que fosse a razão.

Ambos fingiam, resguardavam seus sentimentos nos mais

escondidos recônditos da mente, ato que fora necessário. Não

podia ser representado aquele ato nobre como uma fuga, estava

mais para uma forma de continuar a vida da maneira mais fácil

que imaginaram, porém se demonstrou um tanto mais difícil a

execução dos planos do que apenas expressados verbalmente por

Emily.

Depois daquele eterno e ultimo beijo a vida passou um tempo

curto sem grandes acontecimentos. Apenas Emily tratando Léo

como um simples amigo para arrancar a força o sentimento que

havia inicialmente em seu coração.

Léo demorou um tempo para perceber qual era o objetivo de

Emily com aquele comportamento estranho, porém quando

percebeu já não tinha forças para revogá-lo, e aceitou sem

esboçar reação que a fizesse mudar de idéia. Léo passou a fingir

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que nunca houve um romance entre eles, e aos poucos passaram

eles mesmos a acreditarem naquela realidade. Talvez ele nunca

esquecesse Emily realmente.

Emily jamais esqueceu Léo até mesmo por que não precisava.

Seu amor por ele jamais diminuiria, muito pelo contrário a cada

dia só crescia, pois o amor jamais retrocede. O amor não acaba

apenas muda a forma de agir. Se amor acaba, ou se transforma

em qualquer sentimento, seja raiva, rancor ou qualquer outro

sentimento é por que não era amor.

CAPITULO XX

Adaptando- se a nova realidade

Numa manhã qualquer não diferente de tantas; recebeu Léo em

sua biblioteca a noticia que a mãe de Roberta havia partido para

as nuvens como uma guerreira que havia lutado até as ultimas

conseqüências para deixar um local seguro e confortável para

sua filha. Porém a vida não havia lhe agraciado com dinheiro e

nada deixou de bens materiais, a não ser o verdadeiro desejo que

a filha fosse feliz.

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Léo a tempo ciente da situação de Roberta já havia preparado

tudo, inclusive a cerimônia que a sociedade exigia em todos os

conformes.

Léo corre até a sala de tentativa de justiça, que em muitos casos

conseguiam realmente atingir a tão almejada justiça, no entanto

em outros nada podia fazer. Ele chega e encontra Roberta com a

cabeça entre as pernas, sentada em um canto qualquer naquele

lugar sem cores. A via frágil como tinha que ser uma garotinha

que perdera a mãe. Aproxima-se dela, a toca na cabeça em gesto

de conforto, ela suavemente levanta a cabeça e revela seus olhos

que não se distinguia de uma cachoeira de lágrimas. Quando Léo

além vir compreende aquele gesto. Sente um profundo arrepio na

espinha, um intenso sentimento por aquela garotinha que fazia

questão de demonstrar que era forte em um ato tão frágil.

Ele a abraça e chora, chora ao ver os olhinhos de Roberta se

desmanchando em lágrimas, não resistiu e não conteve suas

emoções, desabou também em lágrimas. Pelo menos agora ele

podia chorar e estas lágrimas eram justas. Permaneceram alguns

minutos abraçados. Léo sentiu-se na obrigação de cuidar daquela

menina que agora não tinha mais ninguém além dele. Toma-a

nos braços e leva para sua casa, para aguardarem o corpo daquela

que já não se encontrava mais ali, já estava muita a frente de

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todos. Ele então cuida de todos os tramites para os

procedimentos da cerimônia do ultimo espetáculo da mãe de

Roberta.

Léo preparava há algum tempo os papeis da adoção de Roberta

com o consentimento de sua mãe, ela teria um lar, Léo satisfaria

agora sua idéia de casa de família. O dia passou rápido, naquela

calma pressa inerente ao que se refere a estas cerimônias da vida

humana.

No dia seguinte, Roberta sentia aquele vazio inevitável a quem

perde alguém querido, agora tentava uma adaptação árdua a casa

de Léo. Léo e Sonia fazem todo o possível para tornar sua

permanência ali o mais fácil possível. Numa tentativa de animá-

la Léo aproxima-se de Roberta com uma linda boneca de vestido

salmão com rendas brancas em suas extremidades e chapéu

elegante de mesma cor, era uma boneca a moda dos tempos

coloniais e entrega-a.

- Sabe de quem era esta boneca?

Ela balança a cabeça em sinal de negação.

- Esta é a ultima boneca da coleção de Emily, e sei que ela

guardou especialmente para você, mesmo nunca tendo dito, sei

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que ela deixou esta boneca intacta para que ela servisse a um

objetivo. Até então eu não sabia qual, mas agora sei que ela foi

guardada para que fosse entregue a uma linda garota de

personalidade forte que é você. Não consigo imaginar ninguém

que pudesse cuidar dela além de você e sei que Emily deseja que

você fique com ela e guarde com carinho. Roberta aceita

emocionada a ultima boneca de Emily, e dar um caloroso abraço

em Léo.

Não era fácil mudar de casa, no entanto Roberta Há muito

tempo não tinha um lar de verdade, e as constantes visitas a casa

de Léo antes mesmo de sua mãe partir, estavam ajudando na

medida do possível na adaptação. Não demorou muito para ela

para se acostumar. A casa era sempre cheia de vida, as

constantes piadas de Léo tornavam o ar mais leve, a capacidade

de Roberta em se manter serena e sempre de bom humor lhe foi

bem útil nesta adaptação. O tempo passou, Roberta se adaptou

perfeitamente a sua nova família. Ia com Léo e Sonia a

biblioteca, ajudava- os no que podia principalmente nas

indicações de livros, já que lia bastante com um prazer

incomensurável.

Léo em sua vida comum e feliz continuava a escrever seu livro

inteiramente de felicidade, missão que o deixava útil e feliz,

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Sonia sempre com seu ar leve continuava a vida como tinha que

ser, o tempo passava, passava porque ele jamais para ou

retrocede. O tempo continua a passar independente de qualquer

coisa, independente do desejo que ele passe ou não, Léo não se

importava e nem contava mais o tempo, na verdade como dizem:

só percebemos que temos olhos quando eles param de funcionar

perfeitamente. A vida de Léo seguia seu curso natural sem

grandes acontecimentos, sem grandes surpresas.

CAPITULO XXI

O dia do encontro e depois dele

Emily sai de casa em um fim de tarde qualquer e se dirige a praia

com um lenço em volta do pescoço, de onde ele talvez nunca

devesse ter saído, eram lá que eles representavam a beleza pelo

qual foi criado para propiciar. A vida porém, sempre revela

surpresas, mais tarde ele passaria a ser usado com outro fim, o de

proteger sua cabeça. Ela ia à praia constantemente apenas para

correr em direção ao sol ou ao seu lado, sem objetivo algum, sem

interesses reais, apenas o seu próprio contentamento de poder ser

feliz por estar respirando. A felicidade de sua vida comum lhe

propiciava estes momentos.

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Lá ela encontra Léo, Sentado na areia; calça jeans desbotada,

jaqueta de couro, artefatos de uma beleza contestável até mesmo

para ele que os usava, pulseiras com espinhos metálicos, a

perfeita descrição de um jovem rebelde. Olhava em direção ao

sol que ameaçava trazer a noite em sua costumeira fuga para

iluminar outra nação. Que pena que ele o máximo que conseguia

era se refugiar na praia e apreciar o sol se esconder todos os dias.

Léo queria ir, fugir e diferente do sol não mais regressar ou se

voltasse queria retornar renovado. A vida possuía suas mazelas,

apesar de ser de uma família rica lhe faltava o carinho e a

presença de seus pais. Era um jovem rico que podia ter tudo em

bens materiais, no entanto seu esforço para ter o carinho

necessário a toda família bem estruturada não lhe era oferecido,

então corria para a rua, praia, qualquer lugar longe da vida

humana que não influía em sua vida.

Em todos os fins de tardes ele vinha até o mesmo pequeno cais

que havia próximo de sua casa para ver o sol se pôr. Por acaso

aquele dia viu uma moça carregando um lenço a correr em

qualquer direção, apenas corria e deixava seus cabelos e o lenço

a pairar no ar, na ventania daquele fim de tarde. Ele não iria

incomodá-la e não o fez. Apenas ficou a fitá-la a vislumbrar

tamanha beleza; toda aquela leveza, aquelas cores alaranjadas de

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fins de tarde que deixavam seus cabelos castanhos também

dourados como o sol. O lenço em suas mãos parecia um véu de

cor alguma em contraste com a luz do sol, era apenas uma

sombra de uma beleza incontestável. Observá-la já era

gratificante o suficiente, ela não tinha direção, talvez sequer

objetivos, queria apenas correr com a leveza e liberdade que a

vida de certo feliz a proporcionava, Léo via naquela linda jovem

a felicidade.

Ele não iria incomodá-la, no entanto ela o notou a observá-la e

então muda de direção, e corre ao seu encontro. Agora sim

aquela jovem tinha para onde ir, Léo nervoso não esboçou reação

alguma, apenas esperou. Ela se aproximou e olhando para o céu

em vez de olhar em seus olhos disse:

- O que faz aqui sozinho?

- Nada, só observando o sol.

- Devia correr atrás dele, ou você vai deixar que ele parta sem

fazer nada? Vamos correr atrás dele comigo! Ele não conseguia

entender aquela garota, ela mal o conhecia, na verdade não o

conhecia e já tinha com ele uma intimidade como se conhecesse.

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Léo ficou encantado e pensou que podia correr com ela, não que

ele estivesse acostumado a fazer tudo o que as pessoas sugeriam,

porém aquela moça tinha algo de interessante, para ele correr

seria a melhor escolha si fazer. Sem objetivos, sem cobranças,

apenas correr atrás, ou ao lado do sol. Aquela linda jovem até

então sem nome, lhe deixara leve e livre, nada lhe faria mais

feliz. Então levanta do pequeno cais limpa a calça e segura na

mão da moça e começam a correr.

Corriam sem objetivos, estavam certos que não daria para seguir

o sol, ou correr ao seu lado, era preciso apenas sentir o calor de

seus últimos raios, no entanto a ilusão era necessária e fácil de

senti-la naquele momento. Quando a vida demonstra ser no

mínimo igualitária aos que desfrutam do mesmo ar, as ilusões

são corriqueiras necessárias e dignas. Naquele momento

enquanto corriam as suas vidas eram perfeitas independente do

resto, no mínimo dava para fugir e sentir a beleza dos ventos não

cortantes daquele fim de tarde banhados pelos últimos raios de

sol de verão daquele dia.

Léo há muito tempo não se sentia tão feliz; a felicidade simples

de estar ao lado de alguém sem cobranças, sem preocupações de

estar agradando. Apenas corriam! Que cobranças poderia haver

em manter as pernas em movimentos?

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O sol se pôs e a bela moça sem nome teve que ir embora, Léo

retornou a sua solidão sentado ao cais; ele não conseguia parar

de pensar naquela moça, na verdade não queria parar, não havia

cobranças nem em relação aos seus pensamentos, em relação à

bela moça que o convencera a uma corrida ilusória ao lado do

sol. No dia seguinte depois de enfrentar o longo dia de cobranças

retornou ao mesmo local de sempre na praia, com a doce ilusão

de ver novamente a moça do lenço sem cor devido aos reflexos

do sol.

Esperou bastante tempo com os olhos fixos agora não em direção

ao por do sol e sim na direção ao local onde vira aquela linda

moça surgir. Agora havia outro sol, outra luz, e era palpável,

real, e ele com certeza podia caminhar correr ou até mesmo

flutuar ilusoriamente ao seu lado. Era uma sensação que não

necessitava de descrições como nomes de sentimentos ou coisa

do tipo, apenas sentir seria o justo e ele não poupava esforços

para sentir aquele sentimento.

Esperou bastante tempo sem que ninguém aparecesse, também

pudera ele havia ido duas horas antes do que de costume. Estava

ansioso para revê-la que se esqueceu de olhar à hora. Eis que um

vulto de longos cabelos alaranjados aparece por trás das velhas

madeiras do antigo cais já sem uso. O coração de Léo dispara,

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por mínimo que fosse aquele ato, em muito tempo aquele era o

momento em que sua vida fazia sentido, então aquela emoção era

justa e também digna.

Ela se aproxima com um sorriso que apenas Léo conseguia

imaginar, o sol a deixava com as incontestáveis sombras da

beleza. Ela senta-se ao seu lado sorrir e não diz nada, nem

mesmo uma palavra de educação, uma saudação qualquer. Léo

fica intrigado, mas também não diz nada. Eles permanecem

parados, apenas olhando o sol. Quão bom seria se todos os

humanos compreendessem o silencio de todos e não necessitasse

de desperdícios de palavras.

O silencio dos dois dizia mais que quaisquer palavras. Ia-se o sol

para o seu destino diário, e na mesma proporção o ombro

daquela linda jovem escorregava em direção aos braços de Léo.

Ele sem esforço mantinha-se paralisado, no entanto a sua mente

não perdia nem um instante daquele momento mágico. Daquele

dia em diante os dois sempre se encontravam na mesma hora e

sempre no mesmo local na praia para ver o sol. A partir deste dia

nasceu uma amizade calorosa, um amor estonteante entre Léo e a

linda moça de cabelos alaranjados pelo brilho do sol.

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Havia encontros não casuais em toda parte, eles conversavam

muito, faziam planos. Vivia uma relação doce e saudável, a vida

comum e simples apenas com as peculiaridades inerentes a vida

de cada um dominavam aquela relação. Havia os planos comuns

a todos. Planos que seguiam ordem natural da maioria dos

humanos sem os imprevistos. Léo vivia um amor adolescente e

ao mesmo tempo maduro, sempre se enchendo de sonhos e

fazendo planos que nunca antes a vida o tinha permitido de

sonhar.

A vida seguia, Emily foi conhecendo Léo e aprendendo a gostar

mais ainda dele:

Léo fazia questão de demonstrar seu amor sempre para Emily:

- Sabe, mesmo quando fecho os olhos ainda sinto sua beleza, isso

prova que seu encanto vai muito além do que se pode ver ou

tocar, eu posso senti-la até de olhos fechados. Minha princesa de

cabelos da cor do céu do fim de tarde.

- Você é muito gentil.

Emily sempre carregava consigo papel e qualquer coisa que

pudesse escrever em qualquer momento de inspiração.

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- Vamos escrever os discursos do nosso casamento? Disse Emily

ficando de joelhos.

- Não seriam os votos?

- Tanto faz! Disse ela já pegando o papel para escreverem os

votos do distante casamento do casal apaixonado.

- Só que só revelaremos um ao outro no dia de nosso casamento,

que com certeza será nesta praia, com tudo que tivermos direito.

- Tudo bem! Concordou Léo já tentando imaginar o que

escreveria. Eles passavam tanto tempo conversando sobre a vida,

sobre a capacidade de viver o presente como ninguém, que os

discursos com certeza não estariam de certa forma ligados, talvez

falassem das mesmas coisas.

Emily então já era todo e qualquer objetivo de Léo. Planejaram

entusiasmados todos os preparativos para o seu casamento, nos

mínimos detalhes, das cores de suas vestes até a música que

dançariam ao final. Escreveram seus discursos,

Emily era tão sensata em suas palavras, ajudava sempre Léo com

seus problemas em casa, o ajudava a buscar a serenidade de

buscar a felicidade dentro dele e não tentá-la encontrar nas

pessoas, o fazia compreender e tentar buscar a felicidade nas

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nuvens em vez de buscá-la em indivíduos com seus egoísmos

inerentes a racionalidade. Dizia ela sempre que as nuvens com

seus movimentos leves e suas cores ou a falta dela seria a melhor

inspiração para a vida humana injusta ou como ela pensava,

injusta, mas sem culpados.

A vida biológica cheia de surpresas aleatoriamente propicia

algumas injustiças. Emily se encantava com as nuvens sempre,

independentes do seu estado ou de suas cores. E tentava passar

sempre a Léo a graciosidade que via nelas. Ela com certeza

haviam mudado a forma que Léo via o mundo. Ele compreendeu

o quanto apenas respirar já seria um privilégio, e quem possui

este dom tem que torná-lo justo fazendo a sua vida ter sentido

principalmente para si.

Era uma vida comum; Acontecimentos corriqueiros e pitorescos

de uma vida simples. A vida segue a ordem comum a todos,

quando esta ordem foge da regra é que surge uma boa história.

CAPÍTULO XXII

A felicidade como pode acontecer

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Na casa de Léo a vida se seguia em uma felicidade que só vendo,

Roberta já se considerava um membro autentica da família. Seu

livro depois de um tempo finalmente ficara pronto. Enviou o

original para algumas editoras, que não demorou muito para

obter uma resposta positiva a respeito da publicação de sua obra.

Até então ninguém havia lido seu livro que deveria ser

totalmente de felicidade, nem mesmo Sonia.

Um belo dia Sonia entra no quarto enquanto Léo analisava o

texto final já editado de seu livro e diz:

- Tenho uma surpresa!

- Legal! Adoro surpresas. Disse Léo com um largo sorriso no

rosto.

- Tive um sonho maravilhoso ontem à noite, em que me

encontrava nas nuvens e alguém me agraciara com um bebe

lindo. Resolvi fazer o teste e adivinha o que aconteceu?

-Não! Disse Léo já comemorando aos pulos.

- Você estar grávida?

- Estamos grávidos!

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Léo gritava de alegria com sua amada nos braços aos pulos,

pulos este que logo cessaram demonstrando preocupação com a

saúde de Roberta que deveria ser perfeita durante a gravidez. Já

não queria deixar nem ela subir ou descer escadas, chegou ao

ponto de pensar em construir um elevador para o sobradinho

onde viviam. Mania que os homens têm de acharem que as

mulheres grávidas se tornam frágeis como cristais.

- Agora que lembro! Você ainda não me deixou ler o livro que

segundo você era uma tentativa de escrever uma história de pura

felicidade. Disse ela saindo do estado de êxtase que se

encontrava por conta do bebê.

Você já pode ler! Disse ele passando o texto eletrônico para uma

mídia removível para que ela pudesse ler na calmaria de seu

quarto no computador. Talvez ele não tenha conseguido escrever

uma estória que retratasse inteiramente felicidade, no entanto a

felicidade é uma questão de interpretação da vida que segue seu

curso natural, depende de como si ver, de como si nota

internamente os sentimentos de cada ser humano.

Sonia começa a ler e se encanta com a forma como Léo via a

vida, sabendo ela como ele era antes de conhecer Emily. Agora

ele tinha uma visão das adversidades bem diferentes, a cada nova

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palavra que lia ela amava mais seu esposo e namorado, o

relacionamento passara como um filme em sua mente,

relacionamento este que já rendera muitos frutos maravilhosos,

como Roberta e o bebê que estava a caminho.

A felicidade constante de acordo com o enredo da história talvez

não fosse possível, no entanto a forma como descrevera a vida

naquele livro era possível notar felicidade até quando narrava

momentos difíceis, como deve ser a vida.

Léo proporcionara novas cores à vida de Sonia, quando não, ao

menos ensinou que se é possível colorir o mundo nas cores que a

imaginação desejar, por tanto há tantas cores nas nuvens quanto

há no universo, tudo é apenas uma questão de imaginação.

Emily continuou cravada em sua memória e coração, não como

uma lembrança triste, mas como alguém que mesmo tendo

vivido pouco, viveu intensamente. Como alguém que, mesmo

tendo partido às nuvens precocemente continuaria sendo eterna.

Como alguém que tendo vivido parte de sua vida em preto e

branco, soube perfeitamente colorir seu mundo e não somente o

seu, mas o de todos à sua volta. Que distribuiu cores e ensinou

que a felicidade não está no estilo de vida, mas na qualidade que

se dar a ela. Era lembrada da forma como sempre desejou ser

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lembrada, como deveriam ser lembradas todas as pessoas que si

adiantam e dão um passo à frente de todos na vida.

A vida, independentemente das circunstâncias deve ser vista

como uma dádiva, um espetáculo único que jamais si repetirá

quando o show chegar ao seu final. Por isso mesmo dever ser

valorizada e aproveitada da forma mais justa que pode haver;

deixando que a felicidade reine na maior parte do tempo ainda

que os dias difíceis surjam. As lagrimas jamais devem ficar

presas, mas todo ser humano deve adquirir a capacidade de

converter suas dores em aprendizado e conseguinte em alegria.

“Não sei se vim das nuvens, não sei se vou para elas, não sei se

vejo nelas as suas verdadeiras cores ou se elas vêem em mim as

minhas cores reais, no entanto eu fui tudo o que desejei ser, nas

cores que imaginei.”

“Não importa se o mundo a sua volta é cinza ou de qualquer cor

opaca, há sempre um meio dentro de você de colori-lo de acordo

com as cores que sua imaginação desejar.” Emily Lewick.

FIM.

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