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JORNAL DA DIOCESE DE GUAXUPÉ | ANO XXXII - 327 | FEVEREIRO DE 2017 FECHAMENTO AUTORIZADO PODE SER ABERTO PELA ECT A Criação espera ser libertada da escravidão da corrupção, em vista da liberdade que é a glória dos filhos de Deus. (Rm 8, 21)

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JORNAL DA DIOCESE DE GUAXUPÉ | ANO XXXII - 327 | FEVEREIRO DE 2017FECH

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A Criação espera ser libertada da escravidão da corrupção, em vista da liberdade que é a glória dos filhos de Deus. (Rm 8, 21)

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“Eis que vos dou, sobre toda a terra, todas as plantas que dão semente e todas as árvores que produzem seu fruto com sua

semente, para vos servirem de alimento. E a todos os animais da terra, a todas as aves do céu e a todos os animais que se movem pelo

chão, eu lhes dou todos os vegetais para alimento. E assim se fez.” [Gn 1, 29-30]

Nesta edição, teremos a oportunidade de nos informarmos sobre a Campanha da Fraternidade (CF) deste ano que trata dos Biomas Brasileiros e Defesa da Vida, moti-vando nossas comunidades a refletirem so-bre os impactos ambientais causados pelo consumo inconsciente e crescente dos re-cursos naturais.

A partir de algumas abordagens, po-deremos nos inteirar desta proposta eco-lógica e humanizadora que a Conferência dos Bispos nos oferece. A partir da reflexão bíblica, com a análise do texto referencial produzido pela CF 2017 e também pela vi-são de nosso bispo.

Refletir sobre essa realidade nos impul-siona a perceber ainda mais nosso papel como colaboradores de Deus na história

da salvação. Quem nos ajuda de modo es-pecial a percebermos isso são dois bispos eméritos que fazem parte da caminhada da Igreja no Brasil, dom Angélico e dom Celso. A entrevista foi realizada no ano passado, mas ainda permanece atual e instigante para todos nós.

Inauguramos nesta edição uma série de reflexões, À Luz de Aparecida, sobre a 5ª Conferência do Episcopado Latino-Ame-ricano e Caribenho, realizado há 10 anos, em Aparecida. Quais serão os caminhos percorridos e as iniciativas pastorais trans-formadas por este grande evento eclesial e que iluminou a ação pastoral e missionária em nossas comunidades.

A reflexão de Atualidades traz apontamen-tos sobre a capacidade das diversas institui-

ções religiosas em convergirem suas ações em prol do bem comum e da influência da experi-ência de fé na vida social e comunitária.

Essa simbiose entre fé e vida também são temas tratados nas colunas Liturgia e Missão. A partir da oração profunda e cons-tante, na qual se sobressai a necessidade do silêncio e da meditação, o cristão po-derá manifestar ao mundo o valor de sua experiência de fé, com a concretização das virtudes evangélicas.

Mea culpa: Lamentamos um erro gra-ve na edição anterior, na qual intitulamos o depoimento Um outro olhar (p. 7), escrito por padre Aloísio Miguel Alves, com o título do artigo sobre o Batismo. Contamos com a sua compreensão, estimado leitor.

editorial

voz do pastor

expediente

Mais uma vez, nos deparamos com a Campanha de Fraternidade (CF) que sem-pre se intensifica dentro do espírito qua-resmal - tempo forte de mudança de vida (conversão) - com perspectiva de mudan-ças em nossa vida e com a possibilidade de criarmos consciência e postura novas do quanto precisamos cultivar e guardar a Criação.

Precisamos ir além da contem-plação da natureza, na sua beleza, orga-nização e nas multiformes maneiras de se apresentar. É um belo presente que rece-bemos de Deus. Por isso, é preciso saber guardá-lo, cultivá-lo e preservá-lo. Na car-ta encíclica Laudato Si’, o papa Francisco não se cansa de falar e defender a nature-za, ensina que toda a criação é um presen-te de Deus Pai para seus filhos. É sempre bom lembrar disso! Só assim a consciência humana é despertada para o cuidado com a obra criadora de Deus. “O cuidado dos ecossistemas requer uma perspectiva que se estenda para além do imediato, porque, quando se busca apenas um ganho econô-mico rápido e fácil, já ninguém se importa

realmente com a sua preservação” (Lauda-to Si’ 36).

Nesta Campanha da Fraternidade so-mos chamados a cuidar da Criação, de modo especial dos biomas brasileiros, dons de Deus, e promover relações frater-nas com a vida e a cultura dos povos, sob a, Luz do Evangelho.

Buscando uma definição de bioma, ampliamos nossos horizontes da rique-za escondida em cada um deles. Bioma quer dizer a vida que se manifesta em um conjunto semelhante de vegetação, água, superfície e animais. Uma paisagem, que mostra uma unidade entre os diversos ele-mentos da natureza.

“Um bioma é formado por todos os se-res vivos de uma determinada região, cuja vegetação é similar e contínua, cujo clima é mais ou menos uniforme, e cuja formação tem uma história comum” (Texto-Base - CF 2017).

A Campanha da Fraternidade convoca todas as pessoas de boa vontade para, jun-tos, avançarem no jeito certo de cultivar e guardar a Criação. Estabelece o objetivo

geral e os específicos a fim de provocar em toda a comunidade eclesial e social, junta-mente com as autoridades civis, o desafio da conversão ecológica a que nos chama o Papa na Laudato Si’ em relação com o espí-rito quaresmal.

A Campanha enriquece e valoriza a es-piritualidade quaresmal, pois torna a con-versão sempre mais abrangente: falamos de conversão eclesial, comunitária e espiri-tual, conversão social – estrutural e huma-na – e, por último, de conversão ecológica.

Rezemos assim:

“Deus, nosso Pai e Senhor, nós vos louvamos e bendizemos, por vossa in-finita bondade; criastes o universo com sabedoria e o entregastes em nossas frá-geis mãos para que dele cuidemos com carinho e amor. Ajudai-nos a sermos res-ponsáveis e zelosos pela Casa Comum; cresça em nosso imenso Brasil o desejo e o empenho de cuidar mais e mais da vida das pessoas e da beleza e riqueza da cria-ção, alimentando o sonho do novo céu e da nova terra que prometestes. Amém!”

Diretor geralDOM JOSÉ LANZA NETO EditorSÉRGIO BERNARDES | MTB - MG 14.808

Equipe de produçãoDouglas RibeiroJane MartinsJulianne Ribeiro

RevisãoJANE MARTINS

Jornalista responsável ALEXANDRE A. OLIVEIRA | MTB: MG 14.265

Projeto gráfico e editoração BANANA, CANELA bananacanela.com.br | 35 3713.6160

ImpressãoGRÁFICA SÃO SEBASTIÃO

Tiragem3.950 EXEMPLARES

RedaçãoRua Francisco Ribeiro do Vale, 242 Centro - CEP: 37.800-000 | Guaxupé (MG)

Telefone35 3551.1013

[email protected]

Os Artigos assinados não representam necessariamente a opinião do Jornal.

Uma Publicação da Diocese de Guaxupé

www.guaxupe.org.br

CULTIVAR E GUARDAR A CRIAÇÃO (GN 2, 15)

Dom José Lanza Neto,Bispo da Diocese de Guaxupé

2 | JORNAL COMUNHÃO - DIOCESE DE GUAXUPÉ

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É nossa responsabilidade cuidar do planeta onde habitamos. Em 2007, a Campanha da Fraternidade (CF) tratou

especificamente da Amazônia e também houve outras campanhas que destacaram a temática ecológica. Ligada à defesa da vida, a Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), neste ano de 2017, expande a reflexão para todos os biomas existentes no Brasil.

Biomas são espaços geográficos, ou seja, ecossistemas com fauna, flora e clima próprios, onde as populações locais apre-sentam costumes específicos, adaptados à realidade natural em que vivem. Portanto, cada ser humano é influenciado pelo “bio-ma ou ecossistema” onde nasce e se de-senvolve.

No Brasil, há a predominância de 6 ti-pos de biomas: a Mata Atlântica, a Amazô-nia, o Cerrado, o Pantanal, a Caatinga e o Pampa. Nesses biomas vivem pessoas, po-vos, resultantes da imensa miscigenação brasileira.

Para colocar em evidência a beleza na-tural do país, identificando os seis biomas brasileiros, o cartaz da campanha mostra o mapa do Brasil, em imagens características de cada região. Além da riqueza dos bio-mas, o cartaz expressa o alerta aos perigos da devastação em curso, além de desper-tar a atenção de toda a população para a criação de Deus.

A proposta da CF é justamente nos ajudar a refletir sobre a maneira como es-tamos tratando de cada uma dessas casas que formam o nosso país e apontar cami-nhos para uma melhor conservação do lu-gar onde vivem estas pessoas, em prol de uma qualidade de vida mais justa e fraterna digna de todo ser humano.

Segundo o bispo auxiliar de Brasília (DF) e secretário geral da CNBB, dom Leonardo Ulrich Steiner, a proposta é dar ênfase à di-versidade de cada bioma e criar relações respeitosas com a vida e a cultura dos po-vos que neles habitam, especialmente à luz do Evangelho. Para ele, a depredação dos biomas é a manifestação da crise ecológica que pede uma profunda conversão interior: “ao meditarmos e rezarmos os biomas e as pessoas que neles vivem sejamos conduzi-dos à vida nova”.

Somos convidados a observar cada um desses espaços típicos das regiões brasi-leiras. Para que, os conhecendo mais de perto, possamos colaborar e cuidar melhor de nosso país e das pessoas que nele habi-tam. Esse “gigante pela própria natureza” merece e carece de nossos cuidados para o nosso próprio bem.

Para que haja conservação e zelo pela nossa Casa Comum, precisamos nos conscientizar de que somos compatrio-

tas, irmãos e vivemos na mesma casa. Cada um deve assumir sua responsabi-lidade e fazer sua parte para que a de-gradação e a deterioração da natureza não destruam nossos habitats e, conse-quentemente, a cada um de nós que aqui vive e depende da natureza para a nossa sobrevivência.

A Campanha espera, antes de tudo, que o cristão seja um cultivador e guardador da obra criada. “Cultivar e guardar nasce da admiração! A beleza que toma o coração faz com que nos inclinemos com reverên-cia diante da criação. A campanha deseja, antes de tudo, levar à admiração, para que todo o cristão seja um cultivador e guarda-dor da obra criada. Tocados pela magnani-midade e bondade dos biomas, seremos conduzidos à conversão, isto é, cultivar e a guardar”, salientou dom Leonardo.

Muitas vezes marcado pelo egoísmo e o individualismo, o ser humano é capaz de

atos de exploração desenfreada dos recur-sos da natureza e espoliação das pessoas mais pobres em nome do lucro e do poder. Esta atitude contradiz a vocação humana apresentada por Deus na Sagrada Escritu-ra: que deseja vida e vida em abundância a todo ser humano (cf. Jo 10,10) e não vida abundante a uma minoria de gananciosos em detrimento de uma maioria explorada e oprimida.

Como afirma o papa Francisco na encí-clica Laudato Si’: “Não pode ser autêntico um sentimento de união íntima com os ou-tros seres da natureza, se ao mesmo tempo não houver no coração ternura, compaixão e preocupação pelos seres humanos. É evi-dente a incoerência de quem luta contra o tráfico de animais em risco de extinção, mas fica completamente indiferente pe-rante o tráfico de pessoas, desinteressa-se dos pobres ou procura destruir outro ser humano de que não gosta. Isto comprome-

opiniãoCAMPANHA DA FRATERNIDADE 2017:“Cultivar e guardar a criação”

te o sentido da luta pelo meio ambiente” (cf. Laudato Si’ 91).

Deus nos agraciou com a Criação do mundo para que pudéssemos viver frater-nalmente uns com os outros e com tudo o que envolve a criação: as plantas, os ani-mais, a terra, as águas, entre outros. Porém muitas vezes nos esquecemos de cuidar do jardim e de manter a casa em ordem. So-mente auxiliados pela graça divina e na vi-vência dos valores contidos no evangelho, conseguiremos alcançar a felicidade em harmonia com o Criador, conosco mesmos, com as pessoas e com o mundo criado.

Promover e defender a vida e a nature-za é mais que uma obrigação, é gesto de amor e gratidão a Deus pelo dom da vida que Ele mesmo nos brindou. A vida da Cria-ção está em nossas mãos, uma vez que: “Deus colocou o homem no jardim do Éden (no mundo) para cultivar e guardar a cria-ção” (cf. Gn 2, 15).

Por Reginaldo Vieira, seminarista – Teologia

COMUNIDADES EM MISSÃO - IGREJA VIVA | 3

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notíciasA peça teatral Negro Livre foi apresen-

tada em Machado, no dia 18 de dezembro, no anfiteatro CIC, reunindo 600 pessoas. Marcaram presença os padres da cidade e algumas autoridades políticas.

O texto escrito pelo seminarista Richard Oliveira tinha como objetivo, além de abor-dar a história de São Benedito, homenage-ar a cultura afrodescendente, que é muito forte na cidade. “Foi um momento propício para reflexão sobre as diferenças raciais, que insistimos em salientar”, comentou o

A Comissão de Animação Bíblico-Cate-quética do Regional Leste 2 (Minas Gerais e Espírito Santo) da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil, realizada entre os dias 2 e 14 de janeiro, na Casa de Retiros São José, em Belo Horizonte (MG), a 30ª edição do Curso do IRPAC (Instituto Regio-nal de Pastoral Catequética).

O IRPAC, neste ano, contou com cerca de 120 participantes. O curso é destinado a catequistas, coordenadores de cateque-se, leigos(as), religiosos(as) e padres das (arqui)dioceses do Regional Leste 2 que possuem experiência no ministério cate-quético.

Neste ano, o IRPAC completa 30 anos e, ao longo do tempo, o curso foi crescendo, e hoje é uma grande e madura experiência de formação catequética do Regional Leste

O Papa Francisco enviou uma carta aos jovens, no dia 13 de janeiro, juntamente com a apresentação do documento preparatório do Sínodo dos Bispos de 2018.

O Pontífice inicia a carta manifestando sua alegria de anunciar aos jovens que, em outubro de 2018, se realizará a 15ª Assem-bleia Geral do Sínodo dos Bispos sobre o tema “Os jovens, a fé e o discernimento vo-cacional”.

Sair“Vêm-me à mente as palavras que Deus

dirigiu a Abraão: “Sai de sua terra, do meio de seus parentes e da casa de seu pai, e vá para a terra que eu lhe mostrarei”. Hoje, es-tas palavras são dirigidas também a vocês: são palavras de um Pai que os convida a sair a fim de serem lançados em direção a um futuro desconhecido, mas portador de realizações seguras, encontro ao qual Ele mesmo os acompanha. Convido-os a ouvir a voz de Deus que ressoa em seus corações através do sopro do Espírito Santo”, ressalta

autor.O elenco foi formado por 35 jovens

da paróquia Sagrada Família que, com a arrecadação, começaram a recolher fun-dos para participarem da próxima Jorna-da Mundial da Juventude, no Panamá, em 2019.

O ponto alto da apresentação foi mar-cado pela presença de um grupo de Con-gada, tradicional na cidade, homenage-ando o santo negro e saudando o público presente.

2. No ano de 2013, em parceria com a PUC Minas, o curso foi reconhecido em “Es-pecialização em Catequética”, pensando em propor aos catequistas e coordenado-res(as) de catequese uma formação e uma espiritualidade que lhe deem condições de gerar respostas aos inúmeros desafios que a realidade apresenta ao processo cate-quético à serviço da Iniciação à vida cristã.

A Especialização em Catequética ofe-rece novas perspectivas e linguagens para a catequese, sobretudo no mundo digi-tal e urbano. Outro diferencial do curso é o acompanhamento pessoal dos alunos, a troca de experiências e os estudos de casos, com o objetivo de intervir nos pro-cessos catequéticos, visando melhorar a coordenação dos trabalhos e a formação de catequistas.

História de São Benedito vira teatro em Machado

Curso de formação catequética completa 30 anos

Papa envia carta aos jovens em preparação para o próximo Sínodo, em 2018

Apresentação teatral engaja jovens em ação em prol de Jornada da Juventude

Texto: Luiz Fernando Gomes Foto: Divulgação

Texto e Foto: Assessoria de Comunicação – Regional Leste 2

Texto e Foto: Rádio Vaticana

Sobre o IRPACO curso do IRPAC nasceu em janeiro de

1987, com a aprovação dos bispos e a inspi-ração de Inês Broshuis, dom Joaquim Mol, bispo auxiliar da Arquidiocese de Belo Ho-rizonte, padre Alberto Antoniazzi, Bernardo

Cansi e dom Mário Gurgel. Numa época de extrema carência de formação das coorde-nações de catequese do Regional Leste 2, o curso ajudou a melhorar o “rosto” da ca-tequese nas dioceses de Minas e Espírito Santo.

o Papa no texto.“Quando Deus disse a Abraão “Sai”, o

que queria lhe dizer? Certamente, não para fugir de sua família, nem do mundo. O seu foi um convite forte, uma provocação, a fim de que deixasse tudo e partisse para uma nova terra. Qual é para nós hoje esta nova terra, a não ser uma sociedade mais justa e fraterna que vocês almejam profundamen-te e desejam construir até às periferias do mundo?”

Discernir“Recordo-lhes também as palavras que

certo dia Jesus proferiu aos discípulos, que lhe perguntavam: “Rabi, onde moras?”. Ele respondeu: “Vinde e vede!”. Jesus dirige o seu olhar também a vocês, convidando-os a caminhar com Ele.”

“Caríssimos jovens, vocês encontraram este olhar? Ouviram esta voz? Sentiram este impulso a pôr-se a caminho? Estou conven-cido de que, não obstante a confusão e a perturbação deem a impressão de reinar no

mundo, este apelo continua ressoando em seu espírito para o abrir à alegria completa. Isto será possível na medida em que, tam-bém através do acompanhamento de guias especializados, vocês souberem empreen-der um itinerário de discernimento para des-cobrir o projeto de Deus em sua vida.

GritarConstrói-se um mundo melhor também

graças a vocês, ao seu desejo de mudança e generosidade. Não tenham medo de ouvir o Espírito que lhes sugere escolhas audaciosas, não hesitem quando a consciência lhes pedir para arriscar a fim de seguir o Mestre. Também a Igreja deseja co-locar-se à escuta de sua voz, de sua sensibilidade, de

sua fé; até de suas dúvidas e suas críticas. Façam ouvir o seu grito. Deixem ele resso-ar nas comunidades e o façam chegar aos pastores.

“Através do caminho deste Sínodo, eu e os meus irmãos Bispos queremos, ainda mais, colaborar para a sua alegria. Confio--lhes a Maria de Nazaré, uma jovem como vocês, à qual Deus dirigiu o seu olhar amo-roso, a fim de que os tome pela mão e os guie para a alegria de um “Eis-me!” pleno e generoso”, conclui o Papa.

4 | JORNAL COMUNHÃO - DIOCESE DE GUAXUPÉ

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Foto: Cláudia Couto

Desde 1999, a Diocese de Guaxupé decidiu investir suas forças na formação dos fiéis leigos, de

maneira sistemática. Surgia o Curso de Iniciação Teológica, organizado inicialmente por Lucimara Trevisan, pelos padres José Augusto da Silva e José Luiz Gonzaga do Prado e dom José Geraldo Oliveira do Valle, bispo de Guaxupé. Desde então, o curso acontece no Seminário São José, em Guaxupé. Atualmente em sua 18ª edição, ocorrida entre os dias 16 e 22 de janeiro, o curso já foi responsável, ao longo de sua existência, por contribuir para a formação teológica inicial de diversas turmas.

O curso é organizado em quatro mó-dulos, abordando disciplinas teológicas variadas, como teologia da revelação, antropologia teológica, Sagrada Escritura, cristologia, liturgia, moral cristã e espiri-tualidade. A estrutura do curso conta com

reportagemUM LAICATO FORMADO, MADURO E RESPONSÁVEL

Texto e Fotos: Diácono Vinícius Pereira Silva, atua na Paróquia São Benedito, em Passos

a assessoria de padres das dioceses de Guaxupé e da Campanha como professo-res. Além da formação sistematizada em aulas, o curso possui diversas atividades, como debates, filmes e noite cultural, sempre com o intuito de crescer na fé, aprofundar a formação cristã e valorizar a dignidade batismal dos fiéis leigos.

Neste sentido, o atual coordenador do curso, padre Robervam Martins, entende os dias de formação como uma forma de ajudar a Igreja em sua busca por conver-gência na fé. Ele destaca que o ponto de partida para todos os membros da Igreja é o Batismo, maior dignidade cristã. “É neste sacramento que nasce a Graça da perene continuidade da construção do Reino, inaugurado por Jesus Cristo. To-dos somos motivados pelo Evangelho a sermos sal da terra e luz do mundo”, exalta padre Robervam.

Para Ivan Antônio Freitas, da Paróquia

São José em Muzambinho, aluno inician-te do primeiro módulo, o que move os dias de formação é a sede por conhecer a fé e buscar nela o sentido da vida. “Na busca do saber teológico, buscamos a essência da vida”. Após a caminhada de quatro anos, a concluinte do curso, Maria José Oliveira, paroquiana da comunida-de Senhor Bom Jesus, em Passos, perce-be que os dias de formação auxiliam na aproximação dos ensinamentos de Jesus de Nazaré. “Agradeço a Deus por esta oportunidade. Foi de suma importância, pois ampliou meus conhecimentos, me-lhorou minha vivência e pude ajudar mais minha comunidade paroquial”, conclui.

A diocese busca, com esta ação, atender ao pedido da Igreja, sintetizado na exortação apostólica Christifidelis lai-ci (CL), do papa São João Paulo II, que deseja que “a formação cristã deve figu-rar entre as prioridades da Diocese e ser

colocada nos programas de ação pasto-ral de modo que todos os esforços (...) possam convergir para esse fim” (CL 57). Deste modo, existem outras iniciativas diocesanas que merecem ser destaca-das, como a formação cristã em comu-nidade, em cinco módulos, e a formação teológica ocorrida nos setores pastorais. Todas estas atividades direcionam a Igre-ja Particular para a formação de um “lai-cato maduro e responsável” (CL 35), que descubra sua vocação e busque viver sua missão (cf. CL 58).

Os fiéis leigos formados no Curso de Iniciação Teológica têm a possibilidade de voltar para suas comunidades imbuídos do espírito de serviço, de modo a fazer frutificar em suas paróquias o brilho da fé e do amor de Deus por todos os seus fi-lhos. “Que Deus nos dê ânimo para que ja-mais deixemos de colocar em prática tudo o que aprendemos”, conclui Maria José.

um outro olharINQUIETUDE E PERSEVERANÇA,ELEMENTOS CONSTANTES PARA O CRISTÃOAo parar para fazer uma breve

reflexão sobre minha caminhada no curso de iniciação teológica,

me deparo com diversos sentimentos que são despertos a partir das vivências, desde o chamado para participar como cursista, feito por Lucimara Trevisan e dom José Geraldo, até o convite para permanecer como parte da equipe de coordenação.

Em todos os anos que tive a oportuni-dade de ser parte deste processo, pude viver e presenciar uma transformação

pessoal e espiritual não só em mim, mas em todos que por aqui passaram.

A cada tema ministrado, a cada vi-vência proposta, em cada conversa com membros de outras comunidades, posso perceber uma troca de experiências de vida, onde são tecidos laços e construí-dos processos internos que fortalecem e tornam fecundas as propostas do curso em nossa diocese.

Falar do curso de iniciação teológica é falar de troca, partilha e experiência comunitária, onde todos se fortalecem

através do alimento dado, e podem e devem ser, também, instrumento de liberação dentro das co-munidades onde estão in-seridos.

A palavra que se leva dessa semana, para mim, é inquietude. Pois não existe um fim para aqueles que acreditam no Cristo que vence a morte.

Por Alessandra Dias Ribeiro, psicóloga, reside em Campestre

COMUNIDADES EM MISSÃO - IGREJA VIVA | 5

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entrevistaVIVÊNCIA CRISTÃ NA VISÃO DE DOIS ÍCONES DA IGREJA NO BRASIL

Por padre Gladstone Miguel da Fonseca, pároco em São Sebastião do Paraíso

Fotos: diácono Paulo Rogério Sobral

Há um ano, dois bispos eméritos colaboraram com o clero diocesano em seu retiro espiritual anual. Na ocasião, o padre Gladstone Miguel da Fonseca entrevistou dom Angélico Sândalo Bernardino, bispo emérito de Blumenau (SC), e dom Celso Queiroz, bispo emérito de Catanduva (SP). Na entrevista, eles comentaram sobre a ação da Igreja em defesa da Casa Comum e da ação dos fiéis na sociedade. Leia alguns trechos marcantes da entrevista inédita.

Comunhão: O papa Francisco escreveu a encíclica Laudato Si’ que trata da di-mensão ecológica: o que nós devemos observar nesta encíclica, neste convite do Papa?

Dom Angélico: É bom que a gente se lem-bre que esta carta encíclica Laudato Si’ do nosso querido Papa Francisco foi acolhida por toda a humanidade. É impressionante o acolhimento que esta carta tem recebi-do, porque o planeta Terra vem correndo perigo, está sendo muito poluído, está sendo estragado, explorado. Muita gente pensa que a história da humanidade se resume somente na sua história pessoal, então há uma exploração predatória do planeta Terra. O Papa, na sua encíclica, nos convida a termos uma espiritualidade voltada para a responsabilidade comum pela Terra, pelo nosso planeta, e ele diz que as gerações futuras têm direito a um

planeta Terra com uma vida saudável e nos recomenda a pequenas ações, por exemplo: plantemos árvores, protejamos as árvores que estão aí, muitas vezes se corta uma, se corta floresta até, lá na Amazônia é uma barbaridade; para que nós protejamos e que haja leis que salva-guardem esses bens que Deus deu para a humanidade, os rios estão sendo poluí-dos e muitas vezes nós jogamos o lixo de qualquer forma e esbanjamos as riquezas naturais. Somos uma civilização do es-banjamento da água, da energia, então o papa nos recomenda uma espiritualidade voltada para essas belezas da natureza, a beleza do planeta Terra, e que sejamos realmente contemplativos da beleza da natureza. Louvado seja meu Senhor e Deus pelo irmão sol, pela irmã Terra, pela irmã Lua, pela Terra, pela água, cantava São Francisco de Assis, e o papa Francis-co hoje nos convida ao mesmo canto.

Comunhão: Hoje o papa Francisco tem nos chamado a uma Igreja em saída e acredito que o Concílio Vaticano II já foi essa tentativa de abertura, dessa Igreja em saída, mas que ficou parado durante alguns anos. Como o senhor vê essa ini-ciativa?

Dom Celso: Eu acho que isso é necessá-rio, que a Igreja que nós estamos acos-tumados a reunir em torno de nós é uma Igreja que não dá mais para continuar. Ela continuará, sim, bem, com a graça de Deus, mas é uma Igreja que não atrai mais, que não é capaz de ir aonde as pessoas estão. Sobretudo aquelas que vivem fora deste mundo, que se autopro-clamam maravilhosas. Ele também usa a expressão “as periferias geográficas e as periferias existenciais”. As periferias geográficas, para quem não conhece, é só fazer uma visita a São Paulo ou a Belo Horizonte. São Paulo é um mundo, é uma imensidão de casas, umas em cima das

outras, de favelas, e é lá que a gente tem que ir. O Angélico foi bispo de uma região dessas de São Paulo, talvez essa e uma outra de Campo Limpo que são as mais pobres. Ele conhece lá, por isso ele tem uma sensibilidade, não é? Eu já fiquei em uma região que era classe média, tinha pouca favela, e acabamos criando lá vá-rias comunidades. Mas essa periferia ge-ográfica não tem água, não tem luz ou, quando tem, pega fogo, e quando chove, inunda tudo; não tem escolas, nem hos-pitais e a Igreja tem que ir é aí, pois há grupos de cristãos que fazem um traba-lho admirável. Das periferias existenciais faz parte o padre que deixou o ministério, que saiu desanimado, não respondeu ao que esperava, como diz Jonas, não res-pondeu ao jeito que achava que a Igreja seria. Então ir às periferias geográficas e existenciais, o pessoal que vive assim buscando, aqui e ali você vê a prolifera-ção de pequeninas igrejas.

Dom Angélico

Dom Celso

6 | JORNAL COMUNHÃO - DIOCESE DE GUAXUPÉ

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patrimônio espiritual

liturgia

A ASSEMBLEIA EUCARÍSTICA, ALMA DO DOMINGO

PARTICIPAÇÃO ATIVA: TOMAR PARTE NAQUILO QUE É DE DEUS

Por Guilherme Ribeiro, seminarista – Teologia

Selecionado por Guilherme Ribeiro, Seminarista - Teologia

A dimensão eclesial intrínseca da Eucaristia realiza-se todas as vezes que esta é celebrada. Mas com

maior razão, exprime-se no dia em que toda a comunidade é convocada para relembrar a ressurreição do Senhor. De modo significativo, o Catecismo da Igreja Católica ensina que “a celebração dominical do Dia e da Eucaristia do Senhor está no centro da vida da Igreja”.

Na Missa dominical que os cristãos re-vivem, com particular intensidade, a expe-riência feita pelos Apóstolos na tarde de Páscoa, quando, estando eles reunidos, o Ressuscitado lhes apareceu (cf. Jo 20,19).

Naquele pequeno núcleo de discípu-los, primícias da Igreja, estava, de algum

Os registros do Novo Testamento nos mostram claramente que as primeiras comunidades cristãs eram

alicerçadas no testemunho, na caridade e na oração constante. Os primeiros cristãos eram assíduos aos ensinamentos dos Apóstolos, viviam em comunhão, partilhavam o pão e os bens (cf. At 2,42-47).

As reuniões para a oração comum re-ceberam o nome de Ecclesia, que signifi-ca assembleia, Igreja. Nestas reuniões, os Apóstolos transmitiam os ensinamentos de Jesus, realizavam a fração do pão, em me-mória de Jesus (cf. Mt 26,28; Mc 14,24; Lc 22,19; 1Cor 11,25), partilhavam os bens de acordo com a necessidade de cada um e assim nutriam a fé no Cristo Ressuscitado.

A liturgia celebrada aqui era a oração comum presidida pelos apóstolos. Era a oração de todos e de cada um. Paulo exor-tava também a oração pessoal (cf. 1Ts 5, 17), mas a oração do cristão se dava na ora-ção comum. Nessa oração ele nutria sua fé, pois não era somente sua oração, mas a oração da Igreja. A liturgia (antecipemos o vocábulo, mas não a realidade) constituía a oração da Igreja, da assembleia dos cris-tãos reunidos em oração, quer fosse para ouvir a Palavra, quer para as orações, quer para a Ceia do Senhor (cf 1Cor 11, 20). E a unidade de vida em “um só coração e uma só alma” (cf. At 4, 32) nascia da união na as-sembleia celebrante e nela se manifestava.

Por participação ativa, assim define a Constituição Dogmática Sacrossanctum

Concilium: “É desejo ardente na mãe Igreja que todos os fiéis cheguem àquela plena, consciente e ativa participação nas cele-brações litúrgicas que a própria natureza da Liturgia exige e que é, por força do Ba-tismo, um direito e um dever do povo cris-tão, ‘raça escolhida, sacerdócio real, nação santa, povo adquirido’ (cf. 1 Pd 2, 4-5.9)” (SC 14). Esta participação se faz necessá-ria, pois ela é “fonte primária e indispen-sável do espírito cristão”, exortaram os pa-dres conciliares.

A liturgia não é uma ação somente do sacerdote, é, sim, ação de todo fiel presen-te. Pelo Batismo, toma parte na ação litúrgi-ca e esta deve ser ativa, viva e consciente. Sem esta frutuosa participação, a liturgia não surte nos fiéis o seu efeito central, o encontro de Deus com o homem.

Que seria a participação ativa? Utilizo-

-me de Bento XVI, enquanto ainda era car-deal, para responder a esta pergunta. Em seu livro Introdução ao Espírito da Liturgia, afirma: “Infelizmente esta expressão foi ra-pidamente mal compreendida e reduzida ao seu significado exterior, o da necessi-dade de agir comum, como se tratasse de fazer entrar em ação o maior número pos-sível de pessoas, e com a maior frequência possível. A palavra participação remete, porém, a uma ação principal, na qual todos devem tomar parte”. De início, o cardeal Ratzinger fala da incompreensão que hou-ve em relação à participação ativa. Ainda hoje, em muitas de nossas comunidades, ocorre esta incompreensão. Participar ati-vamente da liturgia não é somente fazer coisas externas, tais como bater palmas ou levantar os braços. Participar vai mais além dos gestos exteriores, é uma ação interna,

de integração, de consciência, de senti-mento, de membros de um corpo do qual Cristo é a cabeça (cf. Cl 1,18).

Outra má compreensão que ocorre em nossos tempos é a inversão de funções e ministérios. Sacerdotes e leigos possuem funções ministeriais diferentes. Na ação li-túrgica, em vista do sacramento da Ordem, o Sacerdote age na pessoa de Cristo, diri-gindo a Deus a oração em nome da Igreja; os fiéis, por sua vez, unem-se ao Sacerdote em oração pela força do sacramento do Batismo-Crisma. Oportunizar os fiéis a rea-lizarem o que compete aos sacerdotes, em nome da participação ativa, é produzir uma liturgia caseira, que não irá colaborar para uma participação ativa e consciente.

Para aqueles que consideram somente os atos exteriores como participação ativa, diz Ratzinger: “A verdadeira educação litúr-gica não pode consistir na aprendizagem e no exercício de atividades exteriores, mas na introdução na ação essencial, que faz a liturgia, isto é, na introdução do poder de Deus, que através do evento litúrgico quer transformar a nós e ao mundo”.

Tomemos consciência de que nossa participação ativa, consciente e frutuosa na liturgia se dá mediante a um processo de amadurecimento e de conversão. Parti-cipar da ação litúrgica não é somente um “fazer coisas”, é, sim, deixar-se encontrar com Deus por meio da oração da Igreja. E fazer desta oração a nossa oração

modo, presente o Povo de Deus de todos os tempos. Pelo seu testemunho, estende--se a cada geração de crentes a saudação de Cristo, transbordante do dom messiâni-co da paz, conquistada pelo seu sangue e oferecida juntamente com o seu Espírito: “A paz esteja convosco!”.

No fato de Cristo voltar ao meio deles “oito dias depois” (Jo 20,26), pode-se ver representado, na sua raiz, o costume da co-munidade cristã de se reunir todos os oito dias, no “dia do Senhor”, o domingo, para professar a fé na sua ressurreição e reco-lher os frutos da bem-aventurança prometi-da por Ele: “Bem-aventurados os que, sem terem visto, acreditam!” (Jo 20,29).

EXCERTOS DA CARTA APOSTÓLICA DIES DOMINI, DE SÃO JOÃO PAULO II, SOBRE A SANTIFICAÇÃO DO DOMINGO

COMUNIDADES EM MISSÃO - IGREJA VIVA | 7

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bíblia

reflexão e ação

“CULTIVAR E GUARDAR A CRIAÇÃO” (GN 2,15)

FILME RETRATA O MAIOR DESASTRE AMBIENTAL NO BRASIL

“Contemplando estes céus que plasmastes e formastes com dedos de artista; vendo a lua e estrelas brilhantes, perguntamos: ‘Senhor, que é o homem, para dele assim vos lembrardes e o tratardes com tanto carinho?’” (Sl 8,4-5).

A Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), através da Campanha da Fraternidade

2017, reflete o seguinte tema: “Fraternidade: biomas brasileiros e defesa da vida” e o lema: “Cultivar e guardar a criação” (Gn 2,15).

Na introdução, já se tem a defini-ção de bioma que vem da palavra gre-ga bio, que quer dizer “vida”, e oma, sufixo grego para “massa, grupo ou estrutura de vida”. “Um bioma é for-mado por todos os seres vivos de uma determinada região, cuja vegetação é similar e contínua, cujo clima é mais ou menos uniforme, e cuja formação tem uma história comum”.

O texto base da CF 2017 se divide em três capítulos a partir do método Ver, Jul-gar e Agir e um quarto capítulo dedicado à história da CF.

No primeiro capítulo, se busca VER a partir de um estudo aprofundado dos seis biomas brasileiros, tanto na sua origem, como em seus desafios nos dias de hoje, bem como uma contextualização política e a necessidade de uma contribuição eclesial de conscientização e defesa da ecologia e da vida.

Já a segunda parte se esforça por JUL-

O documentário O Bento – Terra da Gente é uma produção multimídia que retrata, um ano após o

desastre, a vida das pessoas afetadas pelo rompimento da Barragem de Fundão, em Mariana. O documentário mostra como a fé e a devoção de um povo são capazes de manter a união e a esperança de reconstruírem suas vidas.

Para honrar a memória dos que morre-ram e dar voz aos sobreviventes, a Signis Brasil, com a colaboração da Rede Católica de Rádio (RCR), impressos, portais e tele-visões, deu vida ao projeto “Mariana - Um ano depois”, que conta com uma série de

Por padre Francisco Albertin Ferreira, mestre em Teologia Bíblica, pároco em Campestre

Texto e imagem: Divulgação

GAR a realidade amparando-se na visão geral do que diz a Sagrada Escritura sobre o mundo criado por Deus, a harmonia ori-ginal e o pecado. A restauração da Criação em Jesus Cristo e uma visão geral da Lau-dato Si’, encíclica do papa Francisco por uma ecologia integral.

O modo de AGIR, estabelecido no ter-ceiro capítulo, descreve de modo geral como deve ser o procedimento dos cris-tãos, pessoas de boa vontade e defenso-res da ecologia em cada um dos biomas brasileiros e com as suas características específicas. “Toda a Laudato Si’ é um hino

reportagens radiofônicas, um documentá-rio televisivo e uma matéria especial para os veículos impressos.

A produção do conteúdo foi feita pela equipe da Rede Catedral de Comunicação Católica, da Arquidiocese de Belo Horizon-te. Mais de dez profissionais estiveram en-volvidos no trabalho, e foram a campo no local da tragédia durante uma semana para mostrar a extensão das perdas em Bento Rodrigues, que vão muito além do aspecto material.

O documentário pode ser assistido gra-tuitamente pelo canal da TV Horizonte no Youtube.

de espanto maravilhado diante da nature-za criada que nos fala de Deus, que é um dom de Deus, da qual nós seres humanos somos parte integrante, mas também seus zeladores e cultivadores” (Texto-Base, p.15). Logo cultivar e guardar a criação é tarefa de todos nós.

Desse modo, gostaria de destacar o versículo bíblico que ilumina e norteia toda a reflexão do lema desta campanha: “Culti-var e guardar a criação” (Gn 2,15). Ele está inserido na segunda narrativa da criação (Gn 2,4b-25), onde se tem a narrativa de toda a criação e diz que Deus colocou o

homem e a mulher no Jardim do Éden para cultivar e guardar a criação.

O problema maior encontra-se na primeira narrativa da criação (Gn 1—2,4a); especificamente em Gn 1,26.28, onde, depois de toda a obra da criação, temos um verbo em he-braico rãdâ traduzido, a meu ver, de modo errôneo ou equivocado como verbo dominar. “Dominem os peixes do mar, as aves do céu, os animais domésticos e toda a terra [...]” (Gn 1,26.28). De acordo com o Dicionário Bíblico Hebraico-Português, de Luis Alonso Schökel, e de acordo com o Di-cionário Internacional de Teologia do Antigo Testamento, de R. Laird Harris e outros, o verbo rãdâ possibilitaria ter o sentido de governar, comandar, senhorear. Tem também o sentido de domínio, mas não no sentido de es-cravizar, usar de força física ou domi-nar pela violência, que neste contexto de natureza é totalmente despropor-

cional e absurdo.Em comunidade, e até mesmo pessoal-

mente, como Igreja ou qualquer outra enti-dade, o que podemos fazer para “Cultivar e guardar a criação?”. Da mesma forma que ‘ishá (mulher) veio do ‘ish (homem), criados e abençoados por Deus para serem fecun-dos, e na relação de amor e intimidade gerarem vida, amor e alegria, o ‘adam (ser humano) veio de ‘adamah (terra). Nesta mesma relação de amor e intimidade com a terra e a natureza, o ser humano pode pre-servar a própria vida e a vida do planeta.

8 | JORNAL COMUNHÃO - DIOCESE DE GUAXUPÉ

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catequese

ler e aprofundarOBRA CATEQUÉTICA OFERECEITINERÁRIO ESPECÍFICO PARA ADULTOS

CATEQUESE DE ADULTOS:UM ITINERÁRIO PECULIAR E DE APROFUNDAMENTOA importância do adulto

para a Igreja é tão antiga como ela mesma, pois

nasce com a própria Igreja. Toda a Catequese é voltada preferencialmente para os adultos, especialmente no contexto do catecumenato.

Todavia, é preciso convir que a prática catequética de nossas Igrejas não tem anda-do tanto quanto a clareza das ideias que defendemos. Hoje, todo pastor conhece a insis-tência com que fiéis cristãos clamam por formação. O adul-to contemporâneo tem fome e sede do Deus vivo. O vazio existencial clama pelo sagrado. Todos sabem o quanto as ca-rências deixadas pela primeira iniciação, assim como a fraque-za da religiosidade tradicional que os sustenta dificulta seu posicionamento perante os de-safios da sociedade moderna.

O cristão adulto precisa estar prepara-do para o diálogo cultural, alicerçado com segurança na fé, para poder oferecer ao mundo o testemunho profético da ousadia evangélica (CA 9).

Urge ser capaz de oferecer uma co-munidade onde o “venham ver” provoque uma reação positiva. O adulto não vai se decidir só pela beleza da doutrina e, me-nos ainda, por afirmações autoritárias. Ele precisa vir e ver como é que se vive o evan-gelho. À medida que “vem e vê”, aprofun-da seu conhecimento das coisas de Deus, permanece não só com Jesus, mas “Nele”.

Para tanto, é importante oferecer uma eclesiologia de comunhão e participação

Lançado em 2011 pela editora Vozes, o livro Jesus, a Boa notícia! - Catequese com adultos, escrito

pelo padre José Luiz Gonzaga do Prado, propõe uma caminhada catequética adequada aos públicos jovem e adulto.

O intuito é oferecer um roteiro com

Por Edon Fonseca Borges, advogado em Monte Santo de Minas e coordenador diocesano de Catequese

noção clara da Boa notícia, possibilitan-do às pessoas entenderem melhor os fundamentos da fé cristã. Para identifi-car a Boa Notícia nas diversas expres-sões doutrinais, éticas e rituais, o ro-teiro dos encontros fundamenta-se nos pontos chaves do Catecismo da Igreja

fraterna, uma espiritualidade bíblica bem fundamentada; e uma comunidade so-lidária e engajada na construção de um mundo de dignidade humana e paz, sem exclusões. Também é importante oferecer itinerários personalizados de iniciação e aprofundamento da fé.

As exigências atuais reclamam por uma comunidade que se põe em estado de evangelização e que sabe que deve dirigir--se aos adultos para renovar o anúncio. Os adultos são os protagonistas da evangeli-zação, ao mesmo tempo são destinatários e sujeitos.

Pisar no próprio chão, evangelizar e ca-tequizar a partir da própria realidade, imitar

a pedagogia divina que se revelou bem por dentro da história humana, ou simplesmen-te, atuar o princípio da interação entre fé e vida é o ideal da renovação catequética (cf. CR 112-113, 29, 283). Tal princípio é nortea-dor de qualquer tipo de catequese, mas de modo especial em se tratando de adultos. A catequese será verdadeiramente adulta se o crescimento na fé dos adultos acom-panhar sua inserção e atuação dentro da sociedade. A fé, então, será não só a luz para entender a própria realidade pessoal e social, mas também uma força para ten-tar transformá-la à luz do Evangelho.

São os adultos, pais e mães de famí-lia, que uma vez educados na fé, darão a

primeira e fundamental instrução religiosa aos próprios filhos no sacrário da “Igreja Doméstica”. São os adultos que impulsionarão a fé nos jovens. Eles participarão mais conscientemente da missão salvífica da Igreja nas comuni-dades eclesiais e nas realidades temporais.

Aprofundar a própria identida-de cristã, confrontar as próprias convicções da vida, conhecer as exigências cristãs do evangelho, assumir autêntica espiritualidade cristã, tudo isto supõe uma nova e adulta aproximação à Palavra de Deus e da doutrina da fé ca-tólica, além de um cuidado maior com a oração pessoal e litúrgica que ajudem a cultivar valores pro-fundos e sustentem compromis-sos coerentes com a proposta do Evangelho de Jesus. Apoiado pela comunidade eclesial torna-se fer-mento da Boa-Notícia no mundo. Também se indica claramente a

dimensão cristocêntrica, cuja importância é tão acentuada nos documentos.

Fazer catequese com adultos não é transpor conteúdos e metodologia utiliza-dos no mundo infantil para o de adultos. Trata-se de um processo que leve em con-sideração a condição de adultos responsá-veis e de sua capacidade de conduzi-los a uma fé adulta, superando o infantilismo crônico que por vezes domina nossos cris-tãos. Dessa forma, deve-se recuperar uma dimensão catecumenal e de anúncio, de-vendo percorrer um caminho de fé e de conversão que introduza de novo o adulto no mistério de Cristo e na vida da Igreja.

Católica. O núcleo da fé pode ser discutido e

vivenciado em cada artigo do Símbolo dos Apóstolos, na Liturgia e em cada Sacramento em particular. E, enfim, em cada Mandamento e na Oração do Pai Nosso.

COMUNIDADES EM MISSÃO - IGREJA VIVA | 9

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missão

retrato missionário

LEIGO:UMA VIDA DE ENTREGA E DOAÇÃO NA CONSTRUÇÃO DO AMOR

Por padre Edimar Mendes Xavier, pároco em Paraguaçu

Por Maria do Rosário Prado Silva, missionária de MuzambinhoFoto: Pascom Muzambinho

A Igreja Católica, especialmente após o Concílio Vaticano II, tem feito um grande esforço para

criar a consciência de ser Igreja e não somente pertencer à Igreja. Insiste no fato da corresponsabilidade na comunidade de fé. O aparecimento do termo “sujeito eclesial” (DAp, nº 497) nos faz pensar na missão que temos de construir a comunidade eclesial: Cristo- Cabeça, nós como membros.

Com o Papa Francisco, novo impulso tem sido dado nesta direção. Ele tem convocado cristãos leigos e leigas à consciência de pertença eclesial e mis-são no mundo. A convocação é geral, in-dependentemente da função que esses ocupam. Pelo Batismo, nos tornamos su-jeitos ativos de evangelização.

O leigo, compreendido como sujeito eclesial, tem uma tarefa permanente. Cada cristão é portador de qualidades que ajudam a Igreja a desempenhar melhor sua missão. “O leigo, sujeito na Igreja e no mundo, é o cristão maduro na fé, que fez o encontro pessoal com Jesus Cristo e se dispôs a segui-lo... cris-tão que adere ao projeto do mestre... é o cristão que se coloca à escuta do Espí-rito que envia a edificação da comunida-de” (CNBB, doc. 107, n.º 49).

A Igreja está comprometida com este mundo, como sacramento e sinal do amor e da misericórdia de Deus para com todos. Daí a importância dos leigos na Igreja: “Estes fiéis foram incorpora-dos a Cristo pelo Batismo, constituídos povo de Deus e, a seu modo, feitos parti-cipantes do múnus sacerdotal, profético

“As Santas Missões Populares estão sendo um ponto muito positivo em nossa diocese. A

insegurança que tive antes de cada visita terminava quando éramos recebidos em cada casa com um sorriso. Ali, as pessoas partilhavam suas alegrias, dores e sofrimentos. O Espírito Santo realmente agia em cada palavra dita, em cada aconselhamento dado. Jesus agiu através de nós. Depois disso, aprendi a ser uma missionária. Quero que a missão continue, as pessoas estão carentes de carinho e atenção”.

e régio de Cristo, pelo que exercem sua parte na missão de todo o povo cristão na Igreja e no mundo” (Lumen Gentium 31). O Espírito capacita os batizados para participarem da obra de Cristo. O leigo é

Igreja, não apenas pertence à Igreja.O Concílio abriu “as portas” para os

leigos, membros verdadeiramente ativos da Igreja. Atualmente, é visível o esforço da Igreja em toda parte para anunciar o Evangelho de Cristo. O Espírito nos conscientiza de que a Igreja precisa ser dinamizada. A Igreja precisa tornar-se mais leve para a missão. Suas estruturas são, muitas vezes, por demais pesadas. O papa Francisco tem sido uma luz. De-safia a todos nós, propondo uma Igreja em “saída... enlameada...”.

Passados cinquenta anos do Concílio Vaticano II, os leigos desenvolvem um bonito trabalho na Igreja. Sentem-se de fato evangelizadores, membros ativos da Igreja. Com isto se descobriram, nas comunidades, muitos leigos conscien-tes. Fala-se atualmente muito de mis-são, e é grande o número de leigos que se sentem de fato missionários. O leigo consciente de sua missão ajuda a reno-var a Igreja. “Ecclesia semper reforman-da” Igreja sempre se reformando (Doc. 100 da CNBB pag. 15). Para esta reforma, é fundamental a presença missionária dos leigos. Também se fala muito da mis-são do leigo na Igreja e na sociedade. O leigo ajuda a dinamizar a Igreja, são enviados em nome da Igreja a atuarem

nas estruturas do mundo.Sinto, com os anos vividos como

pároco, o quanto é importante o papel dos leigos na Igreja, o quanto ajudam a dinamizar a paróquia. O leigo, quando consciente de sua missão, é uma luz na comunidade paroquial. Ele ama a Igreja e a faz ser amada. Ajuda o pároco e é sempre uma presença positiva. É missão do leigo se conscientizar, se evangelizar, para atuar na sua comunidade, ajudar a sua paróquia a ser melhor, ser missioná-rio.

Percebe-se, atualmente, um cres-cimento do cristianismo, do retorno de muitas pessoas à comunidade cristã. A hora é de acolhida e de evangelização. A comunidade possui riquezas extraordi-nárias.

Quando se fala tanto em missão na Igreja do Brasil, na América Latina e no mundo, a Igreja abre os braços, lança as redes, para que, num abraço da Santíssi-ma Trindade, consagre os leigos e os en-vie a renovarem as estruturas da Igreja e da sociedade.

Atualmente podemos afirmar que está havendo um crescimento da cons-ciência da identidade da missão dos lei-gos e leigas na Igreja, mas ainda há um longo caminho a ser percorrido.

10 | JORNAL COMUNHÃO - DIOCESE DE GUAXUPÉ

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à luz de aparecidaO DOCUMENTO DE APARECIDA: UMA DÉCADA DEPOIS...

Por padre Jeremias Nicanor Alves Moreira, vigário paroquial em Guaxupé

C erta vez, numa entrevista concedida aos Cadernos de Teologia Pública (2006, nº8)

do Instituto Humanitas Unisinos, o teólogo Clodovis Boff afirmou: “A meu ver, o documento da V Conferência [Geral do Episcopado Latino-americano e do Caribe] não só dá mais um passo em frente, mas abre uma ‘nova fase’ na missão da Igreja no Continente. A sensação que passa é que ‘agora vai’.” Dez anos após a conclusão do Documento de Aparecida (DAp), devemos fazer um balanço se esta sensação continua presente ou se passou...

O encontro pessoalcom a Boa-Nova em Cristo

No que se refere ao DAp em si, o arrojo pastoral se mostra através de um fio condutor que dá unidade ao documento: a própria boa-nova do Amor de Deus a partir de uma expe-riência de encontro pessoal e segui-mento de Cristo, irradia-se no mundo através da missão, “para que n’Ele nossos povos tenham vida”. A expe-riência de encontro com Cristo é o fundamento originário e permanen-te, que impele a Igreja a anunciar e a re-anunciar o Evangelho. O DAp al-meja superar uma mentalidade de fé entendida como simples aceitação de doutrinas ou de tradição cultural em vista de um catolicismo de iniciados.

Comunidades deDiscípulos-missionários

Para operacionalizar pastoralmen-te a proposta do DAp, os bispos pro-põem o itinerário de uma iniciação à vida cristã e à vida comunitária atra-vés da escuta da Palavra, da oração pessoal e comunitária - principalmen-te a partir da Eucaristia. Por meio da força discipular das pequenas co-munidades, espera-se emergir uma evangelização direta e personaliza-da, atraída pelo desejo de uma gran-de missão continental que saia ao en-contro dos necessitados e excluídos (cf. n. 376-378).

Da conversão à missão:Segundo o método que norteia as

três partes do DAp (cf. nº19), o olhar do cristão sobre a realidade (Ver) se depara com uma dupla constatação: a ineficácia pastoral diante da falta de

enraizamento eclesial e, em segun-do, a conversão da massa católica e seguimento cristão diante da globali-zação. Contudo, um olhar de fé exige uma postura de esperança diante da realidade (Julgar): a possibilidade de exaltar os fiéis para uma conversão verdadeira que os faça discípulos de

“a própria boa-nova do Amor de Deus a partir de uma experiência de encontro pessoal e seguimento de

Cristo, irradia-se no mundo através da missão, ‘para que n’Ele nossos povos tenham vida’.

”Cristo e, por isso, convidados a viver na comunidade eclesial, de tal modo que seja impelido a tornar-se missio-nário do Evangelho da vida (Agir).

Uma nova fase na missão?Diante de um documento tão ousa-

do, a Igreja deve avaliar a recepção

deste evento nas comunidades ao longo de dez anos e questionar sua práxis. Muitas análises poderão ser feitas em diversos níveis e aspectos da realidade. Mas cada comunidade em particular não pode se esquivar da afirmação inicial que deve ressoar, agora como pergunta: ocorreu uma nova fase na missão da Igreja local? Sim? Não? Por quê? “Agora vai”?

Excurso:“opção evangélica pelos pobres”

O conceito de libertação, dife-rentemente dos outros documentos, recebeu, pelo menos, cinco adjeti-vações: autêntica, integral, de hu-manização, de reconciliação e, com muitas ressalvas, de inserção social. Uma abertura conceitual permite três situações: primeiro, alcançar o con-senso sobre um significante (liberta-ção, pobre etc.) cujos significados se traduzem de uma forma tão diversa quanto a capacidade de atribuir ad-jetivos aos novos rostos dos pobres, de acordo com opções diferentes. Segundo, a libertação da pobreza aparece sob a forma de liberdade evangélica diante das riquezas. Mas, o documento se esquiva de apontar diretrizes concretas que indiquem uma inserção no meio dos pobres. Se por um lado, a prudência de não se adentrar no campo político e ide-ológico se tornou evidente, por outro lado, há uma terceira situação não tão evidente: a vaguidade, que vem se tornando uma opção cada vez mais ideológica e política.

Contudo, quando se trata de do-cumentos da Igreja, deve-se olhar, também, com a profundidade da fé: se o documento não define os cami-nhos concretos de ação e de concreta inserção pastoral, ou deixa em aberto a definição de algumas opções fun-damentais, certamente desloca-se e confere a responsabilidade de tal empreendimento para Igrejas locais - pastores e fiéis. Assim, a título de ilustração, poder-se-ia questionar se a Diocese de Guaxupé, paróquias e comunidades estão concretizando uma nova fase para com a dimensão social da pastoral, ou se tem articu-lado suas estruturas segundo a di-nâmica proposta pelo documento de Aparecida.

COMUNIDADES EM MISSÃO - IGREJA VIVA | 11

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comunicaçõesaniversários fevereiro

agenda pastoral

Natalício06 Padre Ronei Mendes Faria06 Padre João Batista de Melo08 Padre Eduardo Pádua Carvalho10 Diácono Michel Donizetti Pires12 Padre Renato César Gonçalves14 Diácono Sérgio Bernardes16 Padre Paulo Carmo Pereira18 Padre Claudemir Lopes19 Padre Júlio César Agripino

2 – 5 Cursilho Masculino Jovem 4 - Reunião da Coordenação Diocesana de CEBs – Guaxupé Reunião do Setor Juventude - Guaxupé Reunião da Coord. Diocesana da Catequese - Guaxupé Reunião da Coord. Diocesana da Pastoral da Juventude – Guaxupé Reunião do Setor Famílias - Guaxupé Reunião da Equipe Diocesana de Comunicação - Areado Reunião do Conselho Diocesano do ECC - Conceição Aparecida6 – 9 Retiro dos Presbíteros em São Pedro - SP9 – 12 Cursilho Feminino Jovem 10 - 12 Assembleia Diocesana Indicativa e Eletiva da Pastoral da Criança11 - Conselho Diocesano de Pastoral (CDP) – Guaxupé

Ordenação05 Padre Alessandro de Oliveira Faria 05 Padre José Natal de Souza 05 Padre Julio César Martins05 Padre Ronaldo Aparecido Passos 05 Padre Ronei Mendes Lauria 06 Padre Benedito Clímaco Passos08 Padre Gilmar Antônio Pimenta09 Monsenhor Enoque Donizetti de Oliveira11 Padre Valdenísio Justino Goulart

13 - Data de Falecimento do 1º Bispo Diocesano – Dom Antônio Augusto (1961) Divulgação da Campanha da Fraternidade – São Sebastião do Paraíso14 - Divulgação da Campanha da Fraternidade - Poços de Caldas 15 - Reunião da Pastoral Presbiteral – Guaxupé Divulgação da Campanha da Fraternidade – Guaxupé16 - Divulgação da Campanha da Fraternidade - Alfenas17 - Divulgação da Campanha da Fraternidade - Passos18 - Setores: Reunião dos Conselhos de Pastoral dos Setores (CPS) Reunião GED e Assembleia Ger/Avaliação Cursilho de Jovens19 - Abertura das Atividades do Movimento Apostólico de Schoenstatt25 – 28 Encontro de Carnaval da RCC nos setores28 - Carnaval

Seria possível estabelecer perspecti-vas positivas para a relação inter-re-ligiosa e suas consequências para

toda a comunidade humana espalhada por todo o globo terrestre? Em busca de solu-ções criativas para o cenário atual, marca-damente secularista, as religiões deveriam esforçar-se na busca de pontos comuns que não se limitassem à esfera religiosa, mas que atingisse outras dimensões sociais como a política, a economia e a cultura, en-fim, uma ética global de amplificação em todos os níveis relacionais da humanidade. “As religiões são convidadas a provar que são fiéis ao melhor delas mesmas e à sua

índole própria, ao mesmo tempo que rein-terpretam de maneira criadora seus textos fundadores, suas tradições doutrinais, mo-rais e jurídicas à luz de um certo número de conquistas que são o objeto do consenso da consciência humana universal” (Geffré)

Para isso, seria fundamental aplicar lições desenvolvidas pelos múltiplos ca-minhos religiosos, mas que se fundamen-tam em princípios básicos e universais, “é preciso abrir espaço para o respeito ao estrangeiro, caro à tradição bíblica, à mi-sericórdia do Sermão da Montanha, à lei muçulmana da hospitalidade, à compaixão budista e à escola de desdomínio do Tao

chinês” (Geffré).Na busca de uma

compreensão concre-ta do modo como os esforços inter-religio-sos poderiam decisi-vamente contribuir na construção de uma nova realidade, é necessária uma per-cepção das macroes-truturas sociais, nas quais se firmam as comunidades huma-nas. Por sua predomi-

nância nas decisões globais na atualidade, a economia, fundamentada pela corrente neoliberal, torna-se praticamente uma es-piritualidade do consumo que afeta indis-tintamente todas as nações, incutindo uma fé idolátrica em todo este universo criado e ilusório denominado mercado. “A espiri-tualidade do consumo é a espiritualidade onde o ser humano busca satisfazer a sua sede de ser mais e mais humano através do consumo sem fim” (Jung Mo Sung).

Indicativos para a teologia cristã, mas não exclusivamente, partem do pensa-mento teológico social pelo qual se toma como pressuposto e caráter irrenunciável a dignidade humana, daí se provêm as re-lações solidárias com todos os indivíduos componentes da sociedade. Não será por meio de um interesse particular concedido que se chegará ao bem comum, promessa neoliberal, mas pela via da gratuidade e da experiência de fé, critérios norteadores para as decisões econômicas, sem haver a desumanização e o rompimento com os va-lores morais e religiosos dos povos.

Assim, o papa Francisco, em sua carta encíclica Laudato Si’, sobre o cuidado com a Casa Comum, convoca a todos os crentes cristãos ou não-cristãos a esforçarem-se numa empreitada em defesa de um desen-

volvimento sustentável que favoreça a ma-nutenção deste espaço partilhado. “Será preciso fazer apelo aos crentes para que se-jam coerentes com a sua própria fé e não a contradigam com as suas ações; será neces-sário insistir para que se abram novamente à graça de Deus e se nutram profundamen-te das próprias convicções sobre o amor, a justiça e a paz” (Laudato Si’ 200). Além da cooperação da esfera religiosa e sua influ-ência nas decisões públicas, o papa insiste na colaboração mútua que deve haver entre as ciências e grupos ambientalistas, propi-ciando uma convergência de suas ações. “A gravidade da crise ecológica obriga-nos, a todos, a pensar no bem comum e a pros-seguir pelo caminho do diálogo que requer paciência, ascese e generosidade, lembran-do-nos sempre que ‘a realidade é superior à ideia’” (Laudato Si’ 201).

A experiência religiosa não deve tor-nar-se mera repetição de discursos, con-cretização de interesses institucionais, realização de práticas rituais, mas deve ser reflexo da presença divina no mundo, oportunizando um real processo de união, não somente com o divino, mas uma tarefa a ser construída no cotidiano, na qual so-bressaia o valor fundamental e irrenunciá-vel do ser humano.

11 Padre Renato César Gonçalves 13 Padre Janício de Carvalho Machado 14 Padre Rodrigo Costa Papi20 Padre Sandro H. Almeida dos Santos 21 Padre Antonio Carlos Melo 22 Padre Guaraciba Lopes de Oliveira22 Padre Luciano Campos Cabral 26 Padre Paulo Sérgio Barbosa 27 Padre José Benedito dos Santos

atualidadeTRADIÇÕES RELIGIOSASE O ESFORÇO COMUM PELA DIGNIDADE HUMANA

Por diácono Sérgio Bernardes, assessor de comunicação da Diocese de Guaxupé

12 | JORNAL COMUNHÃO - DIOCESE DE GUAXUPÉ