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A CRISE DA DEMOCRACIA REPRESENTATIVAE A REFORMA POLÍTICA
Sandro Ari Andrade de Miranda, advogado em Pelotas-
RS, pós-graduado em ciência política pela Universidade
Federal de Pelotas/RS.
Resumo: O presente artigo aborda a Crise da Democracia Representativa,
especialmente no Brasil, as propostas que envolvem a Reforma Política, e a
necessária retomada do debate em torno da valorização dos mecanismos de
Democracia Participativa.
1 – A Representatividade Política do Parlamento; 2 – A Fidelidade e as Listas Partidárias; 3 – Financiamento de Campanha; 4 - Considerações Finais.
“Se é verdade, como muitos imaginam, que a
liberdade e a igualdade constituem
essencialmente a democracia, elas, no entanto,
só podem aí encontrar-se em toda a sua pureza,
enquanto gozarem os cidadãos da mais perfeita
igualdade política”
Aristóteles – A Política (Livro Sexto, Capítulo
Quarto)
Segundo o dicionário Houaiss da Língua Portuguesa, a democracia é
“1. o governo em que o povo exerce a soberania 2 sistema comprometido com a
igualdade ou a distribuição igualitária de poder”1. Seguindo esta orientação,
Friedrich MÜLLER afirma que todas as razões do exercício democrático do poder
e da violência2, todas as razões da crítica da democracia dependem deste ponto
de partida3. Logo, muito mais do que um objeto da democracia, pelo menos do seu
conceito mais contemporâneo, o povo deve ser, antes de tudo, um agente do
processo democrático.
Ocorre que aos longos dos anos esta não tem sido uma realidade
presente em todos as sociedades tidas como democráticas. Mesmo em países
onde a tradição política de eleições livres é mais presente, como Estados Unidos e
Alemanha, tem ocorrido uma diminuição gradativa da participação popular. Para
alguns como o conservador estadunidense Samuel HUNTINGTON, esta aparente
apatia é um sinal de vigor da democracia4, mas na verdade, como demonstram a
maioria dos autores comprometidos com o alargamento das garantias
democráticas, este “fastio”5 demonstrado pela população em relação ao processo
eleitoral é uma prova da perda de legitimidade da democracia representativa, com
eleições de caráter meramente plebiscitário6, e não de seu vigor.
A crença de outrora na liberdade política e na eficácia de intervenção
do cidadão, conforme já ressaltava HABERMAS no final da década de setenta,
acabou se confrontado com a realidade da situação onde a participação popular
cada vez mais ficou objetivada aos limites eleitorais, em eleições via de regra pré-
formadas, quando não manipuladas. Segundo ele, a participação acabou se
convertendo num valor em si e a votação e o interesse político em mero fetiche7.
Ocorre que no pós-guerra, sobretudo em função do pensamento de Joseph
SCHUMPETER, para quem a democracia é a ordenação institucional do processo
de decisões políticas, graças à qual alguns adquirem a faculdade de decidir
através de uma luta concorrencial pelos votos do povo8, a democracia perde o seu
caráter de “governo do povo, pelo povo, para o povo”9, para ficar limitada a um
conjunto de regras dos jogos, onde “os partidos passam a concorrer pelos votos
dos eleitores, assim como mercadores em busca de clientes”. Alienado da disputa
política, o eleitor perde identidade com o voto e com a tomada de decisões nas
instâncias superiores do poder10.
Para Luís Felipe MIGUEL, ao fundamentar as bases teóricas do
pensamento democrático do pós-guerra, chamando de democracia regimes
eleitorais de democracia, SCHUMPETER e seus seguidores, buscavam
neutralizar aqueles que reivindicavam um regime mais participativo e igualitário.
Para MIGUEL, tal situação criou o que ele chama de “democracia domesticada”:
“O significativo é que essa teoria da democracia, hoje
predominante, adotou os pressupostos de uma corrente de
pensamento destinada precisamente a combater a
democracia: o elitismo. O principal ideal da democracia, a
autonomia popular, entendida no sentido preciso da palavra,
a produção das próprias regras, foi descartado como
quimérico. No lugar da idéia de poder do povo, colocou-se o
dogma elitista de que o governo é uma atividade de
minorias. A descrença na igualdade que, tradicionalmente,
era vista como um quase-sinônimo da democracia – levou,
como corolário natural, ao fim do preceito do rodízio entre
governantes e governados.” (MIGUEL, 2002:505)
Ou, como relata HABERMAS, analisando a situação em que o povo foi
colocado no modelo de democracia concorrencial, de bases schumpterianas,
“(...) o povo, no plano jurídico, continua sendo soberano e,
no plano político, para suas decisões, tem à sua disposição
no Parlamento uma instituição provida constitucionalmente
de todos os poderes desejáveis, visto sob um prisma
democrático. Por isso coloca-se a questão de se a
participação dos cidadãos na vida política pode ter ainda
hoje uma verdadeira função, por mais que já não a tenha no
presente momento.” (HABERMAS, 1983:386)
Segundo o HABERMAS, no modelo concorrencial de SCHUMPETER,
“(...), esquece-se quase por completo a idéia da soberania
popular. Não se leva em consideração que a democracia
trabalha a favor da autodeterminação da humanidade e que,
nesse sentido, participação política e autodeterminação
coincidem. O importante, portanto, é saber se a participação
política promove ou não o desenvolvimento de tendências
democráticas. Deve-se considerar que a participação
política, além de ser um produto, é também um elemento
propulsionante do difícil e incerto caminho da humanidade
em direção à sua própria emancipação. Com isto, evita-se o
perigo de tratá-la como um fator que, ao lado de outros,
garantem o equilíbrio do sistema e de reduzir democracia a
simples regras de um jogo.” (HABERMAS, 1983:376)
Uma das conseqüências imediatas do avanço do pensamento de
SCHUMPETER e da criação de um verdadeiro “mercado eleitoral” nas
democracias originárias, logo após o pós-guerra, foi a progressiva burocratização
dos partidos e afastamento dos conflitos imediatos da sociedade. Contrariando o
que esperavam MARX e J.S. MILL11 no século XIX, esta burocratização atingiu
inclusive partidos de base operária, como o Partido Social Democrata Alemão e o
Trabalhista Inglês. Segundo Claus OFFE12, três são os efeitos principais dessa
dinâmica sobre os partidos, especialmente nos partidos cuja origem popular
determinava a existência de maiores compromissos sociais, como os partidos
socialistas e sociais-democratas europeus13:
1) desradicalização da ideologia dos partidos, que passam a se adequar ao
mercado político;
2) burocratização e centralização do partido que passa a desempenhar
atividades como: coletar recursos materiais e humanos; disseminar
propaganda e informações sobre a posição do partido sobre um grande
número de temas políticos diferentes; explorar o mercado político,
identificando novos temas e conduzindo a opinião pública; gerenciar o
conflito interno. Uma das principais conseqüências desse padrão
burocrático-profissional da organização política é a desativação das bases
do partido;
3) heterogeneidade estrutural, ideológica e cultural de seus filiados, com a
dissolução do sentido de identidade coletiva.
Quando falamos em crise da democracia partidária concorrencial,
estamos obviamente falando de seu da “democracia representativa”, modelo no
qual a organização partidária é o principal instrumento político de acesso ao
processo de tomadas de decisão nas esferas de poder, pelo menos em teoria.
Também devemos considerar que falamos em democracia numa perspectiva
“eurocêntrica”, e de tradição pós-iluminista. A crise da democracia representativa
não é uma exclusividade das chamadas democracias originárias, onde existe uma
grande tradição de processos eleitorais livres. Essa crise também se espalhou
para todos aqueles países de democratização recente, dentre os quais
destacamos o Brasil. Ocorre que no Brasil, apesar do sucesso de algumas
iniciativas de gestão participativa, que se alargadas poderiam traçar um cenário
diferente, além da progressiva alienação do cidadão-eleitor do processo de
tomada de decisões políticas no mercado político-eleitoral, tivemos um
agravamento em face da nossa tradição patrimonialista, de aprisionamento do
Estado por determinados grupos que “financiam” setores do poder estatal,
atingindo inclusive alguns membros da antiga direção do partido que foi
responsável pelas principais iniciativas de democratização da gestão pública, que
por sinal não foram repetidas, com honrosas exceções, no nível federal.
Neste Brasil, solapado pela negligência histórica dos governantes em
garantir ao conjunto da população dos mais comezinhos direitos civis e sociais,
situação esta agravada pelo avanço do receituário neoliberal na economia desde o
início da década de 90, a recente crise política escancarou as fragilidades de
nosso sistema eleitoral e representativo, dominado por mecanismos viciados.
Como resposta para a crise, o tema da “Reforma Política”, que mais
adequadamente deveria ser chamado de Reforma Eleitoral, que estava
adormecido no Congresso desde a revisão constitucional de 93, e que vem sendo
aplicado em nosso país a conta-gotas, virou tema corrente no debate político.
O presente estudo tem por objetivo avaliar alguns dos temas que
compõem a agenda da chamada Reforma Política, que embora não atacando
questões essenciais para a efetivação da democracia, como a ampliação dos
mecanismos de participação e controle social, que poderiam aumentar a
legitimidade das escolhas públicas, poderão, se implantados, melhorar de forma
significativa o funcionamento da nossa democracia representativa.
1 – A Representatividade Política do ParlamentoO problema da representatividade política no Brasil inicia com as
distorções existentes na definição dos quocientes eleitorais necessários para
eleição de Deputados Federais, que fazem necessários cerca de doze vezes mais
eleitores para eleger um Deputado Federal no Estado de São Paulo, Estado com o
maior número de eleitores, do para eleger um Deputado no Estado de Roraima,
Estado com o menor número de eleitores no Brasil. Este problema é originário de
uma determinação dos nossos constituintes, que preferiram fixar um número
mínimo (oito) e máximo (setenta) de deputados para os Estados, ao contrário de
estabelecer um quociente mínimo para todo o país, que pudesse ser alterado de
acordo com o aumento ou a diminuição do número de eleitores, acabando assim
com a referida distorção.
Outro tema que tem sido objeto de constantes debates teóricos é a
substituição do atual modelo de eleição proporcional do Parlamento, por um
modelo de eleição majoritária, o chamado modelo de eleição distrital, ou a sua
variação, distrital misto. Vários são os argumentos utilizados em favor de cada
modelo, embora inegavelmente este debate não possa ser realizado de forma
isolada, afastado de outros temas igualmente importantes, que serão abordados
em tópicos específicos, como o sistema de listas, a fidelidade partidária e o
financiamento dos partidos e campanhas eleitorais.
A técnica da eleição por meio de voto distrital pressupõe a realização de
eleições de caráter majoritário dentro de uma determinada circunscrição territorial
(distrito) onde são eleitos os candidatos mais votados, ficando os partidos
minoritários sem representação, ainda que por diferença mínima. No sistema
distrital, cada uma das Unidades da Federação é dividida em um certo número de
distritos, equivalentes ao número de cadeiras existentes no parlamento. Os
partidos devem apresentar os seus candidatos e o mais votado em cada distrito é
eleito. Uma das condições básicas do sistema, reside na divisão eqüitativa de
eleitores por distrito, de forma que todos os distritos possuam um número
equivalente de eleitores. Os distritos do podem abarcar vários municípios
pequenos ou ainda grandes municípios podem ser divididos em vários pequenos
distritos. Como destaca Pinto FERREIRA14, a votação dentro do distrito pode ser
uninominal, quando cada distrito pode escolher apenas um candidato, ou
plurinominal, com a escolha de vários candidatos em cada distrito15.
Segundo Pinto FERREIRA, a orientação do sistema de escolha
majoritário, pode ser ainda ser realizada de duas maneiras diferentes. O primeiro
modelo é o do sistema simples ou de escrutínio único, quando em um só turno é
escolhido o candidato que obtiver maioria simples. No outro modelo, de maioria
absoluta, também chamado de ballotage, no qual o candidato só é eleito quando
obtém a maioria absoluta dos votos. Quando isto não ocorre, os dois candidatos
que obtiveram a maioria dos votos são remetidos para um segundo turno, de
forma que um obtenha a maioria absoluta. Este último modelo é o adotado no
Brasil para a escolha dos chefes do poder executivo federal e estadual, e na
escolha dos prefeitos de cidades com mais de 200.000 eleitores. Já o primeiro
modelo é adotado no Brasil para a escolha dos prefeitos em cidades com menos
de 200.000 eleitores e para o Senado.
No início do regime representativo, as eleições para Deputados eram
realizadas por meio do sistema majoritário, de candidatos individuais, inclusive no
Brasil (Constituições de 1824 e 1891). As vagas no parlamento eram preenchidas
pelos candidatos que obtivessem individualmente o maior número de votos.
Atualmente, alguns países ainda mantêm o sistema de voto distrital puro, como
Estados Unidos e Inglaterra, e outros, como a Alemanha, utilizam-se do sistema
do voto distrital misto, onde coexistem eleições majoritárias e proporcionais. No
sistema alemão os membros do Parlamento podem ser eleitos tanto no distrito,
como por meio de uma lista partidária nacional. Os deputados são eleitos de forma
distrital onde ganham os candidatos mais votados, mas os eleitores também
votam nas listas dos partidos. O voto no partido é utilizado para a realização do
cálculo do número de vagas que cada partido terá no Parlamento. Se um partido
obtiver votos suficientes para eleger 40 deputados nos distritos, mas no conjunto
dos distritos somente obtiver 30 cadeiras com os votos na sua legenda,
aumentam-se o número de vagas no parlamento para receber os outros
deputados. Contudo se partido eleger menos deputados nos distritos do que o
potencial de vagas atingido pela legenda, as cadeiras deverão ser completadas
pelos nomes ordenados na lista nacional do partido.
Para os defensores do voto distrital, tal sistema aumentaria o poder de
fiscalização dos eleitores sobre os representantes eleitos e diminuiria a
possibilidade de eleição de candidatos que individualmente tiverem um
desempenho eleitoral ruim, mas que são carregados ao parlamento pelo bom
desempenho de outros candidatos do mesmo partido, como acontece no sistema
proporcional brasileiro. Por outro lado, o sistema é muito criticado por favorecer o
poder econômico dos chefes locais e o chamado sistema político paroquial, como
nos Estados Unidos, ou em algumas regiões do interior do nosso país, onde
ocorre a votação extremamente concentrada em um determinado tipo de
candidato. Como mecanismo de diminuição desta situação é proposta a adoção
de distritos de média ou grande magnitude, como uma forma de diluir o peso dos
caciques políticos regionais16. No modelo distrital uninominal também é criticada a
possibilidade de elegendo apenas um candidato, às vezes com margem
extremamente reduzida de votos, garantirmos a representação de apenas um tipo
de pensamento no parlamento, excluindo a diferença. Outra característica do
modelo majoritário distrital é a redução das possibilidades dos partidos de caráter
ideológico, cuja vinculação programática não segue padrões territoriais, mas de
classe e de idéias, motivo pelo qual a votação normalmente é realizada de forma
mais espalhada no país e não concentrada num determinado território. Um
exemplo deste problema recentemente atacou o Partido Comunista na Inglaterra,
que embora tenha obtido em números absolutos, uma grande votação, superior a
20%, não teve este resultado refletido no parlamento, em virtude das limitações do
sistema distrital. Ainda existiria o risco de diminuir a coesão ideológica do partido,
que seria diluída em favor dos interesses eleitoreiros dos candidatos, favorecendo
a burocratização do partido, e o afastamento das bases, ou seja, parodiando
Hirschman17, um “efeito perverso” ao contrário em favor da manutenção do status
quo.
Na verdade, a adoção no voto distrital num sistema de lista aberta e
financiamento privado de campanha dentre a favorecer o poder econômico e
agravar ainda mais o clientelismo e demais problemas da parca democracia
brasileira. Aliás, o modelo distrital não elimina a distorções de representação, onde
podemos citar como exemplo o fato de na primeira eleição do Busch nos Estados
Unidos, este ter sido eleito com menos votos, em termos absolutos, do que o
segundo colocado, embora tenha obtido vantagens nos distritos e no colégio
eleitoral.
O sistema de representação proporcional, por outro lado, como bem
destaca Pinto Ferreira18, tem a possibilidade de assegurar a representação dos
grandes partidos e a sua coexistência com as minorias ideológicas. Ou seja,
diversamente do que alegam alguns, o sistema proporcional ao contrário de
prejudicar, reforça a Democracia. O sistema de representação proporcional
objetiva a representação de diferentes formas de pensamento, representadas nos
partidos, no Parlamento, de acordo com a força numérica de cada um. Tal
sistema, além do Brasil, também é adotado em países como a Dinamarca,
Holanda, Suíça e Finlândia. Os críticos do sistema proporcional afirmam que ele
provoca certa instabilidade no poder, na medida em que cria dificuldades para o
estabelecimento de maiorias parlamentares sólidas, motivo pelo qual alguns
países tentam dosá-lo através da atribuição dos restos ao partidos majoritários,
como forma de se garantir uma maior estabilidade governamental19. No Brasil o
sistema proporcional é adotado na eleição das representações no legislativo
estadual e municipal, e na Câmara Baixa Federal (Câmara dos Deputados).
Outro mecanismo utilizado para dar maior estabilidade representativa no
parlamento, de duvidosa eficácia, é a utilização da cláusula de barreira, instituída
no Brasil pelo art. 13 da Lei n.º 9.695, de 19 de setembro de 1995, que estabelece
um mínimo de votos necessários em todo o país, para que o partido possa
funcionar no parlamento. Segundo o referido artigo, somente terá direito de
funcionamento nas Casas Legislativas o Partido que, em cada eleição para a
Câmara dos Deputados obtenha o apoio mínimo de, no mínimo, cinco por cento
dos votos apurados, não computados os votos brancos e nulos, distribuídos em
pelo menos um terço dos Estados, com o mínimo de dois por cento do total de
cada um deles. Segundo os defensores de tal mecanismo, há um número
excessivo de partidos no país que confundem a tomada de decisão dos eleitores e
favorecem o clientelismo no congresso nacional. Ainda segundo este pensamento,
muitos partidos são criados apenas para favorecer a eleição de determinado
cacique político, ou para se beneficiar do fundo partidário e a diminuição do
número de partidos, com a retirada das pequenas agremiações poderá estimular a
construção de maiorias mais sólidas no Congresso Nacional. Embora por um lado
possamos reconhecer que o fortalecimento dos grandes partidos políticos pode
beneficiar a estabilidade política no Congresso, por outro é inegável que este
mecanismo tem caráter discriminatório, deverá prejudicar inclusive partidos com
tradição e ideologia política definida, como o Partido Comunista do Brasil, com
mais de 85 anos de história, e o Partido Verde, o que na realidade demonstra que
este mecanismo, além de duvidosa constitucionalidade, tende a ser extremamente
anti-democrático na medida em que permite e exclusão de minorias20,
principalmente ideológicas, algo contraditório com uma democracia efetiva. Na
realidade, como adverte Otávio DULCI,
“O incômodo com a existência de muitos partidos talvez
reflita uma imagem idealizada da democracia partidária
como jogo de poucos competidores, portanto mais
previsível. Ora, em todos os países de democracia
consolidada a liberdade de competição propicia a
apresentação de partidos efêmeros, e candidaturas
folclóricas sem com isso pôr em xeque a estabilidade do
sistema. O debate político e o voto dos eleitores é que
decidem, e geralmente decidem por poucos partidos
efetivos.” (DULCI, 2005)
2 – A Fidelidade e as Listas PartidáriasUm dos fatores que mais tem contribuído para corroer a estabilidade
política brasileira é a infidelidade partidária e a sistemáticas de eleições por lista
aberta, notadamente agraciadas pela Lei, privilegiando o mandato individual do
parlamentar em detrimento do partido. Tal sistema, tal qual retratado na obra de
Quincas Borba de Machado de Assis, conduz os partidos a buscarem candidatos
entre personalidades de destaque social, como representantes dos meios de
comunicação, de igrejas ou desportistas, que acabam se tornando, em face desta
situação, independentes dos próprios partidos. Ironicamente, é exatamente este
modelo que incentiva a formação das chamadas siglas de aluguel, sem nenhuma
base programática, que apenas objetivam conduzir determinadas figuras aos
postos de poder.
O modelo eleitoral proporcional com listas abertas só existe no Brasil e
na Finlândia, e não cria uma ligação política entre o eleitor e o seu represente que
permita uma cobrança para solução dos problemas que afetam a sociedade, e
quando esta existe, fica adstrita a problemas de natureza paroquial, ou a meros
favores. Via de regra, dada a prevalência do personalismo das lideranças, os
candidatos são eleitos sem maiores compromissos com os eleitores ou com os
problemas enfrentados por sua base eleitoral. É comum, por exemplo, vermos a
formação de verdadeiras estruturas de troca de favores ligadas a determinados
parlamentares, que fornecem serviços que compreendem desde uma simples
liberação de documentos, que podem ser perfeitamente obtidos junto aos órgãos
da administração pública, ao fornecimento de estadia em determinadas cidades
para a realização de exames de saúde. Isto tudo às custas do dinheiro do
contribuinte, dos altos subsídios parlamentares, do apoio privado de grupos de
empresários ligados ao parlamentar, ou ainda graças à influência midiática.
O resultado deste sistema é a formação de partidos muito
heterogêneos, além de propiciar que determinados candidatos, campeões de voto
auxiliem a eleição de outros de pouca densidade política, quando não de perfil
oposto, que vão engrossar as fileiras do baixo clero. Outro problema grave
ocasionado pelo sistema de lista aberta consiste na dificuldade que o eleitor passa
a ter para conhecer a plataforma programática de cada um dos candidatos, num
universo que só tende a aumentar progressivamente. Segundo o Art. 10 da Lei
9.504 de 30 de setembro de 1997, cada partido poderá inscrever nas eleições
para Deputado Federal até 150% dos números de vagas a serem preenchidas,
sendo que este número aumenta para o dobro do número de vagas, quando se
tratarem de coligações. Se tomarmos como exemplo o Estado de São Paulo, que
tem direito a 70 deputados, considerando que oito partidos e duas coligações
disputem as vagas existentes no parlamento, chegaremos ao incrível número de
1.120 candidatos, o que inevitavelmente impede que o eleitor tenha conhecimento
de todos candidatos, motivo pelo qual a preferência de escolha passa a depender
do poderio econômico da candidatura, ou do grau de influência do candidato por
outros meios, como o rádio, a televisão ou a igreja.
Em contraposição ao modelo de lista aberta, existem outros dois
modelos importantes, que atuam no sentido de fortalecer os partidos e induzir a
escolha racional e programática dos eleitores. O primeiro é o sistema de listas
fechadas ou bloqueadas, onde os partidos apresentam aos eleitores uma lista
previamente ordenada hierarquicamente aos eleitores que através do voto
impessoal na lista (legenda partidária de sua preferência), determinam o número
de vagas que cada partido terá no parlamento. Embora este sistema, adotado na
maior parte dos países, destacadamente nos países europeus, fortaleça os
partidos e a discussão programática nos mesmos, qualificando o processo
eleitoral, tem recebido sistematicamente críticas pelo fato de diminuir a identidade
do eleitor com o candidato e o de fortalecer os chefes partidários que utilizariam a
burocracia interna para se manterem permanentemente no poder21. O segundo
modelo é o de listas preferenciais, que nada mais é do que uma variação do
sistema de listas fechadas. Neste último modelo os partidos também oferecem aos
eleitores listas previamente ordenadas hierarquicamente, contudo o eleitor tem a
possibilidade de alterar esta ordenação na medida em que lhe é facultado votar no
candidato que poderá ser reposicionado na lista final, desde que receba votos
suficientes para tanto. Desta forma, neste modelo, além de escolher o partido, o
eleitor também poderá escolher o candidato de sua preferência dentro da lista
partidária.
Em qualquer das hipóteses, para o correto funcionamento do sistema é
essencial o fortalecimento da fidelidade partidária. Trata-se, na realidade, de uma
medida que visa inibir a troca constante de legendas. Ocorre que num sistema
eleitoral de lista aberta, como já foi dito anteriormente, há um privilegiamento do
candidato em relação ao partido, o que determina a verdadeira dança das
cadeiras que acontece todos os anos no parlamento brasileiro. Embora o sistema
eleitoral não possa agir como uma “camisa de força” ideológica, a infidelidade,
prática que como adverte Otávio DULCI22 foi reforçada pelo período da ditadura
militar, “significa renúncia ao mandato obtido nas urnas. É como se começasse
subitamente outro mandato, sem nenhuma delegação formal”. Aliás, como
destaca o referido autor, “é surpreendente a naturalidade com que essa questão
tem sido encarada no país, pois ela é talvez o principal fator de descrédito dos
partidos entre os brasileiros”.
3 – Financiamento de CampanhaUm dos pontos que tem ganhado relevância nos últimos anos, sob
inspiração do princípio da equidade, é a substituição do atual sistema de
financiamento privado dos partidos existente no Brasil, pelo financiamento público
exclusivo de campanha23, idéia esta que foi reforçada com a última crise política.
Além de estabelecer uma maior igualdade no acesso aos recursos financeiros
para os partidos, o financiamento público também objetivaria a diminuição da
interferência dos interesses privados e de grupos econômicos sobre os partidos,
governos e parlamentos.
Tal medida, adotada em vários países, como Alemanha e Japão,
embora seja considerada boa, deve antes ser submetida a algumas considerações
prévias. A primeira como bem adverte Otávio DULCI, é com relação à
legitimidade, na medida em esta proposta
“não é de fácil aplicação e precisa ganhar legitimidade
popular para funcionar bem. Em época de ajuste fiscal, com
cortes de gastos do Estado, diante das críticas endereçadas
aos políticos por conta de seus vencimentos e das despesas
dos órgãos legislativos, como fazer para tornar essa medida
aceitável pela opinião pública? (DULCI, 2005)
Outra questão importante se refere à distribuição dos recursos entre as
agremiações partidárias, considerando que nas propostas dominantes a repartição
deverá ser feita proporcionalmente de acordo com a representação de cada
partido no Congresso, o que acabará indubitavelmente privilegiando as grandes
agremiações partidárias, situação esta agravada com a adoção da cláusula de
barreira. Outro aspecto importante se refere à distribuição dos recursos dentro das
próprias estruturas partidárias, principalmente se mantido o sistema de listas
abertas, que por natureza é incompatível com o financiamento público de
campanha, na medida em que haveria uma tendência a privilegiamento de
determinadas candidaturas em detrimento de outras.
Há ainda dois debates diretamente ligados a esta proposta que devem
ser realizados. Um consiste na necessidade clara de redução das despesas de
campanha eleitoral, tendo em vista que o atual valor das despesas, principalmente
os gastos com publicidade, propaganda e mídia é incompatível com o uso de
recursos públicos. Na outra ponta encontramos a necessidade de
aperfeiçoamento dos mecanismos de controle e fiscalização da aplicação dos
recursos, já que a simples adoção do financiamento público não impede a
possibilidade de determinados partidos e candidatos virem a utilizar recursos de
caixa dois, obtidos por fora do sistema oficial.
Por fim, e não menos importante, o fato de ser adotado um sistema de
financiamento público não impede eventuais doações da iniciativa privada, desde
que os recursos sejam diretamente direcionados para o Fundo Partidário. A
doação NÃO deve estar condicionada ao oferecimento de benefícios fiscais, sob
pena de desvirtuamento do mecanismo de financiamento público, sem contar um
antipático prejuízo para o restante da sociedade.
4 - Considerações Finais Segundo o publicista gaúcho Juarez FREITAS, “a democracia
representativa é vital. A direta, também”24. Para ele, um dos desafios mais
complexos e facinantes da atualidade reside em fazer completares os
instrumentos da democracia direta e da democracia representativa, como forma
de superar o formalismo da legitimação pelo procedimento, característico da
tradicional e antiga democracia representativa. Seguindo o mesmo caminho,
André Ramos TAVARES afirma que:
“A vontade de participar do poder, na democracia
representativa, nos moldes atuais, é restritivista, visto que
cessa no momento em que ocorre o provimento eleitoral. De
maior duração e profundidade é a vontade de exercer o
poder na democracia semidireta, na qual se vai além do
mero voto, galgando intersecções e imbrincações
necessárias com a esfera pública representativa do
exercício do poder pelos representantes do “soberano”
(povo) (TAVARES, 2004:352).
O certo é que, diferentemente de uma crise da Democracia,
atravessamos uma série crise de legitimidade da Democracia Representativa, que
á agravada no país pelas distorções existentes no sistema eleitoral. Esta perda de
legitimidade, nada mais é do que, também, uma perda de legitimidade dos
poderes executivo e legislativo, componentes essenciais da democracia
representativa, que se afastam cada vez mais do conjunto da sociedade,
característica esta peculiar ao movimento globalizante, fortalecendo os aspectos
burocráticos da gestão pública em detrimento das garantias políticas da cidadania.
Motivado por esta crise, Paulo BONAVIDES aponta que é necessário repolitizar
a legitimidade da nossa democracia. “Repolitizar a legitimidade equivale a
restaurá-la, ou seja desmembrá-la dessa legalidade onde ela na essência não
existe, porque o povo perdeu a crença e a confiança na república das medidas
provisórias e na lei dos corpos representativos, cada vez mais em desarmonia
com a sua vontade, suas aspirações, seus interesses existenciais”25. Esta medida
consistiria no alargamento dos mecanismos de democracia participativa, que
deveriam ser estendidos para os altos poderes da República.
A crise da Democracia Representativa não é um privilégio brasileiro,
mas em nosso país as amarras do patrimonialismo burocrático a tornaram ainda
mais injusta. Embora várias das propostas que giram em torno da Reforma
Política, se aplicadas, acabem de alguma forma contribuindo para o
aperfeiçoamento das regras do jogo eleitoral, o fortalecimento dos mecanismos de
democracia participativa, poderiam ajudar a romper com o imobilismo que é
dominante na sociedade presa ao formalismo da democracia representativa,
principalmente quando esta é reduzida a eleições concorrênciais. A Democracia
Participativa tem como papel superar a limitação “das regras do jogo”, e servir
como mecanismo de inclusão dos anseios populares.
Por fim, como ensina o professor espanhol Tomás VILLASANTE, não
podemos esquecer que uma democracia não é algo estático, é um processo.
“Um processo na história que se está construindo e em
relação aos problemas concretos que deve ir resolvendo. É
portanto uma coisa construída, que não cai do céu por
milagre. [...] A democracia não está tanto em representar as
opiniões, mas sim em como elas são construídas. Porque as
opiniões, como tudo mais, não estão aí preexistentes, à
espera de que venhamos descobri-las, mas estão em
permanente construção, e o interessante é que se possa
construir livremente e com a maior informação possível. A
democracia não é uma coisa abstrata realmente existente
ou não, mas sim processos que se constroem ou destroem,
dependendo do papel desempenhado pelas diferentes
forças sociais, em cada situação concreta e complexa.”
(VILLASANTE, 1999:98-100);
BIBLIOGRAFIA BONAVIDES, Paulo. “A Democracia Participativa como Alternativa
Constitucional ao Presidencialismo e ao Parlamentarismo”. Revista da
Academia Brasileira de Direito Constitucional, n.º 3, 2003, pág. 477-493;
DULCI, Otávio. Os Percalços da Reforma Política. Teoria e Debate nº 62,
abril/maio 2005. [acessado em 23 de julho de 2005].
<http://www.fpa.org.br/td/td62/td62_reforma.htm>;
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HIRSCHMAN, Albert O.. A Retórica da Intransigência – Perversidade,
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HOUAISS, Antônio; VILLAR, Mauro de Salles; FRANCO, Francisco Manoel
de Mello. Mini Houaiss Dicionário da Língua Portuguesa. Editora Objetiva.
2ª Edição. Rio de Janeiro-RJ, 2004;
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Revista de Ciências Sociais, Rio de Janeiro, Vol. 45, n.º 03, 2002, pág 483-
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1 HOUAISS, Antônio; VILLAR, Mauro de Salles; FRANCO, Francisco Manoel de Mello. Mini Houaiss
Dicionário da Língua Portuguesa. Editora Objetiva. 2ª Edição. Rio de Janeiro-RJ, 2004, pág. 215;2 No sentido Webberiano de exercício legítimo da coerção;3 MÜLLER, Friedrich. “Quem é o Povo? A Questão Fundamental da Democracia”. Max Limonad. 2ª Edição.
São Paulo-SP, 2000, pág. 47, Tradução: Peter Naumann;4 Segundo Huntington, “o excesso de participação aumenta os conflitos sociais, põe em risco a continuidade
do sistema, gera um excesso de demandas que o Estado é incapaz de processar” – Conf. MIGUEL, Luís
Felipe. A Democracia Domesticada: Bases Antidemocrátricas do Pensamento Democrático Contemporâneo.
Dados – Revista de Ciências Sociais, Rio de Janeiro, Vol. 45, n.º 03, 2002, pág. 503. Na realidade,
diversamente do que atesta o teórico americano, as demandas sociais crescentes, originadas de um
processo de maior participação, apenas demonstram que há necessidade de alargamento das prioridades
governamentais, que num governo elitista, de baixa participação, via de regra ficam limitadas para um
pequeno grupo, para quem a democracia é mais democrática; 5 O termo “fastio” tem inspiração da expressão “enfastiados diante da política” [politikverdrossene
Wahlbürger] adotada por Friedrich Müller (ob. Cit., pág. 110) para analisar o progressivo processo de
esvaziamento dos processos eleitorais pela população cada vez menos crente nas promessas
apresentadas pelos postulantes aos cargos governamentais.6 A expressão “caráter plebiscitário” trata da forma como acontece a participação política do povo nas
democracias eleitorais, quando o cidadão é chamado apenas periodicamente, à cada quatro, cinco ou seis
anos, para decidir se aprova ou não a atuação dos governantes e parlamentares eleitos.7 HABERMAS, Jürgen. Participação Política, in CARDOSO, F. H. & MARTINS, C. E., “Política e Sociedade”.
São Paulo-SP. Nacional. 1983, pág. 386;8 Ou, nas palavras do próprio Schumpeter: “a democracia é o método para promover o bem comum através
da tomada de decisões pelo próprio povo, com a intermediação dos seus representantes” (Schumpeter
apud MIGUEL, Luís Felipe, ob. Cit., pág. 500);9 Frase famosa do ex-presidente americano Abraão Lincoln; 10 Há, contudo, a necessidade de ressaltar que no geral estamos avaliando a situação da população em
relação às eleições concorrenciais nas “democracias originárias” (termo utilizado por Guillermo O’donnel,
que preferimos em relação ao economicismo relativista presente no termo “países desenvolvidos”). Ocorre
que em países como o Brasil, onde a conquista do voto é algo relativamente recente, de caráter obrigatório,
e onde em algumas localidades tivemos a experiência de modelos de democracia participativa, os índices
de participação popular nas eleições são relativamente altos, embora em algumas cidades, no segundo
turno das eleições de 2004 o índice de abstenções tenha chegado à cerca de 30%. Acredita-se que com o
eventual fim da obrigatoriedade do voto, dada a progressiva perda de legitimidade da classe política,
especialmente na esfera parlamentar, as abstenções acabem alcançando valores bem mais altos.11 Obviamente as posições de Marx e J.S.Mill eram opostas em relação aos resultados, mas ambos
esperavam que a chegada ao poder das classes operárias promovessem grandes alterações na estrutura
social de seus países. Tanto Marx quanto Mill acreditavam que a organização partidária da classe operária
promovesse a construção de uma sociedade socialista e igualitária. Marx lutava pelo alargamento das
garantias políticas para a classe operária. Já Mill, por outro lado, temia que este alargamento derrubasse os
pilares da classe burguesa. Por fim, o surgimento do modelo do Estado de Bem-estar domesticou a classe
operária, ao mesmo tempo em que manteve a garantia relativamente estável de lucros para a burguesia,
contrariando as esperanças de Marx e os temores de Mill.12 OFFE, Claus. “A Democracia Partidária Competitiva e o Welfare State Keynesiano: fatores de estabilidade
e desorganização”. In – Problemas Estruturais do Estado Capitalista. Rio de Janeiro-RJ. Tempo Brasileiro,
1984, pág. 363 e 364;13 Nos EUA a inexistência de países com compromissos políticos socializantes, facilitou o desenvolvimento
sem conflitos da chamada democracia concorrencial, muito embora exista atualmente um grande esforço
dos partidos dominantes em buscar aumentar o número de “consumidores eleitorais”, como forma de
garantir uma maior legitimidade política para as eleições, legitimidade esta que se encontra cada vez mais
escassa;14 FERREIRA, Pinto . Comentários à Constituição Brasileira – Vol. 1, Art. 1º à 21. Editora Saraiva. São
Paulo-SP, 1989, pág. 349;15 De certa podemos dizer que o sistema federativo brasileiro apresenta atualmente características de
eleições distritais plurinominais nos Estados, na eleição dos Deputados Federais, já que acompanhamos a
eleição de um número específico de Deputados por Estado. 16 O que não elimina a forte vinculação do parlamentar com o seu distrito o que poderia agravar ainda mais
o atual problema das solicitações de favores orçamentários para obras locais e eleitoreiras em detrimento
do bem comum da população do estado ou da federação. Em suma, a persistência do paroquialismo.17 HIRSCHMAN, Albert O.. A Retórica da Intransigência – Perversidade, Futilidade e Ameaça. Editora
Companhia das Letras. Porto Alegre-RS, 2000.18 FERREIRA, Pinto, ob. cit. pág. 350;19 Existem vários mecanismos diferentes de cálculo de votos e sobras para a distribuição da ocupação das
cadeiras no Parlamento, que podem ser estudados de forma sintética na obra Comentários à Constituição
Brasileira de Pinto Ferreira, cujas referências já foram citadas acima.20 Na realidade o problema do fisiologismo partidário tem outros elementos causadores que não o número
de partidos, como, por exemplo, a falta de regras mais rígidas de fidelidade, o modelo de financiamento
privado, e a eleição por meio de lista aberta, que beneficia a pessoa do candidato em prejuízo do partido.
Não podemos esquecer que o presidente Fernando Collor de Mello, cassado por corrupção, foi eleito por
um partido sem uma ideologia política definida e sem grande expressão (Partido da Renovação Nacional -
PRN) e que além de alguns micro-partidos, os membros do chamado baixo clero do Congresso estão
vinculados a grandes partidos, quase todos da mesma matriz ideológica conservadora, tais como o Partido
Progressista (PP), o Partido Liberal (PL), o Partido Trabalhista Brasileiro (PTB), o Partido da Frente Liberal
(PFL), e até mesmo o Partido do Movimento Democrático Brasileiro (PMDB).21 O que na realidade pode também ocorrer no sistema de listas abertas ou preferenciais com a
concentração dos recursos eleitorais.22 DULCI, Otávio. Os Percalços da Reforma Política. Teoria e Debate nº 62, abril/maio 2005, disponível em
http://www.fpa.org.br/td/td62/td62_reforma.htm, acessado em 23 de julho de 2005;23 Utilizo a expressão financiamento público exclusivo de campanha pelo fato de no Brasil já existir o Fundo
Partidário, que também é uma forma de financiamento público dos partidos, e não apenas de campanha,
que coexiste com o financiamento privado.24 FREITAS, Juarez. O Princípio da Democracia e o Controle do Orçamento Público Brasileiro. Interesse
Público. Volume Especial – Responsabilidade Fiscal. Notadez. Porto Alegre-RS, 2002, pág. 11;
25 BONAVIDES, Paulo. “A Democracia Participativa como Alternativa Constitucional ao Presidencialismo e
ao Parlamentarismo”. Revista da Academia Brasileira de Direito Constitucional, n.º 3, 2003, pág. 484;