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Nº 134
Evolução da parcela do rendimento do trabalho durante a recente
estabilidade monetária
8 de fevereiro de 2012
2
Comunicados do Ipea
Os Comunicados do Ipea têm por objetivo antecipar estudos e pesquisas mais amplas conduzidas pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada, com uma comunicação sintética e objetiva e sem a pretensão de encerrar o debate sobre os temas que aborda, mas motivá-lo. Em geral, são sucedidos por notas técnicas, textos para discussão, livros e demais publicações. Os Comunicados são elaborados pela assessoria técnica da Presidência do Instituto e por técnicos de planejamento e pesquisa de todas as diretorias do Ipea. Desde 2007, mais de cem técnicos participaram da produção e divulgação de tais documentos, sob os mais variados temas. A partir do número 40, eles deixam de ser Comunicados da Presidência e passam a se chamar Comunicados do Ipea. A nova denominação sintetiza todo o processo produtivo desses estudos e sua institucionalização em todas as diretorias e áreas técnicas do Ipea.
Governo Federal
Secretaria de Assuntos Estratégicos da Presidência da República
Ministro Wellington Moreira Franco
Fundação pública vinculada à Secretaria de Assuntos Estratégicos da Presidência da República, o Ipea fornece suporte técnico e institucional às ações governamentais – possibilitando a formulação de inúmeras políticas públicas e programas de desenvolvimento brasileiro – e disponibiliza, para a sociedade, pesquisas e estudos realizados por seus técnicos. Presidente Marcio Pochmann
Diretor de Desenvolvimento Institucional Geová Parente Farias
Diretor de Estudos e Relações Econômicas e Políticas Internacionais, substituto Marcos Antonio Macedo Cintra
Diretor de Estudos e Políticas do Estado, das Instituições e da Democracia Alexandre de Ávila Gomide
Diretora de Estudos e Políticas Macroeconômicas Vanessa Petrelli de Correa
Diretor de Estudos e Políticas Regionais, Urbanas e Ambientais Francisco de Assis Costa
Diretor de Políticas Setoriais de Inovação, Regulação e Infraestrutura Carlos Eduardo Fernandez da Silveira
Diretor de Estudos e Políticas Sociais Jorge Abrahão de Castro
Chefe de Gabinete Fábio de Sá e Silva
Assessor-chefe de Imprensa e Comunicação Daniel Castro
URL: http://www.ipea.gov.br Ouvidoria: http://www.ipea.gov.br/ouvidoria
3
1. Apresentação
Este Comunicado tem como objetivo analisar o comportamento da parcela
do rendimento do trabalho na renda nacional em três momentos distintos, nos anos de
1995, 2002 e 2009, tendo por referência o período recente da estabilização monetária,
que resultou da implantação do Plano Real, em 1994. Além das informações de âmbito
nacional, considera-se também a situação tanto nas grandes regiões geográficas como
nos estados da federação brasileira.
A distribuição funcional da renda nacional estabelece o peso relativo do
conjunto dos rendimentos do trabalho no total do Produto Interno Bruto. Assim, a
parcela do rendimento do trabalho indica o quanto da renda nacional é absorvida por
todos aqueles que exercem as mais diversas atividades laborais assalariadas.
As análises aqui apresentadas resultam da sistematização de informações
primárias geradas pelo IBGE, por meio das Contas Nacionais e da Pesquisa Nacional
por Amostra de Domicílios. Além disso, destaca-se que a realização do presente
Comunicado, que antecipa parte dos resultados decorrente de estudos em
desenvolvimento, contou com a participação de um coletivo de servidores do Ipea1.
2. Parcela do rendimento do trabalho
Desde a estabilização monetária alcançada pelo Plano Real, a participação
do conjunto dos rendimentos do trabalho na renda nacional apresentou dois
comportamentos distintos. Entre 1995 e 2002, a participação do rendimento do trabalho
decresceu 11,8%, pois passou de 48% da renda nacional para 42,4%.
4
Gráfico 1 – Brasil: evolução da participação do rendimento do trabalho na renda
nacional (em %)
43,4
42,4
48,0
39
40
41
42
43
44
45
46
47
48
49
1995 2002 2009
Fonte: IBGE – Contas nacionais e Pnad (Elaboração IPEA)
No período seguinte (2002 – 2009), a participação do rendimento do
trabalho cresceu 2,5%. O rendimento do trabalho que representava 42,4% ascendeu para
43,4% de toda a renda nacional. Segundo análise desenvolvida anteriormente pelo Ipea2,
esse fenômeno constitui um padrão que tem combinado o crescimento da renda per
capita do trabalho com a diminuição das desigualdades distributivas nessa renda. Apesar
desta recuperação, a participação do rendimento do trabalho na renda nacional encontra-
se ainda 9,6% abaixo do que observado em 1995, início da recente estabilização
monetária no Brasil.
3. Evolução da parcela do rendimento do trabalho nas grandes regiões
geográficas
A evolução da parcela salarial no Brasil também registrou trajetórias
distintas entre as grandes regiões geográficas durante o período da estabilização
monetária. No ano de 2009, por exemplo, as regiões Norte (6,0%) e Centro-Oeste
(9,3%) apresentaram os menores indicadores de contribuição na parcela nacional do
rendimento do trabalho, enquanto as regiões Sudeste (50,8%) e Sul (17,8%) registraram
os maiores índices de participação relativa.
5
Além disso, nota-se que a distância entre a presença das grandes regiões
geográficas na parcela nacional do rendimento do trabalho do país reduziu-se ao longo
do período de estabilização monetária. Em 2009, a distância que separava as duas
regiões com maior a (Sudeste) e a menor (Norte) participação relativa na parcela
nacional do rendimento do trabalho foi de 8,5 vezes, enquanto em 1995 era de 14,5
vezes. Ou seja, uma queda de 41,4%.
Gráfico 2 – Grandes regiões geográficas: evolução da parcela do rendimento do
trabalho na renda nacional (em %)
14,5
4,6
14,9
54,6
17,2
6,0
16,1
50,8
17,8
9,37,3
17,6
56,7
3,9
8,7
0
5
10
15
20
25
30
35
40
45
50
55
60
65
Norte Nordeste Sudeste Sul Centro-Oeste1995 2002 2009
Fonte: IBGE – Contas nacionais e Pnad (Elaboração IPEA)
A redução no grau de participação regional na parcela do rendimento do
trabalho na renda nacional deveu-se fundamentalmente ao comportamento distinto das
grandes regiões geográficas entre 1995 e 2009. Durante os anos de 1995 e 2002, por
exemplo, as regiões Sul (-2,1%) e Sudeste (-3,8%) registraram quedas importantes na
participação nacional na parcela do rendimento do trabalho, enquanto as demais
aumentaram positivamente, como nos casos das regiões Norte (16,1%) e Centro-Oeste
(19,1%).
No período subsequente (2002 – 2009), somente a região Sudeste (-6,9%)
continuou a perder participação relativa na parcela do rendimento do trabalho na renda
nacional. A redução terminou sendo ainda maior do que a verificada nos anos anteriores
(1995 – 2002). As demais regiões geográficas apresentaram elevações significativas,
sobretudo no Norte (31,5%) e Nordeste (8,1%).
6
Gráfico 3 – Grandes regiões geográficas: variação na parcela do rendimento do
trabalho na renda nacional (em %)
16,1
-11,8
31,5
8,1
3,3
6,9
2,5
-2,1-3,8
2,9
19,1
-6,9
-15
-10
-5
0
5
10
15
20
25
30
35
Norte Nordeste Sudeste Sul Centro-Oeste Brasil
1995 - 2002 2002 - 2009
Fonte: IBGE – Contas nacionais e Pnads (Elaboração IPEA)
Apesar disso, a região Sudeste segue ainda respondendo pela metade de toda
parcela do rendimento do trabalho na renda nacional. Se adicionar o peso relativo do
Sul ao do Sudeste, constata-se que mais de 2/3 de toda a parcela nacional do rendimento
do trabalho encontra-se localizada em apenas duas grandes regiões geográficas
brasileiras.
4. Evolução da parcela do rendimento do trabalho nos estados da federação
Para os estados da federação, a evolução da contribuição para a parcela do
rendimento do trabalho na renda nacional apresentou-se ainda mais diversa desde o ano
de 1995. Constata-se que estados como São Paulo, Rio de Janeiro e Rio Grande do Sul
continuamente perderam participação relativa para os anos considerados.
No outro extremo, percebe-se que estados como Ceará, Rio Grande do
Norte, Pará, Maranhão, Piauí, Tocantins, Goiás e Distrito Federal registraram
crescimento contínuo na participação do rendimento do trabalho na renda nacional
durante os anos selecionados. Já os demais estados da federação apresentaram situações
descontínuas. Ou seja, estados como Espírito Santo, Mato Grosso e Mato Grosso do Sul
aumentaram o peso relativo na parcela nacional do rendimento do trabalho entre 1995 e
2002 e estabilizaram em 2009.
7
Outros estados, como Rondônia, Bahia, Amapá, Acre, Amazonas, Roraima
e Paraná que somente cresceram a participação relatina na parcela nacional do
rendimento do trabalho em 2009. No período anterior, mantiveram estabilizadas suas
posições relativas.
8
Gráfico 4 – Estados da federação: evolução da parcela do rendimento do trabalho
na renda nacional (em %)
0,6
0,2
1,0
0,1
1,4
0,2
0,4
1,3
0,6
2,2
0,9
1,1
2,6
1,0
0,6
4,2
9,5
1,7
10,9
34,6
6,4
4,0
7,3
1,2
1,3
2,5
2,2
0,6
0,2
1,0
0,1
1,9
0,2
0,5
1,5
0,8
2,3
1,0
1,1
2,7
0,7
0,6
4,2
9,4
1,8
10,5
32,8
6,4
3,9
7,0
1,4
1,7
3,0
2,6
0,8
0,4
1,3
0,2
2,5
0,3
0,6
1,7
0,9
2,5
1,1
1,1
2,5
0,8
0,7
4,7
10,1
1,8
10,4
28,5
6,7
4,5
6,6
1,4
1,7
3,3
2,9
0 10 20 30 40
Rondônia
Acre
Amazonas
Roraima
Pará
Amapá
Tocantins
Maranhão
Piauí
Ceará
Rio Grande do Norte
Paraíba
Pernambuco
Alagoas
Sergipe
Bahia
Minas Gerais
Espírito Santo
Rio de Janeiro
São Paulo
Paraná
Santa Catarina
Rio Grande do Sul
Mato Grosso do Sul
Mato Grosso
Goiás
Distrito Federal
1995 2002 2009
Fonte: IBGE – Contas nacionais e Pnad (Elaboração IPEA)
9
Ainda se pode destacar a situação de estados como Santa Catarina, Minas
Gerais e Alagoas que após queda voltaram a crescer no período recente a participação
relativa no rendimento do trabalho. Somente a Paraíba manteve a situação relativa
inalterada.
10
Gráfico 5 – Estados da federação: variação na participação do rendimento do
trabalho na renda nacional (em %)
1,3
14,0
23,2
21,7
2,7
-25,1
7,4
14,2
36,2
54,0
35,4
57,9
27,7
17,8
21,7
13,1
16,0
11,0
9,5
-6,1
13,1
11,6
7,6
-1,4
4,6
16,4
0,8
11,8
-4,1
-0,3
-1,3
-5,1
7,6
-9,0
-12,3
16,5
9,8
16,7
22,2
30,2
-4,2
-2,6
-3,5
15,5
2,0
0,5
42,4
-1,8
-4,0
4,3
-13,1
9,6
-5,1
11,4
-30 -20 -10 0 10 20 30 40 50 60 70
Rondônia
Acre
Amazonas
Roraima
Pará
Amapá
Tocantins
Maranhão
Piauí
Ceará
Rio Grande do Norte
Paraíba
Pernambuco
Alagoas
Sergipe
Bahia
Minas Gerais
Espírito Santo
Rio de Janeiro
São Paulo
Paraná
Santa Catarina
Rio Grande do Sul
Mato Grosso do Sul
Mato Grosso
Goiás
Distrito Federal
1995/2002 2002/2009
Fonte: IBGE – Censos demográficos (Elaboração IPEA)
11
O resultado da situação tão diversa na contribuição relativa de cada estado na
parcela nacional do rendimento do trabalho foi variações acumuladas diferenciadas.
Entre os anos de 2002 e 2009, os estados de Roraima (57,9%), Acre (54%), Rondônia
(36,2%) e Amazonas registraram os maiores crescimentos relativos na participação do
rendimento do trabalho. O contrário ocorreu nos estados de São Paulo (13,1%),
Pernambuco (6,1%), Rio Grande do Sul (5,1%), Mato Grosso (4%), Espírito Santo
(1,8%) e Rio de Janeiro (1,4%).
Nos anos de 1995 e 2002, os estados do Pará (42,4%), Mato Grosso (30,2%)
e Goiás (22,2%) foram os que mais ampliaram suas posições relativas no rendimento do
trabalho na renda nacional. Em contrapartida, Alagoas (25,1%), Roraima (12,3%) e
Rondônia (9%) registram as maiores quedas relativas.
5. Considerações Finais
Apesar da recuperação observada entre 2002-2009, o resultado de 14 anos
de estabilidade monetária (1995 a 2009) ainda expressa uma reduzida participação do
rendimento do trabalho na renda nacional. No ano de 2009, a parcela do rendimento do
trabalho encontra-se 9,6% inferior à verificada em 1995.
Entre 1995 e 2002, o peso relativo do rendimento do trabalho na renda
nacional decaiu 11,8%, enquanto 2002 e 2009 houve acréscimo de 2,5%. Ademais, a
trajetória de queda na parcela do rendimento do trabalho na renda nacional apresentou-
se distinta entre os estados da federação e, por consequência, entre as grandes regiões
geográficas brasileiras.
O Sudeste foi a grande região que decresceu continuamente sua participação
na renda do trabalho, enquanto as demais melhoraram as suas posições relativas na
parcela nacional do rendimento do trabalho durante a estabilização monetária. Com
isso, a diferença que separa a posição relativa de cada grande região reduziu-se, embora
sozinha a região Sudeste representasse, em 2009, um pouco mais da metade de toda a
participação relativa do rendimento do trabalho na renda nacional. Nesse mesmo
sentido, o estado de São Paulo perdeu acumuladamente 18,9% em sua participação
12
relativa no rendimento do trabalho. Sozinho, o estado de São Paulo respondeu, em
2009, por 28,5% de toda a parcela da renda laboral do país.
Notas
1Este documento contou com a assistência e colaboração, pela Diretoria de Estudos e Políticas Macroeconômicas
(Dimac) de Miguel Bruno e, pela Assessoria Técnica da Presidência do Ipea, de Luciana Acioly, André Calixtre e
Richard Santos além da assistência da Assessoria de Comunicação do Ipea (Ascom).
2Ver IPEA, Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada. Natureza e dinâmica das mudanças recentes na renda e na
estrutura ocupacional brasileiras. Comunicado do Ipea n° 104. Brasília: Ipea. 2011.