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A CULTURA ORGANIZACIONAL COMO ESTRATÉGIA PARA O FORTALECIMENTO DA SUSTENTABILIDADE NAS ORGANIZAÇÕES
Marilisa V. Meleti – Uni-FACEF
INTRODUÇÃO
A temática do desenvolvimento sustentável fascina, encanta e cativa, uma
vez que este estudo evidência a atual conjuntura em que a sociedade contemporânea
está inserida, bem como visa analisar o papel fundamental e transcendental da cultura
organizacional como ferramenta imprescindível para promover a reformulação do
tradicional modelo de gestão das empresas, perfazendo-o de maneira consciente e
responsável com os valores sustentáveis.
A relação entre desenvolvimento econômico e meio ambiente passou a ser
um pressuposto fundamental para a persecução de melhor qualidade de vida da
sociedade mundial e, por conseguinte para o perfazimento da dignidade da pessoa
humana, uma vez que a definição de meio ambiente é ampla e abarca tanto o homem
quanto a natureza.
Este novo horizonte foi introduzido no Brasil a partir da Constituição
Federal de 1988, que tutelou constitucionalmente o meio ambiente definindo os
fundamentos da proteção ambiental e despertando a população brasileira para a
necessidade da convivência harmoniosa e pacífica do homem com a natureza,
reforçando a discussão de sustentabilidade e o paradoxo de desenvolvimento
sustentável.
Destaca-se que a legislação vigente tem se tornado cada vez mais rigorosa
e punitiva, seja em âmbito cível, criminal ou administrativo, para as empresas que
violam as regras existentes e em consequência não adotam a sustentabilidade em seu
ciclo produtivo.
E sendo as organizações grandes responsáveis pelas contribuições
sociais e ambientais, bem como causadoras de significativos impactos ambientais,
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surge na aurora deste século a necessidade de reformulação dos tradicionais modelos
de gestão das organizações.
A gestão das empresas com vistas à aderência e à conscientização da
essência da sustentabilidade na realidade social pode ser dependente da cultura
incutida nos atores que fazem parte dessa dinâmica. Além de ser o cerne da
modificação do atual modelo de gestão das organizações, caracterizando-se como a
estratégia fundamental para tanto.
Em ambientes empresariais a cultura organizacional exerce um papel
fundamental no estabelecimento de estratégias ao se destacar como motivadora, na
promoção e divulgação de ações de sustentabilidade. Sob a perspectiva da cultura
como instrumento de poder vislumbra-se a possibilidade da cultura organizacional ser a
própria estratégia para a concretização de atitudes que tenham compromisso com a
sustentabilidade em especial nas organizações.
Atitudes conscientes e coerente com valores socioambientais podem
auxiliar as empresas deste século a construir um patrimônio intangível com
credibilidade de uma sustentabilidade efetiva e ainda alcançar uma valorização de seus
produtos no mercado, e consequentemente realizar o seu papel socioambiental.
Considerando a temática deste trabalho a globalização e a consequente
intensificação dos processos de interdependência ecológica tem impulsionado
significativas mudanças na contemporaneidade, vez que o crescimento desordenado
das empresas em prol do lucro pode ocasionar consequências imensuráveis ao meio
ambiente, que necessita de politicas públicas interligadas e interdisciplinares nos
aspectos econômicos, social e ambiental para que o crescimento do setor em discussão
seja benéfico para o desenvolvimento regional.
Ao considerar os temas sustentabilidade, estratégias e cultura
organizacional não se pode tratar qualquer um deles de forma isolada, sendo
necessário aplicá-los conjuntamente em prol de organizações sustentáveis no âmbito
econômico, social e ambiental. E no presente estudo, a proposta é discutir estes três
conceitos de forma a mostrar a sua interligação no contexto empresarial sob a ótica da
cultura organizacional como estratégia de fortalecimento do conceito de
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sustentabilidade nas organizações propiciando positivamente o desenvolvimento
regional.
Espera-se que o tema abordado despertar o interesse de administradores de
empresas e gestores públicos, para impulsionar reflexões que resultem em atitudes
proativas a sociedade contemporânea no sentido de adoção de práticas
socioambientais, cuja perspectiva nos dizeres de Boaventura “vivemos uma condição
de perplexidade diante de inúmeros dilemas nos mais diversos campos do saber e do
viver. Que, além de serem fontes de angústia e desconforto, são também desafios à
imaginação, à criatividade e ao pensamento” ( 1995, p.50).
O presente trabalho tem por escopo proporcionar uma reflexão da atual
conjuntura em que as organizações estão inseridas em seu tradicional modelo de
gestão e a sua adequação aos novos paradigmas de sustentabilidade. A partir desta
reflexão surge a necessidade de buscar formas para esta adequação, ficando a
indagação da possibilidade da utilização da cultura organizacional como estratégia de
transformação.
Para concretização deste trabalho, proceder-se-á a utilização de método
dedutivo-bibliográfico, analisando obras de autores renomados. Também terá destaque
a utilização da dialética e do método analítico.
Os dados necessários ao desenvolvimento do presente projeto serão
levantados com base em pesquisa bibliográfica a partir de material já publicado sobre o
tema em livros, assim como textos e artigos publicados em anuários, revistas, inclusive,
as publicações eletrônicas, bem como a consulta em bancos de dados.
Através de coleta de dados por análise documental e bibliográfica será
categorizado os elementos representativos da cultura organizacional. A análise dos
resultados permitirá avaliar a interferência da cultura organizacional nas organizações
com a finalidade de obter-se uma organização sustentável que também contribuirá para
o desenvolvimento regional.
Ressalta-se que o presente artigo faz parte uma pesquisa de dissertação
em andamento, que avaliará se as organizações empresariais locais possuem uma
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gestão socioambiental fundamentada em um processo cultural ou apenas se ajustar a
fins de evitar penalidades e sanções.
1 SUSTENTABILIDADE
O conceito de sustentabilidade ambiental tem sido abordado sob diferentes
perspectivas e, consequentemente, definições e interesses divergentes apontam para
diferentes estratégias para alcance do objetivo da sustentabilidade, cujo conceito foi
deflagrado a partir da Constituição Federal de 1988 em seu Artigo 225 “todos têm
direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado, bem de uso comum do povo e
essencial à sadia qualidade de vida, impondo-se ao Poder Público e à coletividade o
dever de defendê-lo e preservá-lo para as presentes e futuras gerações”, consagrando
o meio ambiente a bem constitucionalmente tutelado.
A origem da definição clássica de sustentabilidade ambiental tem sido
atribuída ao Relatório Brundtland, também conhecido como “Our Common Future” -
Nosso Futuro em Comum - este relatório foi resultado da Comissão Mundial, das
Nações Unidas, do Meio Ambiente e Desenvolvimento, em 1987. O relatório lançou um
olhar mais crítico sobre desenvolvimento e estabeleceu a necessidade de agregar
sustentável ao conceito de desenvolvimento, definindo-o como processo “que satisfaz
as necessidades do presente sem comprometer a capacidade das gerações futuras em
satisfazerem as suas próprias necessidades” (ELLIS; DESOUZA, 2009).
O relatório enquadra o assunto como de longo prazo e com impacto
permanente e a partir deste, as discussões sobre desenvolvimento sustentável
passaram a serem presentes nas diversas áreas do conhecimento e do ambiente
empresarial.
Para a concretização do desenvolvimento sustentável é necessário “a
efetivação universal do conjunto dos direitos humanos, desde os direitos políticos e
cívicos, passando pelos direitos econômicos, sociais e culturais, e terminando nos
direitos ditos coletivos, entre os quais está, por exemplo, o direito a um meio ambiente
saudável” (SACHS, 2007). E ao abarcar estes aspectos, o autor infere que o
desenvolvimento tem que ser “socialmente includente, ambientalmente sustentável e
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economicamente sustentado”, o que é conhecido como o tripé das dimensões básicas
da sociedade.
A agressão aos bens da natureza representa a própria degradação do
homem, da própria teia da vida que põe em risco o seu próprio destino, correspondendo
a um dos tremendos males atuais, que está gerando o “pânico universal” e a “crise
ambiental” da contemporaneidade, e
o mero crescimento econômico, mito generalizado, vem sendo repensado com a busca de fórmulas alternativas, como o ecodesenvolvimento ou desenvolvimento sustentável, cuja característica principal consiste na possível e desejável conciliação entre o desenvolvimento integral, a preservação do meio ambiente e a melhoria da qualidade de vida- três metas indispensáveis (MILARÉ, 2007, p.61).
As expressões são variadas, mas o escopo de sustentabilidade parece
convergir para um mesmo ponto. Pode-se destacar que “não existe ainda um consenso
sobre as dimensões e a essencialidade do desenvolvimento sustentável”
(NASCIMENTO E VIANNA, 2007). Contudo, concordam que as definições mais
recorrentes desenham um “trevo com três folhas” no qual a “eficiência econômica só
tem valor se conservar a natureza e produzir equidade social”.
Enfatiza-se que a questão atual é como desenvolver uma coerente
estrutura social e econômica capaz de realizar um equilíbrio entre produção/consumo e
recursos naturais, sendo fundamental “uma política ambiental vinculada a uma política
econômica, assentada nos pressupostos do desenvolvimento sustentável, é
essencialmente uma estratégia de risco destinada a minimizar a tensão potencial entre
desenvolvimento econômico e sustentabilidade ecológica” (DERANI, 2009, p.120-121).
Dentro inúmeros conceitos de sustentabilidade destaca-se que a
“sustentabilidade consiste na exploração equilibrada dos recursos naturais, nos limites
da satisfação das necessidades e do bem-estar da presente geração, assim como de
sua conservação no interesse das gerações futuras” (SILVA, 2003, p.26-27).
HAWKEN apud ELLIS e DESOUZA, 2009 se apropria de uma visão
econômica e define sustentabilidade em termos da capacidade de suporte do
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ecossistema e a descreve como um sistema de “input-output”- entradas e saídas de
energia e consumo de recursos. Em uma visão econômica o ponto de equilíbrio para o
conceito de sustentabilidade seria o ponto no qual o nível de recursos naturais
utilizados pelo sistema seja igual o nível de recursos produzidos pelo mesmo sistema.
Contudo, o ponto de equilíbrio entre as entradas e consumo de recursos
pode ser apenas um ponto de partida para sustentabilidade ambiental, visto que a
essência da sustentabilidade exige muito mais do que ponto de equilibro. A expressão
“regra econômica de ouro” criada para uma economia restaurativa descreve a essência
da sustentabilidade ao ditar que “deixe o mundo melhor do que você o encontrou, não
pegue mais do que você precisa, tente não prejudicar a vida e o ambiente e faça
reparos se e quando necessário” (HAWKEN apud ELLIS; DESOUZA, 2009).
Na atual sistemática contemporânea mundial a garantia da sustentabilidade
foi considerada pela Organização das Nações Unidas-ONU como um dos objetivos
deste milênio, uma vez que:
o fator natureza é um dos pilares fundamentais à sustentação do modo de produção capitalista. Não há como conceber a realização de atividades econômicas sem que ocorram repercussões no meio ambiente, nesse sentido, quanto mais intensa a atividade econômica, em tempos de globalização, mais se fazem necessárias as normas de proteção ao meio ambiente (FIORATI,2003, p.146).
Todas as discussões direcionam à inferência que, sincronizar os processos
para cumprir os três pilares da sustentabilidade, eficiência econômica, conservação
ambiental e equidade social, não é tarefa tão simples (SMITH; FADEL, 2011).
2 ASPECTOS CONSTITUCIONAIS DA SUSTENTENTABILIDADE
No Brasil a partir da Constituição de 1988 o tema meio ambiente ganhou o
poder de constitucionalização, definindo os fundamentos da proteção ambiental e
despertando a população brasileira para a necessidade da convivência harmoniosa e
pacífica do homem com a natureza, que foi introduzida em diversos dispositivos da
Carta Magna, mas especificadamente no capítulo VI do Título VIII, ressalvando que
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anteriormente o tema meio ambiente foi abordado na Lei 6.938/81 (Política Nacional do
Meio Ambiente).
A dimensão conferida ao tema vai desde os dispositivos do capítulo VI do
Título VIII, até inúmeros outros regramentos insertos ao longo do texto nos mais
diversos Títulos e Capítulos, o que pode ser considerado como um dos sistemas mais
abrangentes e atuais do mundo sobre a tutela do meio ambiente.
[...] de fato a Carta Magna brasileira erigiu-se à categoria daqueles valores ideais da ordem social, dedicando-lhe, a par de uma constelação de regras esparsas, um capítulo próprio que, definitivamente, institucionalizou o direito ao ambiente sadio como um direito fundamental do indivíduo (MILARÉ, 2007, p.42).
A partir da instituição deste novo aspecto constitucional ao meio ambiente,
surgiu efetivamente o estudo mais criterioso para com o meio ambiente, visando buscar
equilíbrio entre a proteção do meio ambiente e o respectivo incentivo ao
desenvolvimento econômico, criando um elo entre o direito ambiental e o direito
econômico.
A necessidade de um meio ambiente saudável e ecologicamente equilibrado
foi exigida em direito fundamental pelo ordenamento jurídico, visto que a preservação
da natureza em todos os seus elementos essenciais à vida humana e a manutenção do
equilíbrio ecológico, visa tutelar a qualidade do meio ambiente em função da qualidade
de vida, como uma forma fundamental da pessoa humana.
Por conseguinte, “a sustentabilidade sócio-econômico-ambiental é valor
constitucional. A constituição Federal preza concomitantemente pelo desenvolvimento
social, desenvolvimento econômico e defesa e preservação do meio ambiente” (GRIZZI,
2008, p.30).
A proteção ao meio ambiente e sua preservação é um direito difuso, já que
pertence e é obrigação de toda a coletividade, sendo um direito humano fundamental,
consagrado nos Princípios 1 e 2 da Declaração de Estolcomo,1992:
1 - O homem tem direito fundamental à liberdade, à igualdade e condições de vida adequadas, em um meio ambiente de qualidade tal que lhe permita levar uma vida digna, gozar de bem-estar e é
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portador solene de obrigação de proteger e melhorar o meio ambiente, para as gerações presentes e futuras.
2 - Os recursos naturais da Terra, incluídos o ar, a água, o solo, a flora e a fauna e, especialmente, parcelas representativas dos ecossistemas naturais, devem ser preservados em benefício das gerações atuais e futuras, mediante um cuidadoso planejamento ou administração adequada.
A Carta Constitucional reconhece que as questões ambientais são de
extrema importância para a sociedade e para a preservação dos valores que não
podem ser mensurados, porque a defesa ambiental é um princípio fundamental.
O Artigo nº 225 exerce na Constituição o papel de principal norteador das
diretrizes concernente à proteção do meio ambiente, devido a seu complexo teor de
direitos, mensurado pela obrigação do Estado e da Sociedade na garantia de um meio
ambiente ecologicamente equilibrado, já que se trata de um bem de uso comum do
povo que deve ser preservado e mantido para as presentes e futuras gerações.
Com efeito, aquele que exerce atividade econômica deve assumir os riscos
dela provenientes, notadamente a responsabilização pelos danos ambientais, cuja
exigência é preconizada, no art. 170, VI, da CF. Sendo princípio da ordem econômica a
defesa do meio ambiente, que deve ser respeitado no exercício de qualquer atividade a
ser desenvolvida para que não haja prejuízo ambiental.
Em virtude da introdução dos aspectos constitucionais sobre o meio
ambiente advieram também os princípios correlatados com a atual sistemática, ou seja,
princípios norteadores em especial das atividades econômicas para que como um todo
a preocupação ambiental oriente e determine a elaboração de acordos, contratos e
dirija a vontade humana em prol deste novo horizonte, especialmente em âmbito das
organizações, uma vez que elas são as grandes responsáveis pelas transformações
sociais em especial no âmbito local.
Mas também a Constituição Federal vigente estabeleceu o controle
público-social nas questões ambientais impondo ao infrator a norma legal da tríplice
punição concomitante, aplicando sanções administrativas, civis e penais, descritas no
artigo nº 225 parágrafo terceiro: “As condutas e atividades consideradas lesivas ao
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meio ambiente sujeitarão os infratores, pessoas físicas ou jurídicas, a sanções penais e
administrativas, independentemente da obrigação de reparar os danos causados”.
A tríplice responsabilidade aplicada ao poluidor serve como instrumento
estatal para proteção de um dos bens mais precisos de nosso planeta que é o meio
ambiente, que sem o qual não existe vida em nosso planeta.
De fato, o espírito da lei é de avanço é de obediência aos princípios da
precaução e da efetiva reparação do dano ambiental restringindo ao máximo a
possibilidade de degradação do meio ambiente, sob pena de sanções e cominações
legais.
Inicialmente a imposição das penalidades foi imprescindível para conduzir os
administradores e proprietários das empresas a percorrer um caminho diferente do
pensamento capitalista baseado no lucro independente das consequências decorrentes
de sua atividade, mas atualmente algumas empresas já possuem uma gestão
socioambiental. E nesse sentido:
É possível constatar que o próprio valor inserido no direito individual de liberdade do delinquente, que, diga-se de passagem, é um valor muito caro para a comunidade, permite que essa mesma comunidade possa, por meio do Estado, limitar o seu uso irrestrito por parte do infrator da lei penal, quando esse cidadão, por seus atos predatórios, põe em risco esse mesmo bem (RODRIGUES, 2009, p. 218).
Assim, caso não seja esta a vontade de administradores e empresários de
gerir sua empresa de modo consciente e socioambientalmente coerente, a legislação
possui meios de reprimir danos ou mesmo de preveni-los através dos mecanismos
legais, e para tanto é necessário diferenciar as infrações administrativas, cíveis e
penais.
A lei de crimes ambientais (Lei Federal 9.605/98) dispõe acerca das
sanções penais e administrativas derivadas de condutas e atividades lesivas ao meio
ambiente responsabilizando empresas e indivíduos que vieram a provocar degradação
ambiental.
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A responsabilidade civil diz respeito ao dever de não lesar alguém,
tornando imprescindível o ressarcimento por parte o causador do dano, pressupondo
uma reparação civil proporcional ao dano por parte de quem o ocasionou, como uma
forma de reposição ou de indenização, estando disposto no artigo 4º,VII, da lei
6.938/1981 que dispõe a política nacional do meio ambiente:
[...] à imposição, ao poluidor e ao predador, da obrigação de recuperar e/ou indenizar os danos causados e, ao usuário, da contribuição pela utilização de recursos ambientais com fins econômicos.
Objetivando não ocasionar danos ambientais irreparáveis cujos efeitos
acabam sendo sentidos apenas pelas gerações futuras, o mais importante é a
prevenção, objetivo para o qual o Direito Ambiental tem um papel essencial.
Desta forma o dano ambiental configurado pode ser conceituado
simplesmente como qualquer diminuição ou subtração de um bem jurídico, no caso do
meio ambiente e das reservas naturais, no entendimento de Cardoso, o conceito de
dano ambiental, consiste no sentido de que:
[...] toda vez que houver alteração das características do meio, está-se diante de um dano ambiental, não importando, em um primeiro momento, a duração do evento nem as consequências sobre o meio alterado, tampouco, se o meio tem capacidade de autodepuração capaz de minimizar os efeitos da modificação ocorrida (2005, p.18).
Na busca da reparação do dano ambiental ocasionada por uma atividade
prejudicial ao meio ambiente, se faz necessário a sua devida reparação e de
preferencia a in natura, uma vez que atende ao principal anseio social que é a
regeneração ambiental, tanto quanto possível, consistindo na recomposição do “status
quo ante” atuando em âmbito reparatório.
Em âmbito penal, para que seja configurada a responsabilidade penal, de
pessoas físicas ou jurídicas é necessário apurar o dolo ou a culpa (negligência,
imperícia ou imprudência) dos agentes responsáveis, como bem prescreve o artigo 2º
da lei dos crimes ambientais: “Quem, de qualquer forma, concorre para prática dos
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crimes previstos nesta Lei, incide nas penas a estes cominadas, na medida de sua
culpabilidade”.
E finalmente na esfera administrativa o art. 2º do Decreto nº 3.179/99, bem
como o art. 72 da Lei nº 9.605/98, apresenta o seguinte rol de sanções administrativas:
a) Advertência; b) Multa simples; c) Multa diária; d) Apreensão dos animais, produtos e
subprodutos da fauna e flora, instrumentos, petrechos, e equipamentos ou veículos de
qualquer natureza utilizados na infração; e) Destruição ou inutilização do produto; f)
Suspensão de venda e fabricação do produto; g) Embargo de Obra ou atividade; h)
Demolição de obra; i) Suspensão parcial ou total das atividades; j) Restritiva de direitos;
k) Reparação dos danos causados.
Dentre as medidas restritivas de direito incluem-se a suspensão de registro
como a licença, permissão ou autorização; cancelamento de registro, licença,
permissão ou autorização; perda ou restrição de incentivos e benefícios fiscais; perda
ou suspensão da participação em linhas de financiamento em estabelecimentos oficiais
de crédito; e proibição de contratar com a administração pública, pelo período de até
três anos.
O valor da multa simples é fixado obedecido os valores mínimos R$ 50,00
(cinquenta Reais) e máximos R$ 50.000.000,00 (cinquenta milhões de reais), além de
eventualmente a aplicação da multa diária, que é aplicada em caso da infração perdurar
no tempo e não simplesmente um ato e sim uma sequência sem termo final.
Desta forma, as empresa que não cumprem com a legislação ambiental está
sujeita a grandes perdas monetárias que podem comprometer o futuro da organização
empresarial, necessitando de uma administração lastreada de valores socioambiental
que refletem em uma gestão consciente para evitar multas exorbitantes e até mesmo
crimes ambientais que podem ser imputados não somente a entidade, mas também ao
seu administrador.
3 AS NOVAS ESTRATÉGIAS DAS ORGANIZAÇÕES ALINHADAS A
SUSTENTABILIDADE
110
O tema meio ambiente representa uma relação de interdependência entre
homem-natureza, que existe no mundo desde os primórdios de maneira incontestável,
sendo impossível separar o homem da natureza, pelo simples fato de que o homem
necessita do meio ambiente para o seu sustento e sua sobrevivência.
Esta relação homem-natureza “[...] torna-se cada vez mais difícil o atual
desafio de repensar o desenvolvimento econômico e a proteção ambiental sob a ordem
jurídica internacional” (SOARES, 2003, p.50) e nesse sentido o desenvolvimento
sustentável representa “ o crescimento econômico e atividades que não esgotam nem
degradam os recursos ambientais, dos quais dependem o crescimento econômico
presente e futuro” (ART,1998).
Nesse sentido as organizações empresariais graças à riqueza que acumulam e
o seu grande papel social que exercem na sociedade, trazem em si o grande potencial
de mudar e melhorar a localidade que estão inclusas, mediante a adoção de práticas
sustentáveis em seu modelo de gestão que por vezes ultrapassa os limites físicos da
empresa.
Para alcançar um desenvolvimento sustentável é necessária a conjunção de
desenvolvimento econômico e proteção/preservação do ambiente, que “consiste em
uma nova perspectiva das políticas governamentais internas e internacionais, capaz de
aliar o progresso econômico à proteção ambiental” (LIBERATO, 2007, p.20).
O empreendedorismo sustentável assume globalmente suas obrigações com
a preservação do meio ambiente, reformulando seus métodos tradicionais de gestão,
clamando pela implementação de políticas ambientais e práticas sociais, uma vez que
as organizações que visam o sucesso devem incluir a sustentabilidade como questão
estratégica para sobrevivência e prosperidade dos seus negócios.
O que somente será viável por intermédio da adoção de medidas
sustentáveis e a conscientização dos administradores das organizações sejam estas
públicas ou privadas, o que repercute na alteração estrutural da cultura predominante
que visa exclusivamente a obtenção de lucros em detrimento do meio ambiente e que
ainda está desvinculada do papel social que as empresas realizam e em especial na
localidade onde estão inseridas.
111
Nos dias atuais é fundamental os administradores das organizações, encarar
as questões da sustentabilidade sob uma ótica empresarial estratégica, no sentido de
ser um diferencial em sua empresa no mercado competitivo globalizado e um modo da
organização perfazer a sua função social.
Desta forma, o desafio das organizações neste milênio é justamente planejar
estrategicamente o fortalecimento da sustentabilidade que resultará a curto prazo na
valorização de produtos junto ao mercado de consumo e a consequentemente na
redução de custos, e a longo prazo proporcionará reflexos da gestão socioambiental de
maneira a impulsionar o desenvolvimento sustentável servindo como instrumento para a
construção do futuro desejado.
Adaptar as organizações a um novo horizonte possibilita novas visões de
mercado e ao mesmo tempo objetiva garantir a preservação do meio ambiente,
reduzindo o impacto ambiental decorrente dos frutos do capitalismo exacerbado e
recuperando a natureza para todas as espécies de vida do planeta.
Neste diapasão com o avanço da administração moderna “as empresas
percebem que só há uma forma de sobrevivência num mundo altamente competitivo e
globalizado: a união e a soma de esforços na busca pelo crescimento sustentável”
(BANDOS, 2011, p.213).
Pode-se mencionar que:
[...] isso só foi possível porque o casamento da ciência com a tecnologia multiplicou de forma exponencial a capacidade de inovação das sociedades. Enquanto no crescimento antigo predominava a devora pelos recursos naturais pela força física do trabalho humano, o alicerce do crescimento moderno passou cada vez mais a depender do uso inteligente das inovações que tornam o trabalho mais decente e qualificado, além de conservar os ecossistemas (VEIGA, 2007, p.54).
Assim, as empresas podem hoje tomar atitudes pró-ativas na inserção de
novos processos no seu modelo de negócio, que somente serão viáveis através da
cultura organizacional que propiciará a implementação do conceito de sustentabilidade
e ensejará medidas e atitudes sustentáveis, servindo a cultura organizacional como
estratégia nas organizações.
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Na medida em que crescem as demandas decorrentes de maior consciência
ambiental e de justiça social, é certo que as empresas com tal pensamento estratégico
se posicionarão em condição competitiva absolutamente diferenciada, garantindo
antecipadamente um novo posicionamento no mercado e assegurando bons resultados
econômicos.
Diante disso, tem-se condicionado a inserção do conceito sustentável na
Organização Mundial do Comércio –OMC, e a realização de inúmeros encontros,
conferências e congressos mundiais, em que gestores, líderes políticos e demais
representantes da sociedade buscam a “economia verde”. Como por exemplo, no
encontro Conferência das Nações Unidas sobre o desenvolvimento sustentável - Rio +
20(2012), propiciou novas formas de mercado e estratégias de sustentabilidade, em
vista do desenvolvimento sustentável a ser concebido na interação entre três pilares: o
pilar social, o pilar econômico e o pilar ambiental.
As organizações estão em busca do equilíbrio entre o tripé da
sustentabilidade ambiental, econômica e social, mediante a implantação de alternativas
tecnológicas mais limpas e matérias prima menos tóxica, objetivando reduzir o impacto
e a degradação ambiental, buscando-se um meio ambiente sadio, na qual a
conscientização da sociedade e a legislação ambiental têm resultado positivamente.
Neste novo prisma deste século, outros valores passaram a fazer parte do
objetivo das organizações, sob a ótica da preservação do meio ambiente, minimizando
o impacto ambiental de suas atividades e implementando medidas sustentáveis de
modo a contribuir para a preservação do meio ambiente perfazendo desta forma o tripé
econômico, social e ambiental de forma sustentável.
No contexto organizacional este tripé é internacionalmente chamado de TBL
“Triple Bottom Line” também conhecido como 3Ps (People, Planet e Profit – Pessoas,
Planeta e Lucro respectivamente) para descrever o desenvolvimento sustentável como
medida de desempenho (BRANDÃO; SANTOS, 2007).
Entretanto, o contexto implica na necessidade de acrescentar aspectos mais
amplos na definição de sustentabilidade e na formulação de estratégias para seu
alcance, como: conhecimento, compreensão e aprendizagem dos processos
113
socioambientais, culturais, organizacionais, além de conhecimentos científicos para
integrar e fundamentar estes vários segmentos (SMITH; FADEL, 2011).
O alinhamento com ações que promovem a sustentabilidade tem
direcionado as empresas à percepção de economia de custos por intermédio de
processos de eco-eficiência por reduzir incertezas e riscos em suas operações e gerar
produtos e serviços limpos. Além de representar “oportunidades e investimentos no
lugar de custos e riscos, aumentar o valor econômico agregado e melhorar sua imagem
no mercado diante da sociedade” (BRANDÃO; SANTOS, 2007).
E, como catalisador, para a mudança de postura e métrica do progresso do
alinhamento à gestão socialmente responsável, pode-se apontar a cultura
organizacional como elemento chave para viabilizar tal transformação resultando em
processos produtivos menos agressivos a natureza e propiciando práticas sustentáveis
que contribuem para o desenvolvimento regional.
4 CULTURA ORGANIZACIONAL COMO ESTRATÉGIA DAS ORGANIZAÇÕES
A transformação da sociedade brasileira somente ocorrerá por intermédio
da cultura com seu potencial transformador que nos impele a esta certeza. E as
empresas possuem meios para promover os avanços no sentido de propiciar a cultura
sustentável em sua estrutura organizacional trazendo relevante contribuição social.
A trajetória entre os processos que levam à sustentabilidade ambiental é
permeada de escolhas que são baseadas em valores e crenças, elementos da cultura
organizacional, incutidos no tipo de gestão e sinalizadores de como gestores percebem
a relação entre sustentabilidade e a empresa e, ainda, como sinalizam as formas de
condutas no ambiente empresarial (SMITH; FADEL, 2011).
Nesse sentido, entende-se que a cultura organizacional pode ser vista como
um poderoso mecanismo que molda condutas e homogeneíza maneiras de pensar e
viver a organização, se apresentando como um forte instrumento disciplinar (FREITAS,
1991). Uma visão apresentada por (FREITAS, 2000) mostra a:
Cultura organizacional primeiro como instrumento de poder; segundo, como conjunto de representações imaginárias
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sociais que se constroem e reconstroem nas relações cotidianas dentro da organização e que se expressam em termos de valores, normas, significados e interpretações, visando um sentido de direção e unidade, tornando a organização fonte de identidade e reconhecimento para seus membros.
Desta forma, a cultura organizacional pode ser entendida como um sistema de
valores compartilhados pelos seus membros, em todos os níveis, que diferencia uma
organização das demais, valores estes que bem trabalhados e vivenciados poderão
impulsionar as empresas neste novo século, marcado por inúmeras mudanças e
acontecimentos globais, em que a sociedade cobra que os valores socioambientais
estejam agregados nas organizações e que estas participem como agente local no
desenvolvimento regional.
Nesse sentido, Grajew menciona que “toda empresa é um força
transformadora poderosa, é um elemento de criação, e exerce ascendência na
formação de ideias, valores, nos impactos concretos da vida das pessoas, das
comunidades, da sociedade em geral” (2000 apud GARCIA, 2002).
Ao trazer o conceito de cultura, para o contexto das organizações e da
sustentabilidade ambiental buscam-se subsídios para conhecer os pressupostos sobre
a natureza humana e traçar estudos de relacionamento no âmbito das organizações em
relação ao tripé que sustenta a sustentabilidade ambiental (SMITH; FADEL, 2011).
Embora a essência da cultura de uma organização seja o padrão de
pressupostos básicos e compartilhados, tomados como certos, a cultura se manifestará
ao nível dos artefatos observáveis e das crenças e valores justificados e
compartilhados, que “a confusão em torno da análise da cultura organizacional é
resultado da falta de diferenciação dos níveis em que essa pode se manifestar”
(SCHEIN, 2009). Dessa forma para o autor a cultura se divide em três níveis:
- Artefatos: inclui todos os fenômenos que as pessoas podem ver, ouvir e sentir
ao ter contato com um grupo não conhecido.
- Valores e Crenças: são defendidos e justificados em alto nível de consciência
e oferecem a capacidade de prever o comportamento que pode ser observado ao nível
de artefatos.
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- Suposições subjacentes: São hipóteses amparadas por um valor que
gradualmente passam a ser tratadas como uma verdade. Contudo, os pressupostos
subjacentes são tipicamente do nível da inconsciência.
A partir do entendimento da interação desses níveis da cultura é percebido
que, ao analisar cultura de uma organização é importante reconhecer que os artefatos
são fáceis de ser observados, contudo, são difíceis de ser decifrados pela condição
apenas do que é visível. O nível dos valores e crenças justificados também inspira
atenção, esses podem refletir somente racionalizações ou aspirações para o futuro,
mesmo que visíveis nos artefatos.
Dessa forma, para compreensão da cultura de um grupo, é preciso chegar a
seus pressupostos subjacentes que são inconscientes, mas, é ainda mais premente,
compreender o processo de aprendizagem pelos quais tais pressupostos básicos foram
estabelecidos, pois esta aprendizagem é que vai mostrar o que está por trás dos
valores manifestos e justificados por determinada cultura organizacional (SCHEIN,
2009).
As mudanças constantes e contributivas ao progresso, inseridas pela evolução
tecnológica, trazem também consequências ambientais e sociais catastróficas,
característica marcante do tempo atual.
Numa sociedade contemporânea, os relacionamentos são imprescindíveis e
as formas de diálogo são diversas, mas as controvérsias, as crises, desequilíbrios
ambientais são frequentes e com maior gravidade. Deste modo, as organizações assim
como as pessoas vivem e sobrevivem de imagem, credibilidade, confiança e de
mudanças.
Esse tipo de ambiente gera uma enorme incerteza a respeito dos valores e
crenças, abalando a confiança tanto na liderança como no comprometimento das
pessoas, situação que insere a necessidade de rever pressupostos, enfatizar valores e
reconstruir a dimensão simbólica da cultura organizacional (SMITH; FADEL, 2011).
Neste diapasão, as empresas possuem uma responsabilidade em relação à
sociedade sob o paradigma apontado até o presente momento, do tripé
116
sustentabilidade, lucratividade e o social, salientando que tais conceitos devem estar
integrados em seus modelos de gestão e nesse contexto podemos considerar:
[...] a cultura organizacional como uma interpretação da realidade da empresa ela deve oferecer os caminhos para estudos e para a inclusão de ações no tocante aos elementos-chave do desenvolvimento regional, tal como a responsabilidade social das empresas (FADEL, 2009).
Na concepção de Barbosa e Rabaça a responsabilidade social surge de um
compromisso das empresas com a sociedade, no significado de promover o “equilíbrio
da organização dentro do ambiente onde está inserida depende basicamente de uma
atuação responsável e ética em todas as frentes, com equilíbrio ambiental, com
crescimento econômico e com desenvolvimento social” (2001 apud TENÓRIO, 2006, p.
25).
Sob essa perspectiva a cultura organizacional busca sintonizar a empresa às
condições que inserem ambiência de desenvolvimento sustentável e estabelece que, se
a adesão ao tema da sustentabilidade for via mudança cultural ao invés de simples
cumprimento de normas governamentais, a empresa vai apresentar postura pró-ativa
com iniciativas de sustentabilidade com respaldo institucional e de pessoas, portanto,
emergem ações mais profundas e menos efêmeras (FADEL; SMITH, 2009).
Com a adequação das empresas aos novos contornos por meio da cultura
organizacional, vale ressalvar que a implementação de práticas sustentáveis
corresponde a um compromisso das empresas com a sociedade contemporânea, em
que a sustentabilidade ambiental pressupõe a revisão do ciclo produtivo e os padrões
de consumo atuais perfazendo o equilíbrio entre valores econômicos, sociais e
ambientais, ponderando-se os impactos sociais e ambientais consequentes da atuação
administrativa da empresa.
5. SUSTENTABILIDADE E DESENVOLVIMENTO REGIONAL
Objetivando alcançar um significativo desenvolvimento sustentável é
necessário confrontá-lo com as peculiaridades de cada região, para que ocorra de
117
maneira indiscutível de modo a contribuir para a prosperidade daquela localidade.
Analisando a capacidade que a sociedade empresarial da região local possui para se
organizar e os seus respectivos fatores produtivos, alcançando deste modo um
desenvolvimento sustentável em cada localidade.
Uma vez que o desenvolvimento sustentável pressupõe uma especial
relação com o desenvolvimento regional, de forma a alcança-lo de forma efetiva com a
contribuição fundamental das organizações que possuem indiscutível relevância e
papel essencial como agentes de mudanças socais, econômicas e ambientais.
A defesa do meio ambiente passa a fazer parte do desenvolvimento
nacional, pretendendo-se um desenvolvimento econômico atrelado ao desenvolvimento
social com a preocupação ambiental, passando tal conceito ser chamado de
desenvolvimento sustentável, que foi deflagrado pela ONU através de sua Comissão
Mundial para o Meio Ambiente e o Desenvolvimento, cuja matéria já foi objeto de
explanação do primeiro capítulo deste trabalho.
O aspecto sociocultural é fundamental para servir como pilar de uma
reformulação estrutural nas empresas, diagnosticando o potencial endógeno daquela
localidade, que na concepção de Amaral Filho retrata:
[...] um processo interno de ampliação contínua da capacidade de agregação de valor sobre a produção, bem como da capacidade de absorção da região, cujo desdobramento é a retenção do excedente econômico gerado na economia local e/ou a atração de excedentes provenientes de outras regiões. Este processo tem como resultado a ampliação do emprego, do produto, e da renda local ou da região, em um modelo de desenvolvimento regional definido (1996, p. 37).
Este paradigma socioambiental aponta a necessidade das politicas
macroeconômicas que privilegiem os elementos locais para promover o
desenvolvimento sustentável daquela localidade, visando ao aproveitamento pleno dos
recursos humanos, ambientais e institucionais.
Desta forma, salientou Fadel e Smith que:
[...] aos agentes locais, como às organizações empresarias protagonistas de desenvolvimento regional, cabe planejar ações que conduzam as localidades à maior autonomia econômica e
118
social frente a globalização, mas que sirvam aos interesses das identidades culturais do local, respeitando sua história, cultura, instituições e a relação específica com o desenvolvimento local e o capitalismo global (2009, p.90).
Para Veiga o desenvolvimento sustentável é “valor fundamental para o
século XXI e deve ser entendido como síntese da dialética socioambiental, em relação
a seria falha metabólica na relação da humanidade com a natureza que se aprofundou
com a revolução industrial” (2008, p.89).
A definição mais usada para o desenvolvimento sustentável é a contida no
Relatório de Brundtland (1987) que menciona o desenvolvimento sustentável como
sendo:
O desenvolvimento que procura satisfazer as necessidades da geração atual, sem comprometer a capacidade das gerações futuras de satisfazerem as suas próprias necessidades, significa possibilitar que as pessoas, agora e no futuro, atinjam um nível satisfatório de desenvolvimento social e econômico e de realização humana e cultural, fazendo, ao mesmo tempo, um uso razoável dos recursos da terra e preservando as espécies e os habitats naturais (1987).
No Encontro da Rio + 20 (2012) foi mencionada a definição de
desenvolvimento sustentável como sendo o “modelo que prevê a integração entre
economia, sociedade e meio ambiente. Em outras palavras, é a noção de que o
crescimento econômico deve levar em consideração a inclusão social e a proteção
ambiental”.
Para alcançar um desenvolvimento sustentável é necessária a conjunção de
desenvolvimento econômico e proteção/preservação do ambiente, que para Liberato
simboliza: “[...] o desenvolvimento sustentável consiste em uma nova perspectiva das
políticas governamentais internas e internacionais, capaz de aliar o progresso
econômico à proteção ambiental” (2007, p.20).
As empresas possuem imprescindível papel neste cenário local uma vez que
são pressupostos de mudanças e inovações e contribuem de forma efetiva para o
desenvolvimento regional, e nesse sentido Costa menciona que “o desenvolvimento
119
passa pelo desenvolvimento regional ou, como na realidade tem de ser visto,
desenvolvimento e desenvolvimento regional são apenas uma e a mesma coisa: todo o
desenvolvimento tem de ser desenvolvimento regional” (2005, p. 477).
As inovações tecnológicas têm provocado mudanças importantes em vários
aspectos que interferem diretamente no desenvolvimento regional. Ressaltando a
possibilidade de conceder maior flexibilidade nos processos produtivos possibilitando
inovar em tecnologias que auxiliem uma gestão socioambiental nas organizações. Em
outras palavras, ela expandiu as interdependências internas e externas das empresas e
instituições.
Deste modo, a responsabilidade socioambiental atinente à adoção de
medidas sustentáveis no atual sistema globalizado contribui para a preservação e
valorização do meio ambiente, no sentido de auxiliar as empresas a desempenhar seu
papel social, bem como proporcionando a construção de um patrimônio intangível com
credibilidade de uma sustentabilidade efetiva e uma valorização de seus produtos no
mercado e, nesse sentido:
A cultura de responsabilidade social e sustentabilidade começa a se incorporar de forma definitiva e saudável no mundo empresarial brasileiro, seguindo o bom exemplo que vem se verificando em todas as nações do mundo, e já é possível a identificação de inúmeras iniciativas de práticas de sustentabilidade no ambiente empresarial (BOMBASSARO, 2010, p.25).
Portanto, torna-se necessário, inserir novas formas e visões no
planejamento regional, de tal forma que haja uma cooperação e interligação das
empresas com o objetivo de alcançar os resultados esperados para a agregação da
responsabilidade socioambiental em suas atividades, que somente será viável pela
reformulação da cultura organizacional.
Esse fato tem exigido que as organizações assumam novos papéis, os quais
vão além daqueles definidos pela ordem econômica. Neste contexto, a função das
empresas sofre alterações, levando-as a assumirem responsabilidades socioambientais
que transcendem sua prática tradicional de gestão.
Neste diapasão as organizações precisam desenvolver sua capacidade de
reformular seu processo de gestão em virtude nos novos tempos e suas perspectivas
120
deste milênio em que a sustentabilidade servirá como meio de seleção entre as
empresas e definirão sua sobrevivência.
Quanto maior o equilíbrio entre as ações a ser realizadas abrangendo as
questões sociais, ambientais e econômicas, menor será a pobreza, a desigualdade
social e a degradação ambiental promovendo o desenvolvimento sustentável em
especial na localidade em que as organizações se situam.
Em virtude das organizações enquanto agentes com maior influência e poder
de modificar o ambiente local têm a possibilidade de reformular seu tradicional modelo
de gestão por meio da sustentabilidade para que suas práticas se reflitam no êxito ao
longo dos tempos e principalmente impulsionem positivamente o desenvolvimento
regional.
CONCLUSÃO
Observou-se com a presente pesquisa fundamentada no referencial
bibliográfico que o tradicional modelo de gestão das empresas exercido ao longo dos
tempos vem sendo reformulado diante do conceito de sustentabilidade constante na
Constituição Federal de 1988, norteando a atividade empresarial para que ela ocorra de
maneira equilibrada sem comprometer o meio ambiente e definindo sua
responsabilidade e eventuais punições em caso de ocorrência de danos ambientais.
A preocupação com o meio ambiente passou a ser um tema imprescindível
e estratégico para as organizações, que possuem o poder de contribuir positivamente
para o desenvolvimento sustentável.
Diante deste paradigma de sustentabilidade, que é um dos objetivos deste
milênio, as organizações tiveram que se adaptar às novas exigências, uma vez que
cada momento histórico da humanidade traz as suas peculiaridades.
Nesse sentido, a agregação de valores nas organizações de modo a
alcançar o equilíbrio entre sustentabilidade, lucratividade e função social desponta
como um desafio individual que poderá ser alcançado a partir de um planejamento
estratégico em que a cultura organizacional servirá como importante aliado ao
121
fortalecimento do conceito de sustentabilidade nas organizações e consequentemente a
realização de medidas sustentáveis objetivando um crescimento completo da própria
organização frente à sociedade contemporânea.
As relações no âmbito empresariais atualmente observadas sob um novo
prisma, possibilita um novo campo de atuação denominado “economia verde”, cujos
administradores que perceberem a grande importância e vantagens nela inclusas
propiciarão um desenvolvimento das organizações de modo sustentável e um
consequente progresso regional imensurável.
O grande desafio das organizações mundiais tratam-se da garantia de um
meio ambiente sadio com a minimização de impactos ambientais e da degradação
decorrente, prevenido danos ambientais irreversíveis cuja estratégia desta reformulação
está inclusa na cultura organizacional das organizações que permite a reformulação
dos modelos de gestão mediante a agregação de valores socioambientais e práticas
que propiciam o desenvolvimento regional sustentável.
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