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i UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ – UNIVALI CENTRO DE CIÊNCIAS SOCIAIS E JURÍDICAS - CEJURPS CURSO DE DIREITO A DEFICIÊNCIA ESTRUTURAL DOS PRESÍDIOS E PENITENCIÁRIAS BRASILEIRAS COMO FATOR DE OBSTRUÇÃO AO PROCESSO DE RESSOCIALIZAÇÃO DO PRESO MARCELLA FERREIRA Itajaí(SC), Novembro de 2008.

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UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ – UNIVALI CENTRO DE CIÊNCIAS SOCIAIS E JURÍDICAS - CEJURPS CURSO DE DIREITO

A DEFICIÊNCIA ESTRUTURAL DOS PRESÍDIOS E PENITENCIÁRIAS BRASILEIRAS COMO FATOR DE

OBSTRUÇÃO AO PROCESSO DE RESSOCIALIZAÇÃO DO PRESO

MARCELLA FERREIRA

Itajaí(SC), Novembro de 2008.

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UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ – UNIVALI CENTRO DE CIÊNCIAS SOCIAIS E JURÍDICAS - CEJURPS CURSO DE DIREITO

A DEFICIÊNCIA ESTRUTURAL DOS PRESÍDIOS E PENITENCIÁRIAS BRASILEIRAS COMO FATOR DE

OBSTRUÇÃO AO PROCESSO DE RESSOCIALIZAÇÃO DO PRESO

MARCELLA FERREIRA

Monografia submetida à Universidade do Vale do Itajaí – UNIVALI, como

requisito parcial à obtenção do grau de Bacharel em Direito.

Orientador: Professor Mdo. Carlos Roberto da Silva

Itajaí(SC), Novembro de 2008.

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II

AGRADECIMENTO

Aos meus pais, por tudo o que fizeram,

especialmente porque acreditaram na minha

capacidade para a conclusão do Curso de Direito,

sempre participando, ativamente, de todos os

momentos da minha vida.

Ao meu Orientador, pela presença segura e

disponível, quando precisava; pela ajuda e

conhecimento imprescindíveis para eu descobrir o

meu rumo; pela amizade e contribuições

enriquecedoras.

Aos meus colegas de faculdade e de trabalho,

que contribuíram direta ou indiretamente para a

realização deste trabalho.

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III

DEDICATÓRIA

Dedico este trabalho aos meus pais, pelo apoio e

carinho oferecidos durante todos os momentos

difíceis da minha vida.

Ao meu namorado Fernando, por ter sido

compreensível e paciente comigo durante toda a

elaboração do presente trabalho.

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IV

TERMO DE ISENÇÃO DE RESPONSABILIDADE

Declaro, para todos os fins de direito, que assumo total responsabilidade pelo

aporte ideológico conferido ao presente trabalho, isentando a Universidade do

Vale do Itajaí, a coordenação do Curso de Direito, a Banca Examinadora e o

Orientador de toda e qualquer responsabilidade acerca do mesmo.

Itajaí(SC), Novembro de 2008.

Marcella Ferreira Graduanda

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V

PÁGINA DE APROVAÇÃO

A presente monografia de conclusão do Curso de Direito da Universidade do Vale

do Itajaí – UNIVALI, elaborada pela graduanda Marcella Ferreira, sob o título A

deficiência estrutural dos Presídios e Penitenciárias brasileiras como fator de

obstrução ao processo de ressocialização do preso, foi submetida em 18 de

novembro de 2008 à banca examinadora composta pelos seguintes professores:

Carlos Roberto da Silva (Orientador e Presidente) e Renato Domingues Massoni

(Examinador), e aprovada com a nota 10,0 (dez).

Itajaí(SC), Novembro de 2008.

Professor Mdo. Carlos Roberto da Silva Orientador e Presidente da Banca

Professor Mestre Antônio Augusto Lapa Coordenação da Monografia

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VI

ROL DE ABREVIATURAS E SIGLAS

Art. Artigo Arts. Artigos Amp. Ampliada Atual Atualizada § Parágrafo PL Privativa de Liberdade CAPUT Cabeça do Artigo Ed. Edição Inc. Inciso Nº Número p. Página Vol. Volume CP Código Penal LEP Lei de Execuções Penais CF Constituição Federal CFRB/88 Constituição da República Federativa do Brasil de 1988. CPP Código de Processo Penal UNIVALI Universidade do Vale do Itajaí DEAP Departamento de Administração Prisional DEPEN Departamento Penitenciário Nacional. STJ Superior Tribunal de Justiça SSP Secretaria de Segurança Pública MEC Ministério da Educação ONU Organização das Nações Unidas SC Santa Catarina

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VII

ROL DE CATEGORIAS

Rol de categorias que a Autora considera estratégicas à

compreensão do seu trabalho, com seus respectivos conceitos operacionais.

Ressocialização

Consiste em fazer o delinqüente aceitar as normas básicas e geralmente

vinculantes que regem a sociedade em que está inserido. Para esse fim

ressocializador na execução da pena, visa-se restabelecer no delinqüente o

respeito por essas normas básicas, fazendo-o corresponder, no futuro, às

expectativas nelas contidas, evitando, assim, a prática de novos delitos, em

outros termos, a reincidência1.

Execução Penal

É a atividade desenvolvida pelos órgãos judiciários para dar atenção à sanção,

que se realiza através dos processos de igual nome, mediante os atos

executórios de aplicações jurídicas e práticas nele contidas2.

Apenado

Indiciado condenado em processo penal e que cumpre regularmente a sanção

aflitiva em estabelecimento penal3.

Prisão

Prisão é a pena privativa de liberdade imposta ao delinqüente, cumprida,

mediante clausura, em estabelecimento penal para esse fim destinado4.

Pena (Sanção Penal)

1 BITENCOURT, Cezar Roberto. Falência da Pena de Prisão: causas e alternativas. 3 ed. São Paulo: Saraiva, 2004, p. 138/140. 2 MIRABETE, Julio Fabbrini. Manual de Direito penal. São Paulo: Atlas, 2002, p. 30. 3 SOIBELMAN, Leib. Dicionário Geral de Direito. São Paulo: J. Bushatsky, v. 2, p. 526.

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VIII

A pena é uma sanção aflitiva imposta pelo Estado, através da ação penal, ao

autor de uma infração (penal), como retribuição de seu ato ilícito, consistente na

diminuição de um bem jurídico e cujo fim é evitar novos delitos5.

Penitenciária

Destina-se ao condenado à pena de reclusão, em regime fechado6.

Cadeia Pública

Destina-se ao recolhimento de presos provisórios7.

Superlotação

Excesso de lotação permitida de um estabelecimento prisional. Considerado

como uma das causas frustradoras do objetivo da segregação, a ressocialização8.

4 MARQUES, José Frederico. Elementos de direito processual penal. v. IV. Rio de Janeiro: Forense, 1965. p. 21. 5 MIRABETE, Julio Fabbrini. Manual de Direito Penal. São Paulo: Atlas, 2002. p. 246, apud SOLER, Sabastian. Derecho penal argentino. Buenos Aires: Tipográfica Editora Argentina, 1970, v. 2,p. 342. 6 Art. 87 da Lei 7.210/84. 7 Art. 102 da Lei 7.210/84. 8 SADDY, André. Trabalho do preso à luz da previdência social. Jus Navegandi. Ago. 2001 Disponível em: <http://jus2.uol.com.br/doutrina/texto.asp?id=3912>. Acesso em: 21 out. 2008.

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I

SUMÁRIO

RESUMO............................................................................................ 3 INTRODUÇÃO ................................................................................... 5 CAPÍTULO 1 ...................................................................................... 7 EVOLUÇÃO HISTÓRICA E OBJETIVOS DA PENA PRIVATIVA DE LIBERDADE....................................................................................... 7 1.1 HISTÓRICO E CONCEITO DA PENA.............................................................. 7 1.1.1 NOÇÕES PRELIMINARES ....................................................................................7 1.1.2 VINGANÇA PRIVADA...........................................................................................8 1.1.3 VINGANÇA DIVINA............................................................................................10 1.1.4 VINGANÇA PÚBLICA .........................................................................................11 1.1.5 PERÍODO HUMANITÁRIO DA PENA......................................................................12 1.1.5.1 Humanização da pena....................................................................................... 13 1.1.5.2 Surgimento das Prisões.................................................................................... 15

1.2 EVOLUÇÃO DA PENA NO BRASIL .............................................................. 16 1.2.1 ORDENAÇÕES AFONSINAS ..............................................................................17 1.2.2 ORDENAÇÕES MANUELINAS ............................................................................17 1.2.3 ORDENAÇÕES FILIPINAS .................................................................................18 1.2.4 PERÍODO IMPERIAL .........................................................................................19 1.2.5 PERÍODO REPUBLICANO..................................................................................21 1.2.6 CÓDIGO PENAL DE 1940 - O NOSSO ATUAL ORDENAMENTO JURÍDICO ................22 1.3 SISTEMAS PENITENCIÁRIOS E TEORIAS DA PENA ................................. 25 1.3.1 SISTEMA PENSILVÂNICO OU CELULAR ..............................................................25 1.3.2 SISTEMA AUBURNIANO....................................................................................26 1.3.3 SISTEMA PROGRESSIVO ..................................................................................27 1.3.4 TEORIA ABSOLUTA OU RETRIBUTIVA DA PENA..................................................28 1.3.5 TEORIA RELATIVA OU PREVENTIVA DA PENA ....................................................29 1.3.5.1 Prevenção Geral ................................................................................................ 30 1.3.5.2 Prevenção Especial........................................................................................... 31

1.3.6 TEORIA MISTA OU UNIFICADORA DA PENA........................................................32 CAPÍTULO 2 .................................................................................... 34 PREVISÃO LEGAL RELATIVA ÀS CONDIÇÕES DE CUMPRIMENTO DA PENA PRIVATIVA DE LIBERDADE E A REALIDADE BRASILEIRA .............................................................. 34

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II

2.1 LEGISLAÇÃO PÁTRIA E ESPÉCIES DE PENA ........................................... 34 2.1.1 CLASSIFICAÇÃO DAS PENAS SEGUNDO A CRFB/88 E CÓDIGO PENAL ................34 2.1.2 RECLUSÃO E DETENÇÃO .................................................................................36 2.1.3 PRISÃO SIMPLES ............................................................................................37 2.2 REGIMES PENITENCIÁRIOS ........................................................................ 38 2.2.1 REGIME FECHADO ..........................................................................................39 2.2.2 REGIME SEMI-ABERTO....................................................................................40 2.2.3 REGIME ABERTO ............................................................................................41 2.2.4 REGIME ESPECIAL ..........................................................................................42 2.3 ESTABELECIMENTOS PENAIS.................................................................... 43 2.3.1 PENITENCIÁRIA...............................................................................................45 2.3.2 COLÔNIA AGRÍCOLA, INDUSTRIAL OU SIMILAR ..................................................46 2.3.3 CASA DO ALBERGADO ....................................................................................47 2.3.4 HOSPITAL E TRATAMENTO PSIQUIÁTRICO .........................................................48 2.3.5 CADEIA PÚBLICA (PRESÍDIO) ...........................................................................49 2.4 LEI DE EXECUÇÃO PENAL: OBJETIVOS E APLICABILIDADE ................. 50 2.4.1 DA ASSISTÊNCIA ............................................................................................52 2.4.1.1 Assistência Material .......................................................................................... 53 2.4.1.2 Assistência à Saúde.......................................................................................... 54 2.4.1.3 Assistência Jurídica.......................................................................................... 55 2.4.1.4 Assistência Educacional................................................................................... 55 2.4.1.5 Assistência Social ............................................................................................. 57 2.4.1.6 Assistência Religiosa........................................................................................ 58 2.4.1.7 Assistência ao Egresso .................................................................................... 58

2.4.2 DOS DIREITOS DOS PRESOS ............................................................................59 2.5 PRINCÍPIOS E GARANTIAS CONSTITUCIONAIS INERENTES AO PRESO.64 2.5.1 LEGALIDADE ..................................................................................................64 2.5.2 IGUALDADE OU ISONOMIA ................................................................................65 2.5.3 INDIVIDUALIZAÇÃO DA PENA ............................................................................66 2.5.4 DIGNIDADE DA PESSOA HUMANA .....................................................................67 CAPÍTULO 3 .................................................................................... 69 AS DEFICIÊNCIAS ESTRUTURAIS DO SISTEMA PENITENCIÁRIO BRASILEIRO.................................................................................... 69 3.1 DADOS ESTATÍSTICOS DOS PRESÍDIOS E PENITENCIÁRIAS BRASILEIRAS...................................................................................................... 69 3.2 DADOS ESTATÍSTICOS DOS PRESÍDIOS E PENITENCIÁRIAS DO ESTADO DE SANTA CATARINA ........................................................................ 73 3.3 EVOLUÇÃO DA SUPERLOTAÇÃO CARCERÁRIA...................................... 77 3.4 AS DEFICIÊNCIAS ESTRUTURAIS .............................................................. 80 3.4.1 ESTRUTURA FÍSICA DAS INSTITUIÇÕES PENAIS - SUPERLOTAÇÃO .......................80 3.4.2 ATIVIDADES DE ENSINO...................................................................................84 3.4.3 ESCASSA ASSISTÊNCIA AO PRESO E À SUA FAMÍLIA .........................................87 3.4.4 TRABALHO PRISIONAL ....................................................................................90 CONSIDERAÇÕES FINAIS.............................................................. 95 REFERÊNCIA DAS FONTES CITADAS .......................................... 98 ANEXOS......................................................................................... 104

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RESUMO

Em tempos passados, a aplicação das sanções eram as

mais severas de todas já vivenciadas pela humanidade, porquanto a pena era

executada de forma cruel sem qualquer proporção ou parâmetro para sua

aplicação. Utilizava-se da lei de talião e da pena de morte, que eram expostas em

espetáculo público, sendo os condenados submetidos a todo tipo de tortura a fim

de reprimir a população para o não cometimento de crimes.

Posteriormente, com a necessidade de implantar uma

política criminal, as tribos, assim chamados naquela época, elegeram um

representante seu, para que executasse essas penalidades de acordo com os

anseios da comunidade.

Já com a figura do Estado implantado pelos soberanos, o

poder estatal começou a notar que com o aumento significativo de crimes de

diversas naturezas, não adiantava mais pregar a punição severa para todos os

tipos penais, razão por que a pena ficou mais branda e os condenados, em

alguns casos, não eram mais punidos com a morte, mas sim eram utilizados para

as atividades laborais que o Estado necessitava, e assim, satisfaziam seus

interesses políticos e econômicos.

Com a situação precária, vexatória e lastimável que os

condenados estavam submetidos, alguns filósofos chegaram a conclusão de que

era melhor prevenir o crime do que remediá-lo, projeto esse que consistia na

radicalização das penas, bem como na sua individualização.

No Brasil, tentou-se implantar vários ordenamentos que

disciplinassem o sistema criminal, sendo que cada Código Penal promulgado com

as respectivas Leis foram relevantes para se chegar ao diploma legal até hoje

vigente, que adequou os propósitos da pena, ou seja, punindo o delinqüente pelo

mal praticado, e ressocializando-o para que, quando lançado novamente na

sociedade, não pratique mais crimes.

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Sabe-se, no entanto, que não obstante a Lei de Execuções

Penais seja quase perfeita na teoria, é notória que as deficiências estruturais

sempre existiram, embora as derivações destas na época sejam completamente

diferentes das dos dias atuais. Entretanto, o foco que se pretende chegar é que

sempre os presos viveram em ambientes propícios à violência e revolta,

circunstâncias que fogem do objeto ressocializador da pena. Os dados

estatísticos comprovam o resultado dessa deficiência com o aumento da

reincidência a cada dia, o crescimento desproporcional da população carcerária

para o número de vagas disponíveis no sistema penitenciário.

Portanto, considerando a pena aplicada na idade média e as

técnicas utilizadas nos dias atuais, conclui-se que estamos regredindo no tempo,

haja vista que se fazia com que os presos passassem por circunstâncias

humilhantes, quando expostos ao público em condições subumanas, ao passo

que em hodierno, o preso também está vivenciado as mesmas condições

indignas.

É preciso mudar o caráter totalmente punitivo da pena,

devendo-se buscar, na atualidade, a ressocialização do condenado, a fim de

prepará-lo para as exigências básicas da competição social: formação e

profissionalização.

Nessa perspectiva, esta pesquisa busca analisar as

deficiências existentes no sistema penitenciário nacional, com enfoque no Estado

de Santa Catarina, bem como apontar os princípios da execução penal e os

direitos dos presos dispostos pela Lei de Execução Penal.

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INTRODUÇÃO

A presente Monografia tem como objeto “a deficiência

estrutural dos Presídio e Penitenciárias brasileiras como fator de obstrução ao

processo de ressocialização do preso”.

O seu objetivo é a análise da deficiência do sistema

penitenciário nacional, com enfoque no Estado de Santa Catarina, destacando as

principais deficiências, o crescimento desproporcional da demanda carcerária e o

déficit no número de vagas.

Para tanto, principia-se, o Capítulo 1, tratando da evolução

histórica da sanção penal no mundo e no Brasil, bem como dos objetivos da pena

privativa de liberdade, conhecendo-se os tipos de sistemas penitenciários e

teorias da pena.

O Capítulo 2, trata do ordenamento legal relativo às penas,

regimes e execução penal no Brasil. Abordar-se-á, também, os princípios da

execução penal, bem como as assistências e direitos dos presos dispostos pela

Lei de Execução Penal.

O Capítulo 3, trata de dados estatísticos do Brasil e Santa

Catarina, abordando-se as deficiências estruturais dos estabelecimentos penais e

suas conseqüências.

O presente Relatório de Pesquisa se encerra com as

Considerações Finais, nas quais são apresentados pontos conclusivos

destacados, seguidos da estimulação à continuidade dos estudos e das reflexões

sobre a caótica deficiência e possíveis soluções para o sistema penitenciário.

Para a presente monografia foram levantadas as seguintes

hipóteses:

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O sistema prisional está comprometido, porquanto a

população carcerária a cada ano cresce de forma desproporcional ao número de

vagas.

Em face da superpopulação carcerária, o preso não

consegue alcançar os benefícios abrangidos pela Lei de Execuções Penais.

Atualmente, o preso é submetido ao mesmo tipo de situação

humilhante do passado, vivenciado em condições insalubres, precárias junto ao

ergástulo público.

Quanto à Metodologia empregada, registra-se que, na Fase

de Investigação foi utilizado o Método Indutivo; na Fase de Tratamento de Dados,

o Método Cartesiano; e o Relatório dos Resultados expressos na presente

Monografia é composto na base lógica Indutiva.

Nas diversas fases da Pesquisa, foram acionadas as

Técnicas do Referente, da Categoria, do Conceito Operacional e da Pesquisa

Bibliográfica.

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CAPÍTULO 1

EVOLUÇÃO HISTÓRICA E OBJETIVOS DA PENA PRIVATIVA DE LIBERDADE

1.1 HISTÓRICO E CONCEITO DE PENA

1.1.1 Noções Preliminares

Pena é a sanção consistente na privação de determinados

bens jurídicos, que o Estado impõe contra a prática de um fato definido na lei

como crime9.

Para Soler, “a pena é uma sanção aflitiva imposta pelo

Estado, através da ação penal, ao autor de uma infração (penal), como retribuição

de seu ato ilícito, consistente na diminuição de um bem jurídico e cujo fim é evitar

novos delitos”10.

Segundo o conceito de Fernando Capez “sanção penal de

caráter aflitivo, imposta pelo Estado, em execução de uma sentença, ao culpado

pela prática de uma infração penal [...] cuja finalidade é aplicar a retribuição

punitiva do delinqüente, promover a sua readaptação social e prevenir novas

transgressões pela intimidação dirigida à coletividade”11.

Conclui-se, então, que a pena é uma sanção aplicada pelo

Estado visando à punição do autor do delito, servindo, ao mesmo tempo, como

prevenção para a prática de novos crimes.

9 BARROS, Flávio Augusto Monteiro de. Direito Penal: parte geral. V. 1, 2004. p. 433, apud Aníbal Bruno, Direito penal, cit., v. 1, t. 3, p. 22. 10 MIRABETE, Julio Fabbrini. Manual de Direito Penal. São Paulo: Atlas, 2002. p. 246, apud SOLER, Sabastian. Derecho penal argentino. Buenos Aires: Tipográfica Editora Argentina, 1970, v. 2,p. 342. 11 CAPEZ, Fernando. Curso de Direito Penal: parte geral. 9. ed. rev. e atual. São Paulo: Saraiva, 2005, p. 357.

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1.1.2 Fase da Vingança Privada

A autora Oliveira12 leciona que a fase da vingança privada

consistia na satisfação da vítima em fazer justiça com as próprias mãos,

geralmente com excessos e sem parâmetros de proporção na sua execução.

Explicou que na referida fase inexistia uma autoridade que viesse a regular a

aplicação das sanções penais. Discorreu que com a evolução das tribos, que

ainda eram muito primitivas, tomavam o espírito vingativo da vítima e exerciam

uma vingança coletiva, com o firme propósito de proteger a coletividade.

Por outro lado, Foucault13 acrescenta em sua obra que a

morte era exposta em espetáculo público, com os condenados sendo submetidos

a todo tipo de tortura e humilhação antes de morrer, certamente para mostrar à

população local que, em caso de cometimento de qualquer delito, o delinqüente

deveria sujeitar-se a situações amplamente vexatórias.

O condenado poderia também ser punido com “a perda da

paz”, resumindo-se na sua expulsão da tribo, sem qualquer utensílio para o

auxílio da sua defesa, ficando dessa forma à míngua dos animais na floresta.

Destaca-se que seu patrimônio também era atingido14.

Dotti15 em seu trabalho relata de forma semelhante:

O infrator também poderia ser condenado à perda da paz que se

caracterizava pela expulsão do clã e a impossibilidade de

sobrevivência diante das forças hostis da natureza, da agressão

dos animais ou da dificuldade na colheita de alimentos.

Mirabete sob o mesmo ponto de vista histórico, confirma que

o banimento, também conhecido como a “expulsão da paz”, era uma das

12 OLIVEIRA, Odete Maria de. Prisão: um paradoxo social. Florianópolis: UFSC, 1984,p. 3. 13 FOUCALT, Michel. Vigiar e Punir. 16 ed. São Paulo: Vozes, 1977, p. 16-17. 14 OLIVEIRA, Odete Maria de. Prisão: Um paradoxo social, 1984, p. 3-4. 15 DOTTI, René Ariel. Bases alternativas para o sistema de penas. 2 ed. São Paulo: Revista dos Tribunais, 1998, p.30.

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modalidades de pena aplicadas na vingança privada. Descreveu que a penalidade

não atingia tão somente ao ofensor, mas sim todo o seu grupo16.

Com a evolução da pena, essa punição sem limites passou

a ser limitada, conhecida como “lei de talião”, cujo objetivo principal era fazer com

que o agressor fosse punido nos moldes do dano que causou. Por exemplo, se

ele havia cometido um homicídio, sua pena, certamente, seria a de morte. O

mesmo doutrinador salientou que a referida lei teve grande eficácia, visto que

reduziu a abrangência da ação punitiva17.

Segundo o renomado doutrinador Magalhães Noronha18:

[...] o revide não guardava proporção com a ofensa, sucedendo-

se, por isso, lutas acirradas entre grupos e famílias, que, assim, se

iam debilitando, enfraquecendo e extinguindo. Surge, então, como

primeira conquista no terreno repressivo, o talião. Por ele,

delimita-se o castigo; a vingança não será mais arbitrada e

desproporcionada.

Na opinião de Cezar Roberto Bitencourt19, a lei de talião foi a

primeira tentativa de humanização da sanção penal, tanto foi que a mencionada

lei foi adotada por outros povos como, por exemplo, no Código de Hamurábi.

Com o passar dos séculos, surgiu um novo meio de

aplicação da pena através da composição que tinha por fim a reparação do dano

pelo agressor à vítima ou à sua família, oferecendo-lhes dinheiro ou outros

objetos como forma de pagamento. Percebe-se que, com essa perspectiva de

abrandamento da pena, foi desaparecendo o sofrimento físico, que era imposto

pela vítima20.

16 MIRABETE, Julio Fabbrini. Manual de direito penal. 18 ed. São Paulo: Atlas, 2002, p. 35. 17 Ibidem. 2002, p. 36. 18 NORONHA, Magalhães. Direito Penal. 31 ed. São Paulo: Saraiva, 1995, p. 20. 19 BITENCOURT, Cezar Roberto. Tratado de direito penal: parte geral. 10ª ed. São Paulo: Saraiva, 2006, p. 37. 20 OLIVEIRA, Odete Maria de. Prisão: Um paradoxo social, 1984, p. 6-7.

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10

Destaca Mirabete21 que a forma de penalidade denominada

composição também fora adotada por outros códigos, dando-se espaço no

ordenamento jurídico para as indenizações no âmbito cível e à multa como

sanção penal.

Portanto, observa-se que a vingança privada foi a fase mais

cruel da história das penas, pois sequer havia a figura de uma autoridade para

regulamentar a aplicação das penas, incumbindo ao ofendido imputar ao infrator

qualquer penalidade que lhe achasse devida. Após, verificou-se o surgimento de

algumas leis e organizações que determinaram a proporcionalidade na execução

das sanções penais, tais como a organização dos grupos e a lei de talião, todavia

as penas ainda estendiam-se por castigos físicos.

1.1.3 Fase da Vingança Divina

Nessa nova fase, no entanto, a legitimidade para punir era a

dos Deuses por meio dos seus sacerdotes, que aplicavam penas cruéis com o

objetivo de causar repúdio e reprimir a sociedade para que os indivíduos não

praticassem ilícitos penais. O direito aparece revestido de prescrições e

ensinamentos religiosos, em conexão com o sistema de talião e da composição22.

O autor Mirabete23 tem a mesma visão, ou seja, que o

caráter predominantemente místico nesta fase era para combater a criminalidade

através da intimidação dos povos, cujas penas aplicadas pelos fiéis eram

extremamente cruéis.

Nos mesmos moldes, leciona o autor Bitencourt24:

[...] tinha como finalidade a purificação da alma do criminoso, por

meio do castigo. O castigo era aplicado, por delegação divina,

pelos sacerdotes, com penas cruéis, desumanas e degradantes,

cuja finalidade maior era a intimidação. Pode-se destacar como

legislação típica dessa fase o Código de Manu, embora

21 MIRABETE, Julio Fabbrini. Manual de direito penal, 2002, p. 36. 22 OLIVEIRA, Odete Maria de. Prisão: Um paradoxo social, 1984,p. 6-7. 23 MIRABETE, Julio Fabbrini. Manual de direito penal, 2002, p. 36. 24 BITENCOURT, Cezar Roberto. Tratado de direito penal: parte geral, 2006, p. 36.

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legislações com estas características tenham sido adotadas no

Egito (Cinco Livros), na China (Livro das Cinco Penas), na Pérsia

(Avesto), em Israel (Pentateuco), e na Babilônia.

O misticismo era o ponto principal para que a população

respeitasse os ditames da religião e para que não viessem a delinqüir.

Obviamente os sacerdotes da época, que se revestiam de autoridades

regulamentadoras, aplicavam as penalidades que achassem corretas, isto porque

inexistia qualquer legislação disciplinando o que se deveria aplicar ao caso

concreto. Por outro prisma, conclui-se que as penas ainda eram muito desumanas

e cruéis.

1.1.4 Fase da Vingança Pública

Nessa fase, desapareceu a figura da vítima, assim como das

tribos para a aplicação das penas aos delinqüentes, sendo nomeado uma única

autoridade (Estado) para que pudesse cuidar da execução dessas penalidades.

Ressalta-se que se perdeu a figura religiosa da pena, passando-se a ser

absolutamente política. Tal perspectiva foi observada através da modalidade de

composição, que à época da vingança privada era facultativa, e que passou a ser,

neste período, obrigatória. Além disso, as penas passaram a ser acompanhadas

de castigos acessórios como a perda da paz, que era procedido pela exposição e

pela marcação de ferrete25.

Nesse rumo, o autor René Ariel Dotti26 também entende que

a vingança pública surgiu da evolução política da comunidade, sendo outorgado a

uma autoridade o direito e dever de castigar os condenados. A pena era imposta

de acordo com os anseios dos povos que pleiteavam justiça juntamente com os

parâmetros adotados pelas leis de talião e da composição. Por exemplo, a

expulsão da comunidade foi substituída pela morte, mutilação, banimento

temporário e perdimento de bens.

25 OLIVEIRA, Odete Maria de. Prisão: Um paradoxo social, 1984, p. 15-16. 26 DOTTI, René Ariel. Bases alternativas para o sistema de penas, 1998, p. 30.

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Ao decorrer desta fase, observou-se que Aristóteles e Platão

contribuíram de forma incisiva para a sua evolução. Platão sustentou que a pena

deveria ser interpretada como uma forma de defesa social para a repressão aos

crimes, enquanto Aristóteles implantou a necessidade do livre-arbítrio que obteve

êxito primeiramente no campo filosófico e, após, no jurídico27.

A pena tomou um cunho extremamente político, pois além

da indenização pelo dano penal causado pelo acusado que tinha que pagar à

vítima, ele era ainda submetido à torturas físicas ou a castigos cruéis. Embora até

então predominassem os suplícios, houve uma enorme suavização deles na sua

aplicação.

1.1.5 Período Humanitário da Pena

Este período surgiu diante da necessidade do Estado em

reformar o direito penal, com a adoção de novas penas e modos de execução

destas, deixando, assim, aquelas torturas anteriormente empregadas pelas

autoridades como forma de espetáculo para a sociedade28.

O doutrinador Bitencourt29 leciona que naquela época os

filósofos, moralistas e juristas revoltosos com a situação no que se refere ao

cumprimento das penas, bem como a falta de tipificação de outras condutas

penais, passaram a criticar aquela legislação criminal, passando a enaltecer os

princípios inerentes ao ser humano.

Giza-se que na mencionada fase começaram a aparecer

desigualdades entre as classes sociais em razão do acréscimo dos bens móveis e

imóveis das famílias, motivo pelo qual deu-se maior ênfase quanto à repressão

aos crimes contra o patrimônio alheio. Diante dessas circunstâncias, implantou-

se, também, a segurança pública através do policiamento30.

27 BITENCOURT, Cezar Roberto. Tratado de direito penal, 2006, p. 37-38. 28 OLIVEIRA, Odete Maria de. Prisão: Um paradoxo social, 1984, p. 23. 29 BITENCOURT, Cezar Roberto. Tratado de direito penal, p. 47, apud Garrido Guzman. Manual de Ciência Penitenciária, Madrid. Edersa, 1983, p. 86. 30 OLIVEIRA, Odete Maria de. Prisão: Um paradoxo social, 1984, p. 23-24.

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Segundo Foucault31, naquela época o Estado começou a

notar que em razão do aumento expressivo da prática de crimes de diversas

naturezas, não mais adiantava a simples aplicação de penas severas. Constatou-

se que ao executar um apenado, a sociedade tinha prejuízo do ponto de vista

econômico. Por isso, os criminosos passaram a prestar trabalho ao Estado e,

dessa forma, satisfazer às necessidades da sociedade.

Infere-se neste estágio, que as penas se tornaram mais

brandas em face do surgimento das garantias inerentes ao ser humano. Os povos

também começaram a perceber que a repressão à criminalidade através da

aplicação de rígidas penas não trazia nenhuma eficácia do ponto de vista

sociológico, razão por que começaram a refletir que era necessário um novo

tratamento através da execução de atividades laborais para o Estado.

1.1.5.1 A Humanização da Pena

Sob os fundamentos dos filósofos mais prestigiados da

época, César Beccaria elaborou uma obra que mistificou a humanização no

processo ressoalizador do preso sob o prisma de que era melhor prevenir o crime

do que castigá-lo. Esse autor defendia que o caráter preventivo da pena não

precisava ser obtido através do medo, da vingança como fundamento da pena,

mas sim de outra forma que trazia a certeza necessária de que o condenado seria

efetivamente punido.

Sem dúvida, John Howard32 foi um dos revolucionários da

época que estava absolutamente descontente com as condições do sistema

carcerário, tanto foi que propôs idéias quanto à humanização, para fins de

ressocialização do detento. Na Inglaterra, foi registrado um movimento

revolucionário a fim de suavizar as regras disciplinares da segregação, assim

como o regime prisional daquele período.

31 FOUCAULT. Vigiar e Punir, 1977, p. 16-17. 32 OLIVEIRA, Odete Maria de. Prisão: Um paradoxo social, 1984, p. 35.

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Destaca a autora Maria José Moutinho Santos33, que John

Howard enfatizou as condições precárias vivenciadas pelos condenados ao

encarceramento, pleiteando a introdução de melhoria nas condições de vivência

nas celas, a separação dos presos quanto à natureza dos delitos, sexos e idade,

assim como a segurança e facilidade de supervisão dos edifícios mais conhecidos

hoje, como presídios.

O filósofo Bentham implantou um modelo de

estabelecimento prisional conhecido como panótico, que consistia no isolamento

completo do delinqüente. Essa medida de punição pretendia a prevenção de

novos crimes, já que para ele o delito que o apenado cometeu já não tinha mais

importância, pois o que deveria ser priorizado era a reinserção social do mesmo,

fazendo com que ele não mais retornasse a delinqüir34.

Maria José Moutinho Santos35 relata que o sistema da velha

prisão de Walnut Street, na Filadélfia em 1790, adotou normas de classificações

dos presos quanto aos delitos cometidos. Além disso, buscava a ressocialização

do apenado através do trabalho, e quando estes fossem reincidentes, aplicava-se

o confinamento isolado dos demais detentos.

Adveio, posteriormente, o sistema espanhol de Montesinos,

destacando a abolição dos castigos corporais, e disciplinando que o trabalho do

preso seria remunerado. Trouxe uma inovação para a execução penal, cuja a

duração da pena não consistia naquela que era determinada pela sentença,

podendo-se levar em consideração, para a redução da reprimenda corporal, a boa

conduta do preso e seu trabalho, enquanto estivesse cumprindo pena36.

Surgiu, então, a prisão semi-aberta na Suíça, que se

estribava no trabalho dos condenados, longe de qualquer vigilância. Entretanto,

logo se percebeu uma grande deficiência desse sistema, visto que apenas

abrangia os detentos provenientes das zonas rurais, já que as pessoas que

33 SANTOS, Maria José Moutinho. A Sombra e a Luz: as prisões do Liberalismo. Porto: Edições

Afrontamento, 1999, p. 39. 34 BITENCOURT, Cezar Roberto. Tratado de direito penal, 2006, p. 53. 35 SANTOS, Maria José Moutinho. A Sombra e a Luz: as prisões do Liberalismo, 1999, p. 40. 36 OLIVEIRA, Odete Maria de. Prisão: Um paradoxo social, 1984, p. 43-44.

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residiam no centro da cidade não se adaptaram a este modo de vida. Além disso,

esse instituto ensejava grande facilidade de fuga devido à vigilância reduzida37.

1.1.5.2 Surgimento das Prisões

O autor Alexandre Marino Costa38 frisa que a prisão na

antigüidade tinha finalidade diversa da qual encontramos nos dias de hoje.

Naquela época, servia, apenas, para resguardar o acusado da aplicação da pena,

ou seja, era uma forma de detenção para que este não viesse a empreender fuga,

até porque as penas se restringiam em sanções corporais e à capital. Observa-se

que também usavam a custódia preventiva contra os devedores.

A mais velha prisão da sociedade foi na Idade Média, em

Roma. Os cárceres primitivos eram das mais variadas espécies, porquanto o

Estado não possuía poder aquisitivo suficiente para a construção de

estabelecimentos prisionais adequados. Ademais, o objetivo da prisão era a

exposição do criminoso para a sociedade em condições desumanas, como uma

forma de lição para a exterminação dos crimes39.

No mesmo sentido, o autor René Ariel Dotti40 esclarece a

idéia que as civilizações tinham da prisão:

A detenção como “verdadeira antecâmara de suplícios” onde se

depositava o acusado à espera do julgamento era prática utilizada

em diversos países orientais. Igualmente em civilizações incas e

astecas se empregavam “jaulas e cercas” para confinar os

acusados antes da decisão e do sacrifício.

Veja-se que, principalmente, os germanos e os eslavos

ignoravam a pena de prisão, apenas em Atenas era utilizada como pena especial.

Destaca-se que esta idéia somente começou a se propagar depois que os

37 Ibidem, 1984, p. 45. 38 COSTA, Alexandre Marino. O trabalho prisional e a reintegração social do detento. Florianópolis: Insular, 1999, p. 14. 39 OLIVEIRA, Odete Maria de. Prisão: Um paradoxo social, 1984, p. 29-30. 40 DOTTI, René Ariel. Bases e alternativas para o sistema de penas, 1998, p. 32-33.

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filósofos Sócrates e Platão exprimiram as suas idéias em busca de sanções mais

brandas41.

Observa-se que ainda na Idade Média, em meados dos

séculos XVII e XVIII, surgiram diversos tipos de prisões, as quais tinham um

caráter extremamente punitivo. As celas eram subterrâneas e os condenados lá

viviam em condições subumanas, não se obedecendo a qualquer regra quanto à

higiene, tampouco insalubridade. Salienta-se que os condenados ainda eram

submetidos a torturas cruéis e lá esquecidos42.

Observa-se que a deficiência já estava presente desde o

próprio surgimento das prisões, sendo os condenados submetidos a tratamentos

desumanos e considerados, efetivamente, uma parcela da sociedade que deveria

ser excluída da camada social.

1.2 A EVOLUÇÃO DA PENA NO BRASIL

Segundo Gonzaga43, há registros de que aqui no Brasil,

antes do descobrimento, já se aplicava a pena corporal em suas diversas

modalidades como forma de punição:

As penas corporais foram comumente empregadas, embora não

se tenha notícias de métodos torturantes. A pena de morte era

executada com o uso de tacape, recorrendo-se também a

venenos, sepultamento de pessoas vivas, especialmente crianças,

e enforcamento. Menciona ainda como forma de execução capital,

o enforcamento. A pena de açoites é também referida, mas a

privação de liberdade existia como forma de prisão semelhante à

atual “prisão processual”, destinando-se à detenção de inimigos,

em seguida à captura, ou como recolhimento que antecipava a

execução da morte.

41 OLIVEIRA, Odete Maria de. Prisão: Um paradoxo social, 1984, p. 30-31. 42 Ibidem. 1984, p. 33. 43 GONZAGA, João Bernardino. O direito penal indígena: à época dos descobrimentos do Brasil. São Paulo: Max Limonad, s.n., p. 171.

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1.2.1 Ordenações Afonsinas

Após o descobrimento do Brasil, passou-se a aplicar as

Ordenações Afonsinas, a qual era fundada em regime jurídico dos portugueses

entre 1446 e 1514. Nesta época, a prisão, na maioria das vezes, tinha caráter

provisório até o julgamento definitivo do detento. Ademais, em raros casos, a

prisão era uma medida coercitiva para obrigar o devedor ao pagamento da pena

pecuniária44.

Para Bitencourt45, essa foi a época mais obscura da história

da humanidade, visto que as pessoas exerciam livremente o direito de sancionar

e punir os acusados, sempre de acordo com os seus interesses.

Para o autor Romeu Falconi46, as Ordenações Afonsinas

foram implantadas ainda em uma fase muito prematura, razão por que não há

muitos registros históricos de sua permanência no Brasil.

1.2.2 Ordenações Manuelinas

Logo após, as ordenações Afonsinas foram substituídas

pelas Manuelinas por determinação de D. Manuel I, entretanto vigorou por pouco

tempo no Brasil (1514 a 1603). A referida Ordenação manteve o mesmo sistema

de legislação anterior, ou seja, a segregação do cárcere até o julgamento

definitivo do réu.

Para Pierangelli47, as ordenações afonsinas não tiveram

aplicabilidade na Brasil, haja vista que ao mesmo tempo em que vigiam aqui,

apresentava-se o regime das capitanias, por isso, os donatários aplicavam as

regras jurídicas que bem entendiam, especialmente porque as cartas de doação

lhes outorgavam competência para o exercício de toda a justiça de forma informal

e personalista dentro dos seus domínios.

44 DOTTI, René Ariel. Bases e alternativas para o sistema de penas, 1998. p. 41-42. 45 BITENCOURT, Cezar Roberto. Tratado de direito penal, 2006, p. 57. 46 FALCONI, Romeu. Reabilitação criminal. São Paulo: Ícone, 1995, p. 76. 47 PIERANGELLI, José Henrique. Códigos Penais do Brasil: evolução histórica. 2 ed. São

Paulo: Revista dos Tribunais, 2001. p. 7.

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1.2.3 Ordenações Filipinas

De todas as ordenações, as Filipinas foram as que mais

obtiveram aplicação. Foram editadas em 1603 e perduraram por mais de três

séculos, entretanto salienta-se que as punições ainda continuaram severas e

cruéis.

[...] era contida nos 143 títulos do Livro V das Ordenações

Filipinas, promulgadas por Filipe II, em 1603. Orientava-se no

sentido de uma ampla e generalizada criminalização, com severas

punições. [...] Não se adotava o princípio da legalidade, ficando ao

arbítrio do julgador a escolha da sanção aplicável. Esta rigorosa

legislação regeu a vida brasileira por mais de dois séculos. O

código Filipino foi ratificado em 1643 por D. João IV e em 1823 por

D. Pedro I48.

No mesmo sentido, Dotti49 leciona:

O regime era fantástico e terrorista como se verifica pela enorme

variedade dos tipos de autores, das infrações e do arsenal

punitivo: hereges, apóstatas, feiticeiros, blasfemos (contra Deus

ou contra os santos), benzedores de cães e outros bichos sem

autorização do Rei; sodomia, o infiel que dormisse com alguma

cristã e o cristão que dormisse com infiel; entrada em mosteiro ou

retirada de freira “ou dorme com ella, ou a recolhe em casa”;

vestir-se o homem com trajes de mulher ou a mulher com trajes

de homem dos que trazem máscaras [...].

Consoante a obra de Magalhães Noronha50, na vigência das

Ordenações Filipinas havia muitas desigualdades entre as classes quanto aos

crimes cometidos. Determinava-se que o juiz deveria aplicar a pena caso a caso,

isto é, a injustiça era predominante, pois as pessoas com maiores condições

aquisitivas eram punidas com multa e os mais humildes com penas mais severas.

48 BITENCOURT, Cezar Roberto. Tratado de direito penal, 2006, p. 57. 49 DOTTI, René Ariel. Bases e alternativas para o sistema de penas, 1998, p. 45. 50 NORONHA, E. Magalhães. Direito Penal: Parte geral. 34 ed. São Paulo: Saraiva, vol. 1, 1999, p. 56.

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Consagravam amplamente as Ordenações a desigualdade de

classes perante o crime, devendo o juiz aplicar a pena segundo a

graveza do caso e a qualidade da pessoa: os nobres, em regra,

eram punidos com multa; aos peões ficavam reservados os

castigos mais pesados e humilhantes [...]. Foi o Código de mais

longa vigência entre nós: regeu-se de 1603 a 1830, isto é, mais de

duzentos anos.

Dotti51 nos ensina que, nesta fase, a execução da pena

poderia ser procedida de três formas: pela morte cruel consistente em meios de

suplícios, pela morte atroz sem que o delinqüente tivesse direito aos rituais, ou

pela morte simples, que era a perda dos direitos de cidadania. Esta última

modalidade, às vezes, vinha cominada com outros tipos de pena.

A grande maioria dos delitos era combatida através de sanção

capital, cujas execuções se procediam de três formas: 1.ª – morte

cruel (a vida era lentamente tirada em meio aos suplícios); 2.ª –

morte atroz (a eliminação era agravada com especiais

circunstâncias, como a queima do cadáver, o esquartejamento

etc.); 3.ª – morte simples (limitada à supressão da vida sem rituais

diversos e aplicada através de degolação ou do enforcamento,

modalidade esta reservada às classes inferiores por traduzir a

infamação). A morte civil era a perda dos direitos de cidadania.

Aparecia como previsão autônoma para algumas infrações ou

como pena acessória de outras cominações como a deportação, a

relegação ou a prisão perpétua.

1.2.4 Período Imperial

Nota-se que desde aquela época, com a promulgação da

Constituição de 1824, havia a idéia de uma reforma nas cadeias objetivando as

condições dignas para o delinqüente como higiene e segurança nas celas, a fim

de que o detento ao cumprir a pena pudesse se ressocializar. A carta magna

também deu ênfase aos direitos individuais do cidadão, onde seria necessária a

51 DOTTI, René Ariel. Bases e alternativas para o sistema de penas, 1998, p.46.

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formulação de um novo Código Penal que atendesse aos princípios

constitucionais com a abolição das penas cruéis52.

Por fim, o mesmo autor acima mencionado explicou que o

Código Criminal do Império foi sancionado em 1830, por D. Pedro I, cujo foco

central era a extinção da pena de morte para alguns delitos, e a inserção da pena

privativa de liberdade, a qual deixava de ser apenas um meio para assegurar a

aplicação do julgamento.

Em 16.12.1830 foi sancionado pelo Imperador D. Pedro I o Código

Criminal do Império do Brasil. [...] O movimento do sistema

criminal teve como característica básica no quadro das sanções a

redução das hipóteses da pena de morte, a eliminação da

crueldade de sua execução, bem como a supressão das penas

infames, exceto a de açoites, aplicada aos escravos. [...] A

privação da liberdade passaria a ser uma autêntica e própria

sanção penal para substituir as penas corporais, de largo espectro

nas ordenações. E assim ocorreu também no Código Penal

português de 1825 como em tantos outros sistemas fundados na

doutrina do Iluminismo53.

Mirabete54 acrescenta que o referido Código Criminal foi o

único diploma legal que teve a iniciativa do Poder Legislativo, que fora elaborado

pelo Congresso. As peculiaridades baseavam-se na implantação das

circunstâncias atenuantes e agravantes dos crimes, bem como o julgamento

especial para menores de 14 anos.

Bitencourt55 entende que o Código Criminal de 1830 foi um

dos melhores, devido a sua utilidade e adaptação ao caso concreto, destacando-

se que trouxe como noção para o ordenamento jurídico o sistema de dias-multa.

Tanto foi que influenciou fortemente a elaboração do Código Penal Espanhol, de

1848 e Português, de 1852.

52 DOTTI, René Ariel. Bases e alternativas para o sistema de penas, 1998, p. 50. 53 Ibidem. 1998, p. 51-53. 54 MIRABETE, Julio Fabbrini. Manual de direito penal, 2002, p. 43. 55 BITENCOURT, Cezar Roberto. Tratado de direito penal, 2006, p. 58.

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1.2.5 Período Republicano

Com a proclamação da República, que se deu em 1889,

somado com a abolição da escravidão, verificou-se a necessidade da elaboração

de um novo Código Penal devido à existência de lacunas no que tange à

tipicidade das condutas56.

Em 1890, foi criado um novo diploma penal, o qual implantou

algumas modalidades para as penas privativas de liberdade. Além disso, também

foi estipulado, pela primeira vez, que a segregação não poderia ultrapassar trinta

anos, e que os condenados deveriam ser adaptados ao trabalho de acordo com

suas aptidões.

O Código de 1890 previa as seguintes modalidades de penas

privativas de liberdade: a) prisão celular, aplicável, para quase

todos os crimes e algumas contravenções, constituindo a base do

sistema penitenciário. Caracterizava-se pelo isolamento celular

com obrigação de trabalho, a ser cumprida “em estabelecimento

especial” (art. 45); b) reclusão, executada em fortalezas, praças

de guerra ou estabelecimentos militares (art. 47); c) prisão com

trabalho obrigatório, cominada para os vadios e capoeiras a serem

recolhidos às penitenciárias agrícolas para tal fim destinadas ou

aos presídios militares (art. 48); d) prisão disciplinar destinada aos

menores até a idade de 21 anos, para ser executada em

estabelecimentos industriais especiais (art. 49). [...] a privação da

liberdade individual não poderia exceder de trinta anos (art. 41).

[...] A preocupação em se individualizar a execução da pena de

prisão era demonstrada na regra do art. 53, segundo a qual os

condenados deveriam ter, nos estabelecimentos onde cumpriam a

sanção, trabalho adequado às suas habilitações ou ocupações

anteriores57.

Contudo, este ordenamento jurídico de 1890 foi alvo de

fortes críticas pelas lacunas que apresentava devido à ligeireza com que foi

elaborado. Nesta etapa, denota-se, principalmente, a completa abolição da pena

56 DOTTI, René Ariel. Bases e alternativas para o sistema de penas, 1998, p. 54. 57 DOTTI, René Ariel. Bases e alternativas para o sistema de penas, 1998, p. 55-56.

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de morte, assim como a implantação de um regime prisional de cunho

correcional58.

1.2.6 Código Penal de 1940 – O nosso atual ordenamento jurídico

Este diploma surgiu através do projeto de Alcântara

Machado que fora elaborado em meados de 1938 e submetido a uma comissão

revisora. Destaca Mirabete que o Código Penal sancionado em 1942 foi

aprimorado com sustentáculo nas legislações suíças e italianas, especialmente

porque eram consideradas as mais modernas de todos os tempos.

Para o autor Falconi59, o Código Penal de 1940 incluiu a

subdivisão das penas em reclusão, detenção e multa, que se resume na perda da

função pública e publicação das sentenças. Observa-se que, além das

subdivisões das penas, surgiu o sistema progressivo, estribando-se no

isolamento, trabalho, remoção para a colônia agrícola e livramento condicional,

como uma forma de execução penal. Esse código foi respeitado por outros

países, devido ao seu alto nível de modernismo, tendência que tinha quanto à

nitidez nos seus conceitos, tipificações, assim como dos regimes prisionais.

No entendimento de Teles60, a privação da liberdade, que

até então era desconhecida pela população, passou a ser uma pena principal,

inserindo em nosso ordenamento a prisão simples para as contravenções, a

reclusão e detenção para os crimes, e a medida de segurança para os incapazes

e perigosos, orientando-se pelos princípios das escolas clássica e positiva

concomitantemente.

Em meados da década de 40, surgiu a necessidade de criar

leis que viessem a restringir o poder sancionador do Estado. Em razão disso,

foram editadas muitas leis ao decorrer dos anos, todavia o doutrinador Dotti61

mencionou a Lei 3.274 como uma das mais importantes, a qual disciplinava as

regras do regime carcerário através da individualização da pena, defendendo a

58 MIRABETE, Julio Fabbrini. Manual de direito penal, 2002, p. 43. 59 FALCONI, Romeu. Sistema presidial: reinserção social?. São Paulo. Íncone, 1998, p. 65. 60 TELES, Ney Moura. Direito penal: parte geral. 2 ed. São Paulo: Atlas, 1998, p. 51.

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separação dos presos provisórios e condenados, a realização de trabalho com

remuneração, a educação, assistência social no processo de cumprimento da

pena.

Observa-se que na década de 60, os juristas estavam

descontentes com a legislação até então vigente, motivo pelo qual o Ministro

Nélson Hungria, através de projeto de sua autoria, ensejou uma nova reforma ao

Código Penal com amparo aos valores fundamentais do homem e da

comunidade. Porém, desta vez as alterações eram relativas à execução da pena

privativa de liberdade em estabelecimentos penais apropriados para cada tipo de

sanção que o condenado viesse a sofrer. Implantou, também, o regime aberto,

aplicável apenas para condenados a pena inferior a cinco anos, assim como

deveria ponderar os critérios subjetivos do acusado como sua primariedade,

personalidade e conduta social62.

Dotti63 vê o Código Penal de 1969, como uma das inúmeras

tentativas de melhorar a legislação penal, entretanto não chegou sequer a entrar

em vigor em nosso ordenamento jurídico devido aos grandes embaraços

morosos, tendo sido revogado pela Lei 6.578/78. O suposto diploma legal, em

resumo, materializava-se somente para segregação dos delinqüentes

considerados perigosos.

Com o passar das décadas, observou-se que o sistema

carcerário encontrava-se com grandes problemas, dentre os principais a

superlotação dos presídios, e os mandados de prisão encontravam-se sem o

devido cumprimento em razão da falta de espaço nos estabelecimentos prisionais

para abrigar todos os meliantes64. Nota-se que o dilema da falta de infra-estrutura

e de investimento nesta área que já começou a aparecer na década de 80,

perdura até os dias atuais.

Salienta-se que a lei de nº 7.209, promulgada em 1984,

trouxe algumas novidades ao Código Penal, como o repúdio à pena de morte,

61 DOTTI, René Ariel. Bases e alternativas para o sistema de penas, 1998, p. 71. 62 Ibidem. 1998, p. 72-73. 63 Ibidem. 1998, p. 72-83.

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novas penas quanto aos delitos contra o patrimônio, mantendo-se a pena

privativa de liberdade, em suas modalidades de reclusão e detenção65.

Acrescenta o doutrinador Teles66 que a lei acima declinada

objetivou também a implantação de uma nova sistemática quanto à execução da

pena, como a progressão de regime, a aplicabilidade da regressão de regime por

falta grave, e as modalidades de substituição da pena pelas “restritivas de

direitos”. Mencionou que a lei 7.210, também promulgada na mesma data, deu

total modificação aos regramentos da execução penal, lei que, até hoje vigente,

tem grande eficácia e contribuição no processo ressocializador.

Observa-se que em 1995 sobreveio a Lei 9.099/95 que

transmitiu um novo tratamento para as infrações de menor potencial ofensivo,

mais precisamente para as contravenções penais e crimes cuja pena máxima não

ultrapassasse a um ano (atualmente dois anos). A promulgação desta lei

pretendia a celeridade dos processos no Poder Judiciário, estribando-se nos

benefícios da transação penal e suspensão condicional do processo, os quais

restaram amplamente admitidos na justiça criminal67.

Por conseguinte, verificou-se que a evolução da pena em

nosso país, em seus primórdios, passou por condições desumanas e totalmente

injustas, especialmente porque a prisão era desconhecida. Contudo, com o

decorrer das décadas, buscou-se ampliar o ordenamento jurídico, enquadrando

as várias condutas que se entendia por serem ilegais, tipificando-as em lei.

Por outro lado, foi demonstrada a evolução dos

pensamentos dos cidadãos quanto à urgente necessidade de transformar o

objetivo da pena, que até então era meramente de caráter repressivo. O povo

percebeu que era essencial a ressocialização do réu, pois sabia que um dia ele

seria posto em liberdade, e que ao chegar o momento, precisaria que este

estivesse preparado para os ditames da vida comum. No entanto, ainda que

estejamos na perquirição da melhor modalidade para ressocializá-lo, não

64 TELES, Ney Moura. Direito penal, 1998, p. 52. 65 DOTTI, René Ariel. Bases e alternativas para o sistema de penas, 1998. p. 93-100. 66 TELES, Ney Moura. Direito penal, 1998. p. 52.

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podemos sequer fingir que não existem problemas, visto que estamos diante da

caótica situação carcerária, na sua deficiência estrutural que está obstruindo o

objetivo comum.

1.3 SISTEMAS PENITENCIÁRIOS E TEORIAS DA PENA

É sabido que diante do surgimento das penas e das prisões,

sobrevieram três sistemas penitenciários para a execução da pena privativa de

liberdade68, quais sejam, o Pensilvânico, o Auburn e o Progressivo.

1.3.1 Sistema Pensilvânico ou Celular

Foi construído em 1776, em Walnut Street Jail, na

Pensilvânia, o qual foi iniciado pela influência dos cidadãos da Filadélfia que

objetivavam a reforma das prisões.

Explica o mesmo autor que o sistema em estudo focalizava

o isolamento dos presos em celas, oração e abstinência total de bebidas

alcoólicas69.

Muakad70 acrescenta que:

o sentenciado permanecia em isolamento constante, sem trabalho

ou visitas, permitindo-se, quando muito, passeios isolados pelo

pátrio celular e leitura da Bíblia como estímulo arrependimento. O

trabalho era proibido, para que a energia e todo o tempo do preso

fossem utilizados na instrução escolástica e serviços religiosos,

acreditando ser esta a forma mais fácil de domínio sobre os

criminosos.

67 DOTTI, René Ariel. Bases e alternativas para o sistema de penas, 1998, p. 94. 68 MUAKAD, Irene Batista. Pena Privativa de Liberdade. São Paulo: Atlas, 1996, p. 43. 69 BITENCOURT, Cezar Roberto. Tratado de Direito Penal, 2007, p. 126, apud Dario Melossi e Massimo Pavarini, Cárcel y fábrica – los orígenes del sistema penitenciário, 2 ed, México, 1985, p. 168. 70 MUAKAD, Irene Batista. Pena Privativa de Liberdade, 1996, p. 43-44.

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Frisa-se que esse sistema foi duramente criticado diante da

severidade e à impossibilidade de readaptação social do condenado por meio do

isolamento71.

Ademais, o referido sistema não prosperou devido a dois

motivos: crescimento da população carcerária, impossibilitando dessa forma, a

segregação do preso sem a comunicação com os demais, e a ineficiência das

regras atribuídas aos detentos, já que não estava em conformidade com os

objetivos da pena72.

1.3.2 Sistema de Auburniano

Este sistema surgiu em meados de 1818 na cidade de

Auburn, nos Estados Unidos. Elam Lyns como um dos dirigentes do sistema,

aplicou-o em 80 celas, disciplinando que, inicialmente, os presos poderiam

trabalhar em celas, passando posteriormente, a fazê-lo em grupos, impondo-se,

porém, a regra do silêncio, o que na prática acabou não funcionando. Esse

mesmo dirigente acabou com o isolamento absoluto, determinando-se a

obrigação ao trabalho dos presos durante o dia e a segregação noturna, a fim de

evitar a corrupção moral dos costumes73.

No entanto, Foucault74 posiciona-se da seguinte forma no

que tange ao sistema em análise:

Este jogo de isolamento, de reunião sem comunicação e da lei

garantida por um controle ininterrupto deve readaptar o criminoso

como indivíduo social: educa-o para a atividade útil e resignada, e

lhe restitui alguns hábitos de sociedade.

O sistema foi intensamente censurado pela população em

face da aplicação dos castigos cruéis e excessivos. Esses castigos refletiam na

exacerbação do desejo de impor um controle estrito, uma obediência irreflexiva

71 MIRABETE, Julio Fabbrini. Manual de Direito Penal, 2002, p. 250. 72 BITENCOURT, Cezar Roberto. Tratado de Direito Penal, 2007, p. 126. 73 MUAKAD, Irene Batista. Pena Privativa de Liberdade, 1996, p. 45.

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por parte do Estado. No entanto, considerava-se justificável esse castigo,

porquanto acreditava-se que propiciaria a recuperação do delinqüente75.

Contra os sistemas Pensilvânico e Auburniano insurgiram os

autores Ferri e Roeder, ponderando-se pela urgente necessidade de modificar o

regime vigente, haja vista que aquele pretendia a ressocialização do delinqüente

pelo arrependimento através da reflexão de seus atos, ao passo que este apenas

obrigava o apenado ao trabalho e isolamento. Constatou-se que em ambos os

sistemas eram proibidas as visitas, o lazer e a atividade física, demonstrando,

dessa forma, o descaso com a aprendizagem e profissionalização do condenado.

Giza-se que o sistema filadélfico predominou na Europa, enquanto o Auburniano,

nos Estados Unidos76.

1.3.3 Sistema Progressivo

O regime progressivo significou um avanço penitenciário, já

que deu importância à própria vontade do recluso por meio de privilégios que ele

poderia usufruir de acordo com sua boa conduta social. Além de diminuir

significativamente o rigorismo na aplicação da pena privativa de liberdade,

possibilitou a ressocialização do condenado77.

Já a autora Irene78 leciona que a origem desse sistema deu-

se através de Maconochie, possibilitando ao detento a redução da pena privativa

de liberdade irrogada por ocasião da sentença condenatória. Acrescenta,

também, que Crofton completou o sistema com uma série de estágios de

progressividade, fazendo com que o preso cumprisse sua pena em regime de

meia-liberdade e, após, o livramento final sob vigilância.

Nesse sentido, o autor Fernandes79 explicita:

74 BITENCOUT, Cezar Roberto. Tratado de Direito Penal, 2007, p. 128, apud Michel Foucault, Vigilar y castigar, cit., p. 241. 75 BITENCOURT, Cezar Roberto. Tratado de Direito Penal, 2007, p. 129. 76 OLIVEIRA, Odete Maria de. Prisão: Um paradoxo social, 1984, p. 40-42. 77 BITENCOURT, Cezar Roberto. Tratado de Direito Penal, 2007, p. 130-131. 78 MUAKAD, Irene Batista. Pena Privativa de Liberdade, 1996, p. 53. 79 FERNANDES, Newton; FERNANDES, Valter. Criminologia Integrada. 2. ed. Ver. Atual e ampl. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2002, p. 663.

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Mais brando que os regimes Pensilvânico e Auburniano é o

sistema penitenciário progressivo, que tende a tornar a vida

prisional cada vez menos rigorosa, à medida que a sentença se

aproxima de seu término. Inicialmente, foi adotado nas prisões da

Irlanda. Nesse sistema, tudo fica condicionado ao binômio

conduta-trabalho. Compreende 4 etapas: período inicial ou de

prova, com prazo indeterminado, em que o condenado fica

enclausurado na cela; período de encarceramento noturno

combinado com trabalho coletivo durante o dia; trabalho em semi-

liberdade, extramuros; liberdade condicional sob fiscalização.

Este sistema foi o que mais contribuiu para a readaptação

do segregado à liberdade, estimulando-o à boa conduta social e a adequação ao

regime aplicável para que assim pudesse se livrar, o quanto antes, da punição

que lhe havia sido irrogada.

1.3.4 Teoria Absoluta ou Retributiva Da Pena

Para Mirabete80 as teorias absolutas têm a pena como uma

espécie de exigência de justiça, devendo-se aplicar a punição para aquele que

cometeu o crime.

Para o doutrinador Bitencourt81, a teoria em discussão nada

mais é do que o reconhecimento do Estado como guardião da justiça terrena e

como conjunto de idéias morais, na fé, na capacidade do homem para se

autodeterminar e na idéia de que a missão do Estado perante os cidadãos deve

limitar-se à proteção da liberdade individual.

Já Monteiro de Barros82 acrescenta que de acordo com essa

teoria a pena não tem qualquer finalidade prática, uma vez que não visa à

recuperação social do criminoso, que é punido simplesmente porque cometeu o

crime.

80 MIRABETE, Julio Fabbrini. Manual de Direito Penal, 2002, p. 244. 81 BITENCOURT, Cezar Roberto. Tratado de Direito Penal, 2007, p. 83. 82 BARROS, Flávio Augusto Monteiro de. Direito Penal, 2004, p. 434.

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Destacam-se os filósofos Kant e Hegel como sustentadores

dessas teses absolutistas, contudo são divergentes no que toca à fundamentação

da teoria, pois enquanto este dá ênfase para uma ordem ética, aquele busca a

fundamentação da tese em uma ordem jurídica.

O filósofo Kant ensina que o agente deve ser punido

somente porque cometeu o delito, não se levando em consideração quanto à

utilidade da aplicação da pena para ele ou para a sociedade, ou seja,

desconsiderava qualquer espécie de repressão ao crime para a população local

ou preventiva para o réu83.

Enquanto isso, Hegel defendia que a imposição da pena

implica no restabelecimento da ordem jurídica que restou quebrada pela violação

da norma penal pelo delinqüente. Na opinião do renomado filósofo, somente

através da aplicação da sanção penal poderia o delinqüente ser considerado um

ser racional e livre84.

1.3.5 Teoria Relativa ou Preventiva Da Pena

O escólio de Odete Maria de Oliveira acerca da teoria

relativista é no sentido que a pena deve ser aplicada por ser útil e necessária à

segurança da sociedade e à defesa social. O delito já não é mais fundamento da

pena, mas seu pressuposto. Não se castiga porque pecou, mas para que não

peque. Explica, ainda, que a pena se impõe porque é eficaz e deve ser levada em

conta pelos seus resultados prováveis e seus efeitos político-social utilitários85.

Na mesma linha de pensamento, o autor Jorge Vicente

entende que a teoria relativa detém cunho exclusivamente preventivo,

enaltecendo que a segregação seria uma forma de proteção à sociedade, além da

oportunidade de ressocializar o criminoso86.

83 BITENCOURT, Cezar Roberto. Tratado de Direito Penal, 2007, p. 84-85. 84 Ibidem. 2007, p. 86-87. 85 OLIVEIRA, Odete Maria de. Prisão: um paradoxo social, 1984, p. 64. 86 SILVA, Jorge Vicente. Execução Penal. 2 ed. Juruá, 2002, p. 12.

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No mesmo rumo, o autor Cezar Roberto Bitencourt87, em

sua obra “Falência da Pena de Prisão”, enfatiza o objetivo dessa teoria, qual seja,

a inibição tanto quanto possível à prática de novos fatos delitivos, e não mais a

idéia de que a pena serve simplesmente para realizar justiça como anteriormente

visto na teoria absolutista.

Destaca-se que a função preventiva da pena divide-se em

duas direções bem definidas: prevenção geral e especial, as quais foram

atribuídas por Feuerbach.

1.3.5.1 Prevenção Geral

A teoria da coação psicológica, idealizada por Feuerbach,

sustentava a exterminação da criminalidade por meio da cominação traduzida

pela ameaça da pena e da aplicação dela, quando houvesse transgressão da lei

penal. No entendimento do idealizador, esse foi o caminho que encontrou para

provocar receios quanto da prática de novos crimes e por isso, chamado de

coação psicológica88.

No mesmo norte, Flávio Augusto Monteiro de Barros89

explica:

A prevenção geral atua antes mesmo da prática de qualquer

infração penal, pois a simples cominação da pena conscientiza a

coletividade do valor que o direito atribui ao bem jurídico tutelado.

As idéias preventivas foram influenciadas pelo Iluminismo,

sob o enfoque de que o castigo não serve para a repressão à criminalidade, mas

sim sob a psique humana já que com o seu livre-arbítrio poderá analisar as

vantagens e desvantagens do cometimento do delito, podendo, se for o caso,

desistir de seguir adiante90.

87 BITENCOURT, Cezar Roberto. Tratado de Direito Penal, 2007, p. 121. 88 Ibidem. 2007, p. 89. 89 BARROS, Flávio Augusto Monteiro de. Direito Penal, 2004, p. 435. 90 BITENCOURT, Cezar Roberto. Tratado de Direito Penal, 2007, p. 90.

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1.3.5.2 Prevenção Especial

A prevenção especial detém caráter retributivo, pois atua

durante as fases de imposição e da execução da pena91.

Segundo Bitencourt92, essa prevenção visa com que o

indivíduo que já delinqüiu não volte mais a fazê-lo, pois aqui se busca a

ressocialização do delinqüente, com a sua futura reinserção à sociedade.

Leal destaca93:

É possível que a ameaça de uma pena possa evitar que muitos

indivíduos venham a praticar crimes. Essa eficácia preventiva no

entanto, somente funciona em relação aos indivíduos que se

encontrem integrados na sociedade, para os quais a prática de um

crime representaria apenas um episódio ocasional. Para os

marginalizados, injustiçados e infratores habituais, é lógico que a

função preventiva da sanção criminal torna-se praticamente

inócua.

A prevenção especial trouxe ao nosso ordenamento jurídico

uma nova concepção quanto à função punitiva da pena, na qual o Estado que

aplica a sanção penal passou a tomar cautelas na aplicação dessa sanção,

atentando-se ao caráter mais humanista da pena.

O doutrinador Damásio94 diferencia as duas prevenções,

destacando que a geral visa a impedir que os membros da sociedade pratiquem

crimes, ao passo que na especial foca a ressocialização somente (especialmente)

para aquele delinqüente que cometeu o crime.

Desse modo, verifica-se que o caráter da pena está, em

muito prejudicado em razão da caótica situação estrutural dos presídios e

penitenciárias brasileiras, pois os presos, amontoados em verdadeiros depósitos

de “lixo” humano, sentem-se não somente castigados, mas também humilhados

91 BARROS, Flávio Augusto Monteiro de. Direito Penal, 2004, p. 435. 92 BITENCOURT, Cezar Roberto. Tratado de Direito Penal, 2007, p. 91. 93 LEAL, João José. Direito Penal Geral. São Paulo. Editora: Atlas, 1998, p. 317. 94 JESUS, Damásio Evangelista de. Direito Penal, 2003, p. 519.

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em razão do desprezo à sua dignidade mínima como ser humano. Esse

sentimento, é sabido, é um dos fomentadores da reincidência.

1.3.6 Teoria Mista ou Unificadora Da Pena

Segundo o entendimento de Fernando Capez, “a pena tem a

dupla função de punir o criminoso e prevenir a prática do crime, pela reeducação

e pela intimidação coletiva”.

Ensina Bitencourt95:

Em resumo, as teorias unificadoras aceitam a retribuição e o

princípio da culpabilidade como critérios limitadores da

intervenção da pena como sanção jurídico-penal. A pena não

pode, pois, ir além da responsabilidade decorrente do fato

praticado.

Após, o mesmo autor cita96:

Inicialmente essas teorias unificadoras limitaram-se a justapor os

fins preventivos, especiais e gerais, da pena, reproduzindo, assim,

as insuficiências das concepções monistas da pena.

Posteriormente, em uma segunda etapa, a atenção da doutrina

jurídico-penal fixa-se na procura de outras construções que

permitam unificar os fins preventivos gerais e especiais a partir

dos diversos estágios da norma (cominação, aplicação e

execução). Enfim, essas teorias centralizam o fim do Direito Penal

na idéia de prevenção. A retribuição, em suas bases teóricas, seja

através da culpabilidade ou da proporcionalidade (ou de ambas ao

mesmo tempo), desempenha um papel apenas limitador (máximo

e mínimo) das exigências de prevenção.

Para o autor José Vicente da Silva, “a sanção penal por sua

própria natureza é castigar o infrator pelo mal praticado, porém tem a finalidade,

também, de prevenir educando e corrigindo-o”.

95 BITENCOURT, Cezar Roberto. Tratado de Direito Penal, 2007, p. 96. 96 BITENCOURT, Cezar Roberto. Tratado de Direito Penal, 2007, p. 96, apud Quintero Olivares, Curso de Derecho Penal, p. 129.

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33

Observa-se que as teorias mistas/unificadoras tentam

associar em um único conceito a finalidade da pena, sendo de cunho correcional

e, ao mesmo tempo, ressocializar. Por conseguinte. Essa é a teoria adotada pelo

Brasil.

Após resumida a explanação da origem e histórico da pena

privativa de liberdade, explanar-se-á, no próximo capítulo, os regimentos que

envolvem esse tipo de pena no direito brasileiro, assim como os princípios a ela

inerentes.

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CAPÍTULO 2

PREVISÃO LEGAL RELATIVA ÀS CONDIÇÕES DE CUMPRIMENTO DA PENA PRIVATIVA DE LIBERDADE E A

REALIDADE BRASILEIRA

Superada a etapa histórica e conceitual da pena, adentra-se

ao estudo das principais normas do ordenamento jurídico que disciplinam a

execução da pena, em especial os benefícios compatíveis com o processo de

individualização do preso.

2.1 LEGISLAÇÃO PÁTRIA E ESPÉCIES DA PENA

2.1.1 Classificação das penas segundo a CRFB/88 e Código Penal

O inciso XLVI do art. 5º da Constituição da República

Federativa do Brasil disciplina as modalidades da pena prevendo que “a Lei

regulará a individualização da pena e adotará, entre outras, as seguintes: a)

privação ou restrição de liberdade; b) perda de bens; c) multa; d) prestação social

alternativa; e) suspensão ou interdição de direitos”.

Já o Código Penal por intermédio do art. 32 elege os tipos

de penas em “I – privativas de liberdade; II – restritivas de direitos; III – de multa”.

O escólio de Barros97 é pertinente à diferenciação da pena

privativa de liberdade da restritiva de liberdade:

Pena privativa de liberdade: é a que limita o poder de locomoção

do condenado, mediante prisão. Admite-se a privação temporária

da liberdade, pois o tempo máximo de prisão é de trinta anos,

para crime, e de cinco, para contravenção (art. 75 do CP e art. 10

da LCP). [...] Pena restritiva de liberdade: é a que limita o poder de

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locomoção do condenado, sem submetê-lo a prisão. Exemplos:

banimento (expulsão do brasileiro do território nacional); desterro

(expulsão da comarca da vítima); degredo ou confinamento

(fixação da residência em local determinado pela sentença [...].

Quanto às penas restritivas de direitos é importante salientar

que estão regulamentadas através do art. 43 do Código Penal, podendo ser

classificadas em: prestação pecuniária; perda de bens e valores; prestação de

serviços à comunidade ou entidades públicas; interdição temporária de direitos;

ou limitação de fim de semana. Acrescenta Eugênio Raúl Zaffaroni que esta

modalidade de pena tem a mesma duração da pena privativa de liberdade

substituída98.

Mirabete99 leciona que a pena de multa nada mais é do que

o pagamento ao fundo penitenciário da quantia fixada na sentença e calculada em

dias-multa, sendo no mínimo, de 10 e, no máximo, de 360 dias-multa (art. 49, do

Código Penal).

Sobre a pena de perda de bens e valores Bitencourt100

menciona:

A outra nova pena, “restritiva de direitos”, é a perda de bens e

valores pertinentes ao condenado, em favor do Fundo

Penitenciário Nacional, considerando-se – como teto – o prejuízo

causado pela infração penal ou o proveito obtido pelo agente ou

por terceiro (aquele que for mais elevado) (art. 45, §3º). Trata-se,

na verdade, da odiosa pena de confisco, que, de há muito, foi

proscrita do Direito Penal moderno.

Cabe ressaltar que a pena privativa de liberdade é

conceituada por Monteiro de Barros na seguinte condição: “a que restringe o

direito de ir e vir do condenado, infringindo-lhe um determinado tipo de prisão”101.

97 BARROS, Flávio Augusto Monteiro de. Direito penal. 2004, p. 438. 98 ZAFFARONI, Eugênio Raúl. Direito Penal Brasileiro: Parte Geral. 5 ed. Ver. e atual. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2004, p. 765. 99 MIRABETE, Júlio Fabbrini. Manual de direito penal, 2002, p. 284. 100BINTENCOURT, Cezar Roberto. Tratado de Direito Penal, 2007, p. 489. 101 BARROS, Flávio Augusto Monteiro de. Direito penal: parte geral, 2004, p. 439.

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36

Em face da vasta possibilidade de argumentação das

espécies de penas atribuídas pelo nosso ordenamento jurídico, dedica-se este

Capítulo, especificamente, às penas privativas de liberdade.

2.1.2 Reclusão e Detenção

As penas de reclusão e detenção já vêm descritas nos

próprios artigos do Código Penal.

Art. 33. A pena de reclusão deve ser cumprida em regime

fechado, semi-aberto, ou aberto. A de detenção, em regime semi-

aberto, ou aberto, salvo necessidade de transferência a regime

fechado.

Em que pese a pena de prisão simples não esteja

disciplinada no Código Penal, é certo afirmar que a Lei de Contravenções Penais

a trouxe para o ordenamento jurídico, mormente para regulamentar o tipo de

sanção quando a prática da infração for cometida no âmbito dessa lei.

A pena de reclusão poderá ser cumprida em regime fechado

(art. 34), semi-aberto (art. 35) ou aberto (art. 36), portanto evidencia-se que nem

sempre a pena iniciará em regime fechado, dependerá da análise dos requisitos

previstos no §2º, do art. 33, do Código Penal.

Com relação à pena de detenção, esta deverá ser cumprida

em regime semi-aberto ou aberto, ou seja, nunca será iniciada em regime

fechado, salvo em caso de regressão102 de regime.

Art. 33. A pena de reclusão deve ser cumprida em regime

fechado, semi-aberto ou aberto. A de detenção, em regime semi-

aberto, ou aberto, salvo necessidade de transferência para o

regime fechado.

102 Haverá a regressão de regime quando o apenado cometer algum fato definido em lei como falta grave, em conformidade com o que prescrevem os artigos 50 e 118 do Estatuto de Execução Penal.

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37

As regras para a aplicação do regime prisional na concepção

de Monteiro de Barros103 são as seguintes:

a) O reincidente sempre iniciará o cumprimento no regime

fechado, qualquer que seja a quantidade da pena a que tenha

sido condenado;

b) o não-reincidente condenado à pena superior a oito anos

deverá começar a cumpri-la no regime fechado;

c) o não-reincidente, cuja condenação seja superior a quatro anos

e não exceda a oito anos, poderá, desde o princípio, cumpri-la em

regime semi-aberto;

d) o não-reincidente condenado à pena igual ou inferior a quatro

anos poderá, desde o início, cumpri-la em regime aberto.

Porém, é possível que o condenado não-reincidente comece

o cumprimento de sua pena em regime fechado, pois o §3º do art. 33 do CP

expõe que: “a determinação do regime inicial de cumprimento da pena far-se-á

com observância dos critérios previstos no art. 59 deste Código”. Logo, o juiz

imbuído nas circunstâncias judiciais, e com motivação idônea poderá aplicá-lo,

com base na súmula 719 do STF.

2.1.3 Prisão Simples

A hipótese da prisão simples vem expressa no inciso I, do

art. 5º do Decreto-Lei nº 3.688, de 03 de outubro de 1941 (Lei das Contravenções

Penais).

É considerada uma pena privativa de liberdade, expressa e

exclusivamente cominada para as contravenções penais. Essa categoria

sancionatória é um dos critérios previstos no art. 1º da LICP para distinguir crime

de contravenção104.

103 BARROS, Flávio Augusto Monteiro de. Direito penal, 2004, p. 441. 104 DOTTI, René Ariel. Curso de Direito Penal: parte geral. Rio de Janeiro: Forense, 2005, p. 451.

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Observa-se que a pena de prisão simples é tipificada em lei

especial e só é utilizada para alguns crimes previstos por aquelas leis. Em que

pese não esteja prevista no Código Penal, é também uma modalidade

enquadrada como pena privativa de liberdade.

Considerando tudo o que fora destacado sobre a reclusão, a

detenção e a prisão simples, percebemos que essas espécies de penas nos dão

os regimes penitenciários para o caso concreto, a qual detém grande influência na

ressocialização do condenado. Portanto, agora é necessário explanar a

individualidade de cada tipo de regime prisional, fazendo-se na seqüência que

segue.

2.2 REGIMES PENITENCIÁRIOS

Destaca-se que os regimes prisionais são regulamentados

pelo art. 33, do CP, observando que a aplicação do regime prisional deverá ser

fixado com observância aos critérios do art. 59 do Código Penal.

O nosso diploma penal adota o sistema progressivo,

prevendo três regimes para o cumprimento da sanção penal: aberto, semi-aberto

e fechado. O apenado que começa a execução da pena em regime fechado,

poderá progredir para o semi-aberto e, em seguida, para o aberto, até que

obtenha a liberdade completa, se demonstrar que está apto à recuperação moral

e social105.

Segundo o art. 33, §1º do Código Penal, considera-se:

a) regime fechado a execução da pena em estabelecimento de

segurança máxima ou média;

b) regime semi-aberto a execução da pena em colônia agrícola,

industrial ou estabelecimento similar;

c) regime aberto a execução da pena em casa de albergado ou

estabelecimento adequado.

105 LEAL, João José. Direito Penal Geral, 2004, p. 328.

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Os regimes são determinados fundamentalmente pela

espécie e quantidade da pena, assim como pela reincidência, aliadas ao mérito

do condenado, em um autêntico sistema progressivo.

2.2.1 Regime Fechado

O regime fechado consiste no cumprimento da pena em

estabelecimento de segurança máxima ou média, quais sejam, a penitenciária

(art. 87, da Lei de Execução Penal), as casas de detenção (art. 112, Dec.

13.412/79), os presídios (art. 116, do Dec. 13.412/79), ou mesmo cadeias

públicas, embora consideradas recolhimentos de presos provisórios.

O caput, do art. 34 do CP, determina a realização do exame

de criminológico no início do cumprimento da pena, o qual visa a classificar o

condenado, segundo os seus antecedentes e personalidade, para orientar a

individualização da execução penal (art. 5º, da LEP).

Giza-se que é o regime mais rigoroso para o cumprimento

da pena, sendo o condenado totalmente recolhido à prisão. Aqui ele estará

obrigado ao trabalho em comum dentro do estabelecimento penitenciário, na

conformidade de suas aptidões ou ocupações anteriores, desde que compatíveis

com a execução da pena. Nesse regime, o condenado, em tese, ficaria sujeito ao

isolamento durante o repouso noturno (art. 34, §1º, do CP), todavia sabemos que

é impossível o isolamento, já que é por todos conhecida a superlotação

carcerária106.

Conforme art. 88 da LEP, a pena em regime fechado será

cumprida em unidade celular individual, ambiente salubre e com áreas mínimas

de seis metros quadrados, situação que igualmente não se verifica aplicável na

prática do sistema penitenciário brasileiro.

106 BITENCOURT, Cezar Roberto. Tratado de Direito Penal, 2007, p. 446

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De fato, como bem frisou Bitencourt107, “os reclusos,

geralmente, vivem em cubículos, amontoados, nas piores condições possíveis,

dificultando a adequada vigilância e supervisão interna”.

[...] a clássica prisão fechada cria um ambiente adequado para a

existência de relações e comportamentos homossexuais. São

freqüentes as rivalidades étnicas ou grupos distintos. Todas essas

condições favorecem um elevado índice de conflitividade, razão

pela qual a maior parte dos motins carcerários se produz nas

prisões fechadas.

2.2.2 Regime Semi-aberto

Aplica-se aos condenados não reincidentes, cuja pena seja

superior a quatro anos e não exceda a oito (art. 33, §2º, alínea “b”, do CP). Nesse

regime, não há previsão para o isolamento durante o repouso noturno.

Deve ser cumprido em colônia agrícola, industrial ou similar,

alojando-se o condenado em compartimento coletivo, atentando-se para o limite

da capacidade máxima que atenda aos objetivos de individualização da pena

(arts. 91 e 92 da LEP). Nesse regime semi-aberto, o condenado fica sujeito a

trabalho comum durante o período diurno. O trabalho externo é admissível, bem

como a freqüência a cursos supletivos profissionalizantes, de instrução de

segundo grau ou superior (§2º do art. 35 do CP). O art. 92 da LEP, prevê que as

colônias contenham, facultativamente, compartimento coletivo para o alojamento

dos condenados108.

Quanto à obrigatoriedade do exame criminológico Capez109

leciona:

[...] exame criminológico: [...] Diante da indisfarçável contradição

entre o art. 35 do Código penal – que estabelece ser compulsório

107 BITENCOURT, Cezar Roberto. Falência da pena de prisão: causas e alternativas. 2 ed. São Paulo: Saraiva, 2001, p. 229 108 BARROS, Flávio Augusto Monteiro de. Direito penal, 2004, p. 444. 109 CAPEZ, Fernando. Curso de Direito Penal: parte geral: vol. 1. 5 ed. São Paulo: Saraiva, 2003, p. 336.

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e imprescindível o exame crimonológico para que o detento

ingresse no regime semi-aberto – e o parágrafo único do art. 8º da

Lei 7.210/84 – que dispõe, expressamente, ser facultativo tal

procedimento, ao usar o vocabulário “poderá” -, deve prevalecer a

regra da Lei de Execução Penal, que é posterior, dado que o

direito material sempre precede o formal;

Consoante o art. 120 e seguintes da LEP, quando o

condenado estiver gozando deste regime, poderá obter autorizações de saídas

temporárias.

O autor Rosa110 demonstra que os estabelecimentos penais

que os condenados estão cumprindo o regime semi-aberto são mais prósperos à

ressocialização.

[...] oferecem condições muito mais favoráveis à saúde física e

moral, bem como à readaptação do condenado. [...] o detento tem

mais contato com o mundo exterior; readquire mais facilmente

confiança em si mesmo e em suas possibilidades de levar, um dia,

uma via social normal.

Aqui se busca, gradativamente, o contato do apenado com o

mundo exterior através de saídas temporárias em datas comemorativas para que

possa visitar sua família, assim como há dentro da prisão espaço físico

determinando para que possam circular e manter contato com outros reclusos.

2.2.3 Regime Aberto

O objetivo do regime aberto é manter o condenado em

contato com a sua família e com a sociedade, permitindo que o mesmo leve uma

vida útil e prestante. Reside na responsabilidade e na auto-disciplina, pois só

permanecerá recolhido (em casa de albergado ou em estabelecimento adequado)

110 ROSA, Antônio José Miguel Feu. Execução Penal. São Paulo: Revista dos Tribunais, 1995, p. 223

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durante o repouso noturno e nos dias de folga111. Contudo, essa visão difundida

pelo doutrinador ora mencionado, está bem distante da realidade prisional.

A obtenção do trabalho é condição elementar e

imprescindível para a concessão do regime aberto, pois não se compreende que

o condenado seja beneficiado sem que disponha de trabalho. O trabalho é parte

integrante da ressocialização (art. 35, §2º, do CP)112.

Segundo Paulo Lúcio Nogueira113, os requisitos objetivos do

regime aberto são:

1) condenação não superior a quatro anos ou cumprimento pelo

menos de um sexto da pena quando ultrapassar aquele limite; 2)

obtenção de trabalho pelo condenado; 3) aceitação, pelo

condenado, do sistema de disciplina e das condições impostas

pelo juiz. Já os requisitos subjetivos do regime aberto são: 1)

ausência de periculosidade ou de reincidência em crime doloso

punido com pena privativa de liberdade; 2) compatibilidade do

condenado com o regime aberto.

Assim, podemos notar que a Lei de Execução Penal em

nosso ordenamento jurídico está em perfeita harmonia para a ressocialização do

condenado, o que fica bem distante da realidade do sistema prisional, visto que

as grandes maiorias dos estabelecimentos oferecem diversas deficiências

estruturais para o alcance do objetivo da execução penal em face da falta de

orçamentos públicos e projetos de investimento para a melhoria nas condições de

salubridade, educação, saúde e higiene dos estabelecimentos prisionais.

2.2.4 Regime Especial

Disciplinado no art. 37 do Código Penal, o regime especial é

para mulheres que cumprem pena em estabelecimento próprio, observando-se os

deveres e direitos inerentes à sua condição pessoal.

111 BITENCOURT, Cezar Roberto. Tratado de Direito Penal, 2007, p. 446. 112 NOGUEIRA, Paulo Lúcio. Comentários à Lei de Execução Penal. 3 ed. São Paulo: Saraiva, 1999, p. 183. 113 NOGUEIRA, Paulo Lúcio. Comentários à Lei de Execução Penal, 1999, p. 183.

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Costa Júnior114 ensina que:

Impõe os mesmos direitos e deveres: o trabalho durante o dia e o

isolamento noturno no regime fechado; ou ainda o trabalho

externo em obras públicas, nesse mesmo regime; o direito à

freqüência em cursos profissionalizantes ou de instrução de

segundo grau ou superior, no regime semi-aberto; o trabalho

externo desprovido de qualquer vigilância, no regime aberto; a

progressão ou regressão no cumprimento da pena, segundo o

mérito ou demérito da conduta carcerária.

Embora as mulheres tenham previsão legal para o

cumprimento de pena em estabelecimento diferenciado, direito esse que também

vem amparado pela nossa Constituição Federal por meio do art. 5º, inciso XLVIII,

deverão ser obedecidas às mesmas regras, direitos e deveres do preso comum,

assim como observados os princípios atinentes à espécie da pena.

2.3 ESTABELECIMENTOS PENAIS

Denomina-se estabelecimento penal o local físico apropriado

para o cumprimento da pena nos regimes fechado, semi-aberto e aberto, bem

como para as medidas de segurança. Servem, ainda, exigindo-se a devida

separação, para abrigar os presos provisórios. Mulheres e maiores de sessenta

anos devem ter locais especiais115.

Art. 82. Os estabelecimentos penais destinam-se ao condenado,

ao submetido à medida de segurança, ao preso provisório e ao

egresso.

§1º A mulher e o maior de sessenta anos, separadamente, serão

recolhidos a estabelecimento próprio e adequado à sua condição

pessoal.

114 COSTA JÚNIOR, Paulo José da. Direito Penal objetivo: comentários ao Código Penal e ao Código de Propriedade Industrial. Rio de Janeiro: Forense Universitária, 2003, p. 90. 115 NUCCI, Guilherme de Souza. Manual de Processo Penal e Execução Penal. 3 ed. São Paulo: Editora Revista dos Tribunais, 2007, p. 968.

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§2º O mesmo conjunto arquitetônico poderá abrigar

estabelecimentos de destinação diversa desde que devidamente

isolados.

Conforme sua destinação, os estabelecimentos deverão

contar com áreas e serviços voltados à assistência, educação, trabalho,

recreação e prática esportiva dos presos. Os que forem destinados às mulheres

terão, ainda, berçário, onde elas poderão amamentar seus filhos (art. 83, LEP).

Determina a lei que os presos provisórios fiquem separados

dos condenados definitivos e, dentre estes, deve haver divisão entre primários e

reincidentes. O preso que, ao tempo da prática da infração penal, era funcionário

da administração da justiça (policiais, agentes de segurança de presídios,

funcionários do fórum, carcereiros, juízes, promotores etc.) ficará sempre

separado dos demais (art. 84, LEP)116.

Reza o art. 85 da referida Lei, que o estabelecimento penal

deverá ter lotação compatível com a sua estrutura e finalidade, havendo a

fiscalização por parte do Conselho Nacional de Política Criminal e Penitenciária,

determinando o limite máximo da capacidade do estabelecimento.

Sobre o artigo acima mencionado, colhe-se do escólio de

Guilherme Nucci117:

Esse é outro ponto extremamente falho no sistema carcerário

brasileiro. Se não houver investimento efetivo para o aumento do

número de vagas, respeitadas as condições estabelecidas na lei

de Execução Penal para os regimes fechado, semi-aberto e

aberto, nada de útil se poderá esperar do processo de

recuperação do condenado. Na verdade, quando o presídio está

superlotado a ressocialização torna-se muito mais difícil,

dependente quase que exclusivamente de boa vontade individual

de cada sentenciado.

116 NUCCI, Guilherme de Souza. Manual de Processo Penal e Execução Penal, 2007, p. 968. 117 Ibidem, 2007, p. 968.

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Por conseguinte, já analisadas as condições para a

subsistência e requisitos dos estabelecimentos carcerários, examinar-se-á cada

um de forma individualizada.

2.3.1 Penitenciária

Dispõe o art. 87 que “a penitenciária destina-se ao

condenado à pena de reclusão, em regime fechado”, ou seja, para aquele que foi

condenado à pena de reclusão superior a oito anos, ou por que já era reincidente,

quando sofreu a condenação ora executada.

Tem por objetivo a punição retributivamente, prevenir pela

intimação e regenerar através da ressocialização. Exige a lei que propicie aos

convictos o isolamento, durante o repouso noturno, e trabalho remunerado – o

que implica, ipso facto, na obrigação de dispor de cubículos individuais, quanto a

acomodações e permissão de circulação intramuros, para os internos, quanto ao

regime de operação118.

Disciplina o art. 88 que “o condenado será alojado em cela

individual que conterá dormitório, aparelho sanitário e lavatório”. Destaca o

mesmo artigo que “são requisitos básicos da unidade celular: a) salubridade do

ambiente pela concorrência dos fatores de aeração, insolação e condicionamento

térmico adequado à existência humana; b) área mínima de seis metros

quadrados”.

Não obstante haja previsão legal de que o condenado deva

ser alojado em cela individual com os requisitos básicos quanto à salubridade e

área mínima, sabe-se que na maioria das instituições carcerárias acumulam-se

vários presos numa única cela, vivendo em promiscuidade e total falta de higiene,

pois existe um só banheiro, assim mesmo aberto, para todos fazerem suas

necessidades, o que é deprimente119.

118 THOMPSON, Augusto. A Questão Penitenciária. Rio de Janeiro: Forense, 2000, p. 100. 119 NOGUEIRA, Paulo Lúcio. Comentários à Lei de Execução Penal, 1999, p. 135.

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Os requisitos básicos mencionados no art. 88 devem ser

obedecidos também quanto às penitenciárias femininas, as quais, além disso,

poderão contar, facultativamente, com seção para gestantes e parturientes e de

creche, as quais têm a finalidade de assistir ao menor desamparado cuja

responsável esteja presa, direito que está assegurado no art. 89, da LEP120.

O art. 90 determina a construção da penitenciária em local

afastado da cidade, entretanto que não tenha o condão de restringir as visitas.

Esse dispositivo existe em razão da possibilidade de motins

e fugas, circunstâncias que poderão frustrar a segurança da comunidade caso a

construção seja feita dentro da cidade. Entretanto, a localização do

estabelecimento não deve restringir a possibilidade de visitação aos presos, que é

fundamental no processo de sua reinserção social121.

2.3.2 Colônia Agrícola, Industrial ou Similar

É o local que se destina ao cumprimento da pena em regime

semi-aberto, ou seja, aquele que fora condenado à pena superior a quatro e

inferior a oito anos (art. 91, da LEP), salvo se o condenado, cumprindo parte da

pena no regime fechado, passar para o semi-aberto ou, estando neste, progredir

ou regredir122.

Art. 92. O condenado poderá ser alojado em compartimento

coletivo, observados os requisitos da letra a, do parágrafo único,

do artigo 88, desta Lei.

Parágrafo único. São também requisitos básicos das

dependências coletivas:

a) a seleção adequada dos presos;

b) o limite de capacidade máxima que atenda os objetivos da

individualização da pena.

120 MIRABETE, Júlio Fabbrini. Execução penal, 2007, p. 271. 121 Ibidem, 2007, p. 272. 122 NOGUEIRA, Paulo Lúcio. Comentários à Lei de Execução Penal, 1999, p. 137.

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Os estabelecimentos semi-abertos têm configuração

arquitetônica mais simples, uma vez que as precauções de segurança são

menores do que as previstas para as penitenciárias. Funda-se o regime

principalmente na capacidade de senso de responsabilidade do condenado,

estimulado e valorizado, que o leva a cumprir com os deveres próprios de seu

status, em especial o de trabalhar, submeter-se à disciplina e não fugir.

Permite-se o alojamento coletivo de menor custo, porém

deve ser rigorosamente observado “o limite de capacidade máxima que atenda os

objetivos de individualização da pena”, exigência necessária para que se evite o

surgimento de problemas de segurança, disciplina, violência e constrangimento

comuns nos estabelecimentos superpovoados123.

A prisão semi-aberta deve estar subordinada, apenas, a um

mínimo de segurança e vigilância. Nela, os presos devem movimentar-se com

relativa liberdade, a guarda do presídio não deve estar armada, a vigilância deve

ser discreta e o sentido de responsabilidade do preso enfatizado.

2.3.3 Casa do Albergado

É o estabelecimento de cumprimento de pena em regime

aberto, bem como para a pena de limitação de fim de semana (art. 93, da LEP). O

prédio deverá situar-se em centro urbano, separado dos demais

estabelecimentos, sem obstáculos físicos impeditivos de fuga (art. 94, da Lei

acima citada)124.

Tratando-se de estabelecimento que recolhe os condenados

à pena Privativa de Liberdade em regime aberto, e também aqueles que cumprem

pena de limitação de final de semana, há necessidade de conter, além dos

aposentos para acomodar os presos, local apropriado para cursos e palestras

(art. 95, da LEP). Deverá ter, também, instalações para os serviços de

fiscalização e orientação aos condenados.

123 MIRABETE, Júlio Fabbrini. Execução penal, 2007, p. 274. 124 NUCCI, Guilherme de Souza. Manual de Processo Penal e Execução Penal, 2007, p. 969.

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Determina que o condenado que estiver gozando do regime

aberto, cumprirá pena em liberdade, sem vigilância, poderá trabalhar, freqüentar

cursos ou exercer outra atividade autorizada, permanecendo recolhido durante o

período noturno e nos dias de folga125.

A casa de albergado tem uma estrutura simples e de baixo

custo, visto que a mesma se caracteriza pela existência de grandes alojamentos,

onde os condenados só se recolhem nos períodos de folga. Assim, não exigindo

uma estrutura de segurança máxima. Sua construção é muito mais barata, mas,

curiosamente, são poucas as casas de albergado construídas no País126.

É sabido que não há muitas casas do albergado em nosso

País, circunstância essa que causa grande revolta à população e aos verdadeiros

interessados na efetividade da Lei de Execução Penal, propagando-se a idéia de

que o regime aberto nada mais é do que o regime da impunidade, melhor

dizendo, uma etapa do objetivo da Lei que não está sendo cumprido.

2.3.4 Hospital e Tratamento Psiquiátrico

Destina-se aos apenados que foram condenados à medida

de segurança de internação (inimputáveis ou semi-imputáveis). Nesses locais,

periodicamente, realizam-se os exames psiquiátricos para o acompanhamento

dos internados127.

Aqui se aplicam as regras de salubridade e área mínima de

seis metros quadrados, dispõe o art. 99, parágrafo único da LEP.

Poderão ser de duas espécies as medidas de segurança: a)

detentiva, que consiste na internação em hospital de custódia e tratamento

psiquiátrico, fixando-se o prazo mínimo de internação entre um e três anos (CP,

art. 97, §1º); b) restritiva, que consiste na sujeição do agente a tratamento

125 MIRABETE, Júlio Fabbrini. Execução penal, 2007, p. 276. 126 MESQUITA JÚNIOR, Sidio Rosa de. Manual de execução penal: teoria e prática, 1999, p. 176. 127 NUCCI, Guilherme de Souza. Manual de Processo Penal e Execução Penal, 2007, p. 969.

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ambulatorial, cumprindo-lhe comparecer ao hospital nos dias que lhe forem

determinados pelo médico a fim de ser submetido a tratamento128.

A internação ou tratamento ambulatorial será por tempo

indeterminado, perdurando enquanto não for averiguada mediante perícia médica

a cessação da periculosidade, que deve ser realizada ou repetida de ano em ano,

ou a qualquer tempo, se o determinar o juiz da execução129.

É um hospital-presídio, um estabelecimento penal que visa a

assegurar a custódia do internado. Embora se destine ao tratamento, que é o fim

da medida de segurança, pois os alienados que praticam crimes assemelham-se

em todos os pontos a outros alienados, diferindo essencialmente dos outros

criminosos, não se pode afastar a coerção à liberdade de locomoção do

internado, presumidamente perigoso em decorrência da lei130.

2.3.5 Cadeia Pública (Presídio)

É o local de recolhimento do preso provisório (art. 102 da

LEP), ou seja, aquele que teve sua prisão decretada por força de uma decisão

judicial ou o preso em flagrante, tendo por finalidade a separação destes que

ainda não foram condenados, por inexistência de sentença condenatória

transitada em julgado, dos que já sofreram condenação criminal e, apenas, estão

a cumprir a sanção penal que lhes foi imposta.

É recomendável que haja uma cadeia pública, pelo menos

em cada Comarca (art. 103 da LEP), em face da necessidade do preso estar

segregado próximo ao local onde está tramitando seu processo para facilitar o

seu deslocamento para eventuais audiências. Ademais, o preso não deve ficar

longe do seio familiar131.

Na cadeia o preso não está submetido ao regime carcerário,

quais sejam, a não utilização de uniformes; a não submissão a horários certos e

128 NOGUEIRA, Paulo Lúcio. Comentários à Lei de Execução Penal, 1999, p. 152. 129 Ibidem, 1999, p. 152. 130 MIRABETE, Júlio Fabbrini. Execução penal, 2007, p. 282. 131 MIRABETE, Júlio Fabbrini. Execução penal, 2007, p. 287.

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predeterminados; poderá receber visitas constantemente, ou pelo menos mais

freqüentes; poderá receber alimentos, rádio, televisão, jornais, revistas, livros e

outros confortos que sua família, seus amigos ou sua condição social possam

proporcionar-lhe132.

O regime estabelecido ali é o regime celular, quer dizer,

aprisionamento dia e noite. Os detentos, entretanto, podem ser reunidos para

atividades coletivas ou dirigidas, tais como banhos de sol, exercícios físicos,

conferências, espetáculos ou cultos religiosos, aulas, etc., considerando-se, não

sem razão, que o isolamento absoluto dificulta a readaptação.

Atualmente, no lugar das cadeias públicas, surgiram os

centros de detenção provisória, que possuem maior número de vagas e estrutura

semelhante a do presídio133.

Lamentavelmente, esses estabelecimentos vivem

superlotados e às vezes ali os detentos estão em pior situação do que na

penitenciária. Mas, de regra, deveria ser o contrário, já que a maioria delas é

utilizada para o cumprimento de penas privativas de liberdade de curta e média

duração, assim como para presos de baixa periculosidade.

2.4 LEI DE EXECUÇÃO PENAL: OBJETIVOS E APLICABILIDADE

O art. 1º, da Lei nº 7.210/1984 especifica o seu objetivo, que

é “efetivar as disposições de sentença ou decisão criminal e proporcionar

condições para a harmônica integração social do condenado e do internado”.

Para Mirabete “a execução penal é uma atividade complexa,

que se desenvolve nos planos jurisdicional e administrativo”134.

O renomada autora Ada Pellegrini Grinover135 explana:

132 ROSA, Antônio Miguel Feu. Execução Penal. São Paulo: Editora Revista dos Tribunais, 1995, p. 255. 133 NUCCI, Guilherme de Souza. Manual de Processo Penal e Execução Penal, 2007, p. 370. 134 MIRABETE, Júlio Fabbrini. Execução penal, 2007, p. 28.

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Na verdade, não se nega que a execução penal é atividade

complexa, que se desenvolve, entrosadamente, nos planos

jurisdicional e administrativo. Nem se desconhece que dessa

atividade participam dois Poderes estatais: O Judiciário e o

Executivo, por intermédio, respectivamente, dos órgãos

jurisdicionais e dos estabelecimentos penais.

Defronte da grande importância da execução penal para um

preso que fora condenado, Paulo Lúcio Nogueira136 discorre que nada serve uma

condenação criminal sem que haja a respectiva execução da pena imposta.

Portanto, daí exsurge o primordial objetivo da execução, tornar exeqüível a

sentença criminal.

A Lei também deve se atentar à individualização da pena,

obedecendo ao regramento do art. 5º, mormente porque a classificação do

apenado é um desdobramento lógico do princípio da personalidade da pena, o

qual está introduzido entre os direitos e garantias constitucionais137.

Prescreve o referido artigo:

Art. 5º. Os condenados serão classificados, segundo os seus

antecedentes e personalidade, para orientar a individualização da

execução penal.

Em cada estabelecimento deve existir a Comissão Técnica

de Classificação, constituída por dois chefes de serviço, um psiquiatra, um

psicólogo e um assistente social, e presidida pelo diretor do estabelecimento, para

fazer o exame de classificação, consoante art. 7º da referida lei.

A concepção de Mirabete138 a respeito da individualização

da pena é que a execução penal não pode ser igual para todos os detentos, bem

como a execução pode ser homogênea durante todo o seu período de

135 GRINOVER, Ada Pellegrini. Natureza jurídica da execução penal, in Execução penal (vários autores), Max Limonad, 1987, p. 7 136 NOGUEIRA, Paulo Lúcio. Comentários à Lei de Execução Penal, 1999, p. 03. 137 Ibidem, 1999, p. 10. 138 MIRABETE, Júlio Fabbrini. Execução penal, 2007, p. 04.

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cumprimento, portanto deverá ser graduada de acordo com a reação de cada

preso no processo de reinserção social.

Assim, ressalta-se que a Lei de Execução Penal precisa ter

aplicação social com a participação da população, pois se assim não acontecer

como de fato não ocorre, ela perderá como também já perdeu sua eficácia. A

sociedade deve estar altivamente presente na empreitada ressocializadora do

apenado, estimulando-lhe a recuperação.

2.4.1 Da Assistência

Observa-se que existem duas modalidades de assistência

para o detento, que poderia ser classificada como essenciais para a sobrevivência

do preso, e aquelas complementares que o ajudam no processo de

ressocialização.

Os meios de que o tratamento penitenciário dispõe são

fundamentalmente, de duas classes: conservadores e

reeducadores. Os primeiros atendem à conservação da vida e da

saúdo do recluso (alimentação, assistência médica, educação

física) e a evitar a ação corruptora das prisões (já foi visto que a

prisão é um dos fatores criminógenos). Os meios educativos

pretendem influir positivamente sobre a personalidade do recluso

e modelá-la. São os clássicos: instrução e educação, formação

profissional, assistência psiquiátrica, assistência religiosa, postos

sob a tônica das técnicas e diretrizes mais recentes139.

Estabelece o art. 10 e 26, da LEP, dando definição ao

egresso e a quem é concedido tal benefício:

Art. 10. A assistência ao preso e ao internado é dever do Estado,

objetivando prevenir o crime e orientar o retorno à convivência em

sociedade.

Parágrafo único. A assistência estende-se ao egresso.

Art. 26 (...)

139 Ibidem, 2007, p. 62.

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I – o liberado definitivo, pelo prazo de 1 (um) ano a contar da

saída do estabelecimento;

II – o liberado condicional, durante o período de prova.

O benefício do egresso encontra-se amparado pelo anseio

do Estado em fazer com que o preso, ao ser posto em liberdade, sinta-se

familiarizado com o seu antigo ambiente, reajustando-o à vida digna.

Quando o preso volta para o seu antigo ambiente, este não lhe

parecerá o mesmo, o que certamente lhe causará dificuldade de

ambientação e reajustamento. Necessária, pois, a assistência ao

egresso, visando continuar ou promover o reajustamento consigo

mesmo e com os outros, numa adaptação racional a seu meio

sociocultural. Esse processo técnico-científico de assistência foi

definido pelas regras mínimas do Conselho de Europa como o

tratamento que se proporciona ao sujeito, uma vez que obtém sua

liberdade, e deve ser considerado como um prolongamento do

tratamento a que esteve sujeito durante a prisão, já que formam

uma unidade independente, constituindo, portanto, a continuação

ou a seqüência do tratamento intramuros140.

É sabida a dificuldade do preso em se ressocializar, quando

colocado em liberdade. Deriva-se esse fato da falta de contribuição da população

e Estado em dar amparo ao mesmo. Por isso, foi criado esse tipo de instituto para

tentar exterminar com o problema, visando à reinserção do preso ao convívio

social.

2.4.1.1 Assistência Material

O art. 12 da LEP rege a assistência material que consistirá

no fornecimento de alimentação, vestuário e instalações higiênicas.

Destaca Mirabete141 que, segundo as regras mínimas da

ONU, todo preso deverá receber da administração nas horas usuais, uma

alimentação de boa qualidade, bem preparada e servida, cujo valor seja suficiente

para a manutenção da saúde de forças físicas. No mesmo sentido, são os casos

140 MIRABETE, Júlio Fabbrini. Execução penal, 2007, p. 64.

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em que o preso não tenha permissão para usar roupas pessoais, devendo o

estabelecimento fornecer uniformes apropriados para o clima. Quanto à higiene

pessoal e o asseio da cela é um dever do preso manter o local limpo, desde que

os produtos sejam fornecidos pelo estabelecimento prisional.

No caso de não fornecimento de produtos ao preso, deverá

o estabelecimento propiciar a venda de produtos lícitos e permitidos ao recluso

(art. 12, 2ª parte, da LEP).

Com relação ao que reza o art. 13, 1ª parte, os alojamentos

dos presos durante à noite devem corresponder às exigências de higiene, de

iluminação, calefação e ao arejamento. Além disso, as instalações sanitárias

devem, ser tais que o preso possa satisfazer a suas necessidades naturais,

quando quiser e, bem assim, limpos e decentes, ao passo que os chuveiros

devem ter temperatura adequada ao clima, em número suficiente para que cada

preso possa fazer o uso freqüente deles142.

2.4.1.2 Assistência à Saúde

Esse tipo de assistência compreende tratamentos médicos,

odontológicos e farmacêuticos, tanto de caráter preventivo como curativo,

segundo o que preceitua o art. 14, da LEP143.

O regulamento menciona no §2º que incumbe ao

estabelecimento prisional prestar auxílio ao apenado, e em caso se não

possuírem condições físicas para prestá-lo, poderão conduzi-lo até outro local

para tanto, desde que na posse de autorização do diretor do local da

segregação144.

Conclui-se que a assistência à saúde é extremamente

importante para o detento, sobretudo porque o condenado pode contrair vários

tipos de doenças ao ser recolhido no estabelecimento penal.

141 MIRABETE, Júlio Fabbrini. Execução penal, 2007, p. 66. 142 Ibidem, 2007, p. 68. 143 MARCÃO, Renato. Curso de Execução penal. 2 ed. Rio de Janeiro: Lúmen Júris, 2006, p. 20. 144 MIRABETE, Júlio Fabbrini. Execução penal, 2007, p. 71.

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2.4.1.3 Assistência Jurídica

Deve ser prestada não somente aos presos e aos

internados, mas principalmente aos acusados, na fase probatória ou instrutória de

processos-crimes, quando, talvez, mais necessitem de defesa criminal bem feita,

pois caso contrário estará fadado a ser condenado145. Ressalta-se que a

assistência aqui analisada é destinada aos presos que não possuem recursos

financeiros para constituir advogado.

Com a possibilidade da progressão de regime prisional

aplicado ao condenado, saídas temporárias, remição e livramento condicional,

mister se faz a presença de um advogado para pleitear em seu nome, em juízo,

requerendo os benefícios a ele disposto pela Lei de Execução Penais, mormente

quando se trata de instituições com grande demanda carcerária146.

Frisa Mirabete147 que ao que tange o art. 16, é certo concluir

que o serviço de assistência jurídica deixa muito a desejar, pois deveria o Estado

possibilitar com eficiência, a nomeação de advogado dativo ao condenado no

transcorrer da execução para que pudesse acompanhar-lhe a cada momento do

cumprimento da pena.

2.4.1.4 Assistência Educacional

Focando ainda mais a ressocialização e a exterminação da

ociosidade do detento, foi introduzida na LEP a possibilidade do preso estudar

enquanto estiver recluso, consoante art. 17 e seguintes:

Art. 17. A assistência educacional compreenderá a instrução

escolar a formação profissional do preso e do internado.

Art. 18 O ensino de 1º grau será obrigatório, integrando-se no

sistema escolar da unidade federativa técnico.

Art. 19. O ensino profissional será ministrado em nível de iniciação

ou de aperfeiçoamento técnico.

145 NOGUEIRA, Paulo Lúcio. Comentários à Lei de Execução Penal, 1999, p. 24. 146 Ibidem, 1999, p. 25. 147 MIRABETE, Júlio Fabbrini. Execução penal, 2007, p. 74.

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Art. 20. As atividades educacionais podem ser objeto de convênio

com entidades públicas ou particulares, que instalem escolas ou

ofereçam cursos especializados.

Art. 21. Em atendimento às condições locais, dotar-se-á casa

estabelecimento de uma biblioteca, para uso de todas as

categorias de reclusos, provida de livros instrutivos, recreativos e

didáticos.

É sabido que a maioria da população carcerária é formada

de indivíduos provenientes de classes menos favorecidas, sem qualquer instrução

escolar, com grande índice de analfabetos148.

Disciplina a CF, no art. 205 sobre o tema que “educação,

direito de todos de dever do Estado e da família, será promovida e incentivada

com a colaboração da sociedade, visando ao pleno desenvolvimento da pessoa,

seu preparo para o exercício da cidadania e sua qualificação para o trabalho”.

A obrigatoriedade de fornecimento de ensino de 1º grau,

preceito estabelecido pelas Regras Mínimas da ONU, encontra-se respaldado na

ação educativa, enquanto possível, com o sistema de instrução pública, a fim de

que os presos, ao serem posto em liberdade, possam continuar, sem dificuldades,

sua preparação (art. 18 da LEP)149.

O ensino profissional compreendido pelo art. 19, poderá ser

em nível de iniciação ou de aperfeiçoamento técnico para aqueles que já tiveram

a formação básica profissional antes da prisão. Por isso, ao iniciar o cumprimento

da pena, o recluso será avaliado quanto às suas aptidões profissionais, iniciando

um trabalho a fim de desenvolver essa sua facilidade com a área que mais se

identifica aliado ao tempo em que permanecerá segregado150.

Poderá o Estado, ainda, promover convênios com entidades

públicas ou particulares que instalem escolas ou ofereçam cursos especializados.

148 NOGUEIRA, Paulo Lúcio. Comentários à Lei de Execução Penal, 1999, p. 27. 149 MIRABETE, Júlio Fabbrini. Execução penal, 2007, p. 76. 150 Ibidem, 2007, p. 77.

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Giza o autor Paulo Lúcio Nogueira151 que é totalmente

viável, até nas pequenas cadeias públicas, destacar um professor para ministrar

aulas diárias aos presos, entretanto não tem havido interesse das próprias

autoridades em melhorar a situação. Defende, ainda, que a instauração de uma

biblioteca com diversos tipos de literatura no estabelecimento carcerário não seria

apenas uma fonte de instrução, mas também de recreação para os segregados.

2.4.1.5 Assistência Social

Disciplinado no art. 22, e o rol de competência do assistente

social no art. 23, há quem defenda que é um dos institutos mais importantes neste

processo de reinserção social do internado.

Art. 22. A assistência social têm por finalidade amparar o preso e

o internado e prepará-los para o retorno à liberdade.

Art. 23. Incumbe ao serviço social de assistência social:

I – conhecer os resultados dos diagnósticos e exames;

II – relatar, por escrito, ao diretor do estabelecimento, os

problemas e as dificuldades enfrentados pelo assistido

III – acompanhar o resultado das permissões de saídas e das

saídas temporárias;

IV – promover, no estabelecimento, pelos meios disponíveis, a

recreação;

V – promover a orientação do assistido, na fase final do

cumprimento da pena, e do liberando, de modo a facilitar o seu

retorno à liberdade;

VI – providenciar a obtenção de documentos dos benefícios de

previdência social e do seguro por acidente no trabalho

VII – orientar e amparar, quando necessário, a família do preso,

do internado e da vítima.

Compete ao assistente social acompanhar o recluso durante

todo o período de segregação, investigar sua vida com vistas na redação dos

151 NOGUEIRA, Paulo Lúcio. Comentários à Lei de Execução Penal, 1999, p. 28.

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relatórios sobre os problemas do preso, promover a orientação do assistido na

fase final do cumprimento da pena etc. Por meio dos laudos dos exames de

personalidade, criminológicos e outros, o serviço social tomará conhecimento da

personalidade do sentenciado, do ambiente (familiar, social, de trabalho etc.), de

onde provieram os seus possíveis problemas pessoais, familiares, sociais, entre

outros. Após esta minuciosa análise, imcumbir-lhe-á a emissão de um prognóstico

inicial para o desenvolvimento de um trabalho assistencial pedagógico e social em

relação à personalidade do condenado ou internado152.

2.4.1.6 Assistência Religiosa

A tentativa de reformar o preso por meio da religião é muito

antiga, está devidamente comprovada que tem influência altamente benéfica no

comportamento do homem encarcerado e é a única variável que contém, em si

mesmo, em potencial, a faculdade de transformar o homem encarcerado ou

livre153.

Em todo estabelecimento prisional haverá local apropriado

para cultos religiosos, mormente porque é de suma importância para a

reeducação, servindo-lhe de conforto, de bem-estar e de incentivo154.

A religião é necessária e imprescindível no tratamento de

reintegração do internado, pois é o melhor instrumento moral, inclusive é um

direito fundamental que está devidamente amparado por meio do art. 5º, inciso VI,

da nossa Constituição Federal, prevendo a plena liberdade de consciência de

crença.

2.4.1.7 Assistência ao Egresso

É uma assistência assegurada ao condenado que cumpriu a

pena na sua totalidade, ou para aquele que encontra-se beneficiado pelo

livramento condicional da pena.

152 MIRABETE, Júlio Fabbrini. Execução penal, 2007, p. 81. 153 Ibidem, 2007, p. 84. 154 MIRABETE, Júlio Fabbrini. Execução penal, 2007, p. 33.

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Art. 25. A assistência ao egresso consiste:

I – na orientação e apoio para reintegrá-lo à vida em liberdade;

II – na concessão, se necessário, de alojamento e alimentação,

em estabelecimento adequado, pelo prazo de 2 (dois) meses.

Parágrafo único. O prazo estabelecido no inciso II poderá ser

prorrogado uma única vez. Comprovado, por declaração do

assistente social, o emprego na obtenção de emprego.

Segundo ao que rege o art. 26, considerar-se-á egresso o “I

– o liberado definitivo, pelo prazo de 1 (um) ano a contar da saída do

estabelecimento; II – o liberado condicional, durante o período de prova”.

Descreve o autor Marcão155 que o serviço do assistente

social é indispensável para o egresso do condenado à sociedade.

O trabalho dignifica o homem, já se disse. Cabe ao serviço social

colaborar com o egresso para a obtenção de trabalho, buscando,

assim, prevê-lo que recursos que o habilitem a suportar sua

própria existência e a daqueles que dele dependem.

É evidente que a principal assistência é aquela fornecida

depois que o detento deixa o cárcere, pois se essa for somente durante o

cumprimento da sanção penal, não será suficiente já que é necessário que o

detento consiga sua real reinserção na sociedade. Sustenta o autor que para a

reintegração social do egresso é necessária a participação da população, pois se

não houver suporte, não haverá condições de o Estado, sozinho, dar-lhe a devida

assistência156.

2.4.2 Dos Direitos dos Presos

Primeiramente, cabe salientar que se devem conservar

todos os direitos do sentenciado atingidos pela perda da liberdade, impondo-se a

todos as autoridades o respeito à sua integridade física e moral, segundo o que

155 MARCÃO, Renato. Curso de Execução penal. 2 ed. Rio de Janeiro: Lúmen Júris, 2006, p. 24.

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reza o dispositivo do art. 38, do Código Penal e art. 5º, inciso XLIX, da Carta

Magna.

No mesmo sentido, o art. 3º da Lei 7.210/84 estabelece que

ao condenado e ao internado serão assegurados todos os direitos não atingidos

pela sentença ou pela lei.

O art. 40, ainda do Código Penal nos remete à Lei de

Execução Penal, por ser mais específica sobre a matéria inerente aos direitos,

deveres, dentre outras modalidades em que o segregado deverá submeter-se.

Art. 41. Constituem direitos do preso:

I – alimentação suficiente e vestuário;

II – atribuição de trabalho e sua remuneração;

III – Previdência Social;

IV – constituição de pecúlio;

V – proporcionalidade na distribuição do tempo para o trabalho, o

descanso e a recreação;

VI – exercício das atividades profissionais, intelectuais, artísticas e

desportivas anteriores, desde que compatíveis com a execução da

pena;

VII – assistência material, à saúde, jurídica, educacional, social e

religiosa;

VIII – proteção contra qualquer forma de sensacionalismo;

IX – entrevista pessoal e reservada com o advogado;

X – visita do cônjuge, da companheira, de parentes e amigos em

dias determinados;

XI – chamamento nominal;

XII – igualdade de tratamento salvo quanto às exigências da

individualização da pena;

156 NOGUEIRA, Paulo Lúcio. Comentários à Lei de Execução Penal, 1999, p. 35.

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XIII – audiência especial com o diretor do estabelecimento;

XIV – representação e petição a qualquer autoridade, em defesa

de direito;

XV – contato com o mundo exterior por meio de correspondência

escrita, da leitura e de outros meios de informação que não

comprometam a moral e os bons costumes;

XVI – atestado de pena a cumprir, emitido anualmente, sob pena

da responsabilidade da autoridade judiciária competente;

No tocante à alimentação e vestuário, além de ser um direito

do preso, também está previsto na modalidade de assistência material (art. 12 da

LEP) já mencionada neste capítulo.

Deve a administração, assim, de um lado, proporcionar ao

preso alimentação controlada, conveniente preparada e que corresponda em

quantidade e qualidade às normas dietéticas e de higiene. De outro lado, o

vestuário tem que ser apropriado ao clima, para que não lhe cause tortura ou ferir

sua dignidade157.

O trabalho e a remuneração além de ser um direito inerente

ao segregado, também está previsto no art. 6º da CRFB/88, pois o trabalho é um

dos “direitos sociais”, incumbindo ao Estado o dever de atribuir-lhe ao condenado

que será realizado no estabelecimento prisional. Sustenta, ainda, que ocupação

laborativa preserva a dignidade humana do condenado158.

No que tange ao direito do condenado em usufruir dos

benefícios da Previdência Social, é sabido que a Lei de Execução Penal não

prevê o desconto coercitivo da remuneração do preso para a contribuição

previdenciária. Tal direito somente poderá ser exercido pelo preso que,

voluntariamente, contribuir para a referida instituição social, nos termos da

legislação específica, no que se refere ao seu trabalho prisional159.

157 MIRABETE, Júlio Fabbrini. Execução penal, 2007, p. 121. 158 Ibidem, 2007, p. 121. 159 MIRABETE, Júlio Fabbrini. Execução penal, 2007, p. 121.

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O inciso IV determina a possibilidade do preso em acumular

suas economias para, posteriormente, quando vir a ser solto, utilizá-la. Entretanto,

somente poderá usufruir de tal direito quando já estiver ressarcido as obrigações

maiores que lhe cabia, como a reparação do dano e a assistência à família160.

Terá o condenado direito ao descanso e à recreação, pois o

descanso difere-se do ócio, porquanto aquela visa ao repouso, a fim de se

readquirirem as condições necessárias para a atividade interrompida. Por isso,

compreende-se o período de descanso para o sono, o intervalo da jornada normal

de trabalho, assim como nos domingos e feriados, como determina a lei161.

A recreação extermina com a ociosidade dos condenados, já

que ocupa o tempo livre do preso através do lazer-distração, atividade que

repousa ou que proporciona salutar fadiga propícia para o repouso por excelência

que é o sono. Entre os meios de recreação ganha vulto o esporte, incluindo-se a

ginástica, que não é apenas meio para manter o físico ou psíquico, mas contribui,

também, para a disciplina e a elevação moral do preso, suscitando ou

desenvolvendo virtudes individuais e sociais, tais como lealdade, serenidade,

espírito de equipe ou colaboração etc162.

O mesmo doutrinador traz à baila o direito do preso do lazer-

cultura, previsto no inc. VI, frisando a finalidade por meio da satisfação do

enriquecimento intelectual ou artístico, do aperfeiçoamento ou refinamento da

personalidade163.

Haverá sempre proteção ao segregado contra o

sensacionalismo, ou seja, a divulgação e, principalmente, a exploração, em tom

espalhafatoso, de acontecimentos relacionados ao preso, que possam

escandalizar ou atrair sobre ele as atenções da comunidade, retirando-o do

anonimato, que, eventualmente, o levarão a atitudes anti-sociais, dificultando a

sua ressocialização após o cumprimento da pena164.

160 Ibidem, 2007 p. 122. 161 Ibidem, 2007 p. 122. 162 Ibidem, 2007, p. 122. 163 MIRABETE, Júlio Fabbrini. Execução penal, 2007, p. 123. 164 Ibidem, 2007, p. 123.

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O direito de entrevista pessoal e reserva com o advogado

não é um direito somente do preso, mas sim também do advogado, que se

encontra disciplinado no Estatuto da OAB, prevendo a comunicabilidade com

seus clientes, pessoal e reservadamente, mesmo sem procuração, quando se

achem presos, detidos ou recolhidos165.

A visita de familiares é tanto um direito como um objetivo na

ressocialização do apenado já que o mesmo não deve romper seus contatos com

o mundo exterior, mormente com a família, levando-o a sentir que mantendo

contatos, embora com limitações, com as pessoas que se encontram fora do

presídio, não foi excluído da comunidade. Quanto à visita íntima, em que pese

não esteja prevista na Lei de Execução Penal, pois somente está expresso o

direito à visita de companheira, a tendência moderna é de considerá-la como um

direito também166.

Estão proibidas dentro do estabelecimento outras formas de

tratamento e designação, como a fundada em números, alcunhas de presos, pois

o sentido de ressocialização do sistema penitenciário exige que o preso seja

tratado como pessoa e não como coisa, com rótulos que têm, por si mesmos,

conteúdo vexatório e humilhante167.

É vedada a limitação ou tratamento diferenciado aos presos

que não se refira às medidas e situações referentes à individualização da pena

previstas na própria legislação. Portanto, procede-se a um correto

desenvolvimento da execução da pena diante das necessidades decorrentes do

processo que deve levar à inserção social do preso (regime de pena, assistência,

normas de disciplina etc.)168.

Deverá ser permitido que o preso entre em contato direto

com o diretor da prisão em qualquer dia da semana para qualquer reclamação ou

comunicação. Referido direito tem grande eficácia, pois o diretor terá melhores

165 Ibidem, 2007, p. 124. 166 Ibidem, 2007, p. 125. 167 MIRABETE, Júlio Fabbrini. Execução penal, 2007, p. 127. 168 Ibidem, 2007, p. 127.

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condições de coibir eventuais abusos e diligenciar no sentido de cumprirem-se as

normas pertinentes à execução penal169.

É muito comum, nas prisões, a elaboração de petições de

habeas corpus, de pedido de revisão ou de benefícios, muitos deles atendidos

pela autoridade judiciária (inc. XIV). Tem o preso o direito de ser intimado de toda

as decisões judiciais que ensejam alterações da pena que lhe foi imposta. Pode,

também, a qualquer tempo, requerer certidão relativa a sua exata situação no

curso da execução, inclusive quanto ao tempo de pena a cumprir (inc. XVI)170.

O preso tem direito à liberdade de informação e expressão,

ou seja, de estar informado dos acontecimentos familiares, sociais, políticos e de

outra índole, pois sua estadia na prisão não deve significar marginalização da

sociedade. Os contatos que pode manter com o mundo exterior, são por meio de

correspondência, imprensa escrita e outros meios de comunicação, como o rádio,

o cinema, a televisão171.

2.5 PRINCÍPIOS E GARANTIAS CONSTITUCIONAIS INERENTES AO PRESO

Considerando a diversidade de princípios previstos na

doutrina, bem como aqueles que regram o processo e a execução penal, abordar-

se-á no presente tópico apenas aqueles relativos ao estudo em apreço.

Pretende-se interpretar as garantias e direitos básicos

criados pelo legislador que todo preso, provisório ou condenado, detém quando

ao ingresso e permanência por tempo determinado nos estabelecimentos

penitenciários.

2.5.1 Legalidade

O princípio da legalidade encontra-se amparado pela Carta

Magna através do art. 5º, inc. XXXIX, regulamentando que “não há crime sem lei

169 Ibidem, 2007, p. 127.. 170 Ibidem, 2007, p. 128. 171 MIRABETE, Júlio Fabbrini. Execução penal, 2007, p. 128.

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65

anterior que o defina, nem pena sem prévia cominação legal”, e também no art. 1º

do Código Penal o qual é frisado nos mesmos moldes da Carta Maior.

Como leciona Damásio Evangelista de Jesus172:

O Princípio da legalidade (ou de reserva legal) tem significado

político, no sentido de ser uma garantia constitucional dos direitos

do homem. Constitui a garantia fundamental da liberdade covil,

que não consiste em fazer tudo o que se quer, mas somente

aquilo que a lei permite. À lei e somente a ela compete fixar as

limitações que destacam a atividade criminosa da atividade

legítima. Esta é a condição de segurança e liberdade individual.

Não haveria, com efeito, segurança ou liberdade se a lei atingisse,

para os punir, condutas lícitas quando praticadas, e se os juízes

pudessem punir os fatos ainda não incriminados pelo legislador.

Nogueira173, em sede de execução penal, leciona que o

princípio da legalidade é de se entender que enquanto o cumprimento da pena, a

autoridade judicial ou diretor do presídio deverá atentar-se aos fundamentos nas

normas estabelecidas pela Lei 7.210/84, assim como nos regulamentos das casas

de albergado ou conselhos comunitários, de modo que o poder discricionário seja

restrito.

2.5.2 Igualdade ou Isonomia

O art. 5º, caput da CFRB/88, disciplina que “todos são iguais

perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e

aos estrangeiros, residentes no País, a inviolabilidade do direito à vida, à

liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade [...]”.

No mesmo rumo, o parágrafo único, do art. 3º da Lei de

Execução Penal predispõe que “Não haverá qualquer distinção de natureza racial,

social, religiosa ou política”.

172 DE JESUS, Damásio E. Direito Penal, 2001, p. 97. 173 NOGUEIRA, Paulo Lúcio. Comentários à Lei de Execução Penal, 1999, p. 07.

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66

Ora, o legislador nada mais fez do que transportar uma

garantia constitucional a todos que estão sujeitos à lei brasileira, para aqueles que

estão cumprindo pena em instituição prisional na forma da Lei 7.210/84.

Esse preceito de que todos são iguais perante a lei, não

deixa qualquer margem de dúvidas de que está diretamente ligada aos

legisladores e aos aplicadores da lei, ao passo que este aplicará a sanção

adequada às situações iguais, enquanto aquele editará leis que possibilitem

tratamento igual a situações iguais ou tratamento desiguais a situações desiguais

por parte da Justiça174.

Já Mirabete175 entende como princípio da igualdade,

conhecido também como da isonomia em face da execução penal, a vedação

para qualquer tipo de discriminação entre apenados, e não pode esse princípio

ceder às determinações fundadas apenas nas alegações de necessidade de

individualização da pena e do tratamento do sentenciado.

2.5.3 Individualização da pena

Ressalta-se que tal princípio tem berço em norma

constitucional prevista no art. 5º, XLVI, da CF, a qual disciplina que “a lei regulará

a individualização da pena, entre outras, as seguintes: a) privação de liberdade;

b)perda de bens; c) multa; d) prestação social alternativa; e) suspensão e

interdição de direitos”.

Em complemento ao inciso anterior, o legislador,

efetivamente preocupado com o objetivo do princípio, preceituou no inciso XLVII

que “a pena será cumprida em estabelecimentos distintos, de acordo com a

natureza do delito, a idade e o sexo do apenado” 176.

174 MESQUITA JÚNIOR, Sidio Rosa de. Manual de execução penal: teoria e prática. São Paulo: Atlas, 1999, p. 24. 175 MIRABETE, Júlio Fabbrini. Execução penal, 2007, p. 40. 176 MESQUITA JÚNIOR, Sidio Rosa de. Manual de execução penal, 1999, p. 31.

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67

Está também determinado no art. 5º, da Lei 7.210/84, que

“os condenados serão classificados, segundo os seus antecedentes e

personalidade, para orientar a individualização da execução penal”.

Portanto, é válido afirmar que a individualização busca evitar

a reunião de presos de pequena com os de elevada periculosidade177.

Sabiamente, Mirabete178 leciona quanto à individualização

da pena:

[...] A execução pena não pode ser igual para todos os presos –

justamente porque nem todos são iguais, mas sumamente

diferentes – e de que tampouco a execução pode ser homogênea

durante todo o período de seu cumprimento. Não há mais dúvida

que nem todo preso deve ser submetido ao mesmo programa da

execução e de que, durante a fase executória da pena se exige

um ajustamento desse programa conforme a reação observada no

condenado, podendo-se só assim falar em verdadeira

individualização no momento executivo.

Acrescenta o mesmo autor que a individualização da pena,

na execução, consiste em dar a cada preso as oportunidades e os elementos

necessários para lograr sua reinserção social.

Destaca-se que a aplicação da pena é o momento

processual mais importante, pois cabe ao magistrado observar a cominação legal

prevista para o fato típico praticado, avaliando todos os critérios expressos pelo

legislador no art. 59, do Código Penal para a fixação da pena.

2.5.4 Dignidade da Pessoa Humana

Esse princípio consagrado pela nossa Carta Magna, é

considerado como o princípio norteador dos direitos fundamentais, e está

devidamente regulamentado pelo art. 1º, inc. III, da Constituição Federal.

177 MESQUITA JÚNIOR, Sidio Rosa de. Manual de execução penal, 1999, p. 30. 178 MIRABETE, Júlio Fabbrini. Execução penal, 2007, p. 48.

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68

Buscando definir uma conceituação sobre o tema dignidade

da pessoa, destaca Alexandre de Moraes179:

A dignidade da pessoa humana é um valor espiritual e moral

inerente a pessoa, que se manifesta singularmente na

autodeterminação e que traz consigo a pretensão ao respeito por

parte das demais pessoas, constituindo-se em um mínimo

invulnerável que todo estatuto jurídico deve assegurar, de modo

que apenas excepcionalmente possam ser feitas limitações ao

exercício dos direitos fundamentais, mas sempre sem

menosprezar a necessária estima que merecem todas as pessoas

enquanto seres humanos.

É qualidade integrante e irrenunciável da condição humana,

devendo ser reconhecida, respeitada, promovida e protegida. Não é criada, nem

concedida pelo ordenamento jurídico, motivo por que não pode ser retirada, pois é

inerente a cada ser humano.180

No entanto, em que pese o juiz da execução tente cumprir e

zelar pela fidelidade na aplicação da Lei de Execução do preso no processo

ressocializatório, é notória a deficiência estrutural dos estabelecimentos penais

em nosso país, que não oferecem ao detento condições de sobreviver com

dignidade ao cumprimento de sua pena, subtraindo-lhe oportunidade de trabalho,

educação, saúde e higiene.

Explanadas as diversas modalidades de pena privativa de

liberdade, assim como sobre os pontos principais da execução penal,

acrescentando-se a sua legítima finalidade, embora não cumprida na prática, no

próximo capítulo abordar-se-á as diversas deficiências do sistema penitenciário,

sobretudo a estrutural, que em muito é sentida pelos segregados no cumprimento

da sanção penal.

179 MORAES, Alexandre de. Constituição do Brasil Interpretada e legislação constitucional. São Paulo: Atlas, 2002, p. 128-129. 180AZEVEDO, Antônio Junqueira. Réquiem para uma certa dignidade da pessoa humana. In: CUNHA PEREIRA, Rodrigo da (Coord.). Anais do III Congresso Brasileiro de Direito de Família –

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CAPÍTULO 3

AS DEFICIÊNCIAS ESTRUTURAIS DO SISTEMA PENITENCIÁRIO BRASILEIRO

3.1 DADOS ESTATÍSTICOS DOS PRESÍDIOS E PENITENCIÁRIAS

BRASILEIRAS.

O Brasil tem a oitava maior população carcerária do mundo,

com um total de 440 mil presos181, sendo que São Paulo é o Estado que mais tem

pessoas segregadas, contando com 141.609 presos. Se fossem contabilizados os

mandados de prisão expedidos e não cumpridos, o país disputaria com Cuba, a

terceira posição mundial182.

Ora, não é novidade que o sistema penitenciário no Brasil

apresenta uma situação extremamente preocupante, pois os números de presos

em nosso país é alarmante, e os dados estatísticos comprovam que a deficiência

estrutural tem sido uma característica marcante do descaso político vigente.

Observa-se na tabela abaixo que a população carcerária se

compõe mais de homens do que mulheres:

Modalidades Masculino Feminino TOTAL Presos Provisórios 124892 5853 130745 Regime Fechado 155742 8852 164594 Regime Semi Aberto 57012 3283 60295 Regime Aberto 9779 1747 21526 Medida de Segurança -Internação 3019 394 3413 Méd. de Seg.Tratamento ambulatorial 406 133 539

Família e cidadania. O novo CCB e a vacatio legis. Belo Horizonte: Del Rey, IBDFAM, 2002, p. 329-351. 181 BRASIL tem 130 mil presos indevidamente. Ministério Público Federal, Brasília – DF, 23 jun. 2008. Disponível em: <http://pfdc.pgr.mpf.gov.br/clipping/junho-2008/brasil-tem-130-mil-presos-indevidamente/>. Acesso em: 18 out. 2008. 182 BRASIL têm a oitava maior população carcerária do mundo. O Norte On-Line. 18 set. 2007. Disponível em: <http://www.onorte.com.br/noticias/?69226>. Acesso em: 18 out. 2008.

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70

Fonte: Ministério da Justiça. Departamento Penitenciário Nacional. Informações da InfoPen. UF:

Brasil. Referência: 6/2008.

Verifica-se, por meio destes dados, que a população

carcerária masculina é infinitamente superior à feminina. Este fato pode se dar por

diversos fatores: maior discriminação masculina, menos oportunidades de

empregos, etc. Além disso, verifica-se que nas camadas mais pobres, a maioria

das mulheres mantém-se com subempregos como domésticas, faxineiras etc.,

tendo como principal ocupação o zelo pela família, casa, filhos etc., o que as

afasta de certo modo da criminalidade183.

Por outro lado, a tabela acima somente demonstrou os

segregados nos estabelecimentos prisionais, ou seja, sem contar aqueles

segregados em delegacias, cujo número chega a cerca de 13 mil presos184.

Os homens, ao contrário, estão mais expostos ao problema

da marginalização, tendo em vista a necessidade de seu sustento e o de sua

família, aliado às ilusórias “facilidades” que a ilicitude traz.

Percebe-se, também, que a maioria dos presos está na faixa

etária entre 18 a 24 anos, tanto para homens como mulheres185. A autora Fracieli

A. Correa Bizatto186 entende que nos casos de jovens delinqüentes os fatores

estão intimamente ligados aos problemas familiares e sociais enfrentados pelo

mesmo e sua família. Explica, ainda, que o fato é que, mesmo que estas causas

não justifiquem a criminalidade e a reincidência, é fato notório que os homens e

mulheres provenientes de famílias mais abastadas e estruturadas são número

mínimo nas estatísticas das cadeias e presídios.

183 BIZATTO, Francieli A. Correa. A pena privativa de liberdade e a ressocialização do apenado: uma reavaliação das políticas existentes no sistema prisional. Dissertação (Mestrado em Direito). Curso de Pós Graduação em Direito. Universidade do Vale de Itajaí, 2005. p.52. 184 Ministério da Justiça. Departamento Penitenciário Nacional. Informações da InfoPen. UF: Brasil. Referência: 6/2008. 185 Ministério da Justiça. Departamento Penitenciário Nacional. Informações da InfoPen. UF: Brasil. Referência: 6/2008. 186BIZATTO, Francieli A. Correa. A pena privativa de liberdade e a ressocialização do apenado: uma reavaliação das políticas existentes no sistema prisional. Dissertação (Mestrado em Direito). Curso de Pós Graduação em Direito. Universidade do Vale de Itajaí, 2005. p.52.

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71

É importante ressaltar que o investimento na abertura de

novas vagas não tem sido a única despesa dos cofres públicos, pois cada preso

que está segregado no estabelecimento prisional custa em torno de 01 (um) mil

reais mensais187.

De outro banda, do total de presos brasileiros, 10,5% são

analfabetos e 70% deles não concluíram o ensino fundamental. Apenas 18% dos

detentos estão envolvidos em atividades educacionais – e há uma combinação de

explicações para este índice tão baixo. Entre as principais causas estão a falta de

infra-estrutura para acolher salas de aula, o baixo interesse dos detentos em

estudar, entre outras188.

Outro fator que impossibilita que o preso tenha acesso ao

estudo é porque maioria das escolas prisionais funcionam durante o dia, no

mesmo horário das atividades laborais de que podem participar os detentos. Por

isso, tendo o preso que escolher entre o trabalho e a escola, este prefere o

trabalho189, pelas diversas vantagens, dentre as quais a remuneração e remição.

Seguem as tabelas comprovadoras do alegado:

187 Ministério da Justiça. Departamento Penitenciário Nacional. Informações da InfoPen. UF: Brasil. Referência: 6/2008. 188 O caminho do bem. Revista Educação, edição 118. Disponível em: <http://revistaeducacao.uol.com.br/textos.aps?codigo=12037>. Acesso em: 18 out. 2008. 189O caminho do bem. Revista Educação, edição 118. Disponível em: <http://revistaeducacao.uol.com.br/textos.aps?codigo=12037>. Acesso em: 18 out. 2008.

Trabalho Interno Masculino Feminino TOTAL

Artesanato 13669 900 14569 Apoio ao Estabelecimento Penal 30711 2718 33429 Atividade Rural 3228 60 3288 Outros 18436 1886 20322 TOTAL 71608

Trabalho Externo Masculino Feminino TOTAL

Empresa Privada 12114 459 12573 Administração Direta 3811 323 4134 Administração Indireta 2620 348 2968 Outros 401 29 430 TOTAL 21439

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72

Fonte: Ministério da Justiça. Departamento Penitenciário Nacional. Informações da InfoPen. UF:

Brasil. Referência: 6/2008.

Cerca de 23% dos detentos brasileiro estão envolvidos em

alguma atividade laboral, isto porque, como já dito, o trabalho lhe assegura um

percentual de um salário mínimo, todo mês, e ainda lhe proporciona a redução de

um dia de pena a cada três dias trabalhados, a chamada remição. Ainda assim, a

representatividade de 23% da população carcerária é um número pequeno que

está longe a conduzi-los à ressocialização.

Esse foco de todos os presos não terem a oportunidade de

estar exercendo qualquer atividade enquanto delito, completa o nosso

entendimento do porquê de só no 2º semestre de 2008 aconteceram 6.331

reinclusões. Isto quer dizer que esse número refere-se aos presos que retornaram

ao sistema penitenciário, gerando um grau de reincidência altíssimo em face das

justificativas das deficiências já discutidas anteriormente.

Outra estatística no tocante aos presos primários e

reincidentes, nos leva a crer que os atualmente segregados lá estão porque já

tiveram ao menos uma condenação e estão respondendo por outro crime,

consoante tabela abaixo:

Quantidade de Primários e Reincidentes Masculino Feminino TOTAL

Presos Primários com uma Condenação 90635 6971 97606 Presos Primários com Mais de uma Condenação

5108 2526 54034

Presos Reincidentes 72388 2348 74736 TOTAL 226376 Fonte: Ministério da Justiça. Departamento Penitenciário Nacional. Informações da InfoPen. UF:

Brasil. Referência: 6/2008.

Por isso, embora se entenda que a maioria são presos

primários, deve-se levar em consideração que os tipos de crimes mais violentos

estão sendo praticados por primários, consubstanciado com a vedação da lei para

fins de concessão de liberdade para estes crimes.

Logo, verificando o caos do sistema penitenciária em nível

nacional, nota-se que a estrutura real das prisões não se encontra em acordo com

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73

os objetivos da pena, tampouco da Lei de Execuções Penais, tanto que todos os

anos muitos presos retornam aos estabelecimentos prisionais e lá ficam à mercê

do Estado.

3.2 DADOS ESTATÍSTICOS DOS PRESÍDIOS E PENITENCIÁRIAS DO

ESTADO DE SANTA CATARINA

O nosso Estado conta, atualmente, com quase 12 mil

presos, possuindo apenas 6.308 vagas nos 36 estabelecimentos penais aqui

existentes190, conforme o quadro demonstrativo abaixo:

População Carcerária

Masculino Feminino TOTAL Presos Provisórios 3843 410 4253 Regime Fechado 3528 200 3728 Regime Semi Aberto 2327 148 2475 Regime Aberto 1294 91 1385 Medida de Segurança-Internação 97 0 97 Med. Seg – Tratamento Ambulatorial 4 1 5 TOTAL 11943 Fonte: Ministério da Justiça. Departamento Penitenciário Nacional. Informações da InfoPen. UF:

Brasil. Referência: 6/2008.

Frisa-se que a população carcerária atualmente vigente em

nosso país é constituída de 440 mil presos, e considerando que o Estado de

Santa Catarina possui cerca de 12 mil presos, é certo concluir que aqui

encontram-se segregados quase 3% da totalidade de detentos dos 27 estados da

nossa federação.

Dentre os 36 estabelecimentos penais, registra-se em nosso

Estado a presença de 05 (cinco) penitenciárias, 01 (uma) colônia agrícola, 02

(duas) casas de albergado, 26 (vinte e seis) cadeias públicas (Presídios) e 01

(um) hospital de Custódia e Tratamento Psiquiátrico. Não há Centro de

Observações em Santa Catarina191.

190 Ministério da Justiça. Departamento Penitenciário Nacional. Informações da InfoPen. UF: Santa Catarina. Referência: 6/2008. 191 Departamento Penitenciário Nacional. Dados Estatísticos de Santa Catarina. Referência: 6/2008.

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74

A pesquisa realizada pela Secretaria da Segurança Pública

e Defesa do Cidadão no 3º trimestre de 2007 demonstra a incidência de entradas

e saídas de presos, assim como de mortes, e a população carcerária de cada

regime em todos os estabelecimentos no nosso Estado, conforme se verifica na

tabela abaixo:

Preso População Regiões/ Municípios Entrada Saída Morto Fechado Semi-Aberto Aberto

Grande Florianópolis 915 805 5 2.268 369 272 Presídio Masculino 186 140 0 272 25 0 Pen. S. Pedro de Alcântara 161 216 2 1037 0 0 Penit. Florianópolis 335 312 3 719 296 0 Casa do Albergado 94 21 0 0 0 256 Presídio de Biguaçu 51 33 0 71 18 16 Presídio Feminino 62 58 0 33 30 0 HCTP 26 25 0 136 0 0

Sul 561 528 2 757 309 133 Presídio Criciúma 299 279 2 506 161 0 Presídio Tubarão 37 22 0 155 66 24 Presídio Araranguá 164 156 0 39 41 76 UPA Imbituba 49 58 0 50 5 0 UPA Laguna 12 13 0 7 36 33

Norte 818 741 3 1054 386 62 Penit. Joinville 52 12 0 223 135 0 Presídio Joinville 446 429 2 500 67 0 Presídio Jaraguá do Sul 34 34 0 97 36 4 Presídio Mafra 120 112 1 62 80 14 UPA Porto União 50 32 0 47 24 4 UPA Canoinhas * * * * * * Presídio Caçador 116 122 0 125 44 40

Vale do Itajaí 1283 1030 0 1400 381 612 Presídio Blumenau 230 285 0 428 62 288 Presídio Itajaí 405 305 0 480 95 106 Presídio Baln. Camboriú 319 297 0 53 100 144 Presídio Rio do Sul 141 135 0 155 26 42 UPA Indaial 46 40 0 73 40 22 UPA Brusque * * * * * * UPA Ituporanga 23 20 0 18 13 10 Presídio Tijucas 119 48 0 193 45 0

Planalto 326 284 0 368 291 230 Penit. Curitibanos 95 72 0 311 186 0 Presídio Lages 213 193 0 55 101 223 UPA Correia Pinto 18 19 0 2 4 7 UPA Campos Novos * * * * * *

Oeste 612 696 0 761 505 122 Presídio Joaçaba 118 85 0 88 26 21 Presídio Concórdia 20 22 0 29 34 22 Presídio Xanxerê 171 147 0 144 44 16 Presídio Chapecó 167 319 0 91 35 50 UPA S. Miguel do Oeste 83 92 0 36 15 13 Penitenciária Chapecó 53 31 0 373 351 0 TOTAIS 4515 4184 10 6608 2241 1431

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75

Fonte: Secretaria do Estado da Segurança Pública e Defesa do Cidadão. Diretoria de Informações

e Inteligência. Gerência de Estatísticas referente ao 3º trimestre de 2007.

Diante da tabela acima, ficou amplamente comprovado que

em Santa Catarina há mais presos entrando do que saindo dos estabelecimentos

penais. Segundo as críticas do diretor da DEAP, Carlos Roberto dos Santos192, é

impossível seguir à risca os ditames pregados pela LEP em razão da escassez de

recursos financeiros. Sugere que é necessário, em primeiro lugar, um agente

prisional para cuidar de cada 10 presos, o que provocaria a necessidade um total

de 980 servidores para o desempenho dessa tarefa. No entanto, atualmente

existem apenas 680 servidores a serviço do Estado, por isso, verifica-se com

clareza mais uma deficiência estrutural.

Outro dado estatístico demonstra a semelhança do problema

estadual com o de nível nacional, no sentido que quase 70% da população sequer

completou o ensino fundamental:

Escolaridade Grau de Instrução Masculino Feminino TOTAL

Analfabeto 438 20 458 Alfabetizado 1524 104 1628 Ensino Fundamental Incompleto 5221 369 5590 Ensino Fundamental Completo 1907 139 2046 Ensino Médio Incompleto 1061 121 1182 Ensino Médio Completo 784 82 866 Ensino Superior Incompleto 105 11 116 Ensino Superior Completo 45 6 51 Acima de Superior Completo 1 0 1 Não Informado 7 1 8

Fonte: Ministério da Justiça. Departamento Penitenciário Nacional. Informações da InfoPen. UF:

Santa Catarina. Referência: 6/2008.

Destaca-se que o grau de escolaridade do preso deriva da

condição social, que tem suas raízes na desigualdade social e na péssima

distribuição de renda que a política neoliberalista impõe, fato este confirmado pela

maioria dos presos não ter concluído o ensino fundamental, ou por nenhum jovem

192 SISTEMA prisional catarinense enfrenta superlotação. O Judiciário. Especial. Disponível em: <www.amc.org.br/new/download.php?codigo=1539>. Acesso em: 19 out. 2008.

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estar estudando quando detido, ou ainda, pelo alto índice de profissionais

trabalhando como autônomo em trabalhos temporários ou desempregados.

Quanto à idade dos segregados, examine-se o quadro

abaixo:

Faixa Etária Idade Masculino Feminino TOTAL

18 a 24 anos 2797 200 2997 25 a 29 anos 2515 173 2688 30 a 34 anos 1614 99 1713 35 a 45 anos 1366 110 1476 40 a 60 anos 641 53 694 Mais de 60 anos 116 5 121 Não Informado 48 0 48

Fonte: Ministério da Justiça. Departamento Penitenciário Nacional. Informações da InfoPen. UF:

Santa Catarina. Referência: 6/2008.

Os presos, em sua maioria, são jovens oriundos das

camadas sociais mais pobres, negros e já marginalizados socialmente, filhos de

famílias desestruturadas, que não tiveram e não têm acesso à educação nem à

formação profissional. São, portanto, pessoas que estão numa situação social já

delicada e, se não encontrarem condições mínimas necessárias nos presídios

para sua recuperação, jamais poderão voltar à sociedade como cidadãos de bem.

É oportuno frisar que a maioria dos segregados nos

estabelecimentos são primários e possuem apenas uma condenação, em um total

de 2.974 presos, enquanto são 2.772 presos já reincidentes. Todavia, justifica-se

que a maioria dos segregados primários são aqueles que cometeram crimes mais

graves, aos quais a lei veda a concessão de qualquer benefício legal que os

isente do cárcere.

Outro dado alarmante é do trabalho interno e externo,

conforme tabela abaixo especificada:

Trabalho Externo Empresas fornecedoras de trabalho Masculino Feminino TOTAL Empresa Privada 114 13 127 Administração Direta 137 13 150

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Administração Indireta 7 1 8 Outros 0 0 0 TOTAL 285 Fonte: Departamento Penitenciário Nacional. Informação da InfoPen. UF: Santa Catarina.

Referência: 6/2008.

Trabalho Interno Tipos de Atividade Masculino Feminino TOTAL Artesanato 1709 144 1853 Apoio ao Estabelecimento Penal 963 126 1089 Atividade Rural 0 0 872 Outros 2573 272 2845 TOTAL 6659 Fonte: Departamento Penitenciário Nacional. Informação da InfoPen. UF: Santa Catarina.

Referência: 6/2008.

Diferentemente do que foi constatado, o trabalho externo foi

reduzido, pois em 2007 contava-se com 486 detentos exercendo atividade laboral,

e agora, no 2º semestre de 2008, temos apenas 285 trabalhando, ou seja, ao

invés do Estado buscar incentivos com iniciativas privadas, estão sendo fechadas

as portas para a ressocialização.

3.3 EVOLUÇÃO DA SUPERLOTAÇÃO CARCERÁRIA

É sabido que a superlotação carcerária é o principal e

crônico problema do sistema penal, porquanto a cada ano que passa a

construção de novos locais de segregação, com o surgimento de novas vagas,

não é suficiente para o abastecimento dos segregados. Colhem-se dos dados a

seguir:

Quantidade de Estabelecimentos Penais Masculino Feminino Total Penitenciárias ou Similares 400 43 443 Colônias Agrícolas, Indústrias ou Similares 44 2 46 Casas de Albergados ou Similares 39 7 46 Centro de Observações ou Similares 13 1 14 Cadeias Públicas ou Similares 1036 96 1132 Hospitais de Custódia e Tratamento Psiq. 23 5 28 Outros Hospitais 3 4 7 Total de Estabelecimentos 1716

Número de Vagas Masculino Feminino TOTAL

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Polícia 21818 972 22790 Sistema Prisional 240954 14103 255057 Total 277847 Fonte: Ministério da Justiça. Departamento Penitenciário Nacional. Informações da InfoPen. UF:

Brasil. Referência: 6/2008.

Considerando, apenas, os estabelecimentos prisionais para

a segregação dos condenados, vejamos que temos 278 mil vagas para abrigar

mais de 440 mil presos.

Dessa forma, temos um déficit de 277 mil vagas, um número

assombroso, que tende somente a crescer, haja vista a proporção entre a média

mensal de inclusões e liberações do sistema carcerário, resultando em uma

superpopulação carcerária nos presídios, nas cadeias públicas e delegacias de

polícia.

Dados Estatísticos da População Carcerária entre os Anos de 2003 / 2007. Erro!

Fonte: Ministério da Justiça. Departamento Penitenciário Nacional. Dados Consolidados de

Dezembro de 2003 / 2007.

Observa-se dos dados consolidados a clara tendência de

aumento da população carcerária a cada ano que passa, uma vez que no ano de

2007 já contávamos com 366.574 presos somente no sistema penitenciário, isto

sem contar com os que estão atualmente segregados nos departamentos de

polícia.

Segundo o diretor-geral do Depen. Maurício Kuehne193, o

número de presos aumentou consideravelmente nos últimos 12 anos, justificando

193 BRASIL têm a oitava maior população carcerária do mundo. O Norte On-Line. 18 set. 2007. Disponível em: <http://www.onorte.com.br/noticias/?69226>. Acesso em: 18 out. 2008.

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que isso dificultou que a criação de vagas acompanhasse o ritmo de crescimento

da população carcerária. O mesmo diretor afirma que para exterminar o déficit de

cerca de 200 mil vagas do sistema penitenciário nacional seriam necessários R$

6 bilhões, contudo frisou que para amenizar o problema não basta, apenas,

viabilizar investimentos e aumentar o número de vagas, mas sim investir em

penas alternativas.

Os dados são preocupantes, pois em 1995 eram 148.760 mil

presos no país. Até junho de 2007, havia 419.551 mil detidos em penitenciárias e

delegacias. Ora, em 1995, a proporção era de 95 presos para cada 100 mil

habitantes, ao passo que hoje esse número simplesmente passou para 227

presos para cada 100 mil habitantes, de acordo com dados da Depen194.

Os gráficos abaixo demonstram o aumentos descomunal da

população carcerária nos últimos anos:

Fonte: Ministério da Justiça. Departamento Penitenciário Nacional. Dados Consolidados de Dezembro de 2003 / 2007.

Os dados são assustadores, restando, evidente, o aumento

em 37% da população carcerária entre 2003 até 2007, isto é, gradativamente

estamos alcançando o rank dos países que mais aprisionam no mundo,

consubstanciado com o que possui as condições mais precárias para o processo

194 BRASIL têm a oitava maior população carcerária do mundo. O Norte On-Line. 18 set. 2007. Disponível em: <http://www.onorte.com.br/noticias/?69226>. Acesso em: 18 out. 2008.

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ressocializatório, segundo a condenação nos relatórios anuais pela Human Rights

Watch195.

Portanto, é certo que há somente duas formas de enfrentar a

superlotação: através da construção de novos estabelecimento ou através do

livramento dos presos em excesso. Ambas estratégias, até certo ponto, são

utilizadas no Brasil, entretanto, como podemos perceber, nenhuma tem sido

suficiente para amenizar os níveis extremos de superpopulação que assombram o

sistema pena do país196.

Por isso, algumas alternativas têm que ser lançadas para as

autoridades no sentido de maior aplicação das penas alternativas ou a melhoria

dos locais de segregação, oportunizando a reinserção do preso na comunidade.

3.4 AS DEFICIÊNCIAS ESTRUTURAIS

3.4.1 Estrutura Física das Instituições Penais – Superlotação

Sabe-se que o objetivo primordial do sistema penal brasileiro

seria, em suma, efetivar as disposições de sentença ou decisão judicial,

proporcionando condições de integração social do condenado, segundo ao que

dispõe o art. 1º LEP.

Contudo, a realidade carcerária está bem distante ao que

vem expresso em lei, pois os alojamentos penais são considerados como

verdadeiros “depósitos de presos”, eivados de várias violações dos direitos

fundamentais e aos direitos humanos. São considerados também ambientes

propícios à violência, elevado consumo de substâncias tóxicas, tratamento

195 BRASIL, Eventos de 2007. Human Rights Watch. New York – NY, EUA. Disponível em: <http://hrw.org/portuguese/docs/2008/01/31/brazil17926.htm> Acesso em: 18 out. 2008. 196 O Brasil atrás das grades. Human Rights Watch. New York – NY, EUA. Disponível em: <http://www.hrw.org/portuguese/reports/presos/superlot2.htm>. Acesso em: 23 out. 2008.

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médico inadequado ou inexistente, ausência de acompanhamento jurídico, falta

de qualificação dos funcionários que atuam no sistema carcerário197.

A autora Francieli acredita que muito desses problemas,

como também a má alimentação dos presos, a falta de assistência educacional,

moral, social e profissional estão intimamente ligados ao excesso de

encarcerados, haja vista que diante da demanda de segregados superior ao

número de vagas, não se pode oferecer uma instalação sanitária satisfatória, uma

alimentação adequada, tampouco as assistências necessárias198.

Devido à superlotação, muitos detentos dormem no chão de

suas celas, às vezes no banheiro, próximo ao buraco do esgoto. Nos

estabelecimentos mais lotados, onde não existe espaço livre nem no chão, presos

dormem amarrados às grades das celas ou pendurados em redes. A maior parte

das instituições penais conta com uma estrutura deteriorada, algumas de forma

bastante grave199.

A LEP prevê que os detentos sejam mantidos em celas

individuais de pelo menos seis metros quadrados. De acordo com essa norma,

muitos presídios brasileiros possuem celas individuais em toda ou em boa parte

de suas áreas de reclusão. Mesmo assim, com o advento da superlotação, ao

invés de se manter um preso por cela, as alas ocupam dois ou mais detentos.

Além das celas individuais, grande parte dos presídios possui celas grandes ou

dormitórios que foram especificamente planejados para a convivência em grupo.

As delegacias policiais, normalmente possuem celas pequenas ou médias

197 SANTOS JÚNIOR, Antônio Carlos. A situação penitenciária brasileira. Trinolex. 19 nov. 2005. Disponível em: <http://www.trinolex.com.br/artigoInternaDetalhes.php?id_item=27422>. Acesso em: 18 out. 2008. 198 BIZATTO, Francieli A. Correa. A pena privativa de liberdade e a ressocialização do apenado: uma reavaliação das políticas existentes no sistema prisional. Dissertação (Mestrado em Direito). Curso de Pós Graduação em Direito. Universidade do Vale de Itajaí, 2005. p.52. 199 BOTELHO, Jéferson. Estabelecimento Prisional Provisório. Disponível em: <www.jefersonbotelho.com.br/wp-content/uploads/2007/03/estabelecimento-prisional-provisorio.doc.> Acesso em: 18 out. 2008.

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desenhadas para manter entre cinco a dez detentos, entretanto, chegam a alojar

quarenta200.

Uma pesquisa efetuada pela Comissão de Direitos Humanos

da Câmara dos Deputados por diversos presídios do país, aponta um quadro

trágico, humilhante do ponto de vida humanístico, que invariavelmente atinge

gente pobre, jovem e semi-alfabetizada. Consta no Estado do Ceará, que presos

se alimentavam com as mãos, e a comida, “estragada”, era distribuída em sacos

plásticos – sacos plásticos que, em Pernambuco, serviam para que detentos

isolados pudessem defecar201.

A mesma reportagem mostra que no Rio de Janeiro, em

Bangu I, penitenciária de segurança máxima, não havia oportunidade de trabalho

e de estudo, pois acreditavam que o fornecimento desses direitos ameaçavam a

segurança do estabelecimento. Enquanto isso, no Paraná, defrontaram com um

preso recolhido em cela de isolamento (utilizada para punição disciplinar) pelo

período de sete anos sem ter recebido visitas ou banho de sol. Já no Rio Grande

do Sul, na Penitenciária do Jacuí, com 1.241 detentos, apesar de progressos,

havia a assistência jurídica de um único procurador do Estado e, em dias de

visitas, o “desnudamento” dos familiares dos presos, com “flexões e

arregaçamento da vagina e do ânus”.

Pode-se perceber que o Estado de Santa Catarina em sua

situação caótica, não discrepa com a de nível nacional, pois para o Presídio de

Itajaí(SC) antigamente abrigava delinqüentes perigosos que a sociedade isolava

para não comprometer a ordem pública. Agora, a grande maioria dos

delinqüentes que lá se encontram segregados, são jovens das diversas classes

sociais que apresentados às drogas na adolescência, quando a personalidade

ainda está em formação, desistiram da família, estudos, e de uma carreira202.

200 BOTELHO, Jéferson. Estabelecimento Prisional Provisório. Disponível em: <www.jefersonbotelho.com.br/wp-content/uploads/2007/03/estabelecimento-prisional-provisorio.doc.> Acesso em: 18 out. 2008. 201 CRIMINALISTA mostra que as prisões brasileiras falham. Folha On Line. Publieditorial, 22 fev. 2008, Disponível em <http://www1.folha.uol.com.br/folha/publifolha/ult10037u351830.shtml>. Acesso em: 18 out. 2008. 202 PRESIDIÁRIOS revelam como viraram fregueses do cadeião. Diarinho, Polícia, 17 set. 2008. Disponível em: <www.diarinho.com.br/exclusivo/2008/1709/policia.html>. Acesso em: 17 set. 2008.

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O diretor desse Presídio, Maurílio Antônio da Silva, afirma

que todo dia entra mais gente do que sai, e que, atualmente, o estabelecimento

local abriga 635 detentos, quando a capacidade é para apenas 120 presos, razão

por que o Ministério Público, em dezembro de 2007, ajuizou uma ação203 para

que fosse limitada a entrada de presos no denominado “cadeião”204.

Como afirmação dessa preocupação, destaca-se que em

20/10/2008 ocorreu um princípio de rebelião no Presídio de Itajaí, onde os presos

reivindicavam os seus direitos à progressão de regime, saída temporária,

sustentando que já tinham cumprido os requisitos necessários para as

benesses205. Este, com certeza, é outro fator de extrema relevância que faz elevar

o crescimento da população carcerária, porquanto o art. 112 da LEP disciplina

que um preso condenado inicialmente em regime fechado deveria ser transferido

para um estabelecimento de regime semi-aberto, após o cumprimento de ano

menos um sexto de sua pena e, assim, sucessivamente, até o preso pudesse

retornar à sociedade, o que não ocorre na realidade prisional tanto regional como

nacional206.

No que tange ao Presídio de Balneário Camboriú, a situação

já não discrepa, pois lá há estrutura para apenas 104 presos e hoje está com 397.

Afirma o gerente do Presídio Leandro Kruel, que não há mais espaço físico para

alojar nenhuma pessoa, tanto que desde 2006 o pátio fica aberto 24 horas e seu

espaço começou a ser ocupado por colchões e foi aumentando cada vez mais207.

As cadeias públicas, ou presídios, servem para abrigar os

presos que aguardam o julgamento de seus delitos. No caso de Balneário

Camboriú, dos 392 presos, 64 deles são condenados a regime fechado, 74 a

semi-aberto e 213 são provisórios, sendo que deveriam estar ali apenas os

referidos 213. Desta forma, houve a transgressão de pelo menos dois artigos da

203 Processo nº 033.07.039225-3, que atualmente está em grau de recurso no Tribunal de Justiça. 204 PRESIDIÁRIOS revelam como viraram fregueses do cadeião. Diarinho, Polícia, 17 set. 2008. Disponível em: <www.diarinho.com.br/exclusivo/2008/1709/policia.html>. Acesso em: 17 set. 2008. 205 PRESIDIÁRIOS revelam como viraram fregueses do cadeião. Diarinho, Polícia, 17 set. 2008. Disponível em: <www.diarinho.com.br/exclusivo/2008/1709/policia.html>. Acesso em: 17 set. 2008. 206 A situação Penitenciária Brasileira. Trinolex, 29 mar. 2008. Disponível em: <http://www.trinolex.com.br/artigoInternaDetalhes.php?id_item=27422>. Acesso em: 18 out. 2008.

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LEP, o art. 84, que diz que o preso provisório ficará separado do condenado, e o

art. 85, que disciplina que o estabelecimento penal deverá ter lotação compatível

com a sua estrutura e finalidade.208.

Entretanto, podemos destacar que aqui em nosso Estado

temos, pelo menos, uma penitenciária que serve de exemplo para muitas outras

dispersas por todas as regiões, que é o Complexo Penitenciário de São Pedro de

Alcântara, devido a sua estrutura, equipe, bem como a sua eficiência para a

aplicação da execução penal. Esse sistema prisional possui capacidade para

1200 presos, sendo que cada cela é composta por 3 presos. Foi demonstrado que

a assistência jurídica é elaborada no próprio local da administração, que conta,

atualmente, com dois estagiário para o controle dos benefícios, bem como

psicólogas, assistentes sociais, dois médicos, um enfermeiro e dois técnicos.

Salienta-se que lá há um rígido tratamento penitenciário consistente com apenas

duas horas de banho de sol ao dia, e a grande parcela dos presos é oportunizado

o trabalho durante o dia209.

3.4.2 Atividades de Ensino

A LEP prevê a obrigatoriedade do ensino de 1º grau

integrado ao ensino estatal para todos os presos, não descartando a possibilidade

de convênios com entidades públicas ou particulares, que estalem escolas ou

ofereçam cursos especializados210.

É sabido que além da falta de organização da educação em

presídios no País, há um impasse bastante conhecido de quem trabalha com a

educação prisional: a difícil relação entre a educação e a segurança. A educação

é vista pelos agentes prisionais como algo que fragiliza a segurança do presídio,

207 BALDO, Jéferson. Presídio de Balneário está muito acima da capacidade. Redel, 29 mar. 2008. Disponível em: <www.redel.com.br/print.php?acao=ler&id=1872>. Acesso em: 24 de set. 2008. 208 BALDO, Jéferson. Presídio de Balneário está muito acima da capacidade. Redel, 29 mar. 2008. Disponível em: <www.redel.com.br/print.php?acao=ler&id=1872>. Acesso em: 24 de set. 2008. 209 Conforme informações obtidas junto ao Diretor da Penitenciária Everton Medeiros, em visita ao Complexo Penitenciário de São Pedro de Alcântara em: 19 set. 2008. 210 MARCÃO, Renato. Crise na Execução Penal III – Da assistência jurídica e educacional. Direitonet, 22 abr. 2005. Disponível em: <http://www.direitonet.com.br/artigos/x/20/08/2008>. Acesso em: 18 out. 2008.

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e, por outro lado, diz-se que o agente tem má vontade e que desmerece os

estudos dos presos, explica o técnico educacional do MEC, Carlos Teixeira.

Para o presidente do Conselho da Pastoral Carcerária,

Carlos Antônio Magalhães, a ausência de programas que trabalhem a reinserção

do preso na sociedade torna árdua a tarefa de reabilitar o interno, e favorece à

reincidência. Acrescenta que “cursos profissionalizantes, quando bem

direcionados, aplicáveis ao mercado de trabalho, são fundamentais para a

reabilitação”.

Outro fator já mencionado anteriormente, reside no fato do

ensino ser oferecido durante o dia, ou seja, no mesmo horário em que o preso

está exercendo suas atividades laborais, sendo esta última modalidade a mais

vantajosa para o recluso, já que, com a benesse, advém a remuneração e

remição da pena211.

Fortalecendo o entendimento de que a educação é tão

importante quanto o trabalho, e que o empecilho de que não há lei dando

incentivo ao preso em aplicar-lhe a remição na educação, o Superior Tribunal de

Justiça brilhantemente editou a súmula 341, disciplinado a possibilidade do ensino

fornecido pela instituição carcerária ser também uma forma de remição da pena.

A FREQUENCIA A CURSO DE ENSINO FORMAL É CAUSA DE

REMIÇÃO DE PARTE DO TEMPO DE EXECUÇÃO DE PENA EM

REGIME FECHADO OU SEMI-ABERTO [DJ-U de 13/8/2007].

No Recurso Especial 445.942/RS, Relator Min. Gilson Dipp,

julgado em 10/6/2003, publicado no DJ em 25/8/2003, p. 352,

ficou muito bem posta a fundamentação desta súmula: “A

interpretação extensiva ou analógica do vocábulo “trabalho”, para

abarcar também o estudo, longe de afrontar o caput do art. 126 da

Lei de Execução Penal, lhe deu, antes, correta aplicação,

considerando-se a necessidade de se ampliar, no presente caso,

o sentido ou alcance da lei, uma vez que a atividade estudantil,

tanto ou mais que a própria atividade laborativa, se adequa

perfeitamente à finalidade do instituto. III – Sendo um dos

211 O caminho do bem. Revista Educação, edição 118. Disponível em: <http://revistaeducacao.uol.com.br/textos.aps?codigo=12037>. Acesso em: 18 out. 2008.

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objetivos da Lei, ao instituir a remição, incentivar o bom

comportamento do sentenciado e a sua readaptação ao convívio

social, a interpretação extensiva se impõe in casu, se

considerarmos que a educação formal é a mais eficaz forma de

integração do indivíduo à sociedade”.

No Estado de Santa Catarina, o complexo penitenciário de

São Pedro de Alcântara é deficiente apenas na área da educação, pois inexistem

projetos relacionados a área. O complexo possui cinco salas de aula com

capacidade para 40 detentos, porém por problemas considerados como de

segurança (como falta de grades, dificuldades de locomoção dos detentos dentro

do complexo) não estão sendo utilizadas212. Registra-se, ainda, que o complexo

implantou em setembro de 2008, uma biblioteca com livros de diversas categorias

derivadas de várias doações.

Quanto ao presídio de Itajaí, não temos biblioteca, tampouco

salas de aula para o aprendizado. Contudo, foi lançado pelo Conselho da

Comunidade da Comarca de Itajaí junto com a empresa Fisiomar, um curso

profissionalizante da massoterapia às presas, a qual foi realizada no período de

09 de agosto a 14 de setembro de 2008. Destacou a presidente do Conselho que

a intenção dessa instituição é buscar recursos para implementação dos próximos

módulos, cujo financiamento parcial poderá vir de outras empresas interessadas

na profissionalização dos presos213.

Portanto, embora não exista como se considerar nada

expresso em lei que faça o apenado ter sua pena diminuída, os nossos tribunais

vêm se posicionando pela admissibilidade do instituto para fins de redução de

pena, dando ao preso um incentivo ao estudo para que esse diploma a ser

alcançado, enquanto estiver segregado, possa ser de grande valia, quando

alcançada sua liberdade.

212 TRISOTTO, Sabrina. O Trabalho Prisional Como Instrumento De Reabilitação Social: Uma Perspectiva Crítica. Dissertação (Mestrado em Direito). Curso de Pós-Graduação em Educação. Universidade Federal de Santa Catarina. Florianópolis, 2005. 213 CONSELHO da Comunidade de Itajaí busca profissionalização das presas. Tribunal de Justiça do Estado de Santa Catarina. 21 jul. 2006. Disponível em: <http://www.direito2.com.br/tjsc/2006/jul/21/c-comunidade-de-itajai-busca-profissionalizacao-das-presas>. Acesso em: 25 set. 2008.

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3.4.3 Escassa Assistência ao Preso e à sua Família

O apenado quando privado de sua liberdade, fica sob aos

cuidados do Estado que tem por dever dar-lhe assistência, seja ela material,

jurídica, educacional, social, religiosa, ou à saúde.

A assistência ao preso condenado e internado é uma

exigência legal e elementar, quando se vê a pena como um processo construtivo

com o propósito de fazer com que seu destinatário possa sair do sistema

penitenciário um cidadão reeducado para o convívio social214.

Sobre o importante papel desempenhado pela família,

convém ressaltar que a ressocialização não se dá só com o preso. Não adianta

reabilitar uma pessoa, se a família não dá o suporte necessário. A pessoa que

vem de um meio sem a mínima condição, volta para o mesmo meio sem

nenhuma condição de trabalho, pois não aprendeu nada e agora ficou numa

condição ainda mais difícil, pois se tornou um ex-detento215.

Quanto à assistência material216, destaca-se que a gerência

operacional é responsável por toda a manutenção do Complexo Penitenciário de

São Pedro de Alcântara, pois é esse departamento quem faz as compras de

produtos permitidos, e que o estabelecimento prisional não oferece ao detento.

Esses produtos vêm disponíveis em uma tabela, como por exemplo, cigarros,

isqueiros, guloseimas entre outras217. Igualmente, é o procedimento no Presídio

de Tijucas/SC. No presídio de Itajaí, essa modalidade não está disponível,

porquanto o dinheiro adquirido pelo preso por força do trabalho, é destinado para

a família do mesmo.

214 BIZATTO, Francieli A. Correa. A pena privativa de liberdade e a ressocialização do apenado: uma reavaliação das políticas existentes no sistema prisional. Dissertação (Mestrado em Direito). Curso de Pós Graduação em Direito. Universidade do Vale de Itajaí, 2005, p. 119. 215 REINCIDÊNCIA de presos é de 85% em SE. Jornal da Cidade. 25 mai. 2008. Disponível em: <http://2008.jornaldacidade.net/2008/noticia.php?id=4184>. Acesso em: 25 set. 2008. 216 Lei 7.210/84. Art. 13. O estabelecimento disporá de instalações e serviços que atendam aos presos nas suas necessidades pessoais, além de locais destinados à venda de produtos e objetos permitidos e não fornecidos pela Administração. 217 TRISOTTO, Sabrina. O Trabalho Prisional Como Instrumento De Reabilitação Social: Uma Perspectiva Crítica. Dissertação (Mestrado em Direito). Curso de Pós-Graduação em Educação. Universidade Federal de Santa Catarina. Florianópolis, 2005, p. 37.

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Tocante á assistência à saúde218, apresenta-se como um

dos grandes dramas nas penitenciárias, pois o estabelecimento fechado, com

excesso de lotação, possibilita freqüentes moléstias contagiosas e transtornos

mentais, agravando-se pelo fato da grande parte da população prisional ser

proveniente de classes pobres, e não terem sido adequadamente assistidos.

No mesmo prisma, é notório que as penitenciárias

normalmente não possuem tais serviços à saúde, quando muito, o disponibilizam

de forma precária. O Complexo Penitenciário de São Pedro de Alcântara possui

um médico, um enfermeiro e dois técnicos para aproximadamente 1200 presos. O

Presídio de Itajaí oferece tratamento médico, todavia, limitado; em caso de

urgência o detento poderá ser conduzido aos serviços da UNIVALI ou ao Hospital

Marieta Konder Bornhausen219.

No que tange ao direito à assistência jurídica, observa-se

que é garantido pelo artigo 5º LXXIV, da Constituição Federal a todos os

brasileiros e estrangeiros, que não possam pagar as custas processuais e os

honorários dos advogados, sem prejuízo para o sustento da sua família ou até de

si próprio. Portanto, em muitas hipóteses, o advogado do serviço de assistência

jurídica nos presídios pode contribuir para uma adequada execução da pena

privativa de liberdade, de modo a reparar erros judiciários, evitar prisões

desnecessárias, diminuir o número de internações e preservar a disciplina com o

atendimento dos anseios da população carcerária220.

Atualmente, o órgão responsável pela execução penal em

nossa cidade (Itajaí) é a 3ª Vara Criminal, sem descartar as atribuições do

representante do Ministério Público quanto à fiscalização da pena e eventuais

benefícios, podendo, inclusive, pleitear junto ao juízo competente. Eventualmente,

poderá, ainda, o apenado contratar ou solicitar a assistência jurídica de advogado

se assim entender conveniente. Na Penitenciária de São Pedro de Alcântara

218 Lei 7.210/84. Art. 14. A assistência à saúde do preso e do internado de caráter preventivo e curativo, compreenderá atendimento médico, farmacêutico e odontológico. [...] §2º Quando o estabelecimento penal não estiver aparelhado para prover a assistência médica necessária, esta será prestada em outro local, mediante autorização da direção do estabelecimento. 219 Consoante visita aos dois estabelecimentos penais. 220 MIRABETE, Júlio Fabbrini,. Execução Penal, 2007, p. 73.

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existe um departamento na área Administrativa privativa para a apuração desses

benefícios, controlando o tempo de pena que cada preso incumbe a cumprir.

O trabalho de assistência ao egresso221 é de suma

importância, pois, após a liberação do estabelecimento penal, o preso retornará

ao convívio social livre (art. 26, LEP). Desta forma, os efeitos da prisão e a

rejeição social praticamente inviabilizam o egresso de viver em sociedade,

contribuindo, decisivamente, para os alarmantes e notórios índices de

reincidência. Para evitar tais incongruências, estabelece-se a assistência ao

egresso de forma a viabilizar sua reinserção social, a obtenção de trabalho e até

de recursos materiais (art. 25 e 27, LEP)222.

Quanto às entrevistas realizadas, dentro do Complexo

Penitenciário de São Pedro de Alcântara, pondera-se que dificilmente os presos

são contratados pelas empresas que prestaram serviços, enquanto

segregados223:

A grande comprovação da falta de programas consistentes de

ressocialização de acompanhamento do egresso é que as

empresas presentes na penitenciária não têm interesse nenhum

em contratar seus ex-funcionários detentos quando estes saírem,

muito embora esta seja uma esperança destes, conforme

observado e já apontado em seus discursos. Ao perguntar ao

diretor se existe algum plano da empresa em contratar essa mão-

de-obra quando sair, ele é enfático em responder: “Não, não vai

contratar; não existe essa possibilidade, aqui dentro ele é uma

coisa, lá fora o que será esse cara?” (Diretor). Ao que acrescenta

o chefe de segurança: “As empresas querem a mão de obra com

o detento aqui dentro, lá fora não. Seria necessário que os presos

recebessem um diploma pelo que fizeram, pelo que aprenderam,

mas as empresas não querem criar vínculos, não querem que o

221 Considera-se egresso segundo a LEP, artigo26 o “liberado definitivo, pelo prazo de 1 ano a contar da saída do estabelecimento” (inc.I) é o liberado condicional, durante o período de prova (inc.II) . 222ADORNO, Rodrigo dos Santos. Uma análise crítica à Execução Penal. Jus Navegandi. Out. 2002. Disponível em: <http://jus2.uol.com.br/DOUTRINA/texto.asp?id=5115>. Acesso em: 20 out. 2008. 223 TRISOTTO, Sabrina. O Trabalho Prisional Como Instrumento De Reabilitação Social: Uma Perspectiva Crítica. Dissertação (Mestrado em Direito). Curso de Pós-Graduação em Educação. Universidade Federal de Santa Catarina. Florianópolis, 2005, p. 37.

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cara saia e vá procurá-las com um diploma que ela deu” (Chefe de

segurança).

Dados de uma pesquisa sobre o egresso, demonstram que

ao perguntarem sobre quais foram os dois maiores problemas para encontrar

trabalho, ao saírem da prisão, 70% apontou o preconceito como o principal

problema para obterem emprego224.

Não subsiste atualmente em Santa Catarina nenhum tipo de

ação voltada para o egresso. Apesar de existir uma gerência na SSP,

denominada de gerência de apoio ao egresso, ela tem, na realidade, a função de

efetivação dos convênios entre as prisões e as empresas interessadas em utilizar

a mão-de-obra prisional, nada relacionado com assistência ao egresso. Assim,

informações sobre egressos são praticamente inexistentes e, dificilmente, alguém

sabe como está se desenvolvendo a vida de quem foi posto em liberdade225.

Tanto na penitenciária de São Pedro de Alcântara como em

todos os presídios da região, quando postos em liberdade, os presos são levados

até o Fórum e, em seguida, deixados no centro. Sendo assim, ao sair muitos

detentos não possuem, sequer, um documento de identidade e não são

oferecidos a eles, o menor tipo de auxílio.

Por isso que o egresso, logo “ex-presidiário” quando se livra

da prisão, sofre diversos tipos de humilhação, pois a população, que em sua

grande parte é preconceituosa, não lhe dá oportunidades para sua reinserção e

ao convívio comum.

3.4.4 Trabalho Prisional

Além de tratar da questão da assistência ao apenado e ao

egresso, é importante falar, também, da questão da profissionalização como

224 WAUTERS, Edna. A reinserção social pelo trabalho. Monografia (Especialista em Direito). Curso de Pós Graduação. Universidade Federal do Paraná, Curitiba, 2003, p. 37. Disponível em: <http://www.depen.pr.gov.br/arquivo/File/monografia_ednaw.pdf>. Acesso em 26 de out. 2008.

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forma de ressocialização. Se para alguém que nunca teve problema com a justiça

está difícil conseguir um emprego com observância às leis trabalhistas, que dirá

para o egresso que, nesta condição, não conseguirá mais do que trabalhos

informais, como autônomo, fazendo trabalhos temporários e recebendo parca

remuneração226.

Exatamente esta é a pretensão do trabalho prisional, ou

seja, fazer com que o preso se profissionalize com as oportunidades que lhe são

cedidas dentro do ergástulo público e, conseqüentemente, diminua as chances de

voltar à criminalidade, quando sair da prisão.

No mesmo norte, o trabalho do preso é fundamental por uma

série de outros fatores: do ponto de vista disciplinar, evita os efeitos corruptores

do ócio e contribui para manter a ordem; do ponto de vista educativo, o trabalho

contribui para a formação da personalidade do indivíduo; do ponto de vista

econômico, permite ao preso dispor de algum dinheiro para suas necessidades e

para subvencionar sua família; do ponto de vista da ressocialização, um homem

com profissão tem mais chances de levar uma vida honrada227.

É cediço que o trabalho será remunerado mediante prévia

tabela, não podendo ser inferior a três quartos do salário mínimo (art. 29 da LEP),

que dispõe, ainda, que a remuneração poderá ser revertida à indenização dos

danos causados à vítima, para a assistência da família ou de pequenas despesas

pessoais.

É lamentável que a grande maioria das empresas, hoje em

dia, não utiliza a mão de obra presidiária, e nem querem pensar no assunto

225 TRISOTTO, Sabrina. O Trabalho Prisional Como Instrumento De Reabilitação Social: Uma Perspectiva Crítica. Dissertação (Mestrado em Direito). Curso de Pós-Graduação em Educação. Universidade Federal de Santa Catarina. Florianópolis, 2005. 226BIZATTO, Francieli A. Correa. A pena privativa de liberdade e a ressocialização do apenado: uma reavaliação das políticas existentes no sistema prisional. Dissertação (Mestrado em Direito). Curso de Pós Graduação em Direito. Universidade do Vale de Itajaí, 2005, p. 120. 227 ALEXANDRE, Sérgio Luiz. Os direitos do preso na Execução Penal: o trabalho do preso como fator ressocializador. Monografia (Bacharel em Direito). Curso de Graduação em Direito da UNIVALI, Itajaí, 2006.

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devido à desconfiança que as mesmas têm em relação às cadeias. As poucas

que apostam no trabalho dos reclusos costumam se beneficiar da situação.

Segundo os regramentos do Complexo Penitenciário de São

Pedro de Alcântara, convém anotar que:

Todos os presos que se encontram na penitenciária de São Pedro

recebem uma quantia fixa por mês denominada de “diária” – além

do salário recebido pelo trabalho nas oficinas e nas celas. O valor

da “diária” varia de acordo com a ocupação dos detentos. Os que

trabalham nas oficinas e também os que estão nas celas,

recebem R$30,00 por mês, já os que estão no pavilhão industrial

recebem R$60,00, pois não recebem pelo seu trabalho um “salário

extra”, como os que trabalham nas oficinas e nas celas. Tanto da

quantia recebida pelas diárias como pelo “salário extra” são

descontados 25% que são encaminhados ao fundo rotativo da

prisão Como não é permitido que os presos recebam dinheiro em

espécie, recebem em forma de pecúlio, que é o nome dado ao

salário recebido pelos mesmos, que se reverte na compra de

mercadorias, depósito em poupança, ou ainda pode ser destinado

à família. Convém ressaltar que todos os detentos recebem a

remissão de pena, prevista na LEP para os detentos que

trabalham, ou seja, em São Pedro considera-se que todos os

presos realizam alguma atividade.

Das cinco oficinas em funcionamento na penitenciária, todas

são frutos de convênios com empresas privadas, com exceção da oficina da

Fesporte (oficina de confecção de bolas) que faz parte de um projeto nacional

entre o Ministério do Esporte e a Secretaria de Justiça do Estado. As outras

oficinas são: uma de montagem de equipamentos telefônicos; uma de fabricação

de varões de cortinas e redes de descanso de madeira; e uma de montagem de

prendedores de roupa.

Quanto à destinação da remuneração dos presos dentro do

Complexo, o diretor afirma que metade do que o detento recebe fica guardado em

uma poupança como uma forma de “egresso”, já que a hora que sair do ergástulo

público, pode utilizá-lo para sua mantença, e a outra parte do dinheiro é para o

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preso desfrutar dos bens que podem ser adquiridos, quando não disponíveis no

estabelecimento prisional228.

Segundo o diretor daquele estabelecimento, há trabalho

para presos em diversos ramos. Atualmente, contam com dez empresas

conveniadas com a penitenciária, e as atividades se subdividem nos ramos acima

citados, bem como trabalhos esporádicos de marceneiros, pinturas, conserto de

carros. É preciso destacar que, recentemente, os detentos dessa penitenciária

começaram a fabricar seus próprios uniformes, e que apenados catarinenses dos

Presídios de Rio do Sul e Presídio Regional de Joinville estão fabricando cadeiras

de rodas, aproveitando sucata de bicicletas doadas pelas comunidades locais. Os

internos selecionados nesses presídios para o trabalho, são beneficiados pelo

Projeto Liberdade Sobre Rodas, uma parceria entre a Secretaria da Justiça e a

Cidadania de Santa Catarina e Departamento Penitenciário Nacional do Ministério

da Justiça229.

Com o sucesso do projeto, ele acabou de chegar ao Presídio

Regional de Itajaí, onde oito presos estão direcionados para este trabalho com o

auxílio do instituto IEPES230. Esse Presídio também fornece em média 30 redes

por mês à empresa Redesport, fruto do trabalho do preso que ganha a quantia de

R$ 17 (dezessete reais), além de ganhar um dia de desconto da pena por três de

trabalho231.

Segundo a LEP, todos os presos condenados no Brasil

deveriam ter oportunidades de trabalho, educação e treinamento profissional.

Apesar disto estar claramente estabelecido pela lei, apenas a menor parte dos

presos brasileiros têm a oportunidade de trabalhar, conforme já expresso em

dados estatísticos. Além de prejudicar claramente o objetivo proposto pela lei de

reintegração do condenado, onde o trabalho juntamente com a educação são

considerados fatores decisivos, os presos que trabalham têm o benefício legal da

228 Conforme informações obtidas junto ao Diretor da Penitenciária Everton Medeiros, em visita ao Complexo Penitenciário de São Pedro de Alcântara em: 19 set. 2008. 229 DETENTOS de Santa Catarina fabricam cadeiras de rodas. Avança Brasil. Disponível em: <http://www.abrasil.gov.br/noticia.asp?id=249>. Acesso em: 18 out. 2008. 230 IEPES – Instituto de Estudos e Pesquisas Sobre a Violência e Criminalidade.

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redução de suas penas. Conclui-se, assim, que a escassez de trabalho, as

deficiências da assistência jurídica, de ensino e com o aumento da taxa de

reincidência, são fatores contributivos para a superlotação, porque retardam a

saída dos presos do sistema prisional232.

231 PRESIDIÁRIOS revelam como viraram fregueses do cadeião. Diarinho. Polícia. Disponível em: <www.diarinho.com.br/exclusivo/2008/1709/policia.html>. Acesso em: 17 set. 2008. 232 TRISOTTO, Sabrina. O Trabalho Prisional Como Instrumento De Reabilitação Social: Uma Perspectiva Crítica. Dissertação (Mestrado em Direito). Curso de Pós-Graduação em Educação. Universidade Federal de Santa Catarina. Florianópolis, 2005, p. 15.

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CONSIDERAÇÕES FINAIS

Ao término da pesquisa proposta, restou confirmado que a

pena de caráter meramente punitivo passou a ser utilizada nos dias atuais,

porquanto é notório o descaso político para os investimentos públicos a fim de

efetivar as construções de novos estabelecimentos penais, hipótese que

diminuiria o caos da superlotação.

A procura das respostas para as hipóteses mencionadas na

introdução da presente monografia, foram de grande importância para que se

viabilizassem os objetivos a que se pretendia chegar com este estudo, que foi

subdividido em três capítulos.

No primeiro capítulo, podemos perceber que antigamente a

pena era aplicada sem parâmetros, pois a vítima era quem satisfazia o seu direito,

incumbindo-lhe sancionar o detento da forma que quisesse. Observou-se que

com a evolução da política criminal, tal poder foi centralizado, surgindo o Estado

como o responsável pela aplicação de tais medidas. Na seqüência, o estudo de

alguns filósofos mistificou a humanização da pena, sob o enfoque de que era

melhor prevenir do que remediar, ou seja, melhor ressocializar o preso do que

aplicar-lhe sanções cruéis que fizessem criar um espírito de revolta e retornar à

delinqüência.

Desse modo, foram ofertadas diversas propostas acerca da

individualização da pena, como a separação dos condenados, a adoção da teoria

mista da pena pelo Brasil, a edição de leis penais que adentrassem nos objetivos

da sanção penal (educar e punir). Contudo, ao mesmo tempo em que as leis se

aprimoravam, as deficiências do sistema penitenciário começaram a aparecer,

como a superlotação, a falta de investimentos e incentivos para o trabalho e

estudo nas prisões, e outras.

Na mesma esteira, o segundo capítulo adentrou nas

previsões legais de todo o ordenamento jurídico no que tange à pena, que fora

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construído pelos costumes da população brasileira, especialmente pelo

surgimento dos princípios constitucionais e norteadores da execução penal, a fim

de que a sanção não fosse executada de forma injusta, garantindo ao condenado

os seus direitos e dignidade enquanto pessoa. Gizou-se também a forma

progressiva da execução penal, destacando individualmente, os tipos de

assistências e direitos do segregado, bem como os estabelecimentos em que

cada qual cumprirá sua pena.

Já no terceiro capítulo, a autora pretendeu demonstrar a

realidade prisional, a qual está bem distante do que dispõe a Lei de Execuções

Penais. Foram apresentados os problemas através de dados estatísticos, que

levam à conclusão de que a demanda da população carcerária está infinitamente

superior ao número de vagas que é disponibilizado pelo Estado. Explanaram-se,

ainda, algumas deficiências estruturais dos estabelecimentos penais, que em

muito dificultam o processo de ressocialização do preso.

Por isso, após término do presente trabalho de conclusão de

curso, é possível concluir que os presos sofrem tratamento desumano,

constituindo uma verdadeira afronta aos preceitos normativos, pois quando

levados ao cárcere, são esquecidos pelo Estado e pela sociedade. Nada se faz

para recuperar seus valores, tampouco sua dignidade humana. Assim, quando

são postos em liberdade, aqueles indivíduos voltarão ao convívio social e os seus

comportamentos serão o reflexo do tratamento a que foram submetidos sob o

patrocínio do Estado e pela indiferença da sociedade.

Além disso, cabe salientar que o objetivo e os problemas

sobre as deficiências aqui abordadas, nos trouxeram à baila que houve o retorno

da crueldade da pena, aquela que era aplicada na Idade Média. Observa-se que,

os condenados nos dias atuais também estão expostos às situações humilhantes

quando do cumprimento da reprimenda, em face da promiscuidade das celas e do

escasso auxílio para a ressocialização que lhes são ofertados.

Uma das soluções para o problema, provavelmente, seria a

contribuição da comunidade, fazendo com que o ex-presidiário seja reinserido na

sociedade, consubstanciado com o apoio familiar e dos responsáveis pela

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possibilidade de melhoria neste setor público, que se encontra tão desamparado e

despreparado para o cumprimento da sua tarefa, aquela de ressocializar o preso

para que então não volte mais ao cárcere.

Por outro lado, considerando a complexidade da temática

aqui abordada, é necessário que outros pesquisadores, estudantes, autoridades

das diversas esferas da nossa sociedade procurem, de forma humanitária, refletir,

questionar e propor mudanças para a questão da ressocialização do preso. Dessa

forma, cada um poderá estar contribuindo para uma sociedade mais justa, mais

solidária e mais feliz e, por conseguinte, dizer para si mesmo: Não vou resolver o

problema em sua totalidade, mas estou fazendo a minha parte!

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ANEXOS

FOTOS DO COMPLEXTO PENITENICÁRIO DE SÃO PEDRO DE ALCÂNTARA

Corredor Vista das celas Vista das celas e pátio Escada de acesso ao pátio

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PRESÍDIO REGIONAL DE ITAJAÍ

Entrada da Galeria Feminina Entrada para celas

Celas

Dentro do pátio das celas

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Vista das Celas Celas

Presos Produzindo Redes Esportivas

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CELAS DO PRESÍDIO DE ITAJAÍ

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Foto do Princípio de Rebelião no Presídio de Itajaí em 15-10-2008

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ALGUNS PRESÍDIOS CATARINENSES

Presídio de Balneário

Camboriú (vista de cima do pátio)

Presídio de Joinville (vista de cima do pátio)