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A Dinâmica da Vantagem Nacional 1 1. Introdução Cada um dos determinantes, isolados e em conjunto, aumenta ou diminui a vantagem nacional. O efeito de um determinante depende, com freqüência, do estado dos outros. Os determinantes da vantagem nacional constituem um sistema complexo, através do qual muitas características nacionais influem no sucesso competitivo. Não obstante, o sistema é evolutivo e um determinante influi nos outros. A vantagem competitiva constante de uma indústria vem do intercâmbio autofortalecedor das vantagens em várias áreas, criando um ambiente difícil de ser reproduzido pelos competidores estrangeiros. Os determinantes individuais se combinam num sistema dinâmico. Cada determinante é influenciado pelos outros. Dois elementos – rivalidade interna e concentração geográfica da indústria – têm capacidade particularmente grande de transformar o “diamante” num sistema: a rivalidade interna, porque promove o aperfeiçoamento de todo o “diamante”, e a concentração geográfica, porque eleva e amplia as interações dentro do “diamante”. A operação e a influência mútua dos determinantes permitem-nos explorar como as indústrias e grupos de indústrias competitivas nascem e se modificam. Também oferecem base para compreendermos por que as indústrias nacionais fenecem e morrem. 2. Relações entre Determinantes Os determinantes da vantagem nacional reforçam-se mutuamente e proliferam com o tempo, ao estimular a vantagem competitiva numa indústria. À medida que esse reforço mútuo acontece, causa e efeito dos determinantes individuais se tornam imprecisos. O “diamante” ilustrativo dos determinantes, com suas setas nos dois sentidos ligando-os, é simbólico dessas relações. Na realidade, cada determinante pode afetar todos os outros determinantes, embora algumas interações sejam mais fortes e mais importantes do que outras. 2.1. Padrões de Criação de Fatores Grupos de rivais internos estimulam a criação de Desafios nacionais fatores identificados estimulam a criação de fatores Demanda interna influi nas propriedades para investimentos na Indústrias correlatas e de apoio criação de fatores estimulam a criação de fatores transferíveis 1 Síntese elaborada por Antônio José Botelho dos trechos teóricos do Capítulo 4, do livro “A Vantagem Competitiva das Nações”, 6ª Edição, publicado pela Editora Campus, no Rio de Janeiro, em 1989, de Michael Porter. Estratégia, estrutura e rivalidade das empresas Condições de fatores Condições de demanda Indústrias correlatas e de apoio

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A Dinâmica da Vantagem Nacional1

1. Introdução

Cada um dos determinantes, isolados e em conjunto, aumenta ou diminui a vantagem nacional. Oefeito de um determinante depende, com freqüência, do estado dos outros. Os determinantes davantagem nacional constituem um sistema complexo, através do qual muitas característicasnacionais influem no sucesso competitivo. Não obstante, o sistema é evolutivo e umdeterminante influi nos outros. A vantagem competitiva constante de uma indústria vem dointercâmbio autofortalecedor das vantagens em várias áreas, criando um ambiente difícil de serreproduzido pelos competidores estrangeiros.

Os determinantes individuais se combinam num sistema dinâmico. Cada determinante éinfluenciado pelos outros. Dois elementos – rivalidade interna e concentração geográfica daindústria – têm capacidade particularmente grande de transformar o “diamante” num sistema: arivalidade interna, porque promove o aperfeiçoamento de todo o “diamante”, e a concentraçãogeográfica, porque eleva e amplia as interações dentro do “diamante”. A operação e a influênciamútua dos determinantes permitem-nos explorar como as indústrias e grupos de indústriascompetitivas nascem e se modificam. Também oferecem base para compreendermos por que asindústrias nacionais fenecem e morrem.

2. Relações entre Determinantes

Os determinantes da vantagem nacional reforçam-se mutuamente e proliferam com o tempo, aoestimular a vantagem competitiva numa indústria. À medida que esse reforço mútuo acontece,causa e efeito dos determinantes individuais se tornam imprecisos.

O “diamante” ilustrativo dos determinantes, com suas setas nos dois sentidos ligando-os, ésimbólico dessas relações. Na realidade, cada determinante pode afetar todos os outrosdeterminantes, embora algumas interações sejam mais fortes e mais importantes do que outras.

2.1. Padrões de Criação de Fatores

Grupos de rivais internosestimulam a criação de Desafios nacionaisfatores identificados estimulam a criação de fatores

Demanda interna influi nas propriedades para investimentos naIndústrias correlatas e de apoio criação de fatoresestimulam a criação defatores transferíveis

1 Síntese elaborada por Antônio José Botelho dos trechos teóricos do Capítulo 4, do livro “A Vantagem Competitivadas Nações”, 6ª Edição, publicado pela Editora Campus, no Rio de Janeiro, em 1989, de Michael Porter.

Estratégia, estrutura erivalidade das empresas

Condições de fatores Condições de demanda

Indústrias correlatas e deapoio

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Os tipos de fatores criados num país são influenciados pelos determinantes, em particular ostipos de fatores mais decisivos para a vantagem nacional competitiva.

Investimentos em fatores generalizados , com a infra-estrutura de transportes e o sistema deescolas secundárias, são feitos praticamente em todas as nações. O que varia é taxa deinvestimento do país, o desejado padrão de desempenho e a eficiência com que são dirigidas asinstituições que participam da criação de fatores. Embora os fatores generalizados nãoconstituam base suficiente para a vantagem nacional em indústrias adiantadas, servem como basea partir da qual os fatores adiantados e especializados são criados.

O investimento nacional contínuo em fatores generalizados é, portanto, essencial para oprogresso econômico nacional. O tamanho e a qualidade dos investimentos públicos em fatoresgeneralizados podem ser (e são) influenciados pelas atitudes da comunidade econômica e doscidadãos particulares.

O importante para a vantagem competitiva, todavia, são os mecanismos excepcionalmenteeficientes para a criação e aperfeiçoamento dos fatores adiantados e especializados, como uminstituto de pesquisas. Os investimentos em fatores adiantados e especializados são geridos deformas mais complexas. Ao contrário dos fatores generalizados, os investimentos neles estãolonge de se espalhar uniformemente pelas economias nacionais. Os países diferem muito nasindústrias e setores nos quais são feitos os investimentos privados e públicos em criação defatores.

Onde são criados e aperfeiçoados os fatores adiantados e especializados num país? Os outrosdeterminantes da vantagem competitiva nacional têm um papel importante, se não decisivo. Afigura anterior ilustra vários das influências mais importantes.

A criação de fatores talvez seja influenciada mais fortemente pela rivalidade interna. Várioscompetidores locais, numa disputa vigorosa, estimulam o rápido desenvolvimento de recursoshumanos habilitados, tecnologias correlatas, conhecimento do mercado e infra-estruturaespecializada. As próprias empresas investem na criação de fatores, isoladamente ou através deassociações de comércio, sob a pressão de não ficar para trás. Tão importante quanto isso,porém, é o fato de que um grupo de rivais internos também estimula programas especiais emescalas e universidades locais, institutos técnicos e centros de pesquisa mantidos pelo governo,revistas especializadas naquela indústria e outros disseminadores de informações, além de outrostipos de investimentos em fatores pelo governo e outras instituições. Um grupo de rivais internostambém estimula os que procuram emprego a investir na obtenção dos conhecimentosespecializados. A criação de fatores será excepcionalmente rápida em indústrias consideradasprestigiosas ou prioridades nacionais (estratégicas), porque é atraída a atenção das pessoas,instituições e entidades governamentais.

O investimento na criação de fatores está sujeito ao bem público ou a problemas externos, nosquais as firmas são incapazes de captar todos os benefícios. A rivalidade interna, porém, ajuda amodelar a estrutura institucional para superar esses problemas porque influencia a formação ecomportamento de instituições independentes bem como os incentivos de agentes externos naconsideração dos investimentos criadores de fatores.

Esses efeitos serão mais acentuados se os rivais estiverem todos localizados numa cidade ouregião. uma firma isolada pode ter algum efeito sobre a criação de fatores, particularmente setiver influência preponderante sobre a cidade ou a região. Mas um grupo de rivais oferecegeralmente mais estímulos, por várias razões. A competição entre os rivais locais se estende até

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esforços para cortejar e estabelecer relações com instituições educacionais, instituições depesquisa e fornecedores de informações. Essa competição estimulará a taxa de criação de fatores.

Cada empresa, através de seus muitos contatos com terceiros, transmite informações sobre si esobre sua indústria. Uma empresa grande não atrai o dobro da atenção de duas empresasmenores, cujo tamanho exceda um limite mínimo, de modo que múltiplos rivais levarãonormalmente à sinalização mais eficiente.

Essas influências de um grupo de competidores internos na criação de fatores são importantes ecomuns, mas estão longe de serem automáticas. As empresas locais devem compreender anecessidade de aprimorar constantemente o conjunto de fatores e trabalhar ativamente paraestimular os investimentos neles.

O conjunto de fatores e o ritmo no qual são criados também são condicionados pela presença deindústrias correlatas e de apoio. Essas indústrias possuem ou estimulam seus mecanismospróprios de criação e aprimoramento dos fatores especializados.

A existência de um grupo de várias indústrias que utilizam insumos, conhecimentos e infra-estrutura comuns, também estimula mais os órgãos governamentais, instituições educacionais,empresas e indivíduos a investir na criação de fatores relevantes ou nos mecanismos de criaçãode fatores. A infra-estrutura especializada é ampliada, são gerados efeitos secundários queaprimoram a qualidade do fator e aumentam a sua oferta. Por vezes, surgem indústriastotalmente novas para proporcionar infra-estrutura especializada a esses grupos.

Outra influência sobre os tipos particulares de fatores criados são as condições de demanda. Umnível desproporcional da demanda de um produto ou uma demanda excepcionalmente rigorosaou sofisticada tende a canalizar os investimentos sociais e privados para a criação de fatorescorrelatos. Os fatores de produção adiantados e especializados crescem para ajudar a atender asnecessidades locais prementes. A demanda local alta ou rigorosa eleva a probabilidade de umconsenso no governo em favor dos investimentos criadores de fatores. Também chama a atençãode pessoas e empresas para a necessidade de fazer investimentos privados.

Os investimentos criadores de fatores num país acumulam-se com o tempo. O papel dos outrosdeterminantes sobre as instituições educacionais de pesquisa e outros proporciona estímuloconstante e cumulativo para a criação de fatores especializados. Com o tempo, as diferenças noritmo e direção desses investimentos entre os países podem levar a amplas diferenças nacionaisno estoque de fatores especializados relevantes para uma indústria.

2.2. Influências sobre Composição e Tamanho da Demanda

As condições de demanda interna para a indústria refletem muitos atributos nacionais comopopulação, clima, normas sociais e a combinação das outras indústrias da economia. Mas osoutros determinantes desempenham papel importante, também como mostra a figura abaixo.

Talvez a influência mais importante seja, mais uma vez, a rivalidade interna. Um grupo de rivaislocais investe na comercialização, levado pelo interesse intenso e pela atenção para com omercado interno. Os preços são agressivos para ganhar ou conservar parcela do mercado local.Os produtos são introduzidos primeiro no país e a variedade de produtos disponíveis é maior. Asimples presença de rivais locais competitivos estimula a consciência da indústria. A demandainterna se expande, como a saturação ocorre mais cedo e leva a esforços agressivos deinternacionalização.

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Rivalidade intensa torna maior e mais sofisticada a demanda interna O grupo de rivais constrói a imagem nacional e o reconhecimento como competidor nacional

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� Mecanismos sofisticados para criação de fatores atraem estudantes estrangeiros e aparticipação de empresas estrangeiras que favorece a difusão dos produtos nacionais� A imagem das indústrias correlatas e de apoio de classe mundial reflete-se na e beneficia aindústria� Indústrias internacionalmente bem-sucedidas, que produzem produtos complementares,atraem a demanda externa para o produto da indústria

A intensa rivalidade interna também aprimora a demanda local. A presença de vários rivaislocais agressivos contribui para educar os compradores, torná-los mais sofisticados e maisexigentes, porque passam a esperar muita atenção.

Uma vigorosa rivalidade interna também pode reforçar a demanda externa. Um grupo de rivaisinternos constrói uma imagem nacional da indústria. Os compradores estrangeiros a absorvem eincluem aquele país no seu exame de fontes potenciais. Sua percepção do risco de se abastecernaquele país é reduzida pela disponibilidade de fornecedores alternativos.

A teoria econômica da localização mostra como empresas se localizarão, umas perto das outras,para ter acesso à mais ampla variedade de clientes.

A presença de indústrias correlatas e de apoio bem-sucedidas também pode estimular a demandainternacional pelos produtos de uma indústria. Uma das maneiras pelas quais isso ocorre é pelatransferência da reputação. Outra maneira pela qual a competitividade em indústrias correlatasaumenta as condições de demanda é através da “pressão” dos produtos complementares.

A internacionalização da demanda interna também é influenciada pelas condições de fatores,especialmente os mecanismos criadores de fatores. Um país com sofisticados mecanismoscriadores de fatores ligados a uma determinada indústria atrairá estudiosos e empresasestrangeiras, que aprenderão e observarão. Esses estudiosos e empresas freqüentementeestimulam uma demanda pelos bens e serviços do país.

Estratégia, estrutura erivalidade das empresas

Condições de fatores Condições de demanda

Indústrias correlatas e deapoio

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2.3. Desenvolvimento de Indústrias Correlatas e de Apoio

A presença, fôlego e sucesso internacional de indústrias correlatas e de apoio são influenciadaspor outros determinantes. Algumas das relações mais importantes são mostradas na figuraabaixo:

Grupo de rivais internos estimula a formação de fornecedores mais bem como de indústrias correlatas

Reservas de fatores Grande ou crescenteespecializados são transferíveis demanda interna estimula opara indústrias correlatas e de apoio crescimento e o aprofundamento de indústrias fornecedoras

As condições de fatores numa indústria, especialmente os mecanismos criadores de fatores,também podem influenciar o desenvolvimento de indústrias correlatas e de apoio. Habilitações,conhecimento e tecnologia criados numa indústria estendem-se para beneficiar essas outras.

O fôlego e especialização das indústrias de apoio são reforçadas pelo tamanho e crescimento dademanda interna de um produto. Onde a demanda interna é significativa, fornecedores cada vezmais especializados surgem para atender necessidades não-satisfeitas, substituir importações oudesempenhar atividades antes realizadas nas próprias empresas, com mais eficácia. A eficiênciados fornecedores internos surge, freqüentemente, com a maior escola da indústria.

Mais uma vez, a influência mais poderosa sobre o desenvolvimento das indústrias correlatas e deapoio são os rivais internos agressivos. Um grupo de empresas internos de sucesso internacional,que vendem mundialmente, canaliza a demanda global para a indústria fornecedora interna.

Embora uma empresa isolada não possa pretender a atenção dos fornecedores de máquinas,equipamentos ou serviços que também atendem a outras indústrias, um grupo de rivais internoscomeça a ser notado. As indústrias fornecedoras existentes criam produtos e serviços adequadosà indústria. Fornecedores de linha ampla estabelecem divisões especiais para atender à indústria.

Um grupo de rivais de base nacional, internacionalmente bem-sucedidos, desafia e empurra aindústria fornecedora para que se desenvolva. Sob a pressão que vem da competição agressivaentre seus clientes, os fornecedores têm de inovar e melhorar ou serão substituídos. Aproximidade da base nacional facilita o intercâmbio e a colaboração na pesquisa.

Um grupo de fortes rivais internos, empenhado numa competição ativa, também estimula aentrada de novas firmas no conjunto de fornecedores estabelecidos. Elas também são fontes denovas empresas, quando empregados as deixam para produzir componentes, maquinaria ouserviços.

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Um grupo de rivais internos é muito superior a uma empresa dominante, para estimular eaprimorar as indústrias de apoio instaladas no país. A presença de clientes internos competidoresreduz o risco de vendas para a indústria e o poder de barganha de qualquer comprador individual,estimulando um número cada vez maior de empresas a entrarem nas indústrias fornecedoras,bem como mais investimentos e especialização.

Além disso, a existência de um certo número de clientes internos, cada qual com certasnecessidades diferentes, amplia as aberturas técnicas exploradas pelos fornecedores e cria maiscentros potenciais de desenvolvimento que apressam o ritmo da inovação.

Finalmente, a existência de um grupo de clientes cria maiores possibilidades para que alguns seintegrem e entrem na indústria, revigorando a rivalidade, ou para que de algum desses grupossurja uma noa empresa, a ele ligada, que traga novas formas de competição.

A rivalidade interna ativa também leva, com freqüência, ao ingresso de novas empresas emindústrias correlatas e, em última análise, a posições internacionais nesses setores.

2.4. Influências sobre a Rivalidade Interna

A estrutura da indústria interna também é influenciada por outros determinantes. De particularimportância é o papel dos outros determinantes que afetam número, habilitações e estratégias dosrivais internos, conforme pode ser observado na figura abaixo:

Abundância de fatores ou Usuários de classe mundialmecanismos de criação de entram nas indústriasfatores especializados fornecedorasatraem empresas Penetração precoce do produto alimenta novas empresas

Novas empresas surgem das indústrias correlatas e de apoio

As condições de demanda reforçam a rivalidade interna quando compradores locais exigentesbuscam multiplicar as fontes de abastecimento e estimulam novas empresas. Compradoresaltamente sofisticados, instalados num país, também podem entrar, eles próprios, nessasindústrias. Isso tem particular significado quando possuem habilitações relevantes e vêem aindústria matriz como estratégia.

A entrada de novas empresas numa indústria também é estimulada, direta ou indiretamente, porposições nacionais fortes em indústrias correlatas ou de apoio. A entrada de firmas estabelecidasem indústrias mais ou menos subsidiárias ou correlatas, caso com freqüência de novas empresas,

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dá uma estrutura á indústria interna que pode ser particularmente favorável ao investimento e áinovação. Os fornecedores, em especial os bem-sucedidos internacionalmente, com freqüênciaingressam na indústria dos usuários.

O vigor dos fornecedores na indústria básica proporciona, em muitos casos, vantagemcompetitiva no ingresso em indústrias mais ou menos derivados. Os novos concorrentes, vindodas indústrias fornecedoras, trazem conhecimentos e recursos de sua atividade básica que podemreformular a competição na nova indústria, proporcionando o alicerce para a vantagemcompetitiva. Podem, freqüentemente, compartilhar de marcas, canais de distribuição econhecimento tecnológico.

O aparecimento de empresas criadas por fornecedores em indústrias correlatas proporciona ummeio rápido para a transmissão de informações e habilitações; por isso, apoia o tipo deintercâmbio vertical que é tão importante para a vantagem competitiva. As novas empresas,formadas a partir de indústrias fornecedoras, também têm um nível de dedicação à nova indústriaque pode não encontrar correspondente nas novas empresas de outros países. Os fornecedoresconsideram a nova indústria como estratégica, porque está relacionada com seu negócio básico, ea reputação de suas marcas pode estar em jogo. O horizonte temporal para as decisões éestendido e a lucratividade a curto prazo diminui de importância.

Uma terceira influência sobre a estrutura interna é o papel dos mecanismos criadores de fatoresespecializados em gerar novas empresas. Um laboratório, um departamento acadêmico ou umainstituição educacional são fontes de empresários que entram numa indústria.

2.5. A Rivalidade Interna e o “diamante” nacional

A rivalidade tem um papel direto no estímulo à inovação. Sua significação é valorizada porqueestimula as empresas a colher os benefícios de outros determinantes, tais como compradoresexigentes ou fornecedores sofisticados. Mas a rivalidade interna beneficia o país de outrasmaneiras:

� Estimula novos rivais, ligados a companhias já existentes;� Cria e atrai fatores;� Aprimora e expande a demanda interna;� Estimula e aprimora as indústrias correlatas e de apoio;� Canaliza a política do governo para direções mais eficientes.

Os efeitos mais amplos da rivalidade interna estão estreitamente relacionados com economiasexternas. São economias que se projetam além da empresa individual, mas dentro do grupo decompanhias de uma localidade ou um país.

Um grupo de rivais internos chama a atenção para a indústria, estimula os investimentos depessoas, fornecedores e instituições que melhoram o ambiente nacional e cria diversidade eincentivos para apressar o ritmo da inovação. As economias externas não só beneficiam aindústria nacional, mas, com freqüência, estendem-se a indústrias correlatas dentro do país e suaforça é intensificada pela proximidade geográfica.

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3. Os Determinantes como Sistema

Os países obtêm sucesso na competição internacional quando dispõem de vantagem no“diamante”. Os países também podem prosperar num segmento de indústria e não ter vantagemcompetitiva em outra.

Nas indústrias nacionais de maior sucesso é, muitas vezes, difícil saber onde começar a explicara vantagem competitiva: o jogo mútuo e o auto-fortalecimento dos determinantes são tãocomplexos que obscurecem causa e efeito. O ambiente nacional torna-se mais favorável para acompetição com o tempo e à medida em que o “diamante” se reestrutura. O sistema também estáconstantemente em movimento. A indústria nacional evolui constantemente para refletir ascircunstâncias mutáveis ou, então, entre em declínio.

As vantagens em todo o “diamante” nem sempre são necessários à vantagem competitiva emindústrias simples ou de uso intensivo de recursos, e nos segmentos padronizados, de menortecnologia, das indústrias mais avançadas.

Nas indústrias de uso intensivo de recursos naturais e nos que têm níveis menores de tecnologia,os custos de fatores são, com freqüência, decisivos. Nos segmentos padronizados e sensíveis aospreços de indústrias mais sofisticadas, a tecnologia obtida pelo licenciamento ou pela compra demáquinas estrangeiras pode ser suficiente e desnecessário as vantagens da demanda interna,porque os modelo e características estão bem estabelecidos e são fáceis de copiar.

A vantagem competitiva em indústrias mais sofisticadas e segmentos de indústria, porém,raramente resulta apenas de um único determinante. Em geral, as vantagens em várias delescombinam-se para criar condições auto-fortalecedoras, nas quais as empresas de um país têmêxito internacionalmente.

Isto acontece porque a vantagem competitiva em indústrias sofisticadas depende,fundamentalmente, da taxa de inovação. As empresas de um país que não têm compradoresinternos sofisticados, fornecedores capazes ou outras determinantes favoráveis enfrentam gravesdificuldades em inovar mais rapidamente do que os rivais que dispõem de tais facilidades. Nestesentido, é importante ressaltar o fato de que o efeito benéfico de um determinante dependemuitas vezes do estado dos outros. Vantagens amplas no “diamante” também são importantesporque as interações entre os determinantes introduzem novas informações, novosconhecimentos e novas empresas na competição da indústria, levando à inovação mais rápida eao aprimoramento competitivo. Embora as empresas de um país possam, inicialmente, obter suavantagem competitiva apenas de um determinante, mantê-lo será geralmente difícil, a menos queas vantagens se ampliem para incluir outros determinantes.

Porém, até mesmo nos segmentos e indústrias mais adiantadas, o país nem sempre precisa tervantagens em todos os determinantes para obter êxito internacionalmente. Pois quando um paístem desvantagem num determinante, o sucesso normalmente reflete vantagem incomum emoutros e algumas maneiras de compensar a desvantagem. Por exemplo, é possível que umaindústria com vantagens incomuns em indústrias correlatas e de apoio, juntamente com arivalidade intensa, permitem às empresas êxito sem quaisquer das vantagens da demanda interna.

Por outro lado, as características da demanda interna podem desempenhar um papel importante,especialmente se ela pode ser atendida pela produção local. Nesta hipótese, pode-se verificar queela pode desencadear papéis importantes na criação da vantagem na grande maioria dasindústrias nacionais.

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Em países pequenos, a inexistência da rivalidade interna pode, por vezes, ser compensada pelaabertura à competição internacional e às estratégias globais nos quais as empresas nacionaisenfrentam rivais estrangeiros em muitos países. Tal medida pode ser importante porque os casosnos quais um país tem êxito, numa indústria onde nunca houve uma rivalidade interna sãorelativamente raros. De um modo geral, a compensação de um determinante inexistente é o maisprovável, quando as empresas do país alcançaram liderança internacional. Neste caso, asestratégias globais podem ser empregadas para explorar seletivamente as vantagens em outrospaíses; e as empresas podem obter a atenção e apoio dos compradores e fornecedoresestrangeiros.

Alguns determinantes da vantagem nacional são específicos a uma única indústria, como apresença de clientes sofisticados para um produto ou a existência de determinadas indústriascorrelatas e de apoio. Outros atributos nacionais podem ter aplicação mais ampla e afetarpotencialmente o sucesso competitivo em várias indústrias.

Embora as fontes amplamente aplicáveis de vantagem competitiva pressagiem o sucesso emvárias indústrias, desde que o país tenha uma superioridade real, nenhuma fonte isolada devantagem nacional é significativa na totalidade de uma economia ou mesmo numa fração. Alémdisso, as características nacionais generalizadas raramente são singulares e podem ser obtidasmais facilmente pelas empresas estrangeiras com circunstâncias locais mais limitadas,específicas a uma indústria.

Porém, o certo é que, na maioria das indústrias, o país tem êxito porque combina algumasvantagens de aplicação ampla com vantagens específicas è determinada indústria ou pequenogrupo de indústrias.

3.1. Sustentação

A vantagem é mantida porque suas fontes são ampliadas e aprimoradas. Alguns determinantesconstituem uma base mais sustentável para a vantagem do que outros. O conjunto de fatoresexistentes, por exemplo, é menos importante do que a presença de instituições especializadas edestacadas de criação de fatores. De maneira mais ampla, as condições que proporcionamvantagens dinâmicas (inovação mais rápida, vantagens dos que começam primeiro, pressões parao aprimoramento) são mais importantes do que os que proporcionam vantagens estáticas (comocustos de fatores e grande mercado). Portanto, a composição da demanda é, em certos casos,mais importante do que seu tamanho, enquanto a intensidade da rivalidade interna é maisimportante do que a existência de uma perspectiva internacional para as empresas.

Embora as desvantagens num ou dois determinantes não impeçam necessariamente um país deconseguir vantagem competitiva, a mais forte vantagem desse tipo tende a associar-se (e muito)com a vantagem generalizada e autofortalecedora em muitos determinantes. Os competidoresestrangeiros podem, por vezes, duplicar uma ou outra vantagem, em especial os custos de fatores(através de abastecimento no exterior) ou por vezes as condições de demanda (vendendo nomercado interno de outro país). Além disso, a posição do país em relação a alguns determinantespode não ser peculiar. Mas a vantagem nacional surge quando o sistema é peculiar.

É difícil copiar todo o sistema, o que leva tempo. A dependência e fortalecimento mútuo dosdeterminantes são essenciais para o aprimoramento e é difícil penetrar no sistema a partir deoutra base nacional. O processo de criação do sistema num país também é, com freqüência,

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demorado. Uma vez criado, permite que toda a indústria nacional progrida mais depressa do queos rivais estrangeiros.

O papel importante da interação entre os determinantes significa que a probabilidade deconseguir e manter a vantagem numa indústria depende, em parte, da eficiência com que asinterações funcionam num país. Os países obtêm êxito em indústrias nas quais funcionamparticularmente bem. Com que rapidez e eficiência os rivais aprimoram seus fornecedores? Comque rapidez e até onde as instituições educacionais e outros mecanismos criadores de fatoresreagem às necessidades de uma indústria emergente? com que rapidez os compradores se tornamsofisticados? Quantas novas empresas surgem das instituições criadoras de fatores dosfornecedores ou dos clientes?

A eficiência dessas interações depende em parte de outros determinantes, como a capacidade deformação de novos negócios. Depende também da fluidez e sensibilidade das instituições,indivíduos e empresas do país, relacionado com uma determinada indústria. A concentraçãogeográfica de empresas, clientes, fornecedores e instituições que criam fatores também tem seupapel.

Conclusões semelhantes também se relacionam com a capacidade que tem o país de ampliar eaprimorar as suas vantagens numa indústria, com o tempo. Pode haver vários países composições comparáveis num ou dois determinantes. A rapidez e eficácia com que todo o“diamante” se desenvolve determinará qual o país que obtém vantagem.

Uma multinacional cuja base nacional está em outro país enfrenta grandes dificuldades emreproduzir o “diamante” nacional, mesmo que estabeleça uma subsidiária no país e venha acompetir com uma estratégia coordenada global. Os custos de coordenação e as falhas nainformação aumentam as probabilidades contrárias a que uma multinacional venha a ter obenefício pleno das vantagens nacionais, desde longe. Empresas com sua base nacional no paísterão acesso mais fluido e aberto aos mercados locais e serão mais sensíveis aos compradoreslocais. Também se comunicarão com os fornecedores locais e explorarão suas vantagens maisfacilmente; recorrerão melhor aos mecanismos locais de criação de fatores e serão maisestimulados e revigorados pelos rivais locais. Para vencer as dificuldades, a subsidiária local deuma multinacional estrangeira pode, com efeito, tornar-se sua “base nacional”. Mas isso exigeque disponham de um controle estratégico mundial do negócio, bem como de instalaçõescentrais de pesquisa e desenvolvimento, transformando efetivamente a subsidiária numacompanhia local.

4. Agrupamento de Indústrias Competitivas

As indústrias competitivas de um país não de distribuem igualmente pela economia. A naturezasistêmica do “diamante” promove o agrupamento das indústrias competitivas de um país. Asindústrias bem-sucedidas estão, geralmente, ligadas através de relações verticais(compradores/fornecedores) ou horizontais (clientes, tecnologias, etc.).

Há casos mundiais em que o país é internacionalmente bem-sucedido em produtos acabados,maquinaria usada na produção geral, insumos especializados e serviços correlatos. O fenômenodo agrupamento parece ocorrer em todos os países. O fenômeno do agrupamento de indústrias étão generalizado que parece constituir o aspecto central das economias nacionais adiantadas2. 2 No processo de criação de agregados de mercadorias transacionais para testar modelos de comércio, Leamar(1984) descobriu “grupos” de mercadorias com exportação altamente correlatas. Leamer notou que os modelos decomércio têm dificuldades para explicar o fenômeno.

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As razões do agrupamento vêm diretamente dos determinantes da vantagem nacional e são umamanifestação de seu caráter sistêmico. Uma indústria competitiva ajuda a criar outra numprocesso mutuamente fortalecedor. Essa indústria é, com freqüência, a compradora maissofisticada dos produtos e serviços dos quais depende. Sua presença num país torna-seimportante para o desenvolvimento da vantagem competitiva em indústrias fornecedoras. Apresença de uma indústria compradora de classe mundial no país beneficia não só osfornecedores internamente, mas pode ajudar também esses fornecedores no exterior. Éimportante observar, a esta altura, que o processo também funciona ao inverso, isto é, a indústrianão-competitiva pode enfraquecer outras indústrias, em seu papel de compradora.

As industriais competitivas fornecedoras num país também ajudam a estimular as indústriascorrelatas de classe mundial. elas proporcionam tecnologia, estimulam a criação de fatorestransferíveis e tornam-se novas empresas no ramo. Uma indústria internacionalmentecompetitiva também cria novas indústrias correlatas, proporcionando acesso pronto ahabilitações transferíveis, entrada correlata de firmas já estabelecidas ou estímulo à entradaindireta através criação de empresas ligadas a outras que lhes deram origem.

Uma vez formado um grupo, todo o conjunto de indústrias passa a apoiar-se mutuamente. Osbenefícios projetam-se para a frente, para trás e horizontalmente. A rivalidade agressiva numaindústria tende a espalhar-se a outros no grupo, pelo exercício do poder de barganha, criação deempresas ligadas e diversificação correlata pelas firmas existentes. A entrada procedente deoutras indústrias dentro do grupo favorece o aprimoramento, estimulando a diversidade napesquisa e desenvolvimento e proporcionando maio para introduzir novas estratégias ehabilitações. A informação flui livremente e as inovações se difundem com rapidez através defornecedores e clientes que têm contatos com muitos competidores. As interligações dentro dogrupo, em muitos casos imprevistos, levam à percepção de novas maneiras de competir eoportunidades totalmente novas. Pessoas e idéias combinam-se de novas maneiras.

A grupo torna-se um veículo para a manutenção da diversidade e superação do enfoque interno,inércia, inflexibilidade e acomodação entre rivais que torna lento ou obstrui o aprimoramento e aentrada de novas empresas no setor. A presença do grupo ajuda a aumentar o fluxo deinformação, a probabilidade de novas abordagens e novas empresas em pontos acima e abaixo dofluxo de produção e em indústrias correlatas. Num certo sentido, tem o papel de criar “os defora” vindos de dentro do próprio país, que competirão de novas maneiras. As indústrias Vários autores (ver Toledano 1978) cunharam o termo filières para referir-se a famílias de setores tecnologicamenteinterdependentes. Sua importância é vista pelo fato de que as interdependências tecnológicas podem significar que ovigor tecnológico num setor depende do vigor em outro. A idéia de filières é precursora valiosa da idéia mais amplados grupos da teoria da vantagem competitiva das nações. Focaliza uma razão pela qual eles podem ocorrer (porqueas conexões técnicas são estreitas) e porque a presença em setores correlatos de um país poderia ser necessária paraa sua vantagem mútua. Outros trabalhos sobre inovação, embora sem se ocupar da competitividade internacional,também sugerem o agrupamento ao ressaltar as interdependências tecnológicas entre indústrias. Ver, por exemplo,Abernathy e Utterback (1978) e Rosenberg (1979). Outros trabalhos úteis da idéia dos grupos aparece nos trabalhosde autores suecos. Isso reflete, em parte, a estrutura da economia sueca, na qual as atividades das grandesmultinacionais suecas são, com freqüência, estreitamente ligadas. Uma contribuição mais antiga é Dahmén (1950,1988) com seu conceito de blocos de desenvolvimento. Dahmén ressalta a ligação necessária entre a capacidade deum setor desenvolver-se e o progresso em outro. em seus exemplos, também fala com freqüência de etapas ouatividades verticais dentro de uma determinada indústria. Esse interessante trabalho sugere que as conexões entreindústrias podem ser importantes para obter a vantagem. Uma linha de trabalho mais recente é a de Lars GunnarMattsson (1987). Ele mapeou redes ou relações entre empresas e algumas de suas características. Esse trabalhosugere o intercâmbio entre empresas dentro de grupos. Finalmente, a recente pesquisa empírica sobre padrões dediversificação dentro das nações proporciona provas de que a diversificação segue, com freqüência, a matrizinsumo-produto; ou entre indústrias com relação de fornecimento e compra. Isso está de acordo com os mecanismosque levam aos grupos. Ver Lemelin (1982) e MacDonald (1985).

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nacionais são, dessa forma, mais capazes de manter a vantagem, em lugar de perde-la para outrospaíses que inovam.

A presença de todo um grupo de indústrias amplia e acelera o processo de criação de fatores queestá presente quando existe um grupo de rivais internos. Empresas de todo um grupo deindústrias interligadas todas investem em tecnologias especializadas, mas correlatas, informação,infra-estrutura e recursos humanos; e ocorrem inúmeras ramificações. A escala de todo o grupoencoraja maior investimento e especialização. Projetos conjuntos por associações de comércioenvolvendo firmas de diferentes indústrias, são comuns. A atenção do governo e dasuniversidades é intensificada. A pressão do tamanho e prestígio na atração de talentos para ogrupo torna-se mais forte. A reputação internacional do país no campo cresce.

O grupo de indústrias competitivas torna-se mais do que a soma de suas partes. Tem a tendênciade expandir-se à medida que uma indústria competitiva gera outra. As direções de expansãodependem dos processos de formação do grupo que predominam no país. Há situações em que osgrupos tendem a ampliar-se horizontalmente na proporção que as companhias já estabelecidasentram agressivamente nas indústrias correlatas. Há outras em que os grupos tendem a seaprofundar verticalmente, à medida que novas companhias nascem das antigas, para servir anichos cada vez mais especializados e a ingressar nas indústrias abastecedoras. A diversificaçãocorrelata pelas companhias estabelecidas é mais comum.

Quando os grupos se desenvolvem, os recursos da economia fluem para eles e afastam-se dasindústrias isoladas, que não podem emprega-los produtivamente. Quanto mais indústrias sãosubmetidas à competição internacional na economia, mais acentuado se tornará o movimento nosentido do agrupamento. A vantagem nacional competitiva, portanto, está tanto no nível dogrupo quanto nas indústrias individuais. As economias externas se estendem dentro dos grupos enão apenas dentro das indústrias nacionais individuais. A presença de grupos ajuda a mitigaralguns dos problemas do bem público que limitam os investimentos na criação de fatores. Issoencerra importantes conseqüências para a política do governo e a estratégia das companhias.

4.1. Intercâmbio dentro dos grupos

Subjacente à operação do “diamante” do país e ao fenômeno do agrupamento está o intercâmbioe fluxo de informações sobre necessidades, técnicas e tecnologias entre compradores,fornecedores e indústrias correlatas. Quando esse intercâmbio ocorre ao mesmo tempo em que émantida a rivalidade intensa em cada indústria separadamente, as condições de vantagemcompetitiva são as mais férteis. As razões pelas quais esse intercâmbio estimula a vantagemcompetitiva já foram discutidas. Agora serão abordados os mecanismos através dos quais ocorre.Eles são importantes porque o intercâmbio efetivo entre firmas independentes num país estálonge de ser inevitável, embora muito mais provável do que o intercâmbio entre firmas combases nacionais em diferentes países. As empresas num grupo nacional têm interesseseconômicos diferentes e, por vezes, conflitantes. Fornecedores e compradores, por exemplo,enfrentam conflitos sobre preços e a resultante divisão de lucros. Isso pode deformar ourestringir o fluxo de informações entre eles devido ao desejo de manter reservada a informação.Parte do problema é, também, o que os economistas chamam “informação importada” ouinformação impedida de ser transmitida de maneira fidedigna a outra entidade porque seudetentor não tem como convencer a outra parte de que a informação é valiosa, sem revelá-la. Ofato de que o intercâmbio fluido pode beneficiar todas as firmas locais na competição com rivaisestrangeiros não diminui totalmente suas preocupações com a posição relativa da barganha.

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Observa-se acentuadas diferenças entre os países, bem como entre as indústrias dentro dasnações, na eficiência e na maneira pela qual os grupos funcionam. Os países obtém importantevantagem nacional quando atributos nacionais favorecem o intercâmbio entre grupos. A presençade um intercâmbio especialmente eficiente numa determinada indústria ou setor, é um potenteindicativo de sucesso nacional contínuo.

Os mecanismos que facilitam o intercâmbio dentro dos grupos são condições que ajudam ainformação a fluir mais facilmente ou que desbloqueiam as informações bem como facilitam acoordenação, criando confiança e diminuindo as diferenças existentes no interesse econômicoentre empresas ligadas vertical e horizontalmente. Alguns exemplos de:

� Facilitadores do fluxo de informações

a) relações pessoais resultantes de freqüência à mesma escola, serviço militar;b) ligações através da comunidade científica os associações profissionais;c) laços comunitários devidos à proximidade geográfica;d) associações de comércio abrangendo grupos;e) normas de comportamento, como a crença na continuidade e nas relações a longo prazo.

� Fontes de convergência de metas ou compatibilidade dentro dos grupos

a) laços de família ou semelhantes entre empresas,b) propriedade comum dentro de um grupo industrial;c) propriedade de interesses acionários parciais;d) diretorias interligadas;e) patriotismo nacional.

5. O Papel da Concentração Geográfica

Os competidores em muitas indústrias de sucesso internacional – e, com freqüência, em gruposinteiros de indústrias – estão muitas vezes localizados numa única cidade ou região dentro de umpaís.

As concentrações de rivais internos são, freqüentemente, cercados de fornecedores e localizadosem áreas com concentrações de clientes particularmente sofisticados e significativos. A cidadeou região torna-se ambiente excepcional para a competição na indústria. O fluxo de informações,visibilidade e fortalecimento mútuo dentro dessa localização dão sentido à excepcionalidade doambiente.

A concentração geográfica de empresas, em indústrias internacionalmente bem-sucedidas, ocorremuitas vezes porque a influência dos determinantes individuais no “diamante” e seufortalecimento mútuo são intensificados pela proximidade geográfica dentro de um país. Aconcentração de rivais, clientes e fornecedores promoverá eficiências e especialização3. O mais 3 Uma longa tradição de trabalho em teoria da localização e geografia econômica encerra paralelos úteis. Weber(1929) expôs uma teoria na qual o objetivo da localização industrial era minimizar as custos totais, inclusivetransporte. Lösch (1954) desenvolveu um modelo estilizado no qual as considerações espaciais sobre oferta edemanda entravam na localização ótima. Os geógrafos econômicos identificam “economias de aglomeração” naconcentração de fábricas numa região, que ressaltam as economias da especialização. Ver O’Sullivan (1981) wLloyd e Dicken (1977). Os trabalhos correlatos sobre desenvolvimento regional em indústrias de alta tecnologiatambém encerram esclarecimentos úteis. O fenômeno da Vale do Silício tem sido especialmente investigado. Ver,por exemplo, Hall e Markusen (1985). A teoria da vantagem competitiva das nações vê a concentração geográficacomo parte do processo mais geral pelo qual a vantagem é criada e mantida. Embora a geografia econômica não

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importante, porém, é a influência da concentração geográfica na inovação. Rivais localizadospróximos tendem a ser competidores ciumentos e emocionais. As universidades localizadas pertode um grupo de competidores muito provavelmente tomarão conhecimento da indústria,perceberão que é importante e reagirão de acordo. Por sua vez, os competidores provavelmentefinanciarão e apoiarão a atividade universitária local. Fornecedores localizados perto estarãomelhor colocados para intercâmbio e cooperação regular com a pesquisa e desenvolvimento daindústria. Os clientes sofisticados, localizados nas proximidades, oferecem as melhorespossibilidades de transmissão de informação, dedicando-se a intercâmbio regular sobre asnecessidades e tecnologias que surgem e exigindo do serviço e desempenho extraordinários doproduto. A concentração geográfica numa indústria age como forte imã para atrair pessoas detalento e outros fatores.

A concentração geográfica também é estimulada quando as empresas derivadas têm a tendênciade se localizar perto da companhia original, porque os diretores não só vivem ali como tambémmantêm relações entre si. Também ocorre com freqüência a entrada de fornecedores, usuários ouindústrias correlatas na indústria em questão, localizados na mesma área.

A proximidade aumenta a concentração da informação e, desse modo, a probabilidade de serpercebida, de se atuar de acordo com ela. A proximidade aumenta a velocidade do fluxo deinformações dentro da indústria nacional e o ritmo no qual as inovações se difundem. Ao mesmotempo, tende a limitar a disseminação dessas informações fora da indústria, porque acomunicação toma formas (como o contato pessoal) que são de lenta transmissão. Aproximidade aumenta a visibilidade do comportamento do competidor, as vantagens evidentes deigualá-lo em suas melhorias e a probabilidade de que o orgulho local se combine com amotivação exclusivamente econômica para incentivar o comportamento das empresas. Oprocesso de agrupamento e o intercâmbio entre as indústrias dentro do grupo também funcionamelhor quando estas estão geograficamente concentradas. A proximidade leva ao conhecimentoprecoce dos desequilíbrios, necessidades ou limitações dentro do grupo, permitindo que sejamtratados ou explorados. A proximidade, portanto, transforma as influências isoladas no“diamante” num verdadeiro sistema.

A concentração geográfica encerra, porém, alguns riscos a longo prazo, especialmente se amaioria dos compradores, fornecedores e rivais não operam internacionalmente. Adiante essaquestão é abordada.

5.1. Vantagem competitiva de cidades e regiões

A importância da concentração geográfica suscita questões interessantes sobre a nação comounidade de análise relevante. As condições que sublinham a vantagem competitiva estão, naverdade, localizadas dentro de um país, embora em diferentes pontos para diferentes indústrias.As razões pelas quais uma determinada cidade ou região tem êxito numa determinada indústriasão abrangidas pelas mesmas considerações existentes no “diamante”; por exemplo, alocalização dos compradores mais sofisticados, a posse de mecanismos excepcionais de criaçãode fatores e uma base de abastecimento local bem desenvolvida. Cidades ou regiões são, comfreqüência, os locais onde se manifesta a vantagem competitiva numa indústria. A cidade, localde uma indústria, é parte do processo de competição. O comércio entre uma cidade ou região eoutras dentro do país tem papel paralelo ao do comércio internacional, afetando a produtividade

tenha sido vista como uma disciplina básica em economia, essa teoria sugere que deveria ser. Enright (1990)examina em profundidade o fenômeno da concentração geográfica, tanto pela modelagem formal como pelotrabalho empírico.

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local. A teoria pode ser facilmente estendida para explicar por que algumas cidades ou regiõessão mais propícias do que outras.

Os efeitos da localização são grandes, mesmo que as diferenças culturais, políticas ou de custosentre as localizações sejam pequenas. A concentração geográfica de indústrias dentro de um paíspersiste, apesar de homogeneidade lingüística, cultural e jurídica, de transportes e comunicaçõesabertos eficientes, de uma moeda comum e de mercados de capital também comuns epraticamente da falta de barreiras ao comércio interno.

Mas as nações ainda são importantes. Muitos dos determinantes da vantagem são maissemelhantes dentro de uma nação do que entre nações. As políticas do governo, como a políticae a regulamentação tributárias, as regras jurídicas, as condições do mercado de capital, os custosde fatores e muitos outros atributos comuns a um país tornam importantes as fronteirasnacionais. Os valores e normas sociais e políticos estão ligados às nações e só lentamente semodificam. Não obstante, é a combinação das condições nacionais com as condiçõesintensamente locais que estimula a vantagem competitiva. Em si mesmas e por si mesmas aspolíticas nacionais serão inadequadas. Os governos estadual e municipal podem desempenharpapel destacado no sucesso de uma indústria.

Na verdade, redução dos custos de comunicação e transporte e redução das barreiras ao comércioe à competição internacional tornam ainda mais significativas as vantagens que a localização tempara a inovação nas indústrias, porque as empresas com autênticas vantagens competitivas sãomais capazes de penetrar em outros mercados. Embora os fatores clássicos de produção sejamcada vez mais acessível devido à globalização, a vantagem competitiva nos países adiantados édeterminada pelo conhecimento diferenciado, habilitações e ritmo de inovação que estãomaterializados em pessoal habilitado e rotinas organizacionais. O processo de criação dehabilitações e as importantes influências da taxa de inovação são intensivamente locais.Paradoxalmente, portanto, quanto mais aberta a competição global, mais importante é a basenacional.

Os esforços de unificação regional estão suscitando questões sobre a diminuição da influênciados países sobre a competição. Todavia, o livre comércio pode, em lugar disso, tornar maisimportantes os países. Embora o foco efetivo da vantagem competitiva possa, por vezes,abranger regiões que atravessam fronteiras nacionais, é improvável que as regiões isoladamentese torne uma “nação” de um ponto de vista competitivo. As diferenças nacionais na demanda,criação de fatores e outros determinantes persistirão e a rivalidade entre os países continuarásendo vital.

6. Gênese e Evolução de uma Indústria Competitiva

Embora a vantagem nacional continuada numa indústria seja reflexo do bom funcionamento deum “diamante”, todo o sistema raramente está presente desde o início. Uma vantagem numdeterminante proporciona, em muitos casos, o impulso inicial para a formação de uma indústrianum país, não raro em torno de uma única empresa. Por vezes, o acaso também tem o seu papel.Uma vez iniciado, é posto em movimento num processo pelo qual os competidores são atraídos,outros determinantes adquirem significado e vantagens acumulam-se, desde que exista opotencial.

Na prática, a formação de uma indústria local é normalmente iniciada por um de trêsdeterminantes. Uma vantagem inicial nos fatores de produção pode constituir a semente de umaindústria internacionalmente competitiva ou uma indústria antecessora no grupo. A

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disponibilidade local de fatores, em particular dos fatores naturais, é o que atrai muitas vezes aatenção inicial para uma indústria.

Nas indústrias mais adiantados, os primeiros competidores podem surgir a partir de mecanismosespecializados na criação de fatores. O pessoal treinado em determinados campos aplicará seuconhecimento e habilitação para entrar numa indústria onde existe uma demanda interna real oupotencial. A pesquisa universitária levará a idéias promissoras que formam a base para novascompanhias. A presença de uma companhia estrangeira que opere no país pode levar à criação deempresas derivadas pelos cidadãos da nação hospedeira, que adquiram conhecimentosespecializados na indústria. Por vezes, concentração da fatores particularmente singulares levamà entrada em indústrias mesmo que a maioria da demanda seja internacional.

As sementes das industrias competitivas também são encontradas em indústrias correlatas e deapoio. Uma indústria de botas de esqui de um país temperado pode crescer a partir de umaindústria local que produz sapatos para alpinistas e excursionistas na região montanhosa domesmo país. Uma indústria de automação fabril pode surgir num local a partir de sua indústria demáquinas ferramentas. Uma indústria de empilhadeiras pode descender diretamente de umaindústria de caminhões. As primeiras competidoras podem vir de indústrias fornecedoras oucorrelatas ou ser empresas totalmente novas formadas por empregados que delas saíram.

As condições de demanda oferecem outra base comum para uma indústria competitiva. Ademanda local substancial ou característica constitui um estímulo inicial para a formação deempresas locais. Por exemplo, os supercomputadores forma desenvolvidos inicialmente nosEstados Unidos devido à extraordinária demanda dos programas científicos e de defesa dogoverno.

Nos países em desenvolvimento, a gênese das indústrias mais competitivas são as condições defatores básicos ou uma demanda local excepcionalmente intensa. Nos países mais adiantados, asorigens na formação inicial de uma indústria são mais numerosas. Novas indústrias muito maisprovavelmente surgirão de indústrias correlatas ou de apoio, de laboratórios de universidades ouescolas especializadas. Os estímulos que a demanda representa para o aparecimento de indústriasrefletirão mais provavelmente a demanda excepcionalmente precoce, segmentada ou sofisticadado que apenas a quantidade.

Alternativamente, uma companhia pode formar-se essencialmente por acaso num país. Umempresário tem uma idéia feliz e inesperada, sem ligação com qualquer reserva de fatorincomum ou indústria correlata. Ou um cientista fará uma importante descoberta que poderia terocorrido em qualquer país. Apesar disso, quase sempre a gênese de um indústria podia seratribuída a um dos determinantes. Além do que, muitas invenções ou muito espírito empresarialsão influenciados pelo “diamante”, embora sua previsibilidade seja menor do que o processo queocorre depois que as bases iniciais de um indústria estão lançadas.

A capacidade de uma semente inicial, qualquer que seja a origem, crescer e transformar-se numaindústria competitiva no país será em função da presença de outros determinantes ou dapossibilidade de sua criação. Para ir além do período inicial de formação da indústria, arivalidade interna é quase sempre necessária. Novas empresas derivadas e/ou a entrada de novasempresas oriundas de indústrias vertical ou horizontalmente correlatas transformam umaindústria nascente numa outra, com potencial internacional. A rivalidade estimula as empresas aultrapassarem a vantagem inicial que levou à formação da indústria e iniciar o processo deaprimoramento.

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Para manter a vantagem, as bases nacionais que lhe dão origem na indústria devem normalmentese ampliar e acumular, particularmente onde a vantagem inicial está nos fatores básicos deprodução. Foi descrito como os determinantes reforçam-se mutuamente e como as vantagensneles existentes se ampliam. A falta de um determinante importante, mais notadamente aausência a ausência de rivalidade competitiva ou inexistência de pessoal habilitado ouconhecimento técnico, normalmente deterá o processo de aprimoramento da vantagemcompetitiva. A indústria promissora não realizará o seu potencial.

A vantagem competitiva sustentável pode ocorrer rapidamente se um país dispuser de vantagensem vários determinantes desde o início ou desenvolvê-los rapidamente. Se o país começa compouco mais do que uma vantagem de fator básico, porém, o caminho para a vantagemcompetitiva constante será mais longo. As empresas do país terão de conseguir tecnologia, osativos e a rede global para competir com vantagens de ordem superior e em segmentos as maisavançados. À medida que as fontes de vantagem de um país se ampliam, a causalidade torna-semenos clara e os determinantes se reforçam mutuamente.

Como as vantagens são desenvolvidas em várias partes do “diamante”, em especial quando ofortalecimento mútuo dentro do “diamante” começa a ocorrer e a acumular-se, uma indústrianacional pode alcançar notáveis taxas de inovação por alguns anos e, mesmo, décadas. Novosrivais domésticos são derivados e criam outros segmentos na indústria. Surgem fornecedorescuja capacidade e recursos permitem uma taxa de inovação mais rápida na tecnologia doprocesso do que as próprias empresas poderiam sustentar. Compradores com crescentesofisticação abrem novos caminhos de produtos a serem trilhados. Essa onda de aprimoramentorápido continua até que as possibilidades de uso das tecnologias existentes se esgotam ou, maisprovavelmente, quando começam a aparecer limites ao dinamismo da indústria, muitas vezescriados de dentro da própria indústria.

Os países obtêm, com freqüência, a sua vantagem inicial em um ou dois segmentos de umaindústria. Se uma vantagem de fator inicial provocou o aparecimento da indústria, os primeirossegmentos costumam ser sensíveis aos preços. O aparecimento da vantagem competitiva exigeque as empresas entrem em competição em segmentos mais avançados. A capacidade de assimfazer depende da ampliação das bases de vantagem nacional, para que incluam coisas como asvantagens da demanda, a presença de indústrias fornecedoras e correlatas que sejam sofisticadase o desenvolvimento de mecanismos criadores de fatores especializados. Ironicamente, o sucessona manutenção da vantagem competitiva exige, com freqüência, que as empresas locaisenfraqueçam deliberadamente as bases iniciais de seu sucesso, no processo de aprimoramento.Só a intensa rivalidade interna (ou a ameaça de aparecimento de novos concorrentes) podepressionar esse comportamento.

A perda de posição competitiva em alguns segmentos de indústria é, com freqüência, indício deum saudável aprimoramento. A necessidade de superar a desvantagem de fatores seletiva levaráas empresas de um país a abandonar a tecnologia padronizada, inferior, e os segmentos sensíveisaos preços, com o tempo. As desvantagens seletivas em custos de fatores também influem adireções tomadas pelas inovações. A passagem para tecnologias mais novas, superiores, esegmentos mais diferenciados com o tempo significa que o processo de inovação está ocorrendo.Em contraste, a perda de posição competitiva em segmentos novos ou diferenciados épreocupação séria.

O acaso ajuda, muitas vezes, a acelerar o processo pelo qual uma indústria aprimora e penetranos mercados internacionais. Um acontecimento casual, como surto de demanda, umamodificação no preço de insumo ou uma importante mudança tecnológica criam uma

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descontinuidade que anula as vantagens dos líderes tradicionais e permite às firmas de um paíssaltar à frente.

Deve estar claro, pelo que está dito, que a base de um país para a vantagem competitiva numaindústria pode mover-se pelo “diamante” à medida que a indústria evolui, mudando e pro vezesacumulando.

O país que inicia esse processo antes dos outros obtém as vantagens dos que entram cedo numnegócio, como economias de escala, relações com clientes e marca estabelecida sem anecessidade de competir com rivais. Ainda mais significativa, porém, pode ser a oportunidade deser o primeiro a criar um “diamante” do país. O “diamante” estabelece as condições paravantagens de ordem superior e sua reprodução por outros é lenta e extremamente difícil. Quandoum país o tem, o custo de entrada na indústria, por terceiros, aumenta substancialmente.

O processo de obtenção da vantagem nacional sofre a influência da história e nele é cada vezmais difícil separar causa e efeito, com o tempo. A semente de uma indústria competitiva podeter sido semeada por acaso. Os outros países podem ter estado numa posição semelhante,inicialmente. A partir daí, porém, o processo de construir uma indústria competitiva adquireimpulso próprio. Esse impulso, alimentado pela ampliação e autofortalecimento dosdeterminantes, leva a indústria a vantagens mais amplas e mais robustas. O país onde esseprocesso ocorre mais rapidamente é o que se torna bem-sucedido.

6.1. O desenvolvimento dos grupos

O processo de evolução cria, com freqüência, indústrias competitivas, e portanto, forma ouamplia um grupo. Dessa maneira, partes da economia de um país desenvolvem um impulso quevai além das indústrias individuais e constitui uma força poderosa para o desenvolvimentoeconômico.

O caminho típico do aparecimento dos grupos é diferente nos vários países, um função dos tiposde empresas existentes na economia, entre outras coisas. A força, em alguns países, por trás demuitas indústrias competitivas são as sofisticadas condições de demanda do consumidor pelosprodutos acabados. Neste sentido, um ambiente vibrante para a iniciativa empresarial leva àrápida proliferação de competidores à rivalidade interna. As indústrias do produto final dão,então, origem a indústrias de apoio competitivas. Os grupos dessas indústrias que obtêm sucessosão, portanto, verticalmente profundos, envolvendo muitas etapas da cadeia vertical e indústriasque fornecem maquinaria e outros insumos especializados.

Em outros lugares, muitas indústrias competitivas crescem a partir de indústrias correlatas.Devido ao desejo de aproveitar empregados e o predomínio de uma abrupta saturação domercado interno, as companhias de um indústria desses lugares podem, muitas vezes, entrar emmassa em indústrias que ficam antes ou depois delas no fluxo de produção e em indústriascorrelatas. Quando a demanda e as condições de fatores são favoráveis, a rivalidade internaintensa estimula o investimento e a inovação e nasce uma outra indústria competitiva. Nesseslugares, os grupos de indústrias competitivas são, com freqüência, bastante amploshorizontalmente e se ampliam com o tempo. Outros lugares diversos se situam num ponto entreesses dois extremos.

A formação de grupos aumenta surtos de progresso em indústrias individuais. O fortalecimentomútuo dentro dos grupos também leva a surtos de inovação (e a uma posição competitivainternacional) em setores inteiros da economia nacional. Isso é evidente, hoje, no setor de

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eletrônica relacionada com o consumidor, no Japão, onde ondas de inovação se estão estendendodas indústrias tradicionais, como aparelhos de televisão, calculadoras e equipamentos de áudiopara as novas indústrias, como a dos computadores pessoais laptops e de fax, e fazendo tambémo cominho inverso.

Numa economia em aprimoramento, os aumentos dos custos dos fatores, devido a oportunidadeem indústrias mais produtivas, levará inevitavelmente à diminuição do número de participantesde alguns grupos. A manutenção da posição de uma nação em determinadas indústrias dentro dogrupo varia, porque sua vantagem competitiva baseia-se em diferentes determinantes. Asindústrias (e segmentos) nos quais os recursos são empregados com menor produtividade, porquea tecnologia é menos sofisticada ou os produtos são os menos diferenciados, perderão avantagem competitiva. As atividades da cadeia de valores que são menos produtivas em relaçãoàs empresas estrangeiras serão relocalizadas no exterior. Ao que tudo indica, as indústriascompetitivas isoladas num país são, com freqüência, a parte de um velho grupo.

Quando a indústria amadurece e o ritmo de inovação diminui ou pára, o determinante operativode vantagem competitiva pode voltar novamente para os custos dos fatores básicos. Mas o iníciodas desvantagens de fatores, se foram seletivos, deve provocar o aprimoramento. A posiçãonacional na indústria pode diminuir, mas também pode ser mantida nos segmentos maissofisticados, desde que a rivalidade seja saudável.

A mobilidade da tecnologia levou alguns observadores a argumentar que os custos de fatores seestão tornando mais importantes na competição internacional. Embora a mobilidade datecnologia possa encurtar a distância da imitação, as firmas que recorrem à tecnologia de outrospaíses estão sempre uma geração atrás. Além disso, a capacidade de empregar tecnologia é o queleva à vantagem, não o simples acesso. A capacidade de empregar e melhorar a tecnologiaimportada é muito influenciada pelo “ diamante”. A vantagem competitiva é, cada vez mais, umafunção não de fatores, mas da capacidade de criar e aplicar conhecimento e tecnologia àcompetição industrial. Os avanços na tecnologia de informação, os novos materiais e abioengenharia estão criando condições para ondas de inovação em praticamente todas asindústrias. Até mesmo em indústrias “tradicionais”, ou aparentemente simples, a “maturidade”pode representar um medo falso.

Alguns locais foram capazes de explorar repetidas vezes essa situação, pois suas empresasaprimoraram a vantagem competitiva em indústrias tradicionais como móveis, sapatos, tecidos,ou até mesmo em indústrias “maduras”, como aparelhos domésticos, caminhões e equipamentosde mineração. Aquelas empresas empregam moderna tecnologia de processo e se beneficiam decompradores locais exigentes e avançados. Parte da razão pela qual esses locais obtêm êxito éque as empresas de outros países adiantados “abandonaram” muitas dessas indústrias para ospaíses em desenvolvimento.

O impacto das novas tecnologias, como os sistemas de informação, até mesmo sobre indústrias“maduras”, representa uma ameaça fundamental ao papel normal dos países do mundo emdesenvolvimento, que competem em indústrias tradicionais e maduras. Não obstante, essasmesmas tecnologias estão ampliando o alcance potencial de indústrias na economia mundial e,portanto, o tamanho geral do bolo; o lento crescimento populacional nos países adiantados estálimitando as reservas de recursos humanos e, com isso, a extensão das indústrias dos quais essespaíses podem participar. Que forças serão mais fortes, é o que terá importância para aprosperidade futura nos países em desenvolvimento.

7. A Perda da Vantagem Nacional

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Quando as indústrias evoluem, as empresas de um país correm o risco de perder a vantagemcompetitiva. A capacidade que têm as empresas de um país de se adaptarem com êxito àsmudanças na indústria é função do “diamante”. Onde há compradores locais sofisticados, reservade conhecimentos técnicos que se aperfeiçoa, pessoal habilitado e intensa rivalidade nacionalcombinada com vantagens competitivas acumulada, como economia de escala, reputação damarca e redes globais instaladas, as empresas do país podem mudar a adaptar-se para conservar avantagem competitiva durante muitas décadas. As vantagens de fatores que não podem serresolvidas pela inovação, podem ser compensadas pela dispersão das atividades da cadeia devalores por outros países.

A vantagem competitiva nacional numa indústria perde-se, porém, quando as condições do“diamante” do país deixam de apoiar e estimular o investimento e a inovação para corresponderà estrutura evolutiva da indústria. A indústria nacional pode não perceber a mudança necessária,pode deixar de investir agressivamente para avançar ou pode ficar bloqueado por muitos bens econhecimentos especializados em formas superadas de competir o que torna a receptividade àmudança mais lucrativa para empresas novas.

Algumas das razões mais importantes para o desgaste da vantagem são as seguintes:

� Condições dos fatores deterioram-se: as condições dos fatores podem deteriorar-se por váriosmotivos. O mais sério é quando o país se atrasa no ritmo da criação e aprimoramento dosfatores. Se as habilitações dos recursos humanos especializados ou a base de ciência etecnologia relacionada com uma indústria se deterioram em relação a outro país, então avantagem competitiva geralmente diminuirá. O aumento dos custos dos fatores é, também,ameaça comum à vantagem competitiva. Deve levar a esforços para inovar, a maior enfoqueem segmentos mais avançados da indústria e a maior globalização. Com uma reaçãoadequada, a pressão dos aumentos dos custos dos fatores pode levar a uma vantagemcompetitiva mais sustentável. A perda da vantagem em alguns segmentos e mesmo indústriasé inevitável, porém, porque a inovação não pode eliminar os aumentos de custos. Quando asempresas de um país fazem pouco esforço para aprimorar a posição competitiva, porém, aperda da vantagem será rápida, e surgem preocupações sérias sobre a saúde da economia, alongo prazo.

� Necessidades locais perdem sintonia com a demanda global: a vantagem competitiva éameaçada se as condições de demanda interna começam a divergir das condições de outrospaíses adiantados. Os compradores locais pressionam as empresas do país nas direçõeserradas (ou deixam de pressioná-las das direções novas e certas). Surgem em outros paísesnecessidades novas para o comprador ou novos canais que demoraram a aparecer no país emquestão, como o desejo de novas características, personalização, ou preocupações com asaúde. O país também pode corroer as condições de demanda interna com regulamentoslocais incomuns ou deixando de desregulamentar uma indústria que o foi em outros países.

� Compradores locais perdem sofisticação: as empresas de um país enfrentarão gravesdificuldades em manter a vantagem se os compradores estrangeiros tornam-se maissofisticados do que os locais. Os compradores internos perdem sofisticação por várias razões.Podem tornar-se complacentes se a rivalidade em sua indústria tiver diminuído. As barreirascomerciais podem retardar o ritmo da inovação ou as leis governamentais podem desviar asnecessidades do comprador em relação aos compradores de outros mercados internacionais.Qualquer que seja a causa, a perda da pressão dos clientes locais inovadores torna difícil àsempresas de um país vencer a corrida com rivais estrangeiros.

� Mudança tecnológica leva a prementes desvantagens de fatores especializados ou ànecessidade de novas indústrias de apoio, que não existem: a mudança tecnológica é, com

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freqüência, um gatilho para alteração na vantagem competitiva nacional porque podeneutralizar as velhas vantagens competitivas e criar a necessidade de outras, novas. Asempresas de um país, muito adiantadas num caminho tecnológico, podem ter dificuldades emjulgar não-lucrativo trocar de caminho. Por vezes o efeito de uma tecnologia nova émodificar os fatores necessários, criando maior desvantagem em termos de recursoshumanos, conhecimento ou infra-estrutura disponíveis. As empresas de outros países podemconseguir vantagem competitiva antes que seja possível fazer um ajuste. A mudançatecnológica também pode criar a necessidade de novas indústrias de apoio que o país nãotem, como a de software, biotecnologia, novos materiais ou componentes eletrônicos. Outropaís, onde já há fornecedores importantes dos novos insumos, pode assumir a vantagemcompetitiva. Maior risco para a vantagem competitiva ocorre quando uma nova tecnologia éindispensável à indústria e esta representa uma aplicação substancial. Quando novastecnologias afetam apenas uma pequena parte do produto total e a indústria representa umaaplicação limitada, as novas tecnologias podem ser obtidas no exterior.

� Rivalidade interna diminui: uma das causas mais comuns, com freqüência a mais fatal, daperda da vantagem nacional é a diminuição da rivalidade interna, já que a pressão paramelhor ajustar-se desaparece com ela. Embora uma certa consolidação da indústria local seja,em muitos casos, parte do processo de obter ou manter a vantagem competitiva, aconsolidação vai por vezes longe demais. Uma ou duas empresas passam a dominar aindústria. Alternativamente, a participação no mercado, os acordos informais ou acooperação generalizada podem transformar um grupo de rivais agressivos num clube. Há,também uma tendência natural (e, em certos casos, fatal) de que sucessivas gerações dediretores queiram eliminar a competição “excessiva” a fim de tornar a vida mais previsível.As fusões ou acordos informais disso resultantes enfraquecem o processo de inovação naindústria. O sucesso financeiro continuado também pode enfraquecer a rivalidade, na medidaem que as empresas se tornam satisfeitas consigo mesmas e não querem correr riscos. Ummenor gosto pela rivalidade também se reflete, por vezes, nos esforços para obter o apoio dogoverno ou sua intervenção. As indústrias nacionais bem-sucedidas obtêm, com freqüência,certo poder político, sendo grande a tentação de exercê-lo. Se a proteção ou eliminação daconcorrência é o resultado, uma menor taxa de inovação leva, com freqüência, à perda daposição competitiva. Isso resulta, então, em novos pedidos de intervenção do governo. Aperda da rivalidade interna é um caruncho que corrói lentamente a vantagem competitiva,reduzindo o ritmo da inovação. Seus efeitos são, em princípio, invisíveis. De fato, seu iníciobem pode estar associado à maior lucratividade interna, devido à baixa taxa de investimentoe auto-satisfação generalizada. Mas a caruncho começa a enfraquecar os alicerces daindústria.4

7.1. Processo de declínio

Uma vez iniciado o declínio, é difícil detê-lo porque o fortalecimento mútuo do “diamante”funciona ao contrário. Por exemplo, uma perda de rivalidade corrói a qualidade dos compradorese fornecedores do país, reduzindo a pressão dos compradores, aumentando os custos de insumos,sufocando o desenvolvimento da tecnologia dos fornecedores e tornando ainda mais lenta ainovação ou canalizando-a para direções erradas. Os problemas da indústria crescem e agravam-se.

4 O autor avalia ainda a perda da vantagem nacional a partir de dois outros ângulos: metas limitam a taxa deinvestimento e empresas perdem a flexibilidade de ajustar-se. Não foram abordados pela opção de dar destaque aosângulos mais diretamente vinculados aos determinantes do “diamante”, isto é, condições de fatores, condições dedemanda e rivalidade interna.

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A perda da vantagem competitiva será rápida se ocorrer uma mudança tecnológica importante,pois os empregos de um outro país podem ascender rapidamente à liderança. A perda davantagem, porém, é com freqüência um processo lento e por vezes quase imperceptível.Especialmente quando há vantagens para os que entram cedo numa indústria, representadas poranos de aprendizado acumulado sobre o produto e a tecnologia do processo e redes globais devendas e serviços estabelecidos, além da marca, o processo pode levar muitos anos, sobretudo seos compradores na indústria forem conservadores na mudança de fornecedores, devido aos altosriscos de falha no produto. A falta de inovação leva a uma lenta retirada para segmentos menosinteressantes para rivais estrangeiros ou mais protegidos pela inércia dos clientes. Alucratividade permanece, com freqüência, artificialmente elevada por algum tempo, na medidaem que as empresas deixam de investir em pesquisa e desenvolvimento, comercialização e novasinstalações.

A reconquista da posição numa indústria, quando a perda da vantagem ganha ímpeto éextremamente rara. O declínio pode ser eduzido ou sustentado se a empresa limitar-se aossegmentos menos expostos ou instituir a proteção comercial. Mas reconquistar o vigor anteriornão é trivial, pois grande parte da política governamental que visa a revitalização das indústriasfalha. Ela resta condenada porque não se ocupa dos determinantes da vantagem competitiva,portanto, não se dirigindo para a verdadeira causa do declínio. O governo pode, legitimamente,ajudar para que recursos fluam para dentro de uma indústria. Há, porém, pouca probabilidade deque a preservação de empresas e capacidades leve à inversão da situação.

7.2. O grupo insular

A complacência e o enfoque voltado para o interior explicam, em muitos casos, porque perderama vantagem competitiva. A falta de pressão e desafio significa que as empresas deixam de buscare interpretar constantemente as novas necessidades do comprador, as novas tecnologias e osnovos processos. Perdem a vontade de tornar as velhos vantagens competitivas obsoletas, noprocesso de criar outras, novas. Hesitam em empregar estratégias globais para compensar asdesvantagens dos fatores locais ou explorar seletivamente as vantagens existentes em outrospaíses. São dissuadidas pela arrogância, falta de rivalidade e indisposição de perturbar o statusquo e sacrificar os lucros correntes. Os determinantes da vantagem nacional medem aprobabilidade de que o ambiente nacional permita que suas empresas sucumbam a tais riscos.

O próprio grupo em particular, se estiver geograficamente concentrado, pode conter as sementesde sua decadência. Se a rivalidade diminui e os compradores locais se tornam dóceis ou perdemsofisticação, há a tendência de que o grupo local se torne insular, um sistema fechado e voltadopara si mesmo. O problema é agravado se a maioria das empresas não tiverem atividadesinternacionais significativas e suas principais relações comerciais forem entre si, por exemplo,fornecedores que vendem quase que exclusivamente para uma única indústria interna. Empresas,clientes e fornecedores só falam entre si. Nenhum deles traz perspectivas novas.

Esses grupos são vulneráveis à mudança estrutural e aos acontecimentos fortuitos. Os gruposnacionais têm conhecimentos, bens e estratégias especializadas numa determinada estrutura deindústria, sugerindo capacidade para adaptarem-se incrementalmente. Mas têm dificuldades emenfrentar a inovação radical. Então, o resultado dessa mudança estrutural significativa naindústria é perda de posição.

7.3. Desagrupamento

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A falta da vantagem competitiva nacional numa indústria importante cria forças que podemcorroer a vantagem em outras indústrias do grupo. A complacência estende-se de uma indústria aoutra. A perda da vantagem competitiva numa indústria reduz a quantidade e sofisticação dademanda nas indústrias que a abastecem. Inversamente, a perda da vantagem competitiva emindústrias fornecedoras locais diminui o fluxo de informações sobre a tecnologia e o estímulo àsindústrias que apoiam. Também eleva o custo dos insumos durante o inevitável lapso de tempoantes que os compradores passem a negociar com fornecedores estrangeiros.

Assim, embora não seja inevitável, há tendência para que um grupo de indústrias competitivascomece a desfazer-se de uma ou duas indústrias dentro dele, como estratégia importante paramanter a inovação e não perder a vantagem competitiva.

Os grupos são mais vulneráveis se faltam a muitas empresas estratégicas globais e não dispõemde atividades significativas localizadas em outros países. Se a maioria das empresas são,principalmente, fornecedores de uma ou duas indústrias internacionais do grupo ou tiveremalguma outra ligação com elas, a perda de uma dessas indústrias bem pode ter um impactosevero sobre todo o grupo.

As indústrias do grupo, que têm a rivalidade mais vigorosa e a perspectiva e base de clientesmais globais, terão a maior probabilidade de evitar o efeito dominó porque seus contatos comcompradores ou fornecedores estrangeiros podem substituir parcialmente (ou compensar) umambiente nacional menor. As indústrias que desfrutam das mais fortes vantagens da ação inicialtambém podem persistir.

O caráter sistêmico de vantagem nacional encerra, ao mesmo tempo, uma benção e umamaldição. A benção é que o reforço positivo, entre os determinantes, cria o impulso paraaprimorar a economia bem como ampliar e aprofundar os grupos. Uma vez iniciada, a perda devantagem numa economia parece estender-se, quase inevitavelmente, por algum tempo. A perdade vantagens numa série de indústrias adiantadas libera recursos e diminui custos de fatores,criando vantagem competitiva em outras indústrias. O problema é que essas outras indústriaspodem empregar os recursos com menos produtividade e o crescimento desta diminui. A espiralnegativa é difícil de ser contida, a menos que o país tenha a capacidade de criar vantagens emindústrias novas, de alta produtividade. Os países estão, num sentido importante, avançando ouficando para trás no aprimoramento da vantagem competitiva. Ficar parado é difícil.

8. O “Diamante” em Perspectiva

Em sua essência, o sistema de determinantes de vantagem competitiva nacional é uma teoria deinvestimento e inovação. Indústrias internacionalmente competitivas são aquelas cujas empresastêm a capacidade e a vontade de inovar para criar e manter uma vantagem competitiva. Ainovação, no sentido amplo, exige investimento em áreas como pesquisa e desenvolvimento,aprendizado, instalações modernas e treinamento sofisticado.

Para obter vantagem é preciso, em primeiro lugar, uma abordagem nova da competição, querseja na percepção e, em seguida, exploração de uma vantagem de fator, na descoberta de umsegmento mal atendido, na criação de novas características de produtos ou na modificação dosprocessos pelos quais um produto é feito. A manutenção da vantagem exige, ainda, maiorinovação para ampliar e aprimorar as fontes de vantagem competitiva, pelo aperfeiçoamento doproduto, do processo de produção, dos métodos de comercialização e de assistência técnica.

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Os determinantes do “diamante” e as interações entre eles criam as forças que formam aprobabilidade, direção e velocidade da inovação pelas empresas de uma indústria5. Eles elucidamas condições que criam a vontade das empresas de realizar investimentos contínuos.

A disponibilidade e interpretação das informações têm importância central para o processo deobter vantagem competitiva e o “diamante” capta alguns dos aspectos salientes. A vantagemcompetitiva nacional cresce das condições, num país, que indicam, canalizam ou dirigem suasempresas para perceber oportunidades de inovação e agir prontamente, na direção adequada,para capitalizá-los. Isso pode significar a concentração, primeiro, na variedade do produto maisprocurado, adotando a inovação de processo que proporciona o melhor ou abastecendo umsegmento do mercado que foi ignorado por outras empresas. Os países têm êxito em indústriasnos quais o ambiente nacional ajuda as firmas locais a ver as oportunidades mais claramente e/ouver o futuro. As desvantagens seletivas de fatores são valiosos, por exemplo, porque focalizamproblemas que se tornarão generalizados. Da mesma forma, as proporções nas quais a demandalocal antecipa a demanda em outros lugares constitui uma preocupação central.

A vantagem competitiva surge da pressão, do desafio e da adversidade, raramente de uma vidafácil. As desvantagens seletivas de fator, poderosos compradores locais, rigorosas necessidadeslocais, saturação precoce, fornecedores capazes e internacionais e intensa rivalidade local podemser essenciais à criação e manutenção da vantagem. A pressão e a adversidade são motivadorespoderosos de inovação. As empresas de um país têm êxito numa indústria porque pressões sãojustapostas com algumas vantagens na reação a elas, como a demanda local sofisticada, umabase de fornecedores altamente desenvolvida e reservas de fatores especializados.

Na competição internacional, o sucesso vem diretamente da capacidade das empresas inovarem efirmas eficientes mantêm a vantagem durante décadas, frente à mudança externa. Hásubambientes em diferentes países (e em cidades ou regiões dentro de nações) que são maisfavoráveis à inovação.

A diversidade, no sentido de novas e diferentes abordagens à competição, é também importantepara esta. A diversidade não é inata e sim estimulada pelo ambiente. A diversidade é encorajadapelo “diamante”. A sua criação é parte do papel dos determinantes no aceleramento da inovação.

Os determinantes da vantagem nacional constituem um sistema dinâmico. O autofortalecimentodo “diamante”, à medida que a indústria evolui, encerra a chave do aprimoramento e manutençãoda vantagem competitiva. A influência e o fortalecimento dos determinantes leva ao fenômenodo agrupamento e ao predomínio e à importância da concentração geográfica. As proporções do

5 Os trabalhos sobre inovação tecnológica encerram muitas informações para o conhecimento da competiçãointernacional, embora o façam principalmente no contexto interno. Esses trabalhos identificam individualmente opapel dos usuários, fornecedores e próprias empresas, como fontes de inovação. Ver, por exemplo, Von Hippel(1988), bem como os clássicos como Schmookler (1996), Abernathy e Utterback (1975), Rosenberg (1976),Freeman (1982), Nelson e Winter (1982) e outros. Um debate ampliado colocou as explicações da “atração dademanda” contra a “pressão da tecnologia”. A teoria da vantagem competitiva das nações integra essas fontes eoutras numa estrutura mais ampla. A inovação não pode ser retirada de seu contexto estratégico e competitivo.Muitas inovações não envolvem a tecnologia em sentido científico limitado, mas sim melhoramentos nas maneirasde fazer as coisas. O ambiente que cerca a empresa é tão importante (ou mais) para a inovação quanto o queacontece dentro dela. O contato com as informações e sua interpretação é de importância central para o processo deinovação. A inovação é um ato pouco natural em empresas, que só resulta de pressões ou motivação excepcional. Ateoria da vantagem competitiva das nações mostra como vários determinantes interagem, todos, para modelar oprocesso de inovação. A atração da demanda e a pressão da tecnologia são ambas necessárias, como também oambiente competitivo adequado e o acesso a fatores adequados.

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fortalecimento mútuo são, em si mesmo, em função de certos determinantes e da presença demecanismos num país que facilita i intercâmbio dentro dos grupos6.

O processo de criação e manutenção da vantagem competitiva sofre a influência da história. Abase de indústria, instituições e valores já estabelecidos afeta o processo de desenvolvimento daindústria bem como os fatores ocasionais. A ocorrência de acontecimentos fortuitos é, em parte,influenciada pelos determinantes, contudo, e o caminho do desenvolvimento na direção de oucontrário a uma indústria competitiva é previsível em função do “diamante” do país.

Embora as pesquisas examinem locais/situações ressaltando a explicação da vantagemcompetitiva passada, o “ diamante” é também para prever a evolução da indústria. Uma naçãotem as perspectivas de competir vantajosamente se os determinantes subjacentes foremfavoráveis ou puderem ser desenvolvidos. Os países perdem vantagem, por exemplo, se oscompradores locais perderem sofisticação, a demanda se estiver afastando das necessidadesglobais, a mudança tecnológica revelar falta de indústrias abastecedoras, as instituições decriação de fatores não reagirem com o treinamento em habilitações relevantes e assim por diante.Embora os acontecimentos fortuitos, como invenções, sejam também importantes para odesenvolvimento da indústria, o “ diamante” influencia a probabilidade de que ocorram numpaís. Mais importante, o “diamante” permite previsões sobre se os acontecimentos fortuitosresultarão numa indústria competitiva.

Para compreender melhor a vantagem competitiva das nações, contudo, deve-se passar da teoriaampla para os exemplos concretos. A teoria da “vantagem competitiva das nações” pode (e deve)ser aplicada nos dois níveis, indústria e país.

6 O “diamante” local relaciona-se centralmente com os processos de aprendizado e difusão numa indústria nacional.A disseminação das informações através do “diamante” retroage para afetar as direções do desenvolvimento datecnologia.