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A DINÂMICA URBANA DA PRODUÇÃO DE GÊNEROS ALIMENTÍCIOS EM FORTALEZA, NO FINAL DO SÉCULO XIX E INÍCIO DO XX 1 . RESUMO O objetivo do presente trabalho é perceber a circulação de trabalhadores e consumidores de alimentos que atuavam dentro do perímetro urbano da capital cearense e demonstrar a existência de uma dinâmica urbana específica promovida pela ação desses sujeitos em um contexto de transformações na Fortaleza do final do século XIX. PALAVRAS-CHAVE: Trabalhadores; cidade; comércio. ABSTRACT The objective of this study is to observe the movement of workers and food consumers who worked within the city of Fortaleza and demonstrate the existence of a urban dynamic promoted by the action of these subjects in context of the changes in Fortaleza at the end of the century XIX. KEYWORDS: workers; city; commerce. Como argumenta o historiador Carlos Fico, o abastecimento alimentar é uma das questões centrais para a 1 Este artigo discute questões levantadas por mim ao longo da pesquisa “Trabalho e Cotidiano: produção e comércio de gêneros alimentícios em Fortaleza, no final do XIX e início do século XX”, dissertação defendida no Programa de Pós-Graduação em História Social da Universidade Federal do Ceará- UFC, em 2011. Autora: Priscilla Régis Cunha de Queiroz. Mestre em História Social, Professora do Curso de Bacharelado em História da Universidade Federal do Cariri - UFCA. E- mail: [email protected]

A DINÂMICA URBANA DA PRODUÇÃO DE GÊNEROS ALIMENTÍCIOS EM FORTALEZA, NO FINAL DO SÉCULO XIX E INÍCIO DO XX

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O objetivo do presente trabalho é perceber a circulação de trabalhadores e consumidores de alimentos que atuavam dentro do perímetro urbano da capital cearense e demonstrar a existência de uma dinâmica urbana específica promovida pela ação desses sujeitos em um contexto de transformações na Fortaleza do final do século XIX.

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A DINMICA URBANA DA PRODUO DE GNEROS ALIMENTCIOS EM FORTALEZA, NO FINAL DO SCULO XIX E INCIO DO XX[footnoteRef:1]. [1: Este artigo discute questes levantadas por mim ao longo da pesquisa Trabalho e Cotidiano: produo e comrcio de gneros alimentcios em Fortaleza, no final do XIX e incio do sculo XX, dissertao defendida no Programa de Ps-Graduao em Histria Social da Universidade Federal do Cear- UFC, em 2011. Autora: Priscilla Rgis Cunha de Queiroz. Mestre em Histria Social, Professora do Curso de Bacharelado em Histria da Universidade Federal do Cariri - UFCA. E-mail: [email protected]]

RESUMO

O objetivo do presente trabalho perceber a circulao de trabalhadores e consumidores de alimentos que atuavam dentro do permetro urbano da capital cearense e demonstrar a existncia de uma dinmica urbana especfica promovida pela ao desses sujeitos em um contexto de transformaes na Fortaleza do final do sculo XIX.

PALAVRAS-CHAVE: Trabalhadores; cidade; comrcio.

ABSTRACT

The objective of this study is to observe the movement of workers and food consumers who worked within the city of Fortaleza and demonstrate the existence of a urban dynamic promoted by the action of these subjects in context of the changes in Fortaleza at the end of the century XIX.

KEYWORDS: workers; city; commerce.

Como argumenta o historiador Carlos Fico, o abastecimento alimentar uma das questes centrais para a vida nas cidades e para a prpria sobrevivncia dos trabalhadores, e, por isso, os problemas relacionados ao assunto surgem como itens constantes das pautas de reivindicaes, bem como deflagram reaes dos diversos setores sociais.[footnoteRef:2] [2: FICO, Carlos. Cidade Capital. Abastecimento e manifestaes sociais no Rio de Janeiro (1890-1945). Dissertao de Mestrado, em Histria, apresentada na Universidade Federal Fluminense. Niteri, 1989. P. 21. Os objetivos do autor passavam ainda pela avaliao dos graus de conscincia, organizao e mobilizao dos trabalhadores, atravs das manifestaes sociais, utilizando a questo concreta do abastecimento como instrumento de aferio do nvel de aprimoramento poltico dos movimentos sociais, sem considerar, precipuamente, os aspectos poltico-partidrios e ideolgicos, j estudados, exausto, por uma vasta bibliografia. p. 22. Seu estudo enfoca um momento especfico da historiografia brasileira, quando as anlises concentravam-se em um aporte marxista, porm, de forma a executar estudos mais abertos e abrangentes da vida dos sujeitos histricos, em que se percebe a influncia de historiadores como Edvard Palmer Thompson, entre outros. ]

Preocupando-se com a anlise das manifestaes sociais, no Rio de Janeiro, relacionadas com o abastecimento da cidade nas ltimas dcadas do sculo XIX e incio do XX, o historiador afirma que, no Brasil, o perodo entre 1890 a 1906 caracterizou-se pela ausncia de interveno sistemtica do governo no abastecimento e, ainda, por um estgio incipiente do sistema em si. O autor tambm observou um segundo momento, 1890 a 1917, marcado pelo o incio da interveno estatal no regular, quando houve propostas mais complexas para o abastecimento urbano.[footnoteRef:3] [3: Idem, 1989, p.21.]

Nesses perodos, foi possvel perceber diversos problemas de carestia no pas, atingindo mesmo as localidades de maior comrcio. A ocorrncia das crises de carestia era notria, segundo o historiador Artur Renda Vitorino e as razes das crises variaram de provncia para provncia. No Mato Grosso, a carestia se dava, no somente por conta da diminuio da produo agrcola, mas sim por conta do aumento populacional e redirecionamento da produo durante a virada do sculo XIX para o XX, quando, depois de ampliada a navegao do Rio Paraguai, muitos criadores de gado passaram a charquear as rezes e enviar a carne salgada para suprir a Corte. Em Minas, os fatores apontados pelo pesquisador envolvem chuvas irregulares, desvio de braos da lavoura (principalmente, para obras pblicas) alta do preo da carne de porco e de vaca, alm do crescimento populacional. No que diz respeito s provncias do sul, o aumento no custo dos transportes era fator preponderante para a elevao dos preos, alm da pouca cultura de subsistncia, situao favorecida pelo interesse no cultivo do caf.[footnoteRef:4] [4: VITORINO, Jos Renda. Cercamento brasileira: conformao do mercado de trabalho livre na corte das dcadas de 1850 a 1880. Tese de Doutorado apresentada ao Departamento de Histria, do Instituto de Filosofia e Cincias Humanas, da Universidade Estadual de Campinas. So Paulo, 2002. P. 72-73.]

No sculo XIX, nas grandes cidades, de forma geral, a alimentao bsica da populao pobre consistia no consumo do po, do toucinho, da carne-seca, do peixe, do feijo e da farinha de mandioca, artigos que, mesmo diante das variaes regionais de dieta, permaneciam nos cardpios, pas afora. Nesse perodo, os gastos com alimentao absorviam uma parcela bem maior de renda dos trabalhadores do que os gastos com moradia. Apesar de a comida ser pouco variada e, frequentemente, estragada ou adulterada, o principal problema enfrentado era o preo.[footnoteRef:5] [5: HAHNER, June E. Pobreza e poltica: os pobres urbanos no Brasil 1870-1970. Braslia: Ed. Universidade de Braslia, 1993. P. 44.]

Durante a segunda metade do sculo XIX, os preos tenderam a subir mais rapidamente do que nas primeiras dcadas do sculo XX e a variar mais amplamente em perodos curtos de tempo. possvel apontar a expanso da agricultura comercial como fator preponderante para a elevao no preo dos alimentos.[footnoteRef:6] [6: Cf. HAHNER,1993.Ibidem, p. 44-45.]

As crises de carestia, nos primeiros anos da Repblica recm-proclamada, no Brasil, eram frequentes, e entre os anos de 1903 e 1913, verificou-se um perodo que incorporou a propaganda oficial que espelhava o esforo para superar as crises de desvalorizao das exportaes e a necessidade de emisses para equilibrar as finanas do Estado.[footnoteRef:7] [7: Entre os anos de 1900 a 1920, a emisso do tesouro nacional saltou de 669.631 para 1.848.297 contos de ris, causando a desvalorizao dos salrios e a presso na Cmara de Deputados relacionada emisso e a carestia de alimentos. Outro fator apontado foi o aumento das exportaes brasileiras, logo aps o incio da Grande Guerra e tambm a impossibilidade de exportar alguns gneros. LINHARES, Maria Yedda Leite & SILVA, Francisco Carlos Teixeira. Histria poltica do abastecimento (1918-1974). Braslia: Binagri. 1979. P. 26.]

Diversos gneros alimentcios constaram na lista de produtos exportados do Brasil, segundo os autores, demonstrando que a conjuntura permitiu o desvio de parte da produo, anteriormente dedicada somente ao consumo interno, o que resultou no aumento de preos e no desaparecimento da oferta de alguns produtos.[footnoteRef:8] [8: Idem,1979 p. 30.]

Em Fortaleza, no final do sculo XIX, as reclamaes da populao envolviam a disponibilidade de gneros e seu alto custo. As despesas dirias dos moradores da cidade eram altas, os artigos bsicos de sobrevivncia e alimentao apresentavam-se no mercado a altos preos, sendo, diversas vezes, motivos de reclamao na imprensa, sobretudo, da classe trabalhadora mais pobre. Dieta, moradia e vesturios inadequados, bem como as longas jornadas de trabalho exaustivo, tornavam os trabalhadores urbanos mais suscetveis do que os membros da elite s doenas no Brasil, do sculo XIX. [footnoteRef:9] Em 1882, at mesmo a Cmara Municipal de Fortaleza pediu, por meio de ofcio, providncias e alternativas Presidncia da Provncia acerca do elevado preo da carne verde, sobretudo, diante dos reclames da imprensa.[footnoteRef:10] [9: HAHNER, June E. Ibidem, P. 45-46.] [10: Arquivo Pblico do Estado do Cear (APEC) - Ofcio da Cmara Municipal de Fortaleza, 6 de fevereiro de 1882.]

Os problemas dos trabalhadores passavam pelas dificuldades em manter uma dieta diria suficiente para toda a famlia. Nesse sentido, um dos caminhos a seguir era a produo em escala de subsistncia realizada nos prprios quintais para abastecer a casa de gneros bsicos como verduras, ovos e carne de frango e peixe. No Cear, segundo os dados expostos no Almanaque Administrativo para o ano de 1899, nos 62 municpios do estado, existiam 7.231 stios de cana, 3.654 fazendas de caf e 792 engenhos. Chama ateno a quantidade de roados, nomenclatura aplicada a pores pequenas de terra, em um total que chegava a cem mil, nmero que pode apontar para a persistncia das pequenas culturas voltadas para o consumo em pequena escala. Trabalhando nessas lavouras havia mais de cem mil agricultores, esses eram os principais produtores dos gneros que abasteciam o Cear[footnoteRef:11]. [11: Biblioteca Pblica Menezes Pimentel (BPMP) - Almanaques Administrativo, Estatstico, Mercantil e Industrial do estado do Cear para o ano de 1899. ]

No que diz respeito existncia desse tipo de ocupao relacionada com a produo de alimentos em Fortaleza, baseamo-nos em dados presentes no Arrolamento da Cidade de Fortaleza, documento organizado pelo chefe de polcia Olympio Manuel Vital em 1887. Entre os mais diversos sujeitos descritos como moradores da cidade, encontramos, por exemplo, ferreiros, sapateiros, lavadeiras e empregados no servio domstico. Entre estas e muitas outras categorias profissionais, identificamos lavradores, agricultores, pescadores, vaqueiros e um criador.Assim as possibilidades de produo de alimentos realizada em menor escala, dentro do permetro urbano da capital cearense e em seus arredores por lavradores, agricultores e pescadores, demonstram que parte do abastecimento de alimentos da capital era viabilizada pela permanncia da atividade destes trabalhadores. O peixe, por exemplo, era importante na dieta da cidade e a venda do pescado acontecia por toda parte, no mercado, na beira da praia e na rua, comprado e viscerado beira da calada, a vizinhana sabendo que amos comer cavala, como informa o memorialista Eduardo Campos.[footnoteRef:12] [12: CAMPOS, Eduardo. O inquilino do Passado. Memria urbana e artigos de afeio. Fortaleza: Casa Jos de Alencar/Programa Editorial, 1998. Coleo Alagadio Novo. Fortaleza. P. 32]

Esses trabalhadores, entre tantos outros deixados de fora pelo censo, eram responsveis por uma contribuio relevante para o abastecimento da cidade, imprimindo um jeito prprio de lidar com as transformaes urbanas, inserindo-se, atravs de prticas tidas como rurais, na vivncia urbana da capital cearense.Os sujeitos identificados como pescadores e jangadeiros tinham moradia situada, principalmente, na Rua da Praia e na Rua da Lagoinha. A faixa etria mdia era de 50 a 60 anos, somando, de acordo com o Arrolamento, um total de dez trabalhadores, todos casados, tendo que, a partir do seu trabalho, compor a renda domstica. O principal alimento dessas famlias era, de certo, o peixe, artigo bastante apreciado no Estado do Cear e tambm na Capital. Como afirma Eduardo Campos, relembrando seus tempos de menino na Fortaleza do incio do sculo XX, o cardpio das famlias na capital ia de carne a peixe[footnoteRef:13]. [13: CAMPOS, Eduardo. A Fortaleza Provincial. Fortaleza: 1988. P. 42.]

Os cursos dgua, nas proximidades da capital, eram muitos. Segundo Eduardo Campos, no Coc, por exemplo, predominava a piraima, espcie de tainha muito procurada. As piabas eram fartas, crescidas de trs polegadas. Tinha-se mais o jacund, a trara,... valendo mencionar-se o baiacu, peixe pequeno e de artes malignas.[footnoteRef:14] Como aponta Gandara (2010, p. 19), os rios no podem ser tomados como simples suportes fsicos, o rio paisagem. Um lugar onde as pessoas se conectam com os mistrios da natureza, a categoria rio representa um sistema, indicador da situao espacial, concebido com base nas relaes entre natureza e pessoas. Eles tm histria. [14: Ibidem, p. 43.]

Nesse sentido, a partir de relatos como este, percebemos os rios que cruzam e cruzaram a Fortaleza no perodo abordado como parte integrante da paisagem da cidade, mas, sobretudo, buscamos entende-los como elemento integrante da vida e do trabalho dos sujeitos que deles tiravam seu sustento e tambm seus momentos de lazer e prazer.Sobre a pescaria e a disponibilidade de peixes, escreveu Jos Pinheiro em artigo para o Instituto Histrico do Cear. O autor relata que, no final do sculo XIX, 1895, o Rio Ju que passava por Soure: alimentava enorme quantidade de peixes: a trahira, o car, o cangaty, pescavam-se aos montes. E, com pesar, o autor informa que a pretexto de ter o lago invadido alguns stios, desfizeram-se do rio, uma grande obra que a natureza expontaneamente offerecera laboriosa populao de Soure.[footnoteRef:15] [15: Revista do Instituto Histrico, Geogrfico e Antropolgico do Cear, de 1902. P.24.]

Desde ento o local occupado pelo reservatrio tornou-se tambm o sitio da desolao e da tristeza: a passarada retirou-se e no mais troou o ar com seu trinar delicioso; o gado e os outros animaes procuraram outras pastagens; o caador no saciou mais a fome dos seus filhos e nem o pescador conseguiu deitar as suas redes; acabaram-se as fructas, seccaram as plataes e tudo ali agora tristeza, desolao.[footnoteRef:16] [16: Revista do Instituto Histrico, Geogrfico e Antropolgico do Cear, de 1902, P. 85.]

Tambm o lago do Cauhipe indicado como de uma fertilidade espantosa, pois, em suas margens cultivavam-se alimentos diversos que alimentava fartamente todos os habitantes do municpio de legumes, peixes e fructas que faziam tambm grande commercio de exportao; trabalho de cultivo que alavancou uma produo de alimentos no seio da urbanidade, segundo o autor, sua produo zombava, portanto, das secas. Jos Pinheiro continua:

Era invencvel a abundancia de peixes de varias espcies: saborosas curimat (da famlia dos salmes), o piau, a trahira, o car, o cangaty, etc.; como tambm as plantaes de mandiocas e das cucarbitaceas; meles, abobaras, melancias. Suas margens podiam (no tempo das vasantes) ser aproveitadas vantajosamente para diversas espcies de lavoura.[footnoteRef:17] [17: Revista do Instituto Histrico, Geogrfico e Antropolgico do Cear, de 1902, P. 85.]

O cultivo dessas lavouras, mencionadas por Pinheiro, era realizado em Fortaleza e em suas reas circunvizinhas por um grupo de trabalhadores que somavam, segundo o Arrolamento, noventa e trs homens identificados como lavradores e agricultores, a maioria, 49 sujeitos, entre 20 e 40 anos. Suas residncias situavam-se, em maior nmero, na Estrada do Coc e no Arraial da Aldeota, localidades que rodeavam a rea mais central da cidade. No entanto, tambm ocupavam habitaes na Rua da Glria, Rua Senador Pompeu e Rua Formosa. Um desses lavradores era Manuel dos Santos, 42 anos, que dividia uma casa na Boulevard Visconde do Rio Branco com sua mulher, Josepha Carlos de Sampaio, 52 anos, e os filhos Tertuliano de 20 anos, Joo de 10 anos e Antonio de 11 anos; famlia numerosa, possivelmente, dividiam as responsabilidades da casa entre todos e, quem sabe, assim como no costume do campo, o ncleo familiar se revezava nas atividades da lavoura. Por meio do trabalho, eles e tantos outros viabilizaram uma produo local diariamente, seu excedente era empregado na venda local e no sustento das famlias. No caso dos muitos migrantes, do interior do estado, estabelecidos na capital cearense, o uso dos saberes do trato adquiridos no trabalho nas fazendas e stios era, decerto, remanejado para as condies urbanas, onde continuavam exercendo seu ofcio na nova realidade vivida. Havia tambm aqueles que, atravs de muitas geraes, exerciam essa funo de produtores de alimentos na cidade, fazendo-a passar de pai para filho, como possvel imaginar a partir, por exemplo, da idade mdia dos pescadores moradores da cidade, como j mencionado, a maioria tinha entre 50 e 60 anos. Assim, os saberes necessrios para a cultura dos gneros circulavam ao longo do tempo, assumindo novos contornos, sobretudo, diante de regulamentaes da cidade. Com as novas regras estabelecidas, ao longo dos anos, o trabalhador no podia agir livremente na cidade, sendo necessrio reinventar seus saberes e prticas, anteriormente baseadas nos costumes, no espao e as relaes sociais comuns s experincias no campo. Agora, lavradores e agricultores que viviam e trabalhavam na cidade precisavam estabelecer negociaes cotidianas com os agentes da fiscalizao, baseados nos parmetros da legislao implementada pelos poderes pblicos. A infrao das leis e dos cdigos de postura concorreria para a apreenso da produo e multa. Os novos saberes precisavam passar pela adequao da vida na cidade, influindo, inclusive, em um nvel domiciliar.A vivncia rural comea em casa. Estando localizadas no permetro central ou nos arrabaldes da cidade, as residncias continham, em seus espaos, os traos da vida campestre. Eduardo Campos, ao comentar a vida em Fortaleza, no incio do sculo XX, deixou claras as preocupaes dos moradores relacionadas ao modo de vida que pretendiam ter na cidade. Quem iria alugar uma casa logo queria saber: Tem quintal grande?:

Em geral havia, e com razovel espao para o situamento de inevitvel galinheiro. Dona de casa tinha de ser tambm criadeira de galinha desse modo mencionado. Melhor dizer: de galinhas. H de ser assim no plural, as todas penosas criadas sob mil cuidados e padreadas por imponente galo, capaz de dar conta de pelo menos vinte consortes. [...] No se queria galinha preta. Dava azar. Preferidas por ento as carijs boas poedeiras, indicadas para melhorar a raa (e tinham?) da p-duro. Por esses dias ainda se podia ver, vendidas pelas ruas, as aves atadas pelos ps e mantidas dependuradas, malvadeza corrigida depois por postura municipal. Da por diante, quem vendesse galinha havia de carreg-la em capoeiras, armaes improvisadas com varas de mameleiros e cips entranados priso e transporte a um s tempo.[footnoteRef:18] [18: Cf. CAMPOS. Ibidem, 1998. Fortaleza. P. 61-62.]

As memrias de Campos trazem muito da vivncia da cidade, no incio do sculo, referindo-se, diversas vezes, a insistncia desses modos de vida que permeavam a cidade. No incio do sculo XX, at a dcada de 1940, h permanncia de prticas rurais no mbito citadino que, por que no argumentar, ainda hoje, incio do sculo XXI, a presena, como por exemplo, de pequenas criaes de fundo de quintal, algumas levadas a diante para consumo prprio, mas, muitas vezes, divididas entre os vizinhos.[footnoteRef:19] [19: OLMPIO, Marise Magalhes. De dia falta gua, de noite falta luz: trajetrias e experincias dos primeiros moradores do Conjunto Habitacional Prefeito Jos Walter (1970 -1982). In: VI Semana de Humanidades: Memria e devir, 2009, Fortaleza. Anais da VI Semana de Humanidades, da Universidade Federal do Cear e da Universidade Estadual do Cear, 27 a 30 de abril de 2009. No artigo, a autora analisa como os moradores do Conjunto Habitacional Prefeito Jos Walter, criado em 1970, lidavam com as dificuldades da vida em Fortaleza, criando solues, muitas vezes, calcadas na solidariedade entre vizinhos, em uma experincia urbana marcada por elementos rurais.]

Como nos conta Campos, a pequena produo domstica corroborava para o abastecimento das famlias:

... os ovos, apanhados pela manh, davam sua contribuio indispensvel ao fazimento de bolos, a ajudar bastante completando o jantar. Ningum comprava ovos em outras casas. Fazer desse modo era demonstrar incapacidade, desleixo de gesto domstica. No mximo podia tomar por emprstimo um ou at dois ovos vizinha: olhe, depois eu pago... Deixe disso, mulher! de graa...[footnoteRef:20] [20: Cf. CAMPOS. Ibidem, 1998. P. 62.]

Acreditamos que Fortaleza, em sua formao urbanstica, tem sido mesmo cortejada pela sensibilidade rural, sempre rodeada pelo agrrio. A pretensa urbanizao da capital dividia espao com as experincias de cidade pequena, em detrimento dos nomes das ruas valem os seus pontos de referncia: mercado, mercearia, praa, quiosque, etc. Todos esses locais so, por excelncia, espaos de sociabilidade por meio da venda e do consumo de alimentos. Assim, ao longo dos anos, a cidade experimenta novas relaes de vida e trabalho. Regulamentos so elaborados pelos detentores dos saberes e poderes oficiais com o objetivo de enquadrar hbitos e costumes, transformando o comportamento social. Observa-se, nessa legislao disciplinadora, que a conduta geral desejada pelos grupos dominantes cresce, bem como a busca por melhor caracterizar a paisagem urbanstica para Fortaleza. Nesta moldura, inserem-se as posturas municipais e providncias do legislativo com vistas ao interesse direto de regular, fiscalizar e taxar as atividades cotidianas, e, assim como o abastecimento da cidade, as formas de produzir e comercializar os gneros alimentcios foram, no final do sculo XIX e incio do XX, preocupaes de primeira ordem.Por meio dessa legislao, podemos acessar o modo como os habitantes da cidade relacionavam-se, negociavam suas demandas de consumo de produtos e de espaos na cidade, desejos e necessidades perpassadas pelas imposies dos administradores que, dispondo dos cdigos de posturas municipais, preparavam suas aes ordenadoras que pretendiam, por meio da sua oficialidade, ser cumpridas integralmente. Porm, eram, antes, tomadas de modo parcial pela populao em geral. Durante a segunda metade do sculo XIX, o legislador principia a interessar-se pelas condies locais de abastecimento da povoao, visando a defesa e a ordenao da sade da comunidade. No era tolerada, por exemplo, a estagnao das guas, como se v pela resoluo n. 1162, de 3 de janeiro de 1865 (art. 59), que pretendia desobstruir o Paje: Os moradores da rua do Mercado so obrigados a limpar o riacho que corre pelos quintais de suas casas, quando forem avisados pelo fiscal. A 20 de novembro de 1870, aprovado novo cdigo de posturas para a cmara municipal da Capital, com 87 artigos, em oito captulos, seguido de regulamento com 2 captulos e 28 artigos, ato assinado pelo desembargador Joo Antnio de Arajo Freitas Henriques, presidente da Provncia. H um zelo mais acurado, diga-se a tempo, at mesmo pelo aspecto das casas, a comear do que vai expresso no art. 15: No mez de junho de cada anno todos os proprietrios mandaro caiar as frentes de suas casas, ainda mesmo coloridas ou guarnecidas. Esta disposio se faz extensiva s casas j existentes, cujas frentes no estiverem de conformidade com as presentes posturas.[footnoteRef:21] [21: CAMPOS, Eduardo. Legislao provincial do ecmeno rural e urbano do Cear. Fortaleza: Acervo UFC Digital, 1981. P. 45-46.]

A respeito do comrcio e circulao de vendedores ambulantes de gneros alimentcios pelas ruas da cidade, sucedem-se taxaes como a que incidir sobre as atividades nas praas do Ferreira e Jos de Alencar na Capital: 40 ris por cuia, bandeja, cesto, tabuleiro ou outro objeto que entrar nas ditas praas com gneros de qualquer espcie e nellas for expostas venda alm de 20 ris sobre cabea de gado vaccum, cavalar ou muar, que nelas estacionam.Na resoluo n. 1.162, de 3 de agosto de 1865, da Cmara Municipal de Fortaleza, art. 34: pohibido estender-se couros salgados nas ruas, e praas desta cidade, devendo ser estendidos somente na rua da praia. O infractor incorrer na multa de 8$000 ris, e o mesmo nas reincidncias. Na seco II, dessa resoluo (Dos cortumes, salgadeiras, estabelecimentos de fbrica, depsitos, manufaturas, e tudo que possa alterar a salubridade pblica, e encomodar a vizinhana.), tem-se obstado no artigo 41: Ningum poder estabelecer cortumes, salgadeiras, aougues e fbricas de qualquer natureza, sem previa licena da Cmara. O art. 42 probe o funcionamento de curtumes e salgadeiras para derret-lo, as quais podero trabalhar nos quintais das casas de modo que no incomodem a vizinhana.[footnoteRef:22] [22: APEC- Na resoluo n. 1.162, de 3 de agosto de 1865, da Cmara Municipal de Fortaleza.]

A sade pblica , tambm, nesse momento, considerada pelas autoridades. Os comerciantes no podem mais manter armazns e depsitos de couros cortidos, carne e peixe salgado e outros gneros que possam infeccionar a atmosphera, pois estes devero ser arejados e conservados com limpeza. A partir dos saberes mdicos, j no se admite, por esses dias, o comprometimento do ar que se respira. O art. 47 bastante explcito a respeito disso, pois: armazns e depsitos de couro cortidos, carne e peixe salgados, e outros gneros, que possam infeccionar a athmosphera, devero ser arejados e conservados com limpeza. Esse artigo estava embasado em saberes tcnicos que eram elaborados mundo a fora, nesse momento. Em Fortaleza, tais postulados eram organizados e repassados atravs do Conselho de Sade Pblica; em uma das poucas transcries de suas atas disponveis no Arquivo Pblico do Cear, acompanhamos os nomes e os respectivos cargos dos envolvidos nessa empreitada em nome da salubridade pblica.

Aos 26 dias do ms de janeiro d 1916 no gabinete do emo. Sr. Secretrio do interior, presentes os senhores doutores Aureliano de Lavor, secretario do interior, Carlos Ribeiro, inspector de hygiene, Jos Ribeiro da Frota medico da municipalidade, Manoclito Moreira da sade do porto, Thomas Pompeu Filho inspector veterinrio, Eduardo Mamedes, Eliezer Studart da Fonseca e Jos Campos, sob a presidncia do primeiro, teve lugar a reunio do conselho de sade publica convocado de accordo com os arts 2. 3, e 4 do regulamento da lei n. 7, de 11 de fevereiro de 1892.[footnoteRef:23] [23: APEC- Ata do Conselho de Sade Pblica de 26 de janeiro de 1916.]

A reunio foi fruto de uma demanda existente desde a dcada de 1890 e contava com nomes ilustres, todos dedicados a criar delimitaes a serem postas em prtica por meio das determinaes das autoridades municipais. A pauta da reunio fora formada a partir de solicitaes da Inspectoria de Hygiene do municpio, outro rgo importante na cadeia de envolvidos com a sade da populao de Fortaleza. Nesse momento, a preocupao reinante era com as infeces intestinais, bem como com sua natureza, etiologia e prophylaxia do mal, ficando assentado que se deve requisitar a Prefeitura Municipal:

a) Desinfeco diria, rigorosa quanto possvel do matadouro pblico; b) A construo de um abrigo com cobertura e gua pura para repouso do gado destinado a matana; c) Exame sistemtico do gado em p pelo mdico veterinrio, alem do exame da carne e vsceras; d) Abatimento de gado destinado ao mercado s 6 horas da tarde; e) prohibio da venda no mercado depois das 10 horas do dia; f) asseio rigoroso dos carros de transporte; g) Prohibio do abatimento no s do gado vaccum como de porcos e carusiros fora do matadouro e das visitas do mdico da municipalidade; h) Prohibio expressa da venda de peixe no cho dos passeios e obrigao dos peixeiros ambulantes de conduzirem uma taboa limpa para o corte; e) Prohibio da venda de doces, pes e artigos com gneros em taboleiros ou cestas descobertas, prohibio esta extensiva a todos os gneros alimentcios nas bodegas, mercearias, etc, e que devem ser consumidos sem previa coao.[footnoteRef:24] [24: APEC- Ata do Conselho de Sade Pblica de 26 de janeiro de 1916.]

A partir desses postulados, a ao seguinte seria conduzida pela Inspectoria de Hygiene que deveria retirar de dentro do permetro urbano todos os estbulos e cocheiras ou cavalarias, salvo se construdos com todo o rigor hygienico. Proceder a fiscalizao ficava a cargo dos fiscais e da prpria guarda municipal e efetivava-se assim o acompanhamento cotidiano sobre os gneros e o pessoal que com eles lidava. Os sujeitos taxados, por sua vez, deveriam deixar o solo e paredes dos locais de produo e comercializao dos alimentos impermeveis e lav-los diariamente, removendo a sujeira e desinfetando-os com leite de cal, creolina ou sulfato de ferro. Essa fiscalizao organizada pela Inspetoria que, por sua vez, havia sido instruda pelo Conselho, deveria ainda proibir a venda de gua que no fosse de poo profundo e exigir dos cafs, hotis, restaurantes e estabelecimentos congneres o uso exclusivo de gua de poo profundo e o fornecimento de gua filtrada, vista do pblico, em filtros aprovados pela Inspetoria. Ainda, dentro das preocupaes com a qualidade das guas utilizadas na cidade, previa-se que a fabricao de gelo deveria ser feita com gua de poo profundo e todas as habitaes coletivas como colgios, por exemplo, teriam que usar os filtros aprovados ou o uso exclusivo dgua fervida. As multas eram extremamente usuais em um nvel cotidiano, parte das receitas do municpio advinha dessa atividade reguladora. As aes, no entanto, no se resumiam a cobrana financeira, tambm eram emitidos conselhos e delimitaes prvias por meio da ao de agentes e da divulgao na imprensa local.Todas essas iniciativas de fiscalizao expostas at aqui, no entanto, no eram recebidas sem discusso ou, simplesmente, postas em prtica exemplarmente. Na mesma Ata do Conselho analisada aqui, acompanhamos, por exemplo, uma das vias de negociao com as ordens estabelecidas. Trata-se de um recurso impetrado contra uma multa de 50$000 que fora imposta pelo Inspector de hygiene. A infrao referia-se ao aluguel de uma casa sem a devida visita sanitria. O infrator fugiu a regra da inspeo prvia, sendo multado em seguida. O caminho de recusa escolhido por ele foi a petio oficial para a retirada da multa. Desta vez, no entanto, as vias legais no surtiram o efeito desejado. O recurso enviado ao conselho foi rejeitado por unanimidade. Se a multa foi paga devidamente, no sabemos. Acreditamos que boa parte dos infratores desacreditavam os saberes formulados por rgos distantes da realidade cotidiana da cidade. Um conselho formado por ilustres do Estado saberiam apreciar os saberes passados de gerao a gerao? Alm disso, a inviabilidade financeira de seguir as determinaes dos chamados rgos competentes era patente.[footnoteRef:25] [25: APEC- Ata do Conselho de Sade Pblica de 26 de janeiro de 1916.]

Como observamos, at agora, no faltaram, no seio urbano de Fortaleza, sujeitos ligados lavoura e criao, atividades que se desenvolveram junto ao movimento crescente de criao de cdigos de posturas municipais surgidas desde o incio do sculo XIX. Reutilizando artigos antigos ou modelando novos parmetros, os cdigos e seus elaboradores tentavam organizar no s o uso do solo e das guas, mas a comercializao desses gneros pela cidade, delimitando a ao de seus vendedores. Tratando de uma pesquisa marcada pela anlise de diversos fragmentos dispersos, nos parece bastante til apresentar, como feito at aqui, uma vista do conjunto. A cidade que crescia e organizava seu ncleo urbano, vivia e desenvolvia-se tambm sob influncia do mundo agrrio, experimentado atravs da mescla de sensaes de sua antiga paisagem campestre e do seu crescente perfil urbano. Todos os meandros apresentados at aqui eram parte do cotidiano citadino. O descontentamento geral e as presses populares diante das dificuldades advindas dos problemas de abastecimento, as dificuldades da produo local de gneros ou as taxaes e determinaes por parte das autoridades administrativas apontaram para a necessidade de criao de solues e argumentos baseados na tcnica, tanto para os problemas do abastecimento, quanto para a criao de delimitaes de conduta e justificao de taxas. A interrogao sobre as operaes dos usurios, supostamente entregues passividade e disciplina, busca tornar tratveis as prticas cotidianas destes e coloc-las em contato direto e articulado com as atividades sociais e no s como seu pano de fundo. As questes levantadas aqui se referiram aos modos de operao ou esquemas de ao e, como aponta Certeau: no diretamente ao sujeito, que o seu autor ou seu veculo.[footnoteRef:26] [26: CERTEAU, Michel de. A Inveno do Cotidiano: artes de fazer. Petrpolis, RJ: Vozes, 1994. P. 38.]

Por meio da investigao acerca do comportamento da sociedade cearense no que se refere produo e ao abastecimento de alimentos no perodo tratado, temos conseguido demarcar alguns usos desses objetos. Essas maneiras de fazer, tratadas aqui, constituem um conjunto variado de prticas pelas quais usurios se reapropriaram do espao organizado pelas tcnicas. Para Certeau,

...elas colocam questes anlogas e contrrias as questes colocadas por Foucault: anlogas, porque se trata de distinguir as operaes quase microbianas que proliferam no seio das estruturas tecnocrticas e alteram o seu funcionamento por uma multiplicidade de tticas articuladas sobre o detalhe do cotidiano; contrria, por no se tratar mais de precisar como a violncia da ordem se transforma em tecnologia disciplinar, mas exumar as formas sub-reptcias que so assumidas pela criatividade dispersa, ttica, dos grupos ou indivduos presos agora nas redes da vigilncia.[footnoteRef:27] [27: Ibidem, p. 41.]

No quadro de interveno do Estado, primamos por mostrar a existncia de caminhos profcuos para comportamentos e organizaes sociais diversas, diferentes das almejadas pelas elites. A populao, em geral, no assistiu passiva mudana, mas construiu usos criativos dos espaos oficiais e mesmo das ruas da cidade. Os trabalhadores envolvidos na dinmica da produo e do comrcio de alimentos colaboram para isso.

REFERNCIAS BIBLIOGRFICAS

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