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8/19/2019 A Ditadura Que Mudou o Brasil
http://slidepdf.com/reader/full/a-ditadura-que-mudou-o-brasil 1/5
As oposições à ditadura: resistência e integração
Marcelo Ridenti
Num primeiro momento, em plena Guerra Fria, o golpe buscou legitimar-se junto a
segmentos expressivos de uma parte da sociedade que se sentia ameaçada por umsuposto avanço do comunismo, do sindicalismo e da corrupção. O suporte civil vinha do
empresariado nacional e multinacional, oligarquias rurais, setores das classes mdias,
grande imprensa, instituiç!es religiosas e pro"issionais liberais, e at de alguns
trabalhadores. #em contar o apoio expresso ou velado da maior parte dos integrantes de
partidos legais, que por isso mesmo continuaram em atividade at outubro de $%%&, uma
ve' a"astados seus integrantes acusados de subversão da ordem( "oram cassados mais de
cinquenta deputados "ederais, cuja maioria vinha da ala esquerda do )artido *rabalhista
+rasileiro )*+ e de outras agremiaç!es menores. p. /$0
- 1juda na justi"icação de grupos que ainda permaneceram apoiando a 2itaduracivil-militar ap3s o golpe civil-militar.
O golpe gerou v4rias dissid5ncias no )6+, cr7ticas em relação 8 suposta moderação ou
passividade da maioria de sua direção. 6arlos 9arighella liderou os que criaram a 1ção
:ibertadora Nacional 1:N, organi'ação guerrilheira mais destacada, que se inspirava
na revolução cubana. Outra cisão importante redundou na criação do )artido 6omunista
+rasileiro ;evolucion4rio )6+;. <ouve ainda muitas dissid5ncias, sobretudo
estudantis, organi'adas em todo o pa7s.
Grupos de esquerda atuantes antes de $%=>, como o )artido 6omunista do +rasil)6do+, a 1ção )opular 1), a Organi'ação ;evolucion4ria 9arxista )ol7tica
Oper4ria )O:O) e a esquerda nacionalista continuaram em ação ap3s o golpe, todos
suscet7veis e cis!es, que geraram grupos como a ?anguarda )opular ;evolucion4ria
?);, os 6omandos de :ibertação Nacional 6O:@N1, a ?anguarda 1rmada
;evolucion4ria )almares ?1;- )almares, a 1la ?ermelha do )6do+ e o )artido
;evolucion4rio dos *rabalhadores );*. p. //0
1 esquerda brasileira converteu-se, em pouco tempo, num mosaico de de'enas de
pequenas organi'aç!es pol7ticas. Alas divergiam quanto ao car4ter da revolução
brasileira nacional-democr4tica ou socialista, sobre as "ormas que a luta revolucion4ria
deveria assumir pac7"ica ou armada0 se armada, guerrilheira ou insurrecional0 centrada
no campo ou na cidade, sobre o tipo de organi'ação pol7tica necess4ria para condu'ir a
revolução partido leninista ou organi'ação guerrilheira B...C. p. //0
- 1s divis!es da esquerda e a necessidade por parte do Astado de promover a
integração nacional.
- 1 pobre'a enquanto pretexto da integração nacional. Ara uma "orma de manter
a identidade nacional a partir do sertanejo. ?er ainda, 2urval 9uni', com 1 invenção do
Nordeste e outras artes0
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Fosse "ruto de um plano arquitetado, pelo menos desde o começo dos anos $%=D, por
uma aliança de militares com o empresariado nacional e multinacional, como propEs
2rei"uss0 "osse resultado quase aleat3rio de um jogo pragm4tico dos donos do poder,
como parece considerar Gaspari o "ato que desde $%=> "oi se constituindo um
projeto de moderni'ação da sociedade brasileira a partir de medidas econEmicas e
pol7ticas do Astado autorit4rio, associadas 8 iniciativa privada, o que se convencionou
chamar de moderni'ação conservadora, tomando emprestado o termo de +arrington
9oore r. 1ssim, os governos militares promoveram o desenvolvimento, embora 8 custa
do cerceamento das liberdades democr4ticas e com grande concentração de rique'as,
não pelo vis do capitalismo de massas, sonhado por 6elso Furtado e outros nacional-
desenvolvimentistas antes do golpe. 1o contr4rio do que inicialmente pensaram seus
advers4rios, a ditadura impEs um projeto de moderni'ação da sociedade que "icou
evidenciado a partir de $%D com o chamado Hmilagre brasileiroI na economia.
O regime, entretanto, não apostou todas as suas "ichas de legitimação apenas nodesenvolvimento. No "im de $%=%, tratou de reabrir o 6ongresso, devidamente
expurgado, para HelegerI o general Am7lio Garrasta'u 9dici como novo presidente da
;epJblica. 1 oposição, organi'ada no 92+, absteve-se de votar. Am descrdito, o
partido so"reu sua maior derrota pol7tica em $%D, quando parte dos descontentes com a
ordem estabelecida votou nulo ou em branco nas eleiç!es parlamentares. 1pesar do
recorde de votos brancos e nulos, a 1rena venceu "olgadamente as eleiç!es, baseando
sua campanha no sucesso do HmilagreI.
1 repressão e o desenvolvimento desarticularam as oposiç!es por algum tempo, at
porque boa parte delas compartilhavam as iniciativas moderni'adoras do governo. 9aso HmilagreI não duraria muito, e em $%/ e $%> j4 surgiam sinais de crise econEmica,
levando o regime a buscar novas Kncoras para manter a estabilidade. 1 repressão, o
5xito econEmico, medidas moderni'adoras e assist5ncia social não bastavam para
assegurar a ordem. 1demais, montou-se uma m4quina repressiva dentro das Forças
1rmadas, que passou a agir com relativa autonomia, pondo em risco a hierarquia da
instituição. p. /-/L0
- 2esde $%=>, o regime tinha um car4ter de moderni'ação conservadora. O
milagre econEmico "oi o seu carro che"e, mas em $%/ e $%>, j4 apresentava sinais de
crise econEmica.
1 oposição institucional tambm "oi ativa em 3rgãos da sociedade civil, como a Ordem
dos 1dvogados do +rasil O1+ e a 1ssociação +rasileira de @mprensa 1+@, que,
entretanto de"endiam posiç!es variadas ao longo dos anos, entre colaboração e
resist5ncia, como demonstrou, por exemplo, 2enise ;ollemberg. 1 atuação da imprensa
tambm era repleta de ambiguidades, entre opor-se colaborar com a ditadura. p. >D0
- 1 O1+ apoiou, com :audo de 1lmeida 6amargo, a criação da
*ransama'Enica, no governo de 9dici.
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Na segunda metade dos anos $%D, surgiram movimentos sociais em busca de expressão
na cena pol7tica, revelando a insatis"ação e o desejo de participação de organi'aç!es de
bairro, "avela, donas de casa, negros, mães e mulheres contra a carestia, por creches,
moradia, comiss!es de saJde e assim por diante. 9uitas ve'es os movimentos se
articulavam com as comunidades eclesiais de base da @greja 6at3lica, com o Hnovo
sindicalismoI e com remanescentes da esquerda clandestina, con"orme apontaram
pesquisadores como Ader #ader e 9arco )erruso. p. >D0
- ;elaciona-se com os movimentos criados em )icos, na dcada de $%LD, da
igreja cat3lica. A a discussão de Hpobre'aI.
1 organi'ação social, pol7tica e econEmica estabelecida, contudo, impunha limites 8s
concess!es aos trabalhadores. 1 crise do milagre econEmico, o arrocho salarial, a
crescente concentração de rique'as, a insatis"ação com as medidas repressivas, as
mudanças na conjuntura pol7tica, entre outros "atores, levaram 8 politi'ação de parte da
classe trabalhadora. 1 partir de $%L, a dinKmica das greves ganhou todo o territ3rio
nacional, como expressão do Hnovo sindicalismoI, que constituiu um dos principais
movimentos de oposição 8 ditadura, embora organi'ado no interior de sua estrutura
institucional. 1s greves levaram a ganhos materiais relativamente modestos e geraram
repressão governamental, com intervenção em sindicatos e v4rias pris!es, inclusive a de
:ula, em $%LD B...C. p. >$0
- ;elacionar com as greves em )icos. 1 dos sindicatos das indJstrias t5xteis e
com a greve contra o governo de 1bel.
1 oposição aos atos de "orça da ditadura nem sempre signi"icou contestar seus es"orços
de institucionali'ação, que acompanharam o processo de moderni'ação conservadora da
ordem estabelecida. 1demais, a pol7tica econEmica de crescimento era apoiada pelas
classes dirigentes e por v4rios setores da sociedade civil, que não raro "echavam os
olhos para as arbitrariedades do regime, ou at as apoiavam expressivamente. p. >>0
- Os setores civis tambm apoiaram a pol7tica econEmica. ;elacionar com a
*ransama'Enica em )icos.
O regime implantado em $%=> "oi coroamento de um longo processo de revolução
burguesa no +rasil, sob bases autorit4rias, como propEs Florestan Fernandes. @ndo alm(
a complexidade da moderni'ação, com tempo, tornou anacrEnicos os moldes ditatoriais.
:entamente, em oposição mas tambm em interação com as pol7ticas governamentais
, "oi se consolidando, de maneira contradit3ria, uma es"era pJblica com regras para
arbitrar as condutas e os embates entre os agentes sociais a "im de estabelecer direitos e
deveres legalmente reconhecidos, inclusive de competição eleitoral. @sso ocorria em
paralelo 8 tradicional troca de "avores, pr4tica herdada de uma sociabilidade
caracter7sticas pr-capitalistas, sem contar a viol5ncia institucionali'ada em 3rgãos
como as )ol7cias 9ilitares B...C. p. >0
8/19/2019 A Ditadura Que Mudou o Brasil
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- ;elaciona-se com a viol5ncia dos policiais militares em )icos, durante a dcada
de $%LD.
A modernização autoritário-conservadora nas universidades e a influência da
cultura política
Rodrigo atto !á Motta
Nessa direção, o conceito de moderni'ação conservadora pode servir como s7ntese dos
paradoxos e contradiç!es do regime militar. O grande paradoxo da ditadura era
expressar, simultaneamente, impulsos conservadores e moderni'aç!es que, por ve'es,
geraram aç!es contradit3rias. O desejo moderni'ador implicava desenvolvimento
econEmico e tecnol3gico e, portanto, aumento dos contatos com o exterior e da
mobilidade das pessoas, alm da expansão industrial e mecani'ação agr7cola. 6om isso,
levava-se ao aumento da urbani'ação e do operariado "abril, gerando potenciais tens!es
e instabilidade nas relaç!es sociais e de trabalho. 4 o impulso conservador estavaligado 8 vontade de preservar a ordem social e os valores tradicionais, o que insu"lava o
combate 8s utopias revolucion4rias e outras "ormas de subversão e HdesvioI, a7
inclu7dos questionamentos 8 moral e aos comportamentos convencionais. p. &$0
- ;elaciona-se com o t3pico do projeto, que "ala sobre os paradoxos da
modernidade em )icos.
O resultado das pol7ticas moderni'adoras colocava em xeque as utopias conservadoras,
pois solapava as bases da sociedade tradicional ao promover a mobilidade social e
urbana em ritmo acelerado( o sucesso econEmico da ditadura abalava a ordem socialde"inida por alguns de seus apoiadores. )or outro lado, se levado 8s Jltimas
consequ5ncias, o programa conservador oporia obst4culos 8 moderni'ação, pois o
expurgo de todos os HsuspeitosI e Hindesej4veisI, grupo-bem representado na elite
universit4ria e intelectual do pa7s, signi"icaria a perda de quadros "undamentais para o
projeto moderni'ante. )or isso, em certos momentos, as demandas conservadoras "oram
contornadas, enquanto o autoritarismo sempre esteve presente nas pol7ticas do regime
militar. 1lm de Jtil para reprimir os inimigos ide3logos do regime, o aparato
autorit4rio tornou-se instrumental, tambm, para a implantação da pauta moderni'adora.
p. &$0
- O governo precisava dos universit4rios, por isso que em alguns momentos os
conservadores que eram contra os estudantes, mas, para o )rojeto ;ondon, os estudantes
eram necess4rios. ;elacionar com )icos.
)aradoxalmente, o poder autorit4rio constru7do para expurgar as esquerdas e manter a
ordem social "oi usado tambm para alavancar os projetos moderni'adores, removendo
obst4culos e impondo os caminhos escolhidos pelos tecnocratas. 2a7 haver motivos para
oscilar na escolha da melhor adjetivação para o regime militar brasileiro( moderni'ação
conservadora ou autorit4riaM 1 resposta que ele "oi simultaneamente autorit4rio e
8/19/2019 A Ditadura Que Mudou o Brasil
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conservador, e a melhor maneira de mostrar os impasses entre os dois impulsos
analisar as situaç!es em que eles se "i'eram presentes. p. &0
- 1 ditadura "oi, ao mesmo tempo, autorit4ria e conservadora.
B...C )or exemplo, enquanto certos l7deres batalhavam pelo sucesso da re"ormauniversit4ria, criando melhores condiç!es de trabalho para os pro"essores, os
comandantes da m4quina repressiva intensi"icavam os expurgos, lançando insegurança e
desKnimo nos meios acad5micos. p. &0
- 1o passo em que se lutava pela re"orma universit4ria, melhorando as condiç!es
de trabalho dos pro"essores, os comandantes da m4quina repressiva, intensi"icavam a
insegurança e o medo.