A Doutrina Do Coracao ANNIE BESANT

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    A DOUTRINA DO CORAO

    *ANNIE BESANT

    "Aprende a discernir o verdadeiro do falso, o efmero do perene. Aprende,acima de tudo, a separar o conhecimento da Cabea da sabedoria da Alma,

    a Doutrina do 'Olho' da do 'Corao' ".

    A Voz do Silncio

    Extratos de Cartas Hindus com um Prefcio

    The Theosophical Publishing HouseAdyar, Madras

    PREFCIO

    Sob o ttulo de A DOUTRINA DO CORAO publicamos aqui uma srie de

    documentos, consistindo principalmente de extratos de cartas recebidas de

    amigos indianos. Elas no so apresentadas como sendo de alguma

    "autoridade", mas meramente por conterem pensamentos que alguns de

    ns consideraram teis e que desejamos compartilhar com outros. Elas sodirigidas apenas para aqueles que esto procurando resolutamente viver a

    Vida Superior, e so endereadas especialmente queles que sabem que

    esta vida conduz a uma entrada definitiva na Senda do Discipulado sob a

    orientao daqueles Grandes Seres que a trilharam no passado, e que

    permanecem na Terra para ajudar os outros a trilh-la por sua vez. Os

    pensamentos destas cartas so pensamentos que pertencem a todas as

    religies, mas a forma e sentimento so indianos. A devoo daquele tipo

    nobre e intenso conhecido no Oriente como Bhakti - a devoo que entrega

    a pessoa inteira e incondicionalmente a Deus e ao Homem Divino atravs

    de quem Deus se manifesta na carne ao devoto. Esta Bhakti no encontrou

    em parte alguma expresso mais perfeita do que no Hindusmo, e os

    autores destas cartas so hindus, acostumados com a riqueza luxuriante do

    snscrito, e colocam o ingls [idioma original do livro - NT], mais spero, em

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    alguma dbil harmonia com a suavidade potica de sua lngua materna. A

    fria e reservada dignidade do anglo-saxo e sua reticncia emocional so

    completamente estranhas efuso de sentimento religioso que emana do

    corao oriental to naturalmente como o canto da cotovia. Aqui e ali, no

    Ocidente, encontramos um verdadeiro Bhakta (devoto), como So Toms

    Kempis, Santa Teresa, So Joo da Cruz, So Francisco de Assis, Santa

    Elizabeth da Hungria. Mas em sua maioria, o sentimento religioso no

    Ocidente, por mais profundo e verdadeiro que seja, tende ao silncio e

    busca ocultar-se. Para aqueles que evitam a expresso do sentimento

    religioso estas cartas no tero valor, e no so dirigidas a eles.

    Passemos agora a considerar um dos mais marcados contrastes da Vida

    Superior. Todos ns reconhecemos o fato de que o Ocultismo nos faz

    exigncias de carter que requerem certo isolamento e uma rgida

    autodisciplina. Tanto da parte de nossa muito amada e venerada Instrutora,

    Helena Blavatsky, como da parte das tradies da Vida Oculta, aprendemos

    que a renncia e o frreo autocontrole so requisitos para aquele que h de

    passar pelos portes do Templo. O Bhagavad-Git constantemente reitera o

    ensinamento da indiferena dor e ao prazer, do perfeito equilbrio sob

    todas as circunstncias, sem o que nenhum Yoga verdadeiro possvel.

    Esta faceta da Vida Oculta reconhecida em teoria por todos, e alguns

    esto obedientemente lutando para se modelarem sua semelhana. A

    outra faceta da Vida Oculta abordada na Voz do Silncio [de Helena

    Blavatsky - NT], e consiste naquela simpatia para com tudo o que sente,

    naquela rpida resposta a todas as necessidades humanas, a perfeita

    expresso daquilo que deu o nome de "Mestres da Compaixo" para

    Aqueles a quem servimos. para isto, em seu aspecto prtico e cotidiano,

    que estas cartas dirigem nossos pensamentos, e isto o que mais

    negligenciamos em nossas vidas, por mais que sua beleza, em suaperfeio, possa tocar nossos coraes.

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    O verdadeiro Ocultista, ao mesmo que tempo que para si mesmo o mais

    severo dos juizes, o mais rgido dos feitores, para todos ao seu redor o

    mais compreensivo dos amigos, o mais gentil dos auxiliares. Conseguir esta

    gentileza e poder de simpatia deveria, assim, ser o desejo de cada um de

    ns, e isso s pode ser obtido pela incansvel prtica desta gentileza e

    simpatia para com tudo, sem exceo, que nos rodeia. Cada futuro Ocultista

    deveria ser a pessoa, em sua prpria casa e crculo, para quem todos mais

    prontamente acorrem quando na tristeza, na ansiedade, no pecado - certos

    que esto da sua simpatia, e de sua ajuda. A pessoa mais desinteressante,

    a mais bruta, a mais estpida, a mais repelente, deveriam ver nele pelo

    menos um amigo. Todo anseio em busca de uma vida melhor, cada desejo

    nascente em direo ao servio altrusta, toda vontade recm-formada de

    viver mais nobremente, deveria encontrar nele algum pronto a encorajar e

    fortalecer, de modo que todo germe de bem possa comear a crescer sob a

    calorosa e estimulante presena de sua natureza amorosa.

    Atingir tal poder de servio uma questo de autotreinamento na vida

    diria. Primeiro precisamos reconhecer que o EU em todos um s, de

    modo que em cada pessoa com quem entramos em contato devemos

    ignorar tudo o que desagradvel na casca exterior, e reconhecer o EU

    entronizado no corao. A prxima coisa a notar - em sentimento, no s

    em teoria - que o EU est tentando se expressar atravs dos invlucros

    que o obstruem, e que a natureza interna toda adorvel, e distorcida

    para ns pelos envoltrios que a contm. Ento deveramos nos identificar

    com aquele EU, que na verdade ns mesmos em sua essncia, e

    cooperar com ele em sua luta contra os elementos inferiores que sufocam

    sua expresso. E uma vez que temos de agir para com nosso irmo atravs

    de nossa prpria natureza inferior, o nico caminho de ajudar eficazmente

    ver as coisas como aquele irmo as v, com suas limitaes, seuspreconceitos, sua viso distorcida; e vendo-as assim, e sendo afetados por

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    elas em nossa natureza inferior, ajud-lo do seu modo e no do nosso, pois

    s assim se pode prestar um auxlio real. Aqui entra o treinamento Oculto.

    Ns aprendemos a nos retirar de nossa natureza inferior, a sentir seus

    sentimentos sem sermos afetados por eles, e deste modo, ao mesmo tempo

    que experimentamos emocionalmente, julgamos com o intelecto.

    Devemos usar este mtodo quando ajudarmos nosso irmo, e ao mesmo

    tempo que sentimos como ele sente, como uma corda afinada ecoa a nota

    de sua vizinha, devemos usar nosso "eu" desapegado para julgar, para

    aconselhar, para estimular, mas sempre usando-o de modo que nosso

    irmo esteja consciente de que a sua prpria natureza superior que est

    expressando a si mesma atravs de nossos lbios. Devemos desejar

    compartilhar o nosso melhor; a vida do Esprito no guardar, mas dar.

    Freqentemente o nosso "melhor" seria indesejvel para aquele a quem

    tentamos ajudar, assim como a poesia refinada no atraente para a

    criana pequena; ento devemos dar o melhor que ele possa assimilar,

    guardando o restante, no porque somos ciumentos, mas porque ele ainda

    no o requer.

    Exatamente assim que os Mestres da Compaixo ajudam a ns, que

    somos para Eles como crianas, e de modo semelhante devemos procurar

    ajudar aqueles que so mais jovens do que ns na vida do Esprito. Nem

    esqueamos que a pessoa que sucede estar conosco em qualquer

    momento a pessoa que o Mestre nos deu para servirmos naquele

    momento. Se por descuido, por impacincia, por indiferena, falhamos em

    ajud-la, teremos falhado na nossa obra de nosso Mestre. Amide nos

    desviamos de nosso dever imediato nos absorvendo em outro trabalho,

    falhando em entender que a ajuda da alma humana enviada a ns o

    nosso trabalho para aquele momento; e precisamos nos lembrar deste

    perigo, o mais sutil porque o dever usado para mascarar o dever, e umafalha de percepo uma falha na realizao. No devemos nos atar a

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    nenhum trabalho especfico; de fato sempre trabalhando, mas com a alma

    livre e "atenta", pronta para captar o mais leve sussurro d'Ele, que pode

    precisar de ns o servio para com algum desvalido que Ele, atravs de

    ns, quer ajudar. A severidade para com o eu inferior, mencionada acima,

    um requisito para este servio de ajuda, pois s aquele que no se importa

    consigo mesmo, que para si mesmo indiferente dor ou ao prazer,

    suficientemente livre para conceder perfeita simpatia para com os outros.

    No precisando de nada, ele pode dar tudo. Sem nenhum amor por si

    mesmo, ele se torna o amor encarnado para os outros. No Ocultismo, o livro

    da vida aquele para o qual voltamos nossa ateno principal. Estudamos

    outros livros meramente a fim de que possamos viver. Pois o estudo,

    mesmo de obras Ocultas, um meio para a espiritualidade somente se

    estamos tentando viver a Vida Oculta; a vida e no o conhecimento, o

    corao purificado e no o corao saciado, o que nos conduz aos ps do

    Mestre. A palavra "devoo" a chave para todo o verdadeiro progresso na

    vida espiritual. Se, trabalhando, procuramos o crescimento do movimento

    espiritual e no o sucesso gratificante, o servio dos Mestres e no nossa

    prpria satisfao, no podemos nos desencorajar por falhas temporrias,

    nem pelas nuvens sombrias e mortalidade que possamos experimentar em

    nossa prpria vida interior. Servir por amor ao servio, e no pelo prazer

    que temos no servir, assinala um ntido passo frente, pois ento

    comeamos a adquirir aquele equilbrio que nos capacita servir to

    contentes no fracasso como no sucesso, tanto na treva interna como na luz

    interna. Quando conseguimos dominar a personalidade a ponto de

    sentirmos verdadeiro prazer no desempenho do trabalho para o Mestre

    mesmo quando isso doloroso para a natureza inferior, o prximo passo

    fazermos isso to amorosa e plenamente mesmo quando este prazer

    desaparece e toda a alegria e luz so obscurecidas. De outra forma, noservio dos Grandes Seres, podemos estar servindo a ns mesmos -

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    servindo pelo que ganhamos d'Eles, em vez de faz-lo puramente por causa

    do amor. At onde durar esta sutil forma de autogratificao estamos

    correndo o risco de nos desviarmos do servio, se as trevas perduram ao

    nosso redor, e se sentimos em nosso ntimo a morte e a desesperana.

    nesta noite do esprito que o servio mais nobre prestado, e as ltimas

    amarras do eu inferior so rompidas. Enfatizamos a devoo deste modo

    porque vemos em toda parte que aspirantes esto correndo risco, e que o

    progresso da obra do Mestre atrapalhado, pela predominncia do eu

    pessoal. Aqui est nosso inimigo, aqui o nosso campo de peleja. Uma vez

    tendo percebido isso, o aspirante deveria dar boas-vindas a tudo o que em

    sua vida diria arranca uma lasca de sua personalidade, e deveria ser grato

    a todas as "pessoas desagradveis" que pisam em seus dedos e ofendem

    sua sensibilidade e desmerecem o seu amor-prprio. Elas so os seus

    melhores amigos, seus mais valiosos auxiliares, e jamais deveriam ser

    consideradas seno com gratido pelo servio que prestam atacando nosso

    mais perigoso inimigo. Encarando assim a vida cotidiana, ela se torna uma

    escola de Ocultismo, e comeamos a aprender aquele perfeito equilbrio

    que necessrio nos caminhos mais altos do discipulado, antes que um

    conhecimento maior, e portanto um maior poder, possa ser colocado em

    nossas mos. Onde no h um calmo autodomnio, uma indiferena para

    com assuntos pessoais, uma devoo serena ao servio dos outros, no h

    verdadeiro Ocultismo, nem verdadeiramente vida espiritual. O psiquismo

    inferior no requer nenhuma destas qualidades, e portanto avidamente

    procurado pelos pseudo-Ocultistas; mas a Loja Branca as requer de seus

    postulantes, e fazem de sua aquisio a pr-condio para a entrada no

    Ptio dos Nefitos. Que o anelo de todo aspirante seja, portanto, treinar-se

    para que possa servir, praticar a rgida autodisciplina para que quando o

    Mestre olhar dentro de seu corao no possa encontrar mancha alguma.Ento ele o tomar pela mo e o guiar para diante.

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    Annie Besant

    NOTA DO TRADUTOR

    Como as cartas que constituem este livro tiveram um destinatrio original

    feminino, Annie Besant, obviamente sua traduo deveria refletir isso.

    Entretanto, como o assunto impessoal e nesta apresentao dirigido a

    todos, homens e mulheres, e como em portugus o masculino a forma

    natural de construir a concordncia nominal e verbal genricas, optamos por

    traduzir este material sempre na forma masculina.

    A DOUTRINA DO CORAO

    Os desastres se acumulam sobre a cabea do homem que ancora sua f na

    parafernlia externa antes do que na paz da vida interior, que no depende

    do modo de vida exterior. De fato, quanto mais desfavorveis as

    circunstncias e maior o sacrifcio envolvido por viver em meio a elas, mais

    perto a pessoa chega da meta final pela prpria natureza das provas que

    ela tem de vencer. No sbio, portanto, se deixar atrair demais por

    quaisquer manifestaes externas de vida religiosa, pois tudo o que existe

    no plano da matria efmero e ilusrio, e deve conduzir ao

    desapontamento. Quem quer que seja atrado poderosamente para

    qualquer modo de vida externo tem de aprender cedo ou tarde a relativa

    insignificncia de todas as coisas exteriores. E quanto antes a pessoa

    passar pelas experincias impostas pelo Karma passado, melhor para ela.

    Realmente no agradvel sentir que subitamente se nos retiram o prprio

    cho, mas a taa que cura a tolice sempre amarga, e deve ser tomada se

    a doena h de ser erradicada. Quando a brisa gentil que vem dos Seus

    Ps de Ltus sopra sobre a alma, ento se sabe que os piores ambientes

    externos no so poderosos o bastante para desmerecer a msica que,

    dentro, encanta.

    Assim como o europeu que atrado para ao Ocultismo se sente mais pertodos Grandes Seres quando chega ndia, o indiano sente o mesmo quando

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    sobe as escarpas de sua nevado Himavat. E mesmo assim isso pura

    iluso, pois no se chega aos Senhores da Pureza atravs de locomoo

    fsica, mas fazendo-nos mais puros e fortes atravs do constante sofrimento

    em benefcio do mundo. Quanto ignorncia do pobre mundo iludido a

    respeito de nossos venerados Senhores, lembro das palavras: "O sibilar da

    serpente faz mal maior ao sublime Himavat do que a morte ou abuso

    infligidos pelo mundo contra qualquer um de ns".

    Uma vez isto admitido, como dever s-lo por todos os que tm algum

    conhecimento de Ocultismo, que existem mirades de agentes invisveis

    constantemente tomando parte nos assuntos humanos, elementais e

    elementares de todos os graus impingindo todo tipo de iluses e farsas de

    todos os aspectos, assim como membros da Loja Negra que se deliciam em

    enganar e iludir os devotos da verdadeira sabedoria, devemos tambm

    reconhecer que a Natureza, em sua grande misericrdia e absoluta justia,

    deve ter concedido ao homem alguma faculdade para discernir entre as

    vozes destes habitantes areos e a dos Mestres. E suponho que todos

    concordaro que a razo, a intuio e a conscincia so nossas mais

    elevadas faculdades, os nicos meios pelos quais podemos separar o

    verdadeiro do falso, o bem do mal, o certo do errado. Sendo assim, seguese

    que tudo o que falhe em iluminar a razo e satisfazer os mais altos

    apelos da natureza moral jamais deveria ser considerado como uma

    comunicao dos Mestres.

    Tambm deve ser lembrado que os Mestres so Mestres da Sabedoria e

    Compaixo, que Suas palavras iluminam e expandem, e jamais confundem

    e embaraam a mente; elas acalmam, e no perturbam; elevam, e no

    degradam. Eles jamais usam mtodos que atrofiam e paralisam a razo e a

    intuio. Qual seria o resultado inevitvel se estes Senhores do Amor e da

    Luz forassem sobre os Seus discpulos comunicaes to revoltantes paraa razo como para o senso tico? A credulidade cega tomaria o lugar da f

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    inteligente, a paralisia moral o lugar do crescimento espiritual, e os Nefitos

    seriam deixados completamente desvalidos, sem nada para gui-los,

    constantemente merc de qualquer fada brincalhona, e ainda pior, de

    qualquer Dugpa [feiticeiro - NT] vicioso.

    este o destino do discipulado? Pode ser este o caminho do Amor e da

    Sabedoria? No imagino que qualquer homem razovel possa acreditar

    nisso durante um minuto sequer, embora possa ser lanado sobre ele algum

    encanto por um momento, que possa obrig-lo a engolir os piores absurdos.

    Entre as muitas dvidas lanadas na mente do discpulo para causar-lhe

    preocupao a de se a fraqueza fsica pode ser um entrave ao progresso

    espiritual. O processo de assimilao de alimento espiritual no envolve

    nenhuma drenagem de energias fsicas, e o progresso espiritual pode

    prosseguir enquanto o corpo padece. uma completa falcia, devida falta

    de conhecimento e equilbrio, supor que a tortura e macerao do corpo o

    torne responsivo a experincias espirituais. fazendo o que melhor serve

    ao propsito dos Santos Seres que se faz o progresso constante e

    verdadeiro. Quando chega o tempo adequado para que experincias

    espirituais sejam impressas na conscincia cerebral, o corpo no capaz

    de impedi-las. O pequeno obstculo que pode ser levantado pelo corpo

    pode ser afastado em um instante. uma iluso supor que qualquer esforo

    fsico possa promover o progresso espiritual um s passo que seja. O modo

    de nos aproximarmos d'Eles fazermos o que melhor cumpra Sua vontade,

    e feito isso, nada mais precisa ser feito.

    Parece-me que h uma doura peculiar em ser resignadamente paciente,

    em sacrificar com alegria a prpria vontade vontade d'Aqueles que sabem

    mais e sempre conduzem corretamente. No existe coisa tal como o querer

    pessoal na vida do Esprito. Assim o discpulo pode alegremente sacrificar

    sua prpria felicidade pessoal, quando Eles encontram ocasio de trabalharpara os outros atravs dele. Ele pode sentir s vezes que foi como que

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    esquecido quando estiver sozinho, mas ele sempre Os encontrar ao seu

    lado quando houver trabalho a ser feito. Perodos de noite devem se

    alternar com os de dia, e certamente bom que ocasionalmente

    sobrevenha a escurido quando ela afeta s a ns mesmos, mesmo que

    nossa dor pessoal deva ser com isso intensificada. Sentir Sua presena e

    influncia de fato o dom mais divinal que se pode imaginar, mas mesmo

    isso devemos ser desejosos de sacrificar, se renunciando ao que

    consideramos o mais elevado e melhor o bem final do mundo for de

    obteno mais fcil.

    Tente, e perceba a beleza do sofrimento, quando o que o sofrimento faz

    s tornar a pessoa mais apta para o trabalho. Certamente jamais devemos

    anelar a paz se na luta o mundo puder ser ajudado. Tente, e sinta que

    embora a treva parea estar em toda sua volta, ainda assim ela no real.

    Se algumas vezes Eles se ocultam em uma Maya [iluso - NT] de

    indiferena aparente, apenas para conceder Suas bnos com maior

    abundncia quando a estao for propcia. As palavras no ajudam muito

    quando a escurido opressiva, ainda que o discpulo deva tentar manter

    inabalada sua f na proximidade dos Grandes Seres, e sentir que embora a

    luz seja temporariamente retirada da conscincia mental, mesmo assim ela

    cresce dia a dia no interior sob a Sua sbia e misericordiosa dispensao.

    Quando a mente se torna novamente sensvel, ela reconhece com surpresa

    e alegria como o trabalho espiritual foi feito sem que se tivesse conscincia

    alguma dos detalhes. Ns conhecemos a Lei. No mundo espiritual noites de

    maior ou menor horror seguem o dia, e aquele que sbio, reconhecendo

    que a treva o fruto de uma lei natural, deixa de se incomodar com isso.

    Podemos descansar certos de que a escurido, por sua vez, se dissipar.

    Lembre sempre que detrs da mais espessa fumaa sempre existe a luz

    dos Ps de Ltus dos Grandes Senhores da Terra. Fique firme e jamaisperca a f n'Eles, e ento no haver nada a temer. Podem e devem haver

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    provaes, mas voc deve estar certo de que conseguir suport-las.

    Quando a sombra que caiu como uma mortalha sobre a Alma se retira,

    ento somos capazes de ver quo realmente evanescente e ilusria ela era.

    Mesmo assim esta sombra, enquanto perdura, real o bastante para levar a

    runa para muitas almas nobres que ainda no adquiriram fora suficiente

    para suport-la.

    A vida e o amor espirituais no se esgotam quando so dispendidos. A

    doao apenas acrescenta ao reservatrio e o torna mais rico e intenso.

    Tente, e seja to feliz e contente quanto puder, porque na alegria est a

    verdadeira vida espiritual, e a tristeza apenas o resultado de nossa

    ignorncia e falta de viso clara. Assim, voc deve resistir, at onde puder,

    ao sentimento de tristeza: ele anuvia a atmosfera espiritual. E embora voc

    no possa evitar inteiramente sua chegada, mesmo assim voc no deve

    ceder completamente a ele. Pois lembre-se de que no verdadeiro corao

    do universo existe a Beatitude.

    O desespero no deveria ter lugar nenhum no corao do discpulo devoto,

    pois ele enfraquece a f e a devoo, e assim abre espao para que atuem

    os Poderes das Trevas. Este sentimento um feitio lanado por eles para

    torturar o discpulo e se possvel tirar alguma vantagem para si mesmos

    com esta iluso. Aprendi com a mais amarga das experincias que a

    autoconfiana praticamente intil e mesmo decepcionante em testes desta

    natureza, e o nico modo de escapar inclume destas iluses devotar-se

    completamente a Eles. A razo para isso, tambm, bem simples. A fora,

    a fim de ser eficaz em sua oposio, deve estar no mesmo plano onde atua

    o poder a ser combatido. Mas como estes problemas e iluses no vm do

    eu, o eu impotente contra eles. Procedendo como procedem dos Seres

    Tenebrosos, eles s podem ser neutralizados pelos Irmos Brancos.

    Portanto necessrio, em nome da segurana, entregarmo-nos - entregarnossos eus separados - e sermos libertos de toda Ahamkara [iluso da

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    separatividade, ou o conceito de um eu particular - NT].

    Sabendo como ns sabemos que a Sociedade Teosfica - ou, a este

    respeito, qualquer movimento de alguma importncia - est sob a

    observao e guarda de Poderes imensamente mais sbios e superiores do

    que nossos prprios pequenos 'eus', no precisamos nos preocupar muito

    com o destino final da Sociedade, mas podemos ficar descansados e

    contentes com o cumprimento consciencioso e diligentemente de nosso

    dever para com ela, fazendo a parte que nos cabe de acordo com o melhor

    de nossa luz e habilidades. A preocupao e a solido tm, sem dvida,

    suas prprias funes na economia da Natureza. Nos homens comuns elas

    obrigam o crebro a funcionar, e os msculos a se mover, e se no fosse

    por isso o mundo no faria metade do progresso que tem feito nos planos

    fsico e intelectual. Mas em certo estgio da evoluo humana elas so

    substitudas por um senso de dever e um amor Verdade, e a clareza de

    viso e mpeto para trabalhar obtidos assim jamais podem ser conseguidos

    por qualquer quantidade de energia molecular e vigor nervoso. Portanto

    desvencilhe-se de todo desnimo, e com sua Alma voltada para Fonte de

    Luz, continue trabalhando para aquele grande objetivo para o qual voc est

    aqui, seu corao abraando toda a humanidade, mas perfeitamente

    resignado quanto ao resultado de seus esforos. Assim nossos Sbios tm

    ensinado, assim exortou Shri Krishna a Arjuna no campo de batalha, e

    assim devemos direcionar nossas energias.

    Meus prprios sentimentos a respeito do sofrimento do mundo so

    precisamente os mesmos que os seus. No h nada que me doa mais do

    que a cega e frentica maneira com que a vasta maioria de nossos irmos

    persegue os prazeres dos sentidos, e a viso completamente vazia e

    errnea que tm da vida. A viso desta ignorncia e loucura enternecem

    meu corao muito mais do que as dificuldades fsicas que eles suportam. Eembora a nobre prece de Rantideva me comovesse profundamente anos

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    que amamos pode ser usada assim. O que so espao e tempo no plano do

    Esprito? Iluses do crebro, meros nadas, que adquirem aspecto de

    realidade pela impotncia da mente, o invlucro que aprisiona o Jivatma. O

    sofrimento meramente nos d um impulso novo e mais potente de vivermos

    completamente no Esprito. No fim, da dor vir boa vontade para todos ns,

    de modo que no devemos resmungar. Antes, sabendo que para os

    discpulos no pode acontecer nada que no seja da vontade de seus

    Senhores, devemos olhar para cada incidente doloroso como um passo em

    direo ao progresso espiritual, como um meio para aquele

    desenvolvimento interno que nos capacita a servi-Los, e com isso

    Humanidade, de um modo melhor.

    Se apenas pudermos servi-Los, se atravs de todas as tormentas e

    conflagraes nossas Almas se voltarem para os seus Ps de Ltus, o que

    importam a dor e os sofrimentos que elas impem nossa casca

    temporria? Entendamos um pouco o significado interno destes sofrimentos,

    destas vicissitudes das circunstncias externas - entendamos como

    tamanha dor suportada significa muito mau Karma esgotado, muito poder de

    servio adquirido, quo boa lio aprendida - no sero estes pensamentos

    suficientes para nos sustentar atravs de qualquer quantidade destas

    misrias ilusrias? Quo doce sofrer quando se sabe e se tem f! Quo

    diferente da misria do ignorante, do ctico, e do descrente. Quase

    poderamos desejar que todo o sofrimento e misria do mundo fossem

    nossos a fim de que o restante de nossa raa pudesse ser livre e feliz. A

    crucificao de Jesus simboliza esta fase na mente do discpulo. Voc no

    pensa o mesmo? Somente esteja sempre firme na f e na devoo, e no

    se desvie do caminho sagrado do Amor e da Verdade. Esta a sua parte - o

    resto ser feito por voc pelos Senhores Misericordiosos a quem voc

    serve. Voc j sabe de tudo isso, e se eu falo sobre isso apenas parafortalec-lo em seu conhecimento; pois amide esquecemos de nossas

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    melhores lies, e em tempos de aflio o dever de um amigo mais o de

    lembrar a voc suas prprias palavras, antes do que introduzir novas

    verdades. Foi assim que Draupadi freqentemente consolou seu sbio

    esposo Yudhisthira, quando terrvel infortnio por um momento abalava sua

    usual serenidade, e assim tambm o prprio Vasishtha teve de ser

    acalmado e confortado quando assolado pela dor da morte de seus filhos.

    No verdadeiramente inexplicvel o lado Maya deste mundo? Quo belo e

    romntico de um lado, e quo terrvel e desgraado de outro! Sim, Maya o

    mistrio de todos os mistrios, e quem entendeu Maya ter encontrado sua

    prpria unidade com BRAHMAN - a Suprema Felicidade e a Luz Suprema.

    A impressionante figura de Kali em cima de Shiva prostrado uma

    ilustrao da utilidade - do uso superior - da Raiva e do dio. A figura negra

    representa a Raiva; com a espada tambm significa proezas fsicas; e toda

    a imagem significa que enquanto o homem tem raiva e dio e fora fsica,

    ele as deve usar para a supresso das outras paixes, para o massacre dos

    desejos da carne. Isso tambm representa o que realmente acontece

    quando pela primeira vez a mente se volta para a vida superior. Como ainda

    estamos carentes de sabedoria e equilbrio mental, ento matamos nossos

    desejos com nossas paixes; dirigimos nossa raiva contra nossos prprios

    vcios, e assim os suprimimos; tambm empregamos nosso orgulho contra

    as tendncias indignas do corpo e da mente, e assim subimos o primeiro

    degrau na escadaria. Shiva prostrado mostra que quando a pessoa est

    engajada em uma batalha destas, ela no presta ateno ao seu princpio

    mais elevado, Atma - antes, na verdade ela o pisoteia, e no seno

    quando ela mata o ltimo inimigo de seu Eu que ela passa a reconhecer sua

    verdadeira posio quanto ao Atma durante a luta. Assim, Kali s encontra

    Shiva aos seus ps quando ela mata o ltimo Daitya [demnio - NT], a

    personificao de Ahamkara, e ento ela fica azul em sua fria insana.Enquanto as paixes no tiverem sido todas subjugadas, devemos us-las

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    acima. Qualquer dor que um discpulo possa sofrer um penhor para um

    ganho correspondente que advm ao mundo. Ele deveria, portanto, sofrer

    calado e alegre, uma vez que ele v um pouco mais claramente do que a

    cega mortalidade pela qual sofre. No decorrer de toda a evoluo existe

    uma lei que dolorosamente evidente, mesmo aos olhos do mais raso

    principiante: que nada realmente digno de se possuir pode ser ganho sem

    um sacrifcio correspondente.

    Quem renuncia a toda noo de eu, e faz de si mesmo um instrumento para

    as Divinas Mos trabalharem atravs, no precisa ter medo nenhum das

    provas e dificuldades do mundo fsico. "Como indicares, assim trabalharei".

    Este o modo mais fcil de se ultrapassar a esfera do Karma individual,

    pois aquele que oferece todas as suas capacidades aos Ps dos Senhores

    no cria Karma para si; e ento, como promete SHRI KRISHNA: "Tomo

    sobre Mim mesmo as suas contas". O discpulo no precisa levar em

    considerao os frutos de suas aes. Assim ensinou o grande Mestre

    Cristo: "No vos preocupeis com o dia de amanh".

    No permita que impulsos guiem a conduta. O entusiasmo pertence aos

    sentimentos, e no conduta. O entusiasmo na conduta no tem lugar

    algum no verdadeiro Ocultismo, pois o Ocultista deve sempre ser

    autocontido. Uma das coisas mais difceis na vida do Ocultista manter o

    equilbrio sempre, e este poder provm da verdadeira percepo espiritual.

    O Ocultista tem de viver mais uma vida interna do que uma externa. Ele

    sente, percebe, sabe mais e mais, mas demonstra menos e menos. Mesmo

    os sacrifcios que ele tem de fazer pertencem mais ao mundo interno do que

    ao externo. Na devoo religiosa comum todos os sacrifcios e foras de

    que a natureza da pessoa capaz so usados no apego ao externo, em

    vencer iluses e tentaes no plano fsico. Mas na vida do Ocultista eles

    tm de ser usados para propsitos maiores. Deve-se considerar aspropores, e subordinar o externo. Em uma palavra, jamais ser ostensivo.

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    Assim como Hamsa [cisne mtico dos hindus, representa a Sabedoria

    sagrada - NT] tendo diante de si gua e leite misturados, toma s o leite e

    deixa a gua, do mesmo modo o Ocultista extrai e retm a vida e

    quintessncia de todas as vrias qualidades, ao passo que rejeita as cascas

    onde elas esto escondidas.

    Como as pessoas podem supor que os Mestres devessem interferir na vida

    a atos das pessoas, e duvidam de Sua existncia, ou questionam Sua

    indiferena moral, pelo fato de Eles no interferirem? O povo pela mesma

    razo questiona a existncia de qualquer Lei moral neste Universo, e

    argumenta que a existncia de iniqidades e prticas infames entre a

    humanidade vai contra a suposta existncia de uma Lei assim. Por que eles

    esquecem que os Mestres so Jivanmuktas [almas libertas, emancipadas

    da matria - NT] e trabalham com a Lei, identificam-Se com a Lei, e de fato

    so o prprio esprito da Lei? Mas no h necessidade de nos afligirmos a

    este respeito, pois o tribunal a que nos submetemos em assuntos de

    conscincia no a opinio pblica, mas nosso prprio Eu Superior. So

    batalhas como estas que purificam o corao e elevam a alma, e no as

    lutas furiosas s quais nossas paixes, ou mesmo a "justa indignao" e o

    que chamado de "nobre ultrajamento", nos impelem.

    O que so para ns problemas e dificuldades? No so to benvindos como

    os prazeres e facilidades? Pois no so eles nossos melhores treinadores e

    educadores, e nos enchem de lies salutares? No nos obrigam a nos

    movermos mais tranqilamente atravs de todas as mudanas e

    vicissitudes da sorte? E no seria um grande descrdito para ns se

    falhssemos em preservar a tranqilidade mental e equilbrio de nimo,

    coisa que devia ser sempre a marca da disposio do discpulo?

    Seguramente ele deveria permanecer sereno em meio a todas as tormentas

    e tempestades. Este um mundo louco, enfim, se a pessoa olha s parasua mera exterioridade, e mesmo assim, quo enganador em sua loucura!

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    a prpria insanidade da loucura quando o doente ignorante de sua

    condio - antes, quando acredita-se perfeitamente saudvel. Oh, se a

    harmonia e msica que reinam na Alma das coisas no nos fossem

    perceptveis, a ns, cujos olhos foram abertos para esta completa sandice

    que penetra a casca externa, quo intolervel a vida nos seria! Voc no

    acha que seria pouco agradecido mantermo-nos descontentes quando

    obedecemos aos desejos de nossos Senhores e cumprimos nosso dever?

    Voc deveria ter no apenas paz e contentamento, mas tambm alegria e

    vivacidade, quando serve Aqueles cujo servio nosso mais alto privilgio e

    cuja memria nossa mais verdadeira delcia.

    Que Eles jamais nos abandonaro to certo quanto a Morte. Mas nos

    cabe nos aproximar d'Eles com devoo verdadeira e profunda. Se nossa

    devoo for verdadeira e profunda, no h a menor chance de nos

    afastarmos de Seus santos Ps. Mas voc sabe o que significa devoo

    verdadeira e profunda. Voc sabe tanto quanto eu que nada menos do que

    a completa renncia vontade pessoal, a resoluta aniquilao do elemento

    pessoal no homem, pode constituir uma Bhakti verdadeira e genuna. s

    quando toda a natureza humana est em perfeita harmonia com a Lei

    Divina, quando no h uma s nota discorde em qualquer parte do sistema,

    quando todos os pensamentos idias, fantasias, desejos, emoes,

    voluntrios ou involuntrios, vibram em resposta e em completa

    consonncia com o "Grande Alento", que se atinge o verdadeiro ideal de

    devoo, e no antes. S nos livramos da chance de fracasso quando

    atingimos este estgio de Bhakti, pois s ele pode assegurar progresso

    perptuo e sucesso indubitvel. O discpulo no falha por falta de cuidado e

    amor de parte dos Grandes Mestres, mas a despeito disso, e por sua

    prpria perversidade e fraqueza internas. E no podemos dizer que a

    perversidade seja impossvel em uma pessoa que ainda acalenta em si aidia de separatividade - nutrida ao longo de ons de pensamento ilusrio e

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    corrupo, e ainda no completamente extirpada.

    No devemos nos iludir de nenhuma forma. Algumas verdades so de fato

    amargas, mas a atitude mais sbia conhec-las e enfrent-las. Ficarmos

    em um paraso fantasioso significa apenas excluirmos o verdadeiro Eliseu.

    verdade que se ns deliberadamente pararmos para descobrir se temos

    ou no ainda algum trao de separatividade ou personalismo em ns, ou

    qualquer desejo de nos contrapormos ao curso natural dos eventos,

    podemos falhar em encontramos algum motivo, alguma razo, para tal autoafirmao

    ou desejo. Sabendo e acreditando como ns fazemos que a idia

    de isolamento mero produto de Maya, que a ignorncia e todo desejo

    pessoal surgem apenas deste sentimento de isolamento, e que eles so a

    raiz de toda nossa misria, no podemos seno desprezar estas falsas e

    ilusrias noes quando meditarmos sobre elas. Mas se analisamos os

    verdadeiros fatos, e vigiarmos a ns mesmos o dia todo, e observamos os

    vrios comportamentos de nosso ser, variando com as diferentes

    circunstncias, chegaremos a uma concluso bem diversa, e descobriremos

    que a verdadeira realizao de nosso conhecimento e crena em nossa vida

    ainda um evento muito distante, e surge por apenas um breve momento

    aqui e ali, quando estamos inteiramente esquecidos do corpo ou do

    ambiente material, e estamos completamente arrebatados na contemplao

    do Divino - antes, quando estamos mergulhados na prpria Deidade.

    Para ns, atravs da suprema misericrdia de nossos Senhores, as coisas

    na Terra so um pouco mais claras e mais inteligveis do que para o homem

    do mundo, e este o motivo de to avidamente querermos devotar todas as

    nossas energias ao seu servio. Toda atividade - caridade, benevolncia,

    patriotismo, etc - ser, no dizer jubilosamente mofino do cnico, mera troca,

    uma mera questo de dar e receber. Mas o aspecto mais nobre que mesmo

    este ridicularizado, a probidade mercenria - considerado estritamente eaplicado a etapas mais elevadas de vida - apresenta ao olho superior, est

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    alm do alcance do zombeteiro superficial; e assim ele ri e troa da virtude,

    chamando-a de mercantil, e o mundo tolo e leviano, vido por um pouco de

    divertimento, ri com ele e o considera um sujeito esperto e animado. Se

    olharmos para a superfcie deste nosso esplndido orbe, nada alm de

    tristeza e opresso aparecer diante de nossas almas, e o desespero

    paralisar todos os esforos de melhoria de suas condies. Mas olhando

    por debaixo, vemos como todas as inconsistncias se dissolvem, e tudo

    parece belo e harmonioso, e o corao desabrocha e se enche de alegria, e

    liberalmente abre seus tesouros para o universo em torno. Desta maneira,

    no precisamos desfalecer diante de qualquer viso terrvel que surgir, nem

    precisamos lamentar a loucura e cegueira dos homens entre os quais

    nascemos.

    H leis morais fixas, assim como h leis fsicas uniformes. Estas leis morais

    podem ser violadas pelo homem, dotado como de sua individualidade e da

    liberdade que isso envolve. Cada violao se torna uma fora moral na

    direo oposta quela em que a evoluo est seguindo, e inerente ao

    plano moral. E pela lei de reao cada qual tem a tendncia de evocar a

    operao da lei correta. Mas quando estas foras opositoras se acumulam e

    adquirem uma dimenso gigantesca, a fora reacional necessariamente se

    torna violenta e resulta em revolues morais e espirituais, em guerras

    santas, em cruzadas religiosas, e coisas assim. Expanda esta teoria, e voc

    entender a necessidade do aparecimento de Avataras [encarnaes

    divinas - NT] sobre a Terra. Quo fceis se tornam as coisas quando os

    olhos da pessoa se abrem; mas quo incompreensveis elas parecem

    quando a viso espiritual est fechada, ou apenas vaga e primitiva. A

    Natureza, em sua infinita generosidade, providenciou para o homem, nos

    planos externos, smiles exatos de suas funes internas, e

    verdadeiramente aqueles que tm olhos para ver podem ver, e aqueles quetm ouvidos para ouvir podem ouvir.

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  • 8/3/2019 A Doutrina Do Coracao ANNIE BESANT

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    ilusrias e vestimentas exteriores, e que Carlyle, em seu Sartor Resartus

    mostrou um pouco desta filosofia. Por que ento nos desviarmos com malestar

    e horror mesmo diante da roupagem mais espantosa? No so as

    prprias roupagens em que a Suprema Deidade se disfara, santas para

    ns e cheias de lies sbias? Voc diz, corretamente, que todas as coisas,

    belas e feias, tm seus lugares adequados na Natureza, e constituem, por

    sua prpria diferena e variedade, a perfeio do LOGOS Supremo.

    Por que deveria ser cortada a comunicao com o mundo interno, causando

    tristeza e peso no corao? Porque o exterior ainda tem algumas lies a

    ensinar, e uma destas lies que ele tambm divino em sua essncia,

    divino em sua substncia, e divino em seus mtodos, e que portanto voc

    deveria encar-lo de modo mais gentil. Por outro lado, a tristeza e

    melancolia tm seu uso e sua filosofia. Elas so muito necessrias para a

    evoluo e desabrochar da Alma humana sob forma de alegria e vivacidade.

    Elas so, contudo, necessrias apenas no primeiro estgio de nosso

    crescimento, e so dispensveis quando o Eu floresceu e abriu seu corao

    para o Sol Divino.

    Voc sabe como trabalha a evoluo. Ns comeamos sem qualquer

    sensao. Gradualmente a desenvolvemos, e em determinado ponto de

    nossa peregrinao a temos em seu grau mais intenso. Ento vem um

    perodo em que a sensao considerada Maya, e assim comea a

    diminuir e o conhecimento predomina, at que no final toda a sensao

    suplantada pelo conhecimento, e encontramos a paz absoluta. Mas no a

    paz na nescincia, como quando estvamos no comeo de nossa vida no

    reino mineral, mas a paz na oniscincia; paz, no na completa apatia e

    como se fosse a morte, como a que vemos nas pedras, mas na vida

    absoluta e no amor absoluto. Aqui encontra repouso, porque anima tudo o

    que existe, e derrama suas bnos sobre todo o Universo. Mas osextremos se encontram, e assim em certo aspecto o incio e o fim

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    coincidem.

    Quero deixar claros dois pontos: (1) que o psquico destreinado sempre

    corre o risco de divulgar coisas na verdade ditas pelo inimigo como se

    fossem conselhos do Mestre; e (2) que o Mestre no diz nada que o

    intelecto de Sua audincia no possa compreender, e contra o que se

    revolte seu senso moral. As palavras do Mestre, por mais opostas que

    sejam aos pensamentos anteriores da pessoa, jamais falham em trazer a

    mais absoluta convico, tanto para o intelecto como para o senso moral da

    pessoa a quem foram dirigidas. Elas chegam como uma revelao,

    retificando um erro que se tornou patente; elas chegam como uma coluna

    de luz dissipando a escurido; no apelam para a credulidade ou para a f

    cega.

    Voc sabe como o inimigo tem trabalhado contra ns, e se falharmos em

    nossa devoo aos Mestres, ou no desempenho dos deveres com que Eles

    graciosamente nos incumbiram, ele nos dar problemas sem fim. Mas no

    nos importamos com estes problemas; podemos suport-los bem pacientes

    e sem um s tremor. O que realmente nos tortura e perturba a paz de nossa

    mente o risco sempre possvel de sermos afastados de nossos Senhores.

    Nada mais pode nos atormentar - nem sofrimento pessoal, nem perda fsica,

    por maiores que sejam. Pois sabemos alm de toda dvida que tudo o que

    pessoal transitrio e fugaz, e que tudo o que fsico ilusrio e falso, e

    que s o tolo e o ignorante lamentam as coisas que pertencem ao mundo

    das sombras.

    Para o discpulo pouco vale o ensinamento no plano intelectual. O

    conhecimento que se infiltra da Alma para o intelecto o nico

    conhecimento digno de possuirmos, e to certo como os dias seguem-se

    uns aos outros, o reservatrio de tal conhecimento do discpulo cresce dia a

    dia. E com o aumento de tal conhecimento vem a eliminao de tudo o queo bloqueia na Senda.

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    O sentimento de dor um ao qual toda pessoa que leva a vida do Esprito

    se torna acostumada. Ns sabemos que a dor no pode durar para sempre,

    e mesmo se o fizesse, no importaria muito. No podemos esperar ser de

    qualquer valia para Eles ou para a Humanidade sem assumirmos nossa

    plena medida de sofrimento imposta pelos inimigos. Mas a ira destes

    Monarcas das Trevas algumas vezes terrvel de enfrentar, e eles podem

    perfeitamente aterrorizar a pessoa com a Maya que por vezes criam. Mas

    um corao puro no tem nada a temer e est seguro do triunfo. O discpulo

    no deve se afligir com a dor e iluso temporrias que eles tentam criar. s

    vezes eles podem parecer lanar um flagelo constante no interior, e ento a

    pessoa tem de sentar-se sobre as prprias runas, esperando calado pelo

    tempo em que a Maya dos malignos desaparea. A pessoa deve sempre

    permitir que a onda de dvida e desassossego tombe sobre ela, agarrando

    firmemente a ncora que encontrou. O inimigo no pode lhe fazer nenhum

    mal real ou substancial enquanto ela permanecer devotada a Eles com toda

    sua Alma e com todas as suas foras. "Quem se apega a Mim ultrapassa

    facilmente o oceano da morte e do mundo, atravs de Meu auxlio".

    Nada pode acontecer ao discpulo seno o que for melhor para ele. Tendo

    uma vez a pessoa se colocado deliberadamente nas Mos dos graciosos

    Mestres, Eles providenciam que tudo acontea no momento oportuno - o

    momento em que possa ser colhida a maior vantagem, tanto para o

    discpulo como para o mundo. Portanto deveramos receber tudo o que

    acontecer em nosso caminho com um esprito contente e amvel, e "no

    nos preocuparmos com o dia de amanh"... O barco transtornado pela

    tempestade no mar revolto mais pacfico do que a vida do peregrino que

    se encaminha para o sacrrio do Esprito. Uma vida pacfica significaria

    estagnao e morte para aquele que no adquiriu o direito paz destruindo

    completamente o inimigo - a personalidade.Voc no deveria cair nas falcias em que caem os ignorantes. Todo Amor

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    que me parece que a eliminao da dor deve ser seguida de imediato pelo

    esquecimento das realidades da existncia, e com o desaparecimento da

    sombra da vida espiritual, sua luz tambm se desvaneceria. Enquanto o

    homem no se transformar em Deus, vo esperar estar em um desfrute

    ininterrupto da beatitude espiritual, e em perodos de sua ausncia s o

    sofrimento mantm perseverantes os ps do discpulo, e o salva da morte

    que certamente o arrebataria se esquecesse das verdades do mundo

    espiritual.

    O discpulo no deveria ser perturbado nem surpreendido quando as foras

    espirituais voltadas contra ele pelo outro lado encontram sua arena em um

    plano mais elevado do que o do intelecto fsico. verdade que as brasas

    que vo se apagando em alguma fenda invisvel e despercebida de sua

    prpria natureza podem ser assim atiadas at voltar a arder; mas a chama

    a que assinala a destruio final de alguma fraqueza que deve ser

    eliminada. Enquanto a mancha da personalidade no for limpa, o vcio em

    sua mltiplas formas pode encontrar abrigo em alguma cmara do corao

    que foi negligenciada, embora ele possa no encontrar expresso na vida

    mental. E o nico modo de tornar imaculado o santurio do corao deixar

    que a luz penetre nos esconderijos obscuros, e devemos testemunhar

    calmamente o trabalho de sua destruio. O discpulo jamais deve deixar

    que este processo purificatrio o assombre, quaisquer que sejam as

    monstruosidades que ele for chamado a testemunhar. Ele deve apegar-se

    firmemente aos Ps d'Aquele que mora na gloriosa pira que incinera tudo o

    que material; ento ele no tem nada a temer ou sobre o que ficar

    ansioso. Ele tem f n'Aqueles que protegem e ajudam, e pode muito bem

    deixar que os trabalhos no plano espiritual sejam vigiados e dirigidos por

    Eles. Quando o ciclo tenebroso findar, ele ver novamente como o ouro

    brilha quando a escria foi purgada.Nesta nossa esfera mundana, assim como em todos os planos de

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    existncia, a noite se alterna com o dia - existe sombra at mesmo debaixo

    da prpria lmpada. Mesmo assim, quo estranho que homens de cultura

    e erudio fantasiem que com o avano da Cincia, da Cincia

    grosseiramente materialista, toda a misria - individual, racial e nacional -

    terminaria para todo o sempre; doenas, secas, pragas, guerras,

    inundaes... ou mesmo os prprios cataclismos, seriam tudo coisa do

    passado remoto!

    O interesse que temos em todos os assuntos desta esfera ilusria pertence

    apenas s emoes e ao intelecto, e no pode tocar a Alma. Enquanto nos

    identificarmos com o corpo e a mente, as vicissitudes que assolam a

    Sociedade Teosfica, os perigos que ameaam sua vida ou solidariedade,

    devem ter uma influncia depressiva, ou antes por vezes quase

    enlouquecedora, sobre nossos espritos. Mas assim que passamos a viver

    no Esprito, a compreender a natureza ilusria de toda existncia externa, o

    carter mutante de toda organizao humana, e a imutabilidade da Vida no

    interior, devemos - reflita a conscincia cerebral ou no o conhecimento -

    sentir uma calma interna, como que uma espcie de desinteresse para com

    este mundo de sombras, e permanecer inabalados pelas revolues e

    erupes do mundo. Uma vez atingido o Ego Superior, o conhecimento de

    que as Leis e Poderes que governam o universo so infinitamente sbios

    torna-se instintivo, e inevitvel a paz em meio s angstias.

    Falando em termos muito genricos e amplos, no plano em que vivemos

    existem trs modos de encaramos a misria humana em geral. Podemos

    consider-la, por exemplo: (1) como um teste de carter; (2) como um

    dbito a ser pago; e (3) como meio de educao, no sentido mais amplo da

    palavra. De todos estes pontos de vista, suponho que a sensao de "morte

    interior" (experimentada ocasionalmente por todos os aspirantes) equiparase

    dor aguda, assim como o confinamento solitrio equivale priso comtrabalho pesado. A ilustrao, sem dvida, bastante crua, mas me parece

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    ser sugestiva, e tenho visto que invariavelmente a analogia de grande

    ajuda na compreenso das proposies abstratas e sutis; por isso

    apresentei este modo de explicar as coisas. Novamente, todas as foras

    aqui esto trabalhando para a evoluo da humanidade at sua perfeio, e

    s com o desenvolvimento harmonioso de todas as nossas faculdades

    superiores e virtudes nobres que podemos obter a perfeio. E este

    desenvolvimento harmonioso s possvel pelo exerccio adequado

    daquelas faculdades e virtudes, ao passo que este exerccio por sua vez

    requer condies especiais para cada atributo especfico. O intenso

    sofrimento positivo nem testa ou compensa ou pe em jogo as mesmas

    capacidades e mritos da humanidade quanto um penetrante e terrvel vazio

    interior. A pacincia, a perseverana passiva, a f, a devoo, so muito

    melhor desenvolvidas debaixo de uma aflio mental do que durante uma

    rdua luta ativa. A lei de ao e reao funciona bem no plano moral, e as

    virtudes evocadas por esta "obnubilao" mental so as que mais servem

    ao seu combate e superao, e certamente elas no so as mesmas com

    que enfrentamos a dor fsica, mesmo que seja excruciante. Uma palavra

    mais sobre este ponto, e passarei adiante. Este estado mental indica que o

    peregrino est no limiar entre o conhecido e o desconhecido, com uma

    tendncia ntida para com o ltimo. Isto assinala um grau definido de

    crescimento espiritual, e aponta para aquele estgio onde a Alma, em sua

    marcha progressiva, percebeu vaga mas inequivocamente o carter ilusrio

    do mundo material, e est insatisfeita e desgostosa com as coisas

    grosseiras que v e conhece, e anela por coisas mais reais, por

    conhecimento mais substancial. A explicao acima, embora muito sucinta e

    frgil, satisfar voc, espero, a respeito da utilidade do vairagya - o

    sentimento de ausncia de toda vida e realidade tanto em voc mesmo

    quanto no mundo em seu redor - na economia da Natureza, e mostrarcomo ele serve como uma pedra-de-toque para a firmeza mental e a

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    ele deve abandonar suas aspiraes mais altas. O servio ativo que todo

    discpulo tem de prestar para o mundo diferente para diferentes classes

    de estudantes, e determinado pela natureza, disposio e capacidade

    peculiares do indivduo. Voc com certeza sabe que enquanto a perfeio

    no alcanada a variedade deve ser mantida, mesmo no tipo de servio

    que o chela [discpulo - NT] deve prestar.

    simplesmente impossvel superestimar a eficcia da Verdade, em todas

    as fases e procedimentos, na ajuda da evoluo progressiva da Alma

    humana. Devemos amar a Verdade, procurar a Verdade, e viver a Verdade;

    s assim a Luz Divina, que a Verdade Sublime, pode ser vista pelo

    estudante de Ocultismo. Onde existir a menor tendncia para a falsidade

    sob qualquer forma haver uma sombra e ignorncia, e tambm seu fruto: a

    dor. E esta tendncia para a falsidade pertence sem dvida personalidade

    inferior. aqui que nossos interesses se chocam, aqui que opera

    plenamente a luta pela existncia, e portanto aqui que a covardia e a

    desonestidade e a fraude encontram algum sustento.

    Os "sinais e sintomas" da atuao deste eu inferior jamais podem

    permanecer ocultos para algum que sinceramente ame a Verdade e

    procure a Verdade e tenha a devoo pelos Grandes Seres como base de

    sua conduta. A menos que o corao seja perverso, a dvida sobre a

    correo de qualquer ato particular jamais falhar em encontrar articulao,

    e ento o verdadeiro discpulo se perguntar: "O meu Mestre ficar contente

    se eu fizer tal e tal coisa?", ou "Foi Sua vontade que eu fosse por este

    caminho?" E a resposta verdadeira logo vir, e ento ele aprender a

    emendar sua conduta e harmonizar seus desejos com a Vontade Divina, e

    portanto obter sabedoria e paz.

    A Teosofia no uma coisa que pode ser inserida e martelada nolens

    volens na cabea ou no corao de algum. Ela deve ser assimilada comfacilidade no curso natural da evoluo, e inalada como o ar que nos cerca.

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    De outra forma ela causaria indigesto, para usarmos uma expresso

    popular.

    Comeando a sentir o crescimento de sua Alma, a pessoa percebe a calma

    que nenhuns eventos externos podem abalar. Ela, novamente, a melhor

    prova de desenvolvimento espiritual, e quem a sente, por mais vaga e

    levemente que seja, no precisa se preocupar com nenhum fenmeno

    Oculto. Desde o primeiro incio de meu noviciado fui ensinado a confiar mais

    na calma interior do que em qualquer fenmeno nos planos fsico, astral ou

    espiritual. E, dadas condies favorveis e foras individuais, quanto menos

    a pessoa observar de fenmenos, mais fcil ser realizar progressos

    verdadeiros e substanciais. De modo que meu humilde conselho que voc

    devote sua ateno para a calma sempre crescente no interior, e no queira

    conhecer em detalhe o processo pelo qual se processa o crescimento. Se

    voc for paciente, puro e devotado, com o tempo saber tudo, mas lembre

    sempre que o contentamento perfeito e resignado a alma da vida

    espiritual.

    O progresso espiritual no sempre o mesmo no tocante bondade e ao

    auto-sacrifcio, embora estes na devida ocasio devam levar quele.

    verdade que no desejo de ganhar o afeto das pessoas ao redor existe

    uma cor de personalismo, a qual, se eliminada, faria da pessoa um anjo;

    mas devemos lembrar que durante muito, muito tempo ainda nossas aes

    continuaro a ser levemente tingidas de um sentimento de "eu". Deve ser

    nossa aplicao constante eliminar este sentimento at onde possvel, mas

    enquanto o "eu" mostrar-se de algum modo, muito melhor que ele exista

    como um fator menor numa conduta que gentil, afetuosa e que leve ao

    bem-estar geral, do que endurecer o corao, tornar o carter anguloso,

    manifestando-se o "eu" atravs de cores muito menos atraentes e amveis.

    Com isso nem por um momento sugiro que no se deva fazer esforos naeliminao desta plida mancha, mas o que quero dizer que a roupagem

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    suave e amvel em que se reveste a mente no deveria ser lanada no fogo

    simplesmente porque no de uma brancura imaculada. Temos de ter em

    mente que todas as nossas aes so mais ou menos o resultado de dois

    fatores: um desejo de autogratificao, e uma vontade de beneficiar o

    mundo - e nosso esforo constante deveria ser atenuar at onde possvel o

    primeiro elemento, uma vez que ele no pode ser eliminado completamente

    enquanto existir o germe da personalidade. Este germe pode ser extinto por

    processos que o discpulo aprende medida que progride, pela devoo e

    boas aes.

    Os Mestres esto sempre perto dos Seus servos que por completa autoabnegao

    se devotaram, corpo, mente e alma, ao Seu servio. E at

    mesmo uma palavra amvel para com os discpulos no passa sem

    pagamento. Em tempos de provaes severas, Eles, de acordo com uma lei

    beneficente, deixam o discpulo lutar sua prpria batalha sem Sua ajuda,

    mas quem quer que encoraje Seus servos a permanecerem firmes, recebe,

    sem dvida, sua recompensa.

    Mantendo-se sereno e sem paixes, no h dvida que medida que os

    dias passam a pessoa entra mais e mais dentro daquela influncia que a

    essncia da vida, e algum dia o discpulo ser surpreendido ao descobrir

    quo maravilhosamente ele cresceu, sem conhecer ou notar o processo de

    crescimento. Pois verdadeiramente a Alma, em seu verdadeiro desabrochar,

    "cresce como as flores, inconscientemente", mas ganhando em suavidade e

    beleza ao embeber-se da luz solar do Esprito.

    Uma lealdade combativa para com qualquer pessoa ou causa dificilmente

    recomendvel em um discpulo, e certamente no nenhum indicativo de

    progresso espiritual.

    O primeiro passo, em quase todos os casos, tem o efeito como que de

    bulirmos em um ninho de vespas. Todos os elementos detestveis de seuKarma ruim se aglomeram firmemente em seu redor, e fariam algum com

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    ps menos perseverantes sentir-se inconstante e agitado. Mas nada tem a

    temer quem cujo nico objetivo entregar, se necessrio, sua prpria vida

    pelo bem dos outros sem preocupar-se consigo. O prprio mergulho nos

    altos e baixos deste vrtice de misrias e provas d fora e confiana

    pessoa, e foram o crescimento da Alma.

    Lembre que o sofrimento que o discpulo tem de passar uma parte

    integrante de seu treinamento, e surge de seu desejo de eliminar a

    personalidade em si mesmo. E, por fim, ele ver a flor de sua Alma

    desabrochando de modo mais atraente depois da tempestade que

    enfrentou, e o amor e misericrdia do Mestre mais do que compensadoras

    por tudo o que ele sofreu e sacrificou. s um teste momentneo, porque

    no fim ele ver que no sacrificou nada e ganhou tudo.

    O amor nos planos superiores repousa apenas nos serenos cumes da

    alegria, e nada pode lanar uma sombra em sua eminncia nevada.

    A piedade e compaixo so os sentimentos prprios para serem cultivados

    a respeito de toda a humanidade que erra, e no devemos dar lugar a

    nenhuma outra emoo, como ressentimento, enfado ou indignao. Estes

    podem ferir no apenas a ns mesmos, mas tambm aqueles a quem

    porventura os dirigirmos, e quem, se nos resignssemos, veramos

    melhores e livres de todos os erros. medida que crescemos

    espiritualmente, nossos pensamentos se tornam incrivelmente mais fortes

    em poder dinmico, e ningum que no tenha verdadeiramente

    experimentado isso sabe como mesmo um pensamento passageiro de um

    Iniciado se reveste de forma objetiva.

    maravilhoso ver como os poderes dos Tenebrosos parecem dissipar como

    que com um sopro todas as riquezas espirituais que foram acumuladas com

    tanta dor e cuidado em anos de estudo e experincia incessantes.

    maravilhoso porque no final das contas tudo uma iluso, e voc descobreque assim logo que a paz volta e a luz brilha novamente sobre voc. Voc

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    descobre que no perdeu nada - que todos os seus tesouros esto ali, e

    que a tormenta e a perda no passam de uma quimera.

    Por mais sofridas para o corao que sejam as aparncias em qualquer

    momento, por mais opressivo e assustador o estado das coisas, no

    devemos por um s momento dar lugar ao desespero; pois o desespero

    enfraquece a mente e nos deixa menos capazes de servir nossos Mestres.

    Tenha como certo que os Senhores da Compaixo esto sempre cuidando

    de seus verdadeiros devotos, e jamais permitem coraes honestos e

    buscadores sinceros da luz permanecerem sob uma iluso por muito tempo;

    os Senhores Sbios suscitam lies mesmo de suas vacilaes

    temporrias, lies muito valiosas para o resto das suas vidas.

    simplesmente nossa ignorncia e cegueira que d o aspecto de

    estranheza e incompreensibilidade ao nosso trabalho. Se passarmos a ver

    as coisas sua verdadeira luz e em seus significados mais plenos e

    profundos, tudo parecer perfeitamente justo e bom, como a mais perfeita

    expresso da mais alta justia.

    Da lei da Justia e da Compaixo - a lei do Karma e do governo moral do

    Universo - segue-se que no h, em todo mbito da existncia manifesta,

    uma s gota de dor e misria a mais do que as absolutamente necessrias

    para os propsitos da mais elevada evoluo. Tambm ficar claro, antes

    que sejamos coisas do passado - pelo menos para muitos da presente raa

    - que cada ato de auto-sacrifcio, de parte das mnadas humanas em

    evoluo, fortalece as mos dos Mestres e como que leva reforos para os

    Poderes da Bondade.

    No seria de muito valor para ns se soubssemos precisamente em

    detalhe tudo o que vai nos acontecer. Pois no estamos interessados em

    resultados, e tudo com que deveramos nos preocupar nosso prprio

    dever; enquanto o caminho nos for ntido de pouca monta o que vem asuceder dos passos que dermos neste plano exterior. a vida interna que

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    a verdadeira; e se nossa f na orientao de nossos Senhores for firme, no

    devamos ter dvidas de que quaisquer que possam ser as aparncias

    nesta esfera ilusria, no interior tudo deve correr bem, e o mundo

    prosseguir em sua linha de evoluo. H conforto o bastante nesta idia,

    h bnos suficientes neste pensamento, e s isto deveria bastar para nos

    mobilizar para nossos deveres atuais e nos estimular para outras atividades

    e trabalho mais estrnuo.

    Existe uma grande diferena entre quem sabe que a vida espiritual uma

    realidade e o homem que s fala a respeito, mas no a percebe, que a

    busca e persegue, mas no inala seu alento fragrante nem sente seu toque

    especial.

    H muito mais sabedoria n'Aqueles que velam por ns do que qualquer

    noo disto que possamos ter, e se apenas pudermos fixar nossa f nisto

    no cairemos em nenhum erro, e estaremos certos de evitar muita

    preocupao desnecessria e mais do que intil. Pois no poucos de

    nossos erros podem ser atribudos a excesso de ansiedade e temor, a

    nervos sobrecarregados, e mesmo a um zelo excessivo.

    Voc agora ver como a devoo de todo o corao um fator poderoso na

    promoo do crescimento da Alma, embora ele no seja visto e percebido

    no momento, e voc no vai me censurar por ter-lhe dito para deixar de lado

    todo pensamento sobre fenmenos e conhecimento espiritual, poderes

    psquicos e experincias anormais. Pois na serena luz solar da paz cada flor

    da Alma sorri e cresce, rica em sua cor radiante e peculiar. E ento, um dia,

    o discpulo olha com espanto para a beleza e deliciosa fragrncia de cada

    flor, e rejubila, e neste jbilo ele reconhece que a beleza e radincia emana

    dos Senhores a quem ele tem servido. O processo de crescimento no o

    artigo prostitudo e detestvel conhecido pelos intrometidos no pseudo-

    Ocultismo. uma coisa misteriosa, to doce, to sutil que ningum podedescrever, mas pode conhecer apenas atravs do servio.

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    Voc experimentou algumas gotas das guas ambrosacas da Paz, e nesta

    experincia encontrou fora. Saiba agora e para sempre que na calma da

    Alma que est o verdadeiro conhecimento, e que da divina tranqilidade

    do corao emana poder. A experincia da paz e alegria celestiais

    portanto a nica vida espiritual verdadeira, e s o crescimento na paz indica

    crescimento da Alma. Os fenmenos anormais do para os sentidos fsicos

    testemunhos que podem apenas excitar a curiosidade, e no promovem o

    crescimento. Devoo e paz formam a atmosfera em que a Alma vive, e

    quanto mais se tem delas, mais vida sua Alma vai ter. Assim, fie-se apenas

    nas experincias de seu Eu Superior como provas de seu progresso, bem

    como da realidade do mundo espiritual, e no d qualquer importncia a

    fenmenos fsicos que nunca constituem, nem podem constituir, a fonte de

    fora e conforto.

    Os humildes e devotos servos dos Mestres realmente formam uma corrente

    pela qual todos os elos apontam para os Seres Compassivos. A firmeza de

    um elo em relao ao seu vizinho, portanto, implica a fora da corrente que

    sempre nos leva para Eles. Da que nunca devamos cair na falcia popular

    de considerarmos como fraqueza o amor que to completamente pertence

    ao divino. Mesmo o amor comum, se for real, profundo e altrusta, a mais

    elevada e pura manifestao do Eu Superior, e se cultivado no seio da

    pessoa consistentemente e com desejo de auto-sacrifcio, por fim a leva

    para uma percepo mais clara do mundo espiritual do que qualquer outra

    ao ou emoo humanas. O que dizer ento de um amor que tem como

    base uma aspirao coletiva de atingir o Trono de Deus, uma prece

    unificada de sofrer pela humanidade ignorante e falha, e um desejo mtuo

    de sacrificar a prpria felicidade e conforto para tornar melhor o servio para

    com Aqueles que com Suas bnos esto sempre construindo um muro

    entre as terrveis foras do mal e a Humanidade rf e indefesa?... Mas asidias do mundo so todas distorcidas pelo egosmo e vileza da natureza

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    humana. Se houver fraqueza no amor, no sei onde mais pode haver fora.

    A verdadeira fora no consiste em disputa e oposio, mas reside todopoderosa

    no amor e na paz interna. Assim, o homem que se interessa em

    viver e crescer deve amar sempre, e sofrer pelo amor.

    Quando o mundo, cego em sua ignorncia e orgulho, fez plena justia aos

    seus verdadeiros salvadores e mais devotos servos? Basta ver, e nesta

    viso tentar dissipar at onde possvel, a iluso das pessoas em torno. O

    desejo de que todos tivessem os olhos para ver e reconhecer o Poder que

    trabalha por sua regenerao deve permanecer insatisfeito, at que a atual

    treva, que cai como uma mortalha sobre a viso espiritual, obscurecendo-a,

    tenha sido completamente dissipada.

    PAZ A TODOS OS SERES