2
80 Rees, Ra y. A Ec onomia dd empre- sa pública . 1. ed. do orig. Public enterp rise ec onomics . Zahar, 1979. 250 p. Trad . da 1. ed. in gle- sa, 1976. Qu ando o setor pú bl ico passa a ser responsável por um terço das im- portações, dois terços da poupan- ça financeira e quase igu al parcela dos investimentos da economia brasileira, a discussão sobre a at uaçã o do Estado como empresá- ri o o pode mais permanecer limi- ta da aos as pectos políticos e ideo- lógicos da questão. A possibilidade e a necessi dade do controle das empr esas estatai s - em um momento em que o pró- prio Governo parece incap az de íazê-lo - é uma questão pol ít ica , para cujo encaminhamento a so- c ie dade bras ileira deverá ser capaz de entender e manif es tar -s e so bre aspectos técnic os do problema. Nesse sentido, não deve se r neg li - gencia da a contribuição que a teo- ria econômica pode dar ao deba te ao introduzir parâmetros objetivos na análise do desempenho das em- p re sas públicas. No cont ex to apontado, avulta o int eresse desta obra do :)rof. Ray Rees na qual - sem abandonar o prisma privilegia do pe la li teratura de fo ca liz ar a empresa pública co- mo expressão sociológica e políti- ca da ação estat al - o auto r dedica- se a estender a an ál is e ao enfoque econômico, abordando aspectos teóricos da determinação de preços neste tipo de empre sa. além de questões como lucrativi- Rev . Adm. Emp., dade, t ri butação e distribuiçã o de re nda. Os objetivos que se es pera se- jam alcançados pe la em presa pú - bli ca , o co nf li to ent re eles e as su- ges tões de como a an álise econô- mica pode contribuir pa ra o con- tro le da s empresas estat ai s consti- t ue m a preocupação dos primeiros ca tulos. A opç ão do autor de enfati zar o caráter normativo da empresa pú- blica, em uma visão européia que se contrapõe ao enfoque "positi- vo" norte-americano - no qual a corp oração estatal é vista como produtora de servicos de utilidade púb li ca, com metas próprias e res- trições externas - constitui obstá- culo à aproximação da an ál ise em- pr ee ndida à realidade concreta brasileira, onde as empresas públi · c as atuam com autonomia que as aproxima do modelo americano. Outra premissa releva nte no tra- balho de Rees é a do papel que a descentralização re presenta no processo de controle da s empresas públi ca s. O autor indica que a atuação do economista deve es tar volt ada para a procu ra de procedi- mentos descentrali zados, para a b usca de objetivos conflitantes com um mínimo custo de controle . Na verdade, ao colocar no centro da discussão a descent ral ização de controle, de modo tão am plo que permit is se às empresas pú blicas a determ in açã o de seus próp ri os preços, de acordo com reg ra s ge- ra is, Re es remete a q ue stão à dis- cus o de pol ít ica s públicas. O livro aborda a empr esa esta tal como instrumento da política go - vernamental e discute como o con- tro le pode garantir que os tomado- res de decisão aja m em consonân- cia com uma esca la de preferê n- cias definida a nív el soci f"l l r que atenda ao " interesse nacion al" . Quanto a este, Ree s destaca qu a- tro de seus predicados :1gados à emp resa púb li ca : a efi ci ência eco- nôm ica de sua operação, vista sob os aspectos admin tecno- lógi co e alocntivo; a lucratividade co mo elemento que propicia a i n- dependênc ia fi nanceira da inde- pendência estatal em re l ão ao Tesouro Nacion al ; a função dessas Rio de Janeiro, 20(4): 80-86, empresas na distribuição de ren da e os efeitos macroeconômic os dess a modali da de de aç ão es t at al, particularmente em relação a pre· ços, salários e balanço de ppga- mentos. Ao enfa ti zar o problema de con- trole, o autor fi xa-se na es trutura político-institucional da Inglaterr a e - nes se aspecto - as coloca- çõ es carecem de ad aptações para transposição à no ssa re ali da de, revestindo-se, porém, de v al or ilustrativo das proposições. A segun da parte da obra de se n- volve temas rel acionados à econo- mia da emp res a pública. Ness e sentido, o livro abarca a problemá- tica da determinação de preços e in vestimentos em dif erentes situa- ções alternativas denominad as "segundas melhores" (second best) economias. 1 Atnda :10 campo teórico, Rees apr es enta modelos que incorpo- ra m a tributa çã o e objetivos de dis- trib ui ção de renda à fo rmulação de polític as de determinação de pre- ços na empresa públi ca. Fi nalmen- te, tais políticas e questões re lati- vas à capacidade produtiva são analisadas em condições de incer- teza. Uma oport una introdução teóri- é representada pela ap res enta- ção de al gumas das idéias básicas da economia do bem-estar, parti- cularmente daquelas que geram conseqüências relevantes para as polític as das empresa s púb li cas. Complementam esta e xposi ção propo siçõ es de cl as sificação de uma esca la de situações alte rn ati- vas abertas à ec onomi a ("pri meira mel hor" e segund a melhor" si t ua - ções ). A an álise - partindo de algu- mas colocações gerais da econo- m ia do bem-estar ex plicitadas ao nív el da economi a co mo um todo . ou sej a, ao nível de equil íbrio geral - é estendida para condic ões de equilíbrio parcial. A abor da gem é voltada, nesse contex to, para al- guns problemas res ultantes da ten- tativa de aplicar p ri ncípios de custo margin al às pol ític as de pr eços das e mpr esas públicas. ou i. I dez. 1980

A Economia da empresa - SciELO · 2013. 6. 28. · Rees na qual - sem abandonar o prisma privilegiado pela li teratura de focalizar a empresa pública co mo expressão sociológica

  • Upload
    others

  • View
    1

  • Download
    0

Embed Size (px)

Citation preview

Page 1: A Economia da empresa - SciELO · 2013. 6. 28. · Rees na qual - sem abandonar o prisma privilegiado pela li teratura de focalizar a empresa pública co mo expressão sociológica

80

Rees, Ray. A Economia dd empre­sa pública . 1. ed. do orig . Public enterpr ise economics . Zaha r, 1979. 250 p. Trad . da 1. ed. ingle­sa, 1976.

Quando o setor públ ico passa a ser responsável por um terço das im­portações, dois terços da poupan­ça financeira e quase igual parcela dos investimentos da economia brasileira, a discussão sobre a atuação do Estado como empresá­rio não pode mais perm anecer limi­tada aos aspectos políticos e ideo­lógicos da questão.

A possibilidade e a necessidade do co ntrole das empresas estatais - em um momento em que o pró­prio Governo parece incapaz de íazê-lo - é uma questão pol ít ica , para cujo encaminhamento a so­ciedade brasileira deverá ser capaz de entender e manifestar -se sobre aspectos técn icos do problema . Nesse sentido, não deve ser negli ­genciada a co ntribuição que a teo­ria econômica pode dar ao deba te ao introduzir parâmetros objetivos na análise do desempenho das em­presas públicas .

No contexto apontado , avu lta o interesse desta obra do :)rof. Ray Rees na qual - sem abandonar o prisma privilegiado pela li teratura de fo ca lizar a em presa pública co­mo expressão socio lógica e políti­ca da ação estatal - o autor dedica-se a estender a anál ise ao enfoque econômico, abordan do aspectos teóricos da determi nação de preços neste tipo de empresa. além de questões como lucrat ivi-

Rev . Adm. Emp.,

dade, tri butação e distribuição de renda.

Os objetivos que se espera se­jam alcançados pela empresa pú ­blica , o confli to ent re eles e as su­gestões de como a an álise econô ­mica pode con tribui r para o co n­trole das empresas estatai s consti ­tuem a preocupação dos primeiros ca pítulos.

A opção do autor de enfati zar o caráter normativo da empresa pú­bl ica, em uma visão européia que se contrapõe ao enfoque "positi­vo" norte-americano - no qual a corporação estatal é vista como produtora de servicos de utilidade pública, com metas próprias e res­tr ições externas - constitui obstá­culo à aproxi mação da análise em­preendida à realidade concreta brasileira, onde as empresas públi · cas atuam com autonomia que as aproxima do modelo americano.

Outra premissa releva nte no tra­balho de Rees é a do papel que a descentralização representa no processo de controle das empresas públicas. O autor indica que a atuação do economista deve es tar voltada para a procura de proced i­mentos descentralizados, para a busca de objetivos co nflitantes com um mínimo custo de controle . Na verdade, ao colocar no centro da discussão a descentral ização de controle, de modo tão amplo que permit isse às empresas pú blicas a determinação de seus própri os preços, de acordo com reg ras ge­ra is, Rees remete a questão à dis­cussão de pol ít ica s públicas.

O livro aborda a empresa estatal como instru mento da pol ítica go­vernamenta l e discute como o con­tro le pode garantir que os tomado­res de decisão ajam em consonân­cia com uma esca la de preferên­cias definida a nível soci f"l l r que atenda ao " in teresse nacional" . Quanto a este, Rees destaca qua­tro de seus predicados :1gados à empresa pública : a efi ciência eco­nôm ica de sua operação, vista sob os aspectos admin i s tra·~ ; vo, tecno­lógico e alocnt ivo; a lucratividade como elemento que propicia a in­depen dência fi nanceira da inde­pendência estatal em relação ao Tesouro Nacional ; a função dessas

Rio de Janeiro, 20(4): 80-86,

em presas na distribuição de renda e os efei tos macroecon ômicos dessa modalidade de ação estatal, part icularmente em relação a pre· ços, salários e balanço de ppga­mentos.

Ao enfa ti zar o problema de con ­trole, o autor fi xa-se na estru tura político-institucional da Inglaterra e - nesse aspecto - as co loca­ções carecem de adaptações para transposição à nossa realidade, revestindo-se, porém , de valor ilustrativo das proposições.

A segunda parte da obra desen­vo lve temas relacionados à econo­mia da empresa pública. Nesse sentido, o livro abarca a problemá­tica da determinação de preços e invest imentos em diferentes situa­ções alternat ivas denominadas "segundas melhores" (second best) economias. 1

Atnda :10 campo teórico, Rees apresenta modelos que incorpo­ra m a trib utação e objetivos de dis­tribuição de renda à fo rmulação de polí ticas de determinação de pre­ços na empresa pública . Fi nalmen­te, tais polí ticas e questões re lati­vas à capacidade produtiva são analisadas em co ndições de incer­teza.

Uma oportuna introdução teóri­~a é representada pela apresenta­ção de algumas das idéias básicas da economia do bem-estar, part i­cularmente daquelas que geram conseqüências releva ntes para as políticas das empresas públicas. Com plem entam esta exposi ção proposições de cl assifi cação de uma esca la de situ ações alternati­vas abertas à economia ("primeira melhor " e segunda melhor" si t ua ­ções).

A análise - partindo de algu­mas colocações gerais da econo­m ia do bem-estar explicitadas ao nível da economia como um todo . ou seja, ao nível de equil íbrio geral - é estendida para condicões de equilíbrio parcial . A abordagem é vo ltada, nesse con texto, para al­guns problemas resultantes da ten­tativa de aplicar princípios de custo marginal às pol íticas de pr eços das empresas públicas.

ou i. I dez. 1980

Page 2: A Economia da empresa - SciELO · 2013. 6. 28. · Rees na qual - sem abandonar o prisma privilegiado pela li teratura de focalizar a empresa pública co mo expressão sociológica

Objeções advindas da teor1a do segundo melhor - decorrentes da não-correspondência entre a pn meira melhor economia e o mundo rea l - são discutidas no capítulo em que Rees prossegue na análise das críticas ao emprego do custo marginal na determinação de pre­ços .

A teor1a desenvolvida até este porto da obra é voltada para a efi ­ciência alocativa e pressupõe que o formulador de polít1cas seja indi­ferente em relação à distribuição de renda - ou seja , capaz de obter qualquer distribuição desejada pela transferência de montantes fixos, sem modificar as condições margi­nais - ass:'Tl como em relação ao lucro, pela possibilidade de finan­ciar quaisquer déf icits, via impos­tos, ou repassar quaisquer superá­vits. Outra suposição implícita é a da eficiência tecnológica, conside­rada sempre presente na produção da empresa pública. Na verdade, a impossibilidade prática de se ga­ran::r a realização de tais pressu­postos leva o autor a completar a tentativa de formular políticas des­centralizadas de preços e investi­mentos pela introdução de objeti­vos de lucrat ividade, distribuição de renda e eficiência tecnológica . Rees analisa como definir políticas que atendam a essas preocupa­ções com uma perda mínima de eficiência econômica e discute co­mo opoíacionalizar tais políticas em combinações com as segundas melhores regras obtidas no desen­volvimento dos tópicos preceden­tes. ·

A obra dedica -se, ainda, a abor­dar a teoria do custo de capital da empresa pública ·- fundamental para a avaliação de investimentos - ·· e a estudar a deterlf'inação de preços e investimento em condi­ções de incerteza, tanto de deMan­da, quanto de custo dos bens pro­duzidos, concluindo por apresen­tar um modelo que trata simulta­neamente de política de preços e · da política de investimentos.

Em que pese ser uma obr~ desti­nada a economistas e estudantes de economia - um bom entendi­mento da teoria econômica é o principal pré-requisito apontado pelo autor para a compreensão do

livro - A Economia da empresa pública const itui, part icularmente pelo seu caráter teór ico, uma opor­tuna contribuição ao debate que se trava sobre os reflexos em nossa economia da atuação das empre­sas públicas.

Henrique Fingermann

(Trabalho elaborado sob a orienta­ção acadêmica do Prof. Eurico Korff.l

1 A expressão "segunda melhor" - defini­da em contraposição a "pnme1ra melhor economia" - aplica -se a uma snuação em que pelo menos uma das suposições que definem esta última é violada .

Lopes, Joao do Carmo & Rossetti , José Paschoal . Moeda e bancos . São Paulo, Atlas, 1980. 326 p.

Este livro tem um objetivo bastante específico : pretende preencher a falha na literatura econômica brasi­leira · no tocante a livros-textos in­trodutórios sobre economia mone­tária. Ele consta dos capítulos que se seguem:

No capítulo 1 os autores discu­tem as funções da moeda nas eco­nomias modernas, bem como dis­correm sobre sua evolução históri­ca, desde a forma de mercadoria até a bancária.

No capítulo 2 são apresentadas as diversas teorias da demanda de moeda, numa ordem, dentro do possível, cronológica. São expos­tas a versão clássica, keynesiana (com destaque para a contribuição de Tobinl, o modelo de Baumol e a abordagem neo-quantitativista, ao mesmo tempo em que são aponta­das as diferenças entre tais teorias. Concluem o capítulo mostrando as dificuldades inerentes à determina­ção empírica da função de deman­da monetária .

O capítulo 3 aborda a oferta mo­netária. Supõem os autores seres­ta uma variável exógena e, como tal, sob controle das autoridades monetárias . São feitos estudos comparativos entre a moeda e ou­tros ativos financeiros , seguindo­se a exposição detalhada de como se dá a criação de moeda pelos

Resenho bibliográfico

81