A Economia de Corrida e o Treino de Fora

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    odos os que estamos envolvidos na prtica desportiva compe-titiva ambicionamos sempre ir um pouco mais alm. No casodas corridas, pretendemos que os atletas consigam correr maisrpido um determinado percurso. Esta afirmao, que parece

    ridiculamente simples, apresenta-se-nos a todos (atletas, treinadores,investigadores e outros agentes, para alm do pblico em geral) deforma constante, manifestamente complicada de alcanar.

    At data, a evoluo da performance tem sido conseguida, fun-damentalmente, muito custa das experincias acumuladas detreinadores e atletas, da contribuio que o conhecimento cientficode diversas reas tem proporcionado, bem como de melhores recur-sos colocados disposio.

    Entre muitos aspectos determinantes de um bom resultado nascorridas de meio fundo e fundo, o consumo mximo de oxignio(VO2max) e a capacidade que os atletas tenham de metabolizar ener-gia de forma aerbia num nvel to prximo quanto possvel daque-

    le valor (limiar anaerbio), tm sido os mais considerados.No obstante a importncia dos referidos aspectos fisiolgicos,alguns investigadores tm-se dedicado ao estudo das caractersticasque diferenciam os melhores atletas mundiais, nomeadamente a dis-tino entre os melhores africanos e europeus, dado que especial-mente na ltima dcada temos vindo a apreciar um grande fosso aonvel da performance obtida por esses atletas.

    parte alguns aspectos sociolgicos referenciados, as diferenasprincipais encontradas foram, ao nvel do bitipo dos atletas (geral-mente mais longilneos e com diferente distribuio de massa mus-cular nos membros inferiores maior quantidade nos glteos emenor nos quadricpedes) e especialmente no que se refere a umaeconomia de corrida muito superior.

    A economia de corrida influenciada por diversos factores, entreeles o bitipo dos atletas. Da que atletas mais pesados sejam geral-mente menos eficientes e tambm por essa razo os africanos sogeralmente mais eficientes devido a uma vantagem biomecnica(acima referida). Outro aspecto que influencia muito a economia decorrida o nvel de fora do atleta.

    Neste sentido, no presente artigo pretendemos apresentar aosleitores da Revista Atletismo uma reviso muito breve sobre, aInfluncia da Fora na Corrida, alguns Estudos de Treino de Foraefectuados com corredores e ainda um tpico sobre a prpriaEconomia de corrida.

    Devemos referir que este trabalho surge na sequncia das investi-gaes que temos desenvolvido no tema e que pretendemos conti-nuar a desenvolver. Pelo que, lanamos o desafio aos atletas de meio

    fundo e fundo portugueses que queiram tomar parte num estudoacerca da influncia do treino de fora na economia de corrida, ofavor de nos contactarem . O estudo est a ser desenvolvido nombito do Doutoramento em Rendimento Desportivo naUniversidade Castilha la Mancha (Toledo-Espanha) e com a colabo-rao da Escola Superior de Desporto de Rio Maior.

    Desta forma, a ltima parte deste artigo apresenta a justificao epertinncia do estudo, seguidos do protocolo de treinos que pre-tendemos levar a efeito a fim de confirmar as hipteses de influnciapositiva na economia de corrida, no nvel de fora, e em ltimaanlise do rendimento.

    Para os atletas que pretendam tomar parte do estudo, apresenta-mos como vantagens imediatas a possibilidade de avaliao deparmetros de fora e cardio-respiratrios, a troca de experincias e

    aumento de conhecimentos sobre o tema. A mdio/ longo prazo, apossibilidade de efeitos positivos na performance.

    Influncia da fora na CorridaComo sabemos, a Fora uma capacidade fsica essencial no rendi-

    mento de qualquer actividade desportiva. No caso das corridas, espe-cialmente nas corridas de velocidade curta tem sido estudada edemonstrada por vrios autores a sua importncia no rendimento(Hennessy & Kilty, 2001; Vittori 1996; Locatelli e Lacour, 2004).

    Tambm nas corridas de velocidade prolongada alguns estudosdemonstraram como esta capacidade pode ser determinante(Numella et all, 1994; Costa, 1996; Miguel e Reis, 2004). Na corridade 400m, bem como nas corridas de meio-fundo curto especialmente

    nos 800m, parece que apresenta maior importncia a capacidade demanter e produzir elevados nveis de fora durante muito tempo.Como sugerem Harre e Leopold (1987), nas provas de velocidade

    prolongada e de meio-fundo curto, a Resistncia de fora a base demanuteno da fora rpida do movimento cclico, sendo portantoum aspecto determinante para o resultado competitivo. Para os referi-dos autores, o conceito de Resistncia de fora define um pressupos-to condicional da prestao determinado pela associao entre a fora(mxima ou rpida) e a resistncia. A primeira distino que efectu-am, diz respeito separao entre a Resistncia Absoluta e aResistncia Relativa da Fora. A primeira diz respeito ao valor mdioabsoluto do desenvolvimento repetido da fora realizada, enquanto asegunda pode definir-se como a capacidade do atleta se opor fadi-ga, referindo-se diferena entre o mximo rendimento possvel de

    fora (sem diminuio devida fadiga) e o valor mdio de foradesenvolvido durante o esforo.

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    A fim de perceber as condies particulares de cada disciplinadesportiva, estes autores apresentam uma estruturao da Resistnciade fora que pode ser consultada no esquema da figura 1.

    Figura 1 Esquema de Classific ao da Resistnc ia de Fora (Harre & Leopo ld, 1987)

    Tambm Siff & Verkhoshansky (2000), sugerem que a Fora-resistncia proporciona um nvel alto de capacidade de trabalho espe-cial, que sobretudo tpico dos desportos cclicos nos quais se exe-cutam aces de grande potncia. Dando claramente a entender queestamos a referirmo-nos a provas de velocidade resistente ou de meio-fundo curto, ou seja os 400m e 800m.

    Contudo esta combinao entre a fora e a resistncia parece noser tarefa fcil, especialmente quando nos referimos ao treino destasduas capacidades conjugadas, conhecido por Treino Concorrente(Docherty & Sporer, 2000; Leveritt, Abernethy, Barry, & Logan,1999; Tanaka & Swensen, 1998). Quando nos referimos ao tipo de

    treino que habitualmente realizado por corredores de fundo e meio-fundo j sabemos que maioritariamente composto por trabalho rela-cionado com a capacidade resistncia. No obstante, os benefcios dotreino de fora nestes corredores tm vindo a ser estudados e parecemno comprometer e inclusive contribuem para a melhoria do rendi-mento nas corridas de meio-fundo e fundo (Jung, 2003).

    Estudos sobre Treino da Foracom corredores de meio fundo e fundo

    Verkhoshansky (1999) num estudo com meio-fundistas daseleco nacional russa, verificou que a aplicao de um programaespecfico concebido para o desenvolvimento da capacidade de ma-nifestar fora explosiva e capacidade reactiva em condies de esgo-tamento, levou a que os atletas do grupo experimental melhorassemas referidas capacidades, o que por sua vez levou a que conseguissemtambm obter melhores resultados competitivos do que o grupo de

    controlo, no obstante o menor volume de corrida realizado emtreino. Este estudo parece sugerir que os atletas possam ter melhora-do o rendimento custa dum incremento de origem neuromuscular.

    Outros estudos tambm verificaram a melhoria da performance emcorridas de meio-fundo graas aplicao de um programa de treinopliomtrico e respectiva influncia na funo neuro-muscular comuma melhor economia de corrida (Spurrs, Murphy, & Watsford, 2003;Turner, Owings, & Schwane, 2003). Outros ainda, utilizaram progra-mas de treino de fora com cargas elevadas, tendo verificado que, semalterao do VO2mx, se conseguiu uma melhoria do rendimentograas a um incremento da economia de corrida (Johnston, Quinn,Kertzer, & Vroman, 1997; Millet, Jaouen, Borrani, & Candau, 2002).

    A economia de corridaA economia de corrida (EC) habitualmente definida pela exigncia

    energtica que uma determinada velocidade de corrida submximaapresenta (Saunders, Pyne, Telford, & Hawley, 2004). Quanto menorfor o VO2 de um atleta a determinada velocidade, mais eficiente esteser e consequentemente melhores as suas possibilidades de rendi-mento em eventos de resistncia. A determinao da EC tem sido efec-

    tuada em laboratrio e mais recen-temente tambm em testes de terreno(Lucia et al., 2006; Nummela et al.,2006; Paavolainen, Hakkinen, Hama-lainen, Nummela, & Rusko, 1999).

    Segundo Foster y Lucia (2007), ametodologia utilizada para a referida

    determinao consiste em realizarcorridas progressivas com patamaresde durao de 4 a 10 minutos (sendo

    estes suficientes para atingir um estado de equilbrio fisiolgico) ecom uma intensidade inferior ao limiar ventilatrio. A expresso daeconomia de corrida pode ser apresentada de diversas formas, sendoa mais habitual a interpolao ou extrapolao do VO2 consumido velocidade de 4,47m/s a qual corresponde a 3,44min/km (Foster &Lucia, 2007).

    J ustificao do estudo a realizar com corre-dores Portugueses

    A economia de corrida (EC) um aspecto determinante na perfor-mance em eventos de meio fundo e fundo. Embora o consumo m-ximo de oxignio (VO2max) e a capacidade de manter uma elevadapercentagem de VO2max por um longo perodo de tempo sejam tam-

    em corredores de m eio fundo e fundo

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    bm aspectos determinantes (Foster y Lcia, 2007), a EC parece serum melhor predictor da performance (Saunders et all, 2004a).

    Como vimos anteriormente, o treino de fora com corredoresdesde que bem conjugado com treino de resistncia pode favorecer amelhoria da EC e consequentemente da performance dos atletas.Estas melhorias podem ocorrer inclusive sem alterao dos parme-tros habitualmente associados ao treino de resistncia nomeadamenteo VO2mx.

    Ainda que alguns estudos se tenham debruado sobre os aspectosacima referidos (Jung, 2003; Nummela et al., 2006; Paavolainen,Hakkinen, Hamalainen, Nummela, & Rusko, 1999; Spurrs et al.,2003; Turner et al., 2003), nestes trabalhos tem-se dado particularimportncia aos efeitos do treino pliomtrico ou do treino de pesosmais clssico, pelo que julgamos pertinente conhecer outras formasalternativas de combinao do treino de fora conjugado com o tra-balho habitual que os corredores de meio-fundo e fundo realizam.Estamos a referirmo-nos nomeadamente ao treino de rampas, muitoutilizado e pouco estudado e ainda aos exerccios com cargas baixasmovidas mxima velocidade, incluindo saltos e que se chamambalsticos (Kawamori & Haff, 2004; Stone et al., 2003). A combi-nao destes exerccios com o gesto da especialidade desportiva,

    neste caso a corrida a uma velocidade mdia ou elevada, tem sidoproposta por diversos autores (Cometti, 2001; Donati, 1996; Miguel& Reis, 2004).

    Desta forma, no estudo a levar a cabo, pretendemos saber se:- O treino de fora em corredores de meio-fundo e fundo, atravs da

    realizao de Rampas durante 4 semanas, beneficia a EC?- O treino de fora em corredores de meio-fundo e fundo, atravs da

    realizao de uma sequncia de exerccios de fora associados(combinao de saltos com e sem pesos livres com corrida rpida)durante 4 semanas, beneficia a EC?

    - Qual dos tipos de trabalho acima descritos mais eficaz para a EC?- Qual o efeito dos dois tipos de treino na Fora explosiva e

    Resistncia de fora explosiva?

    Protocolo a realizar1. Treino de Fora Rampas (Grupo Experimental 1) As Rampas sero realizadas numa extenso de 120m, inclinao de 5%; 2 a 3x/ semana (ver tabela 1) 8 a 12 reps/ sesso

    TABELA 1 EVOLUO DO N DE RAMPAS AO LONGO DAS SESSES DE TREINO

    Semana sesso Rampas total (m.) corrida1 1 8x 960

    2 8x 960

    2 3 10x 1200

    4 10x 1200

    5 8x 960

    3 6 10x 1200

    7 12x 1440

    8 8x 960

    4 9 12x 1440

    10 8x 1200

    2. Treino de Fora Sequencia de Fora Velocidade (Grupoexperimental 2)Baseada nas sugestes de (Cometti, 2001; Donati, 1996;Miguel & Reis, 2004):

    Sequencia 1:=>5CMJ (saltos com contramovimento sem ajuda de braos)=>10 Step-up salto (saltos alternados com barra 20kg e

    apoio numa caixa de 25cm)=>60m (corrida rpida)=>5CMJ

    Figura 2 Step up c om salto alternado e barra

    Sequencia 2:=>7 Saltos Reactivos (con ajuda de braos e sem flexo de joelhos)=>15 Saltitares no lugar c/pernas destacadas (5+5+5; 20kg)=>150m (corrida rpida)=>7 Saltos Reactivos=>CMJ

    Figura 3 Saltitares com b arra (no lugar com e sem troca d e apoio )

    A evoluo da carga de trabalho ser progressiva conforme a tabelanmero 2:

    TABELA 2 EVOLUO DO N DE SEQUENCIAS E DE SALTOS OU CONTACTOS COM ESEM PESO AO LONGO DAS SESSES DE TREINO

    total total total (m.)Semana sesso Seq.1 Seq.2 contactos cont.Peso corrida

    1 1 2x 2x 50 50 420

    2 2x 2x 50 50 420

    2 3 2x 2x 50 50 420

    4 2x 2x 50 50 420

    5 3x 2x 60 60 480

    3 6 2x 3x 65 65 570

    7 2x 2x 50 50 420

    8 3x 2x 60 60 480

    4 9 3x 3x 75 75 630

    10 2x 2x 50 50 420

    3. Avaliao da Fora com o Ergojump- CMJ (figura 4), com 3 ensaios intercalados por uma pausa de 2minutos, sendo escolhido o melhor resultado alcanado;

    - 15 CMJ.

    Figura 4 Sequnc ia foto grfica do Teste CMJ

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    4. Avaliao do VO2max e da ECSer realizada em pista sinttica com o aparelho Cosmed K4b2. Calendarizao Prevista

    Os atletas sero avaliados no incio da poca de 2008/09, nosmeses de Outubro e Novembro da seguinte forma: 3 e/ou 4 Semana de treinos Avaliao Inicial; 5 a 9 Semanas Aplicao do Treino experimental; 10 Semana Avaliao Final

    Nota: Restantes Treinos (corrida contnua e outros) dos atletas esua conjugao com os treinos de fora a acordar com os

    treinadores.

    (*) Treinador de Atletismo; Docen te na Escola Superior de Despo rto de Rio

    Maior; Mestre em Alto Rendimento Desportivo; Doutorando em Rendim ento

    Desportivo; Corredor Popular ([email protected])