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A ECONOMIA DO ALGODÃO NO NORDESTE BRASILEIRO Eric Nilson da Costa Oliveira Resumo A partir da Revolução Industrial em meados do século XVIII, o algodão começou a ganhar importância para fabricação de produtos manufaturados, principalmente da Inglaterra na época, maior consumidora da fibra branca. Diante da crescente necessidade da matéria prima, passou a incentivar seu cultivo em diversas partes do mundo. Aproveitando-se da procura do algodão, as autoridades coloniais passaram a incentivar seu cultivo na terra de Vera Cruz, sendo o Maranhão a primeira região a implementar a cultura. A planta branca, consolidou-se no século XIX, superando o açúcar, principal economia da região. Foi a fibra branca responsável pela industrialização nordestina atingindo desde o Maranhão a Bahia. Entretanto ao final do século XIX e em meados dos anos 30 do século passado, diversos fatores levaram a estagnação do setor têxtil e sua quase extinção nas décadas de 60 e 70, levando seu desparecimento em muitas regiões nordestina. Apesar de tudo na década de 90 o setor passou por uma restruturação devido a pesados investimentos, deixando-o novamente entre os principais segmentos econômicos do Brasil. Palavra-chave: algodão; Nordeste; têxtil; economia; comércio. INTRODUÇÃO O algodão ao contrário não começou a ser utilizado no século XVIII, ele era conhecido desde a antiguidade. O historiador Grego Heródoto descreveu uma planta de características incomum, nunca vista, no qual produz um fruto que dela extrai-se uma fibra utilizada para construção de vestimentas 1 . Foram os árabes que difundiram o algodão no mundo. A planta branca, também era nativa das américas, crescia de forma selvagem, utilizada pelos nativos para diversos fins. Somente no século XVIII o algodão vai ganhar importância mundial, em parte devido a revolução industrial na Inglaterra que passara a exigir a matéria prima como principal combustível de sua indústria manufatureira. As autoridades coloniais brasileiras em meados do século XVIII passam a incentivar sua produção, mas foi no Nordeste que a cultura floresceu. O Maranhão foi a primeira região a produzir a fibra branca, apesar de uma cultura democrática, ali foi empregado em grande escala Graduado em História Licenciatura pela Universidade de Federal de Alagoas (UFAL). Mestrando em História Social pela mesma instituição, Bolsista da Fundação de Amparo a Pesquisa do Estado de Alagoas (FAPEAL). [email protected] 1 CARVALHO, Jose Carlos. O Café O Algodão. Sociedade Nacional de Agricultura, Rio de Janeiro, v.07, imprensa Nacional, 1939. p.25.

A ECONOMIA DO ALGODÃO NO NORDESTE BRASILEIRO · A Economia Algodoeira em Pernambuco: da colônia a Independência. São Paulo. 1981, p.236 . diversificação agrícola pernambucana,

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A ECONOMIA DO ALGODÃO NO NORDESTE BRASILEIRO

Eric Nilson da Costa Oliveira

Resumo

A partir da Revolução Industrial em meados do século XVIII, o algodão começou a ganhar importância

para fabricação de produtos manufaturados, principalmente da Inglaterra na época, maior consumidora

da fibra branca. Diante da crescente necessidade da matéria prima, passou a incentivar seu cultivo em

diversas partes do mundo. Aproveitando-se da procura do algodão, as autoridades coloniais passaram a

incentivar seu cultivo na terra de Vera Cruz, sendo o Maranhão a primeira região a implementar a

cultura. A planta branca, consolidou-se no século XIX, superando o açúcar, principal economia da

região. Foi a fibra branca responsável pela industrialização nordestina atingindo desde o Maranhão a

Bahia. Entretanto ao final do século XIX e em meados dos anos 30 do século passado, diversos fatores

levaram a estagnação do setor têxtil e sua quase extinção nas décadas de 60 e 70, levando seu

desparecimento em muitas regiões nordestina. Apesar de tudo na década de 90 o setor passou por uma

restruturação devido a pesados investimentos, deixando-o novamente entre os principais segmentos

econômicos do Brasil.

Palavra-chave: algodão; Nordeste; têxtil; economia; comércio.

INTRODUÇÃO

O algodão ao contrário não começou a ser utilizado no século XVIII, ele era conhecido

desde a antiguidade. O historiador Grego Heródoto descreveu uma planta de características

incomum, nunca vista, no qual produz um fruto que dela extrai-se uma fibra utilizada para

construção de vestimentas1. Foram os árabes que difundiram o algodão no mundo.

A planta branca, também era nativa das américas, crescia de forma selvagem, utilizada

pelos nativos para diversos fins. Somente no século XVIII o algodão vai ganhar importância

mundial, em parte devido a revolução industrial na Inglaterra que passara a exigir a matéria

prima como principal combustível de sua indústria manufatureira.

As autoridades coloniais brasileiras em meados do século XVIII passam a incentivar

sua produção, mas foi no Nordeste que a cultura floresceu. O Maranhão foi a primeira região a

produzir a fibra branca, apesar de uma cultura democrática, ali foi empregado em grande escala

Graduado em História Licenciatura pela Universidade de Federal de Alagoas – (UFAL). Mestrando em História

Social pela mesma instituição, Bolsista da Fundação de Amparo a Pesquisa do Estado de Alagoas (FAPEAL).

[email protected] 1CARVALHO, Jose Carlos. O Café O Algodão. Sociedade Nacional de Agricultura, Rio de Janeiro, v.07,

imprensa Nacional, 1939. p.25.

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regido por trabalho escravo. Por outro lado, Alagoas e Sergipe caracterizaram-se pela

agricultura familiar2.

O ápice do algodão nordestino ocorreu a partir da segunda metade do século XIX,

devido a concessões dada pelas autoridades imperiais para quem fazer-se instalar fabricas

têxteis no país. A Guerra de Secessão americana que prejudicou as remessas do produto para a

Inglaterra, no qual direcionou-se para o algodão brasileiro, de boa qualidade, principalmente os

das províncias de Alagoas e Pernambuco3.

As fabricas têxteis se espalharam por toda parte, a exemplo do Maranhão, Bahia,

Alagoas, Rio Grande do Norte e Sergipe. Inicialmente movidas por maquinas hidráulicas aos

poucos foram modernizando-se para maquinas a vapor, aumentado a produção. Essas fabricas

produziam panos, linhas, tecidos e sacos para exportar o algodão bruto e açúcar. A produção

têxtil era liderada pelas províncias da Bahia e Maranhão.

A época dourada algodoeira durou em torno de dez anos, durante esse tempo superou o

açúcar a principal fonte econômica nordestina. Ao final do século XIX o ritmo de crescimento

diminui com a reestrutura algodoeira EUA, escalada cafeeira no Sudeste do país e a escassez

de mão de obra. Mesmo assim, a indústria têxtil continuou crescendo em ritmo menor.

Sua decadência deu-se no começo dos anos 30 quando São Paulo passou a diversificar

sua produção, passando a cultivar algodão, devido ao recuo da lavoura cafeeira. Mais tarde o

esforço econômico direcionou-se a indústria sucroalcooleira, apoiadas no Instituto do Açúcar e

do Álcool (IAA) e o Proálcool. Nas décadas de 60 e 70 à forte concorrência das fábricas têxteis

paulista, falta de investimentos em infraestrutura, insuficiente apoio federal e governamentais,

levou o quase desaparecimento da indústria têxtil nordestina.

No início dos anos 90 a região passou por uma restruturação do setor têxtil, graças aos

cortes de gastos, qualificação da mão de obra e incentivos fiscais, objetivando a diversificação

do parque industrial. Houve também, pesquisas e estudos de novas semente mais resistentes e

produtivas, todas essas iniciativas colocaram o Nordeste novamente como principal produtor

algodoeiro do Brasil.

2 PRADO, JR. Caio. História Econômica do Brasil. Brasiliense, 1978, p. 82 3 TENORIO, Douglas Apratto; LESSA, Golbery. O Ciclo do Algodão e as vilas operarias. Maceió: Sebrae-

Edufal, 2013. p.25

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BREVE HISTÓRIA DO ALGODÃO.

Antes mesmo da revolução industrial das grandes fabricas têxteis inglesas, o ser humano

já conhecia os benefícios do algodão utilizados para diversos fins.

Os indianos, segundo o historiador grego Heródoto, possuíam uma espécie de planta

que no lugar de fruto, produzia lã, de uma qualidade bela e melhor do que a do

carneiro, e desta lã faziam suas vestimentas.[...] Os babilônios também utilizam a

planta para fabricar vestimentas, bem como os egípcios o linho, mas também a lã

branca quando os sacerdotes usavam fora do seu magistério4.

O historiador grego Estribão que viveu entre 60 a.C, menciona que em seu tempo já se

usavam vestimentas de algodão que crescia nas províncias do Golfo Persico. O médico e

filantrópico francês Théophraste Renaudot dizia que a planta dava um fruto como uma pequena

cabeça quando madura, abre-se com facilidade e deixa um capucho de lã que faz vestimentas

iguais aos luxuosos tecidos de linho5.

Ao final do primeiro século da era cristã os europeus passaram a ter contato com

algodão, entretanto foram os árabes que o difundiram. Sua denominação deriva da língua árabe,

al-gu-tum, dando origem a vários outros vocábulos, cotton em inglês; cotone em italiano; coton

em francês; algodon em espanhol e algodão em português. Foi durante as cruzadas que a

Europa passou a cultivar o algodão e a partir do século XVIII, tornou-se um cobiçado e rentável

produto6.

Os nativos americanos utilizavam a fibra branca para fabricação de diversos

instrumentos. Os primeiros colonizadores que aqui chegaram avistaram-na. Cristóvão Colombo

avistou crescendo em estado selvagem na américa central, do qual era utilizado pelos nativos.

Hernán Cortés, o conquistou do México, entre os espólios encontrou excelentes vestimentas e

diversos artefatos feitos de algodão produzidos pelos astecas.

Com a fabricação das máquinas de tecer em meados do século XVIII, o algodão vai

ganhar importância mundial, principalmente durante a Revolução Industrial na Inglaterra,

4CARVALHO, op. cit. 1939, p.25 5Ibidem, 1939, p.26 6Disponível em:< http://www.sincti.com/clientes/ampa/site/qs_historia.php > Acesso em: 15 out. 2018.

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graças ao acumulo de capital, em grande parte provenientes de ações piratas a embarcações

espanholas e portuguesas abarrotas de metais preciosos de suas colônias americanas7.

Ao final do século XVIII, o principal fornecedor de algodão para Inglaterra, as Treze

Colônias da América do Norte, entrou em atrito com a primeira, objetivando liberdade

sobretudo comercial, acarretando na revolução americana de 1776. Rapidamente as exportações

do produto, necessário a movimentação das maquinas manufatureiras inglesas cessou-se.

Diante da demanda pelo algodão que só aumentava, a Grã-Bretanha passou a incentivar sua

produção em diversas partes do mundo.

Esse fato fez com que a Inglaterra induzisse vários países a se tornarem grandes

produtores dessa matéria-prima, como a Índia, Egito, Peru, Estados Unidos e Brasil

(região nordeste). O Nordeste brasileiro pela primeira vez se integrou nesse mercado.

Destacaram-se como grandes produtores o Ceará e o Maranhão. Sendo que no

Maranhão a produção desenvolveu-se intensamente8.

A ECONOMIA ALGODOEIRA NO NORDESTE BRASILEIRO.

O Brasil no século XVIII encontrava-se em crise econômica, pois o ouro já não era tão

rentável. Aproveitando-se da alta da fibra branca no mercado externo, as autoridades coloniais

passaram a incentivar seu cultivo, já que o Brasil possuía extensas áreas virgens e solos

propícios. Em 1750, o governo da Metrópole visando introduzir no Brasil a indústria têxtil,

ordenou ao vice-rei, Francisco de Assis de Távora que constituísse tecelões e os enviasse ao

Maranhão e Pará, afim de estabelecer ali algumas fábricas9.

Em 1757, o governador Luiz Diogo Lobo da Silva e capitão de Pernambuco e anexas

Paraíba, Rio Grande do Norte, Ceará e Alagoas, exalta as prioridades da terra pernambucana

para intensificação do cultivo do algodão. Sugere também, a instalação de fábricas de tear para

fabricar panos grosseiros e forros para fardamentos militares o financiamento da produção e a

garantia de consumo, obrigando os senhores de engenho locais a produzir ao menos duas

arrobas anuais de algodão. Além disso, os administradores da Companhia de Comercio de

Pernambuco (1759-1780), incentivaram o cultivo e envio para a metrópole, numa tentativa de

7TENORIO, Douglas Apratto; LESSA, Golbery, op. cit. 2013, p. 8SOUZA, Leorivan Romão. A Cultura do Algodão no Rio Grande do Norte na década de 1970, Rio grande do

Norte, 1976. p. 6 9RIBEIRO, José Jr. A Economia Algodoeira em Pernambuco: da colônia a Independência. São Paulo. 1981,

p.236

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diversificação agrícola pernambucana, assentada na agroindústria açucareira. Ao final do

século XVIII, as espécies nativas foram sendo substituídas pela Caiena e Crioula,

principalmente em Pernambuco10.

Em Alagoas, quem incentivou à cultura algodoeira foi do ouvidor, José Antônio de

Mendonça Mattos Moreira em 1779. Um dos primeiros agricultores foi Manual Francisco que

por determinação de Mendonça Mattos Moreira, fez residência no sítio Riacho do Meio com o

intuito de implementar ali a cultura do algodão. Aos poucos rústicos casebres, ruas tortuosas

foram surgindo entorno do sitio, dando origem a cidade de Viçosa um dos grandes centros

algodoeiros da terra dos marechais11.

Segundo, Caio Prado Jr. (1976). E no Maranhão que essa cultura era mais interessante,

pois parte de uma região pobre inexpressiva da colônia, transformando-a em pouco tempo uma

das mais ricas e destacadas da região, devido em grande parte a Companhia Geral do Comércio

do Grão Pará e do Maranhão que monopolizou esse comércio. Essa companhia apesar de

extinguir-se em 1777, devido à perda de seus privilégios, mas enquanto vigorou incentivou,

fornecendo mão de obra escrava para as lavouras e créditos aos agricultores. Deixou para região

bases para a marcha do algodão. A fibra branca trouxe modificações étnicas para região,

geralmente compostas por brancos, índios e mestiços. Ali o algodão também trouxe o escravo

africano. Apesar de branco, o algodão no Maranhão tornou-se negro12.

No Nordeste utilizava-se dois tipos de algodão o arbóreo e herbáceo. O primeiro

popularmente chamado de mocó, era cultivado principalmente em: Pernambuco, Ceará, Piauí,

Rio grande do Norte e Paraíba. Em menor proporção na Bahia e Alagoas. “O algodoeiro mocó

pertencia à espécie gossypium hirsutum L, apresentava-se como uma planta perene, produzia

economicamente por 4 a 5 anos13”. Além disso, era mais resistente a seca e mais fácil de

descaroçar. O segundo tipo, foi introduzido pelos ingleses no século XIX, era menos cultivado,

devido à pouca durabilidade que chegava em torno de um ano e produzia fibras curtas de menor

qualidade que a primeira, encontrada em maior proporção em Alagoas.

10Ibidem, 1981, p.236-237 11Brandão, Alfredo. Viçosa de Alagoas. Recife: Imprensa Industrial, 1944, p. 39-40 12PRADO, JR. Caio, op. cit. 1979, p.79 13SOUZA, op. cit. 1976, p.6-7

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A nascente indústria têxtil brasileira, sofreria uma retração, mediante ao alvará de 5 de

janeiro de 1785 que ordenou a proibição de todos os teares no Brasil, exceto os empregados na

fabricação de panos grosseiros para escravos e sacos para exportação, porque as autoridades

temiam que o setor implicasse fortes impactos na agricultura, principal fonte de riqueza na

época14. A revogação do alvará de 1785, deu-se através de outros alvarás em 1 de abril e 28 de

1809, dando liberdade a quem quisesse estabelecer a manufatura concedendo privilégios e

favores especiais a quem fizesse15. Com o tratado de Comércio e Navegação assinado entre

Portugal e Inglaterra em 1810, desfavoreceu os produtos brasileiros, frente a enxurrada de

gêneros estrangeiros no mercado interno. “A indústria fabril brasileira ficava reduzida a tecidos

grosseiros para escravos, ao passo que eram abertos todos os portos nacionais para dar entrada

aos tecidos menos resistentes da indústria inglesa16”.

Em 1844, os estadistas brasileiros passaram a exigir o fim das concessões dadas as

importações a produtos estrangeiros. Finalmente em 8 de agosto de 1846, foram concebidos

privilégios, durante o prazo de 10 anos a quem instalar no Brasil fabricas de tecido de algodão.

Isso Possibilitou o surgimento das inúmeras fábricas têxteis no Brasil, principalmente no

Nordeste e interior de Minas Gerias. No ano de 1866, o país já possuía 9 fabricas de tecidos

grande parte delas situadas no Nordeste, as existentes nessa ocasião eram;

Na província de Alagoas, a União Mercantil.

Um gênio empreendedor, um negociante ativo e inteligente e que deu muito impulso

a esta capital, José Antônio de Mendonça, Barão de Jaraguá, em dias de março de

1857, reuniu vários amigos, negociantes e capitalistas para fundar a primeira fábrica

de tecido do estado17.

Somente, em 5 de abril de 1863 seus teares começaram a mover-se. Situava-se no

distante povoado de Fernão velho. Com o advento das linhas férreas na região a partir de 1868,

a fábrica foi beneficiada aumentado sua exportação. Produzia panos grossos de algodão

trabalhado, roupas de escravos e sacos. “Em 1884, a exportação cresceu, [...] produziu 24.000

mil peças com 648 metros, cujo o resultado seria 213:840$000 réis. Empregando uma

14 A vinda da família Real ao Brasil estabeleceu os tratados de aliança e comercio entre Portugal e Inglaterra a

partir de 1810. Comprometeu a indústria brasileira amplamente, mediante concessões comerciais dada a Inglaterra

comparados aos comerciantes locais. 15CARVALHO, op. cit. 1939, p.28-29 16Ibidem, 1939, p. 29 17Ibidem

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considerável mão de obra livre18.” No início do século XX, a fabrica produziu 26.179 peças,

em média 231 peças diárias, consumindo 1815 fardo de algodão. Durante 20 anos foi a única

unidade têxtil de Alagoas19.

Em 1888, surgiu a segunda fábrica, Cachoeira em Rio Largo, na época pertencente a

Santa Luzia. No mesmo complexo, durante o período republicano surgiu a fábrica Progresso.

Ambas, iniciativa do comendador Teixeira Bastos, posteriormente comandadas pelo

emblemático Gustavo Paiva. Na tabela abaixo, verificamos todas as unidades fabril têxteis em

Alagoas suas respectivas localidades e fundações.

Fonte: Relatórios anuais das fabricas têxteis de Alagoas, apud, Douglas Apratto; Golbery Lessa (2013).

A tabela acima, descreve cronologicamente as indústrias algodoeiras em Alagoas. A

primeira delas, já citada anteriormente, a União Mercantil, fundada em 1863. A última

Marituba, em Piaçabuçu, inaugurada em 1949. Totalizando 12 centros têxteis. Podemos

constatar que em Maceió, existiam 4 unidades, duas situavam-se na região lagunar de Fernão

Velho (União Mercantil) e Bom Parto (Alexandria). Outra no portuário bairro de Jaraguá (Santa

Margarida). A última, situava-se na zona rural da capital, Saúde (Norte de Alagoas).

Posteriormente a 1949 não houveram adesões de novas industrias algodoeiras, ao contrário o

algodão da terra dos caetés passou a regredir. Devido à queda do preço no mercado externo e a

concorrência de São Paulo e Minas Gerais. Outro fator foi a criação do Instituto do Açúcar e

18COSTA, Craveiro; CABRAL, Torquato. Indicador geral do estado de Alagoas. Maceió: EDUFAL; Imprensa

Graciliano Ramos, 2016. p.38-42 19

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do Álcool (IAA) nos anos 30 que incentivou o plantio do açúcar no Nordeste. Em Alagoas

praticamente o esforço econômico voltou-se ao ouro verde que contando com inovações

técnicas, cientificas e biológicas, avançou sobre os planaltos, antes áreas do algodão e outras

lavouras. Introduzindo o capital ao campo passado dando valor monetário aos meios de

produção, antes embutido no trabalhador. Ocasionando a expulsão do agricultor de suas terras,

levando o êxodo para os grandes centros urbanos. Esse foi uma realidade não Só de Alagoas,

mas de todo o Nordeste20.

Na província da Bahia em 1866, existiam a Fábrica de todos os Santos, Nossa Senhora

do Amparo, Santo Antônio das Queimadas, Modelo e Conceição. A primeira delas foi

considerada a maior e mais importante indústria têxtil do Brasil império, fundada em 1844. No

ano de 1860 recebeu a visita do imperador D Pedro II. Em 4 de julho de 1849, o presidente e

desembargador da província da Bahia, Francisco Gonçalves Martins, em seu relatório a

assembleia legislativa, abordou as unidades têxteis da província, inclusive a mais importante e

magnifica delas a fábrica de todos os Santos, propriedade de Antônio Pedrozo de Albuquerque,

Antônio Francisco de Lacerda e o americano J. Guilherme. A fábrica encontrava-se em 2.084

fusos e 50 teares que produziam duas mil peças de pano por dia, podendo chegar a 2 400 peças.

A maior parte do algodão trabalhado pela companhia, era originário da província de Alagoas21,

não por esse ser melhor, mas devido ao mal tratamento e amanhado dado ao algodão, ficando

de 5 a 7 a baixo da província vizinha22.

Os operários possuíam faixa etária até 25 anos, a maioria era menor a essa. As mulheres

eram em número menor em relação aos homens. Os rapazes eram recrutados dos seminários de

Ofícios da cidade, ali eram disciplinados e qualificados tanto quanto aos melhores operários

europeus. As mulheres eram retiradas das classes menos abastadas e algumas da mais extrema

pobreza, ali aprendiam a ler, escrever.

A fábrica de Queimados, situada no sitio de mesmo nome, pertencia a Espinheiro

Monteiro Jr. & Cª. Fundada em 1842, fabricava diariamente mil varas de pano de algodão por

dia. Possuía um maquinário hidráulico que em estações secas comprometiam a produção do

pano. A fábrica de Conceição de fiar a tecer algodão de propriedade de Domingos José D

20 CARVALHO, Cicero Péricles. Formação histórica de Alagoas. 4. ed. Maceió: Edufal, 2016, p. 21Bahia e Pernambuco eram as principais praças comercias da província de Alagoas. 22 Disponível em:< http://ddsnext.crl.edu/titles/165#?c=0&m=15&s=0&cv=3&r=0&xywh=-3102%2C-

91%2C7802%2C3266 > Acesso em 10 out. 2018.

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Amorim e Domingos Gomes Ferreira, passou a operar entre 1835 a 1837. Trabalhava com 1.200

fusos.

A cotonicultura, além de expandir a economia, deu ao Maranhão a condição de

pioneiro no Brasil [...]. Em fins do século XVIII, foi o primeiro grande produtor e

exportador brasileiro. Ao final do terceiro decênio do século XIX, a economia do

Maranhão poderia ser denominada “a economia do algodão”. A participação desse

produto na exportação do estado variou entre 73% e 82%, e mesmo nos períodos de

crise o algodão se manteve como o mais importante produto de exportação

maranhense, até os primórdios do século XX23.

Entretanto a partir de 1846, o comércio de algodão passou a diminuir, devido a escassez

da mão de obra escrava, pois com a ascensão do café no Sudeste do país, exigiu um grande

número de escravos, acarretando no aumento do preço no mercado interno, fazendo a venda de

escravo mais lucrativo que plantar algodão.

A Guerra de Secessão 1861-1865 nos Estado Unidos, animou o comércio algodoeiro na

província. A reabilitação do algodão americano não tardou, deixando o produto brasileiro e

conseguintemente maranhense em menor valor de mercado. A libertação dos escravos em 1888,

agravou ainda mais a crise da lavoura algodoeira. “Jerônimo de Viveiros descreve a situação:

“Para logo, cerca de 70% dos engenhos de cana e 30% das fazendas algodoeiras fecharam as

portas” [...] Por tudo isso, no próprio ano de 1888, a desvalorização da fazenda agrícola

maranhense atingia a 9024%.”

A companhia Industrial Caxiense inaugurada em 1883 foi a primeira fábrica de tecido e

fiação fundada no Maranhão. Incorporada ao Dr. Francisco Dias Carneiro, possuía 130 teares

e 250 funcionários, produzia tecidos crus e tinto. Em 1889, era instalada a Companhia União

Caxiense, era uma fábrica com 220 teares, 350 funcionários, produzindo tecidos. Existia

também a pequena fábrica de Sanharó, estabelecida em frente a cidade de Caxias, possuía 26

teares, 60 operários; produzia tecidos crus de boa qualidade.

A primeira fábrica da capital São Luiz fundada em 1890, foi a Companhia Fiação e

Tecidos Rio Anil, situada em Camboa do Mato as margens do rio Anil, com o capital de

23 DOURADO, José Ribamar; BOCLIN, Roberto Guimarães. A Industria do Maranhão: um Novo Ciclo.

Brasília: IEL, 2008. p.38. 24VIVEIROS, Gerônimo,1957, apud, DOURADO, José Ribamar; BOCLIN, Roberto Guimarães, 2008, p.41.

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1.600:000$, 300 teares e força motriz de 400 cavalo. Produzia panos grossos e finos e fios de

novelo25.

Outras fabricas vieram a surgir;

A Companhia de Fiação e Tecidos de Cânhamo, em 1891, 900 contos de capital, com

105 teares e objetivo de fabricar tecidos de juta; a Companhia Progresso Maranhense,

em 1892, com 150 teares, 160 operários, produzindo panos de algodão; a Companhia

Fabril Maranhense – Santa Isabel, capital realizado de 1.700 contos, 450 teares, 600

operários, produzindo riscado e domésticos de algodão; a Companhia de Fiação e

Tecidos do Rio Anil, em 1893, 1.600 contos, 172 teares, 60 máquinas de fiação e 18

de branqueamento, produzindo morins e madapolões, com 209 operários; a

Companhia Manufatureira e Agrícola, de Codó, capital de 1.000 contos, 150 teares,

produzindo fazenda, fios e corda, com 250 operários; a Fábrica de Tecidos de Malha

Ewerton, instalada em São Luís, em 1893, produzindo meias e tecidos para camisas,

com 30 operários; a Companhia Industrial Maranhense, 250 contos, 1894, destinada

à manufatura de fio, punhos e linha de pesca, com 50 operários; a Companhia

Lanifícios Maranhenses, 600 contos, 22 teares e outros aparelhos, com o objetivo de

tecer todos os produtos de lã, seda e algodão, ocupando 50 operários26.

Em Sergipe a indústria agrícola era a principal fonte de riqueza, sobretudo da cana de

açúcar, escassa em terrenos arenosos e de cor clara, ao contrário do algodão que prosperava

nesse. Cultivado em grande parte da região central e ocidental, principalmente nos munícipios

de Simão Dias, Itabaiana, Propriá, Dores, Gararu, Porto da Folha. Cultivam-se em menor

escalar o produto nos municípios dos vales dos rios, Real, Piauhy e Vasa-Barris27.

A primeira unidade têxtil de Sergipe, foi fundada em 1882, na cidade de Maruim, a

fábrica Sergipe Industrial. Operava com 60 teares e 170 operários. Tinha uma diversificada

produção; brins, cetim, bulgariana, algodãozinho e estopa, mas seu principal mercado era a

produção de sacos para a indústria do açúcar28.

Na década seguinte, a segunda fábrica têxtil se instalou em Sergipe, no município de

Estância: a Santa Cruz – pertencente à firma Souza Sobrinho e Cia., com sede na

Bahia e vinculada à casa comercial João Sobrinho. Especializada na produção de

tecidos crus, a Fábrica Santa Cruz operava com 150 teares e, aproximadamente, 250

operários29.

Seguindo a fábrica Sergipe, várias outras surgiram;

25Ibidem, DOURADO; BOCLIN, 2008, p.41 26Ibidem, p.41 27Disponível em:< https://digital.bbm.usp.br/handle/bbm/6725 > Acesso em: 10 out. de 2018. 28Ibidem 29LACERDA DE MELO, R. O.; PASSOS SUBRINHO, J. M.; FEITOSA, C. O. Industria e Desenvolvimento em

Sergipe. Revista econômica do Nordeste, Fortaleza, V.40, N.02, p.335, 2009. Disponível em:<

https://ren.emnuvens.com.br/ren/issue/view/50 > Acesso em 30 de set. 2018.

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Peixoto Gonçalves e Cia. (1906) e a Empresa Têxtil (1906), em Neópolis; Ribeiro

Chaves e Cia. (1907), em Aracaju; Empresa Industrial de Propriá (1913); Empresa

Industrial São Cristóvão (1915), em São Cristovão; Sergipe Fabril (1926), em

Maruim; Fábrica Senhor do Bonfim (1914), em Estância; e, finalmente, a Fábrica de

Tecidos Riachuelo (1926), no município de mesmo nome30.

Foi no início do século XX que a indústria têxtil sergipana se consolidou como um dos

mais importantes segmentos. Seus produtos manufaturados, foram ocupando maior espaço em

relação a exportação do algodão bruto, como mostra a tabela abaixo.

Fonte: Passo Subrinho, 2000, p.202 apud, Lacerda de melo, 2009, p.334.

Com início do setor têxtil em 1883 em Sergipe, atrasado em relação a outras regiões do

Nordeste, pouco se avançou na exportação de tecidos, representando 1%, o algodão bruto 16%

o açúcar 61%, segundo a tabela acima. A mudança foi gradativa, começando em 1911-1915,

quando as exportações de tecido representavam 24%, a fibra do algodão 7% o açúcar

majoritariamente, representado 49%, embora caído 12%. No período de 1916-1929, a

exportação do tecido ficou em 30%, a fibra do algodão 7%.

DECADÊNCIA DO ALGODÃO NORDESTINO.

30LACERDA DE MELO; PASSOS SUBRINHO; FEITOSA, op. cit. 2009, p.335-336

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A lavoura algodoeira nordestina não acompanhou a evolução de outras regiões; Egito,

Índia e a restruturação algodoeira EUA. As distâncias dos portos de embarque e falta de um

permanente transporte comercial, escalada cafeeira no final do século XIX e a supremacia

algodoeira paulista. Todos esses fatores culminaram no declínio da lavoura algodoeira

nordestina31.

A crise de 1929, comprometeu o comércio agroexportador brasileiro, forçando a

indústria nacional voltar-se ao mercador interno, coisa que o país jamais tinha feito antes, pois

foi lapidado no comércio externo. Esse fenômeno, segundo Furtado (1998) consistiu no

deslocamento do centro dinâmico32.

Com declino da cafeicultura no Sudeste, os esforços voltaram-se ao açúcar que desde o

século XVII enfrentava diversas crises, principalmente devido ao arcaico modo de produção.

No final do século XIX e início do século XX a agroindústria açucareira, modernizou-se

passando a controlar todo processo de produção com as usinas33. Em 1933, o Instituo do álcool

e açúcar (IAA), controlada em partes pelos usineiros nordestinos, visou implementar a

agroindústria açucareira e intermediar os interesses do Nordeste e Sudeste, através das cotas

produtivas. Controlada por usineiros nordestinos o IAA, reafirmou a produção e

comercialização interna/externa do açúcar nordestino. Por outro lado, garantiu o mercado

consumidor Sudeste, diante do crescimento populacional a exceção de São Paulo34.

Na década de 50 e 60 a indústria sucroalcooleira avançou sobre os planaltos, antes

improprio, devido sua constituição arenosa, mais graças ao processo de adubagem do solo isso

tronou-se possível35. Em sua marcha em direção ao interior engoliu a cultura de substância, do

qual o algodão juntamente com outras culturas fazia-se presente. Deixando inúmeros

agricultores desalojados levando o êxodo da população rural para os grandes centros urbanos36.

Por outro lado, a indústria algodoeira de São Paulo desenvolveu-se que desde a crise de 29

31COELHO, Jackson Dantas. Produção de Algodão. Revista Econômica do No

rdeste. Fortaleza: V.02, 2018, p. 99-100. Disponível em:<

https://www.bnb.gov.br/projwebren/Exec/livroPDF.aspx?cd_livro=308> Acessado em: 18 out. 2018. 32FURTADO, Celso. Formação Econômica do Brasil. 27.ed. São Paulo: Companhia Editora Nacional, 1998,

p.195-196 33 CARVALHO, Cícero Péricles. Analise da restruturação produtiva da agroindústria sucroalcooleira

alagoana. 3. ed. Maceió: EDUFAL, 2009, p.13-18 34Ibidem, CARVALHO, 2009, p.22-23 35SURUAGY, Divaldo. Raízes de Alagoas. Maceió: Imprensa Oficial Graciliano Ramos, 2014, p.159-160 36Ibidem, CARVALHO, 2009, p. 36-37

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passou a diversificar sua agricultura. Apesar da primeira indústria têxtil da região surgir em

1813, somente assumiria a liderança têxtil ao final do século XX. Antes consumidora do

algodão nordestino passou a cultiva-lo e a produzir tecidos, graças aos investimentos nos meios

de produção, introdução de novas espécies resistentes a pragas e mais produtivas. Por outro

lado, o Nordeste não conseguiu acompanhar as mudanças37.

A RESTRUTURAÇÃO DO ALGODÃO.

Na década de 90, a indústria têxtil brasileira foi pressionada a se reestruturar para fazer

frente a esse novo cenário, realizando esforços para acompanhar às mudanças do

mercado mundial. A abertura comercial e a valorização cambial, a partir da

implantação do Plano Real, induziram a um processo intenso de reestruturação do

setor que implicou na redução no número das empresas e do emprego. A mudança no

regime cambial, em 1999, marcou, todavia, uma importante inflexão nas perspectivas

do setor, inclusive com a com a recuperação das exportações38.

Na década de 30 e 50 a indústria têxtil sergipana retraiu-se. Nos anos 70 a situação

melhorou, graças aos investimentos da Superintendência do Desenvolvimento do Nordeste

(SUDENE). No final dos anos 90 passou por uma reestruturação, graças a aplicações em

equipamentos, corte de gastos desnecessários e incentivos para admissão de novas indústrias

têxteis, através de incentivos fiscais. “Boa parte das novas unidades instalou-se fora da região

metropolitana, concorrendo para um novo período de interiorização desse segmento 39 .”

Atualmente o setor vem passando por uma restruturação em torno de seus três principais polos;

o metropolitano, o de Itabaianinha e o de Tobias Barreto40.

O Maranhão apesar de pioneira, a indústria têxtil na década de 60 entrou em decadência,

devido à falta de modernização e uma forte restrição de mão de obra, culminando na estagnação

do setor. O alivio veio através do BNDES com financiamentos ao setor têxtil. A situação voltou

a acirrar-se na década de 70, devido à alta obsolescência do parque fabril têxtil.

Não resistindo ao confronto com as fábricas do Sul e Sudeste, a indústria têxtil

maranhense sucumbiu. Dentre as causas mais notórias, cita-se a falta de atualização

37LUNADOR, Mauricio Tadeu. Algodão: Analise da Conjuntura Agropecuária. Paraná: Secretaria de Agricultura

e Abastecimento, 2007. p.02. 38MELO, R. O.; MATOS, E.N.; SANTOS, V. A. A Cadeia têxtil – Confecção de Sergipe. Departamento de

Economia-UFS. Sergipe, p.01 39Ibidem, MELO, R. O.; MATOS, E.N.; SANTOS. P.02 40Ibidem, MELO, R. O.; MATOS, E. N.; SANTOS, V.A. loc. cit.

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tecnológica e o custo elevado dos encargos sociais, além de circunstâncias locais

como baixo poder aquisitivo do consumidor, a escassez de mão-de-obra qualificada e

a impossibilidade material para a modernização dos maquinários. Hoje, o segmento

têxtil do estado se resume a umas poucas fábricas de fiação, que, embora demonstrem

dinamismo empresarial, não traduzem a potencialidade estadual para o setor,

principalmente agora, quando o cultivo do algodão volta a assumir posição de relevo

no setor primário maranhense41.

Em Alagoas não houve um esforço para salvar a indústria têxtil, que privilegiou a

indústria sucroalcooleira, responsável pela crise estadual nos anos 90. Impossibilitada de

receber investimentos federais, com a extinção do IAA, voltou-se aos cofres públicos estadual,

levando a estagnação da indústria alagoana. A última fábrica têxtil de Alagoas, a fábrica de

Pedra, fundada pelo visionário Delmiro Gouveia, fundada em 5 de junho de 1914, situada no

município de mesmo nome, fechou as portas em 2017, após 103 anos de existência, encerrando

de vez a indústria têxtil na terra do poeta Ledo Ivo.

E na Bahia que a indústria têxtil floresceu, hoje ocupa a 2º posição na produção têxtil

do Brasil42. Apesar da crise nos anos 30 do século passado, o setor baiano se renovou, graças

aos investimentos estaduais em infraestrutura, mão de obra qualificada, sustentabilidade e

incentivos fiscais. Atualmente o setor têxtil e confecções, possui 3000 fábricas em sua maioria

por empresas de pequeno porte43.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

O algodão já era conhecido desde os tempos antigos, apesar de poucos autores se

debruçarem sobre isso, foram os árabes seu difusor na Europa. O algodão também era nativo

das américas utilizado para diversos fins pelos índios. Com a Revolução Industrial em meados

do século XVIII a fibra branca, passou a ter importância, pois era o principal produto para fazer

mover as maquinas têxteis inglesas. A segunda Revolução Industrial em meados do século XIX

41DOURADO; BOCLIN, Op. cit. 2008, p.42 42O Brasil 5º maior Industria têxtil do mundo, 4º maior em confecção, 3º na produção de malhas, 2º maior produto

de denim. 43Disponível em:< http://www.fieb.org.br/midia/2017/6/ESTUDOSETORIALCINTEXTIL.PDF> Acesso em: 10

out. 2018.

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e final do mesmo, levou uma maior escalada do produto, principalmente devido aos

aperfeiçoamentos dos aparelhos produtivos e a introdução da produção em massa.

O Nordeste foi pioneiro na produção algodoeira no século XVIII. O boom do algodão

nordestino, ocorreu nos anos 60 do século XIX beneficiado por conjunturas externas,

principalmente devido a Guerra de Secessão EUA. E em meados do século XIX até ao final da

primeira metade do século XX o setor têxtil progrediu, inúmeras fabricas sugiram na Bahia,

seguido do Maranhão, Alagoas, Pernambuco e Sergipe. Nos anos 40 gradativamente reduziu-

se, chegando a sua quase extinção nas décadas de 70 e 80.

Na década de 90 houve a restruturação, os estados nordestinos viram-se obrigados a

investir em melhorias dos meios de produção, mão de obra qualificada e incentivos fiscais, por

exemplo; a Bahia destaque na produção nacional, detém taxas de juros favoráveis, atrativas

para instalações de indústria na região. O Maranhão e Sergipe também conseguiram reestruturar

sua indústria têxtil, ao contrário de Alagoas que não investiu na diversificação produtiva,

prendendo-se a agroindústria sucroalcooleira, lavando ao seu fim.

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