A economia em prol do trabalho cirúrgico

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  • 7/21/2019 A economia em prol do trabalho cirrgico

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    A ATUAO DA ERGONOMIA EM PROL DO TRABALHO CIRR-GICO.

    Raimundo Lopes DinizMestrando em Design pela PUC-Rio, Bolsista CAPES

    Laboratrio de Ergonomia e Usabilidade de Interfaces em Sistemas Homem-Tecnologia (LEUISHT)e-mail: [email protected]

    Anamaria de Moraes, DSc.Programa de mestrado em Design - PUC - Rio

    Laboratrio de Ergonomia e Usabilidade de Interfaces em Sistemas Homem-Tecnologia (LEUISHT)e-mail: [email protected]

    Palavras-chave:ergonomia cirrgica; trabalho do cirurgio, cirurgia eletiva geral.

    1. Introduo

    Magalhes (1983) diz que, a cirurgia a especialidade mdica caracterizada por procedi-mentos invasivos executados conforme metodizao de tcnica, que representam um mto-do teraputico ou diagnstico. A cirurgia no apenas o procedimento cirrgico em si ou oato operatrio propriamente dito, mas uma integrao profunda de procedimentos cujoslimites se confundem como Propedutica, Diagnstico, Indicaes de Tratamento, Avalia-

    o Clnica e Cuidados de Pr, Trans e Ps-operatrio. A tcnica cirrgica geral, bsica oufundamental compreende: os conhecimentos de assepsia e antissepsia, centro cirrgico comsua parte fsica e funcional; equipe cirrgica; vesturio; material cirrgico; anestesia, proce-dimentos tcnicos gerais, pr, trans e ps-operatrio.

    Segundo Berguer (1997), a prtica cirrgica como ns conhecemos, teve incio ao final dosculo 19, com o advento da assepsia e anestesia geral. Muitas, se no a maioria, das opera-es cirrgicas gerais tm sido descritas antes de 1900 e assim a administrao segura daanestesia e o impedimento da infeco posto-operativa foram os principais temas que dirigi-ram os projetos da sala de operao e dos instrumentos cirrgicos na primeira metade do

    sculo 20. Durante os anos 60, afirma Berguer (1997), o desenvolvimento das tcnicascardiopulmonar secundria e da microcirurgia abriram novos territrios na tcnica cirrgicae sua tecnologia. A 25 anos a confluncia entre a tecnologia digital de vdeo e a tcnicaestabelecida para o exame de endoscopia direta levou revoluo tecnolgica da cirurgiade video-endoscopia. Os cirurgies e pacientes tm, desde ento, presenciado o rpido de-senvolvimento destas tcnicas cirrgicas denominadas minimamente invasivas, as quaisexecutam as metas anatmicas principais das operaes com incises muito pequenas. Oautor ressalta ainda o fato de que, a prtica cirrgica ainda parece estar sobre uma trilha decontinuidade de desenvolvimento tecnolgico direcionado ao futuro onde os principais pro-cedimentos cirrgicos podem ser realizados sem dor ou medo.

    O traumatismo mnimo (tcnica atraumtica ou tcnica operatria delicada) e os cuidadosde assepsia so fundamentais para o bom resultado cirrgico. Para realizao de tcnica

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    com traumatismo mnimo devem ser observados vrios fatores, de acordo com o quadro1.Parafraseando Moraes (1998), a Ergonomia como cincia trata de desenvolver conhecimen-tos sobre as capacidades, limites e outras caractersticas do desempenho humano e que serelacionam com o projeto de interfaces, entre indivduos e outros componentes do sistema.

    Como prtica, a Ergonomia compreende a aplicao de tecnologia da interface homem-sis-tema a projeto ou modificaes de sistemas para aumentar a segurana, conforto e eficin-cia do sistema e da qualidade de vida. Muitos fatores relacionados com a tcnica cirrgicapara o traumatismo mnimo, so abrangidos pela ergonomia, como: a iluminao da salacirrgica, os instrumentos cirrgicos, e os movimentos do cirurgio durante a realizao desuas tarefas. A ergonomia integra conhecimentos destes fatores, os quais so importantespara a adaptao das tarefas, sistemas, produtos e ambiente s habilidades e limitaes fsi-cas e mentais dos cirurgies.

    Neste artigo d-se nfase s cirurgias gerais abdominais e de cabea/pescoo, em incisesabertas e medianas, que so cirurgias de mdio porte, realizadas em centro cirrgico plena-mente equipado, conforme as condies e requisitos bsicos obrigatrios, tendo durao depoucas horas (duas horas em mdia). Os tipos de cirurgia geral observadas nesta pesquisaso: operao de cabea/pescoo (tireide - tireoidectomia, na face anterior do pescoo),parotidectomia (na glndula partida), operaes de laparotomia, hernioplastias (hrniaepigstrica, umbilical, abdominal incisional, inguinal oblqua externa, inguinal direta, hrniacrural, operaes de estmago (gastrostomias, gastrectomias, vagotomias), operaes so-bre vias biliares (colicistectomias e coledoctomias), operaes do bao (esplenectomias), deapndice (apendicectomias) e pncreas (cistogastrostomia). Os principais problemas no tra-balho do cirurgio eletivo geral, em cirurgias de mdio porte, foram levantados atravs devisitas aos hospitais: Santa Casa de Misericrdia do Rio de Janeiro e Hospital MunicipalMiguel Couto. Foram utilizados o mtodo de observao assistemtica, entrevistas com osprofissionais e registro fotogrfico das suas atividades. No total foram assistidas 43 cirurgi-as. Notou-se um cansao muscular e conseqente stress, dentre a comunidade cirrgica ge-ral quando da realizao de suas tarefas, acarretando em deficincias no seu rendimento detrabalho e resultando ainda em desistncias nesta rea da medicina, obrigando-os a mudar

    de especialidade mdica e/ou cirrgica.

    Este trabalho faz um mapeamento de algumas intervenes da ergonomia ocorridas na rea

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    de cirurgia, onde pouco tem sido explorado, se compararmos ao universo de pesquisas fei-tas por esta cincia, nas mais diversas reas. Alm disto, foi feito um levantamento dos prin-cipais problemas no trabalho do cirurgio eletivo geral, em cirurgias de mdio porte, utili-zando-se o mtodo de observao assistemtica, entrevistas com os profissionais e o

    registro fotogrfico das suas atividades.

    2. A ergonomia e a sala cirrgica: breve histrico.

    A idia de trazer a ergonomia para a sala de operao no nova. Segundo Bridger (1997),mdicos e cirurgies indubitavelmente tm, a um longo tempo, interesse no design, estticae eficincia no seu trabalho, j Frank Gilbreth - um pioneiro na rea do estudo do tempos emovimentos e quem estudou cirurgies trabalhando em hospitais de vrias naes - notouem 1916 que ... os cirurgies poderiam aprender mais sobre o estudo de tempos e movi-mentos, eliminao das perdas, e controle cientfico das indstrias do que as indstrias po-

    deriam aprender a partir dos hospitais (Gilbreth, 1916). Durante a dcada de 30 houve uminteresse na anlise dos movimentos da equipe cirrgica (Lawrence et al., 1939), mas umaaplicao ampla da anlise do trabalho aos procedimentos cirrgicos no ocorreu (Patkin,1957). O advento da tcnica de microcirurgia, nos anos 60, subitamente colocou novoscontrangimentos manuais e visuais aos cirurgies e estimulou vrias revises necessriasbsicas operacionais para o cirurgio microvascular a partir de um ponto de vistaergonmico (Patkin, 1977; 1978; 1981). E ainda, o arranjo das operaes cirrgicas geraisestimulou Dudley (1976) comentar que olhando sob um ponto de vista ergonmico, amaioria das principais operaes so, primeira vista, uma baguna. Desde aquela poca,afirma Berguer (1996), um certo nmero de autores sugeriu meios para fornecer o design ea eficincia do espao de trabalho e instrumentos dos cirurgies, baseados em princpiosergonmicos gerais, mas suas idias no foram ainda submetidas a testes objetivos. Assim,ainda que os cirurgies se interessassem pelos princpios ergonmicos no seu trabalho, hmuito pouco dado cientfico nesta rea. Porm, foi com o advento da cirurgia de video-endoscopia nos anos 80 (procedimentos minimamente invasivos) - o que colocou mais limi-taes severas viso e manipulao dos tecidos para o cirurgio - gerando um aumentoconstante no interesse da ergonomia pelo trabalho cirrgico (Mateka et al., 1994; Berguer,1996; Patkin et al., 1995; Kernaghan, 1982; Kadefors, 1982).

    Estes e outros fatores fazem com que os estudos ergonmicos direcionados s cirurgiasabertas e minimamente invasivas sejam postos em prtica. Devem-se buscar solues para

    os problemas de exposio fadiga, eficincia e custos na sala de operaes cirrgicas pelaaplicao de princpios ergonmicos. Para tanto, Berguer (1996), apresenta um novo cam-po para a ergonomia denominado de Ergonomia cirrgica - Surgical ergonomics- e pedeuma aceitao deste pela rea acadmica.

    3. Pesquisas ergonmicas realizadas com o trabalho dos cirurgies

    De acordo com Berguer (1997), o universo cirrgico caro e os custos de erros ou atrasosno tratamento cirrgico so substanciais em ambos os termos econmico e humano. Destamodo, parece bvio a importncia de analisar o trabalho do cirurgio utilizando os mtodos

    ergonmicos com o objetivo de fornecer eficincia e segurana nesta rea. O aumento dacomplexidade dos procedimentos cirrgicos e da tecnologia necessria para realiz-los, as-sociados com o custo relativamente alto do pessoal e do tempo das salas de operao, est

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    criando a necessidade de aumentar a eficincia na cirurgia baseando-se nos dados de anli-ses dirigidas s operaes cirrgicas - que deve permanecer sob o controle dos prprios ci-rurgies.3.1. Visualizao

    Conforme Berguer (1997), a cirurgia aberta permite que o cirurgio veja diretamente ocampo da operao. Sob essas condies, as principais consideraes visuais da ergonomiaso aadequao da exposio do campo cirrgico para a visualizao direta e a qualidade e in-tensidade de iluminao no campo. A importncia da iluminao adequada para o campocirrgico, por outro lado, foi o assunto de inmeros estudos. Publicaram-se recomendaespara a iluminao cirrgica sob condies de visualizao direta que incluem uma intensida-de de luz de 20,000 - 10,000 lux no centro do campo de operao, um campo com uma lar-gura de 20 - 30cm, uma razo de brilhncia de 2:5:1 entre o centro e a periferia do campo,

    com uma temperatura de cor de aproximadamente 4000K, e uma energia de luz incidentemxima de 25,000 (W/cm2 ao nvel do ferimento). A cirurgia de video-endoscopia introduzainda um grande desafio viso natural dos cirurgies no campo de operao. A tecnologiaatual oferece ao cirurgio uma imagem de TV colorida - qualidade de resoluo mostradasob um monitor de vdeo remoto posicionado ao lado do paciente. A direo e orientaoda viso do cirurgio controlada por um assistente que segura o endoscpio. Berguer(1997) diz que, a melhoria da viso do cirurgio do campo de operao durante a cirurgiade video endoscopia, considerando o custo efetivo e uma utilizao de uso amigvel (ausabilidade) permanece um principal desafio para os cirurgies, projetistas e ergonomistas.

    3.2. Manipulao

    Somente os atuais cirurgies de video endoscopia, afirma Berguer (1997), no vemdiretamente o campo de operao, a evoluo da tecnologia cirrgica tambm remove ocontato manual direto com os tecidos que eles devem manipular. Instrumentos padroniza-dos usados durante cirurgias abertas, como afastadores, pinas e tesouras foram rapidamen-te desenvolvidos no final do sculo 19 para acomodar o uso mais fcil e universal, produ-o de massa, e rpida esterilizao. Os cirurgies defenderam um uso habilidoso e eficien-te desses instrumentos, embora existam poucos dados experimentais publicados, relaciona-dos biomecnica dos instrumentos da cirurgia aberta. A cirurgia de video-endoscopia co-locou em destaques novas e significativas questes na manipulao de tecidos. Foi demons-

    trada a fadiga atravs de relatos dos cirurgies quando do uso dos instrumentos delaparoscopia. Esta pode ser atribuda necessidade de uma maior contrao dos msculosdo antebrao em comparao com o uso dos instrumentos de cirurgia aberta. Muitos cirur-gies esto insatisfeitos com o atual design e funcionamento dos instrumentos de cirurgiaendoscpica. O reconhecimento da amplitude do prejuzo ttil motor, experimentado peloscirurgies durante a cirurgia de video-endoscopia, renovou um interesse nas pesquisasergonmicas nesta rea.

    3.3. A postura de trabalho

    Os procedimentos cirrgicos que so executados, geralmente exigem a postura de p, posi-es corporais desbalanceadas e necessidade ocasional para exercer foras substanciais so-bre os tecidos, afirma Berguer (1997). At recentemente, algumas poucas informaes

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    quantitativas sobre as cargas musculoesquelticas experimentadas pelos cirurgies tem sidopublicadas. Kant (1992) apud Berguer (1997), estudou a postura dos mdicos e enfermeirasatravs do uso do mtodo OWAS (Ovako Working Posture Analising System) e descobriuque os cirurgies experimentam um substancial stress no sistema musculo-esqueltico devi-

    do alta incidncia de flexo esttica da cabea e das costas para frente. Conforme Kant(1992), esse stress agravado pela expressiva evidncia de posturas de trabalho puramenteestticas. O stress foi mais alto no cirurgio geral do que no cirurgio de ouvido/nariz/gar-ganta. Mirbod et al. (1995), realizaram seu estudo entre cirurgies ortopdicos e cirurgiesgerais e concluiram que as principais queixas dos cirurgies foram a dor e a rigidez nos om-bros e na coluna lombar (parte baixa das costas), alm disto, constataram-se alta taxa dedores no pescoo, entorpecimento nos dedos, dores nos pulsos e dor de cabea. Os autoresfizeram ainda uma reviso de literatura entre as publicaes disponveis relacionadas ao seuestudo, os resultados so mostrados no quadro 2. Cook (1993) apud Berguer (1997), ava-liou se os cirurgies que ficam de p em tapetes especiais apresentam menos fadiga nas per-

    nas do que quando esto de p numa superfcie normal e no encontrou diferenas nas per-nas ou nas atividades musculares paraespinhais nos sujeitos que ficavam de p nas tapetesespeciais.

    A cirurgia de video-endoscopia, como afirma Berguer (1997), tambm tem mudado o ma-neira de ficar de p e se movimentar dos cirurgies. Luttmann et al. (1996), demonstraramque o uso do monitor de vdeo durante a reseco transuteral da prstata diminui significa-tivamente a carga muscular na musculatura dos ombros devido postura mais verticalquando visualiza o monitor de vdeo durante a cirurgia, ele estudou cirurgies urologistasutilizando uma anlise eletromiogrfica. O uso do sistema de vdeo durante a performancedas operaes endoscpicas na urologia, resulta numa reduo significativa da tenso mus-cular.

    3.4. A carga fsica e mental.

    Segundo Berguer (1997), como a nova tecnologia foi introduzida no espao de trabalho, asdemandas psicolgicas aumentaram em muitas reas de trabalho, inclusive na medicina. Acirurgia tem sempre sido associada com os estressses mental e emocional relacionado ao

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    desafio tcnico das operaes cirrgicas assim como ao contexto humano do trabalho. V-rias pesquisas j iniciaram um entendimento cientfico da carga de trabalho mental ecardiovascular do cirurgio, e esta informao indica que as operaes desempenhadas pelocirurgio so estressantes tanto fsica quanto mentalmente.

    De acordo com Berguer (1997), Levey (1959) publicou sobre a energia gasta do pessoal dasala de operao e concluiu que, enquanto as atividades, como a escovao das mos e osprocedimentos de amputao, requerem uma grande produo de energia, a energia totalgasta dos cirurgies na sala de operao no se encontrou acima de nveis sedentrios.Chavez-lara (1969), publicou sobre o aumento significativo da excreo urinria deepinefrina e norepinefrina nos cirurgies antes e depois da cirurgia. Foster (1978) publicousobre uma mdia de batimentos cardacos de 121 batidas/minuto pelos cirurgies durante asoperaes com as freqncias mximas cardacas excedendo as 150 batidas/minuto em mui-tos casos. Goldman (1972), encontrou um aumento similar na freqncia cardaca dos cirur-

    gies relacionada aos cirurgies principais (em vez dos assistentes) e aos iniciantes no trei-namento e correlatou estes achados s publicaes subjetivas do stress durante a cirurgia,outros procedimentos exigentes e discusses com a famlia dos pacientes. Payne (1986)apud Berguer (1997), tambm publicou que os cirurgies exibiram uma alta freqncia m-dia cardaca significativa durante as operaes comparadas aos anestesistas (101 versus 78batidas por/minuto respectivamente nas mesmas salas de operao. Aplicando uma sofisti-cada anlise dos padres de variabilidade da freqncia cardaca (Heart Rate Variability -HRV). Czyewsaka et al. (1983) apud Berguer (1997), descobriram que os cirurgies exi-bem uma diminuio significativa em vrias medies do HRV durante a prpria operao eatribuiu isto carga mental similar quela vista em outras profisses estressantes. Assim huma substancial evidncia de que os cirurgies experimentam um stress cardiovascular du-rante as operaes, e que a amplitude deste stress parece exceder o desempenho fsicoatual do trabalho (consumo de oxignio). Conforme Czyewsaka et al. (1983), sobre a basede entrevistas com os cirurgies investigados (colecistectomia, apendectomia estrumectomias) e observaes do seu comportamento, aceitou-se que a grande carga emo-cional e tomada de deciso ocorre durante a operao propriamente dita, e menor durantea sutura de pele e menor ainda durante a inciso inicial.

    Alguns dados publicados at aqui, no permitem uma avaliao objetiva sobre as queixasrelacionadas ao stress dos cirurgies durante os procedimentos de video-endoscopia, amaioria dos cirurgies relatam altos nveis de decepo tcnica durante as operaes com-

    plexas minimamente invasivas. Ser importante investigar o desenvolvimento das estratgiastecnolgicas e cirrgicas para minimizar a fadiga do operador e aumentar a eficincia e se-gurana durante a cirurgia (Berguer, 1997).

    3.5. O ambiente da sala de operao

    O projeto e layouteficiente da sala de operao, como diz Berguer (1997), tem sido o as-sunto de interesse contnuo entre os cirurgies, arquitetos e engenheiros. As caractersticado timo projeto de uma sala de operao tem sido amplamente discutida (Putsep, 1973;Nora, 1973; Laufman, 1971) e alguns padres para a construo desta foram publicados

    peloAmerican College of Surgeons Commitee(Quebbeman, 1993) sobre o ambiente dasala de operao e o Instituto Americano do Comit de arquitetos sobre Aquitetura paraSade (1987). O rpido desenvolvimento da cirurgia de vdeo endoscopia e outras tcnicas

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    minimamente invasivas as quais aumentaram a quantidade de equipamentos na sala de ope-rao posicionou um novodesafio para a otimizao do espao. Como em outras reas da ergonomia cirrgica, h umafalta de informao bsica quantitativa do conjunto do uso do espao atual nas salas de

    operao de hoje. Num recente estudo, Berguer (1997) examinou o uso da sala de operaodurante operaes abertas e de laparoscopia e descobriu que o percentual do espao ocupa-do por pessoas, mobilirio e equipamentos estendeu-se de 28 a 50% com uma mdia de37% para a cirurgia aberta e 41% para a cirurgia de laparoscopia. Este estudo tambm no-tou um aumento no nmero total de cabos e tubos na sala de operao com uma mdia de28 (cirurgia de laparoscopia) a 24 (cirurgia aberta). Distintos projetos contribuintes para ofuturo design da sala de operao esto tratando do aumento dos equipamentos e transfe-rncia de dados na sala de operao minimamente invasiva do futuro (Jolesz et al., 1992;Kaplan et al., 1995). Estes esforos requerero um recriao da arquitetura, damicrobiologia e dos conceitos do staff, tradicionais da sala de operao cirrgica, para

    ativar um aumento eficiente e flexvel e manter a segurana do paciente e do staff.

    4. Delimitao do problema

    Atualmente, a postura de p indispensvel durante a interveno cirrgica. O cirurgioeletivo geral mantm esta postura por cerca de duas a seis horas dirias, em intervenesque tratam dos rgos abdominais do sistema digestivo e de cabea/pescoo, em opera-es pr-programadas ou no emergenciais (eletivas). Os cirurgies principais submetemseus membros superiores manejos complexos, seqenciais e repetitivos atravs de tcnicascirrgicas pr-estabelecidas (direse, preenso, exposio, sntese, etc...). De uma formageral, h uma comunicao direta e intensa com todos da equipe cirrgica, atravs de mo-vimentos da mo, usando sinais padronizados (tcnica manual) aplicada aos instrumentos emateriais mais simples e atravs da solicitao verbal (para instrumentos e materiais maiscomplexos ou quando o cirurgio quer que o instrumento esteja preparado por antecipaoao momento do uso), alm de troca de informao sobre o funcionamento geral da cirurgiaem si.

    A partir do incio da operao, o cirurgio passa a ter concentrao total no seu trabalho,mantendo um olhar atento s estruturas orgnicas do paciente em tratamento e realizandotoda a tcnica cirrgica padro de forma seqencial e sincronizada. O pescoo flexionadoa um ngulo acima de 30, buscando um ngulo de viso favorvel. Os movimentos neces-

    srios e imprescindveis dos membros inferiores se limitam ao acionamento do pedal dobistur eltrico (quando preciso for), alm de diversos movimentos involuntrios, na buscade uma melhor acomodao e diminuio do cansao fsico. O tronco mantido encostado mesa cirrgica quase o tempo todo, salvo em alguns momentos: quando ele pega alguminstrumento mais afastado do seu alcance ou quando ele semi-flexiona o tronco, em deter-minadas manobras cirrgicas, buscando um ngulo de viso satisfatrio ao seu trabalho. Osmovimentos dos membros inferiores mais comuns so: 1. Manter o peso do corpo em umas perna, enquanto a outra fica semi-flexionada (de maneira alternada); 2. Apoiar a pernaem qualquer objeto que estiver ao seu alcance ( o p da mesa cirrgica, o apoio para oinstrumentador, por exemplo), 3. Cruzar uma perna para frente ou para trs da outra, tiran-

    do assim o peso do corpo desta; 4. Pr um p em cima do outro, tirando assim o peso docorpo de uma das pernas; 5. Dar pequenos passos para as laterais (esquerda/direita e vice-versa).

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    Em suma, a movimentao do cirurgio varia muito durante seu trabalho e depende do pro-cedimento cirrgico pretendido. So movimentos rpidos, curtos e delimitados. Nos primei-ros minutos do ato cirrgico, este profissional quase no se movimenta, porm com o de-

    correr do tempo, este movimento torna-se cada vez mais involuntrio e freqente. Nota-seportanto, a rigidez postural prejudicial para a operacionalizao das tarefas/atividades, devi-do a um ritmo intenso e repetitivo das mesmas.

    4.1. Reconhecimento do problema

    Cumpre agora explicitar os problemas que determinam constrangimentos para o usurio/operador/trabalhador, no caso, o cirurgio eletivo geral.

    1) Disfunes ergonmicas do SHTM

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    Problemas Operacionais: excessiva exigncia de preciso e qualidade de trabalho; o queocasiona sobrecarga mental e psquica e resulta no aparecimento de psicopatologias dotrabalho (depresso, agressividade, obcessividade).

    Problemas Psico-sociais: falta de opes de descontrao e lazer.

    2) custos humanos do SHTM

    Posturais: lombalgias provenientes da assuno de posturas cifticas e escoliticas faceaos constrangimentos informacionais e interfaciais;leses dos discos intervertebrais, re-sultantes do excesso de tempo de exposio postura esttica de p; fadiga muscularresultante do trabalho esttico e s posturas assumidas por imposio da atividade (exi-

    gncias visuais e/ou acionais); ngulos do tronco e dos membros superiores e/ou inferi-ores que impliquem esforo muscular e restries circulao sangnea ou ao funcio-namento dos rgos internos.

    Sensrio-fisiolgicos: fadiga visual muscular face s freqentes acomodaes do crista-lino resultantes da necessidade de discriminar objetos em diferentes distncias, o queocasiona mudanas de focalizao com modificaes de esfericidade do cristalino atra-vs da contrao do msculo ciliar; desconforto visual, dores de cabea e cansao geralem funo de adaptaes constantes da ris e da retina face aos nveis de iluminamentodas estruturas orgnicas dos cirurgiados; problema de ofuscamento e conseqente

    super-exposio repetitiva da retina, face aos reflexos da iluminao das estruturas or-gnicas dos cirurgiados.

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    Psiconeurofisiolgicos: fadiga nervosa em conseqncia da urgncia de decises a to-mar e da possibilidade de ocorrncia de disfunes que colocam em risco todo o siste-ma; alteraes do sistema digestivo e cardiovascular em decorrncia da carga mental e

    psquica, face s funes cerebrais centrais - recepo, decodificao, interpretao etempos de reao - em tarefas que implicam vigilncia e ateno constantes na supervi-so, monitorao e regulao de sistemas de controle e de acompanhamento de proces-sos contnuos.

    5. Consideraes finais

    De acordo com Berguer (1997), a ergonomia pode intensificar nosso conhecimento sobre amaneira em que os cirurgies trabalham. Assim como os cirurgies defrontamcrescentemente os procedimentos complexos e custosos, a necessidade de cortar custos dos

    cuidados de sade, faz-se necessrio desenvolver um entendimento cientfico da mecnicadas operaes cirrgicas.

    Sob um outro ponto de vista, acredita-se que seja necessrio destacar ainda outras questestais como fatores tecnolgicos, organizacionais e sociais, em se tratando de pases subde-senvolvidos e emergentes. Infelizmente, a pssima estrutura de alguns hospitais e a baixaremunerao dos profissionais uma realidade entre esses pases e se juntam s queixas deordem fsico e psicolgica. Pode-se destacar tambm a grande demanda que os profissionaistm que suplantar, isto , a excessiva quantidade de pacientes espera de atendimento. De-vido a isto, os problemas fisiolgicos e psicolgicos so deixados de lado e se tornamsubjacentes at que eclodam e se tornem insuportveis, ocasionando conseqncias eviden-tes, como: negligncias mdicas, queda de rendimento, abstinncias e abjuraes, e, muitasvezes, obrigando o cirurgio a mudar de especialidade mdica ou cirrgica, por noagentar a carga fsica e mental das atividades em excesso.

    Talvez seja necessrio uma interveno macroergonmica no trabalho do cirurgio, paraque os fatores tecnolgicos, organizacionais e sociais possam ser postos em discussesimplementares.

    6. Referncias bibliogrficas.

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