A esquerda da pesquisa à direita da prática

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  • 8/14/2019 A esquerda da pesquisa direita da prtica

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    ESQUERDA DA PESQUISA DIREITA DA PRTICA: UM NOVOREFERENCIAL PARA O PROFESSOR TENDO POR BASE AS TECNOLOGIAS DAINFORMAO E COMUNICAO

    Franz Krether Pereira1

    Apostar? No sabemos se j se jogou tudo ou se nada foi jogado. Nada certo, principalmente o melhor, mas inclusive o pior. dentro da noite edo nevoeiro que precisamos jogar. (E. Morin, apud PETRAGLIA, p.11)

    Resumo

    Esse trabalho pretende mostrar que a utilizao pedaggica das Tecnologias daInformao e da Comunicao-TIC, com nfase no uso dos computadores conectados emrede, capaz de promover em curto espao de tempo, um aprendizado mais significativo doque uma jornada letiva nos moldes hegemnicos de ensino; e que por isso mesmo o professordeve rever seu papel e sua participao nesse processo milenar de transmisso de informaoe de construo de conhecimentos, preparando-se para utilizar eficientemente as ferramentastecnolgicas no apenas para alargamento de seu pensamento e de sua cosmoviso, comotambm de seus alunos, na busca pela construo de um olhar que revele o caminho para arealizao mtua. O que nos interessa destacar a relao possivelmente estabelecida entre oconjunto de saberes considerados importantes para o professor em seu exerccio profissionale a atividade de pesquisa, considerada hoje recurso indispensvel ao seu trabalho.

    Conceitos chave: Formao de professores, novas tecnologias na educao, mudana deparadigma.

    Apresentao

    As atividades nos Ncleos de Tecnologia Educacional-NTE, criados desde 1998 peloPrograma Nacional de Informtica Educativa-ProInfo -MEC/SEED- em parceria com estadose municpios, centram-se na formao continuada de professores e no desenvolvimento deuma cultura de ensino e aprendizagem mediada pelas Tecnologias da Informao eComunicao-TIC, tendo por base, dentre outros, os pressupostos tericos do paradigmaestruturalista apresentados por Piaget e Vygostky; com um olhar no enfoque sistmico que oscomputadores conectados em rede possibilitam e na perspectiva critico-reflexivaproporcionada pela metodologia de projetos.

    Nos NTE atuam os Multiplicadores, professores com especializao em Informticana Educao, que so responsveis pelo planejamento e execuo dos cursos de formao.Nesse local, os professores que participam desses cursos so apresentados a uma novacultura profissional (Imbernn, 1994), alicerada nas possibilidades didtico-pedaggicasproporcionadas pela presena de ambientes computadorizados, enquanto so apresentados construo de uma relao reflexiva entre o saber que ele possui e aquele que deve buscarpossuirdiante da insero das TIC no cenrio educacional e na sua prxis cotidiria.

    O resultado que se busca nessas capacitaes desenvolver, no professor que atua emsala de aula, a cultura de pesquisa, pois concebemos que o especialista que est em regncia1 Licenciado Pleno em Fsica, Especialista em Informtica na Educao e Mestre em Educao em Cincias eMatemticas.

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    de classe deve ser, antes de tudo, um professor-pesquisador, e que a educao para serlibertadora deve ser libertadora da mente, da conscincia, o que pode-se alcanar peloabandono de velhas prticas e de modelos obsoletos de acessar, manipular e transmitirinformaes. Talvez possamos atingir esse estgio quando respondermos a questo:

    [...] como compatibilizar essa nova concepo de mundo, essa nova

    cultura profissional, com uma concepo de ensino que transcende o paradigma tradicional, pontuado pela instruo programada, pelatransmisso de informaes e pelo treinamento de pensamento algortimo(sic) e mecnico?(MISKULIN, 2003. p. 217-218)

    O profissional que agir de maneira contrria a essa tendncia - arriscamos o vaticnio- estar fadado a desaparecer, sucumbido pelas mudanas que o novo paradigma promove.Exagero? A revista SUPERINTERESSANTE, de outubro de 2000 publicou uma reportagemintitulada Superprofissionais onde apresenta um cenrio para daqui a 40/50 anos. Segundoela haver uma demanda enorme por gente ecltica, que saiba o suficiente de cada rea paraorientar especialistas reunidos em grandes equipes de trabalho (p.90-93).

    Nesse cenrio, segundo Howard Rheingold2, a escola ser uma grande comunidadevirtual, onde os professores, alunos, pais, pesquisadores, cientistas etc., estaro efetuandouma macia e substancial troca de dados e informaes, de altssima qualidade. Ecomplementa:

    O cargo fundamental, a dentro, ser o educador 3D, que somar ashabilidades de todos os profissionais acima (i.e.: as profisses decientista, jornalista, designer e programador de computador), comobjetivo de dar ao ensino a maior eficincia possvel.(...) sua habilidadeem selecionar as informaes e em torn-las mas acessveis poder sertil de diversas formas. (...) O professor 3D construir espaos virtuaisnos quais os alunos usaro todos os seus sentidos para aprender, dizRheingold.

    O rei est nu

    As transformaes, as renovaes, a evoluo, so as respostas naturais s crises, daque toda crise encerra em seu bojo uma perspectiva criativa e permite que se apresente umanova abordagem para um velho modelo. Tomando por base o princpio que toda mudanapode ser facilitada, mas no dirigida, Thomas Kuhn publicou The Structure of ScientificRevolution em 1962, onde introduziu a expresso mudana paradigmtica.

    Um paradigma um esquema para a compreenso e a explicao de certos aspectosda realidade. Para nos o paradigma educacional ainda vigente, alm de no comportar asmudanas que a nova realidade apresenta, ainda cria um descompasso, podemos mesmo dizer

    um paradoxo, entre a cincia que se constri e a que a Academia teima em transmitir aoprofessor em formao e este impe aos seus alunos. Parece-nos como a estria da roupa dorei, confeccionada com um tecido que apenas a inteligentzia poderia enxergar. De fato, ovelho referencial agoniza e o paradigma emergente fez como a criana da estria, queapontando o dedo para o monarca que desfilava orgulhoso sua nova roupa, revelou a verdadeao gritar: O rei est n!

    2 Rheingold o presidente da Rheingold Associates, uma empresa de consultorias, e inventor do termocomunidade virtual.

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    A questo do referencial sempre norteou os trabalhos dos pesquisadores, seja nacincia ou na educao, em que pese os paradoxos presentes tanto numa quanto noutra. Ele, oreferencial, o culos 3 atravs do qual o sujeito ordena o seu universo, se enxerga e secompreende. Com relao educao, facilmente perceptvel que a escola mantm-seapegada a conceitos que a cincia vem, sistematicamente, derrubando ou revendo. Parachegar a essa concluso, basta observar o ensino de Cincias ou folhear alguns livrosdidticos de Ensino Fundamental Mdio para Cincias e Biologia, e veremos que apresentamum enfoque acentuadamente antropocntrico.

    Podemos ilustrar isso com alguns exemplos, tais como:- a escola ainda aponta que existem seres animados e inanimados;Sem perceber que toda vida energia, sob diversas formas.- ensina-se, ainda, que existem duas categorias de seres na natureza: os benficos outeis ao homem, e os nocivos;E com isso o aluno tende a ver a natureza como um local perigoso, onde certosanimais precisam/devem ser exterminados.- ensina-se que o Sol nasce no Leste e se pe no Oeste.Ainda que seja apresentado como movimento aparente, d a entender que Galileu

    estava errado ao afirmar que a Terra que se move em torno do Sol.

    Como aprendemos, um dos requisitos fundamentais da cincia a premissa quesempre que se estabelecem as mesmas condies, deve ocorrer a mesma coisa. Issosimplesmente no verdade, no uma condio fundamental da cincia (1999, p.76);noutras palavras, para a cincia j no h mais certezas absolutas e permanentes, porm e tosomente, probabilidades, possibilidades. A cincia, sob esse novo paradigma, est semprenum processo de reviso, sempre buscando uma identidade entre o fenmeno observado e odescrito.

    Tomemos a interpretao de Copennhagem, formulada por Niels Bohr e WernerHeisenberg, segundo a qual no h realidade at o momento em que ela percebida peloobservador, alie-se a isso os trabalhos de pesquisadores reforando que a natureza dos nossosavs no a mesma de hoje -temos uma nova descrio da natureza, diz Prigogine (1996.p,11)-, e veremos que as teorias descritivas dos eventos naturais passam a ser encaradas comocriaes da mente humana; meros esquemas conceituais de aproximao da realidade. Emoutras palavras, significa dizer que o fenmeno em observao responde conforme a posioque o observador assume.

    Dessa forma, a realidade com a qual nos deparamos uma iluso ou como diziam osantigos mestres hindus: este o mundo de Maya4. Dito desta maneira, tal afirmao podeparecer algo to complexo quanto absurdo, mas devemos ter claro que o homem tende a ver anatureza como um agregado de sensaes que, quase sempre, s existem na sua mente. Nessaperspectiva, nossas impresses no passam de construes mentais. Tomemos, por exemplo,as sensaes fsicas de frio e quente, de prazer e dor, ou impresses como amargo e doce,

    odores, cores etc., todas so originadas na mente humana.A natureza , pois, fruto da mente, e tende a assumir aspectos e contornos dasconcepes do sujeito que a observa. Se assim considerarmos, notamos o quanto o modelo

    3 O amlgama cultural (moral, filosofia, religio, cincias etc.) que d suporte ao conjunto de concepes,conceitos e pr-conceitos que o sujeito emprega para compreender e descrever a realidade.4 Maya a deusa hindu da Ilusao ou da Aparncia. Essa relao entre cincia e misticismo estmagnificamente explicitada nO Tao da Fsica, de Fritjof Capra.

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    hegemnico de educao, centrado no paradigma mecanicista clssico, nos distancia darealidade que se desvela aos que esto despertos. De fato, o rei est nu em pelo.

    Pesquisa e Ensino: as pontas do compasso

    Portanto, o dogma do determinismo universal foi superado. O universo no est maissubmetido soberania da ordem, ele campo de uma relao dialgica (ao mesmo tempoantagnica concorrente e complementar) entre a ordem, a desordem e a organizao (1998, p.18). Ao contrrio do que a velha cincia prega(va) preciso rever nossa maneira deobservar e interpretar os eventos da realidade, e dever da escola despertar o aluno para acompreenso desses novos parmetros.

    Cabe-lhe fornecer ao cidado novos culos, ou, pelo menos, fazer um upgrade de seuantiquado e obsoleto. Mas como revelar aos estudantes essa nova realidade se ela est presano passado e o professor, que aprendeu a ver a natureza com os culos que seus formadoreslhe deram, no substituiu suas lentes? Onde, ento, ele deve buscar novas lentes? A respostapode ser: deve busc-las em si mesmo e no seu real e verdadeiro desejo de reinventar suaprtica, e com isso a sua escola.

    Para isso so necessrias, pelo menos, duas aes concomitantes e imbricadas: aprimeira trata da formao continuada desse professor via de regra ele deve busc-la porsua prpria conta e a segunda consiste na mudana de sua propositura como profissional,isto , passar de professor-tarefeiro5 professor-pesquisador. necessrio, tambm, que esseprofessor adote uma filosofia metodolgica de base holstica. Uma metodologia holsticadeve ter na pedagogia de projetos onde a pesquisa a pedra de toque e natransdisciplinaridade moriniana6 seus eixos de ao propedutica, ainda que tais eixos no passem de aproximaes da complexidade presente no ato de construo de saberes econhecimentos.

    Talvez a soluo esteja em ele conseguir desenvolver um pensamento sistmico emvez do analtico. Essa mudana de foco implica em uma nova forma de ver e interagir com omundo. Segundo Capra (1997, p.41), anlise significa isolar alguma coisa a fim de entend-la; o pensamento sistmico significa coloc-la num contexto de um todo mais amplo. ParaPetraglia (s/d, p.50) o pensamento complexo o responsvel pela ampliao do saber. Se o pensamento for fragmentado, reducionista e mutilador, as aes tero o mesmo rumo,tornando o conhecimento cada vez mais simplista e simplificador, portanto, somente atravsde uma prtica reflexiva centrada no trinmio ao-reflexo-ao, pode o professor imprimiruma nova ordem em seu universo.

    Contudo, parece-nos difcil ao professor que compreende a realidade a partir dafragmentao e do reducionismo, agir em sala de aula com essa viso sistmica e holsticaque o perfil do novo profissional exige. Um bom comeo compreender-se como sujeito doconhecimento e, simultaneamente, objeto do conhecimento. Assim, aprendendo enquantoatua o professor utiliza a pesquisa e o ensino como as pontas de um compasso: uma o ponto

    de apoio para o outro. A pesquisa confere profundidade ao saber e segurana na ao - aponta seca do compasso, aquela que d a estabilidade ao instrumento -, enquanto o ensino ografite que traa sobre a superfcie em branco a expresso da mente, que molda oconhecimento apr(e)endido, seja numa circunferncia de crculo ou nos pontos queidentificam uma reta.

    5 Veja na pg. 7 nosso conceito para essa expresso.6 Sob o olhar de Edgar Morin ela me surge como a idia mais aproximada do conceito de complexidadeaplicado ao do professor durante o processo de ensino-aprendizagem.

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    Entre a pesquisa e a prtica, o confronto

    Estamos sempre buscando compreender os fenmenos que nos cercam atravs decomparaes, de analogias com sistemas cujos padres sejam conhecidos e cujas leis e regrassejam dominadas. A partir da elaboramos cenrios onde vamos analisar o comportamento domodelo diante de variaes determinadas e estabelecemos as relaes com o comportamentodo sistema real. Assim, construmos prottipos ou modelos prototpicos para testar nossashipteses e nesse processo fazemos inferncias, deduzimos, aprendemos...

    Como todo profissional, na sala de aula que o professor se confronta com adiversidade de situaes-problemas prprias de seu ofcio. Mas ao contrrio de outrostrabalhadores, seus obstculos materiais, suas inseguranas, suas incertezas pessoais, seusdilemas ntimos e todo o conjunto de fatores desestimulantes e desgastantes inerentes profisso, se refletem em suas decises como se ampliados por uma poderosa lente deaumento. So desafios que deve enfrentar, mas para os quais no foi efetivamente preparadoem sua base formativa. Principalmente se um professor em incio de carreira, da o costumede se dizer que

    [...] os professores vo desenvolvendo a sua prpria ao, mantendo umconstante ir e vir entre o que sabem e o que no sabem, entre o que tmde fazer e o que podem fazer, entre o que experimentaram anteriormentee a necessidade de introduzir inovaes no momento atual, entre o quehaviam previsto realizar e o que as condies de cada momento parecemaconselhar. E nesse contexto de incertezas que os dilemas aparecem.(ZABALZA, 2003. p.9)

    O dilema com o qual o professor atual se defronta est no paradigma7 emergente einovador (MORAES, 1997) - tambm chamado de Paradigma Holstico8-, centrado na visode totalidade, no conceito que tudo influencia tudo, que tudo est interligado como os

    buracos e ns de uma imensa rede de pesca ou como os fios de uma infinita teia de aranha; ena apropriao por parte da escola daquilo que o educador colombiano J. B. Torocognominou de cdigos da modernidade.

    Nesse novo cenrio mundial dispomos das TIC como instrumentos poderosos para aconstruo de conhecimentos e socializao da informao, e para desenvolver as habilidadese competncias exigidas pela nova sociedade planetria. As TIC so ferramentas bsicas efundamentais tanto na formao e qualificao profissional quanto na construo dacidadania, mas seu uso correto e adequado pelo professor exige uma qualificao que no fornecida pelas instituies acadmicas junto com o diploma. Assim, entendemos que aresistncia que os professores ainda apresentam, est por conta da credibilidade no mtodoque empregam ou do comodismo que ele lhe proporciona.

    O mtodo que nos referimos o do paradigma anterior, que propunha observar o

    Universo e o Homem como se fossem sistemas mecnicos, como mquinas compostas departes muito bem ajustadas e precisas como um relgio suo. Essa imagem, por se mostrarde fcil compreenso, mantm sua influencia at os dias atuais: veja-se as comparaescostumeiras de partes do corpo humano com determinados mecanismos criados pelo homem,como o crebro e o computador, por exemplo. Essa viso fragmentada do Universoprevaleceu por mais de trs sculos e ainda influencia nossas vidas, nossa percepo de

    7 Do grego Paradeigma = padro.8 Do grego Holos = todo

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    mundo, nossa cincia, nossa prtica pedaggica -a estrutura dos currculos e as disciplinasso, de certo modo, resultados desse processo-, e nossa produo intelectual -a forma queapresentamos esse e outros artigos, divididos em tpicos, tambm reflexo disso-.

    Contudo, o enfrentamento dessas mudanas sociais no to fcil quanto parece nodiscurso, pois se contrape com as concepes ainda prevalecentes, como o materialismodialtico de Marx e o positivismo de Conte. Para Marx as transformaes sociais seprocessam no pela mudana de idias e valores, mas marcadamente pela imposio defatores econmicos, ou seja, o leitmotiv da dinmica social est no Capital e no conflitogerado por ele. A influncia do materialismo marxista, expressa em frases do tipo: Luteitanto para chegar onde estou... ou Daqui no saio, daqui ningum me tira!, est de talforma cristalizada em nossa maneira de encarar o mundo que a maioria de ns tende a secolocar contra as mudanas tal como o banhista que, dentro dgua finca o p na areia,acreditando que a onda no ser capaz de arrast-lo. O indivduo nesse estado de apegoprefere a luta e o sofrimento a reconhecer o que a vida vem em ondas, como o mar.., comodiz a cano de Lulu Santos.

    Diante do conflito e da provocao geradas por tais mudanas, a atitude de muitosprofessores encarar o planejamento de sua aula como a agulha de uma bssola, ou seja,

    qualquer movimento que ele d a aula, a direo apontada deve ser, sempre, invariavelmente,a mesma. Entretanto, naquele espao conhecido por sala de aula, nada pode ser determinadoou previsto. E muito til seria se pudssemos, a exemplo do que acontece noutras profisses,construir simulaes e modelos do real, e a partir disso inferir uma seqncia deacontecimentos, fazer previses e preparar o sujeito para as surpresas do devir profissional deeducao.

    A tecnologia Informtica tem sido um poderoso auxiliar na construo de modelosvirtuais para as mais diversas atividades e profisses, mas ainda no se conseguiudesenvolver um software capaz de simular o ambiente de sala de aula e o complexo ato deeducar. Acredito que em breve teremos um software que, a exemplo de um game interativoou simulador, seja capaz de criar as interaes existentes nesse ambiente e auxiliarprofessores em formao a se prepararem para atuar melhor em suas aulas.

    Em praticamente todas as atividades os profissionais esto incorporando ocomputador e a Internet, se capacitando para utilizar essas novas ferramentas na sua prtica,aprendendo a extrair delas o mximo de satisfao, de rendimento e de otimizao com omnimo de esforo. Em contra partida, e paradoxalmente, os cursos de licenciatura e de pedagogia no estimulam essa prtica. Assim, o profissional egresso desses cursos sdescobre que no aprendeu a ensinar usando as TIC, e que no est preparado para lidar como computador e com a Internet como tecnologias pedaggicas, no exato instante do confrontocom elas. Por outro lado, o aluno apresenta tal intimidade com essa tecnologia e com todopotencial de construo de conhecimento que ela proporciona, que bem capaz de causarinveja no professor.

    Professor Tarefeiro e Professor Pesquisador: continuidade e ruptura

    Algumas profisses podem ser consideradas tarefeiras, isto , exigem que o sujeitocumpra determinada tarefa, num espao de tempo estipulado. Uma tarefa pode serconsiderada algumas vezes como castigo, diz-nos o Dicionrio Aurlio. Numa profissotarefeira a ao/reao dos indivduos em interao pode ser facilmente determinada, mas nocontexto de sala de aula quase nada pode ser previsto com segurana. Da que o professor que

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    insiste numa prtica tarefeira, estar fadado decepo de seus alunos e ao fracasso de suaao.

    O professor tarefeiro ignora que antes de entrar na escola a criana traz uma bagagemde saberes e conhecimentos; que j aprendeu uma quantidade enorme de coisas: aprendeu aidentificar objetos, pessoas, sons, cores e alguns smbolos; aprendeu que certas coisas lhe soprazerosas outras lhe aborrecem; aprendeu a demonstrar seus sentimentos; aprendeu a secomportar em certos lugares e/ou ocasies etc.

    Ele tambm acredita que o que faz dar aula, e que dando a matria cumpre com seupapel. Para ele o aprendizado do estudante no algo que ele, estudante faz, mas algo que lhe feito pelo professor, e se o aluno aprendeu ou no a culpa no foi sua. VERGANI (1991,p.13) assim se expressa em relao a idia de que o professord a matria:

    Curiosamente continuamos a dizer que damos a matria. At que pontoconsciente de que formulamos dar nos situamos no campo semntico dodom/ddiva/oferta, isto , no mago da intercomunicao ativa doconhecimento e da sensibilidade, simbolizada justamente pelo presenteda partilha que unifica?

    O professor-tarefeiro no somente enxerga sua atividade como uma tarefa, ouobrigao a ser cumprida com vistas remunerao ao fim e ao cabo da misso, comotambm apresenta uma prtica tarefeira em sala de aula, isto , impe sua aula, sua disciplina,sua filosofia com vistas a atribuir uma nota aos alunos no final da lio. A sala de aula passa,ento, a ser um canteiro de obras, e os alunos, cada um deper si, o pedreiro que deve erigir,com os tijolos e a argamassa que lhe d o professor, paredes perfeitas e casas bonitas. Porm,o grande problema que o professor se esquece que, ao contrrio do que acontece com oassalariado da construo civil - que no habita naquilo que edifica - seu aluno ir,irremediavelmente, morar no prdio que construir... E isso um caso para o professorrefletir.

    No reverso da moeda, o professor-pesquisador percebe que a complexidade do

    trabalho educativo deve-se, entre outras coisas, ao fato de que o ato de educar objetiva ouseja, intencional (re)produzir em cada indivduo valores prprios de sua cultura imaterial;valores construdos por uma coletividade que, muitas vezes, est distante no tempo e noespao do indivduo em foco. Compete-lhe levar seus aprendizes a ver/compreender arealidade; a expressar a realidade e expressar-se nela, e finalmente, a descobrir e assumir aresponsabilidade de ser um elemento de mudanas na realidade.

    Para educar com essa competncia o professor deve agir tal como o artista plsticoque, na eterna procura pela perfeio em seu trabalho, experimenta novas ferramentas epesquisa novas formas de expresso. Deve promover constantes revises em seus conceitos,em seus conhecimentos, em seus valores e suas atitudes. A habilidade reflexiva e acompetncia em pesquisa esto para esse professor como o martelo e o cinzel para o escultor,como a rgua e o esquadro para o engenheiro ou arquiteto.

    Senso crtico e esprito de pesquisa so duas ferramentas preciosas do instrumentalpedaggico que deve acompanhar a formao docente, no entanto, nos cursos de licenciatura,a maior preocupao do futuro graduado no o resultado de suas pesquisas, mas a obtenoda nota e a conseqente aprovao na disciplina. Por outro lado, o professor que empreendeuma linha de pesquisa, notadamente se dos quadros da Academia, ou quando estudante deps-graduao, busca a pesquisa para dar sossego a algumas de suas inquietaes subjetivas o reconhecimento profissional uma das principais-, pelo prazer que suas descobertas trazeme pela satisfao de compartilhar seus resultados.

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    Atuando na modernidade tecnolgica com a velha prtica pedaggica

    Nossa sociedade parece vida por novidades tecnolgicas e por informao. Podemosnotar com que rapidez e desembarao os mltiplos segmentos sociais incorporam uma novatecnologia, to logo ela esteja acessvel, observando a propagao do uso dos telefonescelulares, por exemplo. Paradoxalmente, a rede pblica de ensino, reflexo da sociedade naqual est inserida, no se tem mostrado to disposta em aplicar as novas tecnologias na salade aula, entretanto seriamos injustos se imputssemos escola toda a responsabilidade porsemelhante situao. Como sabemos, a maior parte desse nus cabe, sem embargo, spolticas pblicas afetas Educao, mormente em relao aos limitadores de recursos nasesferas municipal, estadual e federal, e s universidades, pois a formao inicial oferecidadeveria tender excelncia (GONALVES, 2000).

    Compete s instituies de formao de professores promover a integrao entre osavanos da cincia e a sociedade, com vistas s necessidades formativas do cidado e asexigncias profissionais do mercado, enquanto compete escola preparar o aluno paraenfrentar a complexidade que a vida lhe reserva. Contudo, elas prprias no esto aptas para

    lidar com essas mudanas, nem com as idias de auto-construo do conhecimento peloaluno e da contribuio da interao social para essa construo. Da que

    [...] as universidades mostram-se pouco preocupadas em proporcionaraos professores em formao, alm do domnio dos contedosespecficos e pedaggicos, uma viso das questes sociais que envolvemo processo educativo, ou das questes estruturais de nossa sociedade eseu conturbado e crtico momento socioeconmico-cultural, esquecendoainda os aspectos epistemolgicos dos conhecimentos com os quaselidam e procuram transmitir aos futuros professores.(Gonalves & Gonalves, pp. 122-3)

    H, porm, uma agravante nessa relao entre a formao e profissionalizao do professorcomo agente, a pedagogia como ao9 e a tecnologia como ferramenta10: nossa escola tateiaentre as mais diversificadas tendncias pedaggicas em busca daquela que melhor atenda aosanseios da sociedade, porm se esquece que nessa sociedade ps-moderna, o que lhe falta apercepo que os anseios e cobranas que ela deve atender no so os da comunidademunicipal, nem estadual e nem nacional, mas os da comunidade global onde est inserido oindivduo que ela deve preparar.

    No podemos esquecer que a educao um processo interativo entre o indivduo e omundo, e que dentro da escola que se tece o modelo de sociedade que queremos. Portanto,ao lado de procurar prover a escola dos recursos tecnolgicos necessrios, e de procurar portodos os meios estimular os professores a us-los, fundamental que os governos possam

    motiv-los uma educao cientfica e tecnolgica, com vistas a uma prtica acadmica naqual eles no apenas mobilizem os recursos cognitivos e as competncias em questo(PERRENOUD, 2000), mas tambm desenvolvam uma viso sistmica de Educao, de

    9 As teorias e metodologias com as quais se pretende dar ao graduando o amadurecimento que o ofcio exige,e que funcionam como embasamento de sua ao em sala de aula.10 Os instrumentos de diversas naturezas: livros, cartazes, transparncias, modelos, vdeo, calculadora,softwares, internet.

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    Universo e de Homem - o que denominamos de pedagogia holstica 11. Mas, para que aescola seja capaz de desenvolver essa nova cosmoviso - ou cosmoconcepo - ela precisaestar preparada para a modernidade, tanto nos aspectos da rede fsica quanto na ao de seuseducadores. Como afirma Imbernn (2000, p.7-8)

    Para educar realmente na vida e para a vida, para essa vida diferente, e

    superar desigualdades sociais, a instituio educativa deve superardefinitivamente os enfoques tecnolgicos, funcionalistas e burocratizantes, aproximando-se, ao contrrio de seu carter maisrelacional, mais dialgico, mais cultural-contextual e comunitrio, emcujo mbito adquire importncia a relao que se estabelece entre todasas coisas que trabalham dentro e fora da instituio.

    Os PCN, ao propor um trabalho educativo baseado no desenvolvimento decompetncias, convoca os educadores para que pensem a educao como um trabalho queobjetiva preparar o aluno como um todo, um ser composto de corpo e esprito, integrado atudo que o cerca e senhor de seu prprio processo de aquisio de informao e construode conhecimento. Por outro lado, a nova LDB (Lei 9.394, de 20/12/96) reafirma a condiode uma educao tecnicista, visando a formao profissional em detrimento da formaohumanstica, um ensino voltado para um mercado mais exigente em termos de qualidade dosseus profissionais. Enquanto um aponta para a pesquisa, o outro ordena a prtica.

    Temos, ento, o dilema-mor da educao atual: como o professor pode traar umplanejamento capaz de atender a multidiversidade presente na pesquisa com o centralismo daprtica em sala de aula? E mais: que habilidades deve ele adquirir para estar apto a responderadequadamente a complexidade que enfrenta no seu ofcio? Creio que algumas dessasrespostas se relacionam com outra questo, qual seja: como deve ser o ambiente pedaggicoideal para a converso da informao em conhecimento?

    Est mais do que claro que a sala de aula atual no se apresenta como o ambiente deaprendizagem ideal. Nesse particular, acredito que as ferramentas infotelecomunicacionais12 e

    os ambientes colaborativos de aprendizagem baseados em rede de computadores, ao trazerpara dentro da escola todo o universo de informaes at ento construdo pelo homem, ecoloc-lo disposio dos atores do processo educacional, podem possibilitar os recursosnecessrios para a edificao desse ambiente, enquanto promove um aportno compromissoda escola e do professor no desenvolvimento integral dos alunos.

    Decifra-me ou...: Aprendendo a lidar com o indeterminado

    Enquanto a cincia aponta para a convivncia dialgica com a incerteza, apresenta ateoria do caos, os processos no-deterministas e uma nova maneira de encarar a realidadecircundante, como a escola pode, afinal, lidar com essas novas informaes e concepesnum espao antiquado e tradicional como a sala de aula que ainda temos? Como atender assuas obrigaes mantendo-se ligada a um modelo de educao que privilegia a parte pelo

    11 Conceito apresentado por ns em 1993, no VI Curso de Especializao em Educao e ProblemasRegionais da UFPA, no trabalho de avaliao da disciplina Teoria e Prtica Docente, ministrada pela Profa.Ilda Estela Amaral de Oliveira.12 Devemos unir os profixos dos tres setores convergentes (informtica, telecomunicao e comunicao)em uma s palavra, que designa a conjuno de poderes estratgicos relecionados ao macrocampomultimdia? Infotelecomunicaces. (MORAES, 2001, p.14)

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    todo? Que contempla a clula sem perceber o rgo? Que v o crculo, mas no enxerga acircunferncia? Que prefere analisar a singularidade a enfrentar a complexidade13?

    Como o professor que foi educado em modelos culturais ou conceituaiscentralizadores ou reducionistas, formado por uma instituio acadmica especializada emanalisar o mundo em partes independentes (ao mesmo tempo que enxerga sua ao como seolhasse por um caleidoscpio: bonita, mas toda fragmentada), pode estar preparado paraapresentar aos seus alunos essa nova viso inte(g)rativa entre o mundo, a sociedade e anatureza? E mais: que conjunto de saberes profissionais deve ele levar consigo para estarhabilitado a lidar com os dilemas gerados pela complexidade, ao deixar as instituiesformadoras para iniciar sua carreira docente?

    No h uma resposta nica e definitiva para estas questes, da mesma forma que noh uma frmula para se equacionar o trabalho do professor em sala de aula. Mas, o fato deformularmos o problema j contribui para caminharmos em direo soluo. O fato queum professor, na real acepo da palavra, nunca estar pronto e acabado, pois como sujeito deuma sociedade em constante processo evolutivo, ele deve atender as demandas dessasociedade.

    Como sabemos,

    [...] a prtica educativa uma ao no-linear, complexa14

    por excelnciaque se relaciona com diversos fatores. Entre eles esto o mercado, adesvalorizao do magistrio, as condies de trabalho, acompetitividade, as formas de gesto, a democratizao do saber e anecessidade de formao de grupos de excelncia. Ou seja, h uma gamade interaes diversas, e adversas, de indeterminaes e de fenmenosaleatrios que caracterizam muito bem a complexidade do ato de ensinare construir conhecimento multidimensional. (VASCONCELOS, 2000.p.16).

    E na escola - esse espao deteriorado por sucessivas polticas governamentais indiferentesaos apelos dos sujeitos que nela vivem e apresentado, tantas vezes, pelo olhar do alto como

    lugar de incompetncia, de falta de criatividade, de comodismo-, se efetivam mltiplasredefinies das orientaes estatais e das determinaes estruturais (Idem, ibidem).Contudo este cenrio est sofrendo significativas alteraes por fora da entrada do

    computador e de sua fecunda consorte, a Internet, constituindo o que denominamos deInformtica Educativa ou, de forma mais apropriada, de Informtica aplicada Educao.Mas, se a recepo do novo por parte dos estudantes um reflexo de seu tempo, a grandemaioria dos professores ainda continua privilegiando a velha maneira como foram ensinados,reforando o velho ensino... (MORAES, 1997. p.16).

    Urge, pois, que o professor que est em sala de aula se conecte com essa novarealidade, aprenda a enxergar na natureza os novos elementos que a compe, que saibareconhecer o novo paradigma cientfico gerado com base na teoria da relatividade e nateoria da fsica quntica e em suas implicaes na filosofia da cincia e nas implicaes desta

    na rea educacional (op.cit., p.19); enfim, urge que o professor torne-se um cidadopolmata15. Mas onde ele vai buscar esse novo status quo a no ser atravs da formao

    13 A complexidade que aqui nos referimos tem o mesmo conceito expresso por Morin (2000) em algumas desuas obras, ou seja, complexidade o problema, o desafio, a crise; e, na medida que interage com essesfatores em busca da ordem e da harmonia, o homem sujeito e objeto do conhecimento.14 Do latim complexus, significa o que abrange muitos elementos.15Polmata (gr.:poli, muitos; mathe, aprender), pessoa de muitos aprendizados. Confira na referncia revistaSuperInteressante, na pg. 2 deste artigo

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    continuada com base numa atitude crtica, reflexiva e centrada na pesquisa e na relaodesses saberes com o desenvolvimento das tecnologias aplicadas educao?

    Concluses

    Desde o sculo XVI o bispo e pedagogo checo J. A. Comnio (1592-1670) apontava para a pesquisa quando advertia que a tarefa do professor ensinar solidamente, nosuperficialmente e apenas com palavras (1957, p.45), mas com exemplos prticos retiradosdo cotidiano; que o aprender deve acontecer com prazer, divertindo-se e jogando (idem,p.73). Comnio sugeria, ento, que se utilizassem as tecnologias da poca e insistia na idiaque nas escolas a formao deve ser universal (ide, p.145). Temos a quase meio milnio deconsideraes sobre a didtica e a discentia16 sem que, notadamente, a tenha escola atingidoessa excelncia.

    Contudo, podemos facilmente perceber que o desenvolvimento tecnolgico ocorridonas ltimas quatro ou cinco dcadas fez/faz nossa sociedade sofre mudanas considerveis,que se refletem nesse amlgama cultural que o complexo conjunto de regras morais, ticas,filosficas, religiosas e o produto cientifico e artstico de um povo, isto : todas as facetas do

    saber humano. Nesse redemoinho de transformaes enfrentadas pela nossa sociedade, aEducao assemelha-se a um barco capturado pelo vrtice, isto , encontra-se volteando beira do abismo que se abriu ngua, com a tripulao ainda sem saber o que fazer, maslutando desesperadamente para no afundar.

    Temos conscincia que para haver mudanas necessrio empreender uma foramuito grande para romper o estado de inrcia inicial, e que as mudanas no mbito daeducao tendem lentido das estalactites em formao. Entretanto, inaceitvel que aindaexistam elementos dentro do sistema promovendo resistncia e/ou engessamento, porinsegurana ante o dilema imposto pelo novo paradigma. Dilema este que pode sercomparado aquele proposto pela Esfinge a dipo: decifra-me ou te devorarei.

    Eis que a Esfinge tecnolgica promove a renovao, na medida em que devora osque no possuem a competncia necessria para domin-la. nessa perspectiva queImbernn (2000) aponta para a renovao da instituio e da profisso docente, diante doconfronto imposto a ambas pela sociedade globalizada. Sob esse enfoque, Perrenoud (1999,p.69) afirma que as competncias so construdas somente no confronto com verdadeirosobstculos, em um processo de projetos ou resoluo de problemas, ou seja, h enormediferena entre aprender e ter aprendido: a primeira dessas coisas est sempre no presenteativo, e a outra sempre no passado. O processo de aprender se verifica continuamente,infinitamente. (...) Aprendo ao mesmo tempo que opero, que atuo, ensina-nos Krishnamurti(1973, p.53).

    Aparentemente, a revoluo e a amplitude das mudanas produzida pelas TIC sequerforam pressentidas pelas instituies superiores de formao de professores e pela escolapblica, em que pese toda a pesquisa e produo de literatura que visa contribuir com uma

    educao para o desenvolvimento integral do ser humano. Parece-nos que tanto asinstituies formadoras num extremo quanto a escola no outro, ambas ainda no seencontram preparadas para abrir mo das cmodas e velhas, velhssimas, frmulas.

    Estamos convencidos que o modelo educacional vigente no Brasil est defasado, nosomente em relao quilo que a cincia j sabe sobre os processos cognitivos, sobre ofuncionamento do crebro e da mente humana, quanto em relao ao uso das tecnologiaspelos atores do processo educacional. Essas tecnologias permanecem quase inaproveitadas na

    16 Aprendizagem.

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    educao formal, o que para nos constitui um fator agravativo da maneira como instituiesoficiais e gestores da rea educativa lidam com a questo de formar um cidado capaz dedecifrar os enigmas da modernidade. Tal atitude configuraria o ato de fugir s suasresponsabilidades, de negar-se misso tacitamente assumida?

    Talvez, mas o que realmente importa que, ao deixar de considerar as modernasmdias como recursos pedaggicos, ao deixar de atualizar-se, ambas, Academia e Escolaafetam a empregabilidade e o futuro de milhes de pessoas. E isso, sim, muito grave!

    Belm, 26 de junho de 2004

    Referncias

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