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A Estética do Romantismo de Paolo d'Angelo Integrando uma colecção mais alargada de oito pequenos volumes, consagrados às ideias estéticas das grandes épocas culturais e literárias (da Antiguidade Clássica ao Séc. XX), este pequeno livro de Paolo d’Angelo constitui uma recomendável introdução ao pensamento estético do Romantismo europeu. Não é, por conseguinte, um livro para especialistas, pois "foi pensado para quem do romantismo e da sua estética sabe muito pouco ou nada", salienta o autor em nota preambular, prevendo alguma crítica da parte de parte de leitores muito informados. O livro inicia-se com uma panorâmica Introdução (pp. 11-34), consagrada a uma "Cronologia e Geografia da Estética Romântica". Relaciona-se, desde logo, o nascimento da consciência e sensibilidade do Romantismo, como categoria histórica, com uma estética autónoma, mais precisamente com o desenvolvimento da filosofia do idealismo alemão (dos irmãos Schlegel e de Schiller, de Fichte e Schelling, ou de Hegel), em estreita ligação com o pensamentos de alguns criadores (como Novalis, Jean Paul, Holderlin, Wordsworth ou Coleridge, entre outros) e também com o influente com o pensamento kantiano. O esforço é no sentido de precisar a enorme difusão de um termo e um conceito em múltiplas e correntes acepções, sendo igualmente necessário balizar, cronologicamente, o fenómeno romântico na primeira metade do séc. XIX, grosso modo, embora com significativos gérmenes nas últimas décadas da centúria precedente.

A Estética do Romantismo

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A Estética do Romantismo

de Paolo d'Angelo

Integrando uma colecção mais alargada de oito pequenos volumes, consagrados

às ideias estéticas das grandes épocas culturais e literárias (da Antiguidade

Clássica ao Séc. XX), este pequeno livro de Paolo d’Angelo constitui uma

recomendável introdução ao pensamento estético do Romantismo europeu.

Não é, por conseguinte, um livro para especialistas, pois "foi pensado para quem

do romantismo e da sua estética sabe muito pouco ou nada", salienta o autor em nota

preambular, prevendo alguma crítica da parte de parte de leitores muito informados.

O livro inicia-se com uma panorâmica Introdução (pp. 11-34), consagrada a uma "Cronologia e

Geografia da Estética Romântica". Relaciona-se, desde logo, o nascimento da consciência e

sensibilidade do Romantismo, como categoria histórica, com uma estética autónoma, mais

precisamente com o desenvolvimento da filosofia do idealismo alemão (dos irmãos Schlegel e de

Schiller, de Fichte e Schelling, ou de Hegel), em estreita ligação com o pensamentos de alguns

criadores (como Novalis, Jean Paul, Holderlin, Wordsworth ou Coleridge, entre outros) e também

com o influente com o pensamento kantiano. O esforço é no sentido de precisar a enorme

difusão de um termo e um conceito em múltiplas e correntes acepções, sendo igualmente

necessário balizar, cronologicamente, o fenómeno romântico na primeira metade do séc.

XIX, grosso modo, embora com significativos gérmenes nas últimas décadas da centúria

precedente.

Partindo de círculos filosóficos restritos da Alemanha, e difundindo-se em ritmos diferenciados

por vários países europeus, o Romantismo constituiu-se como profunda e alargada revolução de

toda a cultura europeia, como uma transformadora cosmovisão que coincide com o início da

Idade Moderna. A uma nova teoria da Arte e da Literatura correspondia também, por ex., uma

nova filosofia política ou da religião. No centro do pensamento estético romântico, está o

conceito de géniocriador individual. No novo gosto sublime, a imaginação do artista ou escritor

transcende os tradicionais limites da razão e sua a capacidade de expressão contraria os

classicizantes ditames da imitação.

O Cap. I, "A Arte entre História e Absoluto" (pp. 35-92), salienta aspectos como: a historização da

poesia e da arte neste período, concepção impeditiva de qualquer estética de regras canónicas; o

significado das oposições conceptuais antigo/moderno, ingénuo/sentimental e

clássico/romântico; o impacto do medievalismo e do orientalismo; a beleza da Poesia como

realização da verdade da natureza; a concepção da Arte como intuição ou revelação do Absoluto;

e ainda a configuração de uma nova mitologia, filosófica e pedagógica.

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Seguidamente, no Cap. II, "Categorias Estéticas" (pp. 93-140), analisam-se, entre outros

conceitos fundamentais da moderna estética: a crise das clássicas teorias miméticas da Arte, em

favor da ideia de criação; a ironia romântica, de cunho filosófico e natureza paradoxal, e não

apenas retórico-linguístico; a argúcia (Witz) e a cognição de analogias inesperadas da plenitude

infinita, dada em fragmentos instantâneos; o termo e conceito de génio, concebido como força

divina, instintiva e criadora; a concepção da Arte como expressão ou livre projecção subjectiva do

sentir de um sujeito criador; reinterpretação do conceito de Beleza através da reabilitação

do grotesco, colocado ao lado do sublime, do pitoresco ou do maravilhoso cristão.

O derradeiro Cap. III, "Poética e Crítica" (pp. 141-197), entre outros temas, aborda:

o romance como o grande género moderno que revolucionou a rígida poética classicista dos

géneros; o singular estatuto da crítica e da teoria literária, equiparadas à própria criação pelo seu

insubstituível trabalho reflexivo; ou a polémica anti-classicista, denegadora dos velhos princípios

canónicos, particularmente os que regulavam o modo dramático. Sublinha o interesse que a

estética romântica dedicava às artes da Pintura e da Música, bem como à poesia popular.

Consagra ainda atenção às Histórias da Literatura e das artes figurativas, que conheceram um

enormíssimo incremento na época romântica, configuradora de um modelo historiscista que

vigorou por longo tempo.

A obra encerra-se com uma Bibliografia fundamental e comentada (pp. 199-207), dividida em

dois apartados: no primeiro, indicação das "Fontes" ou literatura primária (textos da estética

romântica); no segundo, "Estudos sobre estética romântica". Não se pense que é tarefa fácil a

elaboração deste tipo de introduções, sobretudo quando o assunto da breve exposição tem a

complexidade do tema em análise. A creditar, por conseguinte, no haver do ensaísta italiano

está, entre outras qualidades, o facto de privilegiar as fontes primárias do fenómeno romântico

(literatura activa ou teorização estético-doutrinária), secundarizando a extensíssima bibliografia

passiva.

Trabalho realizado por: Maria ribeiro Nº12 8ºf