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A EUROPA NA CRISE DAS CULTURAS Pronunciada pelo Cardeal Ratzinger no Mosteiro de Subíaco em 01 de abril de 2005. Vivemos em um momento de grandes perigos e de grandes oportunidades para o homem e para o mundo; um momento que é também de grande responsabilidade para todos nós. Du rante o século passado as possibilidades do homem e seu domínio sobre a matéria aument aram de forma verdadeiramente impensável. No entanto, seu poder de dispor do mundo permitiu que sua capacidade de destruição alcançasse dimensões que, às vezes, nos horrori zam. Por isso, é espontâneo pensar na ameaça do terrorismo, esta nova guerra sem confi ns e sem fronteiras. O temor de que o Terror possa se apoderar de armas nucleare s ou biológicas não é infundado e permitiu que, dentro dos Estados de direito, se acud isse a sistemas de segurança semelhantes aos que antes existiam somente nas ditadu ras; mas, de todo modo, permanece a sensação de que todas estas precauções podem ser ins uficientes, pois não é possível e nem desejável um controle global. Menos visíveis, mas ne m por isso menos inquietantes, são as possibilidades que o homem adquiriu de manip ular a si próprio. Ele (o Homem) mediu as profundidades do ser, decifrou os compon entes do ser humano e, agora, é capaz, por assim dizer, de construir por si mesmo o homem, que já não vem ao mundo como dom do Criador, mas como um produto de nosso a tuar, produto que, portanto, pode inclusive ser selecionado segundo as exigências por nós mesmos definidas. Assim, já não brilha sobre o homem o esplendor de ser imagem de Deus, que é o que confere sua dignidade e inviolabilidade, mas somente o poder d as capacidades humanas. Não é mais do que a imagem do homem, mas, de que homem? A isso tudo se acrescenta os grandes problemas planetários: a desigualdade na repa rtição dos bens da terra; a pobreza crescente; o esgotamento da Terra e de seus recu rsos; a fome; as enfermidades que ameaçam o mundo todo e o choque de culturas. Tud o isso nos mostra que o aumento de nossas possibilidades não teve como correspondênc ia um desenvolvimento equivalente de nossa energia moral. A força moral não cresceu na mesma medida que o desenvolvimento da ciência, mas antes, diminuiu, porque a me ntalidade técnica encerra a moral no âmbito subjetivo e, pelo contrário, necessitamos de uma moral pública, uma moral que saiba responder às ameaças que estão sobre a existênci a de todos nós. O verdadeiro e maior perigo deste momento está justamente neste desequilíbrio entre as possibilidades técnicas e a energia moral. A segurança que precisamos como pressu posto de nossa liberdade e dignidade não pode vir de sistemas técnicos de controle, mas que somente pode surgir da força moral do homem: aonde esta força faltar ou não fo r suficiente o poder que o homem tem se transformará cada vez mais em poder de des truição. É certo que existe hoje um novo moralismo cujas palavras chaves são justiça, paz, conse rvação da criação, palavras que reclamam valores essenciais e necessários para nós. No en o, tal moralismo resulta vago e cai, assim, quase que inevitavelmente, na esfera político-partidário. É sobretudo uma pretensão dirigida aos demais e não um dever de noss a vida cotidiana. De fato, o que significa justiça? Quem a define? O que pode prod uzir a paz? Vimos nas últimas décadas em nossas ruas e em nossas praças como um pacifi smo pode se desviar em direção a um anarquismo destrutivo e ao terrorismo. O moralis mo político dos anos 70, cujas raízes certamente não estão mortas, foi um moralismo com uma direção errada, pois estava privado de racionalidade serena e, em última instância, colocava a utopia política acima da dignidade do indivíduo, mostrando que podia cheg ar a desprezar o homem em nome de grandes objetivos. O moralismo político, tal como o vivemos e ainda hoje estamos vivendo, não só não abre c aminho a uma regeneração, mas que a bloqueia. E o mesmo se pode dizer de um cristian ismo e de uma teologia que reduzem o cerne da mensagem de Jesus o Reino de Deus  ao s valores do Reino, identificando esses valores com as grandes palavras-chave do m oralismo político, e proclamando-as, ao mesmo tempo, como síntese das religiões. Logo, esquece-se, assim, de Deus, apesar de ser Ele o sujeito e a causa do Reino de D eus. Em seu lugar ficam grandes palavras (e valores) que se prestam a qualquer t

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