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A EVIDENCIAÇÃO DAS DEMONSTRAÇÕES CONTÁBEIS: UMA ANÁLISE DAS MODIFICAÇOES PROVOCADAS PELA LEI 11.638/07 APLICÁVEIS AOS CLUBES DE FUTEBOL QUE DISPUTAM A SÉRIE A - 2009 Jorge Ribeiro de Toledo Filho (FURB) [email protected] ANANIAS FRANCISCO DOS SANTOS (FURB) [email protected] Os clubes de futebol no Brasil, a partir da publicação da Lei 10.672/2003 foram obrigados a publicarem as demonstrações contábeis na forma definida na Lei 6.404/76 (Lei das Sociedades Anônimas), depois de auditadas por auditores independenttes. Em 28 de dezembro de 2007 foi promulgada a Lei nº 11.638/07, que alterou, revogou e introduziu novos dispositivos à Lei 6404/76 provocando importantes modificações na forma de elaboração das demonstrações contábeis das entidades desportivas, visando adequar às normas ao processo de convergência das práticas contábeis brasileiras com aquelas constantes das normas internacionais de contabilidade. Este trabalho tem como objetivo verificar se os clubes de futebol no Brasil que disputam a Série A - 2009 evidenciam nas suas demonstrações contábeis as alterações provocadas pela Lei 11.638/07 aplicáveis as entidades desportivas. A metodologia utilizada é a análise documental das demonstrações contábeis do período de 2008 de onze clubes da Série A do campeonato brasileiro de 2009 que fazem parte da amostra. Concluiu-se que, embora tenha havido um esforço dos agentes normativos para padronizar as informações contábeis dos clubes, atualizando a Lei 6.404/76 por meio da Lei 11.638/07 com o objetivo de facilitar o processo de convergência das práticas contábeis adotadas no Brasil com aquelas constantes das normas internacionais de contabilidade, ainda prevalece à diversidade de tratamentos contábeis para eventos semelhantes entre os clubes de futebol, é possível afirmar ainda que persiste o problema da falta de comparabilidade entre as demonstrações contábeis dos clubes de futebol, comprometendo a transparência o que dificulta análises e estudos sobre o tema. Palavras-chaves: Evidenciação Contábil; Demonstrações Contábeis; Clubes de Futebol; XXX ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUÇÃO Maturidade e desafios da Engenharia de Produção: competitividade das empresas, condições de trabalho, meio ambiente. São Carlos, SP, Brasil, 12 a15 de outubro de 2010.

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A EVIDENCIAÇÃO DAS

DEMONSTRAÇÕES CONTÁBEIS: UMA

ANÁLISE DAS MODIFICAÇOES

PROVOCADAS PELA LEI 11.638/07

APLICÁVEIS AOS CLUBES DE

FUTEBOL QUE DISPUTAM A SÉRIE A -

2009

Jorge Ribeiro de Toledo Filho (FURB)

[email protected]

ANANIAS FRANCISCO DOS SANTOS (FURB)

[email protected]

Os clubes de futebol no Brasil, a partir da publicação da Lei

10.672/2003 foram obrigados a publicarem as demonstrações

contábeis na forma definida na Lei 6.404/76 (Lei das Sociedades

Anônimas), depois de auditadas por auditores independenttes. Em 28

de dezembro de 2007 foi promulgada a Lei nº 11.638/07, que alterou,

revogou e introduziu novos dispositivos à Lei 6404/76 provocando

importantes modificações na forma de elaboração das demonstrações

contábeis das entidades desportivas, visando adequar às normas ao

processo de convergência das práticas contábeis brasileiras com

aquelas constantes das normas internacionais de contabilidade. Este

trabalho tem como objetivo verificar se os clubes de futebol no Brasil

que disputam a Série A - 2009 evidenciam nas suas demonstrações

contábeis as alterações provocadas pela Lei 11.638/07 aplicáveis as

entidades desportivas. A metodologia utilizada é a análise documental

das demonstrações contábeis do período de 2008 de onze clubes da

Série A do campeonato brasileiro de 2009 que fazem parte da amostra.

Concluiu-se que, embora tenha havido um esforço dos agentes

normativos para padronizar as informações contábeis dos clubes,

atualizando a Lei 6.404/76 por meio da Lei 11.638/07 com o objetivo

de facilitar o processo de convergência das práticas contábeis

adotadas no Brasil com aquelas constantes das normas internacionais

de contabilidade, ainda prevalece à diversidade de tratamentos

contábeis para eventos semelhantes entre os clubes de futebol, é

possível afirmar ainda que persiste o problema da falta de

comparabilidade entre as demonstrações contábeis dos clubes de

futebol, comprometendo a transparência o que dificulta análises e

estudos sobre o tema.

Palavras-chaves: Evidenciação Contábil; Demonstrações Contábeis;

Clubes de Futebol;

XXX ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUÇÃO Maturidade e desafios da Engenharia de Produção: competitividade das empresas, condições de trabalho, meio ambiente.

São Carlos, SP, Brasil, 12 a15 de outubro de 2010.

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A EVIDENCIAÇÃO DAS DEMONSTRAÇÕES CONTÁBEIS: UMA ANÁLISE DAS

MODIFICAÇOES PROVOCADAS PELA LEI 11.638/07 APLICÁVEIS AOS CLUBES

DE FUTEBOL QUE DISPUTAM A SÉRIE A - 2009

1. Introdução

Em 28 de dezembro de 2007 foi promulgada a Lei nº 11.638/07, que alterou, revogou

e introduziu novos dispositivos à Lei das Sociedades por Ações, notadamente em relação ao

capítulo XV, sobre matéria contábil, que entrou em vigor a partir do exercício que se iniciou

em 1º de janeiro de 2008. A Lei 11.638/07 tem por objetivo atualizar a lei 6.404/76 visando

possibilitar o processo de convergência das práticas contábeis adotadas no Brasil com aquelas

constantes das normas internacionais de contabilidade e permitir que novas normas e

procedimentos contábeis sejam expedidos pelo Comitê de Pronunciamentos Contábeis.

Algumas alterações foram aplicadas a partir do início do exercício de 2008, enquanto outras

dependem de normatização por parte dos órgãos reguladores.

Dentre as modificações provocadas pela Lei 11.638/07 aplicáveis aos clubes de

futebol cita-se:

Substituição da demonstração das origens e aplicações de recursos pela

demonstração dos fluxos de caixa;

b) Criação do subgrupo de Intangível, no ativo permanente;

c) o uso de estimativas é requerido para contabilizar certos ativos, passivos e

transações;

d) Obrigatoriedade de análise periódica quanto à capacidade de recuperação

dos valores registrados no ativo do clube (“impairment”);

e) Avaliação e conclusão pela não necessidade de registro do Ajuste a Valor

Presente – AVP, para os ativos e passivos de longo prazo e, de curto prazo

quando aplicável.

Diante dessas alterações provocadas e que são aplicáveis aos clubes de futebol

questiona-se: Os clubes de futebol no Brasil que disputam a Série A-2009 adotam tratamento

contábil uniforme e de acordo com as alterações provocadas pela Lei 11.638/07 para os

eventos relacionados á publicação das demonstrações contábeis após 1º de janeiro de 2008?

Este trabalho tem como objetivo verificar se os clubes de futebol no Brasil que disputam

a Série A – 2009 evidenciam nas suas demonstrações contábeis as alterações provocadas

pela Lei 11.638/07 aplicáveis as entidades desportivas.

Quanto ao objetivo, esta pesquisa classifica-se como descritiva. São típicas desse tipo

de pesquisa, aquelas que objetivam estudar as características de um grupo, o que é o caso

desta investigação.

Quanto à abordagem do problema esta pesquisa classifica-se como qualitativa. Trata-

se de uma pesquisa qualitativa pelo fato de os dados pesquisados serem analisados com certa

profundidade, e não se utilizar instrumentos estatísticos, tanto na coleta quanto no tratamento

dos dados.

Quanto ao procedimento, esta pesquisa classifica-se como documental, sendo

realizados levantamentos de fontes secundárias, ou seja, as demonstrações contábeis/2008 dos

clubes de futebol que participam da Série A-2009, por meio dos respectivos sites. Das

demonstrações contábeis, foram coletados e analisados os dados para atender aos objetivos da

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pesquisa. A população pesquisada é composta pelos 20 (vinte) clubes que atualmente

disputam a Série-2009. Desta população utilizou-se para amostra apenas 11 (onze) clubes.

Este trabalho justifica-se por abordar aspectos diferentes, mas que se inter-relacionam,

que devem ser considerados na etapa que trata da relevância da pesquisa, dentre eles citamos:

o aspecto teórico, ou seja, a relevância do tema para a comunidade científica, pois ao

demonstrar a importância da evidenciação das alterações provocadas pela Lei 11.638/07

aplicável aos clubes de futebol, relativas à elaboração das demonstrações contábeis acredita-

se que esta contribuição proporcionará um melhor entendimento sobre este tema.

Quanto ao aspecto empírico ou prático, está associado aos benefícios da pesquisa para

o cidadão comum tais como: os torcedores, os sócios, os profissionais que atuam no futebol e

a sociedade de modo geral, na medida em que percebem a importância da evidenciação das

informações nas demonstrações contábeis dos clubes de futebol.

Outro aspecto que justifica esta pesquisa está relacionado com a importância do

resultado da pesquisa para os clubes envolvidos, pois fornece informações que, quando bem

utilizadas, facilitará à gestão no que diz respeito ao controle financeiro e econômico, além de

dar transparência aos atos administrativos, refletindo na confiança e o respeito dos torcedores

que irá apoiá-los proporcionando maior adesão dos mesmos para se tornarem sócios do clube.

Torna-se relevante também, ao considerar as poucas pesquisas realizadas no Brasil que

abordam evidenciação das informações nas demonstrações contábeis segundo a Lei

11.638/07.

2. Fundamentação teórica

Para o desenvolvimento da fundamentação teórica, inicialmente apresenta-se o

conceito de evidenciação, em seguida cita-se os aspectos legais dos clubes de futebol

relacionados com às Demonstrações Contábeis. Por último serão abordados as características

básicas e os objetivos do Comitê de Pronunciamento Contábeis e seus procedimentos técnicos

relacionados às alterações provocadas pela Lei 11.638/07.

2.1 Conceitos de evidenciação (disclousure)

A palavra evidenciar significa, de acordo com o dicionário da língua portuguesa de

Aurélio Buarque de Holanda, tornar evidente, mostrar com clareza. A palavra divulgar,

segundo o mesmo dicionário, significa tornar público ou notório; publicar, propagar, difundir.

Uma das funções da contabilidade é fornecer informações que tornem claras e

evidentes a situação financeira e econômica dos clubes de futebol, além de satisfazerem a

expectativas dos usuários externos tais como: governo, sócio, investidores, torcedores e a

sociedade de modo geral.

Iudícibus (2000, p. 121) afirma que a evidenciação é um compromisso inalienável da

Contabilidade para com os seus usuários e para com os seus próprios objetivos realçando que:

As formas de evidenciação podem variar, mas a essência é sempre a mesma:

apresentar informação quantitativa e qualitativa de maneira ordenada, deixando o

menos possível de fora os demonstrativos formais, a fim de propiciar uma base

adequada de informação para o usuário.

Na opinião de Neto (1998, p. 10) “o conhecimento é fator primordial para que se possa

tomar alguma decisão. Esse conhecimento se dá através de informações e da forma pela qual

elas são evidenciadas”. Na contabilidade há diversas formas para evidenciar uma informação,

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proporcionando ao gestor de qualquer entidade, seja ela com ou sem fins lucrativos, por meio

das demonstrações contábeis, informações relevantes e oportunas para a tomada de decisão.

Aquino e Santana (1992, p. 15) definem evidenciação como sendo “divulgação com clareza,

divulgação em que se compreende de imediato o que está sendo comunicado”.

Os elementos usuais de evidenciação contábil mais comumente utilizados na literatura

são: A forma e a disposição das Demonstrações contábeis; as informações entre parênteses; as

Notas Explicativa; os quadros e demonstrações suplementares; o Parecer dos auditores

independentes; o Relatório da administração; e os Relatórios Periódicos.

Falcão (1995), Dantas et al. (2004), Ponte e Oliveira (2004) e Procianoy e Rocha

(2002) definem a evidenciação ou Disclousure como o processo de fornecer informações

claras e suficientemente detalhadas, para que os leitores dos demonstrativos contábeis possam

conhecer melhor a entidade principalmente no que diz respeito às atividades desenvolvidas,

aos riscos a que está sujeita, à sua situação patrimonial e financeira, à eficácia na gestão dos

recursos disponíveis e ao potencial de geração de resultados futuros.

Ainda nesse contexto, autores como Bushman e Smith (2003) realizaram estudo da

literatura relacionada à evidenciação contábil das empresas e seus impactos no ambiente

econômico. Estes autores apresentaram as principais implicações do aumento de qualidade na

evidenciação das informações: identificação de oportunidades de investimento no mercado;

alocação de recursos em projetos benéficos para as empresas, e afastamento daqueles que

beneficiam apenas os gestores em detrimento dos proprietários de capital; prevenção á

fraudes; e redução de assimetria de informações entre investidores.

Diante dos conceitos de disclousure e pesquisas apresentadas sobre o tema, Rezende et

al. (2007) resume os efeitos do aumento do nível de evidenciação da seguinte forma: redução

da assimetria da informação entre os agentes do mercado; maior interesse na empresa para

analista de mercado, trazendo maior visibilidade à empresa; redução do custo de capital para a

empresa; e maior transparência na prestação de contas por parte dos gestores.

No Brasil, os clubes de futebol necessitam criar condições favoráveis ao ingresso de

investidores privados e à transição para o regime empresarial, processo que já ocorreu na

Europa. Aragaki (2002, p. 1) apresenta a atração de investidores como alternativa aos clubes

brasileiros, ressaltando a importância da divulgação contábil:

Contudo, os investidores têm surgido, ainda que de forma insipiente [...] Nesses casos,

mais do que nunca a boa transparência nos números contábeis daria base para o início

de boas negociações para os clubes brasileiros em dificuldades financeiras.

Pinto (2004) também destaca que a maioria dos clubes brasileiros são pessoas jurídicas

fechadas, cujas informações contábeis são desconhecidas do público. Isto dificulta a análises

por parte do mercado sobre o potencial desses negócios no país. Tais informações seriam de

grande valia para orientar investidores locais e estrangeiros que pretendem investir no futebol

brasileiro.

Importante frisar que a maioria dos clubes brasileiros são associações desportivas, ou

seja, entidades sem fins lucrativos o que de certa forma inibe investimentos privados no

sentido de solucionar a situação econômica e financeira destes. Uma das soluções seria a

transformação destes clubes em empresas, experiência que teve sucesso com os clubes

europeus. A grande dificuldade destes clubes em se transformarem em empresas está

mudança cultural de administração, ou seja, sair de um modelo tradicional, onde o gestor não

é obrigado a prestar contas à sociedade, para um modelo mais evoluído, onde a uma rigorosa

fiscalização por parte das autoridades e um aumento da profissionalização da administração,

pois se busca conciliar os lucros e a performance nas disputas em campo.

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Mesmo sendo associações, é importante que os clubes disponibilizem informações

claras e transparentes dos atos administrativos dos seus gestores, permitindo que os sócios e

os torcedores dos clubes tenham acesso a fontes de informação para avaliar os resultados

obtidos pela administração, bem como conhecer a situação econômica e financeira.

Diante do exposto acima, percebe-se a importância da divulgação contábil para os

clubes, como ferramenta de análise da situação econômica e financeira e do desempenho dos

gestores, a ser utilizada pelos usuários externos (investidores, sócios, torcedores, governo,

imprensa, etc). Com o objetivo de aumentar a qualidade da evidenciação contábil dos clubes

de futebol que disputam a série A-2009, foi publicada a Lei 11.638/07 que alterou e revogou

alguns artigos da Lei 6.404/76 (Lei das Sociedades por Ações) aplicáveis aos clubes de

futebol.

2.2 Aspectos legais e os clubes de futebol

Em 15 de dezembro de 1976 foi aprovada a Lei 6.404 conhecida como a Lei das

Sociedades por Ações, que contempla os aspectos relativos à escrituração contábil, bem como

à elaboração e publicação das demonstrações contábeis. Os artigos 176 a 186 enumeram as

peças contábeis que devem ser elaboradas pelas sociedades, pelo menos uma vez a cada

período de 12 meses, podendo este período coincidir ou não com o ano civil. Esta Lei

estabelece a obrigatoriedade de publicação das seguintes demonstrações:

Balanço Patrimonial;

Demonstração do Resultado do Exercício;

Demonstrações das Origens e Aplicações de Recursos;

Demonstração de Lucros ou Prejuízos Acumulados;

Demonstrações das Mutações do Patrimônio Líquido.

Outra Lei importante para o futebol brasileiro foi a chamada Lei Zico (Lei 8.672/93)

tinha como objetivo legislar sobre a participação do setor privado no esporte; estabeleceu a

atuação da Justiça Desportiva e possibilitou aos clubes transformarem-se em sociedades

comerciais, com o objetivo de facilitar o investimento privado no esporte. A principal

novidade apresentada por esta lei foi à possibilidade dos clubes serem gerenciados por

entidades com fins lucrativos e foi também o embrião da intenção do governo de transformar

os clubes em empresas. Esta lei não foi bem aceita pelos dirigentes de clubes na época, visto

que o enquadramento neste novo conceito eliminaria uma série de vantagens fiscais que os

clubes possuíam.

Tendo em vista a baixa aderência dos clubes a Lei Zico, foi lançada em 1998, a Lei

Geral sobre os Desportos, também chamada de Lei Pelé (Lei 9.615/98). Esta lei destaca a

concretização da proposta de implementação do clube empresa, num período de dois anos e a

extinção do passe. Os clubes poderiam firmar contratos com jogadores por eles formado até a

idade de 23 anos, momento em que o atleta adquiriria os direitos sobre o seu passe, podendo

firmar novos compromissos com qualquer outro clube. Outra polêmica nesta lei foi à

obrigatoriedade dos clubes de futebol se transformarem em empresas. No entanto, esse

período de adaptação dos clubes gerou muita insatisfação pelos dirigentes dos clubes, como

forma de minimizar os conflitos e acalmar os ânimos foi editada a Lei 9.940/99, que alargou o

prazo para três anos.

Em 2003 foi publicada a Lei 10.672/03 conhecida como a Lei da “Moralização do

Futebol”que trouxe a obrigatoriedade da aprovação das contas em assembléia geral dos

associados. Outro ponto a destacar foi a necessidade de publicar, em jornais de grande

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circulação, as demonstrações contábeis de cada período, devidamente aprovadas por auditores

independentes. Por último, um dos pontos marcantes da lei é a responsabilização dos

dirigentes em caso de má administração dos clubes.

Esta Lei introduziu no texto da Lei Pelé (Lei 9.615/98), o artigo 46-A, em que as

entidades de prática desportiva, ou seja, os clubes de futebol envolvidos em qualquer

competição de atletas profissionais, independentemente da forma jurídica adotada, ficam

obrigados a “elaborar e publicar, até o último dia útil do mês de abril, suas demonstrações

contábeis na forma definida pela Lei 6.404/76, após terem sido auditadas por auditores

independentes”.

O Conselho Federal de Contabilidade, cumprindo seu papel de normatizador na área

contábil aprovou em 2004, a Resolução 1.005, a NBC T 10.13, que trata dos aspectos

contábeis específicos em entidades desportivas profissionais. A importância dessa norma foi

disciplinar e padronizar critérios e procedimentos específicos de avaliação, de registros

contábeis e de estruturação das demonstrações contábeis das entidades de futebol profissional

e demais práticas desportivas.

Em 28 de dezembro de 2007 foi promulgada a Lei nº 11.638/07, que altera, revoga e

introduz novos dispositivos à Lei das Sociedades por Ações, notadamente em relação ao

capítulo XV, sobre matéria contábil, que entra em vigor a partir do exercício que se inicia em

1º de janeiro de 2008. Essa Lei teve, principalmente, o objetivo de atualizar a lei societária

brasileira para possibilitar o processo de convergência das práticas contábeis adotadas no

Brasil com aquelas constantes das normas internacionais de contabilidade e permitir que

novas normas e procedimentos contábeis sejam expedidos pela Comissão de Valores

Mobiliários em consonância com os padrões internacionais de contabilidade. Algumas

alterações foram aplicadas a partir do início do exercício de 2008, enquanto outras dependem

de normatização por parte dos órgãos reguladores.

Dentre as modificações provocadas pela Lei 11.638/07 que aplicáveis aos clubes de

futebol podem ser sumariadas como segue: a) Substituição da demonstração das origens e

aplicações de recursos pela demonstração dos fluxos de caixa; b) Criação do subgrupo de

Intangível, no ativo permanente; c) o uso de estimativas é requerido para contabilizar certos

ativos, passivos e transações; d) Obrigatoriedade de análise periódica quanto à capacidade de

recuperação dos valores registrados no ativo do clube (“impairment”); e) Avaliação e

conclusão pela não necessidade de registro do Ajuste a Valor Presente – AVP, para os ativos e

passivos de longo prazo e, de curto prazo quando aplicável.

2.3 Comitê de pronunciamentos contábeis

O Comitê de Pronunciamentos Contábeis (CPC) foi idealizado a partir da união de

esforços e comunhão de objetivos das seguintes entidades: ABRASCA; APIMEC

NACIONAL; BOVESPA; conselho Federal de Contabilidade; FIPECAFI; e IBRACON. Foi

criado em função das necessidades de convergência internacional das normas contábeis

(redução de custo de elaboração de relatórios contábeis, redução de riscos e custo nas análises

e decisões, redução de custo de capital);

- centralização na emissão de normas dessa natureza (no Brasil, diversas entidades o fazem) e

representação e processo democráticos na produção dessas informações (produtores da

informação contábil, auditor, usuário, intermediário, academia, governo).

Criado pela Resolução CFC nº 1.055/05, o CPC tem como objetivo o estudo, o preparo

e a emissão de Pronunciamentos Técnicos sobre procedimentos de Contabilidade e a

divulgação de informações dessa natureza, para permitir a emissão de normas pela entidade

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reguladora brasileira, visando à centralização e uniformização do seu processo de produção,

levando sempre em conta a convergência da Contabilidade Brasileira aos padrões

internacionais.

Suas principais características básicas são:

O CPC é totalmente autônomo das entidades representadas, deliberando por

2/3 de seus membros;

O Conselho Federal de Contabilidade fornece a estrutura necessária;

As seis entidades compõem o CPC, mas outras poderão vir a ser convidadas

futuramente;

Os membros do CPC, dois por entidade, na maioria Contadores, não auferem

remuneração.

Além dos 12 membros atuais, serão sempre convidados a participar representantes dos

seguintes órgãos: Banco Central do Brasil; Comissão de Valores Mobiliários (CVM);

Secretaria da Receita Federal; e Superintendência de Seguros Privados (SUSEP).

2.3.1 Pronunciamento Técnico CPC 01 – redução ao valor recuperável de ativos

O objetivo deste Pronunciamento Técnico é definir procedimentos visando a assegurar

que os ativos não estejam registrados contabilmente por um valor superior àquele passível de

ser recuperado por uso ou por venda. Caso existam evidências claras de que ativos estão

avaliados por valor não recuperável no futuro, a entidade deverá imediatamente reconhecer a

desvalorização por meio da constituição de provisão para perdas. O Pronunciamento também

define quando a entidade deve reverter referidas perdas e quais divulgações são necessárias.

Este Pronunciamento é de natureza geral e se aplica a todos os ativos relevantes

relacionados às atividades industriais, comerciais, agropecuárias, minerais, financeiras, de

serviços e outras. Estende-se aos ativos dos balanços utilizados para equivalência patrimonial

e consolidação total ou proporcional.

2.3.2 Pronunciamento Técnico CPC 03 – demonstração do fluxo de caixa

Este Pronunciamento fornece informação acerca das alterações históricas de caixa e

equivalentes de caixa de uma entidade por meio de demonstração que classifique os fluxos de

caixa do período por atividades operacionais, de investimento e de financiamento. A entidade deve elaborar demonstração dos fluxos de caixa de acordo com os requisitos

deste Pronunciamento e apresentá-la como parte integrante das suas demonstrações contábeis

divulgadas ao final de cada período.

Os usuários das demonstrações contábeis se interessam em conhecer como a entidade gera

e usa os recursos de caixa e equivalentes de caixa, independentemente da natureza das suas

atividades, mesmo que o caixa seja considerado como produto da entidade, como é o caso de

instituição financeira. As entidades necessitam de caixa essencialmente pelas mesmas razões, por

mais diferentes que sejam as suas principais atividades geradoras de receita. Elas precisam dos

recursos de caixa para efetuar suas operações, pagar suas obrigações e prover um retorno para

seus investidores. Assim sendo, este Pronunciamento requer que todas as entidades apresentem

uma demonstração dos fluxos de caixa.

2.3.3 Pronunciamento Técnico CPC 04 – Ativo Intangível

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O objetivo do presente Pronunciamento Técnico é o de definir o tratamento contábil dos

ativos intangíveis que não são abrangidos especificamente em outro Pronunciamento. Este

Pronunciamento estabelece que uma entidade deve reconhecer um ativo intangível apenas se

determinados critérios especificados neste Pronunciamento forem atendidos. O Pronunciamento

também especifica como mensurar o valor contábil dos ativos intangíveis, exigindo divulgações

específicas sobre esses ativos.

O presente Pronunciamento aplica-se à contabilização de ativos intangíveis, exceto:

ativos intangíveis dentro do alcance de outro pronunciamento;

ágio pago por expectativa de rentabilidade futura (goodwill ou fundo de comércio)

surgido na aquisição de investimento avaliado pelo método de equivalência

patrimonial ou decorrente de combinação de negócios;

ativos financeiros, que atendam à definição de Instrumentos Financeiros;

arrendamentos mercantis dentro do alcance de outro pronunciamento;

direitos de exploração de recursos minerais e gastos com a exploração ou o

desenvolvimento e a extração de minérios, petróleo, gás natural e outros recursos

exauríveis similares;

ativos intangíveis de longo prazo, classificados como mantidos para venda, ou

incluídos em um grupo de itens que estejam classificados como mantidos para

venda;

ativos fiscais diferidos;

ativos decorrentes de benefícios a empregados; e

custos de aquisição diferidos e ativos intangíveis resultantes dos direitos

contratuais de seguradora segundo contratos de seguro. No caso dos ativos

intangíveis, mesmo relacionados a contratos de seguro, os requerimentos de

divulgação contidos neste Pronunciamento são aplicáveis (itens 118 a 128).

3. Metodologia

Quanto ao objetivo, esta pesquisa classifica-se como descritiva. São típicas desse tipo

de pesquisa, aquelas que objetivam estudar as características de um grupo, o que é o caso

desta investigação, ou seja, pretende-se verificar se os clubes de futebol que disputam a Série

A – 2009 evidenciam nas suas demonstrações contábeis as alterações provocadas pela Lei

11.638/07 aplicáveis as entidades desportivas. Quanto à abordagem do problema esta pesquisa

classifica-se como qualitativa. Trata-se de uma pesquisa qualitativa pelo fato de os dados

pesquisados serem analisados com certa profundidade, e não se utilizar instrumentos

estatísticos, tanto na coleta quanto no tratamento dos dados.

Quanto ao procedimento, esta pesquisa classifica-se como documental, sendo

realizados levantamentos de fontes secundárias, ou seja, as demonstrações contábeis/2008 dos

clubes de futebol que participam da Série A-2009, por meio dos respectivos sites.

Das demonstrações contábeis, foram coletados e analisados os dados para atender aos

objetivos da pesquisa. A população pesquisada é composta pelos 20 (vinte) clubes que

atualmente disputam a Série-2009, conforme o Quadro I.

Náutico/PE Sport/PE Vitória/BA

Goiás/GO Avaí Fluminense/RJ

Flamengo/RJ Botafogo/RJ Santos/SP

São Paulo/SP Palmeiras/SP Barueri

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Cruzeiro/MG Atlético/MG Santo André

Atlético/PR Coritiba/PR Corinthians

Internacional/RS Grêmio/RS -

Quadro I – Clubes que participaram da Série A 2009

Fonte: CBF 2009

Desta população, utilizou-se na pesquisa uma amostra de 11 (onze) clubes, que

representam 55% da população, em razão das demonstrações contábeis terem sido obtidas por

meio da rede mundial de computadores (Internet). Em relação aos outros 9 (nove) clubes que

não participaram da amostra, três disponibilizaram nos seus sites as demonstrações contábeis

de 2007, são eles: Cruzeiro, Atlético/MG e Grêmio. O Palmeiras, Sport, Avaí, Botafogo e

Vitória não disponibilizam estas informações nos seus sites. O Santo André disponibilizou

apenas o Balanço Patrimonial, o que prejudicou a análise dos temas em estudo. O Quadro II

mostra os clubes que fazem parte da amostra desta pesquisa.

Náutico/PE Fluminense/RJ Flamengo/RJ

Santos/SP São Paulo/SP Corinthians/SP

Atlético/PR Coritiba/PR Internacional/RS

Goiás/GO Barueri/SP

Quadro II – Clubes que participaram da pesquisa

FONTE: O Autor

Após a definição da amostra, foi investigada se os clubes de futebol evidenciam nas

suas demonstrações contábeis as alterações provocadas com a entrada em vigor em 1º janeiro

de 2008, da Lei 11.638/07, aplicáveis às entidades desportivas. O Comitê de Pronunciamento

Contábeis, criado para definir procedimentos técnicos visando facilitar o processo de

convergência das práticas contábeis adotadas no Brasil com aquelas constantes das normas

internacionais de contabilidade que são emitidas pelo IASB.

4. Análise dos resultados

A Lei 10.672 de 15 de maio de 2003 introduziu no texto da Lei Pelé (9.615/98) o art.

46-A que obrigam as entidades desportivas, ou seja, Clubes de Futebol envolvidos em

qualquer competição de atletas profissionais, independente da forma jurídica adotada, a

elaborar e publicar, até o último dia útil do mês de abril, suas demonstrações financeiras ou

contábeis, na forma definida pela Lei 6.404/76 após terem sido auditadas por auditores

independentes.

No país, o conjunto das demonstrações financeiras que as sociedades jurídicas devem

elaborar a cada exercício social é estabelecido por Lei. A Lei 6.404/76 que dispõe sobre as

Sociedades por Ações contempla os aspectos relativos à escrituração contábil, bem como a

elaboração e publicação das demonstrações contábeis que devem ser elaboradas pelas

sociedades, no mínimo uma vez a cada período de 12 meses, podendo este período coincidir

ou não com o ano civil.

Com a entrada em vigor no dia 1º janeiro de 2008 da Lei 11.638/07 houve alterações

relacionadas à elaboração e divulgação de demonstrações financeiras ou contábeis foram

revogados e alterados. Essa lei foi promulgada em 28 de dezembro de 2007 e alterada pela

MP 449 de 04 de dezembro de 2008, modificando e introduzindo novos dispositivos à Lei das

Sociedades por Ações.

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Tanto a Lei quanto MP tiveram como principal objetivo atualizar a legislação

societária brasileira para possibilitar o processo de convergência das práticas contábeis

adotadas no Brasil com aquelas constantes das normas internacionais de contabilidade que são

emitidas pelo “International Accounting Standards Board – IASB”.

As mudanças provocadas pela Lei 11.638/07 na Lei 6.404/76 trouxeram os seguintes

principais impactos nas demonstrações contábeis dos clubes de futebol:

a) Avaliação e conclusão pela não necessidade de constituição de provisão para

redução ao valor recuperável dos ativos permanentes (impairment), em conformidade ao

previsto no Comitê de Pronunciamentos Contábeis (CPC) 1.

b) Substituição em conformidade ao previsto no CPC 3, da demonstração das origens e

aplicações de recursos pela demonstração dos fluxos de caixa;

c) Reclassificação dos ativos intangíveis para uma conta específica do grupo do ativo

permanente, anteriormente classificados como ativo imobilizado, em conformidade ao

previsto no CPC 4;

d) Avaliação e conclusão pela não necessidade de registro do Ajuste a Valor Presente

– AVP, para os ativos e passivos de longo prazo e, de curto prazo quando aplicável, em

conformidade ao previsto no CPC 12; e

e) No preparo das demonstrações contábeis, o uso de estimativas é requerido para

contabilizar certos ativos, passivos e transações (CPC) 1.

4.1 Avaliação e conclusão pela não necessidade de constituição de provisão para redução

ao valor recuperável dos ativos permanentes (impairment).

O Comitê de Pronunciamentos Contábeis (CPC) – 1 define procedimentos visando a

assegurar que os ativos não estejam registrados contabilmente por um valor superior àquele

passível de ser recuperado por uso ou por venda. Caso existam evidências claras de que ativos

estão avaliados por valor não recuperável no futuro, a entidade deverá imediatamente

reconhecer a desvalorização por meio da constituição de provisão para perdas. O

Pronunciamento também define quando a entidade deve reverter referidas perdas e quais

divulgações são necessárias.

Dos 11 (onze) clubes pesquisados apenas o Goiás evidencia nas suas Notas

Explicativas a análise periódica obrigatória para os clubes quanto à capacidade de

recuperação dos valores registrados no ativo do clube (“impairment”). Alguns clubes que não

evidenciam claramente esta alteração, caso do Coritiba, afirmam que não é aplicável ao clube

ou sua implantação ainda está em andamento.

4.2 Substituições da demonstração das origens e aplicações de recursos pela

demonstração dos fluxos de caixa;

As informações dos fluxos de caixa de uma entidade são úteis para proporcionar aos

usuários das demonstrações contábeis uma base para avaliar a capacidade de a entidade gerar

caixa e equivalentes de caixa, bem como suas necessidades de liquidez.

As decisões econômicas que são tomadas pelos usuários exigem avaliação da capacidade de a

entidade gerar caixa e equivalentes de caixa, bem como da época e do grau de segurança de

geração de tais recursos. O Comitê de Pronunciamentos Contábeis (CPC) – 3 fornece

informação acerca das alterações históricas de caixa e equivalentes de caixa de uma entidade

por meio de demonstração que classifique os fluxos de caixa do período por atividades

operacionais, de investimento e de financiamento.

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Nesta análise observou-se que todos os clubes pesquisados publicaram a DFC

atendendo à solicitação da Lei 11.638/07. Outros detalhes observados quando da análise das

demonstrações contábeis dos clubes foram: Atlético/PR foi o único clube que publicou, além

das demonstrações contábeis exigidas pela Lei 6.404/76, o Balanço Social e a DOAR extinta

com a publicação da DFC. Todos os onze clubes que participam da amostra são entidades sem

fins lucrativos, sendo que o São Paulo e o Corinthians foram os únicos clubes que publicaram

a DVA, demonstração contábil obrigatória apenas para as companhias de capital aberto.

O Clube Náutico Capibaribe não publicou o Parecer dos Auditores Independentes que

complementam as demonstrações contábeis obrigatórias. Percebe-se ainda que todos os clubes

participantes da pesquisa publicam a DMPS (Demonstração das Mutações do Patrimônio

Social) e não publicaram a DLPA (Demonstração dos Lucros e Prejuízos Acumulados).

4.3 Reclassificações dos ativos intangíveis para uma conta específica do grupo do ativo

permanente

O Comitê de Pronunciamentos Contábeis (CPC) – 4 definem o tratamento contábil dos

ativos intangíveis que não são abrangidos especificamente em outro Pronunciamento. Este

Pronunciamento estabelece que uma entidade deve reconhecer um ativo intangível apenas se

determinado critérios especificados neste Pronunciamento forem atendidos. O

Pronunciamento também especifica como mensurar o valor contábil dos ativos intangíveis,

exigindo divulgações específicas sobre esses ativos.

Observou-se na pesquisa deste item, que a maioria dos clubes está cumprindo o que

determina a Lei 11.638/07. As exceções são o Atlético/PR, Goiás/GO, Náutico/PE. No caso

do Atlético/PR não foi possível identificar tanto no Balanço Patrimonial quanto nas Notas

Explicativas o registro de gastos com atletas em formação e atletas profissionais. O Goiás e o

Náutico registraram os respectivos gastos no Ativo Imobilizado, cumprindo a determinação

contida na NBC T 10.13.

4.4 O uso de estimativas é requerido para contabilizar certos ativos, passivos e

transações no preparo das demonstrações contábeis

Outra alteração imposta pela Lei 11.638/2007 para os clubes de futebol está na

preparação das demonstrações financeiras que deverá ser feita de acordo com as práticas

contábeis adotadas no Brasil requer que a Administração das entidades sem fins lucrativos se

baseie em estimativas para o registro de certas transações que afetam os ativos e passivos, as

receitas e as despesas, bem como a divulgação de informações sobre dados das suas

demonstrações financeiras.

As demonstrações financeiras incluem, portanto, várias estimativas referentes à

seleção das vidas úteis do ativo imobilizado, provisões para créditos de liquidação duvidosa,

provisões para passivos contingentes, entre outras, as quais, apesar de refletirem a melhor

estimativa possível, determinada pela Administração do Clube, podem apresentar variações

em relação aos dados e valores reais.

Neste item observou-se que a maioria dos clubes pesquisados evidencia estas

informações nas suas respectivas Notas Explicativas, exceto o Barueri, Coritiba, Internacional

e o Náutico que não comprovam esta informação. Apenas o Internacional justificou o não uso

desta informação, afirmando que não seria necessário o referido ajuste.

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4.5 Avaliação e conclusão pela não necessidade de registro do Ajuste a Valor Presente –

AVP, para os ativos e passivos de longo prazo e, de curto prazo quando aplicável

O Comitê de pronunciamentos Contábeis (CPC) – 12 estabelece os requisitos básicos a

serem observados quando da apuração do Ajuste a Valor Presente de elementos do ativo e do

passivo quando da elaboração de demonstrações contábeis, dirimindo algumas questões

controversas advindas de tal procedimento, do tipo: (a) se a adoção do ajuste a valor presente

é aplicável tão-somente a fluxos de caixa contratados ou se porventura seria aplicada também

a fluxos de caixa estimados ou esperados; (b) em que situações é requerida a adoção do ajuste

a valor presente de ativos e passivos, se no momento de registro inicial de ativos e passivos,

se na mudança da base de avaliação de ativos e passivos , ou se em ambos os momentos; (c)

se passivos não contratuais, como aqueles decorrentes de obrigações não formalizadas ou

legais, são alcançados pelo ajuste a valor presente; (d) qual a taxa apropriada de desconto para

um ativo ou um passivo e quais os cuidados necessários para se evitarem distorções de

cômputo e viés; (e) qual o método de alocação de descontos (juros) recomendado; (f) se o

ajuste a valor presente deve ser efetivado líquido de efeitos fiscais.

Quando da análise deste item observou-se que o Corinthians, o São Paulo e o

Internacional foram únicos clubes a utilizarem estas informações nas suas respectivas Notas

explicativas. Os outros clubes alegaram que esta exigência introduzida pela Lei 11.638/2007

já vem sendo atendidas ou não são aplicáveis à entidade.

5. Considerações finais

Esta pesquisa teve como objetivo verificar se os clubes de futebol que disputam a

Série A – 2009 evidenciam nas suas demonstrações contábeis as alterações provocadas pela

Lei 11.638/07 aplicáveis as entidades desportivas.

Para cumprir o objetivo proposto, adotou-se como parâmetro de análise a Lei

11.638/2007 que entrou em vigor no dia 1º janeiro de 2008, alterando e revogando alguns

dispositivos da Lei 6.404/76 (Lei das Sociedades Anônimas). Analisou-se a adequação das

demonstrações contábeis do exercício social de 2008 dos clubes de futebol em relação ás

alterações propostas aplicáveis a essas entidades desportivas.

Não obstante as limitações do trabalho foi possível fazer algumas constatações acerca

da realidade estudada. Observou-se que, embora tenha havido um esforço dos agentes

normativos para padronizar as informações contábeis dos clubes, atualizando a Lei 6.404/76

com o objetivo de facilitar o processo de convergência das práticas contábeis adotadas no

Brasil com aquelas constantes das normas internacionais de contabilidade, ainda prevalece a

diversidade de tratamentos contábeis para eventos semelhantes entre os clubes de futebol.

Foi verificado ainda , se os clubes de futebol usam estimativas para contabilizar certos

ativos, passivos e transações no preparo das demonstrações contábeis. Observou-se que o

Corinthians, o São Paulo e o Internacional foram únicos clubes a utilizarem essas informações

nas suas respectivas notas explicativas. Os outros clubes alegaram que essa exigência

introduzida pela Lei 11.638/2007 já vem sendo atendidas ou não são aplicáveis à entidade.

Concluindo, é possível afirmar que persiste o problema da falta de comparabilidade

entre as demonstrações contábeis dos clubes de futebol, comprometendo a transparência o que

dificulta análises e estudos sobre o tema. Durante a pesquisa, surgiram alguns

questionamentos que não puderam ser explorados com maior profundidade, apresentando-se

como limitações do estudo, os quais podem servir como estímulo para novas pesquisas.

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O enfoque é uma limitação da pesquisa , pois optou-se por estudar especificamente os

aspectos diretamente relacionados às alterações provocadas pela Lei 11.638/2007 aplicáveis

aos clubes de futebol, sendo que a norma adotada como paradigma de análise aborda também

outros aspectos relacionadas a outras pessoas jurídicas que exercem atividades diferentes da

população pesquisada. Sugere-se para outras pesquisas um estudo mais abrangente. da Lei

11638/207 enfocando outras pessoas jurídicas relacionadas ao esporte.

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