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8 UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO INSTITUTO DE ECONOMIA MONOGRAFIA DE BACHARELADO EVOLUÇÃO DO CONSUMO DE GASOLINA NO BRASIL E SUAS ELASTICIDADES: 1973 a 2003 BRUNA FONTES ROPPA Matrícula n°101138742 ORIENTADOR : Prof. Helder Queiroz Pinto Jr. ABRIL 2005

A Evolução do Consumo de Gasolina no Brasil e suas Elasticidades

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Page 1: A Evolução do Consumo de Gasolina no Brasil e suas Elasticidades

8

UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO INSTITUTO DE ECONOMIA

MONOGRAFIA DE BACHARELADO

EVOLUÇÃO DO CONSUMO DE GASOLINA NO BRASIL E SUAS ELASTICIDADES: 1973 a 2003

BRUNA FONTES ROPPA

Matrícula n°101138742

ORIENTADOR : Prof. Helder Queiroz Pinto Jr.

ABRIL 2005

Page 2: A Evolução do Consumo de Gasolina no Brasil e suas Elasticidades

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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO INSTITUTO DE ECONOMIA

MONOGRAFIA DE BACHARELADO

EVOLUÇÃO DO CONSUMO DE GASOLINA NO BRASIL E SUAS ELASTICIDADES: 1973 a 2003

_____________________________

BRUNA FONTES ROPPA

Matrícula n°101138742

ORIENTADOR : Prof. Helder Queiroz Pinto Jr.

ABRIL

Page 3: A Evolução do Consumo de Gasolina no Brasil e suas Elasticidades

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As opiniões expressas neste trabalho são de exclusiva responsabilidade do autor

Page 4: A Evolução do Consumo de Gasolina no Brasil e suas Elasticidades

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À minha família

AGRADECIMENTOS

Esta monografia é fruto do Programa de Recursos Humanos da ANP (PRH-21), estruturado através de uma parceria entre a ANP e a UFRJ e que vem auxiliando no desenvolvimento dos conhecimentos relativos à indústria de Petróleo e Gás Natural. Através deste programa aluno tem oportunidade de cursar disciplinas relativas ao setor ao longo da graduação, participar de seminários e congressos. Desta forma, devo agradecer, primeiramente, à. ANP/FINEP por esta oportunidade.

Agradeço a todo corpo docente da UFRJ, pelo curso de excelente qualidade que me foi

oferecido. Agradeço a todos aqueles que estavam de alguma forma ligados ao programa PRH-21.

Devo um agradecimento especial ao professor Helder Queiroz Pinto Junior, meu professor em duas cadeiras associadas ao PRH-21 e com o qual trabalho há pouco mais de um ano. Agradeço também à Mariana Iootty de Paiva Dias e ao professor Getúlio Borges da Silveira Filho pela colaboração no que diz respeito à parte econométrica da presente monografia; e ao Ministério de Minas e Energia (MME) pelo fornecimento das séries de dados relativas aos preços dos combustíveis utilizadas nos testes econométricos desenvolvidos.

Agradeço ainda a meus pais, familiares e amigos que, de alguma forma, “me

aturaram” ao longo da elaboração deste trabalho.

Page 5: A Evolução do Consumo de Gasolina no Brasil e suas Elasticidades

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RESUMO

A partir dos choques do petróleo de 1973 e 1979 os agentes econômicos de uma forma geral atentaram para a questão da dependência em relação ao petróleo e seus derivados. E, por isso, passou-se a buscar alternativas economicamente viáveis a estes produtos. O Brasil destacou-se neste campo, sendo o primeiro país a apresentar o álcool como possibilidade plausível.

Tendo em vista este cenário, a presente monografia tem por objetivo realizar um trabalho acerca das possibilidades e da sustentabilidade de o álcool se firmar como substituto da gasolina. O principal ponto do trabalho consiste em calcular as elasticidades renda, preço e preço cruzada da gasolina em relação ao álcool para o período 1973-2003, utilizando a técnica de co-integração, para que seja possível alcançar o objetivo descrito acima.

A metodologia adotada envolveu o levantamento e a análise de dados relativos ao consumo e aos preços da gasolina e do álcool; ao PIB e ao balanço de pagamentos brasileiros e à dependência brasileira em relação ao petróleo externo, entre os anos de 1973 e 2003.

Obteve-se um resultado inesperado: as elasticidades preço e preço cruzada da gasolina em relação ao álcool apresentaram sinais inversos aos esperados. Por isso, buscou-se também, investigar o porquê deste resultado e utilizou-se a mesma metodologia para averiguar o que ocorreria para uma periodicidade menor, no caso 1979-2000.

Para este período, alcançou-se o resultado esperado e constatou-se que o álcool é um substituto imperfeito para a gasolina; a gasolina é inelástica ao seu preço tanto no curto quanto no longo prazo; e os consumidores se mostram mais dispostos a gastar sua renda com gasolina no curto prazo em relação ao longo prazo.

Page 6: A Evolução do Consumo de Gasolina no Brasil e suas Elasticidades

13

ÍNDICE

INT RO D UÇ ÃO 8

C AP ÍT ULO I – E VOL UÇ ÃO D A D EM AND A DE C OM B UST ÍVE IS E AS D EC IS ÕE S D E P OL ÍT IC A E NE RGÉT IC A: UM B REV E HIST Ó RIC O D O P E RÍO DO 197 3 – 20 03 11

I.1 – C O N T E X T O A N TER I O R AO PR IM EIR O C H O Q U E D O PE TR Ó LE O 11I.1 .1 – C O N D IÇ Õ ES D E B AS E D A IN D Ú S T RI A P E T RO L ÍF E RA M U N D IA L 11I.1 .2 – N O BRA S IL 12I.2 – O S C H O Q U ES D O P E TR Ó L E O E S U A S CO N S E Q Ü ÊN CI A S 14I.2 .1 – O S EF E ITO S D O S C H O Q U ES N O BR A S I L 16I.2 .2 – O P RO G R A M A N A C IO N AL D O Á LC O O L (P N A ) 18I.2 .3 – R ES P O S TA S C O M ERC I A IS A O S EG U N DO C H O Q U E D O P E T RÓ L EO 22I.3 – O P ER ÍO D O 1986 – 1994 23I.3 .1 – A C R IS E D O P N A 26I.4 – A IN TR O D U Ç Ã O D O G N V N A M ATR I Z EN ER G É TI C A B R A S I LE IR A 28

C AP ÍT ULO II – M OD EL OS DE DEM AND A D E COM B UST ÍV E IS E A T ÉC NIC A D E CO -INT E G RAÇ ÃO 32

II. 1 – V A R IÁ V EIS E B A S E D E D A D O S 32II. 1 . 1 – A S V A RI ÁV E IS 32II. 2 – M O D ELO S D E D EM A N D A : R EVIS Ã O B IB LIO G R Á FIC A E M ÉT O D O A N AL ÍTI C O 37II. 2 . 1 – ES TI M A Ç Ã O D A F U N Ç ÃO A S E R U T IL IZ A D A 39

C AP ÍT ULO III – RE S ULT ADO S: A E ST IM AÇ ÃO D O M O DE LO DE D EM AND A D E C OM B UST ÍVE IS COM C O -INT EG RAÇ ÃO 46

III. 1 – C O N S ID ER A Ç Õ ES IN ICI A IS 46III. 2 – R ES U L TA D O S D AS E TA P A S D O M ÉTO D O D E C O -IN T E G R A Ç Ã O P A R A O PER Í O D O 1979-2000 47III.2 .1 – RES U LT A D O D A 1 A ET AP A M E TO D O LÓ G IC A 48III. 2 .2 – RES U LT A D O S D A 2 A E T A P A M E TO D O LÓ G IC A 48III. 2 .3 – RES U LT A D O S D A 3 A E T A P A M E TO D O LÓ G IC A 52III.3 – C Á LC U L O D A S E L A S T ICID A D ES D E L O N G O E C U R T O PR A ZO S PA R A O S AN O S EN TR E 1979 E 2003 54

C O NCL US ÃO 58

RE F E RÊ NC IAS B IB L IO G RÁF IC AS 62

Page 7: A Evolução do Consumo de Gasolina no Brasil e suas Elasticidades

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ÍNDICE DE BOX, GRÁFICOS E TABELAS

Box 1 – A desregulamentação dos preços dos combustíveis...................................................25

Gráfico 1 – Consumo Aparente, Importação e Exportação de Petróleo Bruto no Brasil em mil m³ (1934 – 1975).......................................................................................................................13Gráfico 2 – Extração x Importação de petróleo bruto em mil m³ (1950-2003)........................14Gráfico 3 – Cotação do barril de petróleo no mercado internacional de 1972 a 2003 .............15Gráfico 4 – Percentual de dependência brasileira em relação ao petróleo externo...................16Gráfico 5 – Consumo de Álcool Anidro e hidratado no Brasil em mil m³ ..............................20Gráfico 6 – Consumo de Gasolina x Consumo de Álcool em mil m³ (1973-2003) .................21Gráfico 7 – Evolução do consumo de GNV por fase em mil m³ (1988-2003) .........................30Gráfico 8 – Evolução do Consumo de Gasolina per capita em m3 ..........................................34Gráfico 9 – Evolução do Preço Real da Gasolina em US$/m3 (1979=100) .............................34Gráfico 10 – Evolução do Preço Real do Álcool Hidratado em US$/m3 (1979=100) .............35Gráfico 11 – Evolução do Consumo de Álcool Hidratado em m3 ............................................36Gráfico 12 – Evolução do PIB real per capita em US$ milhões (1979=100) ..........................37 Tabela 1 – Balança comercial do Brasil com os países exportadores de petróleo....................23Tabela 2 – Venda de automóveis movidos a gasolina e a álcool, entre 1975 e 1996. ..............27Tabela 3 – Total de cilindros de GNV no Brasil (1996-2003) .................................................30Tabela 4 – Sinais esperados das variáveis ................................................................................45Tabela 5 – Estatísticas descritivas das variáveis para o período 1979-2000 ............................47Tabela 6 – Estatísticas descritivas das variáveis para o período 1979-2003 ............................47Tabela 7 – Teste de estacionaridade para o período 1979-2000...............................................48Tabela 8 – Resultados da estimação do modelo de co-integração............................................49Tabela 9 – Teste de estacionaridade para os resíduos da Eq.(IV).............................................50Tabela 10 – Fórmulas e resultados das elasticidades de longo prazo da demanda por gasolina no período 1979-2000...............................................................................................................51Tabela 11 – Resultados da estimação do “modelo de correção do erro”..................................52Tabela 12 – Resumo das elasticidades de longo e curto prazos para os anos 1979-2000* ......54Tabela 13 – Elasticidades renda; preço e preço cruzada da gasolina em relação ao álcool para o longo e o curto prazo, entre 1979-2003 .................................................................................55

Page 8: A Evolução do Consumo de Gasolina no Brasil e suas Elasticidades

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INTRODUÇÃO

O petróleo é um tipo de hidrocarboneto, e se forma a partir da decomposição de

material orgânico, sem presença de oxigênio. Seu processo de síntese é extremamente lento

(milhões de anos) e, por isso, é considerado um recurso natural esgotável.

Através de um processo denominado craqueamento, em que o óleo bruto é aquecido a

diferentes temperaturas1, obtêm-se inúmeros de seus derivados, dentre eles a gasolina, o óleo

combustível, o diesel e a nafta. Desta forma, a gasolina, objeto de estudo desta monografia,

precisa ser inserida no mesmo contexto que o petróleo bruto: é também um recurso esgotável.

Contudo, esta questão somente se tornou relevante a partir dos choques do petróleo na década

de 70.

A utilização do petróleo de forma maciça tem início com a Segunda Revolução

Industrial, quando passaram a predominar paradigmas tecnológicos baseados neste e em seus

derivados, em substituição ao carvão da Primeira Revolução Industrial. A partir deste evento a

demanda por petróleo começou a crescer exponencialmente, acompanhando o ritmo de

desenvolvimento dos países. E, assim, configurou-se uma economia moderna totalmente

dependente deste óleo.

Com os choques do petróleo de 1973 e 1979 os agentes econômicos começaram a

atentar para a necessidade de se produzir petróleo em seus respectivos territórios nacionais e

de se pesquisar possíveis substitutos para um insumo tão essencial nos processos produtivos e

no cotidiano moderno. Com estes acontecimentos, portanto, mudou em muitos países a forma

de se pensar a política energética.

A reação brasileira aos choques se deu na direção do desenvolvimento de tecnologias

de exploração e produção de petróleo e da implementação, em novembro de 1974 do

Programa Nacional do Álcool (PNA), cuja segunda etapa denominou-se “Programa do

Álcool” (em dezembro de 1978), quando o governo passou a incentivar as montadoras de

1 Os derivados do petróleo possuem pontos de ebulição diferenciados. E, é através do aquecimento do óleo bruto a diferentes temperaturas que se consegue extrair seus sub-produtos.

Page 9: A Evolução do Consumo de Gasolina no Brasil e suas Elasticidades

16

veículos a produzir automóveis movidos a álcool e, os consumidores, a adquiri-los. Todavia a

partir de 1987 o proálcool entra em crise. Estes programas de incentivo à intensificação do

uso do álcool e seu fracasso serão apresentados de forma mais detalhada do Capítulo I desta

monografia.

É neste contexto que se insere o presente estudo. Seu objetivo é analisar a evolução do

consumo de gasolina no Brasil a partir das óticas do seu preço, do preço do álcool e da renda;

e, com isso, examinar a possibilidade e sustentabilidade de sua substituição por outro

combustível. A presente monografia pretende avaliar o álcool como possível substituto para a

gasolina.

Isto será feito mediante a utilização de testes econométricos que permitam calcular as

elasticidades preço e renda de longo e curto prazos do consumo de gasolina, para que se possa

promover a análise apresentada acima. Este cálculo será feito através da técnica de co-

integração, a ser explicada no Capítulo II do presente trabalho.

O período escolhido para análise compreende os anos entre 1973 e 2003. A escolha do

primeiro ano deste intervalo diz respeito ao acontecimento do primeiro choque do petróleo. E,

o último ano a ser considerado na análise foi escolhido devido à indisponibilidade de dados

para o ano subseqüente.

As principais fontes de consulta constituíram-se de artigos de periódicos, livros

clássicos acerca da história da energia e sobre econometria, pesquisas e trabalhos acadêmicos

e informações obtidas através da Agência Nacional do Petróleo, Ministério de Minas e

Energia e Instituto Brasileiro de Geografia Estatística.

De modo a realizar o proposto acima, esta monografia divide-se, além da introdução e

da conclusão, em três capítulos. O primeiro capítulo descreverá um breve histórico do

período a ser analisado (1973-2003), enfatizando o ocorrido com as variáveis relevantes para

os testes econométricos a serem realizados no capítulo seguinte, quais sejam: consumo de

gasolina, PIB, preço da gasolina e preço do álcool. Outras variáveis, também relevantes ao

entendimento da questão a ser tratada, como o consumo do álcool, o comportamento do

balanço de pagamentos e a dependência brasileira em relação ao petróleo externo, serão

analisadas.

Page 10: A Evolução do Consumo de Gasolina no Brasil e suas Elasticidades

17

O segundo capítulo tratará da metodologia pertinente ao cálculo das elasticidades

renda, preço e preço cruzada da gasolina em relação ao álcool. Além disso, será apresentada

uma revisão bibliográfica a cerca dos principais modelos econométricos e não econométricos

que apresentam como variável dependente o consumo de gasolina.

Por fim, no terceiro capítulo serão apresentados e explicados os resultados obtidos

através da aplicação da metodologia descrita no capítulo anterior aos dados selecionados,

além das principais implicações econômicas dos mesmos.

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CAPÍTULO I – EVOLUÇÃO DA DEMANDA DE COMBUSTÍVEIS E AS DECISÕES DE POLÍTICA ENERGÉTICA: UM BREVE HISTÓRICO DO PERÍODO 1973 – 2003

O objetivo deste capítulo é traçar um breve panorama da evolução do consumo de

gasolina no Brasil, dando ênfase também à evolução do consumo de outros dois combustíveis:

o álcool e o gás natural veicular (GNV). Desta forma, poder-se-á ver de que modo e em que

condições o consumo de gasolina é deslocado pelo consumo dos outros dois combustíveis.

Estes recursos servirão, portanto, como pano de fundo para os testes econométricos a serem

realizados no próximo capítulo.

I.1 – CONTEXTO ANTERIOR AO PRIMEIRO CHOQUE DO PETRÓLEO

I.1.1 – CONDIÇÕES DE BASE DA INDÚSTRIA PETROLÍFERA MUNDIAL

O petróleo emergiu da Segunda Guerra Mundial como o principal energético utilizado

mundialmente que, até então, era produzido por empresas de outros países (majors)2 no

Oriente Médio, através do sistema de concessões. Os países exportadores, constatando que

este sistema era extremamente vantajoso para as empresas produtoras e, influenciados por

uma onda de nacionalização que estava ocorrendo por todo o mundo, começaram a rever o

sistema de concessões para exploração de suas jazidas, e estatizaram as companhias que

atuavam na região.

Este processo de nacionalizações reduziu drasticamente o poder de mercado das

majors e culminou com a criação, em setembro de 1960, da OPEP (Organização dos Países

Exportadores de Petróleo), que reunia os principais países exportadores de petróleo. Esta

Organização passou a controlar as reservas e a produção de petróleo mundial, atuando como

cartel e estabelecendo articulações entre oferta e demanda a fim de modificar o patamar dos

preços internacionais do petróleo de acordo com seus interesses (PINTO JR.& NUNES,

2001). Ou seja, esses países adquiriram o poder de fixar o preço do óleo cru no mercado

internacional.

2 Antes deste processo de nacionalização, as majors dominavam o mercado de petróleo e a informação (isto é, eram as únicas a saber sobre as reservas e os custo de produção).

Page 12: A Evolução do Consumo de Gasolina no Brasil e suas Elasticidades

19

I.1.2 – NO BRASIL

Entre 1930 e 1950 mudanças radicais na economia brasileira foram propiciadas pela

crise da economia cafeeira de exportação e pelo surgimento de um setor manufatureiro no

país. A crise de 1929 e a Revolução de 1930 tiveram um importante papel na industrialização

brasileira e, conseqüentemente, introduziram uma maior necessidade de petróleo. Mesmo de

caráter restrito, o surgimento de novas indústrias gerou grandes alterações na estrutura de

consumo de energia nacional, principalmente depois da Segunda Guerra Mundial, provocando

pressões cada vez mais fortes no incipiente aparelho produtivo energético nacional (ARAÚJO

& OLIVEIRA, 2003).

Este período foi marcado por forte intervenção estatal como forma de viabilizar o

processo de desenvolvimento econômico. O Estado envolvia-se fortemente no setor de infra-

estrutura, em particular no energético. Um reflexo de tal política no Brasil foi a criação da

CHESF (Companhia Hidroelétrica do São Francisco), em1945; da Petrobras, em 1953; de

Furnas, em 1957; e da Eletrobrás, em 1962.

O uso de derivados do petróleo disseminou-se para grandes indústrias e para o setor de

transportes, tendo como principal ícone a implantação da indústria automobilística no país.

Acompanhando a tendência mundial, essa difusão, juntamente com a descoberta de enormes

reservas de óleo no Oriente Médio, possibilitou a transição de um sistema energético baseado

no carvão e na lenha, para outro, baseado no petróleo.

De 1930 até meados dos anos 70, o petróleo constituiu-se como principal escolha para

atender às necessidades de combustível líquido no Brasil. Como pode ser observado no

Gráfico 1 abaixo, no período compreendido entre os anos de 1934 e 1975 o consumo

aparente3 de petróleo bruto aumentou mais de 16.000 vezes. Neste período, a maior parte do

petróleo consumido no país era importado; até 1939 nada era extraído em território nacional4;

e, somente houve exportação do óleo entre os anos 1958 e 1963, e a partir de 1970.

3 Entende-se por consumo aparente o total extraído em território nacional, mais importações, deduzido de exportações. 4 A primeira extração de petróleo em território nacional se deu em 1939, na Bahia, sendo essas produções

registradas somente a partir de 1940.

Page 13: A Evolução do Consumo de Gasolina no Brasil e suas Elasticidades

20

Gráfico 1 – Consumo Aparente, Importação e Exportação de Petróleo Bruto no Brasil em mil m³ (1934 – 1975)

05.000

10.00015.00020.00025.00030.00035.00040.00045.00050.000

1935

1937

1939

1941

1943

1945

1947

1949

1951

1953

1955

1957

1959

1961

1963

1965

1967

1969

1971

1973

1975

consumo aparente de petróleo bruto importação de petróleo bruto exportação de petróleo bruto

Fonte: IBGE

Além disso, somente com a criação da Petrobrás foi possível implantar uma rede de

refinarias que tornaria possível substituir a importação de derivados do óleo bruto por sua

produção interna.

Todavia, o descompasso entre a crescente capacidade de refino no país e a limitada

produção nacional de petróleo impossibilitou que houvesse uma redução efetiva e continuada

da importação deste produto. Tal fato se concretizou apenas na década de 80, com a

conciliação de dois acontecimentos: o crescimento da produção nacional de óleo e o

decréscimo no consumo interno de derivados como o óleo combustível e a gasolina,

conseqüência da recessão econômica do período (Ver Gráfico 2).

Page 14: A Evolução do Consumo de Gasolina no Brasil e suas Elasticidades

21

Gráfico 2 – Extração x Importação de petróleo bruto em mil m³ (1950-2003)

0

10.000

20.000

30.000

40.000

50.000

60.000

1950

1953

1956

1959

1962

1965

1968

1971

1974

1977

1980

1983

1986

1989

1992

1995

1998

2001

extração de petróleo bruto importação de petróleo bruto

Fonte: MME (Balanço Energético Nacional)

I.2 – OS CHOQUES DO PETRÓLEO E SUAS CONSEQÜÊNCIAS

Levando-se em consideração o que foi analisado na seção I.1.1 acima, pode-se atribuir

a responsabilidade pela elevação dos preços do barril de óleo cru em 1973 e 1979 à OPEP.

Nestes termos pode-se dizer que essa crise foi provocada por um novo quadro da oferta

internacional de petróleo, em que se modificou a relação de poder entre países exportadores,

de um lado, e grandes empresas do cartel internacional (as majors) e países capitalistas

desenvolvido, de outro (FURTADO, 2003). Como a maior parte das reservas de petróleo

mundiais se encontram no Oriente Médio, os países exportadores deste óleo conseguiram se

organizar rapidamente, formando um cartel a partir de 1960. Assim, a partir de 1973 passaram

a se apropriar de razoável parcela da renda do petróleo. O Gráfico 3 abaixo apresenta as

cotações do barril de petróleo de 1972 a 2003:

Page 15: A Evolução do Consumo de Gasolina no Brasil e suas Elasticidades

22

Gráfico 3 – Cotação do barril de petróleo no mercado internacional de 1972 a 2003 (em US$/barril)*

0

5

10

15

20

25

30

35

40

1972

1974

1976

1978

1980

1982

1984

1986

1988

1990

1992

1994

1996

1998

2000

2002

*1972-1985 Arabian Light, 1986-2003 Dubai Brent

Fonte: BP 2004 Statistical Review of World Energy

Dessa forma, o primeiro choque de 1973 é um divisor de águas na história

contemporânea entre um período de energia barata e outro de energia cara (FURTADO,

2003).

Como resposta aos choques, os países importadores de petróleo adotaram medidas

com o objetivo principal de reduzir a dependência em relação ao óleo produzido no Oriente

Médio. Dentre essas medidas, podem ser destacadas (MARTIN, 1992, p. 65-66):

a) Disseminação de programas de conservação de energia e/ou eficiência energética, visando

utilizar a energia com mais racionalidade;

b) Pesquisa e implementação de novas fontes energéticas que pudessem substituir o petróleo,

reduzindo a dependência por um energético vindo, na sua maior parte, de uma região tão

instável;

c) Valorização dos recursos energéticos nacionais;

d) Diversificação das fontes de importação de petróleo, com o auxílio de inovações

tecnológicas, sem as quais tal medida não seria possível.

Page 16: A Evolução do Consumo de Gasolina no Brasil e suas Elasticidades

23

Através da adoção de tais medidas, os países importadores de petróleo obtiveram, de

modo geral, êxito em suas estratégias de redução, mas não eliminação, da dependência em

relação insumo petróleo. O Gráfico 4 apresenta a evolução (em porcentagem) da dependência

brasileira em relação ao petróleo externo, entre 1973 e 2003.

Gráfico 4 – Percentual de dependência brasileira em relação ao petróleo externo entre 1973 e 2003 (em %)

0,010,020,030,040,050,060,070,080,090,0

1973

1975

1977

1979

1981

1983

1985

1987

1989

1991

1993

1995

1997

1999

2001

2003

Fonte: MME (Balanço Energético Nacional)

I.2.1 – OS EFEITOS DOS CHOQUES NO BRASIL

À época dos choques, o petróleo já era a principal fonte energética do Brasil,

importando cerca de 80% do volume total do petróleo consumido. Sendo assim, a elevação

dos preços deste produto levou a impactos sobre a balança comercial e, conseqüentemente, a

uma situação de vulnerabilidade das contas externas.

Porém, no período entre os dois choques (1974-1979), o consumo de petróleo no país

cresceu a uma taxa de 6,9% ao ano. Segundo Pinto Jr. (1989), tal fato pode ser explicado pela

inelasticidade-preço da demanda por petróleo a curto prazo5 e pela participação dos seus

derivados em todos os setores de atividade da economia. Além disso, uma mudança de

grandes dimensões na matriz energética brasileira poderia atrapalhar o início do processo de

5 Pode-se explicar essa inelasticidade-preço da demanda por petróleo no curto prazo pela importância deste como principal fonte de energia primária. Deve-se citar também como conseqüência desta inelasticidade, a defasagem temporal entre modificações nos preços do petróleo e alterações em seu consumo.

Page 17: A Evolução do Consumo de Gasolina no Brasil e suas Elasticidades

24

consolidação do padrão de competitividade internacional de alguns sub-setores dinâmicos da

indústria.6

O modelo de política energética baseado na Petrobras e na Eletrobrás, e referido na

seção anterior, funcionou bem até o primeiro choque do petróleo, estando baseado em

economias de escala e de integração, e em fácil acesso a crédito doméstico e internacional

para financiar a expansão da infra-estrutura. Posteriormente ao choque, a política energética

passou a se basear na substituição de combustíveis importados por fontes nacionais, através

do estímulo à exploração de petróleo – principalmente offshore -, ao uso do carvão vapor e de

biomassa, principalmente o álcool de cana de açúcar. Além disso, lançou-se um programa

nuclear.

À Petrobras colocou-se o desafio de reduzir a dependência nacional de óleo importado,

de modo a diminuir os impactos da importação de petróleo sobre a balança comercial. Para

conseguir realizar tal feito, a empresa deveria aumentar a produção interna de óleo e gás

natural e, por isso, reorientou seus investimentos para a etapa de exploração e produção no

território nacional. Assim, com as novas descobertas e desenvolvimento, principalmente na

Bacia de Campos, no litoral do Estado do Rio de Janeiro, a Petrobras conseguiu reduzir a

dependência brasileira de óleo importado e introduzir a possibilidade de se atingir a auto-

suficiência.

Como estratégia para substituir o óleo importado foram adotadas duas medidas. A

primeira, como foi explicitado acima, se baseou no aumento da exploração e produção do

petróleo nacional. A segunda se baseou no incentivo a fontes alternativas, não baseadas em

petróleo, principalmente nos setores industrial e de transporte, de modo a substituir,

respectivamente, o óleo combustível e a gasolina (Araújo & Ghirardi,1987).

Assim, em novembro de 1975, o Programa Nacional do Álcool (Proálcool) foi criado

com o duplo objetivo de deslocar o consumo de gasolina com o álcool combustível e dar

maior estabilidade à indústria açucareira. De acordo com Araújo & Ghirardi (1987), o

Proálcool foi criado em resposta às mudanças ocorridas no mercado petrolífero, mas foi

6 Para que este argumento possa ser explicado, deve-se ter em mente o II PND (Plano Nacional de Desenvolvimento), concebido em 1974, durante o governo Geisel. Uma explicação um pouco mais detalhada deste plano de desenvolvimento será feita mais adiante.

Page 18: A Evolução do Consumo de Gasolina no Brasil e suas Elasticidades

25

também um instrumento de suporte à indústria açucareira, num período em que esta se

deparava com um declínio brusco do valor de seus produtos, logo após ter passado por outro

de preços recordes, no final de 1974.

I.2.2 – O PROGRAMA NACIONAL DO ÁLCOOL (PNA)

O PNA, criado pelo Decreto n°76.593 e promulgado em 14 de novembro de 1975,

tinha por objetivo minimizar as deficiências energéticas e de balanço de pagamentos do país,

ocasionadas pelo primeiro choque do petróleo. Sua implementação se deu em duas fases. Na

primeira, o álcool (anidro) seria misturado à gasolina. A intenção, nesta fase, era a de diminuir

o volume importado de óleo e derivados. Na segunda fase, o objetivo era produzir uma frota

de veículos movidos somente a álcool (hidratado)7. Entretanto, deve-se ter em mente que o

emprego sistemático do álcool como combustível no Brasil teve origem antes da Segunda

Guerra Mundial. De acordo com Dias Leite (1997), pode-se identificar o período entre 1934 e

1975, ou seja, anteriormente à implantação do PNA, como “fase do ‘álcool motor’ anidro,

adicionado à gasolina automotiva”.

Como o álcool usado no Brasil com fins carburantes é sub-produto da cana-de-açúcar

e como o outro sub-produto da cana (o açúcar) tem seu preço altamente suscetível à

flutuações no mercado internacional, o uso do álcool como combustível também se constituía

como “válvula de escape” para o setor açucareiro do país. Portanto, outro objetivo do PNA

era, como citado acima, prover maior estabilidade à indústria açucareira.

A principal preocupação do governo brasileiro no período pós-choque não se

relacionava com a disponibilidade mundial de petróleo, pois nos dois anos seguintes ao

choque houve o arrefecimento da instabilidade do mercado internacional de petróleo, a

descoberta da bacia de Campos em 1974 e a ação da BRASPETRO no exterior, negociando

contratos de risco. Assim, o governo assegurou o aprovisionamento de petróleo para o

mercado interno.

A preocupação do governo era com os efeitos dos altos preços do petróleo no balanço

de pagamentos, na inflação e na economia. Geisel, que assumiu o poder em março de 1974,

tinha como principal meta de governo manter as altas taxas de crescimento da economia

7 É importante ressaltar que a segunda fase do PNA não exclui a primeira.

Page 19: A Evolução do Consumo de Gasolina no Brasil e suas Elasticidades

26

brasileira8, combinado com um balanço de pagamentos equilibrado e uma inflação controlada.

Essas diretrizes econômicas estão descritas no II PND.

Este plano procurava implementar projetos altamente capital-intensivos e energético-

intensivos, no intuito de prosseguir com o desenvolvimento nacional acelerado, baseado na

substituição de importações. A política energética formulada por Geisel deveria, portanto,

superar a crise sem sacrificar o crescimento acelerado da economia. Essa política, em linhas

gerais, visava segundo Silva (1997, p.21):

a) Intensificar o uso das fontes nacionais de energia e, sempre que possível, substituir o

petróleo pela energia elétrica (projeto conhecido como eletrotermia);

b) Desenvolver os recursos petrolíferos nacionais;

c) Limitar o consumo de petróleo, adicionando álcool à gasolina e eliminando desperdícios;

d) Usar fontes alternativas de energia como, por exemplo, usar carvão para fins industriais em

substituição ao óleo combustível.

Até outubro de 1975, o álcool exercia um papel de pouco destaque na política

energética nacional. Porém, a partir desta data, devido ao crescimento da dívida externa, à

diminuição das reservas cambiais, ao comportamento abaixo do esperado das exportações, à

captação insuficiente de recursos externos e à perspectiva de futuros aumentos recorrentes no

preço do petróleo, o álcool passa a se tornar evidente dentro da política energética nacional

com a implementação do Programa do Álcool por Geisel, em novembro do mesmo ano. Este

argumento encontra-se ilustrado no Gráfico 5 a seguir:

8 A economia brasileira vinha crescendo em torno de 10% ao ano nos últimos cinco anos.

Page 20: A Evolução do Consumo de Gasolina no Brasil e suas Elasticidades

27

Gráfico 5 – Consumo de Álcool Anidro e hidratado no Brasil em mil m³ (1934-2003)

0

2.000

4.000

6.000

8.000

10.000

12.000

1934

1937

1940

1943

1946

1949

1952

1955

1958

1961

1964

1967

1970

1973

1976

1979

1982

1985

1988

1991

1994

1997

2000

2003

10³ m

³

álcool anidro álcool hidratado

Fonte: IBGE e MME (Balanço Energético Nacional)

Em dezembro de 1978 teve início a segunda fase do PNA, a chamada fase do PNA

hidratado, quando o então Ministro da Indústria e Comércio, Ângelo Calmon de Sá, convocou

publicamente a indústria automobilística a cooperar com o governo na implementação desta,

através da produção de carros a álcool. Mas, além da concordância dos produtores em

colaborarem com o Programa e em elaborarem uma tecnologia para a produção de veículos a

álcool, o governo deveria também concentrar esforços no intuito de convencer os

consumidores a demandarem esses veículos. Ou seja, havendo um mercado consumidor

potencial, os produtores seriam automaticamente direcionados a produzir carros a álcool.

Entretanto, os consumidores somente demandariam carros a álcool se acreditassem na

continuidade do Programa por parte do governo e se o automóvel a álcool lhes oferecesse uma

relação custo/benefício positiva e maior que a de outros veículos. Sendo assim, o governo

tratou de oferecer esta segurança aos potenciais consumidores de automóveis a álcool.

Para que a relação custo/benefício fosse positiva e maior que a de modelos a gasolina,

o governo lançou mão de duas estratégias, uma mercadológica e outra econômica. Em relação

à primeira estratégia, o governo introduziu um sistema de promoção fortíssimo, explicitando

as vantagens de se ter um carro a álcool9.Quanto à segunda estratégia, o governo incorreu em

enormes gastos de modo a oferecer subsídios e incentivos ao Programa, o que também

9 Fez parte desta primeira estratégia a criação de um slogan associado a esse tipo de veículo, conhecido até os dias de hoje: “Carro a álcool, você ainda vai ter um”.

Page 21: A Evolução do Consumo de Gasolina no Brasil e suas Elasticidades

28

sinalizava que o governo estaria comprometido com o Proálcool. Os principais instrumentos

de incentivo do governo, além do apoio creditício ao plantio de cana-de-açúcar e às destilarias

de álcool, eram10:

a) O preço do álcool, que foi inicialmente fixado a 65% do preço da gasolina (em 1980) e,

posteriormente, atingiu 59% (em 1982);

b) Os impostos associados à compra de veículos novos, que foram reduzidos para os carros a

álcool e elevados para os a gasolina, produzindo um diferencial de 5%;

c) A cobrança do IPVA (Imposto de Propriedade de Veículos Automotores), 3% menor para

os automóveis movidos a álcool em comparação aos movidos a gasolina.

Através desses incentivos, o governo conseguiu atingir seu objetivo de massificar a

compra de veículos a álcool e, conseqüentemente, aumentar seu consumo, ao mesmo tempo

em que conseguiu reduzir fortemente a demanda por gasolina ao longo da década de 80 (Ver

Gráfico 6).

Gráfico 6 – Consumo de Gasolina x Consumo de Álcool em mil m³ (1973-2003)

0

5.000

10.000

15.000

20.000

25.000

1973

1975

1977

1979

1981

1983

1985

1987

1989

1991

1993

1995

1997

1999

2001

2003

10³ m

³

0

2.000

4.000

6.000

8.000

10.000

12.000

14.000

16.000

10³ m³

Gasolina Álcool

Fonte: MME (Balanço Energético Nacional)

10 Ver OLIVEIRA, A. “ Reassessing the Brazilian alcohol programme”. Energy Policy. [s.l.] Butterworth-Heinemann Ltd, january/february, 1991.p.47-55

Page 22: A Evolução do Consumo de Gasolina no Brasil e suas Elasticidades

29

I.2.3 – RESPOSTAS COMERCIAIS AO SEGUNDO CHOQUE DO PETRÓLEO

A resposta brasileira ao segundo choque, ocorrido em 1979, foi distinta,

basicamente devido à participação do petróleo em sua pauta de importações, que passou de

cerca de 10% em 1973 para 35% em 1979.

Mesmo na década de 80 (a chamada “década perdida”), os efeitos do II PND ainda

se faziam sentir. Os resultados de alguns dos projetos implementados à época deste plano

começaram a aparecer somente nos anos 80. Um exemplo disso é o aumento da produção e

das reservas de petróleo e gás natural neste período, como conseqüência dos investimentos

realizados pela Petrobras, possibilitando uma redução no nível de importações.

Porém, apesar do incremento da produção nacional de petróleo, o país ainda estava

muito dependente das importações dos principais produtores. Dessa forma, o país necessitava

de uma estratégia de importação de óleo. Segundo Pinto Jr.(1989), essa estratégia pode ser

caracterizada por dois elementos: a diversificação das fontes de suprimento e as inovações nas

modalidades de comercialização.

O primeiro elemento caracteriza-se pela ampliação do número de parceiros

comerciais do país, como forma de diluir o risco de fatores extra-comerciais interferirem na

garantia do suprimento de petróleo, visto que a maior parte do petróleo importado provinha de

áreas de conturbada situação política, como o Oriente Médio. Assim, o Brasil intensificou seu

comércio de petróleo com países produtores não-OPEP11. Isso abriu caminho para a entrada

de produtos manufaturados brasileiros nesses países, principalmente através do “counter

trade”, principal mecanismo utilizado no segundo elemento a ser descrito.

O segundo elemento caracteriza-se pela adoção de outra modalidade comercial para

importar petróleo baseada na política do “counter trade”. Essa nova estratégia, além de

permitir a redução da necessidade de divisas para importar petróleo, também propiciou a

conquista de novos mercados, aproveitando o aumento da capacidade exportadora de produtos

manufaturados (Ver Tabela 1).

11 Ou seja, países produtores de petróleo, mas que não são membros da OPEP.

Page 23: A Evolução do Consumo de Gasolina no Brasil e suas Elasticidades

30

Tabela 1 – Balança comercial do Brasil com os países exportadores de petróleo em US$ milhões

1980 1986 Países Exportação Importação Saldo Exportação Importação Saldo

Arábia Saudita 96,3 2.081,2 -1.984,9 213,8 879,8 1.093,6Argélia 166,5 81,2 85,3 131,0 93,4 224,4 China 72,2 244,1 -171,9 517,5 289,0 806,5

Equador 50,2 34,5 15,7 133,7 17,3 151,0 Irã 239,0 733,8 -494,8 180,8 69,9 250,7

Iraque 288,9 3.779,6 -3.490,7 372,0 960,2 1.332,2Kuwait 42,0 766,1 -724,1 36,8 - 36,8 Líbia 35,2 135,2 -100,0 15,7 1,3 17,0

México 469,9 431,4 38,5 156,3 151,4 307,7 Nigéria 271,5 87,8 183,7 247,7 366,4 614,1 URSS 370,2 31,0 339,2 265,7 44,8 310,5

Venezuela 230,0 570,4 -340,4 348,8 95,5 444,3 Total 2.331,9 8.976,3 -6.644,4 2.619,8 -2.969,0 -349,2

Fonte: PINTO Jr., H.Q. (1989, p.50).

A política de “counter trade” é uma forma de comércio internacional que consiste na

troca de produtos através de acordos bilaterais, sem a utilização de moeda forte, a priori. No

caso brasileiro, a troca se dava entre produtos manufaturados e petróleo. Essa técnica

mercantil ganhou grande impulso após os choques do petróleo que geraram, inicialmente,

impactos sobre o balanço de pagamentos, as taxas de inflação e de crescimento econômico em

todos os países.

O mecanismo de “counter trade” foi muito importante para o Brasil, visto que

permitiu o aumento das exportações de seus produtos manufaturados e a redução das

necessidades de despender divisas para a importação de petróleo, num período em que as

reservas brasileiras estavam muito baixas e o mercado internacional de crédito bancário,

retraído.

I.3 – O PERÍODO 1986 – 1994

Após os choques do petróleo, a demanda mundial por óleo se estabilizou. A partir da

década de 80 a OPEP teve que promover cortes sucessivos em sua produção, visto que

perdeu, de forma significativa, o controle sobre a quantidade de óleo ofertada no mercado.

Page 24: A Evolução do Consumo de Gasolina no Brasil e suas Elasticidades

31

O ano de 1986 foi marcado pelo chamado contra-choque do petróleo, no qual houve

uma queda brutal nos preços do petróleo. Essa brusca queda da cotação do petróleo permitiu

um realinhamento de forças entre os agentes pertencentes ao setor (PINTO JUNIOR e

NUNES, 2001), caracterizado pelo enfraquecimento da OPEP, pela retomada de parte do

controle pelas companhias petrolíferas e pelo fortalecimento dos países consumidores.

No Brasil, a partir do final dos anos 80 a política macroeconômica sofreu mudanças

radicais: houve o abandono da política de substituição de importações; a remoção, gradual,

das proteções aos produtores brasileiros; a privatização e liberalização dos mercados. Dessa

forma, com a crise financeira dos anos 80, sob a pressão dos órgãos financeiros multilaterais e

sem ter como dar continuidade ao seu processo de expansão econômica, o Brasil passou a

promover reformas com privatizações e introdução da concorrência.

Este período foi marcado pela crise do Proálcool, a qual será brevemente explicada em

seguida; pela entrada do GNV no mercado nacional e pelo início do processo de

desregulamentação dos preços dos combustíveis no mercado nacional (Ver Box 1 abaixo).

Page 25: A Evolução do Consumo de Gasolina no Brasil e suas Elasticidades

32

Box 1 – A desregulamentação dos preços dos combustíveis

É no contexto de insatisfação com o Estado como principal operador e regulador

dos setores de infra-estrutura, combinado à necessidade de novos investimentos e o

questionamento quanto à eficiência do monopólio que, de acordo com SILVEIRA (2002),

se inicia o processo desregulamentação, tendo por objetivo principal a busca pelo aumento

da eficiência dos setores e a ampliação das atividades, através de novos investimentos,

sendo eles privados ou públicos.

A desregulamentação do setor de abastecimento de combustíveis no Brasil iniciou-

se na década de 90 e culminou com a abertura total do mercado em 1º de janeiro de 2002.

A liberalização dos preços em todas as etapas da cadeia produtiva desta indústria sinalizou

a continuidade de um processo progressivo de reformas que vêm sendo implementadas

desde o início dos anos 90. Isto é, provocou a substituição de uma economia baseada no

controle do Estado para uma outra, voltada ao mercado.

No intuito de eliminar as distorções existentes no mercado de combustíveis,

geradas pela existência de subsídios cruzados e de ressarcir as despesas com distribuição e

transporte, de forma a permitir a equalização entre o produto nacional e importado, e

conseqüentemente o desenvolvimento de um mercado competitivo, algumas medidas

foram tomadas, tais como: a liberação de preços, margens e fretes em toda cadeia

produtiva e a criação da Contribuição de Intervenção no Domínio Econômico (CIDE), que

veio a substituir a Parcela de Preço Específica (PPE), entre outras*.

Estas mudanças abriram espaço para uma maior participação de novos entrantes na

indústria, via incremento das importações de derivados. Além disso, os preços domésticos

dos combustíveis, uma vez liberalizados, passariam a refletir os impactos dos aumentos

dos preços do petróleo bruto no mercado internacional e das flutuações do câmbio. Ou

seja, a volatilidade passa a ser intrínseca ao regime de preços.

* A maioria destas medidas foi implementada durante a fase de transição para a abertura total do mercado, e

estão previstas na Lei 9.478/97, de 6 de agosto de 1997.

Page 26: A Evolução do Consumo de Gasolina no Brasil e suas Elasticidades

33

I.3.1 – A CRISE DO PNA

A partir de 1986 os preços do petróleo se estabilizam, com tendência descendente.

Com isso, o Proálcool entra em um processo de esgotamento. Muitas vezes, a Petrobras,

responsável pelo transporte, armazenamento, distribuição e mistura do álcool à gasolina,

pagou mais caro pelo litro do álcool do que o preço cobrado nos postos de combustíveis.

Sendo assim, para que fosse possível por parte da Petrobras cobrir parte deste déficit, a

mesma buscava manter os preços do diesel e da gasolina artificialmente elevados12.

A partir de 1987, a venda de automóveis movidos a álcool começou a decrescer

devido, principalmente, à falta de credibilidade dos consumidores no que concerne à

manutenção do PNA pelo governo (Ver Tabela 2). Um exemplo que pode evidenciar este fato

diz respeito ao diferencial de preço entre o álcool e a gasolina, que vinha sendo mantido em

torno de 35% até 1987, mas em 1988 caiu para 30% e, posteriormente, atingiu 25% em

janeiro de 198913. Essa redução no diferencial de preços fez com que não houvesse mais

vantagens de compra em determinados modelos a álcool (veículos usados ou mais possantes),

alterando as expectativas dos consumidores com relação à manutenção do Programa.

12 Vale lembrar que o Proálcool era um programa altamente subsidiado pelo governo. Assim, ele paga aos produtores muito mais do que cobra dos consumidores. 13 Cálculos efetuados pelo autor, de acordo com dados de preços provenientes do MME.

Page 27: A Evolução do Consumo de Gasolina no Brasil e suas Elasticidades

34

Tabela 2 – Venda de automóveis movidos a gasolina e a álcool, entre 1975 e 1996.

VENDA DE CARROS MOVIDOS A GASOLINA E A ÁLCOOL (1975-1996)

Carros a gasolina Carros a álcool % de carros a álcool 1975 778.920 0 0 1976 808.729 0 0 1977 748.071 0 0 1978 877.295 0 0 1979 905.706 3.114 0,3 1980 626.467 240.638 27,0 1981 344.428 136.241 28,3 1982 365.399 232.575 38,9 1983 78.610 579.328 88,1 1984 33.481 565.536 94,4 1985 28.653 645.551 95,8 1986 61.915 697.050 91,8 1987 31.190 458.683 93,6 1988 77.312 556.482 88,0 1989 260.821 397.734 60,4 1990 542.740 81.650 13,1 1991 526.479 148.494 22,0 1992 476.351 194.566 29,0 1993 786.421 264.235 25,1 1994 1.134.570 141.870 11,1 1995 1.556.000 40.709 2,5 1996 1.585.000 12.000 0,8

Fonte: Calle & Cortez (1998).

Em 1989, os receios com relação ao futuro do Proálcool aumentaram ainda mais, visto

que a partir de março deste mesmo ano, os donos de automóveis a álcool tiveram de passar a

conviver com a falta do combustível. Sendo assim, houve uma queda na demanda de carros a

álcool e passou-se a converter veículos movidos a álcool para gasolina, apesar do alto custo

de tal procedimento 14.

Antes deste período, a Petrobras pagava um preço muito alto para garantir o

fornecimento do álcool combustível. Segundo SILVA (1997), em maio de 1989, por exemplo,

o álcool hidratado chegava ao consumidor com um preço somente 28% maior que o seu custo

de produção. Desta forma, se é levado em consideração que neste preço final está incluído o

custo de distribuição, fica claro que o álcool estava sendo subsidiado pela empresa. E, parte

14 Apesar de ser mais interessante economicamente vender o carro a álcool e comprar outro movido a gasolina, não havia demanda para os primeiros. Então, a conversão era a única saída para um menor prejuízo por parte dos possuidores de automóveis movidos a álcool.

Page 28: A Evolução do Consumo de Gasolina no Brasil e suas Elasticidades

35

deste prejuízo assumido pela Petrobras era repassado para o preço da gasolina, ou seja, quem

mais sofreu os impactos desta situação foram os proprietários dos veículos a gasolina.

Vale lembrar que o preço do álcool combustível, neste período, era regulado pelo

governo como uma tarifa pública, ou seja, era um preço controlado15. Sendo assim, a única

forma de a Petrobras reduzir sua trajetória de déficits gerada pela insustentabilidade da prática

de subsídios ao álcool, era pressionar para a redução cada vez maior da participação do álcool

na matriz energética brasileira.

No início dos anos 90 há escassez de álcool carburante e, por isso, o Brasil passa a

importar este produto para abastecer a frota. Diante da crise de abastecimento, ao longo desta

década, o mercado de automóveis passou a valorizar os carros a gasolina, e as fábricas

passaram a produzi-los em maior escala. E, os usineiros, por sua vez, preferem produzir

açúcar, cuja cotação internacional está em alta, em vez de vender álcool a preço baixo para a

Petrobrás.

I.4 – A INTRODUÇÃO DO GNV NA MATRIZ ENERGÉTICA BRASILEIRA

O GNV passou a integrar a Matriz Energética Nacional em 1988. De acordo com

IOOTTY et al (2004), a idéia inicial era utilizar o GNV como substituto do óleo diesel para a

frota de veículos pesados (micro ônibus, ônibus e caminhões de diversas tonelagens) nos

centros urbanos. O alcance deste objetivo, entretanto, acabou sendo prejudicado devido a

algumas dificuldades inerentes ao mercado de GNV como combustível substituto do óleo

diesel, tais como a pequena diferença entre o preço do óleo diesel e do GNV, e a insuficiente

disponibilidade em território nacional de postos de serviço com capacidade específica para

atender à frota. Por conta disso, o GNV acabou por se difundir a partir de seu uso em frotas de

veículos leves. Pode-se analisar mais detalhadamente o histórico da evolução do GNV no

Brasil descrito acima através de um cronograma das fases de utilização deste combustível no

cenário nacional, desenvolvida no site Gasnet.

A chamada primeira fase de utilização do GNV no país, engloba o período de 1980

até o final do ano de 1991. Nesta fase ocorreu o início das discussões para a utilização do 15 “Os choques desencadearam uma espiral inflacionária na economia brasileira, cuja superindexação tornava difícil uma política anti-inflacionária consistente; assim, o governo passou a utilizar tarifas públicas e preços de energéticos como instrumentos de combate à inflação, impedindo que os preços subissem ao mesmo ritmo dos seus custos. (...). Com o segundo choque do petróleo, a alta de juros e a crise financeira do Estado, não havia como prosseguir no mesmo rumo.” (Araújo & Oliveira, 2003, p..517)

Page 29: A Evolução do Consumo de Gasolina no Brasil e suas Elasticidades

36

GNV como combustível e a criação de Comissões Governamentais para o estudo da

substituição do óleo diesel pelo GNV no transporte de cargas e passageiros. Apesar desta

mobilização inicial, houve algumas dificuldades iniciais, relacionadas à pouca disponibilidade

do produto e a pequena diferença entre os preços do óleo diesel e do GNV, tornando a

conversão de frotas inviável. Desta forma, criou-se um impasse: não se investia em conversão

de frotas nem na construção de Postos de Serviço.

Na segunda fase, de 1992 a meados de 1994, ocorreu a liberação do uso de GNV para

taxistas e frotas de empresas e a inauguração do primeiro Posto de Serviço para venda de

GNV para o público. Neste período, os volumes de GNV demandados cresceram bastante em

função da viabilidade econômica do seu uso em táxis, acarretando a falta de produto para

abastecimento.

A terceira fase corresponde ao período que vai desde meados de 1994 ao final de

1996. Neste período, o Plano Real propiciou uma estabilização do preço dos combustíveis e,

por isso, uma sensação para o usuário de que a economia feita pelo uso de GNV era

relativamente menor. Ao mesmo tempo, a concessão de isenção de impostos para os taxistas

que optassem pelo uso de GNV acarretou em uma grande renovação da frota de veículos,

principalmente em São Paulo.

A quarta fase de utilização do GNV no país começou em 1997 e perdura até os dias

de hoje. Neste período, ocorreu a liberalização do uso de GNV para veículos

particulares.Além disso, houve uma mudança na mentalidade dos usuários, que hoje

percebem melhor as vantagens do uso do GNV na substituição da gasolina e do álcool e no

meio ambiente. O crescimento do mercado de transportes autônomos e de frotistas alavancou

a demanda de GNV, atrelado a um maior número de Postos de Serviço oferecido ao público,

garantindo a oferta deste combustível.

O Gráfico 7 abaixo ilustra o avanço no consumo de GNV ao longo das quatro fases

descritas acima.

Page 30: A Evolução do Consumo de Gasolina no Brasil e suas Elasticidades

37

Gráfico 7 – Evolução do consumo de GNV por fase em mil m³ (1988-2003)

0

200

400

600

800

1.000

1.200

1.400

1988

1989

1990

1991

1992

1993

1994

1995

1996

1997

1998

1999

2000

2001

2002

2003

10³ m

³

1 432

Fonte: MME (Balanço Energético Nacional)

Neste sentido, pode-se destacar dois fatores que explicam o aumento do uso do GNV

entre os veículos leves:

a) Medidas de liberação do uso do combustível para taxistas, e veículos particulares16; em

ambos os casos com descontos na cobrança do IPVA (atualmente, de 75% no Rio de Janeiro, e

de 25% em São Paulo, por exemplo).

b) Política executada pela Petrobras de oferecer um preço diferenciado para o mercado de

GNV, fornecendo a este combustível uma competitividade preço em relação a gasolina, seu

principal concorrente.

Tabela 3 – Total de cilindros de GNV no Brasil (1996-2003)

Ano Numero de cilindros Acumulado 1996 4.800 4.800 1997 4.458 9.258 1998 9.600 18.858 1999 38.835 57.693 2000 87.224 144.917 2001 147.954 292.871 2002 156.564 449.435 2003 194.072 643.507

Fonte: IOOTTY, M. et alli (20041)

16 Decreto 1.787, de 12 de janeiro de 1996.

Page 31: A Evolução do Consumo de Gasolina no Brasil e suas Elasticidades

38

A Tabela 3 acima ilustra o argumento acima e demonstra a evolução do número de

cilindros de GNV instalados em automóveis no Brasil, que pode servir como uma proxy da

frota de veículos movidos a gás no país17. Assim, pode-se notar que políticas estatais de

incentivo ao consumo de um combustível entrante no mercado têm se mostrado eficazes

quanto aos seus objetivos no Brasil. Este fato se mostrou verdadeiro tanto no que diz respeito

à massificação do uso do álcool hidratado como combustível (a partir do final da década de

70), quanto ao aumento do consumo de GNV.

17 Entretanto, é difícil saber o número exato de veículos movidos a GNV que rodam atualmente no país, uma vez que nem todos os proprietários informam aos DETRAN’s sua conversão. E, a coleta de informações junto às conversoras também não é viável, visto que muitas delas não são homologadas pelo Inmetro.

Page 32: A Evolução do Consumo de Gasolina no Brasil e suas Elasticidades

39

CAPÍTULO II – MODELOS DE DEMANDA DE COMBUSTÍVEIS E A TÉCNICA DE CO-INTEGRAÇÃO

Este capítulo tem por objetivo promover uma análise empírica acerca dos

determinantes do consumo de gasolina no Brasil, com o auxílio de instrumentos

econométricos. Desta forma, pretende-se avaliar como se deu a evolução do comportamento

da demanda por gasolina ao longo de 31 anos (1973-2003), a partir de seu preço, da renda e

do preço do álcool. Através do método de co-integração, que será explicado mais adiante,

serão estimadas as elasticidades preço e renda da demanda por gasolina e a elasticidade-preço

cruzada da demanda por gasolina em relação ao álcool.

II. 1 – VARIÁVEIS E BASE DE DADOS

II. 1. 1 – AS VARIÁVEIS

De modo a alcançar o objetivo proposto na introdução deste capítulo, utilizar-se-á as

seguintes variáveis:

(a) Variável dependente:

� Consumo de gasolina anual per capita em m3 (Cgast)

(b) Variáveis independentes:

� Produto Interno Bruto (PIB) real18 anual per capita em US$ milhões (Yt);

� Preço real18 da gasolina em US$/m3 (Pgast); e

� Preço real18 do álcool em US$/m3 (Palct);

O período de cobertura das variáveis em questão varia entre os anos de 1973 e 2003.

Quatro principais fontes de informação foram utilizadas: Agência Nacional do Petróleo

(ANP), para os dados de consumo anual de gasolina em mil m3; Ministério de Minas e

Energia (MME), para os dados de preço da gasolina e do álcool US$/m3; Banco Central do

18 Ou seja, a preços constantes.

Page 33: A Evolução do Consumo de Gasolina no Brasil e suas Elasticidades

40

Brasil (BCB), para os dados de PIB anual per capita em R$ de 1979; e IBGE, para os dados

de população.

De forma geral, o tratamento dos dados a serem utilizados se deu da forma como se

segue: a série referente ao consumo de gasolina foi tratada no intuito de retratar o consumo

per capita. Os dados de preço, fornecidos pela fonte em dólares correntes, foram convertidos

para dólares constantes com ano base 1979, utilizando-se um índice de preços ao consumidor

dos EUA19. E, finalmente, os dados de PIB, fornecidos pelo BCB em US$ correntes e na

forma per capita, sofreram um tratamento similar aos dados referentes aos preços, também

com ano base 1979.

Neste trabalho foi utilizado o pacote estatístico E-Views para calcular as etapas

propostas pela metodologia que será apresentada na seção a seguir.

As variáveis apresentadas acima foram convertidas para escala logarítmica, no intuito

de facilitar a interpretação dos coeficientes de cada uma delas após a realização dos testes

econométricos, a serem feitos no próximo capítulo. Desta forma, tais coeficientes passam a

ser vistos como variações percentuais.

A evolução de tais variáveis e suas conseqüências já foram objeto de estudo no

primeiro capítulo desta monografia. Todavia, é interessante recordar alguns pontos.

Tal como foi dito anteriormente, os dois choques do petróleo (1973 e 1979)

promoveram uma elevação nunca antes vista nos preços do barril do petróleo e,

conseqüentemente, de seus derivados (como pode ser visto no Gráfico 9), gerando a

necessidade de redução em seu consumo. Entretanto, como pode ser observado no Gráfico 8,

apesar do primeiro choque do petróleo, a demanda por gasolina continuou a crescer e,

somente após o segundo choque, apresentou uma tendência de queda que perdurou até o ano

de 1988.

19 Disponível em www.bls.gov.

Page 34: A Evolução do Consumo de Gasolina no Brasil e suas Elasticidades

41

Gráfico 8 – Evolução do Consumo de Gasolina per capita em m3 (escala logarítmica)

4.0

4.2

4.4

4.6

4.8

5.0

75 80 85 90 95 00

LOG_CGAS

Fonte: ANP

Gráfico 9 – Evolução do Preço Real da Gasolina em US$/m3 (1979=100) (escala logarítmica)

-6.2

-6.0

-5.8

-5.6

-5.4

-5.2

-5.0

75 80 85 90 95 00

LOG_PGAS

Fonte: MME

Este fato poderia ser explicado pela inelasticidade-preço da demanda por petróleo e

seus derivados no curto prazo, entretanto uma resposta concreta só poderá ser dada a partir

dos resultados dos testes econométricos a serem realizados no próximo capítulo.

Deve-se ressaltar que a elasticidade mede o quanto uma variável pode ser afetada por

outra, isto é, nos informa a variação percentual que ocorrerá em uma variável como reação a

Page 35: A Evolução do Consumo de Gasolina no Brasil e suas Elasticidades

42

um aumento de x% em outra variável. Mais especificamente, a elasticidade-preço de demanda

nos informa qual a variação percentual na quantidade demandada de uma mercadoria após o

aumento de 1% em seu preço (PINDYCK & RUBINFELD, 2002). Se a magnitude do valor

calculado for menor do que a unidade, pode se dizer que o bem é inelástico ao seu preço20.

Ou seja, se os agentes econômicos quisessem reduzir seus gastos com petróleo ou

derivados, devido a sua impossibilidade de substituir o petróleo ou derivados por outro tipo de

combustível ou tecnologia mais barata no curto prazo, teriam que diminuir a renda gasta com

os mesmos.

Isto significava que o país teria de reduzir sua dependência em relação ao petróleo e

derivados e/ou encontrar um produto que os substituísse. Com este objetivo, o governo passou

a incentivar a exploração e produção nacional do óleo e, ao mesmo tempo, fontes alternativas,

não baseadas em petróleo. Este último incentivo foi dado através da implementação do PNA

em 1975, o qual teve duas fases: a do álcool anidro, que seria misturado à gasolina e tinha a

intenção de diminuir o volume importado de óleo e derivados; e a do álcool hidratado,

iniciada em dezembro de 1978, e cujo objetivo era produzir uma frota de veículos movidos

somente a este combustível, dando para isso inúmeras vantagens21. Uma dessas vantagens

dizia respeito à fixação do preço do álcool a um nível inferior ao da gasolina. O

comportamento da variável preço do álcool pode ser observado no Gráfico 10 abaixo:

Gráfico 10 – Evolução do Preço Real do Álcool Hidratado em US$/m3 (1979=100) (em escala logarítmica)

-6.6

-6.4

-6.2

-6.0

-5.8

-5.6

80 82 84 86 88 90 92 94 96 98 00 02

LOG_PALC

Fonte: MME

20 Esta explicação também é válida para o caso de elasticidade/inelasticidade renda da demanda por um bem. 21 Por este motivo somente há dados relativos ao preço do álcool combustível a partir de 1979.

Page 36: A Evolução do Consumo de Gasolina no Brasil e suas Elasticidades

43

Após os choques do petróleo, a demanda mundial por óleo se estabilizou. O ano de

1986 foi marcado pelo chamado contra-choque do petróleo, no qual houve uma queda brutal

nos preços do petróleo. Este período também foi marcado pela crise do Proálcool, devido,

principalmente, à falta de credibilidade dos consumidores no que concerne à manutenção do

PNA pelo governo, que se confirmou três anos mais tarde, quando os donos de automóveis a

álcool tiveram de passar a conviver com a falta do combustível. Sendo assim, houve uma

queda na demanda de carros a álcool e passou-se a converter veículos movidos a álcool para

gasolina, apesar do alto custo de tal procedimento.A evolução do consumo de álcool no país

pode ser observado no Gráfico 11 abaixo.

Gráfico 11 – Evolução do Consumo de Álcool Hidratado em m3

0

20

40

60

80

80 82 84 86 88 90 92 94 96 98 00 02

CONS_ALC

Fonte: ANP

Na década de 90 a demanda por gasolina voltou a crescer. Isso se deu principalmente

depois de 1994, como resultado da abertura da economia, a qual permitiu que os preços dos

bens importados caíssem, inclusive carros; e do programa de estabilização promovido pelo

governo, que derrubou os índices de inflação para menos de 10% ao ano. (ALVES & DE

LOSSO, 2002).

Em relação ao comportamento do PIB ao longo do período em análise, pode-se dizer

que o período 1974-1984 “marca o auge e o esgotamento do modelo de crescimento vigente

no país desde os anos 50, isto é, do modelo de industrialização por substituição de

Page 37: A Evolução do Consumo de Gasolina no Brasil e suas Elasticidades

44

importações” (GIAMBIAGI et alli, p.94, 2005) através do qual, até o início da década de 80,

o país apresentou um forte crescimento econômico. A década de 80 foi considerada uma

década perdida em termos de crescimento do PIB, com apenas um breve período de

recuperação entre 1984 e 1986; e a década de 90 e início dos anos 2000 apresentaram, de

forma geral, um crescimento moderado. Estes movimentos podem ser verificados no Gráfico

12 que se segue.

Gráfico 12 – Evolução do PIB real per capita em US$ milhões (1979=100) (escala logarítmica)

2.2

2.4

2.6

2.8

3.0

3.2

75 80 85 90 95 00

LOG_PIB

Fonte: IBGE

II. 2 – MODELOS DE DEMANDA: REVISÃO BIBLIOGRÁFICA E MÉTODO ANALÍTICO

A demanda por gasolina pode ser determinada por inúmeros fatores, tanto objetivos

quanto subjetivos. Entretanto, como é sabido, é impossível retratar a completa realidade

através de modelos estatísticos e econométricos.

Existem inúmeros trabalhos no meio acadêmico que procuram estudar a evolução do

consumo do combustível em diversos países, através de inúmeros métodos, dos mais simples

aos mais complexos, e distintas variáveis. Alguns deles serão apresentados a seguir.

Page 38: A Evolução do Consumo de Gasolina no Brasil e suas Elasticidades

45

Dahl e Sterner (1991) apresentam um apanhado geral dos principais dados utilizados e

de dez diferentes categorias de modelos matemáticos que estudam a evolução da demanda por

gasolina. Aqui não serão descritas todas as modalidades abordadas pelo trabalho supracitado,

visto que a intenção não é fazer um resumo do mesmo, mas sim promover um apanhado geral

dos tipos de modelagem existentes sobre o tema desta monografia.

De acordo com este trabalho, o modelo mais simples é o modelo estático, no qual a

demanda por gasolina é função de seu preço real e da renda real.

Cgast = f1 (Pgast, Yt) (1)

Outros modelos, também apresentados por Dahl e Sterner (1991), adotam que o

consumo de gasolina depende, além do preço real do combustível e da renda real, do estoque

de veículos movidos a este combustível. Este tipo de modelo encontra-se representado em (2).

Alguns estudos são ainda mais específicos e indicam que o tamanho e as características do

automóvel movido a gasolina são mais sensíveis ao preço da gasolina do que a quantidade de

carros movidos a tal combustível. Portanto, há estudos que incluem dentre os determinantes

do consumo de gasolina variáveis como eficiência, tamanho e peso do veículo, modelo

representado em (3). Estes modelos são chamados de modelos de características do veículo; e

capturam o ajustamento de longo prazo entre a quantidade e as características do automóvel.

Cgast = f2 (Pgast, Yt, Vt), em que V é o estoque de veículos movidos a gasolina (2)

Cgast = f3 (Pgast, Yt, Vt, CHAR), onde CHAR são as características do veículo

movido a gasolina em termos de eficiência (3)

Uma segunda gama de modelos, considerados dinâmicos, levam em consideração que

a adaptação do consumidor à variação em sua renda e no preço do combustível leva tempo.

Um modelo recente mas muito usado para representar este comportamento é o modelo de

ajustamento parcial, que estima a quantidade de gasolina demandada como função do preço

real da gasolina, da renda real e da quantidade de gasolina demandada no período anterior. O

mais simples deles encontra-se representado em (4) e é chamado de “lagged endogenous

model”.

Cgast = f4 (Pgast, Yt, Cgast-1) (4)

Page 39: A Evolução do Consumo de Gasolina no Brasil e suas Elasticidades

46

Há também modelos dinâmicos que relaxam a hipótese usada em (4) de que o preço e

a renda têm estruturas de defasagem idênticas. Estes modelos são chamados de modelos de

defasagens distribuídas. A forma mais simples de apresentar este modelo pode ser vista em

(5). Além disso, pode-se observar na literatura existente a presença de modelos que mesclam

os chamados “lagged endogenous model” com o modelo de defasagens distribuídas, como

pode ser visto em (6). Este modelo chama-se: “model lagged endogenous other lag” e é

normalmente usado na ausência de informação nos dados coletados.

Cgast = f5 (∑Pt-i, ∑Yt-i) (5)

Cgast = f6 (∑Pt-i, ∑Yt-i, Cgast-1) (6)

II. 2. 1 – ESTIMAÇÃO DA FUNÇÃO A SER UTILIZADA

Neste trabalho, assumir-se-á um modelo estatístico onde a demanda por gasolina é

uma função de seu preço, do preço do álcool e da renda, como se segue:

Cgast = f (Pgast; Palct; Yt) (7)

Como dito na introdução deste capítulo, o método a ser utilizado para calcular as

elasticidades preço e renda da demanda por gasolina e a elasticidade-preço cruzada da

demanda por gasolina em relação ao álcool será o de co-integração.

Basicamente, este método é utilizado para estimar as relações de curto e longo prazos

entre duas ou mais variáveis de interesse usando dados de séries temporais. No presente

trabalho, o uso de tal técnica permitirá identificar e estimar as elasticidades preço e renda da

demanda por gasolina no curto e longo prazos. A equação empregada assume a seguinte

especificação:

ttttt PalcPgasYCgas εββββ ++++= lnlnlnln 3210 Eq.(I),

onde εt é o resíduo. As demais variáveis já foram especificadas na seção anterior.

A estimação das elasticidades preço e renda da demanda de gasolina utilizando dados

de séries temporais e seguindo a técnica de co-integração sugerida em Engle & Grenger

(1987) já foi adotada em estudos sobre demanda de gasolina como: Bentzen (1994), para a

Page 40: A Evolução do Consumo de Gasolina no Brasil e suas Elasticidades

47

Dinamarca; Eltony & Al-Mutairi, (1995), sobre o Kuwait; Ramanathan (1999), para a Índia;

e, Alves & De Losso (2003), para o Brasil. Ainda para o caso do Brasil, Iootty et alli (2004)

realizou um estudo acerca da evolução do consumo de GNV, entre 2001 e 200322.

Nos casos dinamarquês e indiano, as variáveis consideradas como determinantes do

consumo da gasolina são o preço real da gasolina (Pgast) e a renda real per capita (Yt) (8); no

caso do Kuwait, são relevantes o preço real da gasolina, a renda real per capita e o consumo

de gasolina per capita do período anterior (Cgast-1) (9).

Cgast = f (Pgast;Yt) (8)

Cgast = f (Pgast; Yt; Cgast-1) (9)

O método de co-integração consiste em três etapas:

1ª etapa) Analisar o comportamento das séries presentes na Eq.(I), de forma a verificar se

estas são geradas por processos estocásticos estacionários ou não.

Um processo estocástico é considerado estacionário quando sua média e sua variância

forem constantes ao longo do tempo; e quando a covariância entre dois valores quaisquer da

série analisada depender somente da distância temporal que os separa, e não do período de

tempo efetivo que os separa. Em termos formais, isto significa que uma série ht qualquer é

considerada estacionária se, para todos os valores de t, é válido que:

(a) E(ht) = µ � média constante;

(b) Var(ht) = E(ht – µ) = σ2 � variância constante;

(c) Cov(ht, ht+s) = cov(ht, ht-s) � covariância depende de s, e não de t.

As séries a serem utilizadas para gerar uma regressão devem ser estacionárias, de

modo a garantir não possuam um comportamento explosivo ou divergente, o que poderia

implicar em estimadores de mínimos quadrados, estatísticas de teste e preditores enganosos e

não confiáveis (HILL, 2003).

22 IOOTTY, M. et alli. “Uma análise da competitividade preço do GNV frente à gasolina: estimação das elasticidades da demanda por GNV no Brasil no período recente”. In: Rio Oil & Gas Expo and Conference, 2004, Rio de Janeiro. (Anais). Rio de Janeiro. IE/UFRJ, 2004.

Page 41: A Evolução do Consumo de Gasolina no Brasil e suas Elasticidades

48

As regressões que utilizam séries temporais com este tipo de comportamento são

chamadas de espúrias. Deve-se tomar cuidado com este tipo de regressão, pois os resultados

fornecidos por elas parecem significativos, mas não o são. Uma regra prática para suspeitar

que a regressão estimada é espúria é sugerida por GUJARATI (2000, p.730): Se R223 > d

(estatística de Durbin-Watson), há fortíssimos indícios de que se trata de uma regressão

espúria.

Neste trabalho, a verificação da estacionaridade ou não das séries é feita através dos

testes de Dickey Fuller (DF) e Dickey Fuller Aumentado (DFA), que também permitem

verificar a ordem de integração de cada uma das variáveis. Estes testes verificam a presença

de raiz unitária nas séries, a qual indica séries temporais não estacionárias.

O teste DF envolve estimar a seguinte equação:

ttt uhth +++=∆ −110 δφφ ,

em que t é a variável de tempo ; e ut é o termo de erro estocástico e segue as hipóteses

clássicas de que tem média zero, variância σ2 constante e é não autocorrelacionado. Se ut é

autocorrelacionado, utiliza-se o teste DFA, o qual envolve estimar a equação que se segue:

t

m

iititt hhth εϕδφφ +∆+++=∆ ∑

=−−

1110 ,

em que ( ) ( )322211 , −−−−−− −=∆−=∆ tttttt hhhhhh etc. Em ambos os testes, a hipótese nula a ser

testada é a de que ht é estacionária, ou seja, δ=0.

H0: δ=0 � indica estacionaridade, ou inexistência de raiz unitária;

H1: δ≠0 � indica não estacionaridade, ou presença de raiz unitária

A estatística t relativa ao coeficiente δ não segue a distribuição t de Student. E, por

isso, a estatística t calculada da maneira tradicional é conhecida como estatística τ (tau), cujos

valores críticos foram tabulados por Dickey e Fuller (GUJARATI, 2000, p. 725); daí o nome

do teste. Se o valor absoluto calculado da estatística τ for maior que os valores críticos 23 O R2 é uma estatística que mensura o sucesso da regressão em prever os valores da variável dependente dentro da amostra.

Page 42: A Evolução do Consumo de Gasolina no Brasil e suas Elasticidades

49

absolutos da estatística τ de DF, então a hipótese nula não é rejeitada e a série analisada é

estacionária24.

Vale notar que muitas séries não são diretamente estacionárias. Muitas delas só o

serão a partir de sua diferenciação, e pode ser que seja necessário promover este processo

mais de uma vez para que isto ocorra. Se uma série temporal necessitar ser diferenciada uma

vez para que se torne estacionária, então pode-se dizer que a série original é integrada de

ordem 1, ou I(1)25. Ou seja, a série original é não estacionária, mas sua primeira diferença

( 1−−=∆ ttt hhh ) o é. Segundo Engle & Granger (1987), o desejável é que os testes de raiz

unitária apontem a existência da mesma ordem de integração para todas as variáveis

envolvidas na Eq (I).

2ª etapa) Avaliar a existência de co-integração entre as variáveis, através da verificação

(mediante os testes de DF e DFA) da presença ou não de raiz unitária nos resíduos resultantes

da estimação da Eq.(I) por mínimos quadrados ordinários.

A existência de co-integração informa que, mesmo se o valor τ de cada um dos termos

defasados das variáveis presentes na Eq.(I) indicar a presença de raiz unitária (ou não

estacionaridade), a combinação linear das mesmas pode ser estacionária. Ou seja, embora

cada uma das séries apresente, de forma independente, uma tendência, elas podem “estar

tendendo ao mesmo tempo” (GUJARATI, 2000, p.731), de modo sincronizado. De acordo

com Iootty et alli (2004, p.7):

“a existência de co-integração entre duas variáveis implica que ambas

compartilham tendências estocásticas semelhantes, e, sendo as suas diferenças

estacionárias, elas nunca divergem uma da outra, apresentando, assim, uma relação de

equilíbrio de longo prazo”.

Quando as séries são não estacionárias, os procedimentos de teste t e F usuais não são

válidos e, neste sentido, a regressão representada na Eq.(I) é espúria. Entretanto, quando as

24 Isto implica a inexistência de raiz unitária. 25 Isto é, a ordem de integração de uma série corresponde ao número de vezes que é preciso diferenciá-la para torná-la estacionária (IOOTTY et alli, 2004)

Page 43: A Evolução do Consumo de Gasolina no Brasil e suas Elasticidades

50

varáveis da mesma equação são co-integradas, então os resultados dos testes t e F usuais são

válidos, assim como a regressão representada na Eq.(I).

Não obstante, deve-se ressaltar que não se deve regredir o termo defasado de uma

variável sobre o termo defasado de outra de modo a evitar o problema da não estacionaridade,

pois ao se fazer isso pode-se perder a relação de longo prazo entre tais variáveis.

Desta forma, para detectar a presença de co-integração entre as variáveis, deve-se

regredir a equação (Eq.(II)) que se segue:

ttttt PalcPgasYCgas lnlnlnln 3210 ββββε −−−−= , Eq.(II)

onde Cgast é o consumo de gasolina anual per capita; Yt é o PIB real anual per capita; Pgast é

o preço real da gasolina; e Palct é o preço real do álcool. Através desta equação deve-se

verificar se εt é estacionária. Para isso, aplica-se os testes DF e DFA nos resíduos estimados

(εt) da Eq.(I). Se a resposta for afirmativa, isto é, se ao realizar os testes de DF e DFA εt for

I(0), então as tendências das variáveis representadas na Eq.(I) se anulam e elas são integradas

de mesma ordem26. A existência de co-integração entre as variáveis também informa que a

regressão representada na Eq.(I) não é espúria e que não houve a perda de nenhuma

informação de longo prazo, algo que ocorreria se fossem usadas as primeiras diferenças das

séries.

Uma vez constatada a presença de co-integração, os parâmetros estimados são

consistentes e podem ser interpretados como elasticidades de longo prazo:

t

t

t

t

t

t

PalcCgas

PgasCgas

YCgas

∂∂

=∂∂

=∂

∂= 321 ;; βββ

onde β1, β2 e β3 são, respectivamente, as elasticidade-renda; elasticidade-preço da gasolina; e a

elasticidade-preço cruzada da gasolina.

A elasticidade-preço cruzada de (demanda por) um bem diz respeito à variação

percentual na quantidade demandada deste bem resultante da variação no preço de outro bem

26 Ou seja, se duas séries são integradas de mesma ordem, isto significa que elas podem ser co-integradas.

Page 44: A Evolução do Consumo de Gasolina no Brasil e suas Elasticidades

51

(PINDYCK, 2002). No caso estudado, a elasticidade-preço cruzada da gasolina em relação ao

álcool indica o quanto a demanda por gasolina é afetada por um aumento no preço do álcool.

3ª etapa) Exame da relação de curto prazo, feita mediante a construção e estimação do

“modelo de correção do erro”, através da seguinte equação:

ttitititt ZPalcPgasYCgas ++∆+∆+∆+=∆ −−−− 143210 ˆlnlnlnln εααααα Eq.(III),

onde ∆ indica a primeira diferença; Zt é o resíduo da Eq.(III) e obedece ao processo do tipo

“ruído branco”; e 1ˆ −tε é o resíduo defasado resultante da estimação da Eq.(I), onde:

131211011 lnˆlnˆlnˆˆlnˆ −−−−− −−−−= ttttt PalcPgasYCgas ββββε

Uma série temporal ht obedece a um processo aleatório do tipo “ruído branco” quando,

para todo o valor de t, é válido que:

(a) E(ht) = 0 � média zero;

(b) Var(ht) = σ2 � variância constante;

(c) Cov(ht, hs) = 0, para todo t≠s � não auto-correlacionado.

Feito isso, os parâmetros estimados α1, α2 e α3 são, respectivamente, as elasticidades

de curto prazo referentes à renda; ao preço da gasolina; e cruzada da gasolina em relação ao

preço do álcool. O parâmetro α4 representa a velocidade de ajustamento de um eventual

choque em relação ao equilíbrio de longo prazo, ou seja, indica qual a proporção do

desequilíbrio em Cgast em um período que é corrigida no período seguinte.

Assim, sendo as variáveis apresentadas na Eq.(I) co-integradas, apresentam uma

relação de equilíbrio de longo prazo. Porém, a curto prazo pode haver ou não um

desequilíbrio. Portanto, conforme explicita Gujarati (2000, p.734), pode-se chamar o termo do

erro εt de “erro do equilíbrio”, e usá-lo para ligar o comportamento da variável Cgast a curto

prazo com seu valor a longo prazo. Como o próprio nome diz, o “modelo de correção do erro”

corrige o possível desequilíbrio.

Page 45: A Evolução do Consumo de Gasolina no Brasil e suas Elasticidades

52

A partir da realização de todas as etapas descritas acima é de se esperar os seguintes

resultados (Tabela 4):

Tabela 4 – Sinais esperados das variáveis

VARIÁVEIS SINAIS ESPERADOS

Elasticidade-preço da gasolina Negativo

Elasticidade-renda da gasolina Positivo

Elasticidade-preço cruzada da gasolina em relação ao álcool Negativo

Uma vez confirmados estes sinais, espera-se encontrar que: a gasolina é um bem

comum, ou seja, quando seu preço aumenta, a quantidade demandada diminui; normal, isto é,

quando a renda do consumidor aumenta, a quantidade demandada também aumenta; e possui

o álcool como bem substituto, o que significa que um aumento no preço da gasolina levaria,

coeteris paribus, a um aumento no consumo de álcool. No capítulo a seguir serão

apresentados os resultados finais dos testes econométricos.

Page 46: A Evolução do Consumo de Gasolina no Brasil e suas Elasticidades

53

CAPÍTULO III – RESULTADOS: A ESTIMAÇÃO DO MODELO DE DEMANDA DE COMBUSTÍVEIS COM CO-INTEGRAÇÃO

Este capítulo visa apresentar os resultados obtidos com os testes econométricos

promovidos anteriormente e explicá-los, de modo que estes apresentem sentido econômico.

Desta forma, serão apresentados os resultados de cada etapa de forma separada e,

posteriormente, uma explicação de seu significado.

III. 1 – CONSIDERAÇÕES INICIAIS

Antes de apresentar os resultados obtidos deve-se ressaltar dois limites inerentes à

utilização do método analítico e às fontes de informação apresentados aqui. O primeiro diz

respeito a uma restrição do pacote estatístico E-views, levando a que somente seja possível

realizar os testes mencionados no capítulo anterior para o período 1979-2003. Este

inconveniente teve como causa a disponibilidade de dados referentes ao preço do álcool, que

se iniciam apenas no ano de 1979, enquanto os outros dados seguem a periodicidade 1973-

2003. E, o programa acima referido não reconhece periodicidade diferente para as variáveis a

serem testadas.

O segundo inconveniente se refere aos resultados encontrados para os testes

econométricos para dois cortes temporais distintos. Realizando os testes para o período 1979-

2000, os resultados foram compatíveis com o esperado. Contudo, para o período 1979-2003,

os resultados encontrados apresentaram-se incoerentes com a Teoria Econômica.

Sucintamente, os sinais encontrados para as elasticidades preço e preço cruzada da gasolina

em relação ao álcool manifestaram-se contrários ao esperado.

A metodologia proposta foi aplicada para uma periodicidade menor (1979-2000) do

que a estabelecida inicialmente apenas para averiguar qual seria a resposta obtida. E,

surpreendentemente, encontrou-se os sinais “corretos”. Este resultado é consistente com os

testes realizados por Alves & De Losso (2003), que usaram o período 1973-1999.

Esta divergência encontrada aqui em relação ao sinal dos resultados referentes a

periodicidades distintas sugere que, a partir de 2003, ocorre algum tipo de mudança em

relação ao comportamento do consumo da gasolina.

Page 47: A Evolução do Consumo de Gasolina no Brasil e suas Elasticidades

54

Assim, o presente capítulo está organizado de modo a apresentar, primeiramente, os

resultados de cada uma das etapas do método de co-integração para o corte temporal 1979-

2000, visto que este está de acordo com o esperado. Posteriormente, serão apresentados

apenas os resultados do cálculo das elasticidades de curto e longo prazo da demanda por

gasolina para o período 1979-2003, para que a leitura deste trabalho não se torne repetitiva.

Em seguida, os resultados serão comparados e analisados.

Como já mencionado, o processo de co-integração consiste em três etapas

metodológicas, cujos resultados serão apresentados nas sub-seções a seguir. Todavia, antes de

prosseguir, deve-se apresentar as estatísticas descritivas das variáveis a serem utilizadas, tanto

para o período 1979-2000 (Tabela 5), quanto para o período 1979-2003 (Tabela 6).

Tabela 5 – Estatísticas descritivas das variáveis para o período 1979-2000

Média Máximo Mínimo Desvio Padrão Número de Observações

LnCgast 4,572968 4,965552 4,194817 0,250154 22

LnYt 2,742967 3,106570 2,327961 0,232837 22

LnPgast -5,691382 -5,116653 -6,050465 0,254392 22

LnPalct -6,071910 -5,677934 -6,428130 0,196580 22

Tabela 6 – Estatísticas descritivas das variáveis para o período 1979-2003

Média Máximo Mínimo Desvio Padrão Número de Observações

LnCgast 4,605302 4,965552 4,194817 0,250644 25

LnYt 2,705099 3,106570 2,327961 0,242400 25

LnPgast -5,720457 -5,116653 -6,050465 0,252712 25

LnPalct -6,112140 -5,677934 -6,550952 0,217908 25

III. 2 – RESULTADOS DAS ETAPAS DO MÉTODO DE CO-INTEGRAÇÃO PARA O PERÍODO 1979-2000

Nesta sub-seção serão apresentados os resultados das três etapas metodológicas

descritas no capítulo anterior. São elas: teste da estacionaridade das variáveis; estimação da

equação de co-integração; e estimação do “modelo de correção do erro”, respectivamente.

Page 48: A Evolução do Consumo de Gasolina no Brasil e suas Elasticidades

55

III.2.1 – RESULTADO DA 1a ETAPA METODOLÓGICA

A primeira etapa metodológica consiste em aplicar o teste de estacionaridade para as

variáveis envolvidas na Eq.(I). Para que se possa prosseguir, vale ressaltar, é desejável que os

testes de raiz unitária apontem a existência da mesma ordem de integração para todas as

variáveis envolvidas na estimação (Engle & Granger, 1987). Como pode ser visto na Tabela 7

abaixo, este objetivo foi alcançado.

Mediante a aplicação dos testes DF e DFA, verificou-se que as séries lnCgast, lnYt,

lnPgast e lnPalct são estacionárias de 1ª ordem (são I(1)), ou seja, é necessário diferenciar

cada uma das séries uma vez para que se tornem estacionárias. A Tabela 6 a seguir apresenta

o resultado dos testes de estacionaridade das variáveis para o período 1979-2000:

Tabela 7 – Teste de estacionaridade para o período 1979-2000

Variáveis Nível Primeira Diferença LnCgast -1,9602 -2,618568b

LnYt -2,6552 -3,006264a

LnPgast -3,0294 -3,523815b

LnPalct -3,8304 -4,188311c

Todos os testes incluem intercepto, exceto Ln Cgast, que não inclui nem intercepto nem tendência. a Significante ao nível de 10%, a partir dos valores críticos apresentados em MacKinnon (1991). b Significante ao nível de 5%, a partir dos valores críticos apresentados em MacKinnon (1991). c Significante ao nível de 1%, a partir dos valores críticos apresentados em MacKinnon (1991).

III. 2.2 – RESULTADOS DA 2a ETAPA METODOLÓGICA

A segunda etapa metodológica consiste em estimar a equação de co-integração

(Eq.IV):

ttttttt PalcPgasYYCgasttCgas εββββββββ +++∆++∆+++= lnlnlnlnlnln 765432

210

Page 49: A Evolução do Consumo de Gasolina no Brasil e suas Elasticidades

56

e avaliar a existência de co-integração entre as variáveis. Isto é feito, através da verificação,

mediante os testes de DF e DFA, da presença ou não de raiz unitária nos resíduo da estimação

da Eq.(I) por mínimos quadrados ordinários.

É interessante notar que, em ambos os períodos submetidos aos testes foram inseridas

as variáveis de tendência t e t² em Eq.(IV) em virtude do comportamento da série de consumo

per capita da gasolina em escala logarítmica, que se mostra quadrática (Ver Gráfico 8 do

capítulo anterior). A não inclusão desta tendência se constituiria como omissão de uma

variável relevante que viesa os outros coeficientes.

As variáveis tCgasln∆ e tYln∆ foram agregadas à equação de ambos os períodos

levados em consideração (ou seja, 1979-2000 e 1979-2003), pois parecia razoável supor que o

consumo de gasolina no período t é afetado tanto pela renda quanto pelo consumo dos

mesmos no período anterior.

A estimação do modelo de co-integração através da Eq.(IV) resultou nos seguintes

resultados para o período 1979-2000, apresentados na Tabela 8:

Tabela 8 – Resultados da estimação do modelo de co-integração

Variável Dependente: ln Cgast Regressores Coeficiente Prob

Constante (β0) = 3,617871 0,0000 t (β1) = -0,138737 0,0000 t² (β2) = 0,006058 0,0000

tCgasln∆ (β3) = 0,502968 0,0015 lnYt (β4) = 0,337395 0,0004

tYln∆ (β5) = -0,256010 0,0017 lnPgast (β6) = -0,315302 0,0380 lnPalct (β7) = 0,199747 0,1669 R2 0,986782 R2 ajustado 0,979665 Estatística de Durbin Watson 2,046832

Pode ser observado através da tabela acima o considerável ajuste do modelo, com R2

de 0,98, além do resultado para a estatística de Durbin Watson, a qual não apresentou

evidências de auto-correlação serial.

Page 50: A Evolução do Consumo de Gasolina no Brasil e suas Elasticidades

57

Os coeficientes relativos às variáveis lnYt, lnPgast e lnPalct estimados mostraram-se

estatisticamente significativos, sendo o último significativo ao nível de 20% e os demais, ao

nível de 5%.

Resta, agora, analisar a estacionaridade do resíduo da equação, de modo a verificar se

as variáveis presentes em Eq.(IV) apresentam, realmente, relação de co-integração. A Tabela

9 apresenta tais resultados.

Tabela 9 – Teste de estacionaridade para os resíduos da Eq.(IV)

Variável Nível Primeira Diferença

tε -2,6927 -2,983296d

O teste inclui intercepto. d Significante ao nível de 10%, a partir dos valores críticos apresentados em MacKinnon (1991).

Como pode ser visto, o teste de DFA indica a presença de estacionaridade em tε , ou

seja, tε é integrado de ordem zero (ou I(0)). Portanto, é possível afirmar que as variáveis

presentes na equação estimada são co-integradas.

De acordo com a metodologia descrita no Capítulo II, os coeficientes referentes às

variáveis lnYt, lnPgast e lnPalct poderiam ser interpretadas como elasticidades de longo-prazo

da renda; do preço da gasolina; e preço cruzada da gasolina, respectivamente. Porém, como as

variáveis tCgasln∆ e tYln∆ foram incluídas na equação, é necessário realizar uma pequena

conta para que se encontre o real valor das elasticidades. A Tabela 10 evidencia a fórmula

para o cálculo de cada uma das elasticidades e seus respectivos resultados.

Page 51: A Evolução do Consumo de Gasolina no Brasil e suas Elasticidades

58

Tabela 10 – Fórmulas e resultados das elasticidades de longo prazo da demanda por gasolina no período 1979-2000

FÓRMULA RESULTADO

Elasticidade-renda da gasolina 3

54

1 βββ

−+

0,163741972

Elasticidade-preço da gasolina 3

6

1 ββ−

-0,634369618

Elasticidade-preço cruzada da gasolina em relação ao

álcool 3

7

1 ββ−

0,401879557

Vê-se através da Tabela 10 que as elasticidades apresentaram os sinais esperados:

positivo para a elasticidade-renda da gasolina e elasticidade-preço cruzada da gasolina em

relação ao álcool; e negativo para a elasticidade-preço da gasolina.

Além disso, os resultados da Tabela 10 mostram que a gasolina revelou-se inelástica

tanto ao seu preço quanto à sua renda no longo prazo (respectivamente -0,634369618 e

0,163741972), enquanto o álcool apresentou-se como um substituto imperfeito para a mesma

(0,401879557). Ou seja, a relação de substituibilidade foi confirmada, porém, foi reduzida,

indicando que no longo prazo a demanda por gasolina é relativamente inelástica em relação

ao preço do álcool.

Este pode ser considerado um resultado razoável, se é levado em conta que, apesar de

no longo prazo haver a possibilidade de os consumidores trocarem de carro, adotando um

modelo a álcool27, há uma certa insegurança em relação à disponibilidade deste último nos

postos, dado o fim inesperado (do ponto de vista dos consumidores) do Programa Proálcool;

apesar do custo que esta atitude poderia acarretar.

Como o álcool revelou-se como substituto imperfeito da gasolina, a demanda por esta

última tende a ser inelástica a seu preço, isto é, os consumidores continuam a comprar

gasolina, mesmo a um preço mais alto.

Seguindo as etapas metodológicas já apresentadas, uma vez comprovada e analisada a

existência de relação de longo prazo entre as variáveis consideradas na Eq.(IV), pode-se 27 Até o ano 2000 os carros bi-combustíveis, ou flex fuel, ainda não tinham entrado no mercado brasileiro. Este fato só ocorreu em 2003.

Page 52: A Evolução do Consumo de Gasolina no Brasil e suas Elasticidades

59

examinar as relações de curto prazo entre as mesmas. Isto será feito na sub-seção que se

segue.

III. 2.3 – RESULTADOS DA 3a ETAPA METODOLÓGICA

A terceira etapa metodológica consiste na construção e estimação do “modelo de

correção do erro”, para que se possa examinar a relação de curto prazo entre as variáveis. Este

“modelo de correção do erro” foi calculado a partir da seguinte equação:

ttitititt ZPalcPgasYtCgas ++∆+∆+∆++=∆ −−−− 1543210 ˆlnlnlnln εαααααα Eq.(V),

A variável t foi anexada à equação, pois no curto prazo as variáveis estão defasadas,

ou seja, (W(t) - W(t-1)). Sendo assim, se W(t) = mt² (ver equação de longo prazo), sendo b

uma constante, então W(t) - W(t-1) = mt² - m(t-1)² = 2mt-m, que é uma função de t.

A tabela 11 sumariza os resultados da estimação do “modelo de correção do erro” para

o período 1979-2000.

Tabela 11 – Resultados da estimação do “modelo de correção do erro”

Variável Dependente: ∆ ln Cgast Regressores Coeficiente Prob

Constante (α0) = -0,112163 0,0105 t (α1) = 0,009734 0,0030

tYln∆ (α2) = 0,471758 0,0003

tPgasln∆ (α3) = -0,073379 0,7043

tPalcln∆ (α4) = -0,198628 0,2468

1ˆ −tε (α5) = -1,349079 0,0225 R2 0,777739 R2 ajustado 0,698361 Estatística de Durbin Watson 2,571459

Depois de estimado o modelo, os parâmetros estimados α2, α3 e α4 são,

respectivamente, as elasticidades de curto prazo referentes à renda; ao preço da gasolina e ao

preço do álcool. O parâmetro α5 representa a velocidade de ajustamento de um eventual

choque em relação ao equilíbrio de longo prazo.

Page 53: A Evolução do Consumo de Gasolina no Brasil e suas Elasticidades

60

De acordo com os resultados obtidos, tanto a elasticidade-preço da gasolina quanto sua

elasticidade-renda apresentaram os sinais esperados: positivo para a primeira e negativa para a

segunda. Entretanto somente a última mostrou-se estatisticamente significativa, ao nível de

5%.

A elasticidade-preço cruzada da gasolina em relação ao álcool revelou sinal contrário

ao esperado (-0,198628). Todavia, esta variável, assim como a variável elasticidade-preço da

gasolina, não é estatisticamente significativa.

Novamente, a gasolina apresentou-se inelástica tanto em relação à sua renda quanto ao

seu preço (0,471758 e -0,073379, respectivamente).

Se se considera que o longo prazo é o tempo suficientemente longo para que

consumidores e produtores possam se ajustar completamente à mudança de preço

(PINDYCK, 2002, p.35), é de se esperar no curto prazo uma inelasticidade-preço cruzada da

gasolina em relação ao álcool. Isto ocorre devido à impossibilidade dos proprietários de

veículos movidos a gasolina se ajustarem ao novo patamar de preços e comprarem

automóveis movidos a álcool no curto prazo. Mas, o presente estudo não conseguiu apresentar

um resultado conclusivo acerca deste fato.

No tocante à velocidade de ajustamento a um eventual choque em relação ao

equilíbrio de longo prazo, pode-se dizer que o coeficiente referente ao 1ˆ −tε (α5) indica que um

aumento na demanda por gasolina de 1% no período t-1 acima do que seria previsto pela

equação de co-integração levaria a uma redução da demanda por gasolina no período seguinte

de aproximadamente 1,34%. Esta relação negativa de ajustamento é, até certo ponto

compensada pelos coeficientes positivos das variáveis t e tYln∆ . Alves & De Losso (2003)

atribuem o elevado valor da velocidade de ajustamento à um efeito perverso, com sinal

inverso, que se propaga ao longo dos anos e que não é destruído em toda a sua magnitude.

É interessante comparar os resultados obtidos para o curto e para o longo prazo,

considerando-se os anos entre 1979-2000. A Tabela 12 resume estes resultados.

Page 54: A Evolução do Consumo de Gasolina no Brasil e suas Elasticidades

61

Tabela 12 – Resumo das elasticidades de longo e curto prazos para os anos 1979-2000*

LONGO PRAZO CURTO PRAZO Elasticidade-renda da gasolina 0,163741972 0,471758 Elasticidade-preço da gasolina -0,634369618 -0,073379 Elasticidade-preço cruzada da gasolina em relação ao álcool 0,401879557 -0,198628

*Todos os valores correspondem aos resultados dispostos na Tabela 9 e na Tabela 10, respectivamente.

A tabela acima mostra que a gasolina é mais elástica à renda e menos elástica ao seu

preço no curto prazo, se comparado aos resultados obtidos para o longo prazo. Isto significa

que o consumidor está mais propenso a despender sua renda com gasolina no curto prazo do

que no longo prazo; e que, no longo prazo, a sensibilidade da demanda a variações no preço

da gasolina aumenta consideravelmente.

Uma comparação entre os valores referentes à elasticidade-preço cruzada da gasolina

em relação ao álcool, no curto e no longo prazo, não seria adequada, pois o resultado para o

curto prazo não é estatisticamente significativo. É de se esperar, no entanto, que haja uma

maior elasticidade desta variável no longo prazo, se comparado ao curto prazo, devido à

possibilidade de adequação dos agentes econômicos ao um novo preço da gasolina.

III.3 – CÁLCULO DAS ELASTICIDADES DE LONGO E CURTO PRAZOS PARA OS ANOS ENTRE 1979 E 2003

Antes de examinar os resultados obtidos para a periodicidade 1979-2003, é importante

sublinhar que, nesta seção, os resultados não serão apresentados os resultados de forma

detalhada, como feito anteriormente, visto que a seqüência de análises é idêntica àquela

descrita na seção III.2. Desta forma, aqui serão apresentados somente os resultados finais do

cálculo das elasticidades de longo e curto prazos entre os anos 1979-2003.

Utilizando-se a mesma metodologia aplicada para o período 1979-2000, obteve-se que

também para o período 1979-2003 as variáveis são integradas de primeira ordem.

No tocante às elasticidades da demanda por gasolina de longo e curto prazos pode-se

dizer que não foram encontrados, de forma geral, os sinais esperados das elasticidades de

Page 55: A Evolução do Consumo de Gasolina no Brasil e suas Elasticidades

62

longo e curto prazos, como já mencionado nas considerações iniciais deste capítulo. A Tabela

13 apresenta, sucintamente, estes resultados:

Tabela 13 – Elasticidades renda; preço e preço cruzada da gasolina em relação ao álcool para o longo e o curto prazo, entre 1979-2003

LONGO PRAZO CURTO PRAZO Elasticidade-renda da gasolina 0,2580672 0,538935 Elasticidade-preço da gasolina 0,1344002 0,218810 Elasticidade-preço cruzada da gasolina em relação ao álcool -0,151822 -0,433211

A elasticidade-renda apresentou o sinal esperado, ou seja, revelou-se positiva, tanto

para o longo quanto para o curto prazo. Assim como para a periodicidade levada em

consideração na seção anterior, a gasolina mostrou-se mais elástica à renda no curto prazo,

demonstrando que os consumidores estão mais dispostos a gastar sua renda com este

combustível no curto prazo, quando mesmo que ocorra um aumento nos preços não há muito

a ser feito, a não ser escolher entre abastecer ou não o automóvel com gasolina.

Através da observação da tabela acima é possível notar que o valor da elasticidade-

preço da gasolina e da elasticidade-preço cruzada da gasolina em relação ao álcool, tanto de

longo quanto de curto prazo, apresentaram sinais considerados incorretos na teoria

econômica, pois não é de se esperar que quando o preço da gasolina sobe, aumente a demanda

por gasolina; nem que quando o preço do álcool se eleva, diminua a demanda por gasolina.

Entretanto, alguns fatores podem explicar os porquês deste resultado aparentemente

enganoso. A este respeito, tem sido recorrente o surgimento de notícias sobre dois tipos de

problemas com relação ao abastecimento de combustíveis, os quais têm suscitado particular

atenção da ANP:

a) Adulteração e fraude da gasolina;

b) Sonegação fiscal decorrente dos diferenciais de ICMS (Imposto sobre Circulação de

Mercadorias e Serviços) entre estados.

A adulteração e a fraude da gasolina ocorre porque a ANP não possui informações

suficientes para calcular a quantidade efetivamente vendida da chamada gasolina “C”

Page 56: A Evolução do Consumo de Gasolina no Brasil e suas Elasticidades

63

(gasolina pura – “A” – adicionada de um percentual de álcool que varia entre 20 e 25%, de

acordo com a escolha do governo), pois apenas dispõe de dados sobre a venda bruta de

gasolina de cada posto de venda de combustíveis, sem ter conhecimento se tal

estabelecimento adicionou algum outro tipo de substância à gasolina vendida.

A questão da sonegação fiscal advinda dos diferenciais de ICMS entre estados ocorre

quando uma distribuidora declara que vende gasolina para um posto de gasolina de um

determinado estado com uma determinada alíquota de ICMS, mas a venda efetiva se dá para

outro estado cuja alíquota de ICMS é menor que a do outro estado. Esta operação permite que

a distribuidora se aproprie deste diferencial de alíquota de ICMS e, conseqüentemente,

consiga distribuir o combustível a um preço mais baixo.

Este trabalho não pretende examinar detalhadamente esta questão, pois fugiria do

escopo proposto. Contudo, cabe salientar que estes fatores não são facilmente detectados pelo

órgão regulador, responsável pela coleta dos dados relativos à venda e ao preço da gasolina e

do álcool.

Outro fator que pode ter influenciado o comportamento do consumo de gasolina é a

crescente utilização do GNV no mercado automobilístico nacional. Como mostra a Tabela 3

do Capítulo I desta monografia, a trajetória do número de conversão de veículos movidos à

gasolina para o GNV tem sido ascendente. Este impacto não foi levado em consideração nos

cálculos promovidos anteriormente. Porém, Iootty et alli (2004), como dito acima, realizou

um estudo acerca da competitividade do GNV frente à gasolina.

O artigo supracitado verificou a existência de uma relação de substitubilidade

imperfeita entre o GNV e a gasolina, principalmente no curto prazo 28. Além disso, obteve os

seguintes resultados: no curto prazo o consumo de GNV é inelástico ao seu preço, e o fator

renda é, neste caso, um importante determinante da demanda. Isto significa que, no curto

prazo, “a viabilidade financeira para efetuar a conversão do automóvel é mais relevante do

que a própria dinâmica dos preços” (IOOTTY et alli, 2004, p.9). No longo prazo a situação se

inverte, ou seja, a demanda reage mais a variações no preço, sobretudo do GNV, do que a

alterações da renda.

28 Ou seja, consumidores são pouco sensíveis à variações do preço da gasolina no curto prazo.

Page 57: A Evolução do Consumo de Gasolina no Brasil e suas Elasticidades

64

Os três fatores citados acima são apenas pistas do que pode estar por trás do

comportamento aparentemente errôneo do consumo de gasolina. Para que resultados mais

conclusivos sejam apresentados é necessária uma continuidade na avaliação das elasticidades

da demanda por gasolina para os próximos anos.

Page 58: A Evolução do Consumo de Gasolina no Brasil e suas Elasticidades

65

CONCLUSÃO

Ao longo desta monografia foram descritos os impactos econômicos dos choques de

preço de 1973 e 1979. A partir dos efeitos causados por tais choques ficou clara a necessidade

de se procurar alternativas ao uso de um recurso natural esgotável, tal como é o petróleo.

O Brasil constituiu-se como país pioneiro na adoção do álcool como substituto para a

gasolina no final da década de 70. Entretanto, já no início da década de 90 a porcentagem de

carros a álcool eram produzidos no país era inferior a 30%, em decorrência da crise de

abastecimento ocorrida por volta do ano de 1987.

Desta forma, a análise da viabilidade do álcool como substituto para a gasolina no

Brasil tornou-se relevante.

A técnica de co-integração serviu de instrumental para que isso fosse feito. Este

método foi utilizado no intuito de calcular as elasticidades de longo e curto prazos da

demanda por gasolina e, através disso, analisar a possibilidade de o álcool se apresentar como

forte candidato à substituição da gasolina em automóveis.

O objetivo inicial deste trabalho era o de promover este estudo para o período 1973-

2003, mas devido à já mencionada restrição do pacote estatístico E-Views, o ano inicial da

análise teve de ser alterado para 1979. Posteriormente, ao serem calculadas as elasticidades

renda, preço e preço cruzada da gasolina em relação ao álcool, obteve-se um resultado nada

esperado para estas duas últimas variáveis, tanto para o longo quanto para o curto prazo.

A partir daí, procurou-se descobrir para qual periodicidade os resultados apresentavam

os sinais “corretos”. Verificou-se que quanto mais o último ano do período levado em

consideração para a análise se distanciava do ano de 2003, melhores eram os resultados

obtidos29. Isto pode ser visto claramente através dos resultados obtidos para o período 1979-

200030, quando os testes apresentaram resultados os sinais esperados e, com isso, uma análise

econômica da relação de substituibilidade entre a gasolina e o álcool pôde ser feita.

29 Foram realizados testes para periodicidades que levavam em consideração o ano de 1979 como inicial, e como ano final os anos de 1999, 2000, 2001, 2002, e 2003. 30 Não foi apresentado o resultado para o ano de 1999, pois esta análise já foi promovida por ALVES & DE LOSSO (2003).

Page 59: A Evolução do Consumo de Gasolina no Brasil e suas Elasticidades

66

Os resultados, apresentados no Capítulo III desta monografia, mostraram que o álcool

é sim um substituto para a gasolina, ao menos no longo prazo, para os anos entre 1979 e 2000.

Porém, trata-se de um substituto imperfeito, isto é, os agentes econômicos não são

indiferentes entre consumir gasolina e álcool. Em relação ao curto prazo, torna-se difícil obter

algum tipo explicação final, na medida em que os resultados dos testes econométricos para a

variável tPalcln∆ no curto prazo não são estatisticamente significativos, como já dito

anteriormente. Todavia, é de se esperar que a elasticidade-preço da gasolina cruzada com o

álcool no curto prazo seja inelástica, uma vez que neste caso não há incentivos para uma

adaptação dos agentes econômicos.

Através da análise dos resultados para o período 1979-2000, pode-se concluir que os

consumidores não são muito sensíveis a modificações no preço da gasolina, inclusive no

longo prazo. Este resultado é bastante plausível, num país em que o transporte é maciçamente

dependente de derivados do petróleo, seja sob a forma de gasolina, óleo diesel, ou outros.

A elasticidade-renda da gasolina, como esperado, apresentou-se positiva tanto no curto

quanto no longo prazo. Em relação à magnitude dos resultados, observou-se que os

consumidores encontram-se mais dispostos a despender sua renda com gasolina no curto

prazo do que no longo prazo.

Além disso, também para o período acima referido, os testes revelaram ser a gasolina

inelástica ao seu preço no longo prazo e totalmente inelástica a ele no curto prazo.

Estas conclusões devem ter implicações em termos de planejamento e execução de

política energética no que diz respeito ao suprimento futuro e à demanda de gasolina e, em

última instância, de petróleo.

Uma política energética que almeja ser eficaz deve estar atenta à questão do

suprimento futuro de petróleo e de seus derivados. Encontrar um substituto à altura para eles é

tarefa que deve ser realizada o quanto antes, pois quando as reservas petrolíferas se exaurirem

o preço destes produtos tenderá a ascender para valores inimagináveis nos dias de hoje. E, não

haverá outra coisa a ser feita para equilibrar oferta e demanda a não ser através da restrição

orçamentária dos donos de automóveis.

Page 60: A Evolução do Consumo de Gasolina no Brasil e suas Elasticidades

67

Contudo, esta monografia tem uma contribuição maior a dar do que sugerir ser o

álcool um substituto imperfeito para a gasolina e que, por isso, deve-se buscar algum outro

produto que desenvolva melhor este papel.

Quando são estudados os resultados para os anos entre 1979-2003 observa-se que,

apesar de a elasticidade-renda da gasolina apresentar sinal compatível com a teoria

econômica, com as elasticidades-preço e preço cruzada da gasolina em relação ao álcool o

mesmo não ocorre, aparentemente revelando que a gasolina seria um bem de Giffen31 (ou

seja, quando o preço da gasolina aumenta, aumenta a demanda por este combustível); e o

álcool seria um bem complementar imperfeito da gasolina (isto é, o álcool seria um bem que

deveria ser consumido juntamente com a gasolina). Todavia, estes resultados parecem um

tanto quanto absurdos e deve-se estudar o que está por trás dos mesmos32.

Estando os dados pesquisados corretos, não haveria porque ocorrerem os problemas

acima mencionados no cálculo das elasticidades preço e preço cruzada da gasolina em relação

ao álcool para o período 1979-2003. Sendo assim, buscou-se pesquisar o que poderia estar por

trás destes resultados.

Neste trabalho sugeriu-se que a adulteração de combustíveis e a sonegação fiscal

poderiam estar por trás desta dinâmica, a qual só se apresenta de forma clara a partir do ano

de 2003.

Este tipo de prática tem se tornado comum nas cidades brasileiras, como uma forma

dos postos de combustíveis manterem o preço de sua gasolina competitivo e, com isso, vender

uma maior quantidade do produto. Apesar de denúncias nos principais veículos de

comunicação do país e da insatisfação de muitos consumidores que vêem seus automóveis

sofrendo panes por terem sido abastecidos pela chamada popularmente de “gasolina

batizada”, esta prática continua e os principais responsáveis continuam impunes.

Porém, o objetivo desta monografia não é o de promover denúncias, mas sim atentar

para o fato de que, devido a este tipo de problema na captação da realidade traduzida em

dados, testes econométricos como os efetuados aqui podem sofrer vieses que, de fato, não 31 Conceitos retirados de VARIAN (2000). 32 Deve-se atentar para o fato de que, apesar da entrada no mercado brasileiro do carro movido à gasolina e álcool (automóveis bi-combustível ou flex fuel) em 2003 e a boa aceitação deste pelos consumidores, este movimento não foi significativo para os anos levados em consideração na análise, de modo a se considerar o álcool como um produto complementar à gasolina.

Page 61: A Evolução do Consumo de Gasolina no Brasil e suas Elasticidades

68

ocorreram. E, por isso, resultados nitidamente enganosos podem aparecer, como foi verificado

a partir dos resultados apresentados acima.

Entretanto, é interessante que este tipo de estudo continue a ser feito para anos

subseqüentes, de modo que se possa ter uma noção mais consolidada deste resultado e,

através disso, sugerir outros fatores que possam estar distorcendo o cálculo das elasticidades.

Desta forma, o governo deve atentar para a questão não só da necessidade de busca de

um outro substituto economicamente viável para a gasolina, mas também para a questão da

fraude nos combustíveis e da sonegação de impostos.

Page 62: A Evolução do Consumo de Gasolina no Brasil e suas Elasticidades

69

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