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UNIVERSIDADE CÂNDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU” A EVOLUÇÃO PSICOMOTORA DA CRIANÇA NO MEIO AQUÁTICO João Paulo Ozon Fernandes Rio de Janeiro 2007

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UNIVERSIDADE CÂNDIDO MENDES

PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU”

A EVOLUÇÃO PSICOMOTORA DA CRIANÇA

NO MEIO AQUÁTICO

João Paulo Ozon Fernandes

Rio de Janeiro

2007

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UNIVERSIDADE CÂNDIDO MENDES

PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU”

A EVOLUÇÃO PSICOMOTORA DA CRIANÇA

NO MEIO AQUÁTICO

João Paulo Ozon Fernandes

Orientador: Prof. Celso Sanchez

Rio de Janeiro 2007

Monografia apresentada à Universidade Cândido Mendes, como requisito parcial para o término do Curso de Pós-Graduação em Educação Física.

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S U M Á R I O

INTRODUÇÃO ........................................................................................................................ 4

I PSICOMOTRICIDADE ....................................................................................................... 7

1.1 Concepções e definições ........................................................................................................ 7

1.2 Psicomotricidade no sistema educacional ..................................................................... 8

1.3 A motricidade e a percepção ............................................................................................... 10

1.4 Áreas psicomotoras diretamente relacionadas à natação ....................................... 11

II PSICOMOTRICIDADE E NATAÇÃO ......................................................................... 14

2.1 Natação ........................................................................................................................................ 14

2.2 Adaptação ao meio líquido .................................................................................................. 16

III BENEFÍCIOS PSICOMOTORES DA NATAÇÃO PARA CRIANÇAS ........ 20

IV O PROFESSOR DE NATAÇÃO ...................................................................................... 25

4.1 Competência pedagógica ...................................................................................................... 25

4.2 Capacidade ................................................................................................................................. 28

4.3 Um professor competente e capaz .................................................................................... 30

CONCLUSÃO .......................................................................................................................... 34

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ........................................................................... 36

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RESUMO

Este trabalho pretende responder a seguinte questão: “Qual a importância da natação

nos primeiros anos de vida em relação ao desenvolvimento psicomotor da criança?” A

natação, através da psicomotricidade, pode atender à criança numa das mais importantes

fases da sua vida, onde a educação do movimento justifica-se entre muitas outras causas

por: ser a atividade física necessária para sustentar crescimento estrutural normal em

crianças, a orientação básica para a experiência ser estabelecida cedo na vida, poder ser

aumentado e sustentado o aprendizado na sala de aula pela atividade extra-sala; ser na

primeira infância a época em que ocorre as mudanças mais rápidas no crescimento e

desenvolvimento. Além disso, poderá prevenir deficiências como: deficiência na formação

de conceitos; deficiência de percepção (na discriminação de tamanho, na orientação espaço-

temporal e no esquema corporal); alterações no processo de pensamento; memória pobre;

atenção deficiente; problemas de fala e de linguagem, etc. A educação através do

movimento, desde tenras idades, mostra-se assim, não só necessária pelo seu aspecto

preventivo, mas sim, também por oportunizar um desenvolvimento psicomotor harmônico,

contribuindo para que a criança possa desenvolver ao máximo seu potencial humano,

característico do período em que está vivendo.

Outro aspecto relevante a ser mostrado é o papel do professor. O professor é peça

fundamental no ensino da natação, ele atrai o interesse e atenção dos alunos, explica e

demonstra o porque de tudo que faz. O professor deve cuidar da sua imagem perante os

alunos para conseguir a sua confiança. A forma de conseguir isto consiste antes de tudo em

trabalhar com muito empenho, e muito amor, tratar de compreendê-los, encontrar soluções e

respostas para seus problemas e ser acessível aos alunos e respeitá-los. Para que tudo isso

seja possível, é preciso dar aos professores que trabalham principalmente com crianças, uma

formação psicopedagógica completa, materiais adequados, locais amplos e não as

sobrecarregar com classes numerosas.

Palavras-chave: Natação para criança; Desenvolvimento psicomotor.

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INTRODUÇÃO

Este trabalho pretende mostrar a importância da prática da natação em crianças nos

seus primeiros anos de vida bem como o desenvolvimento psicomotor das mesmas no

meio aquático.

A criança é um ser dinâmico, cheio de indagações espontâneas e com múltiplas

habilidades físicas. Sua habilidade motora é utilizada para expansão de seu

desenvolvimento (BIJOU e BAER,1980).

E é nesse sentido que a prática da natação vem crescendo muito durante os últimos

anos. Em estudo recente Lima (2006), concluiu que a partir do início dos anos 80 houve

uma explosão da natação nos grandes centros urbanos. Essa epidemia aquática está voltada

quase que exclusivamente para o atendimento infantil e em especial aos bebês.

Para Bee (1995), “a natação pode ser praticada desde o nascimento, e através dela

adquirir boa coordenação e desenvolver grandes funções, pois ela exercita os grandes

músculos fundamentais do tronco e membros.”

“A natação, pode ser considerada como uma das atividades que maiores benefícios propiciam ao desenvolvimento corporal e também pela possibilidade de ser praticada sem restrições, desde o nascimento. Parece a mais indicada para a dinamização do potencial psicomotor da criança.” (LIMA, 2006)

Segundo Piaget, a criança utiliza movimento, e o pratica para aprender, antes de

conceitualizar um esquema ou modelo de pensamento no desenvolvimento do intelecto

(GOMES,1987).

Para Wallon, o pensamento é como que projetado no exterior pelos movimentos

que o exprimem, e se ele não é expresso em gestos tanto como por palavras, ele não existe

(GOMES,1987).

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Vemos assim, o movimento citado como fator de importância no desenvolvimento

do ser humano. E, progressivamente observa-se, o crescente interesse do homem, em

analisá-lo nas mais diversas áreas da ciência, nos seus mais amplos e diferentes aspectos.

No que se refere ao estudo do movimento como um meio de educação global,

encontramos a psicomotricidade, que hoje ocupa um lugar imprescindível na educação

perceptivo-motora. Segundo citação de Vitor da Fonseca,

“No século das dificuldades escolares, que arrastam consigo problemas familiares, pedagógicos e sócio-patológicos, a psicomotricidade pode desempenhar um papel muito importante como medida preventiva, não só porque está baseada antropológica e epistemologicamente, como também porque procura ser um meio de intervenção crítica na realidade pedagógica da escola atual” (FONSECA, 1988).

A natação, através da psicomotricidade, pode então, atender à criança numa das

mais importantes fases da sua vida, onde a educação do movimento justifica-se entre

muitas outras causas por: ser a atividade física necessária para sustentar crescimento

estrutural normal em crianças, a orientação básica para a experiência ser estabelecida cedo

na vida, poder ser aumentado e sustentado o aprendizado na sala de aula pela atividade

extra-sala; ser na primeira infância a época em que ocorre as mudanças mais rápidas no

crescimento e desenvolvimento (KLEMM, 1995). Além disso, poderá prevenir deficiências

como: deficiência na formação de conceitos; deficiência de percepção (na discriminação de

tamanho, na orientação espaço-temporal, no esquema corporal e na discriminação figura

fundo); alterações no processo de pensamento; memória pobre; atenção deficiente;

problemas de fala e de linguagem, etc (KLEMM, 1995). A educação através do

movimento, desde tenras idades, mostra-se assim, não só necessária pelo seu aspecto

preventivo, mas sim, também por oportunizar um desenvolvimento psicomotor harmônico,

contribuindo para que a criança possa desenvolver ao máximo seu potencial humano,

característico do período em que está vivendo.

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Outro aspecto importante a ser discutido neste trabalho é o papel do professor. O

professor é peça fundamental no ensino da natação, ele atrai o interesse e atenção dos

alunos, explica e demonstra o porque de tudo que faz. O professor deve cuidar da sua

imagem perante os alunos para conseguir a sua confiança. “A forma de conseguir isto

consiste antes de tudo em trabalhar com muito empenho, e muito amor, tratar de

compreendê-los, encontrar soluções e respostas para seus problemas e ser acessível aos

alunos e respeitá-los” (LIMA, 2006). Para que tudo isso seja possível, é preciso dar aos

professores que trabalham principalmente com crianças, uma formação psicopedagógica

completa, materiais adequados, locais amplos e não as sobrecarregar com classes

numerosas.

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CAPÍTULO I

PSICOMOTRICIDADE

1.1 – CONCEPÇÕES E DEFINIÇÕES

Como afirma Chazaud (1978), “a psicomotricidade como tudo aquilo que é vivo,

não se deixa compreender em sua realidade profunda, através de um mero jogo de

palavras”. No entanto algumas definições lhe são atribuídas pelos autores com o objetivo

de facilitar a sua compreensão.

Ainda segundo o próprio Chazaud (1978), “a psicomotricidade consiste na unidade

dinâmica das atividades, dos gestos, das atitudes e das posturas, enquanto sistema

expressivo, realizador e representativo do ´ser-em-situação` e da coexistência com

outrem”.

Para Costallat (1981), “a soma e o psique integram a unidade indivisível do

homem, e a psicomotricidade como ciência da educação enfoca esta unidade, educando o

movimento ao mesmo tempo que põe em jogo as funções intelectuais”.

Fonseca (1988) evita a fixação de conceitos, mas explica que esta tomada de

posição significa: “primeiro conceber o movimento como função e como comportamento,

vê-lo como relação e valor vital e existencial; segundo como relação de situação, e por

último, como tomada de posição, ação, reação e conciencialização”.

Segundo La Pierre (1989), psicomotricidade é um método geral de educação, que

como meio pedagógico, utiliza o movimento em todas as suas formas para educar

integralmente o indivíduo.

Em relação a objetivos, Chazaud (1978) explica que tem a psicomotricidade o

objetivo de permitir um sentir-se melhor, e desse modo, por um melhor investimento da

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corporalidade, situar-se no espaço, no tempo, no mundo dos objetos e atingir um

remanejamento e uma harmonização de seus modos de relação com outrem”.

Haja visto que inúmeras outras definições podem ser atribuídas a psicomotricidade,

observa-se ainda que, como uma ação pedagógica a psicomotricidade, utiliza o movimento

humano, educando-o, com fins de assegurar à criança uma melhoria do seu comportamento

e desenvolvimento, através da aquisição do conhecimento e conscientização do próprio

corpo; controle e domínio das coordenações; da lateralidade; do equilíbrio e da noção

espaço-temporal (COSTALLAT, 1981).

1.2 – PSICOMOTRICIDADE NO SISTEMA EDUCACIONAL

Como afirma Fonseca (1988), “sob a perspectiva clássica, as escolas são

instituições para se aprender e não para se aprender a saber, realizando-se, freqüentemente,

um mero aprendizado condicionado”. Segundo ele, alguns métodos permitem superar estas

deficiências, desenvolvendo muito mais o sentir e o saber, do que o conhecimento

arbitrário e parcial, embora isso encontra-se geralmente em oposição as exigências da

sociedade atual. Lembra ainda o autor que muito freqüentemente, em certos momentos de

sua história a sociedade se faz exigências com fim de eliminar melhor; não utilizando

assim toda potencialidade da criança e impossibilitando a utilização de todas as suas

possibilidades.

Fonseca (1988) ainda acrescenta que educar um homem como ser social é ir mais

além da mera adaptação a esta sociedade; é sim dotá-lo de atitude para superar as

mudanças sociais que derivarão necessariamente da evolução das relações dos homens

entre si”.

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La Pierre (1989) comenta ainda que a plasticidade na adaptação e a possibilidade

de questionar normas implicam que a socialização deve ser uma atividade viva do sujeito,

consciente da necessidade do compromisso social e não um mero conformismo seguido de

um simples acostumar-se a essa sociedade.

Os estudos de Jean Piaget mostram que é necessário para que a criança realmente

aprenda, que esta tenha oportunidade de experimentar, de estimular seu espírito criativo,

para que daí surja a real compreensão do problema ou da situação, não devendo nunca

situar-se como mero observador e repetidor. Para Piaget, ”uma experiência que não seja

realizada pela própria criança, com plena liberdade de iniciativa, deixa de ser, por

definição uma experiência, transformando-se em simples adestramento destituído de valor

formador por falta da compreensão suficiente dos por menores das etapas sucessivas”.

(FONSECA, 1988).

A importância da experiência do indivíduo; a prática ativa na atividade; o

compreender ao invés da simples repetição e a atitude investigadora ao invés de aceitadora,

são enfocadas, como tentamos mostrar por diversos autores. Indo, até as aulas de educação

física especificamente, observamos na maioria das vezes, uma realidade contrária, ou seja:

as aulas geralmente obedecem a um padrão rígido em sua realização, onde modelos pré-

estabelecidos de movimentos são observados e repetido pelos alunos, tirando deles a

oportunidade de criar e assim negligenciando-se o desenvolvimento de suas capacidades

perceptivas. Nessas aulas, geralmente é dada excessiva importância à disciplina e ordem

dos alunos, porém poucas condições para que desenvolvam um trabalho mais perceptivo e

menos mecânico.

Paralelamente, vimos uma tendência a uma modificação desta situação, ou seja:

uma tentativa de situar a educação física realmente como um meio de educação global,

onde as características do indivíduo sejam consideradas e respeitadas, assim como o seu

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nível de desenvolvimento, abordando o movimento não apenas na sua expressão mecânica

e fisiológica e sim como uma manifestação corporal do comportamento. Encontramos

assim a psicomotricidade na problemática educacional atual, como um meio pelo qual o

indivíduo desde tenras idades, através da educação de seus movimentos, do domínio do

equilíbrio e do tônus da postura; da organização do esquema corporal, etc., possa como

assegura La Pierre (1989), “situar-se e atuar no mundo em transformações por meio de: um

melhor conhecimento e aceitação de si; um melhor ajustamento da conduta; uma

verdadeira autonomia e acesso à responsabilidade, no marco da vida social”.

1.3 – A MOTRICIDADE E A PERCEPÇÃO

“Jean Piaget foi um dos autores que mais estudou as inter-relações entre a

motricidade e a percepção. Para ele a motricidade interfere na inteligência, antes da

aquisição da linguagem” (CHAZAUD, 1978).

O movimento constrói um sistema de esquemas de assimilação e organiza o real a

partir de estruturas espaço-temporais e causais.

As percepções e os movimentos, quando estabelecem relação com o meio exterior,

produzem a função simbólica, gerando então a linguagem. A linguagem dá origem à

representação e ao pensamento.

É no movimento que a coordenação dos sistemas sensório-motores se estabelece e

se concretiza. Segundo Chazaud (1978), “a realização do movimento leva a assimilação, se

tornando elemento de compreensão prática, e ao mesmo tempo compreensão da ação. A

motricidade é muito importante na formação da imagem mental e na representação

imagética (revela imaginação)”.

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Através do movimento o indivíduo estabelece uma constante interação com o

mundo. Isto lhe permite um controle e uma intencionalidade progressiva, possibilitando os

conhecimentos dos pormenores da ação.

A motricidade intervém em todos os níveis de desenvolvimento das funções

cognitivas, na percepção e nos esquemas sensório-motores.

A inteligência para Jean Piaget é uma adaptação, é o resultado de uma certa

experimentação motora integrada e interiorizada.

“A adaptação, como uma das estruturas de estabilização, garante a conservação e o

equilíbrio entre o organismo e o meio. A partir do momento em que o organismo se

transforma em função do meio, há adaptação” (CHAZAUD, 1978).

Chazaud (1978) ainda complementa que “o processo de adaptação é subdividido

em: assimilação (constitui o funcionamento do organismo que coordenado os dados do

meio, os incorpora) e a acomodação (resultado de pressões exercidas pelo meio)”.

Portanto, é através da adaptação motora e intelectual que se tem a confirmação de um

equilíbrio progressivo entre um processo assimilador e uma acomodação complementar.

1.4 - ÁREAS PSICOMOTORAS DIRETAMENTE RELACIONADAS À NATAÇÃO

Percepção

É a capacidade de reconhecer e compreender estímulos recebidos. Ela está ligada à

atenção, à consciência e à memória.

É através dos estímulos que podemos perceber e discriminar. Primeiro sentimos

através dos sentidos, em seguida realizamos uma mediação entre o sentir e o pensar.

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Depois de ter feito isso descriminamos. É por intermédio da discriminação que

conseguimos saber diferenciar o que é amarelo do que é azul, e a diferença entre o quatro e

o nove.

Coordenação

A coordenação motora está ligada ao desenvolvimento físico, e é vista como a

união harmoniosa de movimentos. Ela supõe integridade e maturação do sistema nervoso.

A coordenação motora é subdividida em coordenação dinâmica global ou geral;

viso-manual ou fina e visual.

A coordenação dinâmica global abrange todo o corpo do indivíduo e dessa forma

faz com que os grupos musculares diferentes trabalhem ao mesmo tempo a fim de que se

execute movimentos voluntários mais ou menos complexos.

Já na coordenação viso-manual os pequenos músculos trabalham em harmonia na

realização de atividades que utilizam dedos, mãos e punhos.

A coordenação visual se refere aos movimentos específicos com os olhos em todas

as direções.

Equilíbrio

Segundo Fonseca (1988), “equilíbrio é a habilidade da criança em manter o

controle do corpo utilizando ambos os lados simultaneamente, um lado só ou ambos

alternadamente”.

Nos primeiros anos da escola, a identificação de problemas no equilíbrio da

criança, é fator relevante, pois se um equilíbrio adequado, resultará uma melhor adaptação

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geral da criança com ela própria e com todas as coisas que concernem as suas experiências

diárias. Porém, tão importante quanto a identificação de problemas no equilíbrio da

criança, é a sua prevenção, ou seja, a educação do equilíbrio desde cedo.

Lateralidade

O indivíduo normal apresenta as suas habilidades manuais, assim como funções de

escrita, leitura, linguagem, visão, audição, etc. controladas por um dos hemisférios

cerebrais; considerado como hemisfério dominante, a essa função chama-se dominância

lateral. E, ao lado da atividade mais desenvolvida no indivíduo chama-se lateralidade

dominante.

A predominância de um hemisfério sobre o outro determina então o domínio

funcional de um lado do corpo sobre o outro.

A maioria das pessoas apresenta Domínio lateral esquerdo, sendo assim como o

sistema nervoso apresenta vias cruzadas (o hemisfério direito comanda a metade esquerda

do corpo e o hemisfério esquerdo comandando a metade direita), encontramos nelas um

domínio funcional do lado direito do corpo, ou seja: um destrismo ou lateralidade direita.

Quando a dominância lateral é direita, encontramos o domínio funcional do lado

esquerdo do corpo, ou seja: o sinistrismo. Sendo que “a porcentagem de homens adultos

sinistros é maior do que a das mulheres” (FARIA, 2001).

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CAPÍTULO II

PSICOMOTRICIDADE E NATAÇÃO

2.1 - NATAÇÃO

O homem, como os animais, tem as suas habilidades naturais dentro das atividades

físicas, sendo-lhe, de um modo geral, relativamente fácil correr, saltar, trepar e arremessar.

De acordo com Lotufo (2001) os animais, além dessas, “tem a faculdade de nadar, como

habilidade natural, o que não acontece com o homem. Esta é para ele uma habilidade

adquirida”. Ele precisa passar por todo um processo de aprendizagem e de adaptação. “Se

aceitarmos a teoria da evolução, o homem, tendo evoluído da posição horizontal para

tomar definitivamente a posição bípede, terá, naturalmente, que adaptar-se de novo a ela

para desempenhar no meio líquido” (LOTUFO, 2001). A posição quadrúpede facilita aos

animais a permanência estável na água, o que não se dá com o homem na sua posição

ereta.

O homem nunca foi aquático ou anfíbio. Daí a necessidade, provavelmente devido

ao seu alto espírito de imitação, de procurar adquirir a possibilidade de locomover-se na

água, imitando os movimentos e atitudes dos animais que, por natureza, gozam desta

faculdade de movimentarem-se no líquido. A necessidade obriga o indivíduo a resolver

problemas e situações muitas vezes insolúveis aparentemente. Não teria sido acaso a

necessidade imperiosa de atacar ou defender-se que obrigou o homem a nadar em busca da

presa para saciar a fome ou fugir para não ser presa que saciasse a algum animal superior

fisicamente? Animal de inteligência superior, não teria sido ainda a observação que o

levará à conclusão de que ele também poderia flutuar e nadar se os outros corpos e animais

o podiam fazer? A casualidade tem sido responsável por tantas grandes invenções e

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descobertas. Pode também ter sido ela responsável pela verificação de que o homem

também pode flutuar e nadar. Quem sabe alguma queda acidental na água teria ensinado ao

homem que ele também pode dispor dessa habilidade natural dos animais (PEREIRA,

2001).

Seja como for, o fato é que o homem também pode nadar. Adquiriu essa habilidade

vencendo todas as dificuldades que lhe tenham podido deparar.

“Não poderíamos dizer com precisão a data que o homem começou a dedicar-se à

prática da natação. Devemos crer, entretanto, que ela deve remontar à época em que

começou a construir as suas rudimentares habitações lacustres” (LOTUFO, 2001). Foi ai,

provavelmente, que o animal racional, protegendo-se contra os eventuais ataques dos

inimigos, imaginou um meio seguro de repousar. Para alcançar o repouso ou a sua

residência, teria que nadar ou locomover-se de outra qualquer maneira, remando, talvez.

Lotufo (2001) ainda acrescenta que a História e a Literatura fazem freqüentes

referências que nos convencem de que a natação já era praticada nas mais remota

antiguidade. Entre os símbolos da escrita egípcia, por exemplo, encontramos o sinal de um

nadador estilizado, o que leva a crer que eles conheciam a natação, e ainda, considerando-

se que viviam nas margens do grande Nilo, mais uma razão para nos parecer que eram

adeptos da natação.

Lima (2006) ressalta que praticamente em todas as culturas a natação sempre foi

encarada como prática esportiva até surgir a natação terapêutica para pneumopatas, por

volta de 1980, em São José dos Campos-SP, através do IRR-Instituto de Reabilitação

Respiratória.

Em 1984, o método foi apresentado e aprovado pela coordenação técnico-científica

do II Simpósio Internacional de Fisioterapia Respiratória, na pessoa do Sr. Prof. Carlos

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Alberto Caetano Azeredo, realizado na SUAM, Rio de Janeiro, no qual a metodologia foi

apresentada sob a forma de curso.

Até 1986, foi desenvolvida sua metodologia em São José dos Campos-SP e foi

modificada várias vezes, atendendo cada vez mais os aspectos fisiopatólogicos dos

praticantes.

O método natação terapêutica para pneumopatas, foi idealizado, dado a necessidade

de um trabalho específico, atendendo as várias enfermidades respiratórias. Pois até a data

de sua idealização, não existia um trabalho específico e sim a natação convencional

utilizada aos portadores de asma e bronquite. Baseada nos conceitos de anatomia,

cinesiologia, fisiologia e fisiopatologia do aparelho respiratório, foram estudadas e

elaboradas técnicas a serem utilizadas em termos de postura na água e atuação dos

exercícios respiratórios (LIMA, 2006).

“No estudo da biomecânica dos estilos crawl e costas, elaborou-se um programa de

exercícios posturais, objetivando a prevenção de alterações ósseas da coluna vertebral e

torácicas, bem como evitar o agravamento das já existentes” (MANSOLDO, 1997).

Portanto, na metodologia aplicada, conta-se com exercícios respiratórios

objetivando a reeducação funcional respiratória, exercícios posturais, aprendizado e

aperfeiçoamento dos estilos indicados (MANSOLDO, 1997).

2.2 - ADAPTAÇÃO AO MEIO LÍQUIDO

Geralmente, o primeiro contato com o meio líquido a criança sente alterações em

seu corpo, que são na maioria das vezes normal. “É necessário uma adaptação gradual com

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a finalidade de evitar o conhecido trauma de água. A má adaptação ao meio líquido poderá

influir negativamente em uma aprendizagem futura” (PEREIRA, 2001).

De acordo com Pereira (2001), antes de tudo, tem quatro aspectos essenciais nesta

fase: o respeito pela fase de desenvolvimento maturacional que a criança se encontra, o

contato físico, o contato social que terá com o professor e a segurança, pois, não basta que

a criança esteja segura e sim que ela se sinta segura.

A boa adaptação ao meio líquido dependerá principalmente da relação criança e

água, sendo resultado da maneira pela qual a aproximaram do meio líquido e do tempo que

lhe concederam para brincar.

Ao entrar em uma escola de natação, as pessoas se deparam com um mundo novo,

cheio de novidades, e quando crianças, principalmente no aspecto afetivo, onde entrar na

água implica na separação dos pais e em novas formas de adaptação social em razão da

necessária integração a um grupo novo.

O professor deverá compreender que está de frente a uma psicologia complexa de

crescimento e desenvolvimento, a qual necessita de condições únicas e especiais. Deve-se

respeitar a adaptação individual da cada pessoa. Ou seja, o professor deve fazer com que a

instrução acompanhe o nível de desenvolvimento da criança, ou seja, não exigir que

aprenda habilidades específicas, antes que tenha desenvolvido capacidades específicas de

pensamento lógico que são pré-requisitos para compreensão daquela aprendizagem

específica (LOTUFO, 2001).

O professor de natação precisa ter consciência da informação a ser dada ao seu

aluno, com o intuito de não causar, muitas vezes, danos psicológicos nos mesmos. Para

isso é preciso conhecer os pontos básicos de adaptação à água. É importante salientar, que

a adaptação se diferencia em cada caso (jovem, adulto, criança, idosos, etc...), sendo

imprescindível um cuidado especial com crianças e idosos, tendo um contato imediato com

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os pais (no caso das crianças) para saber os seus propósitos e definições desse novo meio

de educação na qual a criança deverá se adaptar.

Na fase de adaptação devemos dar confiança ao aluno, a fim de que ele aprenda a

dominar este meio, deslocando-se e movimentando-se com facilidade.

De acordo com Machado (1992),

“ a Adaptação Psicológica visa familiarizar o aluno ao meio líquido de uma maneira mais lúdica, através de jogos e brincadeiras que busquem contato direto com a água; e a Adaptação Fisiológica visa ambientar o aluno a partir da imersão (mergulho) do rosto e/ou cabeça. Nesta fase, inicia a respiração principalmente a expiração que favorece tremendamente o acesso ao fundo. Esta fase depende muito de um bom trabalho durante a fase de adaptação psicológica”.

Para Skinner (2004) existem muitos exercícios para quem nunca entrou na água, ou

tem medo da mesma. Para ambos os exercícios de adaptação ao meio líquido (com o sem

experiência na água) o professor deverá ter consciência da profundidade da piscina,

conservação da mesma, altura do aluno e exame médico atualizado afim de evitar

transtornos posteriores.

Portanto, durante a aprendizagem da natação, percebe-se que se torna muito

importante o contato de integração: criança x professor. No processo de adaptação ao meio

líquido, importantíssimo para toda a vida aquática do aluno, deve-se ter uma atenção

redobrada para os indivíduos com maior dificuldade no aprendizado, nunca dispensando

normas de segurança e observações técnicas. Coerência, perseverança, bom senso,

paciência e análise crítica, são qualidades das quais o profissional de natação deverá ter

para se manter ativo nessa profissão. A educação na água depende muito do respeito que

temos com ela e com nosso próprio limite.

A partir do momento em que a criança se sente adaptada ao meio líquido deve-se

realizar os diversos exercícios fundamentais à prática da natação, como:

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Respiração: é uma das fases mais importantes neste período de aprendizagem. Toda

dificuldade do nadador em executar a natação reside apenas no fato de não poder, de

início, controlar a forma de respiração. A respiração aquática do homem é diferente de sua

respiração normal, pois no meio líquido temos de inspirar pela boca e expirar pelo nariz.

Descontração facial: é a capacidade que a criança deverá alcançar de submergir o

rosto na água e a mesma não lhe oferecer uma sensação desagradável de desconforto

(contração excessiva dos músculos da face, entrada de água pelo ouvidos, nariz, boca e

olhos fechados). Na descontração facial o aluno se comporta embaixo d’água como se

estivesse fora dela.

Visão sub-aquática: o primeiro contato dos olhos com a água é um problema em si.

Se o contato direto dos olhos aberto com a água já é desagradável, imagine na piscina que

é acrescida de estímulos químicos. Enquanto a criança, na sua primeira permanência

debaixo d’água abre imensamente os olhos, tenha passado pouco tempo protegê-los,

fechando-os. O adolescente fecha normalmente os olhos de modo reflexo. Este

comportamento inibe a orientação dentro d’água e contribui para a insegurança do aluno.

Flutuação: em geral, tão lamentável e descuidada no ensino da natação é de estrema

importância e a julgamos absolutamente necessária. A boa flutuação dá o domínio na água

e contribui de maneira notável para o bom estilo do nadador.

É necessário ensinar, desde os princípios dos elementos básicos bem como dar aos

movimentos uma série de recursos aos quais se poderá valer com êxito (SKINNER, 2004).

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CAPITULO III

BENEFÍCIOS PSICOMOTORES DA NATAÇÃO PARA CRIANÇAS

Como já foi enfatizado anteriormente, a natação é um ato de propulsão e auto-

sustentação na água com movimentos combinados de braços e pernas que foi aprendido

pelo homem através do instinto ou observando os animais. É considerada um dos

exercícios mais completos na atualidade, a ponto de exceder o simples divertimento ou a

prática desportiva, para ser utilizado com finalidades terapêuticas na recuperação de

atrofias musculares e tratamento de problemas respiratórios. Além disso, é importante

como atividade física para manutenção da saúde e como meio de defesa contra

afogamentos ou em operações de salvamento.

Para Gomes (1995) a natação é considerada um dos exercícios físicos mais

completos porque trabalha o maior número de grupamentos musculares; aumenta a

resistência física e conseqüentemente uma maior oxigenação do sangue, da nutrição geral

dos tecidos e proporciona uma excitação do sistema nervoso. Como não há impacto do

corpo com o solo, o risco de lesão é praticamente nulo. “Dentro d’água o corpo fica leve,

as articulações movem-se com maior facilidade e os músculos podem se distender sem

sofrer ações violentas, já que a força gravitacional é quase nula” (GOMES, 1995).

A natação é desenvolvida sob aspectos: desportivo, recreativo, utilitário,

terapêutico e psíquico e é praticada atualmente em quatro estilos: crawl, costas, peito e

golfinho.

“O aprendizado é desenvolvido em várias fases, sendo adaptação ao meio líquido

uma das mais importantes, pois é um momento de integração do aprendiz com o novo

meio” (BUSCH, 1995).

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Apresenta uma grande vantagem sobre os demais exercícios físicos: há de ser

praticado em qualquer idade. Não apresenta limites para crianças, jovens, adultos e idosos;

inclusive os portadores de deficiência física, gestantes e cardiopatas.

Os benefícios da prática da natação não dependem apenas da técnica ou do preparo

físico. Nadar é uma arte, seja por saúde, esporte, lazer ou necessidade.

Segundo Damasceno (1992) a prática da natação pressupõe múltiplas sensações,

percepções e representações. Têm um significado especial as seguintes:

- Sensações Motrizes: são as contrações que ocorrem nos músculos, quando sofrem

um estímulo. Desempenham um enorme papel na coordenação dos movimentos natatórios

que exigem, em geral, uma diferenciação de seus elementos. A alteração da sensibilidade

motora produz a imprecisão dos movimentos. Se um nadador tem que realizar um

movimento natatório, partindo de uma posição inicial, ver-se-á obrigado a organizar o

trabalho muscular de forma distinta para alcançar o objetivo proposto. Embora variando a

posição inicial, graças à sensação do movimento (proprioceptiva), há um reflexo preciso no

córtex cerebral, onde se produz a coordenação dos impulsos nervosos, de preferência nos

centros subtalâmicos e opto-estriados (DAMASCENO, 1992).

Durante a realização das atividades físicas, as sensações das tensões musculares

desempenham um grande papel. Tais sensações são:

a) a sensação do esforço muscular, isto é, o grau de força física empregada;

b) a sensação de resistência a que experimenta ao se produzir a tensão muscular;

c) a sensação da duração da tensão muscular e de suas variações que diferenciamos

com toda clareza em relação às variações da força;

d) a sensação da velocidade do movimento e, neste caso, percebe-se que o aumento

da energia empregada ao realizar o movimento que se opera, de uma maneira

especial, é distinto do esforço que é feito no caso da tensão estática;

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e) a sensação de resistência que implica na superação de algumas forças mecânicas

atuantes no sentido do movimento realizado (STICHER, 1978).

Já para Machado (1983) o êxito de muitas ações desportivas depende, em grande

parte, da precisão das percepções das diversas condições do meio em que se efetuam essas

ações. A base destas percepções é uma diferenciação muito elevada da atividade dos

analisadores que participam na realização do exercício físico dado. Na prática desportiva,

estas percepções especiais são designadas, em geral, com o sentido da água nos nadadores.

“De acordo com o estilo empregado, a resistência da água será sentida preferentemente

pelas extremidades que cumprem o papel mais importante do avanço. Nas percepções da

resistência da água não só figuram as sensações músculo-motoras do nadador, mas também

as sensações de pressão da água e do atrito” (MACHADO, 1993).

- Atenção e Memória: para Fonseca (1994), nos desportos e, em especial na

natação, a memória motora tem grande importância, pois permite ao nadador formar

representação exata da posição do corpo e dos movimentos que realiza: sua forma,

orientação, velocidade, etc. Um aspecto muito importante no treinamento é a lembrança

dos movimentos, que se aprendem, o que não é exeqüível sem o desenvolvimento da

memória motora. A lembrança e a aprendizagem do movimento é sempre processo ativo

que requer participação consciente.

Nas diversas etapas de aprendizagem dos movimentos, a repetição tem caráter

distinto. No período inicial da aprendizagem da natação, a tarefa da repetição consiste em

comprovar o acerto das representações motoras, a fim de alcançar sua maior clareza e

precisão. No período final de treinamento, a finalidade da repetição consiste em fixar na

memória a forma ideal e precisa do movimento. “As representações motoras, que

constituem a base da memória motora, são extraordinariamente importantes no processo de

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aprendizagem do movimento, já que asseguram seu máximo acerto e precisão”

(FONSECA, 1994).

- Reações: Fonseca (1994) chama de reação à “ação consciente de resposta, aquela

que o desportista conhece antecipadamente, as excitações que deve experimentar e se

preparar previamente para respondê-las de certa forma”.

Período de reação preliminar: no exemplo da natação, compreende o período de

tempo que fica entre a voz de comando prévio “aos seus lugares” e a execução (tiro) e é

formado pela espera do sinal e a preparação para o movimento de resposta.

Período de reação central ou latente: compreende o período que fica entre o sinal

executivo e o movimento de resposta. Neste período de espera, se operam no córtex

cerebral intensos processos nervosos que preparam para o movimento de resposta:

a) o momento sensorial do período de reação latente: consiste na percepção da

excitação do sinal;

b) o momento associativo da reação: consiste na compreensão da excitação

percebida;

c) o momento psicomotor do período de reação latente: consiste na execução dos

impulsos psicomotores no setor motor do córtex e no envio destes impulsos pelos

neurônios eferentes dos músculos correspondentes (FONSECA, 1994).

Período de reação ou efetor: compreende o período que medeia entre o momento

em que se inicia o movimento de reposta e a sua plena realização. Os tipos de reação

sensorial psicomotor e neuromotor se diferenciam pelo caráter dos processos psíquicos que

se desenvolvem no período preliminar e vêm determinados pelo período de reação efetor.

Tipo de reação sensorial: caracteriza-se pela orientação da atenção do nadador no

período de reação preliminar à percepção do sinal de execução. O nadador aguarda este

sinal num estado de tensão.

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Tipo de reação motora: caracteriza-se pela orientação da atenção do nadador no

período de reação preliminar à percepção do movimento - resposta.

De acordo com que foi exposto, “estão fortemente excitados os centros nervosos do

córtex, com uma inibição simultânea ou com um grau de debilitação dos processos de

excitação nos demais setores do córtex” (FONSECA, 1994).

Durante o período preliminar, o tipo neutro de reação caracteriza-se pela

uniformidade dos processos de excitação nos setores sensoriais e psicomotores do córtex.

A atenção está dirigida, simultaneamente e em igual medida, à espera do sinal e à

preparação do movimento de resposta.

Sticher (1978) nos diz que as reações podem ser classificadas em simples e

complexas. As reações simples são aquelas em que o processo de reação é muito

elementar: existe apenas um agente excitador previamente conhecido: o sinal, e, ao

relacionar, haverá apenas um movimento de resposta já conhecido e aprendido

perfeitamente. A saída da natação é um exemplo típico. Outro exemplo seria de efetuarmos

exercício de deslizar na aprendizagem, ao comando do professor. As reações complexas

são aquelas nas quais têm lugar várias excitações possíveis e vários movimentos de

resposta, com a particularidade de que se desconhece previamente que as excitações

surgirão e com que movimentos se reagirá. É o caso de um jogador de pólo aquático que

irá reagir segundo a situação apresentada.

“As reações caracterizam-se não só pela rapidez com que transcorrem os processos nervosos, mas também por certa inversão de energia necessária para realizar o movimento ao reagir. Para responder a uma mesma excitação, dois nadadores ou dois aprendizes, por exemplo, podem reagir com igual velocidade, mas um deles pode efetuar o movimento com menos energia que o outro, com menos amplitude. A diferença pode ser explicada pela distinta inversão de energia; o movimento efetuado pelo segundo nadador é tão rápido como o do primeiro, mas a quantidade de energia despendida é maior, porque ele efetua o movimento com mais vigor” (STICHER, 1978).

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CAPÍTULO IV

O PROFESSOR DE NATAÇÃO:

CAPACIDADE E COMPETÊNCIA PEDAGÓGICA

4.1 – COMPETÊNCIA PEDAGÓGICA

Os professores precisam se conscientizar de que seu papel de docente, como o

exercício de qualquer profissão, exige capacitação própria e específica que não se restringe

a ter um diploma de bacharel, ou mesmo de mestre ou doutor, ou ainda apenas o exercício

de uma profissão. Exige isso tudo, e competência pedagógica, pois ele é um educador.

A qualidade da formação obtida em qualquer curso de nível superior deve ser medida pelo conjunto de competências adquiridas pelo formando ao término do curso, e não apenas pelo conjunto de conhecimentos adquiridos. A distinção que aqui se faz entre competências e conhecimentos é, agora, relativamente consensual entre os estudiosos da educação: procura opor, na verdade, dois modos diferentes de conceber o conceito comum de "conhecimento", um refletido na expressão "ter conhecimento de algo" e outro, na expressão "saber como fazer algo" (Bocchese, 2002).

Este capítulo foi incluído neste trabalho com o intuito de fornecer informações não

só bibliográficas, mas também esclarecimentos sobre o potencial dos profissionais

habilitados à área da educação física, especificamente da natação para crianças.

Segundo Pädagogisches Wörterbuch, citado por Bocchese (2002), entende-se por

competência, “o conjunto de todas as capacidades e habilidades que se reportam à

execução de uma atividade ou de uma totalidade de atividades”.

A competência é um “estado habitual de disposição de comportamento e

rendimento” (CATTEAU, 1990).

“A competência é um termo integrativo, para um complexo de processos e

qualidades da personalidade” (Eckerr, 1981), integrado num sistema global que lhe permite

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resolver com êxito determinadas tarefas ou alcançar determinados rendimentos numa

atividade concreta e que se desenvolve no decurso desta (ECKERR, 1981).

À competência pertencem as capacidades, ou conhecimentos, as habilidades e

hábitos requeridos para o rendimento na atividade em causa. Estas qualidades da

personalidade surgem implicadas numa inter-relação profunda tornando-se competência,

ou seja: numa estrutura individual, típica, superior a soma das componentes que a

constituem e que se torna importante para o sucesso do indivíduo.

Embora não sendo componentes da competência, são seus determinantes decisivos

os motivos (Fox, 1996) as atividades (Catteau, 1990) e convicções (Eckerr, 1981).

Determinam em primeiro lugar a possibilidade de a competência se desenvolver, e em

segundo lugar o exercício, a realização da competência existe (Eckerr, 1981)

desencadeando os processos volitivos que garantem a realização (Fox, 1996).

Podemos referir que a competência se reporta a uma atividade concreta; incorpora a

dimensão rendimento na atividade pelo que exige para além de conhecimentos e

capacidades também habilidades e hábitos necessários a esse rendimento; depende de

qualidades superiores do indivíduo como a vontade para se formar e exercer e ainda de

valores e convicções a que se referencia (BOCCHESE, 2002).

“A competência pedagógica é a competência específica da profissão de professor”

(ECKERR, 1981).

O termo competência, no contexto da formação de professores, tem sido utilizado

em várias acepções, dele se fazendo um uso generalizado.

Machado (1992), refere-se a competências como fatores ou qualidades supostas

importantes para o ensino e que requerem do formando que demonstre dominá-las a um

nível exigido, o que envolverá fatores de natureza social, emocional e intelectual.

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Saber muito acerca de ensino não significa, que se seja um professor competente

(Machado, 1992). A competência implica no saber, o saber fazer e o fazer. Ainda que o

êxito da atividade pedagógica não possa ser reduzido à competência pedagógica do

professor, esta é uma qualidade importante da sua competência profissional, é a sua parte

essencial (BOCCHESE, 2002).

Este entendimento da competência pedagógica remetemo-nos para uma análise da

atividade do professor, de modo que, esclarecidas as suas características e elementos,

possamos equacionar a competência pedagógica em relação a atividade a que se reporta.

Como capacidade de rendimento, a competência pedagógica torna-se na capacidade de

realização eficaz das exigências da atividade pedagógica (ECKERR, 1981).

A competência pedagógica é, então, uma emergência da integração de

conhecimento pedagogicamente relevantes, de capacidades, habilidades e hábitos

necessários ao professor na atividade de direção e condução do processo pedagógico

(BOCCHESE, 2002).

Segundo Eckerr (1981), podemos considerar que para se ter competência

pedagógica é necessário considerar alguns componentes fundamentais como:

conhecimento, capacidade, habilidade e hábitos de trabalho.

Se o conhecimento é o pressuposto para o professor decidir livremente (Bocchese,

2002), terá de ser preocupação da formação profissional não só a quantidade do

conhecimento mas fundamentalmente a sua qualidade, os conhecimentos são à base de

toda competência pedagógica para que eles sejam utilizados e combinados de modo

adequado é necessário desenvolver capacidades pedagógicas. Esses conhecimentos seriam:

a) Relativos à disciplina que leciona, ou seja, conhecimento do conteúdo da

matéria da disciplina, conhecimento pedagógico ao conteúdo, conhecimento

curricular do conteúdo;

b) Conhecimento acerca dos valores;

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c) Conhecimento de normas;

d) Conhecimento de procedimentos.

4.2 - CAPACIDADE

As capacidades tem um papel fundamental no refinamento e especificação da

competência pedagógica, surgindo uma ligação muito íntima com os conhecimentos e

também com as habilidades. O autor se refere às capacidades didáticas, construtivas,

organizativas, comunicativas, expressivas, perceptivas, sugestivas, de trabalho científico,

culturais. Sendo que do ponto de vista da competência pedagógica poderemos sintetizar da

seguinte forma (BOCCHESE, 2002):

a) Capacidade de determinar a matéria essencial e transmitir;

b) Capacidade de entender os alunos, de prever corretamente as suas

dificuldades e de reagir de modo correspondente;

c) Capacidade de escolher e seriar as tarefas ajustadas à realização do objetivo;

d) Capacidade de ordenar e estruturar a matéria de ensino de modo a que os

alunos a possam integrar no seu sistema de competências;

e) Capacidade de analisar os resultados da atividade dos alunos e de averiguar

as causas de erros e de insuficiências;

f) Capacidade de a partir do comportamento dos alunos, deduzir acerca das

atitudes, sentimentos, necessidades e relações sociais.

As habilidades pedagógicas exercem uma função importante na execução de ações

pedagógicas complexas. Através da execução de determinadas ações parciais estas são

automatizadas, libertando-se o professor da necessidade de lhe consagrar mais atenção,

podendo assim concentrar-se na ação global no seu objetivo (Eckerr, 1981); Desempenham

no seio da estrutura da competência pedagógica o papel de fatores aceleradores. Quanto

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aos hábitos também referido pelo autor, contribuem para a garantia da permanência da

competência pedagógica.

Devemos levar em consideração que a atividade pedagógica é fundamentalmente

vivida sob a forma interativa com os alunos, é de primordial importância garantir

estabelecimento de relações positivas professor-aluno. Estas relações positivas constituir-

se-ão como uma base, um catalisador para a formação da competência pedagógica, a

vontade e a motivação desempenham uma função central na possibilidade da competência

se desenvolver e realizar.

Já Catteau e Garoff (1990) citam que a formação profissional deverá orientar-se

com preocupação para a:

a) Interdisciplinaridade;

b) Generalista do conhecimento do movimento humano e/ou da pedagogia do

movimento humano visando às interações sociais;

c) Abrangência do campo de ação do profissional no formal e não formal;

d) Criação e recreação do objeto e formas pedagógicas;

e) Participação do futuro profissional no processo político-pedagógico de sua

formação;

f) Valorização do profissional e da cultura do grupo a qual pertence;

g) Formação de um pensamento reflexivo sobre a realidade social concreta e

de um pensamento reflexivo sobre a realidade social concreta e de um

pensamento comunitário;

h) Auto-expressão;

Agora, cabe ao professor o papel de orientador e motivador nesse processo. O

professor não deve mais se perguntar o que vai dar em aula, mas o que os estudantes

precisam saber, qual a melhor maneira de passar determinado assunto e, principalmente,

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como avaliar e se o método está sendo eficiente. O trabalho do professor é ensinar. Se o

aluno não aprende, algo está errado. E certamente tem a ver com o professor.

4.3 – UM PROFESSOR COMPETENTE E CAPAZ

Um tema fundamental na formação do profissional da Educação Física, mais

especificamente , do professor de Natação, é o perfil do ótimo professor.

Hoje em dia, com a proliferação das faculdades de Educação Física, algumas de

ótima qualidade, outras nem tanto, a formação superior do professor de Educação Física já

é condição indispensável para a caracterização de um bom profissional da área. Assim, ter

uma boa formação em nível superior é um fator importantíssimo para o surgimento de um

bom professor. Porém não basta passar pela Faculdade. É preciso viver a faculdade,

aproveitar todas as oportunidades que ela lhe proporciona, empenhar-se no estudo daquilo

que se discute em nível acadêmico. Se isso não for feito, ao se graduar, inevitavelmente

você se sentirá despreparado para o mercado de trabalho, desejando poder voltar aos

tempos de sala de aula para rever, e aí sim, apreender, o que for discutido.

Para Klemn (1995) Conteúdo é fundamental, todavia, além do conhecimento

técnico e científico, há alguns pontos de ordem prática que ajudam o professor a obter

sucesso no ramo da Natação:

Proteção pessoal: Usar sempre protetor solar e boné para cobrir-se do sol; óculos

escuros; roupas que permitam a transpiração; hidratar-se antes, durante e após as aulas;

cuidado com o tom de voz;

Didática de ensino: De vez em quando o professor deverá tirar o boné e os óculos e

olhar seus alunos nos olhos; isso é muito importante, do contrário muitos alunos nem o

reconhecerão se encontrá-lo na rua; nunca falar com os alunos de costas para você; estar

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sempre preparado para entrar na piscina; iniciantes precisam do professor junto dentro

d'água na maior parte do tempo; é sempre o professor quem fica de frente para o sol, nunca

os alunos; variar a posição de ensino ao redor da piscina; observar o tom de voz para que

não fique nem muito alto para os que estão perto e nem muito baixo para os alunos mais

distantes; caso o professor proponha alguma atividade em círculo, deverá explicá-la antes

da formação do mesmo ou formar o círculo incluindo-se nele, para só então dar as

instruções; falar pouco pois explicações muito longas são cansativas e confusas;

O material na borda da piscina: deverá estar sempre organizado; nunca jogar o

material aos alunos e sim, entregar a eles; usar roupas justas, pois casacos e moletons

largos impedem que os alunos identifiquem o movimento feito pelo professor; usar o efeito

"espelho" quando estiver de frente para os alunos; nunca dar aulas com o tênis ou outro

calçado utilizado para caminhar na rua; tenha de preferência um par de chinelos

específicos para ser utilizado na borda da piscina, o que garantirá a higiene da mesma;

evitar ficar só de sunga ou maiô na borda da piscina (a não ser que precise entrar na água

em algum momento durante a aula) pois a visão dos alunos de baixo para cima pode não

ser agradável nessa situação;

O professor deverá estar centrado na aula em 100% do tempo; são incabíveis

atitudes como comer na borda da piscina, conversar com colegas de trabalho, lixar unhas,

ler ou descolorir os pelos durante a aula, mesmo que se trate de uma turma de alunos

avançados. Sempre há o que corrigir, mudar, incentivar; experimente utilizar músicas em

suas aulas, mesmo com adultos: o resultado é sensacional;

Seja sempre pontual e nunca acabe as aulas antes do tempo previsto, em situações

normais; prepare suas aulas sempre, ainda depois de 30 anos de trabalho isso é necessário;

quando for substituir um colega, procure saber antes quem são os alunos daquela turma,

que tipo de trabalho vem sendo feito com eles e os caso "especiais";

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Relações pessoais: nunca use apelidos para chamar os alunos (gordinho, cara, etc.)

a não ser que você esteja certo de que o próprio aluno gosta de ser chamado daquela

maneira; utilize o português correto durante as aulas; criança não tem bunda, tem bumbum;

cuidado com o palavreado muito informal, mesmo com adultos; receba bem o seu aluno no

início das aulas; sempre o convide a voltar após o término da aula; demonstre interesse por

algum problema relatado por seu aluno (ex: você melhorou da dor nas costas na aula

passada?); mesmo que aquele seja o único maluco a aparecer em um dia de inverno às 7 da

manhã quando vinte minutos já se passaram do início da aula e você já se preparava para ir

embora, incentive seu aluno a participar da aula e dê a melhor aula do mundo naquele dia;

sua postura corporal demonstra muito sobre você: nada de ficar encostado nas paredes,

sentado, ou com uma atitude corporal derrotista e desanimada; entre na piscina de vez em

quando, mesmo com seus alunos avançados, para partilhar do meio líquido com eles; a

diferença é incrível;

Pode parecer impossível a um mesmo ser humano agregar todas as características

acima e talvez seja mesmo. Contudo, é a busca constante pelo nosso aperfeiçoamento

pessoal e profissional que faz a diferença.

"Alguns professores olham para si próprios e se designam experts em determinado assunto deixando metáforas vazias ao redor do que ensinam. Os melhores professores são aqueles que guiam: eles dividem o que sabem e não se tornam os centros das atenções, os estudantes é que são o objetivo final de tudo." (...) "Não é o suficiente saber o seu programa e material. Você precisa conhecer o seu grupo, saber quem são as pessoas que você vai ensinar. Os talentos, os defeitos, as fraquezas. Você precisa saber onde eles estão e procurar olhar onde eles poderão chegar." (...) "A melhor maneira de ensinar não está em uma fórmula, é algo pessoal. Diferentes pessoas ensinam a mesma matéria de forma diferente porque são diferentes e vêem o mundo de forma diferente. Nós ensinamos o que somos. O ato de ensinar requer coragem para explorar o seu próprio sentimento de identidade". (KLEMN, 1995)

Assim, a importância da natação não apenas para o desenvolvimento físico da

criança mas também para a formação de sua personalidade e inteligência, é algo que não se

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pode negar. Crianças iniciadas em um programa de adaptação ao meio líquido em idade

pré-escolar têm um rendimento mais satisfatório em seu processo de alfabetização.

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CONCLUSÃO

O presente estudo caracterizou-se por uma pesquisa bibliográfica, onde realizou-se

uma revisão de literatura sobre a importância do desenvolvimento psicomotor em crianças

nos seus primeiros anos de vida, no aprendizado da natação.

Assim, procurou-se esclarecer a importância da prática de atividades que

favoreçam o desenvolvimento psicomotor privilegiando então exercícios que

proporcionem grande variedade de movimentos, facilitando posteriormente o aprendizado

do nado técnico.

Conclui-se então que o sucesso do aprendizado da natação depende do

desenvolvimento integral do potencial psicomotor da criança nos seus primeiros anos de

vida.

Muitos estudos têm demonstrado o importante papel do exercício físico para a

obtenção da saúde. Os autores pesquisados concordam que quando se nada, usa-se grandes

grupos musculares, neutralizando as articulações dos esforços máximos e fortalecendo as

musculaturas respiratórias. Ainda o estudo mostrou de forma clara e objetiva que a

natação, trabalhada como terapêutica, vai agir de forma fundamental na diminuição dos

problemas de saúde da criança.

Os professores de natação, por se preocuparem principalmente com a técnica dos

estilos, se esquecem de como é importante, na fase de adaptação ao meio liquido, estimular

na criança aspectos que envolvam todos os tipos de habilidades de acordo com a faixa

etária a ser trabalhada. Ao invés de preocuparem-se com movimentos técnicos e

mecânicos, devem lembrar que quando trabalhamos com crianças podemos proporcionar a

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elas o maior número de vivências e habilidades motoras, aliadas à criatividade, lateralidade

e equilíbrio.

Exatamente por isso, o professor de Educação Física que trabalha com a natação

precisa ter ao seu alcance ferramentas didáticas e pedagógicas que permitam versatilidade

no seu trabalho.

Portanto, é muito importante que o professor de Natação para crianças iniciantes adote

uma metodologia de ensino que respeite as limitações e os medos dos alunos. Vale lembrar que

além dos movimentos característicos do esporte já serem uma novidade, há ainda o fator agravante

de ser a Natação um esporte realizado no meio líquido, onde as leis físicas são totalmente

diferentes do que estamos acostumados no nosso dia-a-dia fora d’água. Assim, nunca deve-se

iniciar o processo de aprendizagem da Natação pelo aprendizado dos estilos formais (crawl, costas,

peito, borboleta). Antes de se propor os estilos, há que se fazer um trabalho de adaptação ao meio

líquido muito bem feito, que permitirá ao aluno se familiarizar com a água. O aluno adaptado ao

meio líquido conhece a água, se desloca, sabe mergulhar, controla a respiração e abre os olhos

dentro d’água. Esse aluno, só então, estará preparado para a aprendizagem dos estilos formais da

Natação.

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