A Exequibilidade Das Decisões Declaratórias No Novo Cpc

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  • 7/26/2019 A Exequibilidade Das Decises Declaratrias No Novo Cpc

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    Nilsiton Arago 1

    A EXEQUIBILIDADE DAS DECISES DECLARATRIAS NO NOVO CPC

    Nilsi ton Rodr igues de Andrade Arago

    Resumo: o presente ensaio examina a exequibilidade das decises declaratrias no

    Novo Cdigo de Processo Civil, no intuito de definir o impacto da modificao

    redacional observada no art. 515, I do CPC/15 em relao norma correspondente no

    CPC/73.

    Palavras-chave: Execuo. Ttulo executivo. Deciso declaratria. Novo Cdigo de

    Processo Civil.

    1 Introduo

    A exequibilidade das decises declaratrias um tema que diverge opinies na

    doutrina e na jurisprudncia e que possui uma importante repercusso prtica. A

    controvrsia em torno do tema antiga e ganhou mais um captulo com a redao doart. 515, I do Novo CPC, que no reproduziu integralmente o texto do art. 475-N, I do

    CPC/73, dispositivo correspondente.

    Diante disso, impe-se uma breve apreciao do teor das normas relacionadas

    e das manifestaes doutrinrias iniciais no intuito de dimensionar o seu impacto

    quando em vigor.

    2 A regulamentao da pretenso declaratria

    No mbito da classificao das aes predomina a subdiviso das demandas

    cognitivas em trs espcies: condenatrias, constitutivas e declaratrias. Essa base

    terica necessria ao entendimento da controvrsia que se pretende enfrentar, mas no

    a finalidade central do estudo, razo pela qual se apresentar definies objetivas,

    teis ao estudo, mas que obviamente desconsideram especificidades prprias da riqueza

    do tema.

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    As condenatrias so as aes nas quais se busca o cumprimento de uma

    prestao, relacionando-se diretamente ao reconhecimento de obrigaes de fazer, no

    fazer, entregar coisa e pagar quantia. As demandas constitutivas se fundamentam em um

    direito potestativo, ou seja, na pretenso de alterao, criao ou extino de relaes

    jurdicas. Nas aes declaratrias a tutela jurdica pretendida a certeza, a definio da

    existncia ou no de uma relao jurdica ou do seu modo de ser.

    Efetivamente existem casos em que possvel identificar de forma clara a

    preponderncia quase total de uma destas espcies na ao. No obstante, em muitas

    situaes constata-se que a pretenso do demandante possui um carter misto ou mesmo

    que a hiptese se encontra em uma zona de convergncia de difcil definio da

    natureza dominante da ao. Em meio a essas reas cinzentas de intercesso importapara o presente artigo a proximidade existente entre as decises condenatrias e as

    declaratrias.

    Para a correta compreenso da matria se impe apreciar a dico dos arts. 19

    e 20 do Novo CPC1, que dispem sobre a pretenso declaratria:

    Art. 19. O interesse do autor pode limitar-se declarao:I - da existncia, da inexistncia ou do modo de ser de uma relao

    jurdica;II - da autenticidade ou da falsidade de documento.Art. 20. admissvel a ao meramente declaratria, ainda que tenhaocorrido a violao do direito.

    Logicamente, existem aes declaratrias nas quais inexistem efeitos

    prestacionais. Nessas a finalidade meramente declaratria, tanto que, quanto questo

    meritria central, no se extrai qualquer relao obrigacional da sentena de

    procedncia. Embora a certificao do direito esteja presente de forma indireta em

    qualquer ao, nessa modalidade a pretenso se cinge puramente definio da certezajurdica.

    No entanto, como se extrai do art. 20 do Novo CPC, possvel se propor uma

    ao declaratria, ainda que tenha ocorrido a violao do direito. Nesses casos, a

    distino em relao s aes condenatrias mais difcil, pois o autor j poderia

    ajuizar uma ao condenatria. A questo se limita inexistncia de um pedido

    1Texto com correspondncia no art. 4 do CPC/73, com alteraes redacionais.

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    expresso de condenao, porm a violao do direito implicar, na maior parte dos

    casos, no reconhecimento de uma obrigao. Assim, as sentenas dessa ao

    declaratrias reconhecem uma prestao tanto quanto as de uma ao condenatria.

    Importa destacar que o reconhecimento de uma prestao, pode aparecer, de

    forma excepcional, em decises constitutivas ou ainda em sentenas de improcedncia

    em aes de qualquer natureza. Nesses casos, igualmente se observar o

    reconhecimento de obrigaes, tornando-as, em efeitos prticos, muito similares s

    sentenas de procedncia em aes condenatrias.

    Quando se transporta essa complexa questo para o debate da execuo das

    decises proferidas nessas aes depara-se com uma potencializao do problema.

    Como as sentenas condenatrias possuem inegvel carga prestacional, a viabilidade de

    sua execuo indicuscutvel. Da mesma forma, as sentenas constitutivas ou

    meramente declaratrias que no expressem qualquer relao obrigacional

    inegavelmente no podero fundamentar execues.

    Surge o questionamento quanto possibilidade de execuo de decises

    proferidas em aes de natureza no condenatria, mas que possuem contedo

    prestacional.

    3 Evoluo do entendimento sobre a exequibilidade das decises declaratrias

    Em breve histrico da polmica em questo, remonta-se s codificaes

    anteriores que definiam o tema de forma mais direta. Inicialmente, cabe a referncia ao

    art. 290 do CPC/392, que expressamente limitava a possibilidade de execuo s

    sentenas condenatrias. Seguindo a mesma orientao, a redao do art. 584, I do

    CPC/733

    , descrevia o ttulo executivo judicial, fazendo referncia categrica naturezacondenatria das sentenas Cveis.

    Diante de to direto disciplinamento legal, e considerando a primazia da

    interpretao literal na ambincia dos ttulos executivos, predominou inicialmente o

    2CPC/39, Art. 290. Na ao declaratria, a sentena que passar em julgado valer como preceito, mas aexecuo do que houver sido declarado somente poder promover-se em virtude de sentena

    condenatria.3CPC/73, art. art. 584. So ttulos executivos judiciais: I - a sentena condenatria proferida no processocivil; (...).

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    entendimento pela impossibilidade de se fundamentar uma execuo em sentenas

    declaratrias, tanto durante a vigncia do CPC/394como no CPC/735. Com essa base

    histrica, o mencionado entendimento representava uma tradio jurdica da sistemtica

    processual brasileira, mantida forte at os primeiros anos deste sculo, porm no de

    forma pacfica e impassvel de crticas.

    possvel observar que nesse perodo a corrente at ento minoritria, que

    pregava a possibilidade de execuo das sentenas declaratrias, comeou a ganhar

    corpo na doutrina e manifestaes no mbito da jurisprudncia6. Com isso, o assunto

    voltou pauta de debates de forma mais intensa, especialmente motivada nas definies

    de uma reforma legislativa da execuo cvel que comeava a se aproximar.

    O tema se acirra com o advento da Lei n 11.232/05, uma vez que suprimiu o

    termo condenatria da descrio do ttulo executivo, passando simplesmente a exigir

    4 Para demonstrar essa afirmao registra-se o esclio de Giuseppe Chiovenda, autor estrangeiro degrande influncia na poca (1969, pg. 210): "O nome de sentenas declaratrias (jugementsdclaratoires, Festsllungsurteils, declaratory judgements) compreende lato sensutodos os casos em que sentena do juiz no se pode seguir execuo".5Para ilustrar o posicionamento da poca, faz-se referncia as lies de Antnio Carlos Costa e Silva no

    seu "Tratado do Processo de Execuo", para o qual abro mo do distanciamento cientfico dabibliografia com o intuito de registrar tratar-se da obra mais completa e relevante sobre execuojurisdicional do seu tempo. Afirmava o autor (1986, pgs. 94/95): "Uma sentena meramente declaratriatem por objeto a pura declarao da existncia de um direito subjetivo, e nada mais que isso, quando,ento, ser positiva, tanto quanto negativa haver de ser se seu objeto especfico for a declarao deinexistncia de uma relao jurdica (...) Nenhuma delas, contudo, prolatada com aplicao da sano.Em outras palavras: no se destinam, especificamente, a provocar a atuao executiva".6 PROCESSUAL CIVIL. TRIBUTRIO. VALORES INDEVIDAMENTE PAGOS A TTULO DECONTRIBUIO PREVIDENCIRIA. SENTENA DECLARATRIA DO DIREITO DE CRDITOCONTRA A FAZENDA PARA FINS DE COMPENSAO. SUPERVENIENTE IMPOSSIBILIDADEDE COMPENSAR. EFICCIA EXECUTIVA DA SENTENA DECLARATRIA, PARA HAVER AREPETIO DO INDBITO POR MEIO DE PRECATRIO.1. No atual estgio do sistema do

    processo civil brasileiro no h como insistir no dogma de que as sentenas declaratrias jamais tm

    eficcia executiva. O art. 4, pargrafo nico, do CPC considera "admissvel a ao declaratria ainda quetenha ocorrido a violao do direito", modificando, assim, o padro clssico da tutela puramentedeclaratria, que a tinha como tipicamente preventiva.Atualmente, portanto, o Cdigo d ensejo a que asentena declaratria possa fazer juzo completo a respeito da existncia e do modo de ser da relao

    jurdica concreta. 2. Tem eficcia executiva a sentena declaratria que traz definio integral da normajurdica individualizada. No h razo alguma, lgica ou jurdica, para submet-la, antes da execuo, aum segundo juzo de certificao, at porque a nova sentena no poderia chegar a resultado diferente doda anterior, sob pena de comprometimento da garantia da coisa julgada, assegurada constitucionalmente.E instaurar um processo de cognio sem oferecer s partes e ao juiz outra alternativa de resultado queno um, j prefixado, representaria atividade meramente burocrtica e desnecessria, que poderia receberqualquer outro qualificativo, menos o de jurisdicional. 3. A sentena declaratria que, para fins decompensao tributria, certifica o direito de crdito do contribuinte que recolheu indevidamente otributo, contm juzo de certeza e de definio exaustiva a respeito de todos os elementos da relao

    jurdica questionada e, como tal, ttulo executivo para a ao visando satisfao, em dinheiro, do valordevido.4. Recurso especial a que se nega provimento. (REsp 588.202/PR, Rel. Ministro TEORI ALBINOZAVASCKI, PRIMEIRA TURMA, julgado em 10/02/2004, DJ 25/02/2004, p. 123).

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    que a deciso reconhea a existncia de obrigao de fazer, no fazer, entregar coisa ou

    pagar quantia.

    necessrio destacar uma peculiaridade da referida reforma que provoca

    ainda mais questionamentos. A supresso do termo condenatriaocorreu somente no

    Senado, Casa revisora do Projeto de Lei, No retornando Cmara sob o argumento de

    se tratar de mera adequao redacional. Esse procedimento levou alguns autores7 a

    sustentar sua inconstitucionalidade formal, porm no houve deciso do Supremo

    Tribunal Federal nesse sentido.

    Fundada na nova norma, a corrente que pregava a possibilidade de execuo

    das decises declaratrias ganhou fora na doutrina e no demorou a encontrar maior

    respaldo na jurisprudncia do Superior Tribunal de Justia.8Nesse momento, possvel

    vislumbrar uma provvel inverso no entendimento predominante, embora as crticas da

    corrente mais conservadora tenham sido severas e sua resistncia obstinada, mantendo o

    tema em debate at o presente momento.

    4 Anlise do alcance do art. 515, I do Novo CPC

    art. 515, I, descreveu o ttulo em anlise da seguinte forma:

    Art. 515. So ttulos executivos judiciais, cujo cumprimento dar-se- deacordo com os artigos previstos neste Ttulo:I - as decises proferidas no processo civil que reconheam a exigibilidade deobrigao de pagar quantia, de fazer, de no fazer ou de entregar coisa;(...)

    7

    Como exemplo possvel citar Luiz Rodrigues Wambier e Eduardo Talamini (2015, pg. 78): Noentanto, o dispositivo do art. 475-N, I, padece de inconstitucionalidade formal. Houve mudanasubstancial no contedo do dispositivo no Senado, em relao quele que havia sido aprovado na Cmara,a fim de que se apreciasse a inovao havida.8RECURSO ESPECIAL. DIREITO PROCESSUAL CIVIL. AO REVISIONAL. CUMPRIMENTODE SENTENA EM AO DECLARATRIA. FORA EXECUTIVA DOS PROVIMENTOSDECLARATRIOS. FORMAO DE TTULO EXECUTIVO EM FAVOR DO RU.POSSIBILIDADE. 1.- A Lei 11.232/2005, que revogou o art. 584 e inseriu o art. 475 -N no Cdigo deProcesso Civil, encampou o entendimento, j adotado por esta Corte, de que as sentenas de cunhodeclaratrio podem ter fora executiva, se presentes os elementos necessrios execuo, comoexigibilidade e certeza da relao. Precedentes. 2.- A sentena declaratria em ao de reviso de contrato

    pode ser executada pelo ru, mesmo sem ter havido reconveno, tendo em vista a presena doselementos suficientes execuo, o carter de "duplicidade" dessas aes, e os princpios da economia,

    da efetividade e da durao razovel do processo. 3.- Recurso Especial improvido. (STJ; REsp1309090/AL, Rel. Ministro SIDNEI BENETI, TERCEIRA TURMA, julgado em 06/05/2014, DJe12/06/2014).

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    Existem alguns aspectos que merecem comentrios nesse novo dispositivo,

    mas, de acordo com o objeto definido para o estudo, ser apreciado somente o que

    interfere na definio da exequibilidade das decises declaratrias.

    Primeiro aspecto a ser destacado a manuteno da inexistncia de indicao

    da natureza da deciso, nos moldes anteriormente estabelecidos na Lei n 11.232/05.

    Diante da inexistncia de referncia expressa deciso condenatria possvel concluir

    que a exequibilidade deixou de manter uma ligao direta com a natureza da ao, para

    considerar de modo prioritrio o contedo da deciso.

    Como se observa, o Novo CPC substituiu a expresso existncia de

    obrigao, constante do art. 475-N, I do CPC/739, pela locuo exigibilidade de

    obrigao. Essa singela modificao reabriu a pauta de debates, tendo alguns autores

    visualizado uma clara manifestao de excluso das sentenas declaratrias da

    abrangncia do ttulo executivo.10 Outros, porm, conceberam exatamente o oposto,

    entendendo que a alterao significou uma opo do legislador pela possibilidade de sua

    execuo.

    Como se percebe, a questo no simples, impondo uma anlise mais

    cuidadosa do dispositivo legal.

    A referncia ao reconhecimento da exigibilidade refora a necessidade de

    controle de eficcia da obrigao reconhecida no ttulo, o que no novidade, pois,

    como sabido, os ttulos executivos devem expressar obrigaes lquidas, certas e

    exigveis (art. 783 do Novo CPC). Portanto, a exigibilidade pode ser compreendida

    como simples referncia eficcia da obrigao reconhecida na deciso. No representa

    inovao legislativa concreta, mas um melhoramento tcnico do dispositivo, por

    9Art. 475-N. So ttulos executivos judiciais: I a sentena proferida no processo civil que reconhea aexistncia de obrigao de fazer, no fazer, entregar coisa ou pagar quantia;10 o caso de Cassio Scarpinella Bueno que analisou alterao legislativa da seguinte forma (2015, pg.344): A segunda reside na circunstncia de a atual existncia ter sido corretamente alterada paraexigibilidade, providncia que quer eliminar a (errada) impresso de que sentenas meramentedeclaratrias podem constituir ttulos executivos. No o so porque a elas falta a exigibilidade daobrigao, expressa no novo dispositivo.No mesmo sentido se posicionaram Nelson Nery Jnior e RosaMaria de Andrade Nery (2015, pg. 1.266): Porm, ao se admitir que a sentena que reconhece aexigibilidade de obrigao se consubstancie em ttulo executivo, o intrprete se depara com uma

    circunstncia que contraria esse posicionamento. Como na sentena meramente declaratria (CPC 19) noh imposio de obrigao nem de sano, trao caracterizador de eficcia executiva da sentena, nocontm ela aptido para impor prtica de atos de execuo, no contm fora executiva.

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    esclarecer que para ser executada a obrigao deve ser tambm exigvel e no apenas

    existente e vlida.11

    Ao que tudo indica, no a literalidade pura e simples do dispositivo legal

    regulador da matria que vai responder de forma definitiva a problemtica. Continuar

    sendo necessria uma leitura sistemtica do Cdigo, remetendo seus aplicadores ao

    disposto no art. 20 do Novo CPC.12

    Destarte, permanece vivo o argumento de que as sentenas declaratrias, em

    circunstncia de violao do direito, nas quais estejam presentes o reconhecimento de

    uma obrigao, tem a possibilidade de serem executadas. Uma vez declarada a

    obrigao de pagar quantia, de fazer, de no fazer ou de entregar coisa, ainda que o

    magistrado no estabelea a condenao, estar reconhecida a presena de um credor e

    de um devedor, sujeitos da relao obrigacional. Com isso, nada impede que se

    proponha o cumprimento de sentena, com a definio prvia do valor devido por meio

    de liquidao, se for o caso.

    Vale destacar, que esta lgica de raciocnio j era admitida no CPC/73. Caso

    contrrio, no seria vivel o reconhecimento legal da condio de ttulo executivo

    judicial a decises que no necessariamente possuem um carter condenatrio explcito,como o caso, por exemplo, das decises homologatrias de autocomposio. Mesmo

    a sentena penal condenatria transitada em julgado13, tem o carter condenatrio

    direcionado sano penal, limitando-se, no mbito civil, ao reconhecimento da

    obrigao de reparar oriunda da violao do direito.

    11 Na mesma linha as colocaes de Tereza Arruda Alvim Wambier, Maria Lcia Lins Conceio,Leonardo Ferres da Silva Ribeiro e Rogrio Licastro Torres de Mello (2015, pg. 846- 847): sabidoque o plano da existncia e o da exigibilidade no se confundem. Por fora da teoria das obrigaes, trsso os planos que devem ser examinados pelo intrprete dos negcios jurdicos: existncia, validade eeficcia. O Conceito de exigibilidade, segundo boa parte da doutrina civilista, est contido no plano daeficcia. (...) Por sua vez, ao se analisar a exigibilidade da obrigao parte-se das premissas de que onegcio existente e vlido, indagando-se se est, ou no, apto produo de efeitos jurdicos (eficcia).12Nesse sentido Fredie Didier Jr. (2015, pg. 295): O CPC atual mantm a regra no inciso I do Art. 515do CPC. De fato, se uma deciso judicial declara a existncia de direito a prestao j exercitvel, emnada ela se distingue de uma sentena condenatria, em que isso tambm acontece. A sentenadeclaratria proferida com base no art. 20, CPC, tem fora executiva, independentemente do ajuizamentodo outro processo de conhecimento, de natureza condenatria.13

    Em especial antes da alterao feita pela Lei n 11.719/08, que estabeleceu no art. 387, IV do Cdigo deProcesso Penal que o juiz fixar valor mnimo para reparao dos danos causados pela infrao,considerando os prejuzos sofridos pelo ofendido.

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    Ademais, o Novo CPC no pode ser simplesmente lido como uma reforma ao

    CPC/73, pois houve uma mudana substancial em sua essncia, com o estabelecimento

    de outros parmetros axiolgicos. Entre os marcos valorativos do Novo Cdigo destaca-

    se um menor apego forma, uma ntida indicao de desburocratizao processual, de

    intuito de implementao de um sistema verdadeiramente instrumental. Diante de tal

    conjuntura, no possvel defender a necessidade de se instaurar novo processo de

    conhecimento, quando j se tem em mos uma sentena que reconhece a existncia da

    obrigao.14

    5 Concluses

    Diante dessas breves consideraes, em um ambiente ainda turvo e inquieto,

    conclui-se que a modificao redacional no implica em mudana do entendimento hoje

    predominante.

    Em verdade, o texto normativo se tornou mais tcnico, porm, no enfrentou a

    matria de forma direta para proibir ou permitir a execuo das sentenas declaratrias.

    Desta forma, a questo permanece aberta interpretao de acordo com o sistema e

    com os valores que o orientam.

    Na linha do que foi exposto, entendo inexistir bice legal ou terico

    exequibilidade destas decises. Ademais, tal entendimento est harmnico aos desgnios

    do direito processual moderno por garantir maior efetividade prtica tutela

    jurisdicional com o menor dispndio formal do procedimento.

    6 Referncia bibliogrficas

    ALVIM WAMBIER, Tereza Arruda; CONCEIO, Maria Lcia Lins; RIBEIRO,

    Leonardo Ferres da Silva e MELLO Rogrio Licastro Torres de. Primeiros comentriosao Novo Cdigo de Processo Civil, artigo por artigo. So Paulo: RT, 2015.

    14Nesse sentido, a opinio de Tereza Arruda Alvim Wambier, Maria Lcia Lins Conceio, LeonardoFerres da Silva Ribeiro e Rogrio Licastro Torres de Mello (2015, pg. 846-847): Segundo pensamos, assentenas declaratrias (inclusive de improcedncia) so executveis quando explicitarem todos oselementos de uma prestao exigvel. A nosso ver, no faz sentido impor nova fase de cognio paraexplicitar um comando condenatrio a uma sentena que j contm todos os elementos identificadores da

    obrigao. Nesse sentido, a redao dada pelo NCPC deixa, a nosso ver, mais clara a possibilidade de sever na sentena declaratria um ttulo executivo, desde que reconhea uma obrigao (de pagar quantia,de fazer, de no fazer, de entregar coisa) certa lquida e exigvel.

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