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A FARRA DAS PASSAGENS Ao investigar os desvios nas cotas de transporte aéreo dos deputados brasileiros, repórteres do site Congresso em Foco revelaram uma prática enraizada no poder legislativo: bancar viagens de parentes e amigos com recursos públicos. A série de reportagens publicada na internet pegou a grande imprensa de surpresa e deu origem a uma cobertura nacional do episódio que ficou conhecido como

A farra das passagens 4

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La farra de los pasajes en el CongresoPor Lucio Lambranho

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Page 1: A farra das passagens 4

A FARRA DAS PASSAGENS

Ao investigar os desvios nas cotas de transporte aéreo dos deputados brasileiros, repórteres do site Congresso em Foco revelaram uma prática enraizada no poder legislativo: bancar viagens de parentes e amigos com recursos públicos. A série de reportagens publicada na internet pegou a grande imprensa de surpresa e deu origem a uma cobertura nacional do episódio que ficou conhecido como

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1) Origem da investigação

As primeiras informações:

Passagens de ex-deputados foram parar em agências de viagens em seus estados.

Nossas fontes também confirmavam que os créditos da Câmara eram usados como salário indireto para funcionários.

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1) Origem da investigação

Partindo dessas duas informações, a reportagem descobriu que funcionários da Câmara estavam sendo acusados na Justiça por falsificar assinaturas de deputados com o objetivo de obter passagens aéreas nas agências de viagem que funcionam no prédio do Congresso.

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A primeira matéria:

Juntar as peças desse quebra-cabeças foi um trabalho de paciência, iniciado ainda em 2008.

Já em 18 de setembro daquele ano, o Congresso em Foco trouxe à tona as primeiras informações sobre a “caixa preta” das passagens aéreas.

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Viagens sob suspeita (18.09.2008 – por Lúcio Lambranho)

MPF pede abertura de investigação sobre desvios nas cotas de transporte aéreo e postal dos deputados

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2) Hipótese

Após a primeira matéria, duas questões foram perseguidas de maneira intensa pela reportagem: Havia um comércio ilegal e paralelo dos

créditos concedidos aos deputados.

 As passagens não serviam apenas para o deslocamento dos parlamentares dos seus estados para Brasília. Eram usadas por terceiros e parentes em viagens de turismo, inclusive para destinos no exterior.

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3) Tipo de busca e fontes

Com essas duas informações confirmadas por diversas fontes, a reportagem foi atrás de dados oficiais e do registro dessas viagens.

Durante a busca, novas evidências surgiram.

A reportagem a seguir se baseia em documento da Polícia Federal que reafirma o uso indevido da cota de deputados. É a segunda da série e a primeira em que integrantes da família Sarney são envolvidos

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Câmara paga passagem de colaborador de Fernando Sarney (05.03.2009 – por Lúcio Lambranho)

Polícia Federal investiga um misterioso bilhete aéreo usado por ex-assessor do Senado para levar mala até São Paulo

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Câmara paga passagem de colaborador de Fernando Sarney (05.03.2009 – por Lúcio Lambranho)

Reprodução de documento da Polícia Federal que comprova a compra de passagens aéreas com verba da Câmara dos Deputados

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4) Revelações da investigação

A partir dessa reportagem nossas fontes chegaram com uma informação que envolvia a senadora Roseana Sarney na “farra”.

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De São Luís a Brasília, por conta

do Senado (16.03.2009 – por Eduardo Militão e Lúcio Lambranho)Mais um caso de uso indevido de passagens aéreas no Congresso. Desta vez, na cota de Roseana Sarney

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Com a lista dos convidados da senadora em mãos descobrimos que o esquema era semelhante ao da Câmara, mas no Senado uma agência de turismo fazia a intermediação.

Mesmo nos identificando como integrantes do site, um funcionário da agência confirmou a compra das passagens.

A conversa foi gravada e durou seis minutos. No primeiro telefonema, o repórter informa estar em poder de uma lista e que tem a intenção de confirmar quem pagou as passagens.

De São Luís a Brasília, por conta

do Senado (16.03.2009 – por Eduardo Militão e Lúcio Lambranho)

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A fita já está nas mãos do Ministério Público e não reproduzimos aqui o áudio, pois a identidade do funcionário ainda está sendo preservada:

 FUNCIONÁRIO – Você tem a data da passagem

deles? É todo mundo o mesmo trecho?

REPÓRTER – Parece que é o mesmo trecho. Acho que é São Luís–Brasília.

De São Luís a Brasília, por conta

do Senado (16.03.2009 – por Eduardo Militão e Lúcio Lambranho)

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Em seguida, há uma espera até a ligação cair. O repórter faz uma nova ligação à agência e confirma o pagamento dos bilhetes pela cota de Roseana Sarney:

REPÓRTER – Oi, [FUNCIONÁRIO], é o Eduardo Militão de novo. A ligação tinha caído.

FUNCIONÁRIO – Deixa eu te falar. Foi... pra cota da senadora Roseana Sarney.

REPÓRTER – Ah, tá. Senadora Roseana Sarney, né?

FUNCIONÁRIO – Isso.REPÓRTER – Foi nos dias 8 e 9 de março, né?FUNCIONÁRIO – Isso.

De São Luís a Brasília, por conta

do Senado (16.03.2009 – por Eduardo Militão e Lúcio Lambranho)

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Por envolver a filha do ex-presidente da República e atual presidente do Congresso, a matéria gerou grande repercussão

De São Luís a Brasília, por conta

do Senado (16.03.2009 – por Eduardo Militão e Lúcio Lambranho)

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4) Revelações da investigação A repercussão na grande mídia foi a senha para

nossas fontes abrirem a “caixa preta”. Nas semanas seguintes, sobretudo a partir de 14 de

abril de 2009, mostramos que congressistas de todos os partidos, líderes de bancada, ministros, ex-parlamentares, integrantes da Mesa Diretora, entre outros, usavam de modo questionável as passagens aéreas pagas com dinheiro público.

Pelo menos 261 deputados viajaram ao exterior, muitas vezes com familiares e amigos. De carona, levaram até artistas de TV e cantores.

Um só parlamentar usou 40 bilhetes para viagens internacionais, todas para fins particulares.

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Adriane Galisteu e artistas viajam por conta da Câmara (14.04.2009 – por Lúcio Lambranho, Edson Sardinha e Eduardo Militão)

Dep. Fábio Faria usou cota para viagens da namorada pelo Brasil

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Maioria da Câmara usou cotas para voos ao exterior (16.03.2009 – por Lúcio Lambranho, Edson Sardinha e Eduardo Militão)

Dos 513 deputados federais, 261 utilizaram recursos para pagar quase 2 mil trechos internacionais, para 13 destinos aéreos

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4) Revelações da investigação A descoberta de que o presidente do

Supremo Tribunal Federal (STF), principal corte judicial do Brasil, viajou com passagens custeadas pela Câmara abriu nova frente de apuração.

Ele comprovou ter pago os bilhetes, obrigando a Câmara a investigar o mercado paralelo de venda de créditos aéreos formado por servidores do Congresso, de agências de viagem e – segundo indícios – por parlamentares.

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Farra das passagens chega a Gilmar Mendes (16.04.2009 – por Lúcio Lambranho, Edson Sardinha e Eduardo Militão)

Presidente do STF e Eros Grau aparecem como beneficiários de passagens da Câmara. Indícios apontam para mercado paralelo

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Senado paga viagem de Hélio Costa e família para Miami (17.04.2009 – por Eumano Silva e Lúcio Lambranho)

Min. das Comunicações usou cota do suplente para bancar ida com parentes aos EUA e alegou que a agenda do governo coincidiu com suas férias

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Michel Temer fez turismo na Bahia com passagens da Câmara (20.04.2009 – por Lúcio Lambranho, Edson Sardinha e Eduardo Militão)

Pres. da Câmara levou parentes a Porto Seguro usando a cota parlamentar

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Servidores indiciados por passagens são de 39 gabinetes (04.01.2010 – Eduardo Militão)

A maioria dos 45 funcionários acusados de comércio ilegal de bilhetes aéreos está afastada da Câmara ou foi demitida pelos deputados

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5) Impacto e outras repercussões Fato raro para um veículo de internet

independente, a série foi intensamente repercutida por toda a imprensa brasileira.

O principal telejornal do país, o Jornal Nacional, transmitido diariamente pela TV Globo para mais de 60 milhões de telespectadores, chegou a citar o Congresso em Foco durante cinco edições seguidas.

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5) Impacto e outras repercussões

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5) Impacto e outras repercussões Ao final, a série de reportagens levou a

Câmara e o Senado a tornarem mais rígidas as regras para uso das passagens, reduzindo em R$ 25 milhões (US$ 14 milhões) por ano os gastos públicos com o benefício.

A publicação da série deu aos repórteres o troféu Tim Lopes de jornalismo investigativo, do Prêmio Imprensa Embratel em 2009. E contribuiu para que o site conquistasse o Prêmio Esso, na categoria de melhor contribuição à imprensa no mesmo ano.

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6) Observações do autor

Apesar de ter conseguido mudar as regras de uso de passagens tanto no Senado quanto na Câmara, a reportagem continua acompanhando o trabalho de investigação do Ministério Público e cobra as ações moralizadoras prometidas pelo Congresso. 

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6) Observações do autor

O Senado ainda não cumpriu a promessa de publicar os dados de viagens de todos os senadores na internet.

E a Câmara se recusa a divulgar quem são os deputados e quanto eles devolveram de dinheiro gasto indevidamente com passagens.

Por isso, apesar da economia obtida com as novas regras (cerca de R$ 25 milhões por ano apenas na Câmara), ainda falta transparência mesmo após o escândalo ser sido divulgado nacionalmente.

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Um ano de farra, nenhum parlamentar punido (14.04.2010 – por Lúcio Lambranho, Edson Sardinha e Eduardo Militão)

Denúncia do Congresso em Foco sobre uso irregular e indiscriminado de passagens aéreas faz aniversário. Algumas iniciativas foram tomadas, mas investigação ainda tem muito a avançar

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6) Observações do autor

Para prevenção de irregularidadesO QUE FOI ANUNCIADO O QUE DE FATO ACONTECEU

Câmara mudaria as regras para o uso de passagens aéreas.

Ato fundiu a cota de passagens com a cota postal e telefônica e com a verba indenizatória. O crédito aéreo só pode ser usado a trabalho. As viagens internacionais ficaram restritas.

Senado mudaria as regras para o uso de passagens aéreas.

Resolução reforçou que só se pode usar o crédito para trabalhar. Viagens internacionais foram proibidas.

Câmara reduziria a cota aérea em 20% e colocaria a contenção de gastos como meta no Ato 43/09.

As cotas foram baixadas, mas créditos antigos, acumulados antes da vigência das novas regras, ainda podem ser usados . Mesmo assim, o gasto da Câmara com passagens baixou de R$ 78 milhões em 2008 para R$ 47 milhões em 2009.

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6) Observações do autor

Para prevenção de irregularidadesO QUE FOI ANUNCIADO O QUE DE FATO ACONTECEU

Senado reduziria em 25% os valores da verba de transporte.

As cotas foram baixadas, mas – assim como a Câmara – o Senado liberou o uso de créditos antigos.

Câmara passaria a divulgar os gastos dos deputados na internet.

A Casa começou a publicar, em dezembro de 2009, informações sobre como cada deputado usou o benefício.

Senado passaria a divulgar os gastos dos senadores na internet.

Promessa não cumprida.

Deputado Ernandes Amorim (PTB-RO) pede à Câmara a compra de um jatinho para atender os deputados.

O requerimento foi rejeitado pela Mesa em 3 de fevereiro deste ano, seguindo o parecer de Rafael Guerra (PSDB-MG).

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6) Observações do autor

Para punição de responsabilidadesO QUE FOI ANUNCIADO O QUE DE FATO ACONTECEU

Câmara abre sindicâncias contra quatro deputados e investigações preliminares contra outros 35.

Nenhum deputado foi punido até agora. Um teve o caso arquivado, provável destino dos outros três.

Câmara abre comissão de sindicância, que aponta 45 servidores envolvidos de 39 gabinetes.

Foram abertos 44 processos administrativos contra os servidores (um deles havia falecido). Até dezembro, 19 haviam sido demitidos, 15 ainda trabalhavam e 10 estavam afastados da Câmara antes da publicação das reportagens sobre a farra.

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6) Observações do autor

Para punição de responsabilidadesO QUE FOI ANUNCIADO O QUE DE FATO ACONTECEU

Cidadão do Mato Grosso do Sul move ação popular contra a Câmara.

Advogado Fernando Gonçalves quer a devolução de R$ 4,7 milhões aos cofres públicos. Nem mesmo o autor tem informações sobre o andamento da ação.

Cidadão do Rio Grande do Sul move ação popular contra deputado Ruy Pauletti.

O bancário Ariel Santos exige a devolução de R$ 37.500 pelo uso de passagens do deputado. No início deste ano, a juíza federal Lenise Gregol pediu informações ao presidente da Câmara, Michel Temer (PMDB-SP).

Alguns deputados devolvem dinheiro usado para fins particulares.

Pelo menos três deputados devolveram R$ 42.500 aos cofres públicos. A Terceira Secretaria da Câmara não forneceu informações sobre outros parlamentares que devolveram dinheiro.

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A série de reportagens sobre a Farra das Passagens foi publicada no site

www.congressoemfoco.com.brno período de 18 de setembro de 2008 a 14

de março de 2010

Equipe de reportagem

Lúcio Lambranho [email protected]

Eduardo MilitãoEdson SardinhaEumano Silva