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Turner Análise de rituais e dramas sociais

A Floresta dos símbolos – Victor Turner

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Notas de sala de aula sobre 1er capítulo do livro A floresta dos símbolos de Victor Turner. Um clássico na análise de símbolos rituais.

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Turner

Análise de rituais e dramas sociais

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Victor Turner (1920‐1983)

• 1952 – The Lozi peoples of North‐Western Rhosesia

• 1957 – Schism and Continuity in na African Society; a study os Ndembu village life

• 1961‐ Ndembu Divination: its symbolism & techniques

• 1962 – Chihamba, the white spirit: a ritual drama of Ndembu

• 1967‐ The Forest of symbols; aspects os Ndembu ritual

• 1968 – The drums affliction: a study of religious processes among the Ndembu of Zambia

• 1969‐ The ritual process: structure and anti‐structure

• 1974‐ Dramas, fields and metaphors; symbolic action in human society

• 1975‐ Revelation and divination in Ndembu ritual

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Mudança no paradigma lingüístico

• Leví‐Strauss lingüística estrutural, sintática e semântica; Ferdinand de Saussure

• Turner Pragmática de Austin e Semiótica de Pierce 

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A Floresta dos símbolos –Victor Turner

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• Ndembu, 1958• Ritual: conduta formal prescrita em ocasiões não dominadas pela rotina tecnológica e relacionada com a crença em seres ou forças míticas.

• Símbolo  a mais pequena unidade do ritual que conserva as propriedades específicas da conduta ritual; é a unidade última de estrutura específica. 

• Símbolo, coisa natural que representa ou recorda algo já seja por possuírem qualidades análogas, seja por associação de fato ou de pensamento. 

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• Pediu aos ndembu que interpretassem os símbolos do seu ritual  material exegético. 

• Material de observação / material de interpretação. • Analisar os símbolos rituais, estudar‐los em seqüência temporal em relação com outros acontecimentos. Símbolos estão implicados no processo social.

• Símbolo ritual como fator da ação social• Estrutura e propriedades de um símbolo são as de uma entidade dinâmica, ao menos dentro do contexto de ação adequado.

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Estrutura e propriedades dos símbolos 

• Estrutura e propriedades dos símbolos a partir de três classes de dados:– Forma externa e características observáveis

– Interpretação dos especialistas

– Contextos significativos, em grande parte elaborados pelo antropólogo

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• Ex.  Nkang’a. Ritual de puberdade, noviça baixo arvore que pinga látex. “Árvore do leite”.– Exêgeses –>  arvore mais ancião, símbolo dominante (valores axiomáticos)

– Leite humana, peitos, puberdade das moças com a formação dos peitos, não com a menstruação (outro ritual).  Lactação, não nascimentos. Expressado por vários símbolos suplementares

– Árvore do leite como árvore de uma mãe e seu filho. Referente deslocamento do ato biológico, amamentar, para um vínculo social, relações domesticas, como para a estrutura da sociedade. 

– Árvore da leite como lugar de todas as mães da linhagem. Mulheres da linhagem dormiram baixo essa árvore, homens foram circuncidados baixo essa árvore.   princípios e valores da organização social. Leite matrilinearidade, mudyi significa mais que matrilinearidade, significa costume tribal muchidi wetu

– Árvore da leite como a bandeira britânica “O mudiyi é nossa bandeira”

– Aspectos harmônicos, coesivos. Aspecto da dependência  Tribo bebe dos peitos da árvore do costume tribal.  Aprendizagem das coisas da tribo que se seguem à iniciação. 

– Chefe como mãe do seu povo. Mãe como arquétipo de protetor, nutridor e mestre

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• Terceiro modo de interpretação. Exegese dos informante se contradiz com a conduta da gente em relação à árvore. 

• Papel da árvore da leite em uma série de situações de ação no marco do ritual de puberdade das moças.

• Símbolos geram ação, símbolos dominantes tendem a covertir‐se em focos de interação. Os grupos e mobilizam, organizam cultos em torno deles, atividades simbólicas.  Estes grupos são também parte do sistema secular, grupos corporativos, família, linhagem ou categorias de pessoas. No nkangá são as mulheres ndembu. Mulheres dançam em torno da árvore, iniciam a novicia, árvore como bandeira das mulheres. Distingue as mulheres como categoria social e indica sua solidariedade. 

• Em determinados contextos de ação representa a própria novicia.  Sacralização inicial de um vástago concreto da árvore da leite. Árvore particular simboliza nova personalidade social como mulher madura. Esposa sexualmente adequada, mulher fecunda, mãe capaz de produzir abundante leite.  Há uma cerimônia para cada moça. Esse momento a diferencia do resto das mulheres. Neste contexto de ação expressa o conflito entre a moça e a comunidade de mulheres adultas no que vai entrar.  Local de sofrer, local de morrer.

• Em outro contexto é o local de oposição entre a mãe da noviça e as mulheres adultas. Mãe é excluída.  do círculo da dança . Perde a filha para rencontrá‐la como  novo membro adulto da sua própria linhagem.  Conflito entre família matricêntricae a sociedade mais ampla articulada pelo princípio da matrilinearidade.. A relação mãe/filha continua mas muda o conteúdo.  Intercâmbio de roupas durante o ritual. 

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• Oposição entre mulheres da tribo e mãe da noviça representado mimicamente junto À arvore do leite no final do primeiro dia do ritual de puberdade. 

• Mãe cozinha cazabe e favas para visitantes. Distribuídos por grupos de aldeias.  Antes de comer as mulheres se aproximam da árvore do leite e gira em torno dele. Mãe coma concha de feijão. “Quem quere” mulheres correm para apoderar se da concha e comer dela. 

• Concha representa à noviça no seu papel de mulher casada.  Alimento simboliza seu poder reprodutivo e seu papel como esposa e cozinheira.

• Traz sorte que a concha seja colhida por uma mulher do mesmo povoado que a noviça. Se não filha se casará e ira morar numa aldeia longe e morrer lá.  Conflito entre família matricêntrica e sociedade feminina adulta. Matrimonio virilocal.  Povoado também espera incorporar os filhos da matrilinhagem.

• Luta simbólica entre parentes da matrilinhagem e parentes do noivo . Conflito entre virilocalidade e matrilinharidade. Árvore como representando a matrilinhagem vs outras linhagens de outros povoados.

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• Fala/representações• Dizem que representa estreito vínculo entre mãe e filha/ritual dramatiza a separação

• Dizem unidade da sociedade ndembu/ na prática separa homens e mulheres, a uma categoria de mulheres vs outros grupos. 

• Como explicar a contradição entre princípios e prática. • Problemas de interpretação. Sentido para quem?• Jung  “Um signo é uma expressão análoga ou abreviada de uma coisa conhecida. Um símbolo é ésempre a melhor expressão possível de um fato relativamente desconhecido, mas que apesar disso se reconhece ou postula como existente”.

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Campo ritual e perspectiva estrutural• Como pode o antropólogo interpretar os símbolos rituais de forma 

mais profunda e compreensivamente que os atores– Possui os diversos pontos de vista de diferentes grupos– Colocar o ritual no marco do seu campo significante e descrever a 

estrutura e as propriedades desse campo significante.– Cada participante contempla o ritual a partir de um ângulo de visão 

determinado . Determinado por posição social que ocupa, inclusive  posições socialmente conflictivas.

– Por ser participante do ritual tende a considerar como axiomáticos e primários os ideais e valores, normas expressadas ou simbolizadas no ritual.  

– Cada pessoa vê o símbolo do arvore do leite nos sucessivos contextos de ação como se só representara seus próprios interesses e valores. Antropólogo realizou análise estrutural, isolado princípios de organização social, distinguido os grupos e suas relações, interconexões e conflitos , a medida que recebem representação no ritual.  Antropólogo como observador e analista do sistema total.

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Três propriedades dos símbolos rituais.

• Classificação do material descritivo permite formular propriedades dos símbolos.

• 1. Condensação. Muitas coisas e ações representadas em uma só formação. 

• 2.  Símbolo dominante é a uma unificação de significatadispares, interconexos porque possuem em comum qualidades análogas ou porque estão associadas de fato no pensamento. 

• Por ex. árvore do leite representa: peitos da mulher; maternidade; a novicia no nkang´a; princípio da matrilinearidade; qualquer matilinhagem concreto; aprendizado, unidade e persistência da sociedade ndembu. 

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• 3. Polarização de sentido. Símbolos dominantes possuem dois pólos de sentido. Num pólo se encontra um agregado de significata que se referem À ordem moral e social da sociedade, normas e valores inerentes às relações estruturais. No outro pólo os significata são fenômenos e processos naturais e fisiológicos. Pólo ideológico/pólo sensorial. 

• Pólo sensorial relacionado com forma externa do símbolo. Látex/leite. 

• No pólo sensorial se concentram significata que provoquem desejo e sentimentos/ no ideológico normas e valores.

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• Significata sensoriais, emocionais tendem a ser grosseiros numa dupla acepção c/o toscos. São representações coletivas, apelam aos mais baixo denominador comum do sentimento humano. C/o grosseiro, abertamente e até flagrantemente fisiológicos.  Árvore/peitos.Sangue, genitália, sêmen, urina, fezes. Esses mesmos símbolos  em seus pólos ideológicos de sentido representam a unidade e continuidade dos grupos sociais, primários, domésticos, políticos. 

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Referência e Condensação

• Símbolos rituais são estímulos de emoção.• Sapir  símbolos referenciais c/o convenções com fim de referência (c/o signo de Jung); símbolos de condensação [rituais], formas sumamente condensadas  de comportamento substitutivo para expressão direta, que permite a fácil liberação de tensão emocional em forma consciente ou inconsciente. Saturados de qualidades emocionais.

• Referencial  elaboração formal, consciente• Condensação  afunda suas raizes no inconsciente e no emocional

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• Atributos básicos dos símbolos rituais– Condensação de muitos significados em uma forma única– Economia de referência– Predomínio da qualidade emocional– Vínculos de associação com regiões do inconsciente.

Crítica. Tende a subestimar a importância do pólo ideológico. Os símbolos rituais são a um mesmo tempo símbolos referenciais e símbolos de condensação, apesar de que cada símbolo é multireferencial mais que unireferencial.  

Grosseiro, fisiológico/normativoOrgânico/socialAlto/baixoInterpenetração dos opostos nos símbolos rituaisRitual converte o obrigatório em desejável

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• No ritual em ação, com excitação e estímulos diretamente fisiológicos –música, canto, dança, álcool, drogas, incenso – o símbolo ritual efetua um intercâmbio de qualidades entre seus dois pólos de sentido: as normas e valores se carregam de emoção e as emoções básicas e grosseiras se enobrecem através do contato com os valores sociais. 

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• Propriedades empíricas dos símbolos dominante– Condensação

– Unificação de significados dispares em uma única formação simbólica

– Polarização de sentido

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Símbolos dominantes e instrumentais

• Símbolos dominantes.

• No culto aos antepassados, árvore “local de saudação”, “ancião”.  Pregaria ao espiritoconcreto / árvore

• Segunda classe de símbolos dominantes altares, compostos de vários objetos combinados. 

• Ambos símbolos dominantes relacionados com seres não empíricos, c/o suporte, representação, identificados com ele. 

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• Símbolos dominantes são pontos relativamente fixos tanto na estrutura cultural como na social e constituem pontos de união entre estas duas estruturas. Representativos dos valores axiomáticos. Também como fatores de ação social. 

• Símbolos Instrumentais. Tem que ser contemplando em termos do contexto mais amplo, o sistema total de símbolos.

• cada ritual tem sua forma, seus fins. Símbolos instrumentais como  meios para a consecução desses fins. Por ex. árvore com muitos frutos/fertilidade. Representam crianças, por isso são eficazes. O significado deles está associado a emoções e desejos conscientes e inconscientes. Próximos dos símbolos de condensação. 

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Os limites da interpretação antropológicaPsicologia profunda e simbolismo ritual

• Análise– Antropologia cultural– Teoria estruturalista– Dinâmica social

Ate que ponto é oportuno submeter o pólo sensorial ao análise intensivo.

Psicólogos  ficam no pólo sensorial.Método psicanalítico examinar a forma, o conteúdo, modo de interconexão dos atos e dos objetos simbólicos e interpretar por meio de conceitos da prática clínica européia.

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• Explicação psicanalítica

• Universais, infância, pai/filho; filho mãe; etc

• Pulsões orais, sádico‐anais e masoquistas.

• Psicanalista não da importância À interpretação indígenas.

• Turner crítica à postura psicanalítica por ficar só no pólo sensorial.

• Símbolos dominantes com dois pólos. 

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• Propriedades cruciais dos símbolos rituais incluem desenvolvimentos dinâmicos (mudanças temporais nas relações sociais,  mudanças de status).  Símbolos instigam a ação social. “Forças” que induzem à ação.

• Nesse contexto é onde as propriedades resultam mais importantes– Polarização de sentidos; transferência de qualidades afetivas; discrepância entre entresentidos; condensação de sentidos

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• Antropólogo não pode discriminar entre fontes precisas desses sentimentos e desejos inconscientes que determinam a forma externa do símbolo. Para ele simplesmente o símbolo evoca emoções. 

• Interpretação das emoções observadas. Necessidade de analisar os símbolos no contexto das emoções observadas. Nas situações rituais se experimentam emoções. 

• Se representam e evocam nos símbolos dominantes; estão associadas à mimeses do conflito interpessoal e intergrupal. Essas emoções não entram nos sentidos oficiais, verbais, atribuídos aos símbolos dominantes.

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• Supressão situacional do conflito na interpretação.  Os participantes se comportam como se conflito fosse irrelevante. 

• A supressão verbal de certos símbolos dominantes tem a maior importância.

• Os rituais expressam um princípio ou conjunto de princípios isolados.  Só pode ser feito bloqueando outros sentidos contraditórios.

• Efeitos que a supressão tem na estrutura de sentidos dos símbolos dominantes. 

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Modos de inferência na interpretação.

• Cada tipo de ritual tem sentidos e fins que o informante não formula explicitamente, mas que o pesquisador tem que inferir baseado no padrão simbólico e na conduta. 

• Necessidade de ter analisado as configurações simbólicas no sistema de rituais. Tem que estudar o símbolo no contexto do sistema total.  Mudanças de significações. 

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• Diferentes contextos. – Contexto de ação.

– Contexto cultural

A discrepância é uma propriedade essencial dos grandes dominantes simbólicos em todas as religiões

Todas as contradições (individuo/sociedade, intergrupal) se condensam e unificam numa única representação, os símbolos dominantes. 

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• Analise culturalista e análise estruturalista tratam os símbolos como intemporais. A natureza essencial dos símbolos dominantes e dos símbolos instrumentais é dinâmica.

• Análise estático pressupõem um cadáver. Os símbolos estão vivos, prenhes de significado, para os homens e mulheres que interatuam observando, transgredindo e manipulando para seus fins privados as normas e valores expressos nos símbolos.  [pragmática]

• Símbolo ritual como uma força num campo de ação social permite entender as características.

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Conclusão: A análise dos símbolos nos processos sociais.

• Rituais. Sistema de rituais. Uns no vertice de toda a hierarquia de instituições reparadoras e reguladoras; outra classe preventiva de conflitos e desvios, incluem rituais periódicos e rituais das crises vitais.

• Cada ritual é pautado no tempo, suas unidades são objetos simbólicos e aspectos serializados da conduta simbólica. 

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• Constituintes simbólicos podem classificar‐se em elementos estruturais ou símbolos dominantes(fim em se mesmo), e elementos varáveis ou símbolos instrumentais (utilizados para fines implícitos ou explícitos de cada ritual). 

• Necessidade de examinar o contexto mais amplo do campo de ação, do qual  ritual é uma fase. Circunstancias que dão lugar à celebração do ritual.

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• Circunstancias determinaram a classe de ritual que se celebre. Fines do ritual guardarão relação aberta com e implícita com circunstancias que antecedem e ajudará a determinar o sentido dos símbolos. 

• Estudar os símbolos no contexto desse ritual, com ajuda de informantes. Diferentes niveles, especialista a leigo. Conduta dirigida a cada símbolo. Com isto poderemos apresentar o ritual como um sistema de significados. Como parte de um sistema mais amplo.

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• Elementos significativos do sentido de um símbolo guardam relação com o que esse símbolo faze e com o que com ele se faz, por quem e para quem. 

• Situação total do campo inclui a estrutura do grupo que celebra o ritual; os princípios básicos da sua organização e suas relações perduráveis; sua atual divisão em alianças e facções transitórias sobre base de interesses imediatos. 

• A estrutura permanente e as formas recorrentes de conflito estão estereotipadas no simbolismo do ritual.