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PUBLICAÇÃO PERIÓDICA GRATUITA · N .º 9 – P RIMAVERA 2013 ESPECIAL FLORAçãO Crónicas do Cannabistão CANCRO: CBD TRATA CIENTISTAS JÁ DIVULGAM · CÂNHAMO INDúSTRIAL DE NOVO EM PORTUGAL · AMÉRICA LATINA = BRASIL Atualidade JORGE ROQUE ATIVISTA PESO-PESADO DE BRAGA PARA O MUNDO Personalidade KRATOM Tradição Etnobotânica ‘‘ O NEGÓCIO DA PROIBIçãOA HISTÓRIA OCULTA E OS PROTAGONISTAS POR ANTÓNIO ESCOHOTADO

A Folha #9

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Cultura Canábica para Adultos, escrita em língua portuguesa.

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Page 1: A Folha #9

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EspEcialfloração

Crónicas do Cannabistão

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cancro: cbd trata cIEntIStaS JÁ dIVUlGaM · cÂnHaMo IndúStrIal dE noVo EM PortUGal

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Atualidade

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Personalidade

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‘‘o nEGÓcIo da ProIbIção”a HIStÓrIa ocUlta E oS ProtaGonIStaS

— POR ANTÓNIO ESCOHOTADO —

Page 2: A Folha #9

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também

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““

a abrir

11 Holanda: lei anti-canábis recua

ONDE RESERVAR A FOLHA N.º10FICHA TÉCNICA CONTACTOS APOIOS38

Henry Ford [1863-1947]Criador do automóvel, da linha-de-montagem modernae da revolução indústrial do sec. XX

Foi um crente fervoso em combustíveis alternativos. Em 1919, Henry Ford começou a inves-tigar a viabilidade dos materiais orgânicos como alternativa à gasolina. A pesquisa feita pela sua companhia continuou até ao princípio da Segunda Grande Guerra. Na década de 20 não lhe chamavam combustíveis alternativos, no entanto; chamava-se etanol.

Ford investigou também o uso de plantas no fabrico dos materiais para construir a carroçaria dos automóveis que a sua empresa desenvolvia. Graças ao enorme sucesso do seu Modelo T, Henry Ford era, na altura, suplantado apenas por John D. Rockefeller em termos de fortuna. Henry Ford foi um dos poucos homens que teve os meios necessários para dar vida às suas ideias.

“Porquê usar as florestas – que tardaram séculos a fazerem-se – e as minas – que demoram uma eternidade a assentar – se podemos ter o equivalente aos produtos florestais e minerais na produção anual dos campos de cânhamo?”

SumárioA FolhA n.º 9 · PrimAverA 2013

Tricomaria: finalmente regressa um fórum de discussão portuguêssobre o melhor hobby do mundo

SugESTõES / NOVIDADES

12 américa latina e a mudança de paradigma – por Alejo Alvarado

OPINIÃO

8clubes sociais e autocultivo– maioria parlamentar ainda não permitiucânhamo indústrial volta a portugalEua: curtas

6 PortUGal banE droGaS dE dESIGne plantas de utilização secular à mistura

ATuALIDADE

gENÉTICA

18 Green Poisonautoflorescente de 3.ª geração– por Sweet Seeds

Breve história do cânhamo e suas aplicações

SuSTENTABILIDADE

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SAÚDE

32 “EsTimulanTE do apETiTE” – por Dr. Pedraza valiente

TRADIÇÃOETNOBOTÂNICA

33Kratom

aValIação do dEbatE SobrE a lEGalIzação do aUtocUltIVo E doS clUbES SocIaIS dE canÁbIS assembleia da República, 8.05.13

1413 Brasil... de volta a 1980

– por Denis Russo Burgierman

16JorGE roQUEativista peso-pesado: de Braga para o mundo.

PERSONALIDADE

INVESTIgAÇÃO

28o nEGÓcIoda ProIbIção– por antonio Escohotado

CAPABig Devil #2por Tommy SweetsCRÓNICAS

DO CANNABISTÃO

ESPEcIal floração

cbd antI-tUMoral cientistas revelam composto que pára o alastramento de metástases

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É com um imenso gosto e sensação de dever cumprido que volto a escrever nestas páginas. A Fo-lha sofreu um interregno de quase um ano, mas está de volta mais forte que nunca. Foi um ano difícil para todos os que sempre se dedicaram a dar corpo ao manifesto naquela que se tornou uma publicação de referência no mundo canábico lusófono em particular, e na sociedade portuguesa em geral. Pelo hiato sem publicar, pedimos as desculpas aos nossos leitores e parceiros, mas podemos também garantir-vos que a crise não nos parou e já preparamos o número 10!

No passado Abril, Portugal baniu as chamadas smart shops, através da aplicação da nova lei que regulamenta as NSP’s (Novas substâncias Psicoativas), num acto legislativo que foi mais propriamente um acto político para aliviar pressão mediática do que uma resposta pensada e concertada com base na experiência de países europeus onde já existia historial de comércio e consumo deste tipo de substâncias. De resto, como comenta Daniel Martins, da APDES, na pre-sente edição, dias após o início da aplicação da nova lei o presidente do Sicad, ex-IDT, já referia que tinha recebido desde então a notificação do aparecimento de “meia dúzia de novas substâncias”.

Se é verdade que a maioria das substâncias se tratam de facto de drogas sintetizadas em laboratório, na lei portuguesa foram também incluídas uma série de plantas de utilização secular, cujas aplicações medicinal e espiritual serão também postas em causa. Apesar de colma-tar a necessidade urgente de regulamentar o sector, trata-se de um corte a direito, feito mal e à pressa, e pelos motivos errados: não através de um processo de análise e decisão racional, sustentado em estudos e experiências nacionais ou internacionais (países da UE), mas devido à pressão mediática e política que entrou em crescendo nos últimos meses devido às infelizes hospitalizações que a proibição e a não regulamenta-ção do mercado permitiram.

Já em Maio, foi a vez da proposta de Lei do Bloco de Esquerda para a legalização e regulamen-tação dos clubes de consumidores de canábis e do auto-cultivo ter tido uma oportunidade histórica na Assembleia de República. Para nosso infortúnio, revelou-se um processo digno de uma peça teatral de época que roçou o surrealista e dignificou muito pouco a nossa Democracia. Nesta edição, temos uma avaliação do debate na Assembleia em formato de opinião, em que ana-lisamos a fundo as intervenções dos deputados dos vários quadrantes políticos. Saltou à vista a ultrapassagem pela direita do PS ao PCP e no ar ficou a declaração do PS através de Elza Pais de estar a ponderar apresentar uma proposta com um cariz semelhante, mas com maior ênfase na prevenção. Por vezes, a surpresa está ao virar da esquina. A proposta chumbou com votos contra do PSD, CDS/PP e PCP e os votos a favor da bancada do BE e ainda de sete deputados socialistas. Por enquanto, a proibição ganhou mais uma batalha, mas a guerra não está perdida.

A proibição trata-se de um negócio altamente lucrativo com origens em personagens, países e anos concretos, cuja história em certa medida foi passível de documentar. Histórias reais que envolvem desde governos a serviços secretos, bandidos locais e magnatas da finança. Nesta edição temos a honra de ter Antonio Escohotado, reputado Profes-sor Universitário e Ensaísta Espanhol, que numa análise extremamente lúcida e documentada nos leva numa viagem histórica e política aos meandros do negócio da proibição.

Das várias notícias desta edição é de aplaudir o

regresso do cultivo de cânhamo Indústrial em Portugal pela primei-ra vez desde meados dos anos 90, desta feita através da Cooperativa para o Desenvolvimento do Cânhamo em Portugal, que tenciona

relançar este recurso de alto potencial agrícola e indústrial

que durante anos esteve na gaveta à custa do preconceito, da ignorância, e

da defesa dos interesses do lobie do eucalipto ligado à Indústria da celulose de papel.

Portugal volta também a ter um fórum virtual de referência para os amantes da planta, onde se pode encontrar e trocar informação com uma excelente equipa de moderado-res. Chama-se Tricomaria, e será um espaço para a comunidade lusófona. Que venha para ficar. Vemo-nos por lá!

João Maia < [email protected] >

Algures nos anos 30, Ford e os seus cientistas começa-ram a investigar diferentes tipos de materiais orgânicos que pudessem ser usados na construção de carroçarias. A fórmula exacta desenvolvida pelos seus cientistas não é conhecida, mas crê-se que tenha sido um composto de fibras de soja e cânhamo, coberto com uma resina vegetal aglutinadora. O material resultante, diz-se, seria dez vezes mais forte que o aço. Existe uma imagem famosa de Henry Ford batendo na bagageira do seu carro com uma marreta. A porta da baga-geira era feita deste composto.

A Segunda Guerra mundial levou a que as suas linhas de montagem passassem a produzir material bélico e após o seu término o projeto do carro com combustível verde não foi continuado.

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atualidade: nacional

No passado dia 17 de Abril começou a ser aplicada a lei que proíbe qualquer actividade comercial relacionada com as chamadas Novas Substâncias Psicoativas (NSP), mais conhecidas como “Drogas Legais”. por Daniel Martins, APDES

A lei baseia-se numa tabela temporária, preenchida de início com 160 substâncias sujeitas às restrições, onde se incluem com-postos da família das fenetilaminas, tripta-minas, catinonas, canabinóides sintéticos e até plantas. As substâncias incluídas nesta lista terão de ver a sua toxicidade comprova-da num período máximo de 18 meses para, então, serem transferidas para a tabela crimi-nal anexa à lei 15/93, que regula o tráfico de drogas em Portugal. Durante estes 18 meses o comércio de NSP é considerado uma con-tra-ordenação, podendo as multas atingir os 3740€ no caso de indivíduos e 44.890€ no caso de pessoas colectivas.

A posse para consumo tem o mesmo enquadramento das outras substâncias ilegais, visto que o consumo de substân-cias psicoactivas em Portugal é descrimi-nalizado.

Em 2001 Portugal deu um importante passo no que toca a políticas de drogas. A descriminalização do consumo de substân-cias psicoactivas permitiu substituir algum do esforço da luta contra as drogas, consi-derada por muitos infrutífera, por tentativas de viver mais pacificamente com elas, com a consciência que o consumo de substâncias psicoactivas sempre fez e vai continuar a fazer parte das sociedades humanas.

Uma porção do investimento que era direccionado para as várias frentes desta luta foi redistribuído para as áreas do tratamento e da prevenção. Apesar de na sua base con-tinuarmos a ter um modelo proibicionista, existindo uma lista de substâncias ilegais, abriu-se lugar para abordagens pragmáticas como a Redução de Riscos e Minimização de Danos (RRMD). Na RRMD em vez da tónica estar assente unicamente nos riscos associados ao consumo, há uma tentativa de

coRTE a diREiTo

Portugal bane drogas de designe plantas de utilização secular à mistura

promover a gestão destes dando-se ênfase à promoção da saúde dos consumidores. Mais de dez anos passados os resultados são bas-tante animadores. Dentro do que é possível numa política proibicionista, o modelo portu-guês é dos menos maus.

No entanto, nos últimos tempos o apareci-mento das NSP, substâncias com capacidade para contornar a lei que regula o tráfico de drogas, veio desafiar os sistemas de autori-dade. O sistema legal viu-se de mãos atadas para restringir o acesso e comercialização destas substâncias, o sistema sanitário não estava familiarizado com os seus efeitos, as doses e os riscos inerentes. A proliferação das smartshops ofereceu aos consumidores uma panóplia de substâncias psicoactivas estimu-lantes, depressoras e psicadélicas vendidas sob o capote de fertilizantes e incensos com a indicação que “não é para consumo humano”. Embora no nosso país não existam estudos extensivos da composição dos produtos ven-didos nas smartshops, estudos realizados nou-tros países europeus mostram que a maioria são substâncias da família das catinonas – de-rivados da catina, um composto presente num arbusto Africano – e cannabinóides sintéticos, compostos que apesar de estrutura química di-ferente têm efeitos semelhantes aos do THC, principal composto activo da cannabis.

A mefedrona, uma das catinonas, foi a primeira a causar alarmismo e a primeira a receber uma recomendação Europeia apelan-do aos Estados membros para a adicionarem à lista de substâncias ilegais. Portugal foi um aluno atrasado, pôs em prática esta recomen-dação apenas no início do ano passado. Foi também o aluno desatento, por essa altura já se tinha verificado o impacto dessa proibição em outros países europeus. Os dados do Bri-tish Crime Survey 2010/11 indicavam que

no Reino Unido após a sua ilegalização, por exemplo, a mefedrona rapidamente passou para o mercado ilegal e a prevalência de consumo tornou-se equiparável ao de ou-tras drogas já ilegais, como a cocaína.

Ao mesmo tempo, nas prateleiras das smartshops surgiram outros compostos já ca-pacitados para contornar a lei. Por aqui, dois dias após o início da aplicação da nova lei o presidente do Sicad, ex-IDT, já referia que tinha recebido desde então, a notificação do aparecimento de “meia dúzia de novas subs-tâncias”. Os avanços da investigação farma-cêutica actual permitem desenhar moléculas de acordo com o metabolismo e alvo preten-dido tendo em vista aplicações terapêuticas, no entanto os entrepreneurs do submundo sabem que as aplicações recreativas são tão ou mais lucrativas. A panaceia psicotrópica talvez seja um mito, mas certamente substân-cias mais potentes e com efeitos inesperados vão surgir. Ao tentar regular este mercado através da proibição, o Estado está a ali-nhar num jogo do gato e do rato. E todos já sabemos que é jogar para perder.

Era de esperar que as autoridades com competência para lidar com este problema não entrassem em jogo com a derrota em vista, mas mais uma vez, faltou a visão prag-mática: estas substâncias estão cá para ficar e tem de se trabalhar a partir deste pressuposto.

Em Setembro do ano passado a APDES - Agência Piaget Para o Desenvolvimento [www.apdes.pt], uma organização não-gover-namental que promove e financia projectos que trabalham com jovens consumidores des-te tipo de substâncias, foi ouvida pela comis-são parlamentar da saúde do PSD, fornecendo o seu parecer técnico sobre o fenómeno das drogas legais. No seguimento, elaborou uma

série de recomendações* (disponíveis para consulta no site da organização) que têm em vista a regulamentação do mercado, assumin-do que medidas proibicionistas manteriam o mercado tal como estava – desregulado.

Nestas recomendações foi posto em cima da mesa o conceito de uma tabela restrita, que seria adicionada às tabelas já existentes. Ao contrário da lei vigente que proíbe provisoriamente a comercialização de qualquer substância que tenha efeitos psi-coactivos, o modelo da tabela restrita regula a venda de substâncias que mostrem um risco “menos que moderado”.

O nível de risco seria avaliado por uma comissão multidisciplinar, sendo contabiliza-dos uma série de factores tais como evidência de abuso, efeitos específicos das substâncias, grau de toxicidade, valor terapêutico, etc. Desta forma, haveria a possibilidade de estu-dar mais profundamente as substâncias que já existem e informar os possíveis consumi-dores tendo por base evidências científicas, diminuindo a pressão sobre o desenvolvimen-to de novas substâncias e por arrasto a proba-bilidade de surgirem no mercado moléculas mais tóxicas das que actualmente circulam.

Os pontos de venda seriam certifica-dos e fiscalizados pelo governo, sendo os produtos vendidos com garantias, con-tendo nos rótulos a indicação de efeitos, interacções, riscos e outras informações relevantes. O limite de idade dos clientes e distância mínima das escolas figurariam nesta legislação. Seria de prever que smartshops certificadas iriam competir, com vantagem, com qualquer outro mercado paralelo – tal como se processa com o álcool, o tabaco ou outras substâncias psicoactivas legais.

* www.apdes.pt/uploads/news_files/143.pdf

Esq.-dir.: ipomoea tricolor [autor: Alexandre de menezes]; nozes de areca (Areca catechu) [autor: Tu7uh fonte: wikimedia.org];

Salvia Divinorum [autor: olekkerra; fonte: lycaeum]; Kratom [autor: A. menezes].

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atualidade

A vontade dos portugueses que pre-tendem ter o direito de usufruir legal-mente do uso de canábis não será ainda uma realidade, com a rejeição do pro-jecto de lei apresentado pelo Bloco de Esquerda (BE) no sentido de criar um enquadramento legal para o consumo da mesma.

Com apenas a bancada do BE e sete depu-tados do PS a votar a favor, a abstenção do res-tante PS e dos Verdes juntou-se ao voto contra do PCP, PSD e PP, impedindo a materialização deste projecto-lei que traria benefícios a vários níveis.

Rejeitaram a proposta bloquista os parla-mentares do PS Renato Santos, João Portugal e José Lello, reforçando a postura do PCP, PSD e CDS/PP sobre o assunto. Do lado rosa, João Galamba, Isabel Moreira, Elza Pais, Pe-dro Nuno Santos, Pedro Delgado Alves, Maria Antónia Almeida Santos e Duarte Cordeiro foram os socialistas que apoiaram a proposta do Bloco.

Algumas críticas fizeram-se ouvir sem di-reito à defesa das mesmas. Do lado do CDS/PP, pela voz de Telmo Correia, que considerou a proposta “pouco realista”, no sentido em que “nada prova que o consumo de canábis seja equiparável ao do tabaco”.

A socialista Elza Pais mostrou no entanto uma posição mais moderada, defendendo que a lei seria util se acompanhada das necessárias medidas de prevenção. Já a social-democrata Laura Esperança manifestou o seu desagrado pela proposta, argumentando que a mesma ca-rece de “respaldo científico e de uma reflexão cuidadosa”.

Apesar dos argumentos contra o proibi-cionismo apresentados pela deputada Helena Pinto, que num discurso lúcido e socialmente consciente explicou que a proibição só benefi-cia quem se move na ilegalidade, promovendo o tráfico, a falta de qualidade e o aumento de criminalidade, a proposta foi chumbada.

Igualmente ignorado foi o paradoxo da lei apontado pela deputada, que permite que o utilizador possua alguma quantidade de canábis para uso pessoal, mas que proí-be o mesmo indivíduo de plantar a mesma quantidade para consumo próprio, um

A recentemente criada CANAPOR, Cooperativa para o Desenvolvimento do Cânhamo, tem por objectivo educar a população sobre as aplicações indús-triais da planta, recuperando o uso da mesma para produção de papel e de materiais de construção civil e para a indústria têxtil em geral, entre outros.

Um dos responsáveis fundadores da CA-NAPOR, Manuel Duarte, em declarações à Agência Lusa, define a planta como “muito versátil e altamente rentável”. “É uma bênção dos primórdios da humanidade e um produto de excelência. Não afecta os solos e ajuda o ambiente”, revela, por sua vez, a CANAPOR, no texto que introduz a petição online com o objectivo de promover a produção na-cional de cânhamo para fins indústriais. Disponível em http://www.peticaopublica.com/?pi=PNCI2011, a petição apela também a “uma profunda discussão sobre o câ-nhamo indústrial e medicinal. Urge a valorização dos nossos solos, o repovoamento do nosso interior, o desenvolvimento das nossas indústrias e da nossa economia”.

cluBEs sociais E auToculTiVo

maioria parlamentar chumba projectodo Bloco de esquerda

vazio legal que obviamente só favorece quem faz do cultivo ilegal de cannabis fonte de rendimento.

Apesar da veracidade facilmente cons-tatável dos argumentos do BE, praticamente não houve espaço para debate e contra-ar-gumentação, tendo a deputada Paula Santos do PCP surpreendido ao alegar irrealidades como “não haverem estudos científicos que demonstrem que a legalização conduza à diminuição do tráfico”, ignorando os dados evidentes após a última década de descrimi-nalização em Portugal, bem como a redução do consumo de canábis na própria Holanda, apesar do “turismo da droga”.

A postura conservadora da deputada do PCP incluiu argumentos como que o aprovar da lei seria “um ataque à salvaguarda da saúde e segurança dos portugueses” e que “o consumo está ligado a mau comportamento e a mau rendimento escolar”, sendo evidente que a regulamentação do consumo através da criação dos Clubes Sociais foi algo incompreendido por esta deputada. Sendo algo que diz respeito estritamente ao consumo adulto e regulado, um modelo bem-sucedido há vários anos na Espa-nha e Bélgica, representando uma alternativa aos males do mercado não-legislado ao qual cidadãos mal informados e de tenra idade con-tinuam expostos.

Elaborando anteriormente sobre os dife-rentes aspectos da proposta, o líder bloquista e também médico João Semedo, disse estar convicto de que “é preciso dar um passo em frente” e que “a discriminalização por si só não responde ao problema”, referindo-se ao tráfico, e favorecendo “uma abordagem baseada na saúde pública” que visa proteger os utilizadores das “malhas perversas do tráfico” e frisando que “o proibicionismo fracassou e alimentou mercados clandestinos e subterrâneos”. A proposta do BE con-templava a possibilidade da legalização do cultivo para uso pessoal, podendo-se plantar até dez pés.

Conceitos como liberdade individual, direito de escolha e auto-responsabilização foram excluídos do brevíssimo quadro da discussão, mostrando o quão atrasado está Portugal quanto à percepção do assunto.

na primeira declaração do governo federal sobre a regulamentação da ven-da de canábis recreativa nos Estados de colorado e Washington, Barack obama falou à rede televisiva aBc news. “Tenho peixes mais gordos para pescar”, disse à jorna-lista Barbara Walters. “o governo federal tem muito que fazer em processos criminais. não faria sentido, em termos de prioridade, focar-mos em utilizadores de drogas recreativos em estados que já disseram que isso é legal.”

isso não quer dizer que promotores fede-rais e que o pessoal da DeA (Drug enforcement Administration) não possam interferir nos estados. mas será que vão contrariar o próprio presidente?

um congressista republicado de nY que há dois anos votou contra a legali-zação do uso de canábis para fins me-dicinais foi detido por posse. Segundo o jornal diário new York Post, o deputado Steve Katz foi detido por uma brigada de trânsito por excesso de velocidade numa estrada nos arredores de Albany, tendo um dos agentes

policiais detetado o forte odor.o político foi eleito em 2010 com o apoio

do movimento Tea Party, a ala mais radical do Partido republicano, tendo um ano depois votado contra o uso medicinal da planta.

veterinário de profissão, Katz perdeu a licença profissional no ano passado depois de acusações por maus tratos a animais. [Fonte: Dn]

na entre-vista para a rede ABC, obama também falou sobre o facto de já ter fumado canábis. o pre-sidente admitiu no passado ter fumado – e inalado – regularmente quando era adolescente, no havai. “há um monte de coisas das quais me arrependo de ter feito em criança. A minha posição é que o abuso de drogas de modo geral não é algo bom para as crianças, não é bom para o nosso país”, disse à jornalista.

[Fonte: almanaquedasdrogas.com]

canapoR

Cânhamo para fins indústriais volta a Portugal

Eua: cuRTas

Deputado republicano proibicionista detido com canábis

Obama – que já fumou – dá sinal verde para legalização

www.tricomaria.com

Foto: Richard Petcher

Page 9: A Folha #9

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www.canna.pt

Os Deusesdevem estar loucos

Page 10: A Folha #9

“– Isto é o cancro.– Isto é óleo de canábis.– Isto é o cancro com o óleo de canábis.Alguma pergunta?Eu também teria perguntas se fosse a ti.”

assim se inicia um de vários videos de david Tripplet no youtube, que entretanto não demonstra apenas o seu caso, em que teve uma remissão total, mas partilha também o de deze-nas de outras pessoas, patologias cancerígenas distintas, cancro de pele, pâncreas, peito, e outros, alegadamente tratados e curados, com imagens demonstrativas.

há três anos, A Folha divulgou uma extensa entrevista com rick Simpson, o canadiano de meia-idade que teve a ousadia de revelar ao mundo os resultados que alegadamente obteve, ao empregar o remédio/óleo que concentra princípios ativos da flor do cânhamo, por via oral e tópica, no tratamento de vários tipos de cancro e outras maleitas.

enquanto isso, o grupo de cientistas da Universidade com-plusense em madrid liderado pelo Dr. manuel Guzmán, divulga o estudo pioneiro que revela a ocorrência do processo autofágico regressivo em células cancerígenas humanas em mutação, em ratos de laboratório. De lá para cá, contando com o apoio do ministério espanhol da Ciência e inovação, da Comunidad de madrid, da britânica GW Farmaceuticals (fabricante do Sativex®; ver edições

A Cannabis Science alivia o sofrimento e promove a saúde através de ciência canabinóide. Sendo uma companhia pioneira em biotecnologia, desenvolve fórmulas baseadas em extractos de canabinóides, indicadas para vários problemas de saúde, incluindo mais de oito tipos diferentes de cancro.

Cada uma destas fórmulas gera receita e ganhos poten-ciais na ordem das centenas de milhões de dólares, com base em dados da atual indústria farmacêutica global. Os potenciais ganhos e receitas são combinados com fontes de lucro adicio-nais que incluem um modelo educacional, produtos de nutra-cêutica e uma parceria estratégica com a MedBox® Solutions. Estas fontes de lucro adicionais permitem elevar o nível de confiança de potenciais investidores, de modo a tornar possí-vel a nossa estratégia financeira global que pretende levar os accionistas da Cannabis Science a obter ganhos em 2014.

A indústria canabinóide é adequadamente explicada com recurso ao modelo de mercado negro que surgiu durante a proibição ao álcool na década de 1920 e que mais tarde se tornou num mercado farmacêutico a retalho na década de 1930.

As estimativas para o mercado canabinóide são na ordem dos 30 a 50 mil milhões de dólares. Previsões internas aumentam esse número para 74 mil milhões em função da especulação relativa ao “Federal Medical Cannabis Program” em 2017.

O presidente da Cannabis Science é o Dr. Robert Mela-mede, Ph.D. Ele está focado na relação entre física quântica e biologia, bem como no papel que os canabinóides desem-penham no organismo humano. Ele tem vindo a desenvolver uma investigação pioneira no campo do sistema canabinóide e o estudo da relação existente entre o sistema endocanabi-nóide e os fitocanabinóides. O Conselho Consultivo Científico da Cannabis Science é composto por vários médicos que concordam com e apoiam a visão do Dr. Melamede. Todos os membros do Conselho são considerados líderes globais.

A equipa de gestão executiva do Dr. Melamede é consti-tuída através de uma parcería de consultores independentes cujos interesses estão alinhados com o eventual sucesso dos accionistas e da Cannabis Science. Este modelo e o seu plano de gestão executiva permitiram à Cannabis Science atrair par-cerias estratégicas para gerar ganhos, tal como sucedeu com Vincent Mehdizadeh, da MedBox, bem como reforçar os ser-viços da empresa tanto com investidores, através de Robert Kane (director de investimentos), como com os pacientes.

A Cannabis Science é a primeira companhia publicamen-te registada [bolsa de valores] que se dedica a canabinóides; o seu símbolo é CBIS e trata-se da única empresa que se dedica a preparar fórmulas baseadas em extractos de cana-binóides. Este modelo e posição de liderança são de grande valor enquanto a companhia ganha maturidade durante os próximos vinte anos e se expande globalmente no sentido de se tornar num potencial líder bilionário de biotecnologia.

Em conclusão, a Cannabis Science é uma companhia que age corretamente, pelas razão corretas, com as pessoas certas. Uma empresa que foi fundada por alguém que estava doente

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atualidade: medicina

Cientistas encontram composto de canábis que pára as metástases em cancros agressivos

Uma dupla de cientistas do California Pacific Medical Center, em São Francisco, descobriu que um composto derivado da marijuana pode parar a metástase em muitos tipos de cancros agressivos, alterando potencialmente a mortalidade desta doença para sempre.

“Levámos cerca de 20 anos de pesquisa para chegar-mos a esta conclusão, mas estamos muito entusiasmados” disse Pierre Desprez, um dos cientistas por trás desta des-coberta, ao The Huffington Post. “Queremos começar com os estudos o mais depressa possível.”

A descoberta, noticiada originalmente pelo The Daily Beast, já foi submetida a testes laboratoriais com modelos animais e está à espera de autorização para os testes clínicos em pessoas. Desprez, biólogo molecular, passou décadas a estudar o gene ID-1, responsável pelo alastramento do cancro. Entretanto, o seu colega de pesquisa Sean McAllister estuda-va os efeitos do Cannabidiol, ou CBD, um composto químico não-tóxico e não-psicoativo, presente na planta da canábis. A dupla acabou por colaborar, combinando o CBD com células ricas em ID-1 numa placa de Petri.

“O que descobrimos foi que o Cannabidiol pode, ba-sicamente, ‘desligar’ o ID-1”, informou Desprez ao Huff-Post. As células pararam de se disseminar e voltaram ao seu estado normal. “Provavelmente não teríamos descoberto isto sozinhos”, adiantou. “É por isso que a colaboração é tão essencial para a descoberta científica.”

Desprez e McAllister publicaram inicialmente um artigo sobre a descoberta em 2007*. Desde então, a sua equipa descobriu que o CBD funciona tanto no laboratório como em animais. Entretanto, descobriram agora ainda melhores notícias. “Começamos por pesquisar o cancro da mama”, disse Pierre Desprez. “Contudo, descobrimos entretanto que o Cannabidiol funciona com muitos tipos de cancros agressivos – cérebro, próstata – qualquer tipo no qual estes níveis altos de ID-1 estejam presentes”.

Desprez espera que os testes clínicos comecem imedia-tamente. “Não encontrámos toxicidade nenhuma nos ani-mais em que testámos, e o Cannabidiol já é usado em hu-manos para uma série de outras doenças”, disse. De facto, o composto é usado para aliviar ansiedade e náusea e, visto que é não-psicoativo, não causa a ‘moca’ associada ao THC.

Os ativistas da marijuana irão certamente louvar a descoberta, mas Desprez explicou que não é tão simples como fumar uma. “Usámos injeções nos testes em ani-mais e também estamos a testar pílulas”, disse. “Mas não se consegue ter Cannabidiol em quantidade suficiente para ser eficaz simplesmente fumando”.

Além do mais, a equipa começou a sintetizar o com-posto no laboratório em vez de usar a planta, na tentativa de o tornar mais potente. “É uma prática comum”, explica Desprez. “Se tudo correr bem, também evitará quaisquer obstáculos na obtenção das autorizações.”

[Fonte: Robin Wilkey, huffingtonpost.com] * www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/18025276

canáBis E cancRo

cBd anTi-TumoRal

Cientístas demonstram-no, testemunhos multiplicam-se; instituto cotado em bolsa assegura resultados. por Pedro Mattos

INfORMAçãO PARA INvESTIDORES

“Eis alguém a morrer de cancro e que já não está a morrer. Não me importa se o remédio vem da planta do tomate, da planta da batata ou do cânhamo. Se é seguro e ajuda e funciona, porque não utilizá-lo?”

rick Simpson

e encontrou uma forma de se curar. Essa pessoa partilhou a sua solução com outros que por sua vez a partilharam com centenas de milhões de doentes que estão a sofrer: doentes com dor crónica, com cancro, esclerose múltipla, soldados e veteranos com stress pós-traumá-tico, doentes terminais, bem como pessoas que padecem de dezenas de outras doenças. Todos eles conhecem agora o valor medicinal dos canabinóides. Esta é simplesmente a melhor oportunidade para a Cannabis Science ajudar e curar quem está a sofrer através dos seus produtos e serviços.

anteriores), e da multinacional Schering-Plough/merck; a investiga-ção dos cientistas do Grupo de Señalización por Cannabinoides tem dado a conhecer, em publicações de referência, dezenas de outros estudos onde o papel dos canabinoides como agentes anti-tumorais em formas distintas de cancro é indiscutível.

nos estados Unidos, onde o canábis medicinal é uma realidade para milhões de cidadãos há vários anos, os lobbies já não vão todos na mesma direcção. os media mainstream têm revelado regularmente dados “novos” sobre os caminhos que estão a ser seguidos pelos investigadores rumo a tratamentos para o cancro baseados em canabinoides, como sendo descoberta recente.

o Dr. melamede conseguiu o mais difícil: arrancar com os testes--clínicos em humanos como-manda-o-figurino, para dois tratamentos anti-tumorais. Cotado em bolsa, o cannabis Science Institute está receptivo a investidores que partilhem uma visão futurista evolutiva na implementação de processos de tratamento para estas e outras maleitas que, num futuro mais ou menos próximo, poderão passar a ter cura, ou meramente permitir uma vida com uma digni-dade diferente. viver com algo considerado doença crónica, como herpes ou diabetes, em alternativa ao inferno da quimioterapia e a sua taxa de sucesso questionável.

o CannabisScience tem vindo a integrar na sua equipa a expe-riência de mais investigadores/professores com décadas de experiên-cia a lidar com a problemática do cancro ou do hiv e propõe resulta-dos/ganhos aos accionistas num tempo determinado [ver abaixo].

outro grupo de estudo na lenta corrida para a cura é o Seth Group, que também reune um grupo respeitável de investigado-res que não retém as suas descobertas [ver acima]. Segundo os próprios, “o objetivo primordial” é “avaliar novas e promissoras práticas de saúde derivadas de modalidades de cura e sistemas de crenças alternativos.” Continuam: “os resultados têm sido publi-cados em revistas biomédicas, revistas por pares, de modo a que as informações – tanto positivas como negativas – sobre estas práticas alternativas de saúde estejam disponíveis para o público em geral.” eis o sumário de um relatório recente:

id-1 é um regulador chave transcricional da agressividadedo glioblastoma e um novo alvo terapêuticoSoroceanu l, murase r, limbad C, Singer e, Allison J, Adrados i, Kawamura r,Pakdel A, Fukuyo Y, nguyen D, Khan S, Arauz r, Yount Gl, moore Dh, Desprez PY, mcAllister SD. Cancer Research. 2013 Mar 1;73(5):1559-69.

“o gene iD-1 tem sido implicado no crescimento de células glioblastoma [isto é, tumores cerebrais – nt.ed.]. Descobri-mos que este gene é um factor chave na mediação entre a poten-te atividade do cannabidiol (CBD) contra os tumores gliobastoma. esta informação assenta no nosso estudo anterior que mostra que o CBD é um inibidor eficaz da expressão do iD-1 e da agressi-vidade associada nas células de cancro de mama. A descoberta--chave, neste artigo, é a demonstração do facto do cbd poder induzir morte programada seletiva – apoptose – em tumores GbM num modelo intracranial.”

Dr. Robert Melamede

“Canabinoides – os componentes activos da cannabis sativa e os seus derivativos – exercem efeitos paliativos em doentes de cancro por estimularem o apetite e prevenirem náuseas, vómito e dor. Além do mais, estes compostos de-monstraram uma capacidade de inibição do crescimento de tumores celulares em modelos celulares e animais, através da modulação de vias-chave de sinalização celular. Os cana-binoides são normalmente bem tolerados e não produzem os efeitos tóxicos genéricos das quimioterapias convencio-nais. Então, será que os canabinoides poderão ser usados para desenvolver novas tera-pias anti-cancerigenas?” – Dr. manuel Guzmán

A interrogação está a ter dificuldades em vencer o tempo; no entanto são conhecidos vários núcleos de estudo e dezenas de pu-blicações que revelam o resultado de casos isolados. há que vencer primeiro o sistema que controla a atribuição de autorização para iniciar os testes clínicos em humanos que se traduzam em números considerados “relevantes” em patologias idênticas. Só então será normalizado e implementado o “novo” processo de tratamento.

Foto: ww

w.arizonam

edicalmarijuanablog.com

Page 11: A Folha #9

respire-se de alívio: voltamos a ter um fórum de discussão português sobre o melhor hobby do mundo

Sugar royal estimulante de floração orgânico

novo site: Plagron.com

espaço destinado a divulgação promocional / institucional

Qual é QuE é o TRuQuE oH maRia?

Go GREEn EnERGY mETER Gsm00812

lei anticanábis não vai afetar turistas

Holanda

Trinta coffeeshops da cidade holande-sa de maastricht reiniciaram a venda de canábis a turistas estrangeiros no primei-ro fim-de-semana de maio, depois de um tribunal ter levantado a interdição que durava desde o início de 2013. Essa decisão não coloca, no entanto, um ponto final no braço de ferro entre os lóbis pró e contra coffeeshops: se, por um lado, a Associação de Coffeeshops de Maastricht considera esta reabertura uma vitória, o presidente da Câmara já veio anunciar que pretende ilegalizar novamente esta venda.

Em Amesterdão, os 220 coffeeshops da cidade nunca deixaram de vender os seus produtos a turistas estrangeiros uma vez que o Governo eleito em Setem-bro permitiu que a aplicação prática da lei fosse do critério de cada município. A meca da canábis holan-desa não quis arriscar perder cerca de 1,5 milhões de turistas, de entre os sete milhões que anualmente visitam a cidade, apreciadores da liberdade de poder consumir canábis legalmente, numa cultura que já integrou o uso da planta há muitos anos.

Apesar das medidas restritivas anunciadas pelo anterior Governo em Maio de 2012, a forte con-trovérsia gerada pela aplicação das mesmas trouxe a lume importantes questões sociais e financeiras ligadas a este sector. O presidente da Câmara de Amesterdão, Eberhard van der Laan, veio a público condenar a lei, invocando razões como o aumento da criminalidade, o consumo e tráfico de drogas pesadas e o péssimo impacto na economia. Recor-de-se que este sector movimenta aproximadamente 400 milhões de euros por ano, valor que muito pesa na balança a favor do chamado turismo de canábis. Por enquanto, a tradição Holandesa resiste.

11sugestões/novidades

chega finalmente a Tricomaria, genuína fábrica de tri-comas caseiros. Um espaço virtual de partilha de informação e expe-riências sobre tudo o que esteja relacionado com tricomas, em português. Dando especial destaque ao ativismo e atualidade, sempre com notícias atualizadas e em português, este fórum volta a dar voz a quem por força de uma lei retrógrada e desajustada continua a viver fechado num armá-rio partilhando-o com meia dúzia de plantas. Não obstante, assume uma posição pedagógica que, além de informar, incentiva a uma redução no consumo de eventuais consumidores que visitem o fórum. Com uma filosofia 100% anti-tráfico, este novo espaço pretende explorar todas as alternativas que permitam acabar com esse flagelo que rouba dinheiro aos cofres do Estado desviando-o para redes criminosas, o que obriga a mais gastos em segurança pagos por todos os contribuintes.

Desde artigos e notícias sobre investigação científica a nível mé-dico, até receitas de culinária canábica, passando por informação e debate acerca de jurisprudência e legalidade, tudo merece um espaço neste fórum que convida às mais acesas tertúlias. Liberdade de expressão em todo o seu esplendor, complementada com a inevitável criação de grupos de trabalho que se movimentem na área do ativismo, tornando possível uma passagem das palavras aos actos.

Para um começo muito animado, a Tricomaria.com tem já em marcha vários concursos, passatempos e sorteios com 3 mil euros em prémios, um conjunto de iniciativas em que todos podem participar e conseguir material para extrações, artigos de parafernália, vaporizadores,

a plagron dispõe de uma vasta gama de aditivos. Estes produtos “universais” podem ser utilizados em todos os substra-tos e combinados com todos os fertilizan-tes da plagron. um destes estimulantes únicos é sugar Royal. Anteriormente conhe-cido por ‘Repro Forte’, Sugar Royal estimula a produção de clorofila e a formação de açúcares e resina. Contém uma mistura complexa de vitami-nas e oligoelementos, garantindo assim elevados rendimentos. A utlização é simples. Após agitar,

“no novo sítio encontrarás informações sobre os produtos da plagron e sobre o cul-tivo em geral. Aqui poderás aceder rapidamente a novidades, dicas úteis, nutrientes relacionados e as perguntas mais frequentes sobre cada produto. Este é um site interactivo, onde os cultivadores

podem conhecer outros cultivadores e partilhar as suas experiências ou opiniões sobre os pro-dutos da Plagron. Exactamente como diz o nosso slogan ‘passa a palavra’. Não te esque-ças de visitar a página do Facebook para obter dicas e truques adicionais (facebook.com/pla-gron) e claro, também podes contactar o serviço de apoio ao cliente: [email protected]

adicionam-se 2ml de Sugar Royal por litro de água (1:500), uma vez por semana, desde a 2.ª semana da fase de crescimento até à 3.ª semana da fase de floração. Disponível em embalagens de 100ml, 250ml, 500ml e 1 litro.

instrumentos de medição e muitos outros produtos. Também se preparam já outras atividades interessantes, como a criação de subfóruns para bancos de sementes em que os breeders vão poder realizar as suas próprias iniciativas e ofertas.

As associações, coletivos e grupos de trabalho relacionados com a temática vão ter direito a um cantinho e, de momento, a Tricomaria já dis-põe de um subfórum para a A.C.B. – Associação Cannábica Brasi-leira. É um espaço que reservámos para a primeira associação cannábica de língua portuguesa, que com gosto acolhemos no fórum na esperança de que possa servir de inspiração a uma iniciativa do género em Portugal. Se visitar o fórum não deixe de ler os estatutos da associação.

Ao mesmo tempo, também um projeto português passa a ter ao seu dispor um subfórum. Trata-se da revista que o leitor se encontra a ler neste preciso momento. Anunciamos em primeira mão uma pequena colaboração entre a Tricomaria e A folha em que a revista passa a ter um cantinho para publicar todas as edições já editadas e também as que estão por vir, permitindo mais visibilidade, comunicação e troca de ideias com os leitores desta publicação.

Informar é prevenir. Penalizar é remediar. Em Tricomaria.com encontramos agora uma ferramenta que permite dissecar e colocar a nú toda a mentira que serviu de alicerce ao proibicionismo e às leis erráticas e contraproducentes que daí viriam a florescer. O futuro verde que nos es-pera um dia, nasce hoje na Tricomaria. Não deixes de assistir e participar.

< www.tricomaria.com >

Se a proibição fosse para a frente, “os 1,5 milhões de turistas não iriam dizer ‘bem, acabou-se a marijuana’, iriam em enxame procurar drogas em toda a cidade”.

van der Lann

Saberpara economizar

plaGRon apREsEnTa duas noVidadEs

com este engenho é possível medir o con-sumo de energia e descobrir que poupança pode ser feita. Os seguintes valores são registados:

• Tempo total de ligação • Potência • Tensão • Ampéres • Frequência • Potência mais baixa • Potência mais alta • Preço por kWh em Euros • Consumo total em kWh e Euros• Custos em Euros (ajustável)• Tempo em uso: horas, minutos e segundosEste monitor de energia foi certificado pela TUV de

precisão, entre outros parametros; tensão: 100-240V; Corrente elétrica: 0-16; permite uma carga máxima de 16A; consumo de energia: 0,2 W - 3600W. < www.go-green.nl >

Page 12: A Folha #9

Começa a tornar-se claro para a sociedade que o consumo responsável, com informação e conteúdo, é um acto privado das pessoas, um direito universal de conhecerem-se a si próprios e à natureza.

A Comissão Latino-americana sobre Drogas e Democracia – integrada por vários ex-presidentes como Ernesto Zedillo do México, Cesar Gaviria da Colômbia e Fernando Henrique Cardoso do Brasil, que fizeram vista grossa a esta problemática quando tinham poder real – também propôs na mesma reunião que o seu continente deixe de ser problemático e estar envolvido na violência do tráfico de drogas, para passar a ter políticas alternativas.

Dois dados importantes marcaram o ano de 2009 nesta matéria: o Senado Mexicano despenalizou a posse de drogas para uso pessoal, limitando certas quantidades (5 gramas de marijuana, 500 mg de cocaína e heroína), e a Corte Suprema de Justiça da Nação Argentina despenalizou também a posse de drogas, baseando-se no artigo 19 da Constituição do país, que protege as acções privadas das pessoas.

Desta maneira, estes países somaram-se às experiências do Perú, Costa Rica e Uruguai, que têm políticas mais liberais neste assunto.

améRica cEnTRalEm 2012 a América Latina apressou o passo e

foi mais longe. O presidente conservador Otto Pérez Molina, da GuaTEmala, supreendeu tudo e todos ao declarar-se a favor da le-galização de todas as drogas. Uma boa parte dos cartéis mexicanos instalou-se, devido à guerra encarniçada destes com as forças do Estado (tudo financiado com o dinheiro do Tio Sam), por quase toda a América Central, em países como nicaRá-Gua, El salVadoR e HonduRas. Isto gerou uma batalha entre os vários cartéis que disputam a rota até aos EUA, principal consumidor mundial de drogas. O número de homicídios nestes países cresceu de maneira exponencial na última década. Honduras, por exemplo, lamenta 82 mortes violen-tas por cada 100.000 habitantes.

Com todo esse peso em cima, o presidente da Guatemala impulsionou junto dos seus colegas salvadorenhos, nicagaruenses e hondurenhos, na Cúpula da Organização dos Estados Americanos (OEA) - realizada na bonita cidade colombiana de Cartagena de Índias - uma discussão de alter-nativas à política actual de drogas empregue no continente. Os EUA e o Canadá, lacaio fiel daquele, evitaram o tema, apesar de Molina ter avisado que discutirá abertamente o tema sem a interferência dos EUA, dizendo ainda que “se se despenalizarem as drogas, terminam-se os cartéis”.

plebiscito. Além disso, são já 17 os Estados que permitem a venda de cannabis medicinal.

A América Latina deixa de seguir as receitas do norte e começa a olhar mais para si mesma e a reconhecer-se nos seus países irmãos. A mudança de paradigma é já um facto e a vitória de uma nova (antiga) forma de ver as substâncias psicoactivas não espera autorização das leis; já está presente em todos nós, cultiva-dores e utilizadores. Toda esta mudança depende dos activistas, dos utilizadores e da sociedade em geral, que começa a ver claramente que aquilo que gera as mortes, a injustiça, a desigualdade e as máfias é a própria proibição e o seu negócio oculto.

Começa a tornar-se claro para a sociedade que o consumo responsável, com informação e conteúdo, é um acto privado das pessoas, um direito universal de conhecerem-se a si próprios e à natureza. E que proibir uma planta ou uma substância é anti-natural.

Depende de todos nós continuar a ser activos, a lutar e a perseguir a nossa liberdade de escolher. As mudanças chegarão, temos que transformar a nossa ansiedade em luta séria e responsável. Exija-mos com muita força o nosso direito a escolher o que queremos consumir e ninguém, nem o Estado nem as diferentes moralidades, poderão impor a sua forma de vida e de ver o mundo. Construamos um mundo onde caibam todos os mundos.

A América Latina está a caminhar, a par e passo, no bom caminho.

*Alejo Alvarado; Jornalista argentino, de acentuado pendente Latino-americanista. Actualmente vive em

Florianópolis, no Brasil. Colabora com vários colectivos de informação latino-americanos de Direitos Humanos

e Cultura Canábica, como a revista semSemente (Brasil), A Folha (Portugal) e a revista Tricoma (Colômbia).

améRica laTinaE a mudança dE paRadiGma Por Alejo Alvarado*

12

opinião

O ano de 2012 foi fértil no debate, em toda a região, acerca da política actual de drogas. Grande parte do debate teve uma origem marcada, a reunião da ONU para a revisão da sua política de drogas, levada a cabo em viena, em 2009. Nesse momento, as delegações do Uruguai e da Argentina manifestaram pela primeira vez o interesse por uma mudança de paradigma, diferente do actual, forjado pelos EUA, deixando claro que os utilizadores de drogas não devem ser criminalizados.

aRGEnTinaTambém na Argentina o ano de 2012 foi um

ano de avanços; pela primeira vez, o Congresso debateu a possibilidade de mudar a actual lei repressiva de drogas. As três principais forças políticas do país chegaram a acordo num projecto-lei que descriminaliza a posse de drogas para consumo pessoal e o seu cul-tivo caseiro. Várias foras as sessões de debates nas quais deputados, utilizadores, funcionários da justiça, activistas canábicos e especialistas deixa-ram claro que se deve mudar a visão da lei actual e ter uma focagem social, a partir da problemática da saúde, e não a partir da repressão e da esfera penal da justiça.

A principal mudança na lei, ao despenalizar a posse de drogas para consumo pessoal e o au-to-cultivo da marijuana, é que concentra os seus esforços no narcotráfico; as forças repressivas do Estado só poderiam deter uma pessoa ou entrar em sua casa se tivessem provas concretas da ven-da do produto.

O debate estagnou entre deputados, devido à aparição de novos conflictos económicos e políticos. O governo, maioritário, quer estender a discussão para gerar um maior consenso.

cHilE O Senador fulvio Rossi, do Partido So-

cialista Chileno, declarou que consome ma-rijuana um par de vezes por mês; começou o debate desta maneira: “Não me parece que seja um mau sinal gerar um debate sério e responsável sobre um tema que tem um profundo interesse na opinião pública”, comentou Rossi.

Tudo isto foi apenas a ante-câmara da apre-sentação de um projecto-lei do próprio senador Fulvio Rossi (PS) e Ricardo Lagos Weber (PPD). O projecto procura despenalizar o cultivo e consumo pessoal de marijuana, além do seu transporte em determinadas quantidades. Os seus argumentos baseiam-se no facto da medida resolver um pro-blema, já que a ilegalidade da canábis incentiva o tráfico, e não enfrenta da maneira mais eficaz o problema da dependência. Rossi insistiu que nas críticas à medida existem dois pesos e duas medi-das. “Existe muito preconceito, e de certa maneira também há um certo autoritarismo moral, no qual um grupo da sociedade pretende erguer-se como autoridade moral e impor as suas crenças, a sua visão do mundo e muitas vezes os seus medos”, acusou Rossi.

colÔmBiaA Corte Constitucional da Colôm-

bia, que em 1974 já tinha declarado inconstitucional a criminalização dos utilizadores, determinou que os cidadãos possuidores de até 1 grama de cocaína e 20 gramas de canábis não sejam detidos, basean-do-se na interpretação de que a proibição de uso e posse de uma dose pessoal de qualquer subs-tância viola os direitos de autonomia e desenvol-vimento da personalidade. O Procurador-Geral da República, Eduardo Montealegre, destacou esta decisão: “O Estado não tem o direito de decidir por um cidadão o que ele deve fazer da sua vida”.

uRuGuaiEm meados de Junho do ano passado, o pre-

sidente do Uruguai José “Pepe” Mujica anunciou, para surpresa de todos, um plano de emergência de 15 pontos para combater a insegurança e o delito. Entre essas medidas destacou-se, tanto a nível nacional como – e sobretudo – a nível inter-nacional, o plano de legalizar e regularizar a venda, produção e distribuição do canábis por parte do Estado. Isto gerou o debate na sociedade uruguaia e estimulou a discussão a nível mundial.

Os activistas uruguaios conseguiram incluir no projecto o auto-cultivo de marijuana, que não estava inicialmente presente. Perto do final do ano passado, quando estava tudo preparado para que se apresentasse e aprovasse o projecto, o presi-dente uruguaio pediu à sua bancada no Congresso que não aprovasse a lei simplesmente por ter a maioria, e explicou que deseja manter activo o de-bate na sociedade para gerar um maior consenso e poder explicar bem os benefícios da legalização da marijuana.

Espera-se, com muita expectativa, que neste novo ano avance com o projecto e que o Uruguai, um país amigo das liberdades individuais, se con-verta num modelo para toda a região, com a sua famosa e reconhecida postura liberal.

um HoRiZonTE QuE alimEnTa o sonHoTendo em conta tudo isto, o horizonte latino

-americano está carregado de boas expectacti-vas, dependendo estas de uma abordagem séria por parte das autoridades e dos especialistas, sem falsos moralismos, encarando o tema a partir de uma nova perspectiva. Há que enten-der que a “guerra às drogas”, impulsionada pelos EUA nas últimas décadas, resultou num fracasso estrondoso na sua intenção visível pois gerou milhares de mortes, na sua maioria jovens pobres, à margem de qualquer expectactiva de vida, gastando milhões de dólares na maquina-ria de guerra; enriqueceu máfias e cartéis; mul-tiplicou em vez de reduzir o consumo de drogas, ao contrário da sua intenção. Seria estúpido ou até perverso e canalha continuar com estas políticas de drogas que deram provas sobejas de fracasso.

Os Estados Unidos, o principal país consu-midor de drogas do mundo, tem muito trabalho de casa para fazer antes de se apresentar como modelo; ainda assim, e no final de 2012, este país proibicionista já tinha em dois Estados, Colorado e Washington, legalizado a venda de marijuana para todos os usos, através de um

México

GuatemalaEl Salvador

HondurasRepública Dominicana

Nicaragua

Costa Rica

Panamá

Venezuela

Colombia

Equador

Perú

Bolivia

Brasil

Paraguai

Argentina

Uruguai

Chile

Fonte: UN

IVERSITY FOR PEA

CE [H

TTP://UPA

ZPRALC.O

RG.U

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Baixa

média/Baixa

média

média/Alta

Alta

Sem Dados

vIOLêNCIA ORGANIzADA

Page 13: A Folha #9

O projeto é confuso e mal escrito, e até por isso não é fácil en-tender precisamente o que é que vai mudar na lei. Uma coisa que sobressai é que o internamento compulsório, que em qualquer país civilizado é visto como um último recurso apenas para casos extremos nos quais há risco de vida, virará regra no Brasil: saire-mos “acolhendo” gente à força no país inteiro.

outra coisa clara é que a população carcerária bra-sileira, que já está aumentando mais rápido do que no mundo todo, tende a explodir. O projeto aposta no aumento das penas, mesmo para criminosos não-violentos, sem ligação com o crime organizado e de baixa perigosidade – por exemplo, mulheres que levam droga para o filho dependente na cadeia serão impiedosa-mente condenadas como traficantes. Adolescentes que soltam rojões nas favelas para avisar quando a polícia chega receberão penas tão altas quanto violadores. Inevitavelmente, as prisões se encherão de jovens negros moradores de favela – como sempre acontece a cada vez que os distintos deputad os aumentam as penas para o tráfico.

Durante o feriado, li e reli o projeto, tentando decifrá-lo em meio à falta de clareza do texto. A uma certa altura me dei conta de que talvez não seja por coincidência qu e o texto é tão confuso: talvez isso seja de propósito, para esconder as reais motivações da mudança na lei.

É o seguinte: o projeto cria um fundo para financiar políticas de drogas no Brasil inteiro. Ele também abre a possibilidade de entida-des privadas que cuidam de dependentes receberem dinheiro público

O internamento compulsivo, que em qualquer país civilizado é visto como um último recurso apenas para casos extremos nos quais há risco de vida, virará regra no Brasil: sairemos “acolhendo” gente à força no país inteiro.

para fazer esse trabalho: são as chamadas Comunidades Terapêuti-cas, muitas delas mantidas por igrejas, grupos às vezes bem intencio-nados, às vezes nem tanto, geralmente não muito capacitados para o trabalho. Só que o projeto não define regras claras para a atuação dessas Comunidades: é um cheque em branco para entidades priva-das fazerem serviço público.

O projeto cria conselhos municipais, estaduais e federal para fiscalizar o uso desse dinheiro. Só que esses conselhos terão metade dos seus assentos reservados para “entidades da sociedade civil”. Ou muito me engano ou essas entidades tendem a ser justamente as Comunidades Terapêuticas que os conselhos deveriam fiscalizar. Ou seja, além de receberem o cheque em branco, caberá às Comunidades fiscalizarem-se a si mesmas.

Em linhas gerais, tudo indica que o projeto de lei, embora não ajude nem um milímetro a reduzir o problema das drogas no país, vá criar uma bela máquina de fazer dinheiro. Primeiro caberá ao Estado recolher compulsoriamente todos os dependentes que en-contrar na rua. Aí esses dependentes serão enviados para organiza-ções privadas sem competência no assunto, que receberão dinheiro público para cada dependente que eles “acolherem”, sem nenhuma obrigação ou contrapartida. Como se sabe que internamentos compulsórias tendem a funcionar mal, muitos dos dependentes aca-barão voltando para as ruas, para serem internados à força nova-mente, tilintando novamente a caixa registradora das Comunidades Terapêuticas. Enfim, bela negociata.

Hoje, no mundo inteiro, sabe-se que dependência de drogas é um problema de saúde que deve ser tratado pelo sistema de saúde, com a participação de profissionais bem treinados e atualizados. O que o projeto de lei propõe é “terceirizar” esse cuidado para igrejas, com dinheiro público, sem exigir nenhum pa-drão de qualidade no tratamento, sem definir protocolos de atendimento, sem sequer determinar que profissionais devem estar presentes.

É mais ou menos como se o Congresso estivesse aprovando uma lei que transferisse para pastores e padres a responsabilidade por cuidar dos pacientes de cancro do Brasil – com dinheiro público, sem deixar claro como o tratamento deveria ser, sem metas nem mecanismos de controlo. Enfim, um absurdo completo. Mas é óbvio que ninguém se revolta. Afinal, ninguém liga mesmo para esses de-pendentes. Azar deles. (E de todos nós, cujo suado dinheirinho será torrado com demagogia.)

Enquanto o mundo inteiro avança, o Brasil prepara-se para voltar no tempo, rumo aos anos 1980, quando se acreditava que a solução para o problema das drogas era o encarceramento em massa. O Congresso Nacional vai votar o Projeto de Lei 7663, do deputado Osmar Terra, que altera a lei de drogas em vários pontos, quase sempre para pior. A julgar pela falta de vontade dos políticos de Brasília para discutir o tema com coragem e sem demagogia, a tendência é que seja aprovado. Segundo quase todos os especialistas sérios no assunto, os resultados serão trágicos. Muita gente vai apodrecer na cadeia, muito dinheiro público escoará para o ralo e o problema tende a piorar cada vez mais.

BRasil...dE VolTa a 1980 Por Denis Russo Burgierman*

opinião

“No meu livro, falo dos países que estão mudando as suas leis rumo ao futuro – enquanto o Brasil anda para trás.”

* Denis Russo Burgierman é Diretor de redação da revista Superinteressante. Escreveu o livro “O Fim da Guerra”, participa na comunidade TED, dá aulas na EISE (Escola de Inovação em Serviços) e é membro da Rede Pense Livre – Por Uma Política de Drogas que Funcione. Pedala entre uma coisa e outra.

13

Page 14: A Folha #9

O PCP, sem querer, descobriu que a canábis reduz significativamente a incidência de problemas de saúde. É que 33% dos portugueses afirmam ter problemas de saúde, mas no universo “consumidores de canábis” apenas 4,5% tem problemas de saúde.

ficou no ar a ideia de que a grande maioria dos argumentos de quem se opôs ao projeto tinha resposta fácil e poderiam ser facilmente refutados caso lhes tivesse sido concedidos uns 5 minutos para o fazer.

Mais, os próprios partidos políticos que se opuseram total ou parcialmente à proposta utiliza-ram como argumento o facto de o próprio Bloco de Esquerda não ter apresentado dados em concreto que pudessem suportar a posição assumida na proposta lida por Helena Pinto. Foram pedidos, por exemplo, dados baseados em investigação científica. Como em 44 segundos é impossível (tanto em teoria como na prática) apresentar esses mesmos dados, este “debate” foi, a meu ver, tudo menos democrá-tico. Na prática os partidos que se opuseram total ou parcialmente à proposta até poderiam ter dito que todos os consumidores morrem depois de uma semana a consumir que não teria sido dada oportu-nidade ao Bloco de Esquerda de refutar convenien-temente esse argumento. E agora votou-se sem que tenham sido proporcionadas condições de refutar argumentos claramente demagógicos? Quarenta e quatro segundos?

De referir também o burburinho que se instalou na assembleia a partir do momento em que se deu inicio a este debate. Nos assuntos debatidos momen-tos antes, a excitação era muito menor. Pelos vistos, de uma ou de outra maneira, a “droga” puxa por eles.

soBRE o pRojEcTo dE lEi E a posição do BlocoO projeto de lei em si não era perfeito. Durante

o verão de 2012 tive acesso àquele que terá sido o primeiro “rascunho” deste projeto de lei e, do mal o menos, posso-vos dizer que graças à abertura demonstrada pelo BE no sentido de escutar atenta-mente a opinião de quem está mais dentro destes assuntos foi possível melhorar significativamente o texto hoje lido na assembleia. Segundo me recordo houve uma audição parlamentar a 28 de Setembro (2012), no auditório da Assembleia de República, em que esteve o nosso ilustre amigo Marco Pereira (da MGM Lisboa e da antiga Horta da Couve), o Martín Barriuso (Presidente da FAC – Federação de Associações Cannábicas – de Espanha) e, surpresa para mim que só agora dei conta disso, a Elza Pais do Partido Socialista que, como tivemos oportunida-de de assistir, foi hoje porta-voz do PS neste “deba-te”. Mas disso falaremos mais à frente.

Disse bem, ao agravamento. Se a pessoa já possui um problema psíquico a canábis pode (em certos casos, noutros não tanto) agravá-los. Então, alguém devia ter explicado ao PCP que o conceito de Clube Social de Canábis, em “debate” nesta sessão, pretende acima de tudo limitar o acesso à canábis a adultos que estejam psicologicamente aptos ao seu consumo e que transmitam sinais claros de não ver a sua saúde mental prejudicada em função do seu consumo.

Até se podia ir mais longe e exigir aos candi-datos a sócios um atestado médico que ateste que o indivíduo, adulto, não portador de deficiência psíquica e com um estilo de vida normal, assume estar plenamente consciente de que o consumo de canábis lhe traz mais benefícios que malefícios e tanto em termos físicos como psicológicos tudo indica que fala verdade. Mas, convenhamos, nada disto consta desta proposta, portanto vamo-nos cingir ao que foi efectivamente proposto. E o que foi hoje proposto também implica uma filtragem que permita determinar quem tem acesso aos clubes sociais e quem não tem acesso. E posso-vos garantir que nem menores, nem portadores de deficiência psíquica, nem sequer indivíduos aos quais o consumo de canábis é claramente prejudi-cial, entrariam nestes clubes. Mais, poderiam até ser encaminhados para o instituto presidido pelo Dr. João Goulão, nas situações em que tal se justifi-casse e sempre por vontade própria do consumidor, sem recurso a chantagens ou ameaças de multas.

E agora, uns 20 segundos mais à frente no discurso, o descalabro total. Um caso de estudo para algum militante do PCP que leia isto ou, até mesmo, para os próprios deputados do partido. Diz ela, em nome do PCP e para justificar a oposição a esta proposta de lei, que:

“Os primeiros resultados do 3.º inquérito nacional ao consumo de substâncias psicoac-tivas na população geral, realizado em 2012, indicam que 12% dos consumidores de caná-bis assumem que têm má conduta em casa”

Ou seja, 1 em cada 9 consumidores acha que se porta mal em casa. E no universo dos “não-con-sumidores”, em cada 9, quantos se portam mal em casa? Mais que 1, não é verdade? E, na prática, o que quer isso dizer?

“...8,1% têm dificuldades em realizar tarefas importantes...”

Ponto 1 – Quer então dizer que a esmaga-dora maioria (91,9%) dos consumidores além de viverem uma vida normal ainda conseguem realizar tarefas importantes quando consomem canábis.

Ponto 2 – Mesmo que 8,1% não pudessem consumir em função do grau de incapacidade que o efeito lhes provoca, o que não é o caso pois a incapacidade além de momentânea refere-se apenas a “tarefas importantes”, então e os outros 91,9%? Mesmo que 8,1% por qualquer motivo não pudessem consumir, vamos negar aos outros 91,9% o acesso a uma planta que muito provável-mente os está a ajudar a viver esta vida? Vamos tornar a penicilina ilegal só porque algumas pes-soas são alérgicas?

“...e 4,5% tem tido problemas de saú-de.” [usa ela o argumento de que 4,5% dos con-sumidores de canábis têm problemas de saúde]

O PCP, sem querer, descobriu que a canábis reduz significativamente a incidência de problemas

aValiação do dEBaTE soBRE a lEGaliZação do auToculTiVo E dos cluBEs sociais dE canáBis8 dE maio dE 2013, assEmBlEia da REpÚBlica Por Tommy

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opinião

O “debate” teve inicio às 17h35m e foi concluído às 17h57m. um total de 22 minutos. O Bloco de Esquerda, que apresentou a proposta, utilizou (ou dispôs de) 3 minutos e 29 segundos para o fazer. O PCP fez uso de 3 minutos e 48 segundos. O PSD, 3 minutos e 44 segundos. O PS, 3 minutos e 23 segundos e o CDS 4 minutos e 45 segundos.

O que interessa salientar é que graças ao Marco e ao Barriuso hoje pudemos assistir à apresentação de um projeto de lei com sentido e que está bem redigi-do. Talvez não seja ainda o suficiente para conseguir convencer os mais conservadores, mas uma alteração à lei nestes moldes propostos teria certamente um impacto mais positivo do que propriamente negativo. É estar a querer dizer que ficaríamos certamente me-lhor do que já estamos. Porém, em minha opinião, é possível fazer algumas alterações a esta proposta com o objectivo de a tornar mais facilmente assimilável por todas as bancadas parlamentares além de que, em simultâneo, se poderia melhorá-la também para todos os consumidores e amantes do hobby do auto-cultivo.

Em suma, o projeto de lei não é perfeito. Mas falhas, se as tinha, foram em grande medida atem-padamente corrigidas. Agora vejamos se a sua apresentação tendeu mais para o lado positivo ou para o lado negativo daquilo que a nós, amantes da planta, nos diz respeito.

inTERVEnção do pcp Começar este debate assistindo à apresenta-

ção do PCP, meteu medo. Ando um bocado afasta-do destes assuntos há uns anos e por isso não fazia a mínima ideia de qual seria a posição de cada bancada no momento em que me sentei no sofá para assistir ao “debate”. E se por um lado a maio-ria daquilo que ouvi não me surpreendeu (infeliz-mente o preconceito ainda sobrevive nas entranhas de alguns), por outro lado posso dizer que tive o prazer de assistir a duas surpresas: uma, agradável; outra, aquela com que o PCP nos presenteou.

Aquilo que a deputada Paula Santos leu, ainda que possa eventualmente ter sido escrito e preparado por ela, é a posição oficial do PCP. Temos que ser directos e objectivos; se este texto é lido significa que foi aprovado no seio do partido e que em teoria todos os deputados o leram. Saliento isto para que ninguém fique com a ideia de que foi um trabalho infeliz da jovem que nos veio falar deste flagelo que tanto a aflige. Diz-nos ela que na opinião do PCP “O consumo de canábis tem efeitos físicos e psíquicos graves e sérios, de entre eles provoca várias doenças do siste-ma respiratório...”

Como é possível dizer-se que o consumo de canábis provoca várias doenças do sistema respiratório se a canábis pode ser consumida por ingestão, situação em que as vias respiratórias não

fazem pura e simplesmente parte da equação e o efeito sobre as mesmas é nulo? O PCP não está neste debate, está no debate sobre o método de consumo da substância. “Devemos permitir que os consumidores de canábis a fumem?” Foi neste debate que o PCP participou hoje.

Já dizer-se que “provoca várias doenças do sistema respiratório” é falso, mesmo quando o método de consumo é a inalação. É, aliás, utilizada medicinalmente por asmáticos pelo seu efeito bronco dilatador.

O que pode eventualmente provocar várias doenças do sistema respiratório (ainda que com incidências muito inferiores às do tabaco) é fumá-la misturada com tabaco, sem filtro apropriado e, além disso, geralmente, com pesticidas perigosos usados no seu cultivo por traficantes sem escrú-pulos, aos quais pouco interessa a saúde do con-sumidor. E esse cenário é fruto da actual situação legal que esta proposta de lei pretende alterar. Se tivessem tomado atenção.

Em última análise, o que de facto provoca (ainda que indirectamente) várias doenças do sis-tema respiratório é esta posição pouco ponderada e mal formulada, aqui assumida por esta bancada para lamentar. Mantenha-se o cenário actual, em que o consumidor mistura a canábis com tabaco para “render mais”, não usa filtros adequados para minimizar riscos por falta de informação, não usa outros métodos de consumo menos prejudi-ciais (como a vaporização ou a ingestão) e está sujeito a canábis contaminada com pesticidas químicos e de certeza absoluta que, mantendo este cenário, o seu consumo continuará a provocar vá-rias doenças do sistema respiratório. Muitas. E com elevados custos para o sistema de saúde público. Tudo com o bom parecer do PCP.

“...conduz a uma maior passividade, inactividade e desmotivação”

Não existem estudos científicos que compro-vem esta afirmação. Aliás, os que há, tendem a concluir que não há uma relação directa entre o consumo e um menor rendimento ou motivação. Mas como neste campo tudo é muito subjectivo fico-me por aqui, apenas referindo que a afirmação do PCP não é factual. Tudo isto poderá deixar de ser subjectivo num cenário de controlo, taxação e le-galização, cenário esse em que o principal interesse dos estudos científicos será o de proteger a saúde dos consumidores e diminuir o consumo da canábis.

Até lá, qualquer estudo que seja publicado está amputado à partida pois ao lobby do proibi-cionismo interessa demonstrar quão má é a canábis ao passo que aos grupos interessados na legaliza-ção interessa demonstrar que a canábis, não sendo inóqua, está surpreendentemente perto de o ser. Portanto, neste cenário, a maioria daquilo que se diz sobre a canábis é vago e subjectivo.

Esta subjectividade destrói vidas, empobrece o Estado e continua a enriquecer traficantes e redes criminosas que obrigam a um colossal esfor-ço financeiro em segurança e investigação criminal, obrigando as forças policiais, pagas por todos nós, a perder tempo que poderia ser investido na inves-tigação de tantos outros crimes que provocam dano ao Estado e/ou à segurança dos cidadãos. Perdemos em todas as vertentes. Com o aval do PCP.

“...e leva ao agravamento de problemas psíquicos...”

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Qual é o jovem que para evitar meia hora com um psicólogo decide pagar uma multa choruda ou ver-se limitado nas suas liberdades? É óbvio que “procura ajuda” e aparece nestes dados estatísticos como alguém que assumiu que tinha um problema e procurou ajuda para o resolver.

de saúde. É que 33% dos portugueses afirmam ter problemas de saúde, mas no universo “consumi-dores de canábis” apenas 4,5% tem problemas de saúde. Diz ela que só 1 em cada 20 consumidores de canábis tem problemas de saúde (!), quando 33% da população geral sofre de algum problema de saúde. Analisando os dados apresentados pelo PCP para justificar a sua posição contrária a esta proposta de lei, chegamos à conclusão de que um consumidor de canábis tem sete vezes menos probabilidades de ter problemas de saúde que uma pessoa que não consuma.

É óbvio que não é assim, mas a abordagem do PCP é que é lastimável. Dizer que apenas 5% dos consumidores tem problemas de saúde além de não fazer qualquer sentido é um argumento a favor da canábis.

Um trabalho de casa muito mal feito. Uma esquerda que ultrapassou o PS pela direita e logo num tema de pura liberdade pessoal em que não há prejuízo para terceiros colocam-se praticamente entre PSD e CDS. Trabalho de casa mal feito e erro político, a meu ver.

“De acordo com o relatório sobre a situação do país em matéria de drogas e toxicodependências [de 2011], a canábis continua a ser a droga mais consumida”

Pudera. É a que permite um saldo mais po-sitivo se colocarmos os benefícios de um lado da balança e os malefícios do outro. Logo, não admira que seja a mais consumida. É e continuará a ser. Com ou sem proibição.

Mas o interessante é isto, quando ela fala ainda em relação aos dados deste relatório:

“...regista-se um aumento do número de consumidores que procuram ajuda das uni-dades de tratamento...”

Mas como é possível, óh PCP? Isto são argu-mentos proibicionistas de políticas conservadoras de direita, quase de extrema. Então os senhores não sabem que o aumento de consumidores que “pro-curam ajuda” nas unidades de tratamento se deve a que desde a despenalização do consumo, quando uma autoridade policial “detém” um consumidor na posse de canábis, esse consumidor tem duas opções:

1 - Sujeitar-se a uma penalização legal, em forma de coima, proibição de abandonar o país, proibição de frequentar certos locais, etc.;

2 - Optar por “procurar ajuda” nas unidades de tratamento. A tradicional consulta única com um psicólogo. Qual é o jovem que para evitar meia hora com um psicólogo decide pagar uma multa choruda ou ver-se limitado nas suas liber-dades? É óbvio que “procura ajuda” e aparece nestes dados estatísticos como alguém que as-sumiu que tinha um problema e procurou ajuda para o resolver.

E mesmo que houvesse um aumento na procu-ra real para cessar o consumo, em que é que isso

A Elza Pais a meu ver falou muito bem. Pre-parou-se, demonstrou que tem uma posição sólida e que está pronta para agir. Se repararem (e tal como referi no inicio) esta senhora esteve na audi-ção parlamentar de 28 de Setembro (que abordei na introdução) juntamente com o Marco Pereira e o Martín Barriuso da FAC. Ela participou na sua elaboração ou, pelo menos, assistiu bem de perto à sua preparação.

Nas notas finais e na minha conclusão irei abordar o leque de possibilidades que se podem abrir com um projecto de lei, preparado pelo PS, com o apoio do BE e num governo posterior ao de Passos Coelho (porque vai haver viragem ao centro esquerda agora, como é habitual no vicioso ciclo da vida política). Talvez se torne possível um consenso entre PS e BE com um cenário que seja bom para nós que queremos poder cultivar e/ou comprar aquilo que consumimos. Mas isso virá com a conclusão, já me estou a entusiasmar cedo demais.

Então, diz a Elza Pais (sim, em nome do PS, fartura de deputados) que:

[Texto transcrito. Entre parênteses rectos as minhas curtas considerações]

“Queremos saudar a iniciativa do BE. Tra-ta-se de uma iniciativa que pretende resolver alguns dos infindáveis paradoxos que se colocam a esta política, nomeadamente pode contribuir para a diminuição do tráfico ilegal, um dos negócios mais lucrativos do mundo que se faz à custa de sofrimento humano.

[De acordo]É bom lembrarmos que a história das

drogas é a história da sua repressão. Sem-pre se consumiram mas só passaram a ser um problema social quando se adulteraram e reprimiram como diz Cândido Agra. E que a estratégia proibicionista que vigora há mais de 100 anos não tem tido resultados. Diz as Nações Unidas: um gigante fracasso.

[De acordo, aplaudo]Portugal deu um exemplo ao mundo

quando em 2000 aprovámos a lei de descri-minalização do consumo de drogas e dei-xámos de considerar os toxicodependentes como uns criminosos que tinham que ir para a prisão para os passarmos a considerar como doentes e como pessoas que precisam de apoio e de tratamento.

[Humm... ok, passámos de mal a menos mal]Portugal não se transformou no paraíso

das drogas como a direita, hoje no poder, chegou a vaticinar alegando e fazendo res-suscitar o paradigma dos anos 70 que asso-ciava as drogas à loucura e à morte. fomos considerados um país modelo e um exemplo de sucesso. Promovemos uma política inte-grada, quebrámos o paradigma depressivo,

pode servir de argumento para a não aprovação deste projecto de lei? Vai precisamente no sentido contrário e justifica a aprovação do projecto de lei que foi apresentado.

Entramos na segunda parte do discurso e as incongruências continuam... Diz ela, em nome do PCP, que:

“Segundo. Que o tráfico seria controlado. Mas não existe nenhuma prova científica que demonstre que a legalização do consumo de canábis conduziria à redução do tráfico”

Mais uma vez o PCP está noutro debate. Agora está no debate sobre a legalização do consumo de canábis. Sim, a legalização do consumo encaixa nesse argumento proibicionista, conservador. Mas a legalização do auto-cultivo para consumo pessoal e do conceito de Clube Social de Canábis, cuja propos-ta esteve em debate (é sempre bom lembrar), são medidas óbvias e concretas no combate ao tráfico. Ao ponto de não carecer de “prova científica”.

Ora pensem. Se o consumidor que gosta de interagir com a natureza e aprecia o hobby do culti-vo, pode ter umas plantas das quais obtém a baixo custo um produto mais natural, mais saboroso e cujo tipo de efeito o consumidor pode eleger, esse consumidor vai continuar a ir comprar ao trafican-te? Com o elevado valor pago e todos os perigos para a sua segurança e saúde que daí advêm?

Por outro lado, se o consumidor não gosta, não tem jeito ou não tem tempo/paciência para interagir com a natureza, é colocada ao seu dispor a opção de se associar a um Clube Social de Canábis onde, a custo reduzido (não há fins lucrativos no Clube), pode obter canábis de quali-dade controlada e escolher entre várias variedades consoante o efeito que mais lhe agrada ou que é mais adequado para a enfermidade de que padece (no caso da canábis medicinal). Será que alguém no seu perfeito juízo ia continuar a abastecer-se junto de um traficante?

Portanto, os senhores vêm dizer que não há prova científica de que o tráfico seria reduzido. Ainda se dissessem que o tráfico não acabaria, é discutível mas podiam dizê-lo sem cair necessaria-mente no ridículo. Agora assim, que não acreditam numa redução, lemos bem, redução, não abona intelectualmente em seu favor.

Se queriam opor-se à proposta de lei tudo bem, agora não tinham que denegrir a própria imagem do partido perante uma comunidade crescente que se dedica e dedicará a analisar todas as posições de cada deputado e de cada partido e que exercerá influência em função dessa análise junto de outros grupos que sabemos serem influenciáveis no que ao tema da canábis diz respeito. Se ganharam votos não sei, mas garanto-vos que perderam uns quantos.

E depois fala numa potenciação do mercado paralelo desta “substância”. Enfim, palavras para quê? Vale a pena dizer que na realidade actual o

único mercado que existe é o mercado paralelo? Não, acho que não vale. Tanto que as barbaridades que se seguiram nem me vou dedicar a falar delas porque como já se percebeu não passa muito disto.

Pior ainda é saber que falaram durante mais tempo que o próprio Bloco de Esquerda, que foi quem preparou e apresentou a proposta de lei e o facto de todos os colegas de bancada, inclusive os que estiveram distraídos todo o tempo, lhe bateram palmas no final. Foi um bonito serviço.

Tempo de antena: 3m48s

inTERVEnção do psSe com a afirmação preconceituosa e surpreen-

dentemente proibicionista do PCP (por muito que me custe escrever isto, já que soa a contrasenso), ficámos a perder por 1 a 0, o PS veio virar o resul-tado e ficámos a ganhar por 3 a 1. Não é a 100% a posição que a nós, em geral, mais nos agrada, mas a abertura a mais discussão e a vontade de alterar leis no sentido que todos nós desejamos foi, quanto a mim, a cereja por debaixo do bolo, que um dia poderá saltar cá para cima. Que eles não concor-dem com o projecto, a mim não me aflige, já que eu próprio tenho algumas reticências e estou certo de que pode ser aperfeiçoado e de que provavelmente mais vale uma boa alteração à lei dentro de 1 a 3 anos a uma alteração duvidosa neste momento, que poderia levantar alguma crispação e facilitar argu-mentos a favor dos proibicionistas.

O PS diz concordar que há falhas na lei que devem ser revistas e, o mais importante de tudo, pon-to alto deste “debate”, o PS veio anunciar que está a ponderar apresentar um projecto sobre esta matéria. É aqui que a meu ver ganhámos o dia (senão o ano), tal como explicarei mais à frente na parte das conclu-sões a tirar. E foi o partido que falou menos tempo.

[A Folha não é responsável pelo uso que é dado à informação contida nas suas páginas. Apelamos aos nossos leitores que sejam responsáveis e respeitem a lei do seu país.]

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(continua na pág. 37)

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personalidade

Como surge o seu interesse pelo campo das substâncias psicoativas e sua utilização?

Surge aos 16 anos quando li o livro “Viagem ao mundo da droga” de Charles Duchaussois e solidificou-se com a vivência como músico no Underground de final dos 80 e inicio de 90, a minha proximidade com os Mão Morta original, aonde cheguei a ser vocalista, e principalmente porque nessa altura estava na universidade longe de casa, rodeado pelo apelo de uma religião em que os deuses eram Birthday Party de Nick Cave, Einsturzende Neubauten, William Burroughs e o meu grande guru Aldous Hu-xley; significava forçosamente ser membro do “partido estupefaciente”.

E como se dá a epifania que o levou a lutar como activista, e finalmente liderar os principais organismos internacionais representantes das PUD’s [Pessoas Utili-zadoras de Droga]?

Sempre fui contra qualquer injustiça - talvez por isso tenha seguido Direito - mas no caso das drogas esse sentimento de revol-ta era ainda maior, porque além de se ter o sistema legal a dizer que se é criminoso ape-nas por se usar drogas, existe toda uma so-

Alguns leitores habituais d’A folha já estão familiarizados com o estilo caústico e urgente do ativista Jorge Roque, homem de uma simplicidade e verdade contagiantes. Terminou recentemente o seu mandato como diretor internacional da ONG INPUD, a maior organiza-ção representativa, a nível mundial, das Pessoas que Utilizam Drogas [PUD’s]. Antes disso, marcou posição como executivo da ONG euro-peia ENCOD. O seu percurso levou-o a percorrer alguns dos países mais problemáticos do mundo, onde arregaçou as mangas em prol da Redução de Danos, realizando um trabalho impar na história do ativis-mo internacional, intervindo ainda várias vezes na Comissão Europeia, Nações Unidas e até em São Bento. Achámos que este seria o momento para dar a conhecer um pouco mais do trabalho desenvolvido por este jurista-legalista, e trocámos umas impressões via skype.

joRGE RoQuE Profissão: ativista por Pedro Mattos

ciedade a rotular-te de “escumalha”. Mesmo que sejas alguém que estudou, se formou, que trabalha, paga impostos e não comete crimes, levas com um dos piores estigmas sociais que existem, com tudo o que isso implica e o pior é que uma pessoa começa a acreditar que realmente é má e que os outros até devem ter razão, independentemente de todos usarem drogas mais fortes, como o ál-cool, a droga mais assassina de todas.

Obviamente que eu recusei aceitar a situação e comecei a debater esses temas com alguns dos especialistas e psiquiatras mais importantes na matéria. Depois através da internet, entrei em contacto com várias ONGs internacionais que defendiam o fim da desastrosa política proibicionista das drogas e a efetivação dos direitos humanos de todos os cidadãos que utilizam drogas.

E a dada altura a sua voz começa a ter expressão na Encod [European Coalition for Just and Effective Drug Policies]. Ao que sei foi dos membros mais aguerridos que por lá passaram. Como se dá a sua entrada para a Encod e de que forma al-tera isso a sua vida?

Inicialmente comecei a conversar com

o Joep (Director Executivo), ele propôs-me ser membro da Encod, eu aceitei. Comecei a ter um espaço e gente com quem partilhar todas as questões acumuladas durante anos. Tornei-me um dos elementos mais activos; a certa altura apresentei a minha candidatu-ra ao Comité Executivo e fui eleito.

A minha vida mudou imenso porque pude dedicar-me de corpo e alma a uma causa, trabalhar ideias apenas com pessoas de outras nacionalidades – não havia Portu-gueses – e a desenvolver acções por toda a Europa. Como Ativista na Encod tive que desenvolver diálogos com políticos de todo o mundo e defender os nossos direitos nas principais Instituições, como a Comissão Europeia, o Parlamento Europeu, a Assem-bleia da República Portuguesa, etc.

Quais os momentos/combates mais mar-cantes?

Houve vários, mas lembro-me por exemplo da nossa intervenção nas Nações Unidas aonde questionamos o antigo pre-sidente (UNODC) António Maria Costa, acerca da razão porque o canábis estava proibido e no entanto apesar do seu uso ser permitido na Holanda o consumo não tinha

aumentado (razão apresentada por eles para justificar a proibição).

Deu uma enorme polémica porque insis-timos persistentemente na pergunta, pois ele não a conseguia responder e a certa altura, em plena Assembleia ONU, cortaram-nos o som e censuram a nossa intervenção. As imagens correram o mundo inteiro e isso provocou inúmeras reações.

Claro que também há os momentos ten-sos em que algum companheiro é arrastado pelo chão e detido apenas por nos estarmos a manifestar.

Teve recentemente a pasta da Direção Internacional da INPUD [International Network of People who Use Drugs], uma posição relevante e prestigiante também. Conseguiu alcançar os objectivos propos-tos? Fale um pouco do trabalho que tem desenvolvido nesta ONG internacional.

A INPUD é a maior organização mun-dial a defender os direitos de todas as Pessoas que Utilizam Drogas (PUDs); tem inúmeros membros, incluindo pessoas de todo o mundo e com assento nas principais instituições mundiais, como nas Nações Unidas, onde apresentei um discurso justa-mente sobre a Descriminalização do Uso de Drogas em Portugal.

Obrigou-me a viajar exaustivamente por todo o mundo, a tentar melhorar as con-dições de vida de muitas PUDs. A INPUD consegue mover mundos e fundos para que, por exemplo, se construa um centro de distribuição de metadona em Cabul no Afe-ganistão, para que aquelas pessoas que toda a vida consumiram ópio, ou heroína não so-fram terrivelmente de abstinência cada vez que há lá uma guerra. Ou que em Moçam-bique os UDs não sejam obrigados a alugar as seringas e assim ficarem infetados.

Além disso, luta por coisas que para nós Portugueses já nem parecem ser impor-tantes, porque as temos – aliás Portugal é talvez o país mais evoluído no mundo no que toca a leis e serviços de saúde e apoio ao uso e abuso de drogas –, tal como pro-gramas de troca de seringas, medicamentos para HIV, ou HCV, etc.

Além de se ter o sistema legal a dizer que se é criminoso por se usar drogas, existe toda uma sociedade a rotular-te de “escumalha”. Mesmo sendo alguém que estudou, se formou, trabalha, paga impostos e não comete crimes, levas com um dos piores estigmas sociais que existem.

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Drug User Peace initiave – Uma das campanhas da inPUD com mais visibilidade.

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Todos os políticos internacionais sabem que o sistema faliu mas ainda não arriscaram mudar. Contudo, cada vez têm mais pressão nesse sentido e alguns países já adoptaram o exemplo português e existem cada vez mais debates e reuniões para tentar um novo rumo. O problema é que estamos a falar em terminar uma indústria de biliões de euros e acabar com um estigma social cínico, porque apoia drogas mais assassinas como o álcool, ou o tabaco e condena outras como se fosse a própria inquisição. Só um líder muito corajoso será capaz de fazer as pessoas entenderem a verdade e assim mudar a História.

No entanto exerci o meu cargo numa altura em que a Organização tinha única e intensivamente que atuar dentro de projetos a que estava obrigada e que estavam em atraso, por isso assegurei-me de que eles chegassem a “bom porto”, mas isso estava a limitar o meu papel como Activista e por isso quis mudar decidimos que eu desenvol-veria a área a que chamam Advocacy (lutar por novas leis, politicas e ações).

A nível internacional, confirma que a opinião pública e os governantes revelam incremento de abertura face ao tema da Redução de Danos? A distinguir entre uso e abuso?

Sim, sem duvida que a Redução de Da-nos é um conceito aceite cada vez por mais países; no entanto é de realçar que o Progra-ma De Heroína está a ter imenso sucesso e no entanto ainda não existe em Portugal.

A distinção entre Uso e Abuso de drogas é o que o sistema proibicionista não permite ao atirar tudo para o campo da ilegalidade. O uso de drogas deve obedecer a um bom conhecimento prévio da substância e da própria pessoa. Como isso normalmente não acontece, existem imensos casos de adição, que devem ser acompanhados por um bom sistema de saúde.

No entanto tudo o que se lê sobre de-terminado método ser o bom, ou outro ser mau, está errado, porque todas as caracterís-ticas que distinguem as pessoas influem no resultado pretendido por cada um e aquilo que funcionou para um poderá não funcio-nar para outro.

É importante que as pessoas entendam que a evolução para um sistema legal sig-nifica a possibilidade de as pessoas ficarem muito mais informadas sobre as drogas, permitirá a todos aqueles que alguma vez sintam vontade de as usar, poderem pesar os verdadeiros prós e contras do seu uso e se optarem por usar alguma substância, ao fazê-lo dentro da legalidade, estarão muito mais protegidas dos danos que estas produ-zam e evitar assim que um uso recreativo não se transforme na probabilidade de algo mais danoso.

Que estratégia defende para a canábis no imediato?

Eu penso que a melhor forma de se regular o canábis será através dos Clubes Sociais de Canábis, conceito do qual já têm falado nas vossas páginas. [ver edição 6 d’A Folha]

O “caso-português” é algo de que tem falado com alguma autoridade. Até que ponto foi realmente relevante a situação nacional como “tubo-de-ensaio”?

A descriminalização do uso de drogas permitiu um enorme avanço nos direitos hu-manos, pois ninguém tem que ser crimi-nalizado apenas pela sua ação individual se esta não fizer dano a outro.

O facto de Portugal ter sido o 1.º país no mundo a ter a coragem de o fazer, contra tudo e contra todos, foi uma bomba no seio da comunidade internacional e quando pas-sados dez anos se verificam resultados po-

sitivos – ou seja, o consumo não aumentou, as doenças relacionadas baixaram imenso –, aí o planeta todo ficou a ver e a seguir nova-mente “os Descobrimentos portugueses”.

Contudo há que ter em atenção que o sistema português foi um primeiro passo muito importante, mas que precisa ainda de evoluir imenso para ser eficaz; afinal a aquisição continua na ilegalidade e isso tem as consequências nefastas que bem conhecemos.

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Nos países da America Latina o morticí-dio só tem vindo a aumentar, o que está a forçar esses países a colocar a hipótese da legalização. Afinal de contas, pior do que os números atuais será difícil.

Sim, estive há pouco tempo com um ativista do México e ele transmitiu-me que o Estado mexicano está a equacionar seriamente a Legalização como forma de acabar com a terrível violência que lá exis-te. O próprio antigo Presidente brasileiro

A evolução para um sistema legal significa a possibilidade de as pessoas ficarem mais informadas sobre as drogas; poderem pesar os verdadeiros prós e contras do seu uso e se optarem por usar, ao fazê-lo dentro da legalidade, estarão muito mais protegidas dos possiveis danos e evitar assim que um uso recreativo, não se transforme na probabilidade de algo mais danoso.

Henrique Cardoso assumiu a bandeira da Legalização, mas da teoria à prática ainda falta o caminho a percorrer, principalmente após os internamentos compulsivos dos UDs de crack no Brasil.

Sente que o paradigma proibicionista está finalmente a conquistar a racionali-dade do mundo civilizado?

Sim, a conquistar a razão para o seu fim! Há meio século que o sistema que proibiu as drogas, não impede, nem contribui para que as pessoas as não usem, mas antes criou um enorme “holocausto” social ao atribuir o monopólio da distribuição das drogas aos mafiosos, que as inflacionaram para preços extremos e impuseram um marketing vicioso que em todo o planeta matou, prendeu, torturou, prostituiu e infectou milhões de pessoas.

neste excerto de uma folha informativa distribuída em larga escala nos eUA, o “caso português” é determinante.

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genética

Trabalhámos com o intuito de introduzir os genes de autofloração numa das nossas melhores variedades feminizadas, conservando a sua rápida floração e o seu delicioso aroma. Não só o conseguimos fazer como estamos dispostos a partilhar convosco todo o processo que levou ao de-senvolvimento de uma das autos mais inte-ressantes nesta temporada de exterior.

Desenvolvimento e Estabilização Para extrair e, posteriormente, introduzir

na Green Poison os genes de autofloração, utilizámos como base uma fêmea autoflores-cente feminizada de segunda geração, neste caso, uma cepa de Big Devil #2 de altura média-alta (70cm-100cm) e com alta produ-ção de flores e resina.

Desta linhagem de Big Devil #2 seleccio-námos um conjunto de indivíduos fêmea (femi-nizados) que, mediante a técnica de inversão de sexo, foram utilizados como dadores de pólen. Esta cepa foi utilizada neste primeiro cruzamento apenas para que contribuisse com os genes de autofloração. A receptora de pólen deste primeiro cruzamento foi um clone de elite fêmea (feminizado) de Green Poison do departamento I+D de Sweet Seeds. Na pri-meira geração deste cruzamento nenhuma das plantas híbridas resultantes é, para já, autoflo-rescente, ainda que os genes de autofloração já estejam presentes na sua piscina genética. Serão necessárias mais duas gerações de cru-zamentos endogâmicos e simultânea selecção recorrente, tanto sobre os dadores de pólen como sobre os receptores, para conseguir fixar a característica de autofloração em 100% da descendência. Ao mesmo tempo, durante este processo de fixação da característica de autoflorescente, também se realiza selecção re-corrente, exercendo pressão selectiva sobre as características botânicas (produção, distância internodal, tamanho, etc), quimiotípicas (po-tência e tipo de efeito), organolépticas (potên-cia e tipo de aroma), etc. mais interessantes. No que diz respeito aos aromas, tomámos a sensata decisão de realizar pressão selectiva sobre o grupo de plantas com aroma mais in-tenso e semelhante à nossa Green Poison.

Uma vez conseguido o híbrido autoflo-rescente considerámos conveniente fixar ainda mais o aroma pretendido para a des-

cendência, sempre na procura de oferecer aos nossos clientes o melhor produto possí-vel. Para isso voltámos a repetir todo o pro-cesso mas, desta vez, utilizando este híbrido obtido como base autoflorescente e voltando a retrocruzá-lo com o nosso clone não-auto de Green Poison. Em seguida foram neces-sárias outras duas gerações de selecção recorrente para fixar as características in-teressantes e a autofloração a 100%. Assim, voltámos a obter um híbrido autoflorescente que, devido à selecção recorrente e ao retro-cruzamento com a Green Poison, já possuía mais de 75% de genética Green Poison.

Neste ponto, para fixar ainda mais as características interessantes da Green Poison voltámos a repetir todo o processo, retrocru-zando pela segunda vez com o clone de Green Poison. Foi desta forma que conseguimos ob-ter o híbrido autoflorescente de Green Poison que colocamos à vossa disposição, fruto de um trabalho sério e dedicado dos breeders da Sweet Seeds. Se todo este processo de cruza-mentos tivesse sido realizado na ausência de pressão selectiva por parte dos criadores, ou seja, em polinização livre, teria dado origem a um híbrido autoflorescente com 12,5% de genética procedente da nossa Big Devil #2 e 87,5% de genética do nosso clone de Green Poison. Por ser trabalhada ao pormenor, sen-do submetida a todo este processo de selec-ção, podemos dizer que esta genética conta com mais de 90% de genética procedente da Green Poison e nesses 90% herdou totalmen-te o seu aroma e sabor desejável.

O completo processo de desenvolvimen-to desta variedade – nove cruzamentos no total – foi realizado com fêmeas (feminiza-das). Não foram utilizadas plantas macho em nenhum dos cruzamentos, sendo que em todos os casos os dadores de pólen foram fêmeas (feminizadas) às quais se inverteu o sexo. Trabalhando desta maneira, assegura-mos uma altíssima feminilidade que roça os 100% nas linhas desenvolvidas desta forma.

Características desta autoflorescenteA Green Poison Auto floresce de forma

automática quando alcança os 20 dias de vida, aproximadamente. Esta variedade cresce com aspecto híbrido Indico-Sativo com predominância sativa, produzindo

No seguimento do surgimento e evolução das genéticas autoflorescentes que acompanhámos em edições anteriores, eis o terceiro capítulo – em que é revelado o caminho que levou a Sweet Seeds à criação da Green Poison auto.

Tal como acontece com os bons vinhos, um dos aspectos mais importantes do sabor desta variedade é o bouquet

Green PoisonAutoflorescentede 3.ª Geração por Sweet Seeds

longos ramos laterais, finos e flexíveis. A distância internodal é curta, produzindo longos cabeços de flores unidas entre si. A floração é muito rápida e explosiva, formando em muito poucas semanas cabeços grossos e repletos de resina, estando as plantas prontas para colher apenas dois meses depois da germinação das sementes. Em função da sua alta produção de flores, é conveniente utilizar tutores que ajudem a suportar o peso dos cabeços. O efeito é tão forte e psicoactivo quanto o da sua versão não-autoflorescente.

Durante o desenvolvimento da Green Poi-son Auto, os breeders da Sweet Seeds partiram em busca de uma genética autoflorescente de tamanho médio-alto. Em condições óptimas de cultivo, esta variedade produz plantas de entre

60 a 100cm de altura no final da floração.A principal atracção desta genética reside

sobretudo no seu delicioso e intenso aroma, que ficou fixado em toda a descendência; é muito penetrante e doce, com reminescências que lembram aromas de Skunks clássicas mas muito afrutadas e doces. O sabor, por sua vez, também é muito potente e persistente, com uma passagem muito suave pela garganta. Tal como acontece com os bons vinhos, um dos aspectos mais importantes do sabor des-ta variedade é o bouquet. O prazer que um bouquet de qualidade oferece aos sentidos do gosto e do olfacto tem o poder de distinguir uma variedade, convertendo-a num produto de excelência; é o caso da Green Poison Auto, totalmente à altura da sua versão não-autoflo-rescente.

Page 19: A Folha #9

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Page 23: A Folha #9

Tendo em conta as variações das necessidades da planta no decurso do processo florativo, tomamos a liberdade de o dividir em QUATRO FASES para mais fácil entendimento do que ocorre na planta, de forma a efetuar uma fertilização com os produtos adequados na altura certa.

1.ª FASEQuando as plantas são sujeitas a uma redução do

fotoperíodo artificial de 18h (ou 24h) para 12 horas de luz por dia, desencadeia-se o processo hormonal que induz o início da produção de flores. Dependendo se a planta é de origem sativa ou indica, este processo pode demorar mais ou menos tempo a mani-festar-se externamente através das primeiras pré-flores e flores, mas geralmente não ultrapassa os quinze dias. Se ultrapassar os 21 dias e não tiver nenhum sinal de apare-cimento de flores macho ou fêmea, verifique se não existe contaminação de luz ou uma avaria no temporizador da lâmpada.

Durante a primeira semana após a redução de horas de luz, o processo de floração está em pleno desenvolvimento no interior da planta, sem que se note quase nada por fora.

Alguns fabricantes acon-selham a iniciação da fertili-zação específica para floração nesta altura.

Neste período a planta aumenta ligeiramente o con-sumo de fósforo e potássio para dar início à formação de flores, mas também de nitrogénio, uma vez que o proces-so hormonal provoca o estiolamento (estiramento) dos ra-

mos em direção à luz, de forma às futuras flores ficarem o mais possível expostas ao sol e ao vento.

Nesta altura, ao fim de uma semana a quinze dias, começam a ver-se as primei-ras pré-flores e os primeiros pistilos brancos (estigmas) aparecerem no topo da planta (em plantas germinadas de semente). Neste momento, é benéfico para a planta a utili-zação pontual de estimulantes à base de algas. Chegámos à segunda etapa da floração.

2.ª FASEAparecimento das flores (pistilos). Quando aparecem as primeiras flores, a floração já

“arrancou” e está em pleno desenvolvimento. Nesta fase a planta dedica a sua energia à produção de ramificações e de mais flores, e a aumentar o número de flores em cada ramo.

Nesta altura pode aumentar-se ligeiramente a dose do fertilizante de floração (rico em fósforo e potássio) para estimular o desenvolvimento do máximo de pontas flo-rais possível. Pode-se também reduzir ou manter a dose de fertilizante para crescimento vegetativo se a folhagem tiver cor verde escuro.

Se as folhas maiores e mais antigas começarem a amarelar, tal pode dever-se a falta de nitrogénio e nesse

caso deve continuar ou aumentar de forma ligeira a dose do fertilizante de crescimento. Se persistir, verifique o pH.

Esta fase dura geralmente entre duas a três semanas, para plantas de floração rápida/média, ao fim das quais já é possível verificar a estrutura final da planta adulta em termos de altura e dispersão de cabeças. Os tufos de flores estão agora bem mais densos, com dezenas de pistilos a sair de cada ponto de floração. No entanto, ainda não é visível a presença de resina.

Alguns fabricantes aconse-lham, nesta fase, a utilização de estimuladores de floração denominados PK13/14 (pro-dutos com alto conteúdo de fósforo e potássio que podem ter valores diferentes, mas em proporções semelhantes). Nesta fase esses produtos devem utilizar-se em regas al-ternadas e iniciar com uma dose muito suave e começar a subir pouco a pouco, uma vez que o risco de “queimar” a planta por esta altura, por excesso de nutrientes, é alto.

A planta tende também a consumir maior quantidade de cálcio e magnésio, por isso é importante estar atento ao aparecimento de carências destes nutrientes.

No final desta fase a produção de pistilos atinge o seu pico, e a planta começa a dedicar a sua energia à produção de resina, aparecendo neste momento as primeiras glându-las pegajosas e aromáticas nas folhas pequenas mais pró-ximas das “cabeças”. Quando começa a aparecer resina (com exceção para variedades “White” naturalmente ex-tra-resinosas) muitos cultivadores experientes fazem uma lavagem à terra, isto é, regam com 3 vezes mais água do que a capacidade do vaso, com uma solução de nutrientes de crescimento e floração, mas diluída a 1/4 da dose, ou regando apenas água com enzimas. O objetivo é tentar impedir a acumulação excessiva de sais provenientes dos fertilizantes junto às raizes e prevenir a acidificação da terra. Chegámos à terceira fase.

A percentagem de pistilos brancos e castanhos deve ser de 70 a 75% castanhos para 25 a 30% de pistilos brancos no momento do corte

Pistilos verdes vistos de pertonesta fast Bud

Durante a floração, a planta começa a alimentar-se de maneira diferente, necessitando de concentrações de elementos diferentes das utilizadas durante o crescimento: ao deixar de concentrar-se no produção de folhas e ramas, dedica-se quase em exclusivo à produção de flores e frutos, consumindo mais fósforo, magnésio e diferentes micro-elementos, e menos nitrogénio.

23

crónicas do cannabistão

EspEcialfloraçãopor Homem Folha · imagem: Tommy Sweets

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Page 24: A Folha #9

ces, a criar as derradeiras flores, e ainda mais resina para aumentar a probabilidade de captar um grão de pólen que possa passar por perto.

É nesta altura que se dá o grande aumento de peso nas flores, e neste processo a planta da canábis consome as quantidades maiores de água e nutrientes desde que iniciou o ciclo. Todo o metabolismo da planta está no seu máximo, e o consumo de nutrientes - nomeadamente de açúcares - aumenta. Nesta altura deve manter a dose de fertilizante de floração e de PK 13-14 dentro do limite aconselhado pelo fabricante.

Por outro lado, deve parar por completo a utilização do fertilizante de crescimento. Os fertilizantes de cresci-mento contém muito nitrogénio, que pode ficar armaze-nado nas plantas e dar mau sabor à colheita, por isso é de evitar utilizar nas últimas três a quatro semanas antes de cortar. Além disso, o próprio consumo de nitrogénio por parte da planta também diminui. Para esta fase final mui-tos fabricantes disponibilizam produtos fertilizantes à base de hidratos de carbono, com várias tipos de açúcares, que promovem o aumento de peso nesta altura crítica.

Em alguns países (sobretudo na América do Norte) é muito comum a utilização de melaços naturais nesta fase. O mais conhecido é o melaço de cana de açúcar, embora possam ser utilizados outros tipos de melaço. O melaço de cana não só proporciona açúcar para as plantas, como também alimenta toda a vida microbiana que vive na terra e ajuda a disponibilizar os nutrientes para as plantas assi-milarem. Utiliza-se através da rega em pequenas doses de 0,5 a 1 colher de chá de melaço por litro de água a partir da segunda semana de floração. Não se deve abusar sob pena de acidificar o substrato. Alguns cultivadores utili-zam também açúcar amarelo diluído em água na mesma proporção a partir da quinta semana da floração. Outros utilizam também guano de morcego para estimular a flo-ração e melhorar o sabor e aroma do produto final. Em cultivos orgânicos de exterior esta simples dupla produz não raramente flores de alta qualidade. A utilização do guano é semelhante à do húmus: polvilha-se a superfície do vaso e rega-se com água por cima, de modo a arrastar e distribuir os nutrientes por todo o vaso, ou faz-se um chá misturando 1 a 4 g de guano num 1 litro de água quente e deixando arrefecer antes de regar.

Nestas últimas semanas, os pistilos começam a oxidar cada vez mais rápido e a ficar castanhos. Quando 50-60% dos pistilos estiverem castanhos, para-se comple-tamente a fertilização e rega-se apenas com água em todas as regas até considerarmos que a planta está pronta a colher [ver o tema da colheita n’A Folha n.º 6].

24

crónicas do cannabistão

Os fertilizantes de crescimento contém muito nitrogénio, que pode ficar armazenado nas plantas e dar mau sabor à colheita, é de evitar utilizar nas últimas três semanas antes de cortar.

CREAM CARAMEL

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#2

FAST BUD #2 SNOW FRUIT

3.ª FASEProdução de resina e início da maturação. Nesta fase a planta começa a aumentar a quantidade de

resina de dia para dia e os botões de flores começam a ficar mais densos. Estamos entre a 3.ª e a 5.ª semana de floração desde que alterámos o fotoperíodo. Neste momento vol-ta-se a aumentar a dose de fertilizante de floração, e dá-se duas vezes uma dose generosa de PK13/14 na rega no espa-ço de 10 dias, sempre de acordo com a dosagem recomen-dada pelo fabricante e o tipo de planta. Nestas duas regas pode baixar ligeiramente a dose do fertilizante de floração.

Esta altura é crucial para a colheita, e devemos vigiar de perto o aparecimento de qualquer carência, bem como qualquer sinal de excesso de nutrientes. As carências mais recorrentes nesta altura são as de magnésio, cálcio, ferro e potássio, mas podem ocorrer também de boro, molibdénio, etc. Existem no mercado cor-retores de carências específicos para cada um destes nutrientes.

Durante o desenvolvimento desta fase, que dura de uma a duas semanas, alguns pistilos começam a oxidar e ficar castanhos/alaranjados, e o surgimento de novos pistilos é muito mais lento e escasso, enquanto a planta vai cobrindo as flores cada vez mais densas e as folhas com quantidades cada vez mais copiosas de resina.

Chega por fim o momento em que a produção de novos cristais abranda o seu ritmo, e começa a notar-se um au-mento do volume dos cálices de onde saem os pistilos. As cabeças começam a ficar mais gordas. Chegou o momento da engorda.

4.ª FAseEngorda. Neste momento a planta está prestes a atingir o final

do seu ciclo vital e faltam entre duas a três semanas para o final. Desde a germinação/enraizamento, a sua planta cresceu, começou a florir, deu flores, e caso tivesse sido polinizada por um macho, estaria neste momento a começar a engordar as sementes e a caminho do processo de matura-ção. Contudo, como se trata de fêmeas não polinizadas, as plantas estão a amadurecer, aumentando o volume dos cáli-

Page 25: A Folha #9

1Não exagere no fertilizante. Mais fertilizantes não

quer dizer plantas maiores; por vezes o resultado até é o contrário. A não ser que tenha experiência com os produtos ou conhecimentos aprofundados de química, não é aconselhável misturar produtos fertilizantes de diferentes marcas. Os produtos de cada marca são ge-ralmente desenvolvidos para funcionar em sinergia com a restante gama da marca. Pode dar certo, mas também pode dar errado. Em caso de dúvida consulte o respon-sável da sua grow shop preferida.

2 O metabolismo da canábis acelera com o calor, a

intensidade da luz, a presença de CO2 e a transpiração das plantas.

3Quanto mais CO2 e calor existir no local de cultivo,

maior será o desenvolvimento da planta. Plantas em ambiente enriquecido com CO2 podem aumentar a pro-dução até 30%. Se utilizar enriquecimento artificial de CO2, as plantas podem chegar a duplicar o consumo de fertilizante.

Além disso, a utilização de CO2 pode antecipar o ciclo da floração até 10 dias. Esteja especialmente atento ao nível da fertilização para dar os nutrientes no momento certo, prevenir carências e fazer a lavagem a tempo. Neste ambiente, as plantas suportam e até agra-decem temperaturas mais altas, mas é um caso excecio-nal; não ultrapasse os 32ºC. Se não utilizar CO2 tente não ultrapassar os 26ºC.

4Tal como o CO2, a transpiração por evaporação é um

dos fatores que aceleram o metabolismo da planta. Pode-se provocar um aceleramento no metabolismo da planta aumentando o “vento” e a ventilação da zona de cultivo. Essa transpiração provocará absorção de mais água e nu-trientes pelas raízes que se reflete num maior crescimen-to da planta. Quanto melhor for a ventilação, melhor será o resultado final. Não se esqueça de ligar o ventilador pelo menos 15 minutos por hora durante a fase noturna, para regenerar o ar e retirar o excesso de humidade. Al-guns cultivadores profissionais aumentam a ventilação entre a 4.ª e a 6.ª semana de floração. Sempre que força o metabolismo da planta compense com um reforço de micronutrientes e esteja atento a carências.

11 DICAS PARA UMA FLORAçãO DE SUCESSO

Já existem soluções simples e mais económicas, como o Co2 Boost, para cultivadores em espaços pequenos que já têm os demais fatores de cultivo controlados.

5Quanto mais luz a planta de canábis receber, mais vai

crescer. A quantidade de luz é outra forma de condicio-nar o metabolismo. Ao aumentar a fotossíntese, aumenta-se o crescimento da planta; neste caso, quanto mais luz melhor, sempre e desde que a temperatura no topo da planta não ultrapasse os 26-27 ºC. Este é um dos fatores mais determinantes para uma floração com sucesso.

6Verifique o pH em todas as regas, e uma vez por

semana analise o pH da água que sai do fundo do vaso. Muitos cultivadores menosprezam o pH em cultivo em terra, mas esquecem-se que este condiciona a vida mi-crobiana que ajuda à absorção dos nutrientes.

7Não retire folhas desnecessariamente, a não ser que

estejam doentes ou destruídas em mais de 50%. É um erro comum tentar tirar as folhas às plantas para passar mais luz para as ramas baixas. Se isso acontece, é por-que está a cultivar demasiadas plantas ou plantas dema-siado grandes. Quando uma planta considera uma das suas folhas desnecessária, esta seca e cai naturalmente.

8Não faça podas durante a floração; se quiser elimi-

nar as ramas baixas faça-o no mínimo 1 a 2 semanas antes de induzir a floração. Uma poda nesta altura obriga a planta a redistribuir as hormonas pelos novos ramos e atrasa o processo da floração.

9Antes de regar, misturar os fertilizantes em água

morna (máx 38 ºC) e esperar que arrefeça a 18-24 ºC antes de regar. Em 1 em cada 4 regas utilize apenas água com um complexo de enzimas e fertilizantes a ¼ da dose normal, deixando sair ¼ da quantidade da água de rega por baixo do vaso. Isto previne acumulação de sais na terra e a consequente acidificação do substrato. Nas últimas regas, utilize apenas água ou um produto específico para esta fase.

10Uma observação atenta previne muitos problemas

diferentes que podem ocorrer durante a floração. As pragas devem ser atacadas ainda antes da floração. Não aplique produtos químicos nas flores. Vai contaminar as cabeças e oxidar os pistilos, aumentando ainda o ris-co de ataque de fungos. As carências de nutrientes são mais frequentes nesta fase e podem ser remediadas se forem detetadas cedo.

11A componente genética é muito importante! Para

resultados mais seguros cultive apenas sementes e clo-nes de origem conhecida. Experiências com sementes e clones de origem desconhecida acabam muitas vezes com plantas macho, ou hermafroditas, ou com baixa uniformidade, ou seja, uma mistura de plantas muito e pouco produtivas, maiores e mais pequenas, com necessidades maiores ou menores de nutrientes, o que complica bastante o processo e geralmente não permite retirar o verdadeiro potencial de cada uma.

Boas colheitas!

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Page 26: A Folha #9

26

sustentabilidade

A origem do cânhamo Desde os primórdios da humanidade

que esta planta é usada. As primeiras cultu-ras em larga escala da História do Homem foram de cânhamo e tiveram início em mea-dos de 8.000 a.C., no Médio Oriente.

Pensa-se que os Mongóis, Tártaros e Ja-poneses já conheciam este têxtil antes mes-mo da seda e do algodão. Aparece também mencionado em antigas obras chinesas.

Segundo Heródoto (484 a.C.), os escri-bas já usavam o cânhamo e supõe-se que tenham sido eles, nas suas emigrações, que o introduziram na Europa.

O Cânhamo é uma planta indústrial, pertencente à família das Urticáceas, subfamília das Cannaboideas, originária do Oeste da Ásia. Revela-se cada vez mais uma matéria prima alternativa e as vantagens naturais e ecológicas desta cultura são evidentes, dispensando a aplicação de herbicidas e fungicidas. As suas inúmeras aplicações fazem desta planta, decididamente, a mais versátil do mundo.

O adágio francês «se queres pão, semeia cânhamo» significa que a seguir ao cultivo do Cânhamo as terras ficam férteis para as sementeiras do trigo.

“A cultura do cânhamo indústrial tem vindo a ser alvo de um crescimento exponencial nos países indústrializados, não sendo alheio a tal facto as suas inegáveis vantagens ecológicas, para além da sua elevada rentabilidade.”

Dec. Reg. n.º 23/99 de 22 de Outubro

Na produção de papel, esta fibra já é conhecida desde 207 a.C., na China, e Gu-tenberg desenvolveu a imprensa utilizando este tipo de papel, por volta de 1456, na Eu-ropa. Rembrandt e Van Gogh utilizaram-no em tela. O rascunho oficial da Declaração de Independência dos E.U.A. foi redigido em cânhamo, e também deste material era o papel de tipografia e jornal. Até o papel fino – papel de dinheiro – também é à base de cânhamo. Já foi, inclusivamente, encontrado papel de cânhamo com cerca de 1500 anos.

O Japão tem uma tradição religiosa que impõe ao Imperador o uso de roupas de câ-nhamo. Para esta tradição há uma pequena parcela de terra – canhameiral – mantida para a família imperial.

Os primeiros jeans da Levis – em 1900, nos E.U.A. – eram manufaturados com cânhamo.

A roupa feita de cânhamo tem pro-priedades termodinâmicas, sendo fresca no verão e quente no inverno.

Existem, hoje em dia, companhias indústriais a fabricar materiais isolantes, substitutos do betão, da fibra de vidro e plásticos, a partir do caule da planta, princi-palmente na França e Alemanha. Utilizando a fibra, combinada com aglutinantes resino-sos, obtêm-se tábuas comprensadas de fibra de média densidade (MDF) que são 250% mais resistentes que as suas congéneres de madeira e 300% mais flexíveis.

História do cânhamo em PortugalEm terras portuguesas, o cânhamo já era

cultivado, por influência árabe, desde o séc. VIII, e foi de grande importância por volta

dos séc. XV e XVI, época dos Descobrimen-tos, pois era a matéria-prima para a prepara-ção de cabos e velas para as embarcações.

Nos reinados de D. Manuel I (1495--1521) e de D. João III (1521-1557) estabeleceram-se, em território nacio-nal, plantações de cânhamo para a sua posterior transformação e fabricação de massame, amarras, cordame e aparelha-gem das frotas marítimas, controlando a produção, impondo ditames aos lavradores e a sua referida transformação em regime de monopólio estatal. “No ano de 1513, D.Manuel mandou a África uma poderosa armada de 400 navios...”

globulina. Os outros 35% do teor de proteínas são a albumina. A globulina encontra-se no plas-ma sanguíneo.

Parte do problema é a estrutura dos alimentos que os contêm e, por outro lado, porque os seres humanos não estão suficien-temente “qualificados” como comedores de

carne para digeri-las. Neste contexto, as semen-tes de Cânhamo também contêm quantidades suficientes de zinco, ferro e magnésio, três dos mais comuns metais/minerais envolvidos na prevenção de doenças relacionadas com defi-ciência de minerais.< Fonte: http://www.i-legumes.com/sementes-canhamo-beneficios-saude.html >

por Manuel Duarte, Canapor

Fonte: gobiogreenwordpress.com

BREvE HISTÓRIA DO

Um ser humano precisa de 21 aminoáci-dos. Destes, oito são essenciais, mas dois deles merecem maior destaque. Nenhuma outra planta ou alimento de origem animal, além do Cânhamo, contém os dez primeiros ami-noácidos necessários para a saúde. De teor de proteínas, 65% estão sob a forma de edestina

A importância dos aminoácidos

Page 27: A Folha #9

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Depois da Restauração da Independên-cia em 1640, existe um esforço muito gran-de por parte do Reino para recuperar a frota portuguesa, pelo que o cultivo de cânhamo é altamente incentivado.

D. João IV publicou um Decreto-Real, a 29 de Agosto de 1656, para a região de Torre de Moncorvo. Este documento incluía toda uma série de rigorosos regulamentos de forma a aumentar, garantir e fiscalizar a produção e o cultivo dos linhos.

De 1799 existem dois registos, por ordem de Sua Majestade, intitulados de “Tratado do cânhamo” e “Descripção sobre a cultura do Canamo, ou Canave”.

Entre os anos de 1935 e 1970, foi gran-de impulsionador desta cultura o regente agrícola da época, Sr. Celestino Graça, assim como, na indústria transformado-ra, a Companhia de Fiação e Tecidos de Torres Novas. A cultura fez-se em “Terras do Paul”, Riachos/Golegã, nos campos do Mondego, Moncorvo, Caia, Coruche/Mora, entre outros. Em 1937 fizeram-se os “primeiros” ensaios em várias regiões. Um ano mais tarde, os resultados mais positi-vos verificaram-se no Ribatejo. Em 1939 cultivaram-se 8 hectares, e em 1944 o salto deu-se para os 800 hectares de cultivo de cânhamo. (Dados gentilmente cedidos pelo Museu Agrícola de Riachos). Dos topóni-mos, destaca-se a localidade de Marco de Canavezes.

Passando por vários reinados e ultrapas-sando a era republicana, esta cultura só dei-xará de existir legalmente em Portugal em 1971, sendo retomada somente em 1998, sob o patrocínio da UE.

Cânhamo indústrialO cânhamo indústrial é legal na União

Europeia, e é uma cultura subsidiada tal como o linho. A produção só pode ser ini-ciada quando se utiliza, no mínimo, um hectare de terreno. Podem ser obtidas in-formações sobre todo o processo de ajuda à produção recorrendo ao Ministério da Agri-cultura ou a empresas especializadas.

Todas as partes da planta podem ser

utilizadas com diversos fins, mas des-taca-se especialmente a fibra – também

chamada de filaça, muito utilizada na in-dústria papeleira; um hectare de cânhamo produz sensivelmente o mesmo que quatro hectares de eucalipto, num período de vinte anos. A indústria têxtil também é um mercado de eleição para o cânhamo, sendo cinco vezes mais resistente que o algodão, devido aos seus longos feixes de até 4,5 metros. O óleo da semente sempre foi muito solicitado nas indústrias de cosmé-ticos (como base para cremes, champôs, óleos hidratantes, etc.), produtos técnicos (vernizes, lubrificantes, combustíveis, tintas, etc.), bem como para a alimentação humana (óleo de tempero, margarina, flo-cos de cereais, snacks, etc.)

Neste momento os principais países produtores são a China (maior exportador mundial de têxteis e papel) e a França onde, em 1994, foram colhidas mais de dez mil toneladas e a produção tem vindo a crescer muito. Em 1999, a Roménia semeou 40.000 acres, o Canadá, 30.000, e o Reino Unido apenas 4.000 acres, mas com boas perspecti-vas de crescimento.

Em 1998 existiam em Portugal 23 pro-dutores subsidiados, segundo informações do INGA. A desconfiança dos agricultores, apesar dos ótimos subsídios, estão no topo das razões para o insucesso do cultivo de cânhamo em Portugal.

UMA MATéRIA-PRIMA DE ExCEPçãOO cânhamo indústrial (cannabis sativa L.),

é uma variedade da planta que conta com um baixo nível de THC (princípio psicoactivo da canábis), inviabilizando o seu uso recreativo.

Em jeito de conclusão, podemos per-mitir-nos a reflexão: porque é que só em tempos de crises mundiais autorizam massivamente o cultivo desta planta e a valorizam? Senão vejamos:

Foi assim no séc. XV, antecedendo aepopeia dos Descobrimentos;– Em 1656, após a independência de 1640;– Aquando da 1.ª grande guerra mundial

(1900/1905);– Devido à guerra de Itália/Abissínia (1935);– Aquando da 2.ª guerra mundial

(1939/1945);– Foi assim em 1998–2001 por via dos sub-

sídios comunitários à produção.

documentos interessantes:– 20 registos, entre livros, revistas e jornais, na Biblioteca nacional de lisboa.– Tese de mestrado, engenharia, da Sra. rute maria Gonçalves eires.– Tese de mestrado, Agronomia, do Sr. Carlos montemor (1997).– Tese de mestrado, engenharia, da Sra. Cristina romão (2000).– Trabalho realizado pelos estudantes de Biologia, da Universidade de Évora.– Serviços educativos do museu Agrícola de riachos - mAr.

A roupa feita de cânhamo tem propriedades termodinâmicas, sendo fresca no verão e quente no inverno.

FAÇA A DIFERENÇAPARTICIPE!

Page 28: A Folha #9

1989: George Bush ordena, e os eUA invadem o Panamá.

Como parte da sua estratégia de “Guerra à Droga”, anualmente, os eUA fornecem centenas de milhões de dólares à Colômbia em apoio militar.

28

investigação

PrEfÁcIoVinte e seis anos separam estes dois textos, sendo

o segundo um epílogo para a oitava edição em capa dura de Historia General de las Drogas, após treze re-impressões da sua versão de bolso.

A atenção demonstrada pelo público e mais ainda o facto de que a Cañamo, A Folha, e tantas outras publicações continuem a investigar a farmacopeia supostamente infernal, demonstra que o tempo é longo mas a verdade não é esquecida nem desaparece. A Proibição, perto que está de um século de existência, levou à criação do crime organizado na América do Norte e, após exportar-se, foi corrompendo país atrás de país até desembocar na dantesca situação mexicana atual, uma cópia a papel químico do que ocorreu antes na Colômbia.

Entretanto, algumas pessoas decidiram abordar as drogas a partir da perspectiva do conhecimento e da saúde, sem subscrever os estereótipos da sua propaganda, criando assim o mais destacado fenómeno moderno de desobediência civil.

Seja qual for o ponto de vista, o futuro continua em aberto. Oxalá estes dois textos, tão diferentes em tom e em estilo, contribuam para sublinhar tanto o simplismo do proibicionismo como as complexidades desencadeadas pelo seu uso.

Um último conselho, sugerido pela terceira idade: só o reconhecimento de até que ponto o Homo sapiens é também um Homo demens nos prepara para viver e morrer com denodo [valor, intrepidez].

Antonio Escohotado*

o nEGÓcIo da ProIbIção

Até 1970, a venda de drogas ilegais manteve-se em níveis discretos. A partir dessa data, grandes organizações internacionais tomaram conta do tráfico clandestino, num negócio que move milhares de milhões de dólares por ano. As relações destes grupos com instituições estatais são frequentes: assim o demonstra escândalos como o Irangate ou o descalabro do Banco Internacional de Crédito e Comércio (BCCI).

O país tinha-se convertido num paraíso para sociedades secretas – muito semelhantes às da China do séc. XIX, surgidas devido à ilegalidade do ópio – que estiveram divi-didas por rivalidades ferozes até se verem ameaçadas pelo regresso do álcool à legalidade. A partir de 1934, quando os vinhos e as bebidas espirituosas voltaram a ser artigos de comércio lícito, as famílias em conflito (judia, irlandesa e italiana) agrupam-se num sindicato sem fissuras, na procura de renovar louros com um mercado negro de cocaína e he-roína (J Tomkins e F. Salerno, ob. cit.).

As cabeças visíveis do sindicato – o siciliano Charles ‘Lucky’ Luciano e o judeu Meyer Lansky – iniciam então longas via-gens ao Estremo Oriente, América do Sul e Europa para esta-belecer as conexões necessárias. A mediterrânica baseava-se

entre 1914 e 1924 foram ilegalizados, nos eUA, as bebidas alcoólicas, o ópio, a morfina, a cocaí-na e a heroína, obedecendo ao desejo de conse-guir um mundo abstémio. Os efeitos nas instituições não se fizeram esperar. Sob a presidência de W.G. Har-ding, o ministro do Interior – A. Fall – e o da Justiça – H. Dougherty – foram condenados por associação com gangs-ters e contrabando de álcool (J. Tomkins e F. Salerno, The Crime Confederation. Nova Iorque; Funk & Wagnalls, 1973). Também se teve que demitir o responsável máximo para estupefacientes, R. Levi Nutt, quando se soube que o seu filho e o seu cunhado recebiam uma soma regular de mafiosos (D.A. Musto, The American Disease: Origins of Narcotic Control. New Haven: Yale University Press, 1973, pág. 207).

na obtenção de ópio turco, refinado por laboratórios em Mar-selha e Beirute, utilizando como ligações membros da família corsa. A conexão asiática estabeleceu-se através de substitu-tos de Chang Kai-Shek, com velhos apoios nos serviços se-cretos franceses e ingleses; a sul-americana – à época, ainda na sua génese – foi montada sobre setores das oligarquias cubana e mexicana, para assegurar plantações de ópio a sul do Rio Grande e um fornecimento de heroína – proveniente da casa Bayer – a partir de La Habana (R.D. Wise, The Invi-sible Government. Nova Iorque: Norton, 1964).

O advogado de Lansky e Luciano, M. Polakoff, outrora um alto funcionário da Polícia e depois do Gabinete da Procu-radoria Geral, tinha sido substituído nessas funções, após o fim da segunda guerra mundial, pelo dinâmico Richard Nixon, futuro presidente (H.G. Beht, La droga, potencia mundial. Barcelona: Planeta, 1980, pág. 149). Por esta altura, três assuntos concretos contribuíram para consolidar estes contatos amistosos.

O primeiro assentou nas greves de estivadores, organizadas pela esquerda francesa no final dos anos 40, que a CIA quis quebrar, apoiando os gangsters corso-malteses por forma a que estes se apoderassem do controlo dos portos mediterrâ-nicos. O segundo foi a proteção das tropas anti-comunistas refugiadas no Triângulo Dourado, após o término da guerra civil chinesa, mediante várias linhas aéreas financiadas

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pela CIA, através das quais começou a exportar-se o tributo em ópio cobrado pela guerrilha do Kuomitang aos nativos (A. McCoy, The Politics of Heroin in Southeast Asia. Nova Iorque: Harper, 1973). Alegadamente, o general Phao, chefe supremo da Polícia Tailandesa, coordenou a transformação do ópio em heroína e a distribuição posterior desta (J. Kwitny, The Crimes of the Patriots: A True Tale about Dirty Money, Dope and the CIA. Nueva York: Norton, 1989, pág. 48), tarefa na qual interviria, mais tarde, o irmão de Ngo Dihn Diem, primeiro presidente no-meado pelos Estados Unidos ao iniciar a sua intervenção no Vietname. O terceiro assunto foi a necessidade de proteger os “amigos da América” na América Latina, que acabaram por ser nada mais que governos e bandos criminosos de um tipo ou de outro, dedicados a controlar o tráfico de cocaína.

Contudo, estes negócios mantiveram-se a um nível discreto até aproximadamente 1970, devido à competição ruinosa que as anfetaminas legais faziam à cocaína e a que os opiá-cios sintéticos, vendidos liberalmente por qualquer farmá-cia, faziam aos opiácios naturais. Esta situação não mudaria até que o psicadelismo – um movimento sem precedentes - denuncia as drogas legais como modelo de substâncias adi-tivas, embrutecedoras e organicamente perniciosas, propon-do em seu lugar certas substâncias de efeitos visionários, cujos respectivos veículos botânicos vinham sendo usados, em contextos religiosos, há milhares de anos por povos de vários continentes.

Para contribuir para a confusão, certos organismos militares e civis norte-americanos tinham testado o seu uso com fins bélicos; hoje sabemos que vários serviços secretos usaram dezenas de milhares de pessoas como cobaias inconscientes. Após uma dura batalha legal para conseguir ter acesso a arquivos oficiais, o historiador J. Marks deixou atónico o público com um livro bem documentado (The Search for a “Manchurian Candidate”. Nova Iorque: Times Books, 1979), que permitiu a sobreviventes lúcidos ou familiares seus obter, do governo americano, indemnizações próximas ao milhão de dólares, em 1989.

De resto, a implicação direta de um Estado no tráfico lucrati-vo de drogas não está se calhar documentada antes de R. H. Stark, acusado pela justiça americana de ter produzido cerca de 300 milhões de doses de LSD entre 1972 e 1973. Há pou-co tempo soube-se que Stark era, na realidade, Alí Khoury, um terrorista palestiniano que, após ter feito o seu trabalho para os Estados Unidos, infiltrou-se nas Brigadas Vermelhas

italianas. Algum tempo depois, acusado de possuir vários quilos de cocaína e heroína no seu quarto de hotel em Bolo-nha, o auto de excarceração redatado pelo Tribunal Supremo Italiano enumerou como motivo “a impressionante série de provas, escrupulosamente enumeradas, sobre a sua pertença à CIA (B. Lee y J. Shalin, LSD, the CIA and the Sixties. Nova Iorque: Grove Press, 1985, págs. 279-287). Depor-tado para os Estados Unidos, foi posto em liberdade, devido ao facto do Ministério Público renunciar a acusá-lo; morreu – sem autópsia – passados poucos dias.

A contestação psicadélica disparou um recrudescimento da cruzada. Para ilegalizar o novo grupo de fármacos (LSD, psilocibina, mescalina, etc.) foi necessário controlar alguns narcóticos e estimulantes vendidos em farmácias – denomi-nados, a partir desse momento, psicotrópicos – ao mesmo tempo que extremaram o rigor da repressão. Davam-se, assim, as condições há muito esperadas para inundar o mer-cado com heroína, ao princípio, e cocaína a seguir.

Entre 1968 e 1978, os junkies norte-americanos passam de 50.000 a 600.000 (D. Comas, “La medida de incidencia, prevalencia y problemas causados por las drogas”, em Revista española de Investigaciones sociológicas, n.º 34, 1986, pág. 67), e entre 1975 e 1985 o número de consumi-dores de cocaína multiplica-se ainda mais vertiginosamen-te. Em ambos os casos, o processo mostra traços comuns. Primeiro há uma oferta de droga bastante pura e economi-camente acessível que, com o passar do tempo, vai-se tor-nando cada vez menos pura e mais cara até alcançar – em média – uma adulteração de 90-95%. Correspondentemen-te, o número de mortes atribuídas à “overdose” multiplica-se exponencialmente.

Logicamente, os traficantes autónomos vêm-se obrigados a deixar o negócio ou a integrar-se em grupos sofisticados que, através dos meios, do profissionalismo e de contatos com forças policiais de um género ou de outro, preferem leis draconianas, capazes de dissuadir os amadores.

Um dos sistemas prediletos consiste em empregar menores de idade para a compra e venda na rua; devido a isto, gran-des cidades norte-americanas sofrem aumentos de 1.500 a 4.000 por centro no número de traficantes infantis (E. Thomas e outros, “America’s Crusade”, na Time, 15 de Outubro de 1987, págs. 26-27). Antes do fim dos anos 80, a DEA – super-organismo norte-americano dedicado à re-pressão em matéria de drogas – considera que operações de produção, transporte e refinação destes produtos envolvem os governos do Afeganistão, Argentina, Austrália, Bahamas, Brasil, Belize, Birmânia, Bolívia, Bulgária, Chile, Colôm-bia, Costa Rica, Cuba, França, Guatemala, Haiti, Honduras, Itália, Jamaica, Quénia, Laos, Líbano, Líbia, Marrocos, México, Nicarágua, Paquistão, Panamá, Paraguai, Perú, República Dominicana, Síria, Taiwan, Tailândia e Turquia (J. Mills, The Underground Empire. Nova Iorque: Dou-bleday, 1987, págs. 1.131 e seguintes).

Curiosamente, a DEA não inclui num lugar de destaque o seu próprio país, os EUA. Contudo, nesse país onde foi pos-sível descobrir grandes redes, apareceram não só conexões com os mais altos cargos políticos dos seus respetivos Esta-dos mas também com os Serviços Secretos. A. Sicilia-Fal-cón, o maior traficante capturado vivo até Pablo Escobar, foi originalmente um anti-castrista que renovava o seu pas-saporte em Cuba, investia em bancos suiços e russos, estava infiltrado pela CIA e movia-se dentro do México com um cartão de agente especial do super-ministro de Governação (R. Parry e R. Nordland, “Guns for Drugs?”, em News-week, 25 de Abril de 1988, pág. 24).

é do maior interesse constatar que há uma relação direta entre Estados metidos no negócio das drogas ilegais e a severidade das suas leis; costumam aplicar pena de morte ou prisão perpétua precisamente os países onde se observam níveis mais elevados de corrupção institucional.

O primeiro indício de que o mercado negro começava a estar controlado com alta tecnologia foi a falência fraudulenta de Nugan Hand Inc., um holding gigantesco com sede na Aus-trália e sucursais nos cinco continentes, disparada pelo assas-sinato de um dos seus diretores e o desaparecimento de outro.

Para ilegalizar o novo grupo de fármacos (LSD, psilocibina, mescalina, etc.), foi necessário controlar alguns narcóticos e estimulantes vendidos em farmácias

2013.01.23: Um militar da Fuerza Pública de la república de Panamá em serviço, de sentinela a 1305 kg de cocaina apreendida em Cocoli.

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Soube-se que o FBI dispunha de um extenso dossier sobre a empresa (151 páginas, mais concretamente); quando o Na-tional Times de Sidney solicitou uma fotocópia, acabaram por chegar às suas mãos dez páginas legíveis e 141 comple-tamente rasuradas, com a anotação B-1 no início das folhas, sinal de material cuja publicação poderia colocar em perigo a “segurança nacional ou política exterior dos Estados Unidos” (C. Dickett y A. Parry, “Scandal in Switzer-land”, em Newsweek, 27 de Abril de 1989, pág. 39).

A partir desse momento começaram a aflorar coisas interes-santes. Nugan Hand Inc. estava envolvida em operações de tipo muito especial, que incluíam fundamentalmente tráfico de armas e drogas, com alguns investidores fortes que – ao contrário dos pequenos – não sofreram com a falência.Cerca de quinze traficantes de vários países – e o chefe do sindicato exportador de opiácios, denominado “Mr. Asia” pela Interpol – tinham comprado e levantado certificados de depósito do banco.

A análise dos antecedentes do diretor assassinado – F. Nu-gan – tornou evidente que os seus mentores iniciais tinham sido dois magnatas do transporte mundial, o australiano Sir Peter Abeles e o americano D. K. Ludwig, e que através do primeiro (afetado outrora por problemas com sindicatos de estivadores nos EUA), as conexões de Nugan chegavam até Jimmy ‘The Weasel’ Fratianno e Francesco “Funzi” Tieri, dirigentes da Cosa Nostra norte-americana.

Quando o holding funcionava a pleno rendimento, inves-tiram neles pessoas como a irmã de Imelda Marcos e o Sultão do Brunei. Um memorando do banco, salvo da des-truição sistemática de arquivos que ocorreu com a falência, dizia: “Oferecemos a sua alteza o Sultão (...) máxima segu-rança para operações especiais”. Poderia não ser indepen-dente destes serviços a doação, feita pelo Sultão, aos Contra nicaraguanos em 1984 (dez milhões de dólares), trazida a lume a propósito do Irangate.Vinculados a esta firma encontravam-se também outros per-sonagens como o general Richard Secord, chefe de vendas no Pentágono.

Através do tenente-coronel Oliver North – em nome do Conselho de Segurança Nacional, com o inevitável consentimento de George Bush, então coordenador das reuniões do Conselho, assim como director da entidade

chamada Estratégia Federal contra a Droga – Secord foi encarregado de organizar a conexão Irão-Contra.

A relação explícita de Secord com Nugan Hand Inc. pro-vém do facto de o holding contribuir, pelo menos numa ocasião, para mascarar compra e venda de material bélico com letras de câmbio emitidas como pagamento de manufa-turas têxteis.É também notável que os escritórios de Nugan Hand, na Tailândia - situados precisamente em Chiang Mai, sede pla-netária do tráfico de ópio e heroína – estivessem no mesmo andar e partilhassem serviços base (telefone e escritório de correspondência) com os escritórios da DEA. Tudo isto, no entanto, fica em segundo plano se considerarmos a equipa diretiva da empresa.

O presidente da Nugan Hand no Havai era o General Edwin F. Black, do Exército, especializado em contra-espionagem.Formou parte do Conselho de Segurança Nacional nos tem-pos de Eisenhower e reformou-se sendo Segundo Chefe do Estado Maior do Comando para o Pacífico.

O General LeRoy J. Manor, da Aviação, era presidente de Nugan Hand em Manila; especialista em “contra-subversão e operações especiais”, foi nomeado, em 1976, comandan-te supremo para o Comando do Pacífico. Falando de Nugan Hand Inc., declarou estar “tremendamente impressionado pela orientação para a missão que vê na organização”.

O presidente do holding em Washington era Erle Cocke Ju-nior, general como os seus dois colegas, especializado em

relações mercantis com o Terceiro Mundo, ex-diretor do Ban-co Internacional para a Reconstrução e Desenvolvimento.

O presidente da Nugan Hand Inc. no seu conjunto era o Al-mirante Earl P. Yates, ex-Comandante do porta-aviões nu-clear J.F. Kennedy, depois chefe de planificação estratégica do Pentágono para a Ásia e Pacífico; foi ele quem levou pes-soalmente a cabo as negociações com o Sultão do Brunei.

Contudo, as surpresas não acabam aqui. O holding dispunha de dois conselheiros supremos, Walter MacDonald, ex-geren-te da CIA, e Guy Pauker, assesor pesonal de Kissinger (com Nixon) e depois de Brzezinsky (com Carter), bem como um diretor do gabinete jurídico. Este último era William Colby, diretor geral da CIA imediatamente antes de Bush.

No cadáver de F. Nugan encontrou-se um pedaço de papel, considerado, pelo relatório da Polícia Australiana como “parte do embrulho de uma empada de carne”.

Foram sem dúvida as últimas palavras que escreveu antes que a sua cabeça fosse feita em pedaços, e só figuram ali dois nomes: “Bob Wilson e Bill Colby”. O deputado Robert Wilson, representante pela Califórnia, esteve durante mais de duas décadas no Sub-comité do Congresso para Temas de Informação, e culminou a sua carreira política como pre-sidente do Comité para os Serviços Armados.

A estes dados sobre o gigante para operações especiais na Ásia, África e Pacífico que foi a Nugan Hand Inc., poder-se-ia adicionar outros sobre a World Finance Corporation, uma empresa dedicada mais especificamente ao continente americano, cuja quebra implicou quase cem agentes de narcóticos e funcionários públicos, apesar do assunto ter ficado resolvido através de gestões da CLA com o Ministério da Justiça americano. Mais recentemente (em 1988) existiram acusações contra D. Gregg, assessor particular de Bush para assuntos de segurança nacional, a quem se atribui o contato entre Washington e o cartel de Medellín. O primeiro fornecedor da guerrilha anti-sandinista foi uma empresa chamada Arms Supermarket, onde participavam, entre outros, a Mossad israelita, o general Noriega e o tenente-coronel Oliver North; conserva, por exemplo, uma nota escrita por este último

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realidade exposta: O negócio da proibição

2013.01.30: Um helicóptero da U.S. Customs and Border Patrol (Patrula de Alfândega e Fronteiras dos eUA) espera por passageiros enquanto um avião da marinha mv-22 osprey de rotores basculantes aterra no fundo da imagem, perto da embaixada Americana em Port-au-Prince no haiti,

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Há uma relação direta entre Estados metidos no negócio das drogas ilegais e a severidade das suas leis; costumam aplicar pena de morte ou prisão perpétua os países onde se observam níveis mais elevados de corrupção institucional

Fonte: www.DrUGWAr101.com

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com as palavras “Quando o Supermarket acaba mal. 14 milhões financiação de droga” (R. Parry e R. Nordland, “Guns for Drugs?”, Newsweek, 25 de Abril de 1988, pág. 24).

No ínicio de 1989 estala o escândalo da Sakarchi Trading AG, uma próspera companhia de investimentos com sede em Zurique que contava, na Direção, com chefes do terro-rismo libanês. O assunto força a demissão imediata de E. Kopp, Ministra Confederal de Justiça, e do Fiscal Geral, R. Berger, pois as primeiras pesquisas sugerem que, apenas nos dois últimos anos da companhia, esta lavou 100.000 milhões de dólares provenientes do tráfico de drogas (C. Dickett e A. Parry, “Scandal in Switzerland”, Newsweek, 27 de Abril de 1989, pág. 39). Uma das suas últimas operações, feita com a CIA, foi uma compra de 25 milhões de Francos Suiços com destino a guerrilheiros afegão, produtores notó-rios de ópio e morfina-base (C. Dicket e A. Parry, pág. 38).

Contudo, o caso da Sakarchi Trading AG empalidece à luz de outro posterior, graças ao qual se tornou manifesto que a clientela mais selecta da Nugan Hand Inc. tinha já um holding substitutivo quando a Sakarchi começou a meter água. O BCCI surgiu como primeira potência financeira do Islão, com accionistas árabes como o chefe do Dubai ou a família real saudita e paquistaneses como os irmãos Gokal, proprietários da Companhia Naval do Golfo. Apesar de ser um banco criado e gerido em Karashi, foi constituído no Luxemburgo, com sede em Londres. Em 1990, o BCCI possuía cerca de 400 filiais em mais de 70 países, e representava o sétimo banco privado do pla-neta. O seu capital nominal supera a marca dos 30.000 mi-lhões de dólares e faz, por todo o Terceiro Mundo, negócios espetaculares. A sua influência nos EUA chega ao extremo de possuírem secretamente o controlo do First American Bankshares, o maior banco de Washington, que detêm umas 300 sucursais, de Nova Iorque à Flórida. O presidente desta corporação é C. Clifford, ex-ministro de Defesa dos EUA e conselheiro pessoal de vários presidentes.No Verão de 1991, este império é apelidado de “fraude podre” pelo Governador do Banco de Inglaterra, R. Leigh- Pemberton e – numa operação conjunta sem precedentes – são fechados todos os escritórios do BCCI, tanto na Europa

Ocidental como nos Estados Unidos. Tornou-se embara-çoso, para o governo inglês, o facto de conhecer, desde a Primavera de 1990 – sendo então John Major Ministro das Finanças – uma auditoria da Price-Waterhouse na qual se qualificava o holding de fraude completa. Este atraso de 16 meses permitiu que caloteassem em cerca de 10.000 milhões de dólares pequenos e médios clientes, completando ‘uma operação de saque mundial’ (J. Beaty e S. G. Gwynne, “El banco más sucio”, em el País, 28 de Julho de 1991, Ne-gocios, pág. 3). Este embaraço tornou-se todavia maior para os ministros americanos das Finanças e da Justiça - segundo o semanário Times, pelo menos desde 1988 estavam presos, nos EUA, meia dúzia de diretores do BCCI, acusados de branquear dinheiro proveniente de atividades criminosas.

Seja como for, durante uma semana todos os jornais do mundo descrevem com detalhe o maior escândalo financei-ro até então. O senador J. Kerry – presidente do Comité do Congresso Americano para o Terrorismo e Estupefacien-tes – diz ter testemunhos juramentados de que o Conselho Nacional de Segurança usou o BCCI para desviar dinheiro das operações Irão-Contra, e que a CIA teve contas no banco para financiar operações secretas. As suas declara-ções - onde protesta pelas contínuas obstruções do Departa-mento de Justiça - dão corpo aos rumores sobre os grandes subornos feitos pelos diretores do BCCI em Washington; contudo, todos tiveram tempo de abandonar o território nor-te-americano e refugiar-se no Paquistão.

Menos dúvidas ainda produz a existência de uma rede negra articulada em torno ao BCCI, composta por aproximadamente milhar e meio de empregados que recebiam um ano de treino em “psicologia, princípios de liderança, vigilância eletróni-ca, encriptação, desencriptação e técnicas de interrogatório, terminando com treino em armas de fogo” (J. Beaty e S.G. Gwyne, pág. 4). Estes empregados dedicaram-se, durante mais de uma década, ao tráfico com drogas, armas e divisas, prostituição, extorsão, sequestro, espionagem e assassinatos um pouco por todo o planeta. Não menos importante foi o ar-mazenamento de informações estratégicas, graças à colabora-ção com déspotas na espoliação das suas respetivas nações; a um elenco de clientes desconhecidos, o BCCI adicionou ainda personagens como Alan García, Daniel Ortega, Manuel Norie-ga, Adnan Khashoggi, Imelda Marcos, barões sul-americanos

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Na história moderna das drogas não faltam amigos comuns à Mossad e à Jihad Islâmica

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da cocaína, Sadam Hussein, a OLP, o terrorista Abu Nidal, a organização terrorista Jihad Islâmica e países como a Líbia e a Síria (J. Valentí Puig, “El BCCI apoyó al terrorismo inter-nacional”, em ABC, 22 de Julho de 1991, m., pág. 33).

As investigações difundidas pela Europa – que não foram alvo de desmentido oficial – apontam para vínculos mercan-tis do BCCI com todos os serviços secretos ocidentais e não poucos do Bloco de Leste, mas também com a espionagem israelita. Na história moderna das drogas não faltam amigos comuns à Mossad e à Jihad Islâmica, ou a Sadam Hussein [Ainda vivo quando este artigo foi concebido - nota de edi-ção] e Clark Clifford. A trajectória do BCCI em Espanha, onde chegou a ter 17 escritórios, mostra que na criação desta filial intervieram um ex-ministro franquista e os ex-minis-tros de Economia e Indústria com o UCD [Unión de Centro Democrático, coligação de partidos de Centro e Direita espa-nhóis, no poder entre 1977 e 82 – ed.] (J. Rivera e C. Cela-ya, “El BCCI tiene un crédito de 1.500 millones al 0 por ciento”, em El País, 7 de Agosto de 1991, pág. 25).

Entre 1981 e 1991, o Banco de Espanha e o Fundo de Ga-rantia concederam 21.400 milhões de pesetas ao BCCI em empréstimos, alguns dos quais sem qualquer tipo de juros, e a entidade ficou isenta do chamado coeficiente de recursos próprios, medida que lhe permitiu multiplicar o seu nível de endividamento e a sua liberdade de investimento.Esse cataclismo para pequenos investidores, não apenas espanhóis mas também cidadãos de outros setenta países, monopolizou as capas da imprensa mundial.Tal só durou uma semana. As notícias quotidianas sobre contrabando, supostas overdoses e a sempre eterna guerra das autoridades ao nacrotráfico são mais estimulantes.

A julgar pelo que repetem os nossos altos dignatários, anualmente milhares de milhões passam para os bolsos de alguns aventureiros indocumentados e quase analfabetos; são os Escobar e Ochoa da Colômbia, os chefes das guerri-lhas que ocupam o Triângulo Dourado e algum líder cam-ponês no Paquistão. Contudo, uma imensa massa de provas e indícios sugerem que tal versão não faz jus ao estado real das coisas. Há muito dinheiro ainda em jogo e outros administradores – concretamente, aqueles que gerem política e finanças a nível planetário.

*Antonio Escohotado (Madrid, 1941) é um ensaísta e professor universitário destacado, cujos trabalhos incidem,

principalmente, nos campos do Direito, Filosofia e Sociologia. Obteve notoriedade pública devido às suas investigações sobre drogas.

Está entre os 70 pensadores listados no Dicionário de Pensadores do Séc. XX.

Fonte: SPENC

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Todos conhecemos a capacidade da ca-nábis para estimular o apetite, mas quais são os mecanismos fisiológicos que confe-rem à canábis essa propriedade?

A ação da canábis como estimulante do apetite lo-caliza-se a dois níveis: central e periférico.

A nível central o THC atua ao nível do hipotála-mo, desencadeando a sensação de fome, e ao nível da via mesolímbica interage com o sistema de re-compensa, reforçando a motivação para procurar e consumir alimentos. Tudo isto devido à presença de recetores CB1 que podemos encontrar nestas regiões do cérebro.

A presença destes recetores a nível central é tão importante, que estudos realizados em ratos de labo-ratório recém-nascidos que careciam de recetores CB1 a estes níveis mostraram uma falta de estímulo para continuar a alimentar-se, o que derivou na desnutrição e posterior morte dos animais sujeitos à experiência.

Isto quer dizer que o impulso que faz com que todos os mamíferos não se deixem de alimentar do peito materno tem a sua base fisiológica no sistema endocanabinóide.

A nível do sistema periférico o THC diminui a sensação de saciedade produzida pela CCK, que é uma enzima que se liberta a nível digestivo quando o organismo ingeriu alimento suficiente, para contrariar a sensação de fome. Este estímulo de saciedade chega ao cérebro inibindo os mecanismos que inicialmente foram ativados tanto a nível do hipotálamo, como a nível mesolímbico.

Existe uma doença conhecida pelo nome de “Síndrome Metabólico”, e que inclui uma série de sintomas como a resistência à insulina, obesidade, elevado perímetro abdominal, etc. Uma das teorias que poderia explicar a origem deste síndrome seria precisamente uma hiperatividade do sistema endoca-nabinóide, de tal forma que uma estimulação contí-nua dos centros que regulam o apetite a nível central, juntamente com uma inibição permanente do sistema da saciedade, provocaria uma ingestão alimentar des-mesurada, desencadeando os sintomas próprios deste síndrome. Esta hiperatividade do sistema endocana-binóide traduzir-se-ia mais especificamente numa presença de elevados níveis de anandamida no sangue de forma contínua. Recordemo-nos que a anandamida é o principal canabinóide produzido pelo organismo de forma natural.

De facto, existe um fármaco que se baseia na ini-bição do sistema endocanabinóide para tentar resol-ver o problema da hiperfagia (ingestão excessiva de alimentos) de que os indivíduos com esse síndrome padecem. Este fármaco tem como principio ativo o Rimonabant, que é um antagonista dos receptores canabinóides. Curiosamente, este fármaco tornou-se

famoso nos círculos científicos por ter sido utilizado para tentar demonstrar a existência de um síndrome de abstinência provocado por canábis similar ao pro-vocado pelos opiáceos. Hoje em dia, o futuro desse fármaco aponta para o controlo do apetite em pacien-tes com ingestão alimentar desmesurada. É curioso como os caminhos da ciência podem alterar os seus rumos para objetivos tão díspares.

Os estudos que demonstram a eficácia da canábis como estimulante do apetite são vários, e citam-se apenas alguns.

Se procurarmos na base de dados da IACM - sigla inglesa para Associação Internacional para a Canábis como Medicamento - encontramos seis estudos con-trolados em que se utilizou Dronabinol, que é THC sintético. Destes seis estudos, três foram realizados em pacientes com cancro, dois em pacientes com sida e um deles em pacientes que sofriam de Alzheimer. Com canábis sob forma de flores da planta, existem dois estudos em indivíduos saudáveis que demons-traram um aumento do apetite e da ingestão de ali-mentos. Também encontramos na lista outros sete estudos, neste caso não controlados, dos quais dois se realizaram em pacientes com cancro e cinco em pa-cientes com HIV. Nestes estudos também se utilizou Dronabinol.

Mais recente temos o estudo realizado com o fár-maco Sativex em Barcelona, em que de entre 41 pa-cientes diagnosticados de síndrome de anorexia-ca-quexia por cancro ou sida, 53% recuperou o apetite.

Sempre que falamos de uso terapêutico de canábis, há uma dúvida que se coloca: como administrar?

Os preparados atualmente disponíveis de THC utilizam-se por via oral. Esta via, como já comen-támos em números anteriores, têm o problema de passar por um processo hepático que lhe confere um início de ação lento e uma absorção errática, que jun-tos derivam numa maior probabilidade de apresen-tar efeitos secundários por sobredosagem. Por outro lado teria que ser calculada adequadamente a hora de administração por via oral, para que o início dos efeitos coincidisse com a hora programada para a in-gestão de alimentos.

O emprego da planta em bruto, utilizando a via ina-lada, idealmente através de vaporização, eliminaria este problema de dosagem, e permitiria não só um início de ação quase imediato, como também a possibilidade de escolher o produto mais adequado para cada situação. Se o paciente já experimentou vários tipos de canábis e sabe que um tipo lhe dá energia suficiente para enfrentar o dia, e que outro tipo lhe proporciona a relaxação ideal para ir dormir depois de um bom jantar, não faz sentido utilizar um produto por via oral que implica uma absor-ção errática, um início de ação lento e uma limitação na variedade de efeitos obtidos. Para além disso, se a planta consumida pelo paciente tiver sido cultivada por ele próprio, fechar-se ia o circulo, pois não há nada mais satisfatório para o ser humano que cultivar o seu pró-prio alimento, ou, neste caso, as suas próprias plantas medicinais. Isto não significa, claro está, que devamos pôr de lado o Dronabinol ou o Sativex, porque como é de esperar, haverá pacientes cujos conceitos morais os impedem de utilizar a planta em bruto e estas posições devem ser plenamente respeitadas.

O que é claro é que é na variedade que está o gosto, e como é sobre o gosto que versa este artigo, esperamos que os pacientes possam beneficiar brevemente de todas estas opções terapêuticas de forma livre e informada.

Por Dr. Javier Pedraza Valiente questões médicas podem ser-lhe remetidas

através do e-mail [email protected]

Canábis como estimulante do apetite

EsTudos dEmonsTRam EFicácia

O emprego da planta em bruto, utilizando a via inalada, idealmente através de vaporização, eliminaria problemas de dosagem; permitiria um início de ação quase imediato, como também a possibilidade de escolher o produto mais adequado para cada situação. Javier Pedraza Valiente, Médico

Muitas doenças têm associada uma falta de apetite que se traduz numa diminuição da taxa de sobrevivência. Esta condição pode ser provocada por mecanismos inerentes à própria doença derivar de um estado depressivo secundário à própria situação em que o indivíduo se encontra, ou formar parte dos efeitos secundários da medicação administrada. O cancro e a sida são duas doenças em que a falta de apetite está presente de forma quase sistemática.

32saúde

Estudos controladosdronaBInolcancro• Jatoi A, Windschitl HE, Loprinzi CL, Sloan JA, Dakhil SR, Mailliard JA, Pundaleeka S,

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Gelado lançado no mercado ucrâniano, contendo sementes de papoila e extracto de canábis.

Page 33: A Folha #9

O efeito do kratom é descrito como um cruzamento entre os efeitos mentais do ópio e corporais da folha de coca

Por Alexandre de Menezes

KratomPrincípios activos:mitraginina, 7-hidroximitraginina, painantina, specioginina; mitrafilina, speciofolina; yohimbina, entre outros.

Descrição botânica Mitragyna speciosa, é o nome botânico

para a árvore conhecida vulgarmente por kratom na Tailândia e biak-biak na Malásia, sendo também chamada de ketum, kakuam, ithang ou thom. É endémica de florestas tro-picais na Ásia e Anel do Pacífico em países como a Tailândia, Malásia, Indonésia (Papua, Bornéu, Sumatra), Papua-Nova Guiné e Filipinas, é ainda cultivada no Vietname [1]. Atinge entre três a 15 metros de altura e cinco metros de largura com caules retilíneos e ra-mificados. As suas folhas são largas com um formato oval e terminam num ápice pontiagu-do, têm até 18 centímetros de comprimento e 10cm de largura, crescem aos pares opostos e a sua cor é verde-escura.

É uma árvore de folha perene, porém no habitat natural tende a deixar cair mais folhas durante a estação seca e a dar novas folhas em maior quantidade durante a esta-ção das chuvas. As inflorescências têm um aspeto único, são globulares com 2-3 cm de diâmetro, de cor amarela e agrupam até 120 floretes1 de cor branca. Estes são rodeados por numerosas bractéolas2 que se sobre-põem e entrelaçam. As sementes são estrei-tas com 3-5 mm de comprimento, asseme-lhando-se a pequenas lascas de madeira, e dispersam-se no ar quando maduras [2].

Existem várias variedades cultivadas desta planta, normalmente designadas consoante o país de origem, as mais conhecidas são: Bali (do Bali), Thai (da Tailândia), Indo (da Indonésia), Malaysian (da Malásia), Rifat (proveniente de sementes tailandesas apanhadas pelo cientista suíço Claude Rifat) e BumbleBee (Vietname).

EfeitosO efeito do kratom é descrito como sen-

do uma combinação contraditória entre esti-mulação corporal e sedação na mente, como um cruzamento entre os efeitos mentais do ópio e corporais da folha de coca. Os efeitos estimulantes tendem a ter uma duração mais curta, aparecendo e dissipando-se mais cedo que os efeitos sedativos.

A dosagem também influencia os efeitos. Doses baixas tendem a despoletar efeitos es-timulantes caraterizados por um aumento da capacidade de concentração, energia física e por vezes do libido. Realizar tarefas físicas monótonas torna-se menos cansativo e o individuo fica mais falador e sociável. Porém há pessoas nas quais despoleta ansiedade e irritabilidade. Já em doses altas tornam-se mais evidentes os efeitos sedativos, eufóri-cos e analgésicos. Estes criam uma barreira face a dores físicas ou emocionais, sobres-saindo uma sensação de calma, conforto e prazer que normalmente resulta num estado de divagação com o pensamento. Eventual-mente este pode evoluir até um estado de devaneio, com vividos sonhos que ocorrem enquanto o individuo se encontra num está-gio intermédio entre a vigília e o sono. Este estado é conhecido por nodding em inglês, devido ao balançar da cabeça que ocorre à medida que o individuo ganha e perde cons-ciência. As fantasias nele experienciadas eram muito apreciadas pelos escritores Ro-mânticos do século XIX.

Ainda para além da dosagem o efeito é influenciado pela variedade [3]. A variedade Bali, a mais comum no mercado, tem um efeito mais sedativo e algumas pessoas rela-

tam que causa mais efeitos secundários (náu-seas e dores de cabeça) que outras varieda-des. Já a Thai tende para o lado estimulante mas perde em potência. A Indo é semelhante à Bali, apenas um pouco mais estimulante, mas apresenta menos efeitos secundário inde-sejáveis. A Malaysian é estimulante como a Thai mas também apresenta efeitos sedativos sendo considerada mais potente que a Thai.

O efeito do kratom tomado oralmente de-mora quinze a vinte minutos até ser detetável e ao cabo de 30-60 minutos torna-se eviden-te, porém doses grandes podem ter um efeito mais rápido[4]. A duração para uma dose mo-derada não costuma exceder as quatro horas porém podem ser aparentes efeitos residuais até seis horas após o consumo. Quando mas-cado os efeitos aparecem mais rapidamente, normalmente ao fim de cinco a dez minutos. É comum ter uma sensação de conforto du-rante o dia seguinte à experiência.

Princípios ativosCerca de 0,5% do peso das folhas de

Mitragyna speciosa são alcaloides tendo já sido isolados mais de quarenta compostos diferentes [5]. Entre estes os mais importantes são os alcaloides indólicos mitraginina, 7-hi-droximitraginina, painantina e specioginina e os alcaloides oxindólicos mitrafilina e specio-folina[6]. Foi ainda isolada yohimbina.

A mitraginina foi inicialmente tida como o principal composto ativo pois é o que está pre-sente em maior concentração nas folhas, consti-tuindo metade do conteúdo de alcaloides. Apesar de ter uma estrutura semelhante às triptaminas psicadélicas a sua ação é completamente dife-rente, não atuando nos recetores de serotonina. Em doses baixas atua no recetor adrenérgico a2, daí o efeito estimulante do kratom, e atua tam-bém no recetor opioide 𝛿 (delta). À medida que a dose aumenta passa a ter mais afinidade pelo recetor opioide 𝜇 (mu)[7], responsável pelos

mitraginina 7-hidroximitraginina

Foto: Alexandre de M

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Fonte: kratomfarm

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Autor: RicHard-59 Fonte: Wikipedia

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Fonte: kratomfarm

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O kratom é uma árvore tropical originária do sudeste asiático cujas folhas são consumidas como substituto do ópio, sedativo e estimulante e também aplicadas em etnomedicina como analgésico e tratamento para a diarreia.

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tradição etnobotânica33

Árvore de plantação na malásia em floração

Folha da variedade rifat

variedade rifat cultivada em Portugal

Árvore no habitat natural na Tailândia

Page 34: A Folha #9

A complexa atividade psicotrópica do kratom, varia entre estimulante e sedativo consoante fatores como a dosagem ou variedade

efeitos analgésicos, de bem-estar, sedação e eventualmente dependência caraterísticos dos opioides3. Esta molécula mostrou ser eficaz no tratamento dos sintomas de ressaca de opioi-des. Porém dados recentes apontam a 7-hidro-ximitraginina como o principal responsável pelo efeito opioide do kratom. Este composto está presente em quantidades muito inferiores à mitraginina mas atua como um forte e sele-tivo agonista do recetor opioide, sendo por peso 17 vezes mais potente que a morfina[8], e tendo também uma afinidade fraca pelos recetores opioides 𝛿 e 𝑘 (kappa). Outro alca-loide, a mitraginina psuedoindoxil, resulta da oxidação da mitraginina e apresenta também efeitos psicotrópicos sendo um potente e se-letivo agonista para o recetor opioide 𝜇 com uma menor afinidade pelos recetores 𝛿 e 𝑘 [9].

Tendo em conta a complexa atividade psicotrópica do kratom, que varia entre esti-mulante e sedativo consoante fatores como a dosagem ou variedade, os restantes alca-loides e as suas proporções são tidos como farmacologicamente importantes e merece-dores de mais investigação.

Riscos para a saúdeO kratom tem uma história longa de uso

por humanos no sudeste asiático não exis-tindo registos de qualquer sobredosagem fatal. Tal é corroborado pelo facto da 7-hi-droximitraginina em estudos preliminares com animais ter mostrado um limite para o seus efeitos, os quais a partir de certo ponto não aumentam mesmo que seja incrementa-da a dose. Isto limita o potencial para causar hipoventilação4 e euforia.

Os efeitos secundários incluem sensação de boca seca, comichão, sensação de calor pos-sivelmente acompanhada de suores, aumento ou diminuição da urinação, perda de apetite, prisão de ventre, dores de cabeça, pequena depressão durante ou após a experiência e res-saca similar ao álcool[10]. Em doses altas pode causar tonturas, náuseas e vómitos, porém na maior parte dos casos basta que a pessoa se deite e relaxe para que a náusea cesse.

Como aconselhado para muitos outros psi-cotrópicos nunca se deve conduzir ou operar máquinas pesadas sob o efeito do kratom. Mesmo que se sinta estimulado o efeito pode passar a sedativo à medida que o tempo passa, havendo o risco de a pessoa adormecer.

Visto não existirem estudos sobre os efeitos do kratom durante a gravidez todas as grávidas devem evitar o seu consumo.

Deve-se evitar a combinação de kra-tom com estimulantes ou sedativos visto que pode potenciar os efeitos de ambos. A combinação com estimulantes pode levar a ansiedade e ao aumento da tensão arterial e com sedativos pode no limite causar uma falha respiratória. Nunca se deve combinar com IMAO (inibidores de monoamina-o-xidase) visto que o kratom contem monoa-minas, as quais em combinação com IMAO podem causar sérios problemas de saúde ou mesmo ser fatais.

O uso prolongado e repetido pode causar perda de peso, aparecimento de pigmentação escura na pele, particularmente nas boche-chas (questionável), insónias, barriga incha-da, secura na boca, perca de libido e sintomas de desmame se terminado abr uptamente.

Os sintomas de desmame são semelhan-tes aos do ópio e incluem dores e espasmos musculares, irritabilidade, lacrimejar e ri-norreia5. Há também que salientar que ainda não foram feitos estudos científicos e clíni-cos que permitam pôr de parte a existência de outros efeitos nocivos a longo prazo.

Potencial de dependência: Alto

O kratom, como substituto do ópio, tem um potencial de abuso por parte dos opió-manos, mas o facto de ter um limite para os seus efeitos limita este potencial, já que não permite atingir os níveis de euforia dos opioides tradicionais.

Contudo relata-se que se o kratom for tomado em conjunto com sedativos tais como o álcool, os efeitos tornam-se mais fortes (e também mais perigosos devido à combinação de múltiplos sedativos) criando em algumas pessoas um maior desejo para repetir a experiência.

Tal como outras substâncias com poten-cial para abuso (tabaco, café e álcool) não se deve incorrer no consumo diário de kra-tom evitando assim a formação de um hábi-to. Esta é uma droga que deve ser explorada esporadicamente (e.g. uma vez por mês), o que evita a habituação e permite obter mais prazer da experiência.

Dosagem e administraçãoOs princípios ativos do kratom concen-

tram-se nas folhas da planta sendo esta a parte consumida. O consumo tradicional, nos países do sudeste asiático, é feito mascando e engolindo as folhas verdes às quais é re-tirado o veio central. Para além de facilitar o mascar a remoção do veio reduz a náusea que alguns indivíduos sentem. Após a inges-tão normalmente bebe-se algo quente como um chá ou simplesmente água aquecida.

Ao ocidente apenas chegam as folhas secas que apesar de possível são difíceis de mascar. Como tal é mais comum ser consu-mido um chá feito com estas. Este prepara-se triturando e fervendo duas vezes as folhas em água, combinando a água resultante das duas fervuras e evaporando-a até um volume fácil

inflorescências secas e sementes Folhas secas

Plantação na malásiaClones a enraízar

34tradição etnobotânica: Kratom

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A canábis contraria a depressão respiratória causada pelo kratom e ao mesmo tempo intensifica o nodding

novo rebento na variedade rifat

de ingerir. O kratom tem um sabor extrema-mente amargo, o que dificulta a ingestão das preparações orais. Como tal convém evapo-rar o chá de modo a que possa ser bebido de uma só vez, evitando enjoos. Para disfarçar o sabor do chá há quem o misture com chá pre-to e use boas doses de açúcar ou mel.

É relatado que ao aquecer o kratom durante a preparação do chá as suas proprie-dades estimulantes são perdidas notando-se apenas o efeito sedativo. Tal torna esta prepa-ração contraproducente caso se pretenda sen-tir o efeito estimulante de variedades como a Thai. Para evitar isto e o sabor amargo do chá pode-se ingerir as folhas misturadas num alimento de sabor forte como iogurte, sumo ou compota. No entanto há que ter em conta que desta forma o efeito será menos acentuado e mais prolongado pois as folhas têm que ser digeridas antes de libertarem os princípios ativos. Para acelerar o processo as folhas devem ser pulverizadas, por exemplo com um moinho de café. De notar que a pul-verização deve ser feita apenas no momento do consumo pois se for armazenado nesta forma o kratom tenderá a perder potencia mais rapidamente.

Segue-se uma tabela com doses indica-tivas para o consumo oral de folhas secas de kratom [11] [12]. Há que ter em atenção que a potencia do kratom é largamente variável consoante a fonte o que implica que cada novo lote deve ser consumido partindo de uma dose baixa.

Folhas secas de kratom (oral) Nível Quantidade Efeito limiar 2-4 g quase indetectável leve 3-5 g estimulante

médio

4-10 g estimulante ou

sedativo/eufórico/analgésico

Alto 8-15 g sedativo/eufórico/analgésico

Até atuar: 15-20 minutosDuração: 2-5 horas

Pós-efeitos: 3-6 horas

É possível fazer um extrato com as folhas de modo a concentrar os princípios ativos e fa-cilitar a ingestão. O processo é simples, basta fazer um chá da forma indicada anteriormente mas prolongando as duas fervuras por pelo menos 30 minutos. Depois de filtrar e descartar as folhas deve-se evaporar a água em lume brando até que reste apenas uma substancia resinosa. Com esta podem ser feitas pequenas bolas e diretamente ingeridas, ou então dis-solvidas em água para fazer um chá. Extratos deste tipo são usualmente vendidos pelos distribuidores de folhas indicando a sua con-centração, por exemplo 15X que indica que 1 g de extrato corresponde a 15g de folhas secas. Para os extratos feitos em casa é importante calcular esta concentração pesando a quanti-dade de folhas secas e a resina resultante. Sa-bendo a concentração é então possível estimar uma dose baixa para começar a experimentar o extrato. Note-se que, tal como no chá, a pre-

paração de extratos elimina os efeitos estimu-lantes do kratom. Para além disto o facto de a maioria dos extratos comerciais serem obtidos da variedade Bali (a mais barata) torna esta a forma de administração mais sedativa.

As folhas de kratom são também ativas se fumadas, porém é difícil fumar a quantida-de necessária para obter um efeito psicotrópi-co e o fumo é tido como desagradável. O uso de um extrato da mesma forma que haxixe facilita esta forma de administração. Os efei-tos são mais curtos que a administração oral e não são mais intensos o que vai de encontro à especulação de que parte dos princípios ativos se degradam durante a combustão.

Tal como acontece para o ópio a combina-ção de kratom com canábis é tida como sinér-gica. A canábis contraria a depressão respira-tória causada pelo kratom e ao mesmo tempo intensifica o nodding. Os consumidores no sudeste asiático por vezes combinam o kratom com areca, uma noz estimulante proveniente da palmeira com o mesmo nome, também consumida tradicionalmente nesta região.

CultivoAs sementes de kratom têm uma baixa

taxa de germinação (10-20%) e perdem a viabilidade rapidamente [13]. Assim a forma mais comum de propagação é através de po-das que também permite manter as carate-rísticas da variedade escolhida. Porém caso se tenha acesso a sementes a melhor forma de as germinar é espalha-las na superfície de um substrato que drene bem e cobrir com uma fina camada deste.

É melhor coloca-las em interior num local com luz solar indireta e com uma tem-peratura amena, ao redor dos 25ºC.

A rega deve ser feita com um pulveriza-dor e de modo a que o substrato nunca se-que, mantendo-se sempre húmido mas nun-ca encharcado. Ao cabo de 15 dias deverão aparecer as primeiras plântulas. Continua-se

a regar estas com o pulverizador até que tenham pelo menos quatro folhas [14]. Após isto podem ser transplantadas para vasos individuais e regadas com um regador.

As podas de kratom são difíceis de enrai-zar devido a um fungo endógeno que ataca o xilema. Para facilitar o processo devem ser obtidas durante a época de crescimento da planta (primavera e verão em climas não tropicais) e deve ser usada uma hormona de enraizamento. Para reduzir a proliferação do fungo podem-se enraizar as podas em água com a adição de pequenas quantidades de fungicida e usando uma pedra difusora ligada uma bomba de ar para oxigenar a água [15].

A árvore de kratom cresce bem em lo-cais húmidos, protegidos de ventos fortes e geada, e com uma exposição solar total ou de meio dia. O solo deve ser bem fértil com muito húmus, ligeiramente ácido (pH entre 5,5 e 6,5) e com boa drenagem. Caso o pH do solo se torne alcalino em algum momento o kratom terá dificuldade em absorver nutrien-tes mostrando sinais como folhas amarelas com manchas castanhas. Este problema pode ser resolvido com a adição de enxofre ao substrato. Idealmente deve ser plantado di-retamente no solo porém é possível cultivar em vasos. Com fertilização líquida quinzenal durante a época de crescimento é possível criar uma árvore de 2-3 m em vasos de 20 L.

No habitat natural do kratom na Tailân-dia a humidade do ar é elevada, normalmen-te 70-90% e como tal este desenvolve-se melhor num ambiente em que a humidade do ar esteja sempre acima de 70%. Em cul-tivo de interior num espaço fechado, e.g. armário, é fácil criar estas condições intro-duzindo um tabuleiro com perlite humede-cida. Porém é possível cultivar kratom em humidades baixas como as do verão medi-terrânico desde que nunca falte a necessária rega. Para tal a planta deve ser introduzida gradualmente ao ambiente de baixa humi-

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Page 36: A Folha #9

dade, utilizando uma técnica semelhante à descrita na secção de etnobotânica da edi-ção 6 d’A Folha para a Salvia divinorum.

Apesar de crescer melhor em locais com uma elevada humidade atmosférica tal não significa que o kratom deva ter as raízes sempre encharcadas, pois tal propicia o seu apodrecimento. O ideal é regar apenas quan-do o topo do solo começar a secar. Durante o inverno, quando a planta está em dormên-cia, a rega deve ser menos frequente. Para evitar os problemas de absorção de nutrien-tes acima mencionados a água da rega deve ser ajustada para um pH de 6,0-6,5.

O crescimento do kratom é mais rápido com temperaturas de 24-32ºC [16]. Abaixo dos 18ºC a M. speciosa entra em dormência e para o crescimento. Temperaturas de 4ºC podem fazer o kratom deixar cair as folhas, porém desde que nunca desçam abaixo de 0ºC durante dias a fio a árvore recuperará e dará novas folhas quando as temperaturas su-birem. Em cultivo de interior o kratom deve ser colocado sob iluminação forte, como HPS ou LED, que simule a intensidade da luz so-lar direta. Tal torna as folhas mais escuras e com veios vermelhos, o que é tido como um sinal de maior potência pelos consumidores tradicionais do sudeste asiático.

A planta consegue-se desenvolver sob luzes mais fracas como as fluorescentes porém irá crescer mais devagar, produzindo menos folhas e de potência supostamente inferior. Este tipo de iluminação é apenas indicado para plântulas ou clones nos primeiros tempos de vida. Para maximizar o crescimento e consequente produ-ção de folhas o fotoperíodo pode ser ajustado para 24 horas, porém caso se pretenda poupar eletricidade 18 horas de luz diárias conseguem igualmente suportar um crescimento rápido.

A M. speciosa é resistente a pragas e raramente necessita cuidados especiais. Du-rante os meses quentes poderá apanhar mos-ca branca, controlável através de lavagens manuais com uma solução de quatro partes de água, uma parte de álcool e uma parte de sabão líquido. A lavagem deve ser feita a cada três dias até a praga desaparecer, tendo especial atenção à parte debaixo das folhas onde se alojam ovos e ninfas. No inverno com a fraca exposição solar e o metabolismo baixo podem aparecer bolores nas folhas.

Devem-se retirar ou lavar as folhas afe-tadas e procurar colocar as plantas em locais arejados e com maior incidência lumínica.

A colheita de folhas deve ser feita espo-radicamente, dando tempo para a planta as repor, e nunca apanhando mais de 1/4 das folhas. É relatado que em climas sub-tropi-cais ou temperados as folhas são mais poten-tes imediatamente antes de caírem, aquando da época da muda [17], que ocorre no outono. Plantas cultivadas em climas frios têm sem-pre um efeito psicotrópico fraco [15]. Plantas cultivadas em interior, estufas ou locais mui-to resguardados do vento devem ser muda-das para um local ventoso antes da colheita. Tal permite stressar a planta levando-a a au-mentar a concentração dos princípios ativos.

A secagem deve ser feita de forma à des-crita para a Salvia divinorum (ver A Folha #6).

Tradição etnobotânicaAs folhas de kratom são usadas como

estimulante, sedativo e euforizante desde há séculos pelos tailandeses e outros povos do sudeste asiático. Na Tailândia é usado por camponeses e outros indivíduos da base da pirâmide social para suportar os trabalhos árduos sob o sol escaldante, um uso muito similar ao dado à coca na América do Sul. Um utilizador habitual masca folhas entre três a dez vezes ao dia. O uso por mulheres é aparentemente raro.

Em algumas partes da Tailândia acre-dita-se que os consumidores de kratom são trabalhadores árduos. Os pais preferem dar as suas filhas em casamento a homens que consomem kratom ao invés dos que con-sumem canábis, considerados preguiçosos. Esta crença é mantida pelos próprios consu-midores que atribuem o inicio do consumo à vontade de trabalhar mais eficientemente e relatam que o kratom lhes dá vontade de trabalhar.

Para além de droga recreativa e funcional o kratom também é usado na etnomedicina tailandesa para mitigar dores, reduzir a febre e como antidiarreico pois, tal como o ópio, causa prisão de ventre. Também é usado no tratamento da dependência do ópio visto que, apesar de ter efeitos semelhantes a este, é consensual que tem um potencial de de-pendência menor sendo mais fácil a desabi-tuação. Na Malásia tal uso começou ainda no século XIX. Uma terceira mas menos usual aplicação é no prolongamento do coito que pode ter como efeito secundário indesejado dificultar a obtenção do orgasmo.

A M. speciosa foi documentada formal-mente pela primeira vez pelo botânico colo-nial holandês Pieter Korthals em 1839.

Os primeiros trabalhos analíticos sobre os compostos ativos da planta foram reali-zados em 1907 por D. Hooper tendo isolado a mitraginina. Este processo foi repetido em 1921 por E. Field o qual deu o nome ao alcaloide. A estrutura deste foi apenas descoberta em 1964 por D. Zacharias, R. Rosenstein e E. Jeffrey.

Em 1943 foi ilegalizado na Tailândia maioritariamente por razões económicas. Na altura o governo tailandês obtinha boas recei-tas com impostos sobre a venda de ópio. Po-rém o preço deste subiu e muitos utilizadores passaram a consumir kratom como alterna-tiva mais barata para atenuar o síndrome de abstinência. Ao ilegalizar o kratom o governo tailandês procurou eliminar esta concorrência ao mercado do ópio. A lei tornou ilegal plan-tar a planta e incentivava o abate das árvores existentes, porém foi largamente ineficaz visto que o kratom é autóctone da região. No que toca a reduzir o consumo também não surtiu efeitos. Como tal em 2010 iniciaram-se esforços para descriminalizar o seu consumo tendo como argumentos a inexistência de riscos significativos para saúde dos consumi-dores e para a sociedade e os séculos de uso não problemático, sendo a planta uma parte importante da cultura tailandesa.

Na Ásia, para além da Tailândia, o kra-tom é ilegal na Malásia, Myanmar (Burma)

Para além de droga recreativa e funcional o kratom também é usado na etnomedicina tailandesa para mitigar dores, reduzir a febre e como antidiarreico

1. florete [botânica] – pequena flor normalmente associada a uma inflorescência maior como acontece nas famílias botânicas das gramíneas e compostas.

2. bractéola [botânica] – pequena bráctea6 que cresce sob o pedicelo ao invés de a partir da axila7 com o pedúnculo.

3. opioide [farmacologia] – diz-se de ou substância, natural ou sintética, que possui propriedades e efeitos semelhantes aos do ópio [19]. os opioides ligam-se aos recetores opioides no sistema nervoso central e periférico e no aparelho digestivo tendo efeitos analgésicos, sedativos e eufóricos para além de causarem prisão de ventre, hipoventilação e supressão da tosse. Contrastar com opiáceo8.

4. hipoventilação [medicina] – condição que ocorre quando a ventilação nos pulmões é insuficiente para realizar as trocas de gases necessárias.

5. rinorreia [medicina] – corrimento excessivo de muco nasal.

6. brácteas [botânica] – folhas modificadas associadas à flor que a cobrem antes de desabrochar, tendo a função original de a proteger durante o seu desenvolvimento [20],[21].

7. axila [botânica] – ângulo superior formado na junção entre um órgão lateral, tal como um pecíolo, e o ramo que o suporta.

8. opiáceo [farmacologia] – diz-se de ou substância presente no ópio, ou seja, um dos alcaloides naturais presentes no látex da papoila dormideira (Papaver somniferum).

Glossário

rEfErêncIas[1] Germplasm Resources Information Network (GRIN) [Online Database]: Mitragyna speciosa Korth. http://www.ars-grin.gov/cgi-bin/npgs/html/taxon.pl?417532. [2] IAmShaman Shop: Kratom (Mitragyna speciosa) Seeds. http://www.iamshaman.com/eshop/10Expand.asp?ProductUID=1836&ProductCode=KSP-1KR.[3] OoBYCoO: Kratom (Mitragyna speciosa). https://myco-tek.org/showthread.php?140-Kratom-%28Mitragyna-speciosa%29.[4] Erowid: Kratom Basics. https://www.erowid.org/plants/kratom/kratom_basics.shtml.[5] Jessica E Adkins, Edward W Boyer e Christopher R McCurdy: Mitragyna speciosa, a psychoactive tree from Southeast Asia with opioid activity.

Current Topics in Medicinal Chemistry, 11(9):1165–1175, 2011.[6] Murple: Kratom: What Is It? https://www.erowid.org/plants/kratom/kratom_info1.shtml.[7] Derek Meyer: Project Narco: Kratom Pt 1 - What is Kratom? http://derekwmeyer.blogspot.com/2011/09/kratom-pt-1-what-is-kratom.html.[8] Kenjiro Matsumoto: Pharmacological Studies on 7-Hydroxymitragynine, Isolated from the Thai Herbal Medicine Mitragyna speciosa: Discovery of an Orally Active Opioid Analgesic.

Tese de Doutoramento, Graduate School of Pharmaceutical Sciences, Chiba University, 2006.[9] Wikipedia: Mitragynine. https://en.wikipedia.org/wiki/Mitragynine.[10] Erowid: Kratom (Mitragyna speciosa) Effects. https://www.erowid.org/plants/kratom/kratom_effects.shtml.[11] Daniel Siebert Sage Student: The Kratom User’s Guide. http://www.sagewisdom.org/kratomguide.html.[12] Erowid: Kratom Dosage. http://www.erowid.org/plants/kratom/kratom_dose.shtml.[13] TopTropicals: Mitragyna speciosa, Kratom. http://toptropicals.com/cgi-bin/garden_catalog/cat.cgi?uid=Mitragyna_speciosa.[14] Bikhuk: Kratom Seeds. http://www.bikhuk.com/2010/07/kratom-seeds-for-free.html.[15] Erowid: Mitragyna speciosa Cultivation Tips. https://www.erowid.org/plants/kratom/kratom_cultivation1.shtml.[16] World Seed Supply: Growing Kratom Indoors: How to Grow the Easy way. http://worldseedsupply.org/blog/?p=62.[17] Erowid: Kratom Bits & Pieces. https://www.erowid.org/plants/kratom/kratom_bits.shtml.[18] National Drugs e Poisons Schedule Committee (Australia): Mitragynine. https://www.erowid.org/plants/kratom/kratom_law1.shtml.[19] Dicionário Priberam da Língua Portuguesa: Significado de opioide. https://www.priberam.pt/dlpo/default.aspx?pal=opioide.[20] Dicionário Priberam da Língua Portuguesa: Significado de bráctea. https://www.priberam.pt/dlpo/default.aspx?pal=br%C3%A1ctea.[21] Wikipedia PT: Bráctea. https://pt.wikipedia.org/wiki/Br%C3%A1ctea.[22] E. J. Shellard: The alkaloids of Mitragyna with special reference to those of Mitragyna speciosa, Korth. UNODC Bulletin on Narcotics, (issue 2):41–55, 1974.[23] Wikipedia: Mitragyna speciosa. https://en.wikipedia.org/wiki/Kratom.[24] Joanathan Ott: Pharmacotheon, página 405. La Liebre de Marzo, segunda edición edição, Septiembre 2000.[25] Ministério da Saúde: Decreto-Lei n.º 54/2013. Diário da República, I(75), Abril 2013.[26] Ministério da Saúde: Portaria n.º 154/2013. Diário da República, I(75), Abril 2013.

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tradição etnobotânica: Kratom

e Butão. A partir de meados dos anos 2000 o kratom começou a ser vendido por smart-shops nos Estados Unidos e Europa, maio-ritariamente através de lojas na internet. A Austrália, talvez pela proximidade geográfica com os países produtores, precipitou-se para a ilegalização da M. speciosa e da mitraginina em 2004 [18], mesmo sem haverem relatos de casos de abuso no país. Seguiram-se Dinamar-ca, Finlândia, Polónia e Lituânia nos quais a

ilegalização se deu em conjunto com a de ou-tros produtos vendidos em smartshops tendo o kratom por vezes sido rotulado erroneamente como “droga sintética”pelas autoridades.

Em Portugal ocorreu o mesmo fenó-meno: a M. speciosa e os seus principais compostos ativos (mitraginina e 7-hidroxi-mitraginina) foram rotulados como «novas substâncias psicoativas» e ilegalizados a 17 de Abril de 2013 [25][26].

inflorescências em três estágios de maturação

Fonte: Ahm

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adoptámos uma perspectiva aberta à com-plexidade, pragmática, despida de precon-ceitos, respeitando a dignidade da pessoa humana, cujo objectivo foi salvaguardar a saúde e a segurança dos cidadãos.

[Sem dúvida, toda a gente ficou a ganhar, mas as redes de tráfico também. Há que corrigir]

Era esta a estratégia que estava em curso, que é preciso consolidar e não desmantelar. Não pôr em causa como infelizmente está a acontecer. Hoje, é preciso re-colocar a priori-dade política do combate às drogas na pre-venção, o que também não está a ser feito.

A canábis é a substância mais consumi-da no mundo. O seu consumo acarreta mui-tos riscos, mas acarreta mais riscos quando a substância está adulterada. Estamos convencidos que a legalização do cultivo da canábis para consumo pessoal como propõe o BE só fará sentido associada a uma estra-tégia de prevenção eficaz, uma estratégia que leve as pessoas a não querer consumir mesmo quando o podem fazer.

[Aqui o PS afirma que a legalização do cultivo de canábis para consumo pessoal faz sentido se associada a uma estratégia de prevenção eficaz. Ou seja, o PS assume-se preparado para legalizar o auto-cultivo se um novo projecto de lei vier acompanhado de uma estratégia de prevenção que seja capaz de convencer a maioria de que tende a proporcionar resultados positivos]

Esta vertente no projecto em apreciação não está, senhora deputada, muito explora-da, como não está explorada a utilização da canábis para fins terapêuticos, experiência esta que se tem vindo a impor noutros locais. Também temos algumas reservas, confesso, relativamente aos clubes sociais de Canábis, cujo modelo deveria, em nosso entender, ser

mais discutido e mais aperfeiçoado.[Concordo. É preferível perder mais algum

tempo mas legislar bem, para não ter que remen-dar pouco depois. O modelo de Clube Social de Canábis pode ser aperfeiçoado e melhorado tanto do ponto de vista de quem nunca lá entrará como do ponto de vista de quem lá pensa entrar]

Portanto, senhora presidente, senhoras e senhores deputados, o PS está a ponderar apresentar um projecto sobre esta matéria, que enfatize sobretudo a aposta na preven-ção para o público jovem.

[É isso. Aplaudo e faço um manguito ao PCP]Não temos nada contra a ousadia e a ino-

vação, até porque já o fizemos nesta matéria. Se formos prudentes na assunção dos riscos e temos tudo, absolutamente tudo, contra o preconceito e a hipocrisia. Muito obrigado”

[Obrigado]Tempo de antena: 3m23s

inTERVEnção do psdviram como a deputada fala? viram?

então aprendam, que o proibicionismo não vive para sempre.

As barbaridades proibicionistas (frases feitas) com que a deputada Laura Esperança nos pre-senteou estão mais que debatidas e não vou perder tempo com elas. Mas quando ela, para se posicio-nar contra a proposta, em nome do PSD, diz que:

“...a evidência científica presente em relatórios oficiais e artigos de especialidade que traçam uma realidade bem diferente do retrato cor de rosa com que alguns pre-tendem enganar os portugueses. Apenas como exemplo. Do relatório do ministério da saúde de Espanha em 2009, sobre realidades mitos, efeitos e riscos do consumo de caná-bis, cujas conclusões cito o seguinte:

A canábis pode actuar como facilitadora de outras substâncias psicoactivas...”

Ai, que correu mal a tradução. A canábis facili-ta outras substâncias? Psicoactivas? Olha que bem, com o auto-cultivo legal o cultivador pode virar-se para uma planta e dizer-lhe: “ora facilita-me lá aí uma embalagem de Valium, se faz favor”.

Ou será que ela queria dizer que canábis com Valium potenciam-se mutuamente?

Não. Devia ser uma qualquer falácia proibicio-nista que não saiu tão bem como devia.

Mas seguimos, na mesma frase: “...o inicio precoce do consumo de canábis aumenta o risco de presença de problemas relacionados com o seu consumo, tanto no âmbito escolar como no social e transtornos mentais,”

Ui, o PSD. Com tantos exemplos de relatórios oficiais e artigos de especialidade foram escolher logo um que os confundiu todos. Âmbito social, âmbito escolar, âmbito transtornos mentais...

É de tal maneira que, tal como o PCP, não estão também neste debate, estão noutro. É que este projecto de lei pretende precisamente reduzir as incidências de consumo precoce, indo no sen-tido de tornar a canábis acessível apenas a adultos.

Então está-se a debater um projecto de lei que aprova e torna legal um conceito de clube de acesso exclusivo a maiores de idade e o PSD vem argumentar que o inicio precoce do consumo é prejudicial... hummm, eu bem vos disse, a deputa-da fala de uma forma esquisita.

“...o consumo de canábis no período escolar associa-se a piores qualificações académicas, menor aproveitamento, atitudes negativas em relação à escola, mau rendi-mento escolar, aumento do absentismo e maior prevalência de abandono dos estudos”

E ela a dar-lhe com as crianças. Não terá per-cebido que este projecto de lei é uma ameaça aos

traficantes que facilitam a canábis a menores de idade? Ela está a defender quem tem interesse em que as crianças consumam. E não sabe. Coitada.

Dito isto, resta desejar-lhes as melhoras, com a convicção de que não vale a pena perder tempo porque é efectivamente tempo perdido. Não é com eles que a lei contraproducente vai acabar, não vamos poder contar com eles. Nem vai ser preciso.

Tempo de antena: 3m44s

inTERVEnção do cdsJá o CDS tem o mérito de ter estado neste

debate e não noutro debate imaginário qualquer. Ou seja, demonstraram-se enquadrados, leram de passagem o projecto de lei e basearam grande parte do seu discurso no conteúdo do projecto de lei. Os modos é que não foram os mais adequados.

Telmo Correia representou o papel de entusiasta do proibicionismo e foi tamanho o entusiasmo que bateu o record. Quatro minutos e quarenta e cinco segundos de mitos e falsidades. Sem surpresas, portanto. Também não precisamos deles para nada, mas pronto, é sempre interessan-te apontar-lhes os pontos fracos.

Uma das partes em que até nem esteve mal de todo disse que “...mas achamos que este projec-to merece discussão, merece debate e merece ser analisado em concreto no seu conteúdo”.

Ora por um lado dizem-se abertos ao debate e por outro lado dizem que são contra porque “...a total despenalização como defende o bloco pode constituir [...] um estímulo ao consumo”.

Resumindo, pode-se dizer que consideram que este projecto merece ser analisado desde que fique bem claro que não poderá constituir um estímulo ao consumo. Ou seja, se lhes conseguirmos demonstrar que a total despenalização não constituirá esse estí-mulo, eles terão que rever a posição agora assumida.

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opinião (continuação da pag. 15)

Page 38: A Folha #9

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atualidade/opinião (fim)

a FolHa n.º 9

Director: João maia Editor e Produtor: Pedro mattos Editor-adjunto e Revisor técnico: Alexandre de menezes Revisor gráfico: Pedro homero Colaboradores: Alejo Alvarado [correspondente América do Sul], Antonio escohotado [professor], Daniel martins [APDeS], Denis russo Burgierman [correspondente Brasil], Sr. Folha [mestre-canhameiro]; Javier Pedraza valiente [médico]; João Caeiro [estagiário]; manuel Duarte [Canapor]; robin Wilkey [huffingtonpost]; Pedro rodrigues [tradutor]; Tommy G. [mestre-canhameiro]. Todos os conteúdos dos autores supra citados, exceptuando os de antonio Escohotado e Robin Wilkey, são licenciados sob cc BY-nc-sa 3.0 pT.

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A fOLHA N.º 10 NãO vAI TARDAR, TALvEz TE SURPREENDAS!

adVERTência: A Folha não é responsável pelo uso que é dado à informação contida nas suas páginas. Apelamos aos nossos leitores que sejam responsáveis e respeitem a lei.

Isto digo eu, porque na realidade mesmo que o estímulo ao consumo se previsse inferior ao que se ve-rifica actualmente, eles arranjariam certamente outros argumentos de base para se opor a medidas que vão no sentido que todos nós desejamos.

Penso que ainda merece menos a pena perder tempo com eles do que com os do PSD, porque neste caso são poucos deputados, mas vou só comentar uma frase feita do proibicionismo usada por eles para que fique bem claro que estes senhores também estão muito limitados e agarrados a preconceitos.

Diz o Telmo, pelos vistos um entendido na ma-téria, que: “Não propriamente um conceito de drogas leves que tem sido abandonado até do ponto de vista internacional e que no caso da canábis não é sequer verdadeiro porque basta aumentar, como sabem, porque estudaram o assunto, a concentração de THC para estarmos perante canábis mas não uma droga leve e sim uma droga dura.”

Esta manha rasteira que continua a ser utilizada pelos proibicionistas convence muito facilmente quem não está informado e não aprendeu ainda a pensar por si próprio, que serão certamente mais de 70% do total da população.

Ora, uma “concentração de THC aumentada” per-mite ao consumidor (seja ele consumidor medicinal ou recreativo) conseguir o mesmo efeito consumindo menos quantidade. O efeito é igual quantitativa e qualitativamen-te falando, a quantidade consumida é que é reduzida uma vez que se a concentração é, digamos, 5 vezes superior, então o consumidor só necessita consumir 0,2 gramas para obter o mesmo efeito que obteria com 1 grama.

Portanto, se o Telmo Correia defende que o fumo é prejudicial para os pulmões e demais vias respirató-rias (que é isso que ele defende, de certeza absoluta, eu próprio defendo isso) e se por cada cinco passas o consumidor só precisa de dar uma caso use concentra-ção mais elevada, terá o Telmo que admitir que se está a reduzir o risco associado à inalação de fumo. Com o mesmo tipo e potência de efeito como resultado.

O que o Telmo lamentavelmente defende é que um Ben-u-ron de 250mg é uma droga e um Ben-u-ron de 1 grama é outra droga diferente, uma droga dura. Isto já assim não faz sentido; agora imaginem que o Ben-u-ron se tinha que tomar fumado, que o seu fumo era prejudicial para os pulmões e que o Telmo nos está a dizer que fumar 4 Ben-u-rons é ser-se um consumidor leve de uma droga leve e fumar apenas 1 Ben-u-ron é ser-se um consumidor pesado de uma droga dura, quando o efeito obtido é o mesmo.

O senhor Telmo Correia está convencido de que um Ben-u-ron de 1gr é uma droga diferente de um Ben-u-ron de 250mg e que por ser 4 vezes mais “potente” é uma droga dura. E os colegas partidários do CDS batem-lhe palmas. Mais uma bancada para lamentar.

Tempo de antena: 4m45s (tratamento espe-cial?)

inTERVEnção Final do BEEsteve muito bem. Só foi mesmo pena lhe terem

dado apenas 44 segundos para falar, quando deveria ter (se não estou em erro) 2 ou 3 minutos. Claro que falou um pouco mais que 44 segundos mas foi já desde aí pressionada. Talvez se tenha concentrado demasiado em fazer braço de ferro com o CDS. Mas concordei com tudo o que disse, claro.

Importante a Helena Pinto ter dito: “...e na abertura à discussão. Estamos abertos a ela [olhando para a bancada do PS], se o projecto está incompleto venham as propostas, venham as propostas.”

E o final da intervenção, em que também esteve muito bem: “É tempo de tornarmos a encarar este problema com a frontalidade que ele necessita. Sem tabus, sem preconceitos. E só há uma ma-neira, sr. Deputado, o proibicionismo falhou, isso todos concordamos. Só há uma maneira. É preciso proteger os cidadãos e as cidadãs e protegê-los é afastá-los do mercado ilegal dos traficantes e é essa a nossa proposta, quer os senhores queiram, quer não. E vão ver, mais cedo do que tarde, este caminho vai fazer-se, vai fazer-se, até porque a nível internacional tudo aponta para isso, senhores deputados. Já chega de conservadorismo.”

Falou bem.Tempo de antena: 2m19s

CONCLUSãO E NOTAS fINAISO debate a meu ver foi positivo. Curto, algo escasso

em termos de conteúdo, com momentos desnecessários protagonizados por PCP, PSD e CDS, mas se na luta por uma maioria que esteja disposta a alterar a lei perdermos o PCP mas ganharmos o PS, penso que o saldo é positivo. Da parte do PS temos agora a promessa de que vão pon-derar apresentar um projecto sobre esta matéria. Deixan-do no ar que pegando na proposta de lei do BE, tentando aperfeiçoar o conceito de Clube Social de Canábis e dando mais ênfase à prevenção para o público jovem, poderá surgir algo que pelo menos PS e BE votariam a favor, em bloco. Além de que o enfatizar da prevenção junto dos jovens poderá ser determinante para ganhar alguns deputados ao PSD, ao CDS e quero acreditar que apesar de tudo ao PCP também.

Como consumidores, cultivadores e/ou simples sim-patizantes deste hobby e da planta de canábis em parti-cular, devemos preparar sugestões e fazê-las chegar pelo menos aos dois partidos que se demonstram mais abertos a seguir com este debate. Sabemos que com o actual governo no ativo muito dificilmente uma proposta de lei desta índole poderá ser aprovada. Mas este governo não é eterno e há uma grande probabilidade de não durar até às eleições (que seriam dentro de dois anos e meio).

Todo este texto foi escrito sob o efeito de canábis. Daquela tão rica em ThC que o Telmo Correia não teria dúvidas em considerá-la uma droga dura. Pura, vaporizada, verdadeiro alimento para a mente e para o espírito. motiva e inspira.

O que o Telmo lamentavelmente defende é que um Ben-u-ron de 250mg é uma droga e um Ben-u-ron de 1 grama é outra droga diferente, uma droga dura.

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