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ORGANIZAÇÃO: RICARDO VERDUM Manual do gestor A FORMAÇÃO DE GESTORES INDÍGENAS DE PROJETOS: TEMAS, PROBLEMAS E SOLUÇÕES SÉRIE S ISTEMATIZAÇÃ O DO MANUAL_MIOLO indd 3 MANUAL_MIOLO.indd 3 21/11/2014 18:41:22 21/11/2014 18:41:22

A formação de gestores indígenas de projetos: temas, problemas e soluções

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    ORGANIZAO: RICARDO VERDUM

    Manual do gestorA FORMAO DE GESTORES INDGENAS DE PROJETOS:

    TEMAS, PROBLEMAS E SOLUES

    SRIE SISTEMATIZAO DO

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    Dilma Vana RousseffPresidncia da Repblica

    Izabella TeixeiraMinistrio do Meio Ambiente

    Jos Eduardo CardozoMinistrio da Justia

    Maria Augusta Boulitreau AssiratiPresidncia da Fundao Nacional do ndio

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    ORGANIZAO: RICARDO VERDUM

    Manual do gestorA FORMAO DE GESTORES INDGENAS DE PROJETOS:

    TEMAS, PROBLEMAS E SOLUES

    Braslia

    2014

    SRIE SISTEMATIZAO DO

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    FICHA TCNICA

    A Srie Sistematizao do PDPI (Projetos Demonstrativos dos Povos Indgenas)busca sistematizar edisseminar contedos e lies aprendidas com o PDPI como subsdio para formulao, aprimoramento e inovaode polticas, programas e projetos voltados aos povos indgenas: MMA, Funai e GIZ (Deutsche Gesellschaft frInternationale Zusammenarbeit (GIZ) GmbH)

    Edio: MMA/Funai/GIZ

    Equipe tcnica do PDPI:Jnio Coutinho (MMA), Thiago Schinaider (GIZ),

    Sandra Arajo Rosana Silva (GIZ), Luiz FernandoArajo Borges Lima (GIZ)

    Programa para a Proteo e Gesto Sustentvel

    das Florestas Tropicais Demarcao e Proteo

    de Terras Indgenas

    Apoio:

    Coordenao: Katrin Marggraff e Tomas Inhetvin

    Equipe: Heike Friedhoff, Ingrid Ramos, MrciaGramkow, Margit Gropper, Monica Berwanger, NikolausSigrist, Elcio Machineri (Toya Manchineri)

    Organizao da publicao: Ricardo Verdum

    Reviso de portugus: Laeticia Jensen Eble

    Projeto grfico: Ribamar Fonseca

    Editorao: Supernova Design

    Capa: Paneiro ManchineriCatalogao: Cleide de Albuquerque Moreira CRB 1100

    Copyright 2014 by MMA, Funai, GIZ.

    Distribuio gratuita, preferencial, bibliotecas, organizaes indigenistas e indgenas.

    Proibida a reproduo de partes ou do todo desta obra sem autorizao expressa dos editores: MMA/GIZ.

    Verdum, Ricardo (Org.)A formao de gestores indgenas de projetos: temas, problemase solues. Braslia: GIZ/FUNAI, 2014.256p. Ilust.

    ISBN

    1. PDPI Projetos Demonstrativos dos Povos Indgenas.2. Polticas Pblicas I. Ttulo

    325.45(81)

    Dados Internacionais de catalogaoBiblioteca Curt Nimuendaju

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    8 APRESENTAO

    12 PREFCIO

    16 PARTE 1 O PROJETO DEMONSTRATIVO

    DE POVOS INDGENAS (PDPI)

    17 OS ARRANJOS E PROCESSOS INSTITUCIONAIS DO PDPI E DA FORMAO DE GESTORES INDGENAS DE PROJETO

    54 PARTE 2 O OLHAR INDGENA SOBRE O CURSO DE

    FORMAO DE GESTORES DE PROJETOS INDGENAS

    92 PARTE 3O OLHAR DOS COORDENADORES DOS CURSOS

    94 O PROTAGONISMO INDGENA NA GESTO DE PROJETOS:APRENDIZADOS DO PRIMEIRO CURSO DE FORMAO

    DE GESTORES DE PROJETOS INDGENAS DO PDPI,MANAUS 2004-2005

    113 FORMAO DE GESTORES INDGENAS DE PROJETOSNA REGIO DO RIO NEGRO, AMAZONAS

    129 O CURSO DE FORMAO DE GESTORES DE PROJETOSINDGENAS DO NOROESTE DE MATO GROSSO, DERONDNIA E DO SUL DO AMAZONAS: BREVE RELATO EAVALIAO DE UMA EXPERINCIA

    173 CURSO DE GESTORES INDGENAS DE PROJETOSINDGENAS DO NORTE DO PAR E AMAP APITIKATXI

    190 FORMAO DE GESTORES DE PROJETOS INDGENASPARA O CORREDOR CENTRAL DA AMAZNIA:EXPERINCIA BEM-SUCEDIDA QUANDO SE RECONHECEA IMPORTNCIA DO INESPERADO

    215 CURSO DE FORMAO DE GESTORES E GESTORASINDGENAS DE MATO GROSSO

    246 CONSIDERAES FINAIS E RECOMENDAES

    250 SIGLAS E ABREVIATURAS

    SUMRIO

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    APRESENTAO

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    O Projeto Demonstrativo de Povos Indgenas (PDPI) foi umprograma institudo para apoiar projetos de organizaesindgenas na Amaznia Legal, abrangendo os sete estados daregio Norte (Tocantins, Par, Amap, Amazonas, Roraima,Rondnia e Acre), a parcela ocidental do estado do Maranhoe o estado de Mato Grosso. O PDPI teve atuao em um espaoterritorial em que vivem cerca de 193 povos indgenas. Segundoo Instituto Brasileiro de Geograa e Estatstica (IBGE), em 2000, apopulao indgena nesta rea territorial era de 242.639 pessoas.

    O PDPI, por ser uma experincia inovadora, inicialmenteapoiava diretamente projetos dos povos e organizaesindgenas voltados para: i)valorizao cultural; ii)atividadeseconmicas sustentveis; e iii)proteo dos territrios indgenas.Tais recursos nanceiros provinham do governo alemo, porintermdio do Banco Alemo de Desenvolvimento (Kreditamstaltfr Wiederaufbau, KFW).

    Esta publicao Formao de Gestores Indgenas de Projetos:temas, problemas e solues visa apresentar a sistematizaoe os resultados do PDPI no tocante formao realizada com

    o propsito de capacitar as organizaes indgenas na rea degesto de projetos.

    Com durao inicial prevista para quatro anos, o PDPI seestendeu por mais doze anos e conseguiu beneciar, por meiodos projetos, um nmero considervel de povos e comunidadesindgenas na Amaznia legal. Entendendo que o PDPI temmuitas experincias a serem socializadas, o Ministrio do MeioAmbiente (MMA), a Coordenao das Organizaes Indgenasda Amaznia Brasileira (COIAB) e a Deutsche Gesellschaft furInternationale Zusammenarbeit (GIZ) GmbH, realizaram asistematizao dessas experincias em trs perspectivas, ou

    seja, a publicao pretende apresentar os temas, osproblemase as soluesencontrados durante o processo de formaode gestores indgenas de projetos. Esse produto umasistematizao das experincias, dos aprendizados e dosconhecimentos dos participantes nos cursos de Formao deGestores de Projetos Indgenas.

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    Os resultados apresentados referem-se aos cursos-piloto deformao, realizados de 2004 a 2005 nas cidades de Manaus, MatoGrosso e Braslia, como primeira experincia de formao degestores de projetos indgenas. Esses cursos foram replicados nosestados de Rondnia, Roraima, Amazonas, Mato Grosso e Amap,utilizando-se as orientaes metodolgicas do primeiro curso,considerado como uma boa prtica e indito na formao delideranas indgenas.

    Os cursos realizados nos estados permitiram uma compreensodo mosaico da diversidade indgena existente na Amaznia.Constatou-se uma pluralidade de realidades, de culturas e depolticas internas de cada povo, bem como de particularidadesno que diz respeito s relaes com o Estado Brasileiro.

    O dilogo com os cursistas foi organizado por meio deperguntas orientadoras, a m de retratar a realidade, capturar asexperincias e acompanhar como esses indgenas esto dandocontinuidade ao trabalho com os projetos desenvolvidos emsuas comunidades.

    Nas narrativas indgenas, so perceptveis as diculdadesrelacionadas ao processo de formao, tendo como enfoqueas etapas de um projeto. Diculdades estas que envolvem:entender o funcionamento do Estado brasileiro; compreenderos signicados das palavras em portugus; internalizarconhecimentos alheios; e superar essas barreiras. A troca deexperincias foi uma das principais ferramentas utilizadas parasuperar os desaos impostos.

    Os novos aprendizados proporcionaram aos cursistas conhecersuas prprias realidades internas e as alternativas que outrospovos esto buscando para superar seus problemas.

    J para os autores do texto, o protagonismo indgena na gestode projetos implica uma narrativa conceitual sobre a noode autonomia no decorrer da histria e sobre como as lutassociais contriburam ou inuenciaram lideranas indgenas eseus apoiadores na luta pela autonomia e as conquistas de seusdireitos. Prope-se nesta publicao uma discusso acerca dos

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    indgenas amaznicos e de como os projetos e o mercado deprojetos alteraram signicativamente as relaes e organizaessociais de muitas comunidades indgenas, de forma positivaou negativa. Por m, avalia-se como se deu a participao doEstado no processo de ampliao da autonomia indgena.

    As consideraes nais incluem recomendaes acerca darealizao do Curso de Formao de Gestores de ProjetosIndgenas, considerando sua abordagem especca e sua

    aplicabilidade pelos cursistas indgenas. Envolvendo vriosconhecimentos, seja no mbito tcnico, poltico, organizacionale/ou cultural, tais consideraes no poderiam deixar de levarem considerao as experincias vivenciadas e construdaspelo movimento indgena. Tais experincias foram muito bemincorporadas s aes do PDPI, no sentido de que no se podepensar e construir uma poltica de formao para os povosindgenas de forma hegemnica. necessrio, portanto, que oEstado brasileiro leve sempre em considerao as caractersticaslocais, regionais, lingusticas, culturais, sociais e econmicas dospovos indgenas.

    Espera-se que esta experincia impulsione outras e que esteregistro seja til para estimular dezenas de outras iniciativas,ainda mais avanadas.

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    PREFCIO

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    A Formao de Gestores Indgenas de Projetos: temas, problemase solues, publicao organizada por Ricardo Verdum, trazrelatos de experincias e aprendizados vividos e vivenciadospor pessoas de organizaes no governamentais eorganizaes indgenas. Traz tambm doze depoimentosde cursistas indgenas, ou seja, uma pequena parceladas mais de 150 pessoas que iniciaram e concluram ocurso. Essa faanha se deu na Amaznia legal, regio ondeest concentrada a maior biodiversidade brasileira e de

    populaes indgenas.

    O Censo Demogrco de 2000, realizado pelo Instituto Brasileirode Geograa e Estatstica (IBGE), armava que a populaoindgena nessa regio era de 193 povos, ou seja, uma grandediversidade de povos indgenas. De acordo com o Censo 2010,atualmente, a populao de indgenas no territrio nacional deaproximadamente 896 mil pessoas. E, do total desta populao,cerca de 456.978 pessoas vivem na regio Norte, ou seja 26,2%da populao indgena brasileira est localizada na regio Norte.Portanto, merecem, por parte do Estado brasileiro, polticaspblicas bem mais presentes e diferenciadas.

    Nesta publicao, o leitor ter acesso ao olhar acadmico e aoolhar tradicional relacionado formao de indgenas na reade gesto de projetos. No tocante formao de indgenas,poder acompanhar a viso de indigenistas que trabalham aformao juntamente com os povos indgenas amaznicos,mas tambm a viso indgena sobre o tema, apresentandocomo o curso contribuiu com cada indgena no retorno suacomunidade ou sua organizao.

    A formao de gestores de projetos indgenas uma aomuito recente na histria de formao voltada para construo

    de projetos indgenas, construdos de forma participativa etendo nos povos indgenas o protagonismo dessa formao.Por esse motivo, a presente publicao sobre a experincia deformao de gestores de projetos indgenas visa apresentaras contribuies e anlise do primeiro Curso de Formao deGestores de Projetos Indgenas e as experincias dos projetos deformao de gestores executados pelas organizaes indgenas

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    e indigenistas e instituies governamentais nas regies deRoraima, Mato Grosso, Alto Rio Negro, Solimes e Maranho.

    A publicao evidencia os resultados, sistematizados comdepoimentos e experincias, proporcionando uma grandemudana no panorama da relao entre as instituies e os povosindgenas, substituindo a velha relao de tutela.

    Em seu projeto poltico pedaggico, o curso buscou proporcionar

    o dilogo entre os saberes do conhecimento tradicional eo conhecimento cientco (acadmico). Esses saberes soevidenciados nas reexes apresentadas nos depoimentos dosindgenas e dos coordenadores dos cursos.

    A insero de depoimentos nesta publicao uma maneirade ressaltar a experincia construda de forma participativaentre povos indgenas, movimentos indgenas e instituiesnanciadoras. Dessa forma, tambm se evidenciam osproblemas, as diculdades e os desaos dos povos indgenasao acessar recursos nanceiros externos de forma a conciliaro pensamento coletivo dos povos e o ambiente territorial, isto

    , pensando-se polticas internas para o povo indgena quefortaleam sua cultura e promovam o desenvolvimento daseconomias indgenas com a preservao dos recursos naturaisde suas terras.

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    O PROJETODEMONSTRATIVODE POVOSINDGENAS (PDPI)parte 1

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    OS ARRANJOS E PROCESSOSINSTITUCIONAIS DO PDPI EDA FORMAO DE GESTORESINDGENAS DE PROJETOS

    RICARDO VERDUM1

    1 INTRODUOO Projeto Demonstrativo de Povos Indgenas (PDPI) foi criadono mbito do Programa Piloto de Proteo das FlorestasTropicais do Brasil (PPG7). O PDPI um desdobramento doSubprograma Projetos Demonstrativos (PDA), executadopelo Ministrio do Meio Ambiente (MMA), e trata-se de um

    complemento ao Projeto Integrado de Proteo s Populaese Terras Indgenas da Amaznia Legal(PPTAL), executado pelaFundao Nacional do ndio (Funai), entidade responsvel pelademarcao e delimitao dos territrios dos povos indgenasna Amaznia brasileira.

    A ideia de constituio do PDPI como uma extenso dospropsitos gerais do PDA surgiu em 1997. O PDA tem comoobjetivos: i)apoiar iniciativas das populaes locais e deorganizaes no governamentais (ONGs) em geral; ii)fortalecera capacidade destas para elaborar e gerenciar projetos dedesenvolvimento local sustentvel; iii)integrar as contribuies

    dessas populaes por meio da participao; e iv)divulgar osconhecimentos gerados pelas experincias apoiadas. J no PDPI,esses objetivos aparecem relacionados a um pblico especco:os povos indgenas.

    1 Doutor em Antropologia Social,pesquisador vinculado ao PPGAS/UFSC

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    De fato, a inteno de criar um fundo de apoio aodesenvolvimento indgena remonta aos primeiros momentosda formulao do PPG7 e de seus componentes. Na ocasio,a proposta sofreu grande resistncia, o que inviabilizou suaconcretizao. O PPG7 foi concebido em um contexto dedesconana de alguns setores governamentais, militares eempresariais nacionalistas em relao os objetivos do programa.Como observado por Thomas Fatheuer, durante seminriosobre o PPG7 realizado em fevereiro de 1993, em Belm, no

    Brasil muitos suspeitaram e suspeitam que exista interesse eminternacionalizar a Amaznia, que a Amaznia est no foco decobia internacional (Fatheur, 1993, p. 85). Embora houvesseento tanta resistncia quanto h hoje ao reconhecimento dosterritrios dos povos indgenas, sob a justicativa de que issopoderia ser o primeiro passo de um processo de separatismoem relao ao Estado brasileiro, conseguiu-se incluir entreseus componentes iniciais o PPTAL, ligado institucionalmente Funai. No Brasil, o processo Constitucional (1986-1988) criouum ambiente de efervescncia social, bem como de articulaoe mobilizao de ambientalistas, movimentos sociais emovimentos de resistncia dos povos indgenas. O assassinato

    de Chico Mendes, no Acre, teve efeitos em diferentes nveis.No exterior, fortaleceram-se ou foram formados movimentoscoletivos a partir de grupos sociais que se preocupam comproblemas ambientais globais e, particularmente, na Amaznia.2Mas foram necessrios quase dez anos para que a iniciativaPDPI estivesse operando e apoiando projetos de entidadeslegalmente constitudas de povos indgenas, em especial, emtrs reas temticas: proteo das terras indgenas; atividadeseconmicas sustentveis; e resgate e valorizao cultural.

    No mbito do PDA, os projetos indgenas so consideradosa semente do PDPI. O acmulo de conhecimento gerado

    2 Ainda antes do assassinato de Chico Mendes, formou-se, na Alemanha, aCampanha pela Vida na Amaznia, uma rede de ONGs que tentou coordenar aes ligadas Amaznia, por exemplo, o apoio aos Yanomami, que poca tiveram seu territrioocupado por uma horda de garimpeiros. Criou-se tambm a Campanha das FlorestasTropicais, voltada para diminuir o uso de madeiras das orestas virgens. Em 1988, ogoverno da Alemanha havia denido o meio ambiente como rea principal da cooperaointernacional.

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    nesse contexto, somado demanda do movimento indgenaorganizado, produziu o estmulo e as condies necessrias retomada das discusses sobre a criao de um programa denanciamento de projetos destinado especicamente aos povosindgenas no pas.

    2 A CRIAO DO PPG7 E DO PDAA histria do PPG7 comea, ocialmente, no ms de julho de1990, durante a Economic Summit of the Group of Seven(G-7), em Houston (Texas), quando o ento chanceler alemoHelmut Kohl apresentou aos representantes dos governosdos demais pases-membros (do qual fazem parte tambmCanad, Estados Unidos, Frana, Itlia, Japo e Reino Unido) aproposta de apoio elaborao, implantao e implementaode um Programa de Apoio proteo das Florestas Tropicaisno Brasil. A proposta surge em um contexto internacional decrescimento da percepo de que os problemas ambientaispossuem uma dimenso internacional e que h ameaasglobais que necessitam ser tratadas nesse nvel. Essa tomada

    de conscincia se d associada, especialmente, descobertado buraco na camada de oznio e do efeito estufa. Emconsequncia, iniciativas internacionais passaram a sercriadas visando enfrentar esses desaos globais.3Nas palavrasdo chanceler Kohl:

    Estamos determinados a tomar aes para o aumento das

    orestas, ao mesmo tempo que protegeremos as orestas j

    existentes e reconheceremos os direitos de soberania de todos

    os pases, para fazer uso de seus recursos naturais. A destruiodas oretas tropicais tem adquirido propores alarmantes.

    Consideramos bem-vindo o compromisso do novo governo

    brasileiro [Fernando Collor de Mello] de ajudar a deter essa

    3 Alguns outros exemplos de medidas globais que passaram a ser tomada a pocaso o m dos CFCs, os gases que provocam o buraco da camada oznica; a instalaoem 1988 do International Panel on Climate Change (Painel Intergovernamental deMudanas Climticas) junto Organizao Mundial de Meteorologia e do PNUMA; o GlobalEnvironmental Facility(GEF) do Banco Mundial, entre outras.

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    destruio e de promover o manejo sustentvel das orestas.

    Apoiaremos ativamente este processo e estamos preparados

    para um novo dilogo com os pases em desenvolvimentosobre o caminho e os meios para sustentar esse esforo.

    Estamos prontos para cooperar com o governo brasileiro em

    um compreensivo programa-piloto para neutralizar a ameaa

    s orestas tropicais neste pas. Solicitamos ao Banco Mundial

    preparar uma proposta, em estreita cooperao com a Comissoda Comunidade Europeia, a qual deve ser apresentada, no mais

    tardar, na prxima Cpula Econmica. Apelamos para os outrospases juntarem-se a ns neste esforo. A experincia obtida

    neste programa-piloto deve ser compartilhada com os outrospases que enfrentem a destruio das orestas tropicais (apud

    Hagemann, 1994, p. 63, traduo nossa).4

    Aps um perodo de negociaes envolvendo representantesdo governo brasileiro, do G-7, da Comunidade Comum Europeia(CCE) e do Banco Mundial, foi criado o PPG7, que passou a existirem dezembro de 1991, quando dado incio elaborao dossubprogramas e projetos que o constituiriam.

    A criao do PPG7 no Brasil deu-se por meio do Decreto no

    563,de junho de 1992, assinado no primeiro dia da Confernciadas Naes Unidas sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento(CNUMAD ou Rio-92).5No encerramento da conferncia, em 15de junho, o presidente Fernando Collor de Melo, em um discursotransmitido em cadeia nacional de rdio e televiso, anunciavaas repercusses positivas para o Brasil das mudanas poltico-

    4 O estudo de Helmut Hagemann uma das poucas fontes de informao sobreo processo inicial de preparao do PPG7 e de seus componentes. As relaes, tenses,presses, conitos e convergncias de interesses envolvendo o governo brasileiro, osgovernos dos pases do G-7, a Comisso da Comunidade Europeia (CCE), o Banco Mundial(BIRD) e um grupo seleto de ONGs internacionais e brasileiras, que se colocam em cenaatuando como mediadoras qualicadase/ou representantesdos interesses e demandas dascomunidades locais da Amaznia, so ali retratados de maneira bastante detalhada eabrangente. A Alemanha se destaca como o principal parceiro do programa. Atualmente,a agenda de cooperao alem no Brasil inclui aes focadas em conservao dabiodiversidade, desenvolvimento sustentvel, gesto de orestas, terras indgenas edesenvolvimento de capacidades.5 Sobre a dimenso institucional do PPG7, ver Pinto (2006). Em relao polticaambiental do governo federal nos anos 1990 e primeiros anos da dcada de 2000, ver BarretoFilho (2004).

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    institucionais em curso nas reas econmica e ambiental, e dosacordos alcanados na conferncia:

    A Conferncia sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento foifundamental para o mundo, e fundamental tambm para

    o Brasil. Alm de reforar nosso prestgio por sediarmos

    a conferncia, o reconhecimento internacional pela boa

    conduo de nossa poltica econmica, e da seriedade

    de nossos projetos na rea ambiental, veio na forma de

    importantssimos nanciamentos externos. As cifras somuito mais signicativas: do Japo, pela primeira vez depois

    de sete anos e depois da regularizao de nossa posio junto

    ao Clube de Paris, receberemos US$ 1,1 bilho; do BancoMundial, receberemos US$ 1 bilho; do BID, uma carteira que

    poder atingir US$ 2,2 bilhes; da Alemanha, US$ 300 milhes;

    a soma alcana o total de US$ 4,6 bilhes. So recursos que

    iro beneciar a maioria dos estados do Brasil, criando novos

    empregos, inclusive todos os estados do Nordeste estobeneciados; Rio de Janeiro, So Paulo, com nanciamento de

    projetos de recuperao ambiental, como despoluio de rios e

    baias; preservao da Amaznia; construo ou duplicao de

    estradas; modernizao industrial e tecnolgica.

    O processo de elaborao do Subprograma ProjetosDemonstrativos (PDA) do PPG7 teve incio em agosto de 1992,com a primeira misso do Banco Mundial, e foi concludo noincio de 1995, quando o projeto foi nalmente aprovado e ostrmites administrativos concludos, tanto na estruturapoltico-administrativa do governo brasileiro, quanto nasinstncias internacionais, como o Banco Mundial. Na ocasio,as partes acordaram que o PDA apoiaria nanceiramenteiniciativas ou experimentos, na forma de projetos comunitriosde proteo das reas de oresta tropical na Amaznia, na

    Mata Atlntica e ecossistemas associados, bem como de aesdestinadas recuperao e ao manejo de espcies da fauna e daora destas mesmas regies.

    Em 1991, o conceito de participao do PPG7 j havia sidomanifestado de forma bastante clara, por intermdio do apoiopoltico, fsico e nanceiro estruturao de uma rede de ONGs

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    com atuao na Amaznia Legal, ento intitulada Grupo deTrabalho da Amaznia (GTA).6Em 1992, durante a Rio 92, foiconstituda uma segunda rede de ONGs, a Rede Mata Atlntica(RMA), que teve igualmente o papel de mediar e representar osinteresses do movimento ambientalista frente s agncias decooperao multilaterais e bilaterais e do governo brasileiro nombito do PPG7. Desde a sua criao, ambas as redes de ONGscontaram com recursos nanceiros para sua estruturao efuncionamento oriundos do Rain Forest Trust Fund (RFT/Banco

    Mundial) ou de agncias bilaterais de cooperao participantesdo PPG7.7

    Fruto da presso de ONGs, movimentos sociais e ambientalistasque atuavam nestas regies, com destaque para a rede Grupode Trabalho Amaznico (Fase e Ibase 1993; Hagemann 1994;Fatheuer, 1994), o PDA foi concebido com uma das caractersticasmais marcantes do novo discurso desenvolvimentista: o deestar voltado para a valorizao da participao e para o apoios iniciativas das comunidades locais e suas organizaes(associaes, cooperativas, sindicatos etc.), e das ONGs. Emborano o termo capital social no aparea em nenhum dos

    documentos produzidos poca, seus elementos bsicos esto alipresentes: a ideia de que os experimentos (ou projetos) a seremapoiados nanceiramente devem fortalecer a capacidade deorganizao e gesto participativa da comunidade e que a formade gesto deve fortalecer a rede de solidariedade existente entreos participantes.

    6 O GTA (primeiramente chamado de GTA-G7) foi formado inicialmente pelosseguintes grupos: Instituto de Estudos Amaznicos (IEA); Fundao Pr-Natura (Funatura);Centro de Estudos Avanados em Promoo Social e Ambiental/Projeto Sade e Alegria(CEAPS); Fundao Vitria Amaznia (FVA); Instituto de Pr-Histria, Antropologia e Ecologia(IPHAE); Centro de Trabalho Indigenista (CTI); Associao Brasileira de Antropologia (ABA);Movimento pela Sobrevivncia na Transamaznica; Projeto Estudos sobre Terras Indgenasno Brasil (Peti/Museu Nacional) e Comisso pela Criao do Parque Yanomami (CCPY). VerFatheuer (1994).7 O Fundo Fiducirio das Florestas Tropicais do Brasil (RFT) foi institudo em marode 1992, por intermdio da Resoluo no 922 do Conselho de Administrao do BancoMundial. Era a principal fonte de nanciamento do PPG7, do qual o Banco Internacionalpara Reconstruo e Desenvolvimento (BIRD) foi designado como agente ducirio. Osrecursos nanceiros do RFT permitiram a estruturao da secretaria tcnica do PDA e daunidade gestora do PDPI no mbito do Ministrio do Meio Ambiente (MMA).

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    Ao menos no PDA, nos Projetos Resex I, no PPTAL e,posteriormente, no PDPI visvel a perspectiva de construodo desenvolvimento comunitrio como orientadora de suaformulao e implementao. Seus elementos essenciais territorialidade, gesto social e projeto comum , estopresentes nos diferentes subprogramas e componentes. Omesmo objetivo observado nos projetos nanciados scomunidades, como o Projeto de Apoio ao Manejo FlorestalSustentvel na Amaznia (Promanejo), o Projeto de Manejo

    dos Recursos Naturais da Vrzea (Pr-Vrzea) e Projetode Mobilizao e Capacitao de Agricultores Familiares,Extrativistas e Indgenas para a Preveno de IncndiosFlorestais na Amaznia (Proteger). Contudo, estes projetosocorrem em um mbito microterritorial, ou seja, no pequenogrupo que recebe o nanciamento.8

    Participam da gesto do PDA as duas principais redes deorganizaes da sociedade civil da Amaznia e da MataAtlntica: o Grupo de Trabalho Amaznico (GTA) e a RedeMata Atlntica (RMA). Em parceria com a Secretaria Tcnicado PDA ou individualmente, essas redes desenvolveram, ao

    longo dos anos, aes de capacitao de recursos humanospara elaborao e gesto de projetos, bem como a formaoe o fortalecimento da capacidade organizacional e tcnicade comunidades e associaes locais. Embora no tenhamum envolvimento direto na gesto dos recursos nanceirosdestinados aos projetos o que chegou a ser um pleito naprimeira fase das negociaes com o governo e acabou sendoabandonado quando o Ministrio do Meio Ambiente (MMA)garantiu que o secretrio tcnico do PDA seria escolhido peloGTA , a participao das redes de ONGs na gesto do PDA pormeio da Comisso Executiva considerada um diferenciale uma inovao que no se encontra em qualquer outro

    mecanismo anterior de fomento ao desenvolvimento noBrasil.9

    8 Ver Rueda et al. (2006).9 Ver Mancin (2001), Pareschi (2002) e Verdum (2002).

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    As principais caractersticas do PDA so: i)atendimento dademanda que surge no local onde os problemas esto ocorrendo(demanda espontnea); ii)estabelecimento de um teto mximode nanciamento de at US$ 210 mil por proponente paraum perodo de trs anos, no permitindo que entidades maisestruturadas concentrem vrios projetos; iii)atualizao monetriae repasse mensal dos recursos; iv)permisso para a compra debens de capital, edicaes e pagamento de salrios; v)utilizaode um agente nanceiro com grande capilaridade no territrio

    nacional (Banco do Brasil); vi)fornecimento de monitoria tcnica enanceira em campo, alm do acompanhamento de sua execuopor meio de relatrios semestrais e da prestao de contasmensais dos recursos nanceiros repassados; vii)gesto realizada

    junto Secretaria Tcnica (ST),10estrutura mnima situada emBraslia, que atua com viso descentralizada e compartilhamentode responsabilidades.

    A Comisso Executiva (CE) a instncia mxima de decisosobre o nanciamento ou no das propostas encaminhadas ST do PDA. Ela composta por dez integrantes, sendocinco indicados pelas redes de ONGs (GTA e RMA) e cinco

    representantes governamentais: Funai, Ministrio da Cincia eTecnologia (MCT), Ministrio do Meio Ambiente (MMA), InstitutoBrasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renovveis(Ibama) e Banco do Brasil.11

    No obstante a participao de representantes de organizaesindgenas e indigenistas no processo de discusso e elaboraodo PDA na primeira metade da dcada de 1990, a demandarecebida cou bastante aqum do esperado. De um total de1.010 propostas apresentadas at novembro de 2000, os povosindgenas apareceram como proponentes ou benecirios emsomente 63, totalizando cerca de 6,3% da demanda recebida.

    10 A ST responsvel por acompanhar o processo de avaliao das propostas e, nocaso de aprovao, pelo repasse dos recursos nanceiros e o acompanhamento da execuo.Tambm cabe ST realizar cursos de capacitao e viabilizar assessorias complementaresquando necessrio.11 At 1998, a CE contou com a presena de um representante indgena indicadopela articulao COIAB-GTA.

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    Desse total, dezenove propostas foram aprovadas pelaComisso Executiva, sendo que, em onze, os ndios guravamcomo responsveis diretos pela execuo. Os povos indgenastambm aparecem como benecirios indiretos em trs projetosimplementados por associaes de pequenos produtoresagroextrativistas da Rede Frutos do Cerrado, que compram aleguminosafava danta em reas indgenas localizadas no suldo Maranho.12Em suma, os povos indgenas esto presentesem 12% dos projetos apoiados pelo PDA, totalizando um

    investimento de aproximadamente US$ 2,4 milhes.

    Considerando o conjunto das 63 propostas apresentadas aoPDA, pode-se dizer que a rea de manejo orestal (madeireiro eno madeireiro) e a de implantao de sistemas agroorestaisso as que apresentam maior demanda por conhecimentoespecializado, juntamente com os conhecimentosnecessrios para viabilizar a comercializao dos produtos e asustentabilidade do empreendimento.

    A proteo de lagos e cursos dgua, bem como dos recursospesqueiros neles existentes, surge como ao prioritria

    em trs projetos localizados no estado do Amazonas: nasproximidades da cidade de Tef (Unio da Naes Indgenas-UNI/Tef), na regio do Alto Rio Solimes (Conselho Geral daTribo Tikuna CGTT) e no municpio de Autazes (ConselhoIndgena Mura CIM). Nos dois primeiros casos, os projetoscontam com assessoria especializada, o que vem contribuindopara que os objetivos almejados sejam alcanados. No caso doprojeto implementado pelo CIM, a grande disperso das reas aserem scalizadas e a fraca articulao interna e com os rgosgovernamentais responsveis (Funai e Ibama) zeram com queos resultados cassem a desejar.

    Na regio da Mata Atlntica e ecossistemas associados, hquatro projetos envolvendo povos indgenas: trs com osGuarani (dois em So Paulo e um no Paran) e um com os

    12 A rede Frutos do Cerrado formada por 13 organizaes de pequenosprodutores rurais ou familiares e povos indgenas de lngua Timbira, e est localizada no suldo estado do Maranho e nordeste do Tocantins.

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    Fulni- (em Pernambuco). No caso dos Guarani de So Paulo, osprojetos fortaleceram uma iniciativa que j estava em curso:a produo e comercializao de ores ornamentais nativasda regio de orestas da Mata Atlntica. O projeto dos Guaranino Paran, por sua vez, consistiu num desao maior que oesperado, principalmente se consideradas as caractersticasculturais dos Guarani e o tempo necessrio para o experimentose tornar sustentvel e gerencivel pelos ndios, com a criaode animais silvestres em cativeiro. No obstante os problemas

    operacionais enfrentados pela ONG responsvel ao longo dosdois anos de execuo, o projeto indicou alternativas de geraode protena animal para um dos grupos indgenas que maistm sofrido com a invaso de seus territrios. Uma vez que acontinuidade do experimento mostre-se vivel, possvel queele passe a ser referncia para situaes semelhantes na regio.

    Como nos projetos desenvolvidos por no indgenas, asparcerias com entidades de assessoria voltadas para acapacitao e o acompanhamento sistemtico e continuadomostrou-se um componente fundamental para o andamentodos projetos e para o fortalecimento da capacidade

    dos indgenas de gerenciar suas prprias iniciativas dedesenvolvimento. Esse o caso, por exemplo, da associaoTimbira Vyty-Cati, que conta com o apoio do Centro de TrabalhoIndigenista (CTI); dos Xikrin do Catet, que tm a ajuda doInstituto Socioambiental (ISA); e do Conselho Geral da TriboTicuna, que recebe auxlio de tcnicos ligados ao MuseuNacional da UFRJ. Da mesma forma, destaca-se o trabalhoimplementado pela Comisso Pr-ndio do Acre, que vemformando agentes agroorestais entre os Kaxinaw, Jaminaw eManchineri. E, em relao Comisso Pr-Yanomami, que vemdesenvolvendo um projeto semelhante entre grupos Yanomamino norte do estado do Amazonas, tem-se a mesma expectativa.

    No caso dos Wayana-Apalai localizados no Parque IndgenaTumucumaque (norte do Par), que mantm um projeto demanejo de fauna e ora e produzem artigos de sua culturamaterial para comercializao, o Governo do Estado do Amapteve papel fundamental. Alm do apoio na elaborao daproposta, o governo disponibilizou um espao fsico para o

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    armazenamento e a exposio do material em uma das reasde maior circulao de turistas na capital do estado e auxiliaa associao indgena em seus contatos comerciais fora doestado e do pas. A mesma perspectiva de solidariedade comos povos indgenas vem se manifestando no estado do Acre, nagesto do governador Jorge Viana, no qual o apoio s populaestradicionais e a proteo das orestas tropicais so algumas dasprincipais bandeiras da poltica de desenvolvimento em curso.Esses dois exemplos chamam a ateno para a importncia

    do poder pblico local e regional na implementao de umapoltica de etnodesenvolvimento.

    Finalmente, preciso destacar duas outras iniciativas no estadodo Amazonas: a da Federao das Organizaes Indgenas doRio Negro (FOIRN), em So Gabriel da Cachoeira, e a do ConselhoIndigenista Missionrio do Norte (Cimi-Norte), com a Casa deCultura Urubu, em Presidente Figueiredo. A primeira umprojeto-piloto que busca associar a valorizao e a proteodos conhecimentos tradicionais sobre o uso de plantas comns medicinais gerao de renda a partir da comercializaode produtos oriundos do manejo de algumas espcies.

    Trata-se, indiscutivelmente, de uma iniciativa de armaotnica, na qual os ndios assumem a condio de gestoresdo processo de pesquisa e aproveitamento da biodiversidaderegional. J a iniciativa em curso em Presidente Figueiredovem se consolidando como referncia, inclusive para outrospases, no manejo de espcies melferas (abelhas) nativas daregio, tendo realizado vrios cursos envolvendo indgenas epequenos agricultores. Alm de contribuir para a gerao denovos conhecimentos, proporciona a valorizao das orestase comprova a possibilidade de gerao de renda e alimentos dealta qualidade nutricional com baixos custos operacionais.

    No tocante aos povos indgenas, o PDA chega ao ano de 1998mostrando que possvel e desejvel do ponto de vista dosobjetivos do PPG7 haver um mecanismo de apoio demandados povos indgenas por polticas e recursos especcos para arealizao do desenvolvimento sustentvel em seus territrios.Indica tambm que esta poltica e sua operacionalizaodevem ter caractersticas especcas e estar sob o controle

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    social do movimento indgena organizado, representandopela Coordenao das Organizaes Indgenas da AmazniaBrasileira COIAB (Little, 1998).

    3 A CRIAO DO PDPIO PDPI foi concebido, principalmente, como um mecanismo deapoio a projetos de organizaes indgenas na Amaznia Legal,que compreende os sete estados da regio Norte (Tocantins, Par,Amap, Amazonas, Roraima, Rondnia e Acre); a parcela ocidentaldo estado do Maranho; e o estado do Mato Grosso. O PDPI atuaem um espao territorial onde vivem cerca de 193 povos. Segundoo Instituto Brasileiro de Estatstica (IBGE), a populao indgenanesta rea territorial, em 2000, era de 242.639 pessoas.

    O primeiro ato formal visando criao do PDPI a partir de1999, teve lugar nas instalaes da Secretaria Tcnica (ST) doPDA, no MMA, em meados de 1997. Naquela ocasio, ocorreuuma reunio entre tcnicos das secretarias tcnicas do PDA

    e do PPTAL, na qual foram avaliadas as possibilidades de taliniciativa. Nessa reunio, deniu-se, ainda, a elaborao de umaminuta de documento (uma nota conceitual) que apresentariaa ideia geral de um componente indgena do PDA. Asnegociaes envolvendo as contrapartes governo brasileiro,governo alemo e os povos indgenas da Amaznia brasileira,representados pela COIAB tiveram incio logo em seguida, emsetembro de 1997. Essa movimentao tinha como meta chegarna 4aReunio dos Participantes do PPG7 (instncia mximade deciso do PPG7), realizada em outubro daquele ano, nacidade de Manaus, com uma proposta consensual entre ogoverno brasileiro, o principal doador do programa (o governo

    da Alemanha) e os principais benecirios, representadospela COIAB de criao, no mbito do Subprograma ProjetosDemonstrativos (PDA), de um PDA indgena ou PD/I.13

    13 Participam da Reunio dos Participantes do PPG7 representantes dos pasesdoadores de recursos nanceiros e de cooperao tcnica ao PPG7 e o Banco Mundial, osrepresentantes dos ministrios envolvidos diretamente com a implementao do programa,

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    Uma vez aprovada a proposta junto coordenao do PPG7, assecretarias tcnicas do PDA e do PPTAL coordenaram o trabalhode denio dos arranjos institucionais, logsticos, nanceirose de pessoal necessrios para a implantao do PD/I. Essetrabalho se estendeu at 2000, quando, nalmente, o documentode projeto (Prodoc) foi aprovado pela COIAB, pelo governobrasileiro, pelo Banco Mundial e pelo governo da Alemanha principal nanciador.

    At meados de 1999, a participao indgena foi bastantetmida no processo de preparao do PD/I. Da parte do governobrasileiro e da cooperao alem, havia o entendimentode que era necessrio criar as condies para a criao doprojeto no mbito intergovernamental antes de partir paraum processo mais participativo, envolvendo um nmeromaior de representantes e lideranas indgenas, o que s foipossvel a partir de novembro de 1999, como apresentado a seguir.As negociaes e os arranjos institucionais necessrios a suaviabilizao estenderam-se at esse ano quase que exclusivamenteno mbito governamental e intergovernamental, envolvendo ogoverno brasileiro (PDA e PPTAL), as agncias governamentais

    alems KfW e GTZ, o Banco Mundial e alguns representantesindicados pela COIAB. Como subsdios s discusses, foramrealizados seis estudos relacionados com: a promoo e aassistncia sade indgena; a capacitao e educao formalindgena; o direito positivo referente aos indgenas no Brasil; aparticipao indgena nas polticas pblicas; a economia indgenaem contextos intertnicos; e o desempenho dos projetos indgenasno mbito do PDA (Stibich, 2005).

    Com as mudanas na poltica da Secretaria de Coordenao daAmaznia do MMA, no incio de 1999, quando a antroploga MaryAllegretti assumiu sua coordenao, as organizaes indgenas

    passaram a ter um maior protagonismo na elaborao doPD/I. A Coordenao das Organizaes Indgenas da AmazniaBrasileira (COIAB), entidade de articulao de organizaes

    bem como do Ministrio das Relaes Exteriores (MRE), os responsveis pela gesto dossubprogramas e dos projetos, e membros das redes de ONGs envolvidas na gesto e noacompanhamento do programa.

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    indgenas da Amaznia brasileira, criada em 1989 e liadaao GTA, passou a ter uma posio de destaque nos arranjosinstitucionais e na implementao da preparao do Projeto PD/I.

    Nesse sentido, visando denir uma estratgia efetivamenteparticipativa, no perodo de 18 a 22 de setembro de 1999,na cidade de Manaus, foi realizada uma reunio entrerepresentantes do MMA e da COIAB. Na ocasio, a COIAB eas organizaes indgenas apresentaram suas exigncias e

    reivindicaes para, em troca, dar apoio proposta do PD/I.A principal exigncia foi assumir a conduo do programa,conforme consta do ofcio assinado por 26 lideranas indgenase encaminhado pela COIAB ao MMA, em 23 de setembrode 1999. Por sua vez, a representao do MMA mostrou-seamplamente favorvel ao pleito.

    A mudana de nome de PD/I para PDPI ocorreu formalmenteem novembro de 1999, por ocasio do evento realizado emTef, no Amazonas, conhecido como Seminrio de Tef. Oevento reuniu representantes dos indgenas, de organizaesparceiras, do governo brasileiro e dos doadores, e tinha como

    objetivo denir as bases conceituais, as diretrizes, as regras,os critrios e os procedimentos a serem adotados. Na mesmaocasio, por solicitao do movimento indgena, estabeleceu-setambm o nome denitivo do programa (PDPI), em substituioao utilizado at ento (PDI Projetos Demonstrativos paraPopulaes Indgenas).

    Como parte dessa nova fase do PDPI, Gersen Luciano Baniwa,originrio da regio do Alto Rio Negro (AM), assumiu o processode preparao do projeto no mbito do MMA nos primeirosmeses de 2000 e, posteriormente, a gerncia tcnica daimplantao e implementao do PDPI.14Em 6 de maio de 2004,

    a ento ministra do Meio Ambiente, Marina Silva, por meio do

    14 No caso do PDPI, a COIAB teve participao na indicao da equipe tcnica edos responsveis por sua coordenao. Nas negociaes polticas entre o governo brasileiro(MMA) e o movimento indgena na Amaznia, chegou-se ao entendimento de que umprograma como o PDPI s faria sentido se seu coordenador o gerente tcnico fosseindgena e indicado pela COIAB.

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    Secretrio de Coordenao da Amaznia, Jorg Zimmermann,indicou Escrawen Sompr (Xerente) como o novo gerentetcnico indgena do PDPI. O cargo estava vago desde dezembrodo ano anterior, quando Gersen Luciano deixou a gernciatcnica para dar continuidade a seus estudos.15

    Alm do protagonismo do movimento indgena, chama atenoa signicativa presena de antroplogos nas diferentes fasesde gestao do PDPI. No MMA, na Funai, no Banco Mundial e

    na GTZ, os antroplogos foram os interlocutores institucionais.Alm destes, tambm foram contratados antroplogos paradesenvolver parte dos estudos mencionados; um levantamentoe diagnstico sobre organizaes indgenas na AmazniaLegal (que resultou em um banco de dados); uma avaliaode demandas no campo do fortalecimento institucionalpara organizaes indgenas (subsdio para o componente

    fortalecimento institucional, a ser nanciado pela agnciade cooperao britnica, o Department for InternationalDevelopment DFID); e na avaliao dos projetos indgenasapoiados pelo PDA (avaliao apoiada pela GTZ); entre outros(Little, 1998, 2003).

    Os antroplogos tambm estiveram presentes no corpo tcnicodo PDPI, junto ao qual desempenharam posio de destaquena mediao entre os interesses e demandas indgenas e asexigncias poltico-administrativas do PDPI de acesso aosrecursos nanceiros. Geralmente, em virtude de dominaremo discurso ocial do meio indigenista ora intercultural oramulticultural e do entendimento comum de que sejamautoridades em assuntos indgenas, os antroplogos soacionados para expor e se expor publicamente sobre assuntosrelacionados gesto dos projetos, sobre o funcionamento oumau funcionamento do mecanismo de apoio aos projetos etc.

    No caso do PDPI, a contribuio dos antroplogos foi fundamentalpara a sua materializao e funcionamento enquanto mecanismo

    15 Sompr foi um dos trs representantes escolhidos pelo movimento indgenapara ocupar o cargo. Esses representantes foram indicados por meio de uma lista trpliceapresentada pela COIAB ao MMA. A Lista foi denida a partir de uma ampla consulta sorganizaes indgenas de base da COIAB.

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    nanceiro de integrao das contribuies das populaesindgenas para a promoo do desenvolvimento sustentvel.

    Como parte da fase de divulgao e coleta de contribuies paraa implementao do PDPI, a unidade gestora do PDPI organizoue realizou, entre julho de 2000 e maio de 2001, dezesseis ocinasde divulgao e discusso sobre o PDPI em diferentes regies daAmaznia Legal. Participaram dessas ocinas aproximadamenteoitocentas pessoas de mais de cem povos indgenas da

    Amaznia. Contou-se para isso com uma doao do fundoducirio Policy and Human Resources Development Trust Fund(PHRD). Alm de divulgarem os propsitos e as caractersticasgerais do mecanismo PDPI, as ocinas serviam para promovera coleta de subsdios elaborao dos manuais, formulrios eoutros instrumentos utilizados na fase de implementao.16

    As consultas, os estudos preparatrios, as ocinas, bem comoa elaborao e a aprovao do documento de projeto (Prodoc-PDPI) e dos contratos de doao nanceira estenderam-se atmeados de 2001. Nessa fase preparatria do PDPI, contou-se,basicamente, com o apoio nanceiro do Banco Mundial (com

    recursos oriundos de um fundo mantido pelo governo doJapo para atividades de pr-investimento) e da agncia decooperao tcnica governamental alem GTZ (atualmente GIZ).

    Inicialmente, o PDPI contava unicamente com recursos paraapoiar os projetos apresentados pelas organizaes indgenascom um ano de existncia legal. Esse recurso procedia dedoao do governo da Alemanha, por intermdio do BancoAlemo de Desenvolvimento (KreditanstaltfrWiederaufbau KfW). Como requisito, as organizaes deviam enquadrar suaspropostas em pelo menos uma das seguintes reas temticas:i)valorizao cultural; ii)atividades econmicas sustentveis;

    e iii)proteo de territrios. O primeiro repasse de recursosnanceiros para iniciativas indgenas s aconteceu em fevereirode 2003.

    16 Duas antroplogas ligadas ao Centro de Trabalho Indigenista (CTI) participaram,como consultoras, da elaborao do manual de operaes e do formulrio paraapresentao de projetos ao PDPI.

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    A partir de 2001, o PDPI passou a contar tambm com o apoioda agncia britnica de cooperao (DFID), que concentrousua atuao no fortalecimento institucional das organizaesindgenas na Amaznia e da prpria COIAB. O DFID apoiou acontratao de assessorias especiais, bem como a promoode ocinas e cursos de capacitao gerencial, tcnica e emavaliao de infraestrutura. O componente de fortalecimentoinstitucional inclua a criao de uma rede descentralizadade grupos de referncia ligados s organizaes indgenas de

    segundo grau em todos os estados da Amaznia. Esses gruposde referncia seriam formados por indgenas qualicadospara assessorar os executores de projetos locais, constituindo-se na base poltico-administrativa regional do PDPI. Estecomponente do PDPI, que poderia colaborar efetivamente como empoderamento das organizaes indgenas, inclusive paraassumirem a gesto do PDPI, teve seu potencial reduzido devidoa problemas poltico-administrativos at hoje no esclarecidossatisfatoriamente. Sua atuao cou reduzida a ajudas pontuaisa algumas entidades indgenas e formao gestores deprojetos indgenas, a qual ser tratada mais adiante.17

    A implementao do PDPI comeou ocialmente na segundametade de 2001, quando a unidade de gerenciamento comeoua operar localizada na cidade de Manaus. Os primeirosprojetos comearam a chegar Unidade de Gerenciamentodo PDPI a partir de dezembro do mesmo ano. Aps um ano deatividades, o PDPI havia recebido 112 projetos encaminhadospor organizaes indgenas e por entidades indigenistas comatuao na Amaznia brasileira. Destes, 82 projetos (o equivalentea 73,2% do total) foram classicados pelos tcnicos do PDPIna rea temtica atividades econmicas sustentveis. Umacaracterstica geral identicada na ocasio foi que os projetosvinham carregados de uma quantidade signicativa de

    17 At janeiro de 2006, o PDPI contava com 76 projetos aprovados, dos quais maisde 70% destinavam prioritariamente para o desenvolvimento de atividades econmicassustentveis. H uma predominncia de projetos voltados para a gerao de rendacomplementar, seja potencializando atividades j desenvolvidas com esta nalidade sejaintroduzindo novos processos de produo baseados no manejo e beneciamento dosrecursos naturais localmente existentes.

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    elementos de infraestrutura (como computador, barco, Toyotae outros equipamentos), considerados ento sem vinculaodireta com as atividades propostas (Almeida, 2003).

    Nesse perodo inicial, era perceptvel, especialmente, entreos tcnicos da unidade gestora, a necessidade de o PDPI sermais que um simples nanciador de projetos de organizaesindgenas. Considerando-se os objetivos do PDPI, era estratgicae imprescindvel a incorporao de um componente destinado,

    especicamente, ao fortalecimento das capacidades locais emgesto de projetos. O PDPI realizou sete ocinas de capacitao naelaborao de projetos voltadas para assessores e representantesindgenas, tendo em vista aperfeioar a qualidade dos projetos.

    De acordo com os tcnicos poca, durante a triagem dosprojetos, ocorria um intenso processo de discusso juntos organizaes indgenas, com o propsito de auxili-losa melhorar a qualidade de suas propostas. Mesmo assim,percebia-se que, para um documento de projeto, eramsucientes o redesenho e uma maior clareza de denio sobreo que os proponentes queriam alcanar, o percurso necessrio

    para atingir o objetivo traado e os meios disponveis para tanto.Os projetos tambm dependiam de aprovao. Assim, todosos projetos aprovados pelo PDPI passavam por um processode capacitao inicial, em que se elaborava o marco zero doprojeto, rediscutiam-se seus oramentos e cronogramas deexecuo, e apresentava-se aos gestores dos projetos as regrasde compra e prestao de contas que deveriam ser seguidos.Com isso, esperava-se identicar e superar problemas e preveniroutros.18A inteno era boa, mas ainda insuciente. Em muitosdos projetos aprovados na primeira leva, por exemplo, o atrasono repasse dos recursos ocasionou um descompasso entre oque havia sido planejado para determinada poca do ano (por

    exemplo, no que se refere ao plantio ou coleta de sementes)e o incio efetivo da execuo do projeto. Em vrios casos, foinecessria uma reestruturao de projetos j aprovados pelaComisso Executiva do PDPI.

    18 Ver Matos (2007).

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    4 A ESTRUTURA DEFUNCIONAMENTO DO PDPINa estrutura de funcionamento do PDPI, distinguem-se maisclaramente os seguintes componentes:

    1) Unidade de Gerenciamento (UG): inicialmente instalada emManaus ( Amazonas). Corresponde equipe de pessoas quegerencia o funcionamento do PDPI. Inclua um gerente tcnicoindgena;19a equipe de assessores tcnicos, responsveis pelaanlise e pelo acompanhamento dos projetos; as equipesadministrativa e nanceira, que cuidavam tanto das atividadesda UG quanto do acompanhamento da execuo dos projetos;e a assessoria de disseminao e polticas pblicas. A UGcontava ainda com a assessoria tcnica de peritos das agnciasvinculadas aos governos doadores (GTZ e DFID) e comestagirios indgenas.

    2) Comisso Executiva(CE): a instncia deliberativa mxima doPDPI. Tinha como responsabilidade determinar as principaisdiretrizes do programa; discutir e aprovar os projetos a serem

    contemplados com nanciamentos; e monitorar e avaliar aecincia e eccia do trabalho da UG. A partir de uma pautapreviamente estabelecida e de um conjunto de projetosanalisados pela equipe tcnica, os membros da CE debatiamos diversos assuntos indicados entre si e com membros daUG e convidados de instituies e organizaes indgenas.Entretanto, a deliberao nal era dos membros da CE, comvoto de Minerva do gerente tcnico da UG. A CE realizavareunies peridicas, e sua composio era paritria, com oitomembros, sendo quatro representantes indgenas, indicadospela COIAB e quatro representantes de rgos do governobrasileiro (Funai, Ibama, MMA e Banco do Brasil). No caso de os

    projetos em pauta estarem situados em regies de corredoresecolgicos, a composio da CE era acrescida de mais duas

    19 No perodo de 2001-2011, o PDPI teve trs gerentes originrios de povos indgenas:Gersem dos Santos Luciano, da etnia Baniwa (AM); Escrawen Sompr, da etnia Xerente (TO);e Euclides Pereira, da etnia Macuxi (RR).

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    pessoas: um representante do Projeto Corredores Ecolgicos/PPG7 e outro do Grupo de Trabalho Amaznico (GTA).

    3) Grupo de Anlise de Projetos (GAP): formado por um grupode consultores especializados, com incumbncia de analisaras propostas de projetos e emitir pareceres tcnicos, combase nos itens do manual do parecerista do GAP. Seus nomesno so revelados s entidades proponentes e executoras dosprojetos apresentados nem CE, tendo em vista assegurar osigilo e a independncia na emisso dos pareceres.

    4) Grupo de Apoio para Elaborao de Projetos (GAPEP): formado por prossionais especialistas em diversas reas doconhecimento e com experincia em elaborao e gesto deprojetos. Esses consultores so enviados para assessorar asorganizaes indgenas na elaborao de seus projetos. Osconsultores do GAP e GAPEP tm seus currculos avaliados eaprovados pela CE.

    5) Fortalecimento Institucional (FI): foi inicialmente nanciadopela agncia de cooperao britnica, o DFID, atuando noapoio a projetos. Suas principais linhas de atuao socapacitao, apoio institucional s organizaes indgenas e

    apoio articulao indgena. Pretende-se, com isto, que ospovos indgenas estejam mais capacitados e fortalecidos paradefender efetivamente seus interesses e promover seus direitos.

    Comisso Executiva

    Unidade degerenciamento

    GAPEPGAP

    Fortalecimentoinstitucional

    FIGURA 1 PDPI: estrutura de funcionamento

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    Alm disso, na implementao do PDPI, havia, por um lado, oBanco do Brasil (BB), como instituio nanceira responsvelpela movimentao dos recursos do programa e pelo repassedos recursos nanceiros aos executores dos projetos aprovadospela Comisso Executiva; e, por outro lado, o Programa dasNaes Unidas para o Desenvolvimento (PNUD), agnciade cooperao internacional para a qual eram repassadosrecursos nacionais e que dava suporte administrativo aodesenvolvimento de vrias atividades do PDPI (contratao

    e manuteno da equipe base, realizao do pagamento deconsultores etc.).

    5 FORTALECIMENTOINSTITUCIONAL: A FORMAODE GESTORES INDGENASO Fortalecimento Institucional (FI) constitui, juntamentecom o apoio aos projetos das organizaes indgenas, um

    dos principais componentes do PDPI. Seu objetivo consisteem fortalecer o movimento indgena, aperfeioando suascapacidades organizacionais, tcnicas, gerenciais e polticas.

    Embora j existisse certo consenso desde o primeiro momentodas articulaes que resultaram no PDPI, em relao importncia e necessidade de haver um componentedestinado a esse fortalecimento das capacidades e aodesenvolvimento organizacional das lideranas e organizaesindgenas, foi somente em 2003, coincidindo com o incio dorepasse de recursos nanceiros para as iniciativas indgenas,que o componente de FI do PDPI conseguiu se estruturar e

    entrar em operao. Com o apoio do governo britnico, porintermdio do DFID, o novo componente focou sua ao,inicialmente, na formao de indgenas para a gesto deprojetos em suas comunidades.20

    20 Com durao de cinco anos, o Componente de Fortalecimento Institucional se

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    O esboo de um possvel curso para a formao de gestoresindgenas de projetos foi estabelecido noEncontro deCoordenadores Regionais dos Grupos de Referncia (GR) doPDPI,realizado na cidade de Manaus, entre os dias 18 e 21 deagosto de 2003.21Na oportunidade, foi estabelecido o esboopreliminar de um possvel curso para a formao de gestores deprojetos indgenas. Decidiu-se tambm pela contratao de umaconsultoria tcnica para apresentar uma proposta detalhada deum curso de formao.

    Posteriormente, por ocasio do encontro de apresentao doPrograma de Formao para Gestores de Projetos Indgenas doPDPI/MMA, realizado tambm em Manaus, no perodo de 9 a 12de dezembro de 2003, a construo coletiva teve continuidade.Aprofundou-se a discusso do tema e procedeu-se os ajustesnecessrios na proposta do curso no respectivo planopedaggico.22Durante a Misso de Avaliao do PDPI, realizadaem Manaus, entre 5 e 7 de abril de 2004, foram reajustados ostetos dos subprojetos a serem nanciados pelo PDPI. Os antigosvalores foram denidos no incio de 2001, com base na taxacambial do dlar da poca. Dada a variao cambial e a inao

    props a contribuir para alcanar o seguinte objetivo: Fortalecer a capacidade dos povosindgenas de melhorar a sua qualidade de vida atravs da melhoria das suas capacidadesorganizacionais, tcnicas e de gesto. Por deciso unilateral, em 2005 o DFID sai dacooperao bilateral com o PDPI/MMA. Na Reviso de Meio Termo do DFID cou denidoque a parcela dos recursos nanceiros disponveis seria destinada ao apoio de CursosRegionais.21 Entre os dias 25 e 28/03/2002, o PDPI organizou uma reunio em Belm (PA)para discutir os princpios e a operacionalizao da ao de fortalecimento institucionalde organizaes indgenas. O encontro contou com a presena de representantesde organizaes indgenas, do Instituto Socioambiental (ISA); do Centro de TrabalhoIndigenista (CTI); da Comisso Pr-ndio do Acre (CPI-AC); da Operao Amaznia Nativa(OPAM); do Conselho Indigenista Missionrio (CIMI); do DFID; do PDA; da Unidade de Gestodo PDPI e do Projeto Integrado de Proteo s Terras e Povos indgenas da Amaznia LegalBrasileira (PPTAL/FUNAI). Na ocasio foi denida a criao de um Grupo de Referncia(GR), coordenado por um representante indgena indicado pelas bases e nomeado pelaUnidade de Gesto do PDPI. Dada a crescente necessidade de descentralizao da base deoperaes do programa, at ento sediada em Manaus, foi denido que o GR trabalharia emseis regies: Maranho; Tocantins; Mato Grosso; Par; Amap; Acre; Rondnia; Amazonase Roraima. Esta rede descentralizada acompanharia a implementao dos projetosesclarecendo e capacitando as organizaes indgenas envolvidas. Contava para isso comrecursos de dois milhes de libras; que na poca equivalia aproximadamente a seismilhes de reais; oriundos da agncia de cooperao britnica DFID.22 Cf. Ministrio do Meio Ambiente, 2004.

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    naquele perodo, a Misso de Avaliao decidiu reajustar osvalores para os seguintes tetos: i)at R$ 100 mil para pequenosprojetos; e ii)de R$ 100 mil a R$ 400 mil para grandes projetos.Assim, foi possvel dar maior abrangncia aos projetos de modogeral, e em especial, aos projetos destinados realizao doscursos de formao.

    Entre 2004 e 2011, o PDPI promoveu oito cursos de formao degestores indgenas, sendo sete voltados para gesto de projetos

    e um para gesto de organizaes indgenas.

    A primeira verso do Curso de Formao de Gestores deProjetos Indgenas foi elaborada pelo PDPI em parceria com aCOIAB. O curso teve incio em maio de 2004, com 30 vagas pararepresentantes indgenas, indicados por organizaes indgenasde todos os estados da Amaznia, e foi concebido como umcurso de aperfeioamento. Tinha durao prevista de um ano,dividido entre mdulos presenciais e perodos de aprendizagema distncia, nos locais de origem de cada cursista. Os mdulospresenciais foram realizados em Manaus, no Amazonas, ena Chapada dos Guimares, no Mato Grosso. Por sua vez, o

    encerramento se deu em Braslia (DF).

    Nas verses posteriores, de 2008 a 2011, o curso foi estruturadoem mdulos sequenciais mdulos de concentrao,presenciais, reunindo todos os cursistas , seguidos de mdulosde disperso quando cada qual seguia para sua comunidadecom tarefas especcas.

    Apesar dos resultados alcanados, os organizadores reconheceramque o nmero de gestores formados nesse curso representava umaparcela muito pequena da demanda apresentada pelas mais decem de organizaes indgenas na regio.

    Nas palavras de seus organizadores, o objetivo do curso erarepassar as ferramentas tericas e prticas adequadas paraa formao de gestores de projetos que contribuam para amelhoria das condies de vida e o fortalecimento poltico ecultural das sociedades indgenas. Pode-se dizer que os cursostm, entre seus propsitos, operar certo condicionamento

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    do pensamento dos indgenas selecionados ao raciocnionecessrio lgica de projeto. Assim, incluem no somente aintroduo de noes e o aprendizado terico de procedimentosrelacionados mas tambm a aplicao em situaes concretas apartir das realidades locais das suas comunidades e/ou povosde origem.23

    Com a coordenao do PDPI e o nanciamento do governobritnico por meio do DFID, o curso contou, ainda, com a

    colaborao das seguintes entidades: COIAB, Universidade doEstado do Amazonas (UEA), Universidade Federal do Amazonas(UFAM), Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT), FundaoEstadual dos Povos Indgenas (FEPI) e GTZ.

    Para Alexandre Goulart de Andrade e Darci Secchi (2006), ambosprofessores do Instituto de Educao da UFMT e consultorescontratados para coordenar a implementao do plano detrabalho do curso,

    A incorporao da participao e da responsabilizao

    compartilhada tomou fora na medida em que se percebeu

    que o protagonismo indgena no mbito dos projetos s serpossvel se forem assegurados os espaos estratgicos para asua consolidao, e entre eles, o domnio dos saberes relativos a

    sua gesto (entendida numa perspectiva bem ampla). [...]

    O curso foi estruturado em mdulos sequenciais quecontemplam contedos tericos e prticos, aes

    individuais e coletivas, alm de envolvimento institucional

    e interinstitucional que possibilitassem a sua consecuo.

    Ainda do ponto de vista organizacional, o curso teve a

    seguinte congurao: a) foi parte integrante do ComponenteFortalecimento Institucional do PDPI. A execuo, coordenao

    e acompanhamento do curso estiveram a cargo do PDPI;b) teve a participao de 30 cursistas indicados pelas

    organizaes indgenas e selecionados de acordo com critrios

    23 Isso ca evidente nos depoimentos dos cursistas que integram esta publicao.Ver tambm o item Desaos do gestor indgena, do Guia para a formao em gesto deprojetos indgenas (Almeida, 2008).

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    tcnicos (formao escolar, familiaridade com projetos); c) foi

    concebido como um curso de aperfeioamento, certicado pela

    Universidade Federal do Mato Grosso (UFMT); d) foi organizadoem cinco mdulos ou etapas de estudos presenciais (Mdulos

    de Concentrao), com durao mdia de 120 horas cada

    (cerca de 18 dias), e em cinco perodos de estudos dirigidos

    (Mdulos de Disperso), com durao mdia de 60 dias,

    realizados nos locais de origem dos cursistas, entre uma etapaintensiva e outra; e) teve uma carga horria total de 1.500

    horas, distribudas em estudos presenciais (5 etapas) e estudose atividades de campo (4 etapas); e f) contou ao nal com um

    seminrio integrador com a presena de vrios atores (governofederal, ONGs, cooperao internacional) que apoiam polticas,

    programas e projetos direcionados aos povos indgenas e com a

    apresentao dos trabalhos de concluso de curso (dossis).24

    O curso durou 12 meses (tendo sido concludo em junho de2005) e contou com os seguintes temas centrais (mdulos): i)

    realidade indgena brasileira; ii)diagnstico geral de projetos;

    iii)formulao, apresentao e nanciamento de projetos;iv)implantao, acompanhamento e avaliao de projetos; e

    v)lies aprendidas e perspectivas dos gestores de projetos.O conceito de ciclo de vida de projetos, que abrangeu todas

    as etapas e atividades relacionadas gesto de projetos, foi

    crucial para a abordagem desses temas e encadeamento de

    seus contedos. Por meio deste conceito, tornou-se mais fcila tarefa de relacionar as vrias etapas de gesto de projetos,

    notadamente as suas trs dimenses cruciais: diagnstico

    participativo; planejamento, elaborao e execuo; e

    monitoria e avaliao.

    Como j mencionado, as duas primeiras etapas presenciaisdo curso foram ministradas em Manaus (AM), e a terceira, na

    24 Participaram do seminrio integrador representantes de diversas instituies:Ministrio da Educao (MEC), Universidade de Braslia (UnB), Universidade do Estado deMato Grosso (Unemat), Universidade do Estado do Amazonas (UEA), Cooperao TcnicaAlem (GTZ), KFW, Cooperao Tcnica Britnica (DFID), Agncia de Cooperao dos EstadosUnidos (USAID), Embaixada da Noruega, Coordenao das Organizaes Indgenas daAmaznia Brasileira (COIAB), Conselho Indgena de Roraima e Federao das OrganizaesIndgenas do Rio Negro.

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    Chapada dos Guimares (MT). Segundo Cssio Sousa (2010),esse curso, tal como foi planejado e implementado, com alunosrepresentantes das diversas regies da Amaznia, teve um custoelevado, o que torna o modelo de difcil replicabilidade. O totalgasto foi de aproximadamente R$ 1,059 milho, entre passagense hospedagens dos participantes, passagens, hospedagens ehonorrios dos docentes, bolsas de estudo a todos os alunos etc.

    A seleo dos cursistas se deu a partir de divulgao entre

    as organizaes indgenas da Amaznia. Solicitou-se queindicassem possveis representantes, mediante a apresentaode seus currculos. Em seguida, os alunos foram selecionadoscom base em critrios como: regio de pertencimento,escolaridade, envolvimento com o movimento indgena, contatocom o mundo dos projetos e disponibilidade para estarenvolvido/a em um curso durante um ano inteiro.

    Entre agosto e dezembro de 2006, implementou-se umasegunda iniciativa de formao, desta vez de gestores deorganizaes indgenas. Com foco regional na AmazniaOriental, o curso foi realizado em Imperatriz (MA), numa

    parceria do PDPI com a GTZ e a Coordenao das Organizaes eArticulaes dos Povos Indgenas do Maranho (COAPIMA).O curso formou trinta gestores indgenas do Maranho, Amap,Par, Mato Grosso e Tocantins.

    No segundo semestre de 2006, tambm teve incio a avaliaode meio termo do PDPI, com o objetivo de avaliar o andamentodo programa e implementar modicaes em alguns de seusaspectos. Ainda nesse mesmo ano, ocorreu a transferncia daUnidade Gestora do PDPI de Manaus para a cidade de Braslia, oque criou instabilidade e descontinuidade de algumas aes.

    Por ocasio da Ocina de Avaliao do Componente deFortalecimento Institucional do PDPI, realizada em Manaus,entre 11 e 12 de julho 2006, os participantes armaram que,entre os esforos de capacitao de lideranas indgenasdesenvolvidos, destaca-se o Curso de Gestores Indgenas,considerado de fundamental importncia para alcanar osobjetivos desse componente e do PDPI como um todo. Na

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    ocasio, destacou-se como diculdade e desaoo fato de asmetodologias de ensino para esses temas (capacitao emgesto de projetos) dentro do contexto indgena ainda estaremem construo no Brasil e no estarem adequadamentedocumentadas. Tambm foi assinalado que a eccia de umcurso depende muito de quem est conduzindo o processo decapacitao. Vericou-se, ainda, que alguns gestores indgenascapacitados enfrentavam diculdades tcnicas e gerenciaspara pr em prtica o aprendizado, e alguns enfrentavam

    diculdades pessoais e barreiras culturais para atuar comogestores de projetos nas suas comunidades. Nesse sentido,foram citadas como exemplos a barreira da desconana eas noes sobre remunerao e sobre deveres dos gestoresindgenas (ndio no deve cobrar pelos servios).25

    A avaliao dos subprojetos do PDPI de nmero 60, 75 e 33,realizada, em novembro de 2006, por Andrew Miccolis (consultorindependente), a pedido do PDPI, tambm jogou luz sobre aproblemtica das diculdades e desaos da gesto indgenade projetos.26A seguir, destacam-se algumas tendnciasencontradas pelo consultor nos trs projetos, o que, em sua

    opinio, podem servir como lies em situaes semelhantes:

    De modo geral, cou clara a necessidade de dar maior nfase

    ao acompanhamento tcnico qualicado e permanente

    e capacitao tcnica e gerencial das organizaes e

    comunidades indgenas envolvidas. As falhas tcnicasconstituram empecilho signicativo em diferentes momentos

    dos trs projetos, desde o planejamento at a implantao e

    coordenao das atividades de campo. Constatamos, ainda,

    que os esforos de capacitao, como a ocina de capacitao

    inicial e as tentativas de capacitao em servio por partedos tcnicos contratados e parceiros locais dos projetos, de

    modo geral, no contriburam sucientemente para capacitaros ndios. Para tal, necessrio investir mais recursos em

    25 Cf. Miccolins, 2006.26 Os projetos avaliados pelo consultor tinham como protagonistas trs povosindgenas: os Krah, no estado do Tocantins; e os Kanela e Timbira da Terra IndgenaGeralda Toco Preto, no estado do Maranho.

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    cursos especcos de capacitao e selecionar tcnicos com

    perl adequado, tanto nas tcnicas de campo quanto em

    metodologias participativas, de forma a propiciar maiorenvolvimento e aprendizado por parte dos ndios no decorrer

    da implantao e, no nal das contas, permitir o sucesso e a

    continuidade das atividades. (Miccolis, 2007, p. 4).

    Concomitante ao esforo de fortalecimento das capacidadespara a gesto de projetos pelas organizaes indgenas, em

    maro de 2007, foi proposta e aprovada, durante reunio daMisso Tripartite do PDPI, uma estratgia de descentralizaoregional do PDPI. Foram criados trs ncleos regionais,abarcando as seguintes regies: i)Mdio Solimes e Meioe Baixo Rio Negro; ii)Alto Solimes, ambos no estado doAmazonas; e iii)no estado do Maranho.27 Os ncleos regionais,assim como os cursos, integraram o componente FortalecimentoInstitucional do PDPI. Esses ncleos tinham como objetivoprincipal assessorar as organizaes e as comunidades naelaborao e implementao de projetos, devendo contar paraisso com um assessor tcnico e um gestor indgena.

    Em junho de 2007 foram denidas as organizaes executorasresponsveis por cada ncleo, assim distribudas: no MdioRio Solimes, Confederao das Organizaes Indgenas ePovos do Amazonas (Coiam); no Alto Rio Solimes, a Federaodas Organizaes dos Caciques e Comunidades Indgenas daTribo Tikuna (FOCCITT); e no Maranho, a Coordenao dasArticulaes dos Povos Indgenas do Maranho (Coapima).Para cada um dos ncleos, previa-se a contratao de doisprossionais para atuao em assistncia tcnica aos projetosindgenas um assessor tcnico e um gestor indgena ,ambos com o objetivo de acompanhar, dar assistncia tcnicae auxiliar na elaborao e execuo de subprojetos apoiados

    pelo PDPI junto s comunidades indgenas da regio. SegundoCssio Sousa (2010), que, poca, era tcnico da Unidadede Gerenciamento do PDPI, por problemas diversos ligados

    27 Originalmente foi prevista a criao de 5 ncleos regionais. Alm dos acimacitados, foi previsto um no Acre e outro em Rondnia. Em todos os ncleos reviu-se que asede seria na organizao indgena.

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    poltica indgena regional no Alto Solimes (divergnciasinternas entre os prprios Ticuna), o ncleo dessa regio nofoi sequer implantado, criando um estado de frustrao entre apopulao indgena local. J o Ncleo do Mdio Solimes, quechegou a ser implantado em 2007, iniciou seus trabalhos em2008, mas teve seu trabalho interrompido em decorrncia deproblemas na gesto dos recursos pela organizao responsvel.O nico que efetivamente funcionou foi o Ncleo do Maranho,que avanou na implementao da estratgia originalmente

    estabelecida, tendo elaborado e acompanhado vrios projetosno estado.

    Com base na experincia acumulada com a primeira ediodos cursos (2004-2006), e a partir da sistematizao do materialdidtico utilizado no e a partir do curso de 2004 e 2005, em2008, foi elaborado e publicado o Guia de formao de gestoresindgenas. Esse guia foi a principal referncia na estruturaodos seis cursos realizados a partir de ento.28

    6

    A FORMAO EM GESTO DEPROJETOS INDGENASA partir das duas experincias de formao mencionadas naseo anterior, mais seis cursos de formao de gestores deprojetos indgenas receberam apoio. Em 2008, o PDPI lanouuma chamada dirigida para organizaes da sociedade civile indgenas interessadas em coordenar e implementar arealizao de cursos regionalizados para a formao de gestoresindgenas do PDPI.

    Os projetos para os cursos foram elaborados em cada uma dasregies pelas organizaes proponentes e executoras, com oapoio de consultores especializados contratados pelo PDPI.

    28 No caso do curso coordenado pela Federao das Organizaes Indgenas do RioNegro (FOIRN) e pelo Instituto Internacional de Educao do Brasil (IEB), tambm foi feitouso do manual Gesto de associaes no dia-a-dia, de Jos Strabeli (2005).

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    Seguindo a ritualstica procedimental do PDPI, os projetosforam apresentados, julgados e aprovados na XIII Reunio daComisso Executiva do PDPI, realizado entre os dias 14 e 18 de

    julho de 2008, no Sindicato dos Trabalhadores e TrabalhadorasRurais de Imperatriz, no Maranho.

    QUADRO 1 Dados oramentrios dos projetos de curso29

    Nmerodo

    projeto

    Organizao

    proponenteUF

    Data deassinaturado contrato

    Valor docontrato

    (R$)

    396Federao das Organizaes Indgenas do RioNegro FOIRN

    AM 23/10/2008 439.886,70

    398Instituto Internacional de Educao do Brasil IEB

    RO/AM 06/10/2008 439.995,60

    400 Conselho Indgena de Roraima CIR RR 04/05/2009 439.874,60

    409Associao dos Povos Indgenas Tiriy, Kaxuyanae Txihuyana APITIKATXI

    AP/PA 19/06/2009 439.923,60

    410 Centro Indgena de Estudos e Pesquisas CINEP29 AM 20/11/2008 337.600,00

    425Instituto Indgena Maiwu de Estudos e Pesquisade Mato Grosso MAIWU

    MT 05/05/2009 424.233,92

    458 Centro Indgena de Estudos e Pesquisas CINEP AM 16/07/2009 439.670,00

    Fonte: Ministrio do Meio Ambiente (out. 2012).

    Esses cursos tiveram focos regionalizados e o impactoesperado na ocasio era a formao de 240 gestores indgenas,selecionados em meio a 137 etnias. Pelos dados reunidos at o

    momento, os seis cursos atingiriam o nmero mximo de 159indgenas formados em gesto de projetos. Destes, 26 aindanecessitam concluir o quinto mdulo e apresentar o trabalhonal (so os cursistas em formao pelo Conselho Indgena de

    29 No caso dos projetos 410 e 458, a executora foi a COIAM Confederao dasOrganizaes Indgenas e Povos do Amazonas.

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    Roraima CIR). Vrios fatores inuenciaram na diferena entrea meta inicial de gestores indgenas a serem formados (240) eos que efetivamente chegaram ao nal aprovados e diplomados.H casos de cursistas que adoeceram ou caram com receio deadoecer (dengue, gripe H1N1); outros decidiram largar o cursopor solicitao familiar (pais, esposas ou maridos); houve casosde excluso devido a comportamento inadequado (alcoolismo),e outros se sentiram desestimulados.

    QUADRO 2 Informaes gerais dos cursos (2008-2011)

    Nmero Ttulo do projetoProponente/

    ExecutoraAbrangncia

    Organizaesparceiras

    Alunosformados

    396

    Curso deFormao deGestores de

    Projetos Indgenas FOIRN

    FOIRN

    TI Alto Rio Negro,TI Mdio Rio

    Negro I, TI MdioRio Negro II, TI

    Rio Tea, TI Balaio,TI Balaio, TIYanomami.

    Escola AgrotcnicaFederal de So

    Gabriel, Nepe/UFPE,UFAM, UEA, ISA,

    Ifam, SEMEC, Funai,Prefeitura de So

    Gabriel da Cachoeira.

    25

    398

    Curso deGestores de

    Projetos Indgenas Rondnia,Noroeste de MatoGrosso e Sul do

    Amazonas

    IEB/Associao

    do Frum dasOrganizaesdo Povo

    Paiter Suru(Paiterey)

    Rondnia,

    Noroeste deMato Grosso e

    Sul do Amazonas.

    Kanind, UNIR,Conselho Cinta Larga,Omiram, FOIR.

    22

    400

    Formao deGestores deProjetos das

    ComunidadesIndgenas no

    Estado deRoraima

    CIREstado deRoraima

    Ncleo Insikiran/UFRR,Funai, TNC e INPA/RR.

    At o 4omdulohavia 26cursistas

    409

    Curso de

    Formao deGestores de

    Projetos Indgenasdo Amap e Norte

    do Par

    APITIKATXIAmap e norte

    do Par

    IEP, ACT,Universidade Estadualdo Amap, APIWATA,

    MDA, Fundao Bancodo Brasil.

    28

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    Nmero Ttulo do projetoProponente/

    ExecutoraAbrangncia

    Organizaesparceiras

    Alunosformados

    410 e458

    Curso deFormao deGestores de

    Projetos Indgenas Corredor Central

    da Amaznia (Ie II)

    CINEP/Confederao

    dasOrganizaes

    Indgenase Povos doAmazonas(COIAM)

    Corredor Centralda Amaznia

    (CCE).

    UFAM, UEA, FVA,Projeto Nova

    Cartografia Social(PNCSA).

    34

    425

    Curso deFormao

    de Gestorese Gestoras

    Indgenas do MatoGrosso

    InstitutoIndgenaMaiwu deEstudos e

    Pesquisa doEstado do

    Mato Grosso

    Estado do MatoGrosso

    Organizao dosProfessores Indgenas

    de MT, Funai,Universidade Estadual

    de Mato Grosso,Secretaria de Estadode Educao de Mato

    Grosso, Funasa.

    24

    Fonte: Ministrio do Meio Ambiente (out. 2012).

    A maior parte dos cursos foi implementada entre 2009 e

    maio de 2011. Nesse meio tempo, com o apoio da GTZ, o PDPIpromoveu, nos dias 23, 24 e 25 de junho de 2009, no Centrode Treinamento Laura Vicua, em Manaus, o Encontro deIntercmbio de Experincia de Cursos de Gestores de ProjetosIndgenas. O encontro tinha como objetivo geral se constituirem momento de reexo sobre a formao indgena e, a partirdisso, denir os prximos passos.

    Antes do incio da execuo de cada projeto, a equipe doPDPI realizava um curso de capacitao inicial com osresponsveis, no qual eram abordados temas como gesto deprojetos, compras e licitaes, prestao de contas etc. Alm

    disso, esse curso era o momento para a realizao de ajustes naprogramao e estabelecer o Marco Zero do projeto.

    Importa registrar que, dos seis cursos, todos foram tecnicamenteconcludos, com exceo do curso coordenado pelo ConselhoIndgena de Roraima (CIR). Segundo informao oral obtida

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    recentemente de Klinton Vieira Senra (gerente de Fomento eProjetos no Departamento de Extrativismo da Secretaria deExtrativismo e Desenvolvimento Rural do MMA) e Andr CarlosSchiessl (analista ambiental do PDPI/MMA), o MMA e o CIR estoem processo de negociao visando retomar e concluir o curso.O coordenador pedaggico do curso, o professor Marcos AntnioBraga de Freitas, do Ncleo Insikiran da Universidade Federal deRoraima (UFRR) tambm conrmou a informao.

    Entre as ltimas atividades relacionadas aos cursos deFormao em Gesto de Projetos Indgenas de que se tevenotcias, duas tm especial interesse. A primeira foi a Ocinade Elaborao do Plano de Sistematizao dos Cursos, realizadano Instituto Israel Pinheiro, em Braslia, no perodo de 3 a 6 demaio de 2011. A segunda foi Ocina de Construo do Plano deTrabalho para Sistematizao e Disseminao do PDPI, realizadatambm em Braslia, nos dias 3 e 4 de abril de 2012.

    Em ambos os eventos, nota-se a preocupao com aproximidade do nal do projeto PDPI, mas, principalmente, apreocupao em como essa experincia de quase onze anos de

    implementao30

    pode ser til para alm dela. Ou seja, comoessa experincia pode servir s necessidades do movimentoindgena no dilogo com o Estado e na luta por orientarpolticas pblicas mais efetivas? Como tirar dela resultadosconcretos, cujos aprendizados indiquem como inuenciar aspolticas pblicas; por que caminhos e com que estratgiasseguir para que essa experincia seja efetivamente incorporadapelo governo, pela cooperao e pelas prprias organizaesindgenas? Como transferir suas lies s pessoas que noparticiparam desse processo, especialmente quelas que vmauindo aos cargos pblicos e que esto trabalhando ou queiro trabalhar junto aos povos indgenas? Como fazer com que

    a experincia de alguns possa ser compartilhada e se tornarexperincia de muitos? Essas foram apenas algumas dasquestes que emergiram em ambos os eventos.

    30 Perodo durante o qual 177 subprojetos (iniciativas indgenas) foram apoiados eoito cursos de formao de indgenas em gesto de projetos foram realizados.

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    Como salientado por um dos participantes da ocina de 2012,o PDPI foi uma experincia no campo de etnodesenvolvimento,e veio responder a uma demanda clara; teve participaodo movimento indgena e uma gerncia com representaoindgena. Com o iminente encerramento dos trabalhos do PDPI,resta saber quais os meios e estratgias que o governo brasileiroempregar para fortalecer as perspectivas de sustentabilidadeeconmica, social e cultural dos povos indgenas da AmazniaLegal, aliada conservao ambiental de suas terras.

    REFERNCIASALMEIDA, Fbio Vaz Ribeiro de. Um balano dos projetosindgenas enviados ao PDPI, Revista Anthropolgicas, ano7, v. 14, n. 1/2, 2003. Disponvel em: . Acessoem: 10 set. 2012. (Dossi Antropologia Indgena)

    ALMEIDA, Fbio Vaz Ribeiro de (Org.). Guia para a formao em

    gesto de projetos indgenas. Braslia: Paralelo 15, 200