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CENTRO UNIVERSITÁRIO DE CARATINGA Programa de Pós-Graduação Meio Ambiente e Sustentabilidade
Mestrado Profissional
A FORMAÇÃO DO NÚCLEO URBANO DE IPATINGA OCUPAÇÃO DO ESPAÇO E SEUS REFLEXOS NO USO
DO SOLO
RENATO AGOSTINHO COSTA
Dissertação apresentada ao Centro Universitário de Caratinga, como parte das exigências do Programa de Pós-Graduação em Meio Ambiente e Sustentabilidade, para obtenção do título de Magister Scientiae.
CARATINGA Minas Gerais – Brasil
Maio de 2007
CENTRO UNIVERSITÁRIO DE CARATINGA Programa de Pós-Graduação Meio Ambiente e Sustentabilidade
Mestrado Profissional
A FORMAÇÃO DO NÚCLEO URBANO DE IPATINGA OCUPAÇÃO DO ESPAÇO E SEUS REFLEXOS NO USO
DO SOLO
RENATO AGOSTINHO COSTA
Dissertação apresentada ao Centro Universitário de Caratinga, como parte das exigências do Programa de Pós-Graduação em Meio Ambiente e Sustentabilidade, para obtenção do título de Magister Scientiae.
CARATINGA Minas Gerais – Brasil
Maio de 2007
ii
RENATO AGOSTINHO COSTA
A FORMAÇÃO DO NÚCLEO URBANO DE IPATINGA OCUPAÇÃO DO ESPAÇO E SEUS REFLEXOS NO USO
DO SOLO
Dissertação apresentada ao Centro Universitário de Caratinga, como parte das exigências do Programa de Pós-Graduação em Meio Ambiente e Sustentabilidade, para obtenção do título de Magister Scientiae.
APROVADA: 31 de maio de 2007.
Prof. Felipe Nogueira Belo Simas Prof. Antônio José Dias Vieira (Orientador) (Co-orientador)
Prof. Marcos Alves de Magalhães Prof. Elpídeo Inácio Fernandes Filho
iii
“ Por mais que procuremos, talvez nunca encontremos, mas, o instigante é sempre estarmos à procura de algo que não vemos, não sabemos, não sentimos e nem conhecemos. A busca nunca pode cessar, os sonhos são impossíveis para quem não os tem.”
Renato A. Costa (2006)
iv
AGRADECIMENTOS
A Deus, pela vida e vida em abundância e pela conclusão dessa dissertação;
À Fundação Educacional de Caratinga, professores e funcionários, por terem
ajudado a formar minha visão holística do meio ambiente;
Ao Programa de Mestrado Profissionalizante em Meio Ambiente e
Sustentabilidade, que tornou possível meu crescimento intelectual e profissional;
Aos Professores Drs. Antônio Viera e Felipe Simas, pela orientação, revisão,
conselhos e direcionamento num período muito difícil;
Ao Mestre Jackson pela criatividade, e por sempre propor novos caminhos de
análises, mesmo quando tudo parecia impossível;
À minha amada esposa Mireile Costa, pelo amor, carinho, auxílio incondicional,
pela paciência, insistência, perseverança e por nunca ter me deixado desistir;
Aos meus pais, pelo apoio, carinho e compreensão, e claro, pela cobrança
exaustiva;
Aos meus irmãos, cunhados, sobrinhas, sogra e amigos que compreenderam
minha ausência e meu estresse mesmo nas situações mais banais;
Ao amigo José Maria Ferreira, pelos serviços prestados durante anos como
Secretário de Obras de Ipatinga, sendo sempre honesto e íntegro, e possibilitou o acesso
a materiais que contribuíram para análise neste presente trabalho;
Ao Davi Estrela, pela disponibilização de mapas e fotos que tornaram essa
dissertação possível;
Ao Osmar Pinheiro de Araújo, por ter cedido gentilmente às imagens em
ortofotocartas do vôo de 1972 de seu acervo pessoal;
Ao Jarley Barros, por oferecer suas fotos aéreas para exemplificar melhor meus
textos;
À Adriana Furbino, por empreender uma minuciosa análise dos mapas e imagens
quanto à configuração dos recursos naturais do município de Ipatinga;
À Andressa Moreira, pela paciência e desenvolvimento dos mapas que figuram
nessa dissertação, sem os quais, jamais teria sido possível as análises aqui realizadas.
v
LISTA DE ABREVIATURAS
USIMINAS Usinas Siderúrgicas de Minas Gerais
ACESITA Companhia Aços Especiais Itabira
CSBM Companhia Siderúrgica Belgo-Mineira
CENIBRA Celulose Nippo Brasileira S/A
RMVA Região Metropolitana do Vale do Aço
AUVA Aglomerado Urbano do Vale do Aço
EFVM Estrada de Ferro Vitória-Minas
CVRD Companhia Siderúrgica Vale do Rio Doce
IPEA Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada
IEF Instituto Estadual de Floresta
IBGE Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística
IGA Instituto de Geociências Aplicadas
vi
LISTA DE TABELAS
TABELA 1: Municípios que formam a Messoregião do Rio Doce..............................17
TABELA 2: Cidade que formam o eixo Vitória-Minas...............................................20
vii
LISTA DE FIGURAS
FIGURA 1: Crescimento populacional do Aglomerado Urbano do Vale do Aço.........23
FIGURA 2: Disposição em 2007 das fábricas no eixo da ferrovia Vitória-Minas........25
FIGURA 3: Região Metropolitana do Vale do Aço.....................................................27
FIGURA 4: Disposição dos bairros de Ipatinga em 2004............................................32
FIGURA 5: Desenvolvimento urbano de Ipatinga até 1952.........................................44
FIGURA 6: Desenvolvimento urbano de Ipatinga até 1962.........................................47
FIGURA 7: Desenvolvimento urbano de Ipatinga até 1963.........................................50
FIGURA 8: Desenvolvimento urbano de Ipatinga até 1967.........................................53
FIGURA 9: Desenvolvimento urbano de Ipatinga até 1975.........................................56
FIGURA 10: Desenvolvimento urbano de Ipatinga até 1980.......................................58
FIGURA 11: Desenvolvimento urbano de Ipatinga até 1985.......................................61
FIGURA 12: Desenvolvimento urbano de Ipatinga até 1990.......................................64
FIGURA 13: Desenvolvimento urbano de Ipatinga até 2004.......................................68
FIGURA 14: Comparativo entre o uso do solo do município de Ipatinga entre os anos de 1972 e 2004.............................................................................71
FIGURA 15: Uso e ocupação do solo de Ipatinga em 1972.........................................72
FIGURA 16: Uso e ocupação do solo de Ipatinga em 2004.........................................73
FIGURA 17: Área central de Ipatinga em 1985 ..........................................................83
viii
FIGURA 18: Área central de Ipatinga em 1999 com o cinturão verde da USIMINAS.83
FIGURA 19: Fotos das zonas de expansão urbana do bairro Cariru ............................84
FIGURA 20: Mapas das zonas de expansão urbana do Plano Diretor de Ipatinga........86
FIGURA 21: Área da APA Ipanema no perímetro urbano de Ipatinga........................88
FIGURA 22: Divisa entre Ipatinga e Santana do Paraíso.............................................90
ix
RESUMO
COSTA, Renato Agostinho. Centro Universitário de Caratinga. Maio de 2007. A formação do núcleo de Ipatinga – Ocupação do espaço e seus reflexos no uso do solo. Orientador: Professor D.Sc. Felipe Nogueira Belo Simas. Co-orientador: Professor D.Sc. Antônio José Dias Vieira.
Esse trabalho consiste na apresentação de um panorama histórico do
desenvolvimento/evolução urbano de Ipatinga (MG), por meio de análises de mapas,
interpretação de fotografias aéreas e um levantamento de conflitos de uso e ocupação do
solo urbano. Para o desenvolvimento desse trabalho foi realizada uma análise temporal
qualitativa do desenvolvimento urbano da cidade, do uso e ocupação do solo
relacionando-o com os aspectos históricos, sociais e econômicos, no período de 1952 a
2004. Foram gerados dois mapas, baseados em ortofotocartas dos anos de 1972 e
imagem de satélite Ikonos de 2004, onde visualizamos gradativamente as mudanças
ocorridas nos recursos naturais da cidade ao longo do tempo em virtude de seu
desenvolvimento/crescimento. Além disso, no intuito de não ter apenas um olhar
voltado para o passado e o presente foi realizada uma minuciosa leitura do Plano
Diretor da cidade, pois o mesmo propõe novas áreas de expansão urbana, as quais caso
sejam ocupadas, poderão modificar o sistema ambiental e os uso dos recursos naturais
da cidade. Verificamos que o crescimento urbano foi fortemente influenciado pela
USIMINAS, localizada no perímetro urbano da cidade, que possuía áreas a sudoeste e a
leste, que possibilitou o controle do crescimento nessas localidades, o que não
aconteceu na porção sudoeste e oeste, em que o crescimento se deu de forma
x
desordenada e sem controle até meados da década de 90, período que a administração
pública iniciou o processo de reurbanização da cidade. Outros fatores que detêm a
expansão da cidade são seus limites com os municípios vizinhos, sua geomorfologia
acidentada e a APA, localizada a sudoeste.
PALAVRAS-CHAVES: uso do solo/expansão urbana/impactos sócio-ambientais.
xi
ABSTRACT
COSTA, Renato Agostinho, Centro Universitário de Caratinga. May of 2007. The formation of the urban nucleus of Ipatinga – Occupation of the space and its reflexes of the soil. Adviser: Professor D.Sc. Felipe Nogueira Belo Simas. Co-adviser: Professor D.Sc. Antônio José Dias Vieira.
This work consists in a presentation of a view of the urban evolution of Ipatinga (MG)
throughout the analysis of maps, interpretation of aerial photographies and a survey
based on conflicts of the use and occupation of the urban soil. In order to perform this
task a qualitative and a timing analysis of the urban growth, and the use and occupation
of the soil related to the historical, social and economical aspects was done in 1952 and
2004. Them two maps were created. One using ortophocharters images in 1972 and the
other using Ikon’s in 2004 where we can vizualize the gradual changes occurred to the
city’s natural resources due to its growth. Moreover in order not to have only a view of
the past and present a careful reading of the City Director Plan has been done because
this Plan proposes new urban expansions which in case they become occupied and used,
will significantly change the environmental system and the use of the city’s natural
resources. We can observe that the urban growth was strongly influenced by the
USIMINAS which is located in the city and owns different areas there. Because of that
it was possible to control the growth in these areas which did not happend in other parts
of the city where the growth was disorganized and without control until the mid-nineties
when the public administration started the process of urbanization of the city. Other
xii
factors such as the city’s borders and also its hilly landscape make the growth there
difficult.
KEY-WORDS: reflexes of the soil/urban expansion/Social-economical impacts.
SUMÁRIO
LISTA DE ABREVIATURAS.....................................................................................v
LISTA DE TABELAS.................................................................................................vi
LISTA DE FIGURAS.....................................................................................................vii
RESUMO.................................................................................................................... ix
ABSTRACT................................................................................................................xi
1 INTRODUÇÃO........................................................................................................13
1.1 Material e Métodos................................................................................................14
1.1.1 Análise da Expansão Urbana........................................................................14
1.1.2 Mapeamento do Uso e Cobertura do Solo.....................................................15
1.1.3 Avaliação das Zonas de Expansão Urbana do Plano Diretor .........................15
2. REVISÃO DE LITERATURA ................................................................................16
2.1 O Arranjo de Ipatinga............................................................................................16
2.2 A Formação da Mesorregião do Rio Doce..............................................................18
2.3 Formação da Região Metropolitana do Vale do Aço ..............................................21
2.4 Localização de Ipatinga .........................................................................................28
2.5 Aspectos Históricos de Ipatinga.............................................................................28
2.6 Características do Meio Físico ...............................................................................35
2.6.1 Geologia.......................................................................................................35
2.6.2 Geomorfologia.............................................................................................36
2.6.3 Solos............................................................................................................37
2.6.4 Clima ...........................................................................................................39
2.6.5 Vegetação.....................................................................................................39
3. RESULTADOS E DISCUSSÕES............................................................................42
3.1 Análise do Desenvolvimento Urbano de Ipatinga...................................................42
3.1.1 Desenvolvimento Urbano Até 1952..............................................................42
3.1.2 Desenvolvimento Urbano Até 1963..............................................................45
3.1.3 Desenvolvimento Urbano Até 1967..............................................................51
3.1.4 Desenvolvimento Urbano Até 1975..............................................................54
3.1.5 Desenvolvimento Urbano Até 1980..............................................................57
3.1.6 Desenvolvimento Urbano Até 1985..............................................................59
3.1.7 Desenvolvimento Urbano Até 1990..............................................................62
3.1.8 Desenvolvimento Urbano Até 2004..............................................................65
3.2 Uso e Ocupação do Solo de 1972 a 2004 ...............................................................69
3.3 Perspectivas do Crescimento Urbano em Ipatinga..................................................74
3.4 Vetores do Crescimento da Cidade ........................................................................87
4. CONCLUSÃO ........................................................................................................91
5. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS.....................................................................92
13
1 INTRODUÇÃO
O grande desafio desse milênio é buscar o equilíbrio entre o desenvolvimento
socioeconômico e a preservação dos recursos naturais. O crescimento das cidades e a
formação dos aglomerados urbanos mudaram a concepção de gestão administrativa
urbana. As cidades estão interligando-se através do crescimento, transpondo barreiras
naturais. O surgimento de problemas gerados por cidades circunvizinhas levam os
setores públicos a terem uma visão macro-administrativa, tentando minimizar
problemas que não influenciavam sua cidade, mas que com a expansão urbana sem
direção, interligou cidades a ponto de não conseguir distinguir mais os divisores entre
elas.
Pode-se citar como exemplo a área delimitada para estudo dessa pesquisa, a
cidade de Ipatinga, que esta inserida na Região Metropolitana do Vale do Aço, na
Mesorregião do Rio Doce. A Região Metropolitana do Vale do Aço (RMVA) é um
conglomerado urbano formado pelas cidades de Coronel Fabriciano, Ipatinga, Santana
do Paraíso e Timóteo, que apresentam vários problemas devido ao intenso crescimento
a partir da instalação da década de 50 e 60 de duas grandes siderúrgicas: a ACESITA
em Timóteo e a USIMINAS em Ipatinga, constituindo-se em mola propulsora da
expansão urbana dessa região.
Por ser residente na cidade de Ipatinga, vivenciei de perto os conflitos urbanos
decorrentes do crescimento acelerado e desordenado da cidade; tendo trabalhado na
infra-estrutura viária local, executei projetos de pavimentação, infra-estrutura sanitária e
pluvial em Ipatinga e região. Portanto, acompanhei de perto os problemas
14
socioambientais existentes em vários bairros.
Tais problemas são decorrentes do uso e ocupação de forma desordenada e do
crescimento demográfico acelerado desde o início da construção da cidade, além da
invasão por parte da população de locais impróprios para habitação.
A relevância do presente estudo sobre a região de Ipatinga e o processo de
urbanização especificamente, contribui para o entendimento do processo de evolução
temporal da expansão urbana e seus reflexos no uso dos solos.
Recentemente, com o Estatuto das Cidades, que obriga toda cidade com mais de
20.000 habitantes a elaborar um plano diretor, a prefeitura tomou providências no
intuito de elaborar tal planejamento para ordenar o desenvolvimento da cidade. O
processo de elaboração do Plano Diretor de Ipatinga contou com a participação de todos
os níveis da sociedade, sendo finalizado e promulgado em outubro de 2006. Esse plano
elaborado pela administração pública suscitou questões polêmicas, como as zonas
propostas para uma possível expansão urbana.
Diante disto, os objetivos da presente pesquisa foram:
- Traçar um histórico da expansão urbana de Ipatinga analisando como se deu
o crescimento da mancha urbana do município no período de 1952 a 2004,
podendo assim, identificar os vetores de crescimento da cidade;
- Analisar o uso e ocupação do solo urbano nos anos de 1972 e 2004 com o
objetivo de avaliar como o crescimento urbano afetou os recursos naturais;
- Analisar as zonas de expansão urbanas propostas pelo Plano Diretor de
Ipatinga.
1.1 Material e métodos
1.1.1 Análise da expansão urbana
Foram gerados mapas temporais do desenvolvimento urbano da cidade em
arquivo shape file através dos arquivos de cad cedidos pela Prefeitura Municipal de
Ipatinga, o que possibilitou uma análise da direção dos vetores de crescimento da
cidade.
15
1.1.2 Mapeamento do uso e cobertura do solo
Criou-se também, mapas temporais do uso e ocupação dos solos, por meio de
interpretação de ortofotocartas de 1972 e uma imagem de satélite Ikonos de 2004,
assim, puderam-se verificar quais mudanças ocorreram nesse espaço de tempo na
ocupação da cidade.
1.1.3 Avaliação das zonas de expansão do Plano Diretor
Analisou-se o mapa de expansão urbana desenvolvido pela Prefeitura Municipal
de Ipatinga inserido no Plano Diretor.
A dissertação baseou-se ainda, em pesquisa bibliográfica, leitura e seleção do
material. O levantamento bibliográfico consistiu na compilação de dados estatísticos e
cartográficos produzidos por diversos órgãos, como: IBGE – Instituto Brasileiro de
Geografia e Estatística; INMET – Instituto Nacional de Metereologia; CETEC – Centro
Tecnológico de Minas Gerais e IGA – Instituto de Geografia Aplicada.
16
2 REVISÃO DE LITERATURA
2.1 O Arranjo Regional de Ipatinga
Segundo o IBGE (2000), o estado de Minas Gerais é dividido em doze
mesorregiões subdivididas em microrregiões. De acordo com a Constituição Brasileira
de 1988, as microrregiões são agrupamentos de municípios limítrofes, com a finalidade
de integrar a organização, o planejamento e a execução de funções públicas de interesse
comum, definidas por lei complementar estadual.
A mesorregião do Rio Doce é dividida em 7 microrregiões, sendo a microrregião
de Ipatinga composta por 13 municípios, que apresentam características ambientais e
socioeconômicas semelhantes. (Tabela 1)
17
TABELA 1: Municípios que formam a Messoregião do Vale do Rio Doce
MICRORREGIÃO MUNICIPIOS
Mantena Central de Minas, Itabirinha de Mantena, Mantena, Mendes Pimentel, Nova Belém, São Félix de Minas e São João do Manteninha.
Peçanha Água Boa, Cantagalo, Frei Lagonegro, José Raydam, Peçanha, Santa Maria do Suaçuí, São José do Jucuri, São Pedro do Suaçuí e São Sebastião do Maranhão.
Aimorés
Aimorés, Alvarenga, Conceição de Ipanema, Conselheiro Pena, Cuparaque, Goiabeira, Ipanema, Itueta, Mutum, Pocrane, Resplendor, Santa Rita do Itueto e Taparuba.
Ipatinga
Açucena, Antônio Dias, Belo Oriente, Coronel Fabriciano, Ipatinga, Jaguaraçu, Joanésia, Marliéria, Mesquita, Naque, Periquito, Santana do Paraíso e Timóteo.
Guanhães
Braúnas, Carmésia, Coluna, Divinolândia de Minas, Dores de Guanhães, Gonzaga, Guanhães, Materlândia, Paulistas, Sabinópolis, São João Evangelista, Sardoá, Senhora do Porto, Santa Efigênia de Minas e Virginópolis.
Caratinga
Bom Jesus do Galho, Bugre, Caratinga, Córrego Novo, Dom Cavati, Entre Folhas, Iapu, Imbé de Minas, Inhapim, Ipaba, Piedade de Caratinga, Pingo-D’Água, Santa Bárbara do Leste, Santa Rita de Minas, São Domingos das Dores, São João do Oriente, São Sebastião do Anta, Tarumirim, Ubaporanga e Vargem Alegre.
Governador Valadares
Alpercata, Campanário, Capitão Andrade, Coroaci, Divino das Laranjeiras, Engenheiro Caldas, Fernandes Tourinho, Frei Inocêncio, Galiléia, Governador Valadares, Itambacuri, Itanhomi, Jampruca, Marilac, Mathias Lobato, Nacip Raydam, Nova Módica, Pescador, São Geraldo da Piedade, São Geraldo do Baixio, São Jose da Safira, São José do Divino, Sobrália, Tumiritinga e Virgolândia.
FONTE: www.almg.gov.br.
18
2.2 A Formação da Mesorregião do Rio Doce
A região do Vale do Rio Doce foi um dos últimos locais a serem desbravados no
interior de Minas Gerais. Uma das primeiras frentes de povoamento surgiu após a
descoberta do ouro em um dos seus principais afluentes, o Rio Piracicaba. Mesmo
assim, o processo de ocupação ocorreu lentamente (GUERRA, 2001). Em toda a
extensão do Rio Doce existia uma densa floresta, com terrenos acidentados formando
uma proteção natural a invasões. Diversos relatos reportam à presença de índios
Aimorés e nômades Botocudos, que circulavam por toda a região.
As primeiras minas foram encontradas no início do século XVII e os caminhos em
direção ao litoral tornaram-se mais acessíveis, através de Borda do Campo, atual
Barbacena, alcançando o Rio de Janeiro. Os primeiros arraiais foram surgindo, apesar
das adversidades derivadas da falta de infra-estrutura que possibilitasse uma
alimentação adequada à sobrevivência dos mineradores e condições para enfrentar as
epidemias. Surgem: Ouro Preto, Antônio Dias, Padre Faria, Bandeirantes e muitos
outros povoados ao longo do Ribeirão do Carmo. O Leste de Minas Gerais começava a
ser povoado (PIMENTA, 1970).
A febre da procura de jazidas de ouro e pedras preciosas fez com que
desbravadores intensificassem a navegação na região. Como a mesma estava proibida
no Rio Doce, a solução encontrada foi utilizar a descida de um de seus principais
afluentes, o Rio Piracicaba. O ouro foi descoberto nas cabeceiras desse rio, em finais do
século XVII e início do século XVIII, com a chegada das primeiras expedições de
bandeirantes paulistas. No início do século XVIII, foram fundados arraiais que deram
origem às cidades de Catas Altas, Santa Bárbara, Nova Era, Itabira e Antônio Dias
(GUERRA, 2001). Ao longo deste processo os conflitos entre colonizadores e índios
aumentaram consideravelmente, levando ao extermínio em massa dos povos nativos.
Com a decadência do ciclo ouro no final do século XVIII, a Coroa procurou
outras fontes para seus ganhos. O Barão Eschwege, que descrevera o massacre dos
índios, foi fundamental para o início da exploração de minério de ferro na região.
Quando chegou ao Brasil, estabeleceu-se na região das cabeceiras do Rio Doce, onde
acompanhava e orientava os visitantes e as missões na região. Deixou uma vasta obra
sobre cartografia e descreveu em 1833:
19
A freqüência de minério de ferro na província de Minas gerais, na qual se apresenta verdadeiras cadeias de montanhas, nas proximidades de muitos cursos de água que correm por todos os vales e gargantas, facilita muito a escolha de um lugar para o estabelecimento de instalações para fundição. (DIÁRIO DO AÇO, 29/04/2004, p.10).
Antevendo esse desenvolvimento fundiário, o engenheiro Jean Antonie de
Monlevade, trouxe maquinarias para iniciar o processo de fundição em Minas Gerais,
fato que seria relevante para o futuro da região. Logo, muitas forjarias e fábricas de
ferro se instalaram em Minas Gerais, uma grande porção na região do Rio Doce.
Os habitantes desse local se voltaram para o corte da madeira, devastando as
florestas, isso também ocorreu em virtude da formação de pastagens, alterando o tipo de
cobertura vegetal do médio Rio Doce (TEIXEIRA, 2002).
A Mata Atlântica cobria grande parte da região do médio Rio Doce. Sua
exuberância fora descrita por pesquisadores europeus e brasileiros, dentre os quais
podemos citar o geólogo e engenheiro de minas alemão Eschwege (1944). Como já foi
dito anteriormente, em virtude da devastação das florestas, outros problemas ambientais
surgiram, como, erosão do solo, esgotamento das minas, mudanças climáticas, escassez
de água, preconizando os impactos futuros.
Devido à sua longa extensão territorial, Minas Gerais necessitava de ligações com
os portos para o escoamento de sua produção. Para permitir o escoamento foi traçado
um caminho de ligação entre Minas Gerais e o Espírito Santo. A expedição que viajou
pelo interior de Minas, apresentou no relatório a indicação de que os trilhos deveriam
margear o Rio Doce. A idéia inicial era de ligar Vitória à Diamantina, mas, com o
descobrimento de minério de ferro na região de Itabira, esse traçado foi mudado para
garantir o escoamento da produção de minério da região. Atualmente, os trilhos ligam a
capital do Espírito Santo (Vitória) à capital mineira (Belo Horizonte). A ferrovia
transporia os mares de morro de Minas Gerais para ligar o litoral capixaba
(TEIXEIRA, 2002).
A construção da estrada iniciou-se em meados de 1903, abrindo caminho para as
Minas. Em 1904, o primeiro trecho já estava inaugurado, ainda no Espírito Santo, e em
1907, a ferrovia chegou à divisa com Minas Gerais. Além da falta de verba, a geografia
do terreno muitas vezes era um empecilho a ser vencido, as matas fechadas, junto com o
clima tropical quente, era o foco para várias doenças tropicais, o que exigia a renovação
de mão-de-obra. Os trabalhadores vinham de diversas partes do país, principalmente do
nordeste. Com a passagem dos trilhos, os lugarejos iam se formando, e logo depois se
20
tornariam as cidades que formam o eixo Vitória-Minas (MAYRINK, 2002) (Tabela 2).
TABELA 2: Cidades que formam o eixo Vitória-Minas (COMPANHIA VALE DO RIO DOCE, 2003)
Estação Áreas de
conclusão do trecho
km Município Ano de Cr iação
Colatina 1906 154 - 1921
Baixo Guandu 1907 202 - 1935
Natividade 1907 208 Aimorés 1916
Itueta 1927 - 1945
Resplendor 1908 245 - 1938
Lajão 1908 277 Conselheiro
Pena 1938
Figueira 1910 359 Governador Valadares
1937
Ipaba 1922 460 Inhapim (atual Ipaba – 1995)
1938
Ipatinga 1922 475 - 1962
Raul Soares 1924 492 Coronel
Fabriciano 1948
Antônio Dias 1924 531 - 1911
São José da Lagoa
1936 561 Nova Era 1938
Presidente Vargas
1943 593 Itabira 1838
As ferrovias são de vital importância para o desenvolvimento das cidades pelas
quais elas passam, pois favorecem a locomoção das pessoas, bem como a economia.
(ANDRADE, 1997). Foi o que aconteceu com a Estrada de Ferro Vitória-Minas
(EFVM). Muitas cidades desenvolveram-se nas margens de seus trilhos, que serviam
21
para o escoamento da produção de vários produtos, principalmente o minério de ferro e
as madeiras para suprir a demanda energética das usinas. A construção da EFVM foi
vital para o crescimento da região do Rio Doce.
As regiões de Figueira do Rio Doce (atual Governador Valadares), Aimorés e
Baixo Guandu, formavam áreas de desmatamento para implantação da indústria
madeireira e atividades agropecuárias, consolidando a ocupação do espaço urbano
nesses locais (TEIXEIRA, 2002).
A região do baixo Piracicaba, atual Vale do Aço, sofrera influência econômica
tanto da região de João Monlevade, devido à necessidade de carvão vegetal para suprir a
demanda de abastecimento da recém criada Companhia Belgo-Mineira, quanto da
região da Figueira do Rio Doce, que por sua vez, necessitava de uma demanda de
madeiras para sanar a demanda exigida pela grande quantidade de serrarias que ali se
instalaram (GUERRA, 2001).
Grande fluxo migratório direcionou-se para a região do médio Rio Doce, pessoas
de várias nacionalidades, vinham em busca de uma vida melhor, ou simplesmente,
fugindo das guerras na Europa. (TEIXEIRA, 2002).
2.3 Formação da Região Metropolitana do Vale do Aço
Com a conclusão da estrada de ferro Vitória-Minas, estava consolidado o eixo de
ligação entre Minas e Espírito Santo para poder escoar a produção de minério de ferro
da região de Itabira. A concessão de exploração de minério de ferro estava de posse de
grupos ingleses, que formaram o Brazilian Hematite Syndicate, um sindicato que
adquiriu a maioria das ações da Vitória-Minas. Este sindicato criou a Itabira Iron Ore
Company, para explorar e exportar minério de ferro da região. Seu funcionamento
durou até 1930, quando o presidente Getúlio Vargas indenizou o grupo e decretou a
nacionalização do transporte, extração e exploração do minério de ferro
(MURTA, 2004).
Muitas siderúrgicas de carvão vegetal instalaram-se em torno do eixo da ferrovia,
sendo que a Siderúrgica Belgo Mineira, em João Monlevade, foi uma das mais
importantes no ano de 1936. Posteriormente, implantaram-se na região a ACESITA e a
USIMINAS, em 1945 e 1962. Outro fator relevante foi à aquisição de uma grande
22
extensão de área pela Companhia Belgo Mineira, com o objetivo de explorar as matas
ali existentes para a obtenção de carvão vegetal. (COSTA, 1979).
A abundância de reservas florestais e a necessidade de crescimento econômico
fizeram com que os governos federal e estadual apoiassem o financiamento para a
construção de novas usinas. A construção da ACESITA deu-se em 1944, no Distrito de
Timóteo. Surgia o início da ocupação da região do Vale do Aço. (MURTA, 2004).
O distrito de Coronel Fabriciano já existia desde 1928, com a instalação de um
lugarejo às margens da estação Pedra Mole, aonde as pessoas tinham suas casas e
trabalhavam na extração de madeira para suprir a demanda das serrarias de Figueiras do
Rio Doce (Governador Valadares) e a usina de carvão vegetal da Belgo Mineira em
João Monlevade. Em função destes eventos de grande porte, o fluxo migratório para a
região foi intenso à procura de emprego nas siderúrgicas recém inauguradas, e na
extração de carvão vegetal. As pessoas da região rural e até mesmo de outras
localidades do país intensificavam esse fluxo (MURTA, 2004).
Os imigrantes que não conseguiam empregos na recém inaugurada usina
instalaram suas residências em Coronel Fabriciano. A Companhia Siderúrgica Belgo-
Mineira e a ACESITA, detinham grandes áreas na região para extração de carvão
vegetal e construção de moradia para seus funcionários. Surge um fenômeno destacado
por Costa (1979), que influenciaria o crescimento da região do Vale do Aço: “o controle
efetivo da terra de expansão urbana exercido pela siderúrgica” . Mesmo se os
funcionários quisessem adquirir uma porção de terra perto da USIMINAS, isso era
inviável, devido às áreas serem de propriedade da mesma.
Na figura 1 pode-se observar que no Censo Demográfico de 1950 e 1960 foi
observado que a população de Coronel Fabriciano apresentava uma população urbana
superior às outras duas cidades (Ipatinga e Timóteo) do Aglomerado Urbano do Vale do
Aço (AUVA). Essa diferença deve-se ao critério utilizado na época, em que eram
considerados “habitantes urbanos aqueles que residiam na sede do município ou nas
sedes de seus Distritos” (COSTA, 1979). Contudo, nos Censos da década seguinte, esse
quadro já tinha se modificado, o gráfico mostra que a cidade de Timóteo teve um forte
crescimento populacional urbano na década de cinqüenta com a consolidação do projeto
siderúrgico da ACESITA. A instalação de seus funcionários nas proximidades da fábrica
foi determinante para esse crescimento (COSTA, 1979).
23
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50
100
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200
250
1950 1960 1970 1980 1990 2000
Ano Censitário
Pop
ulaç
ão M
unic
ipal
(x
1000
hab
itant
es)
Coronel FabricianoIpatingaTimoteoSantana do Paraiso
FIGURA 1: Crescimento populacional do aglomerado urbano do Vale do Aço. (IBGE – CENSO DEMOGRÁFICO DE MINAS GERAIS).
Em relação à cidade de Coronel Fabriciano, esta desempenhava um papel de
“principal centro terciário do Vale do Aço” . A mão-de-obra excedente instalava-se na
cidade à procura de novas fontes de sobrevivência, além de desempenhar a função de
“cidade dormitório” para os funcionários das sub-empreiteiras que executavam serviços
para a ACESITA, com isso, seu crescimento foi muito acima dos padrões observados
em outras cidades de mesmo porte no Brasil, mesmo sem ter uma atividade econômica
dinâmica (COSTA, 1979).
Já Ipatinga apresentou um relevante crescimento da população urbana, apesar da
distância do centro de Timóteo. Esse crescimento populacional ocorreu devido ao
aumento dos funcionários que trabalhavam na extração de madeira para produção de
carvão vegetal, para atender à demanda da siderúrgica (COSTA, 1979).
Porém, na década de 60, ocorreria uma nova modificação nesse quadro de
crescimento populacional urbano, com a aprovação do projeto de implantação de uma
siderurgia em Minas Gerais, no caso a USIMINAS.
24
O local escolhido para a implantação dessa siderúrgica foi o Distrito de Ipatinga,
pertencente à cidade de Coronel Fabriciano. Tal escolha ocorreu devido a vários fatores,
conforme relato de Vasconcelos (2002):
Coube a Ipatinga sediar a grande usina, devido a vantagens relacionadas a critérios de localização (proximidade da matéria proveniente da região de Itabira, que dista pouco mais de 100 km e a facilidade de escoamento da matéria-prima e do aço a ser produzido, através da Estrada de Ferro Vitória-Minas) e de condições físico-geográficas como topografia altamente favorável, constituída em mais de 50%, por amplas planícies, além de áreas circundantes com declividades baixas a médias e solos, a princípio, apropriados para fundações. Para completar o quadro, a energia elétrica necessária seria produzida na Usina Hidrelétrica de Salto grande, construída pela CEMIG na confluência próxima dos rios Santo Antonio e Guanhães. (VASCONCELOS, 2002:6)
Iniciou-se a construção da siderúrgica no início da década de 60, mesmo com
dificuldades para a obtenção de materiais e mão-de-obra, pois Brasília consumia toda a
atenção na época. Nessa época, o fluxo migratório para Ipatinga foi de pessoas que
residiam principalmente nas zonas rurais próximas a Ipatinga que no intuito de melhorar
de vida, procuravam emprego nas empreiteiras que construíam a nova siderúrgica.
(MURTA, 2004).
Esse fato teve reflexo na dinâmica populacional da região que pode ser constatado
pelo censo da década de 70, em que Ipatinga apresenta a maior população urbana, do
Aglomerado Urbano do Vale do Aço (AUVA).
A diminuição na taxa de crescimento populacional urbano de Timóteo, fato que
pode ser creditado ao controle das terras pela ACESITA, limitou a expansão da cidade.
O crescimento do setor terciário de Timóteo é relevante, mas ainda inferior à cidade de
Coronel Fabriciano, aspecto que pode ser atribuído à localização de Coronel Fabriciano,
que é intermediária entre as cidades de Ipatinga e Timóteo, funcionando como setor
terciário, dormitório e periferia pobre da população urbana, recebendo somente os
efeitos negativos da expansão. Ipatinga desenvolveu-se em todos os setores, firmando-
se como maior pólo industrial e populacional da região. (COSTA, 1979).
Para Costa (1979) há predomínio das siderúrgicas ACESITA e USIMINAS na
orientação do crescimento das cidades da AUVA de acordo com seus interesses. No
entanto, no início da década de 70, ocorre nova transformação no contexto do AUVA
com a construção da fábrica de Celulose Nipo-Brasileira S.A. (CENIBRA), no
25
município de Belo Oriente. A junção das grandes áreas de reflorestamento de eucalipto
da Companhia Vale do Rio Doce (CVRD) com o capital japonês, proporcionou o
surgimento de uma grande fábrica de celulose às margens da EFVM.
A disposição das fábricas e siderúrgicas – AÇOMINAS, CSBM, ACESITA,
USIMINAS e CENIBRA – ao longo dessa ferrovia demonstra a importância da mesma
na formação e ocupação da região do Vale do Aço (Figura 2).
FIGURA 2: Disposição em 2007 das fábricas e siderúrgicas AÇOMINAS, CSBM, ACESITA, USIMINAS E CENIBRA no eixo da Estrada de Ferro Vitória-Minas.
Apesar da construção da fábrica da CENIBRA ser no município de Belo Oriente,
sua implantação influenciou na expansão da cidade de Ipatinga, já que os funcionários
mais graduados dessa fábrica de celulose optaram por residir com suas famílias na
cidade, que apresenta melhores condições de infra-estrutura.
26
Na década de 70, período intitulado o “milagre econômico” , a USIMINAS foi
essencial no fornecimento de insumo básico para a reativação da indústria pesada no
país. Com isto, a população urbana de Ipatinga triplicou em 10 anos. Um fator que
direcionou o crescimento urbano da cidade foi a especulação imobiliária, já que a
USIMINAS que é proprietária de uma faixa de terra entre o local da fábrica e o rio
Piracicaba não cedia para a expansão imobiliária, algumas áreas das fazendas
localizadas no sentido sudoeste da cidade foram transformadas em loteamentos, à
medida que sofria pressão urbana para o desenvolvimento da cidade. Nesse contexto, a
cidade se expandia principalmente no sentido do distrito de Santana do Paraíso, ainda
pertencente ao município de Mesquita.
A década de 80 foi marcada por uma profunda recessão que assolou o país,
gerando instabilidade financeira, que resultou em uma crise no setor da indústria com
reflexos no setor imobiliário. Ocorreram ajustes nas siderúrgicas da região e como
conseqüência, muitas demissões foram feitas para adequar o quadro de funcionários à
nova realidade do mercado. Ao analisarmos o crescimento da população urbana em todo
o AUVA, observou-se uma desaceleração no crescimento populacional nos anos 80 em
relação às décadas anteriores, conforme apresentado anteriormente na figura 1.
A década de 90 foi marcada pelo início do processo de privatização de várias
empresas, sendo a USIMINAS a primeira a passar por este processo. Foi um novo ciclo
na história dessa empresa. (http://www.usiminas.com.br/Secao/0,3381,1-1628,00.html).
A emancipação da cidade de Santana do Paraíso ocorrida em 1992, também foi
um fator que marcou o AUVA. Sua expansão urbana deve-se ao acelerado crescimento
urbano de Ipatinga, que apresenta uma densidade habitacional muito alta, em torno de
1.300 hab./km-2. Do ponto de vista fisiográfico e de uso e ocupação do solo, o sítio de
expansão urbano de Ipatinga está saturado, sem grandes áreas adequadas para
loteamentos, o que se reflete nas bordas de limites com Santana do Paraíso.
A especulação imobiliária e a carga tributária elevada em Ipatinga fizeram com
que Santana do Paraíso se tornasse atrativa para pequenas indústrias em seu distrito
industrial, além da localização do aeroporto utilizado pela USIMINAS e loteamentos
que bordejam os limites com Ipatinga.
Mesmo com um crescimento tímido, comparados há anos anteriores, a população
da região do Vale do Aço continuou crescendo entre os anos 1991 e 2000 (Figura 1).
Em 30 de setembro de 1998, foi publicado no Diário Oficial do Estado de Minas
Gerais (site: http://www.urbano.mg.gov.br/lc_90.pdf), a Lei Complementar nº. 51, no
27
seu artigo 1º, instituía a Região Metropolitana do Vale do Aço (RMVA), integrada
pelos municípios de Coronel Fabriciano, Ipatinga, Santana do Paraíso e Timóteo. No
seu artigo 9º os municípios de Açucena, Antônio Dias, Belo Oriente, Braúnas, Bugre,
Córrego Novo, Dom Cavati, Dionísio, Entre Folhas, Iapu, Ipaba, Jaguaraçu, Joanésia,
Marliéria, Mesquita, Naque, Periquito, Pingo D’Água, São José do Goiabal, São João
do Oriente, Sobrália e Vargem Alegre constituem o Colar Metropolitano e integram o
planejamento, a organização e a execução das funções públicas de interesses comuns.
FIGURA 3: Região Metropolitana do Vale do Aço. Fonte: www.ipatinga.mg.gov.br.
28
A cidade de Santana do Paraíso foi incluída no Aglomerado Urbano do Vale do
Aço, que passara a ser denominado Região Metropolitana do Vale do Aço
(www.ipatinga.mg.gov.br, 2006).
Dados do IPEA (2002) mostram que essa região está situada na 39ª posição na
rede urbana brasileira, sendo a segunda mais importante de Minas Gerais ficando, atrás
apenas de Belo Horizonte.
2.4 Localização de Ipatinga
O município de Ipatinga está situado na região leste do estado de Minas Gerais, na
mesorregião do vale do rio doce, inserido no AUVA (IBGE, 2003).
As coordenadas geográficas são: 42º32’30” de latitude oeste e 19º29’30” de
latitude sul na sede do município, distante 205 km da capital mineira Belo Horizonte. A
altitude média é de 245 metros acima do nível do mar em sua sede administrativa. A
área do município é de 166,5 km2, sendo 74,0 km2 de área urbana e 92,5 km2 de área
rural, com 46 bairros e 01 distrito industrial (Prefeitura Municipal de Ipatinga, 2006).
Segundo o IBGE (2003) a população de Ipatinga é predominantemente urbana,
pois verifica-se que 212.376 habitantes residiam na área urbana, e apenas 1.599
habitantes residiam na área rural.
O município é banhado pelo ribeirão Ipanema, que deságua no Rio Doce, estando
situado à margem esquerda do rio Piracicaba, que é um outro afluente do Rio Doce.
(IGA, 1999).
2.5 Aspectos históricos de Ipatinga
É de fundamental importância fazer o histórico da cidade de Ipatinga levando em
consideração a trajetória da USIMINAS nesse contexto. O surgimento e o
desenvolvimento da cidade foram fortemente marcados pela siderúrgica, que exerce
influência em todos os níveis sociais, políticos e econômicos da população da cidade.
Esta dependência define Ipatinga como uma cidade monoindustrial, que tem
características particulares e interdependentes.
29
Ipatinga antes da implantação da USIMINAS apresentava apenas um aglomerado
de moradores que trabalhavam na extração de carvão para suprir a demanda energética
das siderúrgicas da Belgo-Mineira, em João Monvelade, e da ACESITA, em Timóteo,
além das serrarias na região das Figueiras do Rio Doce.
Com o início das atividades industriais da USIMINAS no ano de 1962, surgiu
uma pressão dos moradores de Ipatinga, para que o então distrito de Coronel Fabriciano
se emancipasse, tornando-se uma cidade. Com isso, vários conflitos políticos
ocorreram, pois financeiramente, Coronel Fabriciano perderia uma indústria geradora de
renda e empregos. Apesar desta disputa, Ipatinga alcançou sua emancipação político-
administrativa em 28 de abril de 1964, através da Lei nº. 2764.
Segundo Frizzera & Mata Machado (1987), a escolha da localização da
USIMINAS em Ipatinga foi tomada pelos japoneses em comum acordo com os
mineiros. Também são fatos relevantes para essa escolha as condições do local, cuja
topografia dos terrenos era apropriada, com planos que facilitariam a terraplanagem, e
não envolveria muita movimentação de terra; os solos, com 35 metros de areia
compacta (dados encontrados por sondagens) eram excelentes para a fundação e a água
farta devido à localização próxima ao encontro dos rios Piracicaba e Doce.
Existia, ainda, a facilidade de transporte representada pela EFVM; a existência da
estação hidrelétrica de Sá Carvalho, na foz do rio Santo Antônio, para suprir a demanda
de energia e; a proximidade da usina da ACESITA, em Timóteo (RUEDA & NAHAS
Jr., 1991). O local para a implantação da USIMINAS fora negociado com a Belgo-
Mineira, que detinha grandes porções de terra na região, inclusive a área onde hoje está
instalada (MURTA, 2004).
Em 25 de maio de 1956, a USIMINAS, se constituiu após contato com o Japão. A
construção iniciou-se em agosto de 1958, sendo inaugurado em outubro de 1962
(RUEDA & NAHAS JR., 1991).
O início da construção da USIMINAS ocasionou um fluxo de migração para a
cidade que era habitada predominantemente por trabalhadores da extração de carvão
vegetal para as usinas da CSBM e para ACESITA (RUEDA & NAHAS Jr., 1991).
O fluxo de pessoas que foram atraídas pela oportunidade do emprego resultou em
problemas sociais e habitacionais que até hoje são vistos em Ipatinga. Parte das famílias
que não conseguiram retornar para suas cidades de origem, instalaram-se em locais
inadequados, de forma desorganizada, como no relato abaixo:
30
Esse foi o princípio da USIMINAS e, em seguida, a chegada das empreiteiras. Aquele enxame de empreiteiras! Elas trouxeram muita gente de fora, porque aqui não havia pessoal suficiente. E não tinha jeito certo pra chegar gente. Chegava de trem, chegava de caminhão, chegava a pé (...). Nessa época, nós tínhamos, mais ou menos uns 3.000 a 3.700 habitantes. Não havia serviço para todo mundo, mas o pessoal vinha. Então a região ficou cheia. Virou uma verdadeira confusão. E a população foi crescendo de modo desorganizado porque um chegava, fincava uma barraca aqui, outro chegava, fincava outra barraca ali. Era um quadro bastante pesado (ANÍCIO in FRIZZERA & MATA MACHADO, 1987:9).
Assim, era preciso um projeto de urbanização para solucionar esses problemas e
para facilitar a vida dos trabalhadores da usina. Então, Verano (chefe da construção da
usina) assumiu a coordenação de tarefas para a construção da cidade. Logo, uma equipe
de arquitetos foi incumbida de planejar Ipatinga e esboçaram uma cidade com bairros
separados, distantes da usina (MURTA, 2004). Contudo, isso ocasionou outros
problemas, como, por exemplo, o desagrado da população em relação à dissociação do
núcleo da usina e pólo comercial com os bairros, bem como a proposta para construção
de modalidades de residências diferentes de acordo com a hierarquia que exerciam na
usina. Os operários sentiam-se incomodados com essa proposta, e gradativamente o
planejamento foi sendo modificado a fim de atender as demandas da população local.
A cidade é uma expressão da USIMINAS em maior grau, em virtude da
dependência que a cidade tem em relação à usina. Os bairros se desenvolveram dentro
do ritmo e de critérios da USIMINAS, que é proprietária de parte das terras. Houve
também a hierarquização do setor habitacional, que é um fato observado no processo de
expansão urbana do município.
A chegada da USIMINAS à região incipiente em termos de urbanização fez com
que a empresa se tornasse um poderoso componente do poder local, tendo em vista os
investimentos e bens que propicia a região.
No entanto, esse causou uma segregação espacial, dando origem a ‘duas cidades’ :
uma ligada à empresa, planejada, onde moram os trabalhadores e outra formada a partir
dos fluxos migratórios geralmente atraídos pela possibilidade de trabalho. Obviamente a
‘cidade’ que recebe melhor infra-estrutura, que conta com os melhores serviços
urbanos, centro de comércio, onde reside a população de alta renda é a parcela ligada à
empresa USIMINAS. De acordo com BRAGA (2000-A) há uma cidade privada (ligada
à USIMINAS) e cidade pública formada por migrações.
31
Essa divisão agrava-se devido ao crescimento populacional desuniforme,
demandando sistemas de captação e tratamento de água e de esgotos sanitários,
moradias, saúde, educação, segurança e o estrangulamento do sistema viário, gerando
problemas de transporte até mesmo para a siderurgia.
A disposição dos bairros de Ipatinga, em 2004, está apresentada na figura 4.
33
O núcleo inicial da Vila Operária da USIMINAS corresponde atualmente aos
bairros Castelo, Cariru, Bom Retiro, Horto, Imbaúbas onde se instalaram dirigentes,
engenheiros, funcionários, técnicos de nível médio e operários que trabalharam na
primeira fase operacional da Usina Intendente Câmara. Em 1970, já haviam sido
construídas mais de 3.000 casas nos referidos bairros. (VALE DO AÇO, 2000)
Esses bairros projetados apresentavam infra-estrutura para suprir a necessidade
dos funcionários/moradores, enquanto a cidade pública se expandia de forma
marginalizada, desordenada, com deficiência no saneamento e ordenação do uso e
ocupação do solo, o que no presente ocasiona ônus para o município. As diferenças
sociais e econômicas ocasionaram problemas de distanciamento e integração entre os
moradores que trabalhavam na USIMINAS dos demais moradores da cidade.
Vale ressaltar que, gradativamente, à medida que o índice populacional foi
crescendo, a USIMINAS foi tomando providências para sanar os problemas urbanos,
como a construção do Hospital Márcio Cunha, inaugurado em 1º de maio de 1965
(PINTO in FRIZZERA & MATA MACHADO, 1987). O fato é que a partir da
necessidade de infra-estrutura para os funcionários, a USIMINAS buscava sanar esse
déficit.
No sentido de minimizar o déficit populacional em Ipatinga, a Prefeitura
Municipal, junto com empresas particulares – construtoras e imobiliárias – executaram
diversos empreendimentos imobiliários e loteamentos, parcelando a cidade. Os bairros
Bom Jardim, Vila Celeste, Iguaçu, Canaã, Bethânia, Veneza, Jardim Panorama e Cidade
Nobre surgiram sem influência direta da USIMINAS, nas décadas de 60, 70 e 80.
Em trinta anos, a partir da década de 50, Ipatinga atingiu a maior população do
aglomerado urbano do Vale do Aço (AUVA), com um crescimento de 600% na sua
população. A cidade privada com completa infra-estrutura tinha uma participação de
26% na população urbana, enquanto a cidade pública contava com 74% desse total
(COSTA, 1979).
O início dos anos 80 apresentou um processo de mudança na vida sindical de
Ipatinga, que iria influenciar o panorama da cidade. Um chapa de oposição, filiada à
CUT (Central Única dos Trabalhadores), dotada de uma “visão de classe e orientação
política” surgiu no processo de conscientização do operariado a respeito da política de
convencimento implementada pela empresa e da cooptação realizada pelo sindicato
oficial. Mesmo derrotada na eleição e com toda sua executiva sendo demitida
34
posteriormente à eleição, a “semente vermelha socialista” foi depositada
(BRAGA, 1996).
Aliando-se às associações de bairro e comunidades eclesiais de base, os integrantes demitidos da Oposição Sindical falam abertamente sobre a submissão cultural empreendida pela empresa, sobre a falta de liberdade e medo presente no cotidiano dos funcionários da usina, e sobre o sentimento de inferioridade social dos excluídos. (BRAGA, 1996)
A promulgação da Constituição de 1988, que promovia a maior participação do
Estado e dos municípios na arrecadação do ICMS e a eleição do Partido dos
Trabalhadores, na eleição do mesmo ano, geraria uma mudança sócio-espacial nos
rumos da administração da cidade, antes voltada aos interesses da USIMINAS.
A gestão petista teve como objetivo atender às necessidades da cidade pública,
antes excluída, contando com a participação da população nas diretrizes tomadas para a
administração da cidade.
A conexão entre as duas cidades foi de extrema importância para uma parcela dos
funcionários da USIMINAS se “misturarem” nos bairros da cidade pública, que
passaram a contar com investimentos públicos em todos os setores básicos para a
melhoria de vida da população, como infra-estrutura viária, acesso à saúde,
abastecimento de água tratada, coleta de lixo, coleta e tratamento do esgoto sanitário e
acesso à cultura, com vários projetos sociais.
A “ inversão de prioridades” produziu seus frutos, “como a diversificação
econômica e a melhoria da qualidade de vida na cidade pública refletiram-se na cultura
local, fomentando sentimentos de inclusão social dos ‘não-USIMINAS’ ”
(BRAGA, 1996).
Muitos conflitos no âmbito ambiental foram discutidos, como a implantação de
filtros para amenizar a emissão de gases dos altos fornos e o plantio de árvores para
formar um cinturão verde nos arredores da USIMINAS, o que possivelmente
proporcionou melhorias para toda a população de Ipatinga, que ainda teve mais duas
administrações do Partido dos Trabalhadores, que se mostraram distintas, mas sempre
buscando melhorias para a cidade junto à USIMINAS, que é de suma importância como
parceria para uma boa administração.
35
2.6 Características do meio físico
2.6.1 Geologia
A cidade de Ipatinga localiza-se geologicamente em terrenos arqueanos,
intensamente retrabalhados por eventos proterozóicos (OLIVEIRA & NOCE, 1999).
Essas rochas apresentam aspecto bandado ou finamente laminado (foliação com direção
NNE N-S e mergulhos com 25º a 45º NE), sendo de idade arqueana e representadas
pelo embasamento gnáissico-migmatítico do Complexo Basal, de tal modo que
compõem o substrato da parte sudoeste e toda metade leste da cidade. Do ponto de vista
petrográfico, os gnaisses são compostos por quartzo, plagioclásio, k-feldspato, biotita e
hornblenda, apresentando allanita, tritanita, apatita, zircão e opacos como minerais
acessórios e carbonato, epidoto, clorita e mica branca como minerais de alteração
(GOMES, 2002).
A oeste da cidade, as colinas estão sobre granitos do grupo Borrachudos que são
compostos por quartzo, k-feldspato, biotita, plagioclásio e hornblenda, além de fluorita,
allanita, titanita, zircão, monazita e minerais opacos como acessórios. Apresentam
pronunciada foliação tectônica, com direção oscilante entre NNW e NNE e mergulhos
variando de 20º a 45º, além de bolsões de granulação grossa. Quando situados em zona
de cisalhamento, esses granitos apresentam laminação fina com mergulho de até 75º,
conforme ocorre ao longo da falha transcorrente dextral (NNE) que corta a parte
sudoeste do município (PROJETO LESTE, 1997).
A área central em direção ao Norte da cidade está sobre o substrato rochoso do
Grupo Rio Doce (Neoproterozóico), apresentando xistos quartzosos e quartizitos com
granulação grossa e textura sacaróide. Sua mineralogia é composta por quartzo e
muscovita e também por granada, turmalina, zircão, apatita e minerais opacos como
acessórios. Nessas rochas, a foliação tem direção NNE e mergulho de 30º a 45º para
ESSE e lineação com caimento de 20º a 30º para NNE, conseqüência do contato junto
aos Granitos tipo Borrachudos por falha de empurrão NNE, com movimentação oblíqua
dextral. (PROJETO LESTE, 1997).
36
2.6.2 Geomorfologia
Há uma diversidade nas unidades geomorfológicas da cidade de Ipatinga. Nas
regiões de rochas menos alteradas, observa-se relevo mais movimentado, escarpas
rochosas ou feições do tipo “pão-de-açúcar” . Já onde há ocorrência de rochas mais
intemperizadas predominam o relevo ondulado, com colinas mais arredondadas, com
vertentes mais suaves e espigões alongados. Próximos ao Rio Doce, ocorrem áreas
planas a suave onduladas formando extensas planícies de inundação (GOMES, 2002).
As unidades geomorfológicas identificadas por GOMES (2002) e
VASCONCELOS (2002) são:
- Morros e esporões – a maior parte do município encontra–se nessa unidade,
que domina amplamente a parte centro-ocidental do perímetro urbano. Essa
unidade é composta por esporões, orientados aproximadamente segundo
NW-SE, onde os topos são alinhados sob forma descontínua, sendo
interrompidas por feições alternadas de selas e platôs. A esses esporões
ligam-se outros de menor altitude e com topos aplainados, seguindo a
direção NE-SW, aproximadamente. Na porção oriental salientam-se os
morros espaçados por terraços aluvionares, que vão perdendo altitude em
direção ao rio Piracicaba. Nessa unidade, distinguem–se duas geoformas:
• Encostas: A concentração dos fluxos hídricos superficiais responsáveis
por imensas enxurradas é proveniente dos morros e esporões que
possuem uma alta declividade; sob fase de dissecação atualmente faz
com que evoluam por encostas ravinadas e escorregamentos, assumindo
perfil côncavo, provocando assim, situações catastróficas nos períodos
chuvosos.
• Topos aplainados: são áreas planas localizadas no cume de alguns morros
e esporões, sobretudo aqueles de menor altitude. De maneira geral
possuem pequena extensão, estando circundados por encostas
escarpadas, impedindo o acesso a essas áreas com topografia favorável.
Apresentam cobertura de latossolos espessos e rebordos comumente
suaves.
37
- Planície aluvionar (várzeas) – esta unidade situa-se ao longo das principais
drenagens, assumindo maior expressividade no ribeirão Ipanema, a jusante
do bairro Barra Alegre. Composta por sedimentos arenosos e cascalhos, esta
unidade está sujeita, pelo menos em parte, às inundações recorrentes,
sobretudo as partes à montante de estrangulamentos existentes no centro e
no bairro Caçula.
- Terraço Aluvial baixo ou “planície fundamental” – sua formação dá-se pelas
ações morfodinâmicas associadas dos rios Piracicaba e Doce. Apresenta
como principal característica uma superfície plana com altitudes variando
entre 230 a 245 metros, que abriga a maior porção do aglomerado urbano do
vale do aço. Esta unidade é constituída por espessos pacotes de sedimentos
aluviais, cuja textura varia entre as areias e as argilas, apresentando pacotes
de argila orgânica em profundidades, o que pode causar uma instabilidade
geotécnica, caso se opte pela verticalização como forma de solucionar a
falta de espaços construtíveis.
- Rampas colúvio-aluvionares – são superfícies de declividade suave
ondulada e perfil retilíneo a moderadamente côncavo. Localizam-se na parte
baixa das cabeceiras dos afluentes do ribeirão Ipanema. São formadas pela
coalescência de leques aluvionares e coluvionares formados por sedimentos
imaturos que guardam forte semelhança com as formações superficiais das
encostas que os rodeiam. Seus contatos com as encostas são bem marcados
na porção de jusante e gradativos na porção montante.
2.6.3 Solos
No município de Ipatinga, ocorrem principalmente Latossolos, Argissolos,
Gleissolos, Neossolos Litólicos e Cambissolos (GOMES, 2002).
Os Latossolos Vermelhos-Amarelos distróficos encontram-se, em sua maioria, nas
porções elevadas do terreno, sendo altamente representativos dos topos dos morros,
onde a pedogênese pôde agir intensamente. São solos minerais profundos, bem a
excessivamente drenados, bastante porosos e permeáveis, com seqüência de horizontes
A-Bw-C de difícil diferenciação. O perfil desse solo mostra uma constância no teor de
38
argila, podendo chegar até 80%, com pequena porcentagem de areia, e silte variando de
10% a 20% (GOMES, 2002).
Os Cambissolos Distróficos são encontrados a partir da linha de declive que
marca a ruptura com a posição superior da encosta, estendendo-se em direção à base até
atingir níveis de declividade mais suaves. São solos minerais não hidromórficos, com
horizonte B incipiente ou câmbico, subjacente a um horizonte A, com seqüência de
horizontes A-Bi-C, com diferenciação variável. Sua composição granulométrica
apresenta uma variação superior de silte e argila, com 15% e 20% respectivamente
(GOMES, 2002).
Os Argissolos localizam-se na porção inferior da encosta, marcando a transição da
vertente propriamente dita com os níveis de terraço. Caracterizam-se por serem solos
minerais e não hidromórficos, com horizontes B textural, perfil bem desenvolvido,
profundo e mediamente profundo, bem a moderadamente drenado, com seqüência de
horizontes A-Bt-C. Na região apresenta caráter distrófico e propriedades químicas
variáveis (GOMES, 2002).
O perfil desse solo apresenta textura variável, sendo mais comum a média-
argilosa ou muito argilosa, o que o torna passível a atividade erosiva; a drenagem
interna se deve apenas ao horizonte B argiloso (acumulação de argila no horizonte B,
como herança do processo de iluviação). Esses solos quando situados em relevos mais
acidentados possuem alta propensão à erosão (GOMES, 2002).
Os Neossolos Litólicos localizam-se nas regiões de topografia bastante acentuada,
onde existe formação de solos rasos, com seqüência de horizontes A-R, ou seja, o
horizonte A sobre a rocha, ou tipo A-C-R, sendo o C pouco espesso. Por estarem
associados a afloramento de rocha e devido à alta declividade são suscetíveis a
escorregamentos e quedas de blocos (GOMES, 2002).
Os Gleissolos ocorrem nas partes mais baixas e planas do município, onde se
observa o acúmulo permanente ou sazonal de água. Os principais problemas destes
solos são quanto à capacidade de suporte e drenagem. São normalmente áreas pouco
aproveitáveis que constituem áreas de preservação permanente (GOMES, 2002).
Ao longo do trecho do médio rio Doce, no encontro do rio Piracicaba os solos
neossolos flúvicos eutróficos são constituídos por materiais não consolidados de
deposição recente. Apresentam camadas estratificadas, sem inter-relação genética. São
solos que sofrem inundações e eventos periódicos de deposição de sedimentos aluviais
(GOMES, 2002).
39
2.6.4 Clima
O município de Ipatinga se insere em uma área cuja classificação climática,
segundo Koeppen, é do tipo Aw (tropical subquente), dadas as suas características de
uma temperatura média anual de 23ºC, sendo que no trimestre entre janeiro a março a
média é de 30ºC e no trimestre de junho a agosto a média é de 23ºC (INMET, 2005).
O regime de chuvas é caracteristicamente tropical, com estações bem definidas,
sendo o período do verão com chuvas e invernos secos. Os meses de novembro até
janeiro são de maior incidência de chuvas, concentrando mais de 50%, e o trimestre de
junho, julho e agosto é marcado por uma baixa incidência de chuvas.
A umidade relativa do ar é de 83%, e a velocidade média dos ventos de acordo
com a Escala de Beaufort, é de 1,5 ms-1 (INMET, 2005).
2.6.5 Vegetação
Guerra (1975) descreveu a vegetação da região de Ipatinga da seguinte forma:
As matas beirantes do vazio verde eram divididas ao meio, formando no encontro das águas do rio Doce com o Piracicaba, um bico arado, que cunhava a terra, num corte profundo, separando a margem direita, mais larga e bonita, da esquerda, mais tímida e menos espraiada. O mundo verde de chão ia sem fim, toda vida por uma encosta, até a lagoa das antas, famosa: quem passasse por perto era apanhado pela febre malária. Mais a terra era boa mesmo, baixada de primeira, tal forte de preta que as plantas nativas cresceram demais, principalmente nas tiras de beira d’água, que acompanhavam o frescor de um barro semi-amarelo, argiloso e fino. Sobrava tal madeira de lei, sucupira nem se fala, braúnas, ipês, do amarelo e do roxo, ainda um farturão doido de peroba rosa. Léguas e mais léguas do chamado pau mulato, fino e reto, folhas curtas, pegantes descuidados principalmente entre as pedras musguentas, onde aparecia viçoso e de nascença. (GUERRA, 1975).
Essa narrativa sobre a vegetação esplendorosa da região de Ipatinga, foi antes do
início da ocupação urbana e da instalação de várias carvoarias na região para suprir as
necessidades energéticas das usinas de entorno.
A vegetação nativa do município pertence ao bioma Mata Atlântica, no qual se
destacam várias espécies, como o jequitibá-rosa, o imbaúbas, a sapucaia, o palmito doce
entre outros. Entretanto, com a instalação das siderúrgicas e da fábrica de celulose,
40
aumentou a devastação da Mata Atlântica, quando parte das áreas com cobertura natural
foi devastada, empregando o plantio de eucalipto nessas áreas (MURTA, 2004).
Boa parte da cobertura vegetal foi retirada para abastecer as caldeiras da usina da
Belgo-Mineira, em João Monlevade e também para o fornecimento para outras regiões.
Os vagões trafegavam carregados de minério para abastecerem o porto de Vitória e
voltavam vazios para Itabira, onde eram carregados com as toras de madeiras e carvão
das carvoarias, o que se tornou interessante para a recém criada Companhia Vale do Rio
Doce (MURTA, 2004).
A única área com mata original remanescente encontra-se no Parque Florestal do
Rio Doce, à margem direita do Rio Piracicaba até sua confluência com o Rio
Doce, com uma área de 35.976 hectares de floresta semidecidual,
abrangendo também o sistema lacustre do médio rio Doce.
(http://www.ief.mg.gov.br/images/stories/plano_manejo_perd/resumo.pdf).
- Mata pluvial: composta pelas florestas perenifólias. Esta formação vegetal,
situa-se, em geral, nas planícies fluviais, marginais aos cursos d’águas ou
nas suas nascentes. Suas árvores são altas, apresentando porte de até 30
metros e diâmetros que variam de 15 a 100cm; formando maciços densos,
cujas copas se tocam. Esta classe corresponde a uma área 61,52 km2 no
Parque Florestal do rio Doce.
- Capoeira: sob a denominação genérica de capoeira, foram englobadas
formações vegetais em dois estágios de regeneração:
• Capoeira: constitui-se em uma formação vegetal secundária, em fase
de desenvolvimento médio, proveniente da floresta preexistente
retirada. Suas árvores apresentam alturas que variam de 3 a 10 metros.
• Capoeirinha: esta classe corresponde a um estágio de regeneração que
antecede a capoeira. É uma mata incipiente, de troncos finos e porte
baixo, que se observa no início do processo de recuperação da
formação vegetal primitiva.
- Reflorestamento ou floresta plantada de eucalipto: tipo de formação vegetal
cultivada, constituída por maciços homogêneos composto por talhões que
apresentam dimensões padronizadas e formas geométricas regulares. São
41
espécies pertencentes ao gênero Eucaliptus e, normalmente são de
propriedade das siderúrgicas.
- Pasto: Esta classe de uso da terra é constituída por áreas desmatadas e
destocadas, revestidas predominantemente por extrato herbáceo. Na região,
as espécies de gramíneas mais representativas são o capim brachiaria, o
colonião e o gordura.
42
3 RESULTADOS E DISCUSSÕES
3.1 Análise do Desenvolvimento Urbano na Cidade de Ipatinga
3.1.1 Desenvolvimento urbano até o ano de 1952
A EFVM demandava mão-de-obra para a produção de carvão vegetal, levando ao
estabelecimento de diversas moradias às margens da ferrovia, que mais tarde tornaram-
se micro vilarejos com alguma estrutura organizacional (ATAÍDE, 2005).
No início da década de 50, Ipatinga ainda era somente um lugarejo, segundo
depoimento de Ataíde (2005).
No povoado, a Rua do Comércio tinha iluminação em postes de madeira, cuja energia era produzida por um motor gerado a diesel. O movimento acontecia em função das atividades de extração da mata nativa e produção de carvão vegetal, utilizado na usina siderúrgica da Belgo-Mineira, em João Monlevade. (ATAÍDE, 2005:18).
Através da leitura do livro “Nossa Vida, Nossa Gente – Uma feliz trajetória” de
Ataíde (2005) foi possível conhecer relatos dos primeiros habitantes acerca do processo
de constituição da cidade de Ipatinga.
Os limites atuais do município de Ipatinga, destacando as duas manchas urbanas
existentes em 1952, compreendendo apenas 0.089 km2 estão apresentados na figura 5.
Existiam apenas a área central, de acordo com Ataíde (2005), onde viviam
43
“aproximadamente 50 famílias” e uma área à Oeste, aonde hoje é localizado o bairro
Barra Alegre. Nesta época Ipatinga ainda era distrito de Coronel Fabriciano
45
Na área central conhecida como “Rua do Comércio” , hoje Avenida 28 de Abril,
existiam um bar, duas mercearias, uma farmácia, duas lojas de tecidos, que abasteciam
o distrito e seus moradores da área rural e carvoeiros (RUEDA & NAHAS Jr., 1991).
Essa “comunidade” foi crescendo, e em 12 de dezembro de 1953, através da Lei
Estadual nº. 1039 criou-se o distrito de Ipatinga. Logo após, através da Lei Municipal
nº. 244, datada de 08 de junho de 1954, a Prefeitura Municipal de Coronel Fabriciano
traçou a delimitação da área do distrito de Ipatinga, cuja disposição foi aprovada em 13
de junho de 1954, conforme Decreto Estadual nº. 4206 (ATAÍDE, 2005).
Como distrito, Ipatinga começou a apresentar melhorias. Instalou-se um Posto dos
Correios, um cartório de Paz e Notas, uma pequena agência bancária e até um cinema
para a diversão dos moradores. Com a notícia de que uma grande siderúrgica iria
instalar-se em Ipatinga, as atividades comerciais se expandiram, a imigração foi
crescente, mesmo antes da instalação da usina. O centro foi crescendo de forma
desordenada e sem infra-estrutura adequada (ATAÍDE, 2005).
Com a cravação da estaca fundamental para a construção da USIMINAS e a
chegada das empreiteiras para a construção da siderúrgica, a ocupação dos locais para
moradia foram sendo traçados sem nenhuma organização. Imigrantes chegavam com
malas, sem malas, com ou sem família e demarcavam seu pedaço de terra com lonas
que serviam de abrigo e de morada. Aqueles que não conseguiam uma vaga na empresa
instalavam-se em barracas montadas em praças e locais públicos. Não havia água, rede
de esgoto, rede pluvial, rede elétrica, muito menos materiais para a construção como
tijolo, cimento e pedra. Era notória a necessidade de um planejamento urbano para
absorver todo esse contingente de pessoas.
O Plano de desenvolvimento urbano da cidade Ipatinga foi apresentado em julho
de 1958, todo financiado pela USIMINAS.
3.1.2 Desenvolvimento urbano até 1963
Para Yoshinaga (2001) toda cidade necessita buscar a sua estrutura arterial para
ajustar-se melhor às condições geomorfológicas e vocacionais, buscando uma harmonia
dentro dos seus limites urbanizados e ao mesmo tempo possibilitando eficientes
ligações com o entorno na qual está inserida. Estrutura arterial possui a conotação de
sustentação, de pilar, de arquitetura física e social no sentido de aproveitar as condições
naturais do meio ambiente para o crescimento sustentável da cidade. Mas, infelizmente,
46
em grande parte o crescimento urbano não se dá em conformidade com o
aproveitamento dos recursos naturais, mas sim com a destruição ou mau uso desses.
(www.ambientebrasil.com.br/npticias/index.php3?action=lei& id=27604)
No início da década de 50, a USIMINAS adquiriu praticamente toda a área
localizada à margem direita do ribeirão Ipanema – afluente do rio Piracicaba –,
“correspondente a um terço do rio Piracicaba em cuja extensão a usina seria instalada” .
“As áreas que circundavam essa planície fundamental, no eixo sul, seriam os locais de
expansão dos bairros destinados aos funcionários” (MURTA, 2004). Iniciou-se o
zoneamento urbano, obedecendo à hierarquia de seus funcionários nos bairros
construídos na cidade. O planejamento urbano refletiu a hierarquia existente na
empresa, sendo que a ocupação do espaço obedecia à divisão de cargos: bairros para
operários, bairro para técnicos, bairros para engenheiros e para diretores da empresa.
Os bairros construídos pela USIMINAS para acolher seus operários foram: a
Candangolândia, hoje bairro Amaro Lanari (pertencente ao município de Coronel
Fabriciano) e o Bom Retiro, além da Vila Ipanema que abrigava os funcionários das
empreiteiras e que futuramente também foi ocupado pelos operários da USIMINAS; o
bairro Horto e Santa Mônica abrigavam os técnicos; o Cariru era ocupado pelos
engenheiros e o Castelo local escolhido para abrigar os diretores da empresa, onde
também foi construído um hotel para abrigar os diretores que vinham de fora da cidade
para acompanhar o trabalho de construção da siderúrgica. (Comunicação pessoal)
No mapa da evolução urbana até 1962 (Figura 6), as manchas azuis representam
as evoluções dos bairros supra citados, todos construídos pela USIMINAS. Entre 1952 e
1963, a área urbana teve um crescimento de 0.678 km2, resultando em uma área 760%
maior que aquela existente em 1952.
48
Os bairros que foram construídos pela empresa apresentavam infra-estrutura
urbana, como rede de coleta de esgoto, água tratada, ruas pavimentadas e coleta de lixo,
entretanto, o centro da cidade era o principal ponto de chegada dos novos moradores da
cidade. No relato a seguir, entenderemos qual grandeza do volume de pessoas que
chegavam à cidade:
Chegavam de trem, chegavam de caminhão, chegavam a pé (...). Nessa época, existia na cidade por volta de 3000 a 3700 habitantes, não existia serviço para todo mundo, mas o pessoal vinha. A região ficou cheia, virou uma confusão e a população foi crescendo de modo desorganizado. (ANÍCIO in FRIZZERA & MATA MACHADO, 1987:9).
BRAGA (2000-A) cunhou o termo Ipatinga pré-urbana, ou não-cidade, pois
considera a década de 60 em Ipatinga com uma urbanização muito incipiente. Mesmo
com o enorme contingente de pessoas que migravam para a região, esse primeiro
momento do processo de urbanização é marcado por acúmulo de carências sociais, pela
falta de infra-estrutura e por um controle social feito praticamente pela USIMINAS. Era
notória a segregação, ou diferenciação social entre os empregados e não-empregados da
USIMINAS. Os bairros construídos para abrigar os funcionários tinham uma estrutura
urbana, já os demais aglomerados não, isso provocou de certa forma uma exclusão
social.
Logo, essa forma desordenada e sem nenhuma infra-estrutura, acarretou
desconfortos na população residente nas áreas não pertencentes à usina. A existência de
duas cidades foi relatada por Costa (1979) que utilizou o termo “Ipatinga Dual” ou
“cidade dos não-cidadãos” , para caracterizar essa divisão, como se existissem duas
cidades, uma que pertencesse à USIMINAS e às pessoas ligadas a ela, constituindo de
acordo com alguns estudiosos o que podemos chamar de cidade privada, ou seja,
construída e fundamentada por meio da indústria e outra cidade feita por pessoas que
estavam à margem dos serviços de infra-estrutura urbana, constituindo assim, a cidade
pública.
O crescimento desordenado da expansão urbana deu-se em direção oeste da
cidade, pois a região leste de Ipatinga é de propriedade da USIMINAS, que controla o
crescimento desse local. Costa e Costa (2000) comentam que, de acordo com o interesse
da USIMINAS, que detêm parte do território da cidade, a maneira de ocupação do
espaço foi sendo construída, “os processos de segregação sócio-espacial tornaram-se
49
mais agudos” (COSTA e COSTA, 2000:1); havia a separação entre cidade privada,
onde se instalavam a mão-de-obra empregada na siderúrgica, dotada de todos os
serviços urbanos e a cidade pública, que tinha como característica a precária ausência de
serviços urbanos coletivos e onde o restante da população que não apresentava nenhum
vínculo direto com a empresa residia.
Vale ressaltar, que a inauguração da siderúrgica se deu no fim de 1962 e o distrito
de Ipatinga foi emancipado em 1964, ou seja, somente após a construção e
funcionamento da indústria. A figura 7 apresenta a área de ocupação da USIMINAS em
bege, com 8.793 km2, em 1962, pelo então presidente da república João Goulart.
51
3.1.3 Desenvolvimento urbano até 1967
O desenho da cidade se desenvolveu, basicamente, ao longo do eixo longitudinal
da USIMINAS, constituindo-se de bairros que se comunicam através de dois eixos
principais: de um lado, margeando a área industrial, a área da usina siderúrgica, a
rodovia MG-4, que liga os bairros Horto, Centro, Castelo, Cariru, e, de outro lado, a
Avenida Engenheiro Kiyoshi Tsunawaki, ligando o Cariru, o Hospital Márcio Cunha, a
Estação de Tratamento de Água, o Bom Retiro, o Areal e o Horto. Cada um desses
bairros foi planejado como uma unidade de vizinhança autônoma, completamente
equipada. A distribuição de atividades de maior porte, como comércio, serviços
bancários e atividades terciárias, de modo geral, se localizavam em dois setores
distintos: no Horto e no Cariru, diminuindo a aglomeração excessiva de pessoas no
centro da cidade (DAMIÃO, 1977).
O contínuo crescimento populacional com a emancipação da cidade e com o
funcionamento da USIMINAS fez com que a empresa continuasse a investir no
crescimento de seus bairros, assim, foram criados o bairro Areal, Imbaúbas e expansão
das áreas dos bairros Bom Retiro, Cariru e Castelo e outros setores da nova cidade
começaram a se desenvolver.
De acordo com Costa (1979), Ipatinga é uma cidade mono industrial típica,
segregada e excludente sócio-espacialmente, sob o poder hegemônico da grande
indústria. Ipatinga Dual caracteriza-se pela implantação e consolidação dos bairros da
indústria, pela apatia política e sindical e pela tutela cultural exercida pela USIMINAS.
Para Lefebvre (1999) cidade industrial é aquela cuja organização, ritmo e relações
sociais são regidos pela indústria e que nasce quando a indústria toma de assalto à
cidade – espaço de poder, da festa e do mercado – modelando-a de acordo com suas
necessidades e levando seu crescimento a níveis anteriormente desconhecidos.
Contudo, Costa (1979) acredita que na gênese da cidade mono industrial esse
processo é pontecializado e encontra o próprio capital assumindo o papel de provedor
das condições gerais de produção, de reprodução ampliada da força de trabalho e da
urbanização. A cidade é concebida como apenas mais uma atividade de apoio à
produção industrial.
Esse conceito de cidade mono industrial reforça ainda mais o termo cidade Dual,
uma vez que a hegemonia do poder se concentra nas mãos da indústria, confirmando
que há uma divisão, que a cidade é gerida e provida em função do capital e da geração
52
de fonte de empregos da USIMINAS. Logo, a porção vinculada à indústria desfruta da
primazia de bons serviços coletivos bem como de toda infra-estrutura urbana e como já
foi salientado anteriormente, a outra parcela da população que possui menor renda
permanece à deriva desses serviços.
O processo de urbanização de Ipatinga foi marcado pela descaracterização da área
rural por uma rápida urbanização, resultante do intenso fluxo migratório e direção da
ocupação pelas grandes siderúrgicas (e não pelo poder público municipal). A Prefeitura
Municipal de Ipatinga aprova o primeiro perímetro urbano da cidade, de acordo com a
Lei municipal n° 292 de 29 de dezembro de 1970, destacado na figura 8, com uma área
de 39,281 Km2 e as áreas na cor verde que representavam o crescimento urbano do
município até 1967, cuja área de crescimento urbano foi de 2,355 km2, ou seja, um
crescimento de aproximadamente 307% da sua área urbana em relação à área urbana de
1962 (não foi considerada a área da USIMINAS).
Na área central da cidade houve a ocupação da margem do ribeirão Ipanema,
formando as primeiras favelas da cidade, o que viria a ser um grave problema nos anos
seguintes devido às cheias do Ribeirão Ipanema. A ocupação se expandiu e a outra
margem do ribeirão foi ocupada, originando o bairro Veneza. Na direção leste, surgiram
as primeiras ruas do bairro Iguaçu, que pertencia à fazenda do Sr. Jair Gonçalves, que
solicitou a abertura de uma avenida para fazer um loteamento. O bairro Bom Jardim foi
constituído a partir da sede de três fazendas, que iniciou com um aglomerado de
moradores.
54
3.1.4 Desenvolvimento urbano até 1975.
Após 1967, Ipatinga passou por uma imensa expansão urbana mesmo sendo ainda
recém emancipada. Foi perceptível o crescimento de alguns bairros e o surgimento de
novos bairros, que por sua vez não foram construídos pela siderúrgica e para
siderúrgica. Ocorreu o crescimento e expansão da população não vinculada à indústria e
de baixa renda, formando novos bairros, já com alguma infra-estrutura urbana,
reduzindo as diferenças entre a cidade privada e pública (BRAGA, 2000-A).
A malha urbana crescia e a cidade passou a adotar vários equipamentos urbanos.
A falta de planejamento na orientação do desenvolvimento das cidades brasileiras
acarretou ambientes urbanos com elevados índices de degradação, não somente porque
o planejamento urbano não acompanhou o processo de urbanização, mas também
devido à falta de vontade política para a criação e implementação de mecanismos de
combate à queda da qualidade de vida urbana (MENDONÇA, 1995). Segundo Costa
(1979) a população total do município de Ipatinga era de 47.979 habitantes no ano de
1970, a parcela urbana era de 44.780 habitantes, (93% da população). Em 1975 a
população urbana foi de 101.158 habitantes, com um crescimento médio anual superior
a 17%. A área urbana até esse período era de 10,027 km2, o que representou um
crescimento de aproximadamente 321 % em relação à área urbana até 1967 (IBGE,
1980).
A pressão imobiliária imposta pelo crescimento da cidade impulsionou o
crescimento da mancha urbana em direção noroeste (sentido Mesquita), dando origem
aos bairros Cidade Nobre, Iguaçu, Vila Celeste, Canaã, Bethânia. Os loteamentos
cresceram por todos os lados da cidade pública, ao sabor dos interesses da iniciativa
privada, trazendo consigo as marcas negativas do mau uso do solo, com evidentes
prejuízos sobre a qualidade de vida urbana, como a falta de saneamento básico e esgoto
sanitário “ in natura” . Até os dias atuais, Ipatinga não possui 100% do esgoto doméstico
tratado, a ocupação nas encostas de morros e locais com grande declividade e
inapropriados para moradia geram deslizamentos de terras, ocasionando perdas
materiais.
Surgiram diversos bairros como Canaã (parte desse bairro hoje é o bairro
Bethânia), Esperança (parte desse bairro é hoje o bairro Cidade Nobre), Vila Celeste,
Novo Cruzeiro e Limoeiro, além da expansão dos bairros anteriormente citados, como:
Iguaçu I e II (hoje o Iguaçu II é o bairro Jardim Panorama), Veneza (parte da expansão
55
do Veneza, hoje é o bairro Caravelas e Jardim Panorama), Centro e Barra Alegre. Todos
esses bairros não pertencem à “cidade privada” .
Os bairros Castelo e Vila Ipanema, construídos pela USIMINAS também se
expandiram, já o bairro Horto passou a ter moradores que não são vinculados à
USIMINAS, impulsionando o seu crescimento Na figura 9 pode ser observada a
expansão da área urbana de Ipatinga até o ano de 1975.
57
3.1.5 Desenvolvimento urbano até 1980
O processo de crescimento urbano em Ipatinga não cessou e alguns bairros
surgiram como: Bethânia, Cidade Nobre, Granja Vagalume e Chácaras Oliveira e outros
continuadamente se desenvolveram, como o Canaã, Vila Celeste, Veneza, Limoeiro.
A USIMINAS também ampliou a área para abrigar seus funcionários, criando os
bairros Bela Vista e Bairro das Águas, além, de ampliarem a área do Cariru e Castelo,
onde as porções amarelas ao lado direito da Usina estão sendo ocupadas.
Segundo a Revista Vale do Aço (1999) o período de maior importância em obras
públicas de Ipatinga foi entre os anos de 1977 a 1982, período em que foi criado um
órgão para “reorientar a estrutura urbana da cidade e corrigir problemas que tem origem
no processo de sua formação” (Figura 10).
Esta reorientação ajudou na urbanização da cidade e abrangeu quase toda a área
fora do controle da USIMINAS, numa extensão de aproximadamente 1.350 hectares,
correspondendo a 64% de toda área urbana de Ipatinga, onde residiam cerca de 95.000
habitantes, ou seja, 69% da população do município. Todas as obras implementadas
nessa época foram essenciais na definição do traçado urbano e paisagístico atual da
cidade, inclusive o projeto inicial do Parque Ipanema.
O crescimento da população de Ipatinga no qüinqüênio de 1975 a 1980 foi de
101.158 para 150.322 habitantes, um crescimento de mais de 8% ao ano. O crescimento
da área urbana foi de aproximadamente 5,707 km2, que correspondem a um aumento de
43% em relação à mancha urbana até 1975 (IBGE, 1991). O perímetro urbano foi
redefinido pela Lei municipal nº. 676 de 13 de abril de 1980, e seus limites foram
traçados em virtude da geomorfologia e dos limites das cidades circunvizinhas, além de
existir a oeste e sudoeste do município uma região inapropriada para a urbanização, e
que hoje está localizada a APA Ipanema. Até os dias de hoje o perímetro permanece o
mesmo, sendo indicado na figura 10 pela parte hachurada em rosa. (dados pessoais)
59
Através dos parcelamentos das áreas rurais por décadas e da transformação do
município de rural para urbano, constatou-se que entre a década de 70 e 80, foram os
períodos em que ocorreram os maiores impactos negativos no município, destacando-se
o crescimento populacional expressivo de aproximadamente 15% anual (IBGE, 1991),
marcado também pela lógica do processo de loteamentos. Assim, Maricato (2001)
destaca que “a ocupação indiscriminada de várzeas, encostas de morros, áreas de
proteção de mananciais, beira de córregos, enfim, áreas ambientalmente frágeis e
‘protegidas’ por lei são as mais agredidas pela falta de alternativa de moradia no
mercado legal, para a maior parte da população das metrópoles e grandes cidades. A
questão fundiária e imobiliária esta na base do travamento desse mercado”.
Mota (1980) afirma que o parcelamento do solo, realizado sob a forma de
loteamento ou desmembramentos, é um dos instrumentos urbanísticos mais utilizados
para promover a organização territorial dos municípios brasileiros. Em Ipatinga não foi
diferente; os compradores de terrenos lidaram com a omissão de parte dos
empreendedores quanto à observância das leis de uso e ocupação do solo, somados ao
aparente descompromisso do poder público em garantir padrões mínimos de qualidade
de vida dos moradores. Foi constatado na própria paisagem, a falta de atendimento de
saneamento básico, em grande parte dos bairros, com a presença de fossas negras
individuais em domicílios, e também, pelo lançamento direto do esgoto doméstico “ in
natura” nos cursos d’água.
3.1.6 Desenvolvimento urbano até 1985
Segundo Braga (2001) o panorama brasileiro entre 1956 e 1980 é de salto de
qualidade na industrialização com a internalização do setor de bens de produção;
consolidação da infra-estrutura básica de transportes, comunicação e energia; elevados
índices de crescimento econômico; o Estado centralizado e diretamente atuante na
promoção de desenvolvimento; urbanização explosiva; exploração intensiva e
predatória de recursos naturais; poluição industrial e agrícola; ditadura política.
Contudo, no início dos anos 80 o Brasil recolhia-se devido a uma profunda
recessão. O desenvolvimento industrial brasileiro experimentou um extenso processo de
ajustamento e sofreu impactos sucessivos decorrentes das fases de recessão e
estagnação e uma crescente inflação. O país enfrentou dívidas, queda do PIB (Produto
60
Interno Bruto) e desemprego. A USIMINAS adequou-se a essa nova realidade, fazendo
uma redução no seu quadro de funcionários.
Na figura 11 verifica-se o surgimento do bairro Ideal, sendo construído pela
USIMINAS para abrigar mão-de-obra operária e da expansão do bairro Imbaúbas. A
empresa ainda direciona o crescimento da cidade. Apenas o bairro Vila Celeste
apresenta uma expansão de sua área urbana. O crescimento da área urbana é de
aproximadamente 1,059 km2, apenas 5,88% em relação ao cenário de 1980. É nítida a
desaceleração no crescimento da cidade, reflexo da crise econômica brasileira, um
quadro que iria mudar após a aprovação da Constituição de 1988.
62
3.1.7 Desenvolvimento urbano até 1990
A segunda metade da década de 80 foi um período protagonizado por mudanças
em todo o país devido à aprovação da Constituição de 1988, e tais modificações
atingiram também Ipatinga, que passou por transformações no âmbito social, cultural e
político. Mediante essas mudanças o abismo que figurava entre a “cidade privada” e
“cidade pública” começou a ser minimizado. Pois, segundo a Constituição de 1988 os
Estados e Municípios passariam a ter uma maior participação no recolhimento do ICMS
(Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços). Com isso, as prefeituras, entre
elas a de Ipatinga, começaram a ter mais renda para investir em suas cidades.
Neste período os sindicatos dos trabalhadores ganhavam força na principal
metrópole do país – São Paulo – e servia de exemplo e influência para as demais
localidades onde existiam indústrias e um grande número de operários. Tal influência
chegou a Ipatinga rapidamente, e em 1988 o Partido dos Trabalhadores, assume o
poder, elegendo o prefeito. Assim, um movimento empreendedor tomou conta da
“cidade pública” e a indústria teve sua influência política reduzida, uma vez que, agora
ela fornecia capital para a cidade pública, ou seja, a relação de dependência ainda existe,
mas de forma diferente e não como antes com a supremacia da indústria sobre a cidade
pública. Desse momento em diante, com a ” inversão de prioridades” as diferenças entre
cidade pública e privada se atenuaram a tal ponto que Braga (2000-A) considera
Ipatinga como “Una”.
Uma cidade que não é mais fragmentada, uma cidade em que a maior parte da
população começa a ter acesso aos bens de serviço e a toda infra-estrutura do município.
Dessa forma é possível pensar no desenvolvimento cultural, social, econômico e
político da cidade desvinculado em parte da hegemonia anterior da indústria. Logo, não
sendo mais uma cidade “Dual” – “pública e privada” é possível que a população
comece a desenvolver sua identidade. Identidade essa marcada por uma construção
ainda pautada no desenvolvimento da siderúrgica, mas não somente marcada pela
indústria e isso contribui para formação e desenvolvimento dessa cidade (BRAGA,
2000-A).
As áreas urbanas, por constituírem ambientes onde a ocupação e concentração
humana se tornam intensas e muitas vezes desordenadas, tornam-se locais sensíveis às
gradativas transformações antrópicas, à medida que se intensifica em freqüência e
63
intensidade o desmatamento, a ocupação irregular, a erosão, o assoreamento dos canais
fluviais, entre outras coisas (GONÇALVES e GUERRA, 2001).
O período da evolução urbana de Ipatinga no qüinqüênio 1985 a 1990 gerou
ocupações em locais de riscos. O alto do Limoeiro foi urbanizado, assim como a parte
do Bom Jardim, o alto da Vila Celeste, apelidado de Vale da Lua, as encostas do bairro
Caravelas, o entorno do Bethânia conhecido como “Beiço da Égua” e o morro São
Francisco, dois locais que apresentam solos suscetíveis a deslizamentos. Parte do
Veneza também foi urbanizado. “Surge” o bairro Córrego Novo. O crescimento da
mancha urbana é de aproximadamente 1,102 km2, representando aproximadamente
10,19% em relação à área urbana apresentada no mapa até 1985 (Figura 12).
A USIMINAS ampliou o bairro Bom Retiro e a Vila Ipanema e construiu o bairro
dos Ferroviários para suprir a carência de moradia dos seus funcionários.
65
3.1.8 Desenvolvimento urbano até 2004
O processo de expansão urbana no Brasil nas últimas cinco décadas (1950 - 2000)
foi fruto de um intenso êxodo rural e de disparidades regionais de renda, o que
determinou a ocupação desordenada do solo urbano, exercendo pressão sobre os
governos pela implantação de serviços e infra-estrutura. Esse processo, por coincidir
com a deterioração progressiva das finanças públicas, deixou sem atendimento muitas
das demandas da sociedade, contribuindo para agravar a situação nas metrópoles e
outras grandes cidades.
O agravamento da deterioração do ambiente e da qualidade de vida nas áreas
urbanas brasileiras, fruto do modelo de desenvolvimento econômico adotado
(crescimento a qualquer custo) e do rápido processo de adensamento urbano combinado
com pobreza, deu lugar, nas duas últimas décadas, à inclusão de reivindicações
ambientais na pauta das lutas urbanas, bem como a uma abertura da agenda
ambientalista para o debate sobre a problemática urbana. (BRAGA, 2001)
A cidade de Ipatinga não foi diferente, seguindo o mesmo trajeto de expansão
explicitado. Porém, vale salientar um diferencial: ao optar pela alternativa de governar
com a participação popular, inclusive na definição dos investimentos orçamentários, o
Partido dos Trabalhadores consolidou um novo estilo administrativo na cidade. Esse
modelo foi caracterizado pela inversão de prioridades, o saneamento dos gastos
públicos, o atendimento aos bairros carentes, onde existia uma demanda de infra-
estrutura, a abordagem aos problemas ambientais da cidade (se opondo à siderúrgica)
fazendo com que o partido saísse vitorioso em quatro eleições consecutivas,
administrando a cidade de janeiro de 1989 até dezembro de 2004.
Ipatinga teve a reestruturação do centro da cidade por meio do Projeto Novo
Centro, em que a “mancha negra” da cidade foi remodelada, já que esse espaço
apresentava suas desigualdades desde sua época de distrito, a exemplo do comércio com
o contraste entre as lojas, a zona meretrícia, área residencial e um aglomerado de
pessoas das diversas classes excluídas pela sociedade (MURTA, 2004).
O Projeto Novo Centro foi inovador no sentido de reestruturar a área central de
Ipatinga, incluindo a remoção de 600 famílias, que viviam em áreas inundáveis,
margeando o ribeirão Ipanema ou nas encostas, e transferindo-as para moradias
construídas no bairro Veneza. Foi realizada a implantação de áreas de lazer,
estacionamentos, locais arrendamentos para bares, restaurantes, circos e parques de
66
diversão, ligação do Centro com o bairro Veneza por meio de uma nova ponte,
conservando o pontilhão antigo de passagem de pedestre, dentro outras melhorias. Além
disso, foram desenvolvidos projetos de tratamentos de fundo de vales, para facilitar o
escoamento das águas de chuva e garantir a preservação dos mananciais de água, além
da captação de quase 100% das redes de esgoto para tratamento nas ETE’s (Estações de
Tratamento de Esgoto).
Ainda hoje, Ipatinga apresenta alguns contrastes, mesmo contando com uma
coleta de lixo em todos os logradouros, uma rede viária bem desenvolvida, hospitais,
escolas e faculdades, shopping center e comércio forte. Ainda há ocupação do solo em
áreas de riscos e bastante degradadas, devido à omissão e falta de fiscalização do poder
municipal, colocando em risco essa população que muitas vezes busca o sonho de
melhorar de vida.
Segundo Murta (2004) após a aprovação do Projeto, o mesmo foi inserido no
SOMMA (Programa de Saneamento Ambiental, Organização e Modernização dos
Municípios) com previsão de financiamento do Banco Mundial (BIRD), em parceria
com os governos do Estado de Minas Gerais e do município de Ipatinga.
Outro programa inserido na cidade foi o “Água Limpa” – Tratamento de Fundos
de Vale –, que compreendeu na intervenção de cinco afluentes do Ribeirão Ipanema: o
córrego Taúbas e seus afluentes, o córrego Vagalume, córrego da Avenida José
Barcelos, córrego Hortência e córrego Forquilha. São cursos d’água que percorrem
densas áreas urbanas, ocupadas por uma população de baixa renda, sendo o Ribeirão
Ipanema o mais importante curso d’água do Município. O lançamento de esgotos
sanitários e resíduos sólidos domésticos comprometia a qualidade da água. Além disso,
suas calhas apresentavam insuficiente capacidade hidráulica para conduzir as vazões de
chuva com elevados tempos de recorrência, ocasionando riscos sazonais às populações
ribeirinhas e um ambiente insalubre (Revista Saúde Com Qualidade, 2003:26).
O projeto consistiu na canalização dos córregos assoreados e acerto das margens,
conformação e recobrimento vegetal de taludes em áreas de riscos, reurbanização das
margens dos córregos, redes coletoras pluviais e sanitárias. A Prefeitura Municipal
também firmou um contrato com a concessionária de abastecimento de água e
esgotamento sanitário, no qual a empresa adquiriu o encargo de efetuar todas as obras
necessárias à implementação de um sistema completo de captação e tratamento de
esgoto na área urbana do município (Revista Saúde Com Qualidade, 2003:26).
67
Criou-se a APA (Área de Proteção Ambiental) Ipanema conforme estabelece a lei
Municipal 1535, delimitando-a em uma área de 74 km2. É importante também saber que
de acordo com o artigo 3 da mesma lei: “as margens do Ribeirão Ipanema, definidas
como de proteção pelo Código Florestal Estadual, passam a integrá-la, até a confluência
com o Rio Doce” (http://www.perfil.ipatinga.mg.gov.br/perf_down.asp).
O Parque Ipanema é reestruturado, com o objetivo de proporcionar lazer,
educação, esporte, saúde, turismo, meio ambiente e desenvolvimento econômico, é um
espaço múltiplo. O Parque Ipanema é uma das maiores áreas verdes do país, situada
dentro de um perímetro urbano. Com mais de 1 milhão de metros quadrados, cerca de
12 mil árvores plantadas e localizado bem no centro da cidade, é uma área aberta a toda
a população. O complexo de lazer foi uma das últimas “obras de arte” do paisagista
Roberto Burle Marx (http://www.perfil.ipatinga.mg.gov.br/perf_down.asp).
O período da evolução urbana de Ipatinga de 1991 até 2004 apresentou uma
mancha de crescimento urbano no bairro Barra Alegre; os bairros Cidade Nobre e
Esperança tiveram praticamente 100% de suas áreas urbanas ocupadas, assim como os
bairros Bethânia e Canaã. Os bairros Bom Jardim, Veneza, Ferroviários, Veneza e
Centro também ampliaram suas mancha urbana (Figura 13).
69
Alguns bairros residenciais na segunda metade dos 90 sofreram com a
verticalização, sendo um período de crescimento menos vertiginoso, marcado pelo
adensamento da ocupação. A expansão da USIMINAS fez com que essa demanda por
moradia transformasse a estrutura física de vários bairros. Os bairros Cidade Nobre e
Iguaçu foram os primeiros a verticalizarem, sendo que depois a maioria dos bairros
seguiram essa tendência, principalmente pela falta de espaço físico para a expansão.
Outro fator preponderante na expansão de Ipatinga foi a instalação de diversas
faculdades, mudando a estrutura da cidade para abrigar estudantes de vários cursos
oferecidos. O crescimento da mancha urbana de Ipatinga é de aproximadamente 1,148
km2, com um crescimento de aproximadamente 14,79% em relação à área urbana
apresentada na figura 12. O último censo do IBGE (2005) indica Ipatinga com uma
população de 212.452 habitantes, uma população 18% maior do que os 180.069
habitantes registrados no censo de 1991.
Fatores como o Plano de Otimização de Produção da USIMINAS, onde a
siderúrgica investiu em obras para melhorar sua linha de produção, fez com que uma
demanda de mão-de-obra trouxesse para região empreiteiras para gerir o processo,
ampliando assim, o crescimento urbano da cidade.
Em alguns locais, averiguou-se que os processos erosivos ocorridos nos últimos
anos foram gerados por uma série de fatores antrópicos, causados por métodos
inadequados de desmatamentos, obras, formas de uso e ocupação do solo, que somados
aos fatores de ordem natural como o regime pluviométrico, cobertura vegetal,
topografia, tipos de solo, configurou em alguns pontos, um quadro socioambiental de
difícil solução. Locais inapropriados para a moradia são constantemente ocupados pela
falta de outros aptos para a moradia. Alguns bairros tiveram suas ocupações de forma
irregular e por descaso do Poder Municipal, muitas vezes foi levada a infra-estrutura
para esses locais, transformando a ilegalidade em moradia, mesmo que os custos para
legalizá-la sejam altos, principalmente devido à manutenção.
70
3.2 Uso do solo de 1972 a 2004
Devido à escassez de ortofotocartas, fotos áreas e outras imagens, não foi possível
realizar um mapeamento mais detalhado da alteração do uso e ocupação do solo no
município de Ipatinga ao longo dos anos. Foi possível apenas analisar o uso do solo em
1972, por meio da interpretação de ortofotocarta e, em 2004, utilizando-se imagem de
satélite IKONOS. A legenda das figuras 15 e 16 apresentam os seguintes usos: mata
ciliar, mata nativa, pastagem, silvicultura, solo exposto, e área urbanizada, além de
apresentar os rios que passam pela cidade.
Para realizar uma análise comparativa do uso do solo, determinamos áreas
idênticas baseadas no perímetro urbano atual do município para as figuras 15 e 16,
apresentando respectivamente as expansões da área urbana de Ipatinga até o ano 1972 e
até o ano de 2004, e através da área total do perímetro urbano calculamos a
porcentagem de cada um dos aspectos supra citados. Assim, foi possível averiguar em
qual aspecto o uso do solo foi modificado em virtude da expansão urbana.
Com base nesses cálculos foi possível definir a área urbanizada de Ipatinga
representava 28,21% da área total estudada, seguindo a tendência de crescimento
urbano da cidade. A silvicultura apresentava um percentual de mais de 30% da área
total, pois nessa época as áreas de plantação de eucalipto serviam para abastecer as
madeireiras de Governador Valadares e os fornos da ACESITA e da siderúrgica Belgo-
Mineira. As áreas de solo exposto podem ser: cascalheiras, áreas de empréstimos e solo
em pousio (preparado para plantio) ou áreas para futuras construções, que
compreendiam na época aproximadamente 2,24% do território municipal.
A área nativa compreendia aproximadamente 21,38% do município e estava
concentrada nas áreas sul e sudoeste da cidade, sendo a maioria das áreas pertencentes à
USIMINAS, como as áreas da USIPA, Industrial, Ferroviários, Ideal, Horto, Imbaúbas,
Bom Retiro e Bela Vista. A mata ciliar está representada pela faixa que acompanha o
rio Piracicaba e representava apenas 0,68% da área total estudada. As áreas de
pastagem, destinadas à criação de animais, ocupavam cerca de 16,24%, localizadas em
sua maioria em ilhas dentro da área urbanizada (Figura 14):
71
0
5
10
15
20
25
30
35
40
NATIVA
PAST
AGEM
SOLO E
XPOST
O
MATA C
ILIA
R
SILVIC
ULTURA
URBANIZADA
Are
a oc
upad
a (K
m2 )
1972
2004
FIGURA 14: Comparação entre o uso do solo do município de Ipatinga, Minas Gerais, Brasil, entre os anos de 1972 e 2004.
A figura 15 apresenta o uso de solo do município de Ipatinga no ano de 1972 e a
figura 16, o uso do solo no ano de 2004. A área urbanizada de Ipatinga compreendia
43,81% da área estudada. Esse crescimento deu-se devido à demanda de mão-de-obra e
expansão da USIMINAS, que atraiu uma população em busca de uma vida melhor. As
áreas de expansão se deram para a direção noroeste, sendo que a expansão da cidade
está limitada à pouca área para sua expansão, devido aos limites de divisa com outros
municípios e à Área de Proteção Ambiental (APA). Em contrapartida, a mata ciliar
manteve-se constante no leito do rio Piracicaba, numa estimativa de 0,70% em relação à
área total do perímetro urbano.
74
O percentual de área nativa diminuiu em comparação com os dados de 1972,
compreendendo 16,60% do município em 2004, devido ao crescimento da área urbana
do bairro Bom Jardim. O surgimento do Parque Ipanema garantiu a proteção de 1,013
km2 de floresta, sendo uma das maiores áreas verdes dentro do perímetro urbano.
As áreas de solo exposto aumentaram cerca de 7 pontos percentuais, também no
bairro Bom Jardim e no bairro Limoeiro, compreendendo 9,76% da área estudada. As
áreas de pastagens tiveram uma redução avassaladora no seu percentual de 1972 para
2004, restando apenas 1,17% de pastagens devido ao crescimento urbano.
As áreas de silvicultura também sofreram sua diminuição considerável devido ao
crescimento dos bairros, passando de 31,25% em 1972 para 26,63% em 2004. As
florestas plantadas permaneceram na região leste do município, nos terrenos de
propriedade da USIMINAS e também na região leste, próximo à área da APA Ipanema.
3.3 Perspectivas do Crescimento Urbano em Ipatinga
Este tópico tem como proposta tecer considerações acerca do futuro da expansão
urbana da cidade de Ipatinga, baseado nas análises apresentadas nos outros tópicos do
capítulo 3, uma vez que os limites horizontais de crescimento da cidade estão com o
crescimento limitado. Faz-se necessário repensar a sua estrutura, propor novas
alternativas para que seja possível um sistema sustentável e equilibrado entre o
crescimento urbano e a utilização dos recursos naturais.
O Plano Diretor é o instrumento básico da política de desenvolvimento dos
municípios, tendo como fundamento orientar o poder público e a iniciativa privada na
construção de espaços urbanos e rurais para assim, oferecerem serviços públicos
essenciais para uma melhor condição de vida da população. Segundo Pinto (2001) o
Congresso Nacional em fevereiro de 2001, aprovou o Projeto de Lei 5.788/90 que já há
alguns anos tramitava no Legislativo Federal. Em julho do mesmo ano, o então
Presidente Fernando Henrique Cardoso sancionou o projeto que se transformou em Lei.
75
De acordo com o conteúdo descrito no site
(http://www.planalto.gov.br/ccivil/LEIS/LEIS_2001/L10257.htm) de Diretrizes Gerais
da Política Urbana, a Lei Federal 10.257 de julho de 2001, conhecida como Estatuto da
Cidade estabelece no artigo primeiro que “na execução da política urbana, de que tratam
os artigos 182 e 183 da Constituição Federal, será aplicado o previsto em Lei” . Sendo:
Para todos os efeitos, esta Lei, denominada Estatuto da Cidade, estabelece normas de ordem pública e interesse social que regulam o uso da propriedade urbana em prol do bem coletivo, da segurança e do bem-estar dos cidadãos, bem como do equilíbrio ambiental.
O termo Estatuto foi denominado por Braga (2000-B) como um conjunto de leis
que estabelece parâmetros abrangentes para adoção pelos municípios de instrumentos
adequados para implementação de política própria de desenvolvimento territorial e
social no meio urbano. Contudo, as atribuições legislativas e de planejamento do
município devem ser realizadas de forma idônea.
A Lei 10.257 também estabelece que as cidades com mais de 20.000 habitantes ou
integrantes de regiões metropolitanas e aglomerações urbanas devem rever ou elaborar
o Plano Diretor, para assim poderem planejar e promover cidades igualitárias,
includentes, democráticas e sustentáveis. O não cumprimento dessa legislação
acarretará improbidade administrativa para os prefeitos.
Para o Governo Federal foi necessário transformar esta obrigatoriedade em
oportunidade para se repensar o processo de desenvolvimento das cidades em todo o
país. Transformar a elaboração do plano num processo em que a população pense e
discuta a cidade onde mora, trabalha e sonha, e faz propostas para corrigir as distorções
existentes no desenvolvimento do município.
O Plano Diretor irá, portanto, definir qual é a melhor função social de cada pedaço
da cidade, considerando as necessidades e especificidades econômicas, culturais,
ambientais e sociais. Esse Plano deve ser um verdadeiro pacto sócio-territorial, que de
fato transforme a realidade das nossas cidades.
Em Ipatinga, várias tentativas de elaboração e aprovação de planos diretores já
ocorreram. Contudo, com a obrigatoriedade exigida por lei e com um prazo estipulado
até outubro de 2006, a atual administração pública, iniciou o processo de estudo desde
março de 2005, para viabilizar um plano diretor que atenda anseios da comunidade. Foi
formado um grupo de trabalho com representantes de diversos segmentos da sociedade
76
para traçar as diretrizes e desenvolver ações determinantes de ordenamento para a
cidade nos próximos vinte anos. Tal grupo foi composto por técnicos da Prefeitura
Municipal de Ipatinga e da FUNDEP – Fundação de Desenvolvimento e Pesquisa da
UFMG (http://www.ipatinga.mg.gov.br/inst_vis.asp?cd=125).
Desde a aprovação da Constituição de 88, o país alcançou novos significados no campo da democratização da gestão pública. Idéias de participação civil, exercício da civilidade, responsabilidade social dos cidadãos como um todo, levaram o cidadão comum a experimentar novas formas de democracia participativa, onde assuntos de interesses locais ou nacionais são decididos com a sua participação e opinião, atribuindo deveres à essa nova sociedade.
Com o início do processo de elaboração do Plano Diretor de Ipatinga, reuniões
periódicas apresentavam o esboço do trabalho elaborado pelo corpo técnico, e esses
colhiam sugestões de todos os setores da sociedade, podendo assim, democratizar o
processo e envolver a sociedade no âmbito geral.
As diretrizes básicas foram escolhidas nos encontros promovidos pela Prefeitura
Municipal de Ipatinga junto com a população e entidades de classes do município.
Sendo assim, bastava tornar palpável junto com os técnicos a formulação do Plano
Diretor de Ipatinga.
A participação popular, aliada às ações administrativas com o envolvimento da
Câmara Municipal e do Poder Judiciário foi essencial; para ampliar a discussão e
fomentar a viabilização de um Plano Diretor que tivesse a inclusão de todos os níveis
sociais.
A aprovação da Lei 2.230 do Plano Diretor de Ipatinga ocorreu no dia seis de
outubro de 2006, com o número 2230, sendo sancionada e publicada nas fontes
circulantes da cidade, sendo que seus principais objetivos e diretrizes gerais são: criar
uma legitimidade na regulamentação do uso do solo do município, para tentar
minimizar os conflitos sociais, tentando interagir o processo de desenvolvimento de
uma forma imparcial, justa e de interesse público.
Podemos citar alguns trechos do Plano Diretor que comprovam essas afirmações:
“Art. 2º - Regem o Plano Diretor os seguintes princípios:”
“I – o direito social à cidade, considerada esta como espaço capaz de
proporcionar, aos seus habitantes, moradia digna, trabalho e renda, serviços de
qualidade, conforto e cultura, em ambiente sadio;”
77
“III – a consulta direta à população quanto às suas necessidades, desejos e
opiniões, como instrumento democrático dos processos de decisão, planejamento,
gestão, implementação e controle do desenvolvimento urbano;”
Nos artigos 3º, 4º e 5º o Plano Diretor de Ipatinga cita à respeito da função social
da propriedade mediante sua adequação às exigências fundamentais de ordenação da
cidade. Algumas diretrizes são:
“IV – a melhoria da paisagem urbana, a preservação dos recursos naturais e, em
especial, dos mananciais de abastecimento de água do Município;”
“V – a recuperação de áreas degradadas ou deterioradas visando à melhoria do
meio ambiente e das condições de habitabilidade;”
“VIII – a regulamentação do parcelamento, uso e ocupação do solo de modo a
ampliar a oferta de habitação para a população de mais baixa renda;”
Muitas áreas ocupadas de forma irregular nesses diversos anos de crescimento
populacional deverão ser desocupadas, a exemplo da comunidade da Vila da Paz,
localizada no bairro Cidade Nobre que está próxima à margem do ribeirão Ipanema, que
diversas vezes foi atingida pelas inundações.
“Art. 6º – os objetivos estratégicos e as diretrizes de desenvolvimento urbano
estabelecidos nesta Lei se inserem e devem ter em consideração os seguintes fatores da
realidade do Município:”
“II – a diminuta superfície de seu território, da ordem de cento e cinqüenta e dois
quilômetros quadrados, cuja maior parte é constituída de terrenos de acentuada
declividade;”
“III – a cidade, que já ocupa a quase totalidade das áreas planas e das colinas
adequadas à urbanização;”
“V – a existência, no meio da cidade, de usina siderúrgica de grande porte, um dos
principais destinos de locomoção;”
“VI – a existência de poucas e pequenas áreas adequadas para urbanização,
pertencentes, a maioria delas, à USIMINAS;”
“X – a diferenciação dos bairros da USIMINAS, historicamente denominados:
Castelo, Cariru, das Águas, Bela Vista, Bom Retiro, Imbaúbas, Areal, Horto, Santa
Mônica e Bairro Ferroviários, situada, a maior parte, na bacia do Rio Piracicaba que, em
78
comparação com os demais bairros da cidade, caracterizam-se pela uniformidade de
urbanização e casario, a quase inexistência de lotes vagos e baixa densidade
populacional, enquanto os demais, situados na Bacia do Ribeirão Ipanema, embora com
idêntica infra-estrutura urbana, perdem em uniformidade e caminham para alta
densidade populacional e degradação urbana.”
“XV – a constatação da existência de alto índice de áreas verdes nos bairros da
USIMINAS e de sua falta nos demais bairros da cidade;”
“XVI – a constatação do interesse de empresas do setor de construção civil na
verticalização urbana nos bairros da USIMINAS;”
É importante salientar que no Plano Diretor já existe uma preocupação com
escassez de espaço físico existente no município. Essa limitação poderá ser compensada
com mudanças nas leis de uso e ocupação do solo, principalmente nos bairros
“construídos” pela USIMINAS e que detêm uma infra-estrutura melhor para abrigar
uma reestruturação urbana. Ainda analisando o Plano Diretor, notamos que há
preocupação em zelar pelo meio ambiente e recuperar os recursos naturais que foram
degradados com o tempo, como nos mostra o capítulo a seguir:
No capítulo V – Das Diretrizes do Desenvolvimento – Seção III – Do Meio
Ambiente – o art. 21º cita que o Poder Executivo promoverá a valorização, o
planejamento e o controle do meio ambiente de acordo com as seguintes diretrizes:
“I – considerar o meio ambiente como elemento fundamental do sistema do
planejamento e desenvolvimento sustentável do Município, áreas urbanas e terras
rurais;”
“II – promover e estimular a criação de instrumentos necessários ao exercício das
funções de planejamento, controle e fiscalização de todas as atividades que tenham
interferência no meio ambiente do Município;”
“III – monitorar e controlar o uso do solo urbano e rural, a poluição do ar, água,
solo e dos mananciais;”
“VII – articular a política ambiental às demais políticas públicas de gestão e
proteção ambiental, de áreas verdes, de recursos hídricos, de saneamento básico, de
drenagem urbana e de coleta e destinação de resíduos sólidos” ;
“XVII – promover e estimular a criação de plano de manejo ambiental, garantindo
a qualidade dos recursos naturais do Município” ;
79
Ainda no enfoque ambiental, na Subseção I – Das Ações Estratégicas – o artigo
22º cita as estratégias de proteção ao meio ambiente:
“I – estabelecer zoneamento ambiental compatível com as diretrizes para
ocupação do solo” ;
“XIV – proceder ao mapeamento do uso do solo a partir de fotografia de satélite,
de maneira a gerar informações para a revisão do macro-zoneamento e do zoneamento;”
O capítulo V – Das Diretrizes do Desenvolvimento – Seção IV – Do
Ordenamento Territorial – Subseção I – Do Zoneamento Básico, o artigo 25º para efeito
desta Lei divide o município em zonas discriminadas e delimitadas na Planta PD001,
em anexo, sendo as seguintes diretrizes:
I – zona rural;
II – zona de expansão urbana;
III – zona urbana, definida pelo limite do perímetro urbano;
O artigo 26º define a zona urbana nas seguintes áreas:
I – áreas de preservação permanente, as marginais do Rio Doce, do Rio Piracicaba
e de seus afluentes, o Ribeirão Ipanema, o Córrego da USIPA e os demais ribeirões e
córregos e as assim definidas nos títulos de propriedade;
II – áreas de uso industrial;
III – Parque Ipanema.
Sendo o Capítulo II – Dos Instrumentos de Gestão Urbana Ambiental – Seção II –
Do Zoneamento – Subseção II – Das Zonas de Expansão Urbana – o artigo 67º
constituiu as Zonas de Expansão Urbana (ZEU) um dos pontos de maior conflito do
Plano Diretor de Ipatinga. Suas diretrizes são:
I – ZONA RESIDENCIAL, onde se estimula a vida de bairro, com atividades
complementares à habitação e demais atividades não residenciais controladas quanto a
incômodo e impacto, composta das seguintes subzonas:
a) DE OCUPAÇÃO CONTROLADA – OC, composta por áreas com uso
misto, residencial e não residencial, e com infra-estrutura completa de
saneamento básico, redes de abastecimento de água, coleta e tratamento de
esgoto.
80
b) DE OCUPAÇÃO LIMITADA – OL, composta por áreas com predomínio
do uso residencial, com grande demanda por infra-estrutura de coleta e
tratamento de esgoto e com sistema viário apresentando limites ao
incremento da ocupação urbana.
c) DE OCUPAÇÃO RESTRITA – OR, composta por áreas com restrições ao
incremento da ocupação urbana impostas pelo sistema viário local
caracterizado por vias sem saída ou com grande declividade.
Após a aprovação do Plano Diretor de Ipatinga, entidades questionaram as Zonas
de Expansão Urbana (ZEU) alegando que as áreas verdes de Ipatinga, contidas em 14
das 21 zonas de expansão são como o termostato do Vale do Aço, amenizando o clima,
regulando as chuvas, barrando a poluição e evitando a erosão do solo. Atualmente, há
no Ministério Público de Minas Gerais, representações pedindo a revisão das áreas
citadas acima.
De acordo com a superindente da Associação Mineira de Defesa do Ambiente –
AMDA –, Ipatinga está no vale do rio Doce, espaço de mata atlântica e de
amortecimento do Parque Estadual do Rio Doce (maior reserva deste bioma no Estado).
“Talvez seja a cidade mineira que mais detém área verde por habitante, pois a
USIMINAS é grande proprietária de terras na área urbana e a maior parte delas tem
cobertura vegetal nativa, formando o cinturão verde” . Nas partes mais altas do
município, essa área verde contribui para a infiltração de água, garantindo a
permanência das nascentes, riachos e rios.
As zonas de expansão urbana propostas pelo Plano Diretor tiveram efetiva
participação da população, entretanto, de acordo a secretária da Fundação Relictos –
ONG ambientalista de Ipatinga –, tal participação não foi real.
Ela afirma que mesmo devido ao exíguo prazo, após a formulação do Plano,
esperava-se que o mesmo voltasse a ser apresentado nas regionais, mas seguiu direto
para ser aprovado pela Câmara Municipal. Outro fator interessante foi que das 40
emendas propostas pelos vereadores, nenhuma foi aceita. Há ainda o fato que entre as
diretrizes apresentadas pela população estava a ampliação das áreas verdes e não sua
redução.
Para aquecer a polêmica, o jornal “O Tempo” de Belo Horizonte publicou uma
reportagem em abril de 2007, na qual faz menção à disputa judicial travada pelo prefeito
municipal de Ipatinga, com intuito de desmatar 2,5 milhões de metros quadrados de área
81
verde, incluindo Mata Ciliar e Mata Atlântica, referindo-se à instalação das ZEU
propostas no Plano Diretor de Ipatinga.
A ação civil pública foi movida pelo Ministério Público, visando coibir essa
supressão vegetal. Caso a decisão judicial seja favorável ao Plano Diretor, cada
habitante de Ipatinga ficará com 10,73 metros quadrados a menos de área verde. Vale
ressaltar que foi a USIMINAS que fez a representação no Ministério Público, e tem
negociado com a administração da prefeitura no ensejo de modificar as zonas de
expansões urbanas e evitar um possível desmatamento.
Além dos tramites burocráticos e judiciais, há a questão da saúde da população,
uma vez que a área verde ajuda a reduzir o impacto decorrente da poluição provocada
pela indústria siderúrgica.
Segundo o superintendente de meio ambiente da empresa, “a supressão vegetal
seria nociva para a sociedade e para imagem da USIMINAS, pois a mesma sempre foi
conhecida por propagar o verde” . Para se ter uma idéia mais precisa, somente os 926
mil metros quadrados de área verde do Centro de Biodiversidade da USIPA (CEBUS),
braço ecológico da USIMINAS, que a prefeitura quer extinguir, abriga 598 animais, a
maioria deles da fauna nacional e ameaçados de extinção. Além das matas, o projeto de
expansão adotado pelo Plano compromete bosques urbanos, cursos d’água e nascentes
como informa o documento do Ministério Público.
O cinturão verde pode exercer influência como zona amortecedora dos efluentes
atmosféricos da USIMINAS. Assim, a retirada da cobertura vegetal poderá acarretar
impacto na dispersão dos poluentes atmosféricos da empresa, influenciar no clima local
e poderá causar maior deposição de material particulado no interior dos bairros, ou
prejudicar a circulação do material, afetando os moradores do entorno.
O discurso da prefeitura é favorável à expansão urbana proposta no Plano Diretor,
pois considera o desmatamento uma função social, que tem como objetivo fazer o
parcelamento do solo para implantação de residências, ampliação do comércio e
instalação de equipamentos públicos. O prefeito de Ipatinga no jornal supra citado disse
que “acredita que o cinturão verde da USIMINAS não configura uma função social” ,
pois “os interesses da indústria em meio ambiente são duvidosos, uma vez que a
empresa está mais preocupada em proteger o patrimônio” . Se o prefeito conseguir
provar suas afirmações, a USIMINAS terá que ceder os terrenos, ou efetuar o
pagamento do Imposto sobre Propriedade Territorial Urbana (IPTU) progressivo.
82
Em contrapartida, o Ministério Público questiona a constitucionalidade do plano
baseado no artigo 225 da Constituição, que afirma: “todos têm direito ao meio ambiente
ecologicamente equilibrado, bem de uso comum do povo e essencial à sadia qualidade
de vida” . Segundo o depoimento do juiz do caso a urbanização das áreas verdes é
nociva à população, e a cortina arbórea deve ser mantida como condição para o próprio
funcionamento da empresa siderúrgica, uma vez que não haveria condições
para o aumento da produção e a implementação de investimentos
(http://www.otempo.com.br/otempo/noticias/?IdNoticia=44672&busca=plano+diretor+i
patinga&busca=plano+diretor+ipatinga&busca=plano+diretor+ipatinga).
Além disso, tal desmatamento pode acarretar perda de competitividade da
USIMINAS, o que traria dano à sociedade do município, já que ela é direta e
indiretamente responsável por grande parte dos tributos municipais. Por considerar que
houve omissão por parte da prefeitura, que não declarou no Plano Diretor a importância
ambiental das áreas verdes que seriam desmatadas, a Justiça acatou, o pedido de tutela
antecipada feita pelo Ministério Público, que garante a proteção das áreas verdes
ameaçadas de se extinguirem em função do Plano Diretor elaborado pela Prefeitura
Municipal de Ipatinga.
A figura 17 apresenta a vista parcial da área central da cidade de Ipatinga em
1985, onde a área circulada em rosa é uma das zonas de expansão do Plano Diretor de
Ipatinga, e onde futuramente há uma cobertura vegetal, conforme apresenta a figura 18.
83
FIGURA 17: Área central de Ipatinga em 1985.
FIGURA 18: Mesma área central de Ipatinga em 1999, com o cinturão verde da USIMINAS.
84
Na figura 19, as áreas circuladas em rosas indicam três das zonas contidas no
Plano Diretor de expansão urbana, localizadas no bairro Cariru (ZEU 10, 19 e 20), à
direita o Parque Florestal do Rio Doce e os Rios Piracicaba e Doce. Podemos verificar
que o Rio Piracicaba e Doce são os limitadores da expansão urbana do bairro e do
município à sudeste e a USIMINAS à noroeste.
FIGURA 19: Foto das zonas de expansão urbana no bairro Cariru.
85
A figura 20 apresenta um esboço das áreas de expansão urbana propostas pelo
Plano Diretor de Ipatinga, estão indicadas em vermelho e numeradas de 1 a 21.
Os pontos críticos pertencem à USIMINAS e onde estão localizados as áreas do
cinturão verde são:
1 USIPA;
3 Bairro Horto – divisa com Coronel fabriciano;
4 Bairro Industrial – estrada das Lavadeiras;
5 Bairro Industrial – Pátio das Transportadoras;
6 Bairro Ferroviários;
7 Avenida José Julio da Costa – Bairro Ideal;
9 Bairro das Águas/Bela Vista;
10 Avenida Itália e Avenida Estados Unidos – Bairro Cariru;
11 Bairro Castelo;
16 Bairro Centro;
18 Bairro Bela Vista;
19 Bairro Cariru;
20 Bairro Cariru.
87
3.4 Vetores de crescimento da cidade
O vetor de expansão da cidade de Ipatinga durante o período de 1952 a 1962
aconteceu de forma a acompanhar o eixo longitudinal da usina no seu lado sudeste e
leste, na área de propriedade da USIMINAS e local escolhido para abrigar a mão-de-
obra da empresa. Os limitadores de crescimento dos bairros da siderúrgica eram o Rio
Piracicaba a Leste, margeando todo o contorno da empresa e as áreas verdes que
formam parte do cinturão verde da empresa (VASCONCELOS, 2002).
Após a emancipação da cidade no de 1964, a empresa não tinha como controlar a
expansão urbana. O crescimento urbano deu-se no sentido noroeste e oeste, sempre em
sentindo à divisa com o município de Santana do Paraíso, onde os terrenos eram de
propriedades de fazendeiros que, com a pressão imobiliária, foram transformando suas
fazendas em loteamentos para tentar suprir a demanda de moradia que o crescimento da
cidade impunha.
Durante as décadas de 70 e 80 houve uma explosão de crescimento. A mancha
urbana avançou no sentido noroeste/oeste, encostando na divisa com Santana do
Paraíso, sendo que em certos locais a distinção da divisa entre os municípios é
imperceptível, devido ao adensamento urbano.
Na década de 90 a verticalização foi uma constante na maioria dos bairros de
Ipatinga. A expansão de serviços da USIMINAS gerou uma procura de imóveis pelas
empreiteiras que chegaram à cidade para executar as obras na empresa. Essa demanda
imobiliária exarcebada acelerou o processo de verticalização. Os bairros Cidade Nobre,
Horto e Iguaçu que apresentavam, em sua maioria, residências unifamiliares, mudaram
a paisagem para prédios de 3 pavimentos. Ainda hoje, alguns bairros estão nesse
processo de verticalização, a exemplo dos bairros Canaã, Bethânia e Veneza.
O município tem sua expansão urbana limitada nas porções oeste e sudoeste pelas
serras de Escuro e dos Cocais, onde ocorre a divisa com o município de Coronel
Fabriciano; nas porções nordeste e leste pela Serra da Pedra, na divisa com o município
de Mesquita (onde se encontra a APA Ipanema, conforme figura 21); na porção sudeste
pelo Rio Doce, além da divisa com a cidade de Caratinga; ao sul pelo Rio Piracicaba e
pelo Parque Florestal do Rio Doce (PFRD), na divisa com o município de Timóteo, e;
ao norte pela divisa com o município de Santana do Paraíso.
89
Devido à diminuta superfície de seu território, tendo ainda a maior parte formada
por terrenos de acentuada declividade, ou seja, a geomorfologia da cidade é um
limitador natural da expansão da área urbana, ainda há a APA (Área de Proteção
Ambiental) que ocupa quase a metade da área total do município, em contraponto, a
cidade ocupa quase a totalidade das áreas planas e das colinas adequadas à urbanização.
Na figura 22 é apresentada a linha de divisa entre os municípios de Ipatinga e
Santana do Paraíso destacada em vermelho; em 1999 o local estava sendo terraplenado
para a construção do loteamento Cidade Nova, o que praticamente fundiu as duas
cidades, sendo difícil distinguir os limites. Isso também é um limitador de crescimento
da cidade, pois a cidade de Ipatinga não tem como se expandir na direção norte e
nordeste.
A expansão urbana em virtude da demanda por novos loteamentos está
conturbando os municípios, ou seja, a zona urbana de Ipatinga está expandindo além da
fronteira do município e adentrando em Santana do Paraíso; em quase toda a divisa
entre os dois municípios há ocorrência de loteamentos no lado de Santana do Paraíso
margeando e limitando o crescimento da cidade de Ipatinga.
90
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91
4 CONCLUSÕES
Traçado o histórico do desenvolvimento da expansão urbana do município de
Ipatinga, entre os anos de 1952 e 2004, concluímos que os principais vetores do
crescimento urbano foram na direção noroeste e oeste, mesmo porque o crescimento da
cidade foi fortemente influenciado pela USIMINAS, que detêm grande quantidade de
áreas a sudoeste e a leste do município.
Entre os anos de 1972 e 2004, considerando o uso do solo do município de
Ipatinga, o crescimento urbano afetou negativamente as áreas de mata nativa em trechos
pontuais e ocorreu uma maior incidência de solos exposto e áreas de pastagens.
A expansão urbana de Ipatinga proposta pelo Plano Diretor elaborado e aprovado
no ano de 2006, nas zonas de expansão urbanas (ZEUS) apresenta conflitos de uso do
solo que podem comprometer as áreas verdes existentes no município, entretanto, a
modificação no parcelamento urbano sob forma de novos loteamentos ou
desmembramentos de algumas áreas existentes na região sudoeste podem ser um
instrumento para a organização do município de Ipatinga.
O crescimento urbano da cidade de Ipatinga está limitado em seus vetores
horizontais considerando as restrições territoriais devido à APA Ipanema e até mesmo à
geomorfologia da cidade.
Diante da limitação de locais para uma expansão urbana sem comprometer as
áreas verdes existentes no município, o crescimento da zona urbana nos limites
territoriais de Ipatinga estão restritos.
92
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