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ANDRÉ ROBERTO DA SILVA PINTO
A FORMAÇÃO DE ENGENHEIROS EM
PERNAMBUCO: algumas histórias
CAMPINAS
2015
ii
iii
iv
v
vi
vii
RESUMO
O objetivo central desta investigação foi estudar as características da formação de
engenheiros civis-professores de matemática, pela Escola de Engenharia de Pernambuco,
entre finais do século XIX e inícios do século XX. Pautados em autores da História
Cultural, especialmente em Carlo Ginzburg, buscamos rastros, no sentido atribuído por este
autor, que nos ajudaram a construir ―o fio do relato‖ e a nos orientar ―no labirinto da
realidade‖ (GINZBURG, 2007, p. 7). Para compor o fio das narrativas, utilizamos rastros
deixados em diversos tipos de documentos, como livros, entrevistas, artigos, textos oficiais
e escolares, encontrados em diferentes lugares de memória. Os rastros encontrados nos
levaram à produção de três textos independentes, que não têm como fio condutor a
cronologia. No primeiro deles, adentramos no universo da engenharia no Brasil, buscando
identificar tipos diferentes de formação de engenheiros. No segundo texto, composto de
duas partes, apresentamos duas narrativas históricas, uma centrada em memórias
institucionais e outra em memórias de alguns personagens que fizeram parte do cotidiano
da Escola de Engenharia de Pernambuco. O terceiro texto centra sua atenção nas discussões
teórico-filosóficas que ocorriam nas primeiras décadas do século XX, particularmente, na
visão de Luiz de Barros Freire, que foi aluno, professor e diretor da EEP.
Palavras-Chave: Escola de Engenharia de Pernambuco; Escolas de Engenharia;
professores; engenheiros; matemática.
viii
ix
ABSTRACT
The central objective of this investigation was to study the characteristics of
engineers civil-math teachers‘ formation, by Engineering School of Pernambuco State,
during the late 19th century and early 20th century. Based on authors of Cultural History,
especially Carlo Ginzburg, we look for traces, in the sense attributed by this author, who
helped us to build "thread of narration" and guided us "in the labyrinth of reality"
(GINZBURG, 2012, p. 1). To compose the thread of the narrative, we use traces left in
several types of documents, such as books, interviews, articles, official and educational
texts, found in different places of memory. These traces led us to produce three independent
texts, which do not have chronology as their guiding principle. In the first one, we enter the
universe of engineering in Brazil, seeking to identify different types of training to
engineers. The second text, composed of two parts, we present two historical narratives,
one centered on institutional memories and the other on memories of some characters who
were part of the daily life of the Engineering School. The third text focuses on theoretical-
philosophical discussions that occurred in the first decades of the 20th century, particularly,
in the vision of Luiz de Barros Freire, who was a student, a teacher and Director of the
EEP.
Keywords: Engineering School of Pernambuco State; Engineering schools; teachers;
engineers; mathematics.
x
xi
SUMÁRIO
RESUMO ............................................................................................................................................. vii
ABSTRACT ........................................................................................................................................... ix
SUMÁRIO ............................................................................................................................................ xi
AGRADECIMENTOS ........................................................................................................................... xiii
LISTA DE FIGURAS .............................................................................................................................. xv
INTRODUÇÃO ...................................................................................................................................... 1
CAPÍTULO 1 – A matemática e escolas militares no Brasil ................................................................. 6
Com as mãos sujas de cal e de tinta.................................................................................................... 7
Com as mãos sujas de giz e tinta ....................................................................................................... 19
Com as mãos ‘na massa’ ................................................................................................................... 26
CAPÍTULO 2 – A Escola de Engenharia de Pernambuco em movimento .......................................... 30
Memórias Insitucionais ..................................................................................................................... 31
Professores, Alunos e Disciplinas ...................................................................................................... 41
Entre Doutores e Bacharéis ............................................................................................................... 50
CAPÍTULO 3 – Luiz de Barros Freire: Reflexões sobre Ciência .......................................................... 55
Da Sciencia Matehmatica, Sua Methodologia .................................................................................. 57
Outros Escritos .................................................................................................................................. 66
CONSIDERAÇÕES FINAIS ................................................................................................................... 73
FONTES BIBLIOGRÁFICAS ................................................................................................................. 77
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ........................................................................................................ 79
ANEXOS ............................................................................................................................................. 86
Anexo 1: Grade curricular apresentada na Lei n° 84 de 1895 que decretou a criação da Escola de
Engenharia de Pernambuco .............................................................................................................. 86
Anexo 2: Grade curricular apresentada no Regulamento de 1898 ................................................... 87
xii
Anexo 3: Grade curricular apresentada no Regulamento de 1901 ................................................... 89
Anexo 4: Grade curricular apresentada nos Estatutos de 1905 ....................................................... 90
Anexo 5: Tabela com os nomes de professores da EEP e o ano em que se formaram Engenheiros
na EEP ................................................................................................................................................ 92
Anexo 6: Lista de Formandos da EEP de 1897 até 1925 ................................................................... 93
Anexo 7: Lista de Professores da EEP de 1895 até 1916 ................................................................... 99
xiii
AGRADECIMENTOS
À minha família e à minha esposa, que estão comigo desde o início. Um
agradecimento especial para minha Larissa, que além de todo o apoio ainda colaborou
imensamente para finalização deste texto.
À Maria Ângela Miorim, pela orientação singular, por todo suporte e atenção. Aos
professores André Luiz Paulilo e Virgínia Cardia Cardoso, que colaboraram de forma
decisiva para a confecção do texto final desta pesquisa.
Às pessoas que trabalham na Fundaj, no Arquivo Público Estadual de Pernambuco, na
Biblioteca Pública do Estado de Pernambuco, no Arquivo Geral da UFPE, na Biblioteca
―Prof. Joel Martins‖ da Faculdade de Educação da Unicamp.
Às pessoas que nos atenderam no Centro de Tecnologia e Geociência da UFPE, em
especial ao professor Maurício Pina, que auxiliou em etapas fundamentais da busca por
fontes.
Ao professor Roldão Gomes Torres, pela atenção, disponibilidade e por seus livros
―Nos degraus da rua do Hospício 1 e 2‖ que muito colaboraram para a pesquisa. Ao Bruno
Dassie, que nos enviou arquivos de difícil localização e que foram muito importantes para o
estudo.
Aos amigos que me deram apoio em Pernambuco: Luiz Miguel e Patrícia Sanches.
Aos colegas do grupo HIFEM e do CEMPEM, pelas boas conversas.
À CAPES, pelo apoio financeiro dedicado a esta pesquisa.
Aos amigos e mestres que aqui não nomeei, mas que fizeram parte desta etapa da
minha formação, um grande e sincero:
Muito Obrigado.
xiv
xv
LISTA DE FIGURAS
FIGURA 1: Fortaleza do Brum......................................................................... ...6
FIGURA 2: Capa Do Livro ―Método Lusitânico de Desenhar as Fortificações das Praças
Regulares e Irregulares, Fortes de Campanha e outras obras pertencentes a Architectura
Militar‖, 1680........................................................................................................................11
FIGURA 3: Capa do Livro ―Exame de Bombeiros‖............................................13
FIGURA 4: Capa do Livro ―Exame de Arthilheiros‖..........................................14
FIGURA 5: Capa do Livro ―Novo Curso de Matemática‖...................................16
FIGURA 6: Teatro de Santa Isabel e Palácio do Campo das Princesas em 1850...32
FIGURA 7: Capa do ―Regulamento‖ da Escola de Engenharia de Pernambuco de
1898.............................................................................................................. .....34
FIGURA 8: Prédio da Escola Livre de Engenharia na rua do Hospício, n° 71.....39
FIGURA 9: Atual sede do Clube de Engenharia de Pernambuco.........................41
FIGURA 10: Luiz de Barros Freire................................................... .................55
FIGURA 11: Capa da tese ―Da sciencia Mathematica Sua Methodologia‖...........57
1
INTRODUÇÃO
Durante a escrita desta versão final de minha dissertação de mestrado, rememorei
diferentes tempos, não apenas aqueles que me motivaram a realizar uma investigação em
História da Educação Matemática brasileira, mas também os de busca por textos, artigos,
livros e outros documentos, localizados em variados espaços de memória, bem como os
tempos de ansiedade e dúvidas geradas nos momentos da escrita da História.
Nesta rememoração, me ocorreram algumas aulas da disciplina EL 284 – Educação
Matemática Escolar I, quando tive meu primeiro contato com textos de História da
Matemática e da Educação Matemática, que tinha como docente a professora Maria Ângela
Miorim, orientadora desta dissertação. Eu estava, então, no segundo semestre do Curso de
Licenciatura em Matemática da UNICAMP. Esta disciplina despertou em mim um interesse
que somente no término do curso de graduação ficaria mais nítido: o gosto pela história ou
por histórias, pela busca de textos e documentos, por levantar questões e buscar
possibilidades de respostas ou, quem sabe, como ocorria muitas vezes na disciplina
mencionada, levantar novas questões.
Durante o Curso de Matemática, fui me aproximando cada vez mais do campo
educacional, não só por experiências como professor, mas, também, por outras experiências
em disciplinas da área de pesquisa em Educação Matemática, que levantavam questões
sobre educação, professores, sobre o ensino de matemática, sobre histórias de professores.
Quando concluí o meu Curso, pensei em fazer mestrado na área que tinha me
despertado maior interesse: a História da Educação Matemática. Decidi, então, procurar a
professora Maria Ângela Miorim para conversarmos sobre este meu interesse. Em reunião,
conversamos sobre meus anseios, minha história, minha situação de vida e estudo daquele
momento. Concluímos que seria possível entrelaçar o meu interesse pela História da
Educação Matemática com o estado em que estava residindo: Pernambuco. Conversando
sobre um possível período para meu estudo, a professora Ângela e eu pensamos no começo
do século XX, um período rico em mudanças, porém, comparado a outros períodos da
história, ainda pouco explorado por estudos da História da Educação Matemática brasileira.
2
Após esta conversa inicial, realizei algumas buscas por documentos, elaborei meu projeto
de mestrado e fui aprovado na seleção da FE-UNICAMP.
O objetivo central do projeto era investigar como professores-engenheiros de
matemática, que viveram no começo do século XX no Recife, eram constituídos, ou seja,
como eles se tornavam professores. Para realizar a investigação, incentivado por leituras e
discussões realizadas em reuniões do Grupo de Pesquisa HIFEM – História, Filosofia e
Educação Matemática; bem como em disciplinas cursadas na FE-UNICAMP, que
priorizavam textos de historiadores vinculados à História Cultural, como Roger Chartier,
Michel de Certeau e Carlo Ginzburg, pensava em centrar minha atenção em práticas do
ensino de Matemática realizadas na Escola de Engenharia de Pernambuco. Acreditava,
então, que iria localizar alguns registros mais diretamente relacionados às aulas de
Matemática, tais como: ementas de disciplinas, diários de professores, provas, exames,
cadernos de alunos, etc. Essas expectativas foram criadas durante meus primeiros contatos
com a Escola de Engenharia de Pernambuco, quando fui informado de que esse material se
encontrava em uma repartição do Centro de Tecnologia e Geociência (CTG)1 da UFPE,
Universidade Federal do Pernambuco, denominada Escolaridade, que há cerca de dois anos
tinha passado por uma reforma.
Minhas expectativas iniciais, no entanto, não se confirmaram. Nesta reforma,
segundo informações do CTG, a Escolaridade e seu acervo foram divididos em duas partes:
a primeira referente ao corpo discente e a outra ao administrativo. Todavia, ao iniciar
minhas buscas, descobri que os documentos que procurava não estavam em nenhuma
dessas novas seções da Escolaridade. Fui orientado, então, a realizar nossas buscas no
arquivo Geral da UFPE, que também não tinha registro dos documentos que procurávamos.
As pessoas que me auxiliaram no Arquivo Geral sugeriram que eu voltasse a procurar nos
arquivos do CTG, que era o local onde os documentos do período de meu estudo estariam
guardados. Retornei ao CTG, mas novamente não consegui localizar nenhum documento
anterior a década de 1970. Após alguma insistência em diversas seções do CTG, fui
1 ―O Centro de Tecnologia e Geociências - Escola de Engenharia de Pernambuco (CTG-EEP) resultou da
fusão da antiga Escola de Engenharia de Pernambuco, fundada em 1895, com a Escola de Química, a Escola
de Geologia, o Laboratório de Ciências do Mar e o Centro de Energia Nuclear. Suas instalações, no Campus,
ocupam uma área construída de 50.163m2, abrigando laboratórios de ensino e pesquisa e uma biblioteca
setorial‖. Disponível em: https://www.ufpe.br/ctg/index.php Acesso em: 14/04/2015.
3
informado que estes arquivos talvez não estivessem mais disponíveis, que possivelmente
eles se ―perderam‖ durante a reforma da Escolaridade ou ao longo dos anos.
Grande foi a decepção. Mesmo assim não desanimei. Existiam outros locais de
memória que eu poderia, ainda, encontrar materiais de interesse para o meu trabalho.
Visitei, então, a Biblioteca Pública do Estado de Pernambuco, o Arquivo Público Estadual
de Pernambuco e a Fundação Joaquim Nabuco (Fundaj). Nestes locais, consegui localizar
alguns documentos: Regulamentos, Relatórios e Estatutos da EEP; uma tese do professor
Luiz Freire e alguns artigos seus e de outros autores publicados no Boletim de Engenharia
de Pernambuco2, bem como artigos de Freire na Revista Brasileira de Matemática; atas
manuscritas de Congregações realizadas entre 1898 e 1902. Também tive acesso a alguns
livros que abordam aspectos históricos da Escola de Engenharia de Pernambuco:
―Engenheiros do Tempo‖, uma organização coletiva, que apresenta 18 entrevistas de
professores da EEP; ―Outras Histórias‖, uma coletânea que se propõe a complementar o
texto ―Apontamentos para História da Escola de Engenharia de Pernambuco‖ de Newton da
Silva Maia; e ―Nos degraus da Rua do Hospício‖ (1 e 2), de Roldão Torres, que traz
aspectos históricos da Escola de Engenharia e de seus professores, além de crônicas, em
dois livros que comemoram os 40 anos de formação da turma de Engenharia Civil de 1967.
A leitura deste material levou-me a centrar a atenção na Escola de Engenharia de
Pernambuco e na formação de seus engenheiros, tendo a seguinte questão orientadora da
investigação: Quais as características da formação de engenheiros-professores de
matemática na Escola de Engenharia de Pernambuco entre os anos finais século XIX e anos
iniciais do século XX?
A decisão por não definir explicitamente o período ocorreu durante a escrita do
trabalho final, após a realização do Exame de Qualificação, momento em que os membros
da banca sugeriram uma maior atenção para a delimitação do tempo. A opção foi pela não
definição de datas limites, uma vez que o trabalho transita em vários tempos, priorizando
finais de 1800 e inícios de 1900. Tempos de que trata a maior parte da documentação que
conseguimos localizar. Tempos de Engenheiros.
A Escola de Engenharia de Pernambuco foi uma das cinco escolas criadas logo após
a implantação da República. A cidade de Recife já era um importante centro do Nordeste
2 Trata-se do periódico do Clube de Engenharia de Pernambuco, publicado no período de 1923 a 1937.
4
brasileiro. Pelo seu porto eram realizadas grandes movimentações de importação e
exportação. Com a República, a criação de empreendimentos industriais é intensificada. O
crescente aumento da exportação gerou a necessidade de modernizações, mecanizações,
construções. As Escolas de Engenharia criadas no período tinham o objetivo primordial de
formar profissionais para atender essa demanda.
Com o objetivo central de estudar as características da formação desses engenheiros
civis-professores de matemática, pela Escola de Engenharia de Pernambuco, entre finais do
século XIX e inícios do século XX, pautei-me, especialmente, em Carlo Ginzburg. Busquei
rastros, no sentido atribuído por este autor, que me ajudaram a construir ―o fio do relato‖ e
a me orientar ―no labirinto da realidade‖. Como Ginzburg, procurei neste trabalho,
―servindo-me dos rastros‖, contar ―histórias verdadeiras‖ (GINZBURG, 2007, p. 7).
A busca pelos rastros, acabou levando-me à escrita de três capítulos independentes,
que não têm como fio condutor a cronologia. Optei por não terminar um capítulo e começar
o próximo atrelado à continuidade temporal. Decidi, durante o percurso da investigação,
escrever capítulos que de várias maneiras se complementam, e que a leitura de um pode
servir de suporte ao outro. Dessa forma, tentei romper com a obrigatoriedade de leitura
contínua. Os capítulos podem ser lidos na ordem desejada pelo leitor. Busquei ―flutuar‖
sobre os períodos, dar liberdade de ―oscilação‖, por isso, ao longo do texto ocorrem ―idas e
vindas‖.
O primeiro capítulo, intitulado ―A Matemática e Escolas Militares no Brasil‖, tem
como objetivo adentrar no universo da engenharia no Brasil, buscando identificar tipos
diferentes de formação desses engenheiros e a participação da matemática nessas
formações. Na primeira parte, denominada ―Com as mãos sujas de cal e tinta‖, expressão
que compõe o título de um artigo de Beatriz Piccolotto Bueno, o engenheiro realizava seu
trabalho em constante diálogo com o local em que a obra seria construída. Sob o título
―Com as mãos sujas de giz e tinta‖, discuto a formação de engenheiros que ocupavam
diferentes funções, dentre as quais a docência. A formação que denomino ―Com a mão na
massa‖ é aquela em que os engenheiros assumem funções específicas de sua profissão.
O Capítulo 2, intitulado ―A Escola de Engenharia de Pernambuco em movimento‖,
é composto por dois textos. No primeiro deles, ―Memórias Institucionais‖, são apresentadas
algumas mudanças ocorridas na instituição, em especial as relacionadas à formação dos
5
alunos. No segundo texto, ―Professores, alunos e disciplinas‖, apresento uma narrativa
histórica sobre a Escola de Engenharia centrada em alguns personagens que fizeram parte
da história desta instituição, tais como alunos, professores e diretores. Para compor o fio
desta narrativa, utilizei rastros deixados em diversos tipos de documentos, como livros,
entrevistas, artigos, textos oficiais e escolares. Busquei nesses documentos, em especial,
rastros sobre o cotidiano da Escola de Engenharia.
No capítulo seguinte, o Capítulo 3, centrei minha atenção nas discussões teórico-
filosóficas que estavam ocorrendo na Escola de Engenharia de Pernambuco nas primeiras
décadas do século XX. Para isso, analisei textos do professor Luiz de Barros Freire, que foi
aluno, professor e diretor da EEP. Busquei, nessa análise, compreender aspectos da
formação de um profissional de engenharia, bem como temas e autores que estavam na
pauta das discussões desses profissionais nas décadas iniciais da República. O primeiro
texto de Freire que analisei, provavelmente o primeiro publicado pelo autor, foi a tese,
intitulada ―Da Sciencia Mathematica, Sua Methodologia‖, apresentada no concurso para
professor da disciplina Geometria da Escola Normal Oficial de Pernambuco. Outros artigos
de Freire foram também analisados.
Para finalizar o trabalho, trago algumas Considerações Finais, momento em que
apresento algumas reflexões sobre os estudos realizados, bem como algumas considerações
sobre a Escola de Engenharia de Pernambuco e seus professores-engenheiros, além de
tratar sobre caminhos que surgiram ao longo e ao fim do trabalho.
Nos Anexos estão disponibilizados: Grade curricular apresentada na Lei n° 84 de
1895, que decretou a criação da EEP; Grade curricular apresentada no Regulamento de
1898; Grade curricular apresentada no Regulamento de 1901; Grade curricular apresentada
nos Estatutos de 1905; Tabela com os nomes dos professores da EEP e o ano em que se
formaram Engenheiros na EEP; Lista de Formandos da EEP de 1897 até 1925; Lista de
Professores da EEP de 1895 até 1916. As grades foram transcritas a partir das fontes
encontradas. Ao longo do texto desta dissertação, algumas referências serão feitas a essas
grades, assim como a alguns personagens da EEP que se encontram nas listas.
6
CAPÍTULO 1 – A MATEMÁTICA E ESCOLAS MILITARES NO BRASIL
FIGURA 1. FORTALEZA DO BRUM3
Um dos pontos turísticos da cidade de Recife, capital de Pernambuco, é o Forte do
Brum, também conhecido por Forte Novo de São Jorge (Figura 1). Os visitantes ficam
impressionados com a construção do século XVII. Paredes altas e largas, poucas janelas,
canhões em lugares estratégicos. A construção aparenta ser forte, ser uma fortaleza. Se
estiverem assessorados por um guia, certamente, conhecerão um pouco sobre a história do
Forte e de Recife. Como é comum entre os guias, eles recitam uma história para os turistas,
apontando datas e nomes de alguns personagens importantes. Talvez sejam mencionados
alguns engenheiros que participaram na construção da Fortaleza. Sobre a formação desses
engenheiros responsáveis pela obra, provavelmente, nada será mencionado. Alguns turistas-
ouvintes talvez não se importem com essa ausência. Outros, no entanto, talvez fiquem se
perguntando: como fizeram isto em uma época que não existiam instrumentos? Carros
pipas? Concreto?
No período colonial, a Capitania de Pernambuco ―era uma das mais prósperas da
Coroa Portuguesa, estendia-se do eixo da barra sul do Canal de Santa Cruz até o Rio São
3 Disponível em: http://www.7rm7de.eb.mil.br/ass_cult/forte.php?opc=2# Acesso em: 25/02/2015.
7
Francisco, limitando-se ao norte com a Capitania de Itamaracá, que tinha seu limite norte
na Baía da Traição, hoje Estado da Paraíba.‖ (ALBUQUERQUE, 2007, p. 44). Os ataques
de piratas invasores, ingleses e franceses, eram frequentes. Era necessário construir, em
locais estratégicos, fortalezas para a defesa contra os invasores, que levavam ―pau-brasil,
juntamente com jóias e alfaias4 de igrejas‖ (ALBUQUERQUE, 2007, p. 44). A construção
do Forte do Brum, para a defesa do litoral de Recife, onde ficava o porto, foi iniciada ainda
no século XVII, com um projeto do jesuíta Frei Gaspar de Samperes, que foi responsável
também pelo projeto da Fortaleza dos Reis Magos no Rio Grande do Norte. Um frei jesuíta
engenheiro? Talvez isso possa causar estranheza, mas alguns jesuítas se destacaram no
estudo de matemática, astronomia, etc. Samperes era um deles, formado ―mestre nas traças
de engenharia na Espanha e Flandres, antes de entrar para a Companhia de Jesus.‖
(CASCUDO, 1984:24, apud LIMA, 2009, p. 7).
Naquele período, como ocorre atualmente, a execução dos projetos não era de
responsabilidade de seu idealizador. No entanto, para a elaboração de um projeto, era
necessário que o engenheiro fosse ao campo avaliar as condições do terreno, em relação ao
tipo de obra que seria construída. No caso da construção de um Forte, ―sua localização do
ponto de vista estratégico, bem como uma avaliação do ecossistema no qual o forte esteja
inserido, constitui-se ainda em algo de suma importância para o entendimento de sua
funcionalidade e operacionalidade, inclusive para a sobrevivência de sua tropa em caso de
sítio.‖ (ALBUQUERQUE, 2007, p. 43).
COM AS MÃOS SUJAS DE CAL E DE TINTA5
Segundo os estudos de Bueno (2011), ―247 engenheiros militares‖ trabalharam no
Brasil durante o período colonial. A atuação desses profissionais, ―braço direito das coroas
europeias‖ era ampla, não se limitava à construção para a defesa do país, as fortificações.
―Num contexto de indefinição das profissões em moldes atuais, foram homens
polivalentes, que atuaram em campos diversos, cuidando de fazer igrejas,
palácios de governadores, casas de câmara e cadeia, alfândegas, aljubes,
hospitais, quartéis, casas de pólvora, além de projetar estradas, pontes, cais,
4 Objetos de Igrejas.
5 Esta frase compõe o título do artigo de Bueno (2011).
8
aterros, portos, chafarizes, fontes, aquedutos e hortos botânicos. O mapeamento
do território e o projeto de cidades e vilas, envolvendo expedições de
adentramento nas entranhas do sertão, roubaram-lhes boa parte do tempo a partir
do século XVIII.‖ (BUENO, 2011, p. 1).
Para construir o seu projeto, o engenheiro não se limitava a levantar medidas e
dados gerais do terreno e a elaborar o mapa em seu escritório. Como acontecia desde ―os
tempos dos primeiros engenheiros italianos como Francesco di Giorgio e Mariano
Taccola‖, o desenho era elaborado em constante diálogo com o local onde a obra seria
construída. ―Daí as soluções arquitetônicas e urbanistas amalgamadas à paisagem, tendendo
à máxima regularidade possível sem se limitar aos modelos geométricos ideais‖ (BUENO,
2011, p. 2). Além de estabelecer diretrizes para a elaboração de seu projeto, o engenheiro
também precisava ―orquestrar mestres dos diversos ofícios e peões‖, estabelecendo um
diálogo contínuo entre ―canteiro e escritório‖, o que está na origem da denominação
engenheiro:
―A formação nesta ―arte‖, desde o século XV nas cortes italianas e no século XVI
em Portugal, envolveu ―ciência‖ (doutrina) e ―fábrica‖ (construção), mesclando
conhecimentos eruditos das artes liberais - Aritmética, Geometria (elementar e
prática), Desenho, ―razão dos céus‖ (astronomia e astrologia), Letras (Gramática
e Retórica), Filosofia, Direito e Medicina -, a práticas do cotidiano dos canteiros
de obras que permitiam empiricamente verificar a qualidade, propriedade e
capacidade estrutural dos materiais como cal, areia, terra, pedra e madeira‖
(BUENO, 2011, p. 2).
A grande dependência de contratação de engenheiros estrangeiros para trabalhos em
Portugal e em suas colônias, durante os séculos XVI e XVII, gerava vários problemas de
diferentes naturezas. Com o objetivo de minimizar essa dependência, a Coroa Portuguesa
propôs a criação de escolas militares para formação desses profissionais. Essas escolas,
denominadas inicialmente Aulas de Artilharia e Fortificações, foram criadas no Reino
Português em um período em que essas artes começavam a exigir conhecimentos técnicos,
que envolviam algumas áreas, em particular a matemática. Com a intenção de atualizar a
sua defesa por meio da introdução de técnicas mais modernas, além de minimizar a
dependência de outros países, o governo português contratou estrangeiros para ―exercerem
9
comandos militares‖ e ―para ensinarem aos portugueses do reino e do ultramar os seus
ofícios6‖ (VALENTE, 1999, p. 43).
A política adotada pela Coroa Portuguesa não parece ter produzido efeitos a curto
prazo, ao menos no Brasil. A ―Aula de Fortificação‖ criada no Rio de Janeiro, por exemplo,
tinha como responsável o português Capitão Engenheiro Gregório Gomes Rodrigues,
enviado ao Brasil em Janeiro de 1694, mas que iniciou suas atividades didáticas cinco anos
depois. No entanto, as aulas não ocorriam em um local específico para a atividade. Segundo
Pirassinunga (1958, p. 8-9), as aulas eram ―ministradas na Cadeia da Cidade do Rio de
Janeiro‖, uma vez que o professor estava preso desde 1697, por ter sido responsabilizado
por ―culpas‖ ocorridas em ―erros de seu ofício‖. Não foram esclarecidos ―os erros de
ofício‖ cometido pelo engenheiro. O que se mencionou foi que, mesmo preso, o engenheiro
continuava a supervisionar as obras iniciadas, ―com escolta e sob muita cautela‖, e a dar
aulas ―aos Condestáveis7 e Artilheiros das fortificações da Cidade‖. Ele era o único
engenheiro ―existente no Brasil‖. (PIRASSINUNGA, 1958, p. 11).
Em carta datada de 15 de janeiro de 1699, D. Pedro II, Rei de Portugal, esclarece ao
Governador e Capitão Geral do Rio de Janeiro, Artur de Sá e Menezes, que para a Aula de
Fortificação,
―Os discípulos seriam no máximo três e com idade máxima de dezoito anos (...).
A Aula procuraria atender ao plano do Soberano, de ensinar os naturais: (...) para
que assim possa nessa mesma Conquista haver engenheiros, e se evitem as
despesas que se fazem com os que vão deste Reino, e as faltas que fazem ao meu
serviço enquanto chegam os que se mandam depois dos outros serem mortos (...)‖
(MACEDO, s.d., p. 1)8
Em suas aulas, o Capitão Engenheiro Gregório Gomes Rodrigues, utilizava como
material didático o Método Lusitânico de Desenhar as Fortificações das Praças Regulares
e Irregulares, Fortes de Campanha e Outras Obras Pertencentes a Architectura Militar‖
6 ―O holandês Miguel Timermans foi um dos engenheiros estrangeiros contratados para trabalhar na capital do
reino em 1645. Entre 1648 e 1650 esteve no Brasil dando aula de artilharia e fortificações.‖ (CARDOSO,
2011, p. 3). 7 Condestável era o nome dado àqueles que tinham sob sua responsabilidade ―o preparo da artilharia e a
arrumação dos cartuchos e balas, segundo o calibre‖, em navios e fortalezas e terços – unidades militares.
(PIRASSINUNGA, 1958, p. 8). 8 Entendemos que o Soberano seria o Rei e naturais os nativos.
10
do Tenente-General Luís Serrão Pimentel9 (1613-1678), editado em 1680 (Figura 2). O
Método de Pimentel ―ensinava na primeira de suas seis teses: 1- "Não há arte, em uma
república, mais necessária que a fortificação", 2- "Sem ela, não pode príncipe algum
segurar seu Estado".‖. (MACEDO, s.d., p.1) O autor ressalta a função do engenheiro que,
no período colonial, era ligada a terra dividindo-se entre conquistar e proteger.
Na obra de Serrão Pimentel, inicialmente, são discutidos conceitos geométricos
associados às suas medidas. Em seguida, são apresentadas as práticas de medição, as
formas de medição e os aparelhos de medida. Tudo é feito por meio de exemplos, figuras e
apresentações de tabelas. Nesse estudo vão sendo abordados diferentes temas geométricos,
tais como ângulo plano retilíneo, semicírculo, polígonos regulares. Em seguida, são
iniciadas as orientações para desenhos de projetos de fortificações e suas várias partes,
assim como: fortes, cidadelas, coroas10
, castelos, parapeitos, etc. Nessas orientações, são
destacadas palavras e letras usadas em plantas de prédios de fortificações e medidas de
diferentes países e suas transformações, momento em que são discutidas diversas operações
aritméticas. O texto apresenta diferentes métodos e é sempre acompanhado de figuras, pois
trata-se de um texto de geometria prática associada a projetos de fortificações. Apenas no
último capítulo, intitulado ―Dos teoremas acerca das linhas‖, são apresentados 33 teoremas
e suas demonstrações. Para o autor, ―teorema é aquela demonstração que inquire e descobre
alguma propriedade de uma ou muitas quantidades juntas.‖ (PIMENTEL, 1680, p. 658).
9 "Na parte do livro onde constam as ―censuras‖, o Tenente General da Artilharia do Reino, Diogo Gomez de
Figueiredo (?-1684), se refere a Serrão Pimentel, como ―lente de Matemática na Aula Régia, cosmógrafo-mor
e engenheiro-mor do Reino.‖." (MORMÊLLO, 2010, p. 40) 10
Trata-se de um ornamento que termina o alto de um edifício ou de um elemento arquitetônico. ―coroa‖, in
Dicionário Priberam da Língua Portuguesa [em linha], 2008-2013, http://www.priberam.pt/DLPO/coroas
[consultado em 28-01-2015].
11
FIGURA 2. CAPA DO LIVRO “MÉTODO LUSITÂNICO DE DESENHAR AS FORTIFICAÇÕES DAS PRAÇAS REGULARES
E IRREGULARES, FORTES DE CAMPANHA E OUTRAS OBRAS PERTENCENTES A ARCHITECTURA MIL ITAR”,
168011
Já adentrando ao século XVIII, vale destacar o Brasil com um contexto de grande
movimentação por conta do que podemos classificar como uma verdadeira corrida pelo
ouro. Essa busca pelo ouro trouxe algumas consequências, como um crescente número de
portugueses vindo para a Colônia atrás do metal e, além disso, ―a Coroa toma sucessivas
providências para arrecadar sempre o máximo possível. Fisco e militares assumiam o
comando da organização, fundação de vilas e construção da vida civil em regiões surgidas
pela mineração.‖ (VALENTE, 1999, p. 43).
O ensino de artilharia, no mesmo período, começa a contar com uma aula específica
dos "Fogos Artificiaes‖, como então se dizia. Segundo Valente (1999, p. 44), a necessidade
crescente de defesa é um ―determinante‖ para a criação do Ensino Militar. Para mestre foi
nomeado ―Alpoym, promovido a sargento-mór, por ordem régia‖. (FAZENDA, 1927, p.
346).
José Fernandes Pinto Alpoim iniciou suas atividades como professor em 1738,
permanecendo nelas até ser nomeado Brigadeiro em 1752. (PIRASSINUNGA, 1958, p.
11
Disponível em: http://www.dec.eb.mil.br/historico/livroOrientacao/criacaoDom_principal.html Acesso em:
03/08/2013.
12
19). Pela Ordem Régia que nomeou Alpoim, o ensino militar ―torna-se obrigatório a todo
oficial. Nenhum militar poderá ser promovido ou nomeado se não tiver aprovação na Aula
de Artilharia e Fortificações, após cinco anos de curso.‖ (VALENTE, 1999, p. 44). Alguns
anos após o início de suas atividades didáticas no Brasil12
, Alpoim publica dois livros,
intitulados Exame de Artilheiros e Exame de Bombeiros, respectivamente em 1744 e em
1748 (Figuras 3 e 4). Um dos principais motivos que o levou a escrever estes livros foi a
escassez de material que havia no Brasil naquele período, era muito complicado conseguir
livros, em qualquer área de conhecimento, mas especificamente nesta área "nada exista
escrito em português". (VALENTE, 1999, p. 47).
Estes livros eram frutos de suas experiências como professor e foram escritos em
forma de perguntas e respostas. Diferentes de outros livros-texto, os livros de Alpoim
apresentam uma matemática prática. O Exame de Artilheiros é ―estruturado em três partes
(Aritmética, Geometria e Artilharia), que Alpoim chama de tratados.‖ (MORMÊLLO,
2010, p. 47). O Exame de Bombeiros, uma continuação do livro anterior, trata de Geometria
e Trigonometria. Os dois livros são acompanhados de várias ilustrações. Segundo
Mormêllo (2010, p. 52-53), no Exame de Bombeiros é perceptível um cuidado maior com
relação às respostas. Em muitas delas, o autor menciona os autores nos quais está se
apoiando. Durante algum tempo acreditava-se que os livros de Alpoim haviam sido escritos
e publicados no Brasil, todavia, atualmente, sabe-se que eles foram apenas escritos neste
país e publicados em outros, Espanha e Portugal. Desta forma, os livros de Alpoim são
apenas os primeiros a serem escritos no território brasileiro e não os primeiros a serem
escritos e publicados.
―Vários escritores quiseram dar aos livros do ―grande Alpoim‖ o mérito de terem
sido os primeiros livros impressos no Brasil. Mas está hoje provado que as duas
obras não foram impressas no Brasil, mas saíram dos prelos de José Antonio
Plates em Lisboa e de Francisco Marizez Abad em Madri, tal como vem escrito
na página de rosto do ―Exame de Artilheiros‖ e do ―Exame de Bombeiros.‖
(VALENTE, 1999, p. 60).
Esses livros foram utilizados não apenas nas aulas de Alpoim, mas também em
aulas militares de outras regiões brasileiras. Como afirma Mormêllo (2010, p. 47), no
prefácio da edição fac-similar do Exame de Artilheiros, Lygia da Fonseca Fernandes da
12
Alpoim foi professor substituto na Academia Militar de Viana em Portugal.
13
Cunha menciona que este livro ―extrapola a Capitania do Rio de Janeiro em decorrência da
grande falta que há de livros em nosso idioma que ensinem a profissão de artilheiro‖,
mencionando uma correspondência do Governador de Mato Grosso, que aponta indícios de
uso deste livro naquela Capitania.
FIGURA 3. CAPA DO LIVRO “EXAME DE BOMBEIROS”13
13
Disponível em: http://www.debatesculturais.com.br/o-brigadeiro-alpoim/ Acesso em: 10/04/2015.
14
FIGURA 4. CAPA DO LIVRO “EXAME DE ARTHILHEIROS”14
Segundo Valente (1999, p. 60), temos que:
―Tanto o ―Exame de Artilheiros‖ quanto o ―Exame de Bombeiros‖ tornaram-se
obras célebres por causa da lenda que as envolvia sobre a origem de sua
impressão. Entretanto, elas representam muito mais que esse interesse
bibliográfico: são testemunhas do renascimento dos estudos de matemática e
engenharia em Portugal e reflexo desse movimento no Brasil.‖ (VALENTE,
1999, p. 60).
Na segunda metade dos setecentos, em um período de constantes ameaças de
guerras, o governo português reorganizou seu exército, inspirando-se em organizações
militares de países da Europa, em particular da França. Nessa nova ordenação, que seria
seguida pelo vice-reinado brasileiro, o ―Regimento de Artilharia‖ era orientado pelos livros
de Bernard Forest de Bélidor, traduzidos para o português. Essas mudanças, no entanto,
parecem não ter agradado os professores da Metrópole, que:
14
Disponível em: http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0100-40422008000400036
Acesso em: 10/04/2015.
15
―de uma maneira geral, só tinham duas preocupações: uma a de se aferrarem às
―especulações‖ que antecedentemente haviam estudado, querendo persuadir aos
alunos que só elas eram boas e que tudo o que surgia de novo eram ‗invenções de
estrangeiros‘ sem nenhuma utilidade prática e outra a de quererem utilizar para o
ensino livros que não os mandados pelo Rei.‖ (PIRASSINUNGA, 1958, p. 23).
Com a intenção de evitar que o mesmo ocorresse em terras brasileiras, o Rei de
Portugal manda uma ―ordem severa‖ para que o Vice-Rei do Brasil cumpra na íntegra o
Regimento. Nessa mensagem, é ordenado que o Vice-Rei:
―Declare a todos os oficiais do dito Regimento nos termos mais significantes e
mais positivos que Sua Magestade não quer absolutamente nem por uma parte
que esse Regimento de Artilharia tenha outra formatura, outros exercícios, outras
manobras, outra forma de serviço, senão em tudo e por tudo os mesmos que se
praticam nos mais Regimentos deste Reino; nem por outra parte quer que na Aula
desse se ditem ou estudem outras doutrinas, se façam outros ou se leia por
outros livros que não sejam os do referido Bellidoro e dos mais Autores que
foram prescritos nas Instruções particulares ordenadas por Sua Magestade para as
referidas Lições e Estudos.‖ (PIRASSINUNGA, 1958, p. 23, grifos nossos).
A formação do engenheiro começou a passar por uma significativa mudança que
seria o aumento da prioridade do ensino teórico perante o ensino prático. Em 1774, à Aula
de Artilharia foi incluída a disciplina de Arquitetura Militar e passou a se denominar ―Aula
Militar‖, tendo como objetivos ―o preparo dos artilheiros‖ e ―de oficiais técnicos em
engenharia militar‖ (PIRASSINUNGA, 1958, p. 27). A bordo de um mesmo navio,
chegaram ao Rio de Janeiro o lente da aula do Regimento de Artilharia, juntamente com
seus auxiliares e alguns materiais para as aulas, dentre os quais estavam:
―quatorze jogos de Novo Curso de Matematicas de Belidor‖, ―um volume da La
Science de Ingenieurs‖, do mesmo autor, além dos seguintes materiais ―estojos
matemáticos15
; quadrantes de latão com suas caixas de madeira; três círculos
dimensórios com suas caixas de madeira; pranchetas de madeira com alidadas de
latão; bussolas com caixas de madeira; níveis de ar, com suas caixas de madeira;
níveis de madeira para nivelar as plataformas cum suas réguas de madeira.‖
(PIRASSINUNGA, 1958, p. 26).
Quando a ―Aula Militar‖ é transformada em ―Real Academia da Artilharia,
Fortificação e Desenho da Cidade do Rio de Janeiro‖, em 1792, ―o plano de ensino
compreendia o Curso Matemático e os Exercícios Práticos‖. O livro indicado para os dois
15
O estojo matemático era composto por compassos, transferidores e réguas.
16
primeiros anos do Curso Matemático era também o de Bélidor. (PIRASSINUNGA, 1958,
p. 29).
O Novo Curso de Matemática de Bélidor16
está organizado em 16 livros, o primeiro
deles é dedicado a definições usadas em um texto matemático17
. Em seguida, o autor
introduz uma discussão sobre as letras e a geometria, momento em que apresenta o uso de
álgebra para representar objetos da geometria; discute algumas regras do cálculo algébrico
e demonstra alguns teoremas relacionando operações algébricas e geometria. Seguindo
sempre uma mesma estrutura, em que apresenta proposições, teóricas ou práticas, que são
demonstradas e acompanhadas de figuras colocadas ao final de cada capítulo, o autor
aborda temas variados de interesse para os engenheiros, dentre os quais: razões,
progressões aritméticas e geométricas, logaritmos, posições de retas, superfícies, círculo,
figuras regulares, proporções em figuras, trigonometria retilínea e nivelamento, elipse,
hipérbole, parábola, movimento de corpos, bombas, mecânica prática, hidráulica, etc.
FIGURA 5. CAPA DO LIVRO “NOVO CURSO DE MATEMÁTICA”18
16
Trata-se de Noveau Cours de Mathématique, 9ª edição, publicada em Paris, no ano de 1757. (Figura 5) 17
As definições apresentadas são: geometria, proposição, axioma, teorema, problema, lema, corolário,
dimensões, linhas, comprimento, largura e profundidade, quadrados, retângulos, cubo, paralelepípedo. 18
Disponível em: https://archive.org/details/nouveaucoursdema00beli. Acesso em: 12/01/2013
17
A Real Academia de Artilharia, Fortificação e Desenho, do Rio de Janeiro
―destinava-se a formar oficiais de todas as Armas e engenheiros para o Brasil-Colônia‖
(LUCENA, 2005, p. 7). Existiam três tipos de formação: três anos para os Oficias da
Infantaria e da Cavalaria, cinco para os Artilheiros e seis anos para os Engenheiros.
―Essa Academia era, portanto, não uma simples aula, como os cursos anteriores,
mas um verdadeiro instituto de ensino superior, com organização comparável aos
congêneres de sua época. Note-se que, pela primeira vez, são incluídas disciplinas
específicas de engenharia civil, embora a Academia fosse um estabelecimento
militar. Eram também aceitos alunos civis, denominados de particulares.‖
(TELLES, 1984, p. 68).
O livro de Bélidor parece ter sido considerado muito teórico para os estudantes da
Real Academia, ao menos é o que sugerem os Estatutos da ―Nova Academia de Aritmética,
Geometria Prática, Fortificação, Desenho e Língua Francesa‖, criada no Rio de Janeiro em
1795, para os Oficiais de Infantaria. O texto dos Estatutos dessa Nova Academia,
considerando que seria muito ―árduo o estudo que se prescreve aos Alunos da Aula Militar
do Regimento de Artilharia‖, propõe que nos primeiros seis meses fosse estudado o Curso
de Aritmética de Bezout e, nos seis meses seguintes, a ―Geometria Prática, extraída do
Curso de Bélidor‖ (PIRASSINUNGA, 1958, p. 44). Não é sugerido o uso de todo o texto
de Bélidor, mas apenas uma parte mais prática. Esse cuidado para uma matemática mais
prática está contemplado explicitamente quando os Estatutos, nas orientações aos Lentes
(professores), sugerem que ―conformando-se a capacidade dos Discípulos‖, os professores
podem ―omitir aquelas demonstrações que não puderem compreender ao princípio, e
contentando-se de que os mesmos hábeis saibam as definições e construções de todas as
figuras de Geometria e Fortificação‖ (PIRASSINUNGA, 1958, p. 45).
O Vice-Rei do Brasil, o Conde de Resende, em uma correspondência ao Ministro do
Reinado de D. Maria I, Marechal de Campo dos Exércitos Reais, D. Luiz Pinto de Souza,
justificou a sua opção por um curso menos teórico e pela opção de Bezout:
―Quanto às ciencias julguei que seria por agora bastante a Aritmética de Bezout, a
Geometria de Bélidor, a Fortificação, o Desenho e a Língua Francesa; omitindo-
se porém nestas ciencias aquilo que elas tem de mais abstrato, em atenção à falta
de luzes e de principios que tinha a maior parte dos discípulos‖.
(PIRASSINUNGA, 1958, p. 49-50).
18
Ainda durante o século XVIII, alguns autores mencionam iniciativas de criação de
escolas militares em outras capitanias, como em Pernambuco, Minas Gerais e Bahia. As
informações sobre elas, no entanto, são às vezes vagas e conflitantes. De qualquer forma,
podemos conjecturar que algumas tentativas de criação de escolas militares nesses estados
tenham ocorrido durante o século XVIII. Segundo Lucena (2005), em 1710, na cidade de
Salvador, surgiu a aula de Fortificação e Artilharia; já em Recife a aula de Fortificação,
com ensinamentos matemáticos, surgiu em 1718 e em 1795 foi criada a aula de Geometria,
que em 1809 incluiu estudos de Cálculo Integral, Mecânica e Hidromecânica, que perdurou
até 1812. Localizamos também rastros da inclusão nas legislações de 1809 na seção de
Cartas de Lei, Alvarás, Decretos e Cartas Régias. A carta régia que ―manda estabelecer na
Capitania de Pernambuco uma cadeira de Cálculo Integral, Mechanica e Hydrodinamica‖,
data 7 de março de 1809:
―Caetano Pinto de Miranda Montenegro, do meu Conselho Governador e Capitão
General da Capitania de Pernambuco. Amigo, Eu o Principe Regente vos envio
muito saudar. Tendo presentes os serviços e reconhecido merecimento litterario
do Dr. Antonio Francisco Bastos, Capitão de Infantaria, e Lente proprietario da
cadeira de Geometria que fui servido mandar crear nessa Capitania no anno de
1795, na qual pela sua ausencia foi ultimamente provido Joaquim Ignacio Lima;
houve por bem ordenar agora que o dito Antonio Francisco Bastos fosse exercer
ahi com a patente de Sargento-mor de Infantaria a cadeira de Calculo integral,
Mechaniva e Hydrodinamica, que mando estabelecer o ordenado de 500$000
annuaes, devendo ele regular como outro Lente Joaquim Ignacio Lima o curso
mathematico dos estudantes de artilharia e engenharia dessa Capitania. O que
assim tereis entendido e fareis executar. Escripta no Palacio do Rio de Janeiro em
7 de Março de 1809.‖ (CARTA RÉGIA de 7 de março de 1808)
Segundo Telles (1984, p. 67), ―em 1719, havia no Recife uma Aula de Fortificação,
provavelmente a mesma que em 1788 foi transformada em Academia Militar”. Os
Estatutos desta Academia foram inspirados nos da Academia do Rio de Janeiro,
mencionados anteriormente. Nesses Estatutos foi proposto o ensino daquelas ―partes mais
essenciais do curso Matemático de Bélidor e Bezout, que necessário seja para qualquer
ação do real serviço‖ (PIRASSINUNGA, 1958, p. 80-81). Como ocorria no Rio de Janeiro,
neste Estatuto de Recife o curso era aberto a ―todas as pessoas que quiserem estudar‖, ―quer
sejam militares ou paisanos‖. A exigência para o ingresso na Academia era que o aluno
mostrasse, em um exame, que tinha experiência na ―prática das quatro regras fundamentais
da Aritmética‖ (PIRASSINUNGA, 1958, p. 81). A Academia Militar de Recife, no entanto,
19
parece ter tido curta duração. Em 1795 foi criada uma Aula de Geometria, ―funcionando no
Regimento de Artilharia e sob a direção do Capitão de Infantaria Antonio Francisco
Bastos‖ (PIRASSINUNGA, 1958, p. 84). Encontra-se em um exemplar do Diário de
Pernambuco de 1830 uma menção de venda do livro do Bezout em uma livraria de Recife,
o que pode indicar que neste período o livro era utilizado em alguma Aula ou Escola no
Recife.
As aulas das escolas militares tinham um caráter técnico (prático), cada região tinha
a sua necessidade e suas aulas eram voltadas para elas. Elas ocorriam onde se encontrava
alguma atividade econômica de destaque e, por isso, tentava-se com essas aulas formar
brasileiros que pudessem trabalhar de forma mais apta, a fim de não ter que se importar
toda a mão de obra qualificada do país. Essas aulas, naquele período, eram frequentadas na
maior parte das vezes por nobres, que teriam altos cargos em funções governamentais.
O título que era atribuído aos primeiros engenheiros militares, segundo Telles
(1984), era o de ―oficial de engenheiros, e não oficial-engenheiro, ou simplesmente
engenheiro‖. Era comum encontrar também as expressões ―capitão de engenheiros‖ ou
―coronel de engenheiros‖, o que na interpretação de Telles (1984, p. 4), pode significar
―que os subalternos e soldados comandados por esses oficiais seriam também‖
considerados ―engenheiros, já que se dedicavam igualmente a fazer obras‖. Telles (1984, p.
5) cita o General Aurélio Lyra Tavares para passar as funções desempenhadas pelos
oficiais-engenheiros pelo menos durante o período colonial, e dentre elas estão: ―obras de
defesa, no litoral‖ e também ―ao longo das fronteiras‖; ―demarcação de fronteiras‖;
―ensino, para a formação de engenheiros no Brasil‖; e ―obras civis diversas‖ como
―construções civis e religiosas, estradas, serviços públicos‖, entre outras.
COM AS MÃOS SUJAS DE GIZ E TINTA
Com a transferência da Corte Portuguesa para o Brasil, ―a Companhia dos Guardas-
Marinha, o seu comandante e os Lentes da Academia, acompanharam o Príncipe Regente‖,
Dom João VI, para o Rio de Janeiro (PIRASSINUNGA, 1958, p. 57). ―Por Decisão Oficial
em maio de 1808, a Real Academia dos Guardas Marinha foi instalada e funcionou nos
primeiros tempos nas dependências do Convento de S. Bento, com o mesmo Comandante e
20
Diretor da Academia José Maria Dantas Pereira‖ (MIORIM, 2011, p. 4). Pela Carta de Lei
de 04 de Dezembro de 1810, foi criada a Academia Real Militar, com ―aprovação de seu
Estatuto, assinada pelo Príncipe Regente D. João‖. Sob a concepção de ―D. Rodrigo de
Souza Coutinho, Ministro dos Negócios Estrangeiros e da Guerra, esta escola de ensino
superior nascia com dupla finalidade: formar oficiais para o Exército e engenheiros
militares para atender também às necessidades da colônia.‖ (MARTINO, 2001, p. 18).
A Academia Real Militar vem ocupar ―o lugar da Real Academia de Artilharia,
Fortificação e Desenho‖, criada em 1792, ―que teria sido o primeiro instituto militar
acadêmico das Américas‖. Esta escola funcionou até 1810, quando ―foi substituída pela
Academia Real Militar pela vontade de D. Rodrigo, que queria uma organização mais
moderna para acompanhar o progresso cultural que se verificava na Europa‖ (MARTINO,
2001, p. 18). Ao propor a criação da Academia Real Militar, D. João afirma estar
estabelecendo na Cidade do Rio de Janeiro:
―Um Curso regular das Ciências exatas, e de Observação, assim como de todas
aquelas que são aplicações das mesmas aos Estudos Militares e Práticos, que
formam a Ciência Militar em todos os seus difíceis e interessantes ramos, de
maneira que dos mesmos Cursos de estudos se formem hábeis oficiais de
Artilharia, Engenharia e ainda mesmo Oficiais da classe de Engenheiros
Cartógrafos e Topógrafos, que possam também ter o útil emprego de dirigir
objetos administrativos de Minas, de Caminhos, Portos, Canais, Pontes, Fontes, e
Calçadas: Hei por bem, que na minha atual Corte e Cidade do Rio de Janeiro, se
estabeleça uma Academia Real Militar para um Curso completo de Ciências
Matemáticas, de Ciências de Observação, quais a Física, Química, Mineralogia,
Metalurgia, e História Natural, que compreenderá o Reino Vegetal e Animal, e
das Ciências Militares em toda sua extensão tanto de Tática como de Fortificação
e Artilharia." (BARATA, 1973, p. 48, Apud MARTINO, 2001, p. 22).
A Academia Real Militar, pelas palavras de D. João, pretendida formar engenheiros
para diferentes funções, por meio de um ―Curso Completo de Ciências Matemáticas‖,
―Ciências de Observação‖ e ―Ciências Militares‖. Esta formação buscava se aproximar da
que era oferecida pela École Polytechnique de Paris.
―Foi grande a influência francesa na engenharia brasileira, como aliás em toda a
nossa cultura, durante o Séc. XIX, e praticamente até cerca de 1950. Na
engenharia essa influência foi principalmente no ensino: quase todos os livros em
que se estudava eram franceses, ou traduzidos do francês; os programas e
regulamentos da Escola Politécnica eram também baseados em modelos
franceses, e alguns professores franceses ensinaram nessa escola, sem falar na
Escola de Minas de Ouro Preto, que era inteiramente uma escola francesa. Essa
influência traduziu-se também, em procedimentos de cálculo e de trabalho, e em
21
terminologia técnica. Por outro lado, foi relativamente pequeno o número de
engenheiros franceses que para aqui vieram‖ (TELLES, 1984, p. 476).
O curso completo, de sete anos, era exigido apenas para a formação dos ―Officiaes
Engenheiros e de Artilharia‖, dele faziam parte um ―Curso matemático‖ de quatro anos e
um ―Curso Militar‖ de três (CASTRO, 1999, p. 25). A Academia dos Guardas-Marinha,
por outro lado, que iniciou seu funcionamento logo após a chegada da Corte Portuguesa ao
Brasil, ―tinha o objetivo de oferecer estudo de Ciências que são indispensáveis, não só para
se instruírem, mas também para se aperfeiçoarem na Arte, e prática da Navegação.‖
(SILVA, 1828, p. 230, Apud MIORIM, 2011, p. 4).
Sobre o período colonial podemos dizer que o maior destaque com relação ao
ensino de engenharia ficou por conta do começo da formação e da caracterização do ensino
através das aulas avulsas, do surgimento da Academia dos Guarda-Marinha e da Academia
Real. Podemos definir como um momento em que o ensino se dava de um modo mais
prático, sem estar voltado plenamente para um aporte teórico. De acordo com Moraes e
Vargas:
―Durante todo o período colonial, não houve aporte de conhecimentos teóricos
nas práticas construtivas ou fabris – o que na Europa já se vinha fazendo sentir na
arquitetura, com um Alberti, ou nas práticas de mineração e metalurgia, com um
Agrícola. Os processos de construção militares ou religiosos na colônia eram, em
geral, semelhantes aos das artes medievais. As obras eram feitas pelo aprendizado
prático, a partir de mestres, padres construtores ou engenheiros militares
portugueses, geralmente não versados em teorias científicas. A mão-de-obra era
suprida por soldados rasos, índios e caboclos e, talvez, em escala menor, por
escravos.‖ (MORAES; VARGAS, 2005, p. 11)
A transferência da família real para a colônia gera uma mudança nas relações de
poder existentes no Brasil. ―Inicia-se desta forma, um projeto da elite nativa que procura
fundamentar novas relações entre o Estado e a sociedade‖. (MARTINS, 2005, p. 2). O
ensino superior exerce um papel fundamental na constituição dessa elite.
―Evidentemente, a estrutura sociopolítica do Império assemelhava-se a uma
sociedade do Antigo Regime, pois possuía uma estrutura estamental e uma
sociedade de corte. A sociedade se estratificava, tendo em seu ápice o estamento
senhorial, os grandes proprietários de terras e escravos, os cidadãos plenos deste
período. Esta camada detinha o monopólio de prerrogativas e recursos
inatingíveis aos grupos inferiores na hierarquia‖ (MARTINS, 2005, p. 3).
22
Apesar da denominação Academia Real Militar no início de suas atividades, a
escola ―introduziu em seu currículo matérias que eram típicas da engenharia civil para
atender ao serviço público, indo além dos estudos peculiares da engenharia militar‖. Em
seus primeiros tempos, a Academia esteve voltada, exclusivamente, à tarefa ―de formar
engenheiros, e o seu curso só foi considerado condição indispensável ao ingresso e
ascensão hierárquica no corpo de oficiais a partir de 1850.‖ (MARTINO, 2001, p. 23). O
currículo proposto para curso matemático era:
―Aritmética, Álgebra até às equações de terceiro e quarto graus, Geometria,
Trigonometria Retilínea, dando também as primeiras noções da Esférica. [...] o
lente ensinará a Álgebra, cingindo-se quanto puder ao método do célebre Euler
[...] debaixo de cujos princípios e da Aritmética e Álgebra de La Croix, formará o
seu compêndio do curso e depois explicará a excelente Geometria, Trigonometria
Retilínea de Le Gendre, dando também as primeiras noções de Trigonometria
Esférica; abrangendo assim princípios de Curso Matemático muito interessante,
no qual procurará fazer entender aos alunos toda beleza e extensão do cálculo
algébrico nas potências, quantidades exponentivas, logaritmos e cálculos de
anuidades, assim como familiarizá-los com as fórmulas da Trigonometria de que
lhe mostrará suas vastas aplicações, trabalhando muito em exercitá-los nos
diversos problemas e procurando desenvolver aquele espírito de invenção, que
nas ciências matemáticas conduz às maiores descobertas.‖ (BARATA, 1973, p.
48, Apud MARTINO, 2001, p. 23-24).
O objetivo da Academia Real Militar era formar engenheiros com um vasto
conhecimento em Ciências Matemáticas, Física e Química, além de todo conteúdo possível
sobre os estudos militares. Essa dupla função da Academia, sempre colocada em discussão
em momentos de redefinição da formação dos alunos da escola, levou em um primeiro
momento ao desdobramento da Academia, no ano de 1855, em duas Escolas: Central e de
Aplicação; para em seguida, em 1874, ocorrer um rompimento. ―A Escola Central foi
entregue ao Ministério do Império, com o nome de Escola Politécnica, passando a formar
apenas engenheiros civis‖ (MARTINO, 2001, p. 21). O número de engenheiros na Capital
do Brasil foi significativamente ampliado após a criação da Escola Politécnica do Rio de
Janeiro. Segundo Telles (1984, p. 474), ―no Almanack Laemmert19
de 1870, constam, no
Rio de Janeiro, os nomes de 28 engenheiros, subindo esse número para 126, em 1883, dos
quais 30, no Ministério da Agricultura e 6, na Municipalidade.‖
19
O Almanak Laemmert (1844 – 1889), considerado o primeiro almanaque publicado no Brasil, tratava de
questões administrativa, mercantis e industriais do Rio de Janeiro.
23
Novamente em Martins (2005) é possível localizar rastros sobre a elite no período
do Império, e desta vez o autor aborda uma parte da elite que se constituiu em meio à
década de 1870, baseada em ideias contrárias ao Império.
―O século XIX brasileiro pode ser visto como um período no qual as idéias
provenientes de um contexto externo, particularmente a Europa, atingiram um
alto grau de penetração entre a elite. Conseqüentemente, a ideologia elitista
acerca do papel do Estado também se condiciona sobre este vetor de apropriação
moldando, assim, as relações entre a elite e o Estado. Durante o reinado de D.
Pedro II, iniciou-se a formação de um grupo social distinto da elite tradicional
que ficaria mais tarde conhecida como a ―Geração de 1870‖. Tal Geração
forneceu argumentos políticos que contrapunham os cânones imperiais.‖
(MARTINS, 2005, p. 6).
E foi exatamente na década de 1870 em conjunto com o espírito de inovação e
busca pelo o que podemos chamar de expansão do estudo e da ciência, que houve a criação
da Escola de Engenharia, Minas e Metalurgia, na cidade de Ouro Preto, em Minas Gerais.
Dentre alguns motivos possíveis para seu surgimento, talvez o que mais se destaca é a
necessidade de mão de obra qualificada para o trabalho de extração mineral, que ainda era
muito forte na época, somado ao interesse que Dom Pedro II tinha por ciência.
―A criação da Escola de Minas em Ouro Preto, constitui-se num momento
decisivo para a constituição de um saber técnico e prático do engenheiro, a partir
desta política de desenvolvimento técnico empreendida pelo Estado. Nota-se
nesta instituição elementos diferenciados em relação as outras escolas de
engenharia, como por exemplo o chamado ―espírito Gorceix‖.‖ (MARTINS,
2005, p. 6).
Gorceix20
trocou cartas com Dom Pedro II que, segundo nossa leitura, serviam para
informar o Imperador sobre a situação da escola, mas também para conversar sobre
variados assuntos. As cartas mostram uma proximidade entre os dois homens interessados
em desenvolver a ciência no Brasil, apesar das dificuldades existentes:
―Esperamos com impaciência a publicação do nosso regulamento e a divisão do
curso em 3 anos de estudo. Espero que o próximo ano nós tenhamos tantos alunos
que a Escola não possa conter.
Aí estão, Sire, nossos trabalhos. Eu faço o melhor possível, porém eu estou longe
de me sentir feliz comigo mesmo, e espero com impaciência o dia em que eu
20
Claude-Henri Gorceix (1842-1919) mineralogista francês. Em 1876 foi o primeiro diretor da Escola de
Minas de Ouro Preto. Disponível em: http://www.em.ufop.br/em/diretores/gorceix.php Acesso em: 15/04/15.
24
poderei dizer à Vossa Majestade, como para a Escola Normal Bersot a Jules
Simon:17 ―Há um canto do Brasil onde tudo funciona!
Daqui, eu peço a indulgência em favor da minha boa vontade tanto pelo teor e
pela forma de comunicação que me dirijo à Vossa Majestade.
Sinto-me muito honrado, Sire, de ser etc‖. (Cartas de Gorceix a Dom Pedro II)
Nas cartas, Gorceix, muitas vezes em tom de pouca formalidade, relata ao
Imperador suas atividades e sobre as pessoas com quem trabalha, além de trazer à tona as
dificuldades do projeto de uma Escola naquele período no Brasil, como livros, professores
e materiais. A Escola servia como um centro de formação profissional e como centro de
pesquisa, pois em muitas cartas é comum o relato do andamento dos estudos sobre a
mineralogia da região. Gorceix se refere à Escola de Minas de Ouro Preto como um lugar
que seria a tentativa de Dom Pedro II de trazer para o Brasil mais pesquisas sobre a
descoberta e a exploração de recursos minerais.
―Gorceix alertava, seja em ofícios enviados ao Imperador, ao Ministério do
Império ou ao Presidente da Província de Minas Gerais, para a necessidade de
uma exploração racional dos recursos naturais, já que o território de Minas Gerais
destacava-se como uma das maiores reservas do mundo em minerais de valor
comercial.‖ (SANTOS e COSTA, 2005, p. 281).
A Escola tinha grande apoio por parte do Imperador, que a visitou em duas
oportunidades, em ―31 de março de 1881, tendo ele como de costume em todas as visitas a
estabelecimentos de ensino, assistido a aulas, provas e exames de alunos. Nesta ocasião,
assistiu também à primeira experiência feita no Brasil com uma lâmpada incandescente‖.
Dom Pedro II voltou à Escola de Minas pouco antes do fim de seu reinado, ―em 23 de julho
de 1889, em companhia da Princesa Isabel‖ e nesta ocasião pode presenciar a ―inauguração
do ramal ferroviário de Ouro Preto‖.21
―O que muito auxiliou, tanto a Gorceix como principalmente à própria Escola de
Minas, foram os laços de amizade e de admiração mútua, que se desenvolveram
entre ele e o Imperador. Foi justamente devido a essa amizade, que Gorceix
sentiu-se obrigado a pedir demissão de Diretor da Escola, logo após a
Proclamação da República.‖ (TELLES, 1984, p. 429).
21
A Escola de Minas – 1876-1976 – 1° Centenário. Ouro Preto, Oficinas Gráficas da Universidade Federal de
Ouro Preto, 1976, p. 50.
25
De forma geral, ao estudar a formação do engenheiro no período do Império,
passamos também por outros temas que envolvem o engenheiro no século XIX, como sua
vida profissional. Encontramos vestígios de que estes profissionais tinham algumas
dificuldades e uma delas era a de conseguir emprego. Não havia muita oferta de trabalho, o
engenheiro tinha à sua disposição alguns cargos públicos e algumas obras, que durante este
século foram basicamente voltadas para a expansão da malha ferroviária. Segundo Telles
(1984), havia vários exemplos de como a engenharia durante este período não foi muito
valorizada, assim como seus profissionais: ―Apesar de tudo, o mercado de emprego para os
engenheiros ainda era excessivamente restrito. As estradas de ferro eram, de longe, o maior
empregador, chegando a absorver, por volta de 1880, cerca de 75% de todos os
engenheiros‖ (TELLES. 1984, p. 471). Uma opção de trabalho para os engenheiros era a
docência.
Havia, na época, uma preferência por empregar pessoas que fizessem Direito ou
Medicina, pois o positivismo ainda estava por se difundir e iniciar uma inversão deste
quadro e a formação na área técnica passava a ter uma grande importância. Foi, segundo
Telles, em torno de 1860 que os engenheiros começaram ―a sair de sua posição secundária
para ter papel mais relevante na sociedade‖. Começavam a participar de obras de
infraestrutura nas cidades, ―bem como melhoramentos nos portos‖, mas ainda se
concentravam na construção de estradas de ferro (TELLES, 1984, p. 470). Havia também
engenheiros que ocupavam cargos políticos no século XIX, porém em quantidade reduzida
se comparada a de bacharéis em Direito, ainda um reflexo de uma sociedade humanista.
―Entretanto, o exercício da engenharia no período imperial é visto como uma
função que não adquire status social. Neste sentido, os engenheiros
permaneceram vinculados ao serviço público, constituindo-se enquanto corpo
burocrático do Estado. Se por um lado a sociedade não lhes dava crédito e
respaldo social, por outro, o Estado constituía-se enquanto uma oportunidade de
ascensão social contrapondo o bacharelismo imperial.‖ (MARTINS, 2005, p. 6-
7).
Além disso, merece destaque a baixa remuneração dos engenheiros que estavam
empregados, conforme afirma Telles (1984, p. 471), era comum ver em jornais da época o
anúncio de oferecimento de serviços por parte dos engenheiros, porém eram ―raríssimos os
anúncios de alguém precisando de engenheiros‖. A expansão na contratação destes
profissionais começou antes do fim do Império, devido a fatores como uma pequena
26
industrialização que havia se iniciado e o aumento das cidades e de suas necessidades.
Assim, os engenheiros passaram a fazer parte de cargos que traziam maior notoriedade para
a classe. Tratando-se desta configuração social dos anos finais do período Imperial,
encontramos em Simões Júnior mais detalhes sobre como estava a sociedade brasileira
neste momento:
―No contexto brasileiro e mesmo sul-americano, as ressonâncias do processo de
industrialização na Europa e América do Norte já se fazem perceber desde a
década de 1880, uma vez que esses países passam a assumir posição de
retaguarda em relação à revolução industrial, ficando responsáveis pelo
fornecimento de matérias primas e produtos agrícolas para os países mais
avançados: o Brasil fornecendo café e borracha, a Argentina, carne e lã, o Chile,
cobre e salitre, etc. No Brasil, a riqueza proveniente desta economia agro-
exportadora lançaria as bases para as mudanças no quadro cultural e social do
país: o surgimento de uma elite econômica com fortes laços com a cultura
européia, em especial a francesa; a formação de um mercado elitizado e
consumidor de produtos industrializados importados; a substituição do trabalho
escravo pela mão de obra assalariada do imigrante europeu. Tais fatores
contribuiriam decisivamente para alterar o quadro cultural da sociedade
brasileira, com forte impacto no âmbito da arquitetura e do urbanismo. A
referência ao modelo francês seria ainda reforçada pelo forte poder que o modelo
da república francesa exercia sobre a classe política brasileira, assim como pelo
ideário positivista comteano.‖ (SIMÕES JÚNIOR, 2007, p. 4).
COM AS MÃOS ‘NA MASSA’
A Proclamação da República, como nos lembra Celso Castro em seu livro com este
título, não tem um herói, nem uma ―imagem consagrada‖, como em outras datas
comemorativas. Houve apenas uma proclamação, "um anúncio público‖ de que o Brasil
havia mudado a sua forma de organização política (CASTRO, 2000, p. 7). Não houve
participação popular e nem de republicanos civis. A Proclamação foi organizada e
executada por militares. Mas não por todos os militares. A Marinha não teve participação e
os oficiais superiores do Exército ―podiam ser contados nos dedos, e o que mais se destacou
entre eles não exercia posição de comando de tropa: trata-se do tenente-coronel Benjamin
Constant, professor de matemática na Escola Militar.‖ (CASTRO, 2000, p. 7).
Os militares que ―conspiraram pela República‖ e desencadearam ações que
culminaram com a derrubada do Império foram oficiais com patentes inferiores do
Exército. Alferes-alunos, tenentes e capitães, ou ―a mocidade militar‖, como eram
27
chamados esses jovens militares, tinham uma formação superior científica, obtida em
cursos oferecidos pela Escola Militar da Praia Vermelha. Eles foram alunos de Benjamin
Constant, engenheiro também formado pela Escola Militar. Segundo Castro, para muitos
autores, ―principalmente os vinculados à tradição positivista‖, Benjamin Constant teria
desempenhado um papel central nos acontecimentos que levariam à República. Para o
autor, no entanto, não era o líder que catequizava os jovens estudantes, ao contrário, era a
―mocidade militar‖ seduzindo e convertendo o mestre ―para o ideal republicano.‖
(CASTRO, 2000, p. 10).
De qualquer forma, o engenheiro-professor Benjamin Constant assumiu o ideal
republicano e desempenhou importantes papéis no início da República, propondo reformas
para escolas de diferentes níveis, que privilegiavam um ensino cientificista em moldes
positivistas. No entanto, a implantação de suas propostas é abruptamente interrompida em
1891, por ocasião de seu falecimento.
Este período de transição do Império para a República, assim como ocorre em
qualquer período de transição, é marcado pelo embate de ideais entre os defensores da
República e da Monarquia.
―Os republicanos caminhavam em busca de uma legitimação e os monarquistas
em busca de uma permanência. No meio desse processo de mudança, as correntes
políticas democráticas foram se cristalizando no seio da sociedade ao longo dos
anos, e encontraram na necessidade de progresso instaurada pelas correntes
científicas uma forma de superação da cultura política imperial.‖ (SOUZA, 2013,
p. 15-16).
―Com a proclamação da República, em 1889, a engenharia brasileira entrou numa
nova fase‖ (MORAES; VARGAS, 2005, p. 15). Era preciso modernizar as cidades,
construir estradas de ferro. Era necessário formar mais profissionais engenheiros. Com isso,
tem-se uma valorização quanto ao papel do engenheiro. Na década de 1890, foram criadas
escolas de engenharia em vários estados brasileiros: Escola Politécnica de São Paulo,
Escola de Engenharia de Pernambuco, Escola de Engenharia Mackenzie, Escola de
Engenharia de Porto Alegre e Escola Politécnica da Bahia.
28
―Um dos mais importantes eventos dessa nova fase, foi a criação da Escola
Politécnica de São Paulo, em 189422
. Seu fundador, Antonio Francisco de Paula
Souza, era neto paterno de um ministro liberal do Segundo Império e materno de
grande fazendeiro de café. Republicano e anti-escravagista, escreveu, ainda
durante o Império, o revolucionário panfleto ―A República Federativa do Brasil‖,
que encarnava exatamente o espírito liberal, porém autoritário, da República
Velha.‖ (MORAES; VARGAS, 2005, p. 15).
A primeira Escola de Engenharia no ambiente republicano e a segunda Escola
destinada à formação de engenheiros civis, a Escola Politécnica de São Paulo oferecia
outros cursos de engenharia: engenharia agrícola e engenharia industrial. Segundo Vargas
(1994, p. 17), a Politécnica de São Paulo teria o ―poder de conferir o título de Agrimensor
aos alunos que se habilitassem em cadeiras básicas do curso civil‖.
A Escola Politécnica de São Paulo teve resistências para ser implantada. Em 1892,
―Paula Souza foi eleito deputado Estadual‖ e com seu poder político tentou criar em São
Paulo ―uma simples escola técnica‖ através do ―Projeto de Lei n° 9 autorizando o Estado a
criar o Instituto Polytechnico de São Paulo.‖ (VARGAS, 1994, p. 17). Entretanto, seu
projeto sofreu duras críticas e oposições de pessoas que também tinham considerável
influência no cenário político da época, como, por exemplo, Euclides da Cunha e o então
deputado Gabriel Passos. Segundo Vargas (1994, p. 17), essa oposição poderia ser ―uma
reação dos fazendeiros paulistas‖ que temiam ―o desenvolvimento industrial‖.
―A Politécnica de São Paulo, à diferença da do Rio, foi criada segundo o modelo
das Escolas Superiores Técnicas germânicas, onde se ensinava engenharia com
base nas ciências físicas e matemáticas, porém, acompanhada de um intenso
ensino técnico em oficinas e gabinetes experimentais.‖ (MORAES; VARGAS,
2005, p. 15).
Os engenheiros começaram a assumir papéis centrais nas ações de reurbanização de
grandes centros e na política. Aos poucos eles iam tomando o lugar que os bacharéis em
Direito assumiram durante o Império. ―Era o velho estamento imperial e agrarista que cedia
seus lugares nas funções públicas a uma nova geração, composta por engenheiros, com
ideário positivista e republicano‖. (SIMÕES JUNIOR, 2007, p. 7)
―Os engenheiros, através da constituição profissional, conseguem elaborar um
projeto de sociedade, no qual o conhecimento por eles adquiridos possui um
22
M. C. Loschiavo dos Santos.
29
papel central na tentativa de modernização do Estado e da sociedade, além de
conseguirem uma efetiva representação no imaginário.‖ (MARTINS, 2005, p.
11).
Tendo como lema o ―engrandecimento da pátria pelo trabalho‖, os engenheiros
―tencionaram constituir-se nos principais interlocutores do poder público e da iniciativa
privada, nas matérias diretamente ligadas ao campo material da sociedade‖. Assumindo
diversificados trabalhos em diferentes segmentos ―da infraestrutura e das forças
produtivas‖, os engenheiros tiveram ―papel de destaque na formulação e na execução dos
principais projetos implementados com vistas à modernização do Brasil‖, especialmente na
construção de ferrovias e em trabalhos de urbanização. (CURY, 2004, p. 1)
O Clube de Engenharia do Rio de Janeiro, fundado em 1880, com a República ―viu
o seu prestígio crescer como instituição representativa do campo técnico.‖ (AZEVEDO,
2013, p. 274). Ele representou um papel fundamental para a valorização dos engenheiros
nas primeiras décadas da República. Em um cenário em que as ―oportunidades de trabalho
eram relativamente escassas‖, articulações políticas foram responsáveis pelo ―controle
sobre os melhores postos de trabalho, sobretudo nas obras públicas‖ (CURY, 2004, p. 6).
Esse era o principal papel desempenhado pelo Clube de Engenharia: ―assegurar para os
seus membros – em especial, para a cúpula do Conselho Diretor da entidade – os cargos de
maior projeção no cenário da República‖. (CURY, 2004, p. 6)
30
CAPÍTULO 2 – A ESCOLA DE ENGENHARIA DE PERNAMBUCO EM
MOVIMENTO
Conta-se23
que o professor de física Luiz Freire, da Escola de Engenharia da Rua do
Hospício, em uma de suas provas, propôs duas questões para os alunos resolverem, que
valiam 3 e 7 pontos. Após passar as questões, o professor comunicou que iria se ausentar
por duas horas e voltaria para recolher as provas. Pediu para um funcionário da escola ficar
sentado na mesa do professor e saiu. Os alunos resolveram facilmente a primeira questão. A
segunda, no entanto, ninguém estava conseguindo resolver. Para distrair o servente, os
alunos lhe deram um jornal, e começaram a trocar informações sobre a questão. Ninguém
tinha ideia nem de como começar a resolver a questão. Um aluno teve uma ideia. Existia
um bom professor de Física que estava dando aula em uma escola próxima. O aluno
conseguiu enganar o servente e foi até a escola para perguntar ao professor sobre a questão.
No entanto, o professor também não conseguiu resolver. Quando o professor Freire
entregou as provas corrigidas, apenas a primeira questão foi acertada por todos. O professor
―então, com ar sábio, superior, falou: Esta segunda questão só três pessoas resolveram:
Albert Einstein, Mario Schemberg24
e EU‖.
Esta história, que foi rememorada por um dos alunos de Freire25
, nos revela algumas
características deste professor da Escola de Engenharia de Pernambuco, que teve muito
destaque naquele período, não apenas em seu Estado, como em todo o Brasil, em particular,
por ter incentivado e encaminhado vários de seus alunos a seguir a carreira de cientista em
centros de pesquisa nacionais e internacionais.
Muitos outros personagens participaram de diferentes formas na constituição da
Escola de Engenharia de Pernambuco. Neste capítulo, pretendemos centrar nosso olhar em
alguns desses personagens, que se manifestam em memórias de alunos e professores, e em
diferentes documentos – livros, entrevistas, artigos, textos oficiais e escolares – localizados
em diferentes tipos de arquivos, dentre os quais se encontram os da Biblioteca Pública do
Estado de Pernambuco, do Arquivo Público de Pernambuco e da Fundação Joaquim
23
Torres (2001, p. 154). 24
Físico brasileiro que estudou na escola. 25
Falaremos mais das atividades do professor Freire, em especial de suas publicações, no Capítulo 3.
31
Nabuco – Fundaj. Da mesma maneira, buscamos apresentar algumas memórias
institucionais, em especial as que se relacionam à formação dos alunos.
MEMÓRIAS INSITUCIONAIS
A terceira escola criada no Brasil, voltada especificamente à formação de
engenheiros não militares, ou civis, foi a Escola de Engenharia de Pernambuco, com sede
na cidade de Recife. Oficializada através da Lei n° 84, de junho de 1895, expedida pelo
então governador do Estado de Pernambuco, José Alexandre Barbosa, as atividades da
escola foram iniciadas logo após a publicação do Decreto de 12 de fevereiro de 1896, que a
regulamentava e lhe atribuía o status de instituição estadual.
A cidade de Recife, desde a segunda metade do século XIX, já era um importante
centro político, econômico e cultural do Nordeste brasileiro. Pelo seu porto eram
exportadas as produções de cana-de-açúcar e algodão, e importados ―gêneros e artigos de
consumo‖. O grande movimento portuário foi acompanhado pela ampliação do comércio e
o ―surgimento de indústrias e manufaturas‖ (DUARTE, 2012, p. 2). Com a República, a
criação de empreendimentos industriais é intensificada, tendo sido instaladas, dentre outras,
a Fábrica de Tecidos Paulista e a Companhia Industrial de Pernambuco, em 1891, e a
Companhia de Fiação de Goiana, em 1894.
Embora o setor industrial estivesse em crescimento, no final do século XIX, e até as
primeiras décadas do século XX, a exportação do café ainda era a base da economia
brasileira. O crescente aumento da exportação gerou a necessidade de ―mecanização das
indústrias rurais‖, instalação de manufaturas e construção de estradas de ferro. As escolas
de Engenharia criadas no período, como a Escola de Engenharia de Pernambuco, tinham o
objetivo primordial de ―formar profissionais aptos a trabalharem na estrutura burocrática e
política que a agricultura exigia‖. (SANTOS; SILVA, 2008, p. 23-24). Dessa forma, ―as
oportunidades de trabalho para os engenheiros‖ eram dirigidas à ―expansão dos setores
ferroviários, hidrelétricos, edificações e de serviços públicos, decorrentes da produção
agroexportadora‖. (LAUDARES, 1992, p. 25, apud SANTOS; SILVA, 2008, p. 24).
Em um período de crescimento econômico, a cidade de Recife contratava
engenheiros e arquitetos, em sua maioria franceses, para a construção de obras públicas.
32
Muitos prédios do atualmente denominado Recife Antigo foram construídos neste período.
O Teatro Santa Isabel (Figura 6), por exemplo, cujas obras foram concluídas em 1850, teve
como construtor responsável o engenheiro francês Louis Leger Vauthier. Não eram,
portanto, apenas as atividades ligadas ao setor cafeeiro que impunham a necessidade de
formação de engenheiros brasileiros para atuar no Norte e Nordeste brasileiros. Se, por um
lado, a expansão da exportação cafeeira necessitava do trabalho de engenheiros, por outro
lado, como nos lembra Roldão Gomes Torres (2008, p. 18), a construção de prédios
governamentais e de empreendedores de várias áreas era outro setor que seria contemplado
pela criação da Escola de Engenharia de Pernambuco.
FIGURA 6. TEATRO DE SANTA ISABEL E PALÁCIO DO CAMPO DAS PRINCESAS EM 185026
No início de suas atividades, em 1896, sob a direção de Antonio Urbano Pessoa
Montenegro, a Escola de Engenharia de Pernambuco oferecia cursos para agrimensores e
engenheiros civis e geógrafos, respectivamente, com dois e cinco anos de duração. Como
ocorria com outras escolas superiores, para ingressar nos cursos o aluno deveria prestar o
vestibular da época, denominado, então, Exame de Admissão. O Exame contemplava
questões sobre Aritmética, Álgebra, Geometria e Trigonometria retilínea e esférica.
Nos cinco anos de curso, os futuros engenheiros cursavam quinze cadeiras27
e cinco
aulas28
. Todas as aulas eram destinadas a estudos de desenho e realização de projetos
26
Disponível em: http://www.skyscrapercity.com/showthread.php?t=543485. Acesso em: 02/04/2015.
33
gráficos. Cada um dos cinco anos era composto por três cadeiras e uma aula. (Anexo I, p.
86-87) As cadeiras compreendiam diferentes áreas e iniciavam com disciplinas gerais –
como Geometria Analítica e Projetiva, Cálculo Diferencial e Física – para nos últimos anos
contemplar disciplinas específicas de engenharia – como Estradas de Ferro e Esgotos, e
Saneamento das Cidades. Para adquirir o diploma de agrimensor, no entanto, era necessário
que o aluno concluísse apenas as duas primeiras séries do curso de Engenharia, que era
encerrado com as cadeiras de Topografia, Desenho Topográfico e Exercícios Práticos.
Dois anos depois de iniciadas suas atividades, a Escola de Engenharia de
Pernambuco foi equiparada à Escola Politécnica do Rio de Janeiro que era, então, o modelo
de Escola de Engenharia no Brasil, através do Decreto Federal n° 3022, de 3 de outubro de
1898. Para obter a equiparação, que garantia a equivalência de diplomas, o plano de estudos
da EEP teve que ser alterado. Isso ocorreu por meio do Regulamento expedido em 7 de
Fevereiro de 1898 (Figura 7), como explicitado em sua página inicial:
―O Governador do Estado, usando da autorização constante do art. I.° n. XI das
Disposições Geraes da lei n. 249 de 30 de Junho do anno passado, resolve expedir
o seguinte regulamento, para o fim de equiparar o plano de estudos da Escola de
Engenharia ao da Escola Polytechnica e assim poderem ser concedidas áquelle
estabelecimento as vantagens e regalias conferidas a este Instituto Federal (...)‖.
Com o novo Regulamento, o curso de Engenharia passa a ter seis anos e várias
mudanças ocorrem nas disciplinas. (Anexo II, p. 87-88) O novo curso aponta para a
formação de um engenheiro mais direcionado às novas necessidades de modernização das
cidades. Algumas disciplinas mais voltadas ao campo e à agricultura são retiradas e em seu
lugar aparecem outras relativas à área urbana ou à modernização do campo. A disciplina
―Botânica. Corte e preparo de madeiras. Conservação de matas‖, por exemplo, não aparece
no novo Regimento. Em um momento em que há uma ampliação da Agricultura e aumento
na participação de colonos de outros países nas lavouras brasileiras, o novo Regulamento
reserva um espaço para discutir ―Legislação de terras e princípios gerais de colonização‖.
Ao lado de disciplinas que abordam as estradas de ferro, são incluídas as que discutem as
27
A palavra cadeira era usada para designar matéria ou disciplina escolar. Originária da palavra grega
kathédra e da latina cathedra, o significado diz respeito à autoridade de quem fala, no caso o professor, sobre
os assuntos que serão apresentados aos alunos, com conhecimento e tom doutoral. 28
As aulas provavelmente se referiam a estudos práticos realizados em uma sala específica, no caso em uma
sala para desenho.
34
estradas de rodagem, bem como as pontes e os viadutos. Novas disciplinas relacionadas ao
Direito e à Economia, também, começam a fazer parte da formação do engenheiro.
FIGURA 7. CAPA DO “REGULAMENTO” DA ESCOLA DE ENGENHARIA DE PERNAMBUCO DE 189829
Naquele período, como ocorre ainda hoje em algumas instituições de ensino
superior, o Governador do Estado era o responsável pela indicação de um professor para
assumir o cargo de Diretor. Para ocupar este cargo era necessário ser um professor ou
―lente‖. A Escola, por outro lado, devia manter o Governador informado de todas as
atividades escolares. Em relatórios anuais, eram explicitadas as atividades realizadas no
estabelecimento, incluindo observações sobre o comportamento de alunos e as atividades
dos docentes, destacando aqueles ―lentes catedráticos, substitutos e preparadores do
estabelecimento que mais tiverem se esforçado pelo progresso da ciência e do ensino.‖
(Regulamento da Escola de Engenharia de Pernambuco de 1898, p. 14). Além do controle
de todas as atividades realizadas na Escola, esta avaliação institucional, denominada
Regulamento de Procedimento Civil e Moral, tinha o objetivo de identificar aqueles
29
Arquivo pessoal. Fotografia tirada do exemplar que se encontra no Arquivo Público Estadual, em
10/02/2013.
35
docentes que seriam recompensados com uma bolsa-viagem, com duração de um ano, para
realizar estudos em países mais avançados, como explicitado no Artigo 42:
―Poderá o Governo, como recompensa ao merecimento, mandar um membro do
corpo docente em viagem de instrucção aos paizes mais adiantados, concedendo-
lho os meios necessários á sua subsistencia, transportes e pesquizas. A indicação
será sempre feita pelo Diretor, competindo a este dar as devidas instrucções.‖
(Regulamento da Escola de Engenharia de Pernambuco de 1898, p. 14)
Atendendo a uma nova determinação do Governo Federal para manter a
equivalência com a Escola Politécnica do Rio de Janeiro, em 1901 outras mudanças são
realizadas na EEP, através da publicação de um novo Regulamento. Uma das mudanças diz
respeito aos ―actos do diretor‖, que estão agora sob ―exclusiva inspeção do Governador do
Estado‖ e não mais do Secretário do Interior. O período de envio do relatório também sofre
mudanças, passa a ser até fevereiro e não mais até o fim do ano letivo, como previsto
anteriormente. Também foi alterada a duração do curso de Engenharia Civil, que passa a ter
cinco anos e não mais seis, como definido em 1898.
No início do novo Regulamento, o Governador do Estado esclarece os motivos
pelos quais são necessárias as mudanças:
―O governador do Estado, considerando que é de necessidade modificar-se o
regulamento de 7 de fevereiro de 1898 de accordo com o decreto federal n. 3926
de 10 fevereiro ultimo e as disposições do código de ensino que lhe são
applicaveis, afim de que a Escola de Engenharia continue a gosar das vantagens e
regalias da Escola Polytechnica, para o que foi marcado, a contar de 23 de maio
do corrente ano, o prazo de 6 mezes pelo Ministério da justiça e negócios
interiores em aviso de igual datas dirigido ao delegado legal junto áquelle
estabelecimento, resolve expedir o seguinte REGULAMENTO PARA A
ESCOLA DE ENGENHARIA.‖ (Regulamento da Escola de Engenharia de
Pernambuco de 1901, p. 1)
No Regulamento de 1901, não houve grandes alterações na concepção de formação
dos engenheiros. O que parece ter sido prioritário foi a redução de tempo destinado às
matérias, que foram agrupadas em cinco anos, mantendo a mesma formação.
Mesmo com a equiparação à Escola Politécnica do Rio de Janeiro e contando com
alunos de outros estados do Norte e Nordeste, a quantidade de alunos formados pela Escola
de Engenharia de Pernambuco era muito reduzida. O curso de agrimensores, que teve uma
breve existência, segundo Torres (2008, p. 21), teria formado apenas seis alunos. O mesmo
36
acontecia com os cursos de engenharia. Nos anos de 1902 e 1903, foram formados 9
engenheiros civis e 6 engenheiros geógrafos.
Em seus anos iniciais, até 1904, a Escola funcionava em um ―prédio na Praça da
República, em frente ao Teatro Santa Isabel, do outro lado da Praça, e ao lado do Palácio
das Princesas, com os fundos para o Rio Capibaribe‖. Esta localidade, na época, era o
centro de Recife e onde estavam suas principais construções. O prédio já não existe mais.
Ele foi demolido e no local atualmente encontra-se uma avenida ―beira rio, que contorna a
Praça da República‖, região popularmente conhecida como Recife Antigo, segundo Torres
(2008, p. 19).
A Escola de Engenharia de Pernambuco teve vida curta. Menos de dez anos após a
sua criação, ela encerrou suas atividades. A Lei30 que anuncia o fechamento da escola não
apresenta detalhes sobre os motivos que teriam levado a essa decisão, apenas comunica que
a Escola será extinta ao final daquele ano letivo, de 1904, e dá algumas orientações sobre os
professores do estabelecimento. Várias versões sobre o fechamento manifestam-se em falas
de ex-professores e alunos.
Dificuldades encontradas para transformar a Escola de Engenharia de Pernambuco
em uma instituição do nível da Politécnica do Rio de Janeiro, tanto nas questões de ensino
como nas administrativas e financeiras, segundo alguns autores, foram responsáveis pelo
fechamento da Escola. Para outros autores, no entanto, as dificuldades estavam
relacionadas ao protecionismo político vigente naquele período, em particular, por parte do
governador Sigismundo Gonçalves, que tentou diversas vezes, sem sucesso, nomear
professores para a Escola sem uma aparente qualificação e sem uma seleção prévia,
baseado apenas em seus conhecimentos pessoais. A resistência a essa prática, por parte de
professores da Escola, teria sido o estopim para o governador encerrar os trabalhos. A
reprovação do filho ―de um político de grande evidência e prestígio‖, bem como
―manifestações dos estudantes por ocasião do ingresso dos feras31, considerado uma
rebeldia ou um comportamento não civilizado, devido à proximidade do centro do Poder
Executivo‖, teriam também contribuído para o fechamento da Instituição (TORRES, 2008,
p. 25-26).
30 Lei N° 659. Diário Oficial de Pernambuco, 15 de maio de 1904. 31
Fera é a denominação usada na região de Recife – PE para os ingressantes na faculdade.
37
Professores e alunos, no entanto, não acataram de forma passiva a decisão de
encerramento das atividades da Escola de Engenharia de Pernambuco, decidindo buscar
apoio político para tentar reverter o fechamento da Escola. Em passeata, uma ―caravana de
alunos, barulhenta, movimentava-se pelas ruas, atraindo olhares dos transeuntes, seguindo
da Escola, na Praça da República, até a pracinha.‖ (TORRES, 2008, p. 27). Estavam se
dirigindo ao gabinete do Senador Conselheiro Rosa e Silva. Mesmo sendo o Governador
um defensor de muitas propostas de Rosa e Silva, quando este foi interceder pela Escola de
Engenharia de Pernambuco, não houve negociação. O Governador apenas concordou em
dar um maior tempo para o encerramento da escola, para que alunos e professores
pensassem em novas ações. E isso realmente aconteceu. Outra Faculdade de Engenharia
seria, então, criada na capital de Pernambuco no ano seguinte, contando com a participação
de vários professores da recém-fechada Instituição.
―Ante perspectiva tão sombria para o Estado de Pernambuco, mesmo para o
nordeste brasileiro, de se ver fechar um estabelecimento de ensino superior, único
no gênero em todo o norte do país, sério pelas suas diretrizes normais e úteis,
indispensável mesmo, para o seu progresso tecnológico, um grupo de doze dos
mais dedicados mestres, idealistas, tomou a iniciativa de fundar outra Escola de
Engenharia, associando-se a outros elementos do magistério e à profissionais de
engenharia, de renome já firmado‖. (MAIA, 1966, p. 24)
As diferentes versões apresentadas para o fechamento da Escola de Engenharia de
Pernambuco, seguido pela criação da Escola Livre de Engenharia, nos levam a algumas
reflexões. A Lei que determinou o fechamento da Instituição de Ensino não apresenta
nenhuma justificativa, apenas anuncia a decisão, aprovada em uma sessão da Câmara dos
Deputados de Pernambuco, no dia 11 de maio de 1904. A decisão do Congresso Legislativo
do Estado de Pernambuco é assinada pelo presidente e dois deputados e autorizada pelo
Governador do Estado três dias depois. Não temos informações sobre os debates ocorridos
naquela sessão, nem se eles chegaram a ocorrer. No entanto, podemos conjecturar que a
influência e o poder do Governador de Pernambuco foram decisivos para que a Câmara
apoiasse a decisão de fechamento da Escola. Mas, quais teriam sido os argumentos
apresentados pelo Governador? É muito provável que esses argumentos foram de natureza
financeira. Afinal, a Escola não estava dando um retorno que justificasse os gastos
investidos. O número de alunos diplomados era muito reduzido e os gastos com a
38
manutenção da Instituição era alto. No entanto, questões relacionadas ao protecionismo
político podem ter ajudado a acelerar o fechamento da Escola.
A nova Escola, criada em 1905, recebeu a denominação de Escola Livre de
Engenharia de Pernambuco, permanecendo com este nome até 1925, quando voltou a ser
Escola de Engenharia de Pernambuco, por problemas gerados pela existência de outra
Escola Livre no Rio de Janeiro. Uma sociedade de engenheiros foi criada para dirigir a
Escola Livre de Pernambuco, que seria mantida com fundos obtidos ―através de taxas e
mensalidades cobradas aos alunos‖ e salários de professores que ―se propuseram a não
receber salário até que a situação se normalizasse‖, ou seja, ofereciam seus salários para
manter as despesas da nova Escola. (TORRES, 2008, p. 29).
Sobre o período de transição da Escola de Engenharia de Pernambuco para a Escola
Livre de Pernambuco, o professor Paulo Guedes, ex-aluno da Escola Livre, se recorda que
foram grandes as dificuldades enfrentadas. A sua turma, que iniciou com 10 alunos
matriculados regularmente e treze ouvintes, no segundo ano tinha apenas ―três ou quatro‖.
Essa brusca diminuição do número de alunos, segundo Guedes, não teria ocorrido apenas
pela rigorosidade dos exames, mas, especialmente, pelas mudanças institucionais.
(GUEDES, 1995, p. 237)
No final do mesmo ano de sua criação, a Escola Livre de Engenharia de
Pernambuco foi reconhecida como estabelecimento de Ensino Superior. Não tendo mais
uma vinculação direta com o Governador, embora contasse com apoio variado do governo
do Estado, a Escola Livre de Engenharia de Pernambuco, gerida por uma Associação
―formada pelos lentes e professores‖, tinha o objetivo de ―difundir o ensino das matérias
constitutivas dos cursos de engenharia civil e agronômica nos moldes do regimento e
programas do Instituto congênere da União.‖ (Estatutos da Escola Livre de Engenharia de
1905, p. 3). Nessa nova organização, a direção da Escola é de responsabilidade do
presidente da Congregação.
39
FIGURA 8. PRÉDIO DA ESCOLA LIVRE DE ENGENHARIA NA RUA DO HOSPÍCIO, N° 7132
Alguns anos após a criação da Escola Livre de Engenharia de Pernambuco,
divergências entre professores, particularmente com relação ao tipo de formação, mais
teórica ou mais prática, ambas permitidas pela Lei Rivadávia33
, acabaram gerando algumas
dissidências de professores que defendiam uma formação mais prática. Esses dissidentes
seriam os fundadores de uma nova Escola de Engenharia em Pernambuco, denominada
Escola Politécnica de Pernambuco, em 6 de março de 1912:
―(...) a nova Escola já se houvera instalado, desde o dia 06 de março de 1912, na
vigência da Lei Rivadávia. Esta disposição normativa, com 144 artigos e
inúmeros parágrafos, tomou o número 8.659 e foi publicada pelo Diário Oficial
em 05 de abril de 1911, no governo do Gen. Hermes da Fonseca.‖ (SANTOS,
1991, p. 38)
Esta nova Escola buscava formar engenheiros mais voltados para o trabalho, não
tinha a pretensão de formar professores ou estudiosos e, por isso, se pautava por um ensino
mais técnico do que o existente na Escola Livre de Engenharia. Segundo Torres (2008, p.
31), ―dois professores da congregação, um deles Joaquim Leal de Barros, da Escola Livre 32
Disponível em: http://cafehistoria.ning.com/photo/recife-pe-1920-escola-de?context=latest. Acesso em
10/03/2012. 33
Implantada através do decreto n° 8.659, em 5 de abril de 1911, pelo Dr. Rivadávia Correia, a lei liberava as
escolas da fiscalização federal, proporcionava total liberdade aos estabelecimentos escolares.
40
de Engenharia, em 1912, a pretexto de que o ensino ali era demasiadamente teórico, se
afastaram e criaram a Escola Politécnica de Pernambuco, a Poli‖.
Com a restituição da fiscalização do Governo Federal e com a reorganização do
ensino, a Escola Livre de Engenharia de Pernambuco cria novos estatutos, que desta vez
excluem o curso de formação de engenheiros agrônomos. Segundo Torres (2008), a
formação destes profissionais caberia entre 1915 e 1919 à Escola Agronômica do Estado de
Pernambuco, conhecida popularmente como Escola de Agronomia de Socorro, nome do
local onde ficava instalada. Esta Escola seria fechada em 1919, praticamente pelo mesmo
motivo pelo qual o curso havia sido retirado da EEP: falta de alunos, o que acarretava em
decrescimento da Escola até seu fechamento; além da sua distância para Recife, o que
dificultava ainda mais a presença de novos alunos. Segundo Moraes Rego (1925, p. 21), o
curso foi extinto em 1915 porque ―não logrou frequencia sufficiente e regular‖ e os lentes
responsáveis pelas cadeiras deste curso ficaram à disposição da EEP e poderiam ser
convocados para novas vagas independentemente de concurso.
A partir de 1919, a Escola Livre poderia formar engenheiros mecânico, elétrico,
agrônomo e industrial, embora por alguns anos só tenha formado engenheiros civis. Neste
período, o Governo Federal liberou uma subvenção para algumas escolas de formação
superior, segundo Maia (1966, p. 28):
―Baseado na lei orçamentária federal n° 3991 de 5 de janeiro de 1920 a qual
consignava com uma subvenção anual para cada um dos sete primeiros cursos de
―Química Industrial‖ a serem criados no pais, o Ministério da Agricultura,
Indústria e Comércio, assinou o convênio com a Escola a 18 de julho de 1920
para a fundação e manutenção de um daqueles cursos.‖
O fortalecimento da classe dos engenheiros, com a ampliação do oferecimento de
cursos e de empregos, impôs uma maior organização da categoria, que criou, em 1919, o
Clube de Engenharia de Pernambuco (Figura 9). Nesse Clube seriam discutidas questões
teóricas, profissionais, políticas, etc. Uma das ações do Clube foi a publicação do periódico
―Boletim de Engenharia‖, no período de 1923 a 1937. Nas páginas de sua publicação, o
Boletim de Engenharia fazia propaganda de seus engenheiros e de seus serviços,
apresentava textos sobre ensino, teorias matemáticas, químicas e físicas, histórias de vida
41
de cientistas, artigos sobre a modernização e problemas urbanos de Recife, além de textos
que discutiam a própria consolidação da engenharia enquanto classe profissional.
FIGURA 9. ATUAL SEDE DO CLUBE DE ENGENHARIA DE PERNAMBUCO34
O Clube de Engenharia de Pernambuco foi o segundo Clube de Engenharia do
Brasil. Ele foi importante para a divulgação e reconhecimento desses profissionais-
engenheiros. A leitura de textos dos Boletins de Engenharia evidencia a estreita relação
entre a política e os engenheiros nas décadas de 1920 e 1930. Cabe ainda ressaltar a relação
do Boletim com a Escola de Engenharia, pois em sua maioria, seus editores e escritores
estudaram e, posteriormente, se tornaram professores da EEP.
PROFESSORES, ALUNOS E DISCIPLINAS
A maior parte dos alunos da Escola de Engenharia de Pernambuco, como acontecia
com outras instituições educacionais no período, era composta por filhos da elite do Estado
– fazendeiros e/ou funcionários ligados ao Governo. Apenas alguns poucos estudantes
provinham de famílias de uma classe social de menor renda. Os rastros também nos
apontam que os alunos da Escola, formados no período estudado, eram de diferentes
estados das regiões Norte e Nordeste, embora a maior parte fosse natural de Pernambuco.
Identificamos alunos do Pará, Paraíba, Ceará, Alagoas. Esta informação nos leva a crer que
34
Arquivo Pessoal. Fotografia tirada em 10/02/2013.
42
a EEP também era um centro de formação de engenheiros não apenas para Recife e região,
mesmo que em menor escala.
Para entrar na Escola de Engenharia, os alunos deveriam prestar os exames
preparatórios para o ingresso nos cursos superiores, em um momento em que cursos de
nível secundários começavam a ser regularizados. Para preparação a esses exames, cursos
anexos às faculdades foram sendo criados.
―Até a década de 30, o acesso restrito ao ensino superior, no Brasil, fazia com que
o ensino secundário se caracterizasse como uma parte da formação de elite,
associada à preparação, originalmente, para os exames preparatórios e, depois,
para os vestibulares, instituídos em 1915, com a reforma promovida pelo
Ministro Carlos Maximiliano.‖ (ALVES, 2004, p. 2).
O Curso Anexo, ou também chamado Curso Preparatório, foi tema de algumas
histórias abordadas nas fontes estudadas. O Curso era anual e, dependendo do período em
que o aluno era admitido, não seria possível realizar os próximos exames, que ocorriam no
início do ano. As disciplinas matemáticas eram centrais no Curso e vários professores da
Escola iniciaram suas atividades ali. Luiz Ribeiro, Paulo Guedes, Newton Maia e Augusto
Victor Martins, foram lembrados como professores. Alguns deles, inclusive, foram alunos
da Escola. Paulo Guedes, por exemplo, teve uma participação na EEP por mais de 30 anos
e quando foi aluno no Curso Anexo de Matemática em 1903, teve como professor Augusto
Victor Martins. (GUEDES, 1995, p. 234).
Os Estatutos de 1926, que oficializaram o fim da associação Escola Livre de
Engenharia de Pernambuco e o retorno da Escola de Engenharia de Pernambuco, afirmam
que o Curso Preparatório era sustentado pela própria Escola e que seria mantido enquanto
fosse conveniente. As disciplinas ensinadas seriam as determinadas pela legislação federal
como obrigatórias para o exame de admissão ou vestibular para os cursos técnicos. A
denominação ―vestibular‖ só é utilizada para o exame referente ao ingresso nos cursos
técnicos e não nos de engenharia.
Como ocorria em outras escolas, no Curso Anexo da Escola de Engenharia de
Pernambuco o quadro docente era composto por professores da própria Escola, como
Newton Maia, e por professores de outros colégios, como os do Ginásio Pernambuco. Além
de lecionar no Curso e na EEP, o professor também poderia fazer parte da banca avaliadora
43
do Exame de Admissão, o que aponta o grande controle exercido por esses professores
sobre o processo de seleção da Escola. O professor Luiz Ribeiro, por exemplo, era docente
da Escola e do Curso Anexo, e compunha as bancas examinadoras do exame para ingresso
na EEP. Além disso, Ribeiro foi professor de vários alunos desde que eles frequentavam o
Ginásio Pernambucano. Nas lembranças de Romildo Cordeiro Pessoa, o docente Luiz
Ribeiro era considerado o ―bicho papão‖ do exame, que era oral, e estava sempre presente
na banca que era constituída por três professores. (PESSOA, 1995, p. 257)
―Em março de 1932, matriculei-me num curso para preparação do vestibular na
própria Escola de Engenharia, Curso anexo, tendo por professor e orientador o
famoso Dr. Luiz Ribeiro (conhecido como professor mais rigoroso e indesejado
pelos alunos do Ginásio Pernambucano, onde ele era também professor).‖
(PESSOA, 1995, p. 256).
Ao receber o título Honoris Causa pela Universidade Federal de Pernambuco, o
físico José Leite Lopes, ex-aluno da EEP, relembrou os tempos em que foi aluno do
professor Newton Maia no Curso Preparatório, quando teve as primeiras aulas com o
professor. Nessas aulas, Maia lecionava temas necessários ao ingresso na EEP: ―as bases da
matemática, da álgebra superior, os fundamentos da Geometria de Euclides e da
trigonometria‖. Em suas lembranças, Lopes recorda-se que o professor Newton
―transmitia‖ esses conteúdos com muita ―clareza, simplicidade e elegância‖ (LOPES, 1986,
p. 2). Foi neste Curso que Lopes teve o seu ―primeiro choque de experiência política‖.
―Pois em plena aula, na presença de seus alunos, [o professor Newton] recebeu a
visita – a intimação – de um agente da Polícia Política para levá-lo preso: era
1935, o ano do levante militar comandado por Luis Carlos Prestes, e as pessoas
que integraram a frente ampla da época, a Aliança Nacional Libertadora, eram
automaticamente marcadas como subversivas.‖ (LOPES, 1986, p. 2).
José Leite Lopes diz que essa experiência com Newton Maia, ―que era um liberal-
democrata‖, numa época em que ―muita gente foi presa‖ o deixou bastante chocado
―porque foi a primeira vez que [teve] a experiência de ver isso.‖ (LOPES, 1977, p. 3).
As turmas do Curso eram formadas de acordo com os conhecimentos dos alunos,
avaliados previamente pelos professores. Todos os alunos que pretendessem prestar os
exames preparatórios deveriam passar pelo Curso Anexo. Só seria desconsiderada esta
regra, caso o aluno provasse que estava preparado para realizar os exames. Isso ocorreu,
44
por exemplo, com Antônio Mário Mafra, que era de Maceió e como conta Torres (2008),
quando chegou, em março de 1932, e foi procurar o professor e lente Newton da Silva Maia
no curso preparatório, a fim de tentar realizar os exames daquele ano, foi advertido pelo
professor de que deveria entrar para a turma que realizaria os exames no ano seguinte.
Mafra, no entanto, não concordou com o professor, uma vez que entendia ter os
conhecimentos necessários para realizar os exames para o ingresso no curso de Engenharia
naquele ano. Diante da relutância do aluno, que não mudava sua posição, Newton Maia
decidiu testar Mafra naquele exato momento. Entregou para ele um giz e foi fazendo
perguntas e mais perguntas que eram prontamente respondidas corretamente. Ao fim,
Newton Maia concordou que Mafra realizasse os exames, uma vez que demonstrou estar
preparado. Alguns dias depois, Mafra passou pelo processo seletivo com nota máxima, a
única até então na EEP. Segundo Torres (2008, p. 55), a decisão sobre Mafra foi acertada.
Ele se destacou na Escola, ―suas provas orais eram show e as pessoas iam assistir‖.
A história de Mafra nos acena para o poder e a influência de professores, como
Newton Maia, nas decisões da Escola de Engenharia. Aponta-nos, ainda, como este grupo
de professores que estamos estudando tomava decisões que ultrapassavam o limite da
competência de um professor. Todavia, devemos considerar que isto ocorria em um
momento em que EEP era uma Escola pequena e que tinha poucos formandos e poucos
cursos oferecidos. Sendo assim, o andamento da Escola poderia ficar sujeito a uma maior
influência de seus professores. Além disso, é valido lembrar que no fim século XIX e
começo do século XX, o professor detinha um maior poder dentro da sala de aula.
Nas fontes que trabalhamos, os engenheiros civis-professores da Escola de
Engenharia de Pernambuco, grande parte deles, são caracterizados como ríspidos e com
grande poder de decisão dentro do espaço de aula. Os alunos eram passivos, devendo
apenas aceitar o que o professor oferecesse sem questionamentos, repetindo e memorizando
o que era ensinado. Nesta época não cabia ao aluno o papel de questionador, afinal,
acreditava-se que o esforço repetitivo levaria a melhor aprendizagem. Isso significava que
não havia, por parte dos professores, a preocupação com aulas que mantivessem os alunos
entretidos ou que oferecessem dinâmica e interatividade, parte pelo perfil da época, parte
pela não exigência destas características em um bom profissional. Buscando fazer uma
analogia mais palpável desta realidade, a forma como as aulas eram dadas naquela época
45
seria comparável a maneira como são dadas as palestras atualmente, pois os docentes
chegavam à sala de aula, cumprimentavam os alunos para, em seguida, passarem o
conteúdo programado para o dia, com poucas pausas até o fim da aula – estas, quando
ocorriam, eram ditadas em prol do professor e não buscando oferecer um descanso
cognitivo aos alunos.
Podemos perceber um vestígio sobre este estilo de aula na fala de Lima (1995, p.
67) quando se refere aos professores de maior destaque como figuras dominantes, e entre
eles destaca as ―aulas excelentes‖ de Luiz de Barros Freire, ―verdadeiras conferências‖.
Além disso, as aulas diziam respeito a estudos teóricos, nada ligados à prática:
―A formação dos engenheiros foi também representativa dessa mentalidade.
Durante muito tempo, seu principal objetivo era o de preencher os quadros
administrativos do Estado, e seu ensino se baseava nas matemáticas abstratas e
nas ciências físicas e não sobre a aplicação prática. Esta orientação é visível nos
programas escolares os quais, inspirados naqueles da Politécnica francesa não
conduziam à uma formação técnica ou às ciências aplicadas; ela está presente na
titulação conferida pela Escola de Engenharia do Rio de Janeiro: além do título de
engenheiro, a escola fornecia também aqueles de bacharel e de doutor em
matemática, química, etc; e ela também se manifestava pela ausência de
laboratórios e de ensino prático e experimental.‖ (ARAÚJO, 1998, p. 9).
Os engenheiros civis-professores da EEP ficaram conhecidos por suas aulas
teóricas, por seus estudos e pela valorização desta forma de lidar com a engenharia. Um
exemplo é o engenheiro Luiz de Barros Freire que, em 1953, fundou o Instituto de
Matemática e Física da atual UFPE, juntamente com outros três professores portugueses.
Outro exemplo, relatado por Baltar (1995, p. 43), retrata o professor catedrático João
Holmes Sobrinho que decidiu, em 1938, depois de mais de vinte anos ensinando ―mecânica
racional usando o método cartesiano‖, adotar o método vetorial. Segundo Baltar (1995, p.
43):
―Ele chegou, pegou o giz, separou um pequeno retângulo de uns 60 centímetros
com um metro mais ou menos de altura no canto do quadro e começou a
desenvolver o raciocínio cartesiano que ocupou todo esse quadro que era a parede
de todo o fundo da sala. Ocupou toda a parede lateral, ocupou toda a parede do
outro lado para, finalmente, chegar às fórmulas finais. Aí ele disse assim: ―Você
viu que belo raciocínio, baseado no método cartesiano? Agora, para vocês verem
o que significa economia de pensamento, a adoção do cálculo vetorial, nesse
retangulozinho aqui, eu vou resolver o mesmo problema vetorialmente‖.‖
(BALTAR, 1995, p. 43).
46
O professor não tentou apenas passar um novo método de resolução de problemas,
mas buscou através da demonstração rigorosa do método antigo, mostrar como o método
novo se tornava mais eficiente. Não só neste exemplo abordado por Baltar, mas em vários
outros textos de vários autores, pudemos perceber essa preocupação com a parte teórica,
com o detalhamento da teoria, com o rigor e com as demonstrações.
O rigor pelo qual os professores são lembrados constituiu-se em um aspecto
marcante da EEP. Muitas histórias remetem à prática do medo que os docentes exerciam
sobre os alunos. Através da intimidação imposta por algumas técnicas como provas difíceis,
constrangimento e até para demonstrar a superioridade de conhecimento, pode-se afirmar
que ―era a cultura da época, na Escola de Engenharia‖ (TORRES, 2008, p. 155). A EEP
tinha a fama de ser uma escola rigorosa e essa característica não dizia respeito apenas ao
rigor de seu corpo docente, mas à organização geral da instituição. Os comentários sobre
essa rigidez extrapolavam as paredes da Escola. Segundo Torres (2008, p. 46),
particularmente quando Moraes Rego era o diretor, ―dizia-se na cidade, nas brincadeiras
dos boêmios e nas mesas de bar, que só existiam duas coisas sérias no Recife: o jogo do
bicho e a Escola de Engenharia‖.
Há diversas histórias sobre o estilo de aula que também destacam especificidades
dos professores da EEP. Os professores Luiz de Barros Freire e Newton da Silva Maia,
lembrados por suas ―brilhantes‖ aulas teóricas e pela rigorosidade com que conduziam
aulas e provas, tinham outras características diferenciadas, que também são mencionadas.
Luiz Freire é comumente recordado por suas decisões excêntricas, sua irreverência e pelo
incentivo aos bons alunos.
―A influência do Prof. Luiz Freire era de outra natureza. Ao lado de uma
profunda irreverência em relação àqueles que dominavam "os sábios da
província", ele estimulava os alunos que considerava talentosos a seguirem uma
carreira científica.‖35
Newton Maia é lembrado pela sua boa ―didática‖:
―Mas paralelamente ao Curso Anexo, matriculei-me no curso do prof. Newton
Maia, conhecido como um professor mais didático e mais eficiente. Prof. Newton
Maia também professor da Escola de Engenharia, mantinha um curso pré-
35
Disponível em: http://matematicauniversitaria.ime.usp.br/Conteudo/n16/n16_Entrevista.pdf Acesso em:
13/09/2013.
47
vestibular particular de grande valia, efetivamente muito melhor do que o tal
Curso Anexo.‖ (PESSOA, 1995, p. 256).
No entanto, o rigor e a rispidez do professor Maia são destacados por Torres (2008,
p. 125): ―O Prof. Newton, com esse seu velho estilo ríspido, amedrontador, realmente inibia
os alunos que se atrevessem a perguntar ou tirar dúvidas‖. O rigor é tema presente e
contínuo. Enquanto diretor da EEP ―o professor e Diretor Newton Maia era como nos
velhos tempos, rígido, autoritário e que não se deve pedir nada, nem para aplicar bem o
dinheiro público, para ele, se não se usa na forma prevista, devolve." (TORRES, 2008, p.
63). Este dizer se refere a um acontecimento em 1964 no qual Newton Maia foi criticado
pelo professor Mário Antônio durante uma aula de Cálculo Infinitesimal II, por ter
devolvido a verba federal que restou para o Ministério da Educação, no lugar de ter
investido em outras áreas. Pode-se inferir que Newton Maia era uma pessoa que não
costumava mudar seus métodos e o modo como foram determinadas as suas ações.
Outro professor e diretor que também ficou conhecido pela rigidez de condução da
EEP foi Manoel Antonio de Moraes Rego. Grande parte das fontes investigadas sua figura
como um diretor que conduzia os caminhos da EEP através de linhas mais rígidas e tentava
sempre que possível trazer melhorias, mesmo que de forma conservadora. As histórias
contam que Moraes Rego não permitia de forma alguma a banalização da Escola e fazia
com que a sua fama fosse inerte ao meio corruptível que vivia o Recife. ―Os jornais da
cidade quando se referiam à Escola era sempre com grande respeito e admiração. Afinal,
nomes como de Moraes Rego e Heitor Maia36
, professores da EEP, eram celebridades na
cidade‖ (TORRES, 2008, p. 44). Esta linha que ele seguia para guiar a EEP fez com que ela
ficasse conhecida como ―a casa de Moraes Rego‖. (TORRES, 2008, p. 46).
Como professor, Moraes Rego é lembrado por seu conhecimento teórico bem como
pelo seu método de expor o conteúdo, sem que houvesse nenhuma interferência dos alunos.
Segundo Baltar (1995, p. 48), ―o velho Moraes Rego, por exemplo, tinha estudado muito,
sabia bem a matéria que ensinava. Agora não permitia interferência do aluno na aula dele,
de jeito nenhum‖. Baltar relata uma situação em que Moraes Rego teria se enganado em um
―cálculo algébrico tolo‖. Um aluno o alertou: ―Doutor Moraes, essa transformação aí não
36
Heitor da Silva Maia, pai de Newton da Silva Maia, foi professor e diretor da EEP, além de diretor do
Clube de Engenharia de Pernambuco em 1922.
48
está certa não‖. Sem responder o questionamento do aluno, o professor Rego ―pôs o giz no
quadro, botou o chapéu na cabeça, pegou os livros dele e foi embora, sem dizer uma
palavra.‖ (BALTAR, 1995, p. 48).
Outra situação relembrada sobre Moraes Rego diz respeito ao período em que Paulo
Guedes inicia sua carreira como professor na Escola. Guedes (1995) afirma que sua
primeira passagem pela Escola de Engenharia foi em 1919 para ministrar o curso
complementar de Mecânica Aplicada e Resistência dos Materiais. Entretanto, essa
passagem foi muito rápida porque uma lei federal fez com que as cátedras fossem dadas
apenas pelos catedráticos. O retorno para a profissão de docente ocorreu, segundo Guedes
(1995, p. 242), em ―30/07/1931‖ recebendo ―do Dr. Moraes Rego, convite para dar o curso
complementar de Hidráulica‖. Durante este ―novo período de magistério‖, Guedes teve
―sobre os ombros, em várias fases Estabilidade, substituindo o professor contratado,
Construção, Arquitetura Higiene e Saneamento‖. Em março de 1934 torna-se catedrático,
devido aos ajustes que a Escola de Engenharia passaria para poder fazer parte da futura
Universidade do Recife, assumindo a cadeira de Física Industrial para o curso de Química
Industrial, através da indicação do professor Luiz de Barros Freire, e a cadeira facultativa
de Elementos de Eletrotécnica, que Guedes afirma ter aceitado ―para não perturbar a boa
marcha, que orientava a Escola‖ (1995, p. 243), referindo-se a criação da Universidade em
Pernambuco e ao enquadramento da Escola de Engenharia nesta. A cadeira de Elementos
de Eletrotécnica foi fechada em 1947.
Guedes ainda seria responsável pela cátedra de Construção Civil, que foi passada
por Heitor Maia, pois Heitor acreditava ser impossível assumir a cátedra ―por estar
ocupando cargo público‖. (GUEDES, 1995, p. 243) Além desta cadeira, Heitor Maia
passou para Paulo Guedes a responsabilidade sobre a diretoria da EEP em novembro de
1934 e, após o falecimento de Heitor Maia em 1942, coube a Guedes assumir a cadeira de
Higiene.
―o então Diretor, Dr. Moraes Rego, providenciando o preenchimento da vaga,
disse-me textualmente: Cabe a você assumir a Cadeira, uma vez que a vinha
regendo desde antes da sua criação e, em todos os impedimentos do catedrático, e
a seu próprio convite. Faça–me um ofício, dizendo os trabalhos prestados e peça
a transferência para a cadeira, que eu a encaminharei.‖ (GUEDES, 1995, p. 244).
49
Nessas histórias que trazem algumas informações sobre a relação entre professores e
disciplinas, encontramos indícios não apenas com relação ao modo como os professores
trabalhavam, mas também sobre as disciplinas que lecionavam. Em uma entrevista, José
Leite Lopes (1977, p. 2) conta que no primeiro ano do curso de engenharia teve ―os
primeiros ensinamentos de Cálculo Diferencial e Integral‖ nas aulas de Newton Maia, e que
as ―aulas magistrais‖ de Física foram ministradas pelo professor Luiz Freire, que tinha
livros que eram disponibilizados aos alunos em sua biblioteca.
O professor Luís Ribeiro, que era professor de Matemática no Ginásio Pernambuco,
―era sempre enaltecido quando os alunos passavam por sua disciplina. Os sentimentos dos
alunos eram de temor antes de passar e de alívio e rejúbilo, depois.‖ (TORERS, 2008, p.
55). Jônio Pereira Lemos comenta sobre Luís Ribeiro no Ginásio Pernambucano como uma
―figura estranha e rigorosa‖ que ―dizimou turmas inteiras, mas que para alguns foi o
introdutor do estudo de matemática.‖ (LEMOS, 1995, p. 158). Essa contradição aparente,
se analisarmos de acordo com o período em questão, era frequente entre os professores da
época e pode-se notar que não há oposição entre as ações.
Ainda se tratando do Ensino de Matemática na EEP, tem-se Joaquim Cardozo como
lente da cadeira de Cálculo Infinitesimal e Geometria Analítica:
―Na cadeira inicial da Escola de Engenharia, Cálculo Infinitesimal, tive a sorte,
no primeiro ano em que estudei, de ter como professor Joaquim Cardozo, uma
das figuras mais notáveis do ensino de engenharia em Pernambuco. Cardozo foi
meu professor de cálculo infinitesimal e depois também de geometria analítica
durante todo o primeiro ano.‖ (BALTAR, 1995, p. 42).
A cadeira de Cálculo Infinitesimal, dirigida por Newton da Silva Maia, segundo
Pontual, ―em trinta e seis aulas, foi da Teoria do Corte de Dedekind até à solução de todos
os tipos de equações integrais e de equações diferenciais de qualquer ordem.‖ (PONTUAL,
1995, p. 91).
Outro lente com destaque, João Holmes Sobrinho, era considerado um professor de
muita segurança com relação aos conteúdos por ele trabalhados. Foi professor das cadeiras
de Mecânica Racional e Astronomia. Em Mecânica Racional utilizava o mesmo método da
Escola Politécnica de Paris.
50
―Aliás, no curso de Engenharia, além de Luís Freire e Newton Maia, havia um
professor de grande reputação, chamava-se João Holmes Sobrinho, que era o
professor de Mecânica Racional. O título da cadeira era de influência, herança
francesa: Mécanique Rationale‖. (LOPES, 1977, p. 6).
Já Astronomia, lecionada por João Holmes Sobrinho, era dividida em três partes
(astronomia, topografia e geodésia) sendo este curso, segundo Romildo C. Pessoa,
trabalhado com aulas práticas e ―precedido por um intensivo curso de trigonometria
esférica e teorias dos instrumentos‖. Este curso de trigonometria esférica ―era engolido a
pulso pelos estudantes, pelo fato de ser constituído de uma teoria complicada e cheia de
fórmulas imensas e demonstrações intermináveis‖. (PESSOA, 1995, p. 258) O autor ainda
diz que o conteúdo aprendido na parte de trigonometria esférica não era mais utilizado após
a realização da disciplina e que ele guardou suas anotações de aula caso viesse a precisar, o
que só ocorreu muitos anos mais tarde quando, para ajudar seus alunos em navegação,
Pessoa ministrou um curso sobre trigonometria esférica.
João Holmes Sobrinho criou no telhado da EEP um observatório para suas aulas
práticas de Astronomia, mas com o passar do tempo a disciplina foi sendo considerada
―ultrapassada‖ até culminar em seu fechamento. Holmes era conhecido por não interagir
muito, era um professor que entrava na sala de aula passava o conteúdo e saia, sem trocar
nenhuma palavra com os alunos. Holmes ficou conhecido, assim como parte dos
professores da Escola, por sua linha rígida e que cobrava de seus alunos um alto nível de
conhecimentos acerca dos conteúdos dados em aula. Um professor intransigente na hora da
avaliação e que para aprovar um aluno, este realmente deveria ter o conhecimento
necessário. Baltar conta que poucos ―em toda a história da Escola‖ se candidataram e
passaram ao fazer o exame final na primeira vez que cursavam a cadeira de Mecânica
Racional. (1995, p. 43)
ENTRE DOUTORES E BACHARÉIS
Os tipos de diplomas concedidos pela Escola no período inicial da EEP, os ―grãos‖,
de acordo com os Regulamentos, são também parte do funcionamento da Escola. Tendo
como série documental central os Regulamentos de 1898 e de 1901, e os Estatutos de 1905,
51
é possível encontrar, detalhadamente, o que era necessário para obter os diplomas de
Doutor e de Bacharel pela EEP.
Nesse período a Escola ainda formava engenheiros geógrafos e, para tanto, o aluno
precisava concluir apenas os três primeiros anos do curso de engenharia civil, ou seja, ao
fim dos cinco anos de curso o formando estaria de posse de dois diplomas. Já para obtenção
do título de bacharel, o aluno teria que ter concluído o curso de engenharia civil com
―aprovações plenas ou distintas em todas as cadeiras, aulas e exercícios praticos‖
(Regulamento de 1901, p. 30).
O processo para obtenção do título de doutor era mais complexo. Apenas pessoas
com o título de bacharel em ciências físicas e matemáticas poderiam tentar defender uma
tese e assim alcançar o título de doutor. Para isso, de acordo com o Regulamento de 1901,
era necessário entrar com um requerimento, anexar o comprovante do grau de bacharel e
solicitar ao Diretor da Escola a inscrição para a defesa da tese. Os temas das teses eram
definidos entre um leque de dez questões escolhidas pelos lentes da EEP no início de cada
ano letivo, estas questões eram aprovadas nas seções da Congregação e depois ficavam na
secretaria à disposição dos candidatos. Caso o requerimento fosse aprovado, o Diretor
convocava a Congregação para definir a data da defesa e a comissão avaliadora, que era
composta por três lentes da Escola. Já a tese deveria, dentre os temas escolhidos pelo
bacharel, conter ―tres proposiçoes, pelo menos, sobre cada uma das sciencias do gráo‖
(Regulamento de 1901, p. 31). A comissão tinha o prazo de três dias para avaliar se a tese
estava apta e se, dessa forma, o candidato poderia participar da defesa. Após ter a tese
aprovada, o bacharel deveria enviar à secretaria da Escola 120 cópias em, no máximo, 20
dias. ―O frontespio das theses deve conter simplesmente o seu objeto e fim e o nome do
autor‖ (p. 31). Assim que a secretaria recebesse as cópias, o Diretor teria de ser avisado
para, em conjunto com a Congregação, em seção pública, estabelecer a comissão
examinadora da defesa, que era composta por cinco lentes.
Com relação ao dia da defesa, o doutorando deveria apresentar:
―uma dissertação sobre assumpto importante, a sua escolha, de qualquer das
sciencias de gráo. A dissertação sera lida pelo doutorando, na primeira hora e
entregue logo ao presidente do acto. Sobre ella arguil-o-há, si quiser, o lente mais
antigo. Sera tambem impressa à custa do doutorando, si fòr aprovado, e
distribuída pelos lentes do dia da colação do gráo‖. (Regulamento de 1901, p. 34-
35).
52
A defesa da tese era marcada exatamente oito dias após a escolha da banca
examinadora, ou em caso de feriado no dia seguinte. Ainda consta no Regulamento de 1901
toda a descrição de como a sala deveria estar no dia da defesa, com detalhes que vão desde
a posição dos lentes e professores, que considerava a hierarquia escolar começando pelo
diretor, professores mais antigos até os mais novos, além de informações sobre os
procedimentos, tais como o de que o doutorando deveria sair da sala na hora em que a
banca analisaria o trabalho. Os resultados possíveis eram: aprovado com distinção,
aprovado plenamente, aprovado simplesmente ou reprovado. Em caso de reprova da tese, o
doutorando só poderia participar de nova defesa dois anos depois. Quando aprovada, ficava
a cargo do Diretor enviar ao Governador quatro cópias da tese e a cargo do doutorando
entregar oitenta cópias na secretaria da EEP. Os doutorandos que não fossem aprovados
poderiam alterar este resultado defendendo novas teses e ficando com o novo julgamento.
Entre 1905 e 1914, a Escola de Engenharia também formou engenheiros
agrônomos, além de engenheiros geógrafos e civis, bacharéis em ciências físicas e
matemáticas, bacharéis em ciências físicas e naturais e, por fim, doutores. Consta nos
Estatutos de 1905 da Escola que para se formar engenheiro geógrafo deveria o aluno ter
concluído três anos de qualquer dos dois cursos da EEP. Para formar-se bacharel era
necessário ter sido aprovado plenamente ou com distinção em todas as cadeiras, aulas e
exercícios práticos, e o formando que assim terminasse o curso de engenharia civil obteria
o diploma de bacharel em ciências físicas e matemáticas. O engenheiro agrônomo poderia
ter o título de bacharel em ciências físicas e naturais. Assim como previa o Regulamento de
1901, o processo para um bacharel tornar-se doutor era o mesmo. Transcrevemos o modelo
dos diplomas de Bacharel e Doutor da EEP, presente nos Estatutos da Escola Livre de
Engenharia de Pernambuco de 1905:
53
54
55
CAPÍTULO 3 – LUIZ DE BARROS FREIRE: REFLEXÕES SOBRE CIÊNCIA
FIGURA 10. LUIZ DE BARROS FREIRE37
O engenheiro-professor Luiz de Barros Freire não é reconhecido por ter realizado
algum experimento inédito ou escrito uma teoria própria. Nesse sentido, ele não é incluído
na categoria dos cientistas brasileiros. O seu grande reconhecimento é por ter sido um
―pioneiro da ciência no Brasil‖38
e um ―semeador de vocações científicas‖39
. Realmente,
Luiz Freire foi um grande estudioso e divulgador de estudos científicos desenvolvidos em
seu tempo, em especial, os de matemática e física. Além da divulgação direta aos seus
alunos, tanto nas aulas como em conversas e reuniões em sua residência, Freire
disponibilizava seus livros e periódicos para alunos e outros interessados, publicava artigos 37
Disponível em:
https://www.ufpe.br/dmat/index.php?option=com_content&view=article&id=321%3Alfreire&catid=1&Itemi
d=249 Acesso em 15/09/2012. 38
Este é o título do artigo de Albuquerque, Ivone Freire Mota de; Hamburger, Amélia Império. ―Retratos de
Luiz de Barros Freire como Pioneiro da Ciência no Brasil‖. Ciência e Cultura 40, 857 (1988). 39
Este é o subtítulo do artigo de Antonio Augusto Passos Videira e Cássio Leite Vieira, publicado na Revista
Brasileira de Ensino de Física, v. 35, n. 2, 2602 (2013). O título do artigo é ―Luiz Freire: Semeador de
vocações científicas‖.
56
e proferia conferências, nas quais discutia autores e teorias filosóficas, matemáticas e
físicas atuais; aspectos históricos da matemática e de personagens envolvidos com a
matemática, na maior parte das vezes brasileiros; e questões relacionadas ao ensino. Além
disso, Freire escreveu duas teses para concursos de escolas em Recife, a primeira para
concorrer a uma vaga de professor de Geometria na Escola Normal Oficial de Pernambuco
e a outra para o concurso de professor do Curso de Engenharia Civil da Escola de
Engenharia de Pernambuco.
O interesse de Luiz Freire por textos científicos e filosóficos, segundo alguns
autores, começou ainda na adolescência. Vivendo em Recife, onde foi criado o primeiro
grupo de positivistas brasileiros, conhecido pelo nome de Grupo de Recife, Freire tomou
contato com as discussões que estavam acontecendo e concordava com a postura positivista
até meados de seu curso de Engenharia, realizado na Escola de Engenharia de Pernambuco,
de 1914 e 1918, onde teve diversos professores positivistas. O seu afastamento da doutrina
positivista, dentre outras razões, estaria vinculado à ―sua participação na "Escola de
Alexandria", um grupo que se reunia na casa de Waldemar Carneiro Monteiro para
discussões filosóficas, desde 1916‖. No grupo, que contava com a participação de José
Cordeiro, Aurino Duarte e outros, os jovens estudantes de engenharia discutiam ―Kant,
Bergson, Poincaré, Whitehead, Russel‖. As discussões neste grupo, bem como o interesse
―pela lógica matemática e pelas novas matemáticas do fim do século XIX – Gauss,
Riemann, Abel, Jacobi, Cauchy, etc. que Comte ignorava‖, levaram Freire a trilhar novos
caminhos e a se afastar definitivamente dos princípios positivistas. (ALBUQUERQUE;
HAMBURGER, 1988, p. 11-12).
No ano seguinte à conclusão de seu curso de Engenharia Civil na Escola de
Engenharia de Pernambuco, em 1919, Freire presta um concurso para a disciplina
Geometria da Escola Normal Oficial de Pernambuco. Uma das exigências do concurso era
a apresentação de uma tese sobre a Geometria e sua metodologia. No entanto, o título deste
seu primeiro texto público é Da Sciencia Mathematica, Sua Methodologia. Em uma página
que antecede o texto, Freire já manifesta a postura polêmica que irá manter em textos
futuros. Antes de iniciar, apresenta uma ―Advertência‖ para justificar a não obediência ao
que foi solicitado.
57
―Em vista da inter-dependencia reinante nos differentes ramos da sciencia
mathematica, julguei não dever falar somente a respeito da geometria e sua
methodologia, razão pela qual segui o criterio aqui exposto, como aquelle
naturalmente indicado.‖ (FREIRE, 1919, p. 7).
DA SCIENCIA MATEHMATICA, SUA METHODOLOGIA
FIGURA 11. CAPA DA TESE “DA SCIENCIA MATHEMATICA SUA METHODOLOGIA”40
Freire defende que a matemática está presente em tudo e que através dela podemos
alcançar um estágio de evolução maior e melhor, e ainda ―conquistas infinitas, uteis e belas,
e à qual, em muito grande parte, deve a humanidade o bem estar que ora lhe é
proporcionado‖ (FREIRE, 1919, p. 20). Para Luiz de Barros Freire, a Matemática não
40
Arquivo pessoal. Fotografia tirada do exemplar que se encontra na Biblioteca Pública do Estado de
Pernambuco em 12/02/2013.
58
estaria apenas presente na origem de tudo, ela é também a parte vital e mais importante da
evolução da humanidade.
Freire cria ao longo da sua escrita um texto que segue um formato que começa da
informação geral seguida pelo detalhamento de alguma particularidade dentro dessa
informação, e isto ocorre sucessivamente até que, por fim, ele traz um exemplo sobre o que
explicou.
―Comprehende-se por quantidade tudo aquilo que poderia ser maior ou menor do
que é: um objeto material qualquer, fazendo-se abstracção de sua natureza
physica, apresenta-se a nossos olhos como um agregado de paries, isto é, como
um todo susceptível de ser augmentado e diminuído.‖ (FREIRE, 1919, p. 7)
Apresentada em 69 páginas, a sua tese está dividida em três capítulos: ―Da
Mathematica‖, ―Methodologia Mathematica‖ e ―Sob o ponto de vista do ensino‖. Esses
capítulos têm respectivamente, 53, 12 e 4 páginas. A quantidade de páginas já nos aponta a
priorização de Freire na apresentação de seu trabalho, em que o ensino merece apenas
alguns comentários.
O primeiro capítulo, ―Da Mathematica‖, com muitos subtítulos, é iniciado por uma
definição: ―consideradas em seu conjunto ou como constituindo uma só ciência, podem as
matemáticas ser definidas como a ciência das quantidades‖ (FREIRE, 1919, p. 7). Freire
pretende ser muito ―preciso‖ em suas considerações e definições. Explica que a quantidade
―é tudo aquilo que poderia ser maior ou menor do que é‖. E, complementa, explicando que
um objeto material qualquer, quando fazemos a abstração de sua parte física, ―apresenta-se
aos nossos olhos como um agregado de partes, como um todo suscetível de ser aumentado
ou diminuído‖ (FREIRE, 1919, p. 7). Ou seja, todos os objetos do mundo físico são
quantidades. O espaço e o tempo também são quantidades e são ―as puras intuições do
espaço e tempo que serve de base a todas aquelas que temos dos objetos‖ (FREIRE, 1919,
p. 7). Essas considerações são retiradas dos trabalhos de Josef Maria Hoëné-Wronski41
, que
definiu as matemáticas como ―as ciências do tempo e do espaço.‖ (FREIRE, 1919, p. 8).
41
Josef Maria Hoëné-Wronski (1776 – 1853), filósofo e matemático, ficou conhecido por seus estudos
matemáticos na área de equações diferenciais e linearidade de funções, através do cálculo de determinantes de
matrizes, conhecidos como Wronskiano. Disponível em: http://www-history.mcs.st-
and.ac.uk/Biographies/Wronski.html Acesso em: 28/02/2014.
59
Em vários momentos, Freire parece se aproximar de ideias positivistas, embora não
declare explicitamente sua posição. Na verdade, segundo estudos de Albuquerque e
Hamburger, Freire se distanciou do positivismo ainda no terceiro ano de seu curso de
engenharia, que tinha muitos professores positivistas, como ocorria com outras escolas de
engenharia brasileiras. É possível, como sugeriu a professora Virgínia Cardia de Cardoso,
no exame de qualificação desta dissertação, que ele estivesse usando um discurso menos
radical, uma vez que estava concorrendo a um concurso em que, provavelmente, alguns
examinadores fossem positivistas.
Para ele ―as ciências matemáticas têm sempre formado a base dos conhecimentos
positivos da humanidade‖ (FREIRE, 1919, p. 8). As matemáticas forneceriam as bases para
qualquer outra ciência e/ou arte. Ele exemplifica casos de diferentes ciências que se
utilizam da matemática para resolver seus problemas. A Química, por exemplo, já havia
ultrapassado o método pré-matemático, ―pelo qual principiam todas as ciências.‖ (FREIRE,
1919, p. 10). Outras áreas, tais como as Ciências Médicas e as Políticas, a Economia
Política, também são exemplificadas para mostrar a importância da Matemática para o
estabelecimento de leis nestas áreas. Para isso, Freire apresenta nomes de cientistas de
diferentes áreas que chegaram a resultados importantes: leis, equações, funções e teorias
matemáticas são mencionadas. ―Na própria Linguística‖, fazendo uma projeção, Freire
afirma que chegará um dia em que as matemáticas se tornarão ―úteis e muito necessárias‖.
(FREIRE, 1919, p. 12). Para finalizar, afirma que:
―Todo saber real, toda ciência positiva, toda arte, se não se baseiam inteiramente
ou em parte sobre os conhecimentos matemáticos, ligam-se a esses
conhecimentos ou pelo menos calculam sobre o seu método. Assim já o indicava
a posição por ela ocupada na escala enciclopédica de Comte, em que, com um
simples golpe de vista se descobre que ela constitui a base espontânea de todas as
ciências.‖ (FREIRE, 1919, p. 13).
Ao finalizar a sua introdução, em que destaca a importância da Matemática, que não
exige o conhecimento de qualquer outra ciência e ―é o guia real que nos inicia no estudo do
mundo, base fundamental do estudo do homem‖, manifesta seu descontentamento pelo fato
de existir poucos ―cursos sistemáticos dessa ciência.‖ (FREIRE, 1919, p. 14).
Em seguida, Freire apresenta um esboço histórico, intitulado ―Sucessivos progressos
das ciências matemáticas e seu estado atual‖. A palavra progresso, novamente, nos remete
60
ao positivismo, cujo lema era: O Amor por princípio e a Ordem por base; o Progresso por
meta. O texto é denso, muito informativo, com poucos comentários e observações. Parece
querer mostrar seu conhecimento e sua erudição. O texto é separado em quatro períodos. O
primeiro período é aquele em que as verdades matemáticas eram percebidas apenas ―in
concreto‖, ou seja, era o período em que os casos particulares eram verificados
concretamente. No segundo período, que vai de Tales até a Escola de Alexandria, a
matemática começa a ter abstrações de casos particulares. O terceiro período é o de
―Cardano, Bombelli, Fermat e Descartes até Kepler, Cavalleri e Wallis‖. Neste período,
segundo Freire, ocorre o surgimento de ―leis gerais, isto é, o surgimento da Álgebra‖, O
quarto período seria o ―dos matemáticos modernos‖, iniciado com Leibniz e Newton e a
criação do Cálculo Diferencial e Integral. (FREIRE, 1919, p. 15).
Apesar dos grandes avanços causados pelos trabalhos que foram gerados a partir do
Cálculo Diferencial e Integral, segundo Freire, ainda faltava ―um princípio universal‖
(FREIRE, 1919, p. 17). Foi nesse período, em 1811, que guiado por Wronski e seus
estudos, havia alcançado o estágio de Ciência única e deixado sua característica plural de
―As Matemáticas‖. Isto por conta da resolução do Problema Universal das Matemáticas
que, segundo o autor, seria ―a expressão que apresenta a forma universal de todas as
equações possíveis, a qual resolvida, nos fornece a solução do problema Universal das
Matemáticas‖, que por sua vez seria uma questão que resumiria todas as outras questões
que pudessem ―as Matemáticas apresentarem‖. (FREIRE, 1919, p. 19)
A conclusão de Wronski de que ―todas as questões das matemáticas se reduzem a
equações‖, segundo Freire, teria conduzido a matemática ―ao estado de ciência definitiva‖.
Concordando com Condorcet e Comte, ao afirmar que ―não há ciências matemáticas; todas
se entresubsidiam, completam-se e ás vezes se confundem‖, Freire conclui o seu texto
dizendo que o que há é ―uma vasta ciência, a Matemática‖ (FREIRE, 1919, p. 20). É
interessante observar que após fazer esta afirmação, Freire introduz em seu trabalho um
novo item, denominado ―Ramificações das Ciências Matemáticas‖. Uma só Ciência, a
Matemática? Ou várias Ciências Matemáticas? Naquele período estas questões não apenas
estavam sendo discutidas, como o autor parece ainda não ter se posicionado totalmente com
relação a elas. Muitos resultados novos surgiram, que colocam em discussão as fronteiras
entre as disciplinas matemáticas.
61
No texto ―Ramificações das Ciências Matemáticas‖, Freire trabalha com a ciência
dos números, Algoritmia; com a ciência das extensões, Geometria; com a ciência do
movimento, Phoronomia; com a Aritmética, ―modos de agir dos números‖; com a Álgebra,
que estuda as ―leis dos números‖. A Álgebra, por sua vez, é dividida em teoria e técnica.
Ao finalizar esta parte, Freire discute as questões de Aritmética, que tem tido vários
resultados enunciados, mas não demonstrados. Menciona, como exemplo, o Teorema de
Goldenbach – todo número par é a soma de dois números primos42
, que não havia sido
demonstrado até aquele momento, o que ocorria com outros resultados da matemática.
Provavelmente, Freire ficaria muito assustado ao saber que o Teorema de Goldenbach,
agora denominado Conjectura de Goldenbach, não foi até hoje demonstrado43
. Para Freire
as dificuldades encontradas nas questões de Aritmética estavam relacionadas à falta de
métodos adequados. A noção de congruência módulo n, para Freire, seria ―um manancial‖
na resolução das questões dessa área.
Ao encerrar a discussão sobre a Teoria dos Números, Freire presta uma homenagem
a Eduardo Lucas, o matemático francês François Édouard Anatole Lucas44
, que como
―Galois, Hertz e Abel‖ morreu ainda jovem e foi ―ignorado‖ no seu tempo (FREIRE, 1919,
p. 25). Para homenagear o autor, Freire transcreve uma parte da apresentação do livro
Théorie des nombres, Gauthier-Villars et fils, Paris 1891.
No texto sobre Geometria, afirma que ela é considerada ―a ciência da extensão‖ e
não a ―medida da terra‖ como era nos primórdios, e que o objetivo geral dela é estudar ―o
espaço particular ocupado por um objeto físico no espaço absoluto e sem limites que em
torno de nós se estende em todos os sentidos.‖ (FREIRE, 1919, p. 27). Embora não
mencione nenhum autor, em sua concepção de espaço Freire manifesta aproximação com
concepções defendidas por Descartes, Isaac Newton e Kant, em particular, a de ser o
espaço absoluto, ―no sentido de que não precisa de mais nada para existir‖. Nessa
concepção,
42
Por exemplo: 4 = 2+2, 8 = 3+5. 43
Alguns resultados parciais da Conjectura já foram provados. 44
Além de resultados teóricos de aritmética, provavelmente, ligado a eles, Lucas escreve o livro Recreations
Mathématiques, Gautier Villare, Paris, 1882, e cria o jogo matemático Torre de Hanoi.
62
―o espaço é uma espécie de ‗caixote infinito‘, ocupado pelos objetos físicos. Mais
precisamente: ele é um meio imutável e sem fronteiras, no qual estão contidas
todas as coisas; como escreveu Newton nos Principia, ‗o espaço absoluto, em sua
própria natureza, sem relação com qualquer coisa externa, permanece sempre
idêntico e inalterável‘.‖ (COSTA, 2002)
Dedicando vinte e seis páginas à Geometria, Freire aborda rapidamente aspectos de
diferentes geometrias. Seu primeiro item, de apenas uma página, tem o título ―A geometria
dos antigos‖. É interessante observar que o autor não menciona nenhum geômetra antigo,
nem Euclides de Alexandria. Com o título ―A geometria moderna‖, o texto apresenta
rapidamente o Teorema de Chasles, da relação harmônica entre quatro pontos, que segundo
o autor seria a gênese da Geometria Moderna. O tema seguinte é Transformações
Geométricas45
, o autor considera que casos particulares existiam desde a antiguidade. A
Geometria Projetiva seria um primeiro exemplo. Em seguida, talvez por uma decisão
cronológica, Freire apresenta uma área que foi importante no final do século XIX,
denominada a Geometria do Triângulo. Mencionando o autor M. Davis, que não
conseguimos identificar, afirma que esta era a área que apresentava o maior progresso nas
matemáticas elementares dos últimos tempos.
Para Freire, a Geometria é considerada ―a parte da ciência matemática que tem por
objeto o estudo das propriedades das figuras, e por fim especial a medida de sua extensão.‖
(FREIRE, 1919, p. 31). Para gerar uma extensão, pode-se utilizar linhas retas ou curvas.
Outra forma para gerar uma extensão, que seria uma ―transição da linha reta à linha curva‖
é o ângulo: ―a abertura sobre o espaço indefinido‖. (FREIRE, 1919, p. 37). O ângulo é
considerado análogo ao algoritmo da reprodução46
, provavelmente uma referência aos
algoritmos genéticos que começam a ser realizados a partir da teoria da evolução de
Darwin, momento em que a computação também estava nascendo. Em sua classificação das
Geometrias, aparecem: a Geometria dos Indivisíveis, ligada aos trabalhos de Cavalleri; a
Geometria Centrobárica, que se relaciona ao trabalho de Poisson; a Geometria das
Transversais ou de posição de Carnot; Geometrias Euclidiana e Não Euclidianas.
45
―Definimos uma transformação geométrica como sendo uma correspondência, um a um, entre pontos de um
mesmo plano ou de planos diferentes. Algumas transformações recebem nomes especiais por apresentarem
algumas características específicas‖. Disponível em:
http://penta.ufrgs.br/edu/telelab/mundo_mat/malice1/transf.htm. Acessado em: 15/03/2015. 46
Algoritmo genético.
63
Em suas reflexões sobre as Geometrias Euclidiana e não Euclidianas, Freire
manifesta certa estranheza com relação às últimas. Apesar da manifestação de
estranhamento do autor em relação as Geometrias não Euclidianas, ele discute tentativas de
substituição do quinto postulado, bem como do surgimento de discussões teóricas acerca
das geometrias não euclidianas.
Para ele, a Geometria Euclidiana foi sendo construída durante séculos, tem
resolvido os problemas, é cômoda e simples. É o mesmo que ocorre com o Espaço e o Éter,
uma referência às questões que estavam começando a ocorrer sobre a Teoria da
Relatividade. Aqui ele manifesta que ainda não assumiu a postura relativista e que defende
o positivismo de Comte. Para ele, assim como a Geometria Euclidiana, a teoria do Éter
―achando-se em sua juventude, para nós não se reveste do mesmo grau de comodidade e de
simplicidade, razão pela qual sentimos ainda tanta dificuldade de pensar em éter segundo
a própria expressão de Langevin‖. Conclui que o tempo ajudará à familiarização das novas
teorias, afinal ―não são senão reflexos da grande lei universal do hábito estabelecida por
Augusto Comte, o grande pensador.‖ (FREIRE, 1919, p. 42, grifos do autor).
É interessante observar que Freire não coloca como um tema específico a Geometria
Analítica, nem comenta sobre Pierre de Fermat (1601-1665) e René Descartes (1596-1650).
Provavelmente, isto tenha ocorrido porque Freire já começava a ter uma ―tendência para o
realismo newtoniano, em oposição ao racionalismo idealista cartesiano‖
(ALBUQUERQUE; HAMBURGER, 1996, p. 212), que se manifestaria explicitamente em
escritos posteriores. Em uma parte posterior de seu texto, Freire comenta a contribuição de
Riemann, Helmhontz e Sophus Lie na consideração do espaço sob um ponto de vista
analítico, define ―o ponto por um sistema de três números chamados coordenadas do ponto‖
e conclui afirmando que ―a noção de plano e de reta já não é estabelecida, partindo-se do
ponto como elemento.‖ (FREIRE, 1919, p. 44).
O segundo capítulo da Tese, intitulado ―Methodologia Mathematica‖, é iniciado
com a seguinte afirmação: ―As verdades existem por si próprias; o método e o raciocínio
não são senão os meios que os homens empregam para reconhece-las‖ (FREIRE, 1919, p.
54). Os métodos empregados para provar as verdades são a análise e a síntese. Embora
Freire pareça estar se aproximando de Descartes, após discutir aspectos gerais da análise e
da síntese, retoma ao método positivo de Comte ―induzir para deduzir afim de construir‖.
64
(FREIRE, 1919, p. 57). Em seguida, comenta sobre recursos, que denomina métodos,
específicos para serem usados para resolver situações particulares: lugares geométricos,
utilizado por Platão e outros usos de figuras geométricas em demonstrações de geometria; o
Método de Poncelet de transformação de figuras; o Método da Translação de Ivan
Alexandroff; o Método do Problema Contrário, método por extensão, que consiste em
provar um caso particular para depois ampliar a prova para outros mais gerais; Método
Algébrico, para provar afirmações geométricas.
Ao encerrar seu capítulo sobre metodologia da matemática, Freire faz um alerta:
―Os métodos particulares que acabam de ser expostos e que são os principais empregados
em Geometria, não tem senão um valor relativo; o grande segredo está em saber emprega-
los de acordo com a natureza da questão que se quer resolver‖. (FREIRE, 1919, p. 57).
No último capítulo, ―Sob o ponto de vista do ensino‖, em apenas quatro páginas,
Freire defende o uso do Método Experimental. Iniciando o seu texto com uma
caracterização de como ocorre o ensino de matemática, que prioriza o Método Mnemônico,
Freire utiliza o livro de Psicologia47
do autor francês Gustavo Le Bon48
, que defende que
―toda educação consiste na arte de fazer intervir o consciente no inconsciente‖ (FREIRE,
1919, p. 67). O método que seria adequado, segundo Freire, é o experimental, que estava
sendo utilizado nos países anglo-saxões e estava dando bons resultados. Por isso, defende o
uso do concreto, como Laisant49
. Defende o uso do método gráfico e da não introdução,
inicialmente, do método dos geômetras gregos, que é ―fatigante e antirracional‖. O autor
encerra o seu texto com a seguinte frase em negrito: ―aprender é compreender e saber é
poder demonstrar‖. (FREIRE, 1919, p. 69).
O autor Le Bon também foi utilizado por outro candidato ao mesmo concurso,
Antonio de Menezes, formado pela Escola Politécnica do Rio de Janeiro. Esse autor, Le
Bon, nos chamou a atenção pelo fato de nunca ter sido citado em trabalhos de História da
Educação Matemática que tivemos acesso. Ao procurar informações sobre ele, descobrimos
47
Trata-se do livro La Psychologie de l‘éducation (1910). O autor é Gustave Le Bon. 48
Gustave Le Bon (1841—1931) psicólogo francês. Foi o autor de várias obras com teor racial, nacional e de
psicologia de massas. Ficou primeiramente famoso pelo livro "Psychologie des foules" (1895). Disponível
em: http://www.gustave-le-bon.com/ Acesso em: 15/04/2015. 49
Trata-se do matemático Charles-Ange Laisant (1841–1920), que foi um dos fundadores da Revista
"L'Enseignement Mathématique", em 1899, e teve grande participação no denominado Primeiro Movimento
Internacional do Ensino de Matemática, ocorrido no início do século XX. Disponível em:
https://cienciaeanarquismo.milharal.org/files/2014/01/Rodrigo-Rosa.pdf. Acesso em 15/04/2015.
65
que se trata de um estudioso da psicologia social, autônomo, e que suas obras tiveram um
―estrondoso sucesso (...) ao longo do período que vai do início de sua produção intelectual,
nos anos 1870, até sua morte, em 1931‖, tendo sido traduzidas para mais de ―dezesseis
línguas‖. (CONSOLIM, 2008, p. 1).
Le Bon defendia que ―os fatores biológicos e psicológicos de uma raça são
hereditários‖. Além disso, considerava a existência de grupos diferenciados: os inferiores e
os superiores. Como eram hereditários, os fatores biológicos e psicológicos limitavam ―a
evolução dos grupos sociais inferiores (...), tais como mulheres, crianças e classes
populares‖. Suas posições, contrárias às defendidas por republicanos, ―lhe rendeu vários
inimigos no campo do poder e no campo intelectual‖ (CONSOLIM, 2008, p. 4). Suas teses
davam ―força às correntes e movimentos nacionalistas e xenófobos‖, conhecidos como
―darwinista social‖. (CONSOLIM, 2008, p. 10). Em sua "Psicologia das Multidões‖, Le
Bon considerava que ―a instrução não tornaria os homens mais felizes ou morais‖, uma vez
que alteraria ―seus instintos ou paixões hereditárias‖ e que poderia ―até mesmo produzir o
aumento da criminalidade e instigar o conflito social‖. (CONSOLIM, 2008, p. 14).
Le Bon realizou suas experiências e escreveu seus livros sem ligação com a
Academia. Teve seu prestígio fundado ―no discurso da ‗vivência‘ e da ‗experiência‘, por
oposição tanto ao conhecimento especializado quanto à formação clássica dos manuais
escolares‖. Na Educação, defendia ―pedagogias mais pragmáticas e escolas privadas com
vocação profissionalizante‖. (CONSOLIM, 2008, p. 12).
Estudiosos das obras de Le Bon não concordam com relação às suas convicções
políticas: ―ele foi considerado desde um liberal-democrata até um proto-fascista‖.
(CONSOLIM, 2008, p. 15). No entanto, parece não existir dúvida de que suas obras teriam
―inspirado líderes políticos tais como Mussolini ou Hitler‖ (CONSOLIM, 2008, p. 14).
No Brasil, pelo que pudemos inferir pela leitura das teses de Freire e Menezes, a
obra de Le Bon, em particular, a sua Psicologia da Educação, estava em circulação nos
meios educacionais. No entanto, não era apenas este livro que era lido por intelectuais
brasileiros. Monteiro Lobato, por exemplo, teria escrito o seu romance O Presidente Negro
inspirado na leitura de trabalhos de Le Bon50
.
50
Informações sobre o livro ―O Presidente Negro‖ podem ser localizadas, dentre outros, no artigo ―Noções de
Raça e Eugenia em Monteiro Lobato: vida e obra‖. De Maria Ana Quaglino. Disponível em:
www.rj.anpuh.org/resources/rj/Anais/2004/ Acesso em: 15/12/2014.
66
A tese era um dos pré-requisitos para o concurso que Freire estava participando.
Além dela existia uma prova escrita que, segundo Albuquerque e Hamburger (1996, p.
208), ―avançava ideias da geometria não euclidiana, apresentando o problema da
quadratura do círculo‖. Aqui, Luiz Freire mostra seu conhecimento e defesa da matemática
moderna. Na época do concurso, o autor tinha 22 anos e havia terminado o curso de
Engenharia Civil na Escola de Engenharia de Pernambuco no final do ano anterior. O texto
que apresentou para o concurso mostrava um alto nível de conhecimento não só de
matemática como também de outras temáticas, pois ao longo deste texto Luiz Freire aborda
diversas áreas do conhecimento, mostrando o seu saber de alguns conceitos e teorias. Não
temos registro de que o autor tenha trabalhado como professor antes de assumir o cargo na
Escola Normal, mas lecionou em várias escolas depois.
A defesa da tese de Freire para o concurso na Escola Normal Oficial de Recife, na
qual teria usado ―artigos então recém-divulgados de autor francês, Monteuil, alcançou
notoriedade pela controvérsia estabelecida‖. Desde este período, Freire ―polemiza
publicamente com o pensamento tradicional da comunidade instruída da cidade‖ e com
autores que escrevem sobre ensino e/ou ciência, em artigos publicados em diversos
periódicos. (ALBUQUERQUE; HAMBURGER, 1996, p. 208).
Em um discurso em homenagem ao marechal positivista Roberto Trompowsky, em
1953, Freire faz uma análise sobre o positivismo no Brasil e reflete sobre sua relação com
essa doutrina. Após um período inicial em que assumiu a doutrina positivista, Freire se
afasta e faz crítica a ela. Para Freire, Comte querendo disciplinar a ciência e a filosofia ―cai,
lamentavelmente, em pólo oposto: negando ao pensamento o direito que lhe é intrínseco de
interrogar, de sempre interrogar, sem que a isto possa reconhecer limites traçados por
nenhuma doutrina, por mais genial que seja o seu arauto‖. (ALBUQUERQUE;
HAMBURGER, 1996, p. 216).
OUTROS ESCRITOS
O jovem engenheiro, no texto apresentado ao Concurso da Escola Normal,
menciona diversos autores. No entanto, provavelmente, seria após o início de suas
atividades como professor que Luiz Freire, como ocorria com outros intelectuais da época,
67
ampliaria a sua biblioteca particular com livros de autores estrangeiros e periódicos
internacionais, para atualizar-se sobre as discussões ocorridas em outros países, em especial
na França.
Sua biblioteca foi sendo ampliada, em especial, a partir de 1921, quando Freire
ingressou como professor na Escola de Engenharia de Pernambuco, onde permaneceu até a
sua morte em 1963. Como o contrato na Escola de Engenharia não era de tempo integral,
nem tinha dedicação exclusiva, e o salário não era suficiente para manter a família e suas
necessidades, Freire lecionou em outras escolas secundárias de Recife, dentre as quais a
Prytaneu, que tinha uma publicação própria, na qual escreveu seus dois primeiros artigos. O
primeiro deles estava ligado à sua atividade como professor no ensino de geometria e é
intitulado A Geometria como fator Pedagógico.
O segundo artigo, intitulado Filosofia de Henri Poincaré e seus
Incompreendedores, que também foi publicado no Boletim de Engenharia no mesmo ano,
está escrito em estilo polêmico, muito habitual nas primeiras décadas republicanas, que
Freire utiliza com frequência. No texto, o autor discute propostas de Poincaré presentes no
livro A Ciência e a Hipótese e em um artigo publicado no Boletim da Sociedade Francesa
de Astronomia de 1904. Freire defende, neste artigo, a postura de Poincaré com relação à
forma como a criação matemática ocorre, que se diferencia da nominalista e da empirista.
Ele concorda com Poincaré que as hipóteses representam ―a obra da livre atividade de
nosso espírito‖. A escolha das hipóteses, no entanto, não é arbitrária. A ciência nos ajuda a
conhecer alguma coisa da realidade, ―mas o que ela pode atingir não são as coisas em si
próprias, (...) são somente as relações entre as coisas: fora dessas relações não há realidade
conhecível‖. (FREIRE, 1924, p. 4). Com relação às geometrias surgidas no século XIX,
Freire comenta a posição de Poincaré sobre não ser possível dizer qual geometria é a
verdadeira, mas apenas que a de Euclides é a ―mais cômoda‖. Após um exemplo sobre um
mundo diferente que não perceberíamos se acordássemos nele, observa: ―Belos exemplos
destinados a bem fazerem compreender a relatividade do espaço e do tempo, tornando
ainda mais judiciosas as suas palavras... Daí a Einstein era só um passo, embora de
gigante...‖ (FREIRE, 1924, p. 4).
Essa última observação de Freire nos leva a pensar se ele já teria tido contato com
questionamentos, que ainda hoje são colocados, sobre os responsáveis pela criação da teoria
68
da relatividade. Estudos históricos atuais apontam que Einstein não teria sido o descobridor
da famosa fórmula E = MC2 e nem de alguns conceitos importantes da teoria da
relatividade. Para Martins (2005, p. 21): ―A maior parte dos resultados da teoria da
relatividade já estava presente no artigo que Poincaré escreveu em 1905, mas que só foi
publicado no ano seguinte, na Itália‖.
Além deste artigo mencionado, Freire escreveu outros textos discutindo aspectos da
teoria da relatividade. O interesse pela temática, sem dúvida, está relacionado à atualidade
do tema, que tinha defensores e críticos em diferentes países, mas também ao papel que o
Brasil desempenhou na validação dessa teoria.
―Refiro-me ao famoso episódio ocorrido do eclipse em Sobral, no Ceará, em 29
de maio de 1919, quando lá esteve uma expedição formada, dentre outros, pelos
astrônomos ingleses Charles Davidson e Andrew Crommelin, que tinha o
objetivo de ‗verificar a existência do ‗efeito Einstein‘.‖ (VIDEIRA, 2005, p. 83).
Esse efeito relaciona-se à teoria da gravitação proposta por Einstein em 1915 e
publicada em 1916, que pode ser resumida da seguinte forma:
―Os corpos, que se encontram sob a ação de um campo gravitacional, têm as suas
trajetórias diretamente determinadas pela massa responsável pelo campo. Uma
trajetória, que em uma geometria plana seria retilínea, na teoria de Einstein
passou a ser uma geodésica do espaço, tornado curvo devido à presença de corpos
maciços‖. (VIDEIRA, 2005, p. 84).
Para verificar que sua teoria estava correta, Einstein planejou uma situação
envolvendo estrelas e o Sol. Era necessário, no entanto, tirar duas fotos: ―uma do campo de
estrelas durante a passagem do corpo maciço (por exemplo, o Sol) diante dele e outra do
mesmo campo de estrelas sem a presença desse corpo‖. Se sua teoria estivesse certa, após a
passagem do sol, ―a posição dessas estrelas estaria ligeiramente modificada‖. (VIDEIRA,
2005, p. 85). Para obter essas fotos, era necessário que o Sol estivesse encoberto, o que
seria possível apenas durante um eclipse solar. A escolha de Sobral para a realização da
experiência ocorreu por estudos sobre as condições climáticas no dia do eclipse. Após
alguns meses de estudos das fotografias, não apenas de Sobral como também de Porto
Príncipe, onde ocorreu outra expedição no mesmo dia, a teoria da relatividade de Einstein
69
foi comprovada. Com isso, a teoria da gravitação de Newton passou a ser entendida como
um caso particular da de Einstein.
Os resultados obtidos com o experimento realizado em Sobral, ―alçou Einstein ao
panteão dos grandes gênios da ciência, impulsionando também o interesse da comunidade
científica brasileira pela relatividade‖. A realização e o sucesso da experiência realizada no
Brasil ―fizeram com que físicos, matemáticos e engenheiros brasileiros voltassem sua
atenção para o significado daquele experimento que tinha atraído os olhos da comunidade
física internacional para o sertão do Brasil‖. (ÁVILA, 2009, p. 75). Em um período em que
as Escolas Politécnicas eram os locais de desenvolvimento de investigações científicas,
alguns professores se destacaram no estudo e na difusão da teoria da relatividade. Manuel
Amoroso Costa, da Escola Politécnica do Rio de Janeiro, antipositivista, destacou-se pela
escrita do primeiro livro brasileiro sobre o tema, em 1922, intitulado Introdução à Teoria
da Relatividade, bem como pela divulgação da teoria em conferências e em artigos.
Certamente, Luiz Freire acompanhou o trabalho que Amoroso Costa realizava no Brasil e
teve acesso ao seu livro.
A vinda de Albert Einstein ao Brasil, em maio de 1925, quando proferiu duas
conferências: Observações sobre a situação atual da luz (Academia Brasileira de Ciências)
e Teoria da Relatividade (Escola Politécnica do Rio de Janeiro):
―fez recrudescer a polêmica entre os positivistas e não positivistas, polêmica essa
que resultou no artigo Relatividade Imaginária de autoria do positivista Licínio
Cardoso, publicado em O Jornal (16/05/1925), criticando essa teoria e em
algumas sessões da Academia Brasileira de Ciências, nas quais a defesa de
Einstein foi ardorosamente feita por diversos acadêmicos‖. (BASSALO, 1960, p.
7, grifos nossos).
Após a escrita de A Filosofia de Henri Poincaré e seus Incompreendedores, nos
anos seguintes Freire continuou a discutir a questão da relatividade em outros artigos,
sempre defendendo essa teoria: Um Interessante Aspecto da Teoria da Relatividade (1925);
A Experiência de Michelson (1925); A Questão Prévia contra a Teoria de Einstein –
Contradita ao trabalho do físico H. Bouasse, de Toulouse – França, subordinado ao
mesmo título (1926). Em diversos artigos Freire apresenta estudos históricos, normalmente
de matemáticos reconhecidos no Brasil ou no mundo. Dentre estes artigos, encontram-se:
70
Poincaré e Sundmann, 1925; Felix Klein, 1926; José Cordeiro, 1927; Amoroso Costa,
1930; Papyrus Rhind, 1930; Sofia Kovalewskaia, 1931; Joaquim Gomes de Souza, 1931.
Embora os temas abordados por Freire em seus artigos estejam centrados em
questões de natureza histórica ou teórico-filosóficas relativas à ciência de seu tempo, em
particular a matemática e a física, em um artigo Freire discutiu especificamente uma
questão que diz respeito à aprendizagem da matemática: se existe uma aptidão inata para
que uma pessoa aprenda a matemática ou se todos podem aprendê-la. A escrita desse texto
foi inspirada, como aconteceu com vários de seus artigos, em um artigo escrito por um
autor estrangeiro, M. Stuyvaert, que foi publicado na Revista Brasileira de Mathematica
Elementar, em 1929.
No artigo, intitulado A Bossa da Matemática, Stuyvaert inicia o seu texto dizendo
que existe um preconceito em relação às ciências exatas: ―nasce-se geômetra como se nasce
poeta; tem-se ou não a bossa51
matemática‖. Criada por Gall, em uma ciência então
denominada ―pherenologia‖, segundo a qual através do estudo ―de saliências e depressões
da abóboda cranial‖ era possível identificar os ―dotes físicos, as aptidões, a capacidade
intelectual e até as paixões‖ de cada indivíduo. (STUYVAERT, 1929, p. 26). Stuyvaert não
concorda com a bossa ou aptidão para a matemática. Para ele, com um bom método de
ensino é possível que todos os alunos aprendam matemática. A Geometria, segundo o autor,
pode começar pelo concreto e não por definições e axiomas, e exemplifica com autores que
utilizam a intuição e o concreto: ―No livro de Méray, o movimento de translação é
explicado por meio de um jogo de gavetas‖ (STUYVAERT, 1929, p. 29). Ao concluir o seu
texto, o autor afirma ―a Bossa da Matemática é um mito‖ e complementa: ―qualquer
indivíduo normal, pelo menos de inteligência mediana, poderá aprender matemática‖. Para
que isso ocorra, no entanto, ―o ensino deve se preocupar de concretizar o começo, de visar
a estabilidade e não o brilho, de diminuir os programas, de repetir, repisar o aprendido,
finalmente, de fazer inúmeras aplicações concretas, bem graduadas, interessantes e não
ridículas‖. (STUYVAERT, 1929, p. 29).
O artigo de Freire, após comentar rapidamente sobre Stuyvaert e outros estudiosos
que defendem a importância de novos métodos de ensino, afirma discordar daqueles que
51
―A palavra bossa foi cunhada por Franz Joseph Gall, em sua obra ―A anatomia e fisiologia do sistema
nervoso em geral e do cérebro em particular‖, de 1796.‖ (MATTEDI DIAS, 2002, p. 223).
71
defendem que está ―no método de ensino a causa principal dos insucessos constatados. Se o
ensino das matemáticas é defeituoso, (com o que estamos, aliás, de pleno acordo) não
menos será o de línguas, o de ciências físicas, etc.‖ (FREIRE, 1930, p. 90). Freire, então,
questiona: se todas as disciplinas utilizam métodos de ensino baseados em regras e
definições, sem uso de materiais concretos e aplicações, por que apenas na matemática
existe a aversão? E, conclui: ―a bossa das matemáticas é um fato‖. Complementando com
uma citação de Poincaré: ―Nasce-se matemático, não se vem a ser.‖ (FREIRE, 1930, p. 90).
Em seguida, Freire questiona a competência matemática de Stuyvaert. ―Não sabemos se
Stuyvaert é na Universidade de Gand professor de matemática‖, e complementa,
―pensamos que não, pois, o que conhecemos são obras de metodologia da matemática, e tão
somente‖. Além disso, Freire afirma que nessas obras encontrou ―precariedade, ideias
falsas mesmo, a respeito de umas tantas questões de matemática‖. (FREIRE, 1930, p. 90).
Em seguida, generaliza a sua crítica à incompetência de alguns profissionais em relação à
matemática: ―não basta ser psychologo ou pedagogo para penetrar em cheio na alma
caprichosa dos Galois e dos Abel...‖ (FREIRE, 1930, p. 90).
Após tecer muito elogios a Poincaré, Galoi e outros ―gênios‖ da matemática,
expressa a sua posição com relação à questão central de seu artigo: ―A bossa matemática é
pois essa intuição que os Poincarés e os Galois possuíram no mais alto grau, que não se
consegue transmitir ou criar, sejam quais forem os métodos de ensino seguidos‖. (FREIRE,
1930, p. 82).
Para Mattedi Dias (2002), ao atacar a bossa da matemática e manifestar a crença na
universalização de sua aprendizagem, Stuyvaert ―atacou uma característica identitária, uma
condição de pertencimento à corporação dos matemáticos, que remonta à Grécia Clássica‖,
em que ―somente cidadãos com aptidões e capacidades especiais poderiam ser versados em
geometria‖. Além disso, Stuyvaert também retira dos matemáticos as decisões sobre o
ensino de matemática ―transferindo essa tarefa para uma esfera externa, aquela dos
pedagogos, dos psicólogos, dos didatas, dos educadores‖. Por outro lado, ―Freire contrapôs-
se às ambições coorporativas de Stuyvaert defendendo a bossa das matemáticas e atacando
a posição profissional de seu adversário, negando-lhe competência e legitimidade para falar
de assuntos matemáticos.‖ (MATTEDI DIAS, 2002, p. 197-198).
72
Talvez o maior reconhecimento que Freire teve pelos seus trabalhos pela ciência no
Brasil foi o de ―semeador de vocações científicas‖. Os autores Videira e Vieira manifestam
esta posição, apesar de reconhecerem a ―competência didática‖ e a ―enorme cultura
científica e filosófica‖ de Freire (VIDEIRA; VIEIRA, 2013, p. 2002-2003). Realmente,
Freire encaminhou muitos jovens que moravam em Recife para outros estados ou para o
exterior, que se tornaram respeitáveis cientistas. Dentre esses jovens estão Leopoldo
Nachbin, Manfredo Perdigão do Carmo, José Leite Lopes e Maria Laura Mousinho Leite
Lopes. Será que esses alunos foram ―descobertos‖ por Freire por eles terem ―Bossa
Matemática‖?
73
CONSIDERAÇÕES FINAIS
A investigação que apresentamos nesta dissertação teve como objetivo central
discutir características da formação de engenheiros civis-professores de matemática,
diplomados pela Escola de Engenharia de Pernambuco, entre finais do século XIX e inícios
do século XX. Este objetivo, no entanto, não era o proposto no projeto inicial, apresentado
para a seleção do mestrado da FE-UNICAMP. Naquele texto, o objetivo propunha um
estudo da formação de engenheiros-professores de matemática da Escola no início do
século XX, centrado nas práticas do ensino de Matemática realizadas na Escola de
Engenharia de Pernambuco. Como mencionado na Introdução deste trabalho, a não
localização de alguns documentos levou a mudanças no projeto inicial, que foi sendo
reconstruído na medida em que era constituída a série documental desta pesquisa.
Naquele período inicial do trabalho, realizamos alguns estudos preliminares com o
objetivo de identificar características da formação de engenheiros no Brasil, em vários
momentos históricos. Buscávamos, então, identificar diferenças tanto na atuação quanto na
formação desses profissionais em diversos períodos. Esse estudo foi importante, pois
forneceu elementos para analisar as características de formação propostas pela EEP no
período republicano. Após a realização do Exame de Qualificação, aceitando uma decisão
da banca examinadora, optamos pela escrita de três capítulos independentes, sendo o
primeiro deles uma versão modificada dos estudos iniciais que havíamos realizado.
O capítulo dois também passou por vários momentos durante sua construção.
Iniciado com um estudo que tinha o objetivo de situar o leitor nos aspectos sócio-político-
econômicos que levaram ao surgimento, à extinção e à inauguração de uma Escola de
Engenharia no estado de Pernambuco, o capítulo mudou de fisionomia a partir da inclusão
de um novo olhar, que centrava em seu cotidiano, em seu movimento, a partir de
lembranças de ex-alunos e ex-professores. Se, por um lado, o primeiro estudo aproximou-se
de uma história institucional, o segundo foi construído a partir de rastros do cotidiano
escolar, que surgiram por meio de falas de ex-alunos e professores, encontradas em vários
tipos de documentos. Estes rastros que perseguimos permitiram olhar para a Escola sob
ângulos diferentes do apresentado pelos documentos oficiais e imaginar como poderia ser
parte do seu cotidiano, no seu movimento, em conjunto com seus personagens. Com este
74
modo de pensar a EEP, fomos compondo textos sobre como era a Escola que
imaginávamos, em movimento. Não encontramos nenhum outro trabalho que tenha
abordado histórias da Escola de Engenharia de Pernambuco desta maneira, os localizados
traziam histórias factuais e lineares.
Com essas intenções, buscou-se constituir uma narrativa história e, depois de
trilhados os caminhos, foi possível identificar algumas características de professores e
alunos, relacionamento entre esses personagens, formas de ingresso na Escola, etc. Enfim,
tecer uma narrativa que busca centrar seu olhar sobre os personagens possibilitou análises
que, além do aspecto social, perpassou por questões políticas e institucionais da Escola. Os
personagens utilizados na confecção deste texto foram pessoas que, em sua maioria, eram
de famílias influentes em diversas áreas da sociedade Recifense, como na política e
economia. Ficou mais claro ao abordar diversos personagens, o modo como a Escola de
Engenharia de Pernambuco era dirigida a um grupo restrito de pessoas, em sua maioria,
oriundas de famílias abastadas, assim como outras instituições de Ensino Superior do
período.
Ao fim deste estudo, quando pensamos na Escola em movimento, consideramos
algumas características que podem ser denominadas como intrínsecas à instituição, como o
fato de a figura do professor ser a de alguém intocável, superior aos demais, em especial,
pelo seu conhecimento. Outra característica diz respeito à ―linha rígida‖, pautada por regras
que os professores seguiam como meio de garantir um ambiente de disciplina, de ordem.
Quando falamos em disciplina e ordem pensamos em um conjunto de regras que são
compartilhadas pelos personagens, a fim de obter o que denominam ser um ensino de
qualidade e respeito aos superiores, no caso dos alunos, respeito aos seus professores.
Com o objetivo de abordar visões de ciência e ensino presentes no cotidiano da
Escola de Engenharia de Pernambuco, apresentamos um texto sobre as posturas do
professor Luiz de Barros Freire manifestadas em artigos e teses. Foi após muito tempo e
várias análises que identificamos Freire como um divulgador das ciências e não um
cientista, como indicavam alguns estudos iniciais. Esta visão sobre Freire foi decorrente da
leitura e reflexão de vários textos sobre o autor e de seus próprios textos, entre eles
entrevistas, livros e artigos. A ausência de textos de investigações realizadas por Freire em
revistas e periódicos analisados no período estudado, foi outro indicativo que pareceu
75
confirmar essa hipótese. Trabalhar sobre Freire e com seus textos foi algo extremante
enriquecedor para a pesquisa, pois a todo momento surgia algo novo, novos rastros, que
encaminhava outros questionamentos.
Nestas considerações finais, apresentamos nossa visão da construção dos textos
sobre a Escola de Engenharia de Pernambuco, que compõem esta dissertação, com o
objetivo de ressaltar algumas escolhas realizadas. Entendemos que essas escolhas foram
ocorrendo em função de leituras de diferentes textos, incluindo os da série documental, bem
como de conversas com a orientadora desta pesquisa e com outros colegas do HIFEM, e,
também, aquelas ocorridas em disciplinas da Faculdade de Educação da UNICAMP.
Acreditamos, no entanto, que outros trabalhos sobre a EEP podem contemplar outras visões
acerca do mesmo objeto, ou investigar outros aspectos relacionados à Escola de Engenharia
e/ou aos engenheiros de Pernambuco.
Durante este estudo, identificamos um grande potencial de investigação nos
volumes do Boletim de Engenharia de Pernambuco52
. Seria interessante a realização de
estudos, por exemplo, sobre a relação do Boletim com a EEP, seus professores e alunos.
Nas edições do periódico do Clube de Engenharia de Pernambuco, há muitos rastros sobre
engenheiros, engenheiros-professores e até sobre a própria Escola de Engenharia. Este
numeroso volume de informações se deve em grande parte ao modelo de periódico que
buscava abordar tudo o que se relaciona à vida do engenheiro naquele período, indo desde
propagandas de seus serviços até discussões teóricas. Até onde pudemos averiguar, o
Boletim era uma espécie de escape sócio-político do grupo de engenheiros, que em sua
maioria tinha ligações com a EEP. Enfim, perseguir rastros no e do Boletim de Engenharia
pode apontar novos caminhos, com novos rumos e objetos de estudo, que surgiram através
dos estudos para a confecção deste texto de dissertação.
Consideramos, ainda, que outro veio de pesquisa que se manifestou em nossa
dissertação de mestrado diz respeito a estudos que possam explorar mais a chamada Bossa
da Matemática, nos anos iniciais do século XX, no Brasil. Algumas questões que poderiam
52
PINTO, André Roberto da Silva, Boletim de Engenharia: algumas considerações sobre educação
matemática e a Engenharia em Pernambuco. p. 71 – 92. IN: BRITO, Arlete de Jesus; FARIAS, Kátia
Sebastiana Carvalho dos Santos; MIORIM, Maria Ângela Miorim. (orgs.) Pesquisas históricas em jornais e
revistas: produções do HIFEM. São Paulo. Livraria da Física. 2014, 273 p.
76
orientar algumas dessas investigações poderiam ser: Como se dava o ensino de matemática
no período? Qual era a cultura do ensino de matemática? Quem tinha Bossa para a
Matemática? Todos os engenheiros tinham Bossa? E outros futuros profissionais de outras
áreas, tinham Bossa?
77
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1748.
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PERNAMBUCO. Regulamento da Escola de Engenharia de Pernambuco de 1901.
PERNAMBUCO. Estatutos da Escola Livre de Engenharia de Pernambuco de 1905.
78
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STUYVAERT, M. A bossa da mathematica. Revista Brasileira de Mathematica Elementar.
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79
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86
ANEXOS
ANEXO 1: GRADE CURRICULAR APRESENTADA NA LEI N° 84 DE 1895
QUE DECRETOU A CRIAÇÃO DA ESCOLA DE ENGENHARIA DE
PERNAMBUCO
1° ANNO
1ª Cadeira Geometria analytica. Complemento algébrico. Calculo differencial e integral.
2ª Cadeira Geometria descriptiva e suas applicações. Á theoria das sombras, perpectiva e estereotomia
3ª Cadeira Physica experimental e meteorologia.
Aula Desenho á mão livre. Trabalhos graphicos.
2° ANNO
1ª Cadeira Mechanica geral.
2ª Cadeira Chimica. Noções de geologia mineralogia. Trabalhos de laboratório.
3ª Cadeira Topographia: planimetria e nivelamento. Pratica dos instrumentos respectivos. Legislação
de terras, agrimensura.
Aula Desenho topographico.
3° ANNO
1ª Cadeira Astronomia e geodesia.
2ª Cadeira Resistencia dos materiaes. Technologia das profissões elementares. Architectura:
estabilidade e hygiene das construcções.
3ª Cadeira Estradas de rodagem; pontes e calçadas.
Aula Desenho de architectura. Projectos e trabalhos graphicos.
4° ANNO
1ª Cadeira Machinas.
2ª Cadeira Estradas de ferro.
3ª Cadeira Hydraulica, abastecimento d‘agua.
87
Aula Projectos e trabalhos graphicos.
5° ANNO
1ª Cadeira Navegação interior, canaes, portos de mar, pharões, hydrografia, irrigação, açudes, regimem
dos Rios.
2ª Cadeira Esgotos e saneamento das cidades. Iluminação: electricidade e suas pricipaes applicações.
3ª Cadeira Botanica. Corte e preparo de madeiras. Conservação das mattas.
Aula Trabalhos graphicos.
ANEXO 2: GRADE CURRICULAR APRESENTADA NO REGULAMENTO
DE 1898
1° ANNO
1 Cadeira Geometria analytica. Calculo differencial e integral
Geometria descriptiva.
Physica experimental. Meteorologia.
Aula Desenho geométrico. Desenho de aguadas e sua applicação ás sombras.
2° ANNO
Calculo das variações. Mechanica Racional.
Topographia. Legislação de terras e princípios geraes de colonisação.
Chimica geral. Chimica inorgânica. Processos geraes de analyse chimica.
Aula Desenho topographico.
3° ANNO
Trigonometria espherica. Astronomia theorica e pratica. Geodesia.
Mechanica applicada ás machinas. Cinematica e dinâmica applicadas:
88
Mineralogia e geologia
Aula Desenho de cartas geodésicas e de mecanismos.
4° ANNO
Estudo dos materiaes de construcção. Technologia das profissões elementares. Resitencia
dos materiaes. Estabilidade das construcções. Grapho –statica.
Hydraulica: liquidos e gaszes. Abastecimento d‘agua. Exgottos. Hydraulica agrícola.
Geometria descriptiva applicada.
Aula Trabalhos graphicos de abastecimento d‘agua, exgottos e hydraulica agrícola.
5° ANNO
Estrada de ferro e de rodagem. Pontes e viadutos.
Navegação interior. Portos de mar, Pharões.
Economia política e Finanças.
Aula Trabalhos graphicos de estradas, pontes e construcções hydraulicas.
6° ANNO
Architectura. Hygiene dos edificios. Saneamentos das cidades.
Machinas motrizes e operatrizes, precedidas do estudo dos motores e industrias mechanicas
corrrespondentes.
Direito constitucional. Direito administrativo e estatistica e suas applicações á engenharia.
Aula Desenho de architectura.
―Art. 2°. Os estudos serão dirigidos por dez lentes cathedraticos, cinco substitutos e
três professores.‖ (Regulamento de 1898 da EEP, p. 3).
89
ANEXO 3: GRADE CURRICULAR APRESENTADA NO REGULAMENTO
DE 1901
1° ANNO
1ª Cadeira Geometria analytica. Calculo differencial e integral
2ª Cadeira Geometria descriptiva e suas applicações.
3ª Cadeira Physica molecular. Optica applicada á engenharia. Electro-technica. Meteorologia.
Aula Desenho de aguadas e suas applicações as sombras. Trabalhos graphicos de geometria
descriptiva applicada.
2° ANNO
1ª Cadeira Calculo das variações. Mechanica Racional.
2ª Cadeira Topographia. Legislação de terras e princípios geraes de colonisação.
3ª Cadeira Chimica geral. Chimica inorgânica. Processos geraes de analyse chimica.
Aula Desenho topographico. Trabalhos graphicos de topografia.
3° ANNO
1ª Cadeira Trigonometria espherica. Astronomia theorica e pratica. Geodesia.
2ª Cadeira Mechanica applicada: cinematica e dinâmica applicadas; theoria da resistência dos
materiaes .Grapho-estatica.
3ª Cadeira Mineralogia systematica. Geologia e Paleontologia.
Aula Desenho e construcção de cartas geodésicas e de mecanismos. Desenho e projectos de
mecanismos.
4° ANNO
1ª Cadeira Estudo dos materiaes de construcção e determinação experimental da sua resistencia. .
Estabilidade das construcções. Technologia das profissões elementares e do constructor
mecânico.
2ª Cadeira Hydraulica: liquidos e gazes. Abastecimento d‘agua. Exgottos. Hydraulica agrícola.
3ª Cadeira Estrada de ferro e de rodagem. Pontes e viadutos.
4ª Cadeira Economia política e Finanças.
Aula Trabalhos graphicos relativos á technologiado constructor mecanico, a estradas de ferro e
90
respectivo materaail fixo e rodante e á ponte e viaductos.
5° ANNO
1ª Cadeira Architectura. Hygiene dos edificios. Saneamentos das cidades.
2ª Cadeira Navegação interior. Portos de mar, Pharões.
3ª Cadeira Machinas motrizes e operatrizes.
4ª Cadeira Direito constitucional. Direito administrativo e estatistica e suas applicações á engenharia.
Aula Desenhos e projectos de architectura, contrucções hydraulicas e saneamento das cidades.
ANEXO 4: GRADE CURRICULAR APRESENTADA NOS ESTATUTOS DE
1905
1° ANNO
1ª Cadeira Geometria analytica. Calculo differencial e integral
2ª Cadeira Geometria descriptiva e suas applicações.
3ª Cadeira Physica molecular. Optica applicada á engenharia. Electro-technica. Meteorologia.
Aula Desenho de aguadas e suas applicações as sombras. Trabalhos graphicos de geometria
descriptiva applicada.
2° ANNO
1ª Cadeira Calculo das variações. Mechanica Racional.
2ª Cadeira Topographia. Legislação de terras e princípios geraes de colonisação.
3ª Cadeira Chimica inorgânica analytica e descriptiva.
Aula Desenho topographico. Trabalhos graphicos de topografia.
3° ANNO
1ª Cadeira Trigonometria espherica. Astronomia theorica e pratica. Geodesia.
2ª Cadeira Mechanica applicada: cinematica e dinâmica applicadas; theoria da resistência dos
materiaes .Grapho-estatica.
91
3ª Cadeira Mineralogia systematica. Geologia e Paleontologia.
Aula Desenho e construcção de cartas geodésicas e de mecanismos. Desenho e projectos de
mecanismos.
4° ANNO
1ª Cadeira Estudo dos materiaes de construcção e determinação experimental da sua resistencia. .
Estabilidade das construcções. Technologia das profissões elementares e do constructor
mecanico.
2ª Cadeira Hydraulica: liquidos e gazes. Abastecimento d‘agua. Exgottos. Hydraulica agrícola.
3ª Cadeira Estrada de ferro e de rodagem. Pontes e viadutos.
4ª Cadeira Economia política e Finanças.
Aula Trabalhos graphicos relativos á technologiado constructor mecanico, a estradas de ferro e
respectivo materaail fixo e rodante e á ponte e viaductos.
5° ANNO
1ª Cadeira Architectura. Hygiene dos edificios. Saneamentos das cidades.
2ª Cadeira Navegação interior. Portos de mar, Pharões.
3ª Cadeira Machinas motrizes e operatrizes.
4ª Cadeira Direito constitucional. Direito administrativo e estatistica e suas applicações á engenharia.
Aula Desenhos e projectos de architectura, contrucções hydraulicas e saneamento das cidades.
―Atr. 24. O curso de engenharia agronômica constará dos três primeiros annos de
engenharia civil e mais dos dous seguintes‖: (Estatutos da Escola Livre de Engenharia de
Pernambuco de 1905)
4° ANNO
1ª Cadeira Chimica orgânica, descriptiva e analytica
2ª Cadeira Botanica systematica, especialmente do Brazil.
3ª Cadeira Zoologia systematica, especialemente do Brazil.
4ª Cadeira A 4ª do 4° anno do curso de engenharia civil.
Aula Desenho organographico.
92
5° ANNO
1ª Cadeira A 1ª do 4° anno do curso de engenharia civil.
2ª Cadeira A 2ª do 4° anno do curso de engenharia civil.
3ª Cadeira Agricultura. Physica e chimica agrícola, agricultura geral e especial, machinas agrícolas.
Zootechnica.. Veterinaria.
4ª Cadeira A 4ªdo 5° anno do curso de engenharia civil.
Aula Trabalhos graphicos de contrucção e de hydraulica.
―Atr. 25. Haverá ainda na escola um curso que sob o titulo de << curso de
admissão>> constará do ensino das seguintes matérias: álgebra, geometria, trigonometria
retilínea, álgebra superior e desenho geométrico.‖ (Estatutos da Escola Livre de Engenharia
de Pernambuco de 1905, p. 9)
ANEXO 5: TABELA COM OS NOMES DE PROFESSORES DA EEP E O
ANO EM QUE SE FORMARAM ENGENHEIROS NA EEP
NOME DOS PROFESSORES ANO DE
FORMAÇÃO
HERMÍLIO LYDIO DE OLIVEIRA 1901
ANTÔNIO DE GÓES DE CAVALCANTI 1904
LAFAYETE MOSCOSO FERREIRA
BANDEIRA 1904
PAULO GUEDES PEREIRA 1908
JOÃO HOLMES SOBRINHO 1912
NESTOR MOREIRA REIS 1912
JOSÉ APOLLINARIO DE OLIVEIRA 1914
LUIZ JOSÉ FERNANDES RIBEIRO 1914
LUIZ DE BARROS FREIRE 1918
AURINO JOSÉ DUARTE 1919
93
ANEXO 6: LISTA DE FORMANDOS DA EEP DE 1897 ATÉ 1925
Os nomes dos formandos da EEP foram retirados de Maia (1966) e Rego (1925).
Relação de Engenheiros Civis e Geógrafos
1901
Anselmo Medeiros Peretti
Domingos Acatanasú
Hermílio Lydio De Oliveira
João Chrispiniano Coêllho Brandão
Miguel Augusto De Oliveira
Octavio Brígido Arantes (Engenheiro Geógrafo)
Oscar Duarte De Barros (Engenheiro Geógrafo)
1902
Gastão De Mendoça Vasconcelos
Júlio Américo De Medeiros
Sulpício Soter Cordovil
José Barreto De Carvalho (Engenheiro Geógrafo)
José Paulo Barbosa Lima (Engenheiro Geógrafo)
1903
Antônio Clementino Carneiro Da Cunha
Franscisco José Da Costa Barros
José Gervásio De Amorim Garcia Júnior
Santino Vieira De Moraes
Theogenes Da Rocha Moreira
Vicente Antônio Manés
Anselmo Machado Da Cunha Cavalcanti (Engenheiro Geógrafo)
Cap. José Capitulino Freire Carneiro (Engenheiro Geógrafo)
José Gervásio De Amorim Garcia Júnior (Engenheiro Geógrafo)
Santino Vieira De Moraes (Engenheiro Geógrafo)
Theogenes Da Rocha Moreira (Engenheiro Geógrafo)
Vicente Antônio Manés (Engenheiro Geógrafo)
NEWTON DA SILVA MAIA 1921
NAPOLEÃO JUVENCIO DE
ALBUQUERQUE 1921
ANNIBAL RAMOS DE MATTOS (Químico
Industrial) 1923
94
1904
Alcides Agripino Nogueira Lima
Antônio De Góes Cavalcanti
Belmino Correia De Araújo
Eduardo Jorge Pereira
José Gomes Parente
Lafayete Moscoso Ferreira Bandeira
Manoel Porfírio Brito
Paulo José De Lima E Silva
Philignesio Augusto Pena De Carvalho
Rodrigo Carneiro De Almeida
Romino Fernandes De Araújo
Ubaldo Gomes De Mattos
Décio Fonseca (Engenheiro Geógrafo)
Elino Souto (Engenheiro Geógrafo)
Franscico Cesar Ribeiro Campos (Engenheiro Geógrafo)
Francisco Cornélio Da Fonseca Lima Júnior (Engenheiro Geógrafo)
Franscisco Tertuliano De Albuquerque (Engenheiro Geógrafo)
Gercino Ferreira (Engenheiro Geógrafo)
Heráclio Hélio Fernandes Lima (Engenheiro Geógrafo)
Jacinto Ignacio Torres Júnior (Engenheiro Geógrafo)
João Borba Carvalho (Engenheiro Geógrafo)
João Gualberto Dantas (Engenheiro Geógrafo)
José De Oliveira Fonseca (Engenheiro Geógrafo)
José Eugênio Moreira Alves (Engenheiro Geógrafo)
José Henorique Cesar De Albuquerque Jr. (Engenheiro Geógrafo)
Luiz Villares Fragoso (Engenheiro Geógrafo)
Mateus Augusto De Oliveira (Engenheiro Geógrafo)
Raimundo Bayma Da Serra Martins (Engenheiro Geógrafo)
1905
José Oscar Moreira De Mendonça
1906
José Gomes Parente
1907
Silvestre Gomes De Araújo (Engenheiro Geógrafo)
1908
Te. Heitor A. Borges
Te. João da C. Pinheiro
Paulo Guedes Pereira
1909
Abdias De Pinho Borges
95
Affonso X. C. De Albuquerquer
Bernardo J. Da Camara Junior
Eurico Berardo C. Da Cunha
João Augusto De A. Maranhão Filho
Alvaro Silva (Engenheiro Geógrafo)
Leonardo Siqueira Barbosa Arcoverde (Engenheiro Geógrafo)
1910
João Pinto Pessôa
Luiz A. Porto Carreiro
Maximo De Sá Cavalcanti De Albuquerque
Mario C. De Gusmão Lyra
Nestor Moreira Reis Alvaro Silva (Engenheiro Geógrafo)
Augusto Câmara Alves Da Silva Alvaro Silva (Engenheiro Geógrafo)
1911
Augusto Moreira Caldas
Carlos Caminha Sampaio
Luiz Ramos E Silva
Mario M. Vieira Neves
Urbano De Andrade Borba
1912
João Holmes Sobrinho
Nestor Moreira Reis
Themistocles C. De Melo
1913
Carlos Affonso Viriato De Medeiros
Francisco De Paula Dias Fernandes
José Estellita De Barros E Silva
João Caminha Franco
Miguel Soares Bilro
João De Gusmão Castelo Branco Alvaro Silva (Engenheiro Geógrafo)
Manoel Da Silva Gusmão Alvaro Silva (Engenheiro Geógrafo)
1914
Alvaro José Correia De Oliveira
Antonio Cavalcanti Vieira Da Cunha
Annibal De Araujo Lima
José Apollinario De Oliveira
Luiz José Fernandes Ribeiro
Oscar Cox
Joaquim Cardoso Da Silveira
1915
Luiz Carlos Da C. Netto
96
Manoel Da Silva Gusmão
Odilon De Lima Souza Leão
Massilon Wanderley
Pedro C. De Sá Leitão
1916
Alde Feijó Sampaio
Antonio Celso Uchôa Cavalcanti
Domingos Da Silva Ferreira
João Da Cunha Magalhães
Antonio Moreira De Mendonça
1917
Adherbal De Mello Duarte
Luiz Nogueira Baptista
Alvaro Celso Uchôa Cavalcanti
Gercino Malagueta De Pontes
Isaac Magalhães De Albuquerque Gondim
José Arruda De Albuquerque
José Sabino De Araujo Pinheiro
Manoel Caminha Sampaio
1918
Herculano Pires Ferreira
Henrique Doria De Vasconcellos
Domingos Gomes De Medeiros
Luiz De Barros Freire
Manoel Silvino De Barros Falcão Filho Alvaro Silva (Engenheiro Geógrafo)
Lindolpho Da Silva Faria Alvaro Silva (Engenheiro Geógrafo)
João Carneiro Vieira Da Cunha Alvaro Silva (Engenheiro Geógrafo)
1919
Waldemar Nery Carneiro Monteiro
Aurino José Duarte (Diretor Definitivo em 1950, após saída de Moraes Rego em 1948)
Joel Francisco J. Galvão
Heitor De Andrade Lima
Octavio Hygino De Moraes Guerra
João Carneiro Vieira Da Cunha
Gorgônio Da Nóbrega Filho Alvaro Silva (Engenheiro Geógrafo)
1920
Oscar Ferreira Da Silva
Antonio Moniz Machado
Eurico Britto De Oliveira Andrade
José Bellarmino Lustosa
Clovis De Almeida Castro
Antonio Gomes Vieira De Souza
Maviael Ferreira Da Silva
97
José Caminha Sampaio
1921
Newton Da Silva Maia
Camillo Collier
Napoleão Juvencio De Albuquerque (Diretor em 1948, após a Saída de Moraes Rego)
Oswaldo M. De Abreu
Julio Marinho De Souza
Abelardo De Araujo
Adherbal Gomes Vieira De Souza
Rubem Rodrigues Da C. Ribeiro
Apollonio Zenaide
Humberto Guedes Gondim Alvaro Silva (Engenheiro Geógrafo)
1922
Clovis De Barros Lima
João Ignácio Cabral De Vasconcellos Filho
Armando Da Paixão Carneiro Campello
Antonio Barreto Gonçalves Ferreira
1923
Romeu Jacobina De Figueiredo
Manoel Cezar De Moraes Rego
Luiz Conçalves Da Rocha
Joaquim Carneiro Da Cunha
Jorge Bezerra Martins
Osorio De Carvalho E Silva
José Candido De Moraes Nascimento
Luiz Britto Pinheiro Passos
José Zacharias Amaral De Mattos
Aguinaldo Porto Da Costa
1924
Fernando José Tinôco
João Pereira Borges
Luiz Osorio De Siqueira Netto
Augusto Ribeito Pessôa
Relação dos Agrônomos e Engenheiros Agrônomos formados pela Escola de
Engenharia de Pernambuco de 1920 a 1924
1920
Gonçalo Santiago Do Nascimento
Samuel De Pontes Botelho
Esperidião Lopes De Farias Junior
Juvencio Mariz De Lyra
Clarindo Misael De Barros Gouveia
98
Evaristo Da Costa Leitão
José Leopoldo De Mendonça Filho
1921
Leoncio Gomes De Araujo
Francisco José Gomes De Mattos Nogueira
Almiro Freitas De Paiva
Manoel Ferreira Leite Junior
Antonio Da Cunha Bayma
Raul Pires Xavier
Nilo De Albuquerque Mello
1922
Renato Ramos De Farias
Ismar Gomes Do Amorim
Elpidio Domingues Lins
Alvaro Diniz Filho
Olival Da Costa Leitão
Paulo Luiz Paranhos
1923
Eladio Camboim De Vasconcellos
João Gomes De Mattos Nogueira
1924
Edgard Lopes De Castro
Eduardo Jacintho Pinto Malheiro
Osman Antonio Da Silveira
Chimico Industrial
1923
Annibal Ramos De Mattos
Relação de Agrimensores
1896
Ildefonso Alfreu Accioly
1897
Anselmo Medeiros Pereti
Domingos Acatanasú Nunes
Fausto Freire De Carvalho Figueredo
Hermílo Lydio De Oliveira
Octavio Brígio Arantes
99
ANEXO 7: LISTA DE PROFESSORES DA EEP DE 1895 ATÉ 1916
Os nomes dos professores da EEP foram retirados de Maia (1966, p. 23, 25, 27)
―Nesta primeira fase de existência da Escola, exerceram o magistério, além do Dr. Martins
Costa, já mencionado como diretor, os seguintes lentes (das cadeiras) e professores (das
aulas de desenho)‖.
Eng° Luiz Lombard
Eng° José Antônio de Almeida Pernambuco
Jerônimo Telles Júnior (pintor)
Dr. Epaminondas Jacome
Bernardino Henrique de Oliveira
Eng° Carlos Alberto Machado
Eng° Edgar F. Gordilho
Eng° Antônio de Barros Vieira Cavalcanti
Eng° Arthur Martins de Barros
Eng° Antônio Urbano Pessoa Montenegro
Manoel Silvino de Barros Falcão Filho
Bel. Antônio Pedro das Neves
Eng. Francisco Vieira Bolitreau
Bel. Thomé Joaquim de Barros Gibson
Walfrido Odon Arantes
Dr. Caetano Alberto de Castro Nascimento
Bel. Luiz Cavalcanti Lacerda de Almeida
Eng° Augusto Victor Martins
Eng° Frederico Cesar Bulamarqui
Eng° Manoel Antônio de Moraes Rego
Eng° Ozório de Cerqueira
Eng° e Bel. em Ciências Físicas e Matemáticas Hermilo Lydio de Oliveira
Eng° Victoriano Borges de Melo
―Destarte, a 26 de janeiro de 1905, reuniram-se numa sala do prédio à rua do Hospício 71
(onde hoje está edificado o Quartel General da 7ª Região Militar) aqueles que iriam ser os
professores da Escola Livre de Engenharia, continuadora da instituição estadual extinta.
Foram eles:‖
Dr. Euzébio de Almeida Martins Costa
Eng° Francisco Vieira Bolitreau
Eng°. Heitor da Silva Maia
Eng. Eugênio Ozório de Cerqueira
Eng. Hermilo Lydio de Oliveira
Bel. Joaquim Cavalcanti Leal de Barros
Eng°. Cândido Acauã Ribeiro
Dr. Raul de Almeida Azêdo
100
Dr. João Jerônimo Pontual
Eng°. Augusto de Almeida Castro
Eng°. José Antônio de Almeida Pernambuco
Eng°. Augusto Victor Martins
Eng°. Vitoriano Borges de Melo
Eng°. Lafayette M. F. Bandeira
Eng°. M. A. de Moraes Rego
Eng°. Paulino Lopes da Cruz
Bel. Luiz C. Lacerda de Almeida
Bel. Antônio Pedro das Neves
Eng°. Edgar Gordilho
Prof. Manoel Silvino Falcão Filho
Prof. Jerônimo J. Melo Júnior
Prof. Walfrido Odon Arantes
Eng°. Luiz Correia de Brito
Eng°. Ignácio de Barros Barreto
―Êsses estatutos, que vigoram a partir de 1 de janeiro de 1916, foram aprovados pela
congregação, já então reduzida aos seguintes membros:‖
Dr. Euzébio Martins Costa
Eng°. Manoel A. Moraes Rêgo
Eng°. Heitor da Silva Maia
Eng°. Armando Xavier Carneiro de Albuquerque
Eng°. Afonso Fernandes Barros
Eng°. Antônio de Góes Cavalcanti
Eng°. José C. Tôrres Cotrim
Eng°. Paulino Lopes da Cruz
Eng°. José Apolinário de Oliveira
Eng.o João Holmes Sobrinho
Eng°. Luiz José Fernandes Ribeiro
Eng°. Ubaldo Gomes de Matos
Bel. Antônio Pedro Neves
Bel. Luiz C. Lacerda de Almeida
Dr. Antônio Hermenegildo de Castro
Dr. José A. Regueira Costa
Prof. Walfrido Odon Arantes
Prof. Manoel de Barros Falcão
―Como professores substitutos haviam sido admitidos os Engenheiros‖
Graciliano Martins Filho
José Oscar Moreira de Mendonça
Eurico Monteiro de Matos