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Língua portuguesa: ultrapassar fronteiras, juntar culturas (Eds.) Mª João Marçalo & Mª Célia Lima-Hernandes, Elisa Esteves, Mª do Céu Fonseca, Olga Gonçalves, Ana LuísaVilela, Ana Alexandra Silva © Copyright 2010 by Universidade de Évora ISBN: 978-972-99292-4-3 SLG 5 – O Português popular do Brasil, Portugal e África: aproximações e distanciamentos. 114 A FUNÇÃO FOCALIZADORA DE ESTRUTURAS “DESGARRADAS” NO PORTUGUÊS FALADO E ESCRITO: UM ESTUDO FUNCIONALISTA DE ORAÇÕES EM SUA OCORRÊNCIA COMO ENUNCIADO INDEPENDENTE Maria Beatriz Nascimento DECAT (UFMG) 1 RESUMO: Discuto, neste trabalho, o uso, em português, de estruturas que ocorrem de forma sintaticamente independente, sem oração-matriz, isoladas, à maneira de um enunciado independente. Esse tipo de construção, a que tenho atribuído metaforicamente o nome de “desgarrada”, já foi alvo de vários estudos, em que examinei orações relativas apositivas (tradicionalmente rotuladas de orações subordinadas adjetivas explicativas) em diferentes gêneros textuais escritos. Numa abordagem funcionalista norte-americana, amplio, aqui, a discussão dessa ocorrência também no português falado, no caso das relativas apositivas; e estendo o estudo para a ocorrência isolada de orações adverbiais, participiais e aquelas iniciadas por verbo no gerúndio. Parto da hipótese de que o uso dessas estruturas, juntamente com os mecanismos de topicalização e de clivagem, constitui estratégia eficaz para atribuição de foco a partes do enunciado, com vistas a reforçar a argumentação, em decorrência dos objetivos comunicativos do usuário da língua. Será examinado, por um lado, o estatuto informacional dessas estruturas/construções na perspectiva de seu uso no português falado e escrito. Por outro lado, pretendo mostrar a função pragmática do uso ‘desgarrado’ dessas estruturas para atender à estratégia de focalização. Importa, aqui, portanto, a finalidade comunicativa dessa função focal , no intuito de demonstrar que o uso ‘desgarrado’ desses tipos de estruturas serve a objetivos comunicativos, com funções textual-discursivas como avaliação, retomada, especificação, recapitulação, rotulação, dentre outras. Finalmente, pretendo mostrar o papel interacional dessas estruturas ‘desgarradas’, revelando a integração sintaxe/pragmática, quando será mostrada a força ilocucionária de argumentação atingida pelo “desgarramento”. A análise dos dados aponta para a natureza focalizadora dessa estratégia, que contribui para a organização do fluxo informacional, colocando-se, portanto, a serviço da produção textual. Para fundamentar a noção de “desgarramento” utilizo, inicialmente, a noção de “unidade de informação” ou, no caso de dados de língua falada, “unidade entonacional”. Trata-se de “blocos de informação” que o usuário da língua pode focalizar de uma única vez. Os parâmetros para identificação desses blocos, neste trabalho, são a curva entonacional de início e fim de enunciado (para os dados de língua falada), bem como a pausa ou hesitação que separa a estrutura do restante dos enunciados no fluxo informacional, além de sua caracterização como cláusula única e à parte, ou seja, independente, como unidade de informação por si mesma, não anexada à estrutura que a antecede. PALAVRAS-CHAVE: estruturas “desgarradas”; focalização; funções textual-discursivas; estatuto informacional. 1 Universidade Federal de Minas Gerais, Faculdade de Letras, Programa de Pós-graduação em Estudos Lingüísticos. Endereço para correspondência: Rua Via Láctea, 94 – aptº 402, Bairro Santa Lúcia. CEP 30360-270, Belo Horizonte, Minas Gerais, Brasil. [email protected]

A FUNÇÃO FOCALIZADORA DE ESTRUTURAS … · forma sintaticamente independente, sem oração-matriz, isoladas, à maneira de um enunciado independente. Esse tipo de construção,

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Língua portuguesa: ultrapassar fronteiras, juntar culturas (Eds.) Mª João Marçalo & Mª Célia Lima-Hernandes, Elisa Esteves, Mª do Céu Fonseca, Olga Gonçalves, Ana LuísaVilela, Ana Alexandra Silva © Copyright 2010 by Universidade de Évora ISBN: 978-972-99292-4-3 SLG 5 – O Português popular do Brasil, Portugal e África: aproximações e distanciamentos.

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A FUNÇÃO FOCALIZADORA DE ESTRUTURAS “DESGARRADAS” NO PORTUGUÊS FALADO E ESCRITO: UM ESTUDO FUNCIONALISTA DE

ORAÇÕES EM SUA OCORRÊNCIA COMO ENUNCIADO INDEPENDENTE

Maria Beatriz Nascimento DECAT (UFMG)1

RESUMO: Discuto, neste trabalho, o uso, em português, de estruturas que ocorrem de forma sintaticamente independente, sem oração-matriz, isoladas, à maneira de um enunciado independente. Esse tipo de construção, a que tenho atribuído metaforicamente o nome de “desgarrada”, já foi alvo de vários estudos, em que examinei orações relativas apositivas (tradicionalmente rotuladas de orações subordinadas adjetivas explicativas) em diferentes gêneros textuais escritos. Numa abordagem funcionalista norte-americana, amplio, aqui, a discussão dessa ocorrência também no português falado, no caso das relativas apositivas; e estendo o estudo para a ocorrência isolada de orações adverbiais, participiais e aquelas iniciadas por verbo no gerúndio. Parto da hipótese de que o uso dessas estruturas, juntamente com os mecanismos de topicalização e de clivagem, constitui estratégia eficaz para atribuição de foco a partes do enunciado, com vistas a reforçar a argumentação, em decorrência dos objetivos comunicativos do usuário da língua. Será examinado, por um lado, o estatuto informacional dessas estruturas/construções na perspectiva de seu uso no português falado e escrito. Por outro lado, pretendo mostrar a função pragmática do uso ‘desgarrado’ dessas estruturas para atender à estratégia de focalização. Importa, aqui, portanto, a finalidade comunicativa dessa função focal, no intuito de demonstrar que o uso ‘desgarrado’ desses tipos de estruturas serve a objetivos comunicativos, com funções textual-discursivas como avaliação, retomada, especificação, recapitulação, rotulação, dentre outras. Finalmente, pretendo mostrar o papel interacional dessas estruturas ‘desgarradas’, revelando a integração sintaxe/pragmática, quando será mostrada a força ilocucionária de argumentação atingida pelo “desgarramento”. A análise dos dados aponta para a natureza focalizadora dessa estratégia, que contribui para a organização do fluxo informacional, colocando-se, portanto, a serviço da produção textual. Para fundamentar a noção de “desgarramento” utilizo, inicialmente, a noção de “unidade de informação” ou, no caso de dados de língua falada, “unidade entonacional”. Trata-se de “blocos de informação” que o usuário da língua pode focalizar de uma única vez. Os parâmetros para identificação desses blocos, neste trabalho, são a curva entonacional de início e fim de enunciado (para os dados de língua falada), bem como a pausa ou hesitação que separa a estrutura do restante dos enunciados no fluxo informacional, além de sua caracterização como cláusula única e à parte, ou seja, independente, como unidade de informação por si mesma, não anexada à estrutura que a antecede. PALAVRAS-CHAVE: estruturas “desgarradas”; focalização; funções textual-discursivas; estatuto informacional.

1 Universidade Federal de Minas Gerais, Faculdade de Letras, Programa de Pós-graduação em Estudos Lingüísticos. Endereço para correspondência: Rua Via Láctea, 94 – aptº 402, Bairro Santa Lúcia. CEP 30360-270, Belo Horizonte, Minas Gerais, Brasil. [email protected]

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Introdução

Este trabalho discute o comportamento, em português, de estruturas que se

apresentam “desgarradas”, ou seja, em ocorrência de forma sintaticamente

independente, sem a oração matriz, isoladas, à maneira de um enunciado independente.

Esse tipo de ocorrência, muito comum no português escrito, já foi examinado por Decat

(1993, 1999, 2001a, 2001b, 2004[2005] ) a respeito de orações relativas apositivas

(tradicionalmente rotuladas de orações subordinadas adjetivas explicativas) em

diferentes gêneros textuais escritos, tanto do português brasileiro (PB) quanto do

português europeu (PE).

Numa abordagem funcionalista norte-americana, amplia-se, aqui, a discussão

não só para a ocorrência “desgarrada”, no português falado (inicialmente, no português

falado brasileiro), das relativas apositivas como também para a ocorrência de orações

adverbiais, participiais e aquelas iniciadas por verbo no gerúndio, como já tratado

inicialmente em Decat (2008), incluindo dados do português brasileiro falado. Parte-se

da hipótese de que o uso dessas estruturas, juntamente com os mecanismos de

topicalização e de clivagem, constitui estratégia eficaz para atribuição de foco a partes

do enunciado, com vistas a reforçar a argumentação, em decorrência dos objetivos

comunicativos do usuário da língua.

A noção de “desgarramento” aqui utilizada fundamenta-se, inicialmente, na

noção de “unidade de informação” — doravante UI (Idea unit, ou “unidade

informacional”), dada por Chafe (1980), e que é utilizada para a análise de dados

escritos. Já Chafe (1994) adota o termo “unidade entonacional”, para tratar dos dados de

língua oral. Ambos os termos referem-se a “blocos de informação” que o usuário da

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língua pode focalizar de uma única vez, os quais são identificados de diversas maneiras.

Aqui interessam, como parâmetros para essa identificação, sua curva entonacional de

início e fim de enunciado, a pausa ou hesitação que separa a estrutura “desgarrada” de

outra unidade e sua caracterização como cláusula única e à parte. Esses três fatores não

têm, necessariamente, de estar todos presentes quando da caracterização da unidade de

informação. Em segundo lugar, o termo “desgarramento” refere-se, aqui, à ocorrência

desgarrada de uma estrutura, produzida pelo falante/escritor já como uma estrutura não

anexada sintaticamente ao que a antecede, e não, numa leitura gerativista, como uma

estrutura que teria se desgarrado, se desprendido de uma ‘estrutura-mãe’.

Observem-se as estruturas a seguir:

(1) Foi nos velhos tempos. Quando Zé Ramos Filho formava zaga com o Glagê no

Terrestre. Priscas eras, diria o sempre elegante José Cabral. Idos dos anos 30, enfatizo. (Plínio Barreto – Com todo respeito – ESTADO DE MINAS, Caderno Cultura, 24/07/04, p.2)

(2) A mulher dá à luz de cócoras, de pé, deitada — no fundo, como lhe aprouver. O que demonstra que hospitais e clínicas de maternidade podem, também, oferecer às mulheres um ambiente tão seguro quanto gostoso. (Maria Cadaxa, PAIS & FILHOS, n. 11 – Lisboa, Abril/00, p.8 – Carta do Leitor) - PE

(3) Mas se os maus passos eram de tradição, também era costumeiro as mães ralharem e surrarem as filhas erradas. Se bem que Maizé não chegou a apanhar da mãe. (CT – apud NEVES, 2000, p. 879 . Grifo meu)

Tais estruturas constituem evidência dessa ocorrência isolada no português

escrito, brasileiro e europeu, sejam elas estruturas subordinadas adverbiais, sejam

relativas apositivas (como a estrutura em itálico em (2) acima, conhecida

tradicionalmente como oração subordinada adjetiva explicativa).

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O presente estudo pretende apresentar, a partir dos resultados obtidos da

análise no português escrito (brasileiro e europeu) e no português falado (brasileiro)2,

uma descrição da forma como tais estruturas se realizam na língua, procurando

explicitar a gramática dessas estruturas que são, dentre outras, usadas para fins de

focalização de partes do texto.

Na presente pesquisa foi levado mais em consideração o critério da pausa

(representada pelo ponto final na escrita, ou equivalente) e a caracterização como uma

oração única (no caso em estudo). Além disso, foi considerada, para os dados de língua

oral, a curva entonacional da estrutura3, equivalendo a um enunciado independente. No

entanto, foi necessário, para identificar UI, examinar as funções textual-discursivas e

pragmáticas, que vão complementar, assim, os critérios de Chafe.

A seguir, algumas estruturas-tipo ilustram a identificação de UIs:

(4) a. [Pedro disse que comprou um carro] = uma UI b. [Pedro gosta de carro], [embora não possa dirigir]. = duas UIs c. [Pedro joga futebol], [que é um de seus esportes favoritos]. = duas UIs d. [Pedro joga futebol]. [Que é um de seus esportes favoritos]. = duas UIs Finalmente, a noção de “desgarramento” baseia-se, neste trabalho, nas

postulações de Ono e Thompson (1994) ao tratarem de unattached noun-phrases — NPs

(portanto, NPs (ou ‘sintagmas nominais’) ‘não anexadas’ à estrutura que as antecede).

Segundo eles, são NPs que não estão relacionadas gramaticalmente com nenhum

2 A análise dos dados do português falado europeu ainda está em fase de realização. 3 Cumpre esclarecer que, no presente trabalho, está-se considerando somente o reconhecimento auditivo, para o caso das estruturas de língua oral. A análise dos dados orais com o auxílio de um programa mais apurado, como o PRAAT, já está sendo realizada mas não será discutida aqui. De qualquer forma, os dados submetidos até agora a esse tipo de ferramenta de análise já confirmam muito do que se percebeu apenas auditivamente.

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predicado. Esse tipo de NP corresponde a uma unidade entonacional. Por serem

unidades de informação por si mesmas, podem ocorrer “desgarradas”, em forma

oracional, da maneira também exemplificada a seguir:

(5) Qual é o peso que o telemóvel tem na sua vida? São exatamente 88 gramas. O que faz com que o Mimo Ultra Leve seja o mais leve telemóvel dos que já vêm com cartão recarregável. (VISÃO – n. 342, 30/09/99, p. 133) - PE (6) ...apartamento com vista pra favela [vídeo interrompendo o fluxo da fala] de onde já partiram balas (Jornal Nacional, Rede Globo de Televisão, 24/02/07) (7) Em razão da grande quantidade de visitas no dia do lançamento da Brasiliana Digital (16.6.2009), o sistema ficou lento. Muito lento. De modo que impossibilitou alguns acessos. Lamentamos o ocorrido e estamos trabalhando para melhorar a navegação. (www.brasiliana.usp.br; Acesso em 19/6/09)

(8) mas foi bom...o mais difícil foi com meu pai...porque meu pai ele é muito afe/muito afetuoso comigo e tal (NDO3M, 481-484)

(9) Agora você já sabe, para manter o seu cão de raça pequena com a energia de um grande campeão, faça como eu: dê a ele PEDIGREE Pequenos Campeões (Marina Vicari Lerario). Desenvolvido por veterinários. Recomendado pelos melhores criadores.

(Revista CLÁUDIA, ano 38, nº. 6, junho/1999, p. 253) (10)Os textos que mandei de Nova York foram publicados pelo Globo num caderno

especial sobre os atentados, mas não foram distribuídos pela agência. Levando alguns dos meus 17 leitores a suspeitarem que eu estava num processo patológico de rejeição da realidade, o que não é o caso. Ainda. (F. Veríssimo, Fundamentalismos, Opinião, ESTADO DE MINAS, 18/09/2001, p. 7)

As ocorrências destacadas em (5) e (6) são orações relativas apositivas, sendo

(5) do português escrito europeu e (6), do falado brasileiro; em (7) e (8) trata-se de

oração adverbial, tanto no português escrito, (7) — uma adverbial consecutiva —,

quanto no falado, (8) — uma adverbial causal; já (9) exibe estruturas “desgarradas” com

o verbo no particípio, ao passo que em (10) observa-se a ocorrência de uma estrutura

com gerúndio.

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Assim, as NPs ‘soltas’, “desgarradas” (estejam elas em forma nominal ou

oracional) vão servir, segundo os autores acima citados, para caracterizar, designar,

rotular, resumir, recapitular, avaliar, identificar, classificar, abreviar ou especificar uma

SITUAÇÃO ou um REFERENTE.

Essas estruturas “desgarradas” têm ocorrido, no português, com SNs ‘soltos’,

com orações adverbiais, com orações relativas apositivas, com orações iniciadas por

particípio e com orações iniciadas por gerúndio.

São examinadas, aqui, as quatro materializações lingüísticas dessas

estruturas desgarradas em forma oracional, plena ou reduzida, quais sejam: as orações

adverbiais, as relativas apositivas (orações subordinadas adjetivas explicativas, na

gramática tradicional), as iniciadas por particípio e as de gerúndio.

O objetivo central do trabalho, como já foi dito acima, é o de apresentar,

num tratamento funcionalista, uma análise que leve mais em conta a função pragmática

do uso ‘desgarrado’ dessas estruturas, para atender à estratégia de focalização que,

conforme aponta Braga (1999, p. 281), fundamentada em Dik (1989), tem a ver “com a

saliência ou importância do que dizemos a respeito das coisas.” Importa aqui, portanto,

a finalidade comunicativa dessa função focal, no intuito de demonstrar que o uso

‘desgarrado’ desses tipos de estruturas serve a objetivos comunicativos, com funções

textual-discursivas como avaliação, retomada, especificação, dentre as arroladas acima.

Em outras palavras, a oração relativa apositiva, por exemplo, considerada como um dos

recursos ou mecanismos sintáticos para dar relevo, ênfase ao que é dito, ao ocorrer

‘desgarrada’ vem comprovar a sua força argumentativa.

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Essa função focal das orações relativas apositivas, das adverbiais e das

estruturas iniciadas por particípio e por gerúndio apresenta-se de maneira semelhante à

que é exercida por sintagmas nominais (SNs/NPs) que ocorrem ‘soltos’ — unattached

NPs, conforme Ono & Thompson (1994), ou ainda floating NPs, conforme Thompson

(1989) — , constituindo o que a gramática tradicional costuma chamar de ‘frases

nominais’, como evidenciam as estruturas destacadas no exemplo do gênero horóscopo,

a seguir:

(11) PEIXES Preocupação com pessoas próximas. O dia poderá ser um tanto estafante,

cansativo. Repare se você não está escolhendo os caminhos mais difíceis e penosos para se sentir merecedor do que tem ou do que deseja. Susceptibilidade muito alta à opinião das outras pessoas. (R. Alvarenga, “Horóscopo”, ESTADO DE MINAS, Caderno Cultura, 12/06/04, p.2)

Nos exemplos apresentados até aqui, em (11) as duas estruturas marcadas

constituem SNs (NPs) ‘soltos; em (1) e (3) ocorrem orações subordinadas adverbiais

“desgarradas”, ‘soltas’; em (2), do português europeu, há uma oração relativa apositiva

“desgarrada”. O exemplo (12), a seguir, evidencia o desgarramento com gerúndio,

levando a oração até mesmo a constituir um outro parágrafo:

(12) Para retirar o seu prêmio em uma das nossas lojas, faça o download clicando no botão logo abaixo. Com o arquivo prviamente salvo, abra o formulário, preencha seus dados e imprima uma folha do vale-compra.

Lembrando que o mesmo é único e intransferível. (grifo do original) (Excerto de propaganda de O Boticário, UOLMail, acesso em 21/01/2009) A estratégia de atribuição de relevo a partes do enunciado (ou do texto), ou

seja, a focalização, serve, de acordo com os objetivos comunicativos do usuário da

língua, para, por exemplo, reforçar a argumentação, como no caso dos SNs ‘soltos’ do

horóscopo — exemplo (11) — bem como no caso do texto propagandístico dado

acima, em (12).

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Finalmente, pretende-se, neste trabalho, mostrar o papel interacional dessas

estruturas “desgarradas”, revelando a integração sintaxe/pragmática, quando será

mostrada a força ilocucionária de argumentação atingida pelo “desgarramento”. A

análise dos dados aponta para a natureza focalizadora dessa estratégia de

“desgarramento”, que contribui para a organização do fluxo informacional, colocando-

se, portanto, a serviço da produção textual.

Orações relativas apositivas desgarradas: formato e função.

A partir dos dados escritos examinados, do PB e do PE, foi possível

estabelecer uma tipologia (provisória, certamente) da forma de materialização dessas

estruturas “desgarradas” (que foram examinadas também, em outro trabalho —

DECAT (2001a) — inclusive com corpus do Português europeu).

As orações relativas apositivas “desgarradas” têm, portanto, na escrita

(ocorrendo depois de uma pausa representada por um ponto final), um FORMATO (ou

Formatos), como se segue:

A) FORMATO [ . QUE ]

(13) Olhar, ouvir, conhecer e reagir; algo bem diferente da hipocrisia dos que têm voz, influência, poder e posições importantes [...]. Que se divertem com nosso assombro ao ouvir que estamos chegando à perfeição em setores nos quais enxergamos ruína e decadência. (Lya Luft, Quebrar o silêncio – Ponto de Vista, VEJA, 3/5/06)

B) FORMATO [ . O que/qual ]

(14) O que muitos temiam e outros ansiavam aconteceu: dezembro chegou. O que significa: o ano começou a acabar. (Affonso R. Sant’Anna, De repente, dezembro – ESTADO DE MINAS, 28/11/04)

C) FORMATO [ . N (prep) que ]

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(15) É preciso dizer que os amigos que brigaram com doenças e as venceram deram novo alento e fizeram 2008 ser visto como um ano milagroso! Um ano que valeu a pena! (MLMS – 2009 chegando... E-mail, 31/12/08)

(16) São pequenos passos, eu sei. Coisas que passam quase desapercebidas aos olhos do mundo grande. (Editorial, PAIS & FILHOS, Abril 00, nº 111) (Português europeu)

D) FORMATO [ . N + Esp + que ]

(17) Um sujeito deve ser entendido a partir de uma contextualização. Contextualização essa que prevê o correlacionamento de diversos fatores (...) (F.C.B.C. , trabalho acadêmico, UFMG, 2003)

E) FORMATO [ . Onde ]

(18) Para essas pessoas — para si — existe um banco especial: o Banco 7. Onde tudo é tratado pelo telefone ou pela Internet. Onde a moderna tecnologia existe para servir as suas necessidades. (VISÃO, n.343, 7 a 13 de outubro de 1999) (Português europeu)

(F) FORMATO [ . Cujo ]

(19) Para completar este segmento e antes de voltar aos dois filmes citados, vou me permitir a fazer algumas considerações a respeito daquilo que aprendi na minha passagem pela crítica de cinema. Cujo espectador é, normalmente, otimista, forrando-se não apenas do chamado happy end. (Cyro Siqueira – Tiradentes, a imagem de um País – ESTADO DE MINAS, 28/04/01 , Caderno CULTURA, p. 10)

Quanto à FUNÇÃO, as estruturas “desgarradas”, sejam elas SNs (NPs) ou

orações relativas apositivas, vão servir a funções textual-discursivas , motivadas

pragmaticamente, conforme os objetivos comunicativos. Conseqüentemente, a

ocorrência das estruturas desgarradas não se atém a um gênero textual específico; mas

as estruturas se materializam lingüisticamente, de diferentes maneiras, toda vez que a

necessidade de focalização e argumentação aflora no texto como resultado das intenções

e dos objetivos sociocomunicativos do produtor do texto. Sendo assim, a ocorrência

desgarrada das orações relativas apositivas (e dos SNs soltos) está atrelada a um

conjunto de funções que vão servir para aumentar a focalidade pretendida pelo escritor.

Uma oração relativa apositiva desgarrada pode exercer, dentre outras, a função de:

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a) Avaliação, materializada em diferentes formatos, como mostram (20) e

(21), que são orações relativas, e (22), que exibe um SN ‘solto’:

(20) Este o teor da carta recebida do leitor Aresio Marques, pescador que acredita

na existência do caboclo d’água. Um direito que lhe assiste. (Plínio Barreto, Caboclo de novo, ESTADO DE MINAS, 12/06/04, p.2)

(21) Na sua santa burrice, os propagadores do estreitamento, da separação e do

isolamento, do nivelamento por baixo, ao que parece desejam que não sejamos continente, mas uma ilha no meio da civilização ocidental. Que talvez nem seja lá grande coisa, mas é o que temos. (Lya Luft, Ponto de Vista – Revista VEJA, Ano 38, Nº. 6, 09/02/05, p. 21)

(22) No Lancia Lybra, tudo foi pensado para melhorar a sua qualidade de vida. A

começar pelo acolhimento que lhe reservamos, quando pedir para o experimentar. Uma vida de qualidade. (VISÃO – n. 343, Lisboa, 7 a 13 de outubro de 1999, p. 4) - PE

b) Retomada, postulada por Givón (1992) — e utilizada em trabalhos

anteriores à presente pesquisa (DECAT,1993 e 1999) — para explicar o

comportamento simultaneamente anafórico e catafórico, como ponte de

transição, de orações adverbiais em início de período, funcionando como o

que Chafe (1988) chama de guia (guidepost) para a interpretação pelo leitor.

A função de retomada consiste, portanto, em reaver, de alguma forma, uma

informação que foi dada anteriormente no texto, conforme também postulam

Ono & Thompson (1994), sob o rótulo de recapitulação. Essa retomada

pode-se materializar nas orações relativas apositivas ‘desgarradas’, como

mostrado a seguir pelo exemplo (23):

(23) Um dos itens do último censo que mais provocaram comentários de especialistas e

palpiteiros em geral foi a queda da “popularidade” da Igreja Católica no Brasil. Queda que vem se acentuando de censo a censo e que aparentemente coloca a chamada Nau de Pedro à beira do naufrágio no encapelado mar da modernidade. (Carlos Heitor Cony, O gênero e o grau, FOLHA DE SÃO PAULO, Caderno Opinião, 26/05/02, p. A2)

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c) Adendo (ou mesmo parentético) - Nessa função a estrutura desgarrada

veicula uma informação que é dada tardiamente, como um acréscimo. O

exemplo (24), cujo referente está explícito no texto (“amigo”), evidencia

essa função:

(24) Na hora agá, ela fraquejou. Não apareceu. Não pulou a janela com a trouxa.

Ele acabou se afastando desiludido, mas começou a mandar cartas para ela através de um amigo. Que não as entregou. Ao contrário, guardou-as, começou a namorar a moça e logo casou-se com ela. (Affonso Romano de Sant’Anna – Fugir por amor, ESTADO DE MINAS, Caderno Cultura, 14/11/04, p. 8)

Desgarramento de orações adverbiais, de particípio e de gerúndio

Da mesma forma que as apositivas, orações adverbiais — tidas como

dependentes e subordinadas pela gramática tradicional — ocorrem, em português, de

maneira “desgarrada” — não anexadas (unattached), segundo Ono e Thompson (1994)

— à estrutura que as antecede e consideradas, no presente estudo, unidades de

informação por si mesmas, podendo, por isso, ocorrer “desgarradas”.

No caso das orações adverbiais, não há um formato específico, como foi

encontrado para as relativas apositivas. Em princípio, qualquer oração de caráter

adverbial pode ocorrer isoladamente, por força da estratégia de focalização e, nesse

caso, com funções textual-discursivas e pragmáticas diversas. De modo geral, elas vão

servir a funções decorrentes de relações lógico-semânticas de expansão por realce, nos

termos de Halliday (1994 [1985]), da mesma forma que as orações relativas apositivas

mantêm, com o discurso antecedente, uma relação lógico-semântica de expansão por

elaboração, introduzindo, muitas vezes, informação suplementar.

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Nos exemplos abaixo, as estruturas desgarradas exibem relações adverbiais

diversas.

(25) Minha intenção não era a televisão e, sim, o cinema. Apesar de que, a

experiência com A pedra do reino me pareceu mais com o cinema do que com qualquer outra coisa. (Sérgio R. Reis – Mergulho no campo dos sonhos – trecho de entrevista com o ator Irandhir Santos, ESTADO DE MINAS, Caderno TV, 10/06/07, p. 12) - (relação concessiva)

(26) Estar entre as melhores empresas para se trabalhar, [...], é motivo de orgulho

para qualquer empresa. Para nós, da AmBev, é um motivo de comemoração. Porque comemorar é nossa especialidade. (Revista ÉPOCA, 27/08/07, p. 84) (relação causal/motivação/justificativa)

Interessante é notar como o ‘uso desgarrado’ de estruturas em textos

propagandísticos, que têm no convencimento seu objetivo central, constitui uma forma

de focalizar a argumentação. Os exemplos (27) e (28) corroboram o efeito desse uso:

(27) Almoço Vecchio Sogno. Para você sentir o sabor de um excelente negócio (Propaganda do Vecchio Sogno Ristorante, Belo Horizonte/MG) (28) Visite já os escritórios da GreiMed e realize o seu sonho. Enquanto pode. (VISÃO, n. 343, Lisboa, 7 a 13 de outubro de 1999, p. 13) - PE

Da mesma forma que, quando antepostas, as orações adverbiais servem à

função tópica, quando “desgarradas” (e, portanto, pospostas) elas servem à função

focalizadora.

Observe-se a força argumentativa da ocorrência desgarrada das orações

adverbiais concessivas nos dados abaixo:

(29) Já estou mais bem-humorado, pode ficar tranqüila. E deixe de ser chata, pois

você escreveu apenas quatro palavras no último e-mail. EMBORA ESTIVESSEM EM DESTAQUE!!! (G.F., e-mail de 13/01/08 – destaque em caixa alta feito pelo autor do e-mail)

(30) Mas, como é domingo, a gente tem obrigação de aproveitar. Sem falar que o

jornal de hoje é imenso. (Cláudio Paiva, Tempo, JORNAL DO BRASIL, OPINIÃO, 03/10/99, p. 9)

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A natureza essencialmente argumentativa das orações concessivas torna-as

estruturas de freqüente ocorrência desgarrada, pois assim elas estão, de alguma forma,

focalizando algum aspecto do discurso que se coloca em contraste com algum outro

aspecto. Essa freqüência pode ser evidenciada em propagandas, em que a necessidade

de convencimento leva à focalização.

Muitas vezes a estrutura adverbial desgarrada vem iniciada por um

advérbio modalizador, como em (31):

(31) [...] Apesar de eu ter um certo receio da [...], já que lá há muitas cartas

marcadas, vou tentar também. Especialmente porque a área é sintaxe e muito me interessa. (SC, e-mail de 07/05/08)

Também constituem casos de ‘desgarramento’ orações iniciadas por uma

forma verbal no gerúndio, em que também se evidencia a força argumentativa desse

destaque. Observem-se, por exemplo, (32) e (33) abaixo:

(32) Informo que o sistema de avaliação das atividades de extensão entrará no ar para acesso aos usuários nesta segunda-feira (08/10) e deve permanecer no ar até segunda ordem da Pró-Reitoria. Lembrando que a data limite para a entrega dos documentos nos Cenex das unidades é dia 15/10, de acordo com o Edital. ( E-mail enviado em 09/10/07 pela Pró-Reitoria de Extensão da UFMG)

(33) Os textos que mandei de Nova York foram publicados pela Globo num

caderno especial sobre os atentados, mas não foram distribuídos pela agência. Levando alguns dos meus 17 leitores a suspeitarem que eu estava num processo patológico de rejeição da realidade, o que não é o caso. Ainda. (F. Veríssimo, Fundamentalismos, ESTADO DE MINAS, OPINIÃO, 18/09/01, p. 7)

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Também nas propagandas a ocorrência desgarrada de oração iniciada por

gerúndio fortalece a argumentação, como mostra (34) a seguir, retirado de um folder

publicitário:

(34) TRATAMENTO DA DOR CRÔNICA [...] O tratamento é individualizado, dispondo de grande arsenal terapêutico,

como medicamentos, bloqueios de nervos, infiltrações, eletroestimulação, acupuntura e laser, entre outros.

Alcançando hoje altos níveis de aprovação entre familiares e equipe médica) (Folder publicitário)

Da mesma forma que as orações adverbiais e aquelas introduzidas por

gerúndio (tradicionalmente conhecidas como reduzidas de gerúndio), estruturas

iniciadas com a forma verbal no particípio costumam realizar-se de forma

sintaticamente independente, na língua escrita, desgarradas, sem a oração-matriz. Assim

apontam o exemplo (35) — repetição de (9), dado anteriormente — e o exemplo (36) a

seguir:

(35) Agora você já sabe, para manter o seu cão de raça pequena com a energia de

um grande campeão, faça como eu: dê a ele PEDIGREE Pequenos Campeões (Marina Vicari Lerario) Desenvolvido por veterinários. Recomendado pelos melhores criadores. (Revista CLÁUDIA, ano 38, nº. 6, 06/99, p. 243)

(36) Chegou Fiat Línea. Conectado com você. ( Propaganda da Fiat, Revista ISTOÉ, Ano 31, nº. 2030,

1º/1º/08, p. 46)

O ‘desgarramento’ na língua oral

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Falar de ocorrência ‘desgarrada’ de estruturas na língua oral pode causar

certa estranheza, uma vez que essa modalidade já tem sua cadeia sonora ‘recortada’

pelas inúmeras pausas, hesitações, falsos começos e vários outros elementos de

descontinuidade. Entretanto, é possível detectar uma estrutura desgarrada na língua oral

a partir da consideração do parâmetro “curva entonacional”, também apontado por

Chafe (1980), juntamente com a pausa, para a identificação de unidades informacionais

(chamadas por Chafe, 1994, de “unidade entonacional”).

Assim, será considerada um caso de ‘desgarramento’ uma estrutura que seja

precedida, no português brasileiro, por uma pausa (mas não necessariamente) e que

tenha um contorno entonacional de princípio e de fim de unidade, aspectos esses

percebidos auditivamente.4 Os exemplos abaixo ilustram essa ocorrência:

(37) porque o problema que acontece ( ) é que eu não vou chegar em Belo

Horizonte no mesmo dia...vou ter que dormir ou em Campinas ou dormir na divisa...ou em Teófilo Otoni... se o tempo der (SSA/D2-98, apud SOUZA, G.C., UNESP/IBILCE, 2003)

(38) e tinha o parto... que era outro risco... porque eu tenho uma queda de

pressão::violentíssima né? (NDO4F, 15, 277-280 – apud DECAT, 2001b, p. 125)

(39) eu quero::... trabalhar... com o... cotidiano do corpo na escola... de primeiro

grau... principalmente porque é o meu trabalho né? (NDO3M, 2, 57-59, apud DECAT, 2001b, p. 142)

(40) mas realmente então está encerrado... mas gostaríamos demais de mais filhos...

embora eu fique quase biruta... (D2-SP-360:90-94) Ou, ainda, (6), aqui repetido: (6) ...apartamento com vista pra favela [ vídeo interrompendo o fluxo da fala] de

onde já partiram balas (Jornal Nacional, Rede Globo de Televisão, 24/02/07)

4 Ver nota 3 neste trabalho.

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O exemplo (6) evidencia um tipo muito recorrente em falas televisivas, por

exemplo, em que se tem a inserção de vídeos explicativos na notícia veiculada. Ao

término do vídeo, o locutor retoma a fala, começando por uma oração ‘desgarrada’,

muitas vezes iniciada por uma forma verbal no gerúndio. Também a estrutura dada em

(41) — que constitui um dado de introspecção construído com base em inúmeras

ocorrências ouvidas na rede televisiva brasileira — exemplifica esse uso em português:

(41) chegou o Cirque du Soleil... o maior espetáculo de dança e acrobacia dos

últimos tempos...[VÍDEO]... lembrando que as apresentações começam no próximo mês...no Rio de Janeiro (frase-tipo: telejornais e rádios)

Procurou-se mostrar, aqui, que a ocorrência, na língua oral/falada, dessas

estruturas é precedida de pausa (na maior parte das vezes), também seguida de pausa.

Além disso, têm um único contorno entonacional, com entonação descendente no final,

característica de final de frase/período/enunciado, constituindo um único “jato de

linguagem”, nos termos de Chafe (1980), funcionando como “adendo” e possuindo

caráter remático, tudo isso contribuindo para a força argumentativa que caracteriza essas

estruturas.

Desgarramento, clivagem e focalização

À vista do que os dados mostraram, torna-se possível afirmar que a

ocorrência ‘desgarrada’ — seja de orações relativas apositivas, seja de orações

adverbiais ou orações de particípio e de gerúndio — é mais um dos recursos que

servem à focalização, juntamente com a clivagem e com a topicalização. O

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desgarramento vai funcionar, pois, como um mecanismo sintático a serviço da

estratégia de focalização, destacando a relação semântica mais frouxa entre os

enunciados, permitindo considerar-se a estrutura “desgarrada” como correspondendo a

um ato de fala por si, como se observa em vários casos apresentados aqui. Assim, parece

ser possível dizer que estamos diante de uma estratégia de focalização que provém, além

da necessidade de ressaltar o rema, da ligação frouxa entre os enunciados. Decorre, daí,

a posposição, na língua oral, ou a ocorrência desgarrada, na língua escrita, a serviço

também da interatividade permitindo, inclusive, uma produção textual conjunta, como

mostra o exemplo a seguir, retirado de Neves (1999, p.567), em que se pode perceber o

desgarramento funcionando na organização do fluxo informacional.

(42) L1: é, a cachoeira é bonita L2: Muito bonita L1: Se bem que agora você não vê... (D2-SSA-98; 1.22, p.25 e 1.1-2, apud NEVES, 1999a , p. 567)

Há que se reconhecer a produtividade cada vez maior desse recurso na

produção textual do português escrito ( brasileiro ou europeu), assim como no português

oral, evidenciando não uma ‘falha’ de organização do texto, como querem os

prescritivistas, mas uma tendência da língua para a construção textual. Constitui,

também, um mecanismo importante para a organização das informações no texto, o qual

se caracteriza como mais um recurso sintático para a atribuição de relevo a partes do

enunciado. Em primeiro lugar, as orações relativas apositivas “desgarradas” exibem uma

estrutura, ou uma materialização/realização lingüística semelhante à de estruturas de

clivagem, mais especificamente a pseudo-clivagem. Comparem-se as estruturas dadas

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em (a) e (b) abaixo — tiradas de Oliveira e Braga (1997, p. 209) — com as estruturas

destacadas no texto dado em (43):

a) É dinheiro que João quer (clivada) b) O que João quer é dinheiro (pseudo-clivada) (43) Assim, fomos nos transformando numa multidão que rejeita o sentido e exige o espetáculo. Já vamos para o quinto Big Brother Brasil. O que significa que

quem melhor monitora o desejo humano hoje é a mídia televisiva. O fascínio hoje é se vender no “mercado da carne”, onde jazem corpos dessubstancializados. A lógica é trocar a mensagem por signos e estereótipos. O que temos é uma massa que rejeita a dialética e exige a simplificação do

espanto, do terror e do gozo. (Inez Lemos – psicanalista – A hegemonia do afeto

- ESTADO DE MINAS, Caderno PENSAR, 12/06/04, p. 3) Em (43), a primeira estrutura destacada é uma oração relativa apositiva

“desgarrada”, ocorrendo isoladamente como uma UI à parte e tendo como referente não

um sintagma nominal específico, mas um fato, ou, mais precisamente, uma situação. Já a

segunda estrutura destacada é uma pseudo-clivada, iniciada por um segmento

materializado lingüisticamente de maneira idêntica ao que inicia um dos formatos de

oração apositiva “desgarrada”, ou seja, o formato [.O que] .

Em segundo lugar, as orações “desgarradas”, de qualquer um dos tipos vistos

aqui, se assemelham a estruturas pospostas que atuam como afterthought, ou adendo.

Ora, o fato de terem essa atuação decorre do caráter de informação suplementar que

muitas vezes as “desgarradas” têm, por força de objetivos argumentativos que se

materializam na focalização, no realce.

Finalmente, é importante ressaltar o papel interacional dessas construções, o

que acaba por revelar a integração da sintaxe com a interação. Penso que se pode dizer,

no caso das orações relativas apositivas, que se trata de um SN ‘solto’ complexo, com

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força ilocucionária /pragmática maior que a de uma oração complexa. Comparem-se as

estruturas a seguir, em que a força argumentativa se mostra muito mais evidente em (44)

do que em suas possíveis paráfrases dadas em (45):

(44) “Nada de menino na varanda!” X (45) É proibido menino na varanda Eu não quero menino na varanda Vocês estão proibidos de ficar na varanda etc. Ou, ainda, no exemplo (46), com sua possível paráfrase em (47), com

orações desgarradas cujo verbo está no infinitivo, que não está sendo discutido aqui mas

que tem, na oração apositiva desgarrada, uma função resumitiva, reforçando a

argumentação.

(46) Valeu pelas viagens, encontros, desencontros. Ver argentinos em seu habitat

natural, suportar Brasília, rever Curitiba, Ribeirão Preto, Piracicaba, Belo Horizonte algumas vezes...parar até em delegacia de Jacarepaguá! Movimento que faz a vida. (MLMS, 2009 chegando... E-mail, 31/12/08)

(47) Valeu pelas viagens, encontros, desencontros. Valeu para ver argentinos em seu

habitat natural, para suportar Brasília, para rever Curitiba, Ribeirão Preto, Piracicaba, Belo Horizonte algumas vezes... valeu para parar até em delegacia de Jacarepaguá! Movimento que faz a vida.

Considerações finais: uma proposta para a descrição da gramática do português

O comportamento das estruturas “desgarradas” encontradas no português,

escrito e oral, permite-me, a partir da análise empreendida, afirmar a natureza

focalizadora do “desgarramento” com vistas à organização do fluxo informacional

dentro dos objetivos comunicativos do usuário da língua. E é por força dessa

característica que propõe-se, aqui, considerar, de ora em diante, o “desgarramento”

como um mecanismo/recurso sintático que serve à estratégia de focalização, ao lado

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da topicalização e da clivagem. Assim, será possível expandir a descrição da gramática

da focalização em português, e tornar o “desgarramento” como um de seus mecanismos

a serviço da produção textual. Dessa forma, no exercício de produção textual, oral ou

escrita, a função focalizadora é que irá determinar a ocorrência de uma oração como um

enunciado independente, seja ele de estruturas coordenadas ou de subordinadas; e irá

determinar, também, a ocorrência dos SNs ‘soltos’ com objetivos comunicativos de

reforçar a argumentação, de realçar ou dar destaque a determinado elemento ou a

determinado fato ou situação.

No trecho abaixo, retirado de uma crônica de Maria Antonieta Cohen, a

estrutura grifada ilustra bem o que foi apresentado neste trabalho:

Os trilhos continuaram mesmo com o asfalto. Ficaram ali como um sinal do

passado. O bonde serviu de deboche dos cariocas para nós mineiros:

- “Mineiro compra bonde, diziam”, pois parece que realmente foram

comprados bondes por nós, quando ninguém mais os queria! E sempre que

vejo um carioca, com aquele ar superior de quem tem mar, me sinto uma

compradora de bondes! Que viraram museu em Belo Horizonte. O barzinho

“Trem Bão”, que funcionava no antigo vagão de um trem de ferro nos anos

1970, nos lembrava nostalgicamente do bonde. (M.A.A.M. Cohen, Nos

tempos do bonde, s/d – Grifo meu)

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