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A fundamentação teórico-prática da conceituação do trabalho escravo e necessidade da fuga da subjetividade: é possível? Anndrea Nariane Franco da Silva 1 Laís Bianchin da Costa 2 Nicolle Bittencourt 3 Diego Costa Boeira dos Santos 4 Thais Rosa de Oliveira 5 RESUMO Com a promulgação da EC 81/14, a Constituição brasileira passou a dispor expressamente sobre o trabalho escravo, deixando à lei a tarefa de disciplinar a questão; contudo, caso a matéria seja mal disciplinada/delimitada, poder-se-á dirigir a discussão sempre em vias de exceção, de sorte que o controle difuso de constitucionalidade pode vir a se tornar subterfúgio para ineficácia das disposições constitucionais. A partir disso, resta a pergunta: há como efetivar a nova disposição do art. 243 da CF/88 sem abrir mão da segurança jurídica ao qual o cidadão carece, advinda da regulamentação da matéria, e da garantia de acesso ao Judiciário, para solução de controvérsias que não sejam temerárias ou procrastinatórias? Em outras palavras: como não cair num relativismo improfícuo a partir da interpretação dos tribunais em via difusa de controle de constitucionalidade? Palavras-chave: Direito Constitucional; Direitos Humanos; Trabalho Escravo. RESUMEN Con la promulgación de la CE 81/14, la Constitución brasileña trató sobre el tema de la esclavitud, dejando a la ley la tarea de disciplinar a la pregunta; Si el sujeto está poco disciplinado / 1 Acadêmica do 4º semestre do Centro Universitário Ritter dos Reis 2 Acadêmica do 8º semestre do Centro Universitário Ritter dos Reis 3 Acadêmica do 4º semestre do Centro Universitário Ritter dos Reis 4 Acadêmico do 6º semestre do Centro Universitário Ritter dos Reis 5 Acadêmica do 8º semestre do Centro Universitário Ritter dos Reis

A Fundamentação Teórico-prática Da Conceituação Do Trabalho Escravo e Necessidade Da Fuga Da Subjetividade

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análise da escravidão em perspectiva constitucional

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A fundamentao terico-prtica da conceituao do trabalho escravo e necessidade da fuga da subjetividade: possvel?

Anndrea Nariane Franco da Silva[footnoteRef:1] [1: Acadmica do 4 semestre do Centro Universitrio Ritter dos Reis]

Las Bianchin da Costa[footnoteRef:2] [2: Acadmica do 8 semestre do Centro Universitrio Ritter dos Reis]

Nicolle Bittencourt[footnoteRef:3] [3: Acadmica do 4 semestre do Centro Universitrio Ritter dos Reis]

Diego Costa Boeira dos Santos[footnoteRef:4] [4: Acadmico do 6 semestre do Centro Universitrio Ritter dos Reis]

Thais Rosa de Oliveira[footnoteRef:5] [5: Acadmica do 8 semestre do Centro Universitrio Ritter dos Reis]

RESUMO

Com a promulgao da EC 81/14, a Constituio brasileira passou a dispor expressamente sobre o trabalho escravo, deixando lei a tarefa de disciplinar a questo; contudo, caso a matria seja mal disciplinada/delimitada, poder-se- dirigir a discusso sempre em vias de exceo, de sorte que o controle difuso de constitucionalidade pode vir a se tornar subterfgio para ineficcia das disposies constitucionais. A partir disso, resta a pergunta: h como efetivar a nova disposio do art. 243 da CF/88 sem abrir mo da segurana jurdica ao qual o cidado carece, advinda da regulamentao da matria, e da garantia de acesso ao Judicirio, para soluo de controvrsias que no sejam temerrias ou procrastinatrias? Em outras palavras: como no cair num relativismo improfcuo a partir da interpretao dos tribunais em via difusa de controle de constitucionalidade?

Palavras-chave: Direito Constitucional; Direitos Humanos; Trabalho Escravo.

RESUMEN

Con la promulgacin de la CE 81/14, la Constitucin brasilea trat sobre el tema de la esclavitud, dejando a la ley la tarea de disciplinar a la pregunta; Si el sujeto est poco disciplinado / delimitado, ser posible, dirigir los debates siempre se trata de la excepcin, por lo que el control difuso de la constitucionalidad puede, convertirse en un subterfugio para la ineficacia de las disposiciones constitucionales. De esto, la pregunta sigue siendo: hay manera de efectuar la nueva disposicin del art. 243 CF/88 sin dar seguridad jurdica a la que el ciudadano necesita, que surge de la regulacin de la materia, y garantizar el acceso a los tribunales para resolver los conflictos que no sean imprudentes o procrastinatrias? En otras palabras: cmo no caer en intiles de la interpretacin de los tribunales en forma difusa de relativismo judicial?

Palabras clave: Derecho Constitucional; Derechos Humanos; Trabajo Esclavo.

INTRODUO

A utilizao de mo-de-obra escrava deixou rastros funestos na histria do mundo e do Brasil. Da Lei urea Emenda Constitucional n. 81de 2014, analisa-se o passado, com a inteno de modificar o futuro. Nesse escopo, a apreciao da possibilidade de conceituao e da aplicabilidade da nova redao do texto constitucional[footnoteRef:6], reclama a utilizao de parmetros analticos, abarcando trs aspectos inseparveis e distintos entre si: o axiolgico, que envolve o valor de justia; o ftico, que trata da efetividade social e histrica; e o normativo, que compreende o ordenamento, o dever-ser. Ao integrar e correlacionar esses trs pilares fundamentais do Direito, o estudo em tela faz surgir polos autnomos e enfoques sistemticos que estruturam a Cincia do Direito. Para tal, o embasamento terico se lastreia na Teoria Tridimensional do Direito[footnoteRef:7], de Miguel Reale, a fim de enfocar a condio de escravo atravs de uma abordagem histrica, que concerne os valores e os fatos que so ou deveriam ser harmonizados pela norma jurdica. No entanto, imprescinde, para um efetivo entendimento, discutir noes propeduticas em face das transformaes geradas intrinsecamente pelo Direito. [6: Disponvel o acesso, em 31 de julho, atravs de meio eletrnico no endereo < http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicao.htm>] [7: REALE, Miguel. Teoria Tridimensional do Direito. So Paulo: Saraiva, 1994, 5. ed., p. 118: Se se perguntasse a Kelsen o que Direito, ele responderia: Direito norma jurdica e no nada mais do que norma. Muito bem, preferi dizer: no, a norma jurdica a indicao de um caminho, porm, para percorrer um caminho, devo partir de determinado ponto e ser guiado por certa direo: o ponto de partida da norma o fato, rumo a determinado valor. Desse modo, pela primeira vez, em meu livro Fundamentos do Direito eu comecei a elaborar a tridimensionalidade. Direito no s norma, como quer Kelsen, Direito no s fato como rezam os marxistas ou os economistas do Direito, porque Direito no economia. Direito no produo econmica, mas envolve a produo econmica e nela interfere; o Direito no principalmente valor, como pensam os adeptos do Direito Natural tomista, por exemplo, porque o Direito ao mesmo tempo norma, fato e valor]

O curso dos tempos demonstra as grandes transformaes sofridas pelo Direito, como se constata na conformao poltica, econmica e cultural das sociedades mais primitivas. O Direito a evoluo da razo que o configura enquanto Cincia da Justia[footnoteRef:8]. Para alguns, a justia vista como expresso de harmonia aritmtica de proporo, ao passo que, para outros, vista como a fora que liga os homens entre si, determina a passagem do Kaos para o Kosmos[footnoteRef:9], um alvo a ser atingido. Nesse sentido, surgiu a acepo do Direito como algo que converte a uma direo. Servir Justia seria, outrora, servir a Deus; o homem que cumpre a lei no faria outra coisa seno respeitar um enlace que de natureza divina. [8: KELSEN, Hans. Teoria Pura do Direito. So Paulo: Martins Fontes, 1994, 4a ed., p. 33.] [9: BARNES, Jonathan. Filsofos Pr-Socrticos. So Paulo: Martins Fontes, 1997.]

Gradativamente, o Direito foi se desconectando desses elementos mtico-religiosos, guardando, porm, seu sentido primordial. atravs dos tempos que ele se humaniza, no sentido de encontrar em si mesmo, no prprio homem, a sua gnese. Convm mencionar que o homem teve a primeira noo de lei como comando ou imperativo, para depois conceb-la como relao objetiva entre fenmenos. Apesar de o homem haver buscado buscar o Direito e seus fundamentos nos imperativos divinos, constatou que, essencialmente, a racionalidade que mensura a justia estava nele mesmo. Uma vez que a racionalidade, medida do Direito, habita o homem e sua realidade circunstancial, a norma jurdica no pode ser compreendida desconectada de tal contexto. Logo, necessrio que seu estudo (e o que dele decorrer) no perca os valores que determinam os preceitos jurdicos e os fatos que os condicionam, tanto na sua gnese como na sua ulterior aplicao.A escravido marcou a histria da humanidade, surgindo e se estabelecendo de diferentes formas e com finalidades distintas, modificando valores sociais, alm de gerar uma srie de normativos que condicionaram e se desdobraram em mudanas. Com a modificao do Art. 243 da Constituio Federal de 1988, por meio da Emenda Constitucional n 81, h expressamente em nossa Constituio a indicao de sano para aqueles que utilizarem mo de obra escrava em suas produes, alm fazer meno criao de lei especfica para tratar dessa temtica. Tal alterao levanta uma srie de discusses, a se iniciar pela utilizao da expresso trabalho escravo: uma vez estando extinto o regime escravagista no Brasil desde o ano de 1888, pergunta-se se possvel haver referncia, dentro do prprio normativo, sobre um regime ilegal. Alm disso, o ordenamento jurdico brasileiro e os Tratados Internacionais como os da ONU e da OIT fazem referncia a diversas nomenclaturas, controvertendo sua aplicao e podendo levar a decises baseadas em subjetividades, o que acarretaria insegurana jurdica.Ainda, a Emenda Constitucional n. 81 faz meno criao de lei especfica para regular o tema. Todavia, diversas resolues internacionais que j disciplinam a matria compem o ordenamento jurdico brasileiro. Uma vez que h normativos internos e externos que regulem o tema, devem-se averiguar os motivos por que no h eficcia material, justificando a edio de mais um normativo sobre o tema, visto j estar disposto ante a interpretao sistemtica do ordenamento jurdico. Verificar-se- se a criao deste normativo pode ter alcance para alm do mero procedimentalismo, uma vez que podem existir casos que seriam interpretados como trabalho escravo pelos juzes do Direito do Trabalho, apenas com reparaes meramente indenizatrias, e cujo deslinde poderia se adstringir subjetividade do julgador. Nesse ponto, exsurge a possibilidade de insegurana jurdica. Tal patamar demonstra a necessidade de abertura do Direito aos outros ramos do conhecimento, recurso empregado nos casos de remarcao de terras indgenas utilizando perspectivas sociolgicas, fticas e normativas para um reconhecimento fidedigno do caso e uma elucidao justa e efetiva. Para tal, importa constatar como se d a condio do escravo, desde o aliciamento at o amparo ps-libertao, via polticas pblicas de reinsero e promoo de igualdade de acesso a recursos e benefcios. Todos esses questionamentos, por sua relevncia, merecem o olhar acurado do Direito e das Cincia Humanas e Sociais, para que no se repita o feito de 126 anos passados, quando os ex-escravos foram relegados margem da sociedade. Mister, pois, refletir sobre os exemplos do passado para que se possa vislumbrar o futuro e no mais repeti-lo.

ASPECTOS HISTRICO-NORMATIVOS

A anlise das diferentes terminologias utilizadas na conceituao do assunto em tela demonstra o grande debate existente acerca da nomenclatura e real significado das diferentes formas de nos referirmos aos fenmenos que envolvem o presente objeto de estudo. O ordenamento jurdico faz aluso, em diversos momentos, s temticas que tocam ao regime de trabalho em condies anlogas de escravo, levantando a questo sobre em quais casos haver a incidncia da norma e, portanto, sua aplicabilidade. O Cdigo Penal Brasileiro utiliza a expresso condio anloga de escravo; por sua vez; o Art. 149 da Constituio Federal de 1988 utiliza a expresso trabalho escravo; e a Organizao Internacional do Trabalho faz meno a trabalho forado em seus documentos normativos. Essas divergncias podem predispor, diante de uma interpretao literal, a se pensar em inaplicabilidade dos dispositivos e, por conseguinte, em insegurana jurdica. A ausncia de um unidade terminolgica nos dispositivos normativos pode conduzir a, num caso concreto, no incidncia da configurao do trabalho como escravo. Assim, o previsto no Art. 243 da Constituio, a saber, expropriao de terras, bem como pena de dois a oito anos de recluso, conforme preceitua Cdigo Penal, no se aplicaria. Restaria, como recurso, o emprego de interpretao sistemtica do ordenamento jurdico, em busca do elemento teleolgico, visto que as expresses contidas nos normativos comungam do sentimento de repdio ao cerceamento de liberdade, submisso vontade de outrem e a coisificao do indivduo frente ao patrimnio de outrem. Nesse paradigma, vislumbra-se o delineamento da condio de escravo. Empreendendo a anlise da possibilidade de conceituao da temtica do trabalho escravo e todas as suas nomenclaturas existentes na contemporaneidade alm da fuga subjetividade de aplicao do Art. 243, da CF88, faz-se necessria a apreciao da evoluo histrico-normativa no que cinge a escravido. Ademais, os normativos so alterados e alteram o grupo que atingem e pelo qual so atingidos, a perspectiva sociolgica, portanto. Devemos abordar esta evoluo atravs do direito que regia uma sociedade, no mais existente, buscando-se interpretar os normativos, no com olhos treinados pela metodologia jurdica atual, mas sim pelos padres de compreenso daqueles que viveram sob vigncia e incidncia daquele ordenamento. manifesto que os aspectos sociolgicos e econmicos da escravido so em demasia abordados por diversos autores e estudiosos, no entanto raro encontrar a anlise do ordenamento jurdico brasileiro nos sculos em que a escravido no era vista como regime ilegal. A escravido, muitas vezes, enxergada apenas como um fenmeno ftico, percebido sob nuances sociolgicas ou econmicas, que simplesmente existia no Brasil do sculo XIX e que foi extinto por meio da Lei n 3.353, de 13 de maio de 1888[footnoteRef:10], denominada Lei urea. Mas o tema, mesmo aps passados mais de 126 anos, ainda tem relevncia em face do trabalho escravo contemporneo, em regime ilegal, aps essa data. [10: Disponvel o acesso, em 31 de julho de 2014, atravs de meio eletrnico no endereo < http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Leis/LIM/LIM3353.htm>]

Vislumbra-se o instituto jurdico da escravido, por meio de nossas Cartas Magnas, uma vez que estas orientam todo o ordenamento jurdico vigente em cada perodo. A primeira Constituio Brasileira, datada de 25 de maro de 1824[footnoteRef:11], foi outorgada, segundo historiadores[footnoteRef:12], por D. Pedro I. Esta carta trata do Brasil Imperio, sendo apoiada pelo Partido Portugus, que era constitudo por ricos comerciantes portugueses e funcionrios com altos cargos pblicos. Entre as principais medidas dessa Constituio, destaca-se o fortalecimento de poder pessoal do imperador, como a criao do Poder Moderador, que estava acima dos Poderes Executivo, Legislativo e Judicirio. Passando as provncias a serem governadas pelos presidentes nomeados diretamente por esse, alm de estabelecer eleies indiretas e censitrias. Essa foi a Constituio com durao mais longa na histria do pas, num total de 65 anos. A escravido no estava prevista, expressamente, em nenhum dos dispositivos da Constituio Imperial, de 1824, o que no poderia ser diferente, j que, pela sua inspirao liberal, no poderia trair, explicitamente, sua prpria finalidade, em outras palavras, o resguardo das liberdades individuais uma vez que a Constituio de 1824 baseada em valores liberais. Porm, no que tange, esta carta, sobre a atribuio de cidade e liberdade, se torna evidente a excluso dos escravos da condio de pessoa e cidadania e, por conseguinte, da aceitao e no vedao constitucional a este instituto, pela leitura do Art. 6, 1, da Constituio de 1824: [11: Disponvel o acesso, em 31 de julho de 2014, atravs de meio eletrnico no endereo < http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicao24.htm>] [12: FREITAS, Decio. O homem que inventou a Ditadura no Brasil. Sulinas., p. 72.]

Art. 6. So Cidados Brazileiros:I. Os que no Brazil tiverem nascido, quer sejam ingenuos, ou libertos, ainda que o pai seja estrangeiro, uma vez que este no resida por servio de sua Nao.II. Os filhos de pai Brazileiro, e Os illegitimos de mi Brazileira, nascidos em paiz estrangeiro, que vierem estabelecer domicilio no Imperio.III. Os filhos de pai Brazileiro, que estivesse em paiz estrangeiro em sorvio do Imperio, embora elles no venham estabelecer domicilio no Brazil.IV. Todos os nascidos em Portugal, e suas Possesses, que sendo j residentes no Brazil na poca, em que se proclamou a Independencia nas Provincias, onde habitavam, adheriram esta expressa, ou tacitamente pela continuao da sua residencia.[Grifo nosso]No que tange esses direitos, dividem em ingnuos e libertos. Sendo ingnuos aqueles que j nascem livres e libertos aqueles que aps nascidos na condio de escravos vieram a conseguir a liberdade. Sendo assim, a Carta Imperial, atribua a condio de cidados apenas queles indivduos que apresentavam como ingnuos ou libertos, ao menos tacitamente, havendo a possibilidade de existncia de indivduos que no poderiam ser cidados, por no possurem este status libertatis, ou seja, porque eram escravos.O art. 94, 2, do mesmo normativo constitucional, reduz o liberto condio de cidado de segunda classe: apesar de os libertos serem cidados e, portanto, gozarem de liberdade, no poderiam ser eleitores e nem seria possvel o acesso a cargos pblicos. Havendo, assim, tal diferenciao que insere e, ao mesmo exclui.Observe-se que o liberto, em verdade, no ordenamento jurdico brasileiro, vivia insegurana jurdica, j que existia uma real possibilidade jurdica de perda do seu status libertatis em face da possibilidade de se invocar a ingratido por supostos atos praticados pelo alforriado em vista do disposto no no 7, Ttulo 63, do Livro IV, das Ordenaes Filipinas:Se algum forrar seu escravo, livrando-o de toda a servido, e depois que for forro, commetter contra quem o forrou, alguma ingratido pessoal em sua presena, ou em sua absencia, quer seja verbal, quer de feito e real, poder este patrono revogar a liberdade, que deu a este liberto, e reduzil-o servido, em que antes estava. E bem si por cada huma das outras causas de ingratido, porque o doador pde revogar a doao feita ao donatrio, como dissemos acima.

Nota-se uma contradio, se a Constituio que deveria servir de fundamento para a defesa de direitos fundamentais, no declara, ao menos tacitamente, a existncia da escravido, no tolerando a violao do direito liberdade[footnoteRef:13], no haveria razo para que, de forma tcita, este abominvel instituto civil viesse a prosperar no nosso solo. No entanto, aos olhos daquela sociedade, no era esta a interpretao. Mas essa constradio, em vias normativas e prticas se justifica uma vez que os fundamentos da sua economia argumentavam em favor existncia da situao ftica da escravido[footnoteRef:14], pois, pelos diplomas legais existentes, a vigncia das normas referentes a sua manuteno passaram a ser, cada vez com mais intensidade, questionadas pela sociedade, levantando o debate a cerca da legitimidade da escravido. [13: Artigo n 179, I e VII, da Constituio de 1824.] [14: SENTO-S, Jairo Lins de Albuquerque. Trabalho Escravo no Brasil na atualidade. So Paulo: LTr, 2000., p.37-39]

Os questionamentos em face da legitimidade da escravido, dentre demais fatores polticos e sociais, acarretaram na elaborao de normativos infra-constitucionais que conduziram abolio da escravatura. So elas: Lei Eusbio de Queiroz, Lei do Ventro Livre e Lei do Sexagenrio.A Lei n 581 - denominada Lei Eusbio de Queiroz[footnoteRef:15] -, aprovada em 4 de setembro de 1850, determinou o fim do trfico de escravos para o Brasil e determinava penas severas para os traficantes, conforme a leitura dos Art. 1 e 5, do mesmo normativo: [15: Disponvel o acesso, em 31 de julho de 2014, atravs de meio eletrnico no endereo ]

Art. 1 As embarcaes brasileiras encontradas em qualquer parte, e as estrangeiras encontradas nos portos, enseadas, ancoradouros, ou mares territoriaes do Brasil, tendo a seu bordo escravos, cuja importao he prohibida pela Lei de sete de Novembro de mil oitocentos trinta e hum, ou havendo-os desembarcado, sero apprehendidas pelas Autoridades, ou pelos Navios de guerra brasileiros, e consideradas importadoras de escravos.Aquellas que no tiverem escravos a bordo, nem os houverem proximamente desembarcado, porm que se encontrarem com os signaes de se empregarem no trafico de escravos, sero igualmente apprehendidas, e consideradas em tentativa de importao de escravos.Art. 5 As embarcaes de que trato os Artigos primeiro e segundo e todos os barcos empregados no desembarque, occultao, ou extravio de escravos, sero vendidos com toda a carga encontrada a bordo, e o seu producto pertencer aos apresadores, deduzindo-se hum quarto para o denunciante, se o houver. E o Governo, verificado o julgamento de boa presa, retribuir a tripolao da embarcao com somma de quarenta mil ris por cada hum africano apprehendido, que era distribuido conforme as Leis respeito.Em mesma linha e argumentos, daqueles a favor da abolio, surge a Lei n 2140 denominada Lei do Ventre Livre[footnoteRef:16], aprovada em 28 de setembro de 1871, declarava libertos os filhos das escravas nascidos a partir da aprovao da lei. Os defensores da Lei do Ventre Livre afirmavam que ela, junto com a proibio do trfico negreiro, garantia que a escravido no Brasil fosse extinta aos poucos. Causando temor dos donos de escravos sob o argumento de ausncia de mo de obra para trabalhar em suas plantaes. No entanto, houve pouco efeito prtico, uma vez que este filhos ficavam sob tutela dos donos das mes at os 8 ou 21 anos: [16: Disponvel o acesso, em 01 de agosto de 2014, atravs de meio eletrnico no endereo < http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Leis/LIM/LIM2040.htm.]

Art. 1 Os filhos de mulher escrava que nascerem no Imperio desde a data desta lei, sero considerados de condio livre. 1 Os ditos filhos menores ficaro em poder o sob a autoridade dos senhores de suas mis, os quaes tero obrigao de crial-os e tratal-os at a idade de oito annos completos. Chegando o filho da escrava a esta idade, o senhor da mi ter opo, ou de receber do Estado a indemnizao de 600$000, ou de utilisar-se dos servios do menor at a idade de 21 annos completos. No primeiro caso, o Governo receber o menor, e lhe dar destino, em conformidade da presente lei. A indemnizao pecuniaria acima fixada ser paga em titulos de renda com o juro annual de 6%, os quaes se consideraro extinctos no fim de 30 annos. A declarao do senhor dever ser feita dentro de 30 dias, a contar daquelle em que o menor chegar idade de oito annos e, se a no fizer ento, ficar entendido que opta pelo arbitrio de utilizar-se dos servios do mesmo menor.

Ainda neste mesmo intuito, houve a lei de nmero 3.270[footnoteRef:17], aprovada em 28 de setembro de 1885, previa a libertao de escravo acima de 65 anos. No entanto, em funo da expectativa de vida, no houve aplicabilidade efetiva. Esta lei era denominada Lei do Sexagenrio e fixava valores indenizatrios aos proprietrios dos escravos quando de sua libertao. Alm da imagem representativa do negro como perigoso, passional, feroz, traioeiro e insubordinado no apenas impulsionou o movimento abolicionista, mas tambm a alternativa imigrantista. A entrada em massa dos africanos alavancada pela produo do caf no Sul, na dcada de 1830, e as notcias de insurreies como a Revolta dos Mals[footnoteRef:18] e a Revoluo do Haiti[footnoteRef:19], geraram temor pela suspeita de uma possvel rebelio generalizada. Havendo, portanto, medo e racismo, contribuindo tanto para a opo de no mais utilizao de meios de produo utilizando mo de obra escrava e, por consequncia, a preferncia pela mo de obra branca imigrante. Diante do temor de possveis rebelies, medo este que tomou conta da provncia, os deputados impuseram uma srie de barreiras ao trfico, por meio de altos impostos, com a inteno de que o capital passasse a ser direcionado a investimentos de imigrao. Por outro lado, porm em mesma linha, os imigrantes, por sua fama de grevistas e atos de insubordinao, tambm causavam preocupao e antipatia nos polticos e proprietrios, mas no fortes o suficiente para sobrelevar o medo e preconceito em face dos trabalhadores nacionais. Por meio da anlise histrico-normativa nota-se que a abolio, em termos histrico-sociolgicos, j era aceito e desejado, embora no por razes voltadas ao reconhecimento dos negros como pessoas de direito e respeitada sua dignidade, mas sim embasados pelo crescimento capitalista, medo e preconceito. [17: Disponvel o acesso, em 01 de agosto de 2014, atravs de meio eletrnico no endereo < http://www2.camara.leg.br/legin/fed/lei/1824-1899/lei-3270-28-setembro-1885-543466-norma-pl.html>] [18: O movimento organizado por escravos africanos muulmanos, denominados Mals, ocorrido no Estado da Bahia, organizou esforos em torno de propostas radicais para libertao dos demais escravos africanos que fossem muulmanos, sendo que a tomada do governo constitua um dos principais objetivos dos rebeldes.] [19: A independncia do Haiti, influenciada pela Revoluo Francesa, considerada a nica revolta de escravos bem-sucedida desde a Antiguidade clssica. Ocorreu entre os anos de 1791 e 1804.]

A inteno, com o conjunto das normas acima, era a extino gradual do escravagismo, uma vez que no se permitia a entrada de novos escravos, os nascidos aps a Lei do Ventre Livre no seriam escravos e sim livres, e aqueles que ultrapassassem os 65 anos tornar-se-iam livres tambm, portanto. Mas, quando tratamos da vida e dignidade no h o que se esperar - embora a sano desta lei no se configura pelo reconhecimento de direitos. No ano de 1888, o Brasil abole a escravatura. Uma abolio tardia em vista deste mal j ter sido vedado por meios normativos na Inglaterra, Chile, Mxico, Frana (e todas suas colnias), Venezuela, Peru, Estados Unidos, Portugal. E somente em 1888 o Brasil Imprio abole a escravido por meio da Lei n 3353, de 13 de maio de 1888, conhecida como Lei urea:A Princesa Imperial Regente, em nome de Sua Majestade o Imperador, o Senhor D. Pedro II, faz saber a todos os sditos do Imprio que a Assemblia Geral decretou e ela sancionou a lei seguinte:Art. 1: declarada extincta desde a data desta lei a escravido no Brazil.Art. 2: Revogam-se as disposies em contrrio.Manda, portanto, a todas as autoridades, a quem o conhecimento e execuo da referida Lei pertencer, que a cumpram, e faam cumprir e guardar to inteiramente como nella se contm.

O normativo extingue o regime, mas nada trata sobre a integrao dos, at ento, escravos na sociedade. Tambm se silencia quanto transio do trabalho escravo para o trabalho livre. Em outros termos, retirou dos latifundirios a responsabilidade por seus escravos, deixando-os a propria sorte, como Lima Barreto, escrevendo sobre o perodo ressaltou: Nunca houve anos no Brasil em que os pretos (...) fossem mais postos margem[footnoteRef:20]. O novo regime, apesar das promessas, no viera para democratizar a sociedade ou possibilitar uma maior mobilidade social. Por suas caractersticas acentuadamente oligrquicas, a Repblica brasileira chegara para manter intocada uma estrutura elitista e excludente. Somado a isso, os fazendeiros em funo da Revoluo Industrial e do capitalismo que se expandia a passos largos haviam como compensar a mo de obra dos escravos, uma vez que o poder pblico financiava a imigrao de europeus que serviam de mo de obra com baixssimo custo. A Abolio no foi, portanto uma demanda por justia social, mas sim uma necessidade premente da insero do Brasil na economia mundial, que j abandonara o escravagismo em favor do trabalho assalariado, mais barato e eficiente[footnoteRef:21]. Em vista da alterao social, antes composta por nobres e agora por grandes burgueses e, em funo da expanso industrial capitalista, havia o desejo de maior participao em tomada de decises. Aqueles que detinham poder financeiros e de tomada de decises, j haviam se descontentados com a coroa devido abolio, acrescido de seus interesses poltico-econmicos contriburam para a revoluo elitista que acarretou na Proclamao da Repblica, em 15 de novembro de 1889, e a convocao da Assembleia Constituinte para elaborao de uma nova Carta Marga. [20: LIMA BARRETO. Toda a crnica. Rio de Janeiro:Agir, 2004, T. I e T. II] [21: Segundo o IBGE, entre 1871 e 1880, chegam ao Brasil 219 mil imigrantes. Na dcada seguinte, o nmero salta para 525 mil. E, no ltimo decnio do sculo XIX, aps a Abolio, o total soma 1,13 milho.]

A nova Constituio traz como caractersticas: a organizao federal se estrutura em forma de governo sob regime representativo e presidencial; A constituio dos Estados Unidos do Brasil em 1891 se deu ao modelo da Constituio Norte Americana; traz um catlogo de Direitos Individuais do Cidado. Ressalta-se algumas mudanas quanto a anterior carta constitucional como a separao em trs poderes, conforme modelo de tripartio de Montesquieu (na de 1824 eram 3 poderes + poder moderador); a separao entre Igreja Catlica e Estado (ao contrrio da de 1824 que tinha Igreja e Estado unidos), permitindo o livre culto de outras religies; Estado Brasileiro dividido em Estados membros; instaura o controle difuso de constitucionalidade, ou seja, qualquer juiz pode declarar inconstitucional uma lei; traz o artigo de garantias individuais, dando direito ao homem a vida, liberdade e bens (propriedades); Congresso bicameral; o voto deixa de ser censitrio (apenas os ricos voltam, como em 1824) e passa a ser estendido direito ao voto todos os homens acima de 21 anos, no sendo eleitores mendigos e analfabetos; regula estado de stio; instaura o TCU (Tribunal de Contas da Unio; incluso do habeas corpus; o Art. 69 regula quem brasileiro, estabelece os critrios de atribuio de nacionalidade. Sendo esta a primeira constituio em que no h implcita ou explicitamente diferenciao da atribuio de direitos em face da cor. Consagra e confirma que o trabalho escravo em regime legal est extinto.Em termos normativos, no h o que se falar em permissividade legal no que tange o sistema de trabalho escravagista. No entanto, tambm no h o que se falar em politicas pblicas de incluso dos negros nos meios de produo em especial, com a competio de mo de obra de imigrantes. Isso, pois acreditava-se, at ento, na ameaadora agressividade do negro como tambm na sua inadequao ao trabalho, ambas as caractersticas ligadas sua suposta inferioridade racial ou cultural. O mximo que se concedia em termos do destino dos homens nacionais livres e pobres era esperar que no futuro eles se regenerassem de seus defeitos por meio de sua absoro pela populao de imigrantes, via miscigenao ou simplesmente exemplo moralizador[footnoteRef:22]. O destino dos negros, ps-abolio, no era mais uma preocupao, como destaca Florestan Fernandes[footnoteRef:23]: [22: AZEVEDO, Clia M. M. (1987), Onda Negra, Medo Branco: O Negro no Imaginrio das Elites. Brasil, Sculo XIX. Rio de Janeiro, Paz e Terra., p. 98-112] [23: FERNANDES, Florestan. Integraao Do Negro Na Sociedade de Classes, V.1. So Paulo: Ed. Globo., p. 187. ]

A preocupao pelo destino do escravo se mantivera em foco enquanto se ligou a ele o futuro da lavoura. Ela aparece nos vrios projetos que visaram regular, legalmente, a transio do trabalho escravo para o trabalho livre, desde 1823 at a assinatura da Lei urea. (...) Com a Abolio pura e simples, porm, a ateno dos senhores se volta especialmente para seus prprios interesses. (...) A posio do negro no sistema de trabalho e sua integrao ordem social deixam de ser matria poltica. Era fatal que isso sucedesse.

Diante da evoluo normativa acerca do tema, o Cdigo Penal de 1940, traz expresso em seu artigo de nmero 149[footnoteRef:24], a condio de crime quele que reduzir algum a condio anloga a de escravo, prevendo ao infrator pena de dois a oito anos. No entanto, este artigo nos leva subjetividade, uma vez que apenas penaliza e no esgota a temtica em face de conceituao e em termos de aplicabilidade da norma. Ressalta-se ainda, que a norma j contempla, de forma abrangente, aquele que possa vir a ter sua vontade submissa de outrem, no mais tipificando o negro ou o imigrante. [24: Teor do Artigo n 149, do Cdigo Penal Brasileiro, o DECRETO-LEI No 2.848, DE 7 DE DEZEMBRO DE 1940: Art. 149. Reduzir algum a condio anloga de escravo, quer submetendo-o a trabalhos forados ou a jornada exaustiva, quer sujeitando-o a condies degradantes de trabalho, quer restringindo, por qualquer meio, sua locomoo em razo de dvida contrada com o empregador ou preposto: Pena - recluso, de dois a oito anos, e multa, alm da pena correspondente violncia. 1o Nas mesmas penas incorre quem: I - cerceia o uso de qualquer meio de transporte por parte do trabalhador, com o fim de ret-lo no local de trabalho; II - mantm vigilncia ostensiva no local de trabalho ou se apodera de documentos ou objetos pessoais do trabalhador, com o fim de ret-lo no local de trabalho. 2o A pena aumentada de metade, se o crime cometido: I - contra criana ou adolescente; II - por motivo de preconceito de raa, cor, etnia, religio ou origem. ]

A essncia do delito de reduzir algum a condio de escravo consiste na sujeio de uma pessoa outra, no domnio no sentido psicolgico e fsico seja pelo endividamento ou a utilizao da fora. A liberdade do sujeito passivo suprimida de fato, mesmo que permanea como estado de direito, pela tica do catlogo de direitos. A relao que se estabelece entre os sujeitos do delito semelhante de escravido, pois visa tornar a pessoa totalmente submissa vontade de outrem, como se escravo fosse. Trata-se de privao de liberdade em sua acepo mais ampla. O crime consiste em apoderar-se de um homem para reduzi-lo condio de coisa, sem lhe reconhecer direito no mbito dos Direitos Humanos, Direitos Sociais, Princpio da Dignidade da Pessoa Humana e Trabalhistas neste ltimo, no que tange contrapartida s suas prestaes, devido a venda de sua fora de trabalho. Este normativo, ganha amplitude conceitual, promovida pela Lei 10.803/2003, especificando a conduta descrita, exigindo uma das condutas descritas pelo texto da lei que complementa o Art. 149 do Cdigo Penal. As condutas descritas, versam sobre sujeio ou submisso do outro algum, conforme dispe Adonia Antunes Prado[footnoteRef:25], este normativo pressupe o conjunto ou atos isolados de : trabalhos forados, ou seja, a trabalhos ou servios exigidos sob ameaa de alguma punio e/ou contra a sua vontade; jornada exaustiva, esgotante, alm da que considerada aceitvel por qualquer ser humano; sujeio (submisso) a condies degradantes, em que se pode identificar pssimas condies de trabalho e de remunerao; e, por fim, restrio (limitao), por qualquer meio, da locomoo em razo de dvida contrada com o empregador ou preposto, chamada servido por dvida, consistente no aprisionamento do trabalhador por dvidas contradas em decorrncia do trabalho[footnoteRef:26]. [25: Ricardo Rezende; PRADO, Adonia Antunes (Orgs.). Olhares sobre a Escravido Contempornea: novas contribuies crticas. Cuiab: EDUFMT, 2011., p. 233 -237] [26: Ricardo Rezende; PRADO, Adonia Antunes (Orgs.). Olhares sobre a Escravido Contempornea: novas contribuies crticas. Cuiab: EDUFMT, 2011., p. 223.]

A temtica acerca do trabalho escravo deve ser abordada de forma interdisciplinar, pois diversas so as reas envolvidas para regulamentar e combater a prtica existente desde o imprio no Brasil. A abordagem do mbito do Direito Administrativo se deve, principalmente pela sanso administrativa trazida pela nova redao do Art. 243 da Constituio Federal de 1988 trazida pela EC 81/2014: a Expropriao[footnoteRef:27]. [27: Todos os Tratados tem o papel de defender os interesses da pessoa (ex parte Populi) e no os interesses do governo (ex parte principis). O direito internacional que antes era limitado s relaes entre os estados passa ser abrangido para os direitos e liberdades fundamentais e os direitos das gentes. A partir dessa tica internacional humanizada a CF/88 passou a adotar princpios como o da Dignidade da Pessoa Humana e os Direitos Humanos como um todo, dando suporte axiolgico para todo o ordenamento jurdico.]

Art. 243. As propriedades rurais e urbanas de qualquer regio do Pas onde forem localizadas culturas ilegais de plantas psicotrpicas ou a explorao de trabalho escravo na forma da lei sero expropriadas e destinadas reforma agrria e a programas de habitao popular, sem qualquer indenizao ao proprietrio e sem prejuzo de outras sanes previstas em lei, observado, no que couber, o disposto no art. 5.Pargrafo nico. Todo e qualquer bem de valor econmico apreendido em decorrncia do trfico ilcito de entorpecentes e drogas afins e da explorao de trabalho escravo ser confiscado e reverter a fundo especial com destinao especfica, na forma da lei.

A regulamentao trazida pela doutrina de Direito Administrativo, no que se refere ao Estatuto trazido pelo Art. 243 da CF/88 - que segundo Maria Sylvia Zanella Di Pietro esquecida por boa parte da dogmtica administrativa ptria - controversa no sentido de tratar as expresses expropriao e desapropriao como sinnimas. Entretanto pacfico o entendimento que a punio trazida pelo Art. 243 da CF/88 se difere dos demais atos desapropriatrios do Estado no sentido de no haver indenizao para o proprietrio das terras expropriadas, denota-se tambm, que a expropriao abordada como uma modalidade de desapropriao das terras, tratada ora como desapropriao-punio, ora como desapropriao-confisco.Para fins de punio administrativa independe o uso da nomenclatura, entretanto importante destacar que o Art. 243 da CF/88 explicita, atravs do Art. 1 Lei n 8.257/91 o destino das terras expropriadas no que se refere cultura ilegal de plantas psicotrpicas especificamente, entretanto nada mencionado no que se refere ao destino das terras expropriadas por fora da explorao de trabalho escravo. Destaca-se, nesse ponto, que a lei a ser criada para regulamentar o trabalho escravo trazido pelo Art. 243 da CF/88 deve se preocupar no s em delimitar um parmetro sobre o que ou no trabalho escravo, mas tambm em determinar um destino para as terras expropriadas.A competncia para a criao de leis, no Brasil, entretanto no do poder judicirio, cabendo principalmente ao poder legislativo, que eleito pela populao brasileira, a produo das leis brasileiras. A Proposta de Emenda Constitucional n 57 de 1999, conhecida como PEC do Trabalho Escravo foi de iniciativa do Senado. Aps a iniciativa, uma grande discusso ocorreu, tanto no Senado, casa iniciadora quanto na Cmara de Deputados, casa revisora. Um dos pontos de divergncia trazidos pela bancada ruralista - contrria EC 81/14 fora justamente a questo de confisco das terras em que a mo de obra escrava fosse explorada. Nesse sentido o Deputado Nelson Marquezelli (PTB-SP) destacou que:Achamos que esta Casa, mais uma vez, vai dar um tiro no p, porque desapropriao confisco de propriedade. Esto misturando alhos com bugalhos! O problema de polcia, penalidade do proprietrio, at crime hediondo aceitvel, mas no o confisco. Expropriao confisco! - discursou Marquezelli, verbalizando o pensamento dos produtores rurais.Aps a promulgao de nossa vigente Constituio, no ano de 1988, o Ministrio Pblico, identificado como fiscal da lei passou a atuar de forma mais efetiva como rgo agente fiscalizador. Diversas denncias sobre crimes de trabalho escravo e crimes correspondentes foram, e continuam sendo, propostos pelo Ministrio Pblico Federal em todo o territrio nacional. As dificuldades no combate ao crime de trabalho escravo encontram bices no que tange a morosidade do processo penal, a discusso acerca da competncia do juzo seja pela at ento recente indefinio, pela ausncia de uma poltica pblica de reinsero dos trabalhadores, que libertos do trabalho escravo, a este retornam por falta de outra opo.Para o Ministrio Pblico Federal, o autor do crime compreendido na pessoa do empregador final[footnoteRef:28], o proprietrio do imvel rural, responsvel pelo que acontece em seus domnios. No podemos dissociar a figura do fazendeiro da responsabilidade criminal, quando ele se utiliza de um terceiro para fraudar a legislao trabalhista e submeter seus empregados escravido, com fins de lucro. No se excluindo, portanto, a responsabilidade trabalhista e, muito menos, a responsabilidade criminal. E neste ponto, pungente a discusso em face da competncia de juzo. Por este ato de explorao tocar em violar tanto Direitos Humanos, Trabalhistas, Sociais h o Cdigo Penal e o Direito Administrativo houve o debate sobre qual seria o juzo competente para o processo e julgamento. [28: Ricardo Rezende; PRADO, Adonia Antunes (Orgs.). Olhares sobre a Escravido Contempornea: novas contribuies crticas. Cuiab: EDUFMT, 2011., p. 239]

Embora o Brasil seja signatrio das Convenes 29 e 105 da OIT (Organizao Internacional do Trabalho), que visam combater o trabalho escravo, quando ocorre, em reas rurais, este delito no consegue alcanar repercusso internacional, o que implica num bice incidncia do previsto no Art. 109, inc. V, da Constituio Federal para caracterizar a competncia da Justia Federal. A interpretao sistmica e, at mesmo, literal conduzem competncia da Justia Federal todos os delitos contra a organizao do trabalho, neste caso, o inciso VI, do mesmo normativo constitucional, motivo pelo qual, enquanto no era prevista literalmente a competncia da Justia Federal para o julgamento do crime de trabalho escravo, as denncias incluam na capitulao dos crimes contra a organizao do trabalho (art. 197 a 207, todos do Cdigo Penal). No entanto, na esteira da Smula 115, do extinto Tribunal Federal de Recursos, anterior Promulgao da Constituio Federal de 1988, o Supremo Tribunal Federal restringiu essa competncia. Esse era o entendimento que vinha sendo seguido pelo Superior Tribunal de Justia e demais tribunais do pas, no sentido de que os crimes contra a organizao do trabalho somente eram de competncia da Justia Federal quando os delitos atingissem ao sistema de rgos e instituies que preservassem, coletivamente, os direitos e deveres dos trabalhadores e no quando estes eram considerados individualmente. Mas no se trata apenas de mera leso a direito individual do trabalhador e em face dos compromissos internacionais assumidos pelo Brasil a esse respeito, o julgamento este delito deveria ser de competncia da Justia Federal. Este debate acerca da competncia chegou ao fim com a deciso do STF[footnoteRef:29], quando determinado o processamento e julgamento de crime de reduo condio anloga de trabalho escravo pela Justia Federal. Neste julgamento, ainda, se determinou que o Art. 149 do Cdigo Penal, deveria ser classificado como crime contra a organizao do trabalho. [29: RECURSO EXTRAORDINRIO: n. 398041/PA do Supremo Tribunal Federal.]

No que se finaliza o embate acerca da competncia, inclinamo-nos a analisar, segunda a Teoria Tridimensional do Direito, a questo ftica - inclusive, sob a tica da atuao do Ministrio Pblico como agente fiscalizador da lei. Em termos de dados estatsticos, no h um levantamento objetivo e que retrate a real situao da explorao contempornea, em condies anlogas a de escravo.

FUNDAMENTOS DA CONDIO DE ESCRAVO NA CONTEMPORANEIDADENo Brasil, o trabalho escravo, uma das formas pelas quais a condio de escravo se verifica na contemporaneidade, resultante do modelo de produo e relao econmica estruturada a partir da Lei de Terras do ano de 1850. Essa lei manteve e fundamentou a utilizao de mo de obra em condies anlogas a de escravo sustentada, principalmente, pela racionalidade inerente ao modelo capitalista. O final da escravido, em face da produo fundiria, poderia representar um colapso para os grandes produtores rurais. Em busca de evitar crises de produo e, com inteno de promover o crescimento e desenvolvimento, o governo brasileiro promoveu meios para garantir que poucos mantivessem acesso aos meios de produo, ou seja, criou meios de restrio de acesso a terra. A Lei de Terras foi aprovada poucas semanas aps a extino do trfico de escravos, em 1850, e criou mecanismos para a regularizao fundiria. Esta lei antecedeu a trplice normativa que tinha como intentio a gradual extino do modo de produo escravagista, contida pelas Lei Eusbio de Queiroz, Lei do Ventre Livre e Leio do Sexagenrio. As terras devolutas[footnoteRef:30] passaram para as mos do Estado, que passaria a vend-las e no do-las como era feito at ento. Logo, a terra passa a ser economicamente afervel, o que impedia sua utilizao para a produo por libertos e imigrantes, mantendo, portanto, a condio de dominante e dominado. [30: [Do lat. devolutus.] Adj. 1. Adquirido por devoluo. 2. Desocupado; desabitado, vago.3 AURLIO)]

O custo da terra passou a existir, portanto, mas no era um bice significativo para os grandes fazendeiros, que dispunham de capital para a ampliao de seus domnios. Porm, tal normativo foi o suficiente para excluir os, agora, libertos e pobres do processo legal para aquisio de propriedade. Da mesma forma, a lei proibia que imigrantes que tiveram sua vinda ao pas financiado pelo Governo, em funo da poltica de imigrao, comprassem terras at trs anos aps a sua chegada. Ou seja, mantinha a fora de trabalho disposio do capital. Criava, neste sentindo, mecanismos impeditivos de alterao do quadro social, subjugando, mais uma vez, a vontade e as possibilidades dos negros e explorados (no caso dos imigrantes), logo garantindo o crescimento capitalista, mantendo a mo de obra reprimida e alijada dos meios de produo.Com o trabalho em cativeiro, a terra poderia estar disposio para livre ocupao, pois seria ocupada apenas pelos grandes proprietrios que atendiam s expectativas do Imprio. No entanto, com o trabalho livre, ao menos em termos legais, o acesso terra precisava ser restringido. A existncia de terras livres garante produtores independentes e dificulta a centralizao do capital e da produo baseada na explorao do trabalho. Dessa maneira, a Lei de Terras, nascida do fim do trfico de escravos, est na origem da atual explorao do trabalhador rural e, portanto, da escravido contempornea. As legislaes que se sucederam a ela e trataram do assunto apenas reafirmaram medidas para garantir a existncia de reserva de mo de obra sem acesso terra, mantendo baixo o nvel de remunerao e de condies de trabalho. Com a Lei de 1850 estava formatada uma nova perspectiva para sujeitar os trabalhadores. Ela tambm resolveu outro problema crucial: ao dificultar o acesso e legalizar a posse, criou valor para algo que at ento no o possua a terra. Assim, a terra passou a ser garantia de crdito. O trabalho, liberto da condio de renda capitalizada, deixa de fazer parte do capital para se contrapor a ele. No era mais preciso comprar a capacidade de gerar riqueza: com o fim do direito propriedade privada sobre seres humanos, o capital passou a ganhar liberdade.Sendo assim, mesmo aps a Lei urea, a estrutura do trabalho escravo mantinha-se, porm sem a figura do escravo, mas com a figura do trabalhador em condio de escravo. H dois exemplos que corroboram a afirmao feita: o primeiro so as pessoas levadas a trabalhar na indstria da borracha na Amaznia; o segundo so os colonos estrangeiros trazidos para as fazendas de caf do interior do Estado de So Paulo. Pela descrio da situao, possvel constatar que h um padro na forma de explorao desses trabalhadores, que continua o mesmo nos dias de hoje, na forma da restrio de acesso a recursos e benefcios, preconceito e o endividamento ilegal. O endividamento ilegal inicia juntamente com a explorao, uma vez que se requerido crdito para compra de ferramentas a serem utilizadas, deslocamento at o local do trabalho, tal qual as restries impostas aos imigrantes que tiveram seu deslocamento financiado, assim como os gastos com alimentao, em algumas situaes, nas cantinas do local de atuao do escravo contemporneo. Soma-se a isso a insipincia e o desconhecimento do explorado e, por outro lado, o jogo manipulador que o mantm prisioneiro por dvidas, uma vez que os gastos so maiores que o retorno pecunirio prometido. Enquanto deve, o trabalhador no pode abandonar o seu patro credor; existe entre os proprietrios um compromisso sagrado de no aceitarem a seu servio empregados com dvidas para com outro e no saldadas. O mesmo jogo envolvendo desigualdade e impossibilidade de acesso, ignorncia em seu sentido etimolgico e a utilizao da fora foi arqueado no Brasil ps-abolio e nos dias atuais.O colono e o liberto no vendiam sua fora de trabalho, trocavam-na pela subsistncia. E se estivesse insatisfeito com o patro explorador, teriam que procurar outro que comprasse suas dvidas, permanecendo a coisificao do ser humano. Perante a lei, estavam livres, contudo, economicamente, eram similares s condies de escravos dos anos anteriores a 1888. A servido por dvida consolidou-se como meio empregado para reprimir a fora de trabalho nas situaes de expanso do capital sobre formas no capitalistas de produo. Para alm dos efeitos da Lei urea, trabalhadores rurais do Brasil ainda vivem atualmente sob a ameaa do cativeiro. Mudaram-se as nomenclaturas, mantiveram-se os mtodos. No so apenas as velhas formas de explorao que se inserem nas novas, mas as novas recorrem s velhas sempre que possvel.

DIREITOS HUMANOS E CONSTITUCIONALIDADE

O principal marco para a institucionalizao dos direitos humanos no Brasil foi a Constituio Federal de 1988, que emerge a partir do processo de redemocratizao do Estado, abrindo, no mbito do sistema jurdico, uma nova ordem em que normas foram agregadas e possibilitaram a maior garantia de direitos.Atualmente, quase todos os tratados internacionais significativos no que se refere aos Direitos Humanos e ao Sistema Interamericano de Direitos Humanos foram ratificados pelo Brasil, e, por isso, vigem na ordem jurdica ptria. A prpria Constituio aborda os tratados internacionais no seu 2 do Artigo 5: 2 - Os direitos e garantias expressos nesta Constituio no excluem outros decorrentes do regime e dos princpios por ela adotados, ou dos tratados internacionais em que a Repblica Federativa do Brasil seja parte. Demonstra-se, assim, existir dupla fonte normativa com a mesma carga de eficcia e de importncia: Direito Interno e Direito Internacional, e, em caso de conflito, deve prevalecer o Direito mais benfico pessoa protegida (princpio internacional homine).H tambm uma otimizao e maximizao dos dois sistemas, podendo aplicar ambas as normas que so aparentemente opostas para que se possa garantir a melhor proteo. Ocorre, entretanto, uma divergncia de opinies doutrinrias quanto a admisso dos tratados internacionais. MAZZUOLI (2011) apoia que o 2 do artigo 5 (clusula aberta) da CF sempre admitiu o ingresso dos tratados internacionais de proteo dos direitos humanos no mesmo grau hierrquico que as emendas constitucionais. Outros, como MENDES (2011) vo alm, dizendo que os tratados so supraconstitucionais por contar com a principiologia internacional, fora expansiva dos direitos humanos e caracterizao como jus congens internacional.Comment by Cibele Cheron: Colocar a referncia em nota de rodap, como vocs vinham fazendo, e retirar a referncia AUTOR(data) do texto. Fica direto o contedo da afirmativa: O 2 do Art. 5 ...Comment by Cibele Cheron: Idem comentrio anterior.Aps o parmetro geral acerca dos Tratados Internacionais e sua influncia no ordenamento jurdico brasileiro, se faz necessrio destacar que o Brasil pas-membro da OIT, agncia da ONU que tem por misso promover oportunidades para que homens e mulheres possam ter acesso a um trabalho decente e produtivo, em condies de liberdade, equidade, segurana e dignidade. Alm de promover iniciativas no mbito das Polticas Pblicas, a OIT responsvel pela adoo de Convenes relativas ao Trabalho Digno. O Brasil atualmente ratificou 97 Convenes da OIT, a primeira em 1934, sendo que duas so especificamente sobre o tema trabalho escravo. So elas: Conveno n. 29: Trabalho Forado ou Obrigatrio e a Conveno n. 105: Abolio do Trabalho Forado, em que so traados parmetros gerais sobre o significado de Trabalho Forado, bem como a aplicao para suas respectivas pocas.Alm das Convenes, no mbito Internacional, em 2005 foi lanado pela Procuradoria Geral da Repblica o Pacto Nacional pela Erradicao do Trabalho Escravo, nesse pacto foram determinadas entre outras, metas para a erradicao do trabalho escravo no Brasil. Entretanto as metas estabelecidas pelo Pacto no foram suficientes para erradicar o trabalho escravo no Brasil.Nesse sentido, em 2010, o Brasil recebeu um Relatrio da Relatora Especial (da ONU) sobre Formas Contemporneas de Escravido, incluindo suas causas e consequncias sobre sua visita ao Brasil. Nesse relatrio, foi feita uma breve narrativa acerca da histria do trabalho escravo no Brasil, assim como um comparativo com as formas contemporneas de escravido aqui verificadas. O relatrio indicou que as principais zonas em que o trabalho escravo contemporneo se concentra so o setor rural e a indstria de vestimenta. Diante dessas percepes, foram elencadas recomendaes especficas ao combate ao trabalho escravo em reas rurais, recomendaes para o trabalho escravo na indstria de vestimenta, recomendaes comunidade empresarial e, por fim, comunidade internacional. Haja vista as diferenas e as complexidades encontradas nas definies dos diferentes tipos de trabalho escravo contemporneos elencados (tambm) pelo Relatrio, ocorre uma questo dicotmica e talvez insolvel em termos apenas normativos: traar parmetros mnimos, a partir do que h de comum entre as principais zonas de trabalho escravo contemporneo no Brasil acabaria por no incluir boa parte de ocorrncias de trabalho escravo, deixando impunes, outra vez, os exploradores; ao mesmo passo que traar parmetros mximos, a partir de todas as caractersticas encontradas entre as principais zonas de trabalho escravo contemporneo no Brasil acabaria por incluir praticamente todas as aes trabalhistas, punindo excessivamente e desmedidamente at mesmo quem no explora mo de obra escrava. Analisando-se pelo vis do controle de constitucionalidade, a redao do art. 243 da CF, percebe-se que antes da EC n. 81 o art. 243 previa o confisco das glebas de qualquer regio do Pas onde forem localizadas culturas ilegais de plantas psicotrpicas, dispondo que os bens apreendidos nos locais onde seja identificado trfico ilcito de drogas seriam confiscados e revertidos para instituies de combate drogadio. Aps a EC n. 81, o texto normativo passou a prever que as propriedades rurais e urbanas de qualquer regio do Pas onde forem localizadas culturas ilegais de plantas psicotrpicas ou a explorao de trabalho escravo na forma da lei sero expropriadas definindo que os bens apreendidos em decorrncia do trfico ilcito de entorpecentes e drogas afins e da explorao de trabalho escravo sero confiscados e revertidos a um fundo especial com destinao especfica, na forma da lei. Assim, da leitura do dispositivo decorrem duas possveis interpretaes: como uma norma constitucional de eficcia contida ou como uma norma constitucional de eficcia limitada. Caso se considere a eficcia relativa e a aplicabilidade imediata desse dispositivo constitucional, se admitir que tanto a lei penal e os tratados internacionais de direitos humanos satisfazem o conceito de trabalho escravo, podendo o juiz no caso concreto aplic-las de forma analgica. Por outro lado, se considerar esta norma como de eficcia relativa e dependente de regulamentao legislativa, se admitir que enquanto o legislador ordinrio no editar uma lei que complemente essa regra, mesmo se aplicando a situaes fticas, no poder ser aplicada sob pena de gerar insegurana jurdica. Em que pese a falta de segurana jurdica, estaria o fato de que o conceito de trabalho escravo ficaria banalizado ao ponto de que no se saiba mais diferenciar a mo de obra escrava da mo de obra regular.A partir desse esclarecimento, possvel identificar duas solues possveis para sanar a omisso legislativa presente na nova redao do art. 243 da CF:a) Contra Normas de Eficcia Contida Cabe Mandado de Injuno: esse instrumento do controle de constitucionalidade difuso vem regulado no artigo 5, LXXI da Constituio Federal, tendo por finalidade o controle incidental de omisses que frustrem a fruio plena de direitos subjetivos constitucionais. Nesse sentido, poder interpor o mandado de injuno qualquer particular, sendo pessoa fsica ou pessoa jurdica, desde que tenha os seus direitos fundamentais violados em razo da falta de regulamentao pelo legislador ordinrio, sendo tambm legitimado ativo o Ministrio Pblico (art. 127, CF), entidades de classe e sindicatos em defesa dos direitos de seus representados. A competncia para julgar esse remdio constitucional poder ser do Supremo Tribunal Federal ou do Superior Tribunal de Justia. b) Ao Direta de Inconstitucionalidade por Omisso: esse instrumento do controle de constitucionalidade concentrado vem regulado nos Arts. 12-A a 12-H da Lei 9868/1999, tendo por finalidade declarar a inconstitucionalidade. Nesse sentido, poder interpor a ADO somente os legitimados ativos do art. 103, CF/88, tendo competncia para o julgamento o STF, nos termos do art. 102, I, a, CF/88.Com efeito, a nova redao do artigo 243 da Constituio Federal pode ser interpretada como norma de eficcia limitada, uma vez que o legislador constituinte ao incluir no texto do dispositivo a expresso "na forma da lei" estaria condicionando essa regra edio de uma legislao ulterior para regular o sentido de trabalho escravo e os fundos de recolhimento dos bens confiscados, uma vez que os tratados de direitos internacionais e as leis ordinrias que j disciplinam a matria seriam insuficientes. Nesse contexto, a PLS 432/2013 proposta pelo Senador Romero Juc, que aguarda votao, traz essa justificativa afirmando que as Convenes n 29 e n 105 da OIT, bem como a doutrina e a jurisprudncia no estabelecem conceitos claros e definitivos, no produzindo a legislao penal (art. 149, CP) os efeitos pretendidos, ou seja, no foram capazes de riscar do mapa essa vergonha trabalhista". De outro lado, o Dirio da Cmara dos Deputados, datado de maio de 2012, expressa a partir da transcrio do discurso do Deputado Valdir Colatto (PMDB-SC) a vontade do legislador constituinte de criar uma lei complementar para regulamentar o trabalho escravo ao admitir ser impossvel, naquele momento, votar a PEC 438/1999, pois poderia dar margem a punies arbitrrias por falta de regulamentao do tema pelo legislador ordinrio. Como exemplo de meio de solues para questes delicadas, cujos normativos no apresentam uma clara determinao, h a demarcao das terras indgenas. Que se mostra outro assunto que no pode ser lidado apenas com leis secas, pois cairia na mesma dicotomia. Sendo, portanto, exemplo de como lidar-se com questes problemticas e que envolvam princpios constitucionais e direitos humanos.Notadamente, embora legalmente garantido, o direito dos indgenas precipuamente est sendo conquistado atravs de diversos conflitos. Porm, convm mencionar que a evoluo das leis referentes ao assunto fruto do processo de redemocratizao do Pas, estando o Brasil lentamente adotando medidas afirmativas para permitir que a realidade indgena se equipare sociedade brasileira. O processo de demarcao de terras indgenas conta com a participao de antroplogos realizando estudos de identificao ou atuando como peritos judiciais na elaborao de laudos que analisam a especificidade de cada povo, sua organizao social, religiosidade, viso de mundo, suas relaes com a terra e seu modo de produo. Por meio destes estudos, examinam-se, tambm, o carter tradicional da terra e o espao necessrio para a preservao de seus recursos ambientais, como tambm sua reproduo fsica e cultural.De acordo com o Decreto n. 1.775/96, no processo de demarcao das terras indgenas os antroplogos e tcnicos especializados devem elaborar um relatrio circunstanciado de identificao e delimitao do espao geogrfico. O Relatrio Circunstanciado demonstra, atravs dos estudos realizados e de documentos juntados, o nexo entre um povo indgena e a terra que ocupa, entre seu modo de vida, hbitos e costumes, ou seja, a sua histria que nica dentro do espao escolhido. Espao este que insubstituvel por outro qualquer. Esse relatrio ento apresentado FUNAI para apreciao, com o que se permite aprovar e estabelecer o direito originrio indgena sobre uma determinada extenso de terra. A ttulo exemplificativo, pode-se citar o processo de demarcao da Reserva Indgena Raposa Serra do Sol, situada no Estado de Roraima, que possui uma das maiores reas de terras demarcadas como indgenas. O caso ganhou repercusso nacional aps o julgamento pelo STF da Ao Popular contra a Unio, autuada como Pet n 3.388. Por meio desta ao os autores alegaram existir vcios no processo administrativo de demarcao das terras, principalmente por afrontar os princpios da proporcionalidade, razoabilidade, segurana jurdica, legalidade e devido processo legal. O parecer do relator foi desfavorvel tese do autor e acolhido por maioria de votos, decidindo-se pela improcedncia dos pedidos da parte autora, determinando-se a retirada produtores rurais que a ocupavam e a demarcao contnua da Terra Indgena Raposa Serra do Sol, mediante o cumprimento de dezenove condicionantes. Entre as condicionantes estavam a proibio comercializao e ao arrendamento de qualquer parte de terra indgena que possa restringir o pleno exerccio do usufruto e da posse direta pelas comunidades indgenas. Atualmente, discute-se ainda se as dezenove condicionantes definidas pelo Supremo Tribunal Federal para a demarcao da Reserva pode ser estendida a todos os processos demarcatrios de terras indgenas no Brasil. Reafirma-se, portanto, o recurso parmetros de anlise que excedem as questes normativas. Sob tica da teoria de Miguel Reale, utilizam-se os aspectos fticos, como meio de demonstrar o impacto dos fatos sob as normas e das normas sobre as perspectivas sociolgicas, em principal no que tange as polticas pblicas, ou sua inexistncia, para a reinsero social da pessoa em condio de escravo. Assim como medidas preventivas e sua inexistncia. Superadas as questes histrico-normativas que fundamentaram e permitiram o desenvolvimento e a permanncia da utilizao de mo de obra de trabalhadores em condio de escravo inclusive, alterando os valores sociais, possibilitando a aceitao de graves infraes a Direitos Humanos e indo alm do que considerado humanamente aceitvel, como homem instintivo que , se faz necessria a anlise do quadro atual, uma vez que tm-se a ideia de sociedade evoluda, fraterna e que protege os direitos do homem. Formalmente, o que consta nos diplomas legais, a destacar a Constituio. No obstante os compromissos internacionais e constitucionais, a manuteno de pessoas em condio de escravo e, por conseguinte, a violao do princpio da dignidade da pessoa humana persiste, chegando a patamares alarmantes em algumas regies do pas, sobretudo nas reas de fronteira agrcola. Em busca de honrar os compromissos assumidos internacionalmente, em funo dos tratados em que signatrio, embora tardiamente, a eliminao da escravido transformou-se em prioridade, tomando uma srie de medidas. Como ao, a criao do Grupo Executivo de Represso ao Trabalho Escravo[footnoteRef:31], dirigido pelo Ministrio do Trabalho e Emprego, tem funo de realizar aes integradas de combate escravido, abrangendo aspectos trabalhistas, sociais, econmicos, ambientais e criminais. J no mbito do Ministrio da Justia, criou-se o Conselho de Defesa dos Direitos da Pessoa Humana[footnoteRef:32], com a intentio de propor mecanismos que possibilitassem mais eficcia em face da violao de Direitos Humanos, tal como o trabalho escravo. Alm da concesso de benefcio de Seguro-Desemprego queles resgatados de situaes de trabalho escravo[footnoteRef:33]. O normativo concede o benefcio de trs (3) parcelas de salrio mnimo nacional, para esses, que atendam o enquadramento legal, nos ditames da lei, portanto, no possuam renda suficiente para a sobrevivncia e no recebam beneficio em prestao continuada[footnoteRef:34].Comment by Cibele Cheron: Isso referncia ou nmero? Se for s nmero, corta. [31: Decreto Presidencial n 1.538, de 27 de junho de 1995.] [32: RESOLUO 05 DE 28 DE JANEIRO DE 2002. ] [33: Lei n 10.833 de 2003, disponvel, em 05 de agosto de 2014, em meio eletrnico pelo endereo ] [34: O seguro-desemprego foi concedido a 9.193 trabalhadores de janeiro de 2003 a dezembro de 2006, o que representa 58 % do total de libertados no perodo. A relao segurados/libertados tem crescido de forma acentuada, saltando de 16%, no primeiro ano, para 92,83%, em 2007.]

No ano de 2003, o governo federal lanou o Plano Nacional de Erradicao do Trabalho Escravo, abrangendo 76 aes, que expressam e articulam os papis dos entes pblicos e da sociedade civil no enfrentamento do problema. Alm disso, o Brasil possui a presena da OIT, que atua desde o ano de 2004 nos estados do Maranho, Piau, Par, Tocantins, Mato Grosso e Bahia, visando a diminuir o aliciamento de trabalhadores por meio da educao profissionalizante, reduzindo as condies que geram vulnerabilidade. Em funo do Brasil ter reconhecido, perante a ONU, a existncia de um nmero estimado em 25 mil trabalhadores em condies escravos, como medida e resposta, o Ministrio do Trabalho e Emprego[footnoteRef:35], criou uma relao de pessoas fsicas e jurdicas que foram julgadas, de acordo com o devido processo legal, pela utilizao de mo de obra escrava, chamada Lista Suja. Este cadastro atualizado semestralmente pelo MTE e encaminhado aos Ministrios da Fazenda, da Integrao Nacional, do Desenvolvimento Agrrio, do Meio Ambiente e Secretaria Especial de Direitos Humanos, a fim de que cada instituio adote as medidas oportunas em seu mbito de competncia. A incluso do nome do infrator no cadastro acontece somente aps a concluso do processo administrativo originrio dos autos de infrao lavrados no decorrer das inspees. A excluso depende da conduta do infrator, monitorada pela inspeo do trabalho, ao longo de dois anos. No havendo, nesse perodo, reincidncia, e caso se pagas todas as multas, em funo da ao fiscal e quitados os dbitos trabalhistas e previdencirios, o nome retirado do cadastro. Um dos principais efeitos do cadastro impedir o acesso de empregadores, que dele constam, s linhas de crdito e aos incentivos fiscais junto aos bancos oficiais e agncias regionais de desenvolvimento. [35: Portaria n 540 de 2004, disponvel, em 05 de agosto de 2014, por meio eletrnico no endereo ]

Constatou-se a movimentao legislativa em busca da implementao de polticas pblicas, por outro lado, h medidas que foram promovidas, publicizadas, mas que no atingiram seu objetivo, caracterizando-se como polticas de governo e no medidas pblicas de eficcia material. A ttulo de exemplo, h a Campanha pela Erradicao do Trabalho Escravo, executada em parceria entre o TEM e a OIT. Essa campanha visava incluso dos trabalhadores resgatados no Programa Bolsa Famlia. Tal acordo no funcionou efetivamente, pois as famlias de muitos trabalhadores resgatados j faziam parte do Programa Bolsa Famlia ou no puderam efetivamente ingressar neste Programa, por falta ou de algum documento ou de resoluo de problema burocrtico.Efetivamente, o Programa Bolsa Famlia, na prtica, no contribuiu para a erradicao do trabalho escravo, mesmo enquanto poltica de governo[footnoteRef:36]. Na mesma linha, visando a impulsionar o desenvolvimento de reas afligidas pela misria e pelo desemprego, o governo federal lanou a linha de crdito Terra para Liberdade, destinada a viabilizar o acesso terra pelos trabalhadores resgatados e a apoiar seus projetos produtivos. Os trabalhadores resgatados de fazendas, nas quais seriam vtimas de trabalho escravo, constituiriam o pblico prioritrio de outros programas de crdito, como o Programa Nacional de Agricultura Familiar, tal qual incentivo a projetos de assistncia tcnica e capacitao de agricultores e familiares libertos, abrindo a estes possibilidades concretas de emancipao pela via da produo, do trabalho e da renda. Conquanto, por falta de verbas, estes programas no foram implementados. Dentre todas as polticas de governo descritas, o Plano Nacional de Erradicao do Trabalho Escravo se destaca como marco mais importante, na medida em que atende s determinaes do Plano Nacional de Direitos Humanos e reflete uma poltica pblica permanente, exigindo fiscalizao por um rgo ou frum nacional dedicado represso do trabalho escravo. Todavia, como esse rgo no foi criado, a fiscalizao acaba ficando a cargo de entidades relacionadas ao tema, mas de forma pulverizada. [36: Segundo Ruth B. V. Vilela, (Secretria de Inspeo do Trabalho).]

CONCLUSOA divergncia existente anteriormente aprovao da EC n. 81 volta ao cerne das discusses. E, juntamente, o debate acerca da problemtica da caracterizao jurdico-normativa. Explicitamente, a divergncia ocorre pincipalmente entre os reprimem a conduta de reduzir algum condio de escravo na esfera trabalhista e os que fazem na esfera penal. Deixando o debate fora da Justia Federal e, at mesmo, sobre o que versa os direitos humanos. No h como negar que a condio de escravo um crime em face de normativo estabelecido em nosso Cdigo Penal assim como atenta questes trabalhistas em face da Consolidao das Leis Trabalhistas. Mas, principalmente, atenta quanto condio humana, dignidade e todos os direitos humanos que so de Direito Natural e esta abordagem tornou-se secundria. No raro termos a caracterizao da condio de escravo sendo feita por auditores fiscais do trabalho em relatrios de inspeo, que serve de base para ajuizamento de ao civil pblica pelo Ministrio Pblico do Trabalho, sendo julgada procedente pela Justia do Trabalho, ser rejeitada na esfera criminal. Em busca de julgamentos que fujam subjetividade e a interposio de aes de inconstitucionalidade em controle difuso, deve-se analisar qual bem jurdico, principalmente, protegido e contra quem se atenta. O levantamento teleolgico das normas demostra que a condio de escravo concentra-se quando a liberdade da pessoa direta e estritamente suprimida e no cerne da proteo a este bem jurdico esto protegidos a vida, a sade, a dignidade. No entanto, a liberdade inerente outro bem jurdico, protegido tambm por nossa constituio e tratados internacionais: a dignidade da pessoa humana um dos fundamentos da Republica Federativa do Brasil. Recursando a Kant, no reino das finalidades humanas tudo ou tem preo ou dignidade. O que tem preo pode ser comparado ou trocado; j a dignidade no tem possibilidade de ser comparada ou trocada. Como o ser humano, ser racional e dotado de autonomia, o nico capaz de fazer, conscientemente, suas escolhas sendo, tambm, o nico que portador de dignidade. No podendo, portanto, o ser humano ser um fim em si mesmo. Assim a reduo da pessoa a condio de escravo , claramente, a subjugao do ser humano, que naturalmente livre, a uma condio que lhe impe, por outrem, uma relao de domnio extremado que atenta contra a sua condio de pessoa. A criao da norma indicada pelo Art. 243 da Constituio Federal de 1988 deve proteger a dignidade da pessoa humana, no restringindo a norma em termos de conceituao, mas direcionando o rito a ser seguido e quais so os bens jurdicos protegidos por ela. No deixando margem subjetividade.

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