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A gangue do madonna

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Os assassinos de aluguel Conde e Shogun ingressam no covil do mafioso Madonna e ambos desconfiam de suas verdadeiras intenções a ponto de transformar o encontro numa trama sangrenta.

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Já era quase meia noite na cidade de São Paulo, chovera o dia todo e agora

só tinha restado o frescor noturno e o asfalto úmido. Shogun de jeans e camisa preta e Conde com seu terno azul claro caminhavam calmamente, não tinham mais nada para conversar e o caminho até a boate Like a Virgin situada na zona sul da cidade era silencioso, exceto pelo barulho dos carros passando. Quando entraram na Avenida Santo Amaro, próximo ao local desejado, Shogun acendeu um cigarro e desligou o celular olhou para Conde e tudo que viu foi um homem sereno e tranquilo com olhar fixo atrás de seus óculos. Riu para si mesmo e seus olhos rasgados se tornaram ainda menores. Conde era mais que um colega de trabalho, um bom amigo, isso infelizmente era uma pena para o âmbito em que viviam. Até chegarem na entrada da boate, pararam um pouco para Shogun terminar de fumar e darem uma boa observada, havia uma grande movimentação, luzes coloridas, muitos jovens bebendo, rindo e se comportando como idiotas, e vários outros tipos que só a noite da metrópole oferece, não iriam pegar a fila principal para entrar, muitos já estavam se movimentando para lá, mas para eles a entrada certa era sempre pelas portas dos fundos. Deram a volta calmamente, alguns já tinham percebido a presença deles por ali, pois não tinham vestimentas diferenciadas para o ambiente - De tanto tentarem ficar diferentes, acabam eles todos iguais - mas ambas as partes ignoraram o fato. Shogun jogou fora o que restou de seu cigarro e parou em frente a dois seguranças que fumavam na entrada dos fundos da boate. Logo eles pararam de conversar e encararam os dois. - Boa noite senhores, viemos aqui, com hora marcada é claro, conversar com o senhor Dantas, aqui o cartão dele com a letra do próprio. – Mostrou Conde de forma tranquila e educada um cartão todo amassado que tirou do bolso interno do paletó. Os seguranças se entreolharam com cara de poucos amigos e um deles se adiantou. - Não conheço ninguém daqui com esse nome, nosso chefe é o Zé, mas ele não se encontra agora, acho melhor vocês virem outra hora, quem sabe amanhã. - Amanhã? - Sim, durante a manhã fica mais tranquilo se quiser resolver algo. Conde fez uma negativa e já começava a querer argumentar, mas Shogun foi mais rápido. - Escuta aqui chapa, a gente marcou com o Dantas, não adianta disfarçar a gente conhece o cara, temos o cartão dele. - Olha, teria que ver com o zé sobre isso aí.

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- Porra de “Zé” irmão, faz o seguinte - Apontou para o Conde - Liga pro Dantas e a gente resolve. Conde deu um pequeno toque no ombro de Shogun como quem pede para esperar, se aproximou dos guardas. - Vamos lá, vocês acham que saberíamos sobre o Dantas? Despreparados para a situação, os seguranças vacilaram, um olhou para o outro como se esperassem quem tomaria alguma atitude primeiro. Um deles, o mais alto e careca, fez uma careta de desaprovação da própria atitude que tomaria a seguir. - Esperem um momento, vou verificar pra vocês. Ele entrou e nesse meio tempo Shogun acendeu outro cigarro, Conde e o segundo segurança se encaravam, ele estava tranquilo mas o brutamontes, que era mais baixo que o careca mas muito mais forte, o olhava feio, lhe parecia que a visita deles tirava os funcionários da segurança da rotina padrão de todas as noites. Quando o segurança voltou trazia ao lado um homem num visual anos 70, calça roxa com brilhantes e boca de sino, usava uma camisa de botão aberta no peito da cor verde-musgo, seus cabelos eram cheios e armados apesar de ser perceptível que eram forçados para permanecerem assim. Abriu os braços. - Vejam só, meus caros chegaram, devem ser os caras que conversamos por telefone, estávamos esperando por vocês. Shogun deu um olhar sínico aos seguranças. - Venham entrem, não levem a mal Tom e Tony só estavam seguindo as ordens. - Riu para os seguranças que se olharam e continuaram sérios. A porta se fechou e eles estavam num corredor, ao fundo era possível sentir as vibrações da boate lá dentro. Começaram a caminhar. - Tudo plasma com vocês? Shogun olhou com cara de dúvida para Conde, que disse: - Estamos a procura do Dantas. - Fica tranquilo, vou levar vocês até ele, mas sabem como é né, o esquema aqui é forte, pesado sacou? - Nenhum sinal de aprovação dos dois - Massa. A propósito me chamem de Fênix! - Girou em torno de sí na ponta dos sapatos de salto e sacudindo o cabelo, voltou para sua trajetória andando devagar e se requebrando. - Como chamo vocês? - Juliano - Disse Conde.

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- Ok, e você japa? - Não sou japa, cara. - Haha claro desculpe, seu nome? - Natanael - Disse Shogun. - Puta que pariu, Natanael? - Risada safada - Vamos arranjar um diminutivo pra você, que tal ‘Natan’, adorei hahahaha. Shogun queria vomitar. Fênix começou a caminhar os dois se olharam e seguiram atrás, mas Fênix parou e virou para os dois. - Natan e Juliano - Disse meio que memorizando, logo depois alguns segundos de silêncio e tudo que ouviam era a batida da música ao fundo - Sigam-me - Continuou finalmente. Subiram um lance apertado de escadas circulares, e chegaram numa pequena sala, com sofás vermelhos e uma luminária fraca que balançava pendurada no teto, do lado esquerdo era possível ver toda a balada por meio de um vidro sufilmado, estava escuro e diversos feixes de luz de várias cores piscavam pelo ambiente, o som continuava na mesma altura, provavelmente a sala era vedada. Do lado direito havia uma porta, guardada por um homem de terno vagabundo. Ao fundo havia uma mesa, era onde estava Dantas. Fênix introduziu os dois na sala, Dantas levantou largando uma papelada em que mexia e abriu um sorriso, foi perceptível o brilho de um dente de ouro, era um homem que aparentava seus cinquenta anos, bigode ralo, cabelo calvo, roupa de malandro carioca. - Estes são os rapazes que estávamos esperando, o japa é o Natan o de óculos é o Juliano. - Ah cara, não sou japonês… - Fique tranquilo - Fênix interrompeu Shogun. - Desejam algo para tomar? - Dantas apontou para o sofá oferecendo o assento para eles, o homem era puro sorriso. Ambos sentaram. - Estamos bem - Conde se acomodou. - Quero um Martini - Shogun ignorou a resposta do companheiro. - Bela pedida - Dantas sorriu e estalou os dedos. Fênix foi buscar. - Então senhor Dantas, conversamos pelo telefone na tarde de ontem…

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- Já visitaram as festas da casa? - Dantas interrompeu - A galera aqui é muito animada - Se inclinou na direção deles como se fosse contar um segredo - Sugiro as terças e quintas a noite, tem menos polícia na área e mais putaria rolando, se é que me entendem - Deu uma gargalhada irritante. Shogun agradeceu quando pegou o Martini, não pela prestação de Fênix mas pelo fato de que agora não precisava mais ficar totalmente sóbrio num ambiente desses. Nesse momento Dantas pareceu a vontade para falar de negócios. - Então são vocês que estão se candidatando pra trabalhar aqui… Já têm experiência nesse ramo? - Sim, o trabalho era basicamente igual. - Respondeu Conde, finalmente a conversa tinha um objetivo. - E trabalhavam juntos? - Sim - Disse Shogun. - Quem indicou vocês? - Nós mesmos. - Como assim? - Nós nos candidatamos - Deu um longo gole na bebida, estava ótima. Dantas fez uma cara de desconfiança, olhou em volta buscando um sentido para a afirmação, depois sorriu sem graça e lá estava o seu dente brilhando de novo. - Ué nunca se candidatou por conta própria a uma vaga de emprego?! - Shogun perdeu a paciência. Dantas e o segurança de terno surrado se olharam desconfiados. Fênix se adiantou percebendo o clima tenso. - Bom senhores, vocês já entendem qual o tipo de trabalho precisamos, mas aqui nós queremos também uma capacidade de know-how para algumas situações… - Know-how ??? - Interrompeu Dantas com um inglês porco. Fênix olhou confuso. - Porra, Know-how não né, fala que nem homem. - A gente precisa usar os termos certos pra ter o melhor nível dos funcionários. - Cara, para com isso, nós somos uma gangue porra! - E daí? Precisa ser um estupido só por isso?

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Dantas levantou, colocou a mão esquerda no saco e apertou enquanto mostrava o dedo do meio para Fênix. - Foda-se cara. Diz pra mim? Vai, diz aí - apontou pra Shogun. - Foda-se - Shogun disse com indiferença, bebendo mais. - Viu como é fácil? Vai. - Ok, foda-se… - Fênix repetiu vencido e desanimado - Precisamos que vocês saibam fazer umas transações de grana… - Pode deixar com a gente - assentiu Shogun. Depois de uma conversa para acertar detalhes como pagamento, dias que seriam feitas as entregas para grandes cassinos e investidores do mercado negro, basicamente lidavam ali com uma boa quantia, todos estavam satisfeitos. Dantas pareceu não ter mais nada a declarar sobre o serviço e ficou surpreso pelas respostas que recebia dos dois a respeito de burocracias financeiras, brechas nas leis e lavagem de dinheiro. O dinheiro ganho nessa história parecia bom para Conde e Shogun e eles aceitaram sem delongas transportar e tomar providências necessárias para proteger valores de propinas, vendas de drogas e outras transações ilegais que o empresário Madonna fazia. - É isso, ótimo. Bem vindos à gangue do Madonna! - Disse Dantas com os braços abertos e o brilho de seu dente de ouro enfeitando um sorriso - Fênix, leva os caras para conhecer a casa. Caminharam seguindo Fênix até um modesto ambiente lateral ao salão principal da boate com um bar, música e poucas pessoas. - Aqui é onde nós funcionários passamos um tempo livre, tomamos uns drinks e nos divertimos. No local estava tocando uma música brega antiga, havia um senhor meio careca atrás do balcão lustrando taças e organizando bebidas, dez mulheres com roupas curtas e maquiadas conversavam espalhadas pelo local, provavelmente prostitutas que passavam um tempo, e no canto, em uma pequena mesinha alta e seu banquinho, um homem sozinho tomava seu drink, olhando para o canto do local, como quem está perdido em seus pensamentos. Shogun olhou fixo para ele. - Quem é aquele? - Shogun indicou com um movimento da cabeça. - Ah, o japa ali? É o Paulão, Paulo Cicatriz. Guarda pessoal do senhor Madonna, casca grossa esse aí. Japoneses se reconhecem de longe né?

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- Não sou japonês cara… - Ah sim, é verdade - Virou-se e começou a andar. - Cicatriz… - Shogun ficou analisando o homem, que se levantou sem parecer ligar para a presença deles, caminhou até o balcão para pedir outro drink, quando foi possível vê-lo melhor era baixo, forte com traços orientais, assim como Shogun, e quando se posicionou em baixo de uma luminária para pegar o copo cheio, foi possível ver uma cicatriz que marcava o lado direito do seu rosto. - Esse tá sempre de olho em tudo, vamos indo, vou lhes mostrar a garagem. Conde e Shogun se entreolharam. - Como ele conseguiu aquela cicatriz? - Perguntou Conde. - Olha, como aconteceu exatamente eu não sei - Fênix falava sonhador enquanto caminhava - mas o que dizem é que um sujeito deu uma facada na cara do Paulão. - E o que aconteceu? - Bom, sabemos que o tal sujeito está morto. Shogun deu um sorriso de canto de boca, Conde se manteve sereno. Caminharam até uma garagem, no subsolo com saída para a avenida principal. - Aqui será um lugar recorrente pra vocês, as entregas partem daqui e são liberadas naquela sessão ali - Apontou para o final da garagem onde havia uma pequena guarita com alguns homens visivelmente armados, jogavam carteados e riam. - Agora vamos conhecer o chefe. Chegaram numa sala que ficava no terceiro e último andar, após passarem por uma porta de ferro, entraram num outro espaço onde havia um banheiro, uma mesinha e uma tubulação de ferro que passava por fora da parede, ao fim da sala havia uma porta de madeira estilizada e bem detalhada guardada por um homem gigante de terno cinza, ao chegarem Fênix acenou e o brutamontes abriu a porta. Era uma sala grande, com um grande sofá e uma mesa no centro, tocava ‘Heart of glass do Blondie’ e atrás da mesa estava o famoso Madonna. Usava uma roupa de couro preta, tinha um grande bigode era alto e musculoso, branco de cabelos negros penteados para trás, camisa aberta mostrando o peito peludo, Madonna veio andando em direção ao grupo que acabara de chegar. A princípio parecia estar sozinho mas logo Shogun percebeu que tinha duas moças e um homem no canto esquerdo da sala que pareciam usar drogas, olharam para eles e conversaram algo entre si. Não pareceu um bom sinal.

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Madonna se aproximou lentamente, olhando sério, abaixou até a ponta do nariz os óculos escuros que usava, olhou fixamente para os novos contratados e riu. - Vamos entrando, se acomodem, aceitam um drink? - Estamos bem - Respondeu Conde olhando para Shogun. - Quero algo para comer - Shogun se largou no sofá. - Fênix meu caro, providencie algo para o…? - Natanael chefe, o japa é o Natan - Disse Fênix - Cara não sou japa - Shogun abriu a palma da mão se virando para olhar Fênix. - Desculpe por isso - Madonna levantou a mão - Providencie algo para o Natanael comer. - Claro chefe, claro - Virou-se para Shogun - Aceita uma coxinha? - Coxinha??? - É, temos coxinha, quer? - Porra, coxinha - Olhou para Conde, que tentava ignorar a cena - Tá, tá bom, traz lá. Madonna foi caminhando de volta para trás da mesa, passando a mão em torno dela e sentou-se. - Aqui jovens, eu só peço uma coisa, trabalho sério. Esse dinheiro aí, é o meu dinheiro entendem? Se vocês cuidam bem do meu dinheiro, eu cuido bem de vocês. - Faz sentido pra mim - Disse Shogun. - Quando começamos? - Perguntou Conde. - Podem começar agora, tá valendo - Riu. Conde e Shogun se entreolharam, não esperavam começar a trabalhar já nesta noite. Mas estavam preparados para tudo, sempre estavam. - Hoje não temos nenhum serviço de entrega, mas gostaria que fossem conhecendo o clima da casa. Temos uma regra de que funcionários da minha gangue não podem descer ao salão da balada - Colocou as duas mãos entrelaçadas na mesa - A balada é aquilo que desvia as atenções, a balada não deixa meus negócios ficarem a mostra, a balada é SAGRADA - Se encostou totalmente na poltrona - Não quero problemas lá em baixo. Por isso

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temos um espaço próprio para nós aqui em cima, vocês já devem ter conhecido. - Sorriu fazendo o grande bigode se entortar. Fênix trouxe um prato com uma coxinha velha e requentada num micro-ondas, deixou na pequena mesinha ao lado do sofá, perto de Shogun, logo depois saiu da sala novamente e dessa vez o rapaz de aparência esquisita saiu também, deixando as moças conversando a sós. - Senhor Madonna - Conde se adiantou - Alguma vez já teve problemas com transações monetárias? - Não, aqui é tudo sempre tranquilo, por que a pergunta? - Gostaria de saber por motivos de segurança pessoal. - Ah, fique tranquilo boy, aqui tudo funciona, nunca deu trabalho antes e não vai dar agora. Todos começaram a se levantar. - Poderia fazer mais uma pergunta, se não for incomodar? - Claro, diga. - Temo que devo insistir - Continuou Conde e Madonna o olhou feio - mas nunca houve mesmo nenhum problema? Algo que deu errado, alguém que ficou irritado? - O que está querendo insinuar? - Que tem gente que não gosta de ser enganado senhor Madonna, e muito menos roubado… - Acho que vocês estão malucos, caiam fora da minha sala antes que eu me arrependa de ter contratado vocês. Saíram sem dizer nada. Ao chegarem na sala anterior, Fênix liberou o segurança de terno surrado, que foi para o outro lado da porta de ferro. - Shogun - Disse conde, fazendo Fênix olhar com total dúvida - Como faremos? Não imaginei que íamos ficar aqui hoje. Só tenho uma pistola com 10 balas - Sacou uma arma da cintura, por baixo do terno. Fênix deu um pulo. - Eu tenho uma faca, deve servir. Você cuida do Paulão, eu pego o Madonna. - E esse daí - Os dois olharam para Fênix.

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De repente Fênix se virou para correr percebendo a situação, mas Shogun foi mais rápido o segurou pelo ombro e o puxou com toda força fazendo ele cair de costas no chão com um baque surdo. Rapidamente Conde apontou a arma para Fênix que se manteve quieto no chão. Shogun correu para o lado da porta de ferro, esperando o segurança voltar para ver o que tinha acontecido. E não deu outra. Quando o segurança abriu a porta entrou indo para a direção de Conde mas levou uma facada na lateral do pescoço de Shogun que estava encostado na parede. Ao tirar a faca do pescoço o segurança caiu e jorrou sangue. - Ahhhh!! - Fênix gritou do chão quando o sangue espirrou nele. - Vamos dar cabo desse também? - Faz o seguinte, tira as calças dele. - Disse Shogun. - Não cara, não por favor - Fênix gritava. - Como é? - Conde perguntou. - Tira as calças dele cara. Conde suspirou abaixou a arma e começou a arrancar as calças de Fênix que gritava em desespero. Ao ficar sem as calças, ele tinha uma cueca pequena e verde musgo com listras pretas. - Fala sério… - Shogun puxou as calças e a usou para amarrar as mãos de Fênix em uma parte exposta da tubulação de ferro - Fica aí seu lixo - Arrancou as meias que Fênix usava e enfiou na boca dele. Não esperaram mais tempo e cada um foi para um lado. Conde passou pela porta de ferro, fechou e desceu as escadas rapidamente, ao fim dela continuou caminhando com calma como se nada tivesse acontecido, colocou a arma na parte de traz da cintura e quando se aproximou do ambiente onde os funcionários ficavam, parou e olhou discretamente pela entrada. O que via era do lado esquerdo prostitutas conversando em tom alto por conta da música que tocava, ao centro uma mesa redonda que deveria caber uns dois dele em baixo e a direita, Paulo Cicatriz acendia mais um cigarro, copo de whisky no balcão, o senhor do bar estava se abaixando e parecia terminar de colocar garrafas e copos no lugar. Conde parou e esperou, iria ficar ali até que Shogun voltasse e se tudo estivesse tranquilo iriam embora, mas caso algo acontecesse, ele deveria impedir Paulão de sair daquela sala. Shogun voltou ignorando os gemidos de Fênix tentando chamar atenção, tentou abrir a porta de madeira e percebeu que estava trancada. Mau sinal, Madonna havia desconfiado de algo. Voltou e tirou as meias da boca de Fênix. - Me tira daqui cara…

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- Cala a boca - apertou o pescoço deixando-o sem reação - Onde consigo uma chave pra essa porta, ou outra forma de entrar? - Eu... Eu não sei. - Tem algum tubo de ventilação ali? - Não sei cara - tomou um soco e perdeu um dente - Não sei porraaa - Sangue escorria. - Você tá me tirando? É a maior puta desse lugar e não sabe? Shogun olhou para os quatro cantos, a única coisa que lembrou foi do cara que saiu da sala. - Aquele Nóia... Enfiou as meias de volta na boca de Fênix e saiu correndo, se ele estivesse ido muito longe iria atrapalhar, antes de descer as escadas até onde Conde estava, percebeu que havia uma pequena porta onde foi possível ouvir um barulho de descarga, então ele lembrou que ali havia um banheiro. Shogun parou e ficou olhando desconfiado quando o rapaz da sala saiu fechando o zíper e encarando Shogun sem entender. - Vem cá seu palhaço. - O que você disse? Nem houve tempo de reação, Shogun deu um soco na cara quebrando o nariz dele e puxando-o pelos cabelos, saiu arrastado em direção a porta onde estava o Madonna. - Que isso cara? O que tá fazendo? - Chama esse viado, manda ele abrir a porta ou vou te matar aqui e agora - Colocou a lamina afiada na jugular do homem - Tá entendendo?? - Sim cara, pega leve. - Disse o cara desesperado ignorando a situação humilhante em que Fênix estava. - Vai! - Esfregou a cara do rapaz na porta. - Senhor Madonna, abre… abre aqui chefe - Disse gaguejando. - Fala direito seu babaca. - Chefe abre aqui, preciso pegar minhas coisas.

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Um silêncio se seguiu apenas com as batidas abafadas da balada ao fundo, de repente um estralo veio da fechadura da porta indicando que ela estava aberta. Shogun virou de lado com a faca na garganta do cara, que tremia e gemia bem baixo de medo. Girou levemente a maçaneta, deixando apenas uma fresta, logo após chutou a porta jogando o infeliz rapaz la dentro, ele saiu cambaleando e após uns dois passos Shogun viu suas costas encharcarem de sangue e abrir um rombo acompanhada de um tiro que rasgou a sala pelo barulho de uma arma calibre doze que Madonna havia utilizado para supostamente tentar matar Shogun. Rapidamente Shogun correu na direção do rapaz que caiu igual um boneco de pano cheio de sangue dentro que acabara de ser rasgado, se jogou para a sua lateral direita da sala e viu Madonna atrás da mesa tentando recarregar a arma para agora sim, acertar e matar Shogun. Mas não houve tempo, na mesma hora que foi para o lado, Shogun visualizou em centésimos de segundos, as moças assustadas no outro lado da sala desarmadas e gritando e teve a certeza de que deveria ir para Madonna, não pensou em mais nada e já estava pulando em cima da mesa, chutou o cabo da doze que foi apontada para o teto e disparada no momento do desespero, fez um rombo no forro e deslocou o ombro de Madonna pelo mau jeito que a arma disparou. Shogun pegou a arma e empurrou Madonna com o pé no peito peludo e puxou a doze, virando e apontando para ele que caia sentado na sua poltrona novamente. As moças correram para fora da sala e também ignoraram Fênix, descendo as escadas diretamente para onde Conde estava, gritavam desesperadas e drogadas, tornando aquele momento mais aterrorizante ainda, passaram pela entrada do mini bar, e foram direto para a saída mais próxima. A cena chamou a atenção das pessoas para a entrada, principalmente do Paulão que percebeu a presença de Conde ali parado. Se levantou e começou a ir para a porta. Conde resolveu se mostrar por inteiro, ficou parado na porta, rosto sereno, de forma calma, mão calmamente se movendo para traz da cintura. Não podia deixar o famoso matador Paulo Cicatriz sair daquele ambiente. - Calma boy, podemos negociar - Disse Madonna, com a doze apontada na cara. - Não se negocia com a Morte, apenas aceite. - Dou muito dinheiro a você, mais do que te deram para fazer isso, sério não vai ser vantajoso pra você negar isso cara. - Dinheiro é justamente a causa do problema que você arranjou Madonna, não quero arranjar um pra mim também - Apertou o gatilho. Mas nada aconteceu - Sem balas? Shogun ficou olhando para a arma inconformado com a ausência de munição, o que deu tempo para Madonna levantar e começar a correr em direção a porta. - Porra, que saco.

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Shogun jogou a doze com toda força, ela acertou as costas de Madonna e o cabo da arma bateu em seu ombro deslocado, ele perdeu o equilíbrio e caiu com metade do corpo para fora da sala e tudo que viu foi Fênix de cueca minúscula amarrado pelos pulsos com sua própria calça colorida e com meias na boca. Enquanto isso Conde era encarado por Paulo Cicatriz que vinha caminhando em direção a porta onde ele estava, na sala apenas o senhor do balcão parou de lustrar as coisas e começou a analisar a situação, Paulão devia ser reservado e quieto o suficiente para alguns saberem que ele levantar de repente sem terminar o seu whisky significava algum problema. As prostitutas pouco reparavam na cena. Conde já estava esperando para sacar a arma com qualquer movimento brusco de Paulão, mas ele parou no meio do caminho e ficou o encarando. Nesse momento não havia mais nada a esconder. Ele voltou para o lugar em que estava e sentou-se novamente, deu um longo gole no whisky acabando com o copo. Sacou uma pistola. Conde sacou a arma que estava presa no cinto atrás da cintura um pouco depois que Paulão sacou a arma dele, pois não pôde ver o movimento de início. Um atirou no outro, mas ambos se moveram e ninguém acertou. Paulão pulou para trás do balcão, empurrando o velho, para ter melhor visão, que caiu e se arrastou para um canto na quina. Conde correu para o centro da sala chutou a mesa fazendo ela emborcar enquanto percebia que outro tiro fora dado em sua direção, se abaixou atrás dela, a madeira era grossa o suficiente para protege-lo no momento. As prostitutas começaram a gritar e correram para o outro canto da sala, nesse momento a Jukebox trocou o disco e um brega mais agitado começou a tocar. “Você é doida demais”. Vários tiros foram dados, Conde disparou 2 vezes, o que lhe deixou com mais 7 balas no pente. Tentava mirar o melhor possível, mudando sua posição todas as vezes que iria tentar acertar o capanga, mas era muito complicado pois Paulão descarregava o pente. Conde então resolveu tentar despista-lo esperando que suas balas acabassem e assim o mataria. Um grito foi ouvido ao fundo, uma prostituta tinha tomado um tiro na perna. - Vem desgraçado! - Paulão gritou - Ou então vou aí te matar. Um breve momento de silêncio dos dois, regado a choramingo femininos ao fundo. Conde rolou para a direita e atirou, Paulão quase foi acertado, percebeu por conta da garrafa de cachaça que estourou próxima a sua cabeça. Mais tiros. Conde voltou para o centro e percebeu que Paulão começava a avançar. - Abre aquele armário! - Gritou para uma das mulheres. Conde virou-se e percebeu que havia um armário de ferro no canto oposto da Jukebox perto das moças, mas elas estavam em choque e nada fizeram. Sem perder tempo ele avançou para fora da mesa atirou na direção de Paulão que correu no sentido oposto atirando também, fazendo com que trocassem de

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posição. Conde deu mais 3 tiros e pulou pelo balcão, Paulão terminou de descarregar sua pistola, pois foi possível ouvir o estralo do tambor pedindo mais bala, e se ajoelhou atrás da mesa. Soltou um urro de dor. Conde teve a certeza que acertou ele, mas lhe restava apenas mais 2 balas. - Paulo Cicatriz, saia de trás da mesa com a mão pra cima, e eu não te mato - Conde estava em pé atrás do balcão, com a arma apontada para a mesa, não podia errar esse último tiro, teria que fazê-lo se render, seria mais garantido pois no braço conde tinha desvantagem. - Vai se foder - Paulão gritou e correu em direção as prostitutas que se espalharam gritando pela sala, dificultando a mira para Conde - Sai vadia! - Jogou a pistola descarregada em uma moça que estava ao lado do armário, que gritou e correu para a direção do Jukebox onde tinha outras duas moças. Abriu o armário de onde tirou uma sub metralhadora. - Puta que pariu - Conde disse para si mesmo. Não deu tempo de ver mais nada, Conde se jogou no chão atrás do balcão enquanto todas as garrafas da prateleira começavam a estourar com um barulho ensurdecedor de tiros, vidro quebrando, liquido derramando e mulheres gritando. No desespero algumas prostitutas correram em direção a porta e foram alvejadas, sangue se espalhava pela sala. Depois de uma rajada de cinco segundos consecutivos, Conde só pensou em correr ao perceber os passos largos de Paulão em direção ao balcão. Correu agachado e quando saiu da proteção do balcão, que agora estava todo despedaçado, fez um movimento em zigue e zague e deu uma cambalhota por trás de um sofá, ao final do movimento continuou correndo, atrás dele havia ficado mais pedaços do balcão e espuma do sofá no ar ocasionados por mais tiros que Paulão dava. Conde passou ao redor de Paulão pela sala para o lado das prostitutas que tentavam evitar ele também com medo de tomarem mais tiros, mas não teve jeito Paulão acompanhou o movimento de Conde atirando e mais uma caiu no chão ensanguentada. De repente a submetralhadora pareceu esquentar e travar e Paulão viu que não havia mais tempo jogou-a para o lado acertado uma prostituta que estava no chão e partiu para a briga. - É agora ou nunca! - Berrou para Conde, arrancou o extintor que estava ao lado do armário - Vou esmagar sua cabeça. Conde se afastou e percebeu que ele tinha acertado um tiro no ombro esquerdo de Paulão que segurava com mais dificuldade o extintor. Olhou fixamente como se calculasse seus próximos movimentos, teria de ser ágil pois não era tão forte como Paulão. Então correu na direção dele.

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Paulão esperou Conde chegar ao seu alcance e certo de que ele não tinha mais munição acreditou na ideia de brigar mano a mano com ele, lançou um golpe com o extintor que acertaria a cabeça de Conde em cheio se ele não se jogasse para o lado e caísse com as costas no chão na diagonal esquerda traseira de Paulão que no processo de se recompor do movimento e se virar para ataca-lo novamente, ficou com as costas desprotegida por instantes. Conde, deitado parado e segurando a pistola com as duas mãos não conseguia errar um tiro com o alvo há 2 metros de distância. Acertou Paulão na nuca, onde abriu um buraco do tamanho de uma ameixa. A queda dele foi ouvida com um som metálico, vindo do extintor que segurava, dando a impressão de que realmente Paulo Cicatriz era feito de ferro. Conde respirou fundo, as prostitutas choravam. Madonna tremia e se afogava no próprio sangue logo após Shogun esfaqueá-lo diversas vezes nas costas. - Eu queria te dar uma morte rápida e limpa, mas não tive escolha. Olhou para fênix que chorava de desespero com as meias na boca encharcadas de baba e sangue. Foi atrás de Conde, mas não demorou a encontrá-lo, este subia as escadas suado e sujo de sangue e bebidas. Shogun parou e o encarou. - Matou todo mundo aí em baixo? - Quase isso… Vamos embora logo, daqui a pouco vai tá todo mundo sabendo. - Espera, você tem munição aí? - Estendeu a mão. - Só restou uma, talvez vamos precisar para sair daqui. - Eu insisto. Conde respirou fundo, quando Shogun parava em alguma posição ou feição específica, significava que ele não mudaria de ideia. Entregou a arma na mão dele. - Um instante e já vamos embora. Subiram a escada até onde estava Fênix cativo e Madonna morto. Conde viu a cena e verificou rapidamente se Madonna respirava, constatou que não. Shogun parou olhando diretamente para Fênix, apontou a arma e ele começou a espernear de desespero pela própria vida. Deu uma leve risada de desprezo de canto de boca. - Eu não sou japa, sou coreano. Coreano, seu filho da puta.

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Acertou um tiro no pau de Fênix que virou os olhos de dor e mordeu as meias com toda força possível nas mandíbulas e depois desmaiou enquanto Conde e Shogun desciam as escadas para ir embora da boate.