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A GESTÃO AMBIENTAL COMO
PROCESSO DA QUALIDADE: UMA
PROPOSTA DE INTEGRAÇÃO
Jackline Andrade de Araujo (EARTE)
Alisson Lima Santos (EARTE)
Flavio Jose Araujo de Brito (EARTE)
O aumento das exigências dos consumidores por produtos sustentáveis
tem despertado nas empresas a necessidade de adotar práticas
ambientalmente corretas. A ISO 14001 tem sido a ferramenta utilizada
nas organizações para implementar um sisteema de gestão ambiental,
entretanto aplicar este modelo não é uma tarefa fácil para as
organizações. Incluir a variável ambiental na gestão da qualidade
pode ser uma alternativa para empresas que desejam melhorar o
desempenho ambiental de seus processos produtivos, e não dispõe de
recursos necessários a implementação de um SGA completo. O
presente trabalho tem como objetivo propor um modelo de inclusão da
gestão ambiental como um processo pertencente ao sistema de gestão
da qualidade.
Palavras-chaves: controle operacional, sistemas de gestão, processos
da qualidade, variáveis ambientais
XXXII ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUCAO Desenvolvimento Sustentável e Responsabilidade Social: As Contribuições da Engenharia de Produção
Bento Gonçalves, RS, Brasil, 15 a 18 de outubro de 2012.
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Bento Gonçalves, RS, Brasil, 15 a 18 de outubro de 2012.
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1. Introdução
As transformações ocorridas no comportamento da sociedade ao longo do século XX fizeram
modificar a postura do consumidor que parte de um pensamento consumista impulsionado
pela evolução da indústria e da produção e vai até o despertar da consciência ecológica
passando a exigir das empresas uma atitude mais responsável em relação ao meio ambiente. A
regulação formal através de normas e legislações ambientais, considerada por Dias (2011)
como instrumentos utilizados pelo Estado para proteger a saúde das pessoas e o bem comum,
também merece papel de destaque na construção dos novos sistemas de produção baseados
nos princípios da sustentabilidade.
Combinado suas obrigações legais com a pressão dos consumidores, a indústria passou a
direcionar seus esforços na substituição de produtos convencionais por produtos
ecologicamente corretos, produzidos de maneira sustentável, cujo processo de fabricação
proporcione o menor impacto ambiental possível. Os fornecedores de serviços buscaram
otimizar seus processos internos, reduzindo desperdícios e inserindo práticas reconhecidas
pelos seus clientes como ecologicamente corretas. A constante busca do equilíbrio entre
produção de bens e serviços e a preservação dos recursos naturais tornou-se, nas últimas
décadas, o grande desafio das organizações para a permanência no negócio.
“Cada vez mais a questão ambiental está se tornando matéria obrigatória das agendas de
executivos da empresa”, coloca Donaire (1995, p.50), afirmando ainda que diante das
pressões do mercado e dos consumidores, exigências legais e crescimento da conscientização
ecológica, as organizações tendem a incorporar a variável ambiental na prospecção de seus
cenários e decisões gerenciais, bem como manter uma postura responsável de respeito à
questão ambiental.
Nesta incessante busca por crescimento econômico, ou mesmo permanência no mercado, as
organizações têm recorrido a recursos que possam auxiliar a manter o equilíbrio entre
produção e preservação e a certificação do sistema de gestão ambiental, conforme requisitos
da NBR ISO 14001, tem se tornado um forte aliado na sobrevivência das empresas.
Entretanto implantar um sistema de gestão ambiental nem sempre é uma tarefa fácil. Muitas
vezes a empresa não é capaz de absorver os custos decorrentes da manutenção e melhoria
contínua do SGA e por outro lado é possível identificar que em determinados segmentos de
negócio a certificação, não é um diferencial competitivo e a adoção de práticas
ambientalmente corretas seriam suficientes para demonstrar uma postura responsável com o
meio ambiente.
Adotar uma postura correta em relação ao meio ambiente não necessariamente implica na
certificação ou estruturação completa de um sistema de gestão ambiental, todavia práticas
ambientais isoladas podem não se tornar eficazes pela falta de elementos para gerenciamento
ou de padronização, o que poderia fazê-las perecer em determinado momento da história da
organização.
Os modelos de sistemas de gestão utilizados atualmente apresentam grande similaridade,
possibilitando o compartilhamento de ferramentas essenciais à gestão de forma alinhada e
integrada. O Sistema de Gestão da Qualidade definido na ISO 9001:2008, permite “o
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alinhamento ou a integração de seu próprio sistema de gestão da qualidade com requisitos de
sistema de gestão relacionados” (ABNT, 2008, p. vii) ou mesmo a inclusão de um requisito de
determinado sistema de gestão como elemento integrante de outro, quando tal requisito é
tratado como requerido pelo cliente.
O presente trabalho tem como objetivo apresentar uma metodologia que permita a introdução
da variável ambiental no sistema de gestão da qualidade da organização. Dessa forma, os
objetivos específicos deste artigo são: propor a inclusão da gestão ambiental como um
processo da qualidade e descrever um roteiro para inserir a qualidade ambiental como
requisito do cliente no planejamento do sistema de gestão.
Partindo-se do pressuposto de que é possível a elaboração de uma metodologia que utilize a
gestão ambiental como um requisito do cliente, com a finalidade de integrar o seu
gerenciamento aos controles definidos no sistema da qualidade e viabilizar o controle
ambiental, são apresentados e discutidos neste texto, os elementos da gestão utilizados na
aplicação desta metodologia, bem como as vantagens do seu uso.
A implantação de sistemas de gestão ambiental ainda é uma prática pouco representativa no
Brasil, diante do grande potencial poluidor das empresas instaladas em seu território. Muitas
organizações consideram a certificação inviável, sobretudo devido aos seus custos, bem como
da manutenção de atividades requeridas pelos sistemas de gestão, que se tornam um fardo
para pequenas empresas que possuem baixo potencial poluidor e a obtenção do certificado
não é valorizada pelos seus clientes.
Justifica-se o trabalho pela necessidade da disseminação nas organizações de que é possível
possuir uma gestão ambiental sem a necessidade de implantar todos os requisitos do SGA
definidos pela ISO 14001, inviáveis para determinadas organizações e ao mesmo tempo
possuir a garantia do controle desse sistema através das ferramentas tradicionais utilizadas na
gestão da qualidade.
Através deste estudo, podemos identificar os benefícios obtidos pelas partes interessadas de
uma organização com a implantação da gestão ambiental como um processo da qualidade, e
apresentar um modelo simplificado para a inclusão da variável ambiental no Sistema de
Gestão da Qualidade, conforme requisitos estabelecidos na ABNT NBR ISO 9001:2008.
Desta forma, espera-se contribuir para o desenvolvimento da consciência ecológica e
estimular as organizações ao uso de boas práticas ambientais como ferramenta para o
desenvolvimento de sistemas de produção sustentáveis, representado pelo equilíbrio entre a
produção e a preservação ambiental através da implementação de um sistema de gestão da
qualidade.
2. Metodologia
Foram utilizados neste trabalho os tipos de pesquisa exploratória, de natureza aplicada que,
segundo Silva e Menezes (2001, p. 20), permite “gerar conhecimentos para aplicação prática,
dirigidos a solução de problemas específicos”. A pesquisa exploratória, “tem como principal
finalidade desenvolver, esclarecer e modificar conceitos e ideias, tendo em vista a formulação
de problemas mais precisos ou hipóteses pesquisáveis para estudos posteriores” Gil (2000,
p.43).
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A abordagem adotada pode ser considerada qualitativa, possuindo como meios de
investigação a pesquisa documental e bibliográfica, elaborada a partir de material já
publicado, constituído principalmente de livros, artigos de periódicos e materiais
disponibilizados na Internet (GIL, 2009).
O desenvolvimento deste trabalho foi precedido por uma revisão da literatura, buscando
identificar o estado-da-arte do tema abordado, seguido pela análise dos pontos de similaridade
entre as abordagens dos sistemas de gestão e gestão por processos, até a formulação da
proposta de um modelo de implantação.
3. Revisão da Literatura
3.1. Evolução das questões ambientais
A evolução do pensamento humano quanto à sua relação com o meio ambiente não ocorreu de
forma simples e rápida. Ao voltarmos um pouco na história, iremos perceber que a revolução
industrial promoveu o crescimento econômico em diversas partes do mundo e como afirma
Dias (2011), esse crescimento desordenado foi acompanhado por um progresso jamais visto
pela humanidade, a utilização de grandes quantidades de energia e recursos naturais,
proporcionou um quadro de degradação contínua do meio ambiente. A partir de então o
cidadão passa a ser visto unicamente como consumidor, pois se acreditava que o crescimento
econômico era a única fonte de proporcionar melhores condições de vida para uma nação.
Já por volta da década de 60, começam a surgir as primeiras preocupações com o meio
ambiente, então esse período passa a ser marcado pelos conflitos de interesses entre grupos
que lutavam pela preservação ambiental e grupos que defendiam a bandeira do crescimento
econômico. Foi somente com a publicação do relatório Nosso Futuro Comum que o conceito
do desenvolvimento sustentável, aquele que visa “garantir que ele atenda as necessidades do
presente sem comprometer a capacidade de as gerações futuras atenderem também às suas”
(CMMAD, 1991, p. 9) foi fortalecido e serviu como base para levantar as discussões mundiais
que, segundo Dias (2011, p. 19), possibilitou a “apresentação de novas propostas de
desenvolvimento que contemplavam os limites impostos pela possibilidade de esgotamento de
recursos naturais”. Como resultados de todas essas discussões surgem as normas e legislações
ambientais que definem as responsabilidades das empresas e do Estado relação ao meio
ambiente.
3.2. O sistema de gestão ambiental
A ISO (International Organization for Standardization) é uma instituição não governamental,
mundial com sede na Suiça, foi fundada em 1947, com o objetivo de propor normas
internacionais que padronizem métodos, medidas e materiais em consenso com os diferentes
países membro da organização (BATALHA et al, 2008, p. 255).
As normas de gestão ambiental da família ISO 14000 têm por objetivo prover as organizações
de elementos de um sistema da gestão ambiental eficaz que possam ser integrados a outros
requisitos da gestão, e auxiliá-las a alcançar seus objetivos ambientais e econômicos (ABNT,
2004) na NBR ISO14001.
Para Cerqueira (2006) a ISO 14001 é uma das normas internacionais de caráter voluntário,
desenvolvida para auxiliar a gestão das organizações a equilibrar seus interesses econômico-
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financeiros com os impactos gerados por suas atividades, sejam impactos ao meio ambiente
ou consequências diretas para a segurança e a saúde de seus colaboradores.
A NBR ISO 14001 especifica os requisitos para implantação e certificação de um sistema da
gestão ambiental que capacite uma organização a desenvolver e implementar política e
objetivos, levando em consideração requisitos legais e informações sobre aspectos ambientais
significativos, para melhorar seu desempenho e demonstrar a conformidade do sistema com
os requisitos definidos na própria norma ISO14001 (ABNT, 2004). O modelo do sistema de
gestão ambiental pode ser observado na figura abaixo:
Política Ambiental
Planejamento
Implementação e Operação
Verificação
Análise pela Administração
Melhoria Contínua
Figura 1 – Modelo de sistema de gestão ambiental da ABNT NBR ISO 14001:2004
Implantar um sistema de gestão ambiental, todavia não é uma tarefa simples para organização,
muitas são as dificuldades enfrentadas por organizações que se dispõem a obter a certificação
na ISO 14001, entre os quais destaca Franchi (2009): o custo na implementação das melhorias
de controles operacionais e adequação das instalações, complexidade e alto volume te
legislações a serem identificadas, cumpridas e monitoradas, deficiência na qualificação de
pessoal e mudança na cultura da organização. Ceruti e Silva (2009) corroboram incluindo
ainda a dificuldade no relacionamento com os órgãos ambientais e a falta do tratamento
adequado e disposição de efluentes e resíduos.
3.3. A gestão da qualidade e a abordagem por processos
A primeira publicação das normas ISO para gestão da qualidade ocorreu em 1987, que
harmonizavam as diversas normas utilizadas mundialmente para definir padrões de qualidade
aplicáveis a fornecedores. Em 1994 as normas da família ISO 9000, sofreram sua primeira
revisão, que mantinha o modelo prescritivo da garantia da qualidade como afirma Cerqueira
(2006). Foi somente no final do ano 2000, com sua segunda revisão que a ISO 9001 sofreu
uma mudança substancial na sua estrutura e características deixando “mais explícito não só o
atendimento aos requisitos dos clientes e aos requisitos regulamentares aplicáveis ao produto,
mas também na melhoria contínua deste atendimento” (CERQUEIRA, 2006, p. 174). A partir
desta revisão o sistema da qualidade ganhou um modelo de gestão com a abordagem por
processos.
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A sistemática de implementação do Sistema de Gestão da Qualidade atualmente definida na
ISO 9001:2008, baseia-se na identificação dos requisitos do cliente, sejam eles declarados ou
não, para planejar toda a gestão incluindo estratégia do negócio, infraestrutura, realização do
produto e medição de monitoramento dos requisitos do sistema. Essa norma foi criada como
um instrumento utilizado para “avaliar a capacidade da organização de atender aos requisitos
do cliente, os estatutários e os regulamentares, aplicáveis ao produto e aos seus requisitos”
(ABNT, 2008, p. vi).
A norma ISO 9001 estabelece um conjunto de requisitos “com o objetivo comum de gerenciar
o atendimento dos requisitos dos clientes na realização do produto e entrega do pedido”
(CARPINETTI, 2010, p. 51). Seu conteúdo está fundamentado na gestão por processos e
como afirma Cerqueira (2006, p. 86), a organização deve ser vista como “um conjunto de
processos responsáveis por assegurar o atendimento à satisfação dos clientes segundo uma
política da qualidade e objetivos da qualidade previamente estabelecidos” e os clientes
desempenham um papel significativo na definição dos requisitos de entradas do processo
global da organização (ABNT, 2008).
A abordagem por processos utilizada na construção do ISO 9001 incentiva a organização a
analisar os requisitos do cliente e definir e controlar seus processos, fornecendo estrutura para
melhoria contínua com o objetivo de aumentar a probabilidade de ampliar a satisfação de
clientes e de outras partes interessadas de forma consistente (ABNT, 2005). O gerenciamento
por processos apresenta seu referencial teórico na Teoria dos Sistemas e utiliza uma
metodologia que avalia continuamente o desempenho dos processos-chave do negócio com a
visão do cliente (ROTONDARO, 1998). De acordo com Santos et all (2012, p. 3) “a gestão
por processos busca a identificação, explicitação, otimização e melhoria contínua dos
processos empresariais, nos diversos contextos em que são apresentados”.
Na identificação dos processos da qualidade a organização deve incluir “processos para
atividades de gestão, provisão de recursos, realização do produto e medição, análise e
melhoria” (ABNT, 2008, p. 2). Os requisitos relacionados ao planejamento da realização do
produto possui importância fundamental para alcançar a conformidade do sistema de gestão,
portanto Carpinetti (2010) enfatiza que tais atividades devem ser planejadas a partir do
entendimento sobre quais são os requisitos do cliente. Este planejamento pode ser melhor
visualizado no figura 02 abaixo:
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Projeto Produção
Aquisição
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Relacionamento com o cliente
Figura 02 Requisitos de gestão da qualidade na realização do produto de Carpinetti (2010)
A gestão da qualidade está diretamente ligada à estratégia competitiva da organização e
possui como objetivo a melhoria da eficiência do negócio, redução de desperdícios de custos
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nas operações de produção tornando-se atualmente “referência para empresas que desejam
melhorar sua capacidade de gerenciar a qualidade, com eficiência e eficácia no atendimento
dos requisitos do cliente” (CARPINETTI, 2010, p. 52).
3.4. As práticas ambientais como requisito do cliente
Cerqueira (2006, p. 28) considera “essencial a identificação de todas as interfaces com os
clientes a fim de assegurar, de formar preventiva, a adequação dos produtos e serviços a seus
requisitos, isto é a suas necessidades e expectativas” e afirma ainda que cabe à organização
identificar os requisitos do cliente sejam eles explícitos ou não.
Analisando o comportamento do mercado em relação ao meio ambiente Dias (2011, p. 69)
afirma que “há um crescente aumento das exigências ambientais por parte de clientes e
consumidores finais, o que obriga a empresa a melhorar sua forma de atuar, modificando seus
processos e produtos”. Barbieri (2007, p. 116) corrobora acrescentando que “outra fonte de
pressão sobre as empresas advém do aumento da consciência da população em geral e,
principalmente, dos consumidores que procuram cada vez mais utilizar produtos e serviços
ambientalmente saudáveis”
A prática de diferenciar bens e serviços pelo desempenho ambiental é cada vez mais
perceptível na escolha do consumidor, afirma Barbieri (2007), já no âmbito empresarial existe
hoje a formação de uma cadeia de fornecedores com orientação ambiental, constituindo uma
cadeia produtiva ambientalmente correta (DIAS, 2011)
Braga et all (2005) afirma que existem evidências de que os consumidores, estão começando a
levar em consideração alguns critérios ambientais relacionados ao produto, entretanto alerta
que essa importância somente é reconhecida quando associados às suas outras necessidades,
incluindo níveis de qualidade esperados para o produto, confiabilidade e aparência.
Como as exigências ambientais partem do cliente e estão intrinsecamente relacionadas às suas
demais necessidades, é perfeitamente adequado considerá-las como um requisito do cliente
definido pela norma ISO 9000 como “necessidade ou expectativa que é expressa, geralmente,
de forma implícita ou obrigatória” (ABNT, 2005, p. 8), que pode ser gerado pelas diferentes
partes interessadas de uma organização.
O ISO 9001:2008 define que é dever da alta direção da organização “assegurar que os
requisitos do cliente sejam determinados e atendidos com o propósito de aumentar a
satisfação do cliente” (ABNT, 2008, p.4), e a partir desses requisitos deve ser planejado todo
o sistema de gestão da qualidade.
4. Resultados de Discussões
A partir da análise das questões apresentadas na revisão da literatura, é possível perceber as
dificuldades enfrentadas pela organização na implantação de um sistema de gestão ambiental,
bem como a viabilidade da inclusão das práticas ambientalmente corretas no sistema de
qualidade, a partir da identificação das exigências ambientais dos clientes, como um requisito
associado aos produtos e serviços da organização.
O modelo de gestão ambiental proposto neste trabalho parte da identificação da necessidade
de controle ambiental como um requisito do produto que deve ser inserido nos processos
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necessários à organização para implementar a manter o sue Sistema de Gestão da Qualidade.
Identificados esses processos e suas interações, eles devem ser monitorados, medidos e
gerenciados na organização de acordo com os requisitos da ISO 9001. (ABNT, 2008). O
método utilizado na identificação desses processos pode ser representado pela figura 03
abaixo:
Produto
Cliente
Empresa
Requisitos do Produto
Processos NecessáriosDiretos, Apoio e de
Gestão
Indicadores
Atendimento aos
Requisitos
Eficácia dos
Processos
Figura 03 - Modelo de planejamento do sistema de gestão
Levando-se em consideração a gestão ambiental como um requisito do produto que pode ser
definido pelo cliente, ou mesmo pela própria organização, como afirma a norma certificadora
da qualidade ABNT NBR ISO 9001 (2008), podemos definir um processo denominado
Controle Ambiental, onde serão gerenciadas as atividades necessárias à organização no
atendimento aos requisitos do seu produto. Este processo inclui atividades para o seu
planejamento, inserindo o levantamento e classificação de aspectos e impactos ambientais,
bem como definição e detalhamento de controles operacionais e planos de monitoramento.
Uma ilustração dessa sequência de atividades pode ser observada a seguir:
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Requisitos do
cliente
Recursos
disponíveis
Dados sobre
tecnologia
Legislação
ambiental
Entradas
Aspectos
significativos
controlados
Plano de
monitoramento
Procedimentos
operacionais
para meio
ambiente
SaídasProcesso: Controle Ambiental
Levantamento de
Aspectos e
Impactos
Signifi-
cativo?
Controle
Operacional
Monitoramento
do Desempenho
Sim
Não
Fim
Etapas do Processo
Índice de melhoria dos indicadores ambientais
% de cumprimento do plano de controle operacional
Indicadores de Desempenho
Figura 04 – Detalhamento do processo Controle Ambiental
4.1. Levantamento e classificação de aspectos
No levantamento de aspectos ambientais Cerqueira (2006) orienta que a organização deve
analisar todas as circunstâncias com potencial de gerar impactos para o meio ambiente, sejam
situações normais ou anormais de operação ou ainda situações de emergência. Ainda de
acordo com este autor (2007, p. 109) “uma organização pode identificar uma grande
quantidade de aspectos ambientais, reais ou potenciais, relacionados com suas atividades, mas
nem todos têm significância que justifique ações planejadas e sistemáticas de gestão”.
Portanto faz parte dessa etapa, a classificação da significância dos impactos ambientais,
permitindo assim a priorização de medidas de controle, utilizando uma metodologia própria
da organização ou através dos diversos métodos já consagrados na literatura, os quais não são
objetos desse estudo.
4.2. Definição do controle operacional
De acordo com a NBR ISO 14001, o controle operacional tem como objetivo identificar e
planejar as operações associadas aos aspectos ambientais significativos e assegurar que ela
seja realizadas sob condições especificadas. (ANBT, 2004). Nesta etapa o modelo propõe a
definição e a padronização das atividades que devem ser realizadas pela organização para
garantir que existam controles efetivos sobre o impacto considerado significativo, incluindo
especificações de processos. Um exemplo da relação do aspecto significativo com o controle
operacional pode ser observado na tabela 01:
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Aspecto Impacto Indicadores Controle
Operacional Frequência Método
Descarte de resíduos não perigosos
Contaminação do solo e dos corpos d´água
Volume de resíduo gerado
Índice de desempenho de receptores de resíduos
Índice de cumprimento do check list de resíduos
Percentual de resíduos reutilizados ou reciclados
Coleta Seletiva Diária
Segregação de resíduos no local de geração em coletores específicos de acordo com sua respectiva cor
Programa de treinamento e conscientização
Mensal Palestras envolvendo temas ambientais com todos colaboradores
Avaliação de desempenho de receptores de resíduos
Semestral Aplicação de check list
Plano de gerenciamento de resíduos
Diária Conforme definido no Procedimento 001.
Tabela 01 Exemplo de controles operacionais
4.3. Monitoramento do desempenho do controle operacional
Corrêa e Corrêa (2008, p. 159) definem medição de desempenho como “processo de
quantificação da eficiência e da eficácia das ações tomadas por uma operação”. Considerando
que a eficácia está relacionada ao alcance dos objetivos propostos e a eficiência mede a
otimização dos recursos empregados para atingir os objetivos, estabelecer indicadores para
medir o desempenho do controle operacional é a maneira apresentada para garantir a
realização das atividades planejadas, bem como para garantir que os resultados são
alcançados.
4.4. Indicadores de desempenho do processo
Indicadores são ferramentas utilizadas para monitorar os processos quanto ao alcance dos
resultados de desempenho estabelecidos, afirmam Campos e Melo (2008). O uso de
indicadores permite à organização, não apenas acompanhar o comportamento do processo,
bem como identificar e corrigir anomalias, garantindo a melhoria contínua do seu sistema de
gestão. O modelo de gestão adotado no desenvolvimento deste trabalho prevê a definição de
indicadores de desempenho para cada processo da organização e isso inclui o processo
controle ambiental, garantindo assim, o monitoramento contínuo da eficácia dos resultados
alcançados.
Na definição dos indicadores de desempenho é importante ressaltar a atenção na escolha do
indicador mais adequado à realidade de empresa e que seja capaz de representar a variável
medida, pois como afirma Coral (2002, apud CAMPOS e MELO, 2008, p. 3) "... um
indicador muito complexo ou de difícil mensuração não é adequado, pois o custo para sua
obtenção pode inviabilizar a sua operacionalização".
5. Conclusão
Diante do exposto é possível identificar, sendo a gestão ambiental tratada e documentada
como um processo da organização, todas suas atividades devem ser geridas como integrante
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do sistema de gestão da qualidade. O processo controle ambiental passa a ser monitorado,
auditado e analisado criticamente, atividades estas consideradas por Cerqueira (2006)
essenciais para garantir os objetivos planejados para a qualidade.
A aplicação do modelo de gestão proposto permite à organização definir a abrangência dos
seus controles operacionais, possibilitando a manutenção de suas práticas ambientais, ainda
que não disponha de recursos suficientes para a implantação do Sistema de Gestão Ambiental
completo conforme modelo NBR ISO 14001:2004. Como a empresa não está obrigada a
possuir implementados todos os requisitos estabelecidos pela norma para manter sua gestão
ambiental, alguns elementos, como a política ambiental, os objetivos e metas, a atualização e
o monitoramento do atendimento aos requisitos legais entre outros podem não estar definidos
no processo controle ambiental, sem, contudo, comprometer a eficácia do sistema de gestão
da organização.
O presente trabalho apresentou uma nova forma de aplicar a gestão ambiental na organização
através de uma metodologia inovadora que permite integrar os controles operacionais
ambientais ao sistema de qualidade, garantindo à empresa a gestão adequada e eficaz dos
recursos ambientais sem a necessidade da implantação de um sistema de gestão ambiental.
Espera-se com isso consolidar e testar esse modelo em estudo de caso futuro em serviços de
consultoria contribuindo para ampliar o uso das práticas sustentáveis de produção de bens de
serviços.
Referências
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fundamentos e vocabulário. Rio de Janeiro, 2005
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