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A GESTÃO AMBIENTAL COMO PROCESSO DA QUALIDADE: UMA PROPOSTA DE INTEGRAÇÃO Jackline Andrade de Araujo (EARTE) [email protected] Alisson Lima Santos (EARTE) [email protected] Flavio Jose Araujo de Brito (EARTE) [email protected] O aumento das exigências dos consumidores por produtos sustentáveis tem despertado nas empresas a necessidade de adotar práticas ambientalmente corretas. A ISO 14001 tem sido a ferramenta utilizada nas organizações para implementar um sisteema de gestão ambiental, entretanto aplicar este modelo não é uma tarefa fácil para as organizações. Incluir a variável ambiental na gestão da qualidade pode ser uma alternativa para empresas que desejam melhorar o desempenho ambiental de seus processos produtivos, e não dispõe de recursos necessários a implementação de um SGA completo. O presente trabalho tem como objetivo propor um modelo de inclusão da gestão ambiental como um processo pertencente ao sistema de gestão da qualidade. Palavras-chaves: controle operacional, sistemas de gestão, processos da qualidade, variáveis ambientais XXXII ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUCAO Desenvolvimento Sustentável e Responsabilidade Social: As Contribuições da Engenharia de Produção Bento Gonçalves, RS, Brasil, 15 a 18 de outubro de 2012.

A GESTÃO AMBIENTAL COMO PROCESSO DA QUALIDADE: … · As transformações ocorridas no comportamento da sociedade ao longo do século XX fizeram ... pela evolução da indústria

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A GESTÃO AMBIENTAL COMO

PROCESSO DA QUALIDADE: UMA

PROPOSTA DE INTEGRAÇÃO

Jackline Andrade de Araujo (EARTE)

[email protected]

Alisson Lima Santos (EARTE)

[email protected]

Flavio Jose Araujo de Brito (EARTE)

[email protected]

O aumento das exigências dos consumidores por produtos sustentáveis

tem despertado nas empresas a necessidade de adotar práticas

ambientalmente corretas. A ISO 14001 tem sido a ferramenta utilizada

nas organizações para implementar um sisteema de gestão ambiental,

entretanto aplicar este modelo não é uma tarefa fácil para as

organizações. Incluir a variável ambiental na gestão da qualidade

pode ser uma alternativa para empresas que desejam melhorar o

desempenho ambiental de seus processos produtivos, e não dispõe de

recursos necessários a implementação de um SGA completo. O

presente trabalho tem como objetivo propor um modelo de inclusão da

gestão ambiental como um processo pertencente ao sistema de gestão

da qualidade.

Palavras-chaves: controle operacional, sistemas de gestão, processos

da qualidade, variáveis ambientais

XXXII ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUCAO Desenvolvimento Sustentável e Responsabilidade Social: As Contribuições da Engenharia de Produção

Bento Gonçalves, RS, Brasil, 15 a 18 de outubro de 2012.

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1. Introdução

As transformações ocorridas no comportamento da sociedade ao longo do século XX fizeram

modificar a postura do consumidor que parte de um pensamento consumista impulsionado

pela evolução da indústria e da produção e vai até o despertar da consciência ecológica

passando a exigir das empresas uma atitude mais responsável em relação ao meio ambiente. A

regulação formal através de normas e legislações ambientais, considerada por Dias (2011)

como instrumentos utilizados pelo Estado para proteger a saúde das pessoas e o bem comum,

também merece papel de destaque na construção dos novos sistemas de produção baseados

nos princípios da sustentabilidade.

Combinado suas obrigações legais com a pressão dos consumidores, a indústria passou a

direcionar seus esforços na substituição de produtos convencionais por produtos

ecologicamente corretos, produzidos de maneira sustentável, cujo processo de fabricação

proporcione o menor impacto ambiental possível. Os fornecedores de serviços buscaram

otimizar seus processos internos, reduzindo desperdícios e inserindo práticas reconhecidas

pelos seus clientes como ecologicamente corretas. A constante busca do equilíbrio entre

produção de bens e serviços e a preservação dos recursos naturais tornou-se, nas últimas

décadas, o grande desafio das organizações para a permanência no negócio.

“Cada vez mais a questão ambiental está se tornando matéria obrigatória das agendas de

executivos da empresa”, coloca Donaire (1995, p.50), afirmando ainda que diante das

pressões do mercado e dos consumidores, exigências legais e crescimento da conscientização

ecológica, as organizações tendem a incorporar a variável ambiental na prospecção de seus

cenários e decisões gerenciais, bem como manter uma postura responsável de respeito à

questão ambiental.

Nesta incessante busca por crescimento econômico, ou mesmo permanência no mercado, as

organizações têm recorrido a recursos que possam auxiliar a manter o equilíbrio entre

produção e preservação e a certificação do sistema de gestão ambiental, conforme requisitos

da NBR ISO 14001, tem se tornado um forte aliado na sobrevivência das empresas.

Entretanto implantar um sistema de gestão ambiental nem sempre é uma tarefa fácil. Muitas

vezes a empresa não é capaz de absorver os custos decorrentes da manutenção e melhoria

contínua do SGA e por outro lado é possível identificar que em determinados segmentos de

negócio a certificação, não é um diferencial competitivo e a adoção de práticas

ambientalmente corretas seriam suficientes para demonstrar uma postura responsável com o

meio ambiente.

Adotar uma postura correta em relação ao meio ambiente não necessariamente implica na

certificação ou estruturação completa de um sistema de gestão ambiental, todavia práticas

ambientais isoladas podem não se tornar eficazes pela falta de elementos para gerenciamento

ou de padronização, o que poderia fazê-las perecer em determinado momento da história da

organização.

Os modelos de sistemas de gestão utilizados atualmente apresentam grande similaridade,

possibilitando o compartilhamento de ferramentas essenciais à gestão de forma alinhada e

integrada. O Sistema de Gestão da Qualidade definido na ISO 9001:2008, permite “o

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alinhamento ou a integração de seu próprio sistema de gestão da qualidade com requisitos de

sistema de gestão relacionados” (ABNT, 2008, p. vii) ou mesmo a inclusão de um requisito de

determinado sistema de gestão como elemento integrante de outro, quando tal requisito é

tratado como requerido pelo cliente.

O presente trabalho tem como objetivo apresentar uma metodologia que permita a introdução

da variável ambiental no sistema de gestão da qualidade da organização. Dessa forma, os

objetivos específicos deste artigo são: propor a inclusão da gestão ambiental como um

processo da qualidade e descrever um roteiro para inserir a qualidade ambiental como

requisito do cliente no planejamento do sistema de gestão.

Partindo-se do pressuposto de que é possível a elaboração de uma metodologia que utilize a

gestão ambiental como um requisito do cliente, com a finalidade de integrar o seu

gerenciamento aos controles definidos no sistema da qualidade e viabilizar o controle

ambiental, são apresentados e discutidos neste texto, os elementos da gestão utilizados na

aplicação desta metodologia, bem como as vantagens do seu uso.

A implantação de sistemas de gestão ambiental ainda é uma prática pouco representativa no

Brasil, diante do grande potencial poluidor das empresas instaladas em seu território. Muitas

organizações consideram a certificação inviável, sobretudo devido aos seus custos, bem como

da manutenção de atividades requeridas pelos sistemas de gestão, que se tornam um fardo

para pequenas empresas que possuem baixo potencial poluidor e a obtenção do certificado

não é valorizada pelos seus clientes.

Justifica-se o trabalho pela necessidade da disseminação nas organizações de que é possível

possuir uma gestão ambiental sem a necessidade de implantar todos os requisitos do SGA

definidos pela ISO 14001, inviáveis para determinadas organizações e ao mesmo tempo

possuir a garantia do controle desse sistema através das ferramentas tradicionais utilizadas na

gestão da qualidade.

Através deste estudo, podemos identificar os benefícios obtidos pelas partes interessadas de

uma organização com a implantação da gestão ambiental como um processo da qualidade, e

apresentar um modelo simplificado para a inclusão da variável ambiental no Sistema de

Gestão da Qualidade, conforme requisitos estabelecidos na ABNT NBR ISO 9001:2008.

Desta forma, espera-se contribuir para o desenvolvimento da consciência ecológica e

estimular as organizações ao uso de boas práticas ambientais como ferramenta para o

desenvolvimento de sistemas de produção sustentáveis, representado pelo equilíbrio entre a

produção e a preservação ambiental através da implementação de um sistema de gestão da

qualidade.

2. Metodologia

Foram utilizados neste trabalho os tipos de pesquisa exploratória, de natureza aplicada que,

segundo Silva e Menezes (2001, p. 20), permite “gerar conhecimentos para aplicação prática,

dirigidos a solução de problemas específicos”. A pesquisa exploratória, “tem como principal

finalidade desenvolver, esclarecer e modificar conceitos e ideias, tendo em vista a formulação

de problemas mais precisos ou hipóteses pesquisáveis para estudos posteriores” Gil (2000,

p.43).

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A abordagem adotada pode ser considerada qualitativa, possuindo como meios de

investigação a pesquisa documental e bibliográfica, elaborada a partir de material já

publicado, constituído principalmente de livros, artigos de periódicos e materiais

disponibilizados na Internet (GIL, 2009).

O desenvolvimento deste trabalho foi precedido por uma revisão da literatura, buscando

identificar o estado-da-arte do tema abordado, seguido pela análise dos pontos de similaridade

entre as abordagens dos sistemas de gestão e gestão por processos, até a formulação da

proposta de um modelo de implantação.

3. Revisão da Literatura

3.1. Evolução das questões ambientais

A evolução do pensamento humano quanto à sua relação com o meio ambiente não ocorreu de

forma simples e rápida. Ao voltarmos um pouco na história, iremos perceber que a revolução

industrial promoveu o crescimento econômico em diversas partes do mundo e como afirma

Dias (2011), esse crescimento desordenado foi acompanhado por um progresso jamais visto

pela humanidade, a utilização de grandes quantidades de energia e recursos naturais,

proporcionou um quadro de degradação contínua do meio ambiente. A partir de então o

cidadão passa a ser visto unicamente como consumidor, pois se acreditava que o crescimento

econômico era a única fonte de proporcionar melhores condições de vida para uma nação.

Já por volta da década de 60, começam a surgir as primeiras preocupações com o meio

ambiente, então esse período passa a ser marcado pelos conflitos de interesses entre grupos

que lutavam pela preservação ambiental e grupos que defendiam a bandeira do crescimento

econômico. Foi somente com a publicação do relatório Nosso Futuro Comum que o conceito

do desenvolvimento sustentável, aquele que visa “garantir que ele atenda as necessidades do

presente sem comprometer a capacidade de as gerações futuras atenderem também às suas”

(CMMAD, 1991, p. 9) foi fortalecido e serviu como base para levantar as discussões mundiais

que, segundo Dias (2011, p. 19), possibilitou a “apresentação de novas propostas de

desenvolvimento que contemplavam os limites impostos pela possibilidade de esgotamento de

recursos naturais”. Como resultados de todas essas discussões surgem as normas e legislações

ambientais que definem as responsabilidades das empresas e do Estado relação ao meio

ambiente.

3.2. O sistema de gestão ambiental

A ISO (International Organization for Standardization) é uma instituição não governamental,

mundial com sede na Suiça, foi fundada em 1947, com o objetivo de propor normas

internacionais que padronizem métodos, medidas e materiais em consenso com os diferentes

países membro da organização (BATALHA et al, 2008, p. 255).

As normas de gestão ambiental da família ISO 14000 têm por objetivo prover as organizações

de elementos de um sistema da gestão ambiental eficaz que possam ser integrados a outros

requisitos da gestão, e auxiliá-las a alcançar seus objetivos ambientais e econômicos (ABNT,

2004) na NBR ISO14001.

Para Cerqueira (2006) a ISO 14001 é uma das normas internacionais de caráter voluntário,

desenvolvida para auxiliar a gestão das organizações a equilibrar seus interesses econômico-

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financeiros com os impactos gerados por suas atividades, sejam impactos ao meio ambiente

ou consequências diretas para a segurança e a saúde de seus colaboradores.

A NBR ISO 14001 especifica os requisitos para implantação e certificação de um sistema da

gestão ambiental que capacite uma organização a desenvolver e implementar política e

objetivos, levando em consideração requisitos legais e informações sobre aspectos ambientais

significativos, para melhorar seu desempenho e demonstrar a conformidade do sistema com

os requisitos definidos na própria norma ISO14001 (ABNT, 2004). O modelo do sistema de

gestão ambiental pode ser observado na figura abaixo:

Política Ambiental

Planejamento

Implementação e Operação

Verificação

Análise pela Administração

Melhoria Contínua

Figura 1 – Modelo de sistema de gestão ambiental da ABNT NBR ISO 14001:2004

Implantar um sistema de gestão ambiental, todavia não é uma tarefa simples para organização,

muitas são as dificuldades enfrentadas por organizações que se dispõem a obter a certificação

na ISO 14001, entre os quais destaca Franchi (2009): o custo na implementação das melhorias

de controles operacionais e adequação das instalações, complexidade e alto volume te

legislações a serem identificadas, cumpridas e monitoradas, deficiência na qualificação de

pessoal e mudança na cultura da organização. Ceruti e Silva (2009) corroboram incluindo

ainda a dificuldade no relacionamento com os órgãos ambientais e a falta do tratamento

adequado e disposição de efluentes e resíduos.

3.3. A gestão da qualidade e a abordagem por processos

A primeira publicação das normas ISO para gestão da qualidade ocorreu em 1987, que

harmonizavam as diversas normas utilizadas mundialmente para definir padrões de qualidade

aplicáveis a fornecedores. Em 1994 as normas da família ISO 9000, sofreram sua primeira

revisão, que mantinha o modelo prescritivo da garantia da qualidade como afirma Cerqueira

(2006). Foi somente no final do ano 2000, com sua segunda revisão que a ISO 9001 sofreu

uma mudança substancial na sua estrutura e características deixando “mais explícito não só o

atendimento aos requisitos dos clientes e aos requisitos regulamentares aplicáveis ao produto,

mas também na melhoria contínua deste atendimento” (CERQUEIRA, 2006, p. 174). A partir

desta revisão o sistema da qualidade ganhou um modelo de gestão com a abordagem por

processos.

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A sistemática de implementação do Sistema de Gestão da Qualidade atualmente definida na

ISO 9001:2008, baseia-se na identificação dos requisitos do cliente, sejam eles declarados ou

não, para planejar toda a gestão incluindo estratégia do negócio, infraestrutura, realização do

produto e medição de monitoramento dos requisitos do sistema. Essa norma foi criada como

um instrumento utilizado para “avaliar a capacidade da organização de atender aos requisitos

do cliente, os estatutários e os regulamentares, aplicáveis ao produto e aos seus requisitos”

(ABNT, 2008, p. vi).

A norma ISO 9001 estabelece um conjunto de requisitos “com o objetivo comum de gerenciar

o atendimento dos requisitos dos clientes na realização do produto e entrega do pedido”

(CARPINETTI, 2010, p. 51). Seu conteúdo está fundamentado na gestão por processos e

como afirma Cerqueira (2006, p. 86), a organização deve ser vista como “um conjunto de

processos responsáveis por assegurar o atendimento à satisfação dos clientes segundo uma

política da qualidade e objetivos da qualidade previamente estabelecidos” e os clientes

desempenham um papel significativo na definição dos requisitos de entradas do processo

global da organização (ABNT, 2008).

A abordagem por processos utilizada na construção do ISO 9001 incentiva a organização a

analisar os requisitos do cliente e definir e controlar seus processos, fornecendo estrutura para

melhoria contínua com o objetivo de aumentar a probabilidade de ampliar a satisfação de

clientes e de outras partes interessadas de forma consistente (ABNT, 2005). O gerenciamento

por processos apresenta seu referencial teórico na Teoria dos Sistemas e utiliza uma

metodologia que avalia continuamente o desempenho dos processos-chave do negócio com a

visão do cliente (ROTONDARO, 1998). De acordo com Santos et all (2012, p. 3) “a gestão

por processos busca a identificação, explicitação, otimização e melhoria contínua dos

processos empresariais, nos diversos contextos em que são apresentados”.

Na identificação dos processos da qualidade a organização deve incluir “processos para

atividades de gestão, provisão de recursos, realização do produto e medição, análise e

melhoria” (ABNT, 2008, p. 2). Os requisitos relacionados ao planejamento da realização do

produto possui importância fundamental para alcançar a conformidade do sistema de gestão,

portanto Carpinetti (2010) enfatiza que tais atividades devem ser planejadas a partir do

entendimento sobre quais são os requisitos do cliente. Este planejamento pode ser melhor

visualizado no figura 02 abaixo:

Re

qu

isit

os

do

s cl

ien

tes Planejamento

Projeto Produção

Aquisição

Controle Ate

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de

re

qu

isit

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Relacionamento com o cliente

Figura 02 Requisitos de gestão da qualidade na realização do produto de Carpinetti (2010)

A gestão da qualidade está diretamente ligada à estratégia competitiva da organização e

possui como objetivo a melhoria da eficiência do negócio, redução de desperdícios de custos

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nas operações de produção tornando-se atualmente “referência para empresas que desejam

melhorar sua capacidade de gerenciar a qualidade, com eficiência e eficácia no atendimento

dos requisitos do cliente” (CARPINETTI, 2010, p. 52).

3.4. As práticas ambientais como requisito do cliente

Cerqueira (2006, p. 28) considera “essencial a identificação de todas as interfaces com os

clientes a fim de assegurar, de formar preventiva, a adequação dos produtos e serviços a seus

requisitos, isto é a suas necessidades e expectativas” e afirma ainda que cabe à organização

identificar os requisitos do cliente sejam eles explícitos ou não.

Analisando o comportamento do mercado em relação ao meio ambiente Dias (2011, p. 69)

afirma que “há um crescente aumento das exigências ambientais por parte de clientes e

consumidores finais, o que obriga a empresa a melhorar sua forma de atuar, modificando seus

processos e produtos”. Barbieri (2007, p. 116) corrobora acrescentando que “outra fonte de

pressão sobre as empresas advém do aumento da consciência da população em geral e,

principalmente, dos consumidores que procuram cada vez mais utilizar produtos e serviços

ambientalmente saudáveis”

A prática de diferenciar bens e serviços pelo desempenho ambiental é cada vez mais

perceptível na escolha do consumidor, afirma Barbieri (2007), já no âmbito empresarial existe

hoje a formação de uma cadeia de fornecedores com orientação ambiental, constituindo uma

cadeia produtiva ambientalmente correta (DIAS, 2011)

Braga et all (2005) afirma que existem evidências de que os consumidores, estão começando a

levar em consideração alguns critérios ambientais relacionados ao produto, entretanto alerta

que essa importância somente é reconhecida quando associados às suas outras necessidades,

incluindo níveis de qualidade esperados para o produto, confiabilidade e aparência.

Como as exigências ambientais partem do cliente e estão intrinsecamente relacionadas às suas

demais necessidades, é perfeitamente adequado considerá-las como um requisito do cliente

definido pela norma ISO 9000 como “necessidade ou expectativa que é expressa, geralmente,

de forma implícita ou obrigatória” (ABNT, 2005, p. 8), que pode ser gerado pelas diferentes

partes interessadas de uma organização.

O ISO 9001:2008 define que é dever da alta direção da organização “assegurar que os

requisitos do cliente sejam determinados e atendidos com o propósito de aumentar a

satisfação do cliente” (ABNT, 2008, p.4), e a partir desses requisitos deve ser planejado todo

o sistema de gestão da qualidade.

4. Resultados de Discussões

A partir da análise das questões apresentadas na revisão da literatura, é possível perceber as

dificuldades enfrentadas pela organização na implantação de um sistema de gestão ambiental,

bem como a viabilidade da inclusão das práticas ambientalmente corretas no sistema de

qualidade, a partir da identificação das exigências ambientais dos clientes, como um requisito

associado aos produtos e serviços da organização.

O modelo de gestão ambiental proposto neste trabalho parte da identificação da necessidade

de controle ambiental como um requisito do produto que deve ser inserido nos processos

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necessários à organização para implementar a manter o sue Sistema de Gestão da Qualidade.

Identificados esses processos e suas interações, eles devem ser monitorados, medidos e

gerenciados na organização de acordo com os requisitos da ISO 9001. (ABNT, 2008). O

método utilizado na identificação desses processos pode ser representado pela figura 03

abaixo:

Produto

Cliente

Empresa

Requisitos do Produto

Processos NecessáriosDiretos, Apoio e de

Gestão

Indicadores

Atendimento aos

Requisitos

Eficácia dos

Processos

Figura 03 - Modelo de planejamento do sistema de gestão

Levando-se em consideração a gestão ambiental como um requisito do produto que pode ser

definido pelo cliente, ou mesmo pela própria organização, como afirma a norma certificadora

da qualidade ABNT NBR ISO 9001 (2008), podemos definir um processo denominado

Controle Ambiental, onde serão gerenciadas as atividades necessárias à organização no

atendimento aos requisitos do seu produto. Este processo inclui atividades para o seu

planejamento, inserindo o levantamento e classificação de aspectos e impactos ambientais,

bem como definição e detalhamento de controles operacionais e planos de monitoramento.

Uma ilustração dessa sequência de atividades pode ser observada a seguir:

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Requisitos do

cliente

Recursos

disponíveis

Dados sobre

tecnologia

Legislação

ambiental

Entradas

Aspectos

significativos

controlados

Plano de

monitoramento

Procedimentos

operacionais

para meio

ambiente

SaídasProcesso: Controle Ambiental

Levantamento de

Aspectos e

Impactos

Signifi-

cativo?

Controle

Operacional

Monitoramento

do Desempenho

Sim

Não

Fim

Etapas do Processo

Índice de melhoria dos indicadores ambientais

% de cumprimento do plano de controle operacional

Indicadores de Desempenho

Figura 04 – Detalhamento do processo Controle Ambiental

4.1. Levantamento e classificação de aspectos

No levantamento de aspectos ambientais Cerqueira (2006) orienta que a organização deve

analisar todas as circunstâncias com potencial de gerar impactos para o meio ambiente, sejam

situações normais ou anormais de operação ou ainda situações de emergência. Ainda de

acordo com este autor (2007, p. 109) “uma organização pode identificar uma grande

quantidade de aspectos ambientais, reais ou potenciais, relacionados com suas atividades, mas

nem todos têm significância que justifique ações planejadas e sistemáticas de gestão”.

Portanto faz parte dessa etapa, a classificação da significância dos impactos ambientais,

permitindo assim a priorização de medidas de controle, utilizando uma metodologia própria

da organização ou através dos diversos métodos já consagrados na literatura, os quais não são

objetos desse estudo.

4.2. Definição do controle operacional

De acordo com a NBR ISO 14001, o controle operacional tem como objetivo identificar e

planejar as operações associadas aos aspectos ambientais significativos e assegurar que ela

seja realizadas sob condições especificadas. (ANBT, 2004). Nesta etapa o modelo propõe a

definição e a padronização das atividades que devem ser realizadas pela organização para

garantir que existam controles efetivos sobre o impacto considerado significativo, incluindo

especificações de processos. Um exemplo da relação do aspecto significativo com o controle

operacional pode ser observado na tabela 01:

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Aspecto Impacto Indicadores Controle

Operacional Frequência Método

Descarte de resíduos não perigosos

Contaminação do solo e dos corpos d´água

Volume de resíduo gerado

Índice de desempenho de receptores de resíduos

Índice de cumprimento do check list de resíduos

Percentual de resíduos reutilizados ou reciclados

Coleta Seletiva Diária

Segregação de resíduos no local de geração em coletores específicos de acordo com sua respectiva cor

Programa de treinamento e conscientização

Mensal Palestras envolvendo temas ambientais com todos colaboradores

Avaliação de desempenho de receptores de resíduos

Semestral Aplicação de check list

Plano de gerenciamento de resíduos

Diária Conforme definido no Procedimento 001.

Tabela 01 Exemplo de controles operacionais

4.3. Monitoramento do desempenho do controle operacional

Corrêa e Corrêa (2008, p. 159) definem medição de desempenho como “processo de

quantificação da eficiência e da eficácia das ações tomadas por uma operação”. Considerando

que a eficácia está relacionada ao alcance dos objetivos propostos e a eficiência mede a

otimização dos recursos empregados para atingir os objetivos, estabelecer indicadores para

medir o desempenho do controle operacional é a maneira apresentada para garantir a

realização das atividades planejadas, bem como para garantir que os resultados são

alcançados.

4.4. Indicadores de desempenho do processo

Indicadores são ferramentas utilizadas para monitorar os processos quanto ao alcance dos

resultados de desempenho estabelecidos, afirmam Campos e Melo (2008). O uso de

indicadores permite à organização, não apenas acompanhar o comportamento do processo,

bem como identificar e corrigir anomalias, garantindo a melhoria contínua do seu sistema de

gestão. O modelo de gestão adotado no desenvolvimento deste trabalho prevê a definição de

indicadores de desempenho para cada processo da organização e isso inclui o processo

controle ambiental, garantindo assim, o monitoramento contínuo da eficácia dos resultados

alcançados.

Na definição dos indicadores de desempenho é importante ressaltar a atenção na escolha do

indicador mais adequado à realidade de empresa e que seja capaz de representar a variável

medida, pois como afirma Coral (2002, apud CAMPOS e MELO, 2008, p. 3) "... um

indicador muito complexo ou de difícil mensuração não é adequado, pois o custo para sua

obtenção pode inviabilizar a sua operacionalização".

5. Conclusão

Diante do exposto é possível identificar, sendo a gestão ambiental tratada e documentada

como um processo da organização, todas suas atividades devem ser geridas como integrante

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do sistema de gestão da qualidade. O processo controle ambiental passa a ser monitorado,

auditado e analisado criticamente, atividades estas consideradas por Cerqueira (2006)

essenciais para garantir os objetivos planejados para a qualidade.

A aplicação do modelo de gestão proposto permite à organização definir a abrangência dos

seus controles operacionais, possibilitando a manutenção de suas práticas ambientais, ainda

que não disponha de recursos suficientes para a implantação do Sistema de Gestão Ambiental

completo conforme modelo NBR ISO 14001:2004. Como a empresa não está obrigada a

possuir implementados todos os requisitos estabelecidos pela norma para manter sua gestão

ambiental, alguns elementos, como a política ambiental, os objetivos e metas, a atualização e

o monitoramento do atendimento aos requisitos legais entre outros podem não estar definidos

no processo controle ambiental, sem, contudo, comprometer a eficácia do sistema de gestão

da organização.

O presente trabalho apresentou uma nova forma de aplicar a gestão ambiental na organização

através de uma metodologia inovadora que permite integrar os controles operacionais

ambientais ao sistema de qualidade, garantindo à empresa a gestão adequada e eficaz dos

recursos ambientais sem a necessidade da implantação de um sistema de gestão ambiental.

Espera-se com isso consolidar e testar esse modelo em estudo de caso futuro em serviços de

consultoria contribuindo para ampliar o uso das práticas sustentáveis de produção de bens de

serviços.

Referências

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fundamentos e vocabulário. Rio de Janeiro, 2005

ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. NBR ISO 9001: Sistemas de gestão da qualidade

- requisitos. Rio de Janeiro, 2008

ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. NBR ISO14001: Sistemas de Gestão Ambiental –

Requisitos com orientação para uso. Rio de Janeiro, 2005

BARBIERI, José Carlos. Gestão ambiental empresarial: conceitos, modelos e instrumentos. 2. ed. São Paulo:

Saraiva 2007.

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