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A GESTÃO INTEGRADA DOS MOSAICOS DE ÁREAS PROTEGIDAS COMO FERRAMENTA PARA O DESENVOLVIMENTO DA CULTURA DA PARTICIPAÇÃO SOCIAL E DA SUSTENTABILIDADE LOCAL Diva Rezende Pereira (LATEC/UFF) Carlos Frederico Bernardo Loureiro (LATEC/UFF) Resumo: Os mosaicos de áreas protegidas são uma estratégia de conservação que se destina a unir os fragmentos da mata atlântica, promovendo a manutenção da biodiversidade, formação de corredores ecológicos e a conservação da espécies. A gestão de cada conjunto de unidades próximas ou justapostas deve ser feita de forma integrada e participativa de forma a promover a otimização recursos ambientais, socioculturais e econômicos e a integração das ações de conservação. Por essa razão, o presente artigo tem como objetivo compreender o processo de formação e fortalecimento dos Conselhos Gestores dos Mosaicos de Unidades de Áreas protegidas no estado do Rio de Janeiro, e analisar a contribuição do fortalecimento desses espaços públicos de diálogo na gestão integrada das Unidades de Conservação e no desenvolvimento de novos caminhos na busca pela sustentabilidade desses territórios. Metodológicamente, o trabalho baseia se em análise da legislação dentro do Sistema Nacional de Unidades de Conservação e na observação participante no Projeto “Mosaicos da Mata Atlântica: Apoio a Gestão Integrada de Mosaicos de Áreas Protegidas e Fortalecimento da Sociobiodiversidade da Mata Atlântica com um recorte no Mosaico Central fluminense. As considerações finais apontam a importância do fortalecimento destes conselhos consultivos dos mosaicos de áreas protegidas na promoção da cultura da sustentabilidade nos aspectos ambiental, sociocultural e econômico. Palavras-chaves: mosaicos, diálogo, gestão integrada ISSN 1984-9354

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A GESTÃO INTEGRADA DOS MOSAICOS DE ÁREAS

PROTEGIDAS COMO FERRAMENTA PARA O

DESENVOLVIMENTO DA CULTURA DA

PARTICIPAÇÃO SOCIAL E DA SUSTENTABILIDADE

LOCAL

Diva Rezende Pereira

(LATEC/UFF)

Carlos Frederico Bernardo Loureiro (LATEC/UFF)

Resumo: Os mosaicos de áreas protegidas são uma estratégia de conservação que se destina a

unir os fragmentos da mata atlântica, promovendo a manutenção da biodiversidade, formação de

corredores ecológicos e a conservação da espécies. A gestão de cada conjunto de unidades

próximas ou justapostas deve ser feita de forma integrada e participativa de forma a promover a

otimização recursos ambientais, socioculturais e econômicos e a integração das ações de

conservação. Por essa razão, o presente artigo tem como objetivo compreender o processo de

formação e fortalecimento dos Conselhos Gestores dos Mosaicos de Unidades de Áreas protegidas

no estado do Rio de Janeiro, e analisar a contribuição do fortalecimento desses espaços públicos

de diálogo na gestão integrada das Unidades de Conservação e no desenvolvimento de novos

caminhos na busca pela sustentabilidade desses territórios. Metodológicamente, o trabalho baseia

se em análise da legislação dentro do Sistema Nacional de Unidades de Conservação e na

observação participante no Projeto “Mosaicos da Mata Atlântica: Apoio a Gestão Integrada de

Mosaicos de Áreas Protegidas e Fortalecimento da Sociobiodiversidade da Mata Atlântica com um

recorte no Mosaico Central fluminense. As considerações finais apontam a importância do

fortalecimento destes conselhos consultivos dos mosaicos de áreas protegidas na promoção da

cultura da sustentabilidade nos aspectos ambiental, sociocultural e econômico.

Palavras-chaves: mosaicos, diálogo, gestão integrada

ISSN 1984-9354

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1. INTRODUÇÃO

A ferramenta de gestão integrada, ao ser empregada no conjunto de áreas protegidas, tem

a ação de contribuir para o diálogo entre os gestores de unidades de conservação e a sociedade

civil, minimizando os conflitos inerentes a gestão ambiental pública. O fortalecimento dos

conselhos gestores dos mosaicos de áreas protegidas acontece também pela participação da

sociedade civil nesses espaços públicos de dialogo.

Assim, a gestão integrada nos mosaicos de unidades de conservação, a partir de seus

conselhos gestores e da participação da sociedade civil organizada é uma ferramenta capaz de

estabelecer um diálogo com as atuais demandas da sociedade ao promover reflexões e ações

relativas ao meio ambiente e suas diversas formas de uso. Dessa forma, ela contribui para a

constituição/afirmação da identidade dos sujeitos envolvidos de forma a estimulá-los a

valorizarem seu entorno e se tornarem autores e construtores de suas realidades, possibilitando sua

contribuição a favor da conservação através da participação e do controle social e da formação de

uma nova cultura ambiental.

Nesse sentido, a participação da sociedade tem o intuito de orientar as tomadas de decisão

dos gestores dos mosaicos de maneira a contemplar as necessidades da conservação da natureza e

das populações locais, desenvolvendo a cultura do exercício da cidadania através da participação e

de controle social voltada a preservação e manutenção dessas áreas. Para isso, o dialogo entre os

gestores das unidades de conservação com as comunidades viabiliza a construção de estratégias de

integração do território, onde as ações a serem desenvolvidas coletivamente possam promover a

otimização de recursos (aspecto econômico), a preservação da natureza (aspecto ambiental) e a

valorização da identidade, saberes e afazeres da comunidade local (aspecto sociocultural), de

forma a construir uma nova cultura de participação fundamentada nesses três eixos.

A integração dos aspectos sociocultural, ambiental e econômico, juntamente com a

educação ambiental e o turismo se perfazem como ferramentas estratégicas para o

desenvolvimento de uma nova cultura ambiental onde a preservação dos recursos naturais,

socioculturais e econômicos são os pilares capazes de fomentar a melhoria da qualidade de vida e

promover o desenvolvimento de novas atividades econômicas e produtivas que além de garantir a

subsistência dos envolvidos nessas atividades possam colaborar com a conservação e preservação

da natureza bem como da cultura local através da participação social.

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Esta forma de gestão ambiental participativa atenta para o desenvolvimento de atividades

econômicas capazes de colaborar com a conservação e preservação dos recursos naturais. Da

mesma forma, ela busca a garantia uma melhor qualidade de vida para as populações, estimulando

a articulação dos diferentes coletivos sociais a favor da participação e controle social na gestão

dos recursos naturais e na aplicação de recursos públicos que contribuam na construção de praticas

sustentáveis orientadas a conservação da natureza de forma integrada.

Perante o melhor esclarecimento a respeito da dinâmica envolvendo a gestão integrada no

desenvolvimento das unidades de conservação, o presente trabalho objetiva aprofundar,

compreender, e pesquisar o conceito mosaicos de áreas protegidas dentro do Sistema Nacional de

Unidades de Conservação (SNUC), os desafios e as consequências de sua implantação para os

territórios onde essa ferramenta de gestão esta sendo utilizada. Assim, como contribuição

adicional do trabalho, o mesmo também busca analisar a legislação pertinente e o funcionamento

dos conselhos gestores dos Mosaicos de Áreas Protegidas (MAPs), as fontes orçamentárias para

sua implementação, e pontuar alguns desafios para essa implementação. Para tanto, foi realizada

uma breve analise sobre o processo de fortalecimento do conselho gestor do Mosaico Central

Fluminense e suas consequências para a gestão integrada do território, a partir de resultados

preliminares obtidos pelo Projeto Mosaicos da Mata Atlântica, desenvolvido pela Secretaria de

Estado do Ambiente do Rio de Janeiro em parceria com o Instituto Brasileiro de Análises Sociais

e Econômicas (Ibase).

O enfoque dado à metodologia do Projeto Mosaicos da Mata Atlântica é destacado pela

sua característica principal que é a participação da sociedade na gestão pública ambiental, com o

intuito de promover a melhoria na qualidade de vida das pessoas através da gestão integrada

desses territórios, da minimização dos conflitos inerentes ao acesso e uso dos recursos naturais, e

da promoção da apropriação dos saberes relacionados ao exercício da cidadania, da participação e

controle social, pela comunidade local e os gestores públicos, através do desenvolvimento da

educação ambiental crítica e emancipadora, que se formata como uma ferramenta estratégica

capaz de colaborar com o desenvolvimento de uma nova cultura de sustentabilidade,

protagonizando os sujeitos sociais.

Para um melhor entendimento, o trabalho foi organizado em três partes. O primeiro

apresenta a fundamentação teórica das discussões que envolvem a importância da Mata Atlântica

e sua vulnerabilidade, as diferentes ferramentas de gestão previstas no SNUC como os mosaicos

de áreas protegidas, os corredores ecológicos e as reservas da biosfera, onde foram apontados

pontos importantes quanto as formas de gestão, diretrizes e os resultados esperados no território

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quanto aos aspectos ambientais, socioculturais e econômicos em âmbito nacional. Já, a segunda

parte expõe a dinâmica que envolve a destinação dos recursos necessários para a criação e

implantação dos Mosaicos de Áreas Protegidas bem como os desafios no campo da gestão pública

ambiental na implementação de formas de gestão integradas que atendam aos objetivos da

conservação e preservação, bem como a metodologia de pesquisa utilizada. E por fim, a terceira

parte mostra as consequências desta forma de gestão e faz uma análise do Projeto Mosaicos de

Mata Atlântica pontuando alguns resultados obtidos no âmbito deste projeto no território do

Mosaico Central Fluminense.

2. UNIDADES DE CONSERVAÇÃO E SUAS ALTERNATIVAS

O Brasil abriga, hoje, a maior biodiversidade do planeta, que se traduz em mais de 20%

do número total de espécies da Terra (MMA, 2014a). De acordo com Ministério do Meio

Ambiente (MMA), o país apresenta um território com uma dimensão de, aproximadamente, 8,5

milhões km², e sua formação compõe distintos biomas: a Floresta Amazônica, o Pantanal, o

Cerrado, a Caatinga, os Pampas, e a da Mata Atlântico (SNIF, 2014).

Segundo o Ministério do Meio Ambiente (MMA, 2014b), o bioma da Mata Atlântica

abriga centenas de espécies de aves, anfíbios, répteis, mamíferos e peixes, sendo algumas delas

apenas encontradas neste bioma. Já, em relação as espécies vegetais, a Mata Atlântica, que está

presente em 17 estados brasileiros, abriga cerca de 35% das espécies existentes no país, o

equivalente a cerca de 20.000 espécies (MMA, 2014b).

Apesar de toda a riqueza do bioma da Mata Atlântica no que diz respeito a

biodiversidade, este importante bioma possui diversas espécies endêmicas ameaçadas de extinção

e sofre constantemente pressões socioeconômicas geradas pela expansão dos centros urbanos,

caracterizando a fragilidade desse ambiente. Em razão disso, diferentes medidas em esferas

Federal, Estadual e Municipal foram tomadas a favor da busca pela conectividade dos fragmentos

ainda existentes desse bioma que é altamente prioritário para a conservação da biodiversidade no

planeta.

Reconhecendo a importância ambiental e a necessidade de preservação do bioma da Mata

Atlântica, no Brasil, foi criada em 31 de agosto de 1981, a Lei n° 6.938, que dispõe sobre a

Política Nacional do Meio Ambiente (BRASIL, 1981). Esta lei trata da necessidade de

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preservação, melhoria e recuperação da qualidade ambiental, compatibilizando o desenvolvimento

econômico-social com a preservação da qualidade do meio ambiente e do equilíbrio ecológico;

objetivando assegurar, no país, melhoria e recuperação da qualidade ambiental propícia à vida e à

proteção da dignidade da vida humana, a serem defendidos pelo poder público e pela coletividade.

Seguindo essa mesma linha a favor da manutenção da biodiversidade em território

nacional, o Governo Federal, através da Lei no 9.985, de 18 de julho de 2000, regulamenta o

artigo 225 da Constituição Federal e institui o Sistema Nacional de Unidades de Conservação, o

SNUC (BRASIL, 2000). O SNUC tem como intuito promover o desenvolvimento sustentável a

partir dos recursos naturais.

As Unidades de Conservação, também chamadas de UCs, são caracterizadas como o

espaços territoriais e seus recursos ambientais, incluindo as águas jurisdicionais, com

características naturais relevantes, legalmente instituído pelo Poder Público, com objetivos de

conservação e limites definidos, sob regime especial de administração, ao qual se aplicam

garantias adequadas de proteção (BRASIL, 2000). As UCs foram criadas para garantir a

diversidade biológica, caracterizada pelo SNUC como sendo composta pela variabilidade de

organismos vivos de todas as origens, compreendendo os ecossistemas terrestres e aquáticos e os

complexos ecológicos de que fazem parte, assim como a diversidade dentro de espécies, entre

espécies e de ecossistemas (BRASIL, 2000); e também a proteção dos recursos ambientais,

definidos por esta mesma lei como sendo a atmosfera, as águas interiores, superficiais e

subterrâneas, os estuários, o mar territorial, o solo, o subsolo, os elementos da biosfera, a fauna e a

flora, como objetos de relevante interesse para a conservação.

O Sistema Nacional de Unidades de Conservação é uma representação que estabelece

critérios e normas para a criação, implantação e gestão das unidades de conservação, no intuito de

contribuir para a manutenção da diversidade biológica, proteger as espécies ameaçadas de

extinção, recuperar ou restaurar ecossistemas degradados, valorizar econômica e socialmente a

diversidade biológica, promover a educação e interpretação ambiental, o turismo ecológico, e o

desenvolvimento sustentável a partir dos recursos naturais, dentre outros objetivos focados na

proteção e valorização desta riqueza (BRASIL, 2001).

As diretrizes do SNUC direcionam a preservação do patrimônio biológico existente,

voltadas para a conservação dos diferentes ecossistemas que assegurem os mecanismos e

procedimentos necessários ao envolvimento da sociedade no estabelecimento e na revisão da

política nacional de unidades de conservação, atentando para a participação efetiva das populações

locais na criação, implantação e gestão das unidades de conservação. Além disso, elas também

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buscam orientar o desenvolvimento de estudos, pesquisas científicas, práticas de educação

ambiental, atividades de lazer e de turismo ecológico, que garantam o monitoramento,

manutenção e outras atividades de gestão das unidades de conservação assegurando, nos casos

possíveis, a sustentabilidade econômica das unidades de conservação.

Um ponto importante para o entendimento do conceito de mosaicos de áreas protegidas

se baseia na compreensão de que as unidades de conservação que compõem o SNUC estão

distribuídas em diferentes categorias, as quais são determinadas a partir das diferentes formas de

restrição relativas ao acesso e uso de seus recursos. Essas regras quanto as diferentes formas de

uso dos recursos foram divididas em dois grandes grupos: Unidades de Proteção Integral, como o

Parque Nacional; e as Unidades de Uso Sustentável, como a Área de Proteção Ambiental (APA).

As UCs de Uso integral visam a manutenção dos ecossistemas livres de alterações

causadas por interferência humana, e admitem apenas o uso indireto dos seus atributos naturais, ou

seja, aquele que não envolve consumo, coleta, dano ou destruição dos recursos naturais. Já as UCs

de Uso Sustentável permitem a exploração do ambiente de maneira a garantir a perenidade dos

recursos ambientais renováveis e dos processos ecológicos, mantendo a biodiversidade e os

demais atributos ecológicos, de forma socialmente justa e economicamente viável, permitindo o

uso direto, ou seja, aquele que envolve coleta e uso, comercial ou não, dos recursos naturais

(BRASIL, 2000). A Quadro 1 apresenta tipologias e categorias de Unidades de Conservação

previstas pelo Sistema Nacional de Unidades de Conservação , de acordo com a Lei 9.985 de 18

de julho de 2000 (BRASIL, 2000).

Quadro 1: Tipos e categorias de Unidades de Conservação

Proteção Integral Uso Sustentável

Estação Ecológica Área de Proteção Ambiental

Reserva Biológica Área de Relevante Interesse ecológico

Parque Nacional Floresta Nacional

Monumento Natural Reserva Extrativista

Refúgio da Vida Silvestre

Reserva de Fauna

Reserva de Desenvolvimento Sustentável

Reserva Particular do Patrimônio Natural

Fonte: (BRASIL, 2000)

No que diz respeito a gestão das diferentes categorias de Unidades de Conservação (UCs)

prevista pelo SNUC, o Decreto n° 4.340, de 22 de agosto de 2002 regulamenta artigos da Lei no

9.985, de 18 de julho de 2000 que determina a criação de Mosaicos de Unidades de Conservação

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(BRASIL, 2000) e da outras providências quanto as formas para a estruturação e funcionamento

desse Sistema de Gestão Integrada. Os Mosaicos de Unidades de Conservação se perfazem como

instrumentos de gestão integrada e participativa, que têm a intenção de ampliar os limites dos

limites das UCs, compatibilizando a presença da biodiversidade, a valorização da

sociobiodiversidade, e o desenvolvimento sustentável no contexto regional, de acordo com o

Artigo 26 da Lei n° 9.985, de 18 de julho de 2000, que determina:

“Quando existir um conjunto de unidades de conservação de categorias diferentes ou não,

próximas, justapostas ou sobrepostas, e outras áreas protegidas públicas ou privadas,

constituindo um mosaico, a gestão do conjunto deverá ser feita de forma integrada e

participativa, considerando-se os seus distintos objetivos de conservação, deforma a

compatibilizar a presença da biodiversidade, a valorização da sociodiversidade e o

desenvolvimento sustentável no contexto regional”.

(BRASIL, 2000)

Os Mosaicos podem fortalecer a criação de Corredores Ecológicos a medida em que seus

fragmentos passem a ser geridos de forma integrada, visando ampliar a escala de planejamento

territorial além de evidenciar a importância da preservação da biodiversidade local, incentivando

praticas de manejo mais apropriadas, e reduzindo os impactos negativos das atividades antrópicas.

Desta maneira, aumentam as chances de se reconectarem as áreas naturais interrompidas entre as

unidades de conservação e também entre os Mosaicos.

Em relação as Reservas da Biosfera, o mosaico é um instrumento de gestão que abrange

os três tipos de zonas territoriais dessas reservas: as Zonas Núcleo (Unidades de Conservação e

Áreas Protegidas), as Zonas de Amortecimento (entorno das zonas núcleo) e as Zonas de

Transição (envolvem as zonas de amortecimento e núcleo, áreas urbanas, agrícolas e industriais).

Os Mosaicos e as Reservas da Biosfera têm como objetivos a conservação da biodiversidade e

promoção do desenvolvimento sustentável, e essas duas figuras se reforçam mutuamente, pois

incorporam processos sociais, econômicos e políticos ao bioma, de modo a planejar paisagens

mais sadias (PRIMACK & RODRIGUES, 2001).

Os Mosaicos de Áreas Protegidas (MAPs) são reconhecidos juridicamente por meio de

Ato do Ministério do Meio Ambiente, que institui o conselho consultivo dos mosaicos. O conselho

consultivo dos mosaicos é o principal instrumento de relacionamento entre as unidades e a

sociedade, sendo incumbidos de promover a integração das unidades que o compõem. Este

conselho deve ser composto por representantes da sociedade civil e do poder público em suas

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diferentes esferas de atuação, federal, estadual ou municipal, sendo essa composição oficializada

através de portaria publicada no Diário Oficial (SNUC, 2000).

Dentre as competências dos conselhos, está prevista a elaboração de seu regimento

interno, o acompanhamento, a implementação e a revisão de seus planos de gestão integrada, a

organização de reuniões, elaboração de atas e acompanhamento das atividades a que se propõem

os Mosaicos de Áreas Protegidas (SNUC, 2000).

Para a realização dessas atividades faz se essencial o funcionamento e o fluxo contínuo

das atividades das secretarias executivas dos conselhos consultivos dos Mosaicos de Áreas

Protegidas, ou seja, recursos humanos qualificados para gerir as demandas dos mosaicos e

administrar as questões burocráticas relativa a gestão dos conselhos. De acordo com a Lei nº

11.516 de 2007, a subdivisão da gestão associada às unidades de conservação se subdividem de

acordo com o Quadro 2.

Quadro 2: Atribuições e finalidades dos órgãos gestores das Unidades de Conservação.

Órgão de atuação Órgão responsável Atribuições/Finalidade/Função

Órgão consultivo e

deliberativo

Conselho Nacional do

Meio Ambiente

(Conama)

Atribuições de acompanhar a implementação do

Sistema

Órgão central Ministério do Meio

Ambiente (MMA) Finalidade de coordenar o Sistema

Órgãos executores Instituto Chico

Mendes e o Ibama

Função de implementar o SNUC, subsidiar as

propostas de criação e administrar as unidades de

conservação federais, estaduais e municipais, nas

respectivas esferas de atuação.

Fonte: Brasil, 2007

Porém, para subsidiar financeiramente as ações dessas secretarias executivas, as

previsões orçamentárias são insuficientes e não se encontram tão claramente dispostas no SNUC,

principalmente em relação ao quanto estão esclarecidas as demandas referentes a implementação

dos conselhos e suas atribuições. As secretarias executivas dos conselhos dos mosaicos devem

apoiar tecnicamente na construção de seus planos de manejo e gestão integrada, convocar

reuniões, elaborar ata, e fazer toda a comunicação entre as UCs e a sociedade, e a indicação de

fontes de recursos específicas que garantam a manutenção dessas atividades, porém o

detalhamento financeiro não esta claramente colocado no SNUC, para o custeio dessas secretarias

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que são essenciais ao bom funcionamento e a continuidade das atividades dos conselhos

consultivos de forma a sustentar suas ações e custeios.

3. RECURSOS FINANCEIROS E SEUS DESAFIOS NO CAMPO DA

GESTÃO DOS MOSAICOS

Para que a gestão integrada aconteça, o aporte de recursos torna se o principal gargalo

para a conservação. De acordo com o estudo "Pilares para a Sustentabilidade Financeira do

Sistema Nacional de Unidades de Conservação" (MMA, 2009a) ficou evidenciado que as fontes

tradicionais de financiamento das unidades de conservação, especialmente as públicas, são

essenciais, porém insuficientes. Por isso, alternativas de financiamento não públicas devem ser

pensadas de forma a complementar os recursos públicos orientados a esse fim, de forma a garantir

a sustentabilidade administrativa do sistema.

Segundo o Ministério do Meio Ambiente (MMA, 2014b), aproximadamente 70% do PIB

brasileiro é advindo apenas de atividades relacionada com o bioma da Mata Atlântica, que hoje

encontra-se fragmentado e reduzido a cerca de 22 % de sua cobertura original. Ao longo dos

últimos anos, o crescimento populacional e o desenvolvimento dos espaços urbanos aumentou,

consideravelmente, a vulnerabilidade dos biomas brasileiros, como é o caso do bioma da Mata

Atlântica. Por essa razão, se fez necessária a construção de mecanismos de apoio a sua proteção

além da necessidade de e financiamento público e privado destinado a sua conservação.

Segundo o estudo Alternativas para a Manutenção das Unidades de Conservação da

Caatinga (HAUFF, 2010), a falta de recursos suficientes e constantes para a consolidação das

unidades de conservação brasileiras é hoje um dos principais gargalos para a efetiva

implementação do Sistema Nacional de Unidades de Conservação, sendo a limitação desse custeio

seu principal desafio.

Segundo o estudo Contribuição dos Estados Brasileiros para a Conservação da Biodiversidade:

Diagnóstico Financeiro das Unidades de Conservação Estaduais (FREITAS & CAMPHORA,

2009), a gestão administrativa e operacional das UCs necessita prioritariamente custear ações

ligadas as despesas de pessoal (secretaria executiva), água, luz, telefone, combustível, manutenção

de veículos, fiscalização e combate a incêndios florestais, implantação de corredores ecológicos,

gestão e controle florestal e produção de mudas e sementes.

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No que diz respeito a realidade do estado do Rio de Janeiro, os recursos provenientes das

compensações ambientais são destinados e aplicados pela Câmara de Compensação Ambiental do

Estado do Rio de Janeiro (CCA/RJ). Estudos publicados pela The Nature Conservancy ao longo

dos últimos anos indicam que os recursos no estado do Rio de Janeiro oriundos da arrecadação das

taxas de serviços ambientais, são insignificantes em relação as despesas operacionais do sistema e

a maior demanda são os recursos destinados às despesas de custeio.

Segundo o Manual para Elaboração dos Planos Municipais para a Mata Atlântica

(RMA, sd), para viabilizar outras formas e estratégias de proteção específicas da Mata Atlântica,

foi instituído o Fundo de Restauração do Bioma Mata Atlântica, disposto na Lei no 4.771, de 15 de

setembro de 1965, que orienta os recursos para o financiamento de projetos de restauração

ambiental e de pesquisa científica, formado através de dotações orçamentárias da União, recursos

resultantes de doações de pessoas físicas e jurídicas, nacionais ou internacionais, dentre outros,

destinados a proteção e conservação deste bioma e de sua sociobiodiversidade.

4. SOCIEDADE E MOSAICOS DA MATA ATLÂNTICA

No contexto da gestão da sustentabilidade dos Mosaicos de Unidades de Áreas

Protegidas, um importante ponto a ser considerado diz respeito as populações tradicionais

presentes nestes biomas. Estas populações são partes integrantes destes ambientes, participando

como agentes de transformação.

O desenvolvimento de uma cultura de participação e controle social dessas populações na

gestão ambiental pública deve objetivar o fortalecimento da gestão integrada do território de

forma a atender as finalidades da conservação, mas também da sociedade civil organizada, através

da construção de espaços de diálogos capazes de intermediar os diferentes interesses visando a

minimização dos conflitos socioambientais e estabelecimento de novos horizontes quanto a

sustentabilidade do território com o um todo.

Dessa forma, além de discutir os interesses da conservação e das populações locais em

relação ao acesso e uso dos recursos naturais, a construção da cultura de participação e controle

social contribui para a emancipação dos sujeitos sociais através do protagonismo nas ações de

proteção e conservação da natureza, na governança local e na inclusão dos atores sociais nas

tomadas de decisão. O desenvolvimento de atividades que contribuam para a conservação e uso

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sustentável de recursos devem ter o intuito de priorizar as vocações naturais do território e

fortalecer a identidade local.

Porém, Loureiro & Cunha (2008) afirmam a necessidade de reconhecer que são

observados, na prática, problemas quanto à melhor forma de funcionamento dos conselhos, até

mesmo por seu pouco tempo de existência. Outro ponto importante refere ao histórico de conflitos

e de ausência de estratégias de diálogo entre órgãos ambientais e agentes sociais populares

envolvidos em áreas protegidas (o que tem gerado um contexto de mútua desconfiança e um

afastamento que dificulta a reversão do cenário centralizado de gestão ambiental dominante no

país). O fato de muitas UCs terem sido criadas de cima para baixo, sem participação social em sua

definição, dificulta o sentido de pertencimento que auxiliaria na criação de um espaço de tomada

de decisões, onde seria necessária a confiança na obediência das normas estabelecidas e acordadas

no grupo. Nesse sentido, não basta validar a existência desses espaços se os atores sociais não se

percebem incluídos nos mesmos, causando o seu esvaziamento ou até mesmo o boicote da

sociedade a esses conselhos.

No entanto, essas atividades devem otimizar os recursos disponíveis fortalecendo a

cultura da sustentabilidade em seus três eixos de sustentação, ambiental, sociocultural e

econômico, engajando não só os gestores públicos, mas também a sociedade civil articulada na

construção de soluções estratégicas no processo de construção de uma nova cultura ambiental

através da gestão ambiental participativa e integrada em áreas naturais, que inclui no planejamento

de atividades de Educação Ambiental e de turismo, como atividades a serem desenvolvidas nos

parques e no entorno das unidades de conservação, para aproximar a população e promover uma

melhor percepção da comunidade local quanto os benefícios oriundos da criação dessas áreas.

Outro foco importante dessa gestão participativa é garantir que grupos em maior

vulnerabilidade como as populações tradicionais, agricultores e moradores que habitam o entorno

dos Mosaicos, possam dialogar com os gestores de forma assegurar o direito de desenvolver e

incentivar novas formas de desenvolvimento econômico que sejam mais adequadas as

necessidades locais, distribuindo os benefícios da criação das Unidades de Conservação no que

tangem as oportunidades no campo do turismo e da educação ambiental, para que estas

populações possam substituir as atividades impactantes e proibidas, por atividades que estejam de

acordo com a legislação vigente, e que continuem garantindo a subsistências dessas populações.

Além disso, esses dois campos de atuação, turismo sustentável e educação ambiental, foram

indicadas pelo MMA como atividades prioritárias a serem desenvolvidas nas zonas de

amortecimento das UCs.

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Segundo o Manual de Ecoturismo (BRASIL, 2010), o turismo sustentável é uma

atividade capaz de relacionar as necessidades dos turistas e das regiões receptoras, protegendo e

fortalecendo oportunidades para o futuro. Ele contempla a gestão dos recursos econômicos, sociais

e necessidades estéticas, mantendo a integridade cultural, os processos ecológicos essenciais, a

diversidade biológica e os sistemas de suporte à vida.

Outro estudo da Organização Internacional do Trabalho, chamado Manual para a

Redução da Pobreza por meio do Turismo (OIT, 2011), fala sobre o turismo sustentável e aponta

seus três pilares de sustentação: justiça social, desenvolvimento econômico e integridade

ambiental. Segundo esse estudo o turismo sustentável deve promover o melhor uso possível dos

recursos ambientais que constituem os elementos-chave para o desenvolvimento do setor,

voltando-se a manutenção de processos ecológicos essenciais e contribuindo com a preservação

dos recursos naturais e a biodiversidade.

Esse mesmo estudo indica que o turismo sustentável deve ter como compromissos o

respeito pela autenticidade sociocultural das comunidades anfitriãs, preservar seu patrimônio

cultural e valores tradicionais, e contribuir para o entendimento intercultural e a tolerância (OIT,

2011). Desta forma, ele deve garantir tanto o desenvolvimento de atividades econômicas viáveis,

como proporcionar os mesmos benefícios socioeconômicos a todas as partes envolvidas, inclusive

empregos estáveis, oportunidades de renda e serviços sociais às comunidades anfitriãs,

contribuindo, também, para a redução da pobreza(UNWTO, 2010).

Assim, a criação de atividades, como o turismo sutentável em todos os seus segmentos e

as ações de educação/interpretação ambiental, são estratégicas, pois colaboram para preservação

dos recursos naturais e podem contribuir com a melhoria da qualidade de vida das populações

locais que, ao participarem do planejamento dessa atividade direcionada ao seu território, passam

a enxergar os caminhos para que estas se beneficiem das oportunidades fomentando a

sustentabilidade territorial. Outro foco importante é a possibilidade fortalecimento de uma cadeia

produtiva, a do turismo, que valoriza a identidade local, seus saberes e afazeres, que passam a ser

considerados recursos culturais, um diferencial nos diversos segmentos do turismo. No documento

Diretrizes para visitação em Unidades de Conservação (MMA, 2006), a visitação das UCs devem

funcionar como um apoio econômico para a conservação da natureza e potencializar a utilização

sustentável dos serviços vinculados aos ecossistemas.

Outro documento fundamental para a boa implementação dos mosaicos é o Estratégia

Nacional de Comunicação e Educação Ambiental, o ENCEA: Este documento, no âmbito do

SNUC, estabelece princípios, diretrizes, objetivos e propostas de ações necessárias à formulação e

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execução de políticas públicas, programas e atividades de Educação Ambiental e Comunicação

voltadas ao (re)conhecimento, valorização, criação, implementação, gestão e proteção das

Unidades de Conservação federais, estaduais e municipais de todas as categorias previstas no

Sistema Nacional de Unidades de Conservação (MMA, 2009b), fundamentais ao bom

funcionamento dos Mosaicos.

É consenso, em todos os referenciais políticos e legais que subsidiam a ENCEA, que a

comunicação e a educação ambiental são instrumentos indispensáveis para incentivar a

mobilização da população e garantir a participação das comunidades residentes e do entorno nos

processos de criação, implementação e gestão das áreas protegidas, contribuindo, dessa forma,

com uma melhor forma de gestão no que tange os Mosaicos de áreas protegidas.

5. MOSAICOS CENTRAL FLUMINENSE

A escolha pelo recorte no território do Mosaico Central Fluminense teve a intenção de

analisar um Mosaico consolidado, visto que possui um planejamento estratégico para os próximos

10 anos, que esta sendo reavaliado com a participação dos diversos grupos que constituem o seu

conselho gestor. Além disso, é no território do Mosaico Central Fluminense que esta sendo

construído o COMPERJ, um complexo petroquímico que esta sendo instalado em uma área de

fundamental relevância para a conservação da Mata Atlântica, passível de promover profundas

modificações neste território, ambiental, econômica e socialmente, e modificando

significativamente a vida das populações que ali habitam. Além disso, para o caso específico do

Mosaico Central Fluminense, após o inicio de Projeto de fortalecimento do conselho gestor, em

setembro de 2013, foi iniciado um processo de reformulação dos planos de gestão integrada desse

mosaico, servindo de modelo para os outros 4 mosaicos, por ser o mais bem estruturado do estado

do Rio de Janeiro.

Na reformulada gestão integrada no Mosaico Central Fluminense, para que os Planos de

Ação Integrada fossem elaborados de forma participativa, foram instituídos no âmbito de projetos

três grupos de trabalho com representantes do poder público e da sociedade civil: um grupo

relacionado com a fiscalização ligado aos acompanhamentos das condicionantes ambientais do

Comperj que afetam diretamente as UCs do Mosaicos Central Fluminense; o de Proteção a

Biodiversidade; e o de Comunicação e Fomento ao Turismo.

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Este último grupo foi formado e organizado para fomentar a realização de um 5º

Encontro de Comunidades, no intuito de fazer um reconhecimento das diversas populações e

atividades produtivas que são desenvolvidas nesse território, a fim de sensibilizar essas

comunidades para desenvolverem suas praticas culturais e econômicas orientadas para a

preservação e otimização dos recursos naturais e culturais presentes em sua área de abrangência.

Essa ação estratégica pretende promover a melhoria da qualidade de vida dessas populações e o

desenvolvimento de atividades que possam envolver os sujeitos locais, priorizando-os em relação

as novas oportunidades ligadas a preservação ambiental, conservação e interpretação do meio

ambiente de suas cadeias produtivas orientadas à educação ambiental e o turismo. Essa iniciativa é

uma tentativa de dar uma solução mais efetiva no que se refere a criação e a gestão dos mosaicos

de áreas protegidas no estado do Rio de Janeiro para que eles possam de fato ser

operacionalizados, além de servir de modelo para a implementação da “ferramenta” mosaico em

âmbito nacional.

Em relação aos planos de gestão integrada, eles se destinam a otimização de recursos

humanos e financeiros e articulam as necessidades da conservação e das comunidades locais,

orientando a participação da sociedade, através de seus conselhos consultivos, na construção uma

nova cultura ambiental que envolve a participação e o controle social na gestão ambiental pública,

no campo da educação ambiental crítica e emancipadora, focando em atividades que garantam a

sustentabilidade local, como por exemplo, o turismo.

Para o Mosaico Central Fluminense, o grande gargalo ainda presente na gestão deste

mosaico é o custeio da secretaria executiva, responsável pela a articulação do território e pela

promoção da gestão integrada, além de fazer toda a parte de convocação de reuniões, atas e

encaminhamentos das ações definidas no âmbito do conselho.

A opção por privilegiar o processo constitutivo dos conselhos, enquanto momento

educativo e de exercício da cidadania, dá-se por o entender como fundamental para o

funcionamento desse espaço público, onde estão inscritas as intencionalidades, os diálogos e as

disputas dos agentes sociais que participaram do processo, e, da mesma forma, onde está inscrita a

concepção que norteará o grupo formado em sua prática de gestão. Além disso, pensar na

educação ambiental no contexto dos processos de gestão é estratégico para a reflexão crítica sobre

os rumos do desenvolvimento que o país assume; bem como para pensar na condição de

enfrentamento e mediação dos conflitos ambientais e de potencialização de propostas que visem a

sustentabilidade democrática, encarnada por agentes sociais que buscam um padrão civilizatório

distinto do vigente (LOUREIRO, 2004; LAYRARGUES, 2002).

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6. CONSIDERAÇÕES FINAIS

A promoção da gestão integrada nos mosaicos de unidades de conservação através dos

conselhos gestores faz com que os envolvidos neste processo compreendam que a gestão

ambiental pública não é um campo neutro e sim um lugar de conflitos de interesses, onde os mais

vulneráveis, como as populações tradicionais, agricultores, pescadores dentre outros grupos

devem se articular para poderem participar e interferir de forma que suas necessidades básicas de

acesso e uso dos recursos naturais possam ser debatidas e defendidas tanto pelos grupos

articulados quanto pelos gestores dos mosaicos.

Assim, os agentes envolvidos devem compreender a importância da participação da

sociedade como subsídio fundamental para que as tomadas de decisão dos gestores sejam

percebidas e apoiadas pela comunidade, de forma a garantir, através do controle social, que não só

os impactos gerados, mas também os benefícios oriundos dessa nova forma de gestão integrada

possam ser distribuídos e percebidos pelos que ali residem.

É nesse sentido que a metodologia participativa do Projeto Mosaicos da Mata Atlântica se

constitui como importante iniciativa do governo do estado do Rio de Janeiro a fim de fortalecer a

gestão integrada das áreas preservadas, reduzindo os conflitos inerentes à gestão desses territórios

e promovendo a cultura da sustentabilidade. Para isto, há a necessidade do fortalecimento da

participação social nos espaços destinados a esse fim, integrando as ações dos gestores e da

comunidade local na construção de caminhos menos conflituosos e que garantam o controle social

e o monitoramento de atividades que estão em desacordo com os objetivos da conservação,

garantindo, dessa forma, que não somente o poder público mas também a sociedade exerça seu

papel para garantir os direitos descritos na constituição brasileira.

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