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Língua portuguesa: ultrapassar fronteiras, juntar culturas (Eds.) Mª João Marçalo & Mª Célia Lima-Hernandes, Elisa Esteves, Mª do Céu Fonseca, Olga Gonçalves, Ana LuísaVilela, Ana Alexandra Silva © Copyright 2010 by Universidade de Évora ISBN: 978-972-99292-4-3 SLG 32 – As interfaces da gramática. 66 A GRAMÁTICA E O CÁLCULO DO SENTIDO METAFÓRICO Bento Carlos DIAS-DA-SILVA 1 Ana Eliza Barbosa de OLIVEIRA 2 RESUMO: Considerando a gramática como cálculo de produção de sentidos e, em particular, a sua interface com a descrição lingüística, este trabalho discute como o sentido de construções metafóricas convencionais pode ser calculado a partir da especificação de relações lógico-semânticas que se estabelecem entre os conhecimentos metafórico e lexicogramatical. Na abordagem cognitivista, que embasa a discussão, a metáfora é estudada nas dimensões conceitual e linguística, postulando-se que, naquela, o processo metafórico opera sobre constituintes específicos de dois domínios conceituais através de mapeamentos sistemáticos que resultam nas metáforas conceituais e que, nesta, as metáforas conceituais são instanciadas por construções linguísticas. Assim, a partir de considerações de que as construções metafóricas são descrições linguísticas resultantes de mapeamentos conceituais metafóricos subjacentes e de que as distinções por eles estabelecidas são instanciadas pela lexicogramática das línguas, este trabalho analisa esse tipo de construção através da modelagem (i) dos dois domínios conceituais a elas subjacentes, que inclui a especificação dos seus constituintes, das conexões lógico-estruturais que se verificam entre os conceitos dentro de cada domínio e dos mapeamentos entre conceitos dos dois domínios, e (ii) da instanciação linguística desses constituintes e mapeamentos. Em particular, explora essas conexões no estudo de diferentes usos metafóricos de construções com explodir no campo semântico da IRA (A Maria está prestes a explodir de ódio) e estende a análise para o cálculo do sentido metafórico de construções com esse verbo em outros campos semânticos como os da COMUNICAÇÃO (Maria explode: “calem-se!”), do MONETÁRIO (O preço da gasolina explodiu), entre outros. Argumenta-se que os usos metafóricos convencionais dessas construções sustentam-se sobre uma estrutura semântico-conceitual subjacente, que é depreendida em termos dos constructos teóricos “domínio conceitual”, “esquema de imagem”, “campo semântico” e “frame semântico”. Assim, modelando o significado lexical em termos dos conceitos e frames semânticos por ele ativados e os constituintes dos domínios conceituais metaforicamente ativados tanto em termos de relações taxonômicas e horizontais quanto em termos de frames semânticos (que estabelecem a necessária conexão entre as informações conceitual, contextual e lexical), conclui-se que a análise aqui proposta possibilita, por um lado, o cálculo do conhecimento metafórico e, por outro, o cálculo do sentido metafórico resultante da instanciação linguística desse conhecimento. 1 Universidade Estadual Paulista. Faculdade de Ciências e Letras. Departamento de Letras Modernas/ Programa de Pós-Graduação em Lingüística e Língua Portuguesa. Rodovia Araraquara-Jaú Km1. 14.800-901. Araraquara, São Paulo, Brasil. [email protected] 2 Universidade Estadual Paulista. Faculdade de Ciências e Letras. Programa de Pós-Graduação em Lingüística e Língua Portuguesa. Rodovia Araraquara-Jaú Km1. 14.800-901. Araraquara, São Paulo, Brasil. [email protected]

A GRAMÁTICA E O CÁLCULO DO SENTIDO … · metáfora conceitual O RELACIONAMENTO AMOROSO É UMA JORNADA, que conceitua a evolução, as dificuldades e os objetivos do relacionamento

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Língua portuguesa: ultrapassar fronteiras, juntar culturas (Eds.) Mª João Marçalo & Mª Célia Lima-Hernandes, Elisa Esteves, Mª do Céu Fonseca, Olga Gonçalves, Ana LuísaVilela, Ana Alexandra Silva © Copyright 2010 by Universidade de Évora ISBN: 978-972-99292-4-3 SLG 32 – As interfaces da gramática.

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A GRAMÁTICA E O CÁLCULO DO SENTIDO METAFÓRICO

Bento Carlos DIAS-DA-SILVA1 Ana Eliza Barbosa de OLIVEIRA2

RESUMO: Considerando a gramática como cálculo de produção de sentidos e, em particular, a sua interface com a descrição lingüística, este trabalho discute como o sentido de construções metafóricas convencionais pode ser calculado a partir da especificação de relações lógico-semânticas que se estabelecem entre os conhecimentos metafórico e lexicogramatical. Na abordagem cognitivista, que embasa a discussão, a metáfora é estudada nas dimensões conceitual e linguística, postulando-se que, naquela, o processo metafórico opera sobre constituintes específicos de dois domínios conceituais através de mapeamentos sistemáticos que resultam nas metáforas conceituais e que, nesta, as metáforas conceituais são instanciadas por construções linguísticas. Assim, a partir de considerações de que as construções metafóricas são descrições linguísticas resultantes de mapeamentos conceituais metafóricos subjacentes e de que as distinções por eles estabelecidas são instanciadas pela lexicogramática das línguas, este trabalho analisa esse tipo de construção através da modelagem (i) dos dois domínios conceituais a elas subjacentes, que inclui a especificação dos seus constituintes, das conexões lógico-estruturais que se verificam entre os conceitos dentro de cada domínio e dos mapeamentos entre conceitos dos dois domínios, e (ii) da instanciação linguística desses constituintes e mapeamentos. Em particular, explora essas conexões no estudo de diferentes usos metafóricos de construções com explodir no campo semântico da IRA (A Maria está prestes a explodir de ódio) e estende a análise para o cálculo do sentido metafórico de construções com esse verbo em outros campos semânticos como os da COMUNICAÇÃO (Maria explode: “calem-se!”), do MONETÁRIO (O preço da gasolina explodiu), entre outros. Argumenta-se que os usos metafóricos convencionais dessas construções sustentam-se sobre uma estrutura semântico-conceitual subjacente, que é depreendida em termos dos constructos teóricos “domínio conceitual”, “esquema de imagem”, “campo semântico” e “frame semântico”. Assim, modelando o significado lexical em termos dos conceitos e frames semânticos por ele ativados e os constituintes dos domínios conceituais metaforicamente ativados tanto em termos de relações taxonômicas e horizontais quanto em termos de frames semânticos (que estabelecem a necessária conexão entre as informações conceitual, contextual e lexical), conclui-se que a análise aqui proposta possibilita, por um lado, o cálculo do conhecimento metafórico e, por outro, o cálculo do sentido metafórico resultante da instanciação linguística desse conhecimento.

1 Universidade Estadual Paulista. Faculdade de Ciências e Letras. Departamento de Letras Modernas/ Programa de Pós-Graduação em Lingüística e Língua Portuguesa. Rodovia Araraquara-Jaú Km1. 14.800-901. Araraquara, São Paulo, Brasil. [email protected] 2 Universidade Estadual Paulista. Faculdade de Ciências e Letras. Programa de Pós-Graduação em Lingüística e Língua Portuguesa. Rodovia Araraquara-Jaú Km1. 14.800-901. Araraquara, São Paulo, Brasil. [email protected]

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PALAVRAS-CHAVE: metáfora conceitual; construção metafórica; campo semântico; frame semântico.

Introdução

Conforme relata Grady (2007), o estudo científico da metáfora tem raízes antigas.

Iniciado por Aristóteles (1996), chega até nossos dias com contribuições formais e inovadoras

de Anderson (1971) e Reddy (1993). Este último sendo o grande motivador dos estudos

cognitivistas iniciados por Lakoff e Jonhson (1980). Recorde-se que o trabalho de Reddy foi

publicado em Ortony (1979), ma das obras mais significativas sobre o estudo da metáfora sob

diferentes pontos de vista. Conforme mostra a introdução ao estudo da metáfora do ponto de

vista cognitivista esboçada a seguir, a principal contribuição desse enfoque para a compreensão

da metáfora é considerar as construções linguísticas metafóricas como passíveis de serem

tratadas sistematicamente e de fornecerem pistas sobre o funcionamento da cognição humana.

Para o enfoque cognitivista inicia-se com Lakoff e Johnson (1980), e que embasa toda a

discussão deste artigo, subjacente às metáforas linguísticas, isto é, ao uso metafórico

convencional de construções linguísticas, e dando-lhes o suporte interpretativo, encontram-se as

metáforas conceituais, que possibilitam aos usuários da língua construir e interpretar esse tipo

de construção linguística.

Mais especificamente, as metáforas conceituais são caracterizadas como feixes de

mapeamentos entre dois domínios conceituais que se aproximam de modo a configurar a

seguinte estruturação: elementos e relações de um domínio conceitual da experiência,

denominado domínio fonte (F) e instanciado canonicamente por construções linguísticas

literalmente interpretadas, são usados para construir e interpretar outro domínio conceitual da

experiência, denominando domínio alvo (A) e instanciado por construções metaforicamente

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interpretadas.3 Em outras palavras, a metáfora conceitual resulta do estabelecimento de uma

série de correspondências sistemáticas entre elementos e relações estruturais complexas

pertencentes a cada um dos dois domínios.

As metáforas conceituais codificam, conforme argumentação de Lakoff e Johnson

(1980), parcelas da experiência corporal, social e cultural.4 Um dos exemplos clássicos é a

metáfora conceitual O RELACIONAMENTO AMOROSO É UMA JORNADA, que

conceitua a evolução, as dificuldades e os objetivos do relacionamento em termos da evolução,

das dificuldades e dos objetivos de uma jornada. As construções metafóricas Veja aonde

chegamos e Não podemos voltar atrás são exemplos de instanciações lingüísticas dessa

metáfora conceitual. À medida que essas construções são igualmente aplicáveis a jornadas, elas

são consideradas pistas lingüísticas de que o conceito de AMOR é parcialmente estruturado em

termos do conceito de JORNADA (LAKOFF e JOHNSON, 1980 e 1999).

Como as metáforas conceituais não se vinculam a unidades lexicais específicas,

segmentos do enunciado, denominados tópico e veículo da metáfora linguística, instanciam

linguisticamente elementos e relações dos domínios A e F.5 Assim, a identificação tanto desses

segmentos quanto dos elementos de cada domínio conceitual, bem como da estruturação desses

elementos, e dos mapeamentos entre os domínios é tarefa crucial para a modelagem da

metáfora conceitual e do cálculo do sentido metafórico das construções que a instanciam

linguisticamente.

3 Kövecses (2002) define domínio conceitual como organizações coerentes da experiência, que, segundo Cienki (2007, p. 170), modelam “o conhecimento enciclopédico estruturado que está inextricavelmente vinculado ao conhecimento linguístico”. (Tradução livre) 4 Segundo Kövecses (2009), os fatores contextuais que exercem papel na produção/interpretação das construções metafóricas convencionais são: (i) o contexto lingüístico imediato, (ii) o conhecimento sobre as entidades que participam no discurso, (iii) o cenário físico, (iv) o cenário social e (v) o contexto cultural imediato. 5 Cameron (1999, p. 14) define tópico e veículo como os descritores de superfície dos mapeamentos metafóricos.

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Considere-se, por exemplo, a construção O preço da gasolina explodiu. A relação de

natureza metafórica que se estabelece entre o tópico, O preço da gasolina, e o veículo,

explodiram, é interpretável devido à correlação que se pode estabelecer entre essa construção e

a metáfora conceitual assim esquematizada: QUANTIDADE É VERTICALIDADE, que é

particularizada por MAIS É PARA_CIMA.6 Nesses esquemas, VERTICALIDADE e

PARA_CIMA são rótulos mnemônicos que nomeiam o domínio F; analogamente,

QUANTIDADE e MAIS nomeiam o domínio A. Assim, conforme ilustra a Fig. 1, o

estabelecimento dessa correlação exige tanto a identificação dessas metáforas conceituais e dos

mapeamentos relevantes entre os seus respectivos domínios F e A quanto das relações que

possibilitam as instanciações [O preço da gasolina instancia MAIS>QUANTIDADE] e

[explodiu instancia PARA_CIMA>VERTICALIDADE].7

Figura1: Indicação da modelagem da metáfora conceitual e do cálculo do sentido da metáfora linguística.

Como destaca Kövecses (2002, p. 69-70), a metáfora conceitual MAIS É

PARA_CIMA sustenta-se na seguinte correlação da experiência: “o evento de se adicionar mais

6 Lakoff (1993, p. 222) postula que os mapeamentos metafóricos se organizam em estruturas hierárquicas: mapeamentos de níveis inferiores herdam as estruturas de mapeamentos de níveis superiores. 7 O símbolo “>” sinaliza subestrutura.

Metáfora linguística (cálculo de sentidos) Metáfora conceitual (modelagem de conceitos)

?

Dimensão Conceitual

A

VERTICALIDADE >PARA-CIMA

QUANTIDADE >MAIS

F

mapeamentos

A F

O preço da gasolina

Dimensão Linguística

?

VERTICALIDADE

>PARA_ CIMA

QUANTIDADE >MAIS

explodiu

? instanciações

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fluido a um recipiente é acompanhado do evento de o nível do fluido subir” (tradução livre).

Explica ainda que essa metáfora opera com os domínios conceituais esquemáticos

QUANTIDADE e VERTICALIDADE, que, por sua vez, estruturam-se em termos do

esquema de imagem ESCALA, que inclui respectivamente, as escalas polares MAIS-MENOS

e PARA_CIMA-PARA_BAIXO.8 Assim, por um lado, dado que o domínio F,

VERTICALIDADE, estrutura-se em termos da escala acima referida, o verbo explodiu, ao

instanciar linguisticamente o conceito EXPLOSÃO, instancia também a propriedade escalar

PARA_CIMA, porque uma explosão resulta do aumento e não da diminuição de intensidade,

situação que acionaria o polo oposto, PARA BAIXO, da escala, conforme discussão nas seções

2 e 4.9 Por outro, o tópico da construção metafórica O preço da gasolina, ao instanciar uma

quantia em dinheiro, instancia o domínio A, QUANTIDADE. Por fim, a metáfora conceitual

esquematizada por MAIS É PARA_CIMA determina a instanciação a propriedade escalar

MAIS da escala MAIS-MENOS, possibilitando um cálculo aproximado do sentido da

construção metafórica O preço da gasolina explodiu.

À medida que é o veículo que fornece a evidência lingüística da metáfora conceitual

(STEFANOWITSCH e GRIES 2006), o principal desafio do cálculo do sentido da construção

metafórica, ilustrado em (ii), é como o veículo explodir lexicaliza o domínio F PARA CIMA.

Dado que os sentidos lexicais conectam-se inextricavelmente aos conceitos (KÖVECSES,

1986), os conceitos, por sua vez, são constituintes de domínios conceituais (CLAUSNER e

CROFT, 1999; CROFT, 2009) e os domínios conceituais são estruturados internamente em

termos de frames semânticos (SULLIVAN, 2007), as conexões entre domínios conceituais e

construções lingüísticas, em geral, e entre o domínio F e o veículo, em particular, são

8 Johnson (1987) define esquema de imagem como uma estrutura esquemática e recorrente da experiência. 9 Note-se que as propriedades escalares PARA_CIMA e PARA BAIXO são instanciadas, respectivamente, por verbos como subir, em Os preços subiram, e baixar, em Os preços baixaram.

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investigadas em termos do constructo frames semânticos, que são suficientemente expressivos

para estabelecer as conexões entre língua, conceitos e contextos de uso.

Argumenta-se que subjacente essas expressões lingüísticas há uma estruturação

semântica de EXPLOSÃO, que é investigada em termos dos constructos teóricos ‘metáfora

conceitual’ (LAKOFF; JOHNSON, 1980), ‘domínio conceitual’ (LAKOFF; JOHNSON 1999;

CLAUSNER; CROFT 1999), ‘esquema de imagem’ (JOHNSON 1987; OAKLEY 2007),

frame semântico (FILLMORE 1985; FILLMORE; ATKINS 1992; RUPPENHOFER 2006) e

‘campos semânticos’ (KITTAY, 1987). Em termos desses constructos, esboça-se uma

estratégia para abordar linguisticamente a estrutura semântica de EXPLODIR e ilustra como

essa estratégia pode ser extrapolada em diferentes campos semânticos.

Na sequência, este trabalho apresenta, nas seções subsequentes, o suporte teórico, em

termos dos construtos acima referidos e das relações que se estabelecem entre eles, mostrando

como os domínios conceituais podem ser modelados em termos dos frames e como este

fornecem os elos para a modelagem das metáforas conceituais e para, a partir dessa modelagem

lexicogramatical, efetuar-se o cálculo dos sentidos metafóricos das construções que instanciam

as metáforas conceituais.

Relações entre domínio conceitual, campo semântico e frame semântico

Clausner e Croft (1999) demonstram que a relação semântica entre conceito e domínio

é uma relação do tipo parte-todo. Na metáfora conceitual QUANTIDADE É

VERTICALIDADE, o subdomínio conceitual QUANTIDADE DE DINHEIRO é um domínio

mais específico do domínio A, QUANTIDADE, e contém conceitos como PREÇO, DESPESA

e CARO, que se instanciam por unidades lexicais como preço, despesa/despender e

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caro/carestia/encarecer, entre outras; analogamente, o subdomínio conceitual PARA_CIMA é

também um domínio mais específico do domínio F, VERTICALIDADE, que integra conceitos

como SUBIDA e EXPLOSÃO, que se instanciam lingüisticamente por unidades lexicais como

subir/subida, aumento/aumentar e explosão/explodir, entre outras.

A relação lógica conceito-domínio é parcialmente espelhada na relação semântica

sentido-campo semântico. Do mesmo modo que os conceitos contidos no domínio F são partes

desse domínio, os significados das unidades lexicais que instanciam os conceitos de F

constituem um mesmo campo semântico. Entretanto, enquanto os conceitos contidos no

domínio A são partes de A, os significados das unidades lexicais que instanciam os conceitos de

A constituem campos semânticos distintos.

Assim, conforme argumenta Kittay (1987), o veículo da construção metafórica é

sempre articulado por unidades lexicais de um mesmo campo lexical, dado que essas unidades

lexicalizam conceitos de um mesmo domínio e, consequentemente, os seus significados

constituem um mesmo campo semântico.

Considere, por exemplo, a construção metafórica O preço da gasolina subiu e explodiu.

Embora os significados dos veículos subiu e explodiu expressem diferentes graus na escala de

preços, dado que o segundo claramente expressa que o grau atingiu um dos valores máximos,

ambos constituem o mesmo campo semântico, dado que os esses verbos instanciam conceitos

do mesmo domínio conceitual PARA_CIMA. Já o significado complexo do tópico O preço da

gasolina constituem campos semânticos distintos, dado que preço e gasolina instanciam

conceitos de domínios conceituais distintos: o primeiro instancia o conceito PREÇO e constitui

um campo lexical contendo unidades como taxa e valor; o segundo instancia o conceito

GASOLINA, constituindo um campo lexical com unidades como combustível e petróleo.

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Note-se que, na concepção clássica de campo semântico, os significados são definidos

em termos das posições que ocupam dentro do campo; de acordo com Cruse (1992), essa

posição é estabelecida em termos de relações estruturais e independentes da experiência do tipo

é_um, é_um_tipo_de, é_parte_de, é_usado_para. Por outro lado, na concepção cognitivista de

domínio conceitual, os conceitos são definidos em relação a conhecimentos estruturados da

experiência. Conforme será discutido na seção seguinte, esse tipo de conhecimento é

frequentemente “enquadrado” pelo constructo frame semântico (FILLMORE e ATKINS,

1992). Assim, a característica de incluir dados da experiência presente nos construtos domínio

conceitual e frame semântico, mas ausente nos construtos campo semântico/campo lexical,

conforme apontam Nerlich e Clark (2000), tornam estes, mas não aqueles, ferramentas

analíticas apropriadas para descrever a metáfora nas dimensões lingüística e conceitual, posto

que, como já se mencionou, nela estão codificados, parcelas da experiência corporal, social e

cultural.

Caracterização de domínios conceituais em termos de frames semânticos

O frame semântico define-se como “uma estrutura conceitual que descreve um tipo

particular de situação, objeto ou evento [isto é, os predicados] e os participantes [isto é, os

papéis semânticos] envolvidos” (RUPPENHOFER et al., 2005, p. 1).10 Os participantes do

frame são denominados Elementos do Frame (EF) e as construções lingüísticas que evocam o

frame são designadas Elementos que Evocam o Frame (EEF).

10 Enquanto os papéis temáticos são propriedades semânticas gerais que são abstraídas em grande escala da realização sintática, os EFs são elaborações mais específicas dos papéis temáticos, ou seja, ao invés de se especificarem apenas papéis temáticos genéricos, no frame especificam-se também “revestimentos” específicos desses papéis em função da análise sintática e semântico-conceitual das diferentes posições sintáticas das construções (BOUVERET e SWEETSER, 2009). Assim, no frame, não se especifica apenas o papel temático genérico Agente, mas instanciações mais específicas, isto é, micropapéis, como Matador, Vítima, Vendedor, Corredor, etc. Neste trabalho serão utilizados apenas os EFs relevantes para a discussão.

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Os frames configuram a interpretação dos enunciados. Por exemplo, o frame a partir do

qual a construção O preço da gasolina subiu é interpretada é o frame cenário_comercial,

definido como “Uma situação em que um Comprador e um Vendedor participam de uma troca

de Moeda por Mercadoria’, em que Comprador, Vendedor, Moeda e Mercadoria são EFs.11 No

nível da construção, a unidade lexical gasolina evoca o EF Mercadoria e a unidade lexical preço

evoca o EF Moeda. O sentido do verbo subir relevante para a discussão é “avançar numa escala

de valores” (escala de preço da gasolina). Esse sentido, por sua vez, é enquadrado pelo frame

mudança_escalar_de_posição, definido como “Uma situação em que uma Entidade que

possui uma propriedade escalar, o seu Atributo, muda a sua posição na escala, da posição

inicial, o Valor_Inicial, para a posição final, o Valor_Final”, em que Entidade, Atributo,

Valor_Inicial e Valor_Final são EFs. Nesse frame, gasolina evoca o EF Entidade e preço evoca

o EF Atributo. A Fig. 2 esquematiza as relações entre construções e frames.

Na Fig. 2, as setas curvas conectam os EEFs preço e subir aos frames

cenário_comercial e mudança_escalar_de_posição, respectivamente. As setas pontilhadas

indicam que preço e gasolina evocam os EFs Atributo e Entidade do frame

mudança_escalar_de_posição e os EFs Moeda e Mercadoria do frame cenário comercial,

respectivamente.

11 Os frames semânticos discutidos neste artigo estão catalogados na rede FrameNet, uma implementação computacional da Semântica de Frames em desenvolvimento pela equipe de Fillmore na Universidade da California, Berkeley, disponível para consulta no endereço eletrônico: http://framenet.icsi.berkeley.edu/.

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Figura 2: Interpretação de O preço da gasolina subiu em termos de frames semânticos.

Observe-se que, na dimensão conceitual, o “conteúdo temático” da construção O preço

da gasolina subiu (preço da gasolina) é enquadrado pelo frame cenário_comercial e o seu

“conteúdo remático” (aumento do preço) é enquadrado pelo frame

mudança_escalar_de_posição. Essa propriedade é relevante para explicar parte da estrutura da

construção metafórica, porque os conteúdos temático e remático associam-se, respectivamente,

ao tópico e ao veículo da metáfora linguística, sendo aquele o elemento crucial para a

interpretação do sentido metafórico. Assim, enquanto o conteúdo que molda a interpretação da

metáfora linguística provém do domínio A, a estrutura a partir da qual esse conteúdo é

organizado provém do domínio F.

Considere a construção metafórica A Maria ficou tão entusiasmada que quase explodiu

de felicidade. Conforme ilustra as setas na Fig. 3, as unidades lexicais Maria, entusiasmada e

felicidade pertencentes ao tópico evocam os EFs Experienciador, Estado_Emocional e Emoção

do frame experiência, que modela o domínio A e é assim definido: “Uma situação em que um

Experienciador encontra-se em um Estado_Emocional ou experiencia algum tipo de Emoção”,

em que Experienciador, Estado_Emocional e Emoção são EFs.12

12 A elaboração desse frame será feita na seção 4.

O preço da gasolina subiu

Frame: cenário_comercial Moeda Mercadoria

Frame: mudança_escalar_de_posição Entidade Atributo

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Conexão das dimensões conceitual e linguística da metáfora

Ao analisar os argumentos que ocorrem com o verbo comer nas construções literais,

Croft (2009) argumenta que as distinções lexicogramaticais instanciadas por comer derivam de

distinções conceituais específicas. Segundo o autor, o evento COMER realiza-se por meio de

três estágios: um estágio inicial de ENTRADA do alimento (colocar o alimento na boca), um

estágio intermediário de PROCESSO do alimento (mastigar o alimento) e um estágio final de

INGESTÃO do alimento (engolir o alimento).

Figura 3: Relação de evocação entre unidades lexicais e EFs do tópico da metáfora.

A diferença entre os estágios inicial e intermediário, de um lado, e o estágio final, de

outro, é que, nos primeiros, parte do alimento ainda não foi processado e, no último, o

processamento do alimento é completamente realizado. Essas distinções conceitualmente

estabelecidas são mapeadas quando os conceitos MASTIGAR e ENGOLIR são

metaforicamente instanciados, conforme ilustram as construções metafóricas Não queremos

forçar os visitantes a mastigar informações que são irrelevantes ao que procuram e Eu tive que

engolir o orgulho que restou. Segundo Croft, à medida que esboçam relações semântico-

conceituais específicas, cada estágio é enquadrado por um frame semântico específico.

Essa argumentação, aplicada à estruturação do domínio conceitual EXPLOSÃO,

permite a proposição dos dois estágios descritos em (1) CAUSA

(INTENSIDADE_MÁXIMAPRESSÃO, EXPLOSÃO) e (2) CAUSA (EXPLOSÃO,

A Maria ficou tão entusiasmada que quase explodiu de felicidade Frame: experiência

Experienciador

Estado_Emocional

Emoção

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LIBERAÇÃOPRESSÃO). (1) descreve a intensidade máxima de pressão que um recipiente

suporta antes de explodir/romper-se; (2) descreve a liberação de pressão resultante da

explosão/rompimento do recipiente. Esses estágios são empregados na interpretação dos usos

metafóricos de explodir em diferentes campos semânticos. Esses dois estágios podem ser

instanciados, respectivamente, em construções metafóricas como A Maria está prestes a

explodir de raiva (C1) e Quando a Maria soube que ele havia desistido do colégio, ela explodiu

(C2). Enquanto C1 expressa a intensidade elevada da emoção, C2 expressa a sua liberação.

Estabelece-se assim a analogia: C1 está para (1) assim como C2 está para (2). Note-se que,

embora o conceito IRA não esteja lexicalmente instanciado em C2, essa instanciação é inferida

a partir da dimensão conceitual em termos da metáfora conceitual IRA É PRESSÃO

CONTIDA. Segundo Kövecses (1986), o conceito IRA é abstraído do mapeamento da estrutura

<quando a intensidade da pressão no interior do recipiente torna-se excessivamente intensa, o

recipiente explode/rompe-se e libera a pressão> pertencente ao domínio F sobre a estrutura

<quando a intensidade da ira torna-se excessivamente intensa, a pessoa extravasa e libera a ira>

pertencente ao domínio A.

Ao analisar os tipos de construções sintáticas usados comumente para descrever o

domínio A AMOR da metáfora conceitual O RELACIOMENTO AMOROSO É UMA

JORNADA, Glynn (2002, p. 552) argumenta que os diferentes tipos de construção que

instanciam o conceito AMOR instanciam “diferentes topologias [isto é, “estruturas de esquema

de imagem” (LAKOFF, 1993, p. 9)]” desse conceito. De modo análogo, as construções

exemplificadas no parágrafo anterior instanciam as duas “topologias”,

INTENSIDADE_MÁXIMA e LIBERAÇÃO, do conceito EXPLOSÃO.

Para apreender a estrutura mapeada do domínio F PRESSÃO CONTIDA sobre o

domínio A IRA CONTIDA e estabelecer a conexão entre as metáforas conceitual e linguística,

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analisam-se as relações e os elementos mapeados dos dois domínios em termos de frames e de

seus respectivos elementos. Essa análise embasa-se na discussão de que a esquematização do

domínio conceitual pode ser modelada em termos da estrutura de frames (SULLIVAN, 2007).

Em particular, as estruturas topológicas INTENSIDADE_MÁXIMA e LIBERAÇÃO

são enquadradas, respectivamente, pelos frames mudança_escalar_de _posição, definido na

seção anterior, e causa_de_mudança_escalar_de_posição, definido como “Uma situação em

que um Agente ou uma Causa muda a posição de uma Entidade na escala”, em que Agente,

Causa e Entidade são EFs. Enquanto o limite superior da escala de intensidade (<intensidade

máxima da pressão>) é semanticamente elaborado pelo EF Valor_Final do frame

mudança_escalar_de_posição no domínio F PRESSÃO CONTIDA, a transposição desse

limite (<liberação da pressão>) é semanticamente elaborada pelo EF Causa do frame

causa_mudança_escalar_de_posição, à medida que é a identificação da capacidade máxima

do recipiente com a intensidade da pressão contida que resulta na explosão. Os EFs Entidade e

Causa do domínio da PRESSÃO, são mapeados, respectivamente, no domínio A IRA, sobre

EFs dos frames experiência, definido na seção anterior, e emoção_direcionada, definido

como “Uma situação em que um Experienciador reage emocionalmente a um Estímulo, isto é, a

uma pessoa ou a um evento que evoca a reação emocional no Experienciador”, em que

Experienciador e Estímulo são EFs.

O EF Entidade do frame mudança_escalar_de_posição é mapeado sobre o elemento

Emoção do frame experiência, conforme ilustra a Fig. 4, e o EF Causa do frame

causa_mudança_escalar_de_posição é mapeado sobre o elemento Estímulo do frame

emoção_direcionada, conforme ilustra a Fig. 5.

Na Fig. 4, o mapeamento da estrutura <intensidade máxima da pressão> de F sobre A é

indicado pela seta contínua e a elaboração semântica dessa estrutura, em termos do

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mapeamento do EF Entidade do frame de F sobre o EF Emoção do frame de A, é indicada pela

seta pontilhada. Os segmentos pontilhados verticais indicam as conexões entres três níveis de

abstração: conceito, estrutura topológica e frame semântico. A seta pontilhada vertical indica a

construção que evoca o frame semântico.

Figura 4: Modelagem da metáfora conceitual IRA É PRESSÃO CONTIDA e cálculo do sentido metafórico de construções como A Maria explodiu de raiva.

De modo análogo, na Fig. 5, o mapeamento da estrutura <liberação da pressão> do

domínio F ao domínio A é indicado pela seta contínua e a elaboração semântica dessa estrutura,

em termos do mapeamento do EF Causa do frame de F no EF Estímulo do frame de A, é

representada pela seta pontilhada. Os segmentos pontilhados verticais representam níveis de

abstração entre conceito, estrutura topológica e frame semântico e a seta pontilhada vertical

representa o elemento que evoca o frame semântico.

Conforme indicam as construções que evocam os frames semânticos do domínio A,

representados nas Figs. 4 e 5 pelas setas pontilhadas verticais, as estruturas topológicas

estrutura mapeada

EF mapeado

Lexicogramática: A Maria Experienciador explodiu de raiva Emoção].

Frame: experiência Emoção (ira/raiva) Experienciador Estado Emocional

A

<intensidade máxima da ira>i

IRA CONTIDA>EXPLOSÃO

Lexicogramática: explodiu

F

Frame: mudança_escalar_de_posição Entidade (pressão) Valor_Final <i>

<intensidade máxima da pressão>i

PRESSÃO CONTIDA>EXPLOSÃO

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INTENSIDADE e LIBERAÇÃO são instanciadas por diferentes estruturas de argumentos do

verbo explodir.

Na Fig. 4, o EF Emoção é instanciado pelo sintagma preposicionado [V de SN],

conforme ilustra a construção [__Experienciador explodir de __Emoção], exemplificada por Maria está

prestes a explodir de raiva. Na Fig. 5, o EF Estímulo é instanciado por dois tipos de construção:

[V com SN] e [V por SN], conforme ilustram as construções [__Experienciador explodiu com

__Estímulo], exemplificada por A Maria explodiu comigo antes de eu ter a chance de me explicar,

e [__Experienciador explodir por __Estímulo], exemplificada por A Maria não está dizendo que

devemos explodir por qualquer provocação, e [V], conforme ilustra a construção [__Experienciador

explodiu], exemplificada por Quando a Maria ouviu que ele tinha desistido da faculdade, ela

explodiu. Note-se que, enquanto a estrutura <intensidade máxima da ira> é verbalizada na

relação entre os EFs Experienciador e Emoção, a estrutura <liberação da ira> é verbalizada na

relação entre os EFs Experienciador e Estímulo.

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Figura 5: Modelagem da metáfora conceitual IRA É PRESSÃO CONTIDA e cálculo do sentido metafórico de

construções como A Maria explodiu ou A Maria explodiu com o Paulo.

A descrição dos mapeamentos ilustrados nas Figs. 4 e 5 pode ser estendida para outros

campos semânticos. Para exemplificar essa extensão, propõe-se uma hierarquia de conceitos e

os seus respectivos enquadramentos por frames, conforme ilustram as Figs. 6 e 7.

A extensão da aplicação da estrutura <liberação da ira>, mapeada no domínio A IRA

dentro do campo semântico da EMOÇÃO INTENSA, ao campo semântico da

COMUNICAÇÃO, é exemplificada na Fig. 6 por meio da esquematização da construção

metafórica Maria explode: “calem-se!”. Essa construção, que ativa o frame semântico

reação_verbal, definido como “Uma situação em que o Falante comunica uma Mensagem

como resposta ou reação a uma comunicação ou ação prévia”, em que Falante e Mensagem são

os EFs, é assim esquematizada: [__Falante explode __Mensagem]. Nessa construção, a estrutura

<liberação da ira> é verbalizada na relação entre os EFs Falante e Mensagem; em particular, o

EF Causa do domínio F é mapeado no EF Mensagem do domínio A. As setas pontilhadas retas

<liberação da ira>i

estrutura mapeada

EF mapeado

Lexicogramática: explodiu

Lexicogramática: [Maria Experienciador explodiu]; [Maria Experienciador explodiu com o Paulo Estímulo]

Frame emoção_direcionada Experienciador Estímulo

A EXPLOSÃO>LIBERAÇÃO

F

Frame: causa_mudança_escalar_de_posição Entidade Causa <i>

<liberação da pressão>i

EXPLOSÃO>LIBERAÇÃO

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indicam os mapeamentos entre EFs do domínio do F em EFs do domínio A e a instanciação dos

EFs do domínio A na lexicogramática. As setas pontilhadas curvas indicam a conexão entre

conceitos (da hierarquia semântica) e frames. Em particular, indicam como a estrutura

esquemática LIBERAÇÃO é instanciada nos campos semânticos da COMUNICAÇÃO e da

IRA.

Figura 6: Extensão dos usos metafóricos de explodir para o campo semântico da COMUNICAÇÃO.

A extensão da aplicação da estrutura <intensidade máxima da ira>, mapeada no

domínio A FÚRIA dentro do campo semântico da EMOÇÃO INTENSA, por sua vez, é

ilustrada no domínio A QUANTIDADE da metáfora conceitual QUANTIDADE É

EXPLODIR (Responder vigorosamente a

uma ação prévia)

EXPLODIR (Demonstrar uma reação

emocional intensa)

RESPONDER; REAGIR (Manifestar-se contra algo/alguém)

Hierarquia Semântica

Frame: causa_mudança_escalar_de_posição Causa <i>

Campo semântico da COMUNICAÇÃO Maria explode: “calem-se”

Lexicogramática

Campo semântico da IRA (...) nós não devemos explodir por

qualquer provocação

Lexicogramática

Frame: emoção_direcionada Experienciador Estímulo

A

Frame: reação_verbal Falante Mensagem

<liberação da emoção>i

Estrutura mapeada

F <liberação da pressão>i

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VERTICALIDADE, em particular, nos campos semânticos da CONTAGEM, do

MONETÁRIO, da EXPANSÃO e da COMPLETUDE.

As construções metafóricas A taxa de natalidade explodiu e A população explodiu, que

ativam conceitos do campo semântico da CONTAGEM, instanciam o frame semântico

aumento_em_número, definido como “Uma situação em que o número de entidades que

formam um Conjunto altera-se de um Número_Inicial para um Número_Final”, em que

Conjunto, Número_Inicial e Número_Final são EFs. Nesse campo, a estrutura <intensidade

máxima> é instancia na lexicogramática em termos do EF Conjunto do frame

aumento_em_número, como evidencia a construção [__Conjunto explodiu].

A construção metafórica O preço da gasolina explodiu, por sua vez, que ativa conceitos

do campo semântico do MONETÁRIO, instancia o frame semântico carestia, definido como

“Uma situação em que um Pagador dispõe-se de um Recurso para adquirir uma Mercadoria,

realizar um Evento pretendido ou receber um Serviço”, em que Pagador, Recurso, Mercadoria,

Evento e Serviço são EFs.13 O mapeamento da estrutura <intensidade máxima> é instanciado

na lexicogramática em termos do EF Atributo do frame carestia, conforme mostra a construção

[__Atributo explodiu].

As construções metafóricas O boom do petróleo iniciou uma era de crescimento na

cidade e O boom econômico mais recente centrou-se em torno da corporação Microsoft, que

ativam conceitos do campo semântico da EXPANSÃO, ativam o frame semântico

causa_de_expansão, descrito como “Uma situação em que um Agente ou uma Causa não

humana causam a mudança física em uma Entidade”, em que Agente, Causa e Entidade são

EFs. Nesse campo, a estrutura <intensidade máxima> é instanciada na lexicogramática em

13 Note-se que as construções Os preços explodiram e Os preços subiram instanciam os frames carestia e cenário_comercial, respectivamente.

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termos do EF Entidade do frame causa_de_expansão. Essa instanciação é expressa na

construção [boom de/__Entidade].

Figura 7: Extensão dos usos metafóricos de explodir para os campos semânticos CONTAGEM, MONETÁRIO, EXPANSÃO e COMPLETUDE.

Por fim, as construções metafóricas O meu estômago está prestes a explodir e O

concurso vai explodir de gente, que ativam conceitos do campo semântico da COMPLETUDE,

instanciam o frame semântico COMPLETUDE, definido como “Uma situação em que um

Recipiente encontra-se em um estado de completude com relação a algum Conteúdo”, em que

EXPLOSÃO2 (expandir vigorosamente)

MUDANÇA (submeter-se à mudança)

<intensidade máxima>

MUDANÇA DE DIMENSÃO (Mudar a dimensão ou o volume)

AUMENTO (Aumentar a dimensão ou o volume de uma

quantidade)

EXPLOSÃO1 (aumentar

incontrolavelmente)

CRESCIMENTO (Tornar maior, mais volumoso; expandir)

EXPLOSÃO3 (completar-se totalmente

a ponto de romper-se)

Hierarquia Semântica

carestia Atributo

Mercadoria

Campo semântico do MONETÁRIO O preço da gasolina explodiu

Frame Semântico

Lexicogramática

Lexicogramática

causa_de_expansão

Entidade

Campo semântico da EXPANSÃO O boom do petróleo iniciou(…)

(...) boom econômico (…)

Frame Semântico

completude Recipiente Conteúdo

Campo semântico da COMPLETUDE

O meu estômago está prestes a explodir

O concurso está explodindo de gente

Frame Semântico

Lexicogramática

Aumento_em_número

Conjunto

Campo semântico da CONTAGEM

A taxa de natalidade explodiu

A população explodiu durante (…)

Frame Semântico

Lexicogramática

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Recipiente e Conteúdo são EFs. Nesse campo, a estrutura mapeada <intensidade máxima> é

instancia na lexicogramática em termos do EF Recipiente do frame completude. Essa

instanciação é expressa nas construções [__Recipiente explodir] e [__Recipiente explodir de __Conteúdo].

Na Fig. 7, a instanciação dos EFs na lexicogramática é indicada pelas setas pontilhadas

e o enquadramento dos conceitos da hierarquia semântica em termos de frames semânticos é

indicada pelas setas tracejadas. Em particular, as construções metafóricas ativam conceitos dos

campos semânticos da CONTAGEM e do MONETÁRIO instanciam o conceito

EXPLOSÃO1 glosado por ‘aumentar incontrolavelmente’. Já as construções que ativam

conceitos do campo semântico da EXPANSÃO instanciam o conceito EXPLOSÃO2, glosado

por ‘expandir vigorosamente’ e, por fim, as construções que ativam conceitos do campo

semântico da COMPLETUDE instanciam o conceito EXPLOSÃO3, glosado por ‘completar-se

totalmente a ponto de romper-se’.

Considerações finais

A análise dos usos metafóricos de explodir no domínio A IRA mostrou que o sentido

das construções metafóricas convencionais pode ser calculado a partir da especificação de

relações lógico-semânticas que se estabelecem entre os conhecimentos metafórico e

lexicogramatical. Esse resultado contrasta com os estudos que sugerem que tendências

lingüísticas operam independentemente de mapeamentos metafóricos conceituais (cf.

DEIGNAN, 1999).

A análise das construções metafóricas em termos de esquemas de imagem, de domínios

conceituais, de frames e campos semânticos, mostrou também que os aspectos lingüísticos,

conceituais e contextuais subjacentes à interpretação de construções metafóricas convencionais

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podem ser integrados. Essa integração, ilustrada nas Figs. 4 e 5, pôde ser estendida a outros

campos semânticos, conforme demonstraram as Figs. 6 e 7.

Conclui-se que a análise aqui proposta possibilita, por um lado, a modelagem do

conhecimento metafórico e, por outro, o cálculo do sentido metafórico resultante da

instanciação linguística desse conhecimento.

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