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A grande divergência da Guerra Fria esteve no marco ideológico, onde tínhamos de um lado os EUA, claro representante da ordem mundial capitalista, e de outro lado a URSS, que representava o socialismo. Nesse sentido a instalação de ditaduras militares nos países da América Latina, e de modo especifico no Brasil, representou uma das formas encontradas pelos EUA e pela burguesia nacionalista e reacionária desses países de defenderem e de asseguraram a perpetuação do sistema capitalista no continente americano e conseqüentemente no mundo. Uma análise aprofundada do período ditatorial militar no Brasil nos colocará diante de importantes estratégias utilizadas pelos EUA para apoiar o referido regime político no Brasil e garantir assim a “ordem” e a “paz” nas Amér icas. Nesse sentido objetivo desse trabalho é apresentar e refletir sobre algumas das estratégias de segurança e defesa utilizadas pelos EUA durante o período ditatorial brasileiro. As quais foram decisivas para perpetuação do regime capitalista no Brasil e para consolidar a hegemonia norte-americana nas Américas. A maior expressão da Guerra Fria na América Latina seguiu-se com a implantação de governos militares ditatoriais em grande parte de seus países. Isso na tentativa de conter os movimentos de esquerda que eclodiam e que carregavam a bandeira do socialismo. Assim as décadas de 1960 e 1970 foram turbulentas para as nações latino- americanas, em muitos países a democracia foi suprimida e a imposição de ditaduras foi um acontecimento freqüente. E nota-se claramente que os EUA tiveram participações importantes nas implantações e consolidação dessas ditaduras. Têm-se muitos exemplos da participação norte-americana nas instalações de ditaduras latino-americanas como, por exemplo, em 1973 no Chile. Na Argentina também se vê o golpe amparado pelos EUA. Aí as estratégias foram mais contidas do que em outros, mas é comprovada a ligação entre os golpistas argentinos e o governo estadunidense. Isso foi impulsionado pela forte influência exercida por Cuba na América Latina. A idéia de comunismo e figuras marcantes como Fidel Castro e Che Guevara faziam das ideologias socialistas algo real e de grandes possibilidades de surtir efeito. Isso porque a história colonial escravocrata da região remete à exploração indígena, a exploração do trabalho negro, a dizimação de populações nativas, a desenfreada exploração dos recursos naturais e outros, que fazem do sentimento nacionalista e patriótico da população desses países, focarem a pobreza e a exploração e terem como uma ideologia a ser seguida, justamente a protagonizada pela URSS. (ARRUDA & PILETTI, 2005) Outros países passaram por experiências similares, como o Uruguai e o Paraguai, mas não nos deteremos a estes por querer enfatizar as estratégias utilizadas com o Brasil. No Brasil, em especial, os EUA juntamente com o governo brasileiro da época, delineiam os passos políticos de cada um de uma forma a garantir a presença do capitalismo no bojo estatal e espantar de vez o “fantasma do comunismo” do país e da região. O começo da década de 60, a conjuntura política era a de um país com um presidente que sustentava relações diplomáticas com a URSS, não apoiava a intervenção norte-americana em Cuba e mantinha uma Política Externa Independente 3. É relevante saber que a Política Externa Independente foi adotada porque João Goulart, presidente brasileiro à época, aspirava à projeção internacional do Brasil na época e não porque não se alinhava aos EUA. Sobre esse fato Rapoport & Laufer nos esclarece Em suma, João Goulart não era bem visto pelos norte-americanos, tanto por sua política externa como também por suas atitudes na área interna como a nacionalização de empresas norte-americanas e seu plano de reforma de bases. Além disso, nessa época via-se multiplicar na sociedade brasileira as influências dos partidos políticos de orientação marxista. Foi nesse contexto que a ditadura militar no Brasil se instalou a partir de um golpe de estado no ano de 1964 e perdurou durante vinte e um anos de sucessivos governos militares. Em linhas gerais, durante esse período milhares

A Grande Divergência Da Guerra Fria Esteve No Marco Ideológico

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A grande divergncia da Guerra Fria esteve no marco ideolgico, onde tnhamos de um lado os EUA, claro representante da ordem mundial capitalista, e de outro lado a URSS, que representava o socialismo. Nesse sentido a instalao de ditaduras militares nos pases da Amrica Latina, e de modo especifico no Brasil, representou uma das formas encontradas pelos EUA e pela burguesia nacionalista e reacionria desses pases de defenderem e de asseguraram a perpetuao do sistema capitalista no continente americano e conseqentemente no mundo. Uma anlise aprofundada do perodo ditatorial militar no Brasil nos colocar diante de importantes estratgias utilizadas pelos EUA para apoiar o referido regime poltico no Brasil e garantir assim a ordem e a paz nas Amricas. Nesse sentido objetivo desse trabalho apresentar e refletir sobre algumas das estratgias de segurana e defesa utilizadas pelos EUA durante o perodo ditatorial brasileiro. As quais foram decisivas para perpetuao do regime capitalista no Brasil e para consolidar a hegemonia norte-americana nas Amricas.A maior expresso da Guerra Fria na Amrica Latina seguiu-se com a implantao de governos militares ditatoriais em grande parte de seus pases. Isso na tentativa de conter os movimentos de esquerda que eclodiam e que carregavam a bandeira do socialismo. Assim as dcadas de 1960 e 1970 foram turbulentas para as naes latino-americanas, em muitos pases a democracia foi suprimida e a imposio de ditaduras foi um acontecimento freqente. E nota-se claramente que os EUA tiveram participaes importantes nas implantaes e consolidao dessas ditaduras.Tm-se muitos exemplos da participao norte-americana nas instalaes de ditaduras latino-americanas como, por exemplo, em 1973 no Chile. Na Argentina tambm se v o golpe amparado pelos EUA. A as estratgias foram mais contidas do que em outros, mas comprovada a ligao entre os golpistas argentinos e o governo estadunidense. Isso foi impulsionado pela forte influncia exercida por Cuba na Amrica Latina. A idia de comunismo e figuras marcantes como Fidel Castro e Che Guevara faziam das ideologias socialistas algo real e de grandes possibilidades de surtir efeito. Isso porque a histria colonial escravocrata da regio remete explorao indgena, a explorao do trabalho negro, a dizimao de populaes nativas, a desenfreada explorao dos recursos naturais e outros, que fazem do sentimento nacionalista e patritico da populao desses pases, focarem a pobreza e a explorao e terem como uma ideologia a ser seguida, justamente a protagonizada pela URSS. (ARRUDA & PILETTI, 2005)Outros pases passaram por experincias similares, como o Uruguai e o Paraguai, mas no nos deteremos a estes por querer enfatizar as estratgias utilizadas com o Brasil. No Brasil, em especial, os EUA juntamente com o governo brasileiro da poca, delineiam os passos polticos de cada um de uma forma a garantir a presena do capitalismo no bojo estatal e espantar de vez o fantasma do comunismo do pas e da regio. O comeo da dcada de 60, a conjuntura poltica era a de um pas com um presidente que sustentava relaes diplomticas com a URSS, no apoiava a interveno norte-americana em Cuba e mantinha uma Poltica Externa Independente 3. relevante saber que a Poltica Externa Independente foi adotada porque Joo Goulart, presidente brasileiro poca, aspirava projeo internacional do Brasil na poca e no porque no se alinhava aos EUA. Sobre esse fato Rapoport & Laufer nos esclareceEm suma, Joo Goulart no era bem visto pelos norte-americanos, tanto por sua poltica externa como tambm por suas atitudes na rea interna como a nacionalizao de empresas norte-americanas e seu plano de reforma de bases.Alm disso, nessa poca via-se multiplicar na sociedade brasileira as influncias dos partidos polticos de orientao marxista. Foi nesse contexto que a ditadura militar no Brasil se instalou a partir de um golpe de estado no ano de 1964 e perdurou durante vinte e um anos de sucessivos governos militares. Em linhas gerais, durante esse perodo milhares de pessoas foram atingidas em seus direitos: parlamentares tiveram seus mandatos cassados, cidados tiveram seus direitos polticos suspensos e funcionrios pblicos civis e militares foram demitidos ou aposentados. Por outro lado, o golpe militar foi saudado por importantes setores da sociedade brasileira. Grande parte do empresariado, da imprensa, dos proprietrios rurais, da Igreja catlica, vrios governadores de estados importantes amplos setores de classe mdia pediram e estimularam a interveno militar, como forma de pr fim ameaa de esquerdizao do governo e de controlar a crise econmica e social. (FERNANDES, 1982)De certa forma o governo norte-americano viu-se satisfeito de ver que o Brasil no seguia o mesmo caminho de Cuba e passou a dar apoio logstico aos militares. sobre esse apoio que trataremos no prximo item.Com o decorrer da histria percebemos que na verdade tanto a aliana quanto o progresso s foram verdadeiros na semntica da palavra, no revelando a mesma veracidade nos objetivos reais pretendidos. Fatos histricos mostram que a Aliana para o Progresso teve diversas barreiras a serem transpostas no inicio. No governo de Goulart, devido a sua posio mais nacionalista e sua poltica externa independente, o Congresso norte-americano ficou receoso por no saber dos reais objetivos do presidente brasileiro, assim o montante destinado ao Brasil foi de pouca expresso. Para ilustrar essa desconfiana de Kennedy com os problemas brasileiros, foram implementadas no Brasil duas bases de apoio do governo norte-americano para o programa, que foram as sedes da United States Agency for Internacional Development (USAID), uma no Rio e a outra no Recife. Essa instituio tinha o intuito de ser o elo entre os investimentos externos e o governo brasileiro. Porem v-se ai tambm uma estratgia de insero dos ideais americanos, pois a USAID pretendia apoiar os governos que se opunham aproximao com Goulart e financi-los, querendo dessa forma que governos mais alinhados ao capitalismo ascendessem ao poder (RIBEIRO, 2005). Assim sendo, com o golpe de 64 e a ascenso ao poder de Castelo Branco, primeiro presidente militar, a histria tomou um rumo diferente. Castelo era visivelmente pr-americano e promoveu um realinhamento da poltica externa brasileira, e isso deixou os norte-americanos eufricos, que fazia com que o fluxo de investimentos no pas fosse muito maior e chegassem a passam a ordem dos 600 bilhes de dlares. O perodo compreendido entre 1964 e 1967 foi o que teve maior afluxo desses investimentos. Porm com a ascenso de Costa e Silva, presidente seguinte, e alguns acontecimentos polticos internos brasileiros, a liderana de Nixon, presidente norte-americano aps Johnson, passou a analisar o programa como uma ajuda no coerente com a poca e deixou com que a poltica minguasse at desaparecer completamente em 1970. (RIBEIRO, 2005)V-se que a Aliana para o Progresso, portanto, foi uma tentativa que teve seus momentos de dinamismo e sua importncia material. Na realidade a Aliana foi uma maneira que os EUA desenvolveram para engajar os latino-americanos e criarem um vinculo de dependncia destes com seu governo. Posio essa reforada por Ribeiro quando diz queA Aliana seria o mais sofisticado instrumento construdo pelo imperialismo para a regio e sua retrica e mesmo seu reformismo, apenas escondiam os objetivos bsicos de expanso do capital e do avano da dominao imperialista. (Ribeiro p.160, 2005).

Outra estratgia desenvolvida pela Casa Branca foi o lanamento do Plano Caritas, em 1961.

Financiado pelos catlicos de pases como os EUA, o Plano Caritas buscava atenuar os efeitos da crise social que atingia quase todos os pases da America Latina, distribuindo alimentos, medicamentos e esmolas. No entanto, o objetivo real do plano - camuflado nas desculpas sociais - era a doutrinao da camada popular contra idias revolucionrias. Assim, o exemplo mais berrante da dedicao dos EUA na campanha anticomunista com o uso da religio, se deu em 1963, com a vinda ao Brasil de Patrick Peyton, um padre estadunidense preparado pela CIA a servio do governo. Nas pregaes de Peyton, ele manifestava averso a toda forma de governo diferente da dos EUA; o que mostra a influencia de Washington na formulao ideolgica da populao com o objetivo de barrar revolucionrios que pregavam o atesmo e idias comunistas no pas.( CAROS AMIGOS, 2007,p.82)

comprovada a participao de instituies internacionais, como a CIA, por exemplo, no financiamento econmico com a mobilizao. V-se ai, portanto, uma evidente vitria dos EUA ao que concerne na guerra ideolgica.Ainda no governo Kennedy, este, logo aps sua eleio, elege um novo embaixador para o Brasil, Lincoln Gordon, um professor de Harvard que ajudou na elaborao da Aliana para o Progresso. Personagem esse que foi de vital importncia para a projeo e instalao dos ideais americanos em territrio brasileiro. O novo embaixador fez as devidas presses no Palcio do Planalto contra a poltica externa independente, alm de ir contra a presena de elementos de esquerda nos altos escales do governo brasileiro. Outra figura norte-americana importante que se incorporou a embaixada foi Vernon Walters. Militar de carreira, foi intrprete do comando norte-americano junto aos oficiais brasileiros na Segunda Guerra Mundial, o que j demonstra certa intimidade deste com os militares brasileiros. Walters foi tambm quem estimulou a hiptese de ingerncia direta de Washington no golpe contra Goulart. Ento, as relaes dentro do prprio territrio brasileiro se davam basicamente da seguinte maneira: enquanto Walters contatava diretamente os militares envolvidos na conspirao contra Goulart, Gordon desenvolvia uma estratgia paralela, fazendo diplomacia com governos estaduais da oposio de Jango. Resultado dessas relaes internas foi a revalidao do Acordo Militar Bilateral de 1952, que se deu entre Castelo Branco Comandante em Chefe das Foras Armadas no perodo e a embaixada dos EUA. O pacto atribua ao exrcito norte-americano direitos exclusivos para colaborar na organizao e operao da Escola Superior de Guerra (ESG) centro de formao de militares no Brasil. (CAROS AMIGOS,2007, p. 86)De acordo com a reportagem da citada revista, com a morte de Kennedy e a ascenso de seu vice Lyndon Johnson, a diplomacia de Washington se torna um pouco mais radical. Dessa forma a poltica traada por seu Sub-Secretrio de Estado, Thomas Mann um conhecido conservador -, d origem ao que foi chamado de Doutrina Mann, a qual mostrava claramente que a Casa Branca no se importava mais se militares tomassem o poder - desde que fosse uma ponte entre o novo regime e o governo norte-americano.A Operao Brother Sam, encabeada na forma concreta e incisiva de apoio logstico-militar aos opositores do governo de Goulart. A operao, batizada com um nome um tanto quanto peculiar, trazia consigo, em 31 de maro de 1964, a mobilizao de1 navio de transporte de helicpteros, 6 destrieres, 4 petroleiros, 20 avies, isso tudo capitaneado pelo porta-avies Forrestal, alm de toneladas de munies e armas leves. O prprio embaixador Gordon reconheceu, anos mais tarde, a paternidade da idia da operao, demonstrando sua influncia nas relaes EUA Brasil, e foi alm ao propor uma segunda fase de ao, que seria uma interveno aberta para afastar a possibilidade de uma ajuda sovitica. (CAROS AMIGOS, 2007)Esse fato, paralelamente atrelado Operao Popeye 4 representou o medo dos norte-americanos da militncia pr-Goulart que poderiam oferecer resistncia bem como demonstrou que tanto os militares engajados na tomada do poder quanto os EUA, estavam prontos e decididos a levar frente a consolidao do governo militar e sua conseqente aliana ao capitalismo norte-americano O pronunciamento oficial da Casa Branca para tal levante foi a de que a operao foi acionada para resgatar civis norte-americanos. Mas o que se viu foi a mais clara demonstrao da participao americana no golpe. Nas palavras Moraes (2006, p.03)

(...) embora a interveno militar direta do governo estadunidense no tenha chegado a se concretizar, a certeza de poderem contar com o colosso do Norte (para retomar frmula corrente entre a direita pr-imperialista) trouxe grande encorajamento aos conspiradores, alm claro, de confirmar o sistemtico desrespeito do Imprio do dlar soberania dos povos cujos governos o incomodam.

Est mais do que claro que os militares que conspiraram contra Goulart em 1964 estavam diretamente amparados pelo governo norte-americano, demonstrando o carter imperialista do governo do Norte e sua paranica disposio em fazer valer seus ideais. Assim, seguindo-se no processo, no mesmo dia em que a logstica americana chega s costas brasileiras, o golpe foi dado e a ajuda militar no foi precisa, apenas estava l e representou fora, demonstrando apoio e satisfao.Como j foi explicitada toda a conjuntura de estratgias pr-golpe militar desencadeada pela militncia brasileira e pelo governo norte-americano, necessrio tambm colocarmos em pauta uma outra anlise que tange s estratgias utilizadas para garantir a permanncia do governo militar no pas ou seja, uma estratgia ps-golpe militar. Uma vez instaurado no governo, o regime militar brasileiro garantiu para si o monoplio das informaes - com a criao do Servio Nacional de Informaes -, dos veculos de comunicao, a represso armada e deu plena liberdade polcia e ao exrcito para garantir a ordem no meio social. Esses poderes chegaram ao limite no governo Mdici, que utilizou o AI-5 Ato Institucional nmero 5- como a maior mquina de represso aos movimentos anti-governo.No entrando em detalhes sobre a ditadura em si, precisamos verificar, portanto, a principal estratgia feita com a parceria Tio Sam - Jeca Tatu para garantir a permanncia do governo. Esta foi batizada de Operao Condor.A operao Condor que consistiu, basicamente, numa aliana poltico-militar entre os vrios regimes militares da Amrica do Sul Argentina, Brasil, Chile, Paraguai, Bolvia e Uruguai. O intuito era fazer com que os oponentes das ditaduras vigentes que estavam exilados no exterior fossem perseguidos e calados. Assim, em 25 de Novembro de 1975, no Chile, ocorreu uma reunio entre os 6 lderes das inteligncias militares do Cone Sul. A Operao tinha como objetivo coordenar, de uma forma aos pases interagirem entre si, a represso das oposies de governos militares. (CAROS AMIGOS 2007) Com uma cadeia de alianas entre os governos do Cone Sul, foi possvel montar planos de defesa interna e at de criar uma teia de informaes com as quais era possvel saber o que ocorria no pas vizinho e at de um pas pedir ajuda a outro se fosse necessrio. Sempre encabeado pelo governo norte-americano, que criou agncias no norte do Panam para realizar encontros anuais entre os dirigentes dos pases ditatoriais para esclarecerem a situao de seus pases. Uma contribuio clara da ajuda norte-americana para a Operao foi a criao de um centro de comunicaes na Zona do Canal do Panam, atravs da qual as inteligncias sul-americanas mantinham contato.A Operao Condor viu, na disposio dos governos militares em cooperar entre si para abafar eventuais revolues e golpes de Estado, a oportunidade real de prevalecer o interesse americano na continuao do governo e de seu modo dependente do capital norte-americano. O nome Condor, assim como Brother Sam, tem seu sentido embutido. A ave andina Condor especialista na caa suas presas e smbolo de astcia e perseverana; o que acaba por subentender que a fora dos governos militares e de suas reais pretenses de manterem a ordem e o atrelamento ao governo dos EUA era espelhado na figura do animal. Os encontros entre os lderes surtiram efeito no comeo da operao, demonstrando, no entanto, fraqueza e indisposio com o seguimento do processo.

4-Consideraes Finais

Assim, concluindo de uma forma a elaborar uma teia de anlises, temos a real participao norte-americana na instalao de governos ditatoriais no Cone Sul o que inclui o Brasil e nossa pesquisa - fazendo dos regimes sulistas um quintal capitalista, muitas vezes forados a serem, dos EUA. Com um contexto de plena Guerra Fria, a disputa ideolgica exigia dos demais Estados um alinhamento a um dos dois lados para que fosse inserido no sistema internacional de maneira efetiva. Foi assim que se sucedeu o governo militar brasileiro, trazendo consigo vinte e um anos de regimes ditatoriais no pas e que nos levou a refletir no s ns, mas como pesquisadores de todas as reas- quais foram as intenes brasileiras e americanas na instaurao do regime e tambm qual foi o pano de fundo necessrio e utilizado para tal objetivo. A gama de informao e nossa busca por respostas nos levou a este trabalho, dedicado fins acadmicos e, muito mais, fins culturais da nossa prpria sociedade como uma forma a entend-la melhor.

Abstract:Despotism Military com be define like the Brazilian political period when the military rule the country. This period goes since 1964 until 1985. It was featured by lack of democracy , suppression of constitutional rights , censorship and repression for those who are against the regime. By some specialists , was a regime political that if was edifying part from an alliance among the Brazilian army, the national bourgeoisie and the foreigner bourgeoisie, principally from the USA , what owned interests obvious on this region. The big divergence from Cold War was into the ideological mark, where we had by one side the USA , clear representative from order worldwide capitalistic ,and of another side the URSS , what she rendered the socialism. In this conjuncture the installation of dictatorships military on the countries of America Latin person , and in order to specifies into the Brazil , was rendered as one of the forms encountered by USA and nationalistic bourgeoisie of this countries, of we'll defend and ensured the perpetuate of the system capitalistic into the American continent. In this connection the objectives of this work is presents and reflect on the subject of some from the strategies of safety & defense used by USA during the period Brazilian dictatorial. Whom have been clear about to perpetuate of the capitalistic regime into the Brazil about to consolidate the hegemony north-american on the America. Golpe militar e influncia estrangeira[editar | editar cdigo-fonte]Ver artigo principal: Golpe Militar de 1964 Mais informaes: Aes de derrubada de governos patrocinadas pela CIA e Atividades da CIA no BrasilTropas militares, na madrugada do dia 31 de maro de 1964, sob o comando do general Olympio Mouro Filho marcharam de Juiz de Fora para o Rio de Janeiro com o objetivo de depor o governo constitucional de Joo Goulart. O presidente encontrava-se no Rio de Janeiro quando recebeu um manifesto exigindo sua renncia. O chefe da Casa Militar, general Assis Brasil, no conseguiu colocar em prtica um plano que teria a funo de impedir um possvel golpe. Os partidos de sustentao do governo ficaram aguardando a evoluo dos acontecimentos. O presidente, de Braslia, seguiu para Porto Alegre e se refugiou numa estncia de sua propriedade, e depois rumou para o Uruguai, o que levou o presidente do Senado Federal a declarar vagas a presidncia e a vice-presidncia da repblica e empossar o presidente da Cmara dos Deputados, Ranieri Mazzilli, na presidncia da repblica.No dia 2 de abril ocorre a Marcha da Vitria, na cidade do Rio de Janeiro, garantindo apoio popular deposio do presidente Joo Goulart.19Blindados, viaturas e carros de combate ocuparam as ruas das principais cidades brasileiras. Sedes de partidos polticos, associaes, sindicatos e movimentos que apoiavam reformas do governo foram destrudas e tomadas por soldados fortemente armados. poca, estudantes, artistas, intelectuais, operrios se organizavam para defender as reformas de base. A sede da Unio Nacional dos Estudantes (UNE) foi incendiada20 . Segundo a Fundao Getlio Vargas, "() o golpe militar foi saudado por importantes setores da sociedade brasileira. Grande parte do empresariado21 , da imprensa, dos proprietrios rurais, vrios governadores de estados importantes (como Carlos Lacerda, da Guanabara, Magalhes Pinto, de Minas Gerais, e Adhemar de Barros, de So Paulo), alm de setores da classe mdia, pediram e estimularam a interveno militar, como forma de pr fim ameaa de esquerdizao do governo e de controlar a crise econmica."Os Estados Unidos, que j vinham patrocinando organizaes e movimentos contrrios ao presidente e esquerda no Brasil durante o governo de Joo Goulart, participaram da tomada de poder, principalmente atravs de seu embaixador no Brasil, Lincoln Gordon, e do adido militar, Vernon Walters, e haviam decidido dar apoio armado e logstico aos militares golpistas, caso estes enfrentassem uma resistncia armada por parte de foras leais a Jango: em Washington, o vice-diretor de operaes navais, John Chew, ordenou o deslocamento para costa brasileira (entre Santos e Rio de Janeiro) de uma fora-tarefa da US Navy (incluindo o porta-avies Forrestal, seis contratorpedeiros, um porta-helicptero e quatro petroleiros), operao que ficou conhecida como "Brother Sam".22Aps a deposio de Joo Goulart, vieram os Atos Institucionais (AI), mecanismos jurdicos autoritrios criados para dar legitimidade a aes polticas contrrias Constituio Brasileira de 1946 que consolidaram o novo regime militar implantado.23O presidente Joo Goulart permaneceu em territrio brasileiro at o dia 2 de abril. Nesse dia, em um golpe parlamentar,nota 1 o Congresso Nacional declarou que a Presidncia da Repblica estava vaga e deu posse ao Presidente da Cmara dos Deputados, Ranieri Mazzili, que permaneceu no cargo at 15 de abril de 1964, embora representasse um papel meramente decorativo: o governo era exercido pelos ministros militares. Em uma inverso constitucional - os militares passando de defensores da Constituio a subversivos dela e causadores de uma crise poltica - acabou predominando a fora das armas e o Presidente da Repblica foi deposto. Goulart partiu para o exlio no Uruguai, morrendo na Argentina, em 1976.24Atos InstitucionaisEm seus primeiros quatro anos, o governo militar foi consolidando o regime. O perodo compreendido entre 1968 e 1975 foi determinante para a nomenclatura histrica conhecida como "anos de chumbo". Os Atos Institucionais restringiram os direitos de cerca de dezoito milhes de eleitores brasileiros,[carece de fontes] que cancelavam a validade de alguns pontos da Constituio Brasileira, criando um Estado de exceo e suspendendo a democracia plena. Foram cassados os direitos polticos de praticamente todos os polticos e militares tidos como simpatizantes do comunismo, ou que se suspeitava receber apoio dos comunistas.Ao longo dos governos dos generais Humberto de Alencar Castelo Branco (1964-1967) e Artur da Costa e Silva (1967-1969), os Atos Institucionais foram promulgados e emendaram a Constituio durante todo o perodo da ditadura. Foi o fim do Estado de direito e das instituies democrticas. A partir de 1 de abril, na prtica uma junta militar governava o Brasil, porm formalmente foi declarado vago o cargo de presidente da repblica, pelo senador Auro de Moura Andrade, presidente do Senado Federal, que empossou o presidente da Cmara dos Deputados, Ranieri Mazzilli na presidncia, e com a eleio de Humberto de Alencar Castelo Branco presidente da repblica pelo Congresso Nacional em 11 de abril, este toma posse na presidncia em 15 de abril de 1964 para completar o mandato de Jnio Quadros, que iria de 31 de janeiro de 1961 at 31 de janeiro de 1966.Castelo BrancoMandato:15/04/1964 a 15/03/1967Governo (realizaes, acontecimentos, atos):- cassaes polticas- fim da eleio direta para presidente, criao do bipartidarismo- limitao de direitos constitucionais- suspenso da imunidade parlamentarArthur da Costa e SilvaMandato:15/3/1967 a 31/8/1969Governo (realizaes, acontecimentos, atos):- Ato Institucional n 5 (AI-5)- poltica econmica voltada para o combate da inflao e expanso do comrcio exterior.- investimentos nos setores de transporte e comunicaes- reforma administrativaJunta Governativa provisriaMandato:31/08/1969 a 30 de outubro de 1969Formada por:- Aurlio de Lira Tavares, ministro do Exrcito;- Augusto Rademaker, ministro da Marinha, e- Mrcio Melo, ministro da Aeronutica.Emlio Garrastazu MdiciMandato:30/10/1969 a 15/3/1974Governo (realizaes, acontecimentos, atos):- represso poltica; "Anos de Chumbo" - exlios, tortura, prises, desaparecimento de pessoas, combate aos movimentos sociais e censura.- "Milagre Econmico" - forte crescimento do PIB- propaganda patriticaErnesto GeiselMandato:15/03/1974 a 15/03/1979Governo (realizaes, acontecimentos, atos):- props a abertura poltica desde que fosse "lenta, gradual e segura"- aumentou o mandato de presidente de 5 para 6 anos- criao do senador binico- alta da inflao e dvida externa- restaurao do habeas corpus e fim do AI-5Joo Baptista FigueiredoMandato:15/03/1979 a 15/03/1985Governo (realizaes, acontecimentos, atos):- incio da transio para o sistema democrtico- restabelecimento do pluripartidarismo- crise econmica, greves, protestos sociais- restabelecimento das eleies diretas paGuerrilha do Araguaiafoi um movimento guerrilheiro existente naregio amaznicabrasileira, ao longo dorio Araguaia, entre fins dadcada de 1960e a primeira metade dadcada de 1970. Criada peloPartido Comunista do Brasil(PCdoB), tinha por objetivo fomentar uma revoluosocialista, a ser iniciada no campo, baseada nas experincias vitoriosas daRevoluo Cubanae daRevoluo Chinesa.Combatida pelasForas Armadasa partir de1972, quando vrios de seus integrantes j haviam se estabelecido na regio h pelo menos seis anos, o palco das operaes de combate entre a guerrilha e os militares se deu onde os estados deGois,PareMaranhofaziamdivisa. Seu nome vem do fato de se localizar s margens do rio Araguaia, prximo s cidades deSo Geraldo do AraguaiaeMarabno Par e deXambio, no norte de Gois (regio onde atualmente o norte do estado deTocantins, tambm denominada comoBico do Papagaio).1Estima-se que o movimento que pretendia derrubar o governo militar, tomar o poder fomentando um levante da populao, primeiro rural e depois urbana, e instalar um governo comunista no Brasil como havia sido feito emCubae naChina2, era composto por cerca de oitentaguerrilheirossendo que, destes, menos de vinte sobreviveram, entre eles, o ex-presidente doPartido dos Trabalhadores(PT),Jos Genono, que foi detido pelo Exrcito em 1972, ainda na primeira fase das operaes militares. A grande maioria dos combatentes, formada principalmente por ex-estudantes universitrios e profissionais liberais, foi morta em combate na selva ou executada aps sua priso pelos militares, durante as operaes finais, em 1973 e 1974.1Mais de cinquenta deles so considerados ainda hoje comodesaparecidos polticos.3Desconhecida do restante dopas poca em que ocorreu, protegida por uma cortina de silncio ecensuraa que o movimento e as operaes militares contra ela foram submetidos, os detalhes sobre a guerrilha s comearam a aparecer cerca de vinte anos aps sua extino pelasForas Armadas, j no perodo de redemocratizao.ndice[esconder] 1O PCdoB chega ao Araguaia 2A descoberta da guerrilha 3Operao Papagaio 4Operao Sucuri 5Operao Marajoara 6Operao Limpeza 7Legado 8Ver tambm 9Referncias 10Bibiografia adicional 11Ligaes externasO PCdoB chega ao Araguaia[editar|editar cdigo-fonte]

Conflitos naHistria do BrasilPerodo Republicano

Repblica Velha

1 Revolta de Boa Vista: 1892-1894

Revolta da Armada: 1893-1894

Revoluo Federalista: 1893-1895

Guerra de Canudos: 1893-1897

Revolta da Vacina: 1904

2 Revolta de Boa Vista: 1907-1909

Revolta da Chibata: 1910

Guerra do Contestado: 1912-1916

Sedio de Juazeiro: 1914

Greves Operrias: 1917-1919

Revolta dos Dezoito do Forte: 1922

Revoluo Libertadora: 1923

Revoluo de 1930: 1930

Era Vargas

Revoluo Constitucionalista: 1932

Intentona Comunista: 1935

Levante Integralista: 1938

Regime Militar

Guerrilha do Capara: 1967

Guerrilha do Araguaia: 1967-1974

Revolta dos Perdidos: 1976

Nosanos 60dosculo XX, a regio ao longo do qual corre orio Araguaiaera habitada por brasileiros em sua maioria vindos de outras regies, principalmente donordeste do pas. Eram homens atrs de terras para o cultivo,garimpeirosatrs de pedras preciosas, caadores atrs de peles de animais, migrantes procurando todo tipo de trabalho e riqueza que aquelas reas virgens pudessem oferecer. Famlias inteiras, fugindo dasecanordestina, trabalhavam emfazendaspor menos de umsalrio mnimo. Muitos plantavammandiocaecastanha-do-par, a maioriaanalfabetose explorados pelos poucos proprietrios de terra,grileirosdo lugar. Era o local ideal, segundo o PCdoB, para o incio de uma revolta popular.4A mesma avaliao, depois de descoberta a guerrilha, foi feita peloCenimar, o Centro de Informaes da Marinha, que informava em relatrio que a populao da regio vivia na misria, sob o domnio delatifundiriose autoridades municipais corruptas.5:92A preparao dos guerrilheiros do PC do B remonta ainda ao ano de 1964, quando os primeiros militantes iniciaram formao poltico-militar naChina, visto que o Partido adotou a linha de guerra popular prolongada de inspiraomaoista. Sua defesa da luta armada era anterior a 1964, e contrria ideia de "foco" cubano e da revoluo continental marxista-leninista. Entre 1964 e 1968, dezoito militantes haviam passado por treinamento militar na China, entre eles vrios dos que agora se estabeleciam no Araguaia.6Apenas quatro meses aps o golpe militar, oficiais e sargentos brasileiros foram mandados para curso de combate na selva noPanam, ministrado num centro de instruo mantido pelos norte-americanos naquele pas.6:413Nesta poca, as Foras Armadas iniciaram um estudo para efetuar as operaes antiguerrilha. Estas foram envolvidas de um planejamento sigiloso que durou cerca de dois anos. Segundo os militares, era indesejvel a ecloso de outros movimentos semelhantes em outras regies do Brasil, pois isto ocasionaria uma ecloso de violncia na regio rural, o que poderia vir a desestabilizar o poder militar. Entre 1969 e 1971, os militares desmantelaram pequenas bases e infiltraes daALNe daVAR-Palmaresna regio doBico de Papagaio, sem maiores dificuldades,6:413na chamada "Operao Mesopotmia", manobras de tropas realizadas emImperatriz, noMaranho.5:99O embrio da guerrilha do PCdoB, na rea do Araguaia,XambioeMarab, porm, continuava desconhecido.Ponto de partida de uma guerra sem data marcada para comear, amatatambm servia para esconder opositores polticos procurados em todas as reas urbanas do Brasil peladitadura militar. A partir de 1967, os primeiros combatentes comearam a chegar a rea, vindos dosul,sudestee doMaranho, onde j se haviam instalado. Entre eles estavamJoo Amazonas, o lder mximo do Partido,Elza Monnerat,Maurcio Grabois, seu filhoAndr Grabois, seu genroGilberto Olmpio Maria, omdicoJoo Carlos Haas Sobrinhoe o gigante negro,engenheiroe campeo deboxeOsvaldo Orlando da Costa, o "Osvaldo", entre poucos outros.Entre 1967 e 1971, transformaram-se em habitantes locais, abrindo pequenos comrcios, bares, prestando pequenos atendimentos mdicos de casa em casa, fazendo partos, caando, pescando, plantando, transportando pessoas e vveres emcanoas, abrindo umafarmcia, dando aulas para moradores e fazendopropagandapoltica em pequenas reunies, inseridos na pequena e humildesociedadelocal. Eram chamados peloscaboclosde "paulistas".4Da primeira dezena que havia chegado em 1967/68, no comeo dadcada de 1970o grupo j contava de mais de sessenta militantes, homens e mulheres, vindos de diversos lugares do Brasil, quase todos jovensestudantesou profissionais liberais, em preparao para uma revoluo, que acreditavam, teria incio ali.4Usando codinomes, eram 'Cid', 'Mrio', 'Dr. Juca', 'Dona Maria', 'Dina', 'Baianinha', 'Regina', 'Snia', 'Zeca Fogoi', 'Mariadina' e 'Cazuza' entre outros, para os moradores do Araguaia. Eram ex-estudantes dequmica,engenharia,letras,fsica,astronomia,medicina,geologiae at uma trinca de irmos, os Petit da Silva. Dezesseis j haviam sido presos anteriormente, oito deles no Congresso da UNE em Ibina, 1968.6:410

Da esq. p/ dir. em sentido horrio:Joo Amazonas,Elza Monnerat,ngelo ArroyoeMaurcio Grabois, comandantes da guerrilha.Apesar do esforo em se passar e se misturar aos locais, sua aparncia, modos e maneira de se expressar no condiziam com a populao mais antiga j instalada no Araguaia. O "povo da mata", na linguagem dos caboclos, no fazia sentido naquele ambiente. Aquela "gente sabida"6:41'era aceita pela comunidade mas no os enganava. Quando um dos guerrilheiros disse a um caboclo local que um sobrinho de "Cid" era bom de faco, recebeu como resposta: "Deve ser bom mesmo de caneta".6:411Sem o conhecimento da populao local, para a qual prestavam servios mdicos e davam aulas dealfabetizaoconquistando a estima do povo, aos poucos o grupo crescia. Com idade mdia inferior a 30 anos, no auge do vigor fsico, estocavam alimentos, munio e remdios em pontos esparsos da mata e faziam treinamento militar, acostumando-se vida na selva. Aprenderam a fazer fogo e caminhar duzentos metros em mata fechada sem se perder no caminho de volta.6:410Seus integrantes espalhavam-se por uma rea de 6,5 mil km, numa extenso de 130 km.6:400O treinamento constante fazia com que alguns deles j fossem capazes de sobreviver sozinhos na mata levando consigo apenas armas,munio,salefarinha.Na virada doAno Novode 1971-72, os diferentes grupos juntaram-se numa comemorao dereveillon, quando imaginavam poder dar incio a seus planos em breve, confiantes pelo tempo na selva. A festa, na regio chamada Gameleira, teve comida, bebida e cantoria, e entre pedaos deveadoepacaaoleite de castanha, recitaramI-Juca-PiramadeGonalves Diase cantaram aInternacional SocialistaeApesar de Voc, deChico Buarque de Holanda.6:412No era at ento uma guerrilha pronta para o combate. Com poucas armas e poucos integrantes, a direo do PCdoB acreditava que com mais um ou dois anos de preparao, seria possvel deflagar a guerra de guerrilha rural revolucionria que era uma linha poltica do Partido, adepto daluta armada, desde 1962. Uma fuga, uma desistncia, e duas prises feita emFortalezae emSo Paulo, bem longe dali, entretanto, faria com que os servios de inteligncia das Foras Armadas tomassem conhecimento dos guerrilheiros do Araguaia, antes do previsto e desejado.A descoberta da guerrilha[editar|editar cdigo-fonte]No incio de 1972 o governo descobriu a existncia da guerrilha e soube disso por informantes diferentes, sem que se possa precisar qual foi o primeiro.6:413Em novembro de 1971, dois guerrilheiros, Pedro Albuquerque e sua mulher, fugiram da rea, desistindo da campanha. Em janeiro de 1972 ele foi preso em Fortaleza, noCear, e oCIEconseguiu o fio da meada que levava guerrilha6:414(Pedro, porm, sustenta at hoje que seus torturadores j conheciam a estrutura no Araguaia)7.A outra informao veio de So Paulo. A mulher do guerrilheiroLcio Petit da Silva, um dos irmos Petit, contraiuhepatiteetuberculosena selva. Saiu do Araguaia em fins de 1971 grvida e com um problema porcuretagemmal feita, sendo levada atGoiniapara tratamento. Deveria voltar mas fugiu do hospital e desembarcou em So Paulo atrs da famlia. Ao saber de suas atividades, seus familiares a pressionaram eLcia Regina Martins, a "Regina", revelou represso o que sabia da "rea prioritria" em Marab.6:414Elza Monnerat, uma das lderes do PCdoB poca, a considera a principal responsvel pela descoberta da guerrilha pelos militares em 1972.8Juntando as informaes recebidas, cruzando os dados e mapeando a regio, o governo localizou a rea e estimou o efetivo da guerrilha. Em maro de 1972, agentes dapolcia federalpassaram por Xambio perguntando por forasteiros. Como haviam outros pequenos focos subversivos por toda aAmaznia, apesar de avisada a guerrilha achou que aquilo no lhe dizia respeito.6:414Em abril, sob o comando dogeneral-de-divisoViana Mooge do comandante e general paraquedistaHugo Abreu, tropas doExrcito Brasileiroentravam no Araguaia.Operao Papagaio[editar|editar cdigo-fonte]Em21 de abrilde 1972, os militares comearam a entrar na regio, entre Marab e Xambio, primeiro com uma pequena equipe de cinco homens, um grupo de batedores do CIEx chefiado pelomajorLcio Maciel- que trazia consigo como prisioneiro Pedro Albuquerque5:102- e logo em seguida com umbatalhode 400 homens acantonado em cada cidade. Bases foram sendo instaladas no interior e em agosto o total chegava a 1500 homens. Mascarando suas intenes reais, a notcia espalhada era que se tratava de uma manobra doIV Exrcito, cuja sede ficava emRecife, a 1600 km dali. Dentro dessa massa de soldados dainfantariaregular, estavam homens do CIEx e paraquedistas, cuja misso era destruir a guerrilha. Era o incio da primeira das trs fases da campanha militar, a Operao Papagaio6:414-415, com trs pequenas operaes de coleta de informao e levantamento da rea em seu bojo antes da chegada do grosso da tropa: "Peixe", "Ourio" e "Olho Vivo".9Postos de controle foram montados naTransamaznicae naBelm-Brasliae uma base area aberta em Xambio. O posto de comando foi instalado numa casa de telhado azul, s margens dorio Itacainas. Os primeiros ataques a bases da guerrilha no conseguiram capturar ningum, foram achados apenas materiais usados pelos guerrilheiros. Com a presena do exrcito, a guerrilha sumiu na floresta. Para muitos deles, o sentimento era de que "havia chegado a hora".6:416

No mapa, em amarelo, a regio do Araguaia. No crculo, a rea de enfrentamento entre guerrilha e exrcito (1972-74).A "hora", no entanto, pegou o PCdoB de surpresa, destruindo o capital inicial de qualquer fora de combate de guerrilha, que pegar seu adversrio de surpresa. Contando com 71 homens e mulheres, espalhados em trs destacamentos na mata (A, B e C), a unidade era mal armada. Cada um deles possua um revlver com quarenta balas e o total do armamento se limitava a 25 fuzis, quatro submetralhadoras - duas de fabricao artesanal - trinta espingardas e quatro carabinas de caa, num total de 63 armas longas para 71 guerrilheiros.6:416Contra isso havia quase dois mil homens com fuzisFALe submetralhadoras. Alm disso, o arsenal da guerrilha no era de boa qualidade e muitas armas emperravam. Uma das guerrilheiras, depois de capturada, testemunharia que para acertar um alvo com seu fuzil numa rvore, precisava mirar trs rvores adiante.6:416Apesar da vantagem, a Operao Papagaio comeou mal para os militares. Na tarde de5 de maiohouve o primeiro confronto entre as duas foras. Uma pequena patrulha em busca de informaes foi emboscada prxima a um riacho. A guerrilha atacou dispersando a tropa, ferindo umtenente, um sargento e matando o cabo Odlio Cruz Rosa, da 5 Companhia de Guardas de Belm. Seu corpo ficou uma semana no mato, sendo recolhido j em estado de decomposio, porque a guerrilha destacamento C, comandado por Osvaldo impedia o pequeno efetivo militar disponvel na rea de chegar ao local.5:114. Em 1973-74, na terceira e ltima campanha, por esse motivo os militares passariam a adotar a mesma prtica, deixando insepultos na mata os corpos de guerrilheiros abatidos.5:114Num novo choque, mais um soldado morto e um sargento ferido. Vendo o que acontecia, o guia "China", caboclo da regio arregimentado pelo Exrcito, temendo a represlia posterior entrou no mato, se escondeu por dois dias e desapareceu do Araguaia: "Resolvi cair fora daquela guerra. Se eu no morresse ali iam me matar depois. Os soldados no entendiam nadinha de mato".6:416Mateiros e guias locais no-simpatizantes dos guerrilheiros eram citados em relatrios daAeronuticaexplicando o porque das dificuldades das tropas regulares na floresta: "fazem muito barulho, deixam muitas pistas, s se deslocam em estradas e picadas e usam muito helicptero, fazendo com que a guerrilha saiba de antemo de sua aproximao".5:126A maior vitria inicial, entretanto, no foi notada. Com o ataque e o cerco do exrcito, ele manteve fora do Araguaia o comandante-em-chefe Joo Amazonas ("Cid") e Elza Monnerat ("Dona Maria"), organizadora geral da estrutura da guerrilha, que chegando de So Paulo com novas instrues e novos militantes uma delas,Rioko Kayano, presa em Marab, conheceria na cadeia e viria a ser a mulher deJos Genono, com quem casada at hoje10 foram obrigados a retornar da rodoviria pela vigilncia e presso do exrcito em toda rea, sem conseguir entrar na mata.6:418Nesta primeira operao, o exrcito conseguiu localizar e infligir danos a apenas um dos destacamentos, o C, 25% do total de combatentes. A soma de milcruzeirosera oferecida aos caboclos por informao sobre os "paulistas" na poca, dinheiro suficiente para comprar um bom terreno. Vrios foram assim localizados, presos ou mortos. O primeiro a cair foi "Jorge", denunciado por um mateiro.Bergson Gurjo Fariasera um ex-estudante de qumica naUniversidade Federal do Ceare viria a ser o primeiro desaparecido no Araguaia. Emboscado por uma patrulha de paraquedistas, foi metralhado. Seu corpo foi pendurado numa rvore de cabea para baixo e sua cabea chutada pelos soldados.5:117Mais dois seguiram o mesmo caminho, Kleber Lemos da Silva, oeconomista"Carlito" e "Maria", a nica mulher entre os irmos Petit,Maria Lcia Petit da Silva, ex-professora de 22 anos, morta em tocaia com um tiro no peito pelo campons a servio dos militares, Joo Coioi.6:420Foi enterrada em Xambio em sepultura annima, envolta numparaquedase com a cabea coberta com um plstico (Sua ossada, descoberta em 1991, foi identificada por peritos daUnicampem 1996. um dos dois nicos guerrilheiros mortos cujo corpo foi encontrado e identificado.)11A colaborao dos caboclos da regio no veio, porm, apenas do oferecimento de dinheiro. As Foras Armadas entraram na rea como uma fora de ocupao.6:418Comerciantes, mascates e vendeiros acusados de comercializar com a guerrilha foram presos, junto com umpadreque incomodava oprefeitoe um lutador de circo, este porque tinha cabelos grandes. Umfazendeirocapixaba que chegava no Araguaia para tomar posse de uma terra recm-comprada foi preso e jogado por trs dias num buraco na terra coberto com uma tampa de madeira, dentro de um acampamento cercado com arame farpado onde j encontravam vrios moradores do lugar.6:418-419. Um barqueiro da regio,Lourival Paulino, 55 anos, que costumava transportar os guerrilheiros pelo rio, foi preso no fim de maio, enfiado na cadeia de Xambio de onde saiu morto, com umatestado de bitodesuicdioporenforcamento.6:419Um lavrador que havia dado comida aOsvaldoteve a roa incendiada e nunca mais foi visto.6:40512

Cabo Odilio Cruz Rosa, o primeiro morto na Guerrilha do Araguaia.Entre junho e agosto a ofensiva militar estancou e retraiu-se. Em quatro meses o exrcito tinha apenas conseguido prender ou matar menos de uma dzia de militantes, localizar e isolar a rea do Destacamento C sem chegar a nenhum de seus refgios, ter informaes desconexas sobre o B, e nunca teve conhecimento do A. Diante disso, retomou a ofensiva em setembro com um efetivo de 3.000 homens e de maneira diferente, tentando conquistar o povo da regio e dissociando-se da atitude policialesca da primeira investida. Desembarcaram 2,5 toneladas de medicamentos, mdicos e dentistas em Marab, panfletaram toda a regio com mensagens de guerrilheiros j capturados e obrigaram fazendeiros a reconheceremdireitos trabalhistasde seus empregados.6:422-423Duas vitrias importantes foram conseguidas neste ms, com a morte deJoo Carlos Haas Sobrinho, o "Dr. Juca", comandante-mdico da guerrilha, morto em combate, eHelenira Resende, integrante do destacamento C, procurada em todo pas e jurada de morte em So Paulo pelo delegadoSrgio Fleury,13executada aps captura.6:424A segunda investida, entretanto, teve resultados gerais ainda piores que a primeira. Programada para durar vinte dias durou apenas dez. No perodo, a guerrilha atacou uma base do 2 Batalho de Infantaria da Selva e matou o sargento Mrio Abrahim da Silva.14:431-438A ajuda dos mateiros pagos no produziu nenhuma emboscada de vulto. AFABjogou bombas incendirias numa serra careca onde jamais os guerrilheiros tinham pisado. Trs reas da mata sofreram bombardeio comnapalm.15Uma guerrilheira comeava a criar fama no campo.Dinalva Oliveira Teixeira, a "Dina", ex-geloga baiana que tinha virado parteira na regio, sobrevivera a trs combates, enfrentara sozinha um grupo de soldados, escapara ferida no pescoo e acertara no ombro o capito paraquedista lvaro Pinheiro, filho do comandante da Escola Nacional de Informaes, general nio Pinheiro.6:425Os militares tinham especial determinao em ach-la, considerando-a uma ameaa ao militar na regio, no intuito de destruir omitocriado entre o povo do Araguaia para desmoralizar a guerrilha.5:67O disfarce da operao em manobra militar de rotina mais prejudicou mais do que ajudou. O governo impedia a publicao de manifestos do PCdoB mas o partido distribua panfletos por todo o Araguaia, que chegaram at o sul. Em24 de setembro, o jornalO Estado de So Paulopublicava longa matria - driblando a censura para notcias de movimentao de tropas - sobre as manobras militares. Dois dias depois a guerrilha brasileira era noticiada noThe New York Times.6:428Em outubro de 1972, as tropas retiraram-se. Para a guerrilha, mesmo que ainda operativa, as baixas foram significativas. Entre abril e outubro ela perdeu dezenove combatentes, oito mortos em combate, quatro assassinados depois da captura e sete presos e transferidos paraBraslia.6:424O Exrcito nunca declarou seu nmero oficial de mortos e feridos. O general Viana Moog deixou a regio falando em vitria e declarando que "o xito da manobra excedeu as expectativas deste comandante".6:425. Porm, o estrategista da campanha militar, generalAntnio Bandeira, foi transferido da tropa para a direo daPolcia Federal, em Braslia. O capito Pinheiro, ferido por "Dina", 23 anos depois j comocoronelda reserva, listou as deficincias da operao: a) concepo equivocada nos nveis operacional e ttico b) falta de unidade de comando c) informaes deficientes sobre o terreno e o inimigo d) falta de continuidade nas operaes e) grande diversidade de unidades empregadas e deficincias no treinamento.6:426Com relao ao ltimo tpico assinalado pelo militar, a grande maioria dos soldados empregados no combate guerrilha nesta operao, foi, na verdade, de recrutas cumprindo o servio militar obrigatrio, garotos de 18-19 anos sem nenhuma experincia.14:430Dona Domingas, uma moradora deSo Geraldo do Araguaia, resumiu o quadro: "Eles passaram tudo por aqui chorando, tudo recruta na bolia do caminho cheio, chorando".6:427A Operao Papagaio havia terminado. O Exrcito havia feito a maior mobilizao de tropas da sua histria desde a campanha daFEBnaItlia, maior que trs das quatro expedies contraCanudos,6:400usara um efetivo humano na proporo de 50 para 1,5:126e a guerrilha do Araguaia continuava onde sempre esteve. Mas o governo do generalEmlio Garrastazu Mdiciestava determinado a extingui-la. Em 1973, entrariam em cena os soldados profissionais da elite das Foras Armadas. Ia comear a Operao Sucuri.6:433Operao Sucuri[editar|editar cdigo-fonte]A retirada das tropas deu nos caboclos e camponeses a impresso de que os "paulistas" tinham vencido a guerra. Um bate-pau que ajudou os militares, encontrado casualmente na mata por trs guerrilheiros, foi assassinado tiros.6:424Joo Coioi, o matador de Lcia Petit, juntou a famlia e desapareceu da regio.6:423Outros fingiram-se de ineptos. Com o fim do segredo entre a populao do Araguaia sobre quem eram os "paulistas", a guerrilha lanou-se propaganda, distribuindo folhetos com mensagens socialistas e at fazendo chegar cartas a jornais. Segundo um caboclo, "eles falavam em comunismo, mas ningum sabia o que era aquilo".6:429No primeiro semestre de 1973, a guerrilha reorganizou-se. Depsitos de mantimentos e munies foram espalhados em refgios pela floresta. Recrutaram mais dois combatentes entre os moradores da regio e formaram treze grupos clandestinos de apoio, num total de 39 pessoas. Mataram trs colaboradores dos militares, um deles umjagunoda regio e atacaram um posto da PM na estradaTransamaznica. Cercaram a base, atearam fogo no telhado de palha, renderam os cinco soldados da guarnio e fugiram levando as fardas, seis fuzis e um revlver.6:431Em agosto, a direo da guerrilha "justiou" (fuzilou), aps julgamento na selva, um dos militantes por fraqueza ideolgica eadultrio.5:56. Eram at ento um total de 56 homens e mulheres, dos quais seis camponeses. Faltava roupa, calados e munio e no houve mais reforos porque o PCdoB j havia sido desbaratado em seis estados. As armas continuavam insuficientes, mas o moral estava alto. A proximidade do perodo chuvoso no Araguaia, que impedia a movimentao de grandes veculos, lhes dava a suposio de que o exrcito s voltaria no comeo de 1974.

Grupo de guerrilheiros no Araguaia.Em abril de 1973 comeou a segunda investida, denominada Operao Sucuri. Diferente da anterior, esta foi uma operao de Inteligncia. O fracasso em derrotar a guerrilha em 1972 tinha tirado da estrutura convencional do exrcito o planejamento das operaes, agora feito pelo CIE, sob o comando do generalMilton Tavares de Souza. Em maio, oficiais, sargentos e cabos doDOIde Braslia e da3 Brigada de Infantaria Motorizada, em nmero reduzido, comearam a se infiltrar na regio. Ao invs da ostentao da Operao Papagaio, os militares chegavam disfarados, a maioria sem documentos ou documentos falsos, vestidos como civis. Um pseudo-agrnomodoINCRAestabeleceu-se em Xambio com o nome de "Dr. Luchini". Era o capitoSebastio Rodrigues de Moura, vulgo Curi.6:434Alm da guerrilha, agora o exrcito tambm tinha codinomes.Homens com aparncia de caboclos abriam bodegas na estrada, tornavam-se comerciantes dealho, compravamroas, abriampadarias, madeireiras de pequeno porte, e um chegou a vendermuniopara os guerrilheiros para no levantar suspeitas. Tinham sido todos ambientados vida rural passando um tempo em chcaras ao redor de Braslia.6:434Os novos moradores anotavam as informaes do que viam, conseguiam pistas da movimentao pela rea, identificavam os guerrilheiros e os camponeses que tinham contato com eles e "Curi" passava de lancha voadora pelo rio no fim de semana recolhendo os relatrios.16:151Entre abril e outubro a guerrilha foi mapeada, nomes catalogados, caboclos e mateiros ligados aos guerrilheiros identificados. Em abril, um fichrio sigiloso continha 51 nomes de moradores da regio. Em setembro, passou para 400 nomes.6:434O sigilo de tudo relacionado guerrilha era justificado pelos militares como "um propsito para negar aos guerrilheiros o reconhecimento de que as Foras Armadas estavam sendo empregadas num problema de defesa interna desta natureza."17O general Mdici temia que a propagao de notcias de combates desse notoriedade guerrilha e transformasse o Araguaia numa "zona liberada", como o que ocorria em regies doSudeste Asitico.18:36Terminado o levantamento de Inteligncia - Plano de Informaes Sucuri N 119- em que at quadros com fotografias e biografias de guerrilheiros e moradores foram montados no centro de operaes em Marab, em outubro de 1973 os soldados voltaram. Diferente da primeira investida com soldados e recrutas conscritos, agora a tropa, sem uniformes, cabeludos e barbudos como os locais, era composta por homens daBrigada Paraquedista, doCorpo de Fuzileiros Navais,Batalho da Selva,Batalho de Foras Especiaise helicpteros da FAB descaracterizados, a elite das Foras Armadas.6:436-437Em quantidade menor e sem identificao. O segredo deEstadona luta no Araguaia produziu a clandestinidade das aes. Diferente do combate luta armada nas cidades, no houve inquritos policiais-militares, nem denncias formais, nem sentenas judiciais. A ordem era no fazer prisioneiros, e prisioneiros no seriam feitos.6:432Tinha incio a terceira e ltima investida militar no Araguaia, a Operao Marajoara.Operao Marajoara[editar|editar cdigo-fonte]Em 7 de outubro de 1973 a tropa voltou ao Araguaia. Um efetivo menor, cerca de 400 homens, disfarados e sem uniforme mas com grande quantidade de armamento, que eram deixados em vrios povoados da rea ocupada pelos guerrilheiros. Alguns deles chegavam escondidos em caixotes ocos dentro de caminhes de transporte de madeira. Para os locais, eram funcionrios da "Agropecuria Araguaia" e da "Minerao Aripuan".6:436Chegaram prendendo moradores. Lavradores e pequenos comerciantes foram levados para prises em Xambio e Marab. Alguns colocados em buracos abertos em clareiras com grade em cima. Em Taboco, onde havia dezessete homens, foram todos presos e relatos de tortura comeavam a aparecer: "Moo, tinha nego l que tava azul que nem carne roxa."6:437Antes das refeies os presos eram colocados em fila, nus, e obrigados a cantar" um tal de soca soca, um tal de pula pula"; quem errasse a letra, apanhava. Um campons, de quem se suspeitava saber informaes dos guerrilheiros, foi colocado num pau de arara em cima de umformigueiro, com o corpo lambuzado deacare comido pelasformigasat confessar o que sabia.20Nas duas primeiras campanhas os caboclos eram convencidos muitas vezes a colaborar com os militares em troca de prmios em dinheiro. Na Operao Marajoara a escolha era outra. Mais de 20 se tornaram guias do exrcito. "Z Catingueiro", um caboclo local, nos meses anteriores colaborava com os guerrilheiros levando mensagens deles aos locais convidando-os a se juntarem ao grupo. Com a chegada da tropa, meses depois matou a guerrilheira "Cristina",Jana Moroni.21O matuto ngelo Lopes de Souza, 40 anos, conhecia bem a guerrilha e os lugares por onde andavam. Levado para o campo de arame farpado montado na base de Bacaba, passou um ms preso. Recebeu proposta de guiar os militares e aderiu: "Tinha certeza que se no aceitasse seria morto".6:430Um lugarejo, o stio gua Boa, emSo Domingos do Araguaia, foi totalmente incendiado.A chegada do CIEx e das tropas de elite na regio decretou um toque de recolher voluntrio entre os moradores. Ningum saa de casa noite. A estratgia militar de intimidao provocou adeses aos dois lados; a eles, pelo medo, e aos guerrilheiros, para fugir dos militares, incluindo meninos alunos das aulas de alfabetizao de Jana Moroni eMaria Clia Correa, a "Rosa", ex-bancria carioca e estudante deFilosofianaUFRJ.6:440

Corpos de guerrilheiros mortos com as mos amarradas, observados por militares. Araguaia, dcada de 1970.Entre outubro de 1973 e outubro de 1974 a guerrilha foi sistematicamente exterminada. Pequenos grupos de combate adentravam a selva com mais poder de fogo cada um deles que todos os guerrilheiros juntos. Os oficiais e sargentos carregavam um relatrio, chamado de "Normas Gerais de Ao - Plano de Captura e Destruio", que trazia a identificao de guerrilheiros a serem abatidos por prioridade. Os integrantes da chamada Comisso Militar da Guerrilha deveriam ser os primeiros a ser eliminados.20No dia de natal de 1973, houve a primeira grande vitria dos militares, com a morte, numa emboscada, do comando militar guerrilheiro.Maurcio Grabois, o chefe combatente do PCdoB foi morto junto com seu genro,Gilberto Olmpio Maria, o "Pedro", e mais trs combatentes.6:447A partir da a guerrilha perdeu a condio de fora militar organizada, dividindo-se em colunas dizimadas aos poucos, num perodo de seis meses. De um lado, tornou-se uma caada humana; de outro, uma fuga pela vida. Helicpteros sobrevoavam a floresta com alto-falantes oferecendo rendio aos guerrilheiros; quem aceitava era assassinado.6:45322Osvaldo foi morto pelo mateiro "Piau", liderando uma patrulha. Foi degolado e seu corpo transportado pela floresta, pendurado pelas pernas numa corda amarrada a um helicptero. "Piau" ganhou uma gleba de terra de presente do exrcito e viveu da fama. Morreu na misria em 1993 e seu sepultamento foi pago pelo governo.6:459"Snia" morreu em confronto com uma patrulha, emboscada na beira de um rio, e antes de ser metralhada feriu os dois comandantes da patrulha, o major Licnio e o capito Curi. Pedro Alexandrino, o "Peri", encontrado sozinho na mata apenas com umgarruchae um quilo desal, levou um tiro a cabea e, transportado para a base de Xambio, teve seu corpo chutado pelos soldados at a interveno de um oficial exigindo respeito pelo inimigo morto.6:459Dinaelza Coqueiro, a "Mariadina", presa depois de denunciada por camponeses, levada Curi na casa de telhado azul, cuspiu-lhe na cara e morreu fuzilada sentada numa clareira.23:208Vrios outros, atravs do depoimento de testemunhas, foram presos e executados. A temida "Dina" foi presa em agosto de 1974 junto comLuiza Garlippe,enfermeirapaulista e comandante mdica do que restava da guerrilha; as duas foram assassinadas. Os dois irmos Petit at ento sobreviventes desapareceram.6:459Antnio de Pdua Costa, o "Piau", ex-estudante deastronomiano Departamento de Fsica da UFRJ que havia assumido o comando do principal destacamento da guerrilha aps a morte de Grabois, foi preso depois de um luta corporal na mata com o sargento Jos Vargas Jimnez - codinome na selva "Chico Dlar" - entregue vivo ao CIEx e hoje um desaparecido poltico.20Com o exrcito calculando que o nmero total de guerrilheiros restantes no fosse maior do que vinte, as tropas comearam a ser retiradas nos primeiros meses de 1974, deixando apenas alguns homens do CIE e do Batalho de Operaes Especiais. Em seu lugar, foram formadas pequenas patrulhas de caadores chamadas de Grupos Zebra. Compostas de mateiros e militares, especialmente sargentos e cabos, adentraram a selva por meses caando os guerrilheiros sobreviventes desgarrados. Vrios foram mortos assim e recompensas financeiras pagas.6:459Para identificao de guerrilheiros mortos, os militares os fotografavam antes de enterr-los na mata. Mais de 40 foram fotografados. Quando no havia uma cmera disponivel, cortava-se o polegar direito, a mo inteira do cadver ou mesmo a cabea.24:39Em outubro de 1974, a ltima sobrevivente foi encontrada, descala e mancando no mato. EraWalkria Afonso Costa, a "Walk", ex-estudante dePedagogiadaUFMG. Levada Xambio, foi executada em 25 de outubro de 1974.6:460Documentos encontrados anos depois, constantes no arquivo daCmara dos Deputadose liberados para consulta pblica, mostram ordens detalhadas de oficiais daMarinha, um deles o comandante-geral doCorpo de Fuzileiros Navais, Edmundo Drummond Bittencourt, ainda em setembro de 1972, para a eliminao dos guerrilheiros capturados.25Em 2009, o Major Curi revelou que as Foras Armadas executaram 41 guerrilheiros no Araguaia depois de serem presos vivos.26De todos os integrantes da guerrilha que atuavam no Araguaia no incio da Operao Marajoara, apenas dois escaparam:ngelo Arroyo, morto dois anos depois em So Paulo, no episdio conhecido comoChacina da LapaeMicheas Gomes de Almeida, o "Zezinho do Araguaia", que, acompanhando Arroyo na travessia doMaranhoe doCearpara escapar da rea de conflito, desapareceu por mais de vinte anos, sendo encontrado emGoiniaem 1996 depois de viver em So Paulo com outra identidade, e ainda hoje vivo.6:451-452Do lado dos militares, o nmero estimado de mortos de dezesseis.27Operao Limpeza[editar|editar cdigo-fonte]No inicio de 1975, com a guerrilha j exterminada, as Foras Armadas deram incio a uma operao de ocultao de todos os fatos acontecidos no Araguaia, diante da poltica de sigilo absoluto determinada pelo governo, agora do generalErnesto Geisel. Chamada de Operao Limpeza, o objetivo era apagar os rastros da luta e dos corpos deixados para trs, enterrados pela selva. Aproximadamente 60 guerrilheiros haviam sido mortos, cerca de deles assassinados aps captura e tortura.26Documentos foram queimados, acampamentos desmontados e os corpos retirados de suas covas, muitas delas rasas, e queimados.Suely Kanayama, a "Chica", morta em fins de 1974 num confronto com militares em que levou mais de cem tiros28, tinha sido enterrada na base da Bacaba (hoje Vila Santana).29Seu corpo foi desenterrado, enfiado num saco plstico, embarcado num helicptero junto com outros e levado at o alto daSerra das Andorinhas que passou a ser conhecida tambm como Serra dos Martrios aps o episdio30 onde foi queimado entre pneus velhos encharcados de gasolina. A operao durou cerca de dez dias, com corpos sendo desenterrados e transportados nos helicpteros. Por causa do cheiro da decomposio, os pilotos usavam mscaras contra gases e lenos encharcados de perfume.27Relatos tambm indicam o transporte em barcos de sacos contendo restos para a regio conhecida como "inflamvel", a parte mais funda dorio Tocantins, perto de Marab.31Nos anos seguintes, vieram tona registros de sucessivas operaes de encobrimento na regio, atingindo inclusive os vivos, caboclos que conheciam os guerrilheiros e tinham o hbito de falar muito. Mesmo muitos anos depois, no perodo inicial da redemocratizao no pas, h registros dessas atividades, feitas por militares disfarados de parentes, ainda retirando ossos de locais determinados e dissolvendo-os emcido, com os fragmentos enterrados em outros lugares ou jogados nos rios da regio.31De parte do governo brasileiro, Ernesto Geisel foi o nico presidente a falar, superficialmente, sobre o assunto, numa mensagem enviada ao Congresso, em 15 de maro de 1975, onde dizia que houve tentativas de se organizar "bases de guerrilheiros no interior desprotegido e distante", em "Xambio-Marab, ao norte de Gois e sudeste do Par" e que todas tinham sido "completamente reduzidas".27Depois disso houve apenas a instalao de uma comisso no Congresso que no chegou a nenhum resultado e os militares, oficialmente, nunca quebraram o silncio sobre a luta no Araguaia.27Legado[editar|editar cdigo-fonte]Assunto tabu mesmo entre os militares,32os fatos relativos guerrilha foram envoltos num vu de silncio por muitos anos e mesmo hoje, quando vrios livros foram escritos sobre o episdio, inclusive por militares, mas nenhum deles endossado por fontes governamentais, a verso oficial do conflito pelas Foras Armadas e pelo extinto regime militar desconhecida. Alguns livros e reportagens tiveram acesso a documentos oficiais descobertos, mas as Foras Armadas nunca se pronunciaram oficialmente sobre eles.32Nos anos posteriores, mesmo ainda durante a ditadura militar, parentes e organizaes de direitos humanos comearam a busca pelos desaparecidos. J em 1980, familiares dos mortos percorriam a regio do Araguaia em busca de informaes. Em 1982, no governoJoo Figueiredo, 22 parentes de guerrilheiros instauraram um processo contra a Unio, pedindo que a Justia exigisse do Exrcito documentos comprobatrios das mortes para que fossem providenciados atestados de bito.33Em 1991, por conta prpria, parentes comearam escavaes no Cemitrio de Xambio, o que resultou no encontro e posterior identificao - em 1996 - dos ossos da guerrilheira Lcia Petit, a primeira ossada de guerrilheiro identificada porDNA.33No mesmo ano da identificao dos restos de Lcia, uma nova ossada foi achada em Xambio. Em 2009, foi identificada com sendo do guerrilheiroBergson Gurjo Farias, morto em 1972 durante a primeira fase de operaes, a Operao Papagaio.34So os dois nicos casos de recuperao de ossos e identificao positiva at hoje.35Aps aredemocratizao, entidades de parentes das vtimas e de direitos humanos passaram a pressionar os sucessivos governos e aJustiapor informaes sobre os guerrilheiros desaparecidos e a localizao de seus restos. Em 1995, depois de duas dcadas de silncio oficial, familiares, atravs da organizao internacionalHuman Rights Watche do Centro pela Justia e o Direito Internacional (CEJIL) enviaram petio Corte Interamericana de Direitos Humanos daOrganizao dos Estados Americanos(OEA), pela interveno junto ao governo brasileiro pelo direito informao.33Em julho de 2003, a 1 Vara Federal do Distrito Federal ordenou a quebra de sigilo das informaes militares sobre a Guerrilha do Araguaia, dando um prazo de 120 dias Unio para que fosse informado onde se encontram sepultados os restos mortais dos familiares dos autores do processo, assim como rigorosa investigao no mbito das Foras Armadas brasileiras. Em agosto, aAdvocacia-Geral da Unioapelou da sentena que determinava de abertura dos arquivos, embora reconhecesse o direito dos autores de tentar localizar os restos mortais de seus familiares desaparecidos. O governo deLus Incio Lula da Silvacriou em3 de outubrouma comisso interministerial para localizar restos mortais. Esta comisso solicitou os documentos, sendo informada de que os mesmos no existiam. Atualmente, aps passar peloSuperior Tribunal de Justiae peloSupremo Tribunal Federal, o processo voltou justia de primeira instncia para a fase de cumprimento de sentena. O processo est sob apreciao da Juza Federal Solange Salgado.36

Pesquisadores do GTA realizam escavaes na regio de Xambio e Marab, no Araguaia.Foto: Divulgao / Ministrio da Defesa.Em abril de2009, a Comisso Interamericana de Direitos Humanos (CIDH), rgo daOrganizao dos Estados Americanos(OEA) que cuida da observncia dos direitos humanos nos pases pertencentes organizao, abriu uma ao contra o governo brasileiro por deteno arbitrria, tortura e desaparecimento de 70 pessoas - entre guerrilheiros, moradores da regio e camponeses ligados Guerrilha do Araguaia durante aditadura militar brasileira.37Em dezembro de 2010, a Corte acatou a denncia da CIDH e condenou o Estado brasileiro por utilizar aLei da Anistiacomo pretexto para no julgar os oficiais envolvidos na represso guerrilha.38Em agosto de 2011, sob sigilo, aAeronuticaorganizou a Operao Marab, primeira misso militar governamental ao local onde se encontra o provvel crematrio dos guerrilheiros desaparecidos, na Serra das Andorinhas, Par. A expedio contou com representantes da FAB,Ministrio da Justia,Ministrio da Defesa,Secretaria Especial de Direitos HumanosePolcia Federal. Os militares foram guiados pelocoronelda reserva da aeronutica Pedro Corra dos Santos Cabral, autor do livroXambio - Guerrilha do Araguaia, onde conta, como testemunha ocular, detalhes do transporte e queima destes corpos, piloto de helicptero que foi na poca da guerrilha. Visava descobrir o local exato onde os corpos teriam sido queimados e osso enterrados, mas no se conhece ainda o teor completo do relatrio final da expedio.39A instalao daComisso Nacional da Verdadeem 16 de maio de 2012, criada para investigar violaes dedireitos humanosocorridas entre1946e1988no Brasil por agentes do Estado,40 mais uma tentativa de se conseguir esclarecer, entre outros do perodo, os fatos referentes guerrilha e a obter documentos e depoimentos que possam levar localizao dos desaparecidos no Araguaia. Est inclusive prevista a obteno de ajuda tecnolgica estrangeira para exames de DNA nas ossadas que atravs dos anos foram encontradas na regio, mas ainda no puderam ser identificadas por causa do alto estado de degradao dos ossos.41O Grupo de Trabalho Araguaia (GTA), rgo criado pelo Estado brasileiro em 2011, que envolve vrios rgos pblicos com a misso de "coordenar e executar, conforme padres de metodologia cientfica adequada, as atividades necessrias para a localizao, recolhimento, sistematizao de todas as informaes existentes e identificao dos corpos de pessoas mortas na Guerrilha do Araguaia" e realiza buscas e escavaes na rea, teve o prazo final para suas investigaes prorrogado at 6 de maio de 2014.42Ver tambm[editar|editar cdigo-fonte]

OCommonspossui umacategoriacom multimdias sobreGuerrilha do Araguaia Lista de guerrilheiros do Araguaia Guerra dos Perdidos Araguaya - A Conspirao do Silncio, filme baseado no movimentoReferncias1. Ir para:abMORAIS, Tais de. SILVA, Eumano. Operao Araguaia: os arquivos secretos da guerrilha. So Paulo: Gerao Editorial, 2005. 656p.ISBN 85750911902. Ir para cimaNGELO, Vitor Amorim de. Guerrilha do Araguaia: Luta armada no campo,http://educacao.uol.com.br/historia-brasil/guerrilha-araguaia.jhtmem 11/10/20013. Ir para cimaDossi dos Mortos e Desaparecidos Polticos a partir de 1964 (CEPE - Companhia Editora de Pernambuco Governo do Estado de Pernambuco, Recife 1995)4. Ir para:abcGaspari, Elio - A Ditadura Escancarada, As Iluses Armadas, Companhia das Letras, 2003ISBN 85-359-0299-65. Ir para:abcdefghijStudart, Hugo, Gerao Editorial,A Lei Da Selva: Estratgias, Imaginrio e Discurso dos Militares Sobre a Guerrilha do Araguaia, 2006.ISBN 9788575091395.