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Índice
Introdução
Linha do Tempo Histórica
Conclusão
Referências Bibliográficas
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4
20
21
A Gravura e a História da Humanidade
A Gravura e a História da Humanidade
Introdução
A gravura acompanha a história da humanidade
fazendo parte dela e contando-a, já no período Paleolítico o
homem usava osso com sílex para decorar, no Neolítico
produzia cerâmica decorada com conchas de molusco
impressas. Os primeiros traçados humanos foram encontrados
na África, com cerca de 200 mil anos de idade, pinturas em
cavernas, entre as quais se destaca a caverna de Lascaux, no sul
da França.
A comunicação visual pré-histórica, o desenvolvimento
da escrita, a invenção da imprensa, todas apresentam uma
atuação forte da gravura. Era pintando em paredes que o
homem pré-histórico contava suas histórias e passava seus
conhecimentos adiante, foi gravando em tabuletas cuneiformes
que os sumérios começaram a desenvolver a escrita, passamos
pela xilografia e outras técnicas de gravura que foram e são
muito usadas no mercado impresso até os dias atuais.
Por meio da observação das gravuras feitas no decorrer
dos séculos podemos observar a vida humana em seus
contextos de acordo com cada época vivida. “Gravar é dar vida
às linhas do tempo. Das tramas delicadas do desenho sobre
uma superfície bordaram-se com linhas incisivas, ao longo da
história, algumas das mais sutis e notáveis obras de arte”.
(Fernanda Terra, 2011, p.10).
3
4
Carvão, tons quentes amarelos-claros e marrons
rubros, produzidos a partir de óxidos de ferro vermelhos e
amarelos misturados com gordura, era a matéria prima usada
pelos homens pré-históricos para produzir seus desenhos,
espalhando com os dedos ou com pinceis feitos de juncos ou
espinhos, imagens de animais e sinais geométricos abstratos,
produzidos durante cinco mil anos nos quais as pessoas
deixaram escrito em cavernas e canais uma crônica de seu
conhecimento de fatos e eventos. Inúmeros petróglifos foram
deixados ao redor do mundo, sinais e figuras simples
entalhadas ou arranhadas nas rochas, mas com um grau de
precisão que nos levam a observar a memória e a observação
elevada dos povos daquela época. Essas pictografias evoluíram
em dois sentidos: arte figurativa e base da língua escrita.
O artista paleolítico desenvolveu uma tendência àsimplificação e estilização. As figuras se tornaramprogressivamente abreviadas e eram expressascom um número mínimo de traços. No final doperíodo paleolítico, alguns petróglifos epictogramas haviam se reduzido a ponto de quaseassemelhar-se a letras. (Meggs,Purvis, 2013. p. 20).
A mesopotâmia foi considerada por muitos anos como
berço da civilização, e esse abandono da cultura aldeã se deu
após a chegada dos sumérios que desenvolveu um sistema de
deuses e inventaram a escrita como uma resposta à
necessidade de se fazer registro, mais confiável do que a
memória humana, sobre: impostos, colheitas, economia,
provendo assim uma ordem necessária para a manutenção da
estabilidade da cidade-estado.
Linha do Tempo Histórica
Pintura rupestre
A Gravura e a História da Humanidade
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A mesopotâmia foi considerada por muitos anos como
berço da civilização, e esse abandono da cultura aldeã se deu
após a chegada dos sumérios que desenvolveu um sistema de
deuses e inventaram a escrita como uma resposta à
necessidade de se fazer registro, mais confiável do que a
memória humana, sobre: impostos, colheitas, economia,
provendo assim uma ordem necessária para a manutenção
da estabilidade da cidade-estado.
As tabuletas da cidade de Uruk, são os registros
escritos mais antigos que se tem conhecimento, eram feitas
de argila, devido à abundância desse material na região, e
para a sua utilização segurava-se a tabuleta com a mão
esquerda e as pictografias eram riscadas na superfície com
um estilete de madeira, começando do canto superior direito,
as linhas eram escritas em colunas e essa tabuleta era levada
para secar ao sol ou cozida num forno até adquirir a dureza
de uma rocha. Por volta de 2800 a.C, os escribas inclinaram
as pictografias para as laterais e começaram a escrever em
linhas horizontais, da esquerda para a direita e de cima para
baixo, tornando mais fácil à escrita e deixando-as menos
literais. Com o passar dos anos surgiu à necessidade de
autenticação e personalização dos escritos e os sinetes
cilíndricos foram desenvolvidos, permanecendo em uso por
mais de três mil anos; tratava-se de cilindros que tinham a
sua superfície entalhada com imagens e caracteres, que
quando eram rolados sobre as tabuletas de argila ainda
úmida produziam impressões em alto-relevo e baixo-relevo
gravando a marca registrada do proprietário.
Antiga tabuleta pictográfica suméria 3100 a.C.
Representação do sistema numérico decimal elementar.
Baseado nos 10 dedos da mão.
A Gravura e a História da Humanidade
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Os egípcios também se valeram das invenções
sumérias, mas em vez de seguir a linha de abstração do
processo cuneiforme eles retiveram o seu sistema figurativo
de escrita, chamada de hieroglífica (termo grego para entalhe
sagrado) os mais antigos conhecidos datam 3100 a.C e a
última foi entalhada em 394 d.C. Por sua natureza enigmática
foi considerada por séculos como símbolos mágicos para
ritos sagrados, mas a partir da descoberta da placa negra, a
Pedra de Roseta, com inscrições em duas línguas e três
escritas, sendo uma delas a hieroglífica, pode-se desenvolver
um sistema de decifração dos símbolos, perdendo assim um
pouco do seu simbolismo mágico.
A civilização cretense ficava atrás somente das
civilizações egípcias e mesopotâmicas no quesito avanço no
antigo mundo ocidental, símbolos figurativos minoicos ou
cretenses já estavam em uso em 2800 a. C, restam apenas 135
pictografias dessa época. Pictografias estas que foram
substituídas pela escrita linear por volta de 1700 a.C,
antecedendo o alfabeto grego.
Uma das relíquias da civilização minoica é o Disco de
Festos, desenterrado em 1908, feito em terracota, com 16,5
centímetros de diâmetro, possui formas pictográficas e
alfabéticas impressas em ambas as faces em faixas espirais,
constituindo um dos mais intrigantes e curiosos artefatos da
época. Em 2000, em Creta, já se utilizava carimbos para
imprimir na argila úmida, sendo um precursor da tipografia
moderna.
Selo cilíndricoMesopotâmia
(Período Uruk, 4000 – 3000 a.C.
A Gravura e a História da Humanidade
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Uma das relíquias da civilização minoica é o Disco de
Festos, desenterrado em 1908, feito em terracota, com 16,5
centímetros de diâmetro, possui formas pictográficas e
alfabéticas impressas em ambas as faces em faixas espirais,
constituindo um dos mais intrigantes e curiosos artefatos da
época. Em 2000, em Creta, já se utilizava carimbos para
imprimir na argila úmida, sendo um precursor da tipografia
moderna.
Romanos desenvolveram no século VII a.C. matrizes em
metal para a cunhagem de moedas, coincidindo com a história
da gravura, uma vez que há necessidade de um entalhe
positivo e um negativo, para se produzir as cópias. Já os
fenícios dois séculos antes de Cristo criaram o alfabeto e seus
pictogramas que funcionavam como ícones evocativos dos
objetos do mundo real, deram lugar aos ideogramas que
combinavam símbolos gráficos com a evocação de ideias
abstratas como o amor, a verdade e o espírito.
Outras civilizações também se beneficiaram da gravura
e contribuíram para a sua evolução como os paquistaneses e
indianos com artefatos datados de 3300 a 1500 a. C.
descobertos em escavações recentes em Harappa onde foram
encontrados selos em terracota e relevos gravados em pedras
e metal com traços extremamente finos e delicados revelando
uma civilização desenvolvida.
Disco de Festo.Descoberto em 1908
A Gravura e a História da Humanidade
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A China, antes mesmo da invenção do papel já
utilizava tinta e selos para estampar seda, madeira ou tiras de
bambu; e foi nas cavernas chinesas do Turquistão que foi
descoberto o Sutra de Diamante, datado de 868 a.C, é o livro
mais antigo gravado em madeira e impresso em papel que se
conhece, dedicado à imperatriz da China Wang Chieh.
A gravura encontra-se entre as manifestaçõesartísticas mais antigas da humanidade. Com efeito,se entendemos por gravura o resultado depressionar um objeto duro sobre um outro maisbrando, com a finalidade de obter uma marca ouencaixe, e se entendermos por arte toda arealização humana a que se acrescentou umelemento estético à função prática. Contudo, agravura é uma manifestação artística peculiar, porum lado ligada ao mundo da indústria técnica e,portanto ao mundo da produção em série e, poroutro, ao mundo da criatividade e da arte. (RamónSerra, 2003, p. 14).
E a história humana e da gravura segue seu curso
perpassando por momentos importantes para ambas, em
1276 dC foi criada a fábrica de papel em Fabriano, Itália; c
1300 na Europa a impressão em relevo em tecidos; em 1423
as xilogravuras de São Cristovão, uma das primeiras datadas;
na Alemanha de 1454, Johan Gutenberg de Mainz,
revoluciona o mundo com suas matrizes de aço e tipos
móveis, aperfeiçoando a impressão tipográfica; O Mestre do
Baralho aperfeiçoa a gravação em lâmina de cobre; em 1456
Gutenberg e Fust concluem a bíblia de 42 linhas; Fust e
Schoeffer, Salmo em latim com capitulares impressas em
duas cores; c 1460 livros de xilográficos são produzidos na
Holanda; c 1460 Pfister, primeiro livro com ilustrações
impressas; 1465 Sweynheym e Pannartz, primeira impressa
Ukiyo-e
A Gravura e a História da Humanidade
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italiana; 1469, impressa em Veneza; 1470, Freiburger, Gering
e Kranz, primeira impressa na França; 1475 primeiro livro
tipográfico de língua inglesa; c 1530 Garamond estabelece
uma fundição de tipos independente; 1538, primeira
impressa o México.
Várias técnicas surgiram no decorrer dos anos, fruto
do estudo e da vontade humana de gravar, de produzir em
série com diferentes graus de detalhes e materiais, muitos
artistas permaneceram anônimos até que nomes célebres
como o de Albrecht Dürer, que começou a trabalhar com
gravura com apenas 12 anos de idade e ilustrou obras como a
Crônica de Nuremberg, Apocalipse de 1498, A Vida da
Virgem, Grande Paixão e a Pequena Paixão, reivindicaram a
autoria de seus trabalhos, no caso de Dürer ele utilizou um
monograma que criou para identificar a obra como
produzido e publicado por ele.
A xilogravura, por exemplo, de origem chinesa
desenvolvida desde o século VI, cujas imagens ficaram
desconhecidas do ocidente até a primeira guerra mundial,
chegando a Europa no século XIX sendo chamadas de
“imagens do mundo flutuante”, de extrema beleza. Teve sua
principal produção na escola de Ukiyo-e devido ao declínio
religioso budista e também pela mudança da antiga Edo para
Kioto, então capital do império. Essa escola contava com
desenhistas, gravadores, impressores e editores que vendiam
suas obras por alguns centavos, devido ao seu baixo custo e
grande tiragem, buscavam retratar uma crônica do cotidiano
da agitada e efervescente Edo.
Bíblia de Gutenberg
A Gravura e a História da Humanidade
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Na Europa, as primeiras xilogravuras começaram a se
desenvolver com a chegada do papel, no começo era
rudimentar normalmente contavam histórias religiosas, mas
chega ao final da Idade Média havia alcançado formas
estéticas mais rígidas e canônicas, voltou-se para temas
seculares e perdeu sua ingenuidade formal. O processo da
xilogravura compreende a realização de entalhes diretos na
matriz de madeira com ferramentas como goiva e o formão,
deixando a imagem a ser impressa em relevo, e a impressão é
feita a partir do entintamento dessa placa pousando-a sobre o
papel com o auxilio de uma colher de madeira ou espátula.
No período de 1520 a 1580, houve um declínio no
interesse pela xilogravura, embora alguns pintores já se
dedicassem ao oficio, sendo o mais proeminente da época
Albrecht Dürer, as xilogravuras passaram a imitar as pinturas
e seus temas favoritos eram as cópias dos mestres venezianos.
Renasceu em com Paul Gauguin com álbum de xilogravuras
Nave Nave Fenua (Terra maravilhosa). Edward Munch
também se voltou para a técnica e elevou o processo de
impressão manual a uma forma de arte, fazendo inúmeras
provas de diferentes cores e explorando os veios da matriz.
A calcografia aparece na Europa do século XV,
apresentado técnicas com: à gravura a buril, também
conhecida como talho-doce, gravura à água-forte, gravura à
ponta–seca, gravura à maneira-negra, gravura à água-tinta,
onde todas tem como base o metal. Hendrick Goltzius (1558-
1617) era um artista conhecido pelo conhecimento absoluto
sobre gravação em metal.
O último Julgamento
Albrecht Dürer - 1511Xilogravura
A Gravura e a História da Humanidade
11
Devido a sua superfície que permitia um traço ligeiro
e curvilíneo rapidamente se tornou a técnica predileta dos
pintores e desenhadores e era muito utilizada para
reproduzir quadros. Na Itália, criou-se uma estética latina
próxima a pintura, mas o passo seguinte foi dado nos Países
Baixos no século XVII, com a produção feita por Rembrandt.
O prestigio da sua obra é coetâneo ao autor e a suainfluência perdurou até os nossos dias. A suaextraordinária reputação como gravador (não sócomo pintor), contribuiu para uma grande difusãodas suas estampas e para o início do interesse doscolecionadores pelas suas obras, nos Países Baixos e
por toda Europa. (Ramón Serra, 2003, p. 16).
Rembrandt, grande impulsionador da água-forte a
usava também, combinando-a com a técnica da ponta-seca,
datada do século XV, trazendo-a novamente ao uso e começou
o processo de diferenciação entre pintura e gravura. Nesse
cenário dos Países Baixos do século XVII inicia-se um período
completamente distinto para a gravura, tanto pela estética,
técnica e função social.
A Veneza do século XVIII era uma república comercial,
próspera, com um mercado de produtos luxo e uma rica
atividade editorial, essa combinação propiciou uma evolução
na arte de gravar. Isso se deu por meio de infraestrutura
econômica e industrial para o desenvolvimento da gravura
em todas as suas facetas. A xilografia já era utilizada para
ilustrações desde o século XVI, mas foi sendo substituída pela
técnica de água-forte e vedute, tendo como destaque o papel
de Giuseppe Wagner e sua oficina-escola em Veneza, na qual
ensinou e difundiu a união de uma água-forte profunda
retocada a buril.
Autorretrato (12,4 x 10,2 cm)Rembrandt – 1634
Gravura sobre papel vergê
A Gravura e a História da Humanidade
12
A produção italiana sofreu grande influência
holandesa e teve como principais artistas: Giovanni Battista
Piranesi (1720-1778), Giambatista Tiepolo (1696-1770),
Giandomenic (1727-1804), Lucas Carlevarijs (1663-1729),
Antonio Canal (1697-1768), Vanvitelli (1652-1736), sendo
este último holandês de nascimento, mas com grande
aceitação em Roma e posteriormente em toda Itália.
A Europa do século XVIII possuía uma sociedade
erudita, cercada por livros, quadros e obras de arte. E esse
ambiente refinado antes pertencente a uma minoria agora
começa a fazer parte da vida da sociedade da época, tendo a
gravura um papel importante nessa mudança.
Produzir-se-ão grandes alterações sócias, técnicas eestéticas que marcarão todo o desenvolvimento dagravura, em especial a busca da cor, e as técnicas deágua-tinta, do ponteado e da gravura a crayon. Noséculo XVIII, a técnica, o artesanato e a arteencontram-se, em igualdade de condições, paraproduzir obras de uma excepcional qualidade.(Ramón Serra, 2003, p. 18).
Na França a partir de 1660 com o Édito de Saint-
Jean-de-Lux a gravura ganhou privilégios das artes mais
liberais, dando origem a uma escola burilista com uma
extraordinária qualidade técnica, mas sem grande
criatividade. Tendo como principais artistas: Antoine
Watteau (1684-1721), François Boucher (1703-1770), Jean-
Baptiste Oudry (1686-1855), Cochin, pai (1668-1754) e filho
(1715-1790).
Enquanto na Inglaterra onde até o século XVIII não
havia forte tradição artística nacional, a gravura fez parte
desse despertar da arte inglesa, com um interesse peculiar
pela técnica à maneira negra. “Em 1735, o parlamento
********
Festa no ParqueCharles-Nicolas Cochin.
Água-forte.
A Gravura e a História da Humanidade
13
elaborou uma lei de proteção e, em 1769, fundou-se a
Academia Real. Também se estimulou enormemente o
comércio e a edição das gravuras com fins comerciais”.
(Ramón Serra, 2003, p. 18).
Os artistas que mais se destacaram na arte britânica da época
no que se refere à gravura foram: Willian Hogarth (1689-
1764), William Blake (1757-1827), sendo este último um
escritor que fazia as gravuras de seus próprios livros com
água-forte.
Na Espanha, a gravura, devido ao cenário político
social da época tinha um papel secundário do qual só foi
redimido no século XVIII, com o aparecimento da indústria
do livro e da gravura na Península, isso como resultado da
influência francesa dos Bourbons e pela política dos
defensores do iluminismo e o resurgimento da atividade
industrial em Barcelona, seus principais artistas foram:
Palomino (1692-1777), Manuel Salvador Carmona (1734-
1820), Francesc Tramulles (1722-1773), Pedro Pascual Moles
(1741-1797), Francisco de Goya y Lucientes (1746-1828),
com destaque maior para Goya que é considerado um
gravador genial, que fez diversas experimentações, inclusive
o uso de uma nova técnica chamada litografia que surgiu por
volta de 1797.
A litografia foi inventada por Alois Senefelder, um
bávaro e difundida graças a sua produção industrial na
Inglaterra, tornando a gravura mais acessível, popularizando
o colecionismo de estampa. Trata-se de uma técnica que
utiliza uma matriz calcaria onde são feitas a gravação de
******
Disparate do Cavalo RaptorSérie Loucuras Anunciadas.
Francisco Goya
A Gravura e a História da Humanidade
14
marcas com um lápis gorduroso e tem como base o principio
da repulsão entre água e óleo, tem natureza planográfica e
seu primeiro nome foi poliautografia sendo muito utilizada
na produção de livros. Usada por artistas como Gustave Doré
(1832-1883), Paul Gavarni (1804-1866) e Grandville (1803-
1847) que possui uma obra marcada pela crítica cáustica à
sociedade contemporânea. Na Espanha, por sua vez, a
litografia chega em 1805, por meio do litógrafo Joan March e
assume um papel importante no mercado editorial, e em
1825 é criado o Real Estabelecimento Litográfico por
Fernando VII. Na produção espanhola destacam-se volumes
de Viagem e Labore, A Espanha Artística e Monumental com
ilustrações de Juan Perez Villamil e Francisco Javier Parcerisa
respectivamente.
Com a invenção e difusão da fotografia a gravura muda
de função deixa de ter o papel de transcrever imagens e passa
a ter um sentido mais artístico. Transmitindo as imagens de
forma diferente das da fotografia.
A xilogravura volta à cena, encerrando seu período de
reprodução de obras de arte e assumindo um caráter mais
artístico. Edward Munch (1863-1944) se interessou pela
técnica e se dispôs a estudá-la, elevando o processo de
impressão manual a uma forma de arte.
A seleção da madeira e a exploração visual dos seusveios faziam parte do seu processo criativo. Fazendoinúmeras provas em diferentes cores, Munch realizouum trabalho raro a época e, mais do que qualqueroutro artista do seu tempo conseguiu retirar daxilogravura das suas restrições técnicas resgatandoesta antiga forma de expressão artística. (OswaldoGoeldi, p.7)
A visão da morte.Paul Gustave Doré – 1868
A Gravura e a História da Humanidade
15
Giorgio Morandi (1890-1964) artista Italiano. Obra em água-
forte de grande interesse plástico gravou paisagens e,
sobretudo modernas naturezas-mortas constituídas por
garrafas. Picasso (1881-1973) artista espanhol que produziu
grande parte da gravura do século XX, sofreu e exerceu
grande influência, estampou mais de duas mil gravuras
usando diversas técnicas.
Miró (1893-1983) também de origem espanhola,
produziu obras em xilografia e calcografia com uma natureza
pictórica caracterizada por grandes massas de cor e linhas
muito simples. Salvador Dalí, Antoni Tàpies e Eduardo
Chillida artistas espanhóis que também produziram gravuras.
A gravura assume um papel político, sendo muito
usada na fabricação de panfletos e jornais durante a
revolução francesa e foi também utilizada por cartunistas
políticos europeus. Na Alemanha em Dresden é fundada a Die
Brücke (a ponte). Grupo que permaneceu ativo por oito anos
sob o comando de Erich Heckel (1883-1970) e Karl Schimidt
Rottluff (1884-1976) que usaram a madeira como base para
o desenvolvimento para muitas de obras expressionistas.
Outro grupo que também se beneficiou da xilogravura foi Der
Blaue Reiter (Cavaleiro azul) de 1919, fundado por Wassily
kandinsky (1866-1944) e Franz Marc (1880-1916).
Nomes como Kate Kollwitz (1867-1945), Franz
Masereel (1889-1971) são exemplos de artistas que
produziram em xilogravura no período da primeira guerra
mundial e se valeram da técnica para exprimir sua visão e
opinião sobre a situação de escravidão, opressão, guerra,
******
FigurasSalvador Dalí – 1917
Gravura em metal
A Gravura e a História da Humanidade
16
violência, injustiça da época.
A linoleogravura foi usada pelos artistas europeus do
final do século XIX. Tem como base o linóleo, material que era
utilizado para fazer pisos e passadeiras, é um processo de
gravura semelhante à xilogravura, em que a imagem é
recortada em linóleo e colada em uma base de madeira para
produzir gravuras. O desenho e feito com instrumentos
cortantes (goivas) e por o linóleo ser mais maleável que a
madeira permite um corte mais “doce” além de ter custo mais
baixo de produção.
Trata-se de uma técnica contemporânea, chegou aos
Estados Unidos em 1910 e a Gran Bretanha em 1911. Erich
Heckel, Gabriele Munter são representantes do
expressionismo alemão; Horace Brodzky fez a primeira
linoleogravura do Reino Unido; Claude Flight a primeira
colorida e utilizava métodos parecidos aos dos futuristas
italianos influenciando Dorrit Black, Ethel Spowers, Evelyn
Syme em sua produção, Picasso, Matisse são exemplos de
artistas que também se valeram da técnica. A linoleogravura
também pode ser feita em água-forte, criando um efeito
salpicado e desgastado um bom exemplo disso é A rosa e o
Rouxinol de Emily Johns. A linoleogravura foi usada pelo
artista africano John Ndevasia Muafanguejo como uma forma
de registro e mostra da cultura e da experiência da vida
moderna tribal norteafricana se valendo de palavras em suas
composições atingindo assim o entendimento de um número
maior de pessoas..
Para completar o cenário contemporâneo chega à
*****
Krummer KanalErich Heckel - 1915
A Gravura e a História da Humanidade
17
serigrafia, técnica planográfica que surgiu na China, entre
1639 e 1854, mas somente a partir do século XIX é que tem o
seu desenvolvimento aperfeiçoado, a primeira patente de
serigrafia foi concedida em 1907 a Samuel Simon e
rapidamente ganhou adeptos em outros países. Trata-se de
um processo de impressão no qual a tinta é vazada pela
pressão de um rodo ou puxador através de uma tela
preparada. A tela (Matriz serigráfica), normalmente de
poliéster ou nylon, é esticada em um bastidor (quadro) de
madeira, alumínio ou aço e pode ser feita também por meio
de um estêncil vazado colocado sob a tela.
Foi amplamente usada durante a primeira guerra
mundial na produção de comunicação visual, na depressão de
1930 ganhou mais espaço devido ao encarecimento das
matérias primas usadas em outras técnicas de gravura. A
serigrafia também teve seu lugar na Pop Art Americana,
fazendo parte da produção de Andy Warhol (1931-1987). E
foi utilizada por outros artistas como: Theóphile Steinlein,
Bem Shahn, Robert Gw’athmey, Harry Stenberg, Jackson
Pollock, Marcel Duchamp.
A gravura também deixa traços na história brasileira,
surgindo de forma artística no começo do século XX, e
passando a ter a si mesmo como fim desprendendo-se da
parede atirando-se no tridimensional.
Em 1913 Carlos Oswald realiza exposição com
Eugênio Latour na Escola Nacional de Belas Artes e em 1914
tenta instituir curso de água-forte no Liceu de Artes e Oficio
do Rio de Janeiro.
FacasAndy Warhol – 1981-82
A Gravura e a História da Humanidade
18
Anita Malfatti expõe em São Paulo pinturas, desenhos e
gravuras. Em 1922 a Semana de Arte Moderna traz gravuras
em seu acervo, Lasar Segall liga-se ao expressionismo Alemão.
E em 1923 Goeldi que já trabalhava com litografias passa a
usar a xilogravura, 1937 Cobra Norato, de Raul Bopp, é
publicado com as primeiras xilogravuras coloridas de Goeldi.
1930 o curso de água-forte é instituído no Rio de
Janeiro. Lívio Abramo se coloca sob o signo do
expressionismo, fase operária. A década de 40 é marcada pela
guerra, e no Brasil foram ministrados cursos de gravuras em
algumas capitais do país, expandindo a técnica. A Ilustração de
Pelo Sertão, de Afonso Arinos, publicado em 1949, com um
distanciamento do expressionismo.
O Brasil bebeu avidamente do Expressionismo Alemão,
mas não possuía a contrapartida cultural, não havia passado
por traumas de guerra ou lutas de classes como os europeus e
por outro lado tínhamos o Barroco, o imaginário popular e a
junção dessas características resultaram na gravura
figurativa.
“A brasilidade implica ideologicamente o esforço
criativo de instituir uma iconografia que represente o
país como um todo. Considerando as diferenças
regionais, sócias e étnicas, esse projeto não poderia
deixar de ser utópico”. (Rubem Grilo, 2000, p. 29).
Passamos então a Grassmann e suas ilustrações genéricas.
Chegamos a 1950 com a gravura relacionada a esquerda
intelectual em torno do Partido Comunista. 1951 Clube de
Gravura organiza exposição em Bagé e Porto Alegre. E em
1952, exposição em São Paulo, Rio de Janeiro, Pequim e
********
Cabeça de negra.Lasar Segall – 1929.
Xilogravura(28x18cm)
A Gravura e a História da Humanidade
19
Montevidéu. Nessa época é concedido o Prêmio Picasso da
Paz.
No início dos anos 60 Roberto Magalhães, faz desenhos
que simulam claro e escuro, relevo, distanciando-se das
xilogravuras. As gravuras discutidas por artistas de várias
regiões se aprofundam na ruptura com a figuratividade. E nos
anos 70 Nori Figueiredo, insisti em questões técnicas,
incluindo o retórico e a poética. Ao passo que Aldemir Martins
multiplica os suportes e os objetos do refinado ao banal, e
Maciej Babinski, grava cenas fantásticas organizadas umas por
surrealismo e outras invadidas por bacantes. E as gravuras
passam a serem usadas na crítica política.
Nos anos 80 a valorização das ações artesanais fez da
gravura uma importante técnica de veiculação de imagens. E é
a partir da década de 90 que a produção da gravura foi
variando e se espalhou por todo o país. No começo dessa
década, foram produzidos gravuras soltas e livros dobrados
feitos de gravuras de Madalena Hashimoto. Ao passo que
Almicar de Castro produzia suas litografias como desenhos
velocíssimos.
Sem títuloNori Figueiredo – 2000
Calcogravura.
A Gravura e a História da Humanidade
20
As linhas de tempo da humanidade e da gravura se
cruzam, se fundem, andam de mãos dadas em alguns períodos
da história. Em uma simbiose temporal, uma depende da
outra, seja para continuar a ser produzida como para
continuar a ser contada. O homem evolui assim como a
gravura, se reestruturam, se comunicam, encontram meios de
coexistir no mesmo espaço um colaborando com a outra para
que possam se perpetuar mutuamente.
Desde o começo o homem utiliza a gravura para contar
a sua história e a gravura se utiliza do homem para continuar
a existir.
Conclusão
SwingsClaude Flight -1932
A Gravura e a História da Humanidade
22
SERRA, Ramón. A gravura. In: O universo da gravura. 1ª
edição. Lisboa, Editorial Estampa, Lda, 2003.
TERRA, Fernanda. Mestres da Gravura. Coleção da Fundação
BIBLIOTECA NACIONAL. Rio de Janeiro, Centro Cultural
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