A Guerra de Resistência

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  • 7/25/2019 A Guerra de Resistncia

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    A GUERRA ASSIMTRICA: resistncia

    a luta do mais fraco contra um oponente com poderde combate incontestavelmente superior

    Cludio Tavares CASALI - Cel

    1. INTRODUO

    A mdia, nos ltimos dez anos, tem abordado a respeito da resistncia oferecida

    ocupao militar norte-americana no Iraque, o qual nomeiam de insurgncia. Tal atitude

    no uma novidade em termos de opo de estratgia militar.

    Normalmente no prioritria nos Exrcitos e alguns pases tampouco a consideram

    para suas naes, mas a histria mostra sua incidncia em diversos episdios.

    Doutrinadores, como Sun Tzu, Clausewitz e Beaufre, fizeram anotaes a respeito do

    assunto.

    At pouco tempo, a expresso resistncia era empregada para caracterizar uma

    possvel postura belicista do oponente com o poder relativo de combate muito menor. Hoje,

    depois de vrios estudos militares, adotou-se a expresso assimtrica, uma vez que a

    anlise entre os beligerantes pode ser realizada por diversos vetores.

    Pretende-se apresentar ocorrncias blicas e movimentos civis onde tal atitude foidemonstrada.

    2. DESENVOLVIMENTO

    a. II Guerra Pnica

    Aps o insucesso das foras romanas na batalha do Lago Trasimeno, em 217 a C, o

    cnsul Fbio adotou novas formas de combate ao invasor, homiziando suas foras nas

    montanhas, onde os cartagineses no podiam impor sua superioridade militar. Fbio passou

    a realizar incurses contra o invasor, atacando de surpresa seus acampamentos,

    destacamentos isolados e seus aliados. Durante dois anos, anulou a possibilidade de Anbal

    firmar-se na Pennsula Itlica, minando sua confiana numa vitria rpida. Quatorze anos

    mais tarde, utilizando-se da estratgia fabiana, Roma alcanou vitria com Cipio, o Africano.

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    b. frica Oriental Alem na 1 GM

    Dos anais da 1 GM, tem-se o registro da vitoriosa resistncia do exrcito colonial

    alemo na frica Oriental perante o oponente britnico, durante os quatro anos do conflito.

    Um pequeno efetivo, onde noventa por cento desse era de nativos africanos, imps ao

    oponente manter um verdadeiro exrcito na regio, com muitas dificuldades logsticas e de

    coordenao e controle. O teatro de operaes, com caractersticas diversas do continente

    europeu, pode ter dado vantagem para a resistncia, mas a obstinao da tropa, a adoo

    de tcnicas de guerrilha e a liderana do General Paul Von Lettow Vorbek que foram as

    chaves do sucesso alemo.

    c. Resistncia de Mao Tse TungPara enfrentar o exrcito japons que invadiu a China, Mao preconizava a adoo

    de uma defensiva estratgica de longo prazo e a ofensiva ttica num quadro de guerra de

    guerrilha, uma vez que os japoneses eram militarmente muito mais poderosos do que os

    divididos nacionalistas e comunistas chineses. Dessa forma, entre 1937 e 1945, Mao ficou

    em defensiva e entre 1947 e 1949 desencadeou sua ofensiva vitoriosa.

    d. Frana na 2 GMO movimento de resistncia francs diante da ocupao alem foi organizado, onde

    as manifestaes estavam coordenadas pelo General De Gaulle, utilizando-se muito de

    emisses radiofnicas. Como a direo do movimento estava em Londres, houve

    necessidade de fazer funcionar um sistema eficiente de comunicaes entre os dois

    territrios. A classe estudantil e populao de maneira geral foram utilizadas em diversas

    manifestaes pblicas, chegando a realizar greve geral, simplesmente sem sair de suas

    casas. Os integrantes da resistncia participaram de aes de eliminao de militares

    alemes e de cobertura da evaso de lideranas francesas, mantendo o movimento da

    Frana Livre. Com apoio da Gr-Bretanha, um verdadeiro exrcito foi articulado, contando

    com apoio das colnias francesas e integrando mais de 100.000 homens, inclusive com fora

    area, chegando a participar de aes ofensivas em prol da resistncia. No andamento do

    conflito, com essas, a resistncia passou a se intitular Frana Combatente.

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    e. Polnia na 2 GM

    O movimento de resistncia Polons iniciou-se no mesmo dia da ocupao alem e

    sua manifestao maior se deu pela imprensa clandestina onde mais de uma centena de

    jornais passaram a circular, com informaes oriundas de radiodifuso das naes unidas

    alm de outras emissoras clandestinas. A represso se deu com a apreenso de receptores,

    e com intenso castigo queles que improvisavam meios de escuta. Alm da mdia

    clandestina, aes de sabotagem e assalto foram largamente utilizados pelo movimento de

    resistncia.

    f. Holanda na 2 GM

    Sendo a Holanda ocupada pelos Alemes, surge o movimento de resistncia,alicerado, principalmente, pelo esprito de independncia pr-existente. A rainha e a famlia

    real, mesmo no exlio, continuaram a ser o smbolo desse esprito nos mais de trs anos de

    ocupao. Poucas vezes na histria se ter registrado to perfeita sintonia entre o governo e

    povo.

    g. Blgica na 2 GM

    As organizaes polticas nacionais e os sindicatos se negaram a colaborar com aocupao alem, e partiram destes os mais importantes atos de sabotagem do perodo. No

    entanto, a apatia e a incompreenso da populao de um modo geral tornam a maior

    preocupao das autoridades, que realizam um amplo e difcil trabalho de operaes

    psicolgicas, pois na realidade o governo passou a funcionar em Londres.

    h. Iugoslvia na 2 GM

    Depois da derrota militar inicial, muitos soldados iugoslavos retiraram-se para as

    florestas para continuar a luta contra as foras de ocupao italianas, mas as velhas

    rivalidades raciais, de religio e de cultura, acabaram por dividir o movimento de resistncia.

    A tradio guerreira secular facilitou o incio das operaes, que paulatinamente foi

    envolvendo os habitantes locais, porque quanto mais a resistncia atuava, maior eram as

    represlias das foras de ocupao. Em 1942, o movimento de resistncia era o maior

    entrave para a ocupao. Nesse contexto, surge Tito, pseudnimo de um croata que liderou

    a resistncia. Como o parque industrial era incipiente, os principais objetivos eram o corte da

    linha de suprimento.

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    i. Grcia na 2 GM

    O movimento de resistncia contra ocupao italiana foi organizado e coordenado

    por um governo instalado em Londres. Ele demorou a ter resultados promissores, mas to

    logo unificou o povo dividido pelo regime e pelas lutas polticas anteriores, passou a ter

    resultados expressivos. Atuou, principalmente, com atos de sabotagem a aquartelamentos e

    vias de comunicao, pela divulgao de uma imprensa clandestina ativa, por manifestaes

    pblicas nas grandes cidades e finalmente por uma organizao efetiva de guerrilha.

    j. Finlndia na 2 GM

    A grande resistncia dos finlandeses contra o russo invasor, na 2 GM, ficou

    marcada pela utilizao de tropas regulares em aes no convencionais, pela preparaodessa resistncia e pelo emprego de elementos locais, coesos e resignados. A caracterstica

    do povo foi relevante para operao, pois eram hbeis no tiro de caa, plenamente

    adaptados s rgidas condies climticas, valiam-se do conhecimento e do aproveitamento

    do terreno, assim como da utilizao de esquis para rpidos deslocamentos, ao passo que

    os russos usavam apenas as estradas. O insucesso nessa ofensiva russa devido

    resistncia fez com que se alocassem grandes quantidades de meios para esse TO e,

    tambm, incitou Hitler a abrir a frente oriental europia da grande guerra.

    l. Os Partisans

    Alguns estudiosos dos movimentos de resistncia costumam mencionar os

    Partisans. Sem traduo literal, trata-se das muitas atividades de esconder judeus e

    interromper deportaes para os campos de concentrao. Aproximadamente 100.000 vidas

    foram salvas com a cooperao entre judeus e no-judeus. Os nazistas agiam isolando

    fora as comunidades judaicas e separando-as das comunidades no judaicas quase que

    imediatamente. Como conseqncia, a resistncia judaica nos guetos floresceu com pouca

    ou nenhuma ajuda externa. Ela consistia em ataques armados e revoltas contra os SS, na

    organizao de fugas em massa dos campos e os combates dos Partisans.

    Aproximadamente 20.000 judeus pertenceram aos grupos Partisans.

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    m. Movimentos de Libertao Nacional ps 2 GM

    Valendo-se dos ensinamentos de Mao Tse Tung e de aes de resistncia que

    obtiveram xito na 2 GM, diversas guerrilhas para libertao do colonizador, mas com

    tendncia comunista foram implantadas em colnias francesas, entre elas na Indochina e na

    Arglia. As foras locais de resistncia ao colonizador adotaram aes terroristas, de

    mobilizao de massas e de propaganda para levar a populao situao de total

    insegurana, dando total descrdito s foras dominadoras, que no estavam preparadas

    para esse tipo de combate.

    n. Vietn

    No sucesso da resistncia vietnamita contra dominao estrangeira, destaca-se aliderana de Ho Chi Minh e a conduo militar das operaes por parte do General Vo

    Nguyen Giap. Tambm foram de extrema importncia o desejo de unificao do pas, a

    vontade de expulsar os estrangeiros e o conhecimento e adaptao ao teatro de operaes.

    o. Batalha dos Guararapes

    Diante do poderio das foras holandesas que dominavam Pernambuco, Matias de

    Albuquerque, governador local, retirou-se para o interior, onde organizou os remanescentes,fundou um povoado de onde sua posio estratgica limitava o acesso ao interior. A partir

    desse povoado, que se confundia com uma base de operaes, passou a empregar tticas

    de guerrilha para impedir que os invasores consolidassem ou ampliassem suas conquistas,

    aguardando oportunidade para retomar as vilas. Tal feito se deu depois de anos de

    ocupao, a 19 de abril de 1645, na triunfal Batalha dos Guararapes.

    p. Revoluo Constitucionalista de 1932

    Para um sem nmero de historiadores, tal movimento no chega a ser considerado

    como de resistncia, mas tem sua importncia para o estudo da estratgia da resistncia,

    no s pela contribuio financeira da populao paulista, mas tambm pela participao

    em combate de representantes de diversas classes sociais, pela possibilidade de

    mobilizao industrial e pelo sucesso das operaes psicolgicas depreendidas.

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    q. Afeganisto

    Os Estados Unidos decidiram ocupar o Afeganisto - em represlia aos atos

    perpetrados por terroristas Talibs do grupo Al-Qaeda, nas cidades de Nova York e

    Washington, em 11 de setembro de 2001. Tal atitude parecia desprezar os malogros dos

    russos, britnicos, e muito antes de Alexandre Magno. A ex-Unio Sovitica chegou a

    colocar ali um contingente militar de aproximadamente cem mil soldados e em fevereiro de

    1989, ao cabo de dez anos de ocupao, retirou-se do territrio afego sem conseguir atingir

    os objetivos, pois o terreno montanhoso e a tenacidade da tropa entrincheirada dificulta o

    controle das vias de comunicao e transporte do pas.

    r. Iraque

    A resistncia iraquiana foi planejada. Tal assertiva e defendida por mais de uma

    dezena de estrategistas militares, tamanha foi a negligncia na ao defensiva de Bagd

    assim como, em oposio, foi a eficincia na descaracterizao e ocultao dos meios de

    combate do exrcito iraquiano. Tal movimento, surpreendentemente, no foi identificado

    pelos norte-americanos. Por mais profundo que tenha sido o estudo da rea operacional

    pelos invasores, no foi notada a desejvel diviso religiosa de sunitas e chiitas. A unidadedas massas, mesmo sendo fator primordial para o sucesso do intento de resistncia, no foi

    um fator determinante na operao. Existe uma ruptura poltica, mas no de propsitos no

    Iraque. Pode-se inferir nessa guerra, que mesmo com um grande aparato tecnolgico

    favorecendo a inteligncia de sinais, a inteligncia de fontes humanas, ainda hoje, exerce

    forte importncia nas frentes de combate para integrao das fontes.

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    3. CONCLUSO

    No se pretendia elaborar um trabalho conclusivo, mas vemos que se trata de uma

    estratgia factvel e com inmeras possibilidades em seu desenvolvimento, pois essas

    variam de acordo com a organizao, a ideologia, a cultura predominante, o teatro de

    operaes, o conhecimento do terreno por parte dos contendores, a relatividade do poder de

    combate, entre outros aspectos.

    No esperamos que haja outro conflito mundial, mas a insurgncia s est na viso

    dos opressores. A Resistncia est na luta constante para o mais fraco surpreender e vencer

    o opressor.

    Referncias- Abreu, Gustavo de Souza. A Brigada de Infantaria de Selva na Execuo da Estratgia daResistncia, ECEME, 1998.- Cambeses Jnior, Manuel. Artigos em www.militar.com.br.- Condon, Richard W. Guerra da Finlndia: inverno de sangue. Coleo da Histria Ilustrada da 2Guerra Mundial. Editora Renes, 1972.- Donato, Hernani. Dicionrio das Batalhas Brasileiras, Bibliex, 1996.- Estado-Maior do Exrcito. C 20-1, Glossrio de Termos e Expresses, EGCCF, 1996.- Estado-Maior do Exrcito. C 124-1, Estratgia, EGCCF, 1996.- Estado-Maior do Exrcito. IP 72-1, Guerra de Resistncia, EGCCF, 1996.- Fernandes, Francisco Ronald da Rocha, A Brigada de Infantaria de Selva na Execuo daEstratgia da Resistncia, ECEME, 1999.- Ferro, Carlos. Histria da Guerra. Editora Sculo, Lisboa, 1947?.- Magnoli, Demtrio. Atlas Geopoltico, editora Sicipione, 2000.- Pereira, Marcos Aurlio. Revoluo Constitucionalista, editora Brasil, 1989.- Rocha Jnior, Gilson Hermnio da. Coletnea, 2004.- Sibley, Roger. Alemes na frica guerrilha magistral. Coleo da Histria Ilustrada do sculo deviolncia. V. 15. Editora Renes, 1971.- www.fanyzine.com/exposicaoresistencia.htm. Acesso em 13 jun.2004.- www.historialago.com/leg_cart_01035_gp2.htm. Acesso em 15 ago. 2005.- www.nuevamayoria.com. Acesso em 13 jun.2004.