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A HISTÓRIA DA EMIGRAÇÃO REGIONAL de Giancarlo Bertuzzi Já durante a época moderna inúmeros eram os habitantes da Carnia que se afastavam bem longe para exercer diferentes trabalhos em que se tornaram expertos, não longe do que se passava em outras áreas alpinas. Estes eram tecelões, artesãos, bagageiros, criados e sobretudo vendedores ambulantes, os cramârs. Chamavam-se também materialistas, cramârs e similares. Eles costumavam viajar pelos países da Europa central, vendendo de país em país mercadorias e especiarias que chegavam de Veneza. Alguns deles se tornaram vendedores por grosso desses produtos, construindo armazéns nos centros principais das áreas de comércio onde se encontram os vendedores a retalho. Algumas grandes fortunas provêm mesmo daqui e irão afetar positivamente com um conseguinte melhoria das condições de vida nos países de origem, com a construção de casas senhoris, adquirindo bens fundiários quer em Carnia, quer em outras áreas, nomeadamente em Istria. Nesses casos pode-se falar de “migração do bem estar”, para manter e consolidar o nível de vida não obtenível de outra forma. Vai se criando assim uma jerarquia social, de mercantes também são prestadores de dinheiro ou de mercadorias para os mesmos cramârs. Isto vai se acabando durante o século XIX, se bem pequenas zonas tradicionais continuam resistindo em algumas áreas, quando o desenvolvimento industrial muda de forma radical a situação econômica européia. No sector têxtil a mecanização dos processos de produção e a diversificação dos produtos, sempre mais “seriais” e baratos, estabelecem o final dos tecedores bem como dos alfaiates, enquanto a expansão mesma da industrialização, da urbanização, da rede dos transportes requer sempre mais mão-de-obra para os trabalhos relacionados com a edilícia: trabalhadores agrícolas, operários, telheiros, canteiro, pedreiros, trabalhadores florestais e outros especialistas para o trabalho da madeira. Mudando a procura, a oferta se conforma, percorrendo vias de migração já

A HISTÓRIA DA EMIGRAÇÃO REGIONAL de Giancarlo Bertuzzi … · de Val Tramontina, deixando sempre mais espaço para os cortadores de árvores, operários de serrações de madeira,

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A HISTÓRIA DA EMIGRAÇÃO REGIONAL

de Giancarlo Bertuzzi

Já durante a época moderna inúmeros eram os habitantes da Carnia que se afastavam

bem longe para exercer diferentes trabalhos em que se tornaram expertos, não longe do

que se passava em outras áreas alpinas. Estes eram tecelões, artesãos, bagageiros,

criados e sobretudo vendedores ambulantes, os cramârs. Chamavam-se também

materialistas, cramârs e similares. Eles costumavam viajar pelos países da Europa

central, vendendo de país em país mercadorias e especiarias que chegavam de Veneza.

Alguns deles se tornaram vendedores por grosso desses produtos, construindo armazéns

nos centros principais das áreas de comércio onde se encontram os vendedores a

retalho. Algumas grandes fortunas provêm mesmo daqui e irão afetar positivamente

com um conseguinte melhoria das condições de vida nos países de origem, com a

construção de casas senhoris, adquirindo bens fundiários quer em Carnia, quer em

outras áreas, nomeadamente em Istria. Nesses casos pode-se falar de “migração do

bem estar”, para manter e consolidar o nível de vida não obtenível de outra forma. Vai

se criando assim uma jerarquia social, de mercantes também são prestadores de

dinheiro ou de mercadorias para os mesmos cramârs. Isto vai se acabando durante o

século XIX, se bem pequenas zonas tradicionais continuam resistindo em algumas

áreas, quando o desenvolvimento industrial muda de forma radical a situação

econômica européia. No sector têxtil a mecanização dos processos de produção e a

diversificação dos produtos, sempre mais “seriais” e baratos, estabelecem o final dos

tecedores bem como dos alfaiates, enquanto a expansão mesma da industrialização, da

urbanização, da rede dos transportes requer sempre mais mão-de-obra para os

trabalhos relacionados com a edilícia: trabalhadores agrícolas, operários, telheiros,

canteiro, pedreiros, trabalhadores florestais e outros especialistas para o trabalho da

madeira. Mudando a procura, a oferta se conforma, percorrendo vias de migração já

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conhecidas às comunidades de partida, com o câmbio de sazonalidade: nunca mais

durantes os meses do inverno, mas da primavera até o outono, no período mais

favorável para as obras civis, com serias conseqüências de longo período no que diz

respeito ao delicado equilíbrio do sector agrícola e pastoril. Com a falta da força de

trabalho mais forte e experiente durante os períodos de maior intensidade de trabalho

nos campos, isto grava sempre mais nos que ficaram, idosos, mulheres, crianças,

levando a uma progressivo degradação do sistema agro-silvo-pastoral em primeiro

lugar bem como das próprias capacidades de produção: uma conseqüência será um

ciclo vicioso pelo qual perante um abaixamento da produtividade agrícola, o próprio

deterioração em termos de qualidade, o incremento da população, as expectativas que o

relativo bem-estar, ou pelo menos a certeza da continuidade do trabalho e dos

rendimentos que a migração “de profissão” parecia garantir, a única resposta é confiar

sempre mais intensamente, quantitativamente e qualitativamente, na migração o futuro

individual e familiar. Nesse período o fenômeno da migração não interessa apenas as

áreas de montanha, mas abrange zonas mais amplas, afetadas pelas incessantes

carestias dos primeiros decênios do século XIX, durante o qual as noticias de

possibilidades de emprego se multiplicam sem controlo: não obstante a severidade das

autoridades austríacas na concessão de passaportes, mais de 17.000 pessoas uma

média por ano migram do Friuli entre o 1827 e o 1836 e sem dúvida mais abundante é a

migração clandestina, incontrolável e secundariamente tolerada, sobretudo aquela para

os territórios de domínio dos Asburgos.

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Do 1866 até o 1914

Com a anexação do Friuli ao Reino de Itália não muda de forma relevante um fenômeno

de migração que já tem uma fisionomia sólida e uma longa tradição: a tendência é de se

dirigir para os países da Europa centro-oriental durante os meses do verão. Os percursos

migratórios, as destinações e as relativas profissões, as motivações que forçam a partir e

a escolher um destino especifico não mudam mas se afinam: o crescimento econômico

dos países europeus é representado pelo desenvolvimento das obras civis bem como das

infra-estruturas que requerem, ao lado de mão-de-obra não qualificada ainda numerosa,

profissionalismo e competências técnicas especiais e atualizadas bem como a capacidade

de se inserir em uma organização do trabalho sempre mais complexa. Durante a

anexação e o novo século desaparecem os vendedores ambulantes, os salsicheiros, i

coltellinai, os carpinteiros, os turfeiros de Valle Del Torre, os quadradores de travessas

de Val Tramontina, deixando sempre mais espaço para os cortadores de árvores,

operários de serrações de madeira, pedreiros, telheiros, canteiros, terrazzai e

assentadores de mosaicos. Às destinações habituais quais Áustria, Hungria, Alemanha

(onde se dirigem no início do século ‘900 90% dos migrantes), se juntam os estados do

Danúbio, a Turquia, a Rússia, a França e a Suíça. O número dos migrantes friulanos

varia na época entre a metade do século até os anos Oitenta entre 17.000 e 25.000 por

ano, com relevantes oscilações devidas a momentos e contingências especiais, para

crescer regularmente de 20.000 por ano de 1881 até os 37.000 de dez anos depois,

chegando ao nível máximo de 56.000 em 1899, para descer lentamente até os 36.000 de

1911 e subir de novo rapidamente até mais de 52.000 de 1914. Se flutua entre 3,5 – 5,6

% da população residente na Província de Udine nos anos até o 1891, 10,3% de 1899,

até 5,7% de 1911, chegando a 8,2% de 1914. Estes números têm de qualquer forma um

valor relativo permanecendo inferiores à realidade pelo menos até o começo do século

XX: em 1903 Giovanni Cosattini, na primeira rígida investigação sobre a migração

temporária friulana, afirma que, de acordo com as estatísticas ferroviárias, eram mais de

80.000 por ano os migrantes, correspondente a 13% da população residente, com níveis

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máximos de 25% do Distrito de Moggio Udinese, 18% de Gemona, 15% de Tolmezzo e

San Daniele, chegando a 4,8% de San Vito al Tagliamento (1,5 em 1881), 4,8% em

Latisana (0,99 em 1881). Em 1914 o inspetor de trabalho Guido Picotti, outro

observador cuidadoso da época do fenômeno migratório, avaliava em 85.000 o número

dos que em aquele ano partiam pela Europa ou além-mar, representando 37% da

migração da área do Veneto (dentro do qual o Friuli estava inserido na estrutura

administrativa do Estado italiano) que por sua vez representava 18% de toda a migração

italiana1. Já em 1877 o vice-secretário da Direção Geral de Estatística de então, Bonaldo

Stringher, comparando os dados dos passaportes emitidos e as notícias fornecidas pelos

presidentes das câmaras friulanos, calcula novamente o número dos migrantes daquele

ano de 10.000 a 16.000, sem poder ter em conta dos clandestinos. Um dos maiores

problemas para o conhecimento do fenômeno migratório é de fato a quantificação,

nomeadamente nos períodos durante os quais resulta ser mais relevante aquela

clandestina ou não registrada por meios de investigação adequados. Mesmo quando o

Reino de Itália se dotará de instrumentos de inquérito estatístico específicos para a

migração, esses serão capazes de se aproximar somente por defeito para a real

consistência do fenômeno, pelo menos até o 1904. Nos últimos vinte anos do século

XIX o fenômeno migratório em massa irá se estendendo até a planície e comparecerá ao

lado dos deslocamentos anuais das transferências definitivas além-mar. Mesmo sendo o

destino entre temporário e permanente (naquelas épocas se chamava “próprio”,

considerando “impróprio” o destino de breve duração e recursivo, sempre com a

finalidade de voltar para a pátria) era e é impreciso, pois mesmo quem ia para a Europa

muitas vezes decidia de lá ficar para sempre e que ia além-mar o fazia com a intenção de

permanecer durante um período prolongado, para “fazer fortuna” e juntar uma suma de

dinheiro suficiente e voltar, continua uma distinção útil mas sobretudo correspondente a

realidade, caracteres, êxitos diferentes e específicos. A migração sazonal nos países

europeus segue percursos sempre mais consistentes, freqüentemente em grupos

profissionais com a mesma origem territorial, em diferentes ocasiões coordenados por

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um organizador – mediador local, assegura um rendimento não elevado mas

suficientemente constante que poderá ser reinvestido nos lugares de origem para

melhorar as habitações, ampliar as propriedades familiares, assegurar um nível de vida

decoroso à família, encaminhar os filhos para uma instrução profissional básica. A

migração além-mar se instaura ou sob forma de abandono radical dos lugares de origem,

devido à alienação dos próprios bens, ou numa empresa “de risco” na qual se vai à

busca, durante um período mais ou menos breve de tempo, de acumular ganhos elevados

e voltar. Nos anos 1875-76 começam as expatriações para as Américas do Distrito de

Fagagna e de San Vito e a seguir progressivamente de outras localidades: em 1878

chegam a quase 3.000 os migrantes que se dirigem principalmente para a America do

Sul, atraídos também pela propaganda desenvolvida pelos governos da Argentina e do

Brasil, mediante os agentes de migração que operam por conta das companhias de

navegação que encontram um ambiente apto a recebê-la. A população rural da média e

baixa planície sente o efeito de uma lenta e inexorável erosão dos próprios ganhos,

causada quer por uma grande crise agrária naqueles anos, quer pela difusão de doenças

da vide e do bicho da seda que matam as produções mais difundidas e mais rentáveis,

quer pela importante contribuição fiscal (imposto de moagem, sal) e pela rigidez dos

acordos de arrendamento rural, que refletem sobre o agricultor os efeitos da crise. O

fenômeno irá explodir entre o 1887 e o 1889, quando as saídas com destino o Novo

Mundo se registrarão perto de 5.000 unidades por ano, não sendo os mais pobres a

migrar mas os que possuem capitais, mesmo se modestos e espírito de iniciativa: mais

que a miséria são a falta de perspectivas, a incerteza do futuro, as relações sociais

demasiado apertadas e opressivas que levam à decisão de se ir embora. O que se está

tornando êxodo dos campos preocupa as classes dirigentes agrícolas, divididas entre a

hostilidade contra um processo que as priva de uma submetida força de trabalho e a

inevitabilidade de um fenômeno que alivia a excessiva pressão demográfica, resolve sem

as envolver o problema da miséria e do atraso, que terá de ser regulamentado. No final

do século também os agricultores e os pequenos proprietários da planície irão se

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agregando às listas da migração temporária: não podem fazer valer as ocupações como

os habitantes da montanha e terão de se adaptar a trabalhos mais humildes e com um

salário inferior: operários manuais, trabalhadores não qualificados empregados nos

aterros ou terraplenagens, telheiros sobretudo ocupados em oficinas para a produção de

tijolos e telhas austríacos e alemães, onde a impiedosa concorrência levada pelos

friulanos aos operários locais tinha fundamento em terríveis formas de exploração e

auto-exploração, de trabalho infantil, de danos irreversíveis à saúde. A contraposição

entre mão de obra local e operários friulanos caracteriza, com acentuações mais ou

menos marcadas, os anos da grande afluência dos migrantes no mercado do trabalho de

Áustria e Alemanha. A disponibilidade em aceitar salários mais baixos, fazendo-se

cargo de muito trabalho, poupando em qualquer coisa, inclusive a alimentação que

continua tendo por base a polenta, tomando o lugar de outros sem hesitação alguma,

torna os friulanos como elemento perturbador do mercado e relativas controvérsias:

difundida é portanto a fama de “krumiros”. Com muita fadiga as organizações sindicais

dos países de destino tentarão mitigar este conflito, oferecendo aos migrantes o próprio

suporte bem como a proteção contra os abusos dos empregadores, endereçando estes

para localidades e setores de produção com maior procura de emprego mas sobretudo,

favorecendo a constituição de organizações de suporte à migração mesmo nos lugares de

saída. Ditas premissas constituem a base do nascimento em Udine em 1900 do

Secretariado para a Migração, por iniciativa de um jovem advogado socialista Giovanni

Cosattini, com a finalidade de assistir, coordenar, endereçar a migração temporária

friulana, em colaboração com outras instituições quer nacionais, quer nos países de

destino. Em 1901 nascia o católico Secretariado do Povo que se ocupava de cargos

assistências similares. Também a migração transoceânica, que se reduziu

progressivamente e menos de mil unidades no início do século, subindo de repente a

partir do 1904, reduzindo-se raramente abaixo de 3.000 pessoas por ano, com máximos

de mais de 6.000 em 1906 e 1912, até 10.000 de 1913 e 9.000 de 1914. Os principais

lugares de destino em Europa são sempre Áustria, Alemanha, Hungria, mas também

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Sérvia, România, Turquia; do início do século também França e Suécia iniciavam

atirando milhares de migrantes.

Além-mar os destinos principais ainda são Argentina e Brasil, mas com expatriações

mais baixas com máximos de nomeadamente 4.500 e 2.500 do 1888, até 1904, quando

foram superados por Estados Unidos e Canadá, para os quais países naquele ano se

dirigiram 1.500 friulanos que subiram até 8.00 em 1914.

1 Giovanni Cosattini, fundador e alma do “Secretariado da Migração”, secundariamente deputado socialista e primeiro

presidente da câmara de Udine no secundo pós-guerra, foi o autor da fundamental descrição contida em A migração

temporário do Friuli, Roma 1903, reimprimido com prefação de F. Micelli, Trieste, 1983. Guido Picotti dá a conhecer os

resultados das investigações efetuadas por ele em vários artigos publicados no jornal de Udine “La Patria del Friuli”. Os

estúdios sucessivos do fenômeno terão como referência ditos artigos, entre os quais B.M. Pagani, A migração friulana a

partir da metade do século XIV até o 1940, Udine, 1968, que descreve em síntese os dados em termos de quantidade

relativos à migração friulana divididos em sub-períodos, áreas territoriais e fontes de inquérito. Um quadro similar relativo à

quantidade é dado por dois tomos de G. Di Caporiacco, Historia e estatística da migração do Friuli e da Carnia, Udine,

1969. Graças a esses ensaios se compreende com evidencia as fortes diferenças no que diz respeito aos dados relativos à

quantidade das diferentes fontes usadas pelos autores, pois é praticamente impossível chegar a uma avaliação numérica do

fenômeno migratório que não seja de tendência.

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Os mistérios e os lugares de saída:

Da Carnia migram principalmente pedreiros, carpinteiros, canteiros, operadores de

serração dirigindo-se sobretudo em Áustria e Alemanha. Alguns chegam em România,

Turquia e Egito também. Durante os primeiros dez anos do século XX, 11% da

migração da Carnia é composta por mulheres, metade das quais provem da Val Resia e

acompanha os maridos, artesãos ou vendedores ambulantes; nos outros casos se trata de

criadas ou de empregadas de cozinha de grupos organizados de operários, entre os quais

estão os maridos delas, ou de trabalhadoras em setores específicos quais o empilhamento

de pranchas nas serrações ou o transporte de materiais aos estaleiros. Os garotos eram

menos numerosos, por volta de 3%, de costume se tratava de pedreiros e trabalhadores

agrícolas, submetidos a trabalhos de transporte cansativos. O fenômeno da migração

resulta freqüente também das áreas de montanha e bem como da planície de sopé, mas

com uma determinada especialização, a de assentadores de mosaicos e os chamados

“terrazzieri”, que teve origem na zona de Sequals mas que se derrama a todos os

arredores: dita atividade especial terá a própria ocasião de se exprimir em toda a Europa

e também fora do continente. São inúmeros os especialistas em obras ferroviárias e

rodoviárias e os canteiros, os mineiros das zonas de Aviano e Montereale e da Val

Cellina: arranjam trabalho mesmo nas minas da America do Norte. Os migrantes da

planície da Destra Tagliamento migram também para as Américas fazendo trabalhos não

qualificados no ramo da agricultura ou das obras ou nas minas, mas sobretudo para lá

ficar nas diferentes colônias construídas do nada em terrenos em concessão pelo

governo. A partir do começo do século as pessoas que migram para a America do Sul

são apenas os que têm um profissionalismo específico dirigindo-se para os grandes

cidades. Agora é a America do Norte que atrai mais com as oportunidades de trabalho

nas grandes obras publicas, rodoviárias e ferroviárias bem como nas indústrias: aí se

dirigem sobretudo das zonas de San Daniele, Codroipo, Latisana, San Pietro al Natisone.

Da planície geralmente têm origem os telheiros, provenientes quer de Pordenone, quer

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dos arredores da cidade de Udine, representando cerca de 80% da migração daquelas

zonas e entre eles inúmeras mulheres e jovens, submetidos eles também a trabalhos

muito cansativos e horários extenuantes: contratados por pequenos empresários da zona

de Buia, Maiano, Fagagna arrendando por sua vez a produção nos fornos da Europa

central, mantendo baixas as próprias ofertas e, por conseqüência, pagando os operários

muito pouco. O caso típico é o da migração não profissional pela qual não se requeriam,

feita exceção para os chefes operários, competências especiais, diversamente dos

pedreiros e os mestres-de-obra que, sobretudo se organizados em grupos homogêneos,

expertos e especializados eram capazes de se fazer cargo de trabalhos tecnicamente

difíceis e então adequadamente salariados.

A legislação de proteção do emigrante:

A agitação da grande migração, as ilusões, os enganos, as péssimas condições de vida,

suscitaram além da intervenção direta de associações de suporte e de proteção dos

migrantes, também um dibatimento social e político que levou, durante a época de

Giolitti, à emanação de uma série de medidas legislativas para a regulamentação e a

proteção social e econômica da migração. A primeira regra remonta ao 1901 e tem por

objetivo a eliminação da migração clandestina: se constitui um órgão governativo

especial, o “Comissariado da Migração”, ajudado por um Conselho da Migração, tendo

como referentes e articulações locais os Comitês das municipalidades e das

circunscrições que têm o cargo de fornecer informações sobre os passaportes, os custos

das viagens, as possibilidades de trabalho, as cautelas a ser tomadas para evitar fraudes.

Alem disso, suprime as figuras dos agentes de migração que eram responsáveis de

inúmeras fraudes e enganos, substituindo-os com os representantes dos “vetores”, ou

seja das companhias de navegação, responsáveis das condições econômicas e matérias

das viagens. Estas terão de ser verificadas por inspetores nos principais portos de

embarque. Todavia, a lei não consegue proteger o migrante no momento em que ele se

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encontro no estrangeiro. Somente em 1904 e apenas com a França se estipula um acordo

neste sentido. Em outros países de migração, como os em idioma alemão, a colaboração

entre associações e organizações sindicais favorecem a emprego e a tutela de garantias

mínimas econômicas e sociais. Em 1910 algumas disposições atualizam a lei

previamente em vigor, disciplinando os institutos de assistência aos migrantes e em

1911 proibindo a emissão de passaporte aos menores de 12 anos não acompanhados. No

mesmo ano nasce um “Gabinete da migração para os confins terrenos”, com o objetivo

de assistir a migração continental e reprimir a clandestina. A partir do ano 1913 é

obrigatória a autorização do Comissariado para a transferência de operários italiano no

estrangeiro, sendo possível exclusivamente em presença de um contrato de trabalho e o

seguro contra os acidentes. Esta legislação e os órgãos de controle e de proteção por ela

previstos não afetaram se não minimamente a migração autônoma e clandestina de

grupos singulares permanecendo esta prevalente do ponto de vista da quantidade.

Efeitos da migração :

No sentido positivo alivia a sobrepovoamento relativa em agricultura, tornando a

levantar em geral os reditos da população em forma global. Também o afastamento

definitivo diminui a concorrência no mercado do trabalho agrícola, melhorando a

capacidade contratual de quem fica em relação aos proprietários das terras. As remessas

dos emigrantes, avaliáveis entre 20 e 30 milhões de liras de então por ano no começo do

século, permitem consolidar as pequenas propriedades familiares, casas, terras, gado. O

crescimento da procura de terra todavia levava a um acréscimo nos preços do valor

fundiário da mesma que ia afetar os custos dos arrendamentos para os novos

agricultores. O emigrante mais pobre, como o telheiro, era obrigado a pagar os débitos

agrícolas com o próprio trabalho, sem conseguir se desvincular do circulo vicioso. Nos

casos em que os reditos da migração são maiores, estes não são todavia usados para

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começar uma própria atividade profissional em pátria, porém para melhorar a própria

colocação na migração, como intermediário ou pequeno empresário autônomo. Isto

significa que o futuro do emigrante se atua sempre no âmbito da migração, enquanto os

bens em casa, entregue às mulheres, jovens e idosos, têm uma função de reserva. As

ausências prolongadas durante longos períodos dos homens em idade jovem e matura,

provocou, a médio prazo, mudanças de costumes e estilos de vida não sempre positivos

(por exemplo a difusão do alcoolismo, o abandono das famílias) e um declínio

demográfico com efeitos importantes a seguir, afetando de forma permanente a estrutura

demográfica da população (senilização, feminilização).

Ao rebentar da primeira guerra mundial em agosto de 1914, que interessa os principais

lugares da migração sazonal friulana, corta de repente os percursos de trabalho

consolidados em decênios impondo o regresso, se não sempre forçado, todavia

inevitável. Em 1915 as expatriações são pouco mais de 2.000, dos quais pouco menos de

oitocentos para os Impérios Centrais, quinhentos para a Suíça, duzentos para a Argentina

e cerca de trezentos para a America do Norte. Dentro de poucos meses os reditos da

migração são par ao zero, os emigrantes se tornam desempregados, somente em parte

empregados em trabalhos de interesse militar, muitas fortunas, mesmo importantes,

constituídas nos territórios dos Impérios Centrais por empresários friulanos, são

perdidas, requisitadas como propriedades inimigas sucessivamente à entrada na guerra

da Itália: apenas algumas e somente em parte poderão ser recuperadas depois da guerra,

sucessivamente a intermináveis contenciosos jurídicos, quando as condições políticas e

econômicas dos países derrotados não permitirão o desenvolvimento de uma função

comparável àquela do período anterior à guerra.

1915 – 1939

Ao rebentar da primeira guerra mundial em agosto de 1914, que interessa os principais

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lugares da migração sazonal friulana, corta de repente os percursos de trabalho

consolidados em decênios impondo o regresso, se não sempre forçado, todavia

inevitável. Em 1915 as expatriações são pouco mais de 2.000, dos quais pouco menos de

oitocentos para os Impérios Centrais, quinhentos para a Suíça, duzentos para a Argentina

e cerca de trezentos para a America do Norte. Dentro de poucos meses os reditos da

migração são par ao zero, os emigrantes se tornam desempregados, somente em parte

empregados em trabalhos de interesse militar, muitas fortunas, mesmo importantes,

constituídas nos territórios dos Impérios Centrais por empresários friulanos, são

perdidas, requisitadas como propriedades inimigas sucessivamente à entrada na guerra

da Itália: apenas algumas e somente em parte poderão ser recuperadas depois da guerra,

sucessivamente a intermináveis contenciosos jurídicos, quando as condições políticas e

econômicas dos países derrotados não permitirão o desenvolvimento de uma função

comparável àquela do período anterior à guerra. O final da guerra, as destruições

causadas quer por ser estada a região interessada pelo campo de batalha, e retaguardas

no começo e território ocupado e depredado pelos austro-alemães sucessivamente a

Caporetto, apresentou aos regressados uma situação de desolação e miséria. Por isso,

sucessivamente a algumas tentativas de ativar obras de reconstrução por cooperativas de

operários, o caminho da emigração se apresentou novamente como única possibilidade

para uma pressão demográfica sem fim, não obstante as inúmeras perdas em vidas

causadas pela guerra. As populações dos territórios ex austríacos tiveram o mesmo

destino sendo anexas ao Reino de Itália que já tinham efetuados anteriormente percursos

migratórios similares aos do Friuli italiano.

Mudam porem os fluxos, não a tipologia de trabalho: pedreiros, “terrazzieri”,

assentadores de mosaicos, vão agora para a França, a Bélgica, o Luxemburgo, a Suíça:

em 1920 são mais de mil neste País, 16.000 em França. Dos países da planície

recomeçam as viagens para a America do Sul (já são cerca de mil pessoas em 1919 e

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1920, mil desses nestes anos somente da localidade de Cordenons), os Estados Unidos

(quase 3.000 em 1920), o Canadá (mais de 1.500 naquele ano). Muda também a

fisionomia da emigração: nunca mais grupos organizados de empresários e contratantes

locais, mas uma busca individual de trabalho, o fracionamento dos grupos de

trabalhadores homogêneos que caracterizavam a atividade deles nos países europeus. A

especialização territorial de trabalho também se ia dissolvendo: operários no setor das

obras civis saem de todo o território provincial, nas minas do Norte America as pessoas

chegam de diferentes lugares; agricultores da parte baixa do Friuli e da área à direita do

Rio Tagliamento trabalhavam nas fazendas brasilianas e australianas. A emigração mas

relevante ainda provinha das áreas de montanha e de sopé.

Saídas de emigrantes friulanos de 1919 até 1933

Anos Países europeus Países

transoceânicos

Total

1919 3.052 1.479 4.531

1920 20.986 5.601 26.587

1921 11.293 4.356 15.649

1922 28.751 3.517 32.268

1923 28.212 7.655 35.867

1924 31.156 5.655 36.811

1925 23.373 3.983 27.356

1926 16.779 5.538 22.317

1927 9.149 7.741 16.890

1928 11.695 3.011 14.706

1929 14.130 2.313 16.443

1930 27.787 3.092 30.879

1931 14.661 1.824 16.485

1932 7.144 792 7.936

1933 6.132 709 6.841

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Saídas de emigrantes friulanos nos anos de 1926 até 1932

Emigração continental Emigração transoceânica

Ano Homens Mulheres Homens Mulheres

1926 1927

1928 1929

1930 1931

1932 1933

12.425

7.093

8.860

11.790

24.687

10.157

4.514

3.654

4.354

2.056

2.835

2.340

3.100

4.504

2.635

2.478

4.294

6.571

1.939

1.142

2.042

1.113 408

354

1.244

1.170

1.072

1.171

1.050 711

384 355

EMIGRANTES PARA OS PAÍSES EUROPEUS E PARA OS DA REGIÃO MEDITERRÂNICA DE

1926 ATÉ 1933

P a í s 1926 1927 1928 1929 1930 1931 1932 1933

Albânia 32 26 97 50 38

Argélia-Tunísia 5 8 28 232 160 374 154 101

Áustria 185 211 198 172 192

Bélgica 778 601 1.282 2.743 1.369 1.021 357 371

Bulgária 4 7 27 51 231 72 65

Chequia 89 58 87 35 38

Egito 24 38 12 18 46

França 13.758 5.539 6.642 7.572 21.433 7.987 3.197 3.101

Alemanha 133 202 265 186 186 169 37 40

Jugoslávia 183 85 59 58 70

Luxemburgo 173 884 627 221 155

Países Baixos 177 294 231 263 314

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România 73 112 103 52 48

Suiça 884 996 856 1.270 1.514 1.283 580 285

Turquia 19 5 93 32 12

Húngria 22 41 33 29 32 550 272 26

Outros países 246 45 1.075 1.170 1.746 3.046 2.475 2.143

Total 16.779 9.149 11.695 14.130 27.409 14.661 7.144 6.132

EMIGRANTES PARA OS PAÍSES ALÉM-MAR DE 1926 ATÉ 1933

País 1926 1927 1928 1929 1932 1933

3.671

274

115

605

777

96

5.004

415

179

1.246

767

130

1.598

160

56

281

86

830

1.196

95 35

284

576

127

1930

2.042

134

22

361

402

131

1931

1.125

34 12

33

620

426

57

10 -

181

118

322

93 1

-142

151

Argentina

Austrália

Brasil

Canadá

E.U.A.

Outros países

Total

5.538 7.741 3.011 2.313 3.092 1.824 792 709

Boletim mensal do Comissariado para a emigração, anos de 1926 até 1933. Anuário estatístico da

emigração italiana de 1876 até 1925 – Pelo Comissariado geral para a emigração, Roma, edição do

Com. Ger. Para a Emigr., 1926, tabelas n° 1 de pág. 1381; n° 3 de pág. 1403; n° 4 de pág. 1453

A emigração não italiana da Venezia Giulia

O final da Grande Guerra, mas sobretudo o desaparecimento do Império dos Hasburgos,

perturbou de forma radical os esquemas de referência institucional e cultural bem como

as mesmas identidades nacionais das populações que são envolvidas nas mudanças de

confins e nas paisagens por uma colocação nacional para outra. Na Venezia Giulia a

primeira comunidade a ser afetada de modo profundo pelos eventos foi a de idioma

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alemão que abandona quase súbito a zona: eram cerca de 40000 pessoas, inclusive

pessoas de outras nacionalidades que não tinham a intenção de ficar sob a soberania

italiana. Nos anos a seguir foram, pelo contrário os novos cidadãos italianos de

nacionalidade eslovena e croata da Venezia Giulia e da Istria que migraram para o

estrangeiro para razões econômicas, como em outras partes de Itália, mas também com

muita freqüência e sobretudo para razões políticas e nacionais. Especialmente após o

advento do fascismo as comunidades dos chamados “alógenos” foi objeto de

discriminações e de um evidente projeto de “desnacionalização”, que se concretizou

com a progressiva redução dos espaços de representação nacional e de expressão

cultural e lingüística (associações, escolas, uso do idioma). Entre as populações

eslovenas e croatas era fácil encontrar desconfiança difundida e hostilidade em relação

ao estado italiano, considerado usurpador de um direito nacional que podia ser

representado de forma melhor pelo próximo reino da Jugoslávia. Esta oposição terá

maior intensidade em relação ao fascismo, antes e depois a tomada do poder. O mesmo

fascismo da Venezia Giulia apresentava uma forte carga de intransigência nacionalista e

de tolerância em relação a outras presenças nacionais (por isso será definido “fascismo

de fronteira”), que se vai concretizando também no uso apontado da violência em

relação às associações não apenas políticas eslovenas e croatas. Em um contexto similar

a migração dessas populações é incentivada e não contrariada com o objetivo também de

as substituir com cidadãos italianos provenientes de outras partes do Reino. Do outro

lado do território o próximo Reino de Jugoslávia parece oferecer a possibilidade de

preservar intatos idioma e nacionalidade, além de oportunidades de trabalho que a Itália

quer retirar, especialmente em relação aos empregados públicos. Os docentes e os

ferroviários em maneira particular eram discriminados, despedidos ou transferidos para

o interior do Reino: mais de 350 docentes vão para a Jugoslávia, antes do 1923, 180

foram despedidos, outros 400 transferidos. Além disso, eslovenos e croatos entraram a

fazer parte dos fluxos migratórios que se dirigiam para o Império dos Hasburgos bem

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como para as Américas. A quantificação se tornará ainda mais difícil pela justaposição

de dados e informações para os primeiros anos do pós-guerra e pela mudança de

metodologias e critérios de detecção a seguir. As estimativas vão da redução do

fenômeno a 20.000 ou 50.000 unidades totais, à amplificação até 150.000 durante vinte

anos 2.

2 As diferentes avaliações e quantificações foram analizadas por P. Purini, L’emigrazione non italiana dalla Venezia Giulia

dopo la prima guerra mondiale, em “Qualestoria”, ns, XXVIII, n.1, 2000, pp.33-54.

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Estimativas e cálculos mais realísticos indicam um número de emigrantes definitivos

não italianos da Venezia Giulia e da Istria não inferior a 50.000, mas apenas durante o

período, facilmente documentável, entre 1930 e 1938 3, pelo qual a entidade real do

fenômeno pode alcançar as 100.000 unidades4. O maior número de expatriações vai para

a Jugoslávia, especialmente durante os primeiros anos, e pouco inferior, mas prevalente

durante a secunda metade dos anos vinte, para a Argentina e, bem além desse dato, os

Estados Unidos. As companhias de navegação triestinas propagandeavam de modo

capilar nos países eslovenos e croatos as ofertas de viagens com preço rebaixado para a

America do Sul. O aspeto particular da emigração proveniente da Venezia Giulia nos

primeiros anos após-guerra é, contrariamente às tendências nacionais, a prevalência da

emigração para países europeus em relação àquela de além-mar, pelo menos até o 1923.

Além disso, após o 1927, ano da legislação restritiva no âmbito da migração que ainda

mais, “para proteger a potência demográfica da nação” proibia a emigração definitiva,

na Venezia Giulia as permissões de emigração eram concedidos com grande facilidade a

quem nascia nos territórios anexos antes de 1919 e aos que não eram de nacionalidade

italiana. Na área giuliana, istriana e dálmata, as expatriações aumentaram em 1927 de

14% e ainda mais nos anos sucessivos. Com a liberalização das expatriações após a crise

econômica de 1929, estas cresceram ainda mais, com prevalência em direção a França,

Suíça, Bélgica, mais que para as Américas. De 1926 até 1930, inúmeros eram os

camponeses (mil por ano), istrianos na maioria dos casos que, não conseguindo pagar os

débitos contraídos para a compra de casas e terras, depois que a reavaliação da divisa

Lira provocou um importante aumento dos juros, foram forçados a deixá-las indo-se

embora. Como no caso da emigração italiana e talvez ainda mais, a emigração devida a

causas políticas e, especificadamente, nacionais se une e se confunde com aquela

exclusivamente econômica. 3 Ivi, p.52, com as indicações dos critérios de avaliação e das motivações pela quais o autor a julga uma estima inferior

àquela verdadeira.

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4 100000 é a cifra que a historiografia eslovena acha como certa em relação ao assunto: veja Ivi, p.36.

A política fascista da emigração

O fascismo ao poder em um primeiro momento não intervim no fenômeno migratório,

a não for no que diz respeito à reorganização do Comissariado da Emigração,

estruturado em Delegações provinciais, que tinham que prover ao controlo da colocação

dos trabalhadores reprimindo a emigração clandestina: mesmo a Província de Udine

fornecendo 40% da emigração italiana para o estrangeiro, não era incluída entre as sedes

das Delegações. Em 1925 foi transferido de Treviso o serviço regional para a emigração,

órgão periférico do Ministério dos Negócios Estrangeiros, com tarefas de assistência e

coordenação no setor. Nesta fase se une e se confunde à emigração tradicional a

emigração política, de anti-fascistas e vítimas do regime: um passado de militância no

movimento sindical e operário tinha por conseqüência, além de ser objeto de violências

e de ações judiciárias, também a impossibilidade de arranjar emprego. Por isso, em

muitos casos as duas formas de emigração de fato, coincidem: França e America do Sul

são os destinos preferidos nesses casos. Em 1924 apareceram os primeiros sinais de

dificuldade para a emigração: os Estados Unidos limitaram de maneira drástica os

acessos aos emigrantes italianos e três anos depois o regime fascista ativou uma política

de restrição da emigração, com disposições regulamentares e administrativas. Na

secunda metade do ano 1927 foi fortemente dificultada a emigração permanente que ia

diminuir a “potência demográfica da Nação” e tolerada aquela temporária, fonte de

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rendimentos, enquanto se tencionava potenciar a ação de propaganda do fascismo entre

as comunidades italianas no estrangeiro. Era proibida a emigração “livre”, ou seja de os

que saiam para o estrangeiro sem pontos de referência, sendo concedidas as permissões

de emigração apenas as pessoas que tinham um contrato de trabalho reconhecido, mas

para um período de tempo não superior a três anos. Se concedia também o

reagrupamento familiar, mesmo se com fortes limitações. O efeito foi o de aumentar a

emigração clandestina e transformar em muitos casos a temporária em permanente:

agora não se voltava sazonalmente como de costume com o medo de não poder expatriar

novamente e as pessoas ficavam no país estrangeiro tentando o possível o

reagrupamento da família. Isto aconteceu especialmente em França em 1932, quando o

Governo italiano negou o direito de visto de expatriação para trabalhar naquele país,

com conseguintes retorsão francesa em relação à concessão da residência. Crescia

também entre os emigrantes a propaganda organizada em favor do fascismo e a presença

de informadores da polícia política, criando tensões com os governos dos países

anfitriões. Em 1930 a grande crise econômica forçou a conceder mais permissões para

emigrar, mas os efeitos a nível internacional da crise, com a conseguinte redução

drástica das oportunidades de trabalho em todos os países industrializados, o início da

política estrangeira belicosa avançada pela Itália,

Fecharam progressivamente as saídas migratórias até a segunda guerra mundial. Pelo

contrário aumentou a mobilidade no interior do estado italiano que afetou mais de

40.000 pessoas nos últimos vinte anos, diminuindo a cerca 25.000 na metade dos anos

trinta, com um aspecto novo, indicador da seriedade da situação econômica e material

dos lugares de origem: uma quota muito alta (55% em 1931) era constituída por

mulheres, a maioria delas moças que iam às cidades para trabalhar como empregadas de

casa. Trezentos famílias, provenientes da baixa planície e do lado direito do Rio

Tagliamento se transferiram nos anos trinta nas quintas construídos de recente junto às

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Paludi Pontine a serem bonificadas, que estas eram chamadas a ultimar com o próprio

trabalho.

No começo dos anos trinta teve início uma política de expansão demográfica italiana,

iniciada com a “colonização” da Líbia, onde em 1931-1932 chegaram cerca de 200

famílias friulanas, adjudicatárias de pequenas quintas a serem valorizadas em Cirenaica.

Essas famílias eram originarias em prevalência das zonas de Pordenone, San Vito al

Tagliamento, Latisana, Codroipo, Palmanova. Tinham de ser selecionadas e escolhidas

de acordo com as próprias capacidade de trabalho, eficiência, consistência, rejeitando

quem tinha idosos ou crianças pequenas, e por fidelidade ao regime. De fato, na maioria

dos casos eram escolhidas famílias com dificuldades em encontrar uma colocação e que

corriam o risco de onerar sobre a assistência publica. Mais de 13000 foram os

trabalhadores friulanos que arranjaram emprego com trabalhos ligados à conquista

militar da Etiópia, permanecendo muito deles no lugar durantes os anos a seguir para

serem envolvidos pelos eventos bélicos acontecidos em 1940, aproximados por esta

situação aos “colonos” líbicos. Em 1938 teve início uma nova forma de emigração

organizada: depois dos acordos entre a Itália e o III Reich, os sindicatos fascistas em

conexão com os alemães organizaram a transferência em primeiro de trabalhadores

agrícolas, a seguir daqueles do setor industrial, para a Alemanha, com condições

econômicas inimagináveis na Itália de então. As condições de vida e de trabalho se

tornarão depois muito fatigantes, com uma disciplina rígida no lugar de trabalho e fora.

Também os salários das famílias no final eram sujeitas a restrições. O desemprego e o

subemprego, ocultados mas relevantes que afetaram cerca de 50.000 pessoas, forçaram

muitos friulanos a pedir o ingresso nos contingentes dos trabalhadores: em 1938 saíram

de Udine 1.800 trabalhadores agrícolas, entre os quais inúmeras mulheres e 2.060

trabalhador do setor das obras civis, que subiram a 7.000 e 2.500 em 1940

conseqüentemente aos esforços que provinham de todo o sistema econômico alemão que

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necessitava de mão-de-obra capaz de oferecer salários altos em Itália.

O armistício italiano de 1943 maravilhou muitos deles que, mesmo mantendo

formalmente a condição de trabalhadores voluntários, viram piorar profundamente as

condições de trabalho e de vida, sempre mais similares àquelas dos internados militares5.

A situação da guerra na qual se encontrou a Europa a partir de setembro de 1939, forçou

a maioria dos emigrantes a voltar, quer porque chamados a combater, quer porque

muitas vezes se encontravam em estados (por exemplo a França) em guerra com o Eixo,

mesmo se a Itália ainda era “não beligerante”. A entrada em guerra da Itália levou ao

internamento dos emigrantes italianos presentes nos países para os quais tinha declarado

guerra, ou, em algumas situações especiais em que a emigração teve conotações

políticas também, à participação de emigrantes italianos, ao esforço bélico contra o Eixo

(um exemplo é dado pela participação de italianos e friulanos à resistência em França).

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5 Matteo Ermacora, Campi e cantieri in Germania. Migranti friulani nel Reich hitleriano (1938-1943), em Emigranti a

passo romano. Operai dell’Alto Veneto e Friuli nella Germania hitleriana, a c. di M. Fincardi, Verona, 2002, pp.155-198.

1940 -1968

A situação da guerra na qual se encontrou a Europa a partir de setembro de 1939, forçou

a maioria dos emigrantes a voltar, quer porque chamados a combater, quer porque

muitas vezes se encontravam em estados (por exemplo a França) em guerra com o Eixo,

mesmo se a Itália ainda era “não beligerante”. A entrada em guerra da Itália levou ao

internamento dos emigrantes italianos presentes nos países para os quais tinha declarado

guerra, ou, em algumas situações especiais em que a emigração teve conotações

políticas também, à participação de emigrantes italianos, ao esforço bélico contra o Eixo

(um exemplo é dado pela participação de italianos e friulanos à resistência em França).

No final da segunda guerra mundial no Friuli e na Venezia Giulia era fácil encontrar os

sinais da ocupação alemã que tinha por objetivo a perspectiva de expansão do território

nacional, promovendo sempre mais a política racional nazista e destruindo qualquer

oposição com métodos de guerra ferozes. As duas regiões foram teatro da guerra

partidária combatida quer pela resistência italiana, quer por aquela da Jugoslávia. A

pertença nacional da Venezia Giulia, da zona de Gorizia, de uma parte do Friuli eram

objeto de um contencioso que envolvia os combatentes anti-nazistas, as nações e os

estados para os quais se referiam as mesmas potências aliadas. O andamento dos últimos

meses de guerra prefigurava a sorte das terras contendidas. Uma grande parte dos

territórios adquiridos pela Itália após a primeira guerra mundial, habitados por eslovenos

e croatos, iam ser anexados ao novo estado da Juguslávia que reclamava também as

cidades principais, Trieste e Gorizia bem como a zona oriental do Friuli, enquanto o

Reino de Itália, fraco e sob a tutela, apelava para a antiga pertença à nação italiana

dessas terras bem como aos sacrifícios enfrentados para se resgatar do passado fascista.

A ação diplomática e a presença militar definiram já então a situação de após-guerra:

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Fiume, a região Istria, a parte oriental da província de Gorizia passaram à Juguslávia. O

Governo Militar Aliado mantinha o controle sobre o território até a ratificação do tratado

de paz em setembro de 1947, de forma indireta na província de Udine, direta naquela de

Gorizia e na zona A do território de Trieste. A zona B desse território era sob a

administração militar da Jugoslávia. Para Trieste a situação se prolongou ainda mais

pois, nunca tendo realmente atuado o previsto Território Livre sob a égide da ONU até

1954 quando as duas zonas, A e B, passaram sob a direita soberania dos dois estados.

Naquele período maturou o drama do êxodo da Istria, Fiume e Dalmácia pela

grandíssima parte da população italiana (entre as 250.000 e 300.000 pessoas) que foram

reunidas como prófugas em Trieste e em varias localidades italianas. Muitas dessas

pessoas, logo ou nos anos a seguir, escolheram de emigrar.

A emigração do Friuli

Ao final do conflito tornaram à luz problemas que a guerra haviam escondido: a

depressão da agricultura, a escassez de recursos materiais e financeiros, a fraqueza do

sistema produtivo, super abundância da mão-de-obra, à qual de somava os danos da

guerra, sobretudo na infra-estrutura, nos edifícios, nas vias de comunicação. 50.000 são

os desempregados, enquanto o custo da vida tende a ser insustentável também para

quem possui um trabalho. A emigração torna a ser uma via quase obrigatória. Na metade

de 1946 partem os primeiros grupos de operários para os fornos austríacos, depois para

as mineradoras da Bélgica e para outros países europeus. No final do ano são já 1.300 os

emigrantes oficiais, 10.000 em 1947 e em 1948, mas muitos outros são aqueles que se

movem clandestinamente. As estradas percorridas são aquelas já conhecidas, para a

França, mas também para a Bélgica e Luxemburgo; a Suíça a partir de 1951 se torna

pela primeira vez lugar de atração, em substituição à França e a Bélgica, para a grande

demanda de mão-de-obra desencadeada pelo seu crescimento industrial. Em 1947 se

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inicia um notável fluxo para a Argentina, e em menor medida, para o Brasil, que requer

agricultores, e a Venezuela, que atrai trabalhadores da construção civil. A partir de 1949

muitos jovens chegaram ao Canadá e nos anos seguintes à Austrália. Ao final dos anos

cinqüenta é a Alemanha Ocidental, em pleno desenvolvimento econômico, que se torna

um ponto de atração.

A emigração do segundo pós-guerra é caracterizada por uma maior presença dos

governos nas políticas migratórias, através de contatos e acordos que permitem de

endereçar e controlar os fluxos migratórios. Para a Itália representa uma passagem

fundamental para governar o excesso de mão-de-obra, garantir a valorização cambial,

instaurar relações diplomáticas mais estreitas com os países

de emigração.Os acordos intergovernamentais serviam para superar os obstáculos e as

limitações que cada país interpõe à liberdade de movimento e de procura de trabalho

pelos estrangeiros, também a tutela dos próprios compatriotas, sobre solicitações

freqüentemente das organizações sindicais locais que temem uma recaída negativa sobre

a ocupação e a renda dos trabalhadores locais. A emigração assistida, sob

responsabilidade do Ministério do Trabalho, assiste grande número dos trabalhadores,

assumidos com contratos coletivos, e garante uma série de facilitações para a obtenção

da documentação, para as despesas de viagem, para o primeiro acolhimento nas “Casas

do Emigrante”. A contrapartida é dada pelo nível elevado de condições físicas e

capacidades profissionais requeridas para acessar a este tipo de emigração, para o qual o

expatrio “livre”, sem contatos preliminares, seguindo a tradicional “cadeia migratória”,

na qual a presença de parentes e amigos ou as notícias que desses provêem endereçam

os percursos migratórios.

O crescimento econômico europeu do pós-guerra, juntamente a maior possibilidade de

conhecimento do mercado de trabalho que entidades públicas e associações privadas

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oferecem, como conseqüência dos acordos internacionais e das ralações mantidas com

os compatriotas no exterior, dedica muito mais atenção à escolha do lugar de emigração.

A industrialização em avanço favorece a evolução das características profissionais dos

emigrantes, que sempre mais numerosos passam da tradicional ocupação na construção,

àquela na indústria manufatureira. Os anos cinqüenta e sessenta marcam um progressivo

aumento do fenômeno migratório do Friuli, com a constância de envolver

majoritariamente as áreas de montanha e de sopé, mas também neste caso é difícil

definir a entidade dos diversos métodos de detecção e quantificação do fenômeno

migratório: algumas avaliações atendíveis chegam a 44.000 emigrantes friulanos em

1951, com números que oscilam entre 53.000 e 80.000 nos anos Sessenta 6. Mas muito

mais que a entidade do fenômeno na sua totalidade é relevante a sua distribuição, que vê

interessadas de maneira relevante as áreas mais marginais da região. Em um debate no

Conselho Regional de Friuli Venezia Giulia em outubro de 1965 foi sublinhado como na

zona do Pré-alpes Cárnicos 24% da população ativa (8.000 pessoas) havia emigrado,

com um trend crescente com respeito aos anos precedentes (13.5% em 1957, 17% em

1961), com picos que em algumas localidades superava a metade da força de trabalho

masculina ativa, se aproximando em certos casos aos 90%. Analogamente nos Pré-alpes

Giulianos a emigração atingia também outra metade dos ativos. Com respeito a Carnia,

naquela sede foram estimados em mais de 22.000 os emigrantes em 1961, subindo a

26.000 em 1965; no mesmo período de avaliação a Comunidade Cárnica mostrava que a

média dos emigrantes temporários entre a primeira década do pós-guerra e os anos

sessenta aumentava de 9.000 unidades (10% dos residentes) para 12.000 (13,5% dos

residentes). Nos anos sessenta cresce contemporaneamente também a emigração

permanente (13% da população residente entre 1945 e 1960), levando a um progressivo

despovoamento além das áreas de montanha, que perdem entre 1951 e 1971 24% dos

residentes, equivalentes a 34% da população ativa. As discordâncias sobre a

quantificação refletem também as dificuldades na distinção entre os deslocamentos

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temporários, periódicos ou definitivos que seriam, entre externos à Itália e internos. De

qualquer forma, até os anos sessenta incluso, a mobilidade externa tende a superar

aquela interna. Muitos emigrantes tendem a manter a residência no lugar de origem por

muito tempo e os cancelamentos no cartório não têm conta dos emigrantes sazonais e

temporários. A emigração ao exterior continua a exercitar uma influência negativa nos

lugares de emigração, sobretudo no caso dos emigrantes solteiros que não levam

consigo a família, enquanto se alimenta uma inflação de recuperação monetária que vem

empregada em setores não produtivos (consumo das famílias, saldo de débitos, compras

ou melhorias de imóveis). Se em 1942 se chegava a cifra de 2,5 bilhões de liras, em

1958 eram 7,17 e em 1963 quase 10, recolhidas principalmente do setor bancário.

6. Os primeiros valores são indicados por O.Lorenzon e P. Mattioni, L’emigrazione in

Friuli Câmara do Comércio de Udine, 1962. Segundo G. Bazo, popolazione e forza

lavoro , Câmara do Comércio de Udine, 1961, naquela data os emigrantes eram 80.000,

segundo G.B. Metus, Una politica di sviluppo regionale, Udine, 1966, eram naquela

data 70.000 em toda a região, o mesmo valor indicado sucessivamente por G. Bazo, N.

Parmeggiani, G. Maggi Esame dei problemi economici della provincia di Udine,

Câmara do Comércio de Udine, 1967,

A emigração feminina

Um fenômeno relativamente novo é a participação feminina autônoma na experiência

migratória. É a Suíça que atraí-las primeiro, já a partir de 1947, chegando ao início dos

anos cinqüenta representando 30% da mão-de-obra imigrada. No início os trabalhos

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realizados eram aqueles tradicionais, de garçonete em casas de família e hotéis, para

passar então ao emprego em fábricas têxteis, confeitarias e enfim de mecânica de

precisão e outros setores. A indústria leve atraiu jovens mulheres também na Bélgica e

na Alemanha.

A emigração giuliana

Um fenômeno novo no contexto da região, mas também naquele de Trieste e da Venezia

Giulia, é a emigração destas áreas no segundo pós-guerra. Os primeiros sinais são as

partidas de 3167 refugiados da Istria que, tendo rejeitado em 1948 seja retornar,

tornando-se cidadãos iugoslavos, seja optar pela cidadania italiana, se encontraram na

condição de apátridos e através da International Refugee Organization, emigraram até

1951 para a Austrália. Em 1947 de fato o governo australiano decidiu abrir as portas aos

imigrantes europeus, em particular aos refugiados políticos, a fim de popular os vastos

espaços desabitados do continente, em alternativa a uma temida imigração asiática. A

política migratória australiana até aquele momento foi muito restritiva, em particular

com relação aos italianos. Também neste caso se alterou endereçamento com o acordo

ítalo-australiano em março de 1951, renovado com modificas até 1964, que possuía

facilitações ao ingresso de mão-de-obra especializada e não, segundo previsões de

necessidade, e prévia seleção e correspondência a requisitos de idade, estado civil, etc. O

trabalhador devia respeitar vários compromissos e os governos deviam garantir o bom

funcionamento do sistema. Contemporaneamente, em 1952, nascia o Comitato

Intergovernativo per le Migrazioni Europee (Comitê Intergovernamental para a

Migração Européia), que recolhia numerosos adeptos em nível global. O seu objetivo

era aquele de favorecer a transferência dos emigrantes de países europeus

sobrepovoados para países além do oceano que ofereciam a possibilidade de uma

imigração ordenada, fornecendo também serviços como o recrutamento, a seleção, a

recepção e a acomodação da mão-de-obra, cursos de formação lingüística e profissional.

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A estrutura fundamental era o centro de emigração, com locais adequados para hospedar

os emigrantes em espera de expatrio (na Itália haviam seis) e os locais de parada, com

possibilidade de acomodação nos lugares de trânsito. Trieste era um desses lugares de

parada para a emigração na Austrália, apoiado organizativamente no Ofício Local de

trabalho. Foi através das estruturas do CIME que se iniciou, também de Trieste, a

7 R. Meneghetti, Le rimesse degli emigranti1945-1964.Politica economica e politica del diritto, in “Storia

contemporanea in Friuli”, XVI, n.17, 1986, pp.31-60

emigração para a Austrália, a partir de 1955, quando o acordo intergovernamental foi

realmente ativado como operativo pelo governo australiano. Entre 1954 e 1964 se

transferiram para a Austrália, segundo estes procedimentos, 23.000 triestinos e

giulianos, 10.000 entre 1957 (também neste caso a quantificação exata é muito difícil).

Entre estes um quarto poderiam ser refugiados. A escolha da emigração, com uma

destinação longínqua mas alcançável através das estruturas presentes na cidade, é devida

ao estado da crise econômica e desocupação generalizada, em conseqüência da saída de

cena do governo militar dos aliados e o sustento que esse dava à economia local, com

funções sociais e de ordem pública. A construção naval estava em crise, e assim o porto,

cortando as conexões com o centro da Europa. Faltava um extrato de médias empresas e

as pequenas eram subdimensionadas. Lotavam então no mercado de trabalho os milhares

de ex-dependentes do Governo Militar, os refugiados da Istria que fluíam em grande

número e os trabalhadores pendulares das zonas limítrofes. Desempregados e

subempregados se aproximam a vinte mil unidades. Havia um peso também o aspecto

psicológico, a sensação de ser em um lugar e em uma situação já marginal, sem

prospectivas. Foram embarcados escondidos, para evitar represarias, também por parte

dos agentes da Polícia Civil, dependentes do GMA, acusados de terem disparado contra

a multidão em novembro de 1953. Quase metade dos emigrantes na Austrália eram

operários especializados, que haviam sofrido um empobrecimento de patrimônio de

profissionalismo específico, não utilizável por completo nos lugares de chegada, de

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desqualificação no mercado de trabalho, no qual se encontra agora uma mão-de-obra de

origem agrícola proveniente dos territórios cedidos à Iugoslávia. Nos anos sucessivos

voltarão a Trieste menos de 4.000 dos que partiram para a Austrália no período entre

1954 e 1961.*

8 Ver sobre o argumento: F. Fait, L’emigrazione italiana in Australia (1954-1961), ERMI, Udine, 1999

Acordos internacionais fechados pela Itália entre 1946 e 1951 em matéria de emigração.

DATA PAÌS ACORDO

23.06.46 Bélgica Protocolo para a transferência de 50.000

mineiros

21.03.47 França Acordo para a imigração na França

19.04.47 Suécia Acordo relativo à emigração de operários

06.04.48 Luxemburgo Acordo para a emigração de 1.000 operários

agrícolas.

22.06.48 Suíça Acordo relativo à imigração

04.12.48 Países Baixos Acordos para o alistamento de operários para as

mineradoras holandesas.

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18.05.49 Fraça Acordo relativo à imigração de trabalhardores

em Sarre

05.07.50 Brasil Acordo de migração No. 19

21.03.51 França Acordo de emigração

29.03.51 Austrália Acordo de emigração assistida

Fonte: INPS, Accordi internazionali per le assicurazioni sociali e l'emigrazione stipulati fra Italia e

altri paesi, Roma, 1954.

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PARTIDAS INDIVIDUAIS DE EMIGRANTES FRIULANOS DE 195 1 A 1957

País de emigração 1950 1951 1952 1953 1954 1955 1956 1957

7

103

103

37

12

12

241

158

31

3

193

15

381

77

2.000

98

5.626

1.696

362

3

130

1.082

6

9

3.190

3

171

561

10

569

10

76

210

3.023

36

1

38

869

4

1

2.096

1

1

43

7

12

263

25

14

307

1.423

10

1

44

1.372

44

6

12

2.554

20

80

1

13

9

21

2

1.211

1.142

28

7

69

1.616

2 228

4.575

2

20

584

8 1.195

5

113 272

1.468

258

22

1.669 7

6

5

1 5.383

1

8

218 102

34

13

2 3.710

761

3

41

2.236

43

40

27

2 8.277

1

6

44

387 258

541

24

35

1.054

65

7.331

1.328

19

149

3.365

20

141 120

44

9.735

77

206 48

África Equat. Fr.

Argentina

Austrália

Áustria

Bélgica

Brasil

Camarões

Canadá

África Oriental

França

Alemanha Oc.

Kênia

Inglaterra

Luxemburgo

Nova Caledônia

Holanda

Rodésia

África do Sul

Suíça

E.U.A

Venezuela

Outros Países

Total 915 9.119 7.720 6.185 8.947 11.005 15.518 24.995

Retirado de O.Lorenzon e P. Mattioni, L’emigrazione in Friuli, Udine, 1962.

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EMIGRANTES QUE RETORNARAM ENTRE

TRABALHADORES E FAMILIARES

Trabalhadores Familiares

Ano

MF M MF M

1955

1956

1957

11.005

15.518

24.995

10.750

13.219

20.439

1.060

835

3.042

384

238

1.070

TRABALHADORES SOLTEIROS E FAMILIARES

EMIGRADOS NOS PAÍSES EUROPEUS E

EXTRAEUROPEUS

Trabalhadores

Familiares Ano

País de

emigração MF M MF M

Europeus 10.136 9.884 484 168 1955

Extraeuropeus 869 866 576 216

Europeus 15.161 12.868 445 145 1956

Extraeuropeus 351 351 389 93

Europeus 22.863 18.645 1.420 502 1957

Extraeuropeus 2.132 1.797 1.622 568

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Em direção ao fim da imigração

Através de investigações aprofundadas sobre o território foi possível especular uma

periodização dos fluxos migratórios das últimas três décadas, salientando as diferenças

territoriais. Entre 1962 e 1964 foi um breve período de queda do fenômeno, com um

saldo migratório positivo, ligado ao início de um crescimento industrial na região, em

particular no pólo pordenonense, que exigiu mão-de-obra pouco qualificada e baixos

salários. De 1965 a 1969 houve uma recuperação migratória consistente, com respeito

não somente ao exterior mas também ao interno. São as áreas marginais e ainda

subdesenvolvidas que alimentam este fluxo, dos quais se move uma mão-de-obra pouco

qualificada que vem da agricultura, da construção civil ou dos trabalhos genéricos. O

tradicional setor da construção torna-se uma experiência passageira e de primeira

qualificação industrial para quem vem da agricultura. Uma crise de passagem

“tecnológica” da construção tradicional “pobre” induziu dinâmicas de transferência para

as áreas de desenvolvimento industrial na Europa. A estes deslocamentos se unem

também aqueles que, com uma qualificação profissional, não encontram na região

estabelecimentos adequados e se mudam, por exemplo, para a Suíça e para a Alemanha,

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onde encontram uma colocação adequada e salários mais altos. São metas substitutivas

também para quem nos anos anteriores havia tomado o caminho da emigração além do

oceano. Dos lugares de tradicional emigração, como a montanha, partiram pessoas

jovens ou muito jovens, homens prevalentemente, mas um sensível aumento de presença

feminina, que haviam já adquirido um ofício através do aprendizado e uma escolaridade

mirada. As permanências no exterior podem ser de longa duração, com constantes

breves retornos à pátria, mantendo residência e ligação familiar, ainda que se houvesse

contraído matrimônio no lugar de emigração: esta circunstância é porém freqüentemente

a premissa para uma estabilização no exterior ou em outros municípios italianos. Esta

tipologia migratória tende a diminuir de consistência nos anos setenta a favor da

permanência no exterior ou na Itália mais breve, entre os cinco e os oito meses, premissa

de um retorno com maior qualificação profissional.

1969 - 2005

Emigração e retornos

A partir de 1968 o saldo migratório tende ao positivo, com uma prevalência dos retornos

sobre a emigração: daquela data a mobilidade interna substituiu aquela externa: isto é

confirmado em 1971 do saldo positivo dos transferimentos de residência do exterior

sobre aqueles para o exterior10. Em 1973 a crise econômica internacional provoca uma

estagnação da mobilidade, enquanto os efeitos do desenvolvimento industrial local e

uma legislação específica regional mirada para favorecer os retornos chamam a mão-de-

obra que emigrava periodicamente e também quem se era estabelecido no exterior. O

mercado de trabalho regional é capaz de absorver a mão-de-obra antes excedente,

sobretudo se qualificada, enquanto resta uma grande quantidade daquela não qualificada,

que é alimentada pelo êxodo da agricultura Os efeitos de longo período da emigração se

fazem sentir sobre a estrutura demográfica, que é afetada pela precedente perda de

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jovens em prevalência homens, para a qual falta a classe de idade intermediária, mais

produtiva e o aumento da escolaridade adia o inserimento dos mais jovens no mundo do

trabalho. A oferta de trabalho torna-se a seu modo mais rígida, quantitativamente e

qualitativamente, sendo em geral mais qualificada. Os deslocamentos para o exterior são

substituídos por aqueles em direção à outras regiões da Itália o ao interior da área

regional, em particular das áreas marginais, não envolvidas pelo desenvolvimento

econômico, que pioram as suas condições também do ponto de vista demográfico. A

emigração para o exterior tende a tornar-se residual ou ligada a particulares profissões e

tipologias de trabalho (técnicos especializados, jovens com salários altos, em setores

altamente qualificados, como grandes obras de engenharia em várias partes do mundo).

Os retornos dizem respeito principalmente a famílias com cônjuges de 35-45 anos, no

exterior há 10-20 anos, com alta qualificação profissional, que construíram uma própria

casa e iniciam em certos casos uma atividade autônoma. Menos consistente é o retorno

de aposentados, sobretudo se os filhos continuam no exterior. O período no qual se

concentra o maior número de retornos são entre 1966-1970 e 1970-1974, sobretudo dos

países europeus, enquanto menos notórios são os retornos de além do oceano.

Os terremotos de 1976 e a sucessiva reconstrução, depois de uma primeira fase de

incerteza e uma contingente retomada da emigração, acentuando o processo já ativo,

oferecendo a possibilidade de trabalho e de empresas que não se limitam somente à fase

de reconstrução, levando de fato, ao final do fenômeno migratório também nas áreas

marginais, aliás as mais atingidas pelos eventos sísmicos, onde ainda em 1976 este havia

tocado níveis elevados. Ainda se parte para o exterior, mas ou para trabalho de alta

qualificação, ou acompanhando grandes empresas italianas, ou locais que assumem

concessões para a realização de grandes obras. 9 Ver Movimenti migratori in Friuli 1960-1975: un’indagine orientativa, Udine, CRES, 1977 10 Ver G. Valussi, Il movimento migratorio, in Enciclopedia Monografica del Friuli – Venezia Giulia, vol. 2.2 La vita

economica, Trieste, 1974, pp.897-899.

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Quantos são os cidadãos de Friuli Venezia Giulia no exterior hoje?

A última pesquisa (junho 2005) resulta em 134.862 inscritos ao AIRE (Anagrafe degli

Italiani Residenti all'Estero – Registro dos Italianos Residentes no Exterior) originários

de Friuli Venezia Giulia, presentes em 180 países do mundo: mais de 76.400 em países

europeus, 32.000 na América do Sul, 15.300 na América do Norte, 6.300 na Austrália,

3.700 na África, cerca de 1.000 na Ásia. Mais de quatrocentas são as sedes no mundo

das associações às quais estes fazem referência como lugar de agregação e socialização

(“Fogolârs Furlans” da Entidade Friuli no Mundo, Circoli dell’Associazione Giuliani

nel Mondo di Trieste, dell’ALEF, Associazione Lavoratori Emigrati del Friuli Venezia

Giulia di Udine, Secretariado do EFASCE, Ente Friulano Assistenza Sociale e Culturale

Emigranti di Pordenone, sede do ERAPLE, Ente Regionale ACLI per i Problemi dei

Lavoratori Emigrati di Udine, e da Unione Emigranti Sloveni del Friuli Venezia Giulia

di Cividale del Friuli).