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UNEB - UNIVERSIDADE DO ESTADO DA BAHIA DEPARTAMENTO DE EDUCAÇÃO-CAMPUS XIV COLEGIADO DE HISTÓRIA FELIPE COUTINHO DE LIMA SANTIAGO A HISTÓRIA DO CORONELISMO EM CONCEIÇÃO DO COITÉ: UMA ANÁLISE DAS PERMANÊNCIAS E RUPTURAS POLÍTICAS DO PODER LOCAL ENTRE 1930 E 1990. Conceição do Coité 2010

A história do coronelismo em conceição do coité entre 1930 e 1990

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Page 1: A história do coronelismo em conceição do coité entre 1930 e 1990

UNEB - UNIVERSIDADE DO ESTADO DA BAHIA DEPARTAMENTO DE EDUCAÇÃO-CAMPUS XIV

COLEGIADO DE HISTÓRIA

FELIPE COUTINHO DE LIMA SANTIAGO

A HISTÓRIA DO CORONELISMO EM CONCEIÇÃO DO COITÉ: UMA ANÁLISE DAS PERMANÊNCIAS E RUPTURAS POLÍTICAS DO PODER LOCAL ENTRE 1930 E 1990.

Conceição do Coité

2010

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FELIPE COUTINHO DE LIMA SANTIAGO

A HISTÓRIA DO CORONELISMO EM CONCEIÇÃO DO COITÉ: UMA ANÁLISE DAS PERMANÊNCIAS E RUPTURAS POLÍTICAS DO PODER LOCAL ENTRE 1930 E 1990.

Monografia apresentada ao Departamento de Educação – Campus XIV/UNEB, como requisito parcial para a obtenção do título de Licenciatura em História. Orientador: Prof. Ms. Eduardo Borges

Conceição do Coité

2010

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AGRADECIMENTOS Ao professor Eduardo Borges, que me acompanhou sabiamente na construção

deste trabalho como orientador e amigo.

Aos meus queridos pais, por estarem sempre ao meu lado me apoiando nas

minhas decisões e me ajudando a escolher o melhor caminho para viver.

À Priscila, que sempre está do meu lado como fiel companheira, e por fazer

minha vida ficar cada vez melhor.

Aos meus irmãos, que fazem parte da minha vida sabendo transformá-la em

uma verdadeira aventura.

Aos meus amigos, que descobri entre os colegas de faculdade, que nunca

mais sairão das minhas lembranças nem da minha vida: Alex Teixeira, Moises

de Oliveira, Juliana Carneiro, Thiago Gordiano, Jaqueline Rios, Michele Nunes,

João Vitor de Oliveira, Carla Pinho, Ismael de Jesus, Ana Priscila de Carvalho,

Ana Vilma dos Santos, Aurineia Almeida.

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RESUMO Esta monografia analisa a história do coronelismo em Conceição do Coité como uma permanência política entre 1930 e 1990, com o objetivo de compreender como este sistema conseguiu manter-se no poder local sendo a estrutura política predominante. O conceito de coronelismo é abordado através dos processos de adaptação política, observados por autores que analisam este sistema. A discussão teórica é baseada nas relações de poder que se estruturam entre os coronéis e seus dependentes. Na sociedade coiteense, o coronelismo está presente nas estratégias políticas de dois coronéis, Seu Mota e Hamilton Rios. Este trabalho mostra uma perspectiva histórica que identifica, nestas estratégias locais, as características políticas e econômicas que estruturam o coronelismo. Palavras-Chave: Coronelismo; Conceição do Coité; Seu Mota; Hamilton Rios;

ABSTRACT

This paper analyzes the history of the Colonels in Conceição do Coité as a permanent policy between 1930 and 1990, with the goal of understand how this system has managed to remain in local power and the prevailing political structures. The concept of the Colonels is addressed through the processes of adaptation policy, observed by authors who analyze this system. The theoretical discussion is based on power relations that are structured among the colonels and their dependents. In society coiteense, the Colonels is present in the political strategies of two colonels, Mr. Mota and Hamilton Rivers. This work shows a historical perspective that identifies, these local strategies, the characteristics of political and economic structure the Colonels.

Keywords: Colonels; Conceição do Coité; Mr. Mota, Hamilton Rios;

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SUMÁRIO

INTRODUÇÃO.....................................................................................................6

1. DISCUSSÃO TEÓRICA SOBRE O CONCEITO DE CORONELISMO...........8

2. COITÉ DE SEU MOTA – 1930 A 1972...................................................................18

3. COITÉ DE HAMILTON RIOS – 1972 A 1990..............................................26 CONCLUSÃO....................................................................................................36 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS.................................................................38 FONTES............................................................................................................41

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INTRODUÇÃO

Esta monografia que tem como título, A história do coronelismo em

Conceição do Coité: Uma análise das permanências e rupturas políticas do

poder local entre 1930 1990. Este pesquisa busca identificar em Conceição do

Coité características políticas que estruturam o fenômeno coronelístico e que

analisa o papel político dos líderes locais na sua relação com os eleitores e

governos durante os sessenta anos da pesquisa.

Esta análise tem como foco a discussão do coronelismo através da sua

permanência política para que se possa compreender como este sistema

conseguiu se manter no poder local por tanto tempo. Nesta monografia, a

discussão será feita com base nas relações de poder que se estruturam a partir

dos elementos e padrões políticos presentes na sociedade coiteense. A

discussão abordada mostra uma perspectiva que tenta identificar nas

especificidades políticas locais os aspectos políticos e econômicos que

estruturam o coronelismo.

O fenômeno político a ser analisado é o coronelismo que surgiu com o

título de coronel, que era um título da Guarda Nacional surgido em 1831 que

era dado a fazendeiros do interior por serem líderes locais que com o título de

coronel passaram a ter um amplo poder, inclusive o poder militar local

oficializado. Contudo, o coronelismo ultrapassou os limites deste título oficial, e

ganhou força na República Velha tornando-se um sistema político que imperou

em vários municípios de todo o Brasil, sobretudo no Nordeste. Esta estrutura

política apesar de ter sofrido algumas transformações que acompanharam as

mudanças econômicas, ainda mantêm características que não se perderam

com o tempo.

Estas características estão baseadas na relação de clientelismo entre o

“coronel” e seus dependentes, onde o político se apropria do poder local

público como se fosse particular através do apoio do governo estadual e

federal, instaura a política de apadrinhamento de familiares e no período das

eleições, compra votos para garantir o seu curral eleitoral. Todos estes

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aspectos estruturam o coronelismo como fenômeno político-social que

consegue se adaptar aos diversos contextos históricos.

Identificar estas características do coronelismo que permaneceram no

cenário político de Conceição do Coité adaptadas a uma nova realidade em

que estavam inseridas é essencial para compreendermos este fenômeno. Com

isto, poderemos entender como os coronéis conseguiram manter a sua

influência política sobre a população coiteense por tanto tempo.

Para atingir este objetivo foi necessário no primeiro capítulo a

elaboração de uma discussão teórica sobre o conceito de coronelismo para

entendermos as características e as transformações políticas deste conceito

que se flexibilizou diante de novos contextos socioeconômicos. Desta forma

poderemos identificar os mecanismos coronelísticos que permaneceram nas

relações de poder entre os coronéis e os seus dependentes é fundamental que

sejam analisadas as trajetórias pessoais e políticas de dois líderes locais de

Conceição do Coité, “Seu Mota” e Hamilton Rios.

No segundo capítulo é discutida a trajetória política de “Seu Mota” e as

suas estratégias coronelísticas para se manter no poder local como principal

liderança política. No terceiro capítulo é analisada a trajetória política de

Hamilton Rios comparando as suas estratégias políticas com as utilizadas por

Seu Mota. Com isso, poderemos compreender quais das principais

características do coronelismo permaneceram presentes e quais sofreram

adaptações para que fosse possível manter este sistema estruturado e

presente na política local.

Analisar o coronelismo como uma permanência política é mostrar uma

visão mais ampla de sua importância na sociedade brasileira que é formada

por tantos municípios que ainda mantêm os políticos como donos do poder

local se utilizando da máquina pública para dar continuidade a esta estrutura

que ainda gera dependência política e econômica para as populações.

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1. Discussão teórica sobre o conceito de coronelismo

Para analisar o coronelismo é preciso que este conceito seja bem

trabalhado e definido a partir dos aspectos políticos que estruturam este

sistema de relações baseadas no clientelismo e no paternalismo.

O primeiro aspecto a discutir é considerar como “coronel” não apenas

os lideres municipais que receberam o titulo da Guarda Nacional, mas também

todo fazendeiro que adquiriu autoridade política através da utilização do poder

público para aumentar o seu poder econômico e consequentemente aumentar

também a sua influencia como liderança na política local.

Este poder se efetiva a partir de duas frentes determinantes. A primeira

frente de poder se estabelece através da relação entre o coronel e seus

dependentes, na qual cumprir os favores pessoais pedidos pelos dependentes

faz parte da estratégia política do coronel. A segunda frente de poder é a

relação entre o coronel e o governo estadual, esta relação se estabelece

também como uma troca de favores, enquanto o coronel depende da verba

estadual, o governo estadual depende dos votos do coronel.

Vitor Nunes Leal, demonstra em seu livro uma construção histórica

mais rígida atrelando totalmente o coronelismo a vida no campo. “A força

eleitoral presta-lhe prestígio político a partir da sua privilegiada situação

econômica e social de dono da terra.” (1997, p. 42)

O autor afirma que o poder local no interior do Brasil só era exercido

por chefes municipais que tivessem uma ligação direta com o campo. Esta

relação entre coronelismo e poder rural no interior é tão sólida para Leal que “a

vitalidade (do coronelismo) é inversamente proporcional ao desenvolvimento

das atividades urbanas.” (1997, p. 275) .

Diferente do que afirma Leal, Faoro não considera que o coronelismo

está totalmente vinculado ao território agrícola em que apenas os fazendeiros

teriam condições políticas para exercer a função de “coronel” da política local.

Faoro afirma que existiam categorias de coronelismo atreladas a cidade.

“Outros categorias, que não as territoriais, podem ocupar a posição de coronel,

como o coronel advogado, o coronel comerciante, o coronel médico, o coronel

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padre.” (2000, p. 710) Dentro desta discussão conceitual Janotti considera que

:

Não houve uma simples substituição de dirigentes, antes define-se uma nova composição de força, entremeada por novas situações econômicas (...) À medida que se desenvolviam as funções urbanas no município, sua importância econômica e, consequentemente, eleitoral passava, então a ser exercido por pessoas que não detinham, necessariamente, a posse da terra. (1981, p. 69)

A partir da discussão desses autores fica evidente que a presença do

coronelismo na cidade existia e que não dependia tanto da fazenda. Mas a

presença do coronelismo na cidade só vai aumentar com o tempo. Já nas

décadas de 20 e 30 do século XX começa-se a perceber este deslocamento do

poder local para a cidade sem deixar de ter influência nas fazendas.

Ainda que existam divergências neste aspecto territorial do coronelismo,

nota-se que há entre os autores uma convergência de idéias sobre o papel

fundamental da relação existente entre o poder público e privado como aspecto

essencial para a estruturação do coronelismo. Cada autor faz uma

interpretação diferenciada desta relação , eles sabem da sua importância

política para os coronéis. Leal afirma que:

O coronelismo é antes uma forma peculiar de manifestação do poder privado, ou seja, uma adaptação em virtude do qual os resíduos do nosso antigo e exorbitante poder privado tem conseguido coexistir com um regime político de extensa base representativa.” (1997, p. 40)

Este autor deixa bem claro que para o coronelismo existir é necessário

que se faça o uso do poder privado como mecanismo político para alimentar as

relações de confiança que fazem parte da sua estrutura de influência.

Autores como Pang considera que “a principal função do coronelismo

era a hábil utilização do poder privado acumulado pelo patriarca de um clã ou

uma família mais extensa” (1979, p. 21). Esta habilidade aplicada também na

sua política de favores que baseia toda a estrutura coronelista que se constrói

a partir deste poder privado.

O aumento do poder dos “coronéis” gera também um aumento da

dependência econômica e política que faz parte da relação pessoal existente

entre os “coronéis” e seus dependentes. Segundo Faoro, o “coronel” exerce

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este poder político com base no seu poder econômico que está atrelado ao

próprio governo. Para ele a relação entre poder público e privado é muito mais

complexa por não considerar que a função pública é apenas um prolongamento

do poder privado (2000, p. 700)

Para que o “coronel” possa manter a sua política de favores, ele precisa

ser rico ou no mínimo ter uma renda capaz de satisfazer as necessidades de

muitos dependentes que quando precisam de algum favor vão procurá-lo.

Queiroz defende que “a fortuna é um dos meios principais de se fazer

benefícios (...) O prestigio dos coronéis “lhes advém da capacidade de fazer

favores” (1976, p. 191). Esta riqueza se mostra fundamental para que os

“coronéis” possam aplicar a sua política de favores como principal mecanismo

para a manutenção da dependência econômica e política dos seus agregados.

Contudo, a estrutura coronelística não se resume apenas a relação de

dependência econômica e política. Existe também o aspecto social que sofre

forte influencia do coronelismo. Esta influência é percebida através da relação

de autoridade local do “coronel” que tem poderes ilimitados dentro da sua

fazenda ou do seu município.

O reconhecimento tácito que a comunidade tem da autoridade do Coronel. Abandonada pelos poderes públicos no que se refere à saúde, à justiça, e à instrução, pois o município não tinha condições de atende-la, via o Coronel como protetor natural. (JANOTTI, 1981, p. 57)

Ser a autoridade máxima nesses locais é lidar com todo tipo de situação

na qual ele seja o juiz, o delegado, o prefeito, o fazendeiro, e o padrinho. Um

desses papéis sociais é exercido no momento em que ele é utilizado como

referencial de justiça, moral e ordem.

A não ser em época de eleições, o Coronel, na maior parte da s vezes não necessita despender capital para atender aos solicitantes. Soluciona dissídios forçando o “acordo” entre as partes, o seu prestígio é o aval da “sentença”. A garantia é dada, segundo o dito popular, “pelo fio de sua barba”, isto é, a palavra do Coronel substitui o contrato escrito. (JANOTTI, 1981, p. 59)

Além do papel de autoridade que o “coronel” exerce sobre sua clientela,

o seu papel social de padrinho é fundamental para que mantenha o controle

sobre os seus afilhados. Como padrinho, ele constrói uma solidariedade entre o

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dominante e o dominado que aproxima socialmente os dois principais atores do

coronelismo. “As relações de compadrio tão difundidas no coronelismo

“suavizam as distâncias sociais e economias entre o chefe e o chefiado.””

(JANOTTI, 1981, p. 57)

Estas relações de compadrio influenciaram na estruturação das

“parentelas” em torno da autoridade política do coronel. As “parentelas”

asseguram a proximidade política entre as camadas sociais antagônicas que

se expressam no coronelismo. Ainda que esta aproximação tenha uma barreira

econômica que impede uma maior aproximação entre os membros das

diferentes camadas sociais existentes em uma só parentela.

Entendemos por “parentela” brasileira um núcleo bastante extenso de indivíduos unidos por parentesco de sangue, formado por várias famílias nucleares, regra geral, economicamente independentes, vivendo cada qual em sua morada; as famílias podem-se dispersar a grandes distâncias, o afastamento geográfico não quebrando a vitalidade dos laços ou das obrigações reunindo os indivíduos uns aos outros no interior do grupo. A característica principal do grupo é sua estrutura interna, bastante complexa, e variando de uma configuração mais igualitária, até uma estratificação em vários níveis. (QUEIROZ, 1976, p. 182)

A parentela mostra-se uma estrutura complexa que aceita variações no

fenômeno coronelístico através da relação existente entre as camadas sociais

que compõem esta estrutura. O coronel sempre representa a efetiva

estratificação social dentro da parentela, mesmo que esta tenha “uma

configuração mais igualitária”, o coronel e seus familiares têm uma forte

distinção econômica e política dentro do grupo ao qual pertencem.

Este conceito de parentela de Queiroz define o grupo social liderado

pelo coronel que se modifica de acordo com as estratificações políticas e

econômicas através das relações entre as camadas sociais e por isso se

aproxima muito do conceito de oligarquia familiocrática de Pang. A oligarquia

familiocrática basea-se numa interpretação que o autor faz sobre o conceito de

parentela de Queiroz. Contudo, o autor mostra que existiu diversos grupos

sociais, chamados pelo autor de oligarquias, que estavam atrelados ao

coronelismo tendo características sócio-políticas distintas entre si por surgirem

em locais diferenciados. O grupo mais presente na sociedade brasileira foi a

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oligarquia familiocrática, porém também surgiu a oligarquia tribal, colegiada e

personalista.

Pang afirma que:

A maioria dos coronéis brasileiros situa-se nesta categoria (oligarquia familiocrática).Caracteristicamente organizada pelo chefe de uma única família, ou clã, a esfera de influencia existia dentro de uma município. A participação numa oligarquia (nesse caso um clã) incluía a família em si, pessoas da mesma linhagem, parentes por afinidade, afilhados de batismo ou de casamento e, às vezes, o povo dependente do ponto de vista sócio-econômico. (...) Possui diversas características únicas: o sucessor do chefe não precisa ser um herdeiro direto do líder do clã; os membros podiam ser dispersos geograficamente; tanto a solidariedade vertical, quanto a solidariedade horizontal eram permitidas na competição externa. (PANG, 1979, p. 40)

Além desta estrutura social o coronelismo também era formado por uma

estrutura político-partidária que valorizava as suas ações políticas nos

municípios. Esta relação é mantida entre os coronéis e os Partidos

Republicanos de cada estado. O P. R. é o velho Partido Republicano anterior a

1930, que fora o órgão do coronelismo rural; é o partido conservador rural.” (

QUEIROZ, 1979, p. 26). Este partido juntamente com os coronéis garantiram

os seus poderes políticos com a institucionalização da política dos

governadores na Primeira República. Foi com esta estratégia de governo que o

então presidente do Brasil, Campos Sales, governou o Brasil tendo uma

relação de compromissos e barganhas com os coronéis e governadores dos

estados que garantiram a sua vitória para Presidente. “O coronelismo, como

forma de domínio oligárquico, foi reforçado pela evolução política da Primeira

República” (PANG, 1979, p. 55)

E para que o coronelismo se mantivesse como estrutura predominante

na Primeira República o principal instrumento dos coronéis eram as eleições.

Neste período, os favores aumentavam para que o “voto de cabresto” fosse

destinado ao candidato que o coronel apoiava. “É, portanto, perfeitamente

compreensível que o eleitor da roça obedeça à orientação de quem tudo lhe

paga, e com insistência, para praticar um ato que lhe é completamente

indiferente.” (LEAL, 1997, p. 56-7)

As fraudes eleitorais também estão vinculadas a nítida autoridade que

os coronéis tinham sobre a sua clientela e também sobre toda a cidade. Porque

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todo o processo eleitoral era controlado por ele, do registro dos eleitores até a

apuração dos votos.

Durante a elaboração da lista definitiva, seus responsáveis se encarregavam de excluir determinados eleitores, omitindo seus nomes da relação, por estarem em posição política oposta à do Coronel. No dia das eleições, a Mesa Receptora dos Votos interferia em todos os sentidos sobre o eleitorado. (...) O momento da apuração se constituía no mais privilegiado para favorecer determinados candidatos; sob o mínimo pretexto anulavam-se cédulas ou acrescentavam-se cédulas, sem a mínima fiscalização da oposição, impedida de entrar no recinto. (JANOTTI, 1981, p. 51)

As eleições eram muito importantes para este contexto de favorecimento

político mútuo porque os chefes locais dependiam dos Estados para a

liberação de verba para os municípios. E assim, continuaram com sua política

clientelista nas regiões. “A chance do controle político estará na compreensão

eleitoral, como sempre, não necessariamente sanguinária, mas com o sacrifício

da autonomia municipal.” (FAORO, 2000, p. 702)

Os coronéis compreendiam muito bem o processo eleitoral fraudulento

ao qual faziam parte e queriam mantê-lo intacto para que não perdessem

nenhum privilégio que tinham como garantia da sua continua autoridade local e

para isso tinham o apoio dos governadores e presidente.

Despejando seus votos nos candidatos governistas nas eleições estaduais e federais, os dirigentes políticos do interior fazem-se credores de especial recompensa, que consiste em ficarem com as mãos livres para consolidarem sua dominação no município. (LEAL, 1997, p. 279)

Janotti considera que é nesse momento que se efetiva a política de

compromissos entre coronéis, Estado e União. A eleição garante a todos a

continuidade e manutenção da política coronelística. “O papel que

desempenhava o Coronel no processo eleitoral garantia a sobrevivência de um

sistema político que alijava as classe populares.” (JANOTTI, 1981, p. 50) E

aumentava a barganha entre coronéis e governantes que tinham que alimentar

as vontades políticas muito particulares dos coronéis exigindo-lhes fidelidade

incondicional. Pang afirma que: “o resultado das eleições, na Primeira

República, era um produto da colaboração dos que controlavam os municípios

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(os coronéis), e os que controlavam o legislativo (presidente e governadores).”

(1979, p. 36)

Esta relação de dependência que os coronéis têm com o Estado pode

ser analisada de várias formas. Leal (1997, p. 70) analisa esta dependência se

limitada ao momento da eleição, onde se o coronel apoiar o candidato que

vencer as eleições estaduais e federais, aquele terá total liberdade política par

agir no seu município. No entanto, Raymundo Faoro afirma que esta relação

vai ser de obediência do coronel com o governador que é garantida através da

autoridade da milícia estadual e também através da dependência econômica

do município em relação ao Estado. Para Janotti, esta relação é estabelecida

através de uma política de compromissos em que os dois lados têm direitos e

deveres a cumprir e exigir.

Todos os aspectos que foram abordados fazem parte da caracterização

do coronelismo “clássico” que durou até a década de 1930. Depois deste

período muitas transformações políticas ocorreram no Brasil. Getulio Vargas

tomou o poder e começou a estruturar sua política autoritária que se

concretizou totalmente com a implantação inconstitucional do Estado Novo.

Faoro observa que com Getúlio Vargas no poder a autoridade dos

coronéis enfraqueceu bastante porque “o coronel cede lugar aos agentes semi-

oficiais, os pelegos, com o chefe do governo colocado no papel de protetor e

pai, sempre autoritariamente, pai que distribui favores simbólicos e castigos

reais.” (2000, p.793) A visão deste autor não considera que houve muitos

acordos políticos entre coronéis e Getúlio Vargas. Para que a estratégia política

centralizadora de Vargas funcionasse, ele precisava de apoio em todo o Brasil.

Nos municípios do interior do Nordeste e de outros lugares do Brasil, o apoio

vinha dos coronéis, ainda que estes perdessem alguns dos seus privilégios

políticos. Um deles era aceitar a nomeação dos prefeitos feita diretamente pelo

presidente.

O poder privado dos “coronéis” - que a instituição dos prefeitos de nomeação, doutrinariamente, visava destruir – não desapareceu: acomodou-se para sobreviver. A morte aparente dos “coronéis” no Estado Novo não se deve, pois aos prefeitos nomeados, mas a abolição do regime representativo em nossa terra. Convocai o povo para as urnas, como sucedeu em 1945, e o “coronelismo” ressurgirá das próprias cinzas. (LEAL,1997, p. 160)

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Getúlio Vargas não “matou” politicamente os coronéis. Eles continuaram

influentes em seus redutos, apesar de estarem em com menos poder. Segundo

Janotti, “após a Revolução de 30 modificações são registradas nas relações

coronelísticas, mas não a ponto de determinar sua extinção. Não há duvida que

Getúlio Vargas se valeu dos coronéis do sertão (...) para tomar o poder e nele

se manter”. (1981, p. 80)

Com a volta da democracia como modelo político vigente, voltaram os

coronéis a ter força com seus métodos de dominação e influencia política.

Métodos que já foram abordados, mas que ganharam novas característica e

sua dimensão político-social aumentou muito. “O coronelismo não declinou,

mas evoluiu para uma nova forma de domínio oligárquico.” (PANG, 1979, p. 62)

As mudanças sócio-econômicas ocorridas no Brasil durante este período

criou um novo coronel que está adaptado a vida multipartidária da democracia

e a sua maior dependência ao governo estadual e federal. Ainda que esteja

ligado a uma economia tradicional. “O coronelismo demonstra, portanto, ter

uma estrutura bastante plástica, adaptando-se a sucessivos momentos

históricos (JANOTTI, 1981, p. 80)

Vilaça (1988) defende a idéia de que é o coronel que tem melhores

condições econômicas para trazer a modernidade para o seu reduto. Esta

iniciativa é uma tentativa de continuar controlando a economia local. Apesar de

parecer ser um líder “moderno”, a sua postura se mantêm muito conservadora

para manter a sua autoridade política.

O coronelismo para Pang (1979) teve que se adaptar ao crescimento da

industrialização e ao surgimento dos partidos políticos em 1945. Nesta

adaptação, ele perdeu sua “importância militar” de representante da ordem

publica que tinha poderes ilimitados no seu município. Mas ganhou novas

ferramentas para dominar politicamente os seus dependentes.

Com o surgimento das rádios e sua ampla difusão no período do Estado

Novo, elas ganharam uma importância política no interior muito grande por ter

sido por muito tempo o único meio de informação das cidades do interior do

Brasil. Por causa desta importância a maioria das rádios passaram a ser

controladas por grandes empresas que tinham os políticos como os

empresários.

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A utilização dos meios de comunicação para influenciar diretamente na

política oficial é chamada de “coronelismo eletrônico”. Segundo Suzi dos

Santos:

No Brasil das duas últimas décadas, podemos estabelecera atualização do conceito de coronelismo trabalhado em Victor Nunes Leal para o de coronelismo eletrônico através da adição das empresas de comunicação de massa, em especial as de radiodifusão, como um dos vértices do compromisso de troca de proveitos. Assim, a parceria entre as redes de comunicações nacionais e os chefes políticos locais torna possível uma concentração de audiência e influência política. (2006, p. 5)

Este tipo de coronelismo está totalmente inserido na realidade política

brasileira. Mas ele precisa ser definido como um novo mecanismo de

dominação que coexiste com as outras formas de dominação coronelista

clássica. O novo coronel, além de dominar os seus dependentes através de

favores cotidianos como dar remédio, comida, roupa e aumentar sua influencia

em época de eleição, também controla através da informação transmitida nas

rádios e canais de televisão que domina.

Apesar desta aparente plasticidade política que é percebida pela

tentativa dos coronéis de se adaptarem aos novos tempos, o coronelismo se

mostra cada vez mais enfraquecido. Mesmo que ainda existam coronéis que

conseguiram se adaptar bem as novas estruturas sociais e as novas

tecnologias. Eles, agora, têm que disputar o poder local com outras forças

políticas.

E quer arroteando segurança e permanência, ou, mais raramente, afetando prudência e evitando choques, se torna cada vez mais dependente, para ser forte, de forças que, se ele ainda influencia , nunca controla: depende dos governos, das polícias, dos votos; presa de uma imagem sua facilmente transfigurada pela imprensa, ou nos comícios, já permitidos, a contra gosto aos adversários. ( VILAÇA, 1988, p. 18)

O coronel já não é mais o mesmo. Este contexto político democrático

facilita a entrada ao poder de pessoas que quebram a hegemonia política do

coronel. O seu prestígio já não atinge tantos cidadãos, a sua clientela diminuiu

significativamente. O coronelismo vive um nítido processo de declínio. Segundo

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Queiroz, “o desaparecimento do coronelismo não se apresenta, pois, apenas

progressivo, como também irregular” (1979, p. 211)

Esse processo de declínio do coronel é visto segundo Bursztyn “como

uma “seleção natural” imposta pela modernização do capitalismo na região,

conseqüência do poder econômico e político local.” (1984, p. 32)

Os poucos coronéis que ainda conseguem sobreviver a este ambiente

hostil e que podem em pouco tempo ser extintos, vivem a própria mutação

política. “O coronel deixa de ser o sujeito da ação do estado para tornar-se

objeto” (1984, p. 31) Um objeto político que tenta revigorar o seu valor local

adaptando-se aos novos contextos sócio-econômicos para manter a sua

autoridade política o menos alterada quanto possível. Conceição do Coité é

uma cidade que passa por este processo e para que possamos compreender

como o coronelismo sobreviveu nesta cidade é necessário entendermos como

este sistema político funcionou antes de sofrer significativas transformações

políticas e sociais.

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2. COITÉ DE SEU MOTA DE 1926 a 1972

A estrutura coronelística que foi discutida no primeiro capitulo se

desenvolveu em Conceição do Coité a partir da figura de Wercelêncio Calixto

da Mota, Seu Mota. Ele se tornou um coronel de patente e de poder porque

exercia o seu papel político de Coronel. Desta forma, é necessário que

entendermos como se estruturou o coronelismo de Seu Mota. Discutindo as

suas estratégias políticas e econômicas que se assemelham com as

caracterizadas no primeiro capítulo e também abordando as estratégias

originais oriundas da política local. Para analisarmos o período em que

Conceição do Coité teve como líder e coronel, Wercelêncio Calixto da Mota,

Seu Mota, é fundamental que possamos conhecer e entender sobre a vida

pessoal deste político.

Seu Mota nasceu em 1894 no Arraial de Valente, que fazia parte da vila

de Coité, tendo uma vida humilde e já aos três anos de idade ficou órfão de pai

e muito novo se mudou para a Vila de Coité distanciando-se um pouco da zona

rural e tendo um contato aproximado com os comerciantes daquela vila. O que

facilitou ainda mais a aproximação de Seu Mota aos comerciantes foi o

casamento de uma de suas irmãs com um comerciante de Conceição do Coité,

Abílio Araújo. Seu Mota passou a ser empregado de Abílio Araújo e com o

tempo se tornou sócio do próprio Abílio.

Neste contexto social, o carisma de Seu Mota será um diferencial

percebido desde a sua infância. Aos dez anos de idade já chamava muita

atenção das pessoas em Coité por causa do seu carisma e por ser um menino

muito comunicativo. Com este seu jeito ele ganhou a confiança de João da

Pedreira, que era o Coronel João Manuel Amâncio, uma das principais

lideranças locais no período imperial e também no começo da República. Esta

liderança local passou a lhe tratar como o filho que ele não tinha.

Podemos perceber que Seu Mota construiu a sua liderança através

deste dois pilares sociais que vão ser a base para o seu surgimento como um

dos lideres locais. Seu Mota foi influenciado por este dois homens que tinham

Page 19: A história do coronelismo em conceição do coité entre 1930 e 1990

19

papéis sociais distintos, um era um comerciante, Abílio Araújo, e o outro, um

político, João Manuel Amâncio. Wercelêncio Calixto da Mota se desenvolveu

socialmente a partir destas duas características pessoais atrelado a sua própria

personalidade. Estes fatores vão favorecer no surgimento da figura populista e

carismática do seu personagem político que era “Seu Mota”.

Diante destas características políticas podemos analisar Seu Mota como

um coronel que não se encaixa com o perfil do coronel clássico de Leal (1975)

em que todo o seu domínio político está ligado a fazenda e que os seus

agregados são tem uma dependência econômica direta em relação ao coronel.

O perfil de Seu Mota se encaixa muito bem com o conceito de coronel

comerciante construído por Pang (1979) que considera como coronelismo a

relação de dependência econômica e social que existe entre coronel e

agregado sem considerar como fundamental que esta relação esteja inserida

na zona rural. Por isso que este autor, afirma que esta relação pode ocorrer

entre coronéis de diversos tipos sociais como coronel padre, coronel advogado

e coronel médico e também o coronel comerciante.

A sua imagem de político e comerciante já estava sendo construída aos

poucos. Segundo relato de Orlando Matos, Seu Mota foi candidato a vereador

já em 1921, e ganhou, porém não foi empossado por disputas políticas que

conseguiram invalidar a sua posse por causa da sua ligação familiar com o

intendente Abílio Araújo.

O início da sua carreira política no poder legislativo local é adiada,

contudo este obstáculo não gerou repercussões negativas em sua imagem .

Segundo relato de Orlando Matos, Seu Mota começa a se tornar um líder

político em Coité a partir de 1925, quando o Coronel João Manuel Amâncio,

João da Pedreira, morre e Seu Mota se torna, literalmente, o seu herdeiro

político. Vilaça e Alburquerque (1965, p.21) demonstram como pode acontecer

esta transição política.

O declínio político do coronel quase sempre provoca esfacelamento de poder, atritos e lutas políticas mais acirradas. Com o tempo, aquela forma de supremacia sócio-política se substitui por outra, mais sutil, menos ostensiva, na pessoa de um líder mais moço.

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20

O impacto dos acontecimentos na vida política de Seu Mota é sentido

rapidamente, já em 1926, ele se torna Intendente Municipal e neste mesmo ano

foi o único que recebeu a Coluna Prestes em Coité. Carlos Prestes e seu grupo

eram vistos em Coité como os revoltosos. Mesmo com esta imagem, Seu Mota

os recebeu em seu comércio e lhes vendeu pão e bolachas. Este episódio ficou

marcado na memória dos coiteenses daquela época, o que ajudou a solidificar

a imagem de Seu Mota como líder político local.

Como Intendente ele concretiza no poder executivo toda a sua influência

política que já era exercida através do seu carisma e da sua condição

econômica. Nesta época, a condição econômica era fundamental para que

alguém pudesse exercer uma função política. Isto acontecia, porque os cargos

executivos não eram decididos por eleição e sim por indicação.

Então, para ser indicado era necessário que se tivesse alguma relação

econômica ou familiar com os membros do governo estadual ou com

deputados que pudessem fazer esta intermediação. Segundo Pang (1975, p.

21), esta condição econômica era fundamental para sustentar o coronelismo

porque “ a principal função do coronelismo era a hábil utilização do poder

privado acumulado pelo patriarca de um clã ou uma família mais extensa.”

Diante desta estrutura política de indicação, Seu Mota estava muito bem

inserido, além de comerciante, ele era representante bancário de vários bancos

em Coité e também comprou a sua patente de Coronel da Guarda Nacional.

Porém, segundo relato de Orlando Matos, ele não usava a sua patente de

Coronel Mota preferia ser chamado de Seu Mota.

Todo este dinamismo econômico demonstrado por Seu Mota faz parte

da necessidade do próprio coronel trazer para a sua cidade o progresso.

Segundo Vilaça (1965, p. 19) “é o coronel , consciente ou inconscientemente,

um veículo de mudanças. Vê-se levado a promovê-las como que para não

perder a iniciativa social e para assegurar seu cetro paternalista de doador de

coisas, de patrocinador de causas.”

Para manter este seu poder econômico e político sempre fortalecido,

Seu Mota, tinha os seus parceiros políticos de oligarquia que a eles era dada a

oportunidade de administrar a cidade de Conceição do Coité por indicação

direta de Seu Mota, inclusive João Paulo Fragoso, segundo relato de Orlando

Matos, também foi indicado por ele e conseguiu se eleger para ser o primeiro

Page 21: A história do coronelismo em conceição do coité entre 1930 e 1990

21

prefeito eleito de Conceição do Coité. Esta era uma das estratégias políticas de

Seu Mota não controlar “totalmente” o poder em suas mãos, ele ao mesmo

tempo que indicava, estava dividindo um pouco o seu poder com os seus

parceiros, porém mesmo fora do poder executivo oficial ele era a principal

referência política da época.

Apenas João Paulo Fragoso em 1934 foi eleito para exercer o cargo de

prefeito porque em 1937 Getúlio Vargas instaura no Brasil o Estado Novo e

acaba com as eleições para prefeito criando o cargo de interventor federal.

Esta medida atinge Coité em 1938 quando Tiburtino Ferreira da Silva é

nomeado interventor federal para Coité.

Durante este período de intervenção federal no poder executivo

municipal, Vanilson (2002) considera que, a cidade de Conceição do Coité

ficou dividida politicamente pelas oligarquias locais de Seu Mota e de Eustógio

Pinto Resedá. Até 1948, os dois vão indicar os interventores federais em Coité,

cada um favorecendo a sua oligarquia. Mesmo com este cenário político local

dividido, Wercelêncio era uma grande autoridade política. Isto se confirma

quando as eleições voltam a ser realizadas em 1948 e Teocrito Calixto da

Cunha se elege apoiado pelo seu tio, Seu Mota, que tinha lhe indicado.

É a partir deste ano que se consolida a influência política de Seu Mota e

do seu partido, o Partido Social Democrata (PSD) em Conceição do Coité.

Depois do mandato de Teocrito, o próprio Wercelêncio se elege prefeito de

Coité em 1955, dando continuidade a sua política clientelista que o tornava

cada vez mias poderoso politicamente em Coité.

Ainda que ele não gostasse de utilizar o seu título de Coronel como

distinção social, as suas atitudes diante dos seus eleitores e a sua própria

postura como líder local mostram que ele tinha poderes, literalmente, de um

coronel. Desta forma, Seu Mota com sua estrutura econômica pessoal voltada

para o comércio e seus investimentos em associações culturais o tornam um

coronel “moderno” para a sua época.

Estas atividades que ele realizava para manter-se no poder fazem parte

da base do coronelismo, que segundo Costa Porto apud Queiroz (1976, p.

197), era “a capacidade de fazer favores”, o comerciante, pequeno ou grande,

aparecia realmente como alguém dotado de excelentes meios de “fazer

favores” aos outros.”

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22

Este perfil político de coronel presente em Seu Mota se aproxima em

vários aspectos do Coronel Veremundo Soares do livro Coronel Coronéis de

Vilaça e Albuquerque, considerando algumas diferenças sociais e até mesmo

econômicas, os dois estão participando ativamente do processo de mudança

econômica que o nordeste esta vivendo neste período.

Veremundo Soares, de Salgueiro, finalmente, é, no sertão, o coronel mais corrompido pelas novas formas sociais, o mais vizinho da modernidade. Lido, viajado, burguês em família e no trato, burguês até no status social. Fazendeiro, mas sobretudo comerciante e industrial.(...) Coronel dono de ruas, de farmácia, de maternidade, de pontos de comércio. Coronel de dar grandes festas, bastante sagaz para saber, em tempo, transmitir o seu legado político ou no pactuar com a audácia de novos valores que o desafiam. (1965, p. 45)

Sua influência política era tão forte na cidade que na eleição de 1958 ele

resolveu apoiar a candidatura de Emídio Ramos que era seu adversário político

e ele venceu as eleições. Esta fato mostra a capacidade que Seu mota tinha de

controlar os seus eleitores, não penas pelo voto, mas pelo apoio político

irrestrito. Porque as pessoas não estavam apoiando apenas o candidato a

prefeito, estavam apoiando Seu Mota. Queiroz (1976, p. 197) afirma que “a

exigência de um coronel, para que seus apaniguados votem em determinado

candidato – imposição muitas vezes sem apelo tem como contrapartida o dever

moral que o coronel assume de auxiliar e defender quem lhe deu o voto”.

Este poder político perde a sua principal representatividade que estava

construída na imagem de Wercelêncio Calixto da Mota. Porém, Seu Mota

morre em 1959, muito embora o sua influência política continua viva no seu

grupo político oligárquico. E como afirma Janotti (1984, 79), “a própria morte

de um Coronel não extingue o poder coronelístico. Seu prestígio político e

social é transferido para outro indivíduo que nem sempre é um membro de sua

família.”

Nas eleições de 1963, Antonio Ferreira é eleito como candidato do grupo

de Seu Mota. Contudo, alguns fatores significativos levaram a uma disputa

eleitoral, extremamente, acirrada: O primeiro fator foi que Emídio Ramos não

tinha feito uma boa administração por causa disso a imagem de grupo ficou

enfraquecida; O segundo foi que a própria ausência física e política do próprio

Wercelêncio enfraqueceu o “seu” candidato.

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Vanilson (2002, p. 77) afirma que, Antonio Ferreira ganhou a eleição de

Evódio Resedá por uma diferença de 22 votos, mas o próprio Evódio relata,

que a diferença foi de apenas 11 votos e que nesta eleição o juiz eleitoral foi

influenciado politicamente para que Antônio Ferreira ganhasse a eleição. Para

Vilaça e Albuquerque (1965, p. 39) o coronelismo “utiliza-se, enfim, das mais

tremendas formas de fraude, usando todos os meios que pode mobilizar em

favor de seus objetivos e de sua paixão política.”

Esta divisão política bipolarizada nestes dois partidos, o PR e o PSD,

atinge até mesmo a Igreja que representada pelo padre Antonio Tarashi,

vigário desta Freguesia , relata no livro de tombo, que “o povo está dividido em

dois partidos: o PR – a maioria que pertence a este partido constitui o povo

mau da cidade, inclusive os maçons pertencem a este partido, e o PSD, que

representa o povo bom da cidade.”

Estes dois partidos eram as representações políticas dos coronéis no

cenário eleitoral republicano. Porém, cada partido representava este grupo

social de formas diferentes. Queiroz (1976, 26-7) considera que:

o P. R. é o velho Partido Republicano anterior a 1930, que fora o órgão do coronelismo rural; é, pois, um partido conservador rural.(...) É o P. S.D. a expressão da nova camada de gente rica; não criou esse partido nenhuma forma nova de participação política, exprimiu-se através do tipo coronelista.

Esta divisão política feita pelo padre Antonio Tarashi está carregada de

juízo de valor e com isso podemos notar que ele defende o partido do PSD

considerando-o como o grupo formado por pessoas, segundo ele, “boas”. Esta

é uma análise política de um religioso carregada de sentidos morais que

simplifica um processo político complexo estruturado através da relação destes

partidos com o objetivo de conquistar o poder local.

Para Janotti (1984, p. 54), “a dominação oligárquica sempre foi violenta

podendo assumir tanto formas sutis de coerção, quanto procedimentos da

maior crueldade, variáveis de acordo com o lugar e a ocasião.” A disputa pelo

poder entre estes dois partidos é o reflexo desta rivalidade oligárquica entre os

políticos , Wercelêncio Calixto da Mota e de Eustógio Pinto Resedá. Eles eram

as principais lideranças políticas e quando não faziam mais parte do cenário

político local, estavam sendo representados por herdeiros familiares e políticos.

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Contudo, este contexto político sofre uma forte modificação com o golpe

militar de 64. Ainda que Antonio Ferreira tenha continuado como prefeito, os

partido políticos são extintos e surgem apenas duas legendas; a ARENA,

Aliança Renovadora Nacional que representava o governo ditatorial dos

militares e o MDB, o Movimento Democrático Brasileiro que representava uma

dita oposição que não tinha liberdade de expressão.

Dentro deste contexto nacional, Conceição do Coité tinha duas sub-

legendas do ARENA, is quer dizer que, os dois grupos que disputavam o poder

apoiavam a ditadura. O ARENA 1 representava o grupo do prefeito que era do

grupo de Seu Mota e o ARENA 2 representava o grupo liderado por Evódio

Resedá.

O golpe militar, além de transformar a vida partidária, motiva um acordo

entre os dois ARENAs que gerou a indicação de Teognes Antonio Calixto como

candidato único a prefeitura, e para que o acordo fosse selado, Teognes teria

que apoiar Evódio Resedá como candidato único a prefeito nas próximas

eleições para prefeito. Porém, este acordo não foi cumprido porque houve um

conflito de interesses entre os grupos e Evódio saiu candidato sem o apoio do

grupo de Seu Mota.

Evódio disputou a eleição de 1970 contra Doutor Pinheiro, que era um

médico muito conhecido na cidade por atender pessoas com problemas de

saúde e não cobrava aos pobres os atendimentos que fazia. Nesta eleição, Dr.

Pinheiro ganhou fazendo Evódio Resedá perder novamente uma eleição para

prefeito.

Dr. Pinheiro conseguiu esta vitória eleitoral não apenas por causa da sua

imagem política fortalecida pelo seu assistencialismo social vinculado a sua

atividade médica, também porque pertencia ao grupo de Seu Mota. Contudo,

esta vitória também vai trazer para a política local um novo adversário político,

Hamilton Rios, que começa uma forte campanha política para derrubar o grupo

de seu Mota para que ele mesmo possa se tornar o novo prefeito de Coité.

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3. Coité de Hamilton Rios – 1972 a 1990

Neste capítulo discutiremos como Hamilton Rios conseguiu acabar com

a hegemonia política do grupo de seu Mota e quais foram as permanências e

as rupturas políticas que ele implantou na política local para que pudesse

manter muitas características do coronelismo presentes em Conceição do

Coité. Para entendermos os aspectos políticos é fundamental que possamos

discutir também como Hamilton Rios se estabeleceu economicamente como

exportador de sisal. E como estes dois aspectos, o político e o econômico são

essenciais para a construção da imagem do coronel é necessário que se faça

uma análise da sua biografia para entendermos como estes aspectos se

relacionam.

Hamilton Rios de Araújo antes de tornar-se um grande líder político em

Conceição do Coité já pertencia a uma família de prestigio nesta cidade. O seu

avô, Antonio Felix de Araújo, em 1894, já tinha sido Intendente de Conceição

do Coité. Apesar de não ter usufruído desta vantagem de ter ser de família

tradicional porque o seu pai herdou pouca coisa e não deu uma vida de luxo e

riqueza para Hamilton Rios e seus irmãos, nesta fase da vida, Hamilon Rios

trabalhou bastante na roça ajudando o seu pai que não tinha muitos recursos.

Contudo, pertencer a uma família tradicional em uma cidade pequena ainda é

uma forma de distinção social.

Hamilton Rios começa a mudar de vida quando o seu irmão, Almir, lhe

convida para trabalhar com sisal. Este seu irmão já estava começando a

trabalhar com o sisal. E deu a oportunidade para Hamilton entrar no ramo,

dando a ele um motor de sisal. Hamilton Rios e o seu outro irmão, Ewerton,

fizeram o negócio crescer. Com os lucros iniciais compraram mais motores e

depois campos de sisal para que pudessem controlar o negócio cada vez mais.

Porque havia em Conceição do Coité vários comerciantes de sisal e era

necessário enfrentar esta concorrência.

Nesta época, Misael Ferreira, já era comerciante, e também Teocrito

Calixto da Cunha tinha uma empresa que trabalhava com sisal. E existiam

comerciantes menores, contudo a pretensão de Hamilton Rios e seu irmão,

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27

Ewerton, eram ser grandes comerciantes de sisal e foi o que aconteceu. Como

Hamilton Rios percebeu a necessidade de investir em todo o processo de

manufatura do sisal, porque todos os outros comerciantes inclusive ele

pagavam para que o sisal fosse “batido”. Então, ele comprou uma maquina

para ele mesmo “bater” o sisal e não mais depender de outra pessoa para

deixar o seu produto pronto. Com isso, ele estava controlando ainda mais o

processo de produção do sisal e tendo cada vez mais lucros.

Este diferencial comercial fez com que ele e seu irmão enriquecessem

rapidamente com o sisal. Mesmo antes de tornar-se um político, ele já “batia” o

sisal dos outros comerciantes de Coité e região, além de já ser um exportador

do produto. Quando entra para política já estava com uma renda alta suficiente

para sustentar a estrutura coronelística já existente e que ele desenvolveria

ainda mais em torno de sua imagem pública.

O aspecto econômico é fundamental para que o “coronel” seja

caracterizado como tal. Ele precisa ter condições financeiras pessoais para

sustentar a sua política assistencialista ainda que se utilize dos recursos

públicos é necessário que o mesmo seja capaz de manter o sistema

coronelístico sem depender totalmente da prefeitura.

É por isso que Queiroz (1976) considera fundamental a diferenciação

econômica entre o coronel e sua clientela, era a fortuna que estabelecia a

posição social dos membros da parentela, quanto mais rico mais poder tinha e

mais influência exercia sobre os outros membros do grupo.

Hamilton Rios teve dois motivos para entrar na política, o primeiro foi

que ele não queria que o grupo de seu Mota continuasse no poder porque já

estava a muito tempo dominando politicamente Conceição do Coité e segundo

porque Evódio já tinha sido derrotado três vezes para prefeito. Quando Dr.

Pinheiro ganha as eleições contra Evódio Resedá, provocando assim a terceira

derrota do mesmo, Hamilton Rios declara para todos que será o candidato da

oposição. Ele podia fazer esta declaração porque tinha alguma forma de

influência política por causa da sua condição social e econômica. Ele fez esta

afirmação sem consultar ninguém do grupo que fazia oposição a seu Mota. Ele

consulta seu Evódio apenas depois que tomou a decisão e que fez a sua

declaração, e seu Evódio concordou com a candidatura.

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Esta condição de autoridade e líder que ele impõe a si mesmo diante de

um grupo político enfraquecido é uma demonstração de como vai funcionar sua

estratégia política. Seria ele que ditaria as regras políticas do grupo a partir

daquele momento. Hamilton Rios já era o candidato a prefeito quando as

eleições tinham acabado de acontecer.

Hamilton Rios pode tornar-se um líder político porque também era um

líder econômico. Faoro (2001, p. 700) considera que para um coronel tornar-se

um líder político é fundamental que este poder político esteja atrelado a sua

condição econômica que possa sustentar o coronelismo. Sendo um homem

rico poderia exercer o seu papel político diante de seus partidários. Este

mesmo poder econômico também foi demonstrado por seu Mota para lhe

garantir uma autoridade local e influência política. Estes dois lideres locais

souberam utilizar o seu poder econômico com objetivos políticos que lhes

garantiu um longo período no poder. Para Janotti ( 1981, p. 69):

à medida que se desenvolviam as funções urbana do município, sua importância econômica, e, consequentemente, eleitoral, também, crescia. O poder coronelístico passava, então, a ser exercido por pessoas que não detinham, necessariamente, a posse da terra.

Esta foi a sua forma de entrar na política, com todo o seu poder

econômico impôs uma vontade pessoal, a de ser o novo prefeito. A sua

campanha eleitoral começou, exatamente, naquele momento em que disse que

seria o novo candidato. Mesmo faltando dois anos para as eleições, Hamilton

Rios trabalhava na sua candidatura distribuindo água pelos povoados de

Conceição do Coité, dando cesta básica, cimento, remédio. O povo ia a sua

casa pedir o que precisava e ele, para garantir a sua vitória, dava o que podia.

Foi a partir desta política de assistencialismo que Hamilton Rios

começou a construir a sua imagem de “coronel” que para Queiroz (1979,

p.176-7) faz parte da política de barganha em que o voto é usado como objeto

de troca por favores pessoais.

Em 1974 aconteceu a eleição para a qual Hamilton Rios já fazia

campanha desde 1972. Esta eleição foi disputada por dois comerciantes de

sisal, Hamilton Rios era um exportador do produto e Misael, um dos primeiros

comerciantes a investir nesta atividade que disputava espaço comercial com o

próprio Hamilton.

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29

Desta forma, podemos perceber como a condição econômica influencia

na escolha da liderança política. Os dois candidatos a prefeito eram grandes

comerciantes de sisal, e estavam em grupos políticos opostos. A disputa

comercial passou também a ser uma disputa política.

Contudo, a condição econômica não é o único fator que influencia em

uma eleição. Outros fatores devem ser levados em consideração. Hamilton

Rios com a sua política assistencialista que atingia a população desde 1972

influenciou muito não só na zona rural, mas também na zona urbana de

Conceição do Coité. E esta política foi decisiva para que ele garantisse uma

vitória com uma boa diferença de votos em relação aos do seu adversário

político.

Hamilton Rios conseguiu acabar com a hegemonia do grupo de seu

Mota derrotando Misael Ferreira. Dando início ao seu governo e a seu domínio

político sobre a cidade. É nesta eleição em que os grupos políticos de Coité

vão passar a ser chamados de “vermelhos”, o grupo de Hamilton Rios, e os

“azuis”, o grupo de Misael Ferreira que pertencia ao grupo de seu Mota.

Como Hamilton Rios conseguiu colocar os “vermelhos” no poder e ele

controlava o poder público como prefeito, a sua política assistencialista seria

fortalecida diante da necessidade econômica da maioria da população. Uma

parcela desta população se torna dependente dos favores que o prefeito,

Hamilton Rios, realizava e por isso era chamado de “Pai da Pobreza”.

Esta era a sua principal estratégia política, tornar as pessoas

dependentes do seu poder econômico e político alimentando uma relação de

proximidade afetiva com os seus eleitores. A relação ente prefeito e partidários

é a mesma do coronel e seus dependentes em que os dois influenciam as

pessoas pela política, pelos favores, e pelo afeto. Hamilton Rios foi padrinho de

muitos filhos de seus partidários. Isto mostra, que a sua estratégia extrapola a

questão política e econômica tendo uma relação direta com a questão pessoal.

Este aspecto afetivo é demonstrado pela relação de compadrio que o

coronel estabelece com os seus dependentes. Janotti (1981, p. 58) considera

que isto ameniza as diferenças sociais entre eles. Esta aproximação favorecia

a manutenção, por parte do coronel, do seu poder. Queiroz (1979, p. 167-8)

afirma que no coronelismo:

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as relações pessoais envolvem a afetividade na determinação do voto, (...) apresenta na realidade como uma reciprocidade de favores, como que um contrato tácito entre o cabo eleitoral e os eleitores. Estes oferecem seus votos na expectativa de um favor ser alcançado, podendo o contrato ser rompido quando uma das partes não cumpre o que dela se espera.

A sua política foi totalmente escancarada. Todos sabiam que ele

“ajudava” as pessoas desta forma assistencialista. Diferente do que acontecia

no período de seu Mota em que esta estratégia já era usada, mas Vanilson

afirma que era uma estratégia disfarçada com poucos favores sendo

realizados.

Seu Mota apesar de também manter uma relação muito pessoal com os

seus eleitores não alimentava tanto este assistencialismo cotidiano. O que

acontecia com mais freqüência era o clientelismo que é a troca de favores, os

mais diversos possíveis, pelo voto do eleitor.

Hamilton Rios desenvolve a sua política através do assistencialismo e do

clientelismo. O assistencialismo ele alimenta com favores cotidianos que não

influenciam diretamente nas eleições, são favores que mantêm a dependência

econômica dos mesmos diante da sua imagem de político e “coronel”. O

clientelismo se estrutura numa política voltada, exclusivamente, para as

eleições em que são atendidos os pedidos e os favores com o objetivo direto

de trocar pelos votos das pessoas.

Desta forma Queiroz (1979, p. 178) considera que o eleitor não vota

passivamente, ele vota consciente no candidato indicado pelo seu coronel em

troca de favores. Contudo, é difícil sustentar que este voto possa ser de alguma

forma consciente, ainda que seja diante da percepção de que está negociando

o seu voto em troca de algo. Com isto, podemos perceber que o sistema

coronelístico limita a consciência política dos eleitores que não compreendem a

importância do seu próprio voto.

Além desta estratégia política voltada para os seus eleitores, Hamilton

Rios como prefeito realizou algumas obras, como a construção do Estádio

Municipal, a reforma de escolas, posto de saúde. Realizações que

influenciaram muito para que a sua imagem política fosse associada a de um

bom “coronel”. Com todo este prestígio na cidade, as suas vontades políticas

começaram a ganhar força e eram atendidas sem muita discussão. Como a lei

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não permitia a reeleição, Hamilton Rios indicou Walter Ramos como candidato

a prefeito do grupo dos “vermelhos” para as eleições de 1976. Ele foi escolhido

porque já tinha sido vereador e era muito influente nos distritos de Aroeira e

Salgadália.

Indicar o candidato a prefeito era uma clara demonstração de poder

diante dos seus partidários. Ele podia impor a suas vontades políticas porque

sabia que não seria contestado e que tinha a seu favor o poder privado em

detrimento do poder público. Hamilton Rios desenvolveu uma relação entre o

poder privado e o público muito característica do coronelismo que é fazer do

poder público parte do poder privado. Como bem afirma Leal (1997, p. 275) o

“coronelismo é a incursão do poder privado no domínio público.” E com o

dinheiro público o coronel consegue manter a continuidade do seu sistema.

Diante destes aspectos, Walter Ramos disputou a eleição contra Sinval

Mascarenhas em uma disputa que todos já sabiam o resultado. Walter sendo

apoiado por Hamilton Rios teria a vitória garantida diante do grupo dos “azuis”

que estava enfraquecido pela derrota eleitoral que sofreram por causa do

próprio “Mitinho”.

Nos dois primeiros anos, Walter Ramos foi influenciado politicamente por

Hamilton Rios em seu governo. Porém, houve um rompimento político entre

Walter Ramos e Hamilton Rios. Walter Ramos não aceitou a relação de

obediência que tinha que manter com Hamilton Rios. Então, passou a negociar

com outros políticos obras para Conceição do Coité, como esses políticos não

eram os correligionários de Hamilton Rios houve o rompimento. Este

rompimento chegou ao ponto de cada um apoiar um deputado estadual

diferente para as eleições de 1978. Hamilton Rios apoiou Luis Eduardo

Magalhães e Walter Ramos apoiou João Emílio. Walter Ramos governou por

mais quatro anos e continuava inimigo político de Hamilton Rios. Ainda no

poder Walter Ramos já apoiava Misael para prefeito e nas eleições este seu

apoio enfraqueceu a candidatura de Hamilton Rios em 1982.

Este enfraquecimento político foi provocado por um fenômeno que Leal

(1997) já considerava presente no coronelismo que era o aumento da

dependência econômica do coronel sobre os recursos públicos. A falta destes

recursos gera um significativo déficit na manutenção da política clientelista

administrada pelo coronel.

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É tanto que, Orlando Matos afirma que, a campanha de 1982 foi toda

financiada por Hamilton Rios, até mesmo porque ele não tinha acesso aos

cofres públicos para que pudesse utilizar estes recursos para investir em sua

campanha eleitoral. Mesmo enfraquecido politicamente Hamilton Rios ainda

tinha muita força econômica para garantir a sua volta para a prefeitura.

Nas eleições para 1982, Hamilton Rios, apesar de estar enfraquecido

pelos quatro anos de governo de Walter Ramos, saiu como candidato pelo

grupo dos “vermelhos”. O enfraquecimento do seu poder político aconteceu

por ter ficado distante do poder público que era uma fonte de recursos

financeiros que ajudava a sustentar a sua imagem política.

Mesmo com este enfraquecimento Hamilton Rios conseguiu vencer as

eleições por uma diferença de 229 votos a mais que o seu adversário, Misael

Ferreira. O resultado desta eleição demonstra como a política local se

estruturava neste período.

Hamilton Rios mesmo sem ter acesso aos recursos públicos para manter

a sua política assistencialista conseguiu voltar a ser prefeito. Este fator

atrapalhou o desenvolvimento desta estratégia, contudo não impediu que ela

continuasse a existir porque Hamilton Rios já era um grande empresário e tinha

condições econômicas pessoais para sustentar esta política.

Esta vitória eleitoral de Hamilton Rios deve ser considerada também

pelo aspecto afetivo que o próprio Hamilton Rios construiu em sua relação com

seus eleitores nesta política assistencialista que ele desenvolveu. A relação de

apadrinhamento é uma demonstração da importância deste aspecto afetivo de

até que ponto esta relação pode chegar. O político tornando-se parte da própria

família do seu eleitor. Outro aspecto que favorece o estabelecimento desta

relação pessoal é o que Queiroz (1979, p. 199) caracteriza como “”carisma” –

conjunto de dotes pessoais que impõe um indivíduo aos outros, fazendo com

que estes lhe obedeçam, tornando suas ordens indiscutíveis justamente porque

emanam dele.”

Além desta sua política assistencialista local, Hamilton Rios construiu

relações políticas e também pessoais com as principais lideranças do estado

da Bahia. Como era partidário de Antonio Carlos Magalhães, ele mantinha com

a ACM uma relação política em que eram negociados os apoios em eleições

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estaduais e os recursos e obras que seriam investidos em Conceição do Coité

pelo governo estadual.

Esta relação com o governo estadual faz parte da estratégia política do

coronelismo que é a negociação do coronel, que manipula os seus

dependentes nas eleições estaduais, com o governo estadual para barganhar

investimentos na cidade, porque o poder local ainda é muito dependente das

verbas públicas enviadas pelo governo federal e estadual. Faoro (2001, p. 708)

considera que esta relação é controlada pelo governo estadual que tem os

instrumentos políticos e econômicos para submeter os coronéis ao seu poder.

Isto é o que aconteceu com Hamilton Rios e ACM. A relação entre eles era

ditada pelas ordens do governador que era ACM.

A essência do compromisso coronelístico, para Leal (1997, p. 70), está

dividida em duas partes, a primeira os chefes locais precisam apoiar,

totalmente, nas eleições os candidatos estaduais e federais que fazem parte do

governo e a segunda o governo estadual deve permitir que os chefes locais

tenham total controle sobre os seus municípios. Bursztyn (1984, p. 12)

também tem um posicionamento parecido ao considerar que “há uma enorme

interdependência entre os poderes central e local, em cuja essência

encontramos os imperativos da legitimação recíproca.” Argumento este que se

relaciona com a idéia de Janotti (1981, p. 59) de que o coronel é a conexão de

uma teia de compromissos políticos que tem dois extremos, um é o vaqueiro, o

outro é o governador do Estado.

Hamilton Rios manteve esta estratégia política praticamente intacta no

seu novo governo. A sua forte política assistencialista era o que lhe mantinha

no poder, tendo uma boa relação com o governo do Estado. Por isso dar

continuidade a estas relações era essencial para que ele pudesse se manter no

poder público.

Contudo, durante este governo surge uma figura pública que se torna

seu concorrente utilizando a mesma política assistencialista que ele

alimentava. Dr. Iêdo surgirá no cenário político coiteense como a liderança que

faltava para o grupo dos “azuis”. O seu assistencialismo estava relacionado aos

problemas de saúde. Para Vanilson Lopes, ele realizava operações sem cobrar

pelos custos tendo como objetivo derrotar o grupo de Hamilton Rios.

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Com isso, Dr. Iêdo tornou-se o principal adversário político de “Mitinho”.

Iêdo ficava cada vez mais popular por causa desta relação que ele construía

com seus pacientes. A demonstração que esta liderança estava ameaçando

politicamente Hamilton Rios é que nas eleições de 1984 o candidato que Dr.

Iêdo apoiou para governador, Waldir Pires, teve mais votos em Coité do que o

candidato de Hamilton Rios, Josafá Marinho. Este resultado repercutiu como

uma ameaça à hegemonia política dos “vermelhos” em Coité para as próximas

eleições municipais. Por isso, Hamilton Rios precisava escolher um sucessor

para disputar as eleições de 1988 contra Dr. Iêdo.

Faoro (2001, p. 729-30) afirma que “o que mata o coronel é o próprio

exercício de suas funções, em certo momento inúteis, diante dos meios diretos

de convívio do governo com o povo.” E que “o coronel flutuará entre ventos

adversos, triturado pelos partidos de quadros, burocratizados na sua

organização, revolvidos os próprios sertões pelas periódicas ondas

carismáticas, irradiadas das cidades, nacionais em sua amplitude.”

Contudo, Dr. Iêdo morre em 1987 por causa de um acidente de carro.

Esta tragédia teve duas repercussões políticas importantes para Conceição do

Coité. A primeira que os “azuis” não tinham outro candidato para substituir a

liderança de Dr. Iêdo o que levou o grupo a ficar divido entre Misael e a viúva

de Dr. Iêdo, Tânia. No final das negociações dentro do grupo, Tânia foi

escolhida por um grupo totalmente esfacelado. A segunda repercussão está

relacionada à escolha do candidato do grupo dos “vermelhos”. Com a morte de

Dr. Iêdo e Tânia sendo a candidata, Hamilton Rios não escolhe nenhum político

que fazia parte do grupo, mas o seu sobrinho, Ewerton Rios de Araújo Filho,

Vertinho.

Diante deste cenário, a eleição de 1988 foi o momento em que Hamilton

Rios conseguiu dar continuidade ao seu poder colocando o seu sobrinho na

prefeitura. Para Janotti (1981, p. 79), esta pode ser uma tentativa de transferir a

sua influência política para outro membro do grupo que poderia ser o seu

sucessor quando o coronel morrer.

Esta atitude política de escolher um membro da sua família como

sucessor é um reflexo de como ele relaciona as questões públicas com as

particulares a partir da sua autoridade política que impõe a suas vontades

como se fossem, realmente a vontade do grupo. Hamilton Rios não fez uma

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escolha política, ele fez uma escolha pessoal, particular em que sua família é

inserida em um contexto público.

Esta é uma atitude de um “coronel” em que somente ele tem voz dentro

do seu grupo político. Ainda que outros partidários tenham condições

econômicas e políticas de contestá-lo preferem aceitar as suas imposições a

sofrer represálias ou punições políticas. E uma destas imposições é a escolha

individual e pessoal do seu sucessor.

O sucessor foi escolhido e o contexto político colaborou para que as

eleições fossem vencidas por ele. Neste contexto devemos considerar a forte

influência política de Hamilton Rios que tornou prefeito um sobrinho que era

desconhecido na cidade e a morte de seu principal adversário político, Dr. Iêdo.

Eleições vencidas, começa o mandato de Ewerton Rios Filho, Vertinho, dando

continuidade ao governo de Hamilton Rios mantendo o grupo dos “vermelhos”

no poder com uma política assistencialista em que se estrutura o sistema

coronelístico. Mesmo com Vertinho no poder público efetivo quem vai manter a

administração do poder local com a sua influência política é Hamilton Rios.

Hamilton Rios continua sendo a conexão entre os dois mundos do

coronelismo, o mundo do vaqueiro e o mundo do governador. Mundos políticos

que se relacionam na manutenção do coronelismo em Conceição do Coité.

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CONCLUSÃO

O coronelismo é um tema que traçou diversos caminhos teóricos, da

história factual a análise sociológica. Cada uma destas dimensões

epistemológicas deu a sua devida colaboração historiográfica como registro de

uma época e como análise de uma estrutura política que ainda faz parte do

nosso cotidiano.

O coronelismo é um conjunto de políticas assistencialistas que são

geridas por uma autoridade local, o coronel, e que este mantêm o seu poder

político estabelecido através da relação pessoal com seus eleitores e da

negociação eleitoral com o Estado em busca de verbas. O coronelismo não é

um sistema político fechado, mas uma estrutura social e política complexa que

foi capaz de se adaptar as mudanças estruturais que ocorreram na sociedade

brasileira. O coronel é o grande personagem histórico desta história, pode ser

Seu Mota ou Hamilton Rios, não importa, quem controla a cidade com a sua

presença e liderança é o coronel.

Seu Mota, em 1930, já era um coronel comerciante que influenciava

politicamente na cidade a partir do seu próprio comércio. A estratégia política

que manteve a sua oligarquia muito tempo no poder foi a sua capacidade de

dividir o poder local com os seus parentes e partidários, dando a eles o controle

da máquina pública. No entanto, o poder político de Seu Mota estava acima do

cargo de prefeito ou de intendente, ele controlava politicamente a cidade

utilizando a sua influência econômica. Seu Mota foi um coronel de patente e de

poder que não usava a patente mas soube usar muito bem o seu poder

mantendo o seu grupo político no poder executivo municipal por 40 anos.

Hamilton Rios surgiu como um adversário político do grupo do Seu Mota

e com uma política agressiva de assistencialismo conseguiu acabar com estes

40 anos de hegemonia política de Seu Mota. As estratégias políticas de

Hamilton Rios foram muito mais agressivas que as de Seu Mota. Enquanto Seu

Mota estruturava sua política clientelista na compra de votos no período de

campanha e no desenvolvimento de associações culturais, Hamilton Rios

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construiu o seu poder político através de uma ostensiva manutenção de um

assistencialismo diário, em que as pessoas não tem acesso a serviços públicos

de qualidade e dependem dos seus favores para adquirirem serviços e

produtos. Este tipo de clientelismo é uma mudança significativa na

caracterização do coronelismo em Conceição do Coité.

Hamilton Rios também administrou o poder local de uma forma diferente

da de Seu Mota. Ele centralizava as decisões políticas e mantinha os seus

partidários como executores das decisões tomadas. Seu Mota apesar de

também centralizar as decisões tentava dividir o seu poder com os seus

partidários, preferia tomar as decisões nos bastidores. A postura política de

Mitinho era outra, ele só indicava outro candidato a prefeitura porque a

legislação não permitia reeleição, porque o candidato do grupo era ele.

Hamilton Rios era um coronel sem patente mas que tinha muito poder e

exerceu este poder quase como um coronel de patente.

Muitas destas características do coronelismo ainda podem ser

percebidas em nossa sociedade porque as políticas públicas básicas ainda não

atingem a todos igualmente. Desta forma, parte da população ainda necessita

pedir favores a políticos que negociam estes pedidos com os votos destas

pessoas. A barganha entre políticos ainda faz parte da nossa cultura política, o

prefeito negocia obras para a sua cidade em troca de apoio eleitoral ao

governo do Estado. E ainda há uma dificuldade muito grande em separar no

poder executivo municipal a esfera pública da privada.

Mesmo que tenha havido muitas mudanças e adaptações o sistema

coronelístico em Conceição do Coité manteve a sua estrutura básica

desenvolvida a partir do clientelismo que alimenta a dependência econômica

dos eleitores em relação ao coronel e a dependência política do coronel em

relação aos eleitores. O coronelismo em Coité se transformou, mas ainda

preserva muito da originalidade estabelecida por Leal. Esta transformação se

estabelece a partir de novas estratégias políticas para a manutenção do

coronelismo como forma dominante de poder na política local de Conceição do

Coité.

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