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Anais do III Encontro de Pesquisas Históricas - PPGH/PUCRS.
Porto Alegre, 2016. p.352-363. <www.ephispucrs.com.br>.
A HISTÓRIA DO HOTEL COLONIAL TREPTOW EM PELOTAS/RS
THE HISTORY OF HOTEL COLONIAL TREPTOW IN PELOTAS/RS.
Caroline Beskow Quintana
Bacharel em Turismo/Universidade Federal de Pelotas
RESUMO Esta pesquisa visa analisar a história do Hotel Colonial Treptow, localizado na cidade de Pelotas, identificando
seus proprietários, a estrutura física inicial, as reformas pelas quais o hotel passou, as características dos
hóspedes e os serviços oferecidos. O Trabalho se insere no projeto de pesquisa “A história da hotelaria em
Pelotas na primeira metade do século XX”, financiado pelo edital MCTI/CNPq Nº 14/2014. Para a realização
desta pesquisa foi utilizado como fonte principal a memória de pessoas que tiveram alguma relação com o hotel.
Assim, foram utilizadas as narrativas de 4 entrevistados, que foram: um dos netos e o genro do primeiro
proprietário do hotel, uma hóspede e uma ex-funcionária do hotel. A história oral viabiliza as narrativas dos
sujeitos envolvidos, possibilitando o entendimento das experiências vividas neste contexto. O hotel, de
propriedade da família Treptow durante todo o período, funcionou de 1908 a 1984, passando por várias
mudanças, se adaptando ao longo dos anos. O hotel foi atacado em agosto de 1942 quando aconteceu o “quebra-
quebra” em Pelotas, decorrente da II Guerra Mundial, tendo que ser reformado para reabrir após o ataque. Além
da hospedagem, o hotel oferecia alimentação e, por muitos anos, era um armazém. Os principais hóspedes eram
os “colonos” que vinham para a cidade trazer seus produtos para vender, para fazer compras ou atendimentos
médicos.
Palavras-chave: Hotelaria. História. Pelotas. Trajetória.
ABSTRACT This research sight to analyze the story of the Colonial Hotel Treptow, located in Pelotas, identifying it’s owners,
the initial physical structure, the reform which the hotel has had, the guest’s characteristics and the services
offered. The work forms part of the research project "The history of the hotel in Pelotas in the first half of the
twentieth century", funded by MCTI notice / CNPq No. 14/2014. For this research was used as the main source
memory of people who had something to do with the hotel.Thus, the narratives of 4 respondents were used,
which were one of the grandchildren and the son in law of the first owner of the hotel a guest and a former
employee of the hotel. Oral history enables the narratives of the subjects involved, enabling the understanding of
the experiences in this context. The hotel, owned by Treptow family throughout the period ran from 1908 to
1984, going through several changes, adapting over the years. The hotel was attacked in August 1942 when there
was the "smashing" in Pelotas, arising from World War II, having to be reformed to reopen after the attack. In
addition to lodging, the hotel offered food and, for many years, was a warehouse. The main guests were the
"settlers" who came to the city to bring their products to sell, for shopping or medical care.
Keywords: Hospitality. History. Pelotas. Trajectory.
Introdução
O presente artigo foi elaborado com base no terceiro capitulo na minha monografia,
intitulada “Hotelaria em Pelotas na década de 1940: Proprietários alemães ou descendentes”.
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O trabalho também se insere no projeto de pesquisa “A história da hotelaria em Pelotas na
primeira metade do século XX”, financiado pelo edital MCTI/CNPq Nº 14/2014.
O objetivo deste trabalho é analisar a história do Hotel Colonial Treptow, localizado
na cidade de Pelotas, identificando seus proprietários, a estrutura física inicial, as reformas
pelas quais o hotel passou, as características dos hóspedes e os serviços oferecidos.
Foi utilizado como principal fonte a história oral, utilizando a narrativa de 4
entrevistados. As entrevistas foram gravadas e transcritas. A história oral é “uma pratica de
apreensão de narrativas feita através do uso de meios eletrônicos e destinada a: recolher
testemunhos, promover analises de processos sociais do presente, e facilitar o conhecimento
do meio imediato.” (MEIHY; HOLANDA, 2011, p. 18). Este método de pesquisa permite
“recuperar aquilo que não encontramos em documentos de outra natureza: acontecimentos
pouco esclarecidos ou nunca evocados, experiências pessoais, impressões particulares.”
(ALBERTI, 2005, p. 22).
A primeira entrevistada foi Erna Schüller Weirich, nascida em 12 de junho de 1920,
na Colônia São Manuel. A entrevistada trabalhou no Hotel Colonial Treptow. Erna vivenciou
os ataques sofridos durante a II Guerra Mundial. A entrevista foi realizada em janeiro de
2005, na residência da própria entrevistada.
Foi realizada uma entrevista com Gilberto Treptow, e seu tio, Fritold Rutz. Os
entrevistados são neto e genro do dono do Hotel e Armazém Colonial F. Treptow e Cia. Ltda,
respectivamente. Assim, foi realizada a entrevista com ambos, no dia 13 de maio de 2016, na
residência de Gilberto Treptow. A entrevista foi gravada e transcrita pela autora deste
trabalho.
No dia 13 de junho deste ano foi realizada a entrevista com Diva Vighi Beskow que
ficou hospedada no Hotel e Armazém Colonial F. Treptow e Cia. Ltda. Trazendo informações
sobre o hotel. A entrevista foi realizada na própria residência da entrevistada, foi gravada e,
posteriormente, transcrita pela autora.
As informações foram analisadas de forma qualitativa, descritivamente, utilizando as
falas dos entrevistados, as quais, em determinadas situações, foram transcritas literalmente.
O Hotel Colonial Treptow
O hotel colonial Treptow funcionava nos fundos da ferragem Treptow, conforme
afirma o senhor Fritold Rutz.
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Nós tínhamos o hotel, e era bom o hotel, era um hotel colonial não tinha nada de
luxo [...] e nós tinha comércio, o nosso forte era comércio, ferragem Treptow, tinha
a F. Treptow e tinha o hotel F. Treptow, nos fundos era hotel e na frente era
ferragem. (Fritold Rutz, 2016).
Mas a empresa era uma só, apenas um nome, segundo Gilberto Treptow. “O nome da
firma era F. Treptow e Companhia Limitada depois é que eu não me lembro em que ano que
passo pra Treptow sociedade anônima, em 62 [1962].” (Gilberto Treptow, 2016). O nome da
firma, bem como seu endereço pode ser identificado no lápis promocional da empresa (Figura
1).
Figura 1: Lápis F. Treptow e Cia. LTDA. Fonte: Foto da autora.
Na figura acima identifica-se o endereço do hotel, que era localizado na Av. Gal.
Daltro filho, 392, [atual Avenida Duque de Caxias]. O nome da empresa, assim como
Gilberto (2016) afirma, aparece no lápis como F. Treptow & CIA. LTDA.
Segundo Fritold (2016) o hotel começou com dois irmãos, o Fernando e o Frederico,
que eram de São Lourenço do Sul. Os irmãos venderam suas terras em São Lourenço do Sul e
vieram para Pelotas, compraram o terreno onde funcionou o hotel de um tio deles, de
sobrenome Jacob e começaram a trabalhar em sociedade. Segundo Rutz (2006, apud
OLIVEIRA, 2007), os dois irmãos vieram de São Lourenço para Pelotas com suas esposas em
1908 e abriram a firma F. Treptow. Em 1935 os dois irmãos se separaram e o hotel ficou com
Fernando Treptow. Posteriormente, o hotel passou para os filhos de Fernando: Valdemar,
Osmar e Selma e seu marido Fritold. O hotel funcionou até 1984.
Eu era sócio deles, era o Valdemar e o Osmar [...] eu fiquei lá no hotel né e antes
ele era bom, mas depois os ônibus começaram a ir para fora de 2 em 2 horas 3
horas aí pessoal começo aí eu botei pensionato de estudante de medica então aí fico
hotel e continuo não tinha mais assim hotel para pessoal assim era colonial aquilo e
era pensionato assim, casa de estudante de medicina né. (Fritold Rutz, 2016).
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Segundo o entrevistado, o maior fluxo de hóspedes no hotel, principalmente da zona
rural, ocorria quando os intervalos entre os horários dos ônibus da zona rural para a cidade e
vice-versa eram maiores, necessitando de pernoites. Quando as empresas de ônibus passaram
a oferecer maior frequência de horários, o número de hóspedes diminuiu, e o hotel foi
transformado em pensionado, cujos pensionistas eram, principalmente, estudantes de
medicina, cuja Faculdade era próxima ao hotel.
Figura 2: Família Treptow em 1917. Fonte: Elisabete Porto de Oliveira (2007 p. 37).
De acordo com Fritold (2016), as quatro famílias moravam juntas, nas instalações do
hotel. Na Figura 2 estão Fernando e sua esposa, a família de Valdemar, a família de Osmar e a
família de Selma.
É nossa mesa nós éramos 3, 4 famílias morava tudo, morava tudo junto e a mesa
era uma só, mesa grande onde sentava na ponta e nós era figurante na mesa dele e
outra coisa a nossa comida era a mesma do hotel, não tinha nada dizer que era
carne especial ou não o que era servido para os nossos hóspedes era servido para a
gente também. (Fritold Rutz, 2016).
Como já comentado, as 4 famílias moravam no hotel, e a alimentação da família e dos
hóspedes era a mesma.
Logo que o hotel foi aberto, não havia quartos separados, apenas uma peça que era o
salão de refeições durante o dia e à noite servia de quarto, conforme o relato a seguir:
[...] eles fizeram lá aquilo onde era o salão lá aquilo era duas peças que era do tio
Fritz [Frederico] que morava e o Fernando ficava numa sala do lado e eles fizeram
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uma meia água que durante o dia era comércio e era balcão e o balcão deles era
duas barricas uma de cada lado e uma tabua em cima aquilo era o balcão né e de
noite botava de lado no refeitório, o refeitório de noite eles botavam colchoes assim
para o pessoal todo que vinha de fora para dormi né. (Fritold Rutz, 2016).
Aos poucos, conforme entrava dinheiro, os proprietários foram construindo outras
peças, chegando a possuir 25 quartos: “o quarto número um era das empregadas” (Gilberto
Treptow, 2016), o segundo quarto, de acordo com Fritold (2016), era a despensa, ele “era da
roupa e três já era usado né, depois tinha a despensa e depois pegava o 5, o 6, e o 7. ”
(Gilberto Treptow, 2016). Os quartos 5, 6, e 7 já eram usados pelos hospedes.
O quarto que depois lá era a despensa [...] eram as cozinheiras, a Juninha e a coisa
que moravam lá né, aquele quarto, e depois o 5 em diante eram quarto, quarto, até
25 né e ai a exceção tinha dois quartos, a S1 e S2 e lá antes era sala então quarto ia
até 25 e tinha dois quartos e a gente bota S1 e S2 né dois quartos separados né mas
que geralmente estava cheio sempre né e era bom esse tamanho. (Fritold Rutz,
2016).
Conforme a fala do entrevistado, as empregadas e cozinheiras moravam no hotel e
tinham seus quartos no mesmo corredor dos quartos dos hóspedes. Além dos 25 quartos que o
hotel possuía, após uma reforma, foram adicionados mais dois que, segundo Fritold (2016),
eram identificados por S1 e S2, que antes da reforma era a sala do hotel.
A entrevistada Erna relata como eram os quartos do hotel quando ela trabalhou lá.
Tinha cama, energia elétrica, tudo tinha, só não tinha encanamento d’água, era
bacia e jarra, né [...] Sempre a jarra, e aí tinha né, como vou dizer, torneira na rua,
no momento em que terminava aquela água só precisava ir lá pegar [...] É só isso
cama e bacia, não tinha pia. (Erna Schüller Weirich, 2005).
Segundo a entrevistada o quarto possuía cama, energia elétrica, mas não possuía água
encanada. Segundo Lopes (2007), em 1947 foi realizado um plano de saneamento pelo
escritório Saturnino de Brito, que tinha como objetivo a ampliação dos serviços de água e
esgoto dos bairros Fragata, Três Vendas, Areal e Centro. Como o Hotel Treptow era
localizado no bairro Fragata, provavelmente só recebeu água encanada neste período.
Sobre os banheiros do hotel, Gilberto afirma:
Não, eram três, três banheiros né, dois de vaso e um de vaso e chuveiro e o fogão
grande, atrás do fogão subia e tinha uma caldeira [...] uma serpentina que aquecia
a água para a caldeira e essa água ia para um cano até aquele banheiro para
atende o chuveiro, lá do outro lado tinha o chuveiro que era da família, o banheiro
da família, que era com essa água quente, então de manhã não tinha água quente,
se o fogão não estava. (Gilberto Treptow, 2016).
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Segundo Gilberto (2016) o hotel possuía apenas dois banheiros com vaso e um com
chuveiro e vaso sanitário. O processo para esquentar água era feito com uma serpentina que
levava água para uma caldeira, e depois essa água ia para os chuveiros, tanto para o banheiro
da família quanto para o banheiro dos hóspedes.
Dona Diva relata mais detalhes dos quartos e banheiros:
O banheiro era na rua, tinha só o quarto com duas camas e uma bacia um pezinho
assim com uma bacia para a gente lava as mãos tinha uma jarra com água, não era
pia naquele tempo. Uma Jarra branca com água e a gente se lavava ali tinha uma
toalha pendurada isso aí eu me lembro bem direitinho é, e o banheiro, que a gente
queria ir no banheiro era no outro lado da, tinha um pátio e no outro lado era tudo
banheiro, assim é. (Diva Vighi Beskow, 2016).
A entrevistada destaca ainda que o banheiro era longe do quarto, existiam os quartos,
um pátio e do outro lado do pátio ficavam os banheiros, ou seja, os banheiros localizavam-se
longe dos quartos e não eram privativos.
Quanto à extensão do terreno, Fritold afirma que possuía 480 metros para os fundos, o
que na época representava 26 lotes. Antes do loteamento do bairro Fragata o terreno ia da Av.
Duque de Caxias até a rua principal do bairro Guabiroba.
Eu te disse que ia da avenida até onde é hoje a faixa da Guabiroba é e tinha uma
parte que era campo para os animais e a outra parte tudo era horta então toda
verdura toda batata tudo era produzido lá mesmo né claro que alguma coisa as
vezes precisava compra. (Gilberto Treptow, 2016).
Em relação à quantidade de empregados, Fritold esclarece que “nós tínhamos lá, 6
mulheres, o ronda, 2 empregados na chácara e nós, na hora H nós ajudávamos a trabalhar”.
(Fritold Rutz, 2016). Sobre os empregados da chácara “tinha dois empregados, aí um
empregado morava na chácara” (Fritold Rutz, 2016). Eles possuíam animais, “tinham vaca,
tinha cavalo, tinha galinha, tinha porco”. (Fritold Rutz, 2016).
A Dona Erna trabalhou no Hotel Treptow, e relata:
[...] de manhã cedo já eu que servia a mesa, café cedo para [o colono] não estar na
estrada de volta com o sol quente né, lá era assim eu tinha tudo que serviço não só
eu nós éramos 5 gurias que trabalhavam, né. (Erna Schüller Weirich, 2005).
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A entrevistada afirma ainda que ela trabalhava com mais 5 mulheres e que faziam
diversas atividades no hotel, “eu tinha tudo que serviço”. As empregadas cuidavam da
alimentação, dos quartos e das roupas do hotel.
A forma de servir as refeições no hotel era um diferencial, segundo Fritold:
Naquele tempo o hotel era servido assim, a comida não era servida em prato nem
em panela, era em travessas enormes né, mesa, nossa mesa no início, [...] nossa
mesa era 6 e 8 lugares na mesa, depois nós cortamos as mesas pra ficar menor,
ficaram tudo mesa de 4 pessoas só né, mas as mesas serviam, por exemplo, duas
pessoas, as gurias botavam uma bandeja de arroz com metade batata e feijão, tudo
em bandejas grandes assim, cada um comia o quanto ele queria, carne também,
única coisa que era controlado lá era a manteiga no café, mas o café também ia
bules, bules enormes, o litro de leite também, tudo era servido, única coisa que era
servido pouco, que era controlado era a manteiga, eram umas tijelinhas, acho que
manteiga era muito cara não sei bem que, mas o resto tudo era comida a vontade
né, as pessoas não precisavam sentar e pensar em comer, comia mesmo né [...].
(Fritold Rutz, 2016).
Quanto ao horário das refeições, Fritold esclarece que “o café começa de manhã, das
7 até as 9 era o café, das 9 e meia até as 10 e meia era o famoso lanche, o frischtick, às 11 e
meia começava o almoço até as 2 né, 2 vai às 3 horas tinha o café da tarde” (Fritold Rutz,
2016). Verifica-se que a importância que a refeição tinha no hotel, pois, além destas, ainda
oferecia o jantar.
Nem todos os hóspedes faziam todas as refeições, alguns apenas alugavam o quarto,
outros apenas algumas das refeições, por isso, para organizar o pagamento, existia um cartão
onde eram marcadas as refeições feitas.
[...] o pessoal ficava dois dias então cada um ganhava, era anotado, ganhava um
cartão né e o cartão ele chegava, por exemplo, e estava anotado café, almoço, janta
e café outras coisas e tinha, marcava, tinha um, um furador, marcava o que que era
e se elas pegavam uma coisa separada era anotado atrás do cartão e aí na hora de
sair ele pagava então e ficava feito o negócio. (Fritold Rutz, 2016).
Quanto aos dias de maior movimento, quem eram os hóspedes e de onde vinham,
Fritold afirma.
[...] quando chega lá o nosso hotel sempre estava cheio né, aquilo era domingos até
sextas, sábado ia lá embaixo, domingo o pessoal vinha de fora, naquele tempo não
tinha ônibus para fora, sabe que vinha os caminhão e o pessoal vinha em cima do
caminhão e aquele domingo de tarde já vinha gente pra fica e aqui eles ficavam, por
exemplo ônibus vinha segunda de manhã, nosso ônibus principal era de Canguçu,
ele vinha lá a metade do ônibus descia lá em casa, ai ficava lá no hotel, ai ficava
segunda e terça, terça-feira ia embora eles iam mas o ônibus de manhã quando
vinha já vinha outra parte vinha terça de manhã ele vinha num dia e voltava no
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outro, vinha e voltava no outro, só domingo que não tinha ônibus né e aqui passava,
em época de quartel, quando o pessoal se apresentava no hotel chegava a fazer nós
tínhamos um deposito, um deposito de vidro hoje, aquilo nós botávamos lona lá,
botávamos os colchões lá, tudo no chão para o soldado, quer dizer, soldado que
queriam servir para se apresentar, que ia se apresenta no outro dia eles ficavam lá,
as vezes ficavam 50, 60 dormindo lá no hotel e dentro do galpão né botava tudo
arrumadinho, colchão aquilo tinha sobrando colchão ficava feito, eles dormiam lá
dentro depois de manhã tomavam o café e iam para o quartel né, ai era um
movimento louco e nós, o nosso pessoal lá era Canguçu, Piratini era pouco e São
Lourenço que eram nossos clientes né e era pouco e o movimento era sempre
sempre cheio. (Fritold Rutz, 2016).
Segundo o entrevistado, os dias de maior movimento eram a partir de domingo até
sexta-feira. Normalmente os hóspedes chegavam domingo e ficavam até terça, e na terça
chegavam novos hóspedes e assim por diante, somente no sábado que não tinha movimento.
Fritold (2016) também comentou que, quando os rapazes vinham para se apresentar no
quartel, ficavam no Hotel Treptow, ficavam em torno de 50 a 60 futuros soldados dormindo
no hotel. A maioria dos hóspedes vinham de Canguçu, São Lourenço e alguns de Piratini.
Os hóspedes eram basicamente os colonos, que vinham de carroça trazer mercadorias,
chegando a ter 120 carroças no pátio do hotel, segundo Fritold. O depoimento de Diva
corrobora esta informação:
Nós vínhamos para a cidade de carroça, meu pai trazia alfafa né enfardava alfafa e
trazia, vinha de carroça com dois cavalos e ai nós vínhamos de manhã e
chegávamos de tardezinha aqui pra descarrega e ai a gente posava, ai posava,
jantava e o outro dia, tinha quartos assim com duas camas então tinha uma tela,
assim tinha muito mosquito naquele tempo não botavam esses remédio que botam
agora e então nós e ai a gente jantava tinha sopa de galinha, matavam assim
galinha e pato também. [...] nós posávamos ali e o outro dia nós íamos para a
cidade para fazer compra, negócio de roupas e assim para o outro dia a gente de
tardezinha saia para ir para casa, comida era sopa, sopa de galinha, e tinha pão de
casa, manteiga de casa também, de vaca né e tinha comida muito boa, doces,
chimias que eles faziam em casa assim, meu pai soltava os cavalos quando a gente
chegava, os cavalos ficavam no campo né, tinha tudo a vontade enquanto
descarregava e aquela coisa, era isso no Treptow. (Diva Vighi Beskow, 2016).
Segundo a entrevistada, ela e o pai vinham para a cidade de carroça, trazendo alfafa
para vender, chegavam no final da tarde no hotel, descarregavam a mercadoria, jantavam e
iam dormir. Quanto à alimentação, Diva (2016) comenta que no jantar havia sopa de galinha e
nos cafés tinha pão de casa (pão caseiro) e manteiga caseira, doces e chimias também
caseiras. No dia seguinte eles iam para o centro da cidade fazer compras, e apenas no outro
dia voltavam para casa.
O Geraldo Treptow, irmão de Selma, de Osmar e de Valdemar, era médico, e, às
vezes, atendia alguns pacientes no próprio hotel. Muitas vezes os colonos não tinham
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condições de ficar na Santa Casa, ficavam no Treptow e eram atendidos por Geraldo. Os pais
do Gilberto aplicavam injeções, conforme Gilberto (2016).
O tio Geraldo era médico então era o médico do pessoal da colônia eu te contei
também que em um determinado período o hotel fico quase como um hospital não
tinha lugar e os colonos não tinham dinheiro também para pagar a Santa Casa
então os, muita gente que vinha fazer tratamento de saúde ficava hospedada lá a
minha mãe e meu pai aplicavam as injeções. (Gilberto Treptow, 2016).
Com o passar do tempo, o caminhão passou a ser usado como transporte, diminuindo a
vinda de colonos com o uso de carroças. No período das safras das granjas aumentava
consideravelmente o movimento do hotel. Na época, o corte de arroz era manual, então os
trabalhadores eram recrutados em Piratini, Canguçu e Cerrito e ficavam hospedados no Hotel
Treptow, para depois partirem para Santa Vitória do Palmar. Normalmente vinham de 20 a 60
homens.
Ai esse evolução né ai que houve o muito tempo lá com os pacientes do tio Geraldo
e tal e ai muita gente também vinha de caminhão né e ficava e tinha um outro
período de muito movimento do hotel que era o período das granjas, as granjas, o
corte do arroz era manual né com foice então vinham aqui especialmente de
Piratini, Canguçu, Cerrito né na época era Cerrito vinham de caminhão 20, 30
homens as vezes alguns com família e tal vinham pra ir lá pra Santa Vitoria para
aquele lado lá para cortar arroz para as granjas né na época da colheita do arroz
então já acertavam tinham uns que eram arregimentadores, os capatazes né eles já
marcavam, olha tal dia eu vou passa ai com 60 homens para o almoço ou então
para a janta. (Gilberto Treptow, 2016).
Percebe-se que o hotel sofreu uma evolução quanto à estrutura física e também uma
mudança de perfil dos hóspedes para se adaptar as novas necessidades, conforme afirma
Gilberto.
Então o hotel teve uma evolução né no começo era bem rustico né depois foram,
construíram os quartos e depois construíram mais uma ala de quartos, tinha o pátio
esse e depois ainda no outro lado onde tinha uns depósitos na parte os fundos que
dava para o pátio que tinham os quartos e tinha um galpão grande que o pessoal
deixava carroça e tal e com o tempo começo a vim o pessoal com caminhão [...]
(Gilberto Treptow, 2016).
Aos poucos foram construindo mais acomodações e adaptando as existentes. Foram
construídos mais quartos, depósitos e adaptado o galpão para receber caminhões ao invés de
carroças. Fritold (2016) relata sobre essas mudanças que aconteceram no galpão do hotel.
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O galpão foi feito para carroça né para carroça então depois botavam os
caminhões e assim foi indo depois a gente [...] derrubou o galpão em frente e fez um
galpão grande né no fundo para caminhão alto já ai de noite então vinham aí
naquele tempo não vinha mais carroça vinha caminhão né aí vinha lá eles ficavam
lá também né aí vinha caminhão de tudo que é lugar. (Fritold Rutz, 2016).
Quando os colonos vinham de carroça existia um galpão para que estes pudessem
guardar as suas carroças, depois quando os hóspedes começaram a vir de caminhão, Fritold
(2016) esclarece que foi necessário derrubar o antigo galpão e construir um maior em função
do tamanho dos caminhões.
Existia um acordo entre quatro hotéis que estavam em funcionamento na época, o
Hotel Krüger, o Hotel Treptow, o Hotel Ness e o Hotel Heling, sendo que “as refeições eram
tudo o mesmo preço, eles chegavam a fazer, se reunia e diz olha vamos aumentar o almoço
para tanto, o café para tanto, todos tinham a mesma tabela.” (Fritold Rutz, 2016). O grupo se
reunia para definir os valores das refeições e da hospedagem, de modo que todos mantinham
os mesmos valores.
Almoço tanto janta tanto café tanto café da tarde tanto e ainda tinha a diária por
exemplo na diária incluía tudo junto ai ficavam pessoas dois três dias na diária
então pagavam a diária não precisavam refeição então quando era uma pousada só
dormir era tanto a janta era tanto né ai era sem paga café mas ai a pessoa dizia não
eu quero só cama então ele pagava só cama né pois ai dizia outro eu quero janta
dizia cama e janta tá então vai cama e janta tudo era assim sem para (Fritold Rutz,
2016).
Todos os quatro hotéis cobravam o mesmo valor, e possuíam o mesmo estilo de hotel,
hotel colonial, como afirma Gilberto “Mesmo preço e mesmo estilo mais ou menos.”
(Gilberto Treptow, 2016).
Os ataques ao hotel no “quebra-quebra”
A década de 1940 foi marcada pela II Guerra Mundial, fato que afetou a economia de
todo o mundo, incluindo o Brasil, que entrou na guerra em agosto de 1942. Nesta data, os
imigrantes alemães e seus descendentes residentes no Brasil sofreram com a violência
causada pelos brasileiros. Neste contexto, Pelotas também foi atingida, tendo vários
estabelecimentos fechados.
No dia 18 de agosto de 1942 é noticiado em jornais que três navios mercantes
brasileiros foram afundados por submarinos do “Eixo” no litoral brasileiro. Essa notícia
desencadeou uma onda de revolta contra a comunidade germânica em diferentes regiões do
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Estado (FACHEL, 2002). No dia em que o Brasil entra na II Guerra Mundial, contra os países
do eixo (Alemanha, Itália, Japão e países satélites), notícia anunciada pelos jornais Opinião
Pública e Diário Popular, deu início a uma passeata no centro da cidade de Pelotas, conhecido
como o grande “quebra-quebra”, tendo como alvos os estabelecimentos comerciais e
residências de alemães e italianos que residiam em Pelotas.
As manifestações e depredações na cidade deram início às 48 horas de saques,
queimadas e invasão aos estabelecimentos e residências dos teuto-brasileiros. Entre estes
estabelecimentos estavam os hotéis cujos proprietários eram alemães ou descendentes.
O Hotel F. Treptow sofreu com as atrocidades do “quebra-quebra”. Em agosto de
1942 o hotel foi invadido e saqueado. A família saiu correndo e fugiu para a colônia, como é
relatado por Fritold (2016) “chegaram lá de repente assim né [...] chegaram lá para destruí
tudo saquearam roubaram o que podiam”, saquearam e queimaram a casa.
Levaram ele, a minha esposa a Selma pego ele, o Gilberto de dois anos e saiu
correndo com ele né ai eles fugiram, eles fugiram e foram lá para a chácara de um
tio né, eles pegaram lá e foram lá ai e ai esse que eu estava falando antes o capitão
Souto ele do quartel ele estava em casa e não tinha ai ouviu aquilo ele pegou do
quartel ele pegou meia dúzia de soldados que estavam lá de serviço estava de folga
e foi lá e toma conta disse, quem não se vai eu vou manda mata todo mundo, e ele
era corujão e assumiu lá boto todo mundo a corre e olha tinha botaram fogo no
deposito e eu sei que aquele dia eles tinham recebido 200 saco de linhaça de torta
de linhaça e estava na garagem a garagem ó chego, ele pegou, a chega o forro
queima uma parte grande do forro assim e ai mas eles salvaram e na lá no deposito
grande a madeira já foi salpicada com fogo mas conseguiram apaga também e ai o
soldado, o capitão tomo conta e diz, olha aqui nem entra e nem sai ninguém ai ele
entro e ele mesmo tranco com soldado e guardo ai o teu pai e não sei quem é que foi
[...] chegaram lá e ele disse não eu entrego e vocês vão toma conta agora é de vocês
qualquer coisa vocês me chamam e ai ficaram lá né ai depois começaram a
devagarzinho começaram indo novamente né. (Fritold Rutz, 2016).
Em agosto de 1942 a família Treptow fugiu para parentes na zona rural de Pelotas,
com medo dos ataques. O prejuízo só não foi maior para a família porque conseguiram fugir a
tempo e receberam auxílio do “capitão Souto” do Quartel Militar. Porém, quando o capitão
chegou já haviam botado fogo no deposito da família, deposito este que estava cheio de
linhaça, o que fez com o fogo se espalhasse rapidamente.
Depois disso, a família voltou e retomou o hotel e o armazém, e, em 1979, recebeu um
ressarcimento da guerra, pago pelo Estado, mas, que segundo Fritold e Gilberto, não valia a
pena retirar, pois o valor não era corrigido.
363
Anais do III Encontro de Pesquisas Históricas - PPGH/PUCRS.
Porto Alegre, 2016. p.352-363. < www.ephispucrs.com.br >.
Considerações finais
O Hotel Treptow funcionava nos fundos da ferragem Treptow, começando a funcionar
em 1908, através de uma sociedade entre os irmãos Fernando e Frederico Treptow. Em 1935 a
sociedade é dissolvida, ficando o hotel sob a responsabilidade de Fernando Treptow. Em 1984
o Hotel é fechado, sendo que nos últimos anos ele recebia estudantes de medicina,
funcionando como um pensionato.
O hotel possuía um total de 27 quartos, 3 banheiros. O hotel oferecia todas as
refeições. O hotel Treptow era considerado um hotel colonial, cujos hóspedes eram
principalmente os colonos. Os colonos, que não tinham condições de pagar a Santa Casa
também recebiam atendimento médico no próprio hotel pelo filho de Fernando, Geraldo
Treptow, que era médico.
O Hotel Treptow sofreu com o “quebra-quebra”, ocorrido em virtude da II Guerra
Mundial, mas conseguiu reabrir cerca de um ano depois dos ataques. As quatro famílias que
moravam no hotel fugiram de sua propriedade, ressaltando o impacto que este acontecimento
teve na história do hotel.
Referências
ALBERTI, Verena. Fontes Orais. História dentro da História. In: PINSKY, Carla Bassanezi
(org.). Fontes Orais. São Paulo: Contexto, 2005, p. 155-202.
FACHEL, José P. G. As violências contra alemães e seus descendentes, durante a
Segunda Guerra Mundial, em Pelotas e São Lourenço do Sul. Pelotas: Ed. UFPel, 2002.
LOPES, André Luís Borges. A modernização do espaço urbano em Pelotas e a
Companhia Telefônica Melhoramento e Resistência (1947-1957). 2007. (Dissertação) -
Programa de Pós-Graduação em História das Sociedades Ibéricas e Americanas. Universidade
Católica do Rio Grande do Sul. Porto Alegre – RS, 2007.
MEIHY, José Carlos Sebe B.; HOLANDA, Fabíola. História oral: como fazer, como pensar.
2.ed., 1ª reimpressão. São Paulo: Contexto, 2011.
OLIVEIRA, Elisabete Porto de. Viagem na Memória do Fragata: Estudo sobre a história e
cultura de um “bairro cidade”. 2007. 96f. Monografia (Especialização) – Programa de Pós-
Graduação em Artes. Universidade Federal de Pelotas, Pelotas – RS, 2007.