A Hora do Dragão

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  • 7/30/2019 A Hora do Drago

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    A Hora do Drago(por Robert E. Howard)

    Originalmente publicado em Weird Tales, dezembro de 1935 a abril de 1936.

    A bandeira do Leo oscila e cai na escurido cheia de horror;

    Um Drago escarlate sussurra por perto, levado sobre ventos de perdio.Os cavaleiros brilhantes jazem aos montes, onde se quebram as lanas enfiadas,E, no fundo das montanhas assombradas, os perdidos deuses negros acordam.Mos mortas tateiam nas sombras, e estrelas ficam plidas de medo,Pois esta a Hora do Drago, o triunfo do Medo e da Noite.

    1) Adormecido, Acorde!

    AS LONGAS VELAS palpitavam, fazendo as sombras negras ondularem ao longo das paredes, e astapearias de veludo se agitavam. Mas no havia vento no compartimento. Quatro homens se erguiam ao

    redor da mesa de bano, sobre a qual havia um sarcfago verde, o qual brilhava como jade entalhado. Naerguida mo direita de cada homem, uma estranha vela negra queimava com uma bizarra luz esverdeada.Era noite l fora, e um vento perdido gemia entre as rvores negras.

    Dentro da cmara, havia tenso silncio e o ondular das sombras, enquanto quatro pares de olhos, brilhandointensamente, estavam fixos na longa caixa verde, ao longo da qual hierglifos misteriosos se retorciam,como se a luz instvel lhes emprestasse vida e movimento. O homem aos ps do sarcfago se curvou sobre omesmo e moveu sua vela, como se estivesse escrevendo com uma pena, inscrevendo um smbolo mstico noar. Ento, ele desceu a vela em seu basto de ouro negro, ao p do caixo, e, murmurando alguma frmula,ininteligvel para seus companheiros, ele enfiou uma larga mo branca no robe de pele arrumada. Quando aps para fora, era como se ele segurasse, na palma da mo, uma bola de fogo vivo.

    Os outros trs prenderam rapidamente o flego, e o homem moreno e forte, que estava na cabeceira dosarcfago, sussurrou:

    - O Corao de Ahriman!

    O outro ergueu rapidamente a mo, pedindo silncio. Em algum lugar, um co comeou a uivarlugubremente, e houve um passo furtivo do lado de fora da porta gradeada e trancada. Mas ningum desviouo olhar do caixo de mmia, sobre o qual o homem em robe de pele de arminho agora movia a grande jiaflamejante, enquanto murmurava um encanto que j era velho quando a Atlntida afundou. O claro da jialhes ofuscou os olhos, de modo que no puderam ter certeza do que viram; mas, com um estrondo

    ensurdecedor, a tampa esculpida do sarcfago se abriu violentamente, como se alguma presso irresistveltivesse sido aplicada do lado de dentro, e os quatro homens, se inclinando ansiosamente para diante, viram oocupante uma forma amontoada, definhada e seca, com ressecados membros marrons, semelhantes amadeira podre, aparecendo atravs de bandagens esfareladas.

    - Trazer aquela coisa de volta?murmurou o pequeno homem moreno que se encontrava direita, com umarisada curta e sardnica capaz de se desintegrar com um toque. Somos tolos...

    - Shhh!Foi um urgente assobio de comando do homem grande que segurava a jia. Havia suor sobre sualarga testa branca, e seus olhos estavam dilatados. Inclinou-se para frente e, sem tocar a coisa com a mo,depositou a jia resplandecente sobre o peito da mmia. Ento, ele recuou e observou com intensidade feroz,os lbios se movendo numa inovao silenciosa.

    Foi como se um globo de fogo vivo se agarrasse e queimasse no peito morto e definhado. E o ar foiaspirado, num assobio, atravs dos dentes cerrados dos espectadores. Pois, enquanto assistiam, uma

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    transformao horrvel ficou evidente. A forma murcha no sarcfago estava se expandindo, crescendo, sealongando. As bandagens se romperam e tornaram p marrom. Os membros enrugados se avolumaram edesentortaram. Sua cor parda comeou a desbotar.

    - Por Mitra!sussurrou o homem alto e de cabelos amarelos esquerda Ele no era um stgio. Essa parte,pelo menos, era verdadeira.

    Mais uma vez, um dedo trmulo advertiu por silncio. O sabujo, do lado de fora, j no estava mais uivando.Ele choramingava, como se por causa de um sonho mau, e logo aquele som tambm se apagava em silncio,no qual o homem loiro ouviu claramente o esticar da porta pesada, como se alguma coisa l fora aempurrasse fortemente. Ele meio se virou, com a mo na espada, mas o homem em tnica de arminhosibilou um aviso urgente:

    - Espere! No quebre a corrente. E, pela sua vida, no v at a porta!

    O homem de cabelos amarelos se estremeceu e voltou, e logo parou bruscamente, arregalando os olhos. Nosarcfago de jade, jazia um homem vivo: um homem alto, robusto, de pele clara, com cabelos e barbaescuros. Estava imvel, seus olhos bem abertos to vazios e ignorantes quanto os de um beb recm-

    nascido. Em seu peito, a grande jia ardia e faiscava.O homem em arminho cambaleou, como se cado devido extrema tenso.

    - Ishtar!ele arfou Xaltotun! E ele est vivo! Valerius! Tarascus! Amalric! Esto vendo? Esto vendo?Vocs duvidaram de mim... mas eu no falhei! Estivemos prximos dos portes abertos do inferno estanoite, e as figuras da escurido se aglomeraram bem prximas ao nosso redor... sim, elas o seguiram at aprpria porta... mas ns trouxemos o grande feiticeiro de volta vida.

    - E, sem dvida, nos condenou eternamente aos purgatrios. murmurou o pequeno homem moreno,chamado Tarascus.

    O homem loiro, Valerius, riu asperamente:

    - Qual purgatrio pode ser pior do que a prpria vida? Assim, estamos todos condenados juntos desde onascimento. Alm disso, quem no venderia sua alma miservel por um trono?

    - No h inteligncia no olhar dele, Orastes.disse o homem grande.

    - Ele esteve morto durante muito tempo. respondeu OrastesEle est como algum recm-desperto. Suamente est vazia, aps o longo sono... no, ele estava morto, e no dormindo. Ns trouxemos seu esprito devolta, sobre os vcuos e golfos da noite e do esquecimento. Falarei com ele.

    Ele se inclinou ao p do sarcfago e, fixando o olhar nos grandes olhos negros do homem ali dentro, faloulentamente:

    - Acorde Xaltotun!

    Os lbios do homem se moveram mecanicamente.

    - Xaltotun!ele repetiu, num sussurro cegas.

    - Voc Xaltotun! exclamou Orastes, como um hipnotizador fazendo valer suas sugestes Voc Xaltotun de Python, em Acheron.

    Uma chama indistinta palpitou nos olhos escuros.

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    - Eu era Xaltotun.ele sussurrouEstou morto.

    - Voc Xaltotun!gritou OrastesVoc no est morto! Est vivo!

    - Eu sou Xaltotun. veio o sussurro estranho Mas estou morto. Na minha casa, em Khemi, na Stygia; eumorri l.

    - E os sacerdotes que lhe envenenaram mumificaram seu corpo com suas artes negras, mantendo todos osseus rgos intactos! exclamou Orastes Mas agora, voc vive novamente! O Corao de Ahrimanrestaurou sua vida, e puxou seu esprito de volta do espao e da eternidade.

    - O Corao de Ahriman!A chama da memria ficou mais forteOs brbaros o roubaram de mim!

    - Ele se lembra.murmurou OrastesLevantem-no do caixo.

    Os outros obedeceram hesitantes, como se relutantes em tocarem no homem que haviam recriado, e suasmentes no pareciam muito sossegadas quando eles lhe sentiram a firme carne musculosa, vibrante desangue e vida, sob seus dedos. Mas eles o ergueram sobre a mesa, e Orastes o vestiu com uma curiosa toga

    de veludo escuro, salpicada de estrelas douradas e luas crescentes, e lhe firmou uma faixa de tecido douradoao redor de suas tmporas, prendendo as negras madeixas onduladas que lhe caam at os ombros. Ele osdeixou fazer como quisessem sem dizer nada, nem mesmo quando o sentaram numa cadeira entalhada, emforma de trono, com um alto encosto de bano, largos braos de prata e ps que pareciam garras douradas.Ele ficou l, imvel, e lentamente a inteligncia cresceu em seus olhos escuros e os tornou estranhos eluminosos. Era como se luzes de magia negra, h muito submersas, flutuassem lentamente, vindas de poosde escurido meia-noite.

    Orastes olhou furtivamente para seus companheiros, que olhavam fixamente, em fascinao mrbida, paraseu estranho convidado. Seus nervos de ferro haviam suportado uma provao capaz de enlouquecer homensmais fracos. Ele sabia que no havia conspirado ao lado de pessoas fracas, mas de homens cuja coragem era

    to profunda quanto suas ambies ilegais e capacidade para o mal. Ele voltou sua ateno para a figura nacadeira preta de bano.

    - Eu me lembro. ele disse numa voz forte e ressonante, falando o Nemdio com um sotaque estranho earcaico Eu sou Xaltotun, que era um alto sacerdote de Set em Python, a qual ficava em Acheron. OCorao de Ahriman... Eu sonhei que o havia reencontrado... onde ele est?

    Orastes o colocou em sua mo, e ele inspirou profundamente, enquanto olhava para as profundezas daterrvel jia que ardia em seu domnio.

    - Eles o roubaram de mim, h muito tempo.ele disseEle o corao vermelho da noite, forte para salvar

    ou condenar. Ele veio de longe, e de muito tempo atrs. Enquanto eu o possu, ningum era capaz de se opora mim. Mas ele me foi roubado, Acheron caiu e eu fugi para me exilar na sombria Stygia. Lembro-me demuita coisa, mas de muita coisa eu havia esquecido. Estive numa terra distante, atravs de vcuos nebulosos,golfos e oceanos sem luz. Que ano este?

    Orastes o respondeu:

    - Este o final do Ano do Leo, 3000 anos aps a queda de Acheron.

    - Trs mil anos!murmurou o outroTanto tempo? Quem so vocs?

    - Sou Orastes outrora um sacerdote de Mitra. Este homem Amalric, baro de Tor, na Nemdia; este outro Tarascus, irmo mais velho do rei da Nemdia; e este homem alto Valerius, herdeiro legtimo do trono daAquilnia.

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    - Por que me deram a vida?indagou XaltotunO que exigem de mim?

    O homem agora estava completamente vivo e acordado, seus olhos agudos refletindo o trabalho de umcrebro lmpido. No havia hesitao ou incerteza em seus modos. Ele foi direto ao ponto, como algum quesabe que nenhum homem d alguma coisa em troca de nada. Orastes lhe respondeu com a mesma franqueza:

    - Ns abrimos as portas do inferno esta noite, para libertarmos sua alma e traz-la de volta ao seu corpo,porque precisamos de sua ajuda. Desejamos pr Tarascus no trono da Nemdia, e obtermos a coroa daAquilnia para Valerius. Com sua necromancia, voc pode nos ajudar.

    O pensamento de Xaltotun estava errante e cheio de pontos de vista inesperados.

    - Voc deve ser perspicaz em suas artes, Orastes, para ter tido a capacidade de restaurar minha vida. Comopode um sacerdote de Mitra saber do Corao de Ahriman e dos encantamentos de Skelos?

    - No sou mais um sacerdote de Mitra. respondeu Orastes Fui expulso de minha ordem, por causa deminhas pesquisas sobre magia negra. Se no fosse por Amalric ali, eu teria sido queimado como bruxo.

    Mas aquilo me deixou livre para me dedicar aos meus estudos. Viajei por Zamora, Stygia e por entre asselvas assombradas de Khitai. Li os livros, encadernados a ferro, de Skelos, e conversei com criaturasinvisveis em poos profundos e com vultos sem rosto em negras selvas malcheirosas. Obtive um vislumbrede seu sarcfago, nas criptas assombradas por demnios, sob o negro templo, de muros gigantescos, de Set,no interior da Stygia, e aprendi as artes que trariam a vida de volta ao seu cadver enrugado. Atravs demanuscritos amassados, eu soube do Corao de Ahriman. Ento, durante um ano, procurei seu esconderijoe finalmente o achei.

    - Ento, por que se preocupou em me trazer de volta vida? indagou Xaltotun, com o olhar penetrante fixono sacerdotePor que voc no empregou o Corao de Ahriman para favorecer seu prprio poder?

    - Porque nenhum homem hoje conhece os segredos do Corao.respondeu OrastesAs artes para libertarcompletamente seus poderes no existem sequer em lendas. Eu sabia que ele poderia restaurar a vida; mas,de seus segredos mais profundos, eu sou ignorante. Eu o usei meramente para lhe trazer de volta vida. ouso do seu conhecimento que procuramos. Quanto ao Corao, s voc conhece seus segredos terrveis.

    Xaltotun sacudiu a cabea, mirando pensativo, as profundezas flamejantes.

    - Meu conhecimento de feitiaria maior que a soma de todo o conhecimento de outros homens ele disse; mas no conheo todo o poder da jia. Eu no invoquei nos velhos dias; eu a guardei, para que no fosseusada contra mim. Por fim, foi roubada e, nas mos de um xam emplumado dos brbaros, ela derrotou todaa minha poderosa feitiaria. Ento, ela desapareceu, e eu fui envenenado pelos sacerdotes invejosos da

    Stygia, antes que pudesse saber onde estava escondida.

    - Estava escondida numa caverna sob o templo de Mitra, em Tarantia. disse Orastes Descobri isto pormeios indiretos, aps ter localizado seus restos no templo subterrneo de Set, na Stygia.

    Ladres zamorianos, parcialmente protegidos por encantamentos que aprendi de fontes que melhor nemmencionar, roubaram seu caixo de sob as prprias garras daqueles que o guardavam na escurido e, atravsde caravana de camelos, gal e carro de boi, ele finalmente chegou a esta cidade.

    Aqueles mesmos ladres... ou melhor, aqueles que ainda viviam aps sua terrvel busca... roubaram oCorao de Ahriman de sua caverna assombrada sob o templo de Mitra, e toda a habilidade dos homens e osencantamentos dos feiticeiros quase falharam. Um daqueles homens viveu o suficiente para me alcanar eentregar a jia em minhas mos, antes que morresse, falando penosa e confusamente sobre o que tinha vistonaquela cripta amaldioada. Os ladres de Zamora so os homens mais confiveis em seus trabalhos.

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    Mesmo com minhas invocaes, ningum alm deles conseguiria roubar o Corao de onde ele jazia, numaescurido guardada por demnios desde a queda de Acheron, h 3000 anos.

    Xaltotun ergueu sua cabea leonina e fixou o olhar para longe, no espao, como que sondando os sculosperdidos.

    - Trs mil anos!ele murmurouPor Set! Diga-me o que mudou no mundo.

    - Os brbaros que destruram Acheron construram novos reinos.disse OrastesOnde outrora se estendiao imprio, agora se ergueram reinos, chamados Aquilnia, Nemdia e Argos, das tribos que os fundaram. Osreinos mais antigos, de Ophir, Corinthia e Koth ocidental, que estiveram sujeitos aos reis de Acheron,recuperaram sua independncia com a queda do imprio.

    - E quanto ao povo de Acheron? interrogou Xaltotun Quando fugi para a Stygia, Python estava emrunas, e todas as grandes cidades, de torres prpuras, de Acheron estavam sujas de sangue e pisadas pelassandlias dos brbaros.

    - Nas colinas, pequenos grupos de pessoas ainda se orgulham de descenderem de Acheron. respondeu

    OrastesQuanto ao restante, a mar dos meus ancestrais brbaros rolou sobre eles e os apagou. Eles... meusancestrais... haviam sofrido muito sob os reis de Acheron.

    Um sorriso sombrio e terrvel curvou os lbios do pythoniano.

    - Sim! Muitos brbaros, tanto homens quanto mulheres, morreram gritando no altar, sob esta mo. J vi suascabeas empilhadas para formarem uma pirmide, na grande praa de Python, quando os reis voltavam dooeste com seu esplio e escravos nus.

    - Sim. E, quando chegou o dia do acerto de contas, a espada no foi poupada. Assim, Acheron deixou deexistir, e Python das torres prpuras se tornou uma lembrana de dias esquecidos. Mas os reinos mais jovens

    se ergueram sobre as runas imperiais, e cresceram grandemente. E agora, lhe trouxemos de volta para nosajudar a governar esses reinos, os quais, embora menos estranhos e maravilhosos que a velha Acheron, aindaso ricos e poderosos, e dignos de se lutar por eles. Veja!

    Orastes desenrolou, diante do estranho, um mapa habilmente desenhado em pergaminho.

    Xaltotun o olhou, e ento sacudiu a cabea, perplexo.

    - Os prprios contornos da terra esto mudados. como algo familiar visto num sonho, fantasticamentedistorcido.

    - Seja como for respondeu Orastes, apontando com o dedo indicador , esta Belverus, a capital daNemdia, na qual estamos agora. Aqui correm as fronteiras da terra da Nemdia. Ao sul e sudeste, estoOphir e Corinthia; a leste, a Britnia, e a oeste, a Aquilnia.

    - o mapa de um mundo que no conheo. disse Xaltotun suavemente, mas Orastes no deixou deperceber o fogo sinistro de dio que palpitou naqueles olhos escuros.

    - um mapa que voc nos ajudar a mudar. respondeu OrastesNosso desejo colocar Tarascus no tronoda Nemdia. Gostaramos de realizar isto sem luta, e de uma forma que no deixe cair suspeita sobreTarascus. No desejamos que a terra seja dividida por guerras civis, e sim reservar todo nosso poder para aconquista da Aquilnia.

    Se o Rei Nimed e seus filhos morrerem naturalmente, de uma epidemia por exemplo, Tarascus assumir otrono como o prximo herdeiro, pacificamente e sem oposio.

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    Xaltotun acenou com a cabea, sem responder, e Orastes continuou:

    - A outra tarefa ser mais difcil. No podemos pr Valerius no trono aquiloniano sem uma guerra, e aquelereino um inimigo formidvel. Seu povo uma raa vigorosa e guerreira, enrijecida por guerras contnuascom os pictos, zngaros e cimrios. Por 500 anos, Aquilnia e Nemdia tm guerreado intermitentemente, ea vantagem final sempre ficou com os aquilonianos.

    Seu rei atual o guerreiro mais ilustre entre as naes ocidentais. Ele um estrangeiro, um aventureiro quese apoderou da coroa fora, durante uma poca de guerra civil, estrangulando o Rei Namedides com suasprprias mos, sobre o prprio trono. Seu nome Conan, e nenhum homem capaz de resistir a ele embatalha.

    Valerius hoje o herdeiro legtimo do trono. Ele fora mandado para o exlio por seu parente da realeza,Namedides, e ficou longe de seu reino nativo durante anos, mas ele do sangue da velha dinastia, e muitosbares dariam boas-vindas derrota de Conan, que um ningum, sem sangue real e nem sequer sanguenobre. Mas as pessoas comuns so leais a ele, assim como a nobreza das provncias distantes. Mas, se asforas dele forem derrotadas na batalha que deve acontecer primeiro, e o prprio Conan for morto, acho queno seria difcil pr Valerius no trono. De fato, com Conan morto, o nico centro de governo desapareceria.

    Ele no parte de uma dinastia, mas apenas um aventureiro solitrio. - Eu gostaria de poder ver este rei. refletiu Xaltotun, olhando em direo a um espelho de prata, o qualformava um dos enfeites da parede. Este espelho no tinha reflexo, mas a expresso de Xaltotun mostravaque ele entendia o propsito do mesmo; e Orastes acenou com a cabea, com o orgulho que um artfice sentediante do reconhecimento de seu talento por parte de um mestre de seu ofcio.

    - Tentarei mostr-lo para voc.ele disse. E, se sentando diante do espelho, olhou hipnoticamente para suasprofundezas, onde logo depois uma vaga sombra comeou a tomar forma.

    Era estranho, mas aqueles que assistiam sabiam que no era mais que o reflexo da imagem do pensamento

    de Orastes, corporificado naquele espelho, como os de um mago num cristal mgico. Flutuou vagamente, elogo adquiriu, de forma brusca, uma surpreendente clareza: um homem alto, de ombros poderosos e peitoprofundo, com um slido pescoo musculoso e ombros densamente musculosos. Estava vestido em seda eveludo, com os lees reais da Aquilnia bordados a ouro sobre a rica jaqueta, e a coroa da Aquilniabrilhava em sua negra cabeleira de corte reto; mas a grande espada ao seu lado lhe parecia mais natural quesuas vestimentas reais. Sua testa era baixa e larga, e seus olhos de um azul vulcnico que ardia como se comalgum fogo interno. Seu rosto moreno, cicatrizado e quase sinistro era o de um guerreiro, e sua roupa develudo no conseguia esconder as linhas firmes e perigosas de seus membros.

    - Esse homem no hiboriano!exclamou Xaltotun.

    - No; ele um cimrio, um daqueles selvagens homens tribais, que vivem nas colinas cinzentas do norte.

    - Lutei contra seus ancestrais h muito tempo. murmurou Xaltotun Nem mesmo os reis de Acheronconseguiram conquist-los.

    - Eles ainda so um terror para as naes do sul. respondeu Orastes um verdadeiro filho daquela raaselvagem, e ele prprio provou ser, deste modo, inconquistvel.

    Xaltotun no respondeu; ele ficou olhando para dentro do poo de fogo vivo que tremeluzia em sua mo. Dolado de fora, o co de caa uivou novamente, de forma longa e estremecedora.

    2) Sopra um Vento Negro

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    O ANO DO DRAGO nasceu em guerra, pestilncia e agitao. A praga negra caminhou pelas ruas deBelverus, derrubando o mercador em seu estbulo, o escravo em seu canil e o cavaleiro em sua mesa debanquete. Diante dela, as habilidades das sanguessugas foram ineficazes. Os homens disseram que ela haviasido mandada do inferno, como punio para os pecados do orgulho e da luxria. Era to rpido e mortferoquanto o ataque de uma vbora. O corpo da vtima ficava prpuro e logo depois, negro e, em poucosminutos, ela caa moribunda, e o cheiro de putrefao j lhe estava nas prprias narinas, antes mesmo que amorte lhe arrancasse a alma de seu corpo apodrecido. Um vento quente e urrante soprava incessantementedo sul, a colheita murchava nos campos, e o gado caa e morria em suas estradas.

    Homens clamavam por Mitra e murmuravam contra o rei; pois, de alguma forma, era sussurrada, por todo oreino, a notcia de que o rei se dedicava secretamente a prticas repugnantes e orgias srdidas na solido deseu palcio noite. E logo, naquele palcio, a morte caminhou, com um sorriso largo e a p, sobre aquiloque fazia remoinhar os vapores monstruosos da praga. Numa noite, o rei morreu com seus trs filhos, e ostambores, que lhes ribombavam o canto fnebre, abafaram os sinos sombrios e agourentos que tocavam dascarroas, as quais se moviam pesadamente pelas ruas, recolhendo os mortos podres.

    Naquela noite, logo antes do amanhecer, o vento quente, que havia soprado durante semanas, parou desussurrar perversamente pelas janelas de cortinas de seda. Do norte, se ergueu um grande vento, que rugiu

    por entre as torres, e houve trovo cataclsmico, relmpagos cegantes e chuva torrencial. Mas a aurorabrilhou limpa, verde e clara; o solo chamuscado se cobriu de capim, as frutas e cereais sedentos se ergueramnovamente, e a praga se foiseu miasma foi varrido da terra pelo forte vento.

    Disseram que os deuses estavam satisfeitos, porque o rei maligno e seus filhos foram mortos, e, quando seuirmo mais jovem, Tarascus, foi coroado no grande salo de coroao, a populao deu vivas at as torresestremecerem, aclamando o monarca para quem os deuses sorriram.

    Tal onda de entusiasmo e jbilo, a varrer a terra, freqentemente o sinal para uma guerra de conquista.Assim, ningum ficou surpreso quando foi anunciado que o Rei Tarascus havia declarado vazia a trgua,feita pelo ltimo rei com seus vizinhos ocidentais, e estava reunindo suas hostes para invadir a Aquilnia.

    Sua razo era imparcial; seus motivos, proclamados em voz alta, dourando suas aes com algo dodeslumbramento de uma cruzada. Ele exps a causa de Valerius, herdeiro legtimo do trono; ele veio proclamou , no como um inimigo da Aquilnia, mas como um amigo, para libertar o povo da tirania deum usurpador e um estrangeiro.

    Se houve sorrisos cnicos em certos locais, e sussurros a respeito do bom amigo do rei, Amalric, cuja vastariqueza pessoal parecia estar fluindo para o esvaziado tesouro real, isso passou despercebido dentro da ondageral de fervor e entusiasmo da popularidade de Tarascus. Se alguns indivduos perspicazes suspeitaram queAmalric fosse o verdadeiro governante da Nemdia, por trs de Tarascus, eles foram cuidadosos o suficientepara no enunciarem tal heresia. E a guerra foi adiante, com entusiasmo.

    O rei e seus aliados se moveram para oeste, frente de 50 mil homens: cavaleiros em armaduras brilhantes,com suas flmulas ondulando acima de seus elmos; piqueiros em capas de ao e brigantinas, e atiradores debalestras, usando gibes de couro. Eles cruzaram a fronteira, tomaram um castelo ali, queimaram trs aldeiasdas montanhas e ento, no vale do Valkia, 16 km a oeste da linha fronteiria, eles encontraram as hostes deConan, rei da Aquilnia: 44 mil cavaleiros, arqueiros e soldados de cavalaria fortemente armadosa nata dafora e cavalaria aquiloniana. Apenas os cavaleiros de Poitain, sob o comando de Prospero, ainda nohaviam chegado, pois ainda tinham muito que cavalgarem desde o canto sudoeste do reino. Tarascus haviaatacado sem aviso. Sua invaso havia chegado aos calcanhares de sua proclamao, sem declarao formalde guerra.

    As duas hostes confrontaram uma outra atravs de um vale largo e raso, com penhascos speros e um rioraso, serpenteando por grandes quantidades de juncos e salgueiros, pelo meio do vale. Os acompanhantescivis de ambos os exrcitos desceram at o riacho, em busca de gua, gritando insultos e lanando pedrasuns aos outros. Os ltimos lampejos do sol brilhavam na bandeira dourada da Nemdia, com seu dragoescarlate, desdobrada ao sabor da brisa, sobre a barraca do Rei Tarascus, numa elevao prxima aos

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    penhascos orientais. Mas a sombra dos penhascos ocidentais caa como uma vasta mortalha vermelha sobreas tendas e exrcito da Aquilnia, e sobre a bandeira negra com seu leo dourado, que pairava sobre a tendado Rei Conan.

    Por toda a noite, as fogueiras brilharam pela extenso do vale, e o vento trazia o chamado das trombetas, oclangor das armas e os agudos pedidos de senhas s sentinelas, que percorriam a cavalo ambas as margensdo riacho cheio de salgueiros.

    Foi na escurido antes do amanhecer, que o Rei Conan se moveu agitadamente em seu leito, que no eramais do que uma pilha de sedas e peles lanadas sobre um estrado, e acordou. Ele se ergueu, com um gritoagudo e agarrando a espada. Seu comandante, Pallantides, correndo em direo ao grito, viu o rei sentado eereto, com a mo no cabo da espada e o suor lhe pingando do rosto estranhamente plido.

    - Majestade!exclamou PallantidesH algo errado?

    - Como est o acampamento?indagou ConanOs guardas esto l fora?

    - Quinhentos homens vigiam o riacho, Majestade. respondeu o general Os nemdios no tentaram se

    mover contra ns na noite. Eles esperam o amanhecer, assim como ns.- Por Crom. murmurou ConanAcordei com a sensao de que a runa estava rastejando sobre mim nanoite.

    Ele ergueu o olhar para o grande lampio dourado, que derramava um brilho suave sobre as cortinas etapetes de veludo da grande tenda. Estavam ss; nem mesmo um escravo ou pajem dormia no choatapetado; mas os olhos de Conan resplandeciam como estavam acostumados a resplandecer nas presas deum grande perigo, e a espada lhe vibrava na mo. Pallantides o observava inquieto. Conan parecia estarescutando algo.

    - Oua!sibilou o reiVoc ouviu? Um passo furtivo!

    - Sete cavaleiros guardam sua tenda, Majestade. disse Pallantides Ningum conseguiria se aproximardela, sem chamar a ateno.

    - No vindo de fora.rosnou ConanParecia soar dentro da tenda.

    Pallantides deu uma olhada rpida e sobressaltada ao redor. As cortinas de veludo se misturavam s sombrasnos cantos, mas, se houvesse mais algum na barraca alm deles, o general teria visto. Mais uma vez, elesacudiu a cabea:

    - No h ningum aqui, com certeza. Voc est dormindo em meio ao seu exrcito.

    - J vi a morte atacar um rei no meio de milhares. murmurou Conan Algo que caminha sobre psinvisveis e no visto...

    - Talvez voc estivesse sonhando, Majestade.disse Pallantides, um tanto perturbado.

    - Eu estava.grunhiu ConanE era um sonho demonaco. Caminhei novamente pelas longas e cansativasestradas, nas quais viajei em meu caminho para a realeza.

    Ele ficou em silncio, e Pallantides olhou calado para ele. O rei era um enigma para o general, assim comopara muitos de seus sditos civilizados. Pallantides sabia que Conan havia andado por muitas estradasestranhas, em sua vida selvagem e agitada, e que ele havia sido muitas coisas, antes que um capricho doDestino o colocasse no trono da Aquilnia.

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    - Eu vi novamente o campo de batalha onde nasci. disse Conan, descansando, de forma taciturna, o queixosobre o punho slidoEu me vi novamente usando uma tanga de pele, e atirando minha lana nas feras dasmontanhas. Fui um espadachim mercenrio novamente; um hetman dos kozakis, que moram ao longo doRio Zaporoska; um corsrio, saqueando a costa de Kush, um pirata das Ilhas Barachas e um chefe doshimelianos das colinas.

    Mas, atravs de meus sonhos, se moviam figuras estranhas e veladas, e sombras fantasmagricas; e umavoz distante zombava de mim. E, perto desta ltima, eu parecia ver a mim mesmo, deitado neste estrado emminha tenda, e uma figura se curvava sobre mim, usando um manto e um capuz. Eu estava deitado, incapazde me mover, e ento o capuz caiu, e uma caveira esfarelada sorriu para mim. Logo acordei.

    - Isto um pesadelo, Majestade.disse Pallantides, reprimindo um tremorE nada mais.

    Conan sacudiu a cabea, mais em dvida que em negao. Ele vinha de uma raa brbara, e as supersties einstintos de sua herana se escondiam logo abaixo da superfcie de sua conscincia.

    - J tive muitos pesadelos ele disse, e muitos deles no tinha significado. Mas, por Crom, este no eracomo a maioria dos sonhos! Desejo que esta batalha seja lutada e vencida, pois tenho tido uma premonio

    medonha desde que o Rei Nimed morreu da praga negra. Por que ela cessou quando ele morreu?- Os homens dizem que ele pecava...

    - Os homens so sempre idiotas. grunhiu ConanSe a praga atacasse todos os que pecaram, ento, porCrom, no sobraria o suficiente para contar os vivos! Por que iriam os deuses... os quais os sacerdotes medizem serem justos... matar 500 camponeses, mercadores e nobres, antes de matarem o rei, se toda a pesteera dirigida para ele? Estariam os deuses golpeando cegamente, como espadachins num nevoeiro? Por Mitra,se eu no dirigisse meus golpes corretamente, a Aquilnia teria tido um novo rei h muito tempo.

    No! A praga negra no uma peste comum. Ela se oculta em tumbas stgias, e s trazida vida por

    feiticeiros. Eu era um espadachim no exrcito do Prncipe Almuric, que invadiu a Stygia; e, de seus 30 mil,15 mil foram mortos por flechas stgias, e o restante, pela praga negra que rolou sobre ns como um ventovindo do sul. Fui o nico homem que escapou vivo.

    - Mas s 500 morreram na Nemdia.argumentou Pallantides.

    - Quem quer que a tenha chamado, sabia como interromp-la vontade. respondeu ConanDesse modo,sei que havia algo planejado e diablico ao redor dela. Algum a conjurou, algum a baniu quando otrabalho estava completo... quando Tarascus estava seguro no trono, e sendo saudado como aquele quelibertou o povo da ira dos deuses. Por Crom, eu sinto um crebro negro e astuto por trs de tudo isto. Equando a este estranho, os quais dizem dar conselhos a Tarascus?

    - Ele usa um vurespondeu Pallantides; dizem que um estrangeiro, um forasteiro vindo da Stygia.

    - Um forasteiro vindo da Stygia!repetiu Conan, franzindo a testaUm forasteiro vindo do inferno maisprovvel... H! O que isso?

    - As trombetas dos nemdios! exclamou Pallantides E oua como as nossas trombetas tocam sobre oscalcanhares deles! A aurora est irrompendo, e os capites esto enfileirando os exrcitos para o ataque!Mitra esteja com eles, pois muitos no vero o sol se pr atrs dos penhascos.

    - Mande meus escudeiros para mim!exclamou Conan, se levantando alegremente e tirando suas roupas dedormir; ele parecia ter esquecido seus pressentimentos diante da perspectiva de ao Dirija-se aos capitese veja se todos esto prontos. Estarei com voc, assim que eu vestir minha armadura.

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    Muitas das maneiras de Conan eram inexplicveis para o povo civilizado ao qual ele governava, e uma delasera sua insistncia em dormir sozinho no seu quarto ou tenda. Pallantides saiu apressadamente da tenda,fazendo retinir a armadura que vestira meia-noite, aps poucas horas de sono. Ele olhou rapidamente parao acampamento, o qual comeava a fervilhar em atividade, com malhas metlicas tinindo e homens semovendo quase vagamente na luz precria, por entre as longas fileiras de tendas. As estrelas ainda brilhavamfracamente na parte ocidental do cu, mas longas flmulas rosa se estendiam ao longo do horizonte leste e,destacada contra elas, a bandeira do drago da Nemdia desdobrava suas encapeladas pregas de seda.

    Pallantides se dirigiu a uma tenda menor, perto dali, onde dormiam os escudeiros reais. Estes j estavamtombando para fora, acordados pelas trombetas. E, quando Pallantides lhes gritava para se apressarem, eleficou mudo e congelado por um intenso grito feroz e pelo impacto de um golpe pesado, dentro da tenda dorei, seguido pelo estrondo, de parar o corao, da queda de um corpo. L, soou uma risada baixa quetransformou o sangue do general em gelo.

    Ecoando o grito, Pallantides girou e correu de volta tenda. Ele gritou novamente, ao ver a figura poderosade Conan estirada no tapete. A grande espada, de cabo longo, do rei jazia prxima sua mo, e uma estacadespedaada da tenda parecia mostrar onde sua espada havia cado. Pallantides desembainhou a prpriaespada, e olhou ferozmente ao redor da tenda, mas nada viu. Exceto pelo rei e ele mesmo, ela estava vazia,

    como havia estado quando ele a deixou.- Majestade!Pallantides lanou-se sobre o prprio joelho, ao lado do gigante cado.

    Os olhos de Conan estavam abertos; resplandeciam para ele em total inteligncia e conhecimento. Seuslbios se torciam, mas no saa nenhum som. Ele parecia incapaz de se mexer.

    Vozes soavam l fora. Pallantides se ergueu rapidamente e caminhou at a porta. Os escudeiros reais, e umdos cavaleiros que guardavam a tenda, estavam ali.

    - Ouvimos um barulho a dentro.disse o cavaleiro, com ar de quem pede desculpasEst tudo bem com o

    rei?

    Pallantides o olhou de forma indagadora:

    - Ningum entrou ou saiu da tenda real esta noite?

    - Ningum, exceto voc mesmo, mi lorde. respondeu o cavaleiro, e Pallantides no pde duvidar de suahonestidade.

    - O rei tropeou e deixou a espada cair.disse brevemente PallantidesRetorne ao seu posto.

    Enquanto o cavaleiro se afastava o general disfaradamente gesticulou para os cinco escudeiros reais e,quando estes o seguiram, ele puxou firmemente a cortina que fechava a entrada. Eles ficaram plidos aoverem o rei estendido sobre o tapete, mas um rpido gesto de Pallantides lhes interrompeu as exclamaes.

    O general se curvou sobre ele novamente e, mais uma vez, Conan se esforou para falar. As veias em suastmporas e os tendes em seu pescoo inchavam com seus esforos, e ele levantou completamente a cabeado cho. Finalmente, a voz chegou murmurante e meio inteligvel:

    - A coisa... a coisa no canto!

    Pallantides ergueu a cabea e olhou temeroso ao redor. Ele viu os rostos plidos dos escudeiros luz dolampio e as sombras de veludo que se ocultavam ao longo das paredes da tenda. Era tudo.

    - No h nada aqui, Majestade.disse ele.

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    - Estava ali, no canto. murmurou o rei, lanando sua cabea com juba leonina de um lado a outro, em seusesforos para se levantarUm homem... pelo menos, parecia um homem... envolto em farrapos semelhantesa bandagens de mmia, com um manto esfarelado ao redor dele, e um capuz. Tudo que pude ver foram seusolhos, enquanto ele se agachava ali, nas sombras. Pensei que ele prprio fosse uma sombra, at ver seusolhos. Eram como jias negras.

    Fui at ele e brandi minha espada, mas errei completamente o alvo... s Crom sabe como... e s corteiaquela estaca. Ele agarrou meu punho quando perdi o equilbrio, e meus dedos queimaram como ferroquente. Toda a fora me escapou, e o cho se ergueu e me golpeou como um porrete. Ento, ele foi embora,fiquei cado e... maldito seja ele!... no consigo me mover! Estou paralisado!.

    Pallantides levantou a mo do gigante, e sua pele se arrepiou. No punho do rei, apareciam as marcas azuis delongos dedos finos. Qual mo poderia agarrar to forte, a ponto de deixar sua marca naquele punho grosso?Pallantides se lembrou daquela risada baixa, que ouvira enquanto corria para dentro da tenda, e o suor friolhe brotou da pele. No havia sido Conan quem rira.

    - Isto uma coisa diablica!sussurrou um escudeiro trmulo Dizem que os filhos das trevas lutam porTarascus!

    - Silncio!ordenou severamente Pallantides.

    L fora, o amanhecer obscurecia as estrelas. Um vento leve se erguia dos picos, e trazia uma fanfarra de miltrombetas. Diante daquele som, um tremor convulsivo percorreu a estrutura poderosa do rei. Mais uma vez,as veias em suas tmporas se emaranharam, quando ele se esforou para quebrar os grilhes invisveis que oesmagavam.

    - Ponham minha armadura e me amarrem sela. ele sussurrouAinda vou liderar o ataque!

    Pallantides sacudiu a cabea, e um escudeiro lhe puxou uma aba da roupa.

    - Mi lorde estaremos perdidos se os exrcitos souberem que o rei foi derrubado! Somente ele pode nosliderar vitria hoje.

    - Ajudem-me a ergu-lo sobre o estrado. respondeu o general.

    Eles obedeceram, colocaram o gigante indefeso sobre as peles, e puseram um manto de seda sobre ele.Pallantides se voltou para os cinco escudeiros e lhes examinou os rostos plidos, bem antes de falar.

    - Nossos lbios devem estar selados para sempre, sobre o que est acontecendo nesta tenda. ele finalmentedisseO reino da Aquilnia depende disto. Um de vocs v e me traga o oficial Valannus, que um capito

    dos lanceiros pellianos.

    O escudeiro indicado se curvou numa reverncia e apressou-se para fora da tenda, e Pallantides ficouolhando para o rei cado, enquanto, do lado de fora, trombetas estrondeavam, tambores ribombavam, e orugido das multides se erguia na aurora crescente. Logo, o escudeiro retornou com o oficial a quemPallantides havia mencionado um homem alto, largo e poderoso, com constituio muito semelhante dorei. Assim como este, ele tambm tinha abundantes cabelos negros. Mas seus olhos eram cinza, e ele notinha as feies semelhantes s de Conan.

    - O rei foi atacado por uma estranha doena. disse brevemente PallantidesVoc ter uma grande honra;vestir a armadura dele e cavalgar frente do exrcito hoje. Ningum deve saber que no o rei quemcavalga.

    - uma honra pela qual um homem daria alegremente a vida.gaguejou o capito, dominado pela sugestoMitra permita que eu no falhe nesta grande responsabilidade!

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    E, enquanto o rei cado mirava fixamente, com olhos ardentes que refletiam a amarga humilhao e friaque lhe comiam o corao, os escudeiros despiram a cota-de-malha de Valannus, assim como o capacete eprotees para as pernas, e o vestiram com a armadura de Conan, de malha com placas pretas, com ocapacete com visor e as plumas escuras se inclinando sobre a crista em forma de drago. Sobre tudo isso,colocaram o manto de seda com o leo real trabalhado a ouro sobre o peito; e puseram nele um largo cintocom fivela dourada, capaz de suportar uma espada larga com o cabo enfeitado de jias e numa bainhafolheada a ouro. Enquanto eles trabalhavam, as trombetas clamavam l fora, armas retiniam e, de um lado aoutro do rio, se erguia um rugido gutural, enquanto esquadro aps esquadro se dirigia ao seu lugar.

    Totalmente blindado, Valannus se curvou sobre um dos joelhos e inclinou suas plumas diante da figura quejazia sobre o estrado.

    - Senhor rei, Mitra permita que eu no desonre a armadura que visto hoje!

    - Traga-me a cabea de Tarascus, e eu farei de voc um baro! Na tenso de seu tormento, o verniz decivilizao de Conan havia cado dele. Seus olhos queimavam, e ele rangia os dentes em fria e sede desangue, to brbaro quanto quaisquer homens tribais das colinas cimrias.

    3) Os Penhascos Cambaleiam

    O EXRCITO AQUILONIANO estava parado, com longas fileiras cerradas de piqueiros e cavaleiros emao brilhante, quando uma figura gigante em armadura negra saiu da tenda real; e, quando ele montou nasela do garanho negro, seguro por quatro escudeiros, um rugido de sacudir as montanhas se ergueu doexrcito. Eles sacudiram suas lminas e trovejaram sua aclamao ao seu rei-guerreiro cavaleiros emarmadura lavrada a ouro, piqueiros em cotas-de-malha e capacetes com viseiras, e arqueiros vestidos emseus gibes de couro, com seus longos arcos em suas mos esquerdas.

    O exrcito no lado oposto do rio estava em movimento, descendo a trote pela suave inclinao em direoao rio; o ao deles brilhava atravs das nvoas matinais, que rodopiavam ao redor das patas de seus cavalos.

    A hoste aquiloniana se movia sem pressa, para encontr-los. Os passos regulares dos cavalos blindadosfaziam o cho tremer. Bandeiras desdobravam longas pregas de seda ao vento da manh; lanas oscilavamcomo uma floresta eriada, inclinadas e com suas flmulas lhes esvoaando ao redor.

    Dez soldados fortemente armados veteranos sombrios e taciturnos capazes de controlar suas lnguas guardavam a tenda real. Havia um escudeiro dentro da tenda, espiando o lado de fora atravs de uma fendana entrada. Exceto pelos poucos que guardavam segredo, ningum mais, na vasta hoste, sabia que no eraConan quem cavalgava, no grande garanho frente do exrcito.

    A hoste aquiloniana havia assumido a formao costumeira: a parte mais forte era o centro, inteiramentecomposto por cavaleiros pesadamente armados; as alas eram compostas por grupos menores de cavaleiros epor soldados fortemente armados, quase todos, sustentados por piqueiros e arqueiros. Estes ltimos erambossonianos das fronteiras ocidentais, homens fortemente constitudos, de estatura mediana e usando

    jaquetas de couro e protees de ferro para as cabeas.

    O exrcito nemdio avanava em formao similar, e as duas hostes se moviam em direo ao rio, as alas frente dos centros. No centro do exrcito aquiloniano, a grande bandeira do leo desdobrava suas ondulantespregas negras sobre a figura vestida de ao que montava no garanho negro.

    Mas, em seu estrado na tenda real, Conan gemia em grande aflio de esprito, e praguejava com estranhasblasfmias pags.

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    - As hostes se movem juntas. disse o escudeiro, olhando da porta Oua o repique das trombetas! Ah! Osol nascente se reflete nas pontas das lanas e nos capacetes, at me ofuscar. Ele deixa o rio escarlate... sim,ele ficar realmente escarlate antes que este dia acabe!

    O inimigo alcanou o rio. Agora as flechas voam entre as hostes, como nuvens de ferres que escondem osol. Ah! Bem atirada, arqueiro! Os bossonianos levam a melhor! Oua o grito deles!.

    Fracamente aos ouvidos do rei, acima do estrondo das trombetas e do tinido do ao, chegou o grito intenso eferoz dos bossonianos, enquanto eles puxavam e atiravam em perfeita harmonia.

    - Os arqueiros deles tentam manter os nossos ocupados, enquanto seus cavaleiros avanam para o rio. disse o escudeiroAs margens no so ngremes; elas se inclinam at a margem da gua. Os cavaleiros seaproximam, eles se movem violentamente atravs dos salgueiros. Por Mitra, as flechas de quase um metroencontram todas as fendas em suas couraas! Cavalos e homens caem, se debatendo na gua. Ela no funda, nem a correnteza rpida, mas os homens esto se afogando l, afundados por suas armaduras eatropelados por cavalos desvairados. Agora, os cavaleiros da Aquilnia avanam. Eles cavalgam em direo gua e enfrentam os cavaleiros da Nemdia. A gua rodopia ao redor das barrigas de seus cavalos, e oclangor de espada contra espada ensurdecedor.

    - Crom!a palavra irrompeu em agonia dos lbios de Conan. A vida corria vagarosamente de volta s suasveias, mas, mesmo assim, ele no conseguia erguer sua forma poderosa do estrado.

    - As alas esto se juntando. disse o escudeiro Piqueiros e lanceiros lutam corpo-a-corpo no riacho; e,atrs deles, os arqueiros lanam constantemente suas setas.

    Por Mitra, os besteiros nemdios esto sendo duramente atacados, e os bossonianos preparam suas flechaspara dispararem entre as fileiras da retaguarda. O centro deles no avana sequer meio metro, e suas alas soempurradas de volta, atravs do rio.

    - Crom, Ymir e Mitra!esbravejou ConanDeuses e demnios, se eu pudesse alcanar a luta; se ao menospudesse morrer no primeiro golpe!

    Do lado de fora, ao longo do dia quente, a batalha bramiu e trovejou. O vale estremeceu sob o ataque econtra-ataque, sob o assobio de flechas e o despedaar de escudos dilacerados e lanas quebradas. Mas osexrcitos da Aquilnia se mantinham firmes. s vezes eram forados para trs da margem, mas com umcontra-ataque com a bandeira negra flutuando sobre o garanho negro, eles readquiriram o territrio perdido.E, como uma trincheira de ferro, mantinham a margem direita do riacho; e, finalmente, o escudeiro deu aConan as notcias de que os nemdios caam de volta, atravs do rio.

    - As alas deles esto confusas!ele gritouOs cavaleiros cambaleiam de volta, fugindo da luta de espadas.

    Mas o que isto? Sua bandeira est em movimento... o centro se move riacho adentro! Por Mitra, Valannusest liderando o exrcito para o outro lado do rio!

    - Idiota! gemeu Conan Pode ser um truque. Ele deveria manter sua posio; ao amanhecer, Prosperoestar aqui, com seus recrutas poitainianos.

    - Os cavaleiros avanam para dentro de uma saraivada de flechas! gritou o escudeiro Mas eles nohesitam! Eles avanam... eles atravessaram! Esto atacando inclinao acima! Pallantides lanou as alasatravs do rio, para dar suporte a eles! tudo o que ele pode fazer. A bandeira do leo mergulha e oscilaacima do caos.

    Os cavaleiros da Nemdia param. Esto despedaados! Eles caem de volta! Sua ala esquerda est em fugatotal, e nossos piqueiros os matam enquanto correm! Vejo Valannus, cavalgando e golpeando como umlouco. Est empolgado pela sede de batalha. Os homens no olham mais para Pallantides. Eles seguemValannus, pensando que Conan, enquanto ele cavalga com a viseira fechada.

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    Mas veja! H mtodo em sua loucura! Ele se afasta bem do fronte nemdio, com 5 mil cavaleiros, osmelhores do exrcito. A principal hoste dos nemdios est confusa... e veja! O flanco deles est protegidopelos penhascos, mas h um desfiladeiro desprotegido! como uma grande rachadura nas paredes, que seabre novamente atrs das fileiras nemdias. Por Mitra, Valannus v e aproveita a oportunidade! Eleexpulsou a ala deles para diante, e lidera seus cavaleiros atravs daquela garganta. Eles se afastam bastanteda parte principal da batalha; eles atravessam uma fileira de lanceiros, e atacam desfiladeiro adentro!.

    - Uma cilada!gritou Conan, se esforando para erguer-se.

    - No!gritou exultante o escudeiro Todo o exrcito nemdio est bem vista! Eles se esqueceram dodesfiladeiro! Eles nunca esperaram ser empurrados to longe de volta. Oh, idiota do Tarascus em cometer talerro! Ah, eu vejo lanas e flmulas saindo da boca mais distante do desfiladeiro, alm das linhas nemdias.Elas vo golpear aquelas fileiras pela retaguarda e amass-las. Por Mitra, o que isto?

    Ele hesitou, enquanto as paredes da tenda balanavam como bbados. Longe do trovejar da luta, se erguiaum rugido intenso e berrante, indescritivelmente ameaador.

    - Os penhascos cambaleiam!guinchou o escudeiroOh, deuses, o que isto? O rio espuma para fora deseu leito, e os picos esto desmoronando! O cho treme e os cavalos e cavaleiros encouraados estoderrotados! Os penhascos! Os penhascos esto caindo!

    Com suas palavras, veio um retumbar triturante e um abalo trovejante, e o cho tremeu. Acima do rudo dabatalha, soavam gritos de louco terror.

    - Os penhascos desabaram!gritou o empalidecido escudeiroEles desabaram para dentro do desfiladeiroe esmagaram todas as criaturas vivas nele! Eu vi a bandeira do leo ondular por um instante, entre a poeira eas pedras que caam, e depois ela desapareceu! Oh, os nemdios gritam de triunfo! Bom, eles podem gritar,pois a queda dos penhascos exterminou 500 dos nossos mais bravos cavaleiros... escute!

    Chegou aos ouvidos de Conan uma vasta torrente de som, se erguendo cada vez mais, de forma desvairada:

    - O rei est morto! O rei est morto! Fujam! Fujam! O rei est morto!

    - Mentirosos! ofegou Conan Ces! Patifes! Covardes! Oh, por Crom, se eu pudesse ao menos melevantar... ao menos rastejar at o rio, com minha espada nos dentes. Ento, rapaz, eles fogem?

    - Sim!soluou o escudeiroEles correm at o rio; esto desorganizados, espalhados como espuma diantede uma tempestade. Vejo Pallantides se esforando para deter a torrente... ele caiu, e os cavalos pisam nele!Esto correndo para dentro do rio... cavaleiros, arqueiros e piqueiros... todos misturados numa louca torrente

    de destruio. Os nemdios esto em seus calcanhares, ceifando-os como trigo.

    - Mas eles iro resistir neste lado do rio! gritou o rei. Com um esforo que lhe fez o suor pingar dastmporas, ele se ergueu sobre os cotovelos.

    - No!gritou o escudeiro Eles no podem! Esto desorganizados! Derrotados! Oh, deuses, eu deveriaviver para ver este dia!

    Ento, ele se lembrou de seu dever, e gritou para os homens fortemente armados, que assistiam impassveisa fuga de seus companheiros:

    - Peguem um cavalo, rpido; e me ajudem a erguer o rei sobre ele. Ns no ousamos esperar aqui.

    Mas, antes que eles pudessem cumprir sua ordem, a primeira leva do tumulto estava sobre eles. Cavaleiros,lanceiros e arqueiros fugiam por entre as tendas, tropeando sobre cordas e bagagens; e, misturados com

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    eles, haviam nemdios a cavalo, que golpeavam a torto e a direito todas as figuras estrangeiras. Cordas detendas foram cortadas, o fogo se ergueu em uma centena de lugares, e o saque j havia comeado. Osguardas carrancudos, ao redor da tenda de Conan, morreram onde estavam golpeando e estocando; e, sobreseus cadveres estraalhados, pisavam os cascos dos conquistadores.

    Mas o escudeiro havia deixado a entrada bem fechada; e, na loucura confusa da matana, ningum percebeuque a tenda continha um ocupante. Assim, a fuga e a perseguio passaram e rugiram vale acima, e logo oescudeiro olhou para fora, para ver um grupo de homens se aproximarem da tenda real, com objetivoevidente.

    - L vem o rei da Nemdia, com quatro companheiros e seu escudeiro. ele disse Ele aceitar suarendio, meu bom senhor...

    - O corao do diabo que se renda!o rei rangeu os dentes.

    Ele havia se forado para o alto, at ficar sentado. Tirou dolorosamente as pernas do estrado e se ergueu comdificuldade, cambaleando como um bbado. O escudeiro se apressou para ajud-lo, mas Conan o empurrou.

    - D-me aquele arco! ele disse, rangendo os dentes e apontando para um longo arco e uma aljava,pendurados numa estaca da tenda.

    - Mas Majestade! gritou o escudeiro, em grande perturbao A batalha est perdida! obrigao damajestade se render com a dignidade de algum de sangue real!

    - No tenho sangue real.Conan rangeu os dentesSou um brbaro e o filho de um ferreiro.

    Puxando com fora o arco e uma flecha, ele cambaleou em direo abertura da tenda. Sua aparncia erato temvelvestido apenas com suas calas curtas de couro e camisa sem manga, aberta para revelar seugrande peito peludo, com seus membros enormes e seus olhos azuis ardendo sob a emaranhada cabeleira

    negraque o escudeiro recuou, com mais medo de seu rei do que de todo o exrcito nemdio.

    Oscilando sobre as pernas bem abertas, Conan, cambaleante, puxou a aba que cobria a sada e caminhouoscilante para fora, sob o dossel. O rei da Nemdia e seus companheiros haviam desmontado, e pararambruscamente, encarando assombrados a apario que os confrontava.

    - Aqui estou, seus chacais!rugiu o cimrioEu sou o rei! Morte a vocs, irmandade de ces!

    Ele puxou a flecha at a cabea e atirou; e a seta se cravou no peito do cavaleiro que estava ao lado deTarascus. Conan arremessou o arco em direo ao rei da Nemdia.

    - Maldita seja minha mo trmula! Venha e me levem se tiverem coragem!

    Cambaleando para trs sobre pernas instveis, ele caiu de costas contra uma estaca de tenda e, ao selevantar, ergueu sua grande espada com ambas as mos.

    - Por Mitra, o rei!praguejou Tarascus. Ele olhou rapidamente ao redor de si, e riuAquele outro era umchacal com a armadura dele! Vamos ces, peguem a cabea dele!

    Os trs soldadoshomens fortemente armados, usando o emblema da guarda realcorreram at o rei, e umdeles abateu o escudeiro com um golpe de maa. Os outros dois tiveram menos sorte. Quando o mais rpidocorreu em direo ao rei, com a espada erguida, Conan o enfrentou com um golpe decepante, que lhe abriuos elos da cota-de-malha, como se fossem de pano, e arrancou o brao e ombro do nemdio. Seu cadver, aocair pesadamente para trs, bateu contra as pernas do companheiro. O homem cambaleou e, antes quepudesse se recuperar, a grande espada estava lhe atravessando.

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    Conan puxou para fora sua lmina de ao, com uma arfada dolorosa, e se apoiou, cambaleante, de volta estaca da tenda. Seus grandes membros tremiam, o peito arfava e o suor lhe escorria pelo rosto e pescoo.Mas seus olhos ardiam em selvageria exultante, e ele ofegou:

    - Por que est to afastado, co de Belverus? No posso lhe alcanar; aproxime-se e morra!

    Tarascus hesitou, olhando para o soldado armado que restara e para seu escudeiro, um homem magro e sriovestido em malha negra, e deu um passo frente. Ele era bem inferior, em tamanho e fora, ao gigantecimrio, mas estava totalmente blindado, e era famoso em todas as naes ocidentais como espadachim. Masseu escudeiro agarrou-lhe o brao.

    - No, Majestade, no jogue fora sua vida. Chamarei arqueiros para atirarem neste brbaro, como fazemoscom lees.

    Nenhum deles percebera que uma carruagem havia se aproximado durante a luta. Mas Conan viu, olhandopor cima dos ombros deles, e um estranho arrepio se arrastou ao longo de sua espinha. Havia algovagamente no-natural na aparncia dos cavalos negros que puxavam o veculo, mas foi o ocupante dacarruagem que prendeu a ateno do rei.

    Era um homem alto e majestosamente constitudo, vestido num longo robe de seda sem adornos. Usava umturbante shemita, cujas pregas inferiores lhe ocultavam as feies, exceto pelos olhos escuros e magnticos.As mos que agarravam as rdeas, freando os cavalos da retaguarda, eram brancas, porm fortes. Conanolhou ferozmente para o estranho, e todos os seus instintos primitivos ficaram despertos. Ele sentiu uma aurade ameaa e poder, transpirando daquela figura velada to claramente quanto o ondular sem vento do capimalto, marcando a trilha da serpente.

    - Salve Xaltotun!exclamou TarascusAqui est o rei da Aquilnia! Ele no morreu no deslizamento deterra, como havamos pensado.

    - Eu sei.respondeu o outro, sem se preocupar em dizer como o sabia Qual a sua inteno no momento?

    - Vou chamar os arqueiros para matarem-no.respondeu o nemdioEnquanto ele viver ser perigoso parans.

    - At mesmo um co tem utilidades.respondeu XaltotunPeguem-no vivo.

    Conan riu asperamente.

    - Venham e tentem! ele desafiou Se no fossem minhas pernas traioeiras, eu lhe cortaria fora destacarruagem, como um lenhador cortando uma rvore. Mas voc nunca vai me capturar vivo, maldito!

    - Receio que ele fale a verdade. disse TarascusO homem um brbaro, com a ferocidade insensvel deum tigre ferido. Deixe-me chamar os arqueiros.

    - Observe-me e aprenda sabedoria.aconselhou Xaltotun.

    Sua mo mergulhou no robe, e saiu com algo brilhante uma esfera cintilante. Ele a lanou subitamentediante de Conan. O cimrio desdenhosamente lanou-a para o lado com um golpe de sua espada; no instantedo contato, houve uma exploso aguda, um claro de fogo branco e cegante, e Conan caiu pesadamente esem sentidos ao cho.

    - Ele est morto?o tom de Tarascus era mais de afirmao que de interrogao.

    - No. S est inconsciente. Ele recuperar os sentidos em poucas horas. Mande seus homens amarrarem osbraos e pernas dele, e ergu-lo at minha carruagem.

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    Com um gesto, Tarascus o fez e eles ergueram o rei inconsciente para dentro da carruagem, grunhindo como peso que carregavam. Xaltotun lanou um manto de veludo sobre o corpo dele, escondendo-ocompletamente de qualquer um que pudesse olh-lo com ateno. Ele agarrou as rdeas com as mos.

    - Estou indo para Belverus.ele disseDiga a Amalric que estarei com ele, se precisar de mim. Mas, comConan fora do caminho e seu exrcito despedaado, lanas e espadas sero suficientes para o restante daconquista. Prospero no pode trazer mais do que 10 mil homens para o campo de batalha, e sem dvida, seprecipitar de volta a Tarantia quando ouvir as notcias da batalha. No diga nada a Amalric, a Valerius,nem a ningum, sobre nossa captura. Deixe-os pensarem que Conan morreu na queda dos penhascos.

    Ele olhou para o soldado armado por um longo tempo, at o guarda se mover inquieto, nervoso diante doexame atento.

    - O que isso ao redor de sua cintura?indagou Xaltotun.

    - Ora, meu cinto, mi lorde!gaguejou o espantado soldado da guarda.

    - Est mentindo! a risada de Xaltotun foi impiedosa, como a lmina de uma espada uma serpentevenenosa! Que tolo voc em vestir um rptil ao redor de sua cintura!

    O homem arregalou os olhos para baixo; e, para seu mais absoluto horror, viu a fivela de seu cinto se erguerem sua direo. Era a cabea de uma serpente! Ele viu os olhos malignos e as presas gotejantes, ouviu osibilo e sentiu o contato repugnante da coisa ao redor de seu corpo. Ele deu um grito horrendo e a golpeoucom a mo nua, sentiu as presas afundarem naquela mo e ento, ele se enrijeceu e caiu pesadamente.Tarascus baixou o olhar para ele, sem expresso. S tinha visto o cinto de couro e a fivela, cuja ponta haviagolpeado a palma da mo do guarda. Xaltotun virou o olhar hipntico para o escudeiro de Tarascus, e ohomem ficou plido e comeou a tremer, mas o rei se interps:

    - No, ns podemos confiar nele.

    O feiticeiro esticou as rdeas e fez os cavalos darem a volta:

    - Faa com que esta parte do trabalho continue secreta. Se eu for necessrio, deixe Altaro, criado de Orastes,me convocar como eu o ensinei. Estarei no seu palcio, em Belverus.

    Tarascus ergueu a mo em saudao, mas sua expresso no era agradvel de ver, quando ele olhou para trsdo hipnotizador que se afastava.

    - Por que deveramos poupar o cimrio?sussurrou o assustado escudeiro.

    - sobre isso que estou me perguntando. grunhiu Tarascus. Atrs da ribombante carruagem, o rugidosurdo da batalha e da perseguio desaparecia distncia; o sol poente rodeava a zoada com chamaescarlate, e a carruagem se movia para dentro das vastas sombras azuis, que flutuavam vindas do leste.

    4) De Qual Inferno Voc Rastejou?

    DAQUELA LONGA cavalgada na carruagem de Xaltotun, Conan nada sabia. Jazia como um morto,enquanto as rodas de bronze se estrondeavam sobre as pedras de estradas nas montanhas e zuniam atravs dagrama espessa dos vales frteis; e, finalmente descendo das alturas acidentadas, ribombaram ritmicamenteao longo da larga estrada branca, a qual serpenteia atravs dos prados at os muros de Belverus.

    Logo antes do amanhecer, um fraco renovar de vida o tocou. Ele ouviu um ribombar de vozes e o ranger dedobradias pesadas. Atravs de uma fenda no manto que o cobria, ele viu, fracamente na luz avermelhada

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    das tochas, o grande arco negro de um porto, e os rostos barbudos de homens fortemente armados, a luz dastochas se refletindo nas pontas de suas lanas e em seus elmos.

    - Como foi a batalha, meu bom senhor?falou uma voz ansiosa, na lngua nemdia.

    - Realmente bem.foi a curta respostaO rei da Aquilnia jaz morto, e seu exrcito est esmagado.

    Um balbucio de vozes se ergueu, afogado no instante seguinte pelo giro das rodas da carruagem sobre a lajedo calamento. Fascas cintilaram sob os aros em movimento, quando Xaltotun chicoteou seus corcisatravs do arco. Mas Conan ouviu um dos guardas murmurar:

    - De alm da fronteira at Belverus, entre o pr-do-sol e a aurora! E os cavalos mal suaram! Por Mitra,eles...

    O silncio lhes tragou as vozes, e s houve o barulho de cascos e rodas ao longo da rua ensombrecida.

    Os sons que ficaram registrados no crebro de Conan nada significavam para ele. Ele era como um autmatoque ouve e v, mas no entende. Vises e sons fluam sem significado ao seu redor. Ele caiu novamente

    numa profunda letargia, e s estava vagamente consciente, quando a carruagem parou num ptio escuro, demuros altos, e foi erguido por vrias mos, carregado numa ascendente e serpenteante escada de pedra, e porum longo corredor escuro. Sussurros, passos furtivos e sons desconexos se erguiam ou farfalhavam ao seuredor, irrelevantes e distantes.

    Mas o seu ltimo despertar foi abrupto e claro como cristal. Ele possua total conhecimento da batalha nasmontanhas e suas seqncias, e tinha uma boa idia de onde estava.

    Ele jazia num leito de veludo, vestido como no dia anterior, mas com os membros presos por pesadascorrentes, s quais nem mesmo ele seria capaz de quebrar. A sala onde se encontrava era decorada comsombria magnificncia, as paredes cobertas com negras tapearias de veludo, e o cho com pesados carpetes

    prpuras. No havia sinal de porta ou janela, e um lampio de ouro curiosamente entalhado, balanando noteto desgastado, espalhava uma luz sinistra sobre tudo.

    Naquela luz, a figura sentada diante dele, numa cadeira de prata semelhante a um trono, lhe parecia irreal efantstica, com uma iluso de contorno que era aumentada por um delgado robe de seda. Mas as feieseram ntidas e no-naturais, naquela luz incerta. Era quase como se um estranho anel de luz bailasse aoredor da cabea do homem, realando totalmente o rosto barbudo, de modo que este era a nica realidadedefinitiva e distinta, naquele quarto mstico e fantasmagrico.

    Era um rosto magnfico, com feies fortemente esculpidas, de beleza clssica. Havia, de fato, algoinquietante ao redor da tranqilidade de seu aspecto; uma sugesto de conhecimento mais que humano, de

    uma profunda convico, alm da certeza humana. Alm disso, uma desconfortvel sensao defamiliaridade se contraiu no fundo da conscincia de Conan. Ele nunca tinha visto antes o rosto destehomem, ele bem sabia; mas suas feies o faziam se lembrar de algo ou algum. Era como encontrar, emcarne e osso, alguma imagem de sonho que lhe assombrara em pesadelos.

    - Quem voc?indagou beligerantemente o rei, se esforando para sentar-se, apesar de suas correntes.

    - Os homens me chamam de Xaltotun. foi a resposta, numa voz forte e dourada.

    - Que lugar este?o cimrio indagou em seguida.

    - Um aposento no palcio do Rei Tarascus, em Belverus.

    Conan no estava surpreso. Belverus, a capital, era, ao mesmo tempo, a maior cidade nemdia e a maisprxima da fronteira.

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    - E onde est Tarascus?

    - Com o exrcito.

    - Bemrosnou Conan, se pretende me matar, por que no o faz e acaba logo com isto?

    - Eu no lhe salvei dos arqueiros do rei, para lhe assassinar em Belverus. respondeu Xaltotun.

    - O que diabos voc fez comigo?exigiu Conan.

    - Eu tirei sua conscincia. respondeu Xaltotun Como, voc no entenderia. Chame de magia negra, sequiser.

    Conan j havia chegado quela concluso, e estava ponderando sobre algo mais.

    - Acho que entendo por que voc poupou minha vida. ele retumbouAmalric quer me manter como umfreio para Valerius, caso o impossvel acontea e ele se torne rei da Aquilnia. Sabe-se muito bem que o

    baro de Tor est por trs deste golpe para pr Valerius em meu trono. E, se eu conheo Amalric, ele nopretende deixar que Valerius seja qualquer coisa mais que um chefe nominal, como Tarascus agora.

    - Amalric nada sabe de sua captura. respondeu Xaltotun E nem Valerius. Ambos pensam que vocmorreu em Valkia.

    Os olhos de Conan se estreitaram, ao fitarem o homem em silncio.

    - Senti uma inteligncia por trs de tudo isso ele murmurou, mas pensei que fosse a de Amalric. Amalric,Tarascus e Valerius so todas meras marionetes danando em seu barbante? Quem voc?

    - O que importa? Se eu lhe dissesse, voc no acreditaria em mim. O que aconteceria se eu lhe dissesse queposso coloc-lo de volta ao trono da Aquilnia?

    Os olhos de Conan arderam sobre ele como os de um lobo.

    - Qual o seu preo?

    - Obedincia a mim.

    - V pro inferno com sua oferta! rosnou Conan Eu no sou chefe nominal. Ganhei minha coroa comminha espada. Alm disso, estou fora do alcance do seu poder, de comprar e vender o trono da Aquilnia

    sua vontade. O reino no est conquistado; uma s batalha no decide a guerra.

    - Voc luta contra mais do que espadas. respondeu XaltotunFoi a espada de um mortal que lhe derrubouem sua tenda, antes da luta? No; foi um filho das trevas, um pria do espao exterior, cujos dedos estavamincendiados com a frieza congelada dos golfos negros, que congelou o sangue em suas veias e a fora deseus msculos. Frieza to fria, que lhe queimou a pele como ferro em brasa!

    Foi o acaso que levou o homem que vestia sua armadura a liderar seus c avaleiros para dentro dodesfiladeiro? Foi o acaso que fez os penhascos carem e se espatifarem sobre eles?.

    Conan o olhou feroz e silenciosamente, sentindo um arrepio ao longo da espinha. Magos e feiticeiros eramabundantes em sua mitologia, e qualquer tolo poderia dizer que aquele no era um homem comum. Conansentiu algo inexplicvel ao redor dele, que o punha parte uma aura estranha de Tempo e Espao, umasensao de tremenda e sinistra antiguidade. Mas seu esprito teimoso se recusava a recuar.

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    - A queda dos penhascos foi por acaso. ele murmurou selvagementeO ataque desfiladeiro adentro foi oque qualquer homem teria feito.

    - Nem tanto. Voc no teria liderado um ataque para dentro dele. Voc teria suspeitado de uma cilada.Jamais teria cruzado logo o rio, at estar certo de que a debandada dos nemdios era verdadeira. Sugesteshipnticas no teriam invadido sua mente, mesmo na loucura da batalha, para lhe enlouquecer e fazer corrercegamente para dentro da armadilha que fiz para voc, como fiz com o homem inferior, o qual se disfaroude voc.

    - Ento, se foi tudo planejado Conan grunhiu, ctico , tudo um plano para pr meu exrcito numaarmadilha, por que o filho das trevas no me matou em minha tenda?

    - Porque eu pretendia lhe capturar vivo. No precisei de magia para prever que Pallantides mandaria outrohomem, em sua armadura. H uma fora vital em voc, maior que a velhacaria e astcia de meus aliados.Voc um inimigo srio, mas poderia ser um timo vassalo.

    Conan cuspiu selvagemente diante da palavra, e Xaltotun, ignorando-lhe a fria, pegou um globo de cristalque estava numa mesa prxima, e o colocou diante dele. Ele no o sustentava de modo algum, nem o

    colocou sobre nada, mas ficou suspenso e imvel no ar, to firmemente quanto se descansasse num pedestalde ferro. Conan riu com desdm diante daquele pedao de necromancia, mas estava impressionado, apesarde tudo.

    - Gostaria de saber o que est acontecendo na Aquilnia? ele perguntou.

    Conan no respondeu, mas a sbita rigidez de seu corpo lhe traiu o interesse.

    Xaltotun olhou fixamente para dentro das profundezas nebulosas, e falou:

    - Agora a noite do dia posterior batalha de Valkia. Na noite passada, o corpo principal do exrcito

    acampou pelo Valkia, enquanto esquadres de cavaleiros perseguiram os aquilonianos fugitivos. De manh,o exrcito abandonou o acampamento e fugiu para oeste, atravs das montanhas. Prospero, com 10 milpoitainianos, estava a milhas do campo de batalha, quando se deparou com os fugitivos sobreviventes noincio da manh. Ele havia avanado por toda a noite, esperando alcanar o campo antes de se juntar batalha. Incapaz de reorganizar os remanescentes do exrcito derrotado, ele se precipitou de volta a Tarantia.Cavalgando duramente, substituindo seus cavalos cansados por corcis pegos nos campos, ele se aproximade Tarantia.

    Vejo seus cavaleiros cansados, suas armaduras cinzentas de poeira, suas bandeiras cadas enquanto elesdirigem seus cavalos cansados atravs da plancie. Tambm vejo as ruas de Tarantia. A cidade est emtumulto. De alguma forma, a notcia da derrota e morte do Rei Conan alcanou o povo. A plebe est louca

    de medo, gritando que o rei est morto, e que no h ningum para lider-los contra os nemdios. Sombrasgigantescas se lanam sobre a Aquilnia, vindas do leste, e o cu est negro de abutres.

    Conan praguejou intensamente:

    - O que so estas coisas, alm de palavras? O mendigo mais esfarrapado na rua poderia profetizar o mesmo.Se voc diz que viu tudo nessa bola de vidro, ento voc to mentiroso quanto patife, e deste ltimo noresta dvida! Prospero defender Tarantia, e os bares iro se reunir a ele. O Conde Trocero de Poitaincomanda o reino em minha ausncia, e ele mandar esses ces nemdios uivando de volta para seus canis. Oque so cinco mil nemdios? A Aquilnia ir trag-los. Eles jamais vero Belverus novamente. No foi aAquilnia que eles derrotaram no Valkia; foi apenas Conan.

    - A Aquilnia est condenada. respondeu Xaltotun, imvelA lana, o machado e a tocha iro conquist-la; e, se eles falharem, os poderes da escurido das eras marcharo contra ela. Assim como os penhascos

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    caram em Valkia, assim cairo as cidades muradas e montanhas, se for necessrio, e rios rugiro para forade seus leitos, para afogarem provncias inteiras.

    Melhor se o ao e a corda do arco triunfarem sem a ajuda posterior das artes, pois o uso constante defeitios poderosos s vezes pem em movimento foras que podem sacudir o universo.

    - De qual inferno voc rastejou, seu co das trevas? murmurou Conan, encarando o homem. O cimrioestremeceu involuntariamente; ele sentiu algo incrivelmente antigo, incrivelmente maligno.

    Xaltotun ergueu a cabea, como se ouvindo sussurros atravs do vcuo. Ele parecia ter esquecido seuprisioneiro. Ento, ele sacudiu impacientemente a cabea, e olhou de forma impessoal para Conan:

    - O qu? Ora, se eu lhe contasse voc no acreditaria em mim. Mas estou cansado de conversar com voc; menos cansativo destruir uma cidade murada, do que organizar meus pensamentos em palavras para umbrbaro sem crebro poder entender.

    - Se minhas mos estivessem livresopinou Conan, eu logo faria de voc um cadver sem crebro.

    - No tenho dvidas disso, se eu fosse tolo o bastante para lhe dar a oportunidade. respondeu Xaltotun,batendo palmas. Seus modos haviam mudado; havia impacincia em seu tom de voz, e um certo nervosismoem suas maneiras, embora Conan no achasse que esta atitude estivesse, de forma alguma, conectada comele prprio.

    - Pense no que lhe falei, brbaro. disse XaltotunVoc tem tempo vontade. No decidi o que farei comvoc. Isto depende de circunstncias ainda vindouras. Mas deixe isto impresso em voc: que, se eu decidirlhe usar em meu jogo ser melhor se submeter sem resistncia do que sofrer minha ira.

    Conan cuspiu uma praga nele, no exato momento em que cortinas, que cobriam a porta, foram abertas equatro gigantes negros entraram. Cada um vestia apenas uma tanga de seda, segura por um cinto, do qual

    pendia uma grande chave.

    Xaltotun gesticulou com impacincia em direo ao rei e se afastou como se tirando todo o assunto damente. Seus dedos se crisparam estranhamente. De uma caixa entalhada de jade verde, ele pegou umpunhado de brilhante poeira negra, e a colocou num braseiro, que se encontrava num trip dourado prximoao seu cotovelo. O globo de cristal, o qual ele parecia ter esquecido, caiu subitamente ao cho, como se seusuporte invisvel houvesse sido tirado.

    Ento, os negros ergueram Conan pois ele estava to acorrentado que no conseguia andar e ocarregaram para fora do quarto. Um rpido olhar para trs, antes que a pesada porta de teca encadeada aouro fosse fechada, lhe mostrou Xaltotun se inclinando de volta na sua cadeira em forma de trono, os braos

    cruzados, enquanto um fino punhado de fumaa se encaracolava para fora do braseiro. O couro cabeludo deConan se arrepiou. Na Stygia, aquele reino antigo e maligno que fica no sul distante, ele tinha visto aquelep negro. Era o plen do ltus negro, o qual produz um sono semelhante morte e sonhos monstruosos; eele sabia que apenas os medonhos feiticeiros do Anel Negro, o qual o ponto mais baixo do mal, buscamvoluntariamente os pesadelos escarlates do ltus negro, para reviverem seus poderes necromantes.

    O Anel Negro era uma fbula e uma mentira para a maioria das pessoas do mundo ocidental, mas Conansabia de sua medonha realidade e de seus devotos sombrios, os quais praticavam suas feitiariasabominveis no meio das abbadas negras da Stygia e cpulas noturnas da amaldioada Sabatea. Ele olhounovamente para a enigmtica porta encadeada a ouro, estremecendo diante do que ela escondia.

    Se era dia ou noite, o rei no conseguia dizer. O palcio do Rei Tarascus parecia um lugar de sombras etrevas, que evitava o sol. O esprito da escurido e da sombra pairava sobre ele; e aquele esprito, Conansentia, estava corporificado no forasteiro Xaltotun. Os negros carregavam o rei ao longo de um corredorsinuoso, to fracamente iluminado que eles se moviam atravs dele como fantasmas negros carregando um

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    homem morto, e logo desceram uma escada que serpenteava sem parar. Uma tocha, na mo de cada um,lanava grandes sombras deformadas que se moviam ao longo da parede; era como um cadver descendo aoinferno, carregado por demnios pardos.

    Por fim, eles chegaram base da escadaria, e ento atravessaram um longo corredor reto, com uma paredeclarade um lado, perfurada por uma ocasional porta arcada, com uma escadaria ascendente atrs dela; e,do outro lado, outra parede mostrava pesadas portas gradeadas, a intervalos regulares de pouco mais de ummetro.

    Parando diante de uma dessas portas, um dos negros puxou a chave que lhe pendia do cinto e girou-a dentroda fechadura. Ento, empurrando a grade aberta, eles entraram com seu cativo. Estavam num pequenocalabouo, com pesadas paredes, cho e teto de pedra, e, no lado oposto, havia outra porta gradeada. O quehavia alm daquela porta, Conan no era capaz de dizer, mas ele no acreditava que fosse outro corredor. Aluz bruxuleante da tocha, palpitando atravs das grades, sugeria vastides sombrias e profundezasressonantes.

    Em um canto do calabouo, prximo porta pela qual haviam entrado, um cacho de correntes enferrujadaspendia de um grande aro de ferro encaixado na pedra. Nestas correntes, pendia um esqueleto. Conan o olhou

    ferozmente com certa curiosidade, percebendo o estado de alguns ossos nus, muitos dos quais estavamestilhados e quebrados; o crnio, que havia cado da vrtebra, estava esmagado como se por algum golpeselvagem de tremenda fora.

    Imperturbavelmente, um dos negros, que no era o mesmo que abrira a porta, removeu as correntes do aro,usando sua chave na tranca macia, e arrastou para um lado a massa de metal enferrujado e ossosdespedaados. Ento, eles prenderam as correntes de Conan quele aro, e o terceiro negro girou sua chave natranca da porta mais afastada, grunhindo ao se certificar de que estava devidamente presa.

    Ento, eles olharam misteriosamente para Conan gigantes de bano com olhos rasgados, a tocha lhesiluminando as peles lustrosas.

    O que prendeu a chave porta mais prxima, comentou guturalmente:

    - Este o seu palcio agora, co-rei branco! Ningum sabe, exceto ns e o amo! Todo o palcio dorme. Nsguardamos segredo. Voc vive e morre aqui, talvez. Como ele! Ele chutou desdenhosamente a caveiradespedaada e a fez rolar ruidosamente pelo cho de pedra.

    Conan no se dignou a responder ao escrnio, e o negro, talvez irritado, murmurou uma praga, se abaixou ecuspiu bem no rosto do rei. Foi um ato infeliz para o negro. Conan estava sentado no cho, com as correntesao redor da cintura, e os tornozelos e pulsos presos ao aro na parede. Ele no podia se erguer, nem se afastar,mais do que 90 centmetros da parede. Mas havia uma considervel parte solta nas correntes que lhe

    algemavam os pulsos e, antes que a cabea pontiaguda pudesse ficar fora de alcance, o rei agarrou esta partesolta em sua mo poderosa e golpeou o negro na cabea. O homem caiu como um boi abatido, e seuscompanheiros arregalaram os olhos ao verem-no cado, com o couro cabeludo aberto e o sangue lheescorrendo do nariz e ouvidos.

    Mas eles no tentaram se vingar, nem aceitaram o convite urgente de Conan para se aproximarem do alcanceda corrente sangrenta em sua mo. Em seguida, grunhindo em sua fala simiesca, eles ergueram o negroinconsciente e o carregaram para fora, como um saco de trigo, os braos e pernas pendentes. Usaram a chavedele para trancar a porta atrs deles, mas no a tiraram da corrente de ouro que a deixava presa ao cinto dele.Levaram a tocha consigo e, enquanto se moviam pelo corredor, a escurido se movia furtivamente atrsdeles, como uma coisa viva. Seus suaves passos compassados desapareceram distncia, junto com o brilhode sua tocha, e a escurido e o silncio continuaram intactos.

    5) A Assombrao dos Fossos

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    CONAN JAZIA IMVEL, suportando o peso de suas correntes e o desespero de sua posio, com oestoicismo dos selvagens que o criaram. Ele no se movia, porque o rudo de suas correntes, quando elemudava de posio, soava assustadoramente alto na escurido e no silncio; e era seu instinto, nascido demil ancestrais nascidos na selva, o de no trair sua posio na sua situao indefesa. Isto no era o resultadode um processo de raciocnio lgico; ele no estava quieto porque havia raciocinado que a escuridoescondia perigos furtivos que poderiam descobri-lo na situao impotente em que se encontrava. Xaltotunhavia lhe assegurado que no seria ferido, e Conan acreditava que o homem tinha interesse em preserv-lo,ao menos por enquanto. Mas os instintos do selvagem estavam l, aqueles que o faziam, na infncia, ficarescondido e em silncio, enquanto feras selvagens rondavam ao redor de seu esconderijo.

    Nem mesmo seus olhos agudos conseguiam penetrar a slida escurido. Mas, aps um tempo, aps umperodo de tempo do qual ele no tinha meio de calcular, um brilho fraco ficou aparente; uma espcie de raiode luz, oblquo e cinza, atravs do qual Conan conseguia ver vagamente as barras da porta prxima ao seucotovelo, e at distinguir a estrutura da outra grade. Isto o intrigou, at que ele finalmente percebeu aexplicao. Ele estava bem abaixo do cho, nos fossos sob o palcio; mas, por algum motivo, um poo deventilao havia sido construdo em algum lugar no alto. L fora, a lua se erguera at um ponto onde sua luzse inclinava fracamente em direo ao orifcio. Ele refletiu que, desta maneira, poderia acompanhar a

    passagem dos dias e noites. Talvez o sol tambm pudesse lanar seu brilho atravs desse orifcio, embora,por outro lado, ele pudesse ser fechado de dia. Talvez isso fosse um sutil mtodo de tortura, permitindo aoprisioneiro apenas um vislumbre da luz do dia ou do luar.

    Seu olhar caiu sobre os ossos quebrados no canto mais afastado, brilhando fracamente. Ele no forou ocrebro com fteis especulaes sobre quem havia sido o infeliz, ou por qual razo havia sido condenado,mas se perguntou a respeito do estado despedaado dos ossos. Eles no haviam sido quebrados numa mesade tortura. Ento, enquanto ele olhava, outro detalhe repugnante se fez evidente. Os ossos das canelasestavam partidos ao comprido, e s havia uma explicao: haviam sido quebrados desta maneira, a fim de seobter o tutano. Mas qual criatura, alm do homem, quebra ossos em busca de tutano? Talvez aqueles restosfossem evidncias mudas de um horrvel banquete canibal, feito por algum coitado enlouquecido pela fome.

    Conan se perguntou se seus prprios ossos seriam encontrados em alguma poca do futuro, pendurados emsuas correntes enferrujadas. Ele lutou contra o pnico insensato de um lobo capturado numa armadilha.

    O cimrio no praguejou, gritou, chorou nem delirou, como um homem civilizado faria. Mas a dor eagitao em seu peito no eram menos ferozes. Seus grandes membros tremiam com a intensidade de suasemoes. Em algum lugar, bem longe a oeste, o exrcito nemdio estava despedaando e queimando, em seucaminho para o corao do reino. A pequena hoste de poitainianos no era prea para eles. Prospero poderiaser capaz de defender Tarantia durante semanas, ou meses; mas, por fim, se no fosse auxiliado, render-se-ia superioridade numrica dos inimigos. Certamente os bares iriam se reunir a ele contra os invasores. Mas,no momento, ele, Conan, ficaria indefeso numa cela escura, enquanto outros conduziam as lanas dele elutavam pelo reino dele. O rei rangeu os dentes poderosos em fria vermelha.

    Logo, ele se enrijeceu ao ouvir um passo furtivo, do lado de fora da porta mais afastada. Forando os olhos,percebeu uma figura curvada e indistinta do outro lado da grade. Havia um rudo de metal contra metal, e eleouviu um tinido de trancas, como se uma chave tivesse sido girada na fechadura. Ento, a figura se afastousilenciosamente de seu alcance visual. Algum guarda, pensou ele, testando a fechadura. Aps algum tempo,ouviu o som ser repetido fracamente em algum lugar mais distante, e este era seguido pelo suave abrir deuma porta, e ento, um rpido correr de ps suavemente calados se retirando distncia. Logo, o silnciocaiu novamente.

    Conan aguou os ouvidos durante o que pareceu ser um longo tempo, mas no poderia ser, pois a lua aindabrilhava atravs do orifcio escondido; mas ele no ouviu outro som. Ele finalmente mudou de posio, esuas correntes retiniram. Logo, ele ouviu outro passo, mais leve um passo suave do lado de fora da portamais prxima, a porta atravs da qual ele havia adentrado a cela. Um instante depois, uma figura delgada sedestacou na luz cinza.

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    - Rei Conan!uma voz suave entoou urgentemente, milorde, voc est a?

    - Onde mais?ele respondeu cautelosamente, torcendo a cabea para o lado, a fim de fitar a apario.

    Era uma garota, que estava agarrando as grades com seus dedos delgados. O brilho fraco atrs dela lhedelineava o contorno flexvel, atravs do punhado de seda enrolado ao redor de seus quadris, e brilhouvagamente em suas placas peitorais enfeitadas de jias. Seus olhos escuros brilhavam nas sombras e seusmembros brancos cintilavam suavemente, como alabastro. O cabelo dela era uma massa de espuma escura,diante do lustre polido, do qual a luz fraca era apenas uma insinuao.

    - As chaves para seus grilhes e para a porta mais distante! ela sussurrou, e uma delgada mo brancaatravessou as grades e deixou cair trs objetos, com um tinido, sobre as lajes ao lado dele.

    - Que brincadeira esta?ele indagouVoc fala na lngua nemdia, e eu no tenho amigos na Nemdia.Qual a diabrura que seu amo est fazendo agora? Ele lhe enviou aqui para zombar de mim?

    - No zombaria.A garota tremia violentamente. Com seus braceletes e placas peitorais colados contra asbarras, ela ofegou: Juro por Mitra! Roubei as chaves dos carcereiros negros. Eles so os guardies dos

    fossos, e cada um carrega uma chave que abrir apenas um conjunto de fechaduras. Eu os embriaguei.Aquele cuja cabea voc quebrou foi levado para um mdico, e no pude obter a chave dele. Mas roubei asoutras. Oh, por favor, no demore! Alm destes calabouos ficam os fossos, que so as portas para oinferno!

    Um tanto impressionado, Conan testou as chaves duvidoso, esperando encontrar apenas fracasso e umestouro de risada zombeteira. Mas ele ficou galvanizado ao descobrir que, de fato, uma lhe soltou de seusgrilhes, derrubando no apenas a tranca que as prendia ao aro, mas as que lhe prendiam os membros.Poucos segundos depois, ele se erguia ereto, exultando ferozmente em sua relativa liberdade. Um rpidopasso o levou at a grade, e seus dedos se fecharam ao redor de uma barra e do delgado pulso que sepressionava contra ela, segurando a dona, que ergueu bravamente o rosto em direo ao seu olhar feroz.

    - Quem voc, garota?ele indagouPor que faz isto?

    - Sou apenas Zenbiaela murmurou num acesso de respirao ofegante, como se assustada ; apenas umagarota do harm do rei.

    - A menos que isto seja uma maldita trapaa murmurou Conan, no vejo razo para voc me trazer estaschaves.

    Ela abaixou a cabea escura, e logo a ergueu e olhou bem para dentro dos olhos desconfiados dele. Lgrimascintilavam como jias nos longos clios dela.

    - Sou apenas uma garota do serralho do rei. ela disse, com certa humildadeEle nunca olhou para mim, eprovavelmente nunca o far. Sou menos que um dos ces que roem os ossos em seu salo de banquetes.

    Mas eu no sou um brinquedo pintado; sou de carne e sa ngue. Eu respiro, odeio, sinto medo, me alegro eamo. E amo voc, Rei Conan, desde quando lhe vi cavalgando frente de seus cavaleiros pelas ruas deBelverus, quando voc visitou o Rei Nimed, anos atrs. Meu corao saiu violentamente das costelas, parapular de meu peito e cair no p da rua, sob os cascos de seu cavalo.

    O rosto dela corou enquanto falava, mas seus olhos escuros no vacilaram. Conan no respondeu logo; eleera selvagem, irascvel e indomvel, mas somente o mais bruto dos homens no seria tocado por certopasmo ou admirao diante do desnudar da alma de uma mulher.

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    Ento, ela inclinou a cabea e pressionou os lbios vermelhos contra os dedos que lhe seguravam o pulsodelgado. Logo, ela ergueu a cabea, como se em sbita lembrana de sua posio, e o terror luziu em seusolhos escuros.

    - Depressa!ela sussurrou urgentementeJ passa da meia-noite. Voc deve ir embora.

    - Mas, no iro lhe esfolar viva por ter roubado estas chaves?

    - Eles nunca sabero. Se os negros se lembrarem, de manh, de quem deu vinho a eles, no ousaro admitirque as chaves foram roubadas deles enquanto estavam bbados. A chave que no consegui obter a quedestranca esta porta. Voc deve abrir caminho para a liberdade atravs dos fossos. Quais os perigosmedonhos que se ocultam atravs daquela porta, eu no consigo sequer imaginar. Mas perigos maiores lherondam, se voc continuar nesta cela. O Rei Tarascus retornou...

    - O qu? Tarascus?

    - Sim! Ele havia retornado, em grande segredo; e, h no muito tempo, ele desceu para dentro dos fossos, edepois saiu novamente, plido e trmulo como um homem que havia ousado fazer algo muito arriscado. Eu

    o ouvi sussurrar ao escudeiro dele, Arideus, que, apesar da opinio de Xaltotun, voc deveria morrer.- E quanto a Xaltotun?murmurou Conan. Ele sentiu o estremecimento dela.

    - No fale nele! ela sussurrou Demnios so freqentemente convocados pelo som de seus nomes. Osescravos dizem que ele se encontra em seus aposentos, atrs de uma porta trancada, sonhando os sonhos doltus negro. Creio que at mesmo Tarascus o teme secretamente, ou ele teria lhe matado abertamente. Masele esteve nos fossos esta noite, e o que fez l, s Mitra sabe.

    - Eu me pergunto se poderia ter sido Tarascus quem tateou na minha cela, h pouco tempo atrs. murmurou Conan.

    - Aqui est uma adaga! ela sussurrou, empurrado algo atravs das barras. Os dedos ansiosos dele sefecharam sobre um objeto familiar ao seu toqueV logo por aquela porta, vire esquerda e prossiga aolongo das celas, at chegar a uma escadaria de pedra. Por sua vida, no se desvie do caminho das celas!Suba a escada e abra a porta no topo; uma das chaves ir abri-la. Se for a vontade de Mitra, eu lhe esperareil.Em seguida, ela foi embora, com um rufar de ps leves e calados com chinelos.

    Conan encolheu os ombros, e se voltou em direo grade mais afastada. Isto poderia ser uma armadilhadiablica, planejada por Tarascus, mas mergulhar de ponta-cabea numa cilada era menos detestvel aotemperamento de Conan, do que ficar sentado pacificamente, espera de seu destino. Ele examinou a armaque a garota havia lhe dado, e sorriu sombriamente. Quem quer que fosse a jovem, ela havia provado,

    atravs daquela adaga, ser uma pessoa de inteligncia prtica. No era uma faca fina, escolhida porquetivesse um cabo com jias ou uma guarda de ouro, adequada apenas para um delicado assassinato numquarto de damas; era um punhal, uma arma de guerreiro, com lmina larga, de 38 centmetros decomprimento, se afilando at uma ponta bem afiada.

    Ele grunhiu satisfeito. O contato com o cabo o animou e lhe deu um calor de confiana. Quaisquer redes deconspirao que estivessem ao seu redor, qualquer trapaa e traio que o laassem, esta adaga era real. Osgrandes msculos de seu brao direito incharam em expectativa por golpes assassinos.

    Ele testou a porta mais afastada, estrondeando com as chaves enquanto o fazia. No estava trancada. Mas elese lembrou do negro trancando-a. Aquela furtiva figura curvada, ento, no havia sido nenhum carcereirovendo se as trancas estavam no lugar. Ao invs disso, ele havia destrancado a porta. Havia uma sugestosinistra ao redor daquela porta destrancada. Mas Conan no hesitou. Ele abriu a grade com um empurro, eandou, do calabouo para dentro da escurido externa.

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    Como havia pensado, a porta no se abria para outro corredor. A porta cada se estendia sob seus ps, e afileira de celas seguia dir