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JULIANA BARBOSA MAGALHÃES A HUMANIZAÇÃO NA PRÁTICA DE ENFERMEIROS EM UMA UNIDADE HOSPITALAR DE CLÍNICA MÉDICO-CIRÚRGICA Tese apresentada ao Centro de Desenvolvimento do Ensino Superior em Saúde (CEDESS) da Universidade Federal de São Paulo (UNIFESP) para obtenção do título de Mestre Profissional em Ensino em Ciências da Saúde. SÃO PAULO 2008

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JULIANA BARBOSA MAGALHÃES A HUMANIZAÇÃO NA PRÁTICA DE ENFERMEIROS

EM UMA UNIDADE HOSPITALAR DE CLÍNICA

MÉDICO-CIRÚRGICA

Tese apresentada ao Centro de

Desenvolvimento do Ensino Superior em

Saúde (CEDESS) da Universidade Federal

de São Paulo (UNIFESP) para obtenção

do título de Mestre Profissional em

Ensino em Ciências da Saúde.

SÃO PAULO 2008

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JULIANA BARBOSA MAGALHÃES A HUMANIZAÇÃO NA PRÁTICA DE ENFERMEIROS

EM UMA UNIDADE HOSPITALAR DE CLÍNICA

MÉDICO-CIRÚRGICA

Tese apresentada ao Centro de

Desenvolvimento do Ensino Superior em

Saúde (CEDESS) da Universidade Federal

de São Paulo (UNIFESP) para obtenção

do título de Mestre Profissional em

Ensino em Ciências da Saúde.

Orientador: Prof. Dr. José A. Maia

SÃO PAULO 2008

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Magalhães, Juliana Barbosa A Humanização na Prática de Enfermeiros em uma Unidade Hospitalar de

Clínica Médico Cirúrgica / Juliana Barbosa Magalhães - São Paulo, 2008. xv, 102f. Tese (Mestrado) – Universidade Federal de São Paulo. Programa de Pós-Graduação

em Ensino em Ciências da Saúde.

Título em inglês: Humanization in Practice of Nurses in a Hospital Unit of Surgical Medical Clinic

1. Humanização da Assistência. 2. Educação Continuada em Enfermagem. 3. Processos de Enfermagem.

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UNIVERSIDADE FEDERAL DE SÃO PAULO ESCOLA PAULISTA DE MEDICINA

CENTRO DE DESENVOLVIMENTO DO ENSINO SUPERIOR EM SAÚDE

Diretora do CEDESS: Profa. Dra. Maria Cecília Sonzogno

Coordenador do Programa de Pós-Graduação: Prof. Dr. Nildo Alves Batista

iii

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JULIANA BARBOSA MAGALHÃES

Título: A Humanização na Prática de Enfermeiros em uma

Unidade Hospitalar de Clínica Médico-Cirúrgica

Presidente da Banca Examinadora: Prof. Dr. José Antonio Maia de Almeida

BANCA EXAMINADORA:

Profa. Dra. Fabiana Augusto Neman

Profa. Dra. Maria Cezira Fantini Nogueira Martins

Profa. Dra. Paulette Goldenberg

Profa. Dra. Vanessa da Silva Carvalho Vila

iv

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DEDICATÓRIA

A DEUS,

amor fiel e soberano derramado sobre a minha vida.

Aos meus pais Ana e Geraldo,

motivo de muito orgulho, fonte inspiradora deste trabalho,

meus maiores referenciais de vida.

Aos meus irmãos Luciana e Marcelo,

amor fraternal, carinho e admiração

Ao André, meu futuro esposo,

respeito, amor e incentivo no desenvolvimento e

amadurecimento deste caminhar.

Ao meu primo Wesley,

exemplo de caráter e fé pela vida.

v

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AGRADECIMENTOS

O meu reconhecimento e gratidão, aos que puderam contribuir para o

resultado deste trabalho, foram separados em quatro grupos:

GOIÂNIA

Aos meus pais e irmãos, por todo o amor desprendido durante essa

trajetória, peço perdão pela minha ausência como filha e como irmã.

Às minhas tias Alci, Alcina, Araci e tio Aníbal, obrigada por me ensinarem o

valor de uma das coisas mais preciosas que Deus pôde fazer, chamada “família”.

Aos meus amados avós Marcelina e Valter (in memoriam), por toda a

dedicação e afeto. Obrigada, vovó, pelas orações. Deus ouviu o seu clamor.

Aos meus queridos primos (Wellyson e Renata) e sobrinhos (Johnny e

João Paulo), motivo de inspiração para novos projetos, eu os admiro muito.

Aos meus (futuros) sogros e cunhada, símbolos de amor, cuidado,

disciplina, carinho e fé, obrigada por existirem na minha vida.

Aos meus padrinhos Ana Zélia e João, que Deus possa recompensá-los

por tudo que fizeram por mim, pois serei eternamente grata a vocês.

SÃO PAULO

À minha eterna amiga Elizabeth e família, sinônimo de acolhimento,

cumplicidade, sinceridade e humanidade.

À minha eterna amiga leal Ana Luíza. Obrigada, Senhor, por ter conhecido

alguém tão amorosa, tão prestativa, tão verdadeira e tão especial.

À minha amada Paulinha, espírito valente, companheira, afetuosa,

atenciosa, obrigada pela força.

vi

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À Ivanete e Ivanilha, obrigada por estenderem as mãos a uma

desconhecida.

À família Betel e Videira, obrigada pelas orações.

REAL E BENEMÉRITA ASSOCIAÇÃO PORTUGUESA DE BENEFICÊNCIA-BP

À Gerência de Enfermagem Denise e Mirela, obrigada pelo carinho e pela

receptividade.

Às Supervisoras de Enfermagem Elaine e Érica, obrigada pelo apoio e

pelos conselhos, foi uma honra trabalhar com vocês, aprendi muito.

Aos participantes da pesquisa, agradeço do fundo do meu coração. Vocês

foram peças chaves para a construção do meu quebra cabeça.

Ao Comitê de Ética em Pesquisa da BP, em especial Suely, que tanto

contribuiu para a autorização do Projeto, meus sinceros agradecimentos.

Aos auxiliares de enfermagem, colegas enfermeiras, as escriturárias, muito

obrigada família BP pela atenção, pela força e pelo amor.

CEDESS A equipe de apoio administrativo: Suely, Fátima, Marcelo, Renata e Sônia,

obrigada pela paciência que tiveram em responder a todos os meus

questionamentos.

A todos os colegas de turma: Aline, Beth, Carol, Érica, Eliane, Gislaine,

Marilice, Mirela, Mônica Lia, Nadine, Paulinha, Thaís, Renata, Roberta e Vladimir,

obrigada por tudo, que Deus os abençoe nesta caminhada.

vii

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A todos os Docentes do CEDESS e em especial à Dra. Sylvia, Dr. Nildo,

Dra. Paulette e Dra. Cecília, sou grata por terem me acolhido de forma tão

calorosa, obrigada.

A todos que contribuíram de alguma forma na realização deste sonho.

AGRADECIMENTO ESPECIAL

A quem, acreditando no que ainda não se via, investiu, sustentou até

emergir e tornar o sonho em realidade.

Refiro-me a alguém muito especial que, antes de ser orientador, se me

apresentou em sua humanidade, ensinando-me sem nenhuma reserva,

acreditando em meu potencial, quando nem eu mesma acreditava que fosse

possível ultrapassar os meus limites. Ele fez o papel de pai, de amigo, de

confidente, de educador e, na mesma intensidade, de torcedor, para que eu

aprendesse o máximo.

Tudo o que dissesse não seria suficiente para agradecer a este ser

humano tão especial. Não sou apenas uma dissertação de mestrado concluída,

mas sou o resultado desta pessoa que acreditou que eu era e continua a ser. Falo

de alguém que significa o verdadeiro modelo da expressão de humanidade.

Obrigada Prof. Dr. José Antonio Maia de Almeida por tudo. Que Deus

abençoe a sua vida e a de sua família, que o Senhor Jesus possa lhe retribuir por

tudo que fez por mim.

viii

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Sumário

Página

Dedicatória v

Agradecimentos vi

Lista Figuras xi

Lista de Abreviações xii

Resumo xiii

Abstract xiv

I. INTRODUÇÃO 1

II. REFERENCIAL TEÓRICO 9

1. Humanismo, Humanidades e Humanização 10

2. Políticas Públicas de Humanização em Saúde 17

3. Formação Humanística do Enfermeiro: desenvolvendo competências profissionais

21

III. OBJETIVOS 30

IV. PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS 32

1. Caracterização da Pesquisa 33

2. Contexto e Sujeitos da Pesquisa 35

3. Coleta dos Dados 37

4. Análise dos Dados 39

V. RESULTADOS E DISCUSSÃO 44

1. Resultados Referentes aos Questionários (Parte 1) 46

2. Resultados Referentes aos Questionários (Parte 2) e às Entrevistas 48

A. A Visão dos Profissionais a Respeito da Humanização: do conceito à prática

49

B. A Prática Cotidiana dos Profissionais: experiências de humanização 50

C. A Formação para o Cuidado Humanizado ao Paciente 73

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VI. CONCLUSÕES E CONSIDERAÇÕES FINAIS 80

VII. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 83

VIII. ANEXOS 97

x

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LISTA DE FIGURAS

Figura Página

Figura 1: Florence Nightingale na Guerra da Criméia 3

xi

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LISTA DE ABREVIAÇÕES

CCI Centro de Convivência Infantil

CEDESS Centro de Desenvolvimento do Ensino Superior em Saúde

CEP Comitê de Ética em Pesquisa

CMC Clínica Médico Cirúrgica

DCN Diretrizes Curriculares Nacionais

EPM Escola Paulista de Medicina

HSP Hospital São Paulo

LDB Leis de Diretrizes e Bases da Educação Nacional

PNHAH Programa Nacional de Humanização na Assistência Hospitalar

RBAPB Real Benemérita Associação Portuguesa de Beneficência

SUS Sistema Único de Saúde

UCG Universidade Católica de Goiás

UNESCO Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura.

UNIFESP Universidade Federal de São Paulo

xii

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Resumo

O presente estudo teve por objetivo apreender, na ótica de enfermeiros atuantes

em uma Unidade de Clínica Médico Cirúrgica de um hospital de grande porte da

cidade de São Paulo, seus conceitos e suas formações a respeito da prática

humanizada no cuidado ao paciente hospitalizado. A pesquisa, de natureza

qualitativa, consistiu de uma análise descritiva e transversal, utilizando como

instrumentos de coletas de dados questionários e entrevistas com roteiro semi-

estruturado. Os resultados foram estudados por intermédio da análise temática,

considerando-se aproximações de significados. Os profissionais não expressaram

clareza a respeito de seu conceito de “humanização”, preferindo citar exemplos

de “prática humanizada”. Coerentemente, o contato, durante a formação dos

profissionais com discussões a respeito da humanização dos cuidados, foi

escasso e tardio. Contudo, observou-se que todos expressavam a importância de

uma prática humanizada, citando como fatores limitantes à mesma aspectos

institucionais, relativos à sobrecarga de trabalho, dentre outros. Um dos dados

considerado mais importante deste estudo foi o desejo, pela maioria dos

profissionais, no seu aprimoramento para uma assistência mais humanizada, por

intermédio de programas de educação continuada. Os dados indicam a

importância de intervenções educativas nas equipes, que, se por um lado

mostram-se sensibilizadas para a temática da humanização, por outro apontam

para a lacuna de processos formativos, de cunho essencialmente reflexivo.

Palavras-Chave: Humanização da Assistência. Educação Continuada em

Enfermagem. Processos de Enfermagem.

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Abstract

This study aimed at characterize, from the point of view of nurses who work in an

Unit of Surgical Medical Clinic of an important health care institution in the city of

Sao Paulo, their concepts and formations about humanized practice in the care of

in-hospital patients. The research was conducted in a qualitative design and used

questionaries and semi-structured interviews as instruments for obtainig data. The

results were analysed considering closeness of significations. The professionals

were not able to express clearly their concepts about “humanization” and prefered

to refer situations of “humanized practice”. In their previous formation, they had

few or no contact whith discussions about humanization of patients care.

Meanwhile, all of them recognized the importance of work in an humanized way.

The main drawbacks were related to institutional factors, such as hard work in

turns. One of the most important results of this research was the wish, refered by

most of the professionals, to improve the quality of the humanized care of patients,

by means of continued education programs. The data point to the importance of

educational activities with nursing groups. The professional showed a great

degree of sensibilization towards this theme, but complained of lack of discutions

and reflections about it.

Key Words: Humanization of Assistance. Education, Nursing, Continuing.

Nursing Process.

xiv

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“The trained nurse has become one of the great blessings of

humanity, taking a place beside the physician and the priest,

and not inferior to either in her mission...”

Sir William Osler, 1932.

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INTRODUÇÃO

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“Se trago as mãos distantes do meu peito

É que há distância entre intenção e gesto...”

Chico Buarque de Hollanda

Vivemos em uma época na qual, na formação e nas práticas

profissionais na área da saúde, expressões tais como “amor ao próximo”,

“atitudes humanas”, “valorização do ser humano”, “respeito à individualidade”,

“o ato de falar”, “de ouvir”, “cuidado integral”, “empatia”, “práticas e atitudes

humanizadas”, “humanizar-se”, “ser humano”, “ato de humanização” são

comumente utilizadas. A reflexão sobre todos estes termos e sua polissemia,

originou alguns questionamentos que culminaram com o presente estudo.

Será que, nos cuidados de enfermagem a pacientes hospitalizados,

estamos fazendo e vivendo o que falamos, a respeito da humanização? Ou

será que a nossa formação voltou-se apenas para a capacidade de cumprir

tarefas e atribuições, respaldadas pela excelência do conhecimento técnico-

científico? Somos levados a acreditar que seja possível prestar uma

assistência de saúde ao próximo despojados de nossa própria humanização?

E, mesmo que a formação acadêmica trilhe os caminhos da humanização, qual

é a visão das instituições hospitalares no tocante aos cuidados humanizados?

Estas reflexões remetem o enfermeiro à tomada de consciência de que a

assistência humanizada é fundamental, tanto para o paciente e seus familiares,

quanto para a equipe que o acolhe. Com efeito, na graduação, somos

instigados a atender a um princípio fundamental: cuidar do cliente da mesma

2

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forma com que nós gostaríamos de ser cuidados, como se ele fora um membro

de nossas famílias.

Tais aforismas são passados de geração em geração, ao menos desde

a precursora da enfermagem moderna, Florence Nightingale, que, em 1858

(apud Garcia e Nóbrega, 2004) afirmava que o principal objetivo da

enfermagem é “manter o paciente na melhor condição para que a natureza

pudesse agir sobre ele” (Figura 1).

Figura 1: Florence Nightingale na Guerra da Criméia, 1854 (Fonte:

Mc Donald, L.*)

Na trajetória histórica da enfermagem, outras visões se sucederam,

centralizando o paciente como foco da assistência, expressas por autoras tais

como Joyce Travelbee (1973), com a teoria das relações interpessoais e * Disponível em: http://www.gazellebookservices.co.uk/Military/19th%20Century/19th%20Century%201.htm. Acesso em 30 de junho de 2008.

3

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Medeleine Leininger (1978), que valorizava o cuidado transcultural, onde a

enfermagem devia considerar as crenças e os valores culturais das pessoas,

conferindo a estas identificação singular, individual e pessoal. Em nosso meio,

Wanda de Aguiar Horta (1979) destacou a importância da consideração das

necessidades humanas básicas no cuidado do ser humano integral,

objetivando seu equilíbrio bio-psico-sócio-espiritual.

Atualmente o termo “cuidado humanizado” é parte do ideário da prática

da enf

nsiderar a realidade da atuação do enfermeiro

no ho

ermagem. Boff (1999) deixa clara a sua visão diante do significado do

“cuidado”, quando diz que: “a essência humana não se encontra tanto na

inteligência, na liberdade, ou na criatividade, mas basicamente no cuidado (...)

que é, na verdade, o suporte real da criatividade, da liberdade e da inteligência”

(p.11). Para o autor, o cuidado engloba o ethos fundamental do ser humano:

“(...) os princípios, os valores e as atitudes que fazem da vida um bem-viver e

das ações um reto agir”. (p.11).

Entretanto... há que se co

spital. A alta rotatividade dos pacientes internados exige destes

profissionais uma assistência com resolutividade e otimização do tempo. A

pessoa admitida no hospital está imersa em um processo nem sempre bem

resolvido de adaptação à doença, e em um dado momento, em um novo

ambiente, requer um atendimento diferenciado da equipe de enfermagem, que,

presente e solidária, pode auxiliá-lo a compreender significados inerentes ao

processo saúde-doença e, principalmente, na valorização da vida. O cuidado

humanizado auxilia no processo de cura e contribui para tornar essa

experiência significativa e menos traumática (WALDOW, 2001).

4

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Alguns autores, dentre os quais Casate (2005) evidenciam que o

aspecto humano no cuidado humanizado de enfermagem tem sido a cada dia

que passa uma ação difícil de ser implantada. A rotina diária e a alta

complexidade de doenças que envolvem um ambiente hospitalar fazem com

que o enfermeiro, na maioria das vezes, “se esqueça de tocar, conversar e

ouvir o ser humano que está à sua frente” (VILA, 2002, p.137). Surge então a

desumanização à assistência ao paciente, expressa em atitudes tais como o

anonimato, a despersonalização, a falta de privacidade e a aglomeração. A

formação profissional nem sempre favorece uma postura ética por parte do

enfermeiro, quando o paciente torna-se um número, um “caso” possivelmente

interessante tal como “a úlcera do leito 6” ou a “estenose mitral da enfermaria

14”... O homem transforma-se em um objeto de estudos, explicável por

algumas páginas de um livro de fisiopatologia.

Esta realidade, presente nas reflexões de qualquer profissional

genuinamente envolvido com a humanização de sua prática, encontrou

ressonância nas mais elevadas esferas do planejamento dos cuidados à saúde

da população brasileira, quando, em 2000, o Ministério da Saúde propôs o

Programa Nacional de Humanização da Assistência Hospitalar (PNHAH). Tal

iniciativa englobou diversos níveis políticos, de Secretarias Estaduais e

Municipais de Saúde a entidades da sociedade civil, prevendo a participação

de gestores, de profissionais da saúde e de representantes da comunidade de

usuários dos Serviços de saúde.

No campo da formação profissional, a temática da humanização dos

cuidados de enfermagem foi expressa nas Diretrizes Curriculares Nacionais

5

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(BRASIL, 2001), promulgadas em decorrência da Lei de Diretrizes e Bases da

Educação Nacional (BRASIL, 1996), que serão objeto de discussão posterior.

Antes, porém, de apresentar propriamente este trabalho, cumpre

discorrer, em poucas palavras, a respeito do motivo da escolha da temática da

humanização na prática do enfermeiro, como objeto de um estudo de pós-

graduação.

Graduada em Enfermagem, no ano de 2002, pela Universidade Católica

de Goiás (UCG) em Goiânia, nos estágios de clínica médico-cirúrgica, tive a

oportunidade de participar de uma iniciativa única de humanização dos

cuidados a pacientes de uma clínica médico-cirúgica. Tratava-se de uma ala

de traumatologia ortopédica com 80 leitos, em um hospital de grande porte em

Goiânia. Apaixonada pela dança, juntamente com um colega músico, fizemos

uma apresentação para os pacientes internados, como trabalho de conclusão

da disciplina. Ficamos emocionados com as lágrimas dos pacientes. Esta

experiência despertou em mim o interesse pelos doentes como seres

humanos, com suas fragilidades, sensibilidades e singularidades, ainda que

esta temática não fosse um foco de formação acadêmica nas instituições

hospitalares...

Alguns anos depois, como responsável por uma Unidade Clínico-

Cirúrgica de um hospital de alta complexidade na cidade de São Paulo,

persisto (claro que, agora, sem as sapatilhas...) no intento de refletir e praticar

ações que resultem em um cuidado humanizado de seres humanos fragilizados

pela doença e pelo medo.

As funções de um enfermeiro de clínica médico-cirúrgica podem ser

descritas (em que pese a fragilidade de barreiras entre as mesmas) como

6

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administrativas, assistenciais, relativas à equipe de saúde e educativas. As

atividades administrativas referem-se ao planejamento, organização, comando,

coordenação e controle de atividades desenvolvidas na unidade, incluindo o

fornecimento de dados ao sistema de informação hospitalar. A assistência

engloba as ações desempenhadas diretamente no cuidado ao paciente. As

atividades relativas à equipe de saúde dizem respeito à comunicação com a

enfermagem tanto no seu âmbito interno quanto na interação com os demais

profissionais atuantes na instituição. Finalmente, as ações educativas são

aquelas relacionadas com o processo de atualização de conhecimentos

técnico-científicos por parte do enfermeiro e de seu grupo (MARINHO, 1985).

Sendo assim, o enfermeiro é um profissional que lida com um vasto

contingente de dados e informações a respeito dos pacientes e de seus

tratamentos, por assumir a coordenação da equipe de enfermagem. É em seu

local de trabalho que se articulam diretrizes terapêuticas médicas com a prática

propriamente dita do cuidado, no conjunto das tarefas distribuídas entre os

diversos atores responsáveis pelo cuidado (TREVIZAN, 1999).

É particularmente neste campo que emergiram algumas incertezas a

respeito da formação humanística do enfermeiro, entendendo que, além dos

aspectos acadêmicos, inúmeros outros fatores podem exercer influência na

prática profissional, incluindo, além de questões pessoais, a observação da

atuação de outros colegas, leituras diversas e o acompanhamento de eventos

científicos nos quais se discute a humanização na saúde.

Desta forma, as seguintes questões nortearam o presente estudo:

7

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Qual é a concepção do enfermeiro atuante na clínica médico-

cirúrgica a respeito da humanização de suas práticas no cuidado aos

pacientes?

Quais são as suas visões a respeito da formação para uma atuação

humanizada?

A pesquisa no âmbito da complexidade do próprio campo da prática dos

profissionais justifica-se a partir do ponto de vista de que:

“Nos diversos cenários práticos, as situações reais fornecem

os elementos necessários para a problematização, emergindo

daí discussões que aprofundem a compreensão de

necessidades e as possibilidades de intervenções. Por outro

lado, a prática é o campo por excelência para o

desenvolvimento de ações interdisciplinares, no âmbito do

cuidado integral do ser humano”. (MAIA, 2005, p. 50)

Para responder a essas questões pela pesquisa, faz-se necessária uma

incursão teórica metodológica sobre alguns conceitos que nortearam o trabalho

ora apresentado.

8

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REFERENCIAL TEÓRICO

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1. Humanismo, Humanidades e Humanização

O Humanismo pode ser entendido como uma “filosofia que enfatize o

bem-estar e a dignidade humana, e que seja otimista quanto aos poderes do

entendimento humano per se” (BLACKBURN, 1997, p.187). De acordo com a

historiografia elaborada por Bertrand Russell (1945), a centralidade do

pensamento filosófico desde muitos séculos oscilou, sobretudo, entre

elementos divinos, humanos e naturais. O foco no ser humano pode ser

documentado, por exemplo, na antiguidade clássica. Segundo Sófocles,

filósofo grego que viveu no século V a.C, poucas décadas após Sócrates:

“muitas são as coisas extraordinárias, mas nada existe de mais extraordinário

do que o homem”. Após o teocentrismo medieval, no século XV d.C., o

Humanismo afirma-se durante o Renascimento italiano. Mais recentemente, no

século XVIII, Immanuel Kant, afirma que as pessoas não devem jamais ser

usadas como meio, pois são um fim em si mesmas. Estas reflexões têm

repercutido historicamente na formação profissional da saúde, sobretudo nas

iniciativas de inclusão curricular de conteúdos referentes às “humanidades”

(AUGUSTO et al., 2008).

Ser humanista é, portanto, acreditar no ser humano, colocá-lo no centro

do universo, confiar na sua capacidade de progredir e construir um mundo

melhor através da sabedoria oriunda da filosofia, da ciência ou de qualquer

outra forma de conhecimento (MOLINA e DIAS, 2003). O Humanismo, no

entanto, “é muito mais gesto e conduta do que saber” e toma como base os

postulados da generosidade, da tolerância e da compreensão (MARANON,

1969).

10

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No que tange à formação profissional na enfermagem, tal visão

antropocêntrica e solidária centraliza o olhar em todos os indivíduos que

participam dos cuidados à saúde, sejam eles profissionais, pacientes ou

gestores. Significa que o enfermeiro deva compreender que está cuidando de

uma pessoa na sua integridade, e não apenas fazendo parte do tratamento de

uma doença.

Entre os profissionais de saúde é cada vez mais freqüente o uso de

termos como: “humanização”, “práticas humanizadas”, “cuidado humanizado”.

Para Ferreira (1986), “humano” é “relativo ao homem: natureza humana: gênero

humano, bondoso, humanitário” (p.908). O mesmo autor associa também ao

termo expressões tais como “benevolência, clemência, compaixão” (p.908). O

conceito de “humanidade” leva-nos, desta forma, à noção de solidariedade

estendida a todas as pessoas, freqüentemente sintetizada na palavra

"humanitário".

Uma visão etimológica do termo latino remete a Abbagnano (2003), que

define “humanitas” como:

“(...) a substância ou essência do homem (...) aquilo em virtude

do que o homem é homem; e em homem é homem não porque

tem os princípios individuais, mas porque tem os princípios

essenciais da espécie (...) a disposição à compreensão dos

outros ou à simpatia para com eles.” (p.518).

No intuito de melhor elucidar o significado de “humanização” inclui-se, a

seguir, uma breve discussão quanto aos termos: “humano” e “humanizar”.

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Para Betts (2004), o humano é o efeito da combinação de três

elementos: a materialidade do corpo, a imagem do corpo e a palavra que se

inscreve no corpo. Na opinião do autor, o que diferencia o ser humano da

natureza e dos animais, é que seu corpo biológico é desenvolvido desde o

início numa rede de imagens e palavras, apresentadas primeiro pela mãe,

depois pelos demais familiares e em seguida pela sociedade. É justamente

este movimento de imagens e linguagem que irá moldar o desenvolvimento do

corpo biológico, transformando o ser em um ser humano, com um estilo próprio

de viver.

O mesmo autor acrescenta que o fato de sermos dotados de uma

linguagem torna possível para nós a construção de redes de significados, que

acabamos compartilhando com os nossos semelhantes, em uma maior ou

menor medida, levando à construção de uma identidade cultural. Em função da

combinação dinâmica desses três elementos, “(...) somos capazes de

transformar imagens em obras de arte, palavras em poesia e literatura e sons

em fala e música, ignorância em saber e ciência, somos capazes de produzir

cultura e a partir dela, intervir e modificar a natureza, transformando doença em

saúde.” (p.2).

Se o humano está envolvido com essa rede de significados e linguagem,

como entender o que é humanizar? Uma visão bastante interessante, inserida

no ideário do PNHAH, apresentada pelo mesmo Betts é que “(...) humanizar é

garantir à palavra a sua dignidade ética”, respeitando os valores, os saberes, a

história, as crenças de outros seres humanos.

Para Foucault (1977) e Rosen (1979), o hospital moderno teve como

marca histórica de sua constituição organizacional impor aos “pacientes” o

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isolamento, a despersonalização e a submissão disciplinar de seus corpos e

subjetividades, a procedimentos e decisões que nem sempre compreendem.

Em outras palavras, para Deslandes (2004) essa forma de tratar o “doente”, que

em nome da rigorosa “prática científica biomédica”, afasta-o de seu convívio

familiar e social e não lhe reconhece discernimento ou competência para

tomada compartilhada de decisões, vem constituindo, por muito tempo, a tônica

da cultura organizacional hospitalar.

A internação hospitalar representa uma verdadeira ruptura do modo de

viver do indivíduo, que é transformado em “paciente” (na acepção original da

palavra patiens: o que suporta, o que resiste). Estes, sem direito a decisão, não

raro

“(...) são vistos como objetos ou máquinas inanimadas, sem

sentimentos, a serem manipulados, que sofrem experimentos,

são fragmentados em problemas e tratados com imparcialidade.

Em casos mais extremos são isolados, alienados, despojados

de sua dignidade, com pouca oportunidade de escapar do

ambiente estático, estéril e degradante em que estão

emaranhados” (MARSEN, 1992, apud NASCIMENTO e

TRENTINI, 2004, p.252).

Disto resulta, segundo Maia (2005), a “objetivação” do paciente

internado, transformado em um “portador de lesões” a serem diagnosticadas e

tratadas. O cuidado humanizado, portanto, “(...) contrapõe à objetivação do

paciente e de sua doença a valorização das dimensões subjetivas dos

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indivíduos, profissional e cliente, em sua relação” (MAIA, 2005, p.44),

resgatando a dimensão “eu-tu” ao invés de “eu-isso” (BUBER, 2004)...

Neste aspecto relacional, a humanização valoriza uma dimensão

dialógica, que é ressaltada por Betts (2004).

“Humanizar a assistência hospitalar implica em dar lugar tanto à

palavra do usuário quanto à palavra dos profissionais da saúde,

de forma que possam fazer parte de uma rede de diálogo, que

pense e promova as ações, campanhas, programas e políticas

assistenciais a partir da dignidade ética da palavra, do respeito,

do reconhecimento mútuo e da solidariedade.” (p.4).

No mesmo sentido, o filósofo Gadamer (1997), afirma que: “toda

compreensão é um exercício hermenêutico e o estudo da linguagem é o

caminho para a análise dos significados”. O autor define que a linguagem é o

que constitui o ser como ser das relações: a linguagem é a “casa-do-ser”, desta

forma, linguagem e realidade estão profundamente articuladas.

Para o enfermeiro inserido no mundo real do hospital, a prática

humanizada dialógica é mais do que uma postura ou uma competência, trata-se

de uma responsabilidade profissional extremamente relevante e conseqüente.

Com efeito, citando um famoso pensador espanhol, Perissé (2004) assim

discute tal relação entre seres humanos:

“Situar-se no real, para Lopes Quintás, mais do que dominá-lo,

classificá-lo, determiná-lo, esquartejá-lo, é manter uma relação

de diálogo e encontro, num âmbito em que o poder humano

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reside, sobretudo, em experimentar a força do ser, e não em

forçá-lo a ser, autoritariamente, o que o homem queira.” (p. 27).

A história da humanização é objeto de uma extensa revisão de Baremblitt

(2001). O autor afirma que suas raízes estabeleceram-se no Império Romano,

passando pelo judaísmo do Oriente Médio e posteriormente pelo cristianismo

primitivo. Os conceitos de virtudes humanas pautavam-se na imagem e

semelhança com a divindade, e tiveram grande influência na cultura ocidental.

O mesmo autor discute que:

“Na civilização contemporânea, as condições objetivas e

subjetivas para obter um alto grau de humanidade para todos os

membros da espécie humana estão já dadas pelo alto grau de

potência produtiva. Para essas orientações, humanizar consiste

simplesmente em canalizar tais capacidades no sentido de

estender e distribuir, integral e igualitariamente à humanidade

uma série de benefícios e resultados considerados propriedades

sine qua non da condição humana” (p. 21).

Estabelecer um conceito de “humanização”, sobretudo no que tange aos

cuidados à saúde, não é tarefa fácil, e tem sido objeto de vários trabalhos

científicos.

A Conferência Internacional em Humanização no Nascimento, realizada

no Brasil em 2000, produziu a “Declaração do Ceará”, que definiu a

“humanização” como:

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“Um processo de comunicação e cuidado entre pessoas que

leve à auto-transformação e a uma compreensão do espírito

fundamental da vida e a um senso de compaixão por e unidade

com: (1) o Universo, o espírito e a natureza; (2) outras pessoas

na família, na comunidade, no país e na sociedade global; e (3)

outras pessoas no futuro, bem como em gerações passadas.”

(UMENAI e COLS., 2001, p.30).

O exercício do cuidado humanizado é particularmente complexo no

ambiente hospitalar, sobretudo se considerarmos que a evolução do

conhecimento científico insere, nesse ambiente, recursos tecnológicos cada vez

mais sofisticados e indispensáveis, que permitem identificar, em seus mínimos

detalhes, a doença, exigindo da enfermagem uma atenção que é dividida com o

cuidado pessoal do doente.

Com o avanço científico e tecnológico e a sofisticação de procedimentos

vinculados à necessidade de se estabelecer controles e vigilâncias de variáveis

fisiopatológicas, o enfermeiro passa a assumir cada vez mais encargos

gerenciais, afastando-se gradualmente do cuidado ao paciente (BEDIN, 2004).

Waldow (1998) destaca a importância de conciliar e harmonizar as

diversas funções do enfermeiro, quando afirma que:

“O cuidado humanístico não é rejeição aos aspectos técnicos,

tampouco aos aspectos científicos. O que se pretende, ao

revelar o cuidado, é enfatizar a característica do processo

interativo e de fruição de energia criativa, emocional e intuitiva,

que compõe o lado artístico além do aspecto moral.” (p.62).

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O autor aponta para uma dificuldade no processo relacional, o que nos

remete à comunicação, expressa no diálogo entre profissionais da saúde

especialmente o enfermeiro e o paciente.

A possibilidade comunicacional passa, então, a constituir a referência

conceitual mais importante, ou seja, “sem comunicação não há humanização.”

(BETTS, 2004).

É pela mediação da palavra trocada com o outro que podemos tornar

inteligíveis nossos pensamentos, anseios, temores e sofrimentos. Nossos

sentimentos e sensibilidades só tomam forma e expressão de vida quando nos

relacionamos com o outro. Enfim, as coisas do mundo se tornam humanas

quando as discutimos com nossos semelhantes (BRASIL, 2000).

Cabe ainda ressaltar que, para Silva (2002), a comunicação não verbal

também tem grande importância como expressão do humano e de sua busca

por ser compreendido.

Tais considerações permitem inferir que a promoção da qualidade dessa

relação deve constituir uma preocupação formalmente expressa no

desenvolvimento de competências especificamente planejadas dos

profissionais ao longo de todo o seu processo educativo. Podemos refletir que,

se os pacientes são ouvidos, compreendidos, acolhidos, considerados e

respeitados, várias demandas, queixas e necessidades podem ser

minimizadas, ou até mesmo evitadas, durante o seu processo de internação.

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2. Políticas Públicas de Humanização em Saúde

A valorização da humanização nos cuidados à saúde tem sido não

somente uma preocupação das instituições formadoras de recursos humanos,

mas também atinge a esfera governamental, por intermédio das políticas

públicas, que serão a seguir brevemente discutidas.

No momento atual, o Estado afirma que a dimensão humana e subjetiva,

inserida na base de toda intervenção na atenção à saúde, das mais simples às

mais complexas, tem uma enorme influência na eficácia dos serviços prestados

pelos Serviços (e, em particular, das instituições hospitalares). Neste sentido,

foi desenvolvido o Programa Nacional de Humanização da Assistência

Hospitalar – PNHAH, já anteriormente referido neste trabalho. Sua gênese foi

fruto de parcerias envolvendo o Ministério da Saúde, Secretarias Estaduais e

Municipais de Saúde e entidades representativas da sociedade civil, prevendo a

participação de gestores diversos, bem como dos profissionais de saúde da

rede (BRASIL, 2000).

O Programa tem por objetivo promover uma mudança de cultura no

atendimento à saúde, com a expectativa de que esta nova visão inclua a

responsabilidade da comunidade pela qualidade do atendimento à saúde,

fortalecendo, em cada instituição de saúde, políticas de respeito e de

valorização da vida humana. (BRASIL, 2000).

O documento de implantação do PNHAH (2000) afirma que:

“A humanização é entendida como valor, na medida em que

resgata o respeito à vida humana. Abrange circunstâncias

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sociais, éticas, educacionais e psíquicas presentes em todo

relacionamento humano. Esse valor é definido em função do

seu caráter complementar aos aspectos técnico-científicos que

privilegiam a objetividade, a generalidade, a causalidade e a

especialização do saber” (p.2).

Historicamente, alguns projetos de humanização já vinham sendo

desenvolvidos, em áreas específicas da assistência, como por exemplo, a

“Humanização do Parto” e o “Projeto Canguru”, para recém nascidos de baixo

peso. Outras atividades já se encontram consolidadas em muitas instituições

hospitalares, principalmente na assistência pediátrica, ligadas, por exemplo, ao

mundo das artes plásticas, da música, do teatro e da dança. Em particular, no

Hospital São Paulo, ligado ao complexo UNIFESP, a implantação de

brinquedotecas, de caixas de sugestões, juntamente com reformas na estrutura

física e a criação do CCI (Centro de Convivência Infantil) (HSP, 2002) são

iniciativas frutíferas de humanização hospitalar1.

O PNHAH (BRASIL, 2000) pretende avançar no modelo de assistência à

saúde que, no Brasil, como em outros países, era centrado no atendimento

curativo, especializado, individual, tendo como principal espaço para as ações

de saúde, o hospital.

Cumpre mencionar a importância do movimento da reforma sanitária,

que, nos anos 80, começou a delinear um novo projeto de atenção à saúde,

valorizada como direito de todo o cidadão a ser garantido pelo Estado,

envolvendo princípios como eqüidade do atendimento, a integralidade da

1 Informações obtidas em: URL:<www.unifesp.br/spdm/hsp/humaniza/gth.htm>. Acesso em 1/12/2007.

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atenção e a participação social do usuário. Os direitos dos seres humanos

nascem com os homens e, naturalmente, quando se fala de direitos da pessoa

humana, pensa-se em sua integridade, integralidade, dignidade, liberdade e

saúde (Garrafa, 1995). Este ideário foi consolidado pelo Sistema Único de

Saúde - SUS, originado da Constituição de 1988 (BRASIL, 1988) e

regulamentado pela Lei Orgânica de 1990 (BRASIL, 1990).

A própria Constituição Federal afirma que compete ao SUS o

direcionamento da formação de recursos humanos em saúde. Assim, pode-se

afirmar que a humanização da atenção constitui-se, em nosso país, em uma

política de Estado, o que demanda, dentre inúmeras outras ações

programáticas, um redirecionamento da qualificação dos profissionais da saúde

– em particular de enfermeiros – como será discutido na sessão subseqüente.

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3. Formação Humanística do Enfermeiro: desenvolvendo competências

profissionais

Os profissionais da saúde exercem seu cotidiano em meio a situações

conflitantes entre a vida e a morte, a saúde e a doença, submetidos a tensões

advindas do contato com pacientes difíceis, em estados terminais, com dores

crônicas, em estado de depressão, abandono, agressividade, rebeldia e com

diversos transtornos psiquiátricos. Temem cometer erros, às vezes pequenas

falhas que podem resultar em conseqüências sérias. Assim, “cuidar de quem

cuida” é uma condição indispensável para o desenvolvimento de projetos e

ações que promovam a humanização da assistência (BRASIL, 2004).

Em que pese o volume de estudos, ao longo das últimas décadas,

mostrando a necessidade de valorizar, na educação do enfermeiro, sua

dimensão subjetiva, tal prática ainda está distante da realidade dos diversos

cursos de formação profissional, em seus variados níveis (CASATE, 2005).

Moretto (1998) e Saeki (1999) afirmam que a humanização do processo

ensino-aprendizagem deve ser vista como um fator importante do nosso tempo,

pois o que se observa é a ênfase na dimensão intelectual e cognitiva, em

detrimento quase que total das dimensões emocionais e sociais que integram a

totalidade da pessoa humana. O objetivo último desse processo educacional é

o desenvolvimento global, harmônico, holístico, da pessoa como unidade

cognitiva e emocional.

Leoni (1996) comenta que, ao valorizar a humanização das relações

interpessoais, estamos facilitando o crescimento intelectual e emocional do ser

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humano, pois, para isso, é necessário estabelecer relações construtivas, no

sentido de obter a compreensão e a aquiescência de quem precisa de ajuda.

Portanto, falar em formação humanística é falar da valorização humana,

é, sobretudo, ter a capacidade de enxergar e de entender o paciente-homem, o

paciente com seus valores, suas crenças, seus medos, ansiedades, ou seja,

suas limitações e potencialidades.

Entende-se que a “formação humanística” é uma preparação do futuro

profissional em estabelecer relações essencialmente humanas com seus pares

e, sobretudo, com seus pacientes. Como discutido anteriormente:

“O humanismo requer tratar o paciente de uma forma

conectada, relacional, como qualquer ser humano desejaria ser

tratado – com consideração, gentileza e respeito. Este

paradigma insiste na profunda humanidade dos indivíduos

envolvidos e reforça a importância da relação paciente-

profissional no processo de cura.” (DAVIS e FLOYD, 2001, p.

12).

Persistem como extremamente atuais as sábias palavras do médico e

humanista Peabody, que, em 1927, afirmava que:

“O que se chama de ‘quadro clínico’ não é apenas a fotografia

de um homem doente no leito; é uma pintura impressionista do

paciente cercado por sua casa, seu trabalho, suas relações,

seus amigos, suas alegrias, tristezas, esperanças e medos.”

(p.878).

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O processo de formação humanística deve contemplar o

desenvolvimento de uma visão integral do homem, ou seja, o homem visto

como um todo, não somente em partes, compreendendo a rede de significados

que este traz dentro de si, sem distinção entre corpo, alma e espírito, como um

ser dotado de uma dimensão histórica e inserido em um contexto social (cultural

econômico e geográfico). No modelo atualmente proposto de atenção à saúde

destaca-se a questão fundamental de que a dimensão social configura e dá

sentido à dimensão biológica do homem (MERHY e QUEIROZ, 1993).

Entretanto, no cotidiano da assistência hospitalar, existem diversos

desafios para a implantação de medidas humanizadoras, destacando-se a

própria sensibilização de enfermeiros. O que se observa é que profissionais da

área da saúde não são, em geral, preparados para o desenvolvimento de

competências dirigidas ao desempenho de uma assistência de caráter

humanizador. Embora possam ter sido expostos a uma adequada carga de

informações técnico-científicas, há lacunas no desenvolvimento de aspectos

interativos, relacionais (NOGUEIRA-MARTINS, 2001).

A dimensão da formação humanística representa um foco

particularmente importante para os educadores, principalmente no atual

momento histórico, quando os antigos “currículos mínimos” deram lugar, em

decorrência da Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional - LDB (BRASIL,

1996), às “diretrizes curriculares” para os diversos cursos de graduação. As

Resoluções referentes às áreas do conhecimento foram desenvolvidas com o

intuito de nortear o planejamento dos currículos, possibilitando práticas

institucionais individualizadas e peculiares, favorecendo discussões

epistemológicas e pedagógicas no contexto da formação superior em saúde,

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em nosso meio, sem, contudo “engessar”, o processo de desenvolvimento

profissional.

Em particular, as Diretrizes Curriculares Nacionais para os Cursos de

Graduação em Enfermagem (BRASIL, 2001) conferem ênfase ao

desenvolvimento do perfil profissional e das competências desejadas para o

egresso, em adequação à realidade atual do país. O referido documento (Art.

3º, I) estabelece que os cursos de graduação devem formar um:

“Enfermeiro, com formação generalista, humanista, crítica e

reflexiva. Profissional qualificado para o exercício de

Enfermagem, com base no rigor científico e intelectual e

pautado em princípios éticos. Capaz de conhecer e intervir

sobre os problemas/situações de saúde-doença mais

prevalentes no perfil epidemiológico nacional, com ênfase na

sua região de atuação, identificando as dimensões bio-psico-

sociais dos seus determinantes. Capacitado a atuar, com senso

de responsabilidade social e compromisso com a cidadania,

como promotor da saúde integral do ser humano.”

O diploma legal também menciona a licenciatura, com a finalidade da

formação profissional na área.

Ainda de acordo com Nogueira-Martins (2001), a crescente importância

dos aspectos psicológicos, sociológicos e antropológicos na área da saúde

torna a inclusão destes conteúdos uma prioridade para os currículos,

resgatando a constituição dos saberes e técnicas ao longo do tempo,

permitindo uma melhor compreensão do presente e um direcionamento para o

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futuro. As matérias humanísticas contribuem para uma nova abordagem na

área da saúde, preocupada com tarefas curativas, preventivas e reabilitadoras,

mas também com a melhoria da natureza humana e o bem-estar social.

Esperidião (2002) reafirma esta visão, acrescentando que o processo ensino-

aprendizagem na formação do enfermeiro deve contemplar uma “semente de

proposta transformadora”, nas práticas referentes aos cuidados à saúde da

população.

Entretanto, a formação para uma prática humanizada não deve ser

restrita à inserção pontual de disciplinas relacionadas às humanidades ou à

humanização da prática profissional. Em uma visão curricular ampliada:

“A dimensão humanística do desenvolvimento profissional deve

representar, para as escolas, não apenas um conjunto de

conteúdos curriculares, mas um valor de formação,

perpassando longitudinalmente o conjunto do currículo, como

um eixo horizontal intimamente relacionado a todas as

atividades e todos os atores responsáveis pela formação.”

(MAIA, 2005, p. 50).

Nesta perspectiva, a humanização na formação do enfermeiro é mais do

que um conjunto de conhecimentos ou habilidades, mas uma postura,

decorrente de um conjunto de competências a serem desenvolvidas durante o

processo de formação profissional.

Inicialmente, o conceito de competência profissional pode ser associado

a um conjunto de conhecimentos específicos e habilidades técnicas, em uma

determinada atividade. Contudo, atualmente valoriza-se a capacidade do

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indivíduo em lidar com situações da vida real, em seu campo de atuação

profissional, utilizando não só aspectos cognitivos e práticos, mas também

valores morais e emoções, dentre outros. Esta visão relaciona-se com o “saber

conhecer” (conhecimentos), “saber fazer” (habilidades), “saber ser” (atitudes) e

“saber conviver” (interações), considerados pilares para a educação neste

milênio (DELORS et al., 1999).

Assim, Zarifian (2001) define a competência profissional como:

“(...) a capacidade de enfrentar situações e acontecimentos

próprios de um campo profissional, com iniciativa e

responsabilidade, segundo inteligência prática sobre o que está

ocorrendo e com capacidade para coordenar-se com outros

atores na mobilização de suas capacidades”. (p.12)

Após uma extensa revisão bibliográfica, Epstein e Hundert (2002)

publicaram no JAMA (Journal of the American Medical Association) um artigo

científico que tem tido grande repercussão, a respeito da competência

profissional na formação médica, conceituada pelos autores como:

“... o uso habitual e criterioso de comunicação, conhecimento,

habilidades técnicas, raciocínio clínico, emoções, valores e

reflexão na prática cotidiana, para o benefício do indivíduo e da

comunidade atendida.” (p. 226).

Os autores propõem sete dimensões da competência profissional, a

seguir sucintamente apresentadas:

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Cognitiva: capacidade de solucionar problemas e identificar

lacunas no próprio conhecimento. Trata-se também da

autonomia na construção ativa e na utilização do próprio

conhecimento.

Técnica: habilidades profissionais (realização de manobras e

procedimentos).

Integrativa: julgamento científico, clínico e humanístico, inter-

relacionando o conhecimento básico ao profissional, bem

como a capacidade de lidar com situações de incerteza.

Contextual: capacidade de atuar em diferentes cenários de

trabalho e de administrar o tempo.

Relacional: trabalho em equipe e habilidade de comunicação

interpessoal e em situações de conflito.

Aspectos afetivos e morais: capacidade cuidadora, tolerância,

respeito e responsabilidade individual e social do profissional.

Hábitos mentais: observação da própria prática (auto-avaliação),

atenção sistemática, curiosidade crítica, bem como o desejo de

reconhecer e corrigir os próprios erros.

Uma leitura reflexiva das dimensões apresentadas pelos autores permite

afirmar, que, no campo da formação profissional do enfermeiro para uma

prática cuidadora humanizada perpassa todas as dimensões mencionadas

acima. Este campo de estudo e intervenção é, portanto, complexo, mas

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afigura-se como extremamente atual na construção de um modelo de atenção à

saúde, no qual o enfermeiro tem, nos vários cenários de atuação possíveis, e

no intra-hospitalar, em particular, uma importância de grande relevância.

Nesta linha de reflexão, e mergulhando na própria individualidade do

profissional e de suas vivências, Leoni (1996) afirma que:

“A eficiência do enfermeiro depende diretamente de suas

atitudes para consigo mesmo e para com os outros. A vida e as

pessoas é que nos dão materiais e experiências para que

adquiramos os conhecimentos que nos levarão às atitudes”.

(p.20).

Para Hoga (2004), seria mais apropriado “estar com” os pacientes,

oferecendo-lhes suporte e retaguarda para proporcionar as melhores condições

possíveis para a superação de situações difíceis. Assim, os pacientes poderão

vivenciar o momento de uma internação hospitalar de uma forma mais amena,

percebendo a preservação de sua integridade.

Uma última reflexão refere-se às palavras de Groër (1991) nos chama a

atenção para uma reflexão sobre a importância de nossas atitudes como

enfermeiros, no contato com os doentes, quando diz que:

“O toque, a escuta empática e demais práticas que integram a

essência do cuidado de enfermagem podem ser recursos

fundamentais do processo de cura.” (p.33).

O presente trabalho foi elaborado a partir de duas perspectivas. A

primeira refere-se à relevância de estudar (na ótica do enfermeiro) visões,

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formações e expectativas de aprimoramento de práticas profissionais de

enfermagem humanizadas. A segunda diz respeito à perspectiva de que a

humanização nos processos formativos dos enfermeiros pode efetivamente ser

objeto de programas de educação, onde a reflexão e a troca de experiências

resultem na construção coletiva de um ambiente hospitalar menos hostil, mais

terapêutico e, sobretudo, mais fraterno.

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OBJETIVOS

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Objetivo Geral

Analisar, sob a ótica de enfermeiros atuantes em uma

unidade hospitalar de Clínica Médico-Cirúrgica, conceitos e

princípios formativos a respeito da prática humanizada no

cuidado ao paciente.

Objetivos Específicos

Identificar a concepção do enfermeiro a respeito da

“humanização” no cuidado dos seus pacientes.

Identificar percepções e experiências dos profissionais no

âmbito da humanização nos cuidados de enfermagem.

Apreender expectativas quanto a processos de formação

para o desenvolvimento de competências voltadas ao

cuidado humanizado pelo enfermeiro.

31

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PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS

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1. Caracterização da Pesquisa

Na busca de resposta para as perguntas de pesquisa foi realizado um

estudo descritivo analítico e transversal, utilizando-se, para tal, de um enfoque

qualitativo na análise de dados.

Gamboa (1997) refere que o estudo descritivo analítico é retratado com

o intento de abordar o objeto, fundamentando-se na lógica interna do processo

e nos métodos que explicitam a dinâmica e as contradições internas dos

fenômenos e explica as relações entre homem, natureza, entre reflexão-ação e

entre teoria-prática.

Sendo assim, o mesmo autor afirma que a pesquisa tem como postura

marcante a crítica expressa e a pretensão de desvendar, mais que o “conflito

das interpretações”, o conflito dos interesses, manifestando-se o “interesse

transformador” das situações ou dos fenômenos estudados, resgatando sua

dimensão histórica e desvendando suas possibilidades de mudança.

Segundo Alves-Mazzotti (1998), a abordagem qualitativa em uma

pesquisa permite o levantamento, a compreensão e a organização dos dados

de forma contínua, onde se buscam identificar dimensões, categorias,

tendências, padrões e relações entre os dados, a fim de desvendar os seus

significados. Trata-se de um processo complexo, não linear, que implica em um

trabalho de leitura, organização e interpretação dos dados, iniciado já na fase

exploratória e que acompanha toda a investigação.

Greenhalgh e Taylor (1997) mencionam que é mais provável as pessoas

valorizarem resultados quantificados. Contudo, a característica da presente

investigação relaciona-se com conceitos, descrições de práticas e explicitação

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de expectativas. Desta forma, pensando como Goldenberg (1999) e buscando

um estudo mais profundo de fenômenos de natureza social, a opção foi por

uma abordagem qualitativa na coleta e na análise dos dados. Com efeito,

buscou-se apreender os significados que os sujeitos atribuem a fatos

referentes às suas concepções (GREENHALGH e TAYLOR, 1997).

A abordagem qualitativa possibilita desvendar os significados subjetivos

das falas dos sujeitos. Segundo Minayo (1999), esta perspectiva metodológica

é capaz de “incorporar a questão do Significado e da Intencionalidade como

inerentes aos atos, às relações, e às estruturas sociais, sendo essas últimas

tomadas tanto no seu advento quanto na sua transformação, como construções

humanas significativas.” (p. 11).

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2. Contexto e Sujeitos da Pequisa

A presente pesquisa foi desenvolvida em uma instituição hospitalar de

grande porte na cidade de São Paulo, fundada em 1859. Trata-se de uma

associação civil de direito privado de caráter beneficente, social e científico,

sem finalidades lucrativas, com autonomia patrimonial, administrativa e

financeira. A sociedade tem como objetivo o atendimento hospitalar de

pacientes de todos os níveis econômicos e sociais, sem qualquer tipo de

distinção, e na condição de entidade beneficente e filantrópica mantém leitos e

serviços hospitalares para uso público, sendo 60% deles aos pacientes do

SUS.

É considerado o maior complexo hospitalar privado da América Latina,

disponibilizando 1734 leitos para internação. Atualmente, mantém mais de

6000 funcionários, sendo 2900 alocados na área de enfermagem. As

estatísticas referentes ao ano de 2007 apontam que foram realizadas 35.000

cirurgias de diversas especialidades.

O estudo foi aprovado pelos Comitês de Ética em Pesquisa tanto da

UNIFESP quanto da Instituição onde foi realizada a pesquisa, que ocorreu

entre os anos de 2007 e 2008 (Anexos I e II).

A coleta de dados da pesquisa realizou-se com enfermeiras que

desejaram voluntariamente participar do estudo e assinaram o Termo de

Consentimento incluído no Anexo III. No total foram distribuídos questionários

a 60 enfermeiras, de cujo universo houve resposta de 22. Destas, uma

amostra aleatória de oito profissionais foram entrevistadas.

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Os sujeitos desta pesquisa têm como característica a participação

integral no acompanhamento e no cuidado dos pacientes, desde a sua

admissão até a sua alta.

As Unidades de Internação, denominadas de CMC, mantêm um

expressivo movimento de internações e procedimentos. A escolha de tal

cenário ocorreu pela amplitude e complexidade de ações realizadas no

hospital, que conta com um contingente significativo de profissionais,

envolvidos tanto no cuidado à saúde propriamente dito, quanto nas mais

diversas atividades administrativas.

É neste complexo e amplo cenário do “cuidar” que estão inseridos os

sujeitos de pesquisa, enfermeiros de CMC. A coleta de dados da pesquisa deu-

se através de enfermeiras que desejassem voluntariamente participar do

estudo, devendo estas assinar o Termo de Consentimento incluído no Anexo I.

No total foram 60 enfermeiras selecionadas para responderem os

questionários, sendo que deste total foi selecionada uma amostra aleatória de

oito enfermeiras para a realização da entrevista, identificados com as siglas de

E1 a E8, incluídas entre as que responderam ao questionário.

Aqui, vale salientar uma grande dificuldade na coleta de dados deste

estudo, em relação ao tempo de disponibilidade cedido pelas próprias

enfermeiras, pois a maioria delas alegou não poder responder ao questionário,

em decorrência de suas duplas e triplas jornadas, incluindo cursos de pós-

graduação fora da instituição, até mesmo outro emprego, família, filhos e a

própria escassez de próprio tempo livre na clínica.

O enfermeiro de CMC ocupa-se principalmente de tarefas classificadas

como: administrativas, assistenciais e educativas, incluindo as atividades de

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planejamento, organização, coordenação, execução e avaliação dos serviços

de assistência de enfermagem.

Com o planejamento da assistência de enfermagem, o enfermeiro visa

definir, antecipadamente, as ações a serem implementadas por sua equipe,

tendo como objetivo o alcance de suas metas perante as necessidades dos

pacientes/clientes. Tal planejamento desencadeia as outras funções

fundamentais da gerência, ou seja, a possibilidade de coordenar, controlar e

avaliar o desempenho de sua equipe.

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3. Coleta dos Dados

Optou-se por levantar as informações utilizando dois instrumentos:

questionário e entrevista semi-estruturada (Anexos IV e V). O questionário foi

respondido por 22 enfermeiras vinculadas às Unidades de Internação do

Hospital, e permitiu identificar a idade, o tempo de graduação, o período de

exercício profissional e o momento do contato inicial com a expressão

“humanização no cuidado ao paciente”.

O questionário foi previamente testado com um grupo de 8 enfermeiras,

que atuam na mesma Instituição, porém em outro local que não as Unidades

onde ocorreu a pesquisa, objetivando aprimorar o entendimento das questões.

A escolha de um questionário para a coleta inicial de dados deve-se ao

fato de que este instrumento permite levantamento de dados de maneira

simples, ampla, direta e objetiva.

Para Minayo (1999), o questionário permite obter dados de natureza

objetiva – fatos “concretos”, “objetivos” – que podem ser obtidos por outros

meios – bem como os de natureza “subjetiva”, como atitudes, valores, opiniões,

que “só podem ser obtidos com a contribuição dos atores sociais envolvidos”

(p.22).

Entretanto, o questionário tem limitações quando se buscam

concepções, tendências, ou a compreensão em maior profundidade, por

exemplo, de como é visto pela enfermeira o cuidado humanizado em sua

formação e sua prática no dia-a-dia. Por este motivo, a coleta de dados foi

complementada com o uso de entrevistas, que têm a vantagem de permitir

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expressões dos sujeitos com mais liberdade e profundidade, sobre suas

concepções, apresentando suas justificativas, idéias, e teorizando sobre o

assunto abordado.

O procedimento tomou como base o conceito de alguns autores, tais

como Lakatos, (1993), para quem a entrevista representa:

“Um encontro entre duas pessoas, a fim de que uma delas

obtenha informações a respeito de determinado assunto,

mediante uma conversação de natureza profissional que

proporciona ao entrevistador, verbalmente, a informação

necessária.” (p.195-196).

Considera-se que a entrevista face a face é fundamentalmente uma

situação de interação humana, na qual estão em jogo as percepções do outro e

de si, expectativas, sentimentos, preconceitos e interpretações para os

protagonistas (entrevistador e o entrevistado). No encontro fica explícito o que

se chama de “espaço relacional do conversar”, que segundo Maturana (1993) é

“o entrelaçamento do linguajar e do emocionar” (p.9).

Em uma entrevista, a intencionalidade do pesquisador vai além da mera

busca de informações, ou seja, o pesquisador deverá criar uma situação de

confiabilidade para que o entrevistado se abra (SZYMANSKI, 2002).

A pesquisa desenvolveu-se em dois momentos. No primeiro foram

coletados os questionários composto por questões abertas e fechadas para

uma análise mais simplificada das respostas, organizando-as de forma a

propor uma explicação adequada àquilo que se quer investigar, ou seja,

permitiu identificar a idade, o tempo de formação enquanto graduação, o tempo

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de exercício profissional e quanto ao primeiro contato com a expressão

“humanização no cuidado”.

A escolha de um questionário para a coleta inicial de dados deve-se ao

fato de que este instrumento permite levantamento de dados de maneira

simples, ampla, direta e objetiva. Entretanto, o questionário tem limitações

quando se buscam concepções, tendências, ou a compreensão em maior

profundidade, por exemplo, de como é visto pela enfermeira o cuidado

humanizado em sua formação e sua prática no dia-a-dia. Por este motivo, a

coleta de dados foi complementada com entrevistas, que têm a vantagem de

permitir, ainda que se baseie em um roteiro, a formulação de questões abertas,

onde o sujeito possa expressar-se com mais liberdade e profundidade, sobre

suas concepções, apresentando suas justificativas, idéias, e teorizando sobre o

assunto abordado.

Já no segundo momento foram selecionadas enfermeiras de uma

determinada Unidade de Internação constituída em um dos blocos da

Instituição pesquisada, para a participação da entrevista com questões abertas,

proporcionando ao sujeito de pesquisa uma situação de conforto, confiança e

ao mesmo tempo um desabafo relacionado com a pesquisa em si e com a sua

prática de enfermagem no cotidiano hospitalar.

Optou-se por estudar apenas as enfermeiras das unidades de internação

e serviços especializados, entendendo que estas unidades se constituem em

áreas do hospital, onde se mobilizam os maiores recursos materiais e pessoais

para a consecução do tratamento ao paciente internado. Estes sujeitos acabam

assumindo o papel efetivo de gerente da assistência de enfermagem,

desenvolvendo o processo administrativo, associando a este as funções de

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delegar atividades, supervisionar e orientar os elementos da equipe que lhe

são subordinados hierarquicamente e avaliar não só a qualidade de

assistência, bem como o desempenho específico do papel de cada um dos

funcionários, propondo correções para os desvios encontrados e estimulando a

continuidade da assistência humanizada.

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4. Análise dos Dados

O material obtido pelos questionários e pelas entrevistas (após

transcrição) foi exaustivamente lido e relido, sendo analisado como eixos

temáticos, tanto elaborados previamente quanto os que emergiram do próprio

material coletado, com o intuito de investigar tendências e confluências de

conceitos (MINAYO, 1999; THIOLLENT, 1988).

É nessa etapa que o conjunto do material (as informações coletadas)

passa por um processo de análise, termo que apresenta vários significados,

dentre eles, segundo Moroz (2005), decompor um todo em suas partes

componentes, esquadrinhar e examinar criticamente.

A pesquisa buscou identificar padrões de semelhança e recorrência de

dados e significância, seguindo metodologias propostas por autores como

Greenhalgh e Taylor (1997) e Minayo (1999). Do material empírico emergiram

temas que foram individualizados (MOROZ, 2005) e, posteriormente,

discutidos, buscando-se generalizações e inferências (GIL, 1999), em um

diálogo com a literatura especializada.

Os dados obtidos foram analisados por intermédio de uma das técnicas

de análise de conteúdo, denominada análise temática, cujo objetivo é o de

atingir os significados explícitos e os implícitos. Segundo Minayo (1999), esta

abordagem metodológica possibilita que os valores de referência e os modelos

de comportamento presentes no discurso sejam caracterizados pela presença

de determinados temas.

Assim, Moroz (2005) afirma que a interpretação dos dados é

fundamental para a conclusão provisória do que se quer estudar. Tendo em

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vista os objetivos que se pretende atingir é possível dar um significado a estes

resultados, discutir em que direção ou direções apontam, se a direção

apontada confirma ou não os estudos anteriores, que implicações (científicas e

sociais) são delas provenientes, que aspectos ficaram sem respostas, que

novas questões trouxeram e que novos estudos deverão ser realizados.

Surgem, neste momento, respostas possíveis para as questões inicialmente

formuladas.

Foram seguidas, na análise, as etapas sugeridas pela referida autora.

Após leituras exaustivas e críticas do material, os temas emergentes foram

cotejados com a problematização e os objetivos da pesquisa, tornando-se

possível a elaboração dos núcleos temáticos.

Os dados foram organizados e descritos por meio de categorias, para

posteriormente uma interpretação de generalizações e inferências (GIL, 2002).

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RESULTADOS E DISCUSSÃO

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A vida é movimento, inquietações, sonhos e desejos

que o ser humano projeta a cada instante...

(BETTINELLI, 2004

Nesta seção, serão apresentados e analisados os resultados da

pesquisa. A opção por tal estudo em conjunto dos dados deve-se, como

poderá ser constatado nos parágrafos subseqüentes, às próprias características

das respostas obtidas, de cunho principalmente qualitativo, destacando-se

ainda as múltiplas inter-relações construídas pelos próprios sujeitos da

pesquisa.

Na primeira parte, encontram-se os dados referentes às respostas das

cinco primeiras perguntas do questionário. As três primeiras objetivaram

caracterizar os sujeitos da amostra quanto a idade, tempo de formado e tempo

de exercício profissional. As duas questões subseqüentes têm respostas

diretas, a respeito ao contato inicial com a temática da humanização no cuidado

ao paciente, da graduação até a prática profissional propriamente dita.

A segunda parte do texto apresenta e discute os dados das cinco últimas

perguntas do questionário. Por se tratarem de respostas abertas, serão

estudadas no mesmo conjunto das entrevistas, considerando-se também que

estas objetivaram aprofundar exatamente os mesmos temas apresentados na

parte 2 do questionário.

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1. Resultados Referentes aos Questionários (Parte 1)

Foram distribuídos aos enfermeiros dos setores de Clínica Médico-

Cirúrgica (CMC) denominados de Unidades de Internação um total de sessenta

questionários, dos quais vinte e dois (36,6%) retornaram preenchidos. Por

características da instituição onde ocorreu a coleta, todos os profissionais eram

do gênero feminino.

Evidenciou-se assim que a média de idade dos respondentes foi de 35

anos. O tempo médio de graduação foi de 8 anos e o tempo de exercício

profissional na área de enfermagem situou-se em 11 anos. Tal discrepância

aparente entre os dados deve-se ao fato de que 10 enfermeiros já atuavam no

campo como técnicos ou auxiliares de enfermagem.

Quanto ao momento em que os participantes tiveram o primeiro contato

com a expressão “humanização no cuidado ao paciente” (ou outra equivalente),

observou-se a seguinte distribuição, com relação às atividades de formação,

segundo dados obtidos nos questionários: 16% na graduação (incluindo

estágios, 3% em congressos, 5% em cursos para técnicos e auxiliares de

enfermagem, 5% em hospitais e outros campos de atuação e 2% em atividades

de pós-graduação.

A questão parece não ter sido adequadamente compreendida pelos

participantes, uma vez que alguns referiram mais de uma atividade como o

“contato inicial” com a expressão investigada, o que resultou em um total

superior aos vinte e dois instrumentos analisados.

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É interessante atentar para uma informação (inicialmente mencionada

em questionários e posteriormente confirmada em entrevistas), de que duas

enfermeiras referiram que, após a graduação, jamais tiveram contato com a

questão da “humanização dos cuidados”...

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2. Resultados Referentes aos Questionários (Parte 2) e às Entrevistas

As entrevistas ocorreram com oito enfermeiras, sendo que todas haviam

respondido previamente ao questionário.

Os resultados serão apresentados e discutidos de acordo com três

grandes eixos temáticos, subdivididos em diversos núcleos. O primeiro refere-

se às visões apresentadas pelas profissionais a respeito da humanização

propriamente dita. O segundo está voltado para a prática humanizada, nas

experiências relatadas a partir do cotidiano. O terceiro e último eixo diz respeito

às características da formação dos sujeitos da pesquisa para o exercício da

enfermagem humanizada, tanto na forma como esta ocorreu quanto com

relação a expectativas e sugestões para atividades educativas junto aos

profissionais.

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A. A Visão dos Profissionais a Respeito da Humanização: do

conceito à prática

Quando questionadas a respeito do entendimento sobre a humanização,

do ponto de vista conceitual, as falas dos sujeitos invariavelmente deslocaram-

se para exemplos práticos, do cotidiano dos cuidados aos pacientes.

O termo “humanização” é polissêmico e nem sempre é claro, nas

referências literárias identificadas. Neste sentido, Maia (2005) afirma que a

formação humanística no ensino superior em saúde ocorre de uma forma

geralmente não intencional, no denominado “currículo oculto”, desenvolvendo-

se, sobretudo pela observação da atuação de professores pelos alunos, nos

diferentes cenários de prática. A escassa discussão específica da temática

pode justificar a pouca clareza conceitual expressa pelos sujeitos da pesquisa.

A ênfase conferida atualmente à humanização na formação profissional e

nas atuais propostas de reconstrução das práticas em saúde pode ser

evidenciada pelos princípios do PNHAH - Programa Nacional de Humanização

na Assistência Hospitalar (2000), conforme referido anteriormente neste

trabalho:

“Humanização é entendida como valor, na medida em que

resgata o respeito à vida humana. Abrange circunstâncias

sociais, éticas, educacionais e psíquicas presentes em todo

relacionamento humano. Esse valor é definido em função de

seu caráter complementar aos aspectos técnico-científicos que

privilegiam a objetividade, a generalidade, a causalidade e a

especialização do saber”. (p.2)

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B. A Prática Cotidiana dos Profissionais: experiências de

humanização

Além de atividades e atitudes de caráter mais geral que as enfermeiras

valorizaram na humanização dos cuidados (tais como respeito, gentileza,

atenção, paciência, solidariedade, compreensão, empatia, bom relacionamento

com o paciente, saber ouvir como também saber falar...) alguns núcleos

temáticos emergiram com mais significação. Dentre estes, destacam-se:

O trabalho de enfermagem como um processo de cuidado

essencialmente relacional

Um dos aspectos mais enfatizados pelos entrevistados, como se pode

deduzir pela freqüência de menção e a multiplicidade de exemplos, diz respeito

à dimensão cuidadora da profissão, desde sua emergência.

“A enfermagem sempre foi vista como aquela questão do

cuidado. Talvez tenha começado com a mãe, a mãe cuidando

do seu filho, a mulher cuidando dos seus parentes doentes,

enfim a enfermagem não foi uma coisa que surgiu com Platão,

com Hipócrates (...) justamente pela natureza do nosso trabalho

que é o cuidar. Eu acho que ele não pode estar dissociado do

amor ao próximo”. (E8)

Assim, a diversidade de dimensões que integram o cuidar, sendo que o

emocional e o espiritual contribuem significativamente para o processo de cura

do paciente: “O ato de cuidar é amplo e abarca em seu sentido todos os

sentimentos que temos, enquanto pessoas” (LEOPARDI, 1999, p.203).

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Observou-se que a questão do afeto e do amor ao próximo emergiu em

diversos momentos da pesquisa (tanto nos questionários quanto nas

entrevistas), resgatando, de certa forma o caráter “missionário” da profissão de

enfermagem, referida ao longo da história por diversos pesquisadores (PIZANI,

2005; NASCIMENTO e cols., 1999).

Para compreender a dimensão do cuidado em sua amplitude e

profundidade, devemos considerar que este encontra-se presente em todas as

situações e acontecimentos, como algo que existe na natureza e em todas as

situações de fato. “As relações de cuidado nunca são de domínio sobre, mas de

convivência, não pura intervenção técnica, porém interação”. (BOFF, 1999, p.

200)

Dentro desta perspectiva, é válido ressaltar que o ato do cuidar pode ser

caracterizado como um processo de interação e intervenção, que abrange do

início da vida até a morte das pessoas. A isto, Pires (2007) acrescenta que os

profissionais que prestam estes cuidados necessitam de conhecimentos

científicos, habilidades técnicas, atitudes e posturas éticas, intuição, interação,

sensibilidade, entre outros aspectos, para que se desenvolva uma atuação

adequada na dimensão do cuidado.

Assim, ao se referirem à questão da humanização nas situações da

prática, uma vasta gama de aspectos foram mencionados, com relação à

atuação da enfermagem, partindo da mudança de ambientes hospitalares,

tornando-os menos “hostis” e mais amistosos.

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“Temos que deixar o ambiente com um pouco mais com cara

de lar do próprio ambiente da casa deles, para que eles se

sintam mais à-vontade” (E1).

Ressaltou-se a importância de posturas profissionais, relacionadas,

sobretudo à transmissão de confiança e segurança ao paciente.

“Às vezes você não vai resolver realmente o problema dele que

é um tumor, mas você está ali. Ele pode contar com você desde

a admissão. Você até passa uma firmeza, uma segurança pra

ele, você consegue conquistar a segurança dele, ele consegue

ficar mais tranqüilo” (E5).

“A forma como se trata se fala, se porta (...) está sendo cada dia

mais exigido e mais observado” (E6).

A relação enfermeiro-paciente é a essência do propósito da enfermagem,

tendo como objetivo ajudar o paciente e a família a enfrentarem e a

compreenderem a experiência da dor, do sofrimento pelo qual passam. Nesse

sentido, para Travelbee (1979), a interação enfermeiro-paciente é singular, é

um encontro único e original que perpassa todas as interações do cuidado. Ao

referir-se ao relacionamento terapêutico enfermeiro-paciente a autora enfatiza

que o enfermeiro deve utilizar os seus conhecimentos científicos e suas

experiências para ajudar o paciente a encontrar o significado de sua doença. A

maneira como cuidamos, o que dizemos, como dizemos e fazemos, mostrará

se nos preocupamos ou não com ele, se estamos ou não suprindo as suas

carências e principalmente as suas expectativas, determinando naquele

momento se o cuidado de enfermagem é ou não terapêutico.

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No mesmo contexto, um aspecto também muito valorizado pelos

profissionais diz respeito à empatia com o paciente e seus familiares.

“[é importante] você se identificar, ter uma empatia com o

paciente”. (E3)

Segundo Goleman (1995), a palavra empatia tem a sua origem termo

grego – empatheia, que significa tendência para sentir o que se sentiria caso se

estivesse na situação e circunstâncias experimentadas, vivenciadas por outra

pessoa. O autor afirma que: “a empatia é uma habilidade que pode ser

realizada junto ao cliente de forma verbal ou não verbal.” (p.22). O enfermeiro,

portanto, deve desenvolver características pessoais relacionadas à maturidade,

à estabilidade emocional e ao autoconhecimento. Como será melhor discutido

posteriormente, a arte da empatia é traduzida e cultivada pela difícil habilidade

de saber ouvir.

Travelbee (1979), na mesma linha de pensamento, destaca que, o

profissional enfermeiro deve estabelecer uma relação de empatia com o

paciente, com a finalidade de proporcionar atenção de enfermagem, embora o

mesmo não seja capaz de realmente “sentir” como o paciente, deve utilizar

suas próprias experiências de medo e dor e as já compartilhadas com outras

pessoas para “imaginar-se” no lugar dele: “(...) ter empatia é se colocar no lugar

do outro.” (E6).

Podemos afirmar que a humanização vai além da empatia, mas

depende, mais profundamente, da capacidade de ouvir e falar, pois o cotidiano

da prática da enfermagem torna-se mais humano quando valoriza o diálogo,

favorecendo o entendimento e a compreensão de nossos semelhantes.

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Ouvir a voz do paciente...

A importância da escuta da voz do paciente foi extremamente ressaltada

nas respostas obtidas, com relação à humanização do cuidado.

“Humanizar é realmente estar próximo do outro, ser educado,

gentil, tentar entender e ouvir o outro, muitas vezes as pessoas

querem mais dizer do que ouvir!” (E5).

De acordo com os resultados levantados nesta pesquisa, pode-se

depreender que a atenção às falas do paciente tem duas dimensões, no

contexto do cuidado de enfermagem. A primeira – de compreensão mais

imediata – refere-se à percepção interessada nas demandas que o paciente

refere, enquanto que a segunda – de percepção mais sutil – tem relação com a

valorização do paciente, como um ser humano singular.

No que diz respeito à primeira dimensão, observou-se que escutar de

forma reflexiva é um importante ponto-chave para atender e entender o

paciente, favorecendo o relacionamento do profissional com este. Trata-se de

uma habilidade que deve ser desenvolvida pelo enfermeiro, embora não seja

considerada uma tarefa fácil, devido ao grande volume de trabalho a ser

realizado pelos profissionais. Contudo, muitas vezes o “ouvir em silêncio”, pode

provocar no enfermeiro a sensação de passividade e inatividade. Somente o

paciente pode dizer o que sente, o que pensa, qual a imagem tem de si mesmo

e da situação em que se encontra, sendo, amiúde, necessária a perseverança e

a paciência por parte do enfermeiro. A audição é apresentada como um dos

sentidos mais valorizados na coleta de informações, dentro do processo

comunicacional (OLIVEIRA, 2006) subsidiando o planejamento dos cuidados,

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pois “escutar significa estar sendo aceito, respeitado, tratado como ser humano”

(STEFANELLI, 1993).

Com relação a tal planejamento, há muito que, na área da saúde – de

início na área da saúde pública (CAMPOS, 1969) e posteriormente nos

cuidados tanto à comunidade quanto aos indivíduos – costuma-se diferenciar os

termos demanda e necessidade. Demandas podem ser vistas como aquilo que

o(s) usuário(s) solicita(m), para aliviar seu sofrimento ou melhorar suas

condições de saúde em geral. O levantamento das necessidades, por outro

lado, depende de um julgamento do planejador, valorizando sua formação

técnico-científica e sua capacidade de interferir no processo saúde-doença, em

suas múltiplas dimensões. Costa (2004), afirma que o delineamento da

demanda deve se dar pela escuta das necessidades apresentadas pelos

sujeitos, ressalva que, não raro, os Serviços mostram-se impotentes para

resolvê-las a contento. Assim, as entrevistas mostraram que necessidades

podem estar relacionadas a desejos e aspirações subjetivas distantes dos

sintomas que levaram o indivíduo a procurar atendimento de saúde.

“Na verdade não é somente atender as suas necessidades, mas

sim o que ele precisa, principalmente no exercício da prática

profissional” (E7).

Considerando as percepções do paciente e enfatizando a importância da

escuta do paciente na prática da enfermagem, Leopardi (2006) afirma que:

“As pessoas conhecem e definem as maneiras com que

experimentam e percebem o cuidado de enfermagem,

relacionando-as às suas crenças e práticas de saúde de acordo

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com a sua cultura, portanto as informações dos clientes podem

orientar os profissionais no cuidado”. (p.204)

Contudo, o freqüente não compartilhamento (por questões

essencialmente sociais), pelo profissional da saúde desta realidade configura-

se como mais um fator que contribui para a complexidade do planejamento de

cuidados, trazendo consigo a possibilidade do risco da humanização passar a

um plano secundário. Esta temática, juntamente com fatores relacionados a

limitações de ordem institucional, será discutida posteriormente.

Retornando às duas dimensões da escuta do paciente, o segundo

aspecto do “ouvir” vem sendo discutido mais contemporaneamente na literatura

e diz respeito à garantia, pelo profissional, à própria dignidade do paciente,

como pessoa.

Com efeito, segundo Betts (2000), reconhecer o direito à voz do outro

constitui um momento inicial da humanização:

“(...) humanizar é garantir à palavra a sua dignidade ética, ou

seja, o sofrimento humano, as percepções de dor ou de prazer

do corpo para serem humanizadas precisam tanto que as

palavras com que o sujeito as expressa sejam reconhecidas

pelo outro quanto esse sujeito precisa ouvir do outro, palavras

de seu reconhecimento. Pela linguagem fazemos as

descobertas de meios pessoais de comunicação com o outro,

sem que nos desumanizamos reciprocamente. Isto é: sem

comunicação não há humanização. A humanização depende de

nossa capacidade de falar e ouvir, pois as coisas do mundo só

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se tornam humanas quando passam pelo diálogo com nossos

semelhantes”. (p. 1)

Podemos afirmar, a partir do texto acima e de respostas das entrevistas,

que ouvir o paciente favorece o estabelecimento de relações menos

assimétricas entre o paciente e os profissionais da saúde.

O respeito à autonomia do paciente na tomada de decisões

Para Costa (2004), o enfoque à autonomia, no âmbito dos cuidados à

saúde, deve ser relacionado com um aspecto mais amplo, relativo à

necessidade de cada pessoa de obter graus crescentes de autonomia em sua

própria vida. A autonomia implica, portanto, na possibilidade de reconstrução

dos sentidos da vida pelos indivíduos, frente a situações de doença e

sofrimento, aqui incluindo-se a satisfação de suas necessidades humanas, bem

como o estabelecimento de relações mais simétricas entre o paciente e o

profissional de saúde. Este processo é particularmente complexo para o

paciente, seja ele adulto ou idoso, uma vez que o adoecimento impõe, muitas

vezes, limites ao pleno exercício ao direito de ter uma maneira própria de

apreender o mundo, de fazer escolhas pautadas em valores próprios, e de agir

de acordo com seus princípios, crenças e visão de mundo. Por outro lado,

implica em uma mudança na visão paternalista e hipocrática, ainda enraizada

no pensar e no agir do profissional de saúde.

O critério da “autonomia” provoca, na atualidade, grandes mudanças na

relação enfermeiro-sujeito e paciente-objeto, ensejando uma relação de

respeito mútuo, que valoriza trocas de diversas espécies (desde informações

até afetos) entre o profissional e o doente (CAMACHO, 2002).

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Os sujeitos entrevistados enfatizaram em diversas ocasiões os aspectos

acima discutidos, correlacionando-os, com freqüência, com a humanização dos

cuidados.

“Penso que prática humanizada implica em saber que por trás

daquela pessoa em cima de uma cama existe toda uma história

de vida, de sonhos que ali foram paralisados.” (E8).

Ainda na mesma linha, a autonomia do paciente foi relacionada ao

respeito à bagagem cultural e histórica que cada paciente traz consigo.

“Respeitar a individualidade de cada paciente, respeitando a sua

identidade, cultura e sentimentos” (E1).

Esta pesquisa evidenciou que o conjunto de escolhas mentais e

intervenções que compõem os inúmeros momentos de tomada de decisão que

norteiam os cuidados de enfermagem, na opinião dos participantes, deve voltar-

se para um paciente visto como um ser dotado de entendimento próprio de

suas fragilidades, com valores e conflitos peculiares, frutos de sua cultura,

historicamente construída.

Na realidade, o paciente hospitalizado passa por momentos difíceis, por

situações inesperadas, das quais um procedimento cirúrgico, que pode ser

tomado como exemplo, inclui três fases: o pré-operatório (iniciado no momento

em que o paciente recebe a notícia de indicação cirúrgica até a sua entrada no

centro cirúrgico), o trans-operatório (quando o paciente é submetido à cirurgia

propriamente dita) e o pós-operatório (do término da cirurgia até a

recuperação). Travelbee (1979) discute que o paciente, neste contexto,

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apresenta-se mais vulnerável, no sentido de que suas necessidades

fisiológicas, psicológicas e sociológicas são alteradas, e torna-se propenso até

mesmo a um substantivo desequilíbrio físico-emocional. É inquestionável a

necessidade de cuidados especiais de enfermagem, em uma perspectiva

relacional na qual o diálogo sustente a tomada de decisões em conjunto,

respeitando-se, sempre que possível, o princípio da autonomia do paciente.

Os dilemas dos profissionais frente a situações de tomada de decisões,

particularmente são bem ressaltados por Santos (2004):

“Os profissionais de saúde, na prática profissional, defrontam-se

com situações dilemáticas e polêmicas, que envolvem o

confronto de seus valores com os valores de outras pessoas:

pacientes, familiares, equipe de saúde, dentre outros. Nestas

situações, os valores do profissional sobre sua relação com o

paciente, ou seja, de sujeito (profissional, que toma a decisão) e

o objeto (paciente, que sofre passivamente as ações) ou de

sujeitos (profissional e paciente, este último, participante das

decisões relativas ao seu tratamento e bem-estar), são fatores

determinantes nas suas ações". (p.790)

A questão da autonomia do paciente no processo de tomada de

decisões, em uma perspectiva humanizada dos cuidados, torna-se ainda mais

complexa quando se considera a dimensão da família do indivíduo fragilizado

pela doença.

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A relação do profissional com a família na humanização das

práticas de enfermagem.

Segundo ANGELO (1999) e ANTUNES e EGRY (2001), a interação

ampliada, ao longo das últimas décadas, do enfermeiro com a família do

paciente tem resultado na mudança da maneira como esta é percebida no

contexto hospitalar, enriquecendo, inclusive, visões mais antigas que focavam

unicamente no bem-estar do paciente, em razão do que sua presença era

geralmente “tolerada”, objetivando a importância da esfera afetiva na

recuperação do doente.

Partindo-se de um ponto de vista simplesmente legal, observa-se que o

Código de Ética dos Profissionais de Enfermagem (2000), no seu artigo 26

prevê o dever de “prestar adequadas informações ao cliente e à família a

respeito da assistência de enfermagem, possíveis riscos e conseqüências que

possam ocorrer”.

Entretanto, sabe-se que, a interação do enfermeiro com a família vai

muito além de obrigações profissionais, e requer o conhecimento, por parte

daquele, da multiplicidade e da complexidade dos fatores relacionais intra e

interfamiliares (nos vínculos com o enfermeiro) e de suas influências no

processo saúde-doença.

As falas dos sujeitos, nesta pesquisa, denotam a importância da família

no contexto do cuidado humanizado ao paciente, enfatizando, sobretudo

aspectos afetivos, que vêm somar-se às ações de caráter muitas vezes mais

técnico da enfermagem.

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“Ele não está sozinho. As doenças do paciente não são só dele.

Também envolvem todo um contexto familiar”. (E3)

“As pessoas esquecem muito do familiar e esquecem que

aquele paciente que está deitado é a pessoa que ele ama...”.

(E7)

Observou-se, também, a sensação de despreparo do enfermeiro para

este tipo de relação:

“A prática da humanização (...) é ser uma pessoa preparada

para lidar com os conflitos tanto do paciente como o do familiar

e o profissional enfermeiro especialmente não está preparado.”

(E5).

A temática da formação profissional será aprofundada posteriormente,

nesta seção.

A importância da integralidade no cuidado humanizado ao

paciente

A integralidade na atenção à saúde é uma das diretrizes do SUS,

conforme preconiza a própria Constituição Brasileira (BRASIL, 1988) e visa o

aprimoramento dos Serviços e, conseqüentemente, a promoção da qualidade

de vida dos indivíduos que deles se utilizam. Sendo um dos fundamentos do

SUS, a integralidade deve ser vista como um conjunto de noções pertinentes a

uma assistência livre de preconceitos e de pré-julgamentos, tendo uma visão

abrangente do ser humano, tratando não a doença, mas cuidando do ser

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humano dotado de sentimentos, aflições e desejos (BRASIL, 2000). Estas

questões foram referidas por uma das entrevistadas:

“(...) a integralidade implica em você dar uma assistência

individualizada, estar livre de preconceitos e pré-julgamentos

tanto no contexto familiar como na doença em si” (E3).

Para Pinho (2006), a integralidade sugere a ampliação e o

desenvolvimento do cuidar do profissional de saúde, tendo como requisitos: a

formação de profissionais responsáveis pelos resultados de suas práticas de

atenção, a capacidade de acolher, a disposição em criar vínculos com os

pacientes em suas ações e serviços de saúde e o desenvolvimento da

sensibilidade no que diz respeito às dimensões do processo saúde-doença,

considerando-se tanto o enfoque epidemiológico quanto as características das

intervenções planejadas. Para a mesma autora, a integralidade consiste em um

modo de ver o homem como um ser indivisível, com suas peculiaridades físicas,

psicológicas e sociais.

Os resultados aqui obtidos evidenciam que a integralidade foi ressaltada

pelos sujeitos dentro de duas perspectivas: a primeira é a do atendimento das

necessidades do paciente, como um conjunto indissociável. A segunda refere-

se à utilização do maior número de modalidades de intervenções possíveis,

tanto pessoais como materiais e técnicas, objetivando o bem-estar do paciente.

A literatura especializada corrobora e amplia estes dados,

acrescentando-lhes o princípio da igualdade e da individualidade das

necessidades apresentadas pelos pacientes:

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“A leitura do princípio da integralidade da assistência há de se

fazer combinadamente como o princípio da igualdade de

assistência (inciso IV). Em primeiro lugar a assistência integral

combina de forma harmônica e igualitária, as ações e os

serviços de saúde preventivos com as assistencias ou curativos.

Em segundo lugar a assistência implica, como se enuncia

atenção individualizada, ou seja, para cada caso, segundo suas

exigências, e em todos os níveis de complexidade” (SANTOS E

CARVALHO 1995, p.77).

Nunca será demais reforçar a importância do cuidado sob a forma de

ações integrais (Pinheiro e Mattos, 2004). Os mesmos autores afirmam que

isto implica em “saber o tratar, o respeitar, o acolher, o atender o ser humano

no seu sofrimento e nos seus momentos de fragilidade social (p.44)”. Desta

forma, a ação integral é entendida como o “entre-relações” de pessoas,

traduzindo-se no tratamento digno e respeitoso, com qualidade e vínculo, do ser

humano, que possui na sua identidade a capacidade de desenvolver seus

próprios projetos de vida.

Na mesma linha de argumentação, TEIXEIRA et al (2000) ressaltam, no

âmbito do PNHAH, que:

“Assistir com integralidade inclui, entre outras questões,

conceber o homem como sujeito social capaz de traçar projetos

próprios de desenvolvimento”. (p. 193)

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De uma forma relativamente poética, podemos resumir a integralidade

nos cuidados de enfermagem na expressão: “Dentro do possível, fazer todo o

possível pelo paciente...”.

Em que pese a importância desta visão, as situações da prática dos

profissionais podem oferecer limitações (acadêmicas ou institucionais, como um

todo) ao exercício pleno da integralidade nos cuidados de enfermagem.

Limitações e características institucionais ao trabalho

humanizado

Até o presente momento, neste trabalho, foram enfatizados resultados

que se remetem a conceitos e as práticas individuais de formação e exercício

de uma enfermagem humanizada. Há, contudo, uma outra dimensão que deve

ser investigada, relativa às políticas institucionais, cujos desdobramentos vão

desde o planejamento e a construção de espaços físicos humanizados até

propostas de desenvolvimento pessoal, sob a forma de programas de educação

continuada e estímulos diversos ao exercício dos cuidados humanizados de

enfermagem.

Contudo, a literatura aponta para a persistência de um modelo

hospitalocêntrico de cuidados complexos de saúde, em consonância com a

visão biologicista tradicional, focada no conhecimento técnico-científico de

doenças e em intervenções diagnósticas e terapêuticas de níveis cada vez mais

sofisticados e, não raro, distantes das reais necessidades da população

atendida, independentemente inclusive de seu nível sócio-econômico

(CASATE, 2005; CORDEIRO, 1996; FOUCAULT, 1977; ROSEN, 1979).

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A insatisfação com este tipo de prática, evidenciada pela literatura

(SOUSA, 2000; BETTS, 2002), por parte de todos os sujeitos envolvidos, tanto

pacientes, quanto os profissionais de saúde, foi claramente expressa nos dados

obtidos no presente estudo, sobretudo no que se refere à oposição entre

“trabalho” e “cuidado / humanização”:

“(...) nas instituições onde é valorizado tão somente o produto do

nosso trabalho, não a qualidade dele, [existe uma preocupação

se] todas as medicações foram passadas e checadas, todos os

pacientes foram trocados, se não houve glosa em prontuário...

Não estão preocupados se o paciente foi realmente bem

tratado, se ele se sentiu tratado como gente e nós enfermeiros

somos tão cobrados em relação aos números e vejo que neste

processo, talvez não foi só eu que me distanciei da

humanização”. (E2)

Um dos focos mais freqüentes relacionados com a limitação as práticas

humanizadas de enfermagem diz respeito às “condições de trabalho”. Dentro

deste contexto amplo, os profissionais aprofundaram, em suas falas, fatores

mais específicos do campo, que, por sua relevância, devem ser objeto de

reflexão e replanejamento, dentro de uma política institucional de humanização.

O primeiro deles diz respeito à relação estreita entre o volume de

trabalho e o tempo disponível, função também da limitação do contingente de

profissionais nas equipes.

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“A própria chefia quando te dá uma escala muito extensa,

emenda uma escala na outra, você trabalha nove plantões

seguidos, então, assim não é nada produtivo”. (E6)

“A cobrança e a burocracia que a administração do hospital nos

impõe é muito grande e posso dizer com certeza que nos quatro

hospitais que trabalhei em nenhum deles consegui efetivamente

trabalhar como gostaria...”. (E4)

“Eu já me vi sendo bem desumana, quando sou tratada por

alguém que tem atitudes desumanas. Por exemplo: quando sou

colocada para ficar em vários andares não vou estar preparada

para ouvir o paciente, talvez eu possa estar disposta a dar o

meu melhor, mas enquanto profissional que resolve problemas e

apaga o fogo, mas não como enfermeira, pessoa. Em termos

práticos isso dificulta o nosso trabalho”. (E1)

As “condições de trabalho” ambientais desfavoráveis também resultam

na percepção de uma influência negativa na qualidade de vida dos

profissionais, e, conseqüentemente, nos cuidados:

“Não somos [humanizados] por falta de tempo, por falta de

qualidade de vida no trabalho e por falta de toda uma estrutura

hospitalar, que impede que nós façamos o nosso trabalho mais

humanizado possível...” (E2).

“Acho que, no tumulto na correria, naquela dificuldade que

temos em trabalhar mesmo, você acaba deixando de ter uma

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prática humanizada. A meu ver... creio que poucos são os

momentos que nós conseguimos tratar o paciente como gente”.

(E1)

Dando ênfase a fala anterior, Pinheiro (1993) afirma que questões

referentes a ambientes institucionais inadequados geram um grande

descontentamento, em enfermeiros que desejam prestar uma assistência

humanizada ao paciente.

“As instituições não oferecem um ambiente adequado, recursos

humanos e materiais quantitativos e qualitativos suficientes,

remuneração digna e motivação para o trabalho, oportunidade

para os enfermeiros se aperfeiçoarem em sua área de atuação

(...) para que estes possam exercer as suas funções de uma

forma mais humanizada (...)”. (p.118)

A questão dos recursos também foi trazida pelos sujeitos:

“Acho que precisaria de mais recursos materiais e humanos,

porque é difícil você precisar falar para os seus auxiliares que

eles vão ter que trocar o paciente usando fronha, lençol, porque

não tem compressa. Dizer ao paciente que, por falta de

recursos, como falta de funcionário, de roupa na lavanderia ele

terá que esperar uma hora para ser trocado. Enfim... penso que

a melhora dos recursos materiais e os recursos humanos

facilitariam no exercício das práticas humanizadas na

enfermagem”. (E7)

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Por sua vez, Benevides (2002) elenca os fatores acima mencionados,

acrescentando aos mesmos aspectos relacionais e emocionais, decorrentes da

própria natureza da profissão e agravados por aspectos institucionais:

“(...) baixos salários, dificuldade de conciliação da vida familiar e

profissional, jornada dupla ou tripla, rodízio de horários, número

insuficiente de pessoal, sobrecarga de atividades e cansaço,

mudanças constantes de regra, excesso de burocracia, excesso

de horas extras, o contato constante com pessoas sob tensão

gerando um ambiente desfavorável de trabalho, relacionamento

muitas vezes conflitantes com a equipe médica, falta de

reconhecimento profissional, alta competitividade, pressão por

maior produtividade, falta de confiança e companheirismo,

dificuldade de conciliar trabalho com atividades extra

profissionais, inclusive de aperfeiçoamento e crescimento

pessoal, contato constante com o sofrimento, a dor e muitas

vezes a morte, responsabilidade muitas vezes implicando na

manutenção da vida de outrem, acaba gerando certamente uma

grande dificuldade em exercer funções de forma humanizadora

e tolerância com uma realidade que perpassa o dia a dia de um

profissional enfermeiro.” (p.134)

Um outro aspecto levantado foi a lógica do “trabalho em equipe” baseada

na divisão de funções e na mecanização das ações, que muitas vezes distancia

o profissional do paciente e também resulta em desumanização:

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“Parece que as pessoas deixam de ser humanas. Elas ligam no

automático e o paciente simplesmente é mais um número, um

objeto de trabalho, uma doença... E se esquecem de que tem

alguém ali que tem uma história, que está passando pela fase

mais difícil da sua vida”. (E8)

A racionalização, a mecanização e a burocratização excessiva do

trabalho, acabam impedindo que o profissional enfermeiro desenvolva sua

capacidade crítica-reflexiva e crítica-criativa, atuando como “desumanizantes”:

“(...) o paciente deixa de ser uma pessoa para ser um caso interessante ou um

número. O paciente individualizado, com seus problemas, temores e

necessidades, nem sempre é levado em consideração” (FELDMANN, 1973,

p.16).

Um dos resultados deste cenário é o desejo de afastamento, pelos

profissionais, dos ambientes hospitalares desumanizados.

“Eu tenho me esforçado para que isso seja algo rotineiro, para

que eu não me deixe levar, pra que eu não me cauterize com o

sistema, mas acho que isso se perdeu, talvez pelo número de

pacientes que nós atendemos, pela sobre carga de trabalho não

sei te dizer, mas acho que isso se perdeu”. (E5)

“(...) eu não sei se vou continuar nessa jornada, acho que o

meu momento como enfermeira já está se findando, mas eu

levo muitas lembranças que eu vivi enquanto profissional de

saúde”. (E2)

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Quanto a este aspecto, García (1990) salienta os graves problemas do

profissional enfermeiro, descrevendo que, ao mesmo tempo em que o

profissional adquire, com o tempo, mais conhecimento e experiência, também

se desencanta por suas atividades, pela crescente frustração e mal-estar que

seu trabalho lhe proporciona, levando-o ao abandono da profissão, onerando a

instituição pela necessidade de novas contratações e o treinamento de um

profissional principiante.

Construindo uma síntese, Betts (2004) afirma que o problema das

limitações em muitas instituições é justamente a falta de condições técnicas,

seja de capacitação, seja de materiais ou até mesmo no cotidiano hospitalar de

um ambiente inadequado de trabalho, conferindo em um atendimento

desumanizante, de má qualidade e baixa resolubilidade. A falta de condições

técnicas, materiais e ambientais também podem induzir à desumanização na

medida em que o profissional de saúde e o paciente se relacionem de maneira

desrespeitosa, agressiva e impessoal, contribuindo para o distanciamento do

cuidado humanizado. Assim, não basta apenas que o profissional deseje, ou

seja, capacitado (anteriormente ou na própria instituição) para a humanização.

O cotidiano tem que ser um fator que, intencionalmente, propicie a prática

humanizada da enfermagem!

A visão do paciente como um ser humano

Os resultados apresentados até o momento, no segundo eixo de análise,

podem ser sumariados nesta última seção. A visão do paciente como um ser

humano integral, e não apenas como um corpo doente, permeia a maioria das

falas dos entrevistados, constituindo a verdadeira essência do conceito e da

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prática da humanização nos cuidados de enfermagem. Assim, aspectos

anteriormente discutidos, tais como a percepção da subjetividade, da alteridade,

da singularidade do paciente, que, apesar de suas limitações, tem voz e deve

participar das decisões relativas ao restabelecimento de sua saúde, mostraram-

se presentes na relação do profissional com o paciente, no ambiente hospitalar.

Mezomo (2001) discute que o cuidado humanizado começa quando o

profissional entra no campo subjetivo do paciente e é capaz de detectar, sentir

e interagir com ele, ou seja, é capaz de estabelecer uma relação empática,

centrando a atenção no cliente e no ambiente para perceber a experiência do

outro e como ele a vivencia.

Sob esta mesma ótica, e explorando o caráter dialético da prática

humanizada, Oliveira (2001) afirma que:

“Humanizar caracteriza-se em colocar a cabeça e o coração na

tarefa a ser desenvolvida, entregar-se de maneira sincera e leal

ao outro e saber ouvir com ciência e paciência as palavras e os

silêncios. O relacionamento e o contato fazem crescer, e é neste

momento da troca, que humanizo, porque assim posso me

reconhecer e me identificar como gente, como ser humano”

(p.104).

A humanização é, portanto, um traço absolutamente indissociável da

profissão de enfermagem, e esta proximidade foi realçada por alguns dos

entrevistados assim se manifestaram:

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“Eu acho que é até complicado você falar de humanização com

pessoas que, teoricamente, já deveriam tratar o outro como

humano”. (E4)

“Eu acho bem improvável que alguém tenha escolhido a

enfermagem porque teria um futuro promissor, porque iria

ganhar muito dinheiro ou porque é uma profissão que dá status

na sociedade. Não sei pode ser uma visão simplista minha, mas

eu acredito que a maioria das pessoas que escolhem a

enfermagem como profissão é porque gostaria de fazer a

diferença para o paciente e tratá-lo como gente” (E3).

Tal sensibilização, adquirida ao longo da vida e, particularmente na

formação do enfermeiro, permeou todas as falas dos entrevistados. Por outro

lado, foram também ressaltadas as limitações, de diversas ordens e origens, à

prática humanizada da enfermagem. Todavia, os profissionais afirmam –

muitas vezes de forma extremamente emocional – manter seus ideais de

desenvolver uma enfermagem cuidadora e humanizada, atenta às fragilidades

de um ser humano adoecido. Um dos entrevistados (E2) utilizou-se de uma

expressão que, ao longo das últimas décadas, tornou-se um verdadeiro

aforisma a respeito da prática de enfermagem, definindo-a como “Gente

cuidando de Gente...”.

Ampliando uma expressão anteriormente grafada neste trabalho, a

prática humanizada da enfermagem consiste em: “Dentro do possível, fazer

todo o possível pela pessoa que se entrega aos nossos cuidados...”.

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C. A Formação para o Cuidado Humanizado ao Paciente

O terceiro e último eixo de apresentação e discussão de resultados deste

trabalho relaciona-se aos processos formativos voltados ao aprimoramento, por

enfermeiros, de competências para a realização de um cuidado humanizado ao

paciente hospitalizado.

Como já foi discutido nos fundamentos teórico-conceituais, a formação

profissional consiste essencialmente no desenvolvimento de competências que

favoreçam a intervenção resolutiva em situações peculiares a um determinado

campo de atuação. A questão da atenção, da disponibilidade, foram

preponderantes nas falas dos entrevistados:

“Enxergar o outro, ser gentil, conseguir ser próxima do outro,

estar atento às suas necessidades, ter sensibilidade, ter

empatia. A gente tem que ter o ato do amor com um aperto de

mão, com o olhar olho no olho. Eu acho que essas são algumas

das competências que nós enfermeiros devemos desenvolver”

(E4).

“Acho que as competências necessárias são: você tratar o outro

como humano, tratar o paciente com dignidade, com respeito,

ser empático, ser atencioso, se colocar no lugar do outro, ter

disposição para resolver seus problemas, ser uma pessoa

calma, altruísta. Não digo uma pessoa que deva estar sempre

bem humorada, mas que tenha um sorriso no rosto para aquele

que está passando por um momento de dor, saber ouvir o que

paciente tem a dizer, ter humildade para ouvir de repente uma

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reclamação, estar preparado para ouvir um paciente que lhe

trata de forma mais exaltada, austera, até ferindo a sua

identidade. Acho que são estas as principais competências que

o enfermeiro deva ter”. (E7)

Expandindo o escopo das competências citadas e particularizando a

análise apresentada no Referencial Teórico deste trabalho, devemos considerar

Feldman (2007), que apresenta quatro dimensões de competências, no campo

peculiar de atuação do enfermeiro:

1. Competências Comunicativas: capacidade de se expressar, comunicar

e negociar através do desenvolvimento da prática do diálogo;

2. Competências do Cuidado: capacidade de interagir com o paciente

considerando suas necessidades e escolhas, valorizando a sua autonomia, a

partir da concepção de saúde como qualidade de vida;

3. Competências Organizacionais: capacidade de auto-planejamento, de

auto-organização, de estabelecer métodos próprios de gerenciar o seu tempo e

o seu espaço, desenvolvendo a flexibilidade no processo de trabalho e

4. Competências de Serviço: capacidade de compreender e se

questionar no âmbito dos impactos que seus atos profissionais terão direta ou

indiretamente sobre os serviços ou pacientes, ou ainda de que forma os

pacientes serão beneficiados.

Neste mesmo sentido, Manfredi (1998) afirma que as dimensões de

competência na prática do trabalho materializam-se no: saber fazer

(englobando as dimensões práticas, técnicas e científicas, construídas na

formação e consolidadas pela ação cotidiana), saber ser (incluindo traços de

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personalidade, caráter, comportamentos, iniciativa, comunicação, inovação,

produtividade e competitividade) e o saber agir (referindo-se à resolutividade

das intervenções e a decisão nas diversas eventualidades). A autora aproxima-

se dos princípios fundamentais da educação, de um modo geral, proposta pela

UNESCO em 1999 (Delors) e anteriormente comentados para o século no qual

vivemos atualmente: o saber conhecer, o saber fazer, o saber ser e o saber

conviver.

Além do preparo inadequado para o cuidado humanizado durante a

graduação, os participantes ressaltaram também lacunas em suas trajetórias

profissionais, nas diversas instituições em que atuaram. Foram enfocadas

algumas das oportunidades não aproveitadas de atividades de educação

continuada, nas quais a reflexão supervisionada a partir de suas práticas

poderia sensibilizar e capacitar os enfermeiros para uma maior humanização,

na assistência a pacientes hospitalizados.

“Eu acho que o profissional que temos hoje precisa de preparo

‘humano’ em primeiro lugar, porque na faculdade a gente vê que

o enfermeiro adquire bastante conteúdo técnico-científico, mas

não vê situações que são discutidas, como: as necessidades do

outro que estão abaladas, o que fazer em um momento de

emergência? Como lidar com uma situação onde uma mãe está

à beira de um ataque de nervos, gritando com você, por estar

perdendo o seu filho? Como o profissional enfermeiro pode lidar

com esta situação?” (E5).

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“Só vejo um caminho: conscientização, um trabalho com a

educação continuada realmente a instituição investir nisso, já

que a gente vê muito pouco na faculdade. Não tem outro

caminho além de conscientizar os enfermeiros desta

importância, para que eles também possam humanizar as suas

equipes” (E3)

A diversificação das atividades de educação continuada teve um lugar

particularmente destacado nas falas, algumas inclusive apresentando soluções

muito criativas, referindo-se a experiências anteriores de formação:

“Tive uma experiência acadêmica na disciplina de psicologia. A

professora colocou-nos em dupla, vendou nossos olhos e pediu

para darmos uma volta no quarteirão com os alunos nos

acompanhando e fazer vice e versa e tínhamos que descrever o

que era depender do outro, o que era esperar do outro. Durante

o percurso íamos perguntando se tínhamos sido gentis, se

realmente fomos informados sobre os obstáculos, por que nos

deixaram tropeçar... Isso foi muito marcante para mim enquanto

acadêmica de enfermagem”. (E2)

“Acho que todos os profissionais deveriam passar por uma

reciclagem, revendo a forma de tratar o paciente através de:

palestras, depoimentos dos próprios pacientes que passaram

por situações de desumanização e humanização, para saber o

bem ou o mal que lhe foi causado. Acho que só assim, diante de

um depoimento verídico, nós iremos nos sensibilizar mais com a

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prática da humanização, principalmente quando se fala da

clínica médico-cirúrgica, um dos setores mais complexos de um

hospital” (E1).

“Algo que facilitaria o exercício das práticas humanizadas, (...)

talvez não só falando, mas nos ensinando coisas práticas

mesmo: colocar o profissional de saúde para ser um paciente,

fazer uma peça de teatro com dramatização, (...) porque eu

quero mesmo que o meu cliente seja bem tratado. (...) Talvez

nós precisaríamos de umas intervenções mais em conjunto, em

que as instituições estivessem preocupadas com isso.” (E8)

Torna-se, portanto, inquestionável que os enfermeiros valorizam e

desejam processos para seu próprio desenvolvimento profissional. A partir de

sugestões apresentadas pelos profissionais, podemos elencar, como remate do

presente trabalho, alguns princípios norteadores para o planejamento de

programas de educação continuada voltados para o desenvolvimento de

competências profissionais, no âmbito da humanização dos cuidados de

enfermagem a pacientes internados. Os princípios serão a base para a

elaboração de um documento que possa subsidiar o planejamento de tais

programas, no escopo da conclusão de um Programa de Mestrado Profissional.

Observaremos que tais princípios são coerentes com o ideário do

Programa Nacional de Humanização da Assistência Hospitalar – PNHAH

(BRASIL, 2000), que tem como uma de suas diretrizes o desenvolvimento

técnico e emocional dos profissionais de saúde, de forma aperfeiçoá-los para o

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atendimento humanizado ao paciente. No que diz respeito aos seus objetivos e

metas, observamos:

Melhorar a qualidade e a eficácia da atenção dispensada aos

usuários da rede hospitalar;

Recuperar a imagem dos hospitais junto à comunidade;

Capacitar os profissionais dos hospitais para um conceito de

atenção à saúde baseado na valorização da vida humana e da

cidadania;

Conceber e implantar novas iniciativas de humanização

beneficiando tanto os usuários como os profissionais de saúde;

Estimular a realização de parcerias e trocas de conhecimentos e

Desenvolver um conjunto de indicadores/parâmetros de

resultados e sistemas de incentivos ao tratamento humanizado.

Quanto às propostas apresentadas pelos participantes para atividades de

educação continuada no campo da humanização, algumas emergiram com

mais ênfase, no conjunto das falas analisadas:

O processo de formação deve ser uma política institucional, em

caráter contínuo, desenvolvendo-se no próprio ambiente de

trabalho, de forma participativa;

No planejamento da discussão de situações problematizadoras

podem ser valorizados depoimentos verídicos de pacientes que

passaram por situações de humanização e desumanização, que

possam suscitar reflexões a partir das histórias e experiências

relatadas, em uma modalidade semelhante a “estudos de casos”.

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As atividades devem contar com profissionais de outras áreas que

não a enfermagem, destacando-se psicólogos e psiquiatras. Além

de uma contribuição ampliada à discussão, tais atores podem

contribuir com algum tipo de apoio emocional ao grupo.

As ações educativas na equipe devem considerar a multiplicidade

de ações disponíveis, incluindo desde palestras a dramatizações,

passando por um estudo teórico-conceitual que forneça bases

para intervenções na prática do cotidiano.

A avaliação – considerada em sua amplitude maior, desde a

aprendizagem aos processos educativos – constitui um marco

essencial para o constante aprimoramento da formação.

Finalmente, da mesma forma que evidenciamos que o paciente deve ser

alvo de cuidados humanizados, acreditamos que os enfermeiros igualmente

fazem juz a um processo de educação continuada que os considere como seres

integrais que, no seu cuidado a pessoas fragilizadas, também necessitam de

atenção, cuidado e consideração por sua própria condição humana.

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CONCLUSÕES E CONSIDERAÇÕES FINAIS

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Os resultados da pesquisa ora apresentados indicam que a formação

para o exercício de uma prática cuidadora humanizada de enfermagem

consiste em um processo amplo e complexo do desenvolvimento de

competências profissionais em diversas dimensões.

Tanto nos questionários quanto nas entrevistas, ficou evidenciada uma

lacuna significativa no aspecto essencialmente cognitivo relacionado à

humanização nos cuidados de enfermagem a pacientes hospitalizados. Os

profissionais preferiram referir relatos de situações vivenciadas de

humanização e desumanização, ao invés de aprofundar reflexões sobre o tema

investigado. Este fato mostrou-se um reflexo da formação (tanto na graduação

quanto em momentos posteriores) voltada mais para a realização de

procedimentos mais gerenciais do que assistenciais, como uma decorrência de

demandas tanto institucionais quanto do próprio curso do progresso técnico-

científico da atenção à saúde.

Neste sentido, alguns aspectos foram valorizados, referentes à relação

com o paciente e com seus familiares. A atenção à fala do paciente, à sua

alteridade e singularidade e, portanto, à necessidade de respeitar seu direito à

tomada compartilhada de decisões também sobressaíram nas falas.

Contudo, a preocupação com valores morais e dimensões éticas

mostrou-se bastante evidente nos profissionais, que, entretanto, se ressentem

de condições institucionais desfavoráveis para o exercício de práticas

humanizadas, mas mostram-se sensíveis a processos formativos, na

modalidade de educação continuada, neste âmbito.

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Chamaram também à atenção as dificuldades nos aspectos relacionais

do exercício humanizado, havendo inclusive depoimentos de profissionais que

cogitam em abandonar seu campo de atuação, devido ao sofrimento imposto

pelo contato com a dor e a fragilidade dos doentes.

Os enfermeiros ressaltaram a necessidade e mostraram-se, de um modo

geral, dispostos a participar de atividades de educação continuada, onde

possam ser avaliadas e compartilhadas entre os profissionais, a partir da

problematização de situações de seu cotidiano.

Tais programas de educação continuada foram indicados como

possíveis estratégias para capacitar enfermeiros a mitigar o sofrimento de

seres humanos internados em hospitais, sujeitos a intervenções invasivas,

muitas vezes distantes de sua realidade social, familiar, individual e até mesmo

espiritual.

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93. WALDOW, V.R. Cuidado Humano: o resgate necessário. 3ªed

Porto Alegre (RS): Ed. Sagra Luzzatto, 2001.

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(RS): Ed. Sagra Luzzatto, 1998.

96

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ANEXOS

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ANEXO I

98

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ANEXO II

100

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ANEXO III

Termo de Consentimento Livre e Esclarecido

A HUMANIZAÇÃO NA PRÁTICA DE ENFERMEIROS EM UMA

UNIDADE HOSPITALAR DE CLÍNICA MÉDICO-CIRÚRGICA

As informações abaixo visam a sua participação voluntária neste estudo,

de natureza qualitativa, cujo objetivo é contribuir para o processo de

formação/capacitação do profissional enfermeiro no que diz respeito à

valorização ética da humanização do cuidado. Para isso buscaremos conhecer,

na ótica desse enfermeiro atuante de clínica médico-cirúrgica as suas

concepções acerca da “prática humanizada” no ambiente hospitalar.

Os dados serão coletados mediante entrevista, com roteiro semi-

estruturado. Serão gravadas e transcritas pela pesquisadora. O material será

devolvido ao senhor (a) para que reconsidere, ficando livre para ceder ou não o

conteúdo em seu todo ou em partes.

As informações serão analisadas em conjunto com as dos demais

entrevistados (as), não sendo divulgada a identificação de nenhum depoente.

O sigilo será assegurado em todo o processo da pesquisa bem como no

momento da divulgação dos dados por meio de publicações em periódicos e

ou/apresentação em eventos científicos.

Em qualquer etapa do estudo, você terá acesso à pesquisadora

responsável pelo estudo para esclarecimento de eventuais dúvidas. A

investigadora se chama Juliana Barbosa Magalhães, que pode ser encontrada

no endereço: Borges Lagoa, 1341, térreo – CEDESS (Centro de

Desenvolvimento do Ensino Superior em Saúde) / UNIFESP (Universidade

Federal de São Paulo), telefone (11) 5549-0130 e 5549-2398.

101

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Se você tiver alguma consideração ou dúvida sobre a ética da pesquisa,

entre em contato com o Comitê de Ética em Pesquisa (CEP): Rua Botucatu,

n°572 – 1º andar – cj 14, 5571-1062, FAX: 5539-7162 – E-mail:

[email protected].

É garantida a liberdade da retirada de consentimento a qualquer

momento e deixar de participar do estudo, sem qualquer prejuízo à

continuidade de sua permanência na Instituição.

Não há despesas pessoais para o participante em qualquer fase do

estudo. Também não há compensação financeira relacionada à sua

participação. Se existir qualquer despesa adicional, ela será absorvida pelo

orçamento da pesquisa.

Comprometo-me, como pesquisadora principal, utilizar os dados e o

material coletado somente para esta pesquisa.

Acredito ter sido suficientemente informado a respeito das informações

que li, descrevendo o estudo: “A HUMANIZAÇÃO NA PRÁTICA DE

ENFERMEIROS EM UMA UNIDADE HOSPITALAR DE CLÍNICA MÉDICO

CIRÚRGICA”. Eu discuti com Juliana Barbosa Magalhães sobre a minha

decisão em participar nesse estudo. Ficaram claros quais são os propósitos do

estudo, os procedimentos a serem realizados, as garantias de

confidencialidade e de esclarecimentos permanentes. Ficou claro também que

minha participação é isenta de despesas e que tenho garantia do acesso aos

dados quando necessário. Concordo voluntariamente em participar deste

estudo e poderei retirar o meu consentimento a qualquer momento, antes ou

durante o mesmo, sem penalidades ou prejuízo ou perda de qualquer benefício

que eu possa ter adquirido, ou no meu atendimento nesta Instituição.

102

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CIENTE __________________________

Data____________

Assinatura do (a) entrevistado (a)

_________________________________________

Declaro que obtive deforma apropriada e voluntária o Consentimento

Livre e Esclarecido deste (a) narrador (a) para a participação neste estudo.

Data: ___________________

Pesquisadora: _________________________________

103

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ANEXO IV

QUESTIONÁRIO

Prezado (a) colega:

O questionário apresentado agora a você é parte de uma pesquisa voltada

para a humanização dos cuidados de enfermagem para pacientes

atendidos em uma Unidade de Internação Médico-Cirúrgica. Solicito sua

colaboração, respondendo criteriosamente às questões formuladas. Desde

já valorizo e agradeço sua participação.

1. Há quantos anos você é formado (a)? _____ anos

2. Há quantos anos você exerce alguma atividade no campo da

Enfermagem? _____ anos. Se for o caso, qual a atividade que exercia

antes de se formar? ______________________________

3. Seu ano de nascimento é: ________; sexo: masc. femin.

4. Quando você ouviu pela primeira vez a expressão “humanização no

cuidado ao paciente” (ou outra semelhante)? _____________________

__________________________________________________________

5. Em qual momento teve contato inicial com a expressão acima?

Antes da entrada na faculdade. Onde / Quando? ________________

__________________________________________________________

Durante a faculdade. Onde / Quando? ________________________

__________________________________________________________

Após a faculdade, em sua prática profissional. Onde / Quando? ____

__________________________________________________________

6. O que você entende por “práticas humanizadas no cuidado ao

paciente”?

__________________________________________________________

104

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__________________________________________________________

__________________________________________________________

__________________________________________________________

7. Quais são, em sua opinião, as principais características pessoais e

profissionais de um (a) enfermeiro (a) para o exercício de uma prática

humanizada no cuidado ao paciente?

__________________________________________________________

__________________________________________________________

__________________________________________________________

__________________________________________________________

8. Você acha que, no processo de formação como um todo (graduação e

capacitação profissional) é possível desenvolver as características

acima enumeradas? Por quê?

__________________________________________________________

__________________________________________________________

__________________________________________________________

__________________________________________________________

9. Em seu trabalho, como você acha que poderiam ser capacitados

enfermeiros (as) para uma prática humanizada? (mencione os tipos de

atividades de formação que, em seu entender, poderiam estimular e

desenvolver nos profissionais o exercício da humanização no cuidado

aos pacientes)

__________________________________________________________

__________________________________________________________

__________________________________________________________

__________________________________________________________

10. Este espaço destina-se a comentários que você deseje registrar sobre a

questão da humanização nos cuidados de enfermagem ou ainda a

respeito desta pesquisa.

__________________________________________________________

__________________________________________________________

105

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ANEXO V

ENTREVISTA

1) Qual a sua compreensão a respeito da “humanização no cuidado ao paciente”? 2) Em sua opinião o que vem a ser “prática humanizada”? 3) Como você enxerga essa questão no dia-a-dia nos hospitais?

4) Quais as competências que você acha necessárias, para o exercício do cuidado humanizado, no âmbito da enfermagem? 5) Conte um pouco como ocorreu ao longo de sua trajetória de formação profissional, o desenvolvimento das competências para o exercício de uma prática humanizada? Se possível relate alguma experiência de prática humanizada ou desumanizada que você teve em sua atuação no ambiente hospitalar?

6) A humanização hospitalar é um tema que tende a ficar cada vez mais presente no setor da saúde principalmente no âmbito da enfermagem. Você teria alguma proposta de intervenção no cotidiano do trabalho do enfermeiro em especial, no sentido da humanização de suas práticas?

106