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A iconoclastia dos jihadistas Estudo publicado na revista La Civiltà Cattolica mostra que tal iconoclastia não tem o seu fundamento doutrinário no Islã tradicional, nem sunita e nem xiita, mas em algumas correntes do islamismo salafita ou radical Roma, 20 de Abril de 2015 (Zenit.org ) Nicola Rosetti Os jihadistas em suas ações terroristas não pouparam obras de arte e tudo o que gira em torno do mundo das imagens. Basta pensar que, em 2001, os Talibãs explodiram com dinamite os gigantescos budas de Bamiyan, no Afeganistão. Em 2004, mataram o cineasta holandês Theo Van Gogh. Finalmente, este ano, atacaram em Paris os cartunistas do Charlie Hebdo e os turistas desarmados que foram visitar o Museu do Bardo em Tunis. Este conjunto de circunstâncias levou o padre Giovanni Sale a refletir sobre o tema do aniconismo no Islã e sobre o tema da iconoclastia no contexto do terrorismo. O ensaio foi publicado na última edição da revista Civiltà Cattolica do último sábado, 18. Para o padre Sale, “a iconoclastia praticada pelos militantes do Isis, e em anos anteriores, pelos afegãos, não tem o seu fundamento doutrinal no aniconismo praticado pelo islã tradicional, tanto sunita quanto xiita, mas encontra a sua origem em algumas correntes do islamismo salafita ou radical, como por exemplo, aquele de matriz wahhabita". Na verdade, apenas um versículo do Alcorão trata com muito desdém do tema das imagens: "Ó vós que credes, na verdade o vinho, o maysir, as pedras idolátricas, as flechas de adivinhação são apenas uma infâmia, obras de Satanás; evitem-nas” (Alcorão V, 90). Portanto, "de acordo com estudiosos do tema, não existe no Alcorão uma proibição concreta sobre as representações, embora seja

A Iconoclastia Dos Jihadistas

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A iconoclastia dos jihadistas

Estudo publicado na revista La Civilt Cattolica mostra que tal iconoclastia no tem o seu fundamento doutrinrio no Isl tradicional, nem sunita e nem xiita, mas em algumas correntes do islamismo salafita ou radical

Roma,20 de Abril de 2015(Zenit.org)Nicola Rosetti

Os jihadistas em suas aes terroristas no pouparam obras de arte e tudo o que gira em torno do mundo das imagens. Basta pensar que, em 2001, os Talibs explodiram com dinamite os gigantescos budas de Bamiyan, no Afeganisto. Em 2004, mataram o cineasta holands Theo Van Gogh. Finalmente, este ano, atacaram em Paris os cartunistas do Charlie Hebdo e os turistas desarmados que foram visitar o Museu do Bardo em Tunis.

Este conjunto de circunstncias levou o padre Giovanni Sale a refletir sobre o tema do aniconismo no Isl e sobre o tema da iconoclastia no contexto do terrorismo. O ensaio foi publicado na ltima edio da revista Civilt Cattolica do ltimo sbado, 18.

Para o padre Sale, a iconoclastia praticada pelos militantes do Isis, e em anos anteriores, pelos afegos, no tem o seu fundamento doutrinal no aniconismo praticado pelo isl tradicional, tanto sunita quanto xiita, mas encontra a sua origem em algumas correntes do islamismo salafita ou radical, como por exemplo, aquele de matriz wahhabita".

Na verdade, apenas um versculo do Alcoro trata com muito desdm do tema das imagens: " vs que credes, na verdade o vinho, o maysir, as pedras idoltricas, as flechas de adivinhao so apenas uma infmia, obras de Satans; evitem-nas (Alcoro V, 90). Portanto, "de acordo com estudiosos do tema, no existe no Alcoro uma proibio concreta sobre as representaes, embora seja explicitamente condenada a adorao dos dolos, como j tinha acontecido na Bblia".

Uma proibio mais explcita, afirma ainda o padre Sale, aparece pela primeira vez em alguns hadith, os ditos atribudos ao profeta Maom e seus seguidores", onde as imagens so proibidas. Na verdade, elas "so ilegais e proibidas porque aviltam a santidade do espao ritual da orao e porque atravs de sua criao tem-se a pretenso de emular um ato que s pertence a Deus, ou seja, aquele de criar seres vivos.

Em vez disso, com o surgimento do whhabismo que o aniconismo toma formas da violenta iconoclastia. Este movimento, lembra o jesuta, se desenvolveu na pennsula arbica no sculo XVIII por obra de um pregador carismtico, ibn Abd al-Wahhab (1703-1792), que se apoiava nas doutrinas religiosas ensinadas por um estudioso medieval, Ahmad ibn Taymiyya ( morto em 1328).

Tais ensinamentos, argumenta ainda o padre Sale, substancialmente professam a cincia da unicidade de Deus", entendida de forma radical. Qualquer coisa que distrai o fiel desta verdade, como, por exemplo, o culto dos anjos, dos espritos ou a visita s tumbas dos justos (incluindo a do Profeta) ou de particulares mesquitas, considerado idolatria".

O editor da revista Civilt Cattolica conclui dizendo que luz de tudo o que foi exposto, fica claro que as recentes devastaes e destruies de monumentos antigos, assim como o assassinato de turistas estrangeiros que visitam lugares de cultura dos militantes do Isis, no devem ser lidos em referncia tradio aniconica islmica, comum tambm no hebrasmo, e nem sua histria, muitas vezes inspirada na tolerncia e na "proteo" dos membros da religio do livro, como na adoo de princpios rigoristas extrados da doutrina wahhabita, interpretada acriticamente e fora de controle de instituies religiosas consolidadas e legtimas.