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UNIVERSIDADE ESTÁCIO DE SÁ
MESTRADO EM ADMINISTRAÇÃO E DESENVOLVIMENTO EMPRESARIAL
EUGENIO CORRÊA DE SOUZA JÚNIOR
A IDENTIDADE ORGANIZACIONAL E A IMAGEM
INSTITUCIONAL DO EXÉRCITO BRASILEIRO
RIO DE JANEIRO
2010
EUGENIO CORRÊA DE SOUZA JÚNIOR
A IDENTIDADE ORGANIZACIONAL E A IMAGEM
INSTITUCIONAL DO EXÉRCITO BRASILEIRO
Dissertação apresentada ao Mestrado em
Administração e Desenvolvimento
Empresarial da Universidade Estácio de Sá,
como requisito parcial para a obtenção do
título de Mestre em Administração e
Desenvolvimento Empresarial.
Orientador: Professor Dr. Paulo Roberto da Costa Vieira.
UNESA
2010
Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)
S729i Souza Júnior, Eugenio Corrêa de A identidade organizacional e a imagem institucional do Exército Brasileiro / Eugenio Corrêa de Souza Júnior – Rio de Janeiro, 2010. 164 f.: il. Dissertação (Mestrado em Administração e Desenvolvimento Empresarial) – Universidade Estácio de Sá, Rio de Janeiro, 2010. Bibliografia: f. 149 – 157. 1.Brasil, Exército. 2.Imagem. 3.Organização. I. Título. CDD 355.00711
DEDICATÓRIA
Dedico esse trabalho à minha esposa
Lisandra de Oliveira Corrêa de Souza,
companheira e auxiliadora de todos os
bons e maus momentos da minha vida.
Filha, muito obrigado pelo seu auxílio!
AGRADECIMENTOS
A tarefa de agradecer não é algo simplório. Há sempre o risco de esquecer pessoas,
ou não achar a medida certa para demonstrar gratidão. No entanto, ao encerrar este
trabalho, fica patente a certeza de que há a participação de uma vasta gama de pessoas,
contribuindo direta e indiretamente para o sucesso da investigação.
Em primeiro lugar quero agradecer a Deus, autor e consumador da vida, que me deu
condições físicas e espirituais para iniciar e completar mais essa jornada. A Ele não só meu
humilde agradecimento, mais toda a honra, a glória e o poder pelos séculos dos séculos!
Para demonstrar a gratidão necessária ao meu orientador seria necessário um capítulo
a parte na dissertação. Como isto não é possível, quero dizer que o Dr Paulo Roberto da
Costa Vieira foi para mim mais que um professor. É verdade que suas aulas são instigantes
e motivaram-me a enveredar pelo mundo das pesquisas, sobretudo as de caráter
quantitativo, contudo seria extremamente injusto limitar meus agradecimentos apenas nesse
escopo. Quero expressar minha gratidão a meu orientador pelo seu interesse nesse humilde
aluno, extrapolando, por vezes, a relação entre instrutor e instruendo, com demonstrações
de sincera amizade. Não haveria condições de realizar este trabalho sem seu incentivo
constante, o que permitiu com que os empecilhos ligados ao exíguo tempo fossem extintos.
Agradeço também a minha família na pessoa de minha esposa Lisandra de Oliveira
Corrêa de Souza e na de meus filhos Lucas de Oliveira Corrêa de Souza e Estevão
Hermano de Oliveira Corrêa de Souza. Não posso olvidar também de ser grato aos meus
pais Eugenio Corrêa de Souza e Mara Allevato Corrêa de Souza e ao meu avô in memorian
Hermano Corrêa de Souza. Nesse contexto destaco a contribuição de meu irmão Enio
Corrêa de Souza, que me apoiou na revisão do texto e nas diversas impressões que se
fizeram necessárias.
É preciso, ainda, demonstrar gratidão a todos os professores do programa de
Mestrado em Administração e Desenvolvimento Empresarial. Destaco nesse grupo os
professores Jesús Domech Moré, Jorge A. S. B. Freitas, Antônio Carlos Magalhães e José
Geraldo.
Finalmente gostaria de agradecer a todos aqueles que auxiliaram de forma indireta ou
direta para que fossem preenchidos os questionários da pesquisa. Entre essas pessoas,
destaco o trabalho voluntário da senhora Elizabeth Gomes Chaves, que foi fundamental
para o êxito alcançado. Obrigado, enfim, a todos que responderam aos questionários,
viabilizando esta dissertação.
RESUMO
A Imagem Institucional e a Identidade Organizacional são assuntos que
vêm despertando crescente interesse no meio acadêmico, dada a influência
prática deles nos negócios da empresas. Trata-se, nos dois casos, das
percepções de pessoas sobre determinada organização. A identidade
organizacional, como visão interna dos colaboradores e a imagem institucional,
como visão do público externo são o fruto dessas percepções, que podem manter
relação entre si. Neste trabalho, partiu-se do princípio que manter boa imagem é
importante não só para as empresas privadas, mas também para as instituições
públicas. Por este motivo, selecionou-se o Exército Brasileiro, que tem alcançado
altos níveis de credibilidade junto à população, a fim de verificar se a sua
Identidade Organizacional exerce significativo impacto sobre sua Imagem
Institucional. A análise foi realizada por intermédio da modelagem de equações
estruturais, com uso de análise de componentes generalizados e análise de
covariância. Os softwares utilizados foram o SPSS 14.0, o GESCA e o AMOS 4.0.
Considerou-se para tal duas amostras, reunindo, em cada uma, 216 indivíduos,
que responderam a questionários, relacionados, respectivamente, com a
identidade organizacional e a imagem institucional. Os pressupostos teóricos
utilizados na formulação dos construtos identidade e imagem foram confirmados
por meio dos resultados alcançados. No entanto, como conclusão final, verificou-
se que a identidade organizacional do Exército Brasileiro não exerce impacto
significativo na sua imagem institucional. Confirmou-se desse modo a visão de
Cristensen e Askegaard (2001), que afirmam que a influência da identidade sobre
a imagem não pode ser observada em todas as instituições.
Palavras chave: Imagem. Identidade. Modelagem de Equações Estruturais. Exército Brasileiro.
ABSTRACT
Corporate Image and Corporate Identity are issues that have attracted
increasing interest among scholar, due to their on business affairs. Both issues
represent people perceptions about a particular organization. Organizational
identity as employees, views; and corporate image, as the outside public view are
the result of these perceptions, which may keep relationship with each others. This
study is founded on the assumption that maintaining good image is important not
only to private companies but also for public institutions. For this reason, it was
chosen the Brazilian Army, which has achieved high credibility levels among the
population in order to verify if its Corporate Identity exerts significant impact on its
Corporate Image.The analysis was performed by means of structural equation
modeling, using generalized component analysis and f covariance analysis. The
software used was SPSS 14.0, GESCA and the AMOS 4.0. It was drawn from two
such samples, assembling, in each one, 216 individuals who answered
questionnaires, related, respectively, with the organizational identity and corporate
image. The theoretical assumptions used in formulating the identity and image
constructs were confirmed by the results achieved. However, as a final conclusion,
it was found that the organizational identity of the Brazilian Army has no significant
impact on its corporate image. This conclusion confirms Cristensen and
Askegaard’s vision (2001), who argue that the influence of identity on the image
cannot be observed in all institutions.
Keywords: Image. Identity. Structural Equation Modeling. Brazilian Army.
LISTA DE FIGURAS
Figura 1- Critérios envolvidos na qualidade total percebida............................................... 17
Figura 2- Evolução da Confiança nas FA............................................................................ 19
Figura 3- Pesquisa de Fev 2004........................................................................................... 20
Figura 4 – Pesquisa de Set 2007.......................................................................................... 21
Figura 5 – Pesquisa de Jun 2008.......................................................................................... 21
Figura 6- Pesquisa de Fev de 2009...................................................................................... 22
Figura 7- Pesquisa de 2º Trimestre de 2010......................................................................... 23
Figura 8 - Relação entre identidade e a imagem.................................................................. 31
Figura 9 – A Formação da Marca, integrando Identidade e Imagem................................... 32
Figura 10- Construto Identidade Corporativa...................................................................... 36
Figura 11 – Identificação do Indivíduo com a empresa....................................................... 54
Figura 12- Relação entre consciência social e a Reputação Corporativa............................. 73
Figura 13- Qualidade do serviço percebida pelo Cliente..................................................... 75
Figura 14- Modelo integrando os construtos ligados a serviço............................................ 78
Figura 15- Modelo Estrutural (Identidade, Comunicação, Desempenho e Reputação)....... 94
Figura 16- Coeficientes Estruturais- Clientes.......................................................................95
Figura 17- Coeficientes Estruturais- Funcionários.............................................................. 95
Figura 18- Camadas como um conjunto de características de documentos científicos....... 98
Figura 19- Modelo adotado na investigação.......................................................................104
Figura 20- Modelo no GESCA.......................................................................................... 111
Figura 21- CR dos parâmetros do modelo..........................................................................117
Figura 22- Matriz residual de covariância..........................................................................118
Figura 23- Peso dos parâmetros..........................................................................................118
Figura 24- Estatísticas de ajuste fornecidas pelo AMOS....................................................119
LISTA DE TABELAS
Tabela 1- Análise Fatorial confirmatória de Comprometimento......................................... 50
Tabela 2- Cargas fatoriais e comunalidades da pesquisa de Comprometimento................. 51
Tabela 3- Comparação do comprometimento organizacional afetivo................................. 52
Tabela 4 – Itens relacionados com Identificação................................................................. 55
Tabela 5 - Tipos de formação militar................................................................................... 57
Tabela 6 – Análise Fatorial do construto Liderança............................................................ 81
Tabela 7 – O que os jovens talentos levam mais em conta na escolha de uma empresa..... 85
Tabela 8- Impacto da Imagem Corporativa......................................................................... 89
Tabela 9 – Carga Fatorial e variáveis relacionadas com o desempenho do Banco
Central.................................................................................................................................. 89
Tabela 10 – Fatores da Reputação das Empresas................................................................. 91
Tabela 11 – Fatores envolvidos na Imagem do CRC do Rio de Janeiro.............................. 92
Tabela 12- Estatística descritiva do construto identidade organizacional.......................... 110
Tabela 13- Estatística descritica do construto imagem institucional................................. 110
Tabela 14- Ajustamento do modelo com componentes generalizados...............................112
Tabela 15- Parâmetros relacionados com identidade organizacional.................................112
Tabela 16- Parâmetros relacionados com imagem institucional.........................................113
Tabela 17- Coeficiente no parâmetro de caminho entre IDT e IMA..................................113
Tabela 18- Índices utilizados em MEE (análise de covariância)........................................115
Tabela 19- Índices iniciais de ajustamento do modelo.......................................................116
Tabela 20- Parâmetros de modificação...............................................................................120
Tabela 21- Índice de ajustamento do modelo.....................................................................121
LISTA DE QUADROS
Quadro 1 – Distribuição das entrevistas de acordo com a população.................................. 23
Quadro 2- Dimensões de Identidade e Imagem em Pesquisas............................................. 31
Quadro 3- Aspectos dos diferentes tipos de Identidade...................................................... 34
Quadro 4 – Hipóteses associadas aos construtos do Modelo............................................... 75
Quadro 5 – Itens e construtos do Valor de Marca................................................................ 86
Quadro 6 – Origem das variáveis relacionadas com Identidade Organizacional ................ 98
Quadro 7 – Pesquisas quantitativas na área de Identidade Organizacional ........................ 99
Quadro 8 – Origem das variáveis relacionadas com Imagem Institucional ...................... 101
Quadro 9 – Pesquisas quantitativas na área de Imagem Institucional .............................. 102
SUMÁRIO
CAPÍTULO 1 – INTRODUÇÃO...................................................................................... 15
1.1 OBJETIVO GERAL...................................................................................................... 24
1.2 OBJETIVOS ESPECÍFICOS......................................................................................... 24
1.3 HIPÓTESE..................................................................................................................... 25
1.4 RELEVÂNCIA.............................................................................................................. 25
1.5 DELIMITAÇÃO............................................................................................................ 26
CAPÍTULO 2 – REFERENCIAL TEÓRICO................................................................ 27
2.1 ASPECTOS DA IDENTIDADE ORGANIZACIONAL............................................... 33
2.1.1 Identificação com os Objetivos................................................................................ 37
2.1.1.1 Sucesso conjunto...................................................................................................... 37
2.1.1.2 Possibilidade de desenvolvimento pessoal .............................................................. 38
2.1.1.3 Valorização de desempenho..................................................................................... 38
2.1.2 Aceitação da Cultura................................................................................................ 41
2.1.2.1 Valorização dos símbolos........................................................................................ 45
2.1.2.2 Crença na Organização ........................................................................................... 47
2.1.2.3 Comprometimento dos Colaboradores..................................................................... 49
2.1.3 Identificação com a Organização............................................................................. 53
2.1.3.1 Identificação com a Missão...................................................................................... 56
2.1.3.2 Princípios e Valores ................................................................................................ 56
2.1.3.3 Relação Afetiva ....................................................................................................... 58
2.1.3.4 Ambiente de Trabalho ............................................................................................. 59
2.2 ASPECTOS DA IMAGEM INSTITUCIONAL ............................................................60
2.2.1 Responsabilidade Social............................................................................................ 60
2.2.1.1 Legitimidade das ações sociais ............................................................................... 61
2.2.1.2 Preservação do meio ambiente ................................................................................ 65
2.2.1.3 Consciência social ................................................................................................... 68
2.2.2 Qualidade do Serviço ............................................................................................... 74
2.2.2.1 Admiração dos clientes ........................................................................................... 74
2.2.2.2 Credibilidade da organização .................................................................................. 79
2.2.2.3 Comunicação com o público externo ...................................................................... 83
2.2.3 A Atratividade das Organizações ........................................................................... 84
2.2.3.1 Atratividade sobre potenciais colaboradores .......................................................... 84
2.2.3.2 Atratividade da Marca ............................................................................................. 86
2.3 Pesquisas quantitativas na área de Identidade Organizacional e Imagem Institucional 88
CAPÍTULO 3 – METODOLOGIA.................................................................................. 96
3.1 TIPO DE PESQUISA.................................................................................................... 96
3.2 COLETA DOS DADOS................................................................................................ 96
3.2.1 Questionário sobre Identidade Organizacional ..................................................... 98
3.2.2 Questionário sobre Imagem Institucional..............................................................100
3.3 TRATAMENTO DOS DADOS...................................................................................103
3.4 POPULAÇÃO E AMOSTRA ..................................................................................... 105
3.5 SELEÇÃO DE SUJEITOS...........................................................................................105
3.6 LIMITAÇÕES DO MÉTODO .................................................................................... 106
3.7 DEFINIÇÕES DAS HIPÓTESES ...............................................................................106
CAPÍTULO 4 – ANÁLISE DOS RESULTADOS......................................................... 109
4.1 APRESENTAÇÃO DOS RESULTADOS...................................................................109
4.1.1 Resultados principais...............................................................................................109
4.1.1.1 Estudo da confiabilidade interna dos construtos.....................................................110
4.1.1.2 Teste do modelo com o uso do GESCA................................................................. 111
4.1.1.3 Teste do modelo com o uso do AMOS 4.0............................................................ 113
4.2 DISCUSSÃO DOS RESULTADOS........................................................................... 121
4.2.1 Resultados identidade organizacional................................................................... 121
4.2.1.1 Sucesso conjunto.................................................................................................... 122
4.2.1.2 Possibilidade de desenvolvimento pessoal............................................................. 123
4.2.1.3 Valorização do desempenho.................................................................................. 126
4.2.1.4 Valorização dos símbolos...................................................................................... 127
4.2.1.5 Crença na organização........................................................................................... 129
4.2.1.6 Comprometimento dos colaboradores................................................................... 131
4.2.1.7 Confluência de Princípios e valores....................................................................... 133
4.2.1.8 Identificação com a Missão.................................................................................... 134
4.2.1.9 Relação Afetiva...................................................................................................... 136
4.2.1.10 Ambiente de Trabalho.......................................................................................... 137
4.2.2 Resultados Imagem Institucional........................................................................... 139
CAPÍTULO 5 – CONCLUSÕES E RECOMENDAÇÕES.......................................... 143
5.1 CONCLUSÕES............................................................................................................ 143
5.2 RECOMENDAÇÕES.................................................................................................. 147
REFERÊNCIAS............................................................................................................... 149
GLOSSÁRIO.................................................................................................................... 158
ANEXO
1. Características do Exército Brasileiro.............................................................................159
APÊNDICES
A. Questionário sobre Identidade Organizacional ...........................................................163
B. Questionário sobre Imagem Institucional ...................................................................164
15
1. INTRODUÇÃO
A vida do homem está crescentemente relacionada às organizações. O
trabalho artesanal que havia antes da Revolução Industrial foi cedendo espaço
para a produção conjunta dos operários. Por este motivo, surgiram as
indústrias, as empresas e, por fim, as corporações. Desta forma, é quase
impossível conceber, nos dias atuais, um indivíduo que não se relacione com
organizações, sejam estas privadas ou públicas.
Em estudos na área de administração de empresas é importante
considerar essa interação do homem com as organizações, a fim de traçar
estratégias eficazes. Afinal, é o indivíduo quem age, mantendo e viabilizando a
existência de qualquer grupo social, incluindo aí as empresas, que são criadas
para suprir as suas necessidades. Na verdade, pode-se dizer que o homem
tem um duplo papel, pois, ao mesmo tempo, integra e interage com
organizações.
É interessante observar que os trabalhadores conferem certa
humanidade própria e única às organizações que integram. É bem verdade que
existem outros ativos, bens móveis e imóveis das empresas. No entanto,
segundo Matos e Lopes (2008), já se chegou à conclusão que o ativo mais
valioso que existe nas organizações é o capital intelectual que provém dos
colaboradores. É o homem quem interpreta a realidade da empresa, com seus
bens, desafios e ativos, transferindo certa humanidade para a instituição.
Paralelamente, os objetivos, a missão, os valores da organização, assim
como a interação dos empregados entre si, participam ativamente na
moldagem do vínculo que se desenvolve entre o empregado e a organização
da qual participa. Nesse processo o indivíduo cria uma identificação própria
16
com o ambiente de trabalho, a que a literatura denomina de identidade
organizacional, conforme mencionado por Vance e Angelo (2007).
Ao interagir externamente, como clientes de produtos e serviços, as
pessoas observam as organizações, fazendo avaliações constantes. Essa
observação é complexa, pois a verificação é realizada segundo a percepção de
cada indivíduo, que prioriza aspectos segundo sua visão pessoal. Ele vê o que
enxerga e, embora isto possa parecer confuso, talvez esta seja a essência da
imagem corporativa. Avaliação que pode reverter, ou não, em compra de bens
e serviços, sendo importante para a viabilidade, crescimento e perenidade das
empresas.
De acordo com esse cenário, a imagem corporativa e a identidade
organizacional são dois conceitos que têm, cada vez mais, chamado a atenção
das empresas. A importância do assunto faz com que seja também crescente o
número de pesquisas abordando estes construtos. Os trabalhos acadêmicos
sobre eles iniciaram na década de 1950, segundo Martineau (1958) e Kennedy
(1977), recebendo maior ênfase, segundo Vance e Angelo (2007),
principalmente, a partir da década de 1990.
Inicialmente, algumas iniciativas de pesquisa ocorreram fora do meio
acadêmico. Vance e Angelo (2007) mencionam o ranking das Empresas mais
Admiradas da América (MAC) elaborado pela revista Fortune, desde 1984,
como exemplo disto. Desde então, distintas áreas acadêmicas se ocuparam do
estudo da imagem corporativa e da identidade organizacional.
A importância da imagem corporativa foi salientada por Grönroos (1998).
Para esse autor, a imagem tem impacto na percepção da qualidade do serviço
das organizações. No modelo de qualidade proposto por Grönroos (1998), a
17
imagem exerce impacto tanto na qualidade esperada quanto na qualidade
experimentada, conforme exposto na Figura 1. Esta visão é endossada por
Rust, Zeithaml e Lemon (2001), que reforçam a ideia de que uma boa imagem
é vital para a sobrevivência das empresas no mercado.
Figura 1- Critérios envolvidos na qualidade total percebida Fonte: Grönroos (1998, p.12)
Nardi e Nakao (2008) afirmam que a imagem está relacionada com os
conceitos de credibilidade e de confiança. Instituições mais transparentes
tendem a ser mais acreditadas pelos usuários e isto exerce impacto direto na
imagem corporativa. Desta forma, se a confiança está relacionada à imagem,
conforme afirmam esses autores, pesquisas sobre a confiança nas instituições
servem de parâmetro para avaliar a imagem das instituições consideradas. A
confiança, neste caso, seria o comportamento do usuário perante a imagem
que ele tem sobre determinada empresa, ou seja, é a percepção final do
usuário, que é o mais relevante, segundo Zeithaml (1988).
Segundo Carvalho (2009), há poucos estudos de identidade e imagem
em organizações que não visam lucro, comparativamente àqueles voltados
para firmas que objetivam lucro. Por este motivo o presente estudo pretende
18
contribuir para enriquecer esse ramo de investigação, notadamente no tocante
a organizações que não visam lucro.
Dentro dessa ótica, para selecionar uma instituição pública a fim de
realizar investigação na área de imagem e identidade, deve-se tomar alguns
cuidados. Em primeiro lugar, a organização deve ser relevante e abrangente, a
tal ponto que permita o aproveitamento dos ensinamentos aprendidos por parte
de outras organizações. Também é importante que a organização não seja
incipiente, pois, em tese, entidades maduras fornecem dados mais concretos
para investigações sobre imagem, como viabilizadora da continuidade das
instituições. Por fim, é desejável, ainda, que a organização tenha apresentado
bons resultados junto ao público, pois nesse caso, a investigação apresentará
exemplos práticos, advindos de uma história de sucesso na área de imagem e
identidade organizacional.
Seguindo esse raciocínio, pode-se observar, no Brasil, que, embora
careçam de caráter científico, diversas pesquisas já foram realizadas para
medir a confiança nas instituições. Como resultado geral dessas pesquisas, as
Forças Armadas (FA) se destacam como a organização mais confiável. Esta
conclusão advém do fato de que, em todas as pesquisas recentes de opinião,
as Forças Armadas aparecem nas primeiras colocações entre as investigadas.
É importante ressaltar que diferentes institutos têm chegado a esse mesmo
resultado, embora essas pesquisas não avaliem sempre as mesmas
instituições, variando a análise conforme a motivação da investigação do órgão
que patrocinou a pesquisa. Chama atenção, inclusive, que repetidas vezes, as
Forças Armadas, alcançaram resultado superior a instituições como a Igreja
19
Católica, os Magistrados e o Ministério Público, com percentuais fora da
margem de erro.
Ao mencionar os dados dessas pesquisas, é interessante realizar um
retrospecto dos resultados, considerando inicialmente, apenas a evolução da
confiança nas FA, conforme exposto no gráfico da Figura 2. Essas pesquisas
iniciais para medir a confiança nas instituições eram realizadas anualmente
pelo instituto Ibope Opinião, ocorrendo regularmente de 1989 a 2005. Ficou
demonstrado que ocorreu clara evolução na confiança nas Forças Armadas no
período estudado, pois de 51% de confiança, em 1989, o percentual aumentou
para 75%, em maio de 2005, totalizando 69% ao final do período.
Figura 2- Evolução da Confiança nas FA Fonte:IBOPE (2005)
Considerando comparativamente as instituições, durante o período
anteriormente citado, o Ministério Público (MP) encomendou, em 2004,
pesquisa (Fig. 3) que confirmou, segundo o IBOPE, a melhoria da imagem das
Forças Armadas (FA) entre o público geral. Nessa pesquisa do Ministério
20
Público, as FA alcançaram o segundo lugar, embora estivessem tecnicamente
empatadas com a primeira e a terceira colocadas.
.
Figura 3- Pesquisa de Fev 2004 Fonte: Ministério Público (2004)
Após o ano de 2005, o IBOPE não realizou mais pesquisas de confiança
nas instituições, inexistindo, por essa razão, resultados no ano de 2006. No
entanto, a Associação dos Magistrados do Brasil nos dois anos seguintes
passou a patrocinar essas pesquisas. Os resultados obtidos em 2007 (Fig 3) e
2008 (Fig 4) demonstram que a confiança nas FA permaneceu inalterada, pois
a instituição continuou no primeiro lugar, tecnicamente empatada em 2007 com
a Polícia Federal, e isolada em 2008, com 79% de aprovação.
21
Figura 4 – Pesquisa de Set 2007 Fonte: AMB (2007)
Figura 5 – Pesquisa de Jun 2008 Fonte: AMB (2008)
Em fevereiro de 2009, foi realizada pesquisa patrocinada pelo Conselho
Nacional de Justiça. A Fundação Getúlio Vargas (FGV) foi a responsável pela
execução da pesquisa (Fig 6). Os resultados mostram as FA figurando
novamente em primeiro lugar.
22
Figura 6- Pesquisa de Fev de 2009 Fonte: FGV (2009)
A última pesquisa sobre confiança nas instituições foi realizada pela
Fundação Getúlio Vargas no segundo trimestre de 2010, pois o curso de Direito
da aludida Fundação desejava avaliar a confiança da população no Poder
Judiciário, considerando o índice ICJBRASIL que foi instituído em 2009. Na
edição do segundo trimestre de 2010, foram incluídas outras instituições, entre
as quais as Forças Armadas, para servir de comparação com o Judiciário. A
amostra para a pesquisa foi calculada com base nos dados da Pesquisa
Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD) de 2007. Desta forma,
participaram 1.550 indivíduos em todo o País, conforme exposto no Quadro 1.
A Figura 7 demonstra que novamente as FA alcançaram a primeira colocação,
estando à frente do grupo das Grandes Empresas, do Governo Federal, das
emissoras de TV, da imprensa escrita, da Polícia, da Igreja Católica, do
Judiciário, do Congresso Nacional e dos Partidos Políticos.
23
Quadro 1- Distribuição das entrevistas de acordo com a população
Fonte: ICJBRASIL (2010)
Figura 7- Pesquisa 2º Trimestre de 2010 Fonte: ICJBRASIL (2010)
Os resultados dessa última pesquisa são um forte indício de sucesso
das FA em preservar uma boa imagem ao longo dos anos. Este é um
fenômeno que não foi observado em outras instituições que fizeram parte das
pesquisas anteriormente mencionadas. Instituições que, por vezes, alcançaram
24
a primeira posição em empate técnico com as FA, ou mesmo as que figuraram
em segundo lugar, revezaram-se ao longo do tempo nas colocações, não
exibindo constância como sendo as mais bem avaliadas. Por outro lado, as FA
consolidaram sua imagem junto à população, pois em todas as pesquisas,
apareceram nas primeiras colocações.
As informações apresentadas acima justificam a seleção das Forças
Armadas (FA) como instituição pública a ser investigada, no tocante a
identidade organizacional e a imagem institucional. No entanto, cabe
considerar que as FA são formadas pela Marinha, Aeronáutica e o Exército, e
um estudo envolvendo as três Forças seria bastante complexo. Nesse caso,
seria prudente limitar a pesquisa, escolhendo a Força com maior
representatividade, tanto em função do número de integrantes, como no
tocante à capilaridade. A seleção recai, portanto, sobre o Exército Brasileiro,
que satisfaz a estes dois requisitos.
Em face da situação apresentada, surge o questionamento que motiva a
presente investigação.
A identidade organizacional do Exército Brasileiro exerce impacto
sobre a sua imagem institucional?
1.1 OBJETIVO GERAL
Verificar se a identidade organizacional do Exército Brasileiro exerce
impacto sobre a sua imagem institucional.
1.2 OBJETIVOS ESPECÍFICOS
a) Levantar os aspectos relevantes da identidade organizacional do
Exército Brasileiro, conforme a literatura acadêmica.
25
b) Levantar a opinião de militares do Exército Brasileiro acerca de sua
identidade organizacional.
c) Levantar os aspectos relevantes da formação da imagem institucional,
conforme a literatura acadêmica.
d) Levantar a opinião de uma amostra da população do Rio de Janeiro
acerca da imagem institucional do Exército.
1.3 HIPÓTESE
A identidade organizacional do Exército Brasileiro exerce impacto sobre
sua imagem institucional.
1.4 RELEVÂNCIA
A imagem das organizações é assunto de reconhecida importância no
cenário acadêmico e corporativo. Dentro desse contexto, este trabalho torna-se
significativo na medida em que se propõe a verificar se a identidade
organizacional do Exército Brasileiro exerce impacto sobre sua imagem
institucional. Os resultados alcançados em pesquisas de opinião pelas Forças
Armadas são evidências que fortalecem a confiança na hipótese do trabalho,
não obstante sejam pesquisas que carecem de maior rigor científico, já que
não são estabelecidas nem testadas hipóteses, mesmo porque a ferramenta
estatística para tratamento dos dados é de natureza meramente descritiva.
Além disto, a investigação em tela servirá de pressuposto teórico em
trabalhos que sigam a mesma linha de pesquisa. Este aspecto é reforçado pela
26
escassez de pesquisas empíricas na área da imagem, conforme afirma
Carvalho (2009).
No Brasil, são relativamente escassos os estudos empíricos sobre
imagem institucional, predominando as pesquisas de caráter mais
qualitativo, mesmo em algumas áreas do marketing tradicional como
imagem de marca ou de produto. As pesquisas sobre imagem, por exemplo,
têm mais de 60 anos. Uma exceção recente é a análise de Gonzalez (2005)
sobre os determinantes e os impactos da imagem institucional do SENAI
junto a seus clientes corporativos (CARVALHO, 2009, p. 62)
1.5 DELIMITAÇÃO
No trabalho de campo, optou-se pelo uso de amostra por conveniência,
considerando apenas a cidade do Rio de Janeiro, que é a guarnição com maior
efetivo do Exército no Brasil. Os questionários foram administrados no centro
da cidade e nos bairros adjacentes à Vila Militar do Rio de Janeiro, pois é
nestes locais que se concentra a maior parte das unidades militares do
Exército. Desta forma, os respondentes destas regiões, em tese, são os que,
no Rio de Janeiro, têm maior contato com o Exército.
A coleta de dados, na pesquisa de campo, ocorreu entre os meses de
agosto e setembro do ano de 2010. Essa é a delimitação temporal da pesquisa,
com relação aos dados primários que foram obtidos.
O estudo aborda a identidade do Exército na visão dos seus
colaboradores (militares). Já no tocante a imagem, a percepção a ser
investigada é a da população em geral.
27
2. REFERENCIAL TEÓRICO
A definição da imagem corporativa tem suas raízes no marketing, que
segundo Bickerton (2000), explora o conceito baseado na visão do cliente.
A visão inicial acerca da imagem corporativa foi construída a partir de
comparações com aspectos da personalidade humana, conforme atestam
Kennedy (1977) e Dowling (1993). Por este motivo, Kennedy (1997) afirma que
a imagem consiste no produto final de mensagens que são filtradas pelas
pessoas, por meio de valores individuais, que podem sofrer mudanças. Sendo
assim, segundo Dowling (1986), esse produto final configura-se na visão geral
que as pessoas têm sobre determinada organização.
Por esse motivo, Martineau (1958) afirma que ações para a melhoria da
imagem corporativa devem procurar fazer com que as diversas partes
interessadas (stakeholders) possam simpatizar com a organização. Essa
empatia seria semelhante à que ocorre quando uma pessoa gosta de alguém.
Inicialmente, os estudos acerca da imagem consideravam apenas o
conjunto geral da percepção dos diferentes stakeholders. Kennedy (1977)
critica essa visão por não considerar o papel dos colaboradores da organização
na promoção da imagem corporativa. Para esse autor, o fortalecimento da
imagem perante o público externo deve ocorrer a partir dos colaboradores. Eles
seriam os vendedores em potencial da imagem da empresa, agindo de forma
espontânea e eficiente, a partir de sua própria visão da organização que
integram. Essa imagem percebida pelos colaboradores seria a identidade
organizacional.
Andreassen e Lindestad (1998) afirmam que uma boa imagem
corporativa é importante tanto para atrair como para reter clientes. Segundo
28
esses autores, a imagem corporativa influencia positivamente a qualidade
percebida, a satisfação do cliente e sua lealdade, principalmente quando não
se pode proporcionar uma melhoria concreta nos produtos e serviços que a
empresa oferece.
Balmer (2001) afirma que, a partir da década de 1970, surgiram estudos
sobre identidade organizacional. Com o tempo, as investigações sobre
identidade corporativa foram alcançando maior atenção dos pesquisadores em
detrimento da imagem corporativa. Alessandri (2001) afirma que as
investigações acerca de identidade podem ser reunidas em dois grupos. No
primeiro grupo estariam as pesquisas desenvolvidas por profissionais da área
de negócios, enquanto que no segundo grupo figurariam os trabalhos
desenvolvidos por acadêmicos. Cabe mencionar que Alessandri (2001) afirma
que os trabalhos do primeiro grupo estão relacionados com aspectos mais
tangíveis, enquanto os acadêmicos lidam principalmente com as facetas mais
subjetivas da identidade corporativa.
Gray e Balmer (1998), que pertencem ao grupo dos acadêmicos,
afirmam que a experiência da identidade corporativa é que produz a imagem
corporativa nas pessoas. Leitch(1999) salienta que a identidade corporativa
pode ser controlada pela organização, por estar ligada ao que a empresa é, ao
passo que a imagem foge dos mecanismos diretos de controle, por relacionar-
se à percepção do público, conforme a definição de Hawn (1998).
Segundo Dutton e Dukerich (1991), a identidade pode ser expressa por
seis atributos percebidos pelos colaboradores. O primeiro deles está
relacionado com a capacidade técnica da organização. O segundo, com a ética
da organização. O terceiro, com a capacidade de oferecer serviços superiores.
29
O quarto, com a habilidade de comunicar seus sucessos e suas falhas. O
quinto, com o sentimento dos colaboradores de que a organização é um
ambiente familiar. E finalmente, o sexto, com a capacidade de fixar uma
mentalidade positiva nos colaboradores. Esses autores ressaltam que aspectos
emocionais afetam tanto a identidade como a imagem das organizações.
Para Kiriakidou e Milward (2000) são os colaboradores que transmitem
as características da empresa, por meio de seu comportamento junto ao
público externo. Por esse motivo, os colaboradores exercem forte impacto
sobre a imagem corporativa, na medida em que se tornam o principal veículo
das características únicas da organização. Gioia, Schultz e Corley (2000)
reforçam esta noção, acrescentando que essas características centrais são
mais duradouras e a percepção delas por parte dos colaboradores é que forma
a identidade corporativa.
É interessante observar que Cristensen e Askegaard (2001) afirmam que
existe complexidade na definição dos construtos identidade e imagem. Isto
ocorre, segundo esses autores, porque os elementos formadores dessas
construções não são complementares, podendo ser, em alguns casos, até
mesmo competitivos e opostos. Por isso, existe, inclusive, a possibilidade de a
identidade corporativa não influenciar significativamente a imagem corporativa.
Na promoção da imagem convém considerar que o stakeholder deve
identificar na empresa características que julgue relevante. É nesse contexto
que cresce de importância a escala de valores de Lambin (2000).
Segundo Lambin (2000) existem os atributos concretos (cor, tamanho,
peso), os atributos abstratos (luxo, beleza, marca), as consequências
funcionais (maior o vigor, menor sede), as consequências psicossociais (sentir-
30
se forte, status), os valores instrumentais (coragem, capacidade, generosidade)
e os valores terminais (segurança, família, honestidade). Para esse autor, a
propaganda e a própria imagem da empresa seriam mais fortes na medida em
que fossem percebidas como sendo a expressão dos valores terminais. Por
este motivo, haveria uma escala de valores, com importância gradativa,
começando nos atributos concretos, passando pelos atributos abstratos, pelas
consequências funcionais, pelas consequências psicossociais, pelos valores
instrumentais, até chegar aos valores terminais.
Diversos estudos abordam a influência da identidade organizacional
sobre a imagem institucional. Vance e Angelo (2007) abordam o tema, no
contexto dos estudos existentes na área de reputação e imagem, afirmando
que a problemática ligada a essa área foi estudada por profissionais ligados às
áreas de economia, de estratégia, de comunicação, de marketing,
organizacional, sociológica e de contabilidade. Esse enfoque múltiplo
terminaria, por provocar algumas discordâncias sobre o tema, englobando
inclusive a existência de conceituação distinta para reputação e imagem.
Nesse sentido, há os que entendem a reputação como sendo sinônimo de
imagem, ao passo que há aqueles que fazem distinção entre elas.
Cabe salientar, porém, que Vance e Angelo (2007) afirmam que há
consenso de que a identidade organizacional é relevante na formação da
imagem institucional, mencionando ainda estudos que revelam a associação
entre identidade e imagem, conforme demonstrado no Quadro 2.
31
Quadro 2 – Dimensões de Identidade e Imagem em pesquisas
Fonte: Vance e Angelo (2007)
De acordo com Brønn (2002), a identidade da organização influencia
diretamente a sua imagem. A identidade, segundo esse autor, é constituída
pelo conjunto de comportamentos, símbolos e comunicação. A Figura 08 traz
uma idéia da visão defendida por Brønn (2002).
Figura 8 - Relação entre identidade e a imagem Fonte: adaptação de Brønn (2002)
Considerando imagem e marca construtos sobrepostos, Barnett e
Hoffman (2008) afirmam que a marca de uma empresa é construída pelos fatos
do passado e também pelas expectativas de resultados futuros. Com relação
ao passado há a comparação com outras firmas e o seu comportamento ao
32
longo da história. Já em relação ao futuro, são consideradas as projeções com
relação aos subgrupos em que a empresa se encontra.
Barnett e Hoffman (2008) advertem ainda que existem diferentes faces
da marca de acordo com a posição dos diferentes espectadores que observam
determinada empresa. A marca seria, dessa forma, a reunião das percepções e
avaliações dos diversos observadores.
Dentro dessa ótica, Vance e Angelo (2007) afirmam que os agentes
mais importantes neste processo de construção da reputação das empresas
são os clientes e os colaboradores. Neste caso, os empregados estariam
intimamente ligados com a identidade da empresa, enquanto os clientes
estariam diretamente relacionados com a imagem da empresa. A marca seria o
resultado deste processo (figura 09).
Figura 09 – A formação da marca, integrando identidade e imagem. Fonte: Vance e Angelo (2007)
Para Machado (2003), a literatura sugere que pode existir influência da
identidade organizacional sobre a imagem institucional. Pontes (2009)
complementa esta noção, afirmando que o processo de formação da imagem é
a saída do complexo processo de identidade que ocorre internamente na
33
empresa. Em sua pesquisa, esse autor afirma que quando não se leva em
conta os aspectos da identidade organizacional, ocorrem distorções na
comunicação com os clientes. Menciona também que não considerar a
importância da identidade organizacional, se configura na causa de muitos
insucessos em ações estratégicas voltadas para transmitir uma imagem da
empresa ao consumidor.
2.1 ASPECTOS DA IDENTIDADE ORGANIZACIONAL
Segundo Melewar e Jenkins (2002), a definição de identidade
organizacional não encontra consenso na literatura. Por esse motivo, afirmam
que muitos pesquisadores preferem não definir precisamente o construto
identidade. Essa falta de definição causa problemas, pois é difícil gerenciar
algo que não se conhece.
Existem algumas definições acerca do construto identidade. Van Rekom
(1997) afirma que a identidade é a visão que determinada organização oferece
de si mesma por meio de comportamentos, comunicações e simbolismos.
Balmer e Soenen (1997) afirmam que a identidade corporativa é composta por
três fatores, que são denominados de mente, alma e voz.
Segundo Balmer e Soenen (1998), o fator mente engloba a visão
gerencial, a filosofia da corporação, a estratégia, desempenho, arquitetura,
ações dos proprietários e história organizacional. Por sua vez, o fator alma
consiste em elementos subjetivos como valores, cultura, afinidades entre
empregados e imagem interna. Por fim, o fator voz abrange a comunicação não
direcionada, a comunicação direcionada, os simbolismos, o comportamento da
organização e o comportamento dos empregados.
34
Segundo Machado (2003), a identidade organizacional é uma das
respostas da percepção do indivíduo acerca da realidade em que ele está
inserido. Desta maneira, cada forma de identidade é o reflexo da percepção e
interpretação do indivíduo, na particularização das atividades que realiza. Esta
percepção exclusiva da realidade se potencializa, quando se considera o
individualismo brasileiro mencionado por Thiry-Cherques (2008). Para esse
autor, heranças culturais fizeram com que o povo brasileiro herdasse
características egocentristas, embora dissimuladas. Influência essa que foi se
adaptando, de acordo com cada onda migratória que aconteceu ao longo da
história.
De acordo com Thiry-Cherques (2008), é importante analisar as
organizações de acordo com as características dos indivíduos, incluindo sua
herança histórica. A causa de fracasso em projetos, por vezes, é a não
consideração das particularidades desse indivíduo que interpreta a realidade.
Cada tipo de identidade seria o resultado de uma forma de observar o cenário,
incluindo-se, neste contexto, a identidade organizacional. Machado (2003)
enumera diferentes tipos de identidade, relacionando aspectos de cada uma
dessas modalidades (Quadro 03)
Quadro 03 – Aspectos dos diferentes tipos de identidade Tipo de identidade
Objeto de estudo
Meios de construção
Períodos de ocorrência
Espaços de construção
Finalidades
Pessoal A construção do autoconceito ao longo da vida do indivíduo.
Diversos relacionamentos sociais, em diferentes esferas, bem como desempenho de papéis.
Permanente, ocorrendo em todas as fases da vida.
Múltiplos relacionamentos e papéis.
Conformar o eu, em direção ao processo de individualização.
Social A construção do autoconceito pela vinculação a grupos sociais.
Interação a grupos sociais com finalidades diversas.
Permanente na vida do indivíduo.
Múltiplos grupos.
Orientar e legitimar a ação, por meio do reconhecimento e da vinculação social.
35
Laboral A construção do eu pela atividade que realiza e pelas pessoas com as quais tem contato no trabalho.
Interação com a atividade e com as pessoas no trabalho.
Na juventude, na idade adulta até a aposentado-ria
Múltiplas atividades e grupos profissionais
Contribuir para a formação da identidade pessoal e atuar como fator motivacional.
Organizaci-onal
A construção do conceito de si vinculado à organização na qual trabalha.
Interação com uma instituição (com seus valores, objetivos, missão e práticas)
A partir da juventude, enquanto estiver vinculado a alguma instituição.
Pode ocorrer em uma ou em múltiplas organizações
Incorporar as instituições no imaginário, de forma a orientar a ação nessas organizações.
Fonte: Adaptado de Machado (2003)
Fernandes e Zanelli (2006) afirmam que os integrantes de uma
organização, desde a sua chegada à empresa, tomam contato com a forma de
ser na ordem vigente, buscando-se estabelecer a identificação individual com
os ritos, valores, rituais, normas e rotinas da organização. Neste processo de
construção da identidade organizacional ocorre a desconstrução da própria
identidade pessoal, que é posteriormente reconstruída, segundo as influências
que o colaborador sofre no ambiente em que se encontra inserido. Cabe
ressaltar que, segundo esses autores, a reconstrução da identidade pessoal é
realizada ao mesmo tempo em que se forma a identidade corporativa. Isto
acontece no momento em que os indivíduos distinguem claramente os
objetivos da organização, se identificando com eles.
Fernandes, Marques e Carrieri (2009) definem a identidade
organizacional como sendo o resultado coletivo da análise que cada indivíduo
faz acerca do ambiente de trabalho. Nesta ótica, a identidade organizacional é
formada com base na percepção comum dos indivíduos que compartilham
respostas sobre o ambiente de trabalho.
Melewar e Jenkins (2002) apresentam o construto identidade a partir de
quatro fatores. O primeiro fator considera a comunicação e a identidade visual.
36
O segundo enfoca os comportamentos. O terceiro refere-se à cultura
corporativa. Finalmente, o quarto considera as condições de mercado. A Figura
10 traz uma representação do construto identidade, segundo Melewar e
Jenkins (2002).
Figura 10 – Construto Identidade Corporativa. Fonte: Adaptado de Melewar e Jenkins (2002).
Como esses autores mencionam, não existe consenso acerca da
composição do construto identidade, existindo diversas definições na literatura.
Por esse motivo, é prudente realizar a inclusão das diferentes abordagens
teóricas, buscando pontos de convergência que embasem a construção de um
modelo. Sendo assim, a seguir serão expostos conceitos atribuídos à
identidade organizacional, conforme revisão da literatura que foi executada.
37
2.1.1 Identificação com os objetivos
2.1.1.1 Sucesso conjunto
Machado (2005) realizou estudo de caso em empresas brasileiras a fim
de verificar a influência da cultura nacional na formação da identidade
organizacional. Fruto desta investigação, essa autora chegou à conclusão de
que um dos aspectos presentes na construção da identidade organizacional é a
projeção do sucesso pessoal no progresso da organização. Diversas pessoas
se mostraram entusiasmadas com o crescimento da organização, fazendo
referências às próprias conquistas, nesse contexto. Machado (2003) chega a
afirmar que a conjugação dos sonhos pessoais com as possibilidades de
sucesso da empresa faz com que os funcionários passem a enxergar com os
olhos da organização.
Outro aspecto importante detectado foi a conjugação dos sonhos individuais com o crescimento da organização, que interferiu na identificação organizacional, garantindo o empenho dos indivíduos nas tarefas que demandavam seus esforços diante do público externo, a fim de promover a aceitação de um produto novo no mercado, mesmo que esse produto estivesse associado a um momento de tristeza, o qual as pessoas procuram evitar no seu cotidiano ou nas suas decisões de investimento. Entretanto, essa idealização do sonho implicou a dificuldade, por parte dos entrevistados, em estabelecer os limites do “eu” e os da organização, pois estes se misturaram com as expectativas de um futuro melhor, que supostamente estaria assegurado pelo crescimento da organização. Nesse momento, os indivíduos parecem “enxergar com os olhos da organização”. (MACHADO, 2003, p. 14)
Para Morais e Paula (2010) a sobrevivência das organizações depende
do alinhamento de objetivos individuais com os da organização. Por esse
motivo, existe a preocupação das organizações em investir em ações
direcionadas para seus colaboradores de modo a conseguir esse alinhamento
de objetivos. Estas ações estão presentes desde o curso de formação
profissional, chegando também a outros processos de socialização que
ocorrem dentro da organização.
38
2.1.1.2 Possibilidade de desenvolvimento pessoal
A preocupação com o desenvolvimento pessoal na empresa está
presente nas atitudes dos colaboradores e dos gestores, segundo Leite-da-
Silva et al. (2006). A própria dificuldade de assimilar os objetivos
organizacionais pode estar relacionada com esta preocupação:
Praticamente todos os gestores entrevistados concordam que o objetivo da organização é o lucro e que isso é algo necessário. As contradições mencionadas surgem nos caminhos para legitimar e efetivar esse objetivo, envolvendo uma diversidade de questões, tais como: a ampliação da empregabilidade do funcionário, o aumento de sua qualidade de vida e a preocupação com o seu crescimento profissional (LEITE-DA-SILVA, 2006, p. 379)
Quando o colaborador não consegue enxergar na empresa a
oportunidade para alcançar seu desenvolvimento pessoal, a identificação com
os objetivos organizacionais é menor porque o funcionário considera a sua
passagem na organização como algo transitório. Esta visão é defendida por
Morais e Paula (2010) que observam em sua pesquisa que a maioria dos
policiais rodoviários federais de Belo Horizonte - MG desejam realizar outros
concursos públicos. Eles estariam dispostos a deixar a corporação por julgarem
que existem oportunidades melhores de remuneração e desenvolvimento
pessoal fora da organização, onde estão inseridos.
2.1.1.3 Valorização de desempenho
Os colaboradores desempenham papel relevante na construção da
imagem de determinada organização. Esta é a visão de Silva (1999), que
estudou o processo de transformação da imagem do Banco do Brasil, a partir
de 1990, para atrair o público jovem, já que os principais clientes do banco na
época estavam na faixa etária entre 50 e 65 anos.
39
Segundo esse autor, antes de iniciar o processo de transformação, a
imagem corporativa do Banco do Brasil percebida pelos clientes era formada
por quatro facetas: imagem de superioridade, imagem de instituição sólida,
imagem de honestidade e imagem de formalidade. No entanto, verificou-se que
havia a necessidade de agregar à imagem corporativa do banco os conceitos
de foco no cliente, excelência em serviços, profissionalização x competitividade
e cultura de negócios. Para tal, foi fundamental que o Banco do Brasil
investisse na capacitação dos seus recursos humanos. Silva (1999) destaca
duas contribuições de sua pesquisa para o Banco do Brasil. Essas duas
contribuições chamam atenção para a influência do cargo na participação dos
colaboradores e a unificação da visão dos colaboradores posicionados na
escala hierárquica com nível de gerência média e superiores.
Posição na escala hierárquica é o fator determinante do envolvimento do corpo funcional com os projetos internos e de seu sentimento de responsabilidade para com a imagem da empresa que ajudam a projetar para o meio externo – nem localização (dependência), nem sexo, nem tempo de serviço influíram na percepção que o grupo estudado tem dos movimentos internos que ocorrem no Banco do Brasil. Apenas o fator cargo foi o fator determinante das mais significativas discrepâncias entre as visões a respeito das ações de endomarketing e seus efeitos sobre os resultados da empresa. Indicadores de eficácia das ações de endomarketing implementadas, medidas em função do progresso detectado na unificação das percepções entre os níveis hierárquicos estudados – a pesquisa comprovou a tendência de unificação das percepções sobre o que acontece dentro da empresa, mais claramente entre os níveis de administração e de média gerência, o que traduz em parte a política de descentralização decisória, co-reponsabilização e, sobretudo, as ações de endomarketing implementadas com vistas a difundir e valorizar o profissionalismo como elemento fundamental de sobrevivência empresarial. (SILVA, 1999, p. 95)
Borges- Andrade e Pilati (2001) afirmam que a gestão de desempenho
foi apontada como a maneira mais eficaz de envolver os trabalhadores em
tarefas que exteriorizem uma boa imagem da empresa para o público externo.
Rocha e Silva (2007) afirmam que os colaboradores se ressentem da
ocupação de cargos sem o respaldo da meritocracia. Indicações políticas e a
desvalorização do desempenho técnico profissional estariam entre os principais
40
motivos de insatisfação do público interno, atrapalhando a identificação positiva
com a empresa. Esses autores mencionam que, quando a gestão de
desempenho é negligenciada, isso provoca alguns problemas na organização.
Entre esses problemas mencionados estariam o desequilíbrio de competências
e de carga de trabalho, a subutilização das habilidades dos colaboradores e a
ausência de reconhecimento. A síntese desse cenário seria a falta de
perspectivas para o empregado, que estaria menos motivado e comprometido
com a empresa.
A valorização de desempenho procura diferenciar os colaboradores que
apresentam melhor rendimento dos que possuem resultados inferiores. Este é
um assunto ligado à gestão de pessoas, pois lida com as competências
individuais. Conforme observado anteriormente por Rocha e Silva (2007), para
o colaborador é importante ser reconhecido e valorizado na empresa e, à
medida que isto ocorre, aumenta a identificação dele com a organização.
Basicamente, existem dois tipos de modelos principais que lidam com as
competências individuais, os norte-americanos e os franceses. Nos modelos
norte-americanos são valorizados os traços comportamentais dos
colaboradores. Como exemplo desse tipo de modelo podem-se citar os de
McClelland (1973), Boyatzis (1982), Spencer e Spencer (1993) e Zwell (2000).
Por sua vez, nos modelos franceses é valorizada a ação que cria valor,
característica presente nos modelos de Zarifian (2001), Le Boterf (2003) e
Michaux (2005).
Rosa e Brito (2010) relatam, na sua pesquisa sobre o Exército Brasileiro,
que uma das formas para recompensar a disciplina nas organizações militares
é a conceituação no Sistema de Avaliação Militar. Segundo esses autores, a
41
boa avaliação nesse sistema tem impacto direto nas promoções e
oportunidades na carreira. Esta política de recompensa reforça positivamente o
comportamento dos militares disciplinados, que se identificam e seguem os
objetivos organizacionais do Exército Brasileiro.
2.1.2 Aceitação da cultura
Na concepção de Dowling (1993), a cultura organizacional é um dos
fatores que constituem a imagem, afirmando existir uma correlação positiva
entre a cultura organizacional e a percepção da empresa por parte dos
colaboradores. Baker e Balmer (1997) chegam a afirmar que a cultura
organizacional é a parte constituinte mais importante do construto identidade.
No estudo do fenômeno da cultura em organizações, segundo Leite-da-
Silva et al. (2006), existem três vertentes. A primeira corrente enfoca a relação
entre as diferentes manifestações culturais, a fim de verificar se há ou não
consistência grupal destas manifestações no contexto organizacional. Já o
segundo enfoque aborda a homogeneidade dos hábitos do grupo,
caracterizando a cultura da organização. Finalmente, a terceira consideração
no estudo da cultura está relacionada com a ambigüidade, que pode existir,
quando não há transparência nas atitudes da organização.
Apesar das diferentes abordagens identificadas na literatura por Leite-
da-Silva et al. (2006), todos os estudos parecem observar a relação do
indivíduo com as características predominantes na organização, fenômenos da
cultura que esses autores estudaram em sua pesquisa, tais como valores,
atitudes, crenças, significados e motivações.
Fernandes, Marques e Carrieri (2009) apontam as expressões culturais
como sendo a percepção dos indivíduos sobre a essência da organização. Por
42
esse motivo, símbolos, cerimônias, histórias e demais formas de cultura devem
ser encaradas como componentes da identidade organizacional.
Além disso, Fernandes e Zanelli (2006) afirmam que a cultura
organizacional cria padrões de comportamento para conservar a estabilidade e
o equilíbrio do grupo. Segundo esses autores, a literatura demonstra que o
sucesso da organização deve ser definido de forma mais concreta possível nos
elementos que compõem a cultura. Sendo assim, reforçam a ideia de que é por
meio da experiência coletiva que os indivíduos alcançam explicações para sua
vida cotidiana nas empresas.
Por esse motivo, segundo Fernandes e Zanelli (2006), é relevante o
estudo da cultura das organizações no contexto da formação das identidades
pessoal e organizacional. É importante, inclusive, considerar que esse
processo de formação não é estático, podendo haver modificações, de acordo
com o ambiente externo.
Devemos considerar que a cultura preserva a identidade organizacional, e essa se traduz na forma como os públicos da organização a vêem, a imagem que eles constroem a respeito dela. Assim, em uma cultura organizacional que busca interagir com o ambiente, adaptando-se a ele, essa personalidade que a organização assume tende a ser proativa, atenta às necessidades de mudanças, que se tornam cada vez mais presentes no ambiente organizacional. Dessa forma, a identidade organizacional é muitas vezes reconstruída para se adequar ao mercado. (FERNANDES e ZANELLI, 2006, p. 62)
Segundo Soto Cruz (2008), a aceitação da cultura, que impõe as
subordinações dentro da hierarquia organizacional, passa por dois conceitos
importantes, o da legalidade e da legitimidade. A legalidade da cultura
organizacional se dá por meio de preceitos e normas que atuam nos
colaboradores de forma coercitiva. Por outro lado, a legitimidade atua de forma
mais espontânea, gerando a subordinação e obediência pelo reconhecimento
de que agir de acordo com determinado consenso é opção mais lógica e justa.
43
Para Soto Cruz (2008), por mais paradoxal que seja, os colaboradores podem
ser considerados completamente inseridos na cultura organizacional, na
medida em que aceitam os procedimentos e padrões, tanto pela legalidade
como pela legitimidade
Para El-Kouba et al. (2009), a cultura pode ser disseminada em
programas de desenvolvimento comportamental, nas organizações que
privilegiem situações vivenciais. As experiências conjuntas em programas
dessa natureza são capazes de gerar laços e facilitar a aceitação da cultura,
que deve estar alinhada com os objetivos organizacionais. Quando esse
cenário é alcançado, cria-se a identidade organizacional única e valiosa, o que
acaba por configurar uma importante vantagem competitiva.
Os aspectos culturais influenciam até mesmo as relações internacionais
entre as empresas. Jiménez e San Martin (2010) afirmam que aspectos étnicos
e culturais de um país aliados à reputação de uma empresa são determinantes
da confiança entre organizações em negociações internacionais.
Para isso, Jiménez e San Martin (2010) analisaram a percepção de 202
proprietários de automóveis em conjunto com as características do setor
automobilístico, verificando que aspectos de identidade cultural, como o
etnocentrismo, influenciam a confiança do consumidor. Ou seja, quando o
consumidor, ou mesmo outra empresa, observa traços culturais comuns na
organização estrangeira, o relacionamento é mais fácil, pois aumenta a
confiança. Por este motivo, Jiménez e Martin (2010) defendem a ideia de que
as empresas multinacionais devem levar em conta estes aspectos culturais da
região, a fim de reduzir a desconfiança, nas transações comerciais.
44
Fruto das conclusões de Jiménez e San Martin (2010) pode-se afirmar
que a cultura organizacional deve abranger as características regionais e
étnicas do ambiente empresarial. Este ponto é importante para que ocorra a
aceitação da cultura organizacional pelo público externo e, principalmente,
pelos colaboradores. Essa visão encontra respaldo na dinâmica da cultura
organizacional proposta por Fernandes e Zanelli (2006).
Consonante com a visão de Jiménez e San Martin (2010), Thiry-
Cherques (2008) destaca que a própria cultura como povo influencia o modo de
trabalho e a cultura organizacional das instituições. Embora o trabalho
mecânico venha desaparecendo e o trabalho em equipe pareça estar
mostrando sinais de exaustão, segundo Thiry-Cherques (2008), as barreiras
culturais e psicológicas dificultam o florescimento do trabalho virtual,
abrangendo organizações independentes que compartilham informações entre
si. Para esse autor, no Brasil ainda há a predominância de organizações
convencionais que buscam diferenciar-se uma das outras, ao invés de
cooperarem entre si.
É verdade que a cultura organizacional compõe a identidade
organizacional e torna-se vantagem competitiva por ser única, conforme
observado por El-Kouba et al. (2009). No entanto, ela precisa estar
disseminada e aceita pelos indivíduos que fazem parte da organização. Sendo
assim, torna-se necessário respeitar as características comuns dos
colaboradores no tocante às suas crenças, aos seus valores e aos seus
princípios individuais.
45
2.1.2.1 Valorização dos símbolos
Alessandri (2001) afirma que os trabalhos de profissionais ligados a
áreas de negócios consideram os símbolos como sendo importantes na
constituição da identidade organizacional. Van Riel e Balmer (1997) chegam a
afirmar que inicialmente o conceito de identidade corporativa se limitava à
percepção visual da empresa, incluindo elementos como logotipos e outras
formas de simbolismo. Balmer e Wilson (1998) também afirmam que a maioria
das consultorias nos Estados Unidos e Europa acerca da identidade são
embasadas no design visual.
Morais e Paula (2010) afirmam que a construção da identidade
profissional faz parte de um construto que considera a dimensão do universo
simbólico. Nesse sentido, Fernandes e Zanelli (2006) evidenciaram a
importância dos símbolos para legitimar e dar consistência a diversos
significados. Para esses autores, o universo simbólico facilita a tradução da
realidade de forma comum, viabilizando a comunicação instantânea entre os
colaboradores. Por este motivo, segundo Fernandes e Zanelli (2006), diversos
objetos e símbolos são usados, caracterizando a identidade, de acordo com as
peculiaridades de cada organização.
Fischer e Carvalho (2006) estudaram as transformações ocorridas no
mosteiro de São Bento na Bahia, no período entre 1994 e 2004. Para superar
crises econômicas do período, foi implantado um programa de gestão na
instituição. Por esse motivo, a imagem de isolamento e a identidade de
instituição total tiveram que ser modificadas. Um dos aspectos mais visíveis
desta mudança foi a diminuição do claustro, simbologia que influencia a cultura
beneditina, aspecto da identidade que produz efeitos na imagem.
46
Um segundo aspecto de mudança que traz a ação cultural é da ordem do simbólico, e, portanto, mais profundo. O claustro foi fisicamente reduzido. De muitas maneiras, os beneditinos da Bahia se encontram em contato mais direto com seu espaço social. A imagem de uma instituição fechada projetada sobre a cidade se transformou de forma significativa (FISCHER e CARVALHO, 2006, p. 23)
Fontenelle (2007) estudou as transformações que aconteceram na
empresa McDonald‟s, observando que, por vezes, o simbolismo ligado a
cultura da organização cria uma rigidez na identidade. Por sua vez, a rigidez na
identidade nem sempre é favorável, pois pode haver necessidade de rápidas
mudanças, face aos cenários externos da organização. Segundo essa autora,
são estabelecidas fronteiras simbólicas que precisam ser quebradas nas
transformações da identidade. A marca é um dos elementos simbólicos que
conferem rigidez a identidade organizacional,
O estabelecimento de fronteiras simbólicas e a construção de identidades fixas é algo que caracterizou a empresa moderna como parte central da sociedade da ordem, formatadora de padrões, códigos e regras aos quais deveríamos nos conformar; mas que, ao mesmo tempo, nos eram oferecidos como pontos estáveis de orientação. Estes, porém, estão ruindo em meio ao fim das cristalizações da chamada “modernidade líquida” e colocam desafios para o processo contínuo, mas hoje necessário, de construção e desconstrução de fronteiras e identidades organizacionais. O desafio contemporâneo tem sido quebrar velhas fronteiras e interagir em redes. (FONTENELLE, 2007, p. 61)
O próprio corpo pode ensejar uma simbologia nas organizações. Rosa e
Brito (2010) afirmam que, no Exército Brasileiro, o uso do corpo é fundamental
no ensino utilizado na formação de todos os militares, período em que um civil,
com costumes primários, precisa incorporar a identidade militar. Para esses
autores, a simbologia do corpo no Exército Brasileiro se relaciona com outras
categorias nas relações sociais na organização militar. Rosa e Brito (2010)
relembram que gestos corporais são importantes símbolos que podem ser
usados no contexto da hierarquia e disciplina, já tendo sido empregados no
passado em regimes totalitários, como o da Alemanha nazista de Hitler.
47
2.1.2.2 Crença na organização
Rocha e Silva (2007) alertam para o papel da comunicação interna, a fim
de transmitir os feitos da organização, respaldando o sentimento de
superioridade da instituição perante a sociedade. Leite- da- Silva et al. (2006)
enfatizam que a comunicação interna, visando transmitir mensagens
organizacionais passa pelo crivo individual dos gestores.
Para Leite da Silva et al. (2006), as crenças comuns são o produto final
do processamento de diversas ambigüidades entre a visão do colaborador e os
objetivos organizacionais. A tarefa dos gestores de desenvolver ações que
gerem a visão comum está repleta de construções parciais.
Nessas construções parciais, segundo Leite-da-Siva et al. (2006),
estariam elementos compartilhados por todos os integrantes da organização e
outros aspectos que são compartilhados apenas por grupos específicos, sendo
que este último compartilhamento pode ser transitório.
Essa visão de Leite da Silva et al. (2006) encontra amparo na pesquisa
de Hernandez e Caldas (2001) que propõem um modelo de resistência a
mudanças baseados na visão individual de cada colaborador. Segundo esses
autores, cada trabalhador processa as características situacionais da
organização comparando-as com o conjunto formado pelo seu conhecimento,
suas expectativas, suas atitudes e seu comportamento.
Dessa forma, de acordo com Hernandez e Caldas (2001), ocorreriam
três hipóteses, como fruto dessa comparação. A primeira delas se dá quando
existe alta consistência na comparação, geralmente levando o colaborador a
adotar as crenças. A segunda ocorre quando existe consistência moderada,
provocando a busca do colaborador por mais informações acerca da situação
48
em análise. E finalmente, a terceira surge quando há baixa consistência, o que
faz com que haja, geralmente, a adoção de comportamento resistente por parte
do trabalhador na adoção das crenças, ou das inovações.
Como as mudanças podem exercer impacto nas crenças, Fernandes e
Zanelli (2006) afirmam que a resistência dos colaboradores pode ser
provocada pela própria indefinição quanto à identidade da organização. Cabe
ressaltar que, segundo Thiry-Cherques (2008), diferentemente de outros povos,
o brasileiro é propenso a acreditar mais na organização, sendo fiel aos seus
ideais. Este seria um processo natural, devido às peculiaridades da formação
étnica brasileira, fator que pode ser aproveitado pelas organizações para
promover o processo de aculturação de seus colaboradores.
Rosa e Brito (2010) verificaram que a crença na superioridade da cultura
se relaciona com a afirmação da identidade institucional. Na área militar, esses
autores identificaram diversos depoimentos de militares entusiasmados com as
características que os distinguem de outras culturas, criando a identidade
organizacional.
“Uma coisa a gente aprende na área militar: você é militar 24 horas, não é assim: tu está no quartel é militar, está na rua é civil. Não é assim. Tu é militar estando fardado ou não, estando na China, em qualquer lugar você é militar. „Até debaixo d‟água‟, como alguns costumam dizer. Então você é sempre militar... mas tu tem que conviver não só com a sargento ..., mas também com a civil .... Que nem do jeito que se escreve: na hora que você for assinar, você vai assinar Fulana da Silva, tracinho, terceiro sargento. É tua função, é tua profissão. Então isso vai servir para te carregar. E isso muda a pessoa para melhor, pra quem é fraca, ela consegue ver que ela é forte... dá aquela força de poder quebrar seus limites, coisa que no mundo aí fora não é muito valorizado” (Entrevistada 7) (ROSA e BRITO, 2010, p. 206)
Morais e Paula (2010) afirmam que o indivíduo traz a ideologia da
organização em seu interior, sendo que as consequências que essas crenças
exercem sobre o colaborador transcendem as relações dentro de seu local de
trabalho. Na verdade, segundo esses autores as crenças da organização que o
49
indivíduo assume como sendo suas, modificam a forma como ele observa a
sociedade.
2.1.2.3 Comprometimento dos colaboradores
Rego, Cunha e Souto (2007) relacionam o comprometimento no
ambiente organizacional com o desenvolvimento do trabalho de forma
agradável. Esse modo de agir espontâneo seria percebido pela sociedade,
sendo chamado por eles de espiritualidade. Esses autores lembram que existe
o comprometimento afetivo, o normativo e o instrumental. O comprometimento
afetivo explora o vínculo emocional do trabalhador com a organização. Por
outro lado, o comprometimento normativo traduz-se pela obrigação moral do
trabalhador permanecer na organização. Por fim, o comprometimento
instrumental refere-se aos custos do indivíduo ao abandonar a organização.
Na pesquisa de Rego, Cunha e Souto (2007) foi elaborado um modelo
que sugere existir maior comprometimento afetivo e normativo quando a equipe
de trabalho percebe a existência de união no grupo, tem a consciência de estar
contribuindo para a sociedade e identifica o alinhamento entre seus valores e
os da organização. O comprometimento afetivo é mais relevante que o
normativo, segundo os resultados auferidos. Cabe ressaltar, que nessa
conjuntura, o comprometimento instrumental fica mais reduzido.
A análise fatorial confirmatória de Rego, Cunha e Souto (2007) acerca
da variável latente comprometimento evidenciou a composição desse construto
com as dimensões, afetiva, normativa e instrumental. A Tabela 01 traz os
resultados da análise fatorial confirmatória, com os itens do questionário
utilizado.
50
Tabela 01- Análise Fatorial Confirmatória de Comprometimento
Fonte: Rego, Cunha e Souto (2007)
Borges- Andrade e Pilati (2001) realizaram pesquisas com 1.400
trabalhadores de várias empresas, a fim de determinar o grau de
comprometimento dos colaboradores com a formação da imagem da empresa.
Na conclusão afirmam que empresas tidas com organização dinâmica e visão
estratégica provocam maior comprometimento afetivo de seus colaboradores.
Borges-Andrade e Flauzino (2008) afirmam que o comprometimento
afetivo vem sendo estudado como um constructo que é influenciado
principalmente por variáveis organizacionais. Segundo Borges-Andrade e
Flauzino (2008) as pesquisas quantitativas na área de comprometimento
organizacional tem sido mais conclusivas em empresas da administração
51
pública direta, chegando-se a modelos capazes de explicar 67% da variância
total.
Borge-Andrade e Flauzino (2008) em sua pesquisa sobre
comprometimento consideraram, no Distrito Federal, três grupos de
organizações públicas: as de saúde, as de educação e as de segurança (órgão
militar), com uma amostra de 902 respondentes. Os dados destes
questionários foram trabalhados de forma quantitativa, validando-se seis
variáveis como preditoras do comprometimento. É interessante observar que
as variáveis utilizadas por Borge-Andrade e Flauzino (2008) estão ligadas à
visão do indivíduo acerca da organização e a variável que possui maior carga é
COMP3, referindo-se ao orgulho de fazer parte da organização (Tabela 02)
Tabela 02 Cargas Fatoriais e Comunalidades da Pesquisa de Comprometimento
Item Carga h² Descrição
COMPR3 0,82 0,60 Sinto orgulho dizendo que sou parte da organização
COMPR1 0,77 0,53 Fico contente por optar aqui na época da contratação
COMPR5 0,74 0,55 Refiro-me à organização como grande instituição para a qual é ótimo trabalhar
COMPR7 0,69 0,42 Digo que esta é a melhor de todas as organizações para se trabalhar
COMPR2 0,65 0,38 Meus valores são similares aos da organização
Fonte : Borge-Andrade e Flauzino (2008)
Borge-Andrade e Flauzino (2008) realizaram ainda a comparação do
comprometimento entre os três grupos de organizações públicas, (numa escala
de 1 a 5), utilizando-se da Anova (oneway). Os resultados demonstraram não
haver diferenças significativas entre as organizações públicas de saúde e de
educação. No entanto, ficou comprovado no teste que o comprometimento das
organizações públicas de segurança (órgão militar) é maior do que as demais,
conforme consta na tabela 03.
52
Tabela 03- Comparação do comprometimento organizacional afetivo
Instituição Média Desvio-padrão
Erro padrão F Significância
Instituição de segurança
4,85 1,24 0,06
Instituição de educação
4,20 1,23 0,08
Instituição de saúde 4,20 1,14 0,07
Amostra total 4,47 1,25 0,04 31,32 0,0001
Fonte : Borge-Andrade e Flauzino (2008)
Segundo Borge-Andrade e Flauzino (2008), o maior grau de
comprometimento dos militares pode estar relacionados com as características
culturais e ideológicas próprias à instituição. Essa conclusão parece reforçar a
ideia de que o comprometimento militar compõe um dos aspectos que
configuram a aceitação da cultura institucional de organizações militares. Cabe
ressaltar que Fernandes e Zanelli (2006) atestam que o comprometimento dos
indivíduos cresce na medida em que eles compartilham valores e crenças.
Morais e Paula (2010) citam o comprometimento como sintoma de
assimilação da cultura organizacional, principalmente quando os colaboradores
mantinham certa aversão à organização, antes de se tornarem integrantes
dela. Esses autores verificaram que novos policiais rodoviários militares após
se identificarem com a sua organização passaram a demonstrar maior
comprometimento, interessando-se com o reconhecimento externo da
corporação.
Segundo El-Kouba et al. (2009), a importância do comprometimento dos
colaboradores tem sido encarada como um desafio para a área de Gestão de
Recursos Humanos. Nesse sentido, diversos programas de desenvolvimento
comportamental têm sido desenvolvidos, a fim de promover o
comprometimento dos integrantes da organização com seus objetivos
53
estratégicos. Esses autores afirmam que os investimentos em programas
dessa natureza mantêm relação positiva com o desempenho da organização.
2.1.3. Identificação com a organização
Dutton et al. (1994) afirmam que a identificação organizacional ocorre na
medida em o indivíduo emprega atributos pessoais para definir a empresa.
Segundo esses autores, a identidade corporativa percebida é influenciada,
principalmente, por meio da identificação do colaborador com a organização
que integra.
Rocha e Silva (2007) identificaram quatro aspectos que levam à
identificação com a organização. O primeiro deles está relacionado com a
confluência de princípios e valores, isto é a aceitação destes com sendo do
próprio indivíduo. O segundo engloba a missão, no sentido do gosto pelas
tarefas desenvolvidas. O terceiro contempla a relação de segurança e afeto,
traduzida pela vinculação de características paternais e maternais nas relações
do colaborador com a empresa. E finalmente o quarto considera o ambiente de
trabalho, não somente em relação às condições físicas, mas principalmente no
tocante as relações com os companheiros na organização (Figura 11).
54
Figura 11- Identificação do indivíduo com a empresa Fonte: Rocha e Silva (2007)
Para Fernandes, Marques e Carrieri (2009), a identificação com a
empresa é o resultado do processo de interpretação e assimilação da
identidade organizacional, por parte de cada colaborador. A identificação
ocorre, segundo esses autores, quando os colaboradores verificam que os
seus valores são similares aos da empresa, ou quando os colaboradores
realizam a modificação de seus valores, tornando-os mais semelhantes com os
da organização.
Sendo assim, Fernandes, Marques e Carrieri (2009) consideram que a
identificação do indivíduo com a organização se dá por meio dos componentes
cognitivo, afetivo, valorativo e comportamental. O componente cognitivo refere-
se às semelhanças e estereótipos assumidos pelo colaborador que o
distinguem como pertencente a determinada categoria. Já o componente
afetivo refere-se aos sentimentos do indivíduo por pertencer à organização. Por
sua vez, o componente valorativo diz respeito à percepção do indivíduo da
importância que os outros grupos sociais conferem à sua organização.
55
Finalmente, o componente comportamental aborda a participação individual em
atividades relevantes para o grupo.
Na visão de Tomaz e Brito (2010), a identificação do indivíduo com a
organização ocorre na medida em que a realidade é percebida pelo
colaborador como algo pertencente ao seu mundo. Conforme esses autores, a
identificação representa a visão e a união do indivíduo com a organização em
que se insere, tendo sido essa relação medida com o uso de diversas escalas.
Tomaz e Brito (2010) afirmam que estas escalas podem ser operacionalizadas
para o uso em pesquisas quantitativas, consolidando-se os conceitos da escala
em quatro dimensões, conforme exposto na Tabela 04.
Tabela 04 - Itens relacionados com Identificação
Fonte: Tomaz e Brito (2010)
Tomaz e Brito (2010) afirmam que a identificação impacta positivamente
na reputação da organização. Por esse motivo, defendem a priorização de
ações voltadas para a identificação positiva dos funcionários em relação à
organização. Cresce de importância o papel da comunicação corporativa, neste
contexto, devido à forte influência que exerce sobre a identificação.
56
2.1.3.1 Identificação com a Missão
Rocha e Silva (2007) elencam alguns aspectos que permitem a
identificação dos funcionários com a empresa onde estão inseridos. A missão
da organização é vista como uma das principais origens de identificação,
principalmente, quando é vista como sendo capaz de influenciar positivamente
o país. Neste sentido, esses autores destacam que os desafios da organização
são incorporados pelos colaboradores que se sentem orgulhosos de poderem
contribuir, com o seu trabalho, para o sucesso da nação. Contudo, comprovam
que essa identificação com a missão não impede a visão crítica dos
colaboradores, que demonstram frustração ante os problemas que possam
dificultar ou inviabilizar os esforços no sentido de se atingir a essência nobre da
missão da organização.
2.1.3.2 Princípios e Valores
As organizações precisam criar mecanismos para fazer com que os seus
novos colaboradores incorporem os seus princípios e valores institucionais.
Rosa e Brito (2010) afirmam que este processo ocorre em pessoas que já
possuem seus próprios princípios e valores, adquiridos antes de ingressarem
na organização. Isto exige ações estratégicas diferenciadas na capacitação dos
novos colaboradores. Esse cenário fica evidente na formação militar que
demonstra diferentes facetas, de acordo com o público ingressante. Esses
autores esclarecem que a natureza do cargo que o indivíduo ocupará também
acaba por influenciar na técnica que será adotada para fazer com que este
incorpore os princípios e valores militares.
57
Rosa e Brito (2010) chamam atenção para o fato de que a formação
mais intensa e longa ocorre nos oficiais combatentes de carreira, que são
justamente aqueles que alcançarão os postos mais elevados na carreira militar.
Neste processo de cinco anos, os cadetes são instruídos em matérias do
ensino fundamental (acadêmicas) e do ensino profissional (manobras e
exercícios militares). Referem que diversos oficiais que passaram por esta
formação na Academia Militar das Agulhas Negras (AMAN), comparam o local
a uma bolha, onde ocorre a padronização das pessoas, para que estas possam
incorporar os princípios e valores da profissão militar.
Lá dentro é aquilo: uma bolha, uma bolha quente! É assim que a gente costuma chamar. Porque não deixa de ser um mundo à parte né? Lá dentro você vive uma realidade... uma realidade diferente do que está acontecendo aqui fora, aliás você nem sabe o quê que tá acontecendo aqui fora” (Entrevistado 6). .. A verdade é que na AMAN você sai „padronizado‟. Se você pegar um cara da minha turma... tem diferenças ideológicas, alguma coisa de vivência anterior, mas na grande parte da personalidade ela é definida como um padrão. Ela é pa-dro-ni-za-da. Padronizada mesmo... é uma fábrica onde sai peças certinhas” (Entrevistado 5).(ROSA e BRITO, 2010, p. 201 - 202)
A Tabela 05 descreve os diferentes tipos de formação militar, segundo
Rosa e Brito (2010)
Tabela 05- Tipos de Formação Militar
Nível Especialidade Condição Local Tempo Regime
Oficiais
Combatente Carreira AMAN 5 anos Internato
Temporário NPOR 10 meses Externato
Técnico Carreira
IME 5 anos Internato
EsSEx, EsAEx
10 meses Externato
SAREx - Externato
Temporário OM 45 dias Externato
Sargentos
Combatente Carreira EsSA 10 meses Internato
Temporário OM 2 meses Externato
Técnico
Carreira EsIE, EsSEx
10 meses Internato
Temporário OM 45 dias Externato
Soldados Combatente/Técnico Temporário OM 6 meses Externato
Fonte: Rosa e Brito (2010)
Morais e Paula (2010) também identificaram o espaço organizacional
como sendo um lugar de construção social do indivíduo, a partir da assimilação
58
dos princípios e valores da profissão. Na investigação desses autores,
verificou-se esse processo em policiais militares que tiveram que reconstruir
sua identidade incorporando novas idéias concepções e valores, a fim de se
tornarem aptos para desenvolver suas atividades militares. É interessante
observar que as organizações policiais são retratadas por Morais e Paula
(2010) como “estufas”, numa descrição similar da “bolha” citada por Rosa e
Brito (2010).
2.1.3.3 Relação Afetiva
Machado (2003) destaca que o indivíduo busca reconhecer a si mesmo
na organização onde está inserido. Além disso, há uma maior ligação
institucional quando o colaborador tem a sensação de autonomia e segurança
no desempenho de suas tarefas. Afirma ainda que pessoas que permaneceram
por muito tempo na mesma instituição tendem a usar expressões afetivas,
comuns às relações paternas e maternas, para descreverem as experiências
vivenciadas na organização. Rocha e Silva (2007) também constataram a
relação afetiva de funcionários que nas entrevistas se referiam à empresa
usando a figura materna. É interessante observar que Rocha e Silva (2007)
verificaram a presença da referência materna mesmo quando os entrevistados
se queixavam dos problemas organizacionais.
A síntese desse sentimento pela Finep é representada por meio de uma imagem utilizada de modo recorrente pelos entrevistados, quando se referem a ela: a figura materna. Essa forma de representação da empresa não elimina nos indivíduos, entretanto, o seu senso crítico em perceber que a relação dessa “mãe” com seus filhos nem sempre tem sido justa para ambos os lados: “(...) a Finep é uma mãe, entendeu? A gente é que às vezes (...) não sabe aproveitar”; “(...) mas, por outro lado, uma mãe (...) é mais benevolente, não? É mais bondosa, é mais generosa”. (ROCHA e SILVA, 2007, p. 699)
59
Fernandes, Marques e Carrieri (2009) realizaram estudo de caso,
procurando avaliar a influência das transformações organizacionais sobre a
identificação do indivíduo com a organização. Nessa investigação, observaram
que mudanças estruturais nas organizações, por vezes, provocam
instabilidades que afetam a relação afetiva dos colaboradores com a empresa.
A ameaça do desemprego, a perda de prestígio da organização e o grande
número de contratações, no processo de reestruturação organizacional são
alguns desses fatos. Segundo esses autores, o cenário resultante dessa
conjuntura aponta para o estabelecimento de vínculos superficiais entre os
empregados e destes com a empresa, diminuindo a força da identificação com
a organização.
2.1.3.4 Ambiente de trabalho
Fischer e Novelli (2008) afirmam que no Brasil, as organizações têm
negligenciado a coesão interna das equipes de trabalho. A falta de um bom
ambiente de trabalho gera a desconfiança entre os integrantes da corporação.
Essa desconfiança traz instabilidades institucionais que prejudicam o
desempenho das organizações.
Nesse sentido, Fernandes, Marques e Carrieri (2009) identificam que a
mudança repentina nos quadros de funcionários de uma organização pode
trazer prejuízos à identificação organizacional. Isto ocorreria pela perda de
referência no relacionamento entre os colaboradores. Neste caso, os
colaboradores remanescentes não reconhecem na massa de novos
trabalhadores os vínculos construídos ao longo do tempo, com os que saíram
da organização, podendo ocorrer uma crise na identidade organizacional.
60
2.2 ASPECTOS DA IMAGEM INSTITUCIONAL
Dowling (1993) afirma que a imagem de determinada corporação é
composta de diversos aspectos. Nessa composição, a imagem não é formada
apenas pela percepção acerca dos produtos e serviços que os clientes
recebem. Estão incluídas outras variáveis, como por exemplo, o que as
pessoas falam acerca da organização e o que a própria corporação diz de si
mesma.
Dentro desse enfoque, Dowling (1993) afirma que é importante a
constante mensuração da imagem e também o conhecimento acerca dos
fatores que a compõem. Isto seria importante para embasar as ações de
melhoria da imagem corporativa.
2.2.1 Responsabilidade Social
McGuirre et al (1998) afirmam que a imagem corporativa é influenciada
positivamente pelo nível de responsabilidade social da empresa percebido
pelos clientes. É possível inclusive, segundo esses autores, associar aspectos
financeiros, como a variância das ações de uma empresa, por exemplo, com o
grau de responsabilidade social que ela possui.
Para Pruzan (2001), existe o conceito de consumidor político, que é
aquele indivíduo que observa as organizações e faz escolhas com base na
existência de atitudes éticas, nas práticas empresariais. Esse novo grupo de
pessoas, dentro desse contexto, valoriza a responsabilidade social, existindo
uma tendência, segundo Pruzan (2001), de valorização deste fator na formação
da imagem das organizações.
61
2.2.1.1 Legitimidade das Ações Sociais
Segundo Nicola e Simaens (2008), no mundo contemporâneo as esferas
pública, privada e social encontram fronteiras cada vez mais tênue. Neste
contexto encontram-se as ações sociais, que não se restringem a medidas
direcionadas para o combate à pobreza. Afinal, segundo essas autoras, o
cenário do mundo globalizado produz novas demandas por serviços sociais.
A responsabilidade social é apontada na literatura como sendo
importante recurso a ser empregado na melhoria da reputação das instituições.
Anand (2002) cita a experiência da empresa Imageti+TM que presta serviço
para empresas que desejam melhorar sua imagem, por meio de ações voltadas
para a responsabilidade social. Segundo esse autor, as empresas têm chegado
à conclusão de que necessitam dispor de tempo, energia e recursos para
prover ajuda aos necessitados. Fombrun e Van Riel (1997) afirmam que as
pessoas avaliam o desempenho da empresa com base nos aspectos
financeiros e na responsabilidade social demonstrada. Portanto, para esses
autores a reputação engloba estas duas dimensões, a financeira e a
responsabilidade social.
É importante considerar que a organização de programas sociais nas
empresas não é uma tarefa simples. Ellen, Webb e Mohr (2006) discorrem
sobre a eficiência dos programas de responsabilidade das empresas,
procurando identificar o impacto destas iniciativas sobre os clientes. Para essas
autoras quando os clientes percebem que as ações de responsabilidade social
estão interligadas com os objetivos estratégicos da empresa, a reação deles
para com a empresa é positiva, aprovando as ações. Por outro lado, quando
existe a percepção de que há intenção clara de promoção da imagem, com
62
ações direcionadas exclusivamente para os clientes, ou com propósitos
egoístas, afirmam que os usuários tendem a responder mais negativamente.
Guedes (2000) afirma que a responsabilidade social tem impacto na
imagem devido a dois efeitos importantes. O primeiro deles seria o aumento da
relação dos clientes com a empresa por perceberem que ela é socialmente
responsável. O segundo advém do primeiro, pois essa autora afirma que há
promoção espontânea da organização, com a exposição dela na mídia. Com
isso, para Guedes (2000), o impacto positivo na imagem provocaria melhor
aceitação dos produtos e serviços da empresa que demonstrou boas iniciativas
de responsabilidade social.
Dentro desse contexto, Faria e Sauerbronn (2008) afirma que diversas
empresas, sobretudo as americanas, têm considerado a responsabilidade
social como uma área propícia para se traçar ações estratégicas. No entanto,
observam que a aproximação da estratégia com a responsabilidade social criou
algumas distorções, que têm sido alvo de crítica pelos pesquisadores
europeus. Como exemplo disso, esses autores citam o escândalo da falência
da Enron, uma das maiores empresas norte-americanas, que, até então, era
considerada como sendo uma organização socialmente responsável.
Serpa e Fourneau (2007) advertem para a escassez de estudos que
procurem mensurar o efeito real das ações de responsabilidade social sobre a
imagem das organizações. A percepção do cliente acerca do que é a
responsabilidade social e que aspecto ele mais valoriza é fundamental para
que as ações sociais das empresas sejam consideradas legítimas e haja
ganhos na imagem junto ao público externo.
63
Para Faria e Sauerbronn (2008), o grande problema é que, por vezes, a
abordagem estratégica da responsabilidade social, considera apenas o
ambiente externo, a fim de se traçar ações que gerem vantagem competitiva.
Segundo esses autores, quando não ocorre a legitimação interna, a
antecipação das exigências de responsabilidade social, com o uso de
estratégias deliberadas, não é válida. Esta falta de legitimidade pode causar
sérios danos à sociedade, porque se trata de um engodo. Faria e Sauerbronn
(2008) chegam inclusive a sugerir que caberia ao governo o papel de regular
as atividades de responsabilidade social das organizações, a fim de proteger a
sociedade.
É importante lembrar que Ellen, Webb e Mohr (2006) afirmam que a
ilegitimidade das ações de responsabilidade social acabaria sendo percebida
pelos clientes, gerando efeitos negativos na imagem da organização.
Swiatkiewicz (2009) também reforça esta noção de prejuízo na imagem quando
há a diluição e abuso de práticas de responsabilidade social, chegando a
afirmar que o ramo de atuação das organizações pode transferir a idéia da
ilegitimidade das ações sociais que empresas como a de tabaco e de álcool
desenvolvem, por exemplo.
A diluição e o abuso do conceito de RSE reduzem a credibilidade da empresa. Algumas empresas são percebidas como ilegítimas por natureza (indústria de tabaco, de álcool, pornográfica, militar/defesa ou petroquímica) e a adoção por elas de RSE não significa uma melhoria automática da imagem ou reputação, pelo contrário, pode agravar ainda mais a sua situação. ( SWIATKIEWICZ, 2009, p. 6)
Existem várias formas de uma organização atuar dentro da área de
responsabilidade social. Segundo Borges, Miranda e Valadão Júnior (2007)
pode ocorrer o investimento direto, que se caracteriza pelo total controle e
execução das ações; o investimento indireto, em que são estabelecidas
64
parcerias com entidades; e finalmente, o investimento por intermédio de uma
fundação. Nesse sentido, Nicola e Simaens (2008) alertam para o cuidado que
a organização deve ter ao escolher desenvolver seus projetos sociais de forma
independente. Se essa opção por um lado propicia melhor controle, pelo outro,
há a exigência de maior envolvimento nas atividades, correndo-se o risco de
não existir na organização as competências necessárias para se desenvolver
as tarefas a contento.
Analisando a atuação das fundações, Borges, Miranda e Valadão Júnior
(2007) verificaram, entre outros aspectos: os objetivos e valores que se
propõem a cumprir, a coerência na comunicação e os interesses/impacto das
ações na imagem dos patrocinadores dessas fundações. Como conclusão final,
constataram que as fundações em seu discurso, afirmavam estarem cumprindo
uma ação social, motivada por valores nobres, com a única finalidade de
preencherem uma lacuna deixada pelo Estado, na área de educação e
desenvolvimento social.
Apesar disso, Borges, Miranda e Valadão Júnior (2007) identificam, por
trás da retórica, ações estratégicas bem definidas, no sentido de melhoria da
imagem das empresas mantenedoras das fundações. Procura-se, inclusive,
vincular a história de sucesso das organizações como sendo a grande
responsável pela razão de ser das fundações, que foram criadas para dar
vazão ao tamanho da responsabilidade social de suas patrocinadoras. Na
verdade, há a plena consciência das organizações do impacto positivo da
responsabilidade social sobre a sua imagem corporativa, principalmente
quando o público considera que há legitimidade nessas ações.
65
Para Nicola e Simaens (2008), é importante que as ações sociais das
organizações atentem para os conceitos de centralidade e de especificidade. A
centralidade é a proximidade e compatibilidade entre a responsabilidade social
e os objetivos organizacionais. O produto final da centralidade é a legitimidade
das organizações nas suas ações sociais. Por outro lado, a especificidade é a
capacidade de se absorver uma parte dos benefícios das ações sociais, que
seriam difíceis de serem copiadas. Nesse caso, o produto final da
especificidade é a melhoria da imagem organizacional.
2.2.1.2 Preservação do meio ambiente
Na visão de Bragato et al. (2008), a degradação do meio ambiente é um
dos principais prejuízos que as organizações causaram à humanidade, no
modelo econômico do século XX, juntamente com a falta da consciência social.
O uso inadequado do meio ambiente pelas organizações ameaça o futuro da
humanidade. Em face disso, alguns setores da indústria, hoje, são mal vistos
pela sociedade, devido aos seus históricos de agressões ao meio ambiente. O
setor açucareiro e de produção de álcool são um exemplo disso. Bragato et al.
(2008) estudaram as ações de melhoria de imagem de empresas desse setor,
verificando que as atividades que apresentaram melhor resultado foram
aquelas que estavam relacionadas com o desenvolvimento sustentável e a
promoção da educação. É interessante observar que ações voltadas para a
promoção da cultura, do esporte e da saúde obtiveram efeito reduzido na
melhoria da imagem nas organizações que foram alvo da pesquisa.
Segundo Alperstedt, Quintella e Souza (2010), a literatura demonstra
que a preservação do meio ambiente pode trazer vantagens competitivas para
66
as empresas. Isto ocorreria tanto por meio do retorno financeiro direto como
posicionamento estratégico no mercado, como por meio da melhoria da
imagem das organizações junto ao público externo. Essa visão é compartilhada
por Carrieri, Silva e Pimentel (2009), que acrescentam que a sustentabilidade
alarga os horizontes das empresas, permitindo legitimar o desenvolvimento
perante a sociedade.
Carrieri, Silva e Pimentel (2009) advertem que, em algumas ocasiões, a
preservação do meio ambiente provoca, no curto prazo, menores lucros para
as empresas. Por esse motivo, às vezes é adotado um discurso alternativo, por
parte de gestores que desejam ganhos imediatos. É interessante notar que
Alperstedt, Quintella e Souza (2010) afirmam que a preservação do meio
ambiente por empresas só é viabilizada por meio da visão institucional dos
seus colaboradores. Desta forma, a gestão ambiental eficaz seria a
exteriorização da identidade organizacional voltada para a preservação do
meio ambiente, o que, por certo, repercutiria bem na sociedade.
Carrieri, Silva e Pimentel (2009) procuraram identificar os diferentes
tipos de participação e análise dos colaboradores acerca do tema da gestão
ambiental. Por meio de pesquisa qualitativa, verificaram na empresa que
investigaram divergências internas quanto às reais intenções da gestão
ambiental no contexto da responsabilidade social.
Nesse cenário complexo, a alta direção e os gerentes apresentam um
discurso alinhado, expressando a crença na isenção das ações de gestão
ambiental. Por outro lado, os técnicos apresentam uma visão mais crítica,
dividindo opiniões sobre a sinceridade das ações que vem sendo
desenvolvidas pelas empresas. A diferença de discursos encontrada por
67
Carrieri, Silva e Pimentel (2009) salienta a dificuldade de se difundir a mesma
visão de gestão ambiental entre os diversos níveis hierárquicos de
colaboradores em uma organização.
No estudo de Alperstedt, Quintella e Souza (2010) foi realizada pesquisa
de survey com empresas de grande, médio e pequeno porte em Santa
Catarina. Buscou-se por meio da análise de correspondência múltipla, analisar
os fatores determinantes da gestão ambiental. Como resultado, verificou-se
que, apesar das diversas práticas, de forma geral, as organizações são
motivadas, principalmente, pela oportunidade de alcançarem maiores lucros.
Carrieri, Silva e Pimentel (2009) também verificaram em sua investigação essa
prática, havendo consciência entre os gestores e funcionários de que a política
ambiental traz benefícios monetários para a empresa.
A gestão ambiental também é influenciada pela pressão da sociedade.
Por esses, motivos, segundo Alperstedt, Quintella, e Souza (2010), ocorre o
mimetismo nas ações entre as empresas, pois, afinal as pressões e os
objetivos são os mesmos.
Alperstedt, Quintella e Souza (2010) afirmam que o grande desafio das
organizações é dar o suporte de credibilidade às ações de gestão ambiental,
por meio da sincronização entre a imagem institucional com a identidade
organizacional, observando que, dentre os fatores, o comprometimento dos
colaboradores foi o principal fator interno, enquanto a pressão da sociedade foi
o principal fator externo. Parece claro que o impacto positivo da gestão na
imagem depende do suporte na identidade organizacional, viabilizando a
prática do discurso ambientalista das organizações.
Da mesma forma, o estudo esclarece que, apesar do discurso a favor do meio ambiente, as práticas adotadas por muitas empresas nem sempre superam tais retóricas, chamando a atenção dos gestores para a
68
necessidade de compatibilizar o discurso com a prática, as estratégias com as ações, ou a imagem com a identidade organizacional, sincronismos que tendem a ser, cada vez mais, exigidos pela sociedade global. (ALPERSTEDT, QUINTELLA e SOUZA, p. 183, 2010)
2.2.1.3 Consciência Social.
Segundo Serpa e Fourneau (2007), existem duas correntes de estudo na
área de responsabilidade social. A primeira delas afirma que as ações de
responsabilidade social em uma organização seria cumprir seu propósito de
criação. Na maioria das vezes, isto se restringiria à garantia do lucro aos
acionistas e ao crescimento empresarial. As ações sociais, de acordo com essa
corrente, seriam de exclusiva responsabilidade do Estado, que, ao contrário
das empresas, deve cuidar da área social. A segunda vertente é a
socioeconômica, que defende o envolvimento das empresas em aspectos
sociais, sem, no entanto, abrir mão do lucro. Para a teoria socioeconômica a
empresa cumpre o papel de responsabilidade social quando contribui para
melhoria de vida da população.
Nesse enfoque socioeconômico, Carrieri, Silva e Pimentel (2009)
afirmam que as organizações estão inseridas no contexto da responsabilidade
social, sendo discutido cada vez mais o uso do lucro das organizações, com
distribuições de recursos para beneficiar a sociedade. Para Taborda (2007), os
benefícios econômicos seriam sentidos no longo prazo, referindo-se
principalmente aos efeitos da atratividade de investidores, que visualizaria a
consciência social da organização como um fator de minimização dos riscos de
aplicação de capital. Segundo Macedo, Cipola e Ferreira (2008) testes
estatísticos comprovam que os resultados financeiros são maiores quando as
organizações são vistas pelo público como possuindo conduta social
responsável. No entanto, Swiatkiewicz (2009) contesta alguns destes testes,
69
afirmando que pesquisas realizadas com empresas do Reino Unido
demonstraram a dificuldade de se medir a eficiência econômica das suas
políticas de responsabilidade social.
Taborda (2007) afirma que a multiplicidade de indicadores existentes
para mensurar a performance social traz dificuldades para se estabelecer uma
relação entre performance social e performance financeira. É por este motivo
que, segundo Taborda (2007), há conclusões controversas acerca da real
influência da consciência social no desempenho financeiro da empresa.
Taborda (2007) menciona também a possibilidade de ocorrer o efeito de halo
ao se correlacionar performance social com reputação social.
Cabe ressaltar que as organizações se relacionam com diferentes
públicos: empregados, clientes e acionistas, entre outros. Para Serpa e
Fourneau (2007), um dos desafios na área de responsabilidade social é definir
qual a prioridade deve ser adotada, quando os interesses entre esses
stakeholders são conflitantes. Swiatkiewicz (2009) também menciona o conflito
de interesses, até mesmo pela dificuldade de se ter o consenso comum da
moral socialmente responsável.
Além disso, Serpa e Fourneau (2007) lembram que a consciência social
implica gastos maiores de produção, sendo os estudos contraditórios quanto à
disposição do consumidor de assumir esses custos. Swiatkiewicz (2009) chega
a afirmar que os consumidores se mostram pouco inclinados a realizarem suas
escolhas baseados apenas na consciência social das empresas. Segundo esse
autor, mesmo os consumidores mais responsáveis têm dificuldade de se
orientarem entre as empresas mais éticas, pois a informação disponível sobre
o assunto é custosa e mal feita.
70
Apesar disso, Taborda (2007) defende a idéia de que a importância de
investir na área social é um consenso entre os gestores, mesmo entre aqueles
que acreditam existir um trade-off entre a performance social e a performance
financeira. Para esse autor não existe a possibilidade de maximizar lucros sem
investir na área social. Ressalta, nesse contexto, a importância de se realizar
uma comunicação eficaz acerca da performance social, concordando com a
visão de Swiatkiewicz (2009) de que existe deficiências na disponibilização de
informação para os stakeholders. Taborda (2007) afirma ainda que parte dessa
deficiência se deve ao fato de que a maioria da estrutura para divulgação da
informação é vocacionada para informações financeiras. Para esse autor,
mesmo diante dessa dificuldade o investimento em áreas sociais é fundamental
para a organização, afetando a sua reputação entre os clientes, sendo um
diferencial no mercado.
Num contexto de sistema aberto, os valores da honestidade, integridade e da justiça robustecem a reputação da organização no mercado e elevam o nível de compromisso e de motivação dos seus stakeholders, constituindo um ativo intangível de grande relevância. Promover a coesão dos stakeholders e alinhar os seus interesses é positivo para a performance da organização e para o plano social. (TABORDA, 2007, p.46)
Em sua pesquisa, Macedo, Cipola e Ferreira (2008) compararam as
ações dos seis maiores bancos do Brasil, à época, na área socioambiental.
Para tal foi utilizada a Análise Envoltória de Dados (DEA) em dois modelos de
comparação. O primeiro deles (modelo 1) testou a eficiência de o banco
transformar em recursos os benefícios socioambientais. Já o segundo (modelo
2) comparou os bancos sob a ótica da capacidade de utilização de
investimentos socioambiental na obtenção de imagem. A variável latente
imagem corporativa foi mensurada com base na admiração e respeitabilidade
corporativa. Os resultados demonstram melhor desempenho dos bancos
71
públicos no modelo 1, ou seja, dado um mesmo montante de investimento, são
mais capazes de gerarem benefícios sociais. Por outro lado, os bancos
privados conseguem obter maiores ganhos na obtenção de imagem, com a
utilização de investimentos socioambientais. Percebe-se, neste contexto, que a
simples eficácia da conversão de investimento em programas sociais não é
suficiente para garantir ganhos significativos na imagem. Existem ações que
maximizam os programas junto ao público, fazendo com que bancos privados
que são mais ineficientes no modelo 1, acabem sendo mais eficazes em
agregar valor à imagem (modelo 2).
Para Serpa e Fourneau (2007), a consciência social só é percebida e
transformada em ganhos de imagem quando as organizações se envolvem nas
questões da sociedade. Não basta apenas cumprir as regras ligadas à
consciência social, é preciso investir em áreas que a sociedade compreenda e
ache relevante. Além disso, segundo Serpa e Fourneau (2007) é preciso que a
sociedade seja informada da ação da empresa para gerar uma atmosfera
favorável em torno da empresa. Talvez isto explique os resultados da pesquisa
de Macedo, Cipola e Ferreira (2008), onde não são as empresas mais
eficientes na transformação de recursos em ações sociais que obtêm maiores
ganhos em imagem em decorrência dessas ações.
Consoante com essa visão, Swiatkiewicz (2009) afirma que o
investimento em responsabilidade social nas empresas deve ser realizado sob
uma ótica prática de avaliação de riscos. Se, por um lado, não ter consciência
social pode trazer danos à imagem, com prejuízos financeiros, Swiatkiewicz
(2009) adverte que o exagero de investimentos em atividades sociais podem
inviabilizar a saúde financeira da organização. Isso sem contar q,ue quando a
72
organização assume compromissos sociais de forma indiscriminada, surgem
diversas expectativas que, ao não serem atendidas, acabam provocando danos
à imagem da organização. Até mesmo as iniciativas de comunicação das
organizações a respeito da atuação em áreas sociais podem ser consideradas
simples ações de relações públicas, no sentido pejorativo da expressão.
Quevedo-Puente, Fuente-Sabaté e Delgado-Garcia (2007) relacionam a
responsabilidade social com a reputação da empresa a partir de quatro
proposições, envolvendo o ambiente institucional. A proposição 1 afirma que o
desempenho social das empresas descreve o grau de legitimidade do
comportamento da empresa pelos padrões de seu contexto institucional. Já a
proposição 2 declara que a reputação corporativa é a consolidação de
resultados positivos na área social acumulados ao longo do tempo. Nesse
contexto, a proposição 3 enfatiza que o desempenho social das corporações é
uma variável que muda, dependo das condições do contexto institucional,
estando, por isso, relacionada com o momento específico que a organização
está vivenciando. Por fim, a proposição 4 evidencia que, em contraste com o
desempenho social, a reputação corporativa é uma variável que abrange tanto
as condições atuais da consciência social da empresa como as situações
vivenciadas no passado.
Além disso, quando a consciência social é relacionada com a reputação
corporativa fica assim consolidada a percepção favorável dos diversos
stakeholders que mantêm contato com a organização. A Figura 12 traz a
representação dessas proposições de Quevedo-Puente, Fuente-Sabaté e
Delgado-Garcia (2007) no processo de legitimação da reputação da empresa
na área da consciência social.
73
.
Figura 12- Relação entre Consciência Social e a Reputação corporativa Fonte: Quevedo-Puente, Fuente-Sabaté e Delgado- Garcia (2007)
No Brasil, segundo Serpa e Fourneau (2007), a população percebe a
responsabilidade social como um tema novo, não estando certa quanto ao seu
significado e quanto às ações das empresas nessa área. Serpa e Fourneau
(2007) afirmam, com base em sua investigação, que a população reconhece a
consciência social das empresas em ações de longo prazo, vendo ações de
curto prazo com desconfiança. Cabe ressaltar que as informações de caráter
negativo na área de consciência social têm maior dimensão de deterioração da
imagem do que o grau de valoração da imagem advindo de ações voltadas
para a consciência social.
Para Swiatkiewicz (2009), a eficiência na área social não se dá pela
excessiva aplicação de recursos, mas pela capacidade de se encontrar o
necessário equilíbrio e discernimento nas ações. Afinal, segundo Swiatkiewicz
(2009), é visão comum dos stakeholders de que não é desejável ter um mundo
justo sem progresso, ou que ele seja rico e próspero, alicerçando esse sucesso
na completa irresponsabilidade social.
74
2.2.2 Qualidade do Serviço
2.2.2.1 Admiração dos Clientes
Para que os clientes admirem uma empresa um dos aspectos que
devem ser considerados é a qualidade do serviço, mas especificamente a
percepção dos usuários acerca dessa qualidade. Esta visão implica o conceito
de qualidade percebida defendida por diversos autores, entre os quais Brady e
Cronin Jr (2001).
Para Brady e Cronin Jr (2001), existem duas correntes predominantes
no estudo da qualidade percebida. Um desses ramos aborda o tema com a
perspectiva nórdica, que considera as dimensões da qualidade do serviço
baseando-se em aspectos técnicos e funcionais. O outro ramo considera a
perspectiva americana, usando características encontradas nos serviços para
descrever as dimensões da qualidade. É desse segundo ramo que provém o
modelo SERVQUAL, usado para medir a qualidade do serviço percebida.
Cabe ressaltar que, segundo Brady e Cronin Jr (2001), apesar de
representar um avanço, o modelo SERVQUAL possui alguns problemas como
instrumento de verificação de qualidade. Essa já foi, inclusive, a conclusão de
alguns trabalhos empíricos que testaram a eficácia do SERVQUAL. Entre
esses problemas Brady e Cronin Jr (2001) mencionam que situações
específicas ou individualidades podem afetar os resultados das cinco
dimensões do SERVQUAL, provocando variações que diminuem a eficácia do
modelo.
Dentro desse enfoque, Brady e Cronin Jr (2001) propõem um modelo
para mensuração da qualidade percebida, buscando integrar a percepção
nórdica com a americana. Para tal, esses autores realizaram um estudo
75
quantitativo, com modelagem de equações estruturais, chegando a um modelo
com três dimensões principais (Qualidade na Interação, Qualidade no
Ambiente Físico e Qualidade na Saída). Essas três dimensões se desdobram
em outras nove: Atitude, Comportamento, Capacidade, Condições do
Ambiente, Design, Fatores Sociais, Tempo de Espera, Tangibilidade e
Experiência. A legenda R, SP e E refere-se à observação para cada uma das
dimensões do: atendimento ao item (R), da responsividade ao item (SP) e da
empatia ao item. A Figura 13 representa o modelo descrito.
Figura 13- Qualidade do serviço percebida pelo cliente Fonte: Adaptado de Brady e Cronin Jr (2001)
Para compreender o significado das variáveis latentes no modelo
proposto por Brady e Cronin Jr (2001), o Quadro 04 traz as hipóteses
associadas a cada uma das três dimensões principais.
Quadro 04 – Hipóteses associadas aos construtos do modelo
Dimensão Descrição
Qualidade na Interação H1-Qualidade na interação influi na qualidade do serviço.
Atitude H2- Atitudes dos colaboradores afetam a qualidade na interação
Comportamento H3- O comportamento dos colaboradores afeta a qualidade na interação
76
Capacidade H4- A capacidade dos colaboradores afeta a qualidade na interação
Qualidade no Ambiente Físico
H5- A qualidade do ambiente físico influi na qualidade do serviço.
Condições do ambiente H6- A condição do ambiente afeta diretamente a qualidade do ambiente físico
Design H7- O design afeta a qualidade do ambiente físico
Fatores Sociais H8- As condições sociais do ambiente afetam a qualidade do ambiente físico
Qualidade na Saída H9- A qualidade na saída influi na qualidade do serviço
Tempo de espera H10- O tempo de espera afeta a qualidade na saída
Tangibilidade H11- A tangibilidade do serviço afeta a qualidade na saída
Experiência H12- A percepção de valor afeta a qualidade na saída
Fonte: Baseado em Brady e Cronin Jr (2001).
Apesar dessa visão da validade das diferentes abordagens relacionadas
à percepção da qualidade do serviço, é interessante observar o estudo de
Cronin Jr, Brady e Hult (2000). Na visão desses autores, embora haja a
convergência entre os pesquisadores que investigam o assunto, acerca da
importância do relacionamento com os clientes, ainda existem divergências
acerca do tema. Estas divergências, segundo Cronin Jr, Brady e Hult (2000),
ocorreriam devido a cada enfoque específico que é dado nos modelos aos três
construtos ligados ao serviço (qualidade, satisfação e valor).
Assim, para Cronin Jr, Brady e Hult (2000), a primeira estrutura de
modelos enfatiza o valor dos serviços Já a segunda estrutura deriva da
literatura acerca da satisfação com os serviços. Por fim, a terceira estrutura
baseia-se na literatura acerca do relacionamento entre qualidade de serviço,
satisfação e intenções de comportamento favorável.
Apesar da existência desses modelos, Cronin Jr, Brady e Hult (2000)
afirmam que existem efeitos recíprocos entre os construtos qualidade, valor,
satisfação e intenções de comportamento favorável. Também afirmam os
autores que embora a qualidade do serviço seja importante para determinar o
comportamento do consumidor, essas relações ainda não estão totalmente
77
esclarecidas. Por estes motivos, afirmam que, na verdade, todos os três
construtos ligados ao serviço (qualidade, satisfação e valor) estão diretamente
relacionados, de forma simultânea, ao comportamento favorável do cliente em
relação à organização.
Dentro dessa visão, Cronin Jr, Brady e Hult (2000) propõem um modelo
com base em dois estudos quantitativos. O primeiro considerou empresas que
ofereciam serviços considerados hedônicos, enquanto que o segundo estudo
abordou empresas com serviços considerados utilitários, totalizando 1944
questionários válidos. Os construtos do modelo foram Sacrifício (AS),
Qualidade do Serviço (SQ), Valor do serviço (SV), Satisfação (SAT) e Intenção
de comportamento favorável (BI) Além dessas variáveis foi também
considerada a variável sacrifício (SAC), relacionada com as renúncias que o
cliente é obrigado a realizar para obter o serviço. Foram explicados com o
modelo 43%, 53%, 78,4%, 61% e 68% de variância, respectivamente, de SAC,
SQ, SV, SAT e BI.
Cronin Jr, Brady e Hult (2000) confirmaram sua hipótese, por meio do
uso da modelagem de equações estruturais, mostrando que a intenção de
comportamento favorável para com a organização é influenciada pelas três
variáveis latentes ligadas ao serviço (qualidade, valor e satisfação). É
interessante observar também a influência entre esses construtos. Sendo a
admiração um comportamento favorável do consumidor em relação à empresa,
pode-se inferir que ela também pode ser explicada pelo modelo desses
autores.
78
Figura 14- Modelo integrando os construtos ligados a serviço. Fonte: Adaptado de Cronin Jr, Brady e Hult (2000).
A admiração dos clientes por determinada empresa também guarda
relação com o valor percebido dos produtos e serviços que são
proporcionados. Para Gröonroos (2006) o valor de determinado produto ou
serviço não é algo desenvolvido pelas organizações para ser entregue aos
clientes. Esse autor defende a ideia de que o valor é o produto final da
interação do cliente com a empresa. Cabe ressaltar que esse autor afirma que
o cliente tem expectativas explícitas e implícitas acerca dos produtos e serviços
que são oferecidos pelas empresas.
Para obter uma boa avaliação acerca da qualidade desses produtos e
serviços é preciso que as organizações satisfaçam todas estas expectativas
dos clientes. Gröonroos (2006) destaca a importância, neste contexto, de haver
comunicações de marketing eficientes acerca dos produtos e serviços, ao
mesmo tempo em que se tem o suporte para garantir as promessas que foram
realizadas. Quando as promessas de marketing não são cumpridas, há
79
prejuízos consideráveis pelo não atendimento das expectativas que foram
criadas nos consumidores.
2.2.2.2 Credibilidade da Organização
A credibilidade da organização relaciona-se com o seu desempenho.
Esta é a visão defendida por Schwariger (2004), que identifica a capacidade da
direção como um das dimensões ligadas ao construto desempenho. Tomaz e
Brito (2010) enfatizam a importância das potencialidades ligadas ao
desempenho da direção, relacionando sua percepção como variáveis
observadas do construto Reputação.
Em algumas situações específicas, a credibilidade das organizações é
fundamental para que as empresas consigam sobreviver. Monteiro e Teixeira
(2009) abordam essa necessidade no tocante a obtenção de crédito para
organizações que estejam passando por uma crise financeira. Segundo esses
autores, a literatura demonstra que a confiança é algo extremamente
complexo, passando pela reputação da empresa, que é construída com base
em competências organizacionais. Essas competências organizacionais estão
relacionadas aos ativos da empresa, incluindo os recursos humanos.
É interessante observar o papel dos gestores e colaboradores da
organização na construção da credibilidade organizacional. De acordo com a
investigação de Monteiro e Teixeira (2009), a decisão de conceder
empréstimos para empresas em crise financeira sempre foi muito mais
baseada na capacidade dos gestores e funcionários da empresa do que nos
documentos contábeis das organizações. A confiança é o resultado de um
complexo processo de relacionamento, o que envolve pessoas. Cabe ressaltar
que a decisão dos credores em conceder empréstimo, segundo esses autores,
80
também é baseada na avaliação que é feita acerca do benefício social que a
organização tomadora de empréstimo representa junto à população.
Santos, Caetano e Jesuíno (2008) realizaram pesquisa numa
organização militar de Portugal. Na condução do experimento, foram
organizadas equipes e criadas situações para avaliar a conduta dos líderes
destes pequenos grupos (2 a 5 pessoas). Os grupos foram avaliados por uma
equipe externa que estava totalmente alheia ao que aconteceria nas atividades,
realizando a avaliação de conduta dos militares.
De posse dos dados obtidos a partir dessa experiência, foi realizada
uma análise fatorial, a fim de se extrair os fatores do construto liderança.
Chegou-se, então, a quatro fatores, responsáveis por explicar 73% da
variância, sendo estes; clarificar a situação; clarificar a estratégia;
coordenação; e facilitar a aprendizagem. O fator mais importante foi
Coordenação, explicando 42% da variância e o menos relevante foi Clarificar a
estratégia, explicando apenas 10% da variância. Para Santos, Caetano e
Jesuíno (2008) o trabalho com equipes de militares facilitou a pesquisa, mas
fazem a ressalva que não foi estudada a cultura e outros componentes
relevantes da profissão militar (Tabela 06).
81
Tabela 6- Análise Fatorial do Construto Liderança
Fonte: Santos, Caetano e Jesuíno (2008)
Miguel e Brunstein (2010), ao analisarem o caso da recuperação da
imagem da empresa Focus, citam diversas medidas ligadas ao fortalecimento
da credibilidade da organização. Segundo essas autoras, a empresa Focus
que, até o ano de 2005, vinha obtendo bons resultados no cenário nacional e
internacional, ao ver-se envolvida em um escândalo político, sofreu prejuízos
consideráveis na sua imagem. Estes prejuízos causaram perdas financeiras
significativas, pois, com a baixa credibilidade da organização, os investidores
não se sentiam seguros para realizar investimentos na empresa.
Desta forma, segundo Miguel e Brunstein (2010), a Focus precisava
mudar o cenário de desconfiança para conseguir sobreviver. Para atingir esse
82
objetivo, a organização realizou um programa de recuperação de sua imagem,
com ênfase na contratação de funcionários que tivessem renome, a fim de
transferirem a boa reputação destes colaboradores para a empresa. Além
disso, após passar por uma reestruturação de pessoal, causada pelos
prejuízos financeiros, a Focus procurou incentivar os funcionários que
permaneceram para que produzissem resultados e estivessem engajados na
busca da recuperação da credibilidade da organização.
Precisavam conseguir dos funcionários que permaneceram, engajamento e resultados. A idéia era mostrar que, se ainda estavam na empresa, era porque tinham talento. Lançaram mão de várias ferramentas: um jornal interno, eventos pontuais, a visita pessoal da presidente às unidades: “ela olhou, olho no olho de cada funcionário e falou com cada um deles da situação” (MIGUEL e BRUNSTEIN, 2010, p. 381)
Para Miguel e Brunstein (2010) o processo de recuperação da imagem
da Focus está relacionado a aspectos da teoria que demonstram que:
A reputação é reflexo da cultura e identidade da empresa e é sustentada por credibilidade, confiabilidade e responsabilidade, pelo que as relações públicas devem ser usadas para estabelecer um relacionamento duradouro com os stakeholders, alavancando a reputação da firma. (MIGUEL e BRUNSTEIN, 2010, p. 385)
O papel de líderes e funcionários na construção da credibilidade da
empresa enseja, em alguns casos, a necessidade de treinamento dentro da
organização. Esta é a visão defendida por Ferreira et al. Para esses autores, o
resgate da imagem e credibilidade das empresas é um dos desafios e ameaças
do contexto externo que requerem o desenvolvimento de competências
organizacionais. Uma das formas de adquirir essas competências, segundo
Ferreira et al. (2009), seria o treinamento dos colaboradores, pois são eles que
viabilizam a credibilidade e o sucesso das organizações.
83
2.2.2.3 Comunicação com o público externo
Dowling (1993) afirma que a comunicação de marketing é um fator
constituinte da imagem de determinada organização. É por meio da
comunicação, segundo Dowling(1993), que a empresa procura projetar sua
autoimagem junto ao público externo
Hillenbrand e Money (2007) enfatizam que as organizações mantêm
relacionamento com diversas partes, stakeholders que contribuem na formação
da reputação/imagem da instituição a partir de sua percepção sobre a
responsabilidade corporativa. Dentro deste enfoque, a comunicação com o
público externo assume papel de relevância, devendo satisfazer as
expectativas de cada uma das partes envolvidas no relacionamento com a
corporação.
Esses autores abordam o conceito de responsabilidade organizacional
frente ao público externo. A responsabilidade organizacional é percebida pelos
clientes sobre três aspectos. O primeiro diz respeito ao comportamento da
organização com o próprio cliente. O segundo refere-se ao comportamento da
organização com os outros. E o terceiro diz respeito à capacidade da direção
de fazer uma boa administração da organização. Por este motivo, a
comunicação com o público externo deve abordar estas três dimensões,
mantendo o cliente informado, aumentando a percepção sobre a
responsabilidade da organização. Cabe salientar que Hillenbrand e Money
(2007) afirmam que na literatura existe muita sobreposição de conceitos entre
reputação e responsabilidade corporativa. Por esse motivo, sugerem que
responsabilidade e reputação podem ser encaradas como os lados da mesma
moeda, sendo a comunicação vital nas duas abordagens.
84
A importância da comunicação com o público externo é compartilhada
por Tomaz e Brito (2010) que identificam forte influência deste construto sobre
a reputação. Segundo esses autores, a comunicação organizacional faz a
ligação entre o ambiente institucional com o ambiente externo. Por este motivo,
no modelo proposto por eles a comunicação é formada por canais da
organização com o público interno e com o público externo, exercendo
influência tanto na identidade como na imagem.
2.2.3 A atratividade das organizações
2.2.3.1 Atratividade sobre potenciais colaboradores
Pruzan (2001) afirma que a imagem corporativa exerce efeito sobre
potenciais colaboradores. Desta forma, os colaboradores, em especial, os
criativos e valiosos, têm anseios que extrapolam a remuneração financeira. O
orgulho da organização, advindo de sólida reputação seria fundamental para
atrair novos empregados.
A atratividade que as organizações exercem sobre seus potenciais
colaboradores, a partir de sua imagem foi estudada por Garay (2006), que
realizou pesquisa com 120 alunos que se destacaram no curso de
administração das universidades do Rio Grande do Sul. Estes alunos eram dos
últimos períodos e Garay (2006) procurou identificar nos jovens talentos quais
as ações de responsabilidade social das empresas que eram consideradas
mais importantes, para que eles se motivassem a buscar empregar-se em
determinada organização.
Chama atenção na pesquisa de Garay (2006) que os programas de
responsabilidade social não exercem grande atratividade sobre os jovens
talentos. Por outro lado, a possibilidade de ascensão na carreira (31,7%) e a
85
reputação da empresa (18,2%) são as características mais atrativas para que
os jovens talentos escolhessem uma empresa para trabalhar, conforme pode
ser visto na Tabela 07.
Garay (2006) afirma que, embora os jovens talentos considerem a
importância da promoção da responsabilidade social por parte das empresas,
os fatores de atratividade de futuros colaboradores estariam mais relacionados
com a possibilidade de desenvolvimento pessoal.
Tabela 07- O que os jovens talentos levam mais em conta na escolha de uma empresa. Escolha de uma empresa 1º
importante Freq 2º
importante Freq 3º
importante Freq
Os valores da empresa e sua missão
4 3,3% 3 2,5% 5 4,2%
A reputação da empresa (seu nome no mercado)
22 18,2% 12 10% 10 8,3%
Os programas de Responsabilidade Social
0 0% 1 0,8% 6 5%
A flexibilidade da empresa com seus estagiários/funcionários
2 1,7% 14 11,7% 11 9,2%
Sua ética empresarial 11 9,2% 2 1,7% 3 2,5%
O salário e os benefícios oferecidos
24 20% 26 21,7% 24 20%
Ser uma empresa de grande porte
2 1,7% 5 4,2% 3 2,5%
Possibilidade de ascensão na carreira
38 31,7% 20 16,7% 19 15,8%
Ter investimento em treinamento e desenvolvimento
11 9,2% 25 20,8% 19 15,8%
Pelo produto/serviço que oferece
2 1,7% 4 3,3% 2 1,7%
Sua qualidade gerencial 0 0% 4 3,3% 2 1,7%
Sua imagem de inovação 0 0% 1 0,8% 1 0,8%
Possibilitar autonomia no cargo
4 3,3% 3 2,5% 15 12,5%
Total Obs 120 100% 120 100% 120 100%
Fonte: Garay (2006)
Morais e Paula (2010) também identificaram em sua pesquisa que, de
forma geral, a estabilidade e remuneração satisfatória foram os principais
aspectos que fizeram os policiais rodoviários federais fazerem opção pela
organização onde trabalham.
86
2.2.3.2 Atratividade da marca.
A importância da marca na constituição de uma imagem positiva acerca
de determinada empresa já era defendida por Martineau (1958). Para esse
autor, a marca transforma aspectos subjetivos e psicológicos em pontos
tangíveis considerados importantes para os clientes na avaliação da
organização, ressaltando que a propaganda para reforçar a marca deve
considerar o ambiente da imagem corporativa, sob pena de os esforços serem
invalidados.
Embora se costume a associar a ideia de marca somente no caso de
empresas com fins lucrativos é interessante observar que o valor da marca,
segundo Vera Martinez (2008), abrange conceitos mais abrangentes. Na fase
embrionária do estudo, valor de marca restringia-se à disposição do
consumidor de pagar mais pelo produto de determinada marca. No entanto,
mais tarde, ele também abrangeu alguns conceitos, como satisfação, lealdade,
qualidade , capacidade de inovação e identificação, entre outros.
Quadro 05- Itens e Construtos do Valor de Marca. ÍTEM CONSTRUTO
1. Por um produto que leva esta marca estou disposto a pagar mais
Subpreço 2. Não me importa pagar mais contanto que leve esta marca
3. Os produtos desta marca são caros, mas valem o preço
4. Sinto-me satisfeito com esta marca
Satisfação 5. Sempre que compro esta marca faço um bom negócio
6. Esta marca é boa
7. Quando posso recomendo essa marca
Lealdade 8. Sou leal a esta marca
9. Sempre compro esta marca
10. Esta marca sempre representa produtos muito bons
Qualidade 11. Esta marca é de qualidade
12. Os produtos que levam essa marca são de qualidade
13. Esta marca tem produtos modernos
Inovação 14. É uma marca com produtos inovadores
15. Esta marca está na vanguarda
16. Os produtos com esta marca são sempre úteis
Valor de uso 17. Com esta marca sempre tenho produtos de acordo com minhas necessidades
18. Quando compro esta marca recebo o que necessito
87
19. Esta marca me entende
Identificação 20. Com esta marca me identifico
21 Esta marca reflete coisas que me interessam
Fonte: Adaptado de Vera Martinez (2008)
Nesse sentido, a investigação de Vera Martinez (2008) acerca das
dimensões do valor de marca, com base em análise fatorial, traz algumas
ideias importantes sobre a atratividade da marca. Embora alguns dos
construtos encontrados por esse autor se refiram especificamente à venda e
comercialização de produtos e serviços, no entanto, outros são a replicação de
variáveis latentes presentes em instrumentos de pesquisa na área de
reputação e imagem. O Quadro 05 traz os itens e as dimensões consideradas
na pesquisa de Vera Martinez(2008).
É interessante observar que os quatro fatores extraídos por Vera
Martinez (2008) não foram os mesmos das dimensões previstas no Quadro
anterior. O primeiro deles, com maior carga fatorial (fator 1) associava itens de
qualidade, valor e satisfação. O segundo (fator 2) associava itens de inovação
com valor. Já o terceiro (fator 3) associava itens de personalidade com
lealdade. E por fim o quarto (fator 4), com menor carga fatorial, relacionava
exclusivamente itens ligados ao subpreço.
A pesquisa de Vera Martinez (2008) reforça a idéia de que o preço não
exerce tanto impacto na atratividade. Dessa forma, é importante que as
organizações considerem essas características subjetivas, relacionadas com
os anseios dos clientes.
88
2.3 PESQUISAS QUANTITATIVAS NA ÁREA DE IDENTIDADE
ORGANIZACIONAL E IMAGEM INSTITUCIONAL.
Uma das pesquisas mais importantes acerca de imagem corporativa é a
de Andreassen e Lindestad (1998). Os autores usaram modelagem de
equações estruturais para verificar o impacto entre cinco variáveis latentes:
Valor, Imagem corporativa, Lealdade do cliente, Satisfação do Cliente e
Qualidade Percebida. A pesquisa envolveu três grupos de indústrias, as que já
estavam consolidadas no mercado, as que possuíam alta experiência em
serviços e as que possuíam pequena experiência em serviços. Responderam
ao questionário, respectivamente, 600, 360 e 222 pessoas.
Na definição do construto Imagem, Andreassen e Lindestad (1998)
consideraram três variáveis observadas: a opinião global a respeito da
organização; a opinião sobre a contribuição da organização para a sociedade;
e a empatia dos entrevistados com a organização.
Verificou-se no modelo estrutural de Andreassen e Lindestad (1998)
bom grau de ajustamento alcançando, respectivamente GFI de 0,95, 0,94 e
0,94 para o primeiro, segundo e terceiro grupo de organizações investigadas.
No tratamento dos dados foi utilizado o software LISREL. Os resultados
demonstraram que a imagem corporativa exerce impacto positivo na qualidade
percebida, na satisfação do cliente e na lealdade do cliente. Por outro lado, não
houve resultado significativo que indicasse existir algum impacto da imagem
corporativa sobre o Valor. A Tabela 08 traz os resultados encontrados por
Andreassen e Lindestad (1998), nos três grupos investigados.
89
Tabela 08- Impacto da Imagem corporativa Indústria consolidada
(Grupo 1) Organizações com alta experiência em serviços (Grupo 2)
Organizações com baixa experiência em serviços (Grupo 3)
Imagem Corporativa
Qualidade Percebida 0,87 (17,02) 0,86 (12,73) 0,88 (12,00) Valor Não significativo Satisfação do cliente 0,67 (6,96) 0,45 (3,77) 0,93 (12,36) Lealdade do cliente 0,75 (18,97) 0,79 (14,38) 0,73 (12,01)
Fonte: Andreassen e Lindestad (1998)
Entre as pesquisas acerca de reputação e imagem também figura a
investigação de Vieira (2003), acerca da reputação do Banco Central. Como
ponto de partida para a pesquisa, Vieira (2003) realizou entrevistas com
profissionais ligados à área de finanças, a fim de identificar as variáveis
observadas que seriam utilizadas na análise fatorial exploratória. Em seguida,
com base nos aspectos levantados na pesquisa preliminar, elaborou o
questionário que serviu de base para a investigação. Foram identificados 05
fatores que conseguiram explicar 73,53% da variância inicial. O fator mais
proeminente foi a Transparência (fator 1) seguido pela Imagem corporativa
(fator 2). Os outros fatores foram: Compromisso Institucional (fator 3), Política
Monetária na ótica inflacionária (fator 4) e Atuação do Banco Central no
mercado cambial. A Tabela 09 descreve a carga destes fatores e as
respectivas variáveis observadas.
Tabela 09- Carga fatorial e variáveis relacionadas com o desempenho do Banco Central
FATOR 1 FATOR 2 FATOR 3 FATOR 4 FATOR 5
Transparência de critérios para o patamar da taxa de juros
0,684
Clareza do conteúdo dos documentos
0,740
Prestação de contas anual convincente
0,483
Reputação forte dos Dirigentes
0,789
90
Opinião positiva do público 0,816
Contribuição para o bem estar social
0,948
Admiração por parte do público
0,674
Determinação com a estabilidade de preços
0,670
Fiscalização rigorosa 0,675
Condução eficiente da política monetária
0,622
Patamar adequado da taxa de juros
0,518
Cumprimento do anunciado 0,540
Reputação forte do corpo funcional
0,859
Atuação oportuna no mercado de câmbio
0,920
Fonte: Vieira (2003)
Schwariger (2004) realizou um estudo acerca dos componentes da
reputação das corporações, considerando diferentes empresas. Para tal,
elencou alguns atributos para servir de parâmetro na sua pesquisa. Estas
variáveis consideraram: a qualidade dos empregados, a qualidade da gerência,
o desempenho financeiro, a qualidade dos produtos e serviços, a estratégia de
liderança, a orientação para o cliente, a atração, a responsabilidade social, o
comportamento ético, a credibilidade, a concorrência leal e a transparência.
Dessa forma, Schwariger (2004) elaborou um questionário com 27
questões, que foram respondidas por três grupos de 300 pessoas, residentes
nos Estados Unidos, Inglaterra e Alemanha, totalizando 900 preenchimentos
válidos. Os respondentes pertenciam a diferentes empresas, respondendo o
questionário de acordo com a visão que possuíam do contexto em que
estavam inseridos.
Em seguida, Schwariger (2004) desenvolveu a análise fatorial,
identificando quatro fatores principais.
O primeiro, denominado qualidade, explicou 26,2% da variância total
observada. As variáveis componentes do construto qualidade englobaram o
91
relacionamento com os fornecedores, a visão dos clientes e a qualidade dos
produtos e serviços oferecidos.
O segundo, denominado desempenho, explicou 17,1% da variância total
observada. As variáveis componentes do construto desempenho são as
relacionadas com a capacidade de sobrevivência da empresa no mercado.
O terceiro, denominado de responsabilidade, explicou 13,1% da
variância total observada. As variáveis observadas deste construto se referiam
a aspectos de preservação ao meio ambiente, consciência social e
transparência.
Por fim, o último, denominado atratividade, explicou apenas 7,1% da
variância total observada. As variáveis observadas deste construto referiam-se
ao poder de atração que a empresa possuía em relação a seus clientes e
colaboradores. A Tabela 10 traz um resumo da pesquisa realizada por
Schwariger (2004).
Tabela 10 - Fatores da reputação das empresas
Construto Variável Observada Variância explicada
Total
QUALIDADE
Bom tratamento com clientes 0,760
26,2
Os produtos/serviços oferecidos pela companhia são de alta qualidade
0,733
A oferta de serviços é boa 0,732
Para os clientes a empresa é uma parceira confiável 0,729
Credibilidade da empresa perante os clientes 0,706
Admiração pela empresa 0,650
Os produtos/serviços oferecidos pela companhia tem preço justo
0,632
A empresa é mais inovadora do que imitadora 0,506
DESEMPENHO
A empresa é economicamente estável 0,757
17,5
O risco de negócio da empresa é pequeno comparado com seus concorrentes.
0,720
A empresa tem bom potencial de crescimento 0,718
A empresa tem uma visão de futuro clara 0,649
A empresa é bem gerenciada 0,556
RESPONSABILIDADE
A empresa tem outras preocupações além do lucro 0,764
13,1 A empresa se preocupa com a preservação do meio ambiente
0,733
A empresa age com consciência social 0,622
92
A empresa é franca na comunicação com o público 0,511
A empresa compete de maneira ética com a concorrência
0,505
ATRATIVIDADE
Eu me vejo trabalhando nesta empresa 0,887
7,1 Eu gosto da aparência física da empresa 0,450
A empresa tem sucesso em atrair bons empregados 0,403
Fonte: Adaptado de Schwariger (2004).
Carvalho (2009) desenvolveu pesquisa acerca da imagem do Conselho
Regional de Contabilidade do Rio de Janeiro, procurando comprovar o impacto
de sua imagem institucional na avaliação dos estudantes de nível superior de
entidades públicas e privadas. A pesquisa seguiu o modelo de Folland,
Peacock e Pelfrey (1991), que previa dois fatores compondo a imagem de
empresas prestadoras de serviços contábeis. Houve a confirmação destes dois
fatores, sendo que o Atendimento (fator 1) foi mais relevante do que a parte
Institucional (fator 2). Com o uso dos dois fatores pôde ser explicada 42% da
variância inicial. A Tabela 11 demonstra a carga fatorial dos dois fatores.
Tabela 11 – Fatores envolvidos na imagem do CRC do Rio de Janeiro
Fonte: Carvalho (2009)
Tomaz e Brito (2010) desenvolveram pesquisa quantitativa, com o uso
de modelagem de equações estruturais (SEM), com o uso do mínimo quadrado
93
parcial (PLS). Foi estudada a relação entre quatro construtos principais, sendo
estes: a Identidade, a Comunicação (interna e externa), a Reputação e o
Desempenho. Cabe ressaltar, que como a amostra abrangeu organizações
sem fins lucrativos, o construto Desempenho não foi descrito por meio de
variáveis ligadas a aspectos financeiros, mas sim pela visão dos stakeholders
acerca do desempenho. O construto Comunicação foi relacionado tanto com os
funcionários (comunicação interna) quanto com os clientes (comunicação
externa). A amostra para a pesquisa considerou clientes e funcionários de
diversas empresas. Desta forma, estudaram-se as correlações entre
identificação e comunicação; identificação e reputação; reputação e
comunicação; e, finalmente, reputação e desempenho. O modelo estrutural de
Tomaz e Brito (2010) é apresentado na Figura 15.
94
Figura 15 Modelo Estrutural (Identidade, Comunicação, Desempenho e Reputação) Fonte: Tomaz e Brito (2010)
Os resultados da pesquisa de Tomaz e Brito (2010) indicaram no modelo
estrutural Clientes, efeito considerável da comunicação sobre a reputação
(0,820) e desta sobre o desempenho (0,775). No modelo estrutural
Funcionários, houve significativa influência da identificação sobre a reputação
(0,595) e desta sobre o desempenho (0,794). Por outro lado, é relativamente
fraco o efeito da comunicação de marketing sobre a identificação (0,159) e a
95
reputação (0,372). As Figuras 16 e 17 trazem a representação dos coeficientes
estruturais relacionados, respectivamente, a Clientes e Funcionários.
Figura 16- Coeficientes Estruturais- Clientes Fonte: Tomaz e Brito (2010)
Figura 17 Coeficientes Estruturais- Funcionários Fonte: Tomaz
96
3. METODOLOGIA
Neste capítulo é apresentada a metodologia empregada nesta
investigação por meio de sete seções principais. Essas seções descrevem,
sequencialmente, o tipo de pesquisa, a coleta dos dados, o tratamento desses
dados, a população e a amostra, a seleção de sujeitos, as limitações do
método e as hipóteses estabelecidas.
3.1 TIPO DE PESQUISA
A pesquisa realizada tem uma abordagem quantitativa, que é a mais
apropriada para o estudo em questão que avalia as relações entre construtos.
Hair et al. (2010, p. 107) afirmam que “os métodos de pesquisa quantitativa são
mais usados com concepções de pesquisa descritivas e causais, mas às vezes
estão associados a concepções exploratórias”. Como a presente pesquisa é
descritiva e causal, os métodos quantitativos são preferíveis aos qualitativos.
O procedimento utilizado na obtenção de dados utilizada foi o
levantamento survey que é conforme a definição de Malhotra (2006) e Hair et
al. (2010), a pesquisa em que se emprega um questionário estruturado para
colher informações de uma parcela significativa da população. Além da
pesquisa survey os levantamentos bibliográficos em teses, dissertações e
periódicos Qualis de Qdministração conferiram embasamento para a
elucidação da problemática na investigação proposta.
3.2 COLETA DOS DADOS
A coleta de dados na pesquisa de survey foi realizada por meio de dois
questionários estruturados e autoadministrados, com escala Likert constituída
97
por cinco alternativas de resposta. O primeiro questionário (Apêndice A) foi
aplicado numa amostra de capitães do Exército Brasileiro, a fim de avaliar
aspectos da Identidade Organizacional, obtendo-se 216 respostas válidas. Já o
segundo (Apêndice B) foi aplicado na amostra da população do Rio de Janeiro,
a fim de avaliar aspectos referentes à Imagem Institucional, obtendo-se 216
respostas válidas.
A confecção dos questionários em tela baseou-se em detalhado
levantamento bibliográfico, com ênfase em pesquisas que abordassem a
temática em questão, utilizando-se de ferramentas quantitativas. Procurou-se
integrar os conceitos de diversos autores, a fim de definir cada variável do
presente estudo. Nesse procedimento tomou-se o cuidado de examinar a
literatura, sob a ótica da heurística de Aquino, Pagliarussi e Bitti (2008), que
pressupõe a avaliação da relevância e da confiabilidade teórica em cinco
camadas.
Dessa forma, a revisão teórica considerou a classificação dos periódicos
pela CAPES, a relevância dos autores citados, as instituições que produziram a
literatura, a teoria e o método empregado nos estudos, e o ano de confecção
dos artigos, privilegiando-se investigações mais recentes. A heurística de
Aquino, Pagliarussi e Bitti (2008), representada na Figura 18, mostrou-se útil
para criar a convergência necessária entre os aspectos de identidade e
imagem presentes na literatura, sem que houvesse problemas de
confiabilidade no referencial teórico.
98
Figura 18 Camadas como um conjunto de características de documentos científicos. Fonte: Aquino, Pagliarussi e Bitti (2008)
3.2.1 Questionário sobre identidade organizacional
No levantamento da teoria acerca do construto Identidade organizacional
verificou-se que alguns conceitos similares foram propostos de maneira
diferentes pelos autores. Dessa forma, o agrupamento dos dados foi realizado,
a fim de se evitar duplicidade de perguntas no questionário. Portanto, o Quadro
06 traz a definição das dez variáveis consideradas na definição do construto
identidade.
Quadro 06 – Origem das variáveis relacionadas com Identidade Organizacional
Cod Variável Observada Fator Autores
id1 Sucesso Conjunto
Identificação com os Objetivos
Machado (2003); Morais e Paula (2010); Tomaz e Brito (2010)
id2 Possibilidade de desenvolvimento pessoal
Leite-da-Silva et al. (2006); Morais e Paula (2010); Tomaz e Brito (2010)
id3 Valorização do desempenho
Silva (1999); Borges- Andrade e Pilate (2001); Rocha e Silva (2007); Rosa e Brito (2010)
id4 Valorização dos símbolos
Aceitação da cultura
Melewar e Jenkins (2002); Fernandes e Zanelli (2006); Fischer e Carvalho (2006); Fontenelle (2007); Rosa e Brito (2010); Morais e Paula (2010)
id5 Crença na Organização
Hernandez e Caldas (2001); Melewar e Jenkins (2002); Leite- da- Silva et al. (2006); Rocha e Silva (2007); Fernandes e Zanelli (2006); Thiry-Cherques (2008); Rosa e Brito (2010); Morais e Paula (2010)
id6 Comprometimento
Borges- Andrade e Pilate (2001); Melewar e Jenkins (2002), Fernandes e Zanelli (2006); Rego, Cunha e Souto (2007); Borges-Andrade e Flauzino (2008); El-Kouba et al. (2009); Morais e Paula (2010)
99
id7 Confluência de Princípios e Valores
Identificação com a Organização
Melewar e Jenkins (2002), Rocha e Silva (2007), Fernandes, Marques e Carrieri (2009), Tomaz e Brito (2010); Rosa e Brito (2010); Morais e Paula (2010)
id8 Identificação com a Missão
Rocha e Silva (2007); Tomaz e Brito (2010)
Id9 Relação de Segurança e Afeto
Machado (2003); Rocha e Silva (2007); Fernandes, Marques e Carrieri (2009) Tomaz e Brito (2010)
id10 Ambiente de Trabalho
Rocha e Silva (2007); Fischer e Novelli (2008); Fernandes, Marques e Carrieri (2009); Tomaz e Brito (2010)
Fonte: Elaboração do autor.
O relacionamento das variáveis observadas com fatores, conforme o
Quadro 06 foi realizado devido aos temas comuns onde os aspectos são
encontrados. Não existe comprovação de que os fatores abranjam essas
variáveis, aliado ao fato de que não há concordância na teoria acerca do
relacionamento dos fatores que agrupam as variáveis observadas. Cabe
ressaltar, no entanto, que há evidências suficientes que fundamentam o
entendimento de que essas variáveis observadas mensuram o construto
Identidade Organizacional, tendo em vista os pontos convergentes da teoria
que embasa essa variável latente.
No Quadro 07 constam pesquisas quantitativas relacionadas à
identidade organizacional levantadas nesta investigação com os respectivos
fatores e variáveis.
Quadro 07 – Pesquisas quantitativas na área de Identidade Organizacional
Autores Fator id1 id2 id3 id4 id5 id6 id7 id8 id9 id10
Melewar e
Jenkins
(2002)
Cultura X X
Comportamento X
Identidade visual X
Rego, Cunha
e Souto
(2007)
Comprometimento X
100
Borge-
Andrade e
Flauzino
(2008)
Comprometimento X X X X
Tomaz e Brito
(2010)
Identificação
Afetiva
X X
Identificação
Avaliativa
X X
Identificação
Cognitiva
X X X
Identificação
Comportamental
X X X X
Fonte: Elaborado pelo autor
3.2.2 Questionário sobre Imagem Institucional
O procedimento para elaboração do questionário sobre imagem
institucional foi similar ao adotado anteriormente com relação ao levantamento
teórico para embasar os quesitos referentes à identidade organizacional.
Também foram encontrados conceitos agrupados em diferentes variáveis
latentes relacionadas à imagem institucional. Privilegiou-se na consideração da
literatura as investigações sobre imagem de instituições que guardassem
alguma similaridade com o Exército Brasileiro. Para efeito desta investigação
considerou-se a conceituação de imagem e reputação como sendo sinônimos,
tendo em vista que não é objeto desta pesquisa o estudo da influência da
imagem sobre a reputação. A abordagem do conceito de reputação como
sendo imagem deve-se à limitação do escopo desta pesquisa. Por este motivo,
cabe ressaltar que esta não é uma opção pela escola de pensamento análogo
em detrimento da escola de pensamento diferenciado, conforme exposto por
Vance e Angelo (2007). Desta forma, o Quadro 08 traz a definição das dez
variáveis consideradas na definição do construto Imagem Institucional.
101
Quadro 08- Origem das variáveis relacionadas com Imagem Institucional
Cod Variável Observada
Fator Autores
im1 Legitimidade
Responsabilidade Social
Fombrun e Van Riel (1997); Guedes (2000); Anand (2002); Ellen, Webb e Mohr (2006); Serpa e Fourneau (2007); Borges, Miranda e Valadão Júnior (2007); Faria e Sauerbronn (2008); Nicola e Simaens (2008); Swiatkiewicz (2009); Carvalho (2009)
im2
Preservação do Meio Ambiente
Schwariger (2004); Bragato et al. (2008); Macedo, Cipola e Ferreira (2008); Carrieri, Silva e Pimentel (2009); Alperstedt, Quintella e Souza (2010); Tomaz e Brito (2010)
im3 Consciência Social
Vieira(2003); Schwariger (2004); Serpa e Fourneau (2007), Taborda (2007); Quevedo-Puente, Fuente-Sabaté e Delgado-Garcia (2007); Macedo, Cipola e Ferreira (2008); Carrieri, Silva e Pimentel (2009); Swiatkiewicz (2009); Tomaz e Brito (2010)
im4 Qualidade da Direção
Qualidade do Serviço
Andreassen e Lindestad (1998),Vieira(2003); Schwariger (2004); Santos, Caetano, e Jesuíno (2008); Ferreira et al. (2009); Miguel e Brunstein (2010); Tomaz e Brito (2010)
im5 Qualidade dos colaboradores
Andreassen e Lindestad (1998), Brady e Cronin Jr (2001); Ferreira et al. (2009); Miguel e Brunstein (2010); Tomaz e Brito (2010).
im6 Admiração dos clientes
Andreassen e Lindestad (1998), Cronin Jr, Brady e Hult (2000); Brady e Cronin Jr (2001); Vieira(2003); Schwariger (2004); Gröonroos (2006); Macedo, Cipola e Ferreira (2008)
im7 Credibilidade da Organização
Andreassen e Lindestad (1998), Schwariger (2004); Carvalho (2009); Monteiro e Teixeira (2009); Tomaz e Brito (2010); Ferreira et al. (2009); Miguel e Brunstein (2010)
im8 Comunicação com o público externo
Dowling (1996); Brady e Cronin Jr (2001); Schwariger (2004); Gröonroos (2006); Hillenbrand e Money (2007); Tomaz e Brito (2010)
Im9 Atratividade potenciais colaboradores Atratividade
Schwariger (2004), Garay (2006); Morais e Paula (2010)
im10 Atratividade do nome
Martineau (1958); Schwariger (2004); Martinez (2008); Carvalho (2009)
Fonte: Elaboração do autor
O relacionamento das variáveis observadas com fatores, conforme o
Quadro 08, segue a mesma linha de raciocínio apresentada anteriormente,
com relação ao construto Identidade organizacional. É importante mencionar
que também não há concordância na teoria acerca do relacionamento dos
fatores que agrupam as variáveis observadas do construto Imagem
Institucional. Há, porém convergência no tocante ao ato de referenciar as
variáveis observadas do Quadro 08 com o construto Imagem Institucional.
102
Durante a revisão teórica verificou-se que existem diversas pesquisas
quantitativas relacionadas com a imagem institucional. É verdade, no entanto,
que o propósito e o enfoque dessas pesquisas são diferenciados. Por esse
motivo, não foi possível adotar um modelo específico já existente para a
investigação em curso, sendo, no entanto, útil considerar cada variável
observada e dimensões abordadas em cada pesquisa quantitativa.
No Quadro 09 constam pesquisas quantitativas acerca da Imagem
Institucional levantadas nesta investigação com os respectivos fatores e
variáveis.
Quadro 09 – Pesquisas quantitativas na área de Imagem Institucional
Autores Fator im1 im2 im3 im4 im5 im6 im7 im8 im9 im10
Andreassen e Lindestad (1998)
Imagem Corporativa
X X X
Qualidade percebida
X X
Cronin Jr, Brady e Hult (2000).
Intenções de Comportamento
X
Brady e Cronin Jr (2001)
Qualidade do Serviço
X
Vieira(2003)
Transparência X
Imagem Corporativa
X X
Schwariger (2004)
Qualidade X X
Desempenho X
Responsabilidade X X X
Atratividade X X
Garay (2006) - X
Martinez
(2008) Identificação X
Macedo, Cipola e Ferreira (2008)
Responsabilidade Sócio Ambiental
X X
Admiração X
Santos, Caetano e Jesuíno (2008)
Coordenação X
103
Carvalho (2009)
Atendimento X
Institucional X X
Tomaz e Brito (2010)
Gerenciamento X X
Relacionamento X
Responsabilidade Social Corporativa
X X
Seriedade X
Fonte: Elaborado pelo autor 3.3 TRATAMENTO DOS DADOS
Os dados foram tratados com modelagem de Equações Estruturais
(MEE). A finalidade da Modelagem de Equações Estruturais (MEE) é verificar
as relações envolvendo construtos e as variáveis observadas que compõem
cada uma dessas variáveis latentes.
Segundo Hwang et al. (2010), existem três formas de se realizar a MEE,
a análise da matriz de covariância, os mínimos quadrados parciais e a análise
da matriz de componentes generalizados, sendo esta última técnica mais
recente. Esses autores realizaram comparação da eficiência dessas três
abordagens de MEE, verificando que a análise de matriz de covariância
apresenta desempenho superior às demais, quando o modelo está
corretamente especificado. Por outro lado, quando o modelo não está
corretamente especificado a análise da matriz de componentes generalizados
mostrou-se mais adequada.
Diante das conclusões de Hwang et al. (2010), nesta investigação foram
utilizadas duas abordagens de MEE. Inicialmente, diante da incerteza da
correta especificação do modelo, uma vez que ele não foi testado em
pesquisas anteriores, foi empregada a MEE com base na análise de
componentes generalizados. Com isso foi possível confirmar a correta
104
especificação do modelo. Posteriormente, procedeu-se a MEE com base na
análise de matriz de covariância, que produz resultados mais robustos.
Como suporte para processamento dos dados foi empregado o
programa AMOS® 4.0, o software SPSS® (Statistical Package for the Social
Sciences) 14.0 e o programa GESCA. O modelo adotado relaciona a
Identidade Organizacional (IDO) com a Imagem Institucional do Exército (IMA),
conforme mostra a figura 19. Desta forma, a equação estrutural é dada por:
IMA= λn IDO +ε21. As variáveis ε1 a ε20 são os erros residuais de cada variável
observada.
IDT
id1
e1
1
1
id2
e2
1
id3
e3
1
id4
e4
1
id5
e5
1
id6
e6
1
id7
e7
1
id8
e8
1
id9
e9
1
id10
e10
1
IMA
im10
e11
1
1
im9
e12
1
im8
e13
1
im7
e14
1
im6
e15
1
im5
e16
1
im4
e17
1
im3
e18
1
im2
e19
1
im1
e20
1
e21
1
Figura 19- Modelo adotado na investigação Fonte: Elaborado pelo autor
105
3.4 POPULAÇÃO E AMOSTRA
A população para a variável latente Identidade Organizacional é formada
por capitães do Exército Brasileiro, realizando o Curso de Aperfeiçoamento de
Oficiais (CAO) em 2010, na Escola de Aperfeiçoamento de Oficiais, sediada na
Vila Militar, Deodoro, Rio de Janeiro-RJ. Já para o construto Imagem
Institucional, a população é composta por pessoas que residem em bairros
vizinhos à Vila Militar, abrangendo as localidades de Deodoro, Turiaçu,
Madureira, Nilópolis, Realengo, Bangu e Honório Gurgel.
A amostra adotada na investigação foi por conveniência. Para
dimensionar o número de questionários foi observado o número mínimo de 10
respondentes por cada quesito, totalizando o mínimo de 100 respondentes por
questionário, conforme recomendado por Chin, Marcolin e Newsted (2003).
Esta proporção é a mesma preconizada por Hair et al. (2005), que vão além,
indicando um número entre 100 e 200 respondentes como sendo o adequado
para uso em Modelagem de Equações Estruturais.
Desta forma, foi estabelecido o número de 216 respondentes para cada
um dos dois questionários da presente investigação, totalizando 432
participantes.
3.5 SELEÇÃO DE SUJEITOS
Conforme mencionado anteriormente, a amostra foi realizada por
conveniência. Por este motivo, na seleção dos participantes, foram envidados
esforços no sentido de proporcionar a máxima representatividade de cada
população considerada.
106
O questionário sobre identidade organizacional foi respondido por
capitães em fase de aperfeiçoamento, na fase intermediária da carreira de um
oficial do Exército. Por sua vez, o questionário sobre imagem institucional foi
preenchido por pessoas que se encontravam em áreas adjacentes às unidades
militares do Exército, no Rio de Janeiro.
3.6 LIMITAÇÕES DO MÉTODO
A principal limitação do método encontra-se na seleção da amostra por
conveniência. A falta de aleatoriedade na seleção da amostra das
Organizações Militares do Exército e das regiões do Brasil impossibilita
generalizações dos resultados.
3.7 DEFINIÇÕES DAS HIPÓTESES
A Hipótese principal da investigação é a de que: A Identidade
Organizacional do Exército Brasileiro exerce impacto sobre sua Imagem
Institucional. (H0).
Além disso, fruto da revisão teórica estabelecem-se as seguintes
hipóteses acerca da Identidade Organizacional do Exército Brasileiro.
H1- A percepção de sucesso conjunto reflete positivamente a Identidade
Organizacional do Exército
H2- A possibilidade de desenvolvimento pessoal reflete positivamente a
Identidade Organizacional do Exército.
H3- A valorização do desempenho reflete positivamente a Identidade
Organizacional do Exército.
107
H4- A valorização dos símbolos reflete positivamente a Identidade
Organizacional do Exército.
H5- A crença na organização reflete positivamente a Identidade
Organizacional do Exército.
H6- O comprometimento reflete positivamente a Identidade
Organizacional do Exército
H7- A confluência de princípios e valores reflete positivamente a
Identidade Organizacional do Exército
H8- A identificação com a Missão reflete positivamente a Identidade
Organizacional do Exército.
H9- A relação de segurança e afeto reflete positivamente a Identidade
Organizacional do Exército.
H10- O ambiente de trabalho reflete positivamente a Identidade
Organizacional do Exército.
Finalmente, a literatura embasa a formação das seguintes hipóteses
acerca da Imagem Institucional.
H11- A legitimidade de ações sociais reflete positivamente a Imagem
Institucional.
H12- A preservação do meio ambiente reflete positivamente a Imagem
Institucional.
H13- A consciência social reflete positivamente a Imagem Institucional.
H14- A qualidade da direção reflete positivamente a Imagem Institucional.
H15- A qualidade dos colaboradores reflete positivamente a Imagem
Institucional.
108
H16- A admiração da população reflete positivamente a Imagem
Institucional.
H17- A credibilidade da organização reflete positivamente a Imagem
Institucional.
H18- A comunicação com o público externo reflete positivamente a
Imagem Institucional.
H19- A atratividade sobre potenciais colaboradores reflete positivamente
a Imagem Institucional.
H20- A atratividade do nome reflete positivamente a Imagem Institucional.
109
4. ANÁLISE DOS RESULTADOS
Este capítulo está sendo dividido em duas seções principais. Na primeira
ocorre a apresentação dos resultados, expondo-se as estatísticas e o
tratamento dos dados da investigação. A segunda seção utiliza-se da primeira
para realizar a discussão dos resultados. Desta forma, tem-se como produto
final da discussão dos resultados as conclusões desta pesquisa e as sugestões
para investigações futuras.
4.1 APRESENTAÇÃO DOS RESULTADOS
A coleta de dados para a investigação se deu por meio de questionários
estruturados, constantes dos apêndices A (acerca da identidade
organizacional) e B (acerca da imagem institucional )
O processo de preenchimento dos formulários ocorreu entre os meses
de agosto e setembro de 2010.
Responderam ao questionário A, capitães alunos da Escola de
Aperfeiçoamento de Oficiais, situada na Vila Militar, perfazendo o total de 216
formulários válidos para a identidade organizacional. Já com relação ao
questionário B, foram consultadas pessoas que se encontravam próximas da
Vila Militar, abrangendo as localidades de Deodoro, Turiaçu, Madureira,
Nilópolis, Realengo, Bangu e Honório Gurgel, totalizando 216 formulários
válidos para a imagem institucional.
4.1.1 Resultados principais
Na coleta foram utilizados os questionários A e B, respectivamente, para
se avaliar os construtos identidade organizacional e imagem institucional.
110
Dessa foram consideradas apenas 216 observações para cada construto. A
estatística descritiva de cada construto é apresentada na Tabela 12 e na
Tabela 13.
Tabela 12- Estatística descritiva do construto Identidade organizacional
Variáveis N Mínimo Máximo Média
Mediana
Desvio padrão
id1 216 1,00 5,00 3,4120 4,00 ,99844
id2 216 1,00 5,00 3,8565 4,00 ,75499
id3 216 1,00 5,00 3,0787 3,00 ,82310
id4 216 2,00 5,00 3,9583 4,00 ,63475
id5 216 1,00 5,00 3,5694 4,00 ,68525
id6 216 2,00 5,00 3,6481 4,00 ,57571
id7 216 1,00 5,00 3,5926 4,00 ,76599
id8 216 1,00 5,00 3,8148 4,00 ,80865
Id9 216 1,00 5,00 3,8009 4,00 ,77291
id10 216 1,00 5,00 3,2639 3,00 ,72804
Nota 216 3,00 10,00 7,8750 8,00 1,25684
Fonte: Elaboração Própria
Tabela 13 Estatística descritiva do construto Imagem Institucional
Variáveis N Mínimo Máximo Média
Mediana
Desvio padrão
im1 216 1,00 5,00 3,8426 4,00 1,13024
im2 216 1,00 5,00 3,9954 4,00 1,07616
im3 216 1,00 5,00 3,9537 4,00 ,93892
im4 216 1,00 5,00 3,9213 4,00 ,93426
im5 216 1,00 5,00 3,9167 4,00 ,85317
im6 216 1,00 5,00 3,8611 4,00 1,01118
im7 216 1,00 5,00 3,8102 4,00 1,02802
im8 216 1,00 5,00 3,3009 3,00 1,14005
Im9 216 1,00 5,00 3,9630 4,00 ,98761
im10 216 1,00 5,00 4,1898 4,00 ,96260
idade2 216 17,00 78,00 39,0880 37,00 15,44432
Fonte: Elaboração Própria
4.1.1.1 Estudo da confiabilidade interna dos construtos
A fim de se verificar a confiabilidade interna dos construtos identidade
organizacional e imagem institucional foi verificado, com o auxílio do software
SPSS, o Alfa de Cronbach de cada uma das variáveis latentes.
111
O Alfa de Cronbach obtido para a variável latente Identidade
Organizacional foi de 0,807. Já para a variável latente Imagem Institucional o
Alfa de Cronbach foi de 0,863. Esses resultados indicam alta consistência
interna nesses construtos, estando bem acima do recomendado por Hair et al.
(2005), que considera o valor crítico de 0,70.
4.1.1.2 Teste do modelo com o uso do GESCA
Embora o modelo desta investigação tenha sido especificado com base
na teoria, não há trabalhos anteriores que tenham testado empiricamente este
modelo. Por esse motivo, diante da incerteza da correta especificação, é
prudente utilizar inicialmente a MEE com a análise da matriz de componentes
generalizados, conforme preconizam Hwang et al. (2010).
Dessa forma, foi empregado o software GESCA que trabalha com a
análise da matriz de componentes generalizados. A Figura 20 contém o modelo
no GESCA.
Figura 20- Modelo no GESCA Fonte: Elaboração Própria
112
Na Tabela 14 encontram-se listados os resultados de ajustamento do
modelo. Nesse caso, o GFI de 0,997 indicam um bom ajustamento, enquanto o
SMR de 0,07 encontra-se dentro do esperado.
Tabela 14- Ajustamento do modelo com componentes generalizados Modelo Fit
FIT 0.417
AFIT 0.412
GFI 0.997
SRMR 0.070
NPAR 41
Fonte: Elaboração Própria
Nas Tabelas 15 e 16 encontram-se os parâmetros relacionados,
respectivamente com os construtos, Identidade Organizacional (IDT) e Imagem
Institucional (IMA).
Tabela 15- Parâmetros relacionados com Identidade Organizacional
Variável Carga Peso SMC
Estimativa SE CR Estimativa SE CR Estimativa SE CR
IDT AVE = 0.378, Alpha =0.807
id1 0.540 0.068 7.95* 0.143 0.016 8.9
* 0.292 0.073 4.0
*
id2 0.402 0.083 4.87* 0.106 0.020 5.3
* 0.162 0.064 2.53
*
id3 0.586 0.062 9.46* 0.155 0.018 8.49
* 0.344 0.072 4.76
*
id4 0.632 0.053 11.94* 0.167 0.013 12.96
* 0.399 0.064 6.21
*
id5 0.689 0.041 16.68* 0.183 0.014 13.4
* 0.475 0.057 8.39
*
id6 0.648 0.069 9.42* 0.172 0.020 8.75
* 0.420 0.088 4.76
*
id7 0.646 0.052 12.4* 0.171 0.015 11.6
* 0.418 0.066 6.37
*
id8 0.694 0.046 15.06* 0.184 0.015 12.11
* 0.482 0.063 7.67
*
Id9 0.611 0.055 11.03* 0.162 0.013 12.0
* 0.373 0.067 5.6
*
id10 0.641 0.051 12.67* 0.170 0.012 14.31
* 0.411 0.063 6.51
*
* CR significativo ao nível 0,05 Fonte: Elaboração própria
113
Tabela 16- Parâmetros relacionados com Imagem Institucional
Variável Carga Peso SMC
Estimativa SE CR Estimativa SE CR Estimativa SE CR
IMA AVE = 0.457, Alpha =0.863
im1 0.584 0.059 9.82* 0.128 0.013 9.88
* 0.341 0.070 4.9
*
im2 0.581 0.052 11.12* 0.127 0.009 14.2
* 0.337 0.060 5.62
*
im3 0.727 0.034 21.34* 0.159 0.007 21.86
* 0.528 0.049 10.7
*
im4 0.588 0.053 11.04* 0.129 0.012 11.15
* 0.346 0.062 5.56
*
im5 0.694 0.040 17.27* 0.152 0.009 16.41
* 0.481 0.057 8.5
*
im6 0.747 0.033 22.43* 0.163 0.009 18.94
* 0.558 0.049 11.37
*
im7 0.789 0.033 23.9* 0.173 0.008 21.35
* 0.622 0.051 12.14
*
im8 0.671 0.050 13.45* 0.147 0.010 14.46
* 0.450 0.067 6.73
*
Im9 0.657 0.044 14.78* 0.144 0.011 13.55
* 0.432 0.058 7.46
*
im10 0.689 0.038 18.0* 0.151 0.009 17.5
* 0.474 0.052 9.16
*
* CR significativo ao nível 0,05 Fonte: Elaboração própria
Pode-se verificar que os resultados indicam que todas as variáveis
observadas devem constar do modelo. Tanto no construto Identidade
Organizacional, como no construto Imagem Institucional, os CR das variáveis
observadas foram superiores a 1,96. Por esse motivo, pode-se afirmar que o
modelo está corretamente especificado, não sendo necessário eliminar
nenhuma variável observada do modelo.
Por outro lado, verifica-se que não há influência significativa da IDT
sobre a IMA. O CR de 0,47 fica bem abaixo do valor mínimo de 1,96, conforme
exposto na Tabela 17.
Tabela 17- Coeficiente do parâmetro de caminho entre IDT e IMA
Coeficiente de caminho
Estimativa SE CR
IDT->IMA 0.031 0.066 0.47
* CR significativo ao nível 0,05 Fonte: Elaboração própria
4.1.1.3 Teste do modelo com o uso do AMOS 4.0
Diante dos resultados obtidos no GESCA, atestando boa especificação
do modelo, resolveu-se proceder a MEE com análise da matriz de covariância.
114
Segui-se, dessa forma, as recomendações de Hwang et al. (2010) que indicam
ser essa a maneira de MEE mais indicada quando o modelo está corretamente
especificado. Para tal, utilizou-se o software AMOS 4.0.
Na Figura 19 foi apresentada a representação gráfica do modelo. As
variáveis ε1 a ε21 referem-se a erros que impactam as variáveis.
As equações estruturais do modelo referem-se aos construtos identidade
organizacional (IDT) e Imagem Institucional (IMA).
Dessa forma, tem-se para IDT as seguintes equações estruturais:
(1) id1= λ1IDT+ ε1
(2) id2= λ2IDT+ ε2
(3) id3= λ3IDT+ ε3
(4) id4= λ4IDT+ ε4
(5) id5= λ5IDT+ ε5
(6) id6= λ6IDT+ ε6
(7) id7= λ7IDT+ ε7
(8) id8= λ8IDT+ ε8
(9) id9= λ9IDT+ ε9
(10) id10= λ10IDT+ ε10
Com relação a IMA tem-se as equações (11) a (20):
(11) Im11= λ11IMA+ ε11
(12) Im12= λ12IMA+ ε12
(13) Im13= λ13IMA+ ε13
(14) Im14= λ14IMA+ ε14
(15) Im15= λ15IMA+ ε15
(16) Im16= λ16IMA+ ε16
115
(17) Im17= λ17IMA+ ε17
(18) Im18= λ18IMA+ ε18
(19) Im19= λ19IMA+ ε19
(20) Im20= λ20IMA+ ε20
Por fim, tem-se a equação (21) que relaciona as duas variáveis latentes:
(21) IMA = λ21IDT+ ε21.
Inicialmente foi utilizada a estimativa da máxima verossimilhança (MLE),
no entanto, optou-se pelo uso de bootstraping. Com isso as estimativas finais
foram calculadas ao longo de todas as amostras geradas, com o intervalo de
confiança sendo diretamente observado, ao invés da estimação por erro
amostral.
Na Tabela 18 estão listados alguns parâmetros que são utilizados em
MEE com análise da matriz de covariância.
Tabela 18 – Índices utilizados em MEE (análise de covariância)
INDICADOR DEFINIÇÃO NÍVEL ACEITÁVEL FONTE
CR (Critical Ratio)
Verifica se o parâmetro é importante para o modelo
Precisa ser maior que 1,96
Byrney (2001) apud Silva (2006)
CMIN Valor do qui-quadrado Lemke (2005) apud Silva (2006)
CMIN/DF Qui-quadrado/graus de liberdade
Deve ser <= 5 Lemke (2005) apud Silva (2006)
RMR (Root Mean Square Residual)
Valor residual médio derivado do ajuste da matriz de variância/covariância do modelo para a amostra
Se menor que 0,05 o modelo está bem ajustado
Lemke (2005) apud Silva (2006)
GFI (Goodness-of- Fit Index)
Medida da quantidade relativa de variância e covariância explicada
Deve ser perto de 1 Lemke (2005) apud Silva (2006)
AGFI (Adjust …) Difere do GFI por ser ajustado pelo número de graus de liberdade. Penaliza a inclusão de parâmetros e tende a ser maior à medida que aumenta a amostra
Deve ser perto de 1 Garson (1998) e Lemke (2005) apud Silva (2006)
116
PGFI (Parsinon …)
Idêntico ao GFI. Penaliza a inclusão de parâmetros
Deve ser perto de 1, no entanto é menor que GFI
Garson (1998) e Lemke (2005) apud Silva (2006)
NFI (Normed Fit Index)
Comparação entre o modelo hipotético e o modelo de independência
> 0,9 indica um bom ajustamento do modelo
Lemke (2005) apud Silva (2006)
CFI (Comparative Fit Index)
Mesmo de NFI Mesmo que NFI Lemke (2005) apud Silva (2006)
RMSEA ( Root Mean Square Error of Approximation)
Também chamado de RMS ou RMSE. Leva em conta o erro de aproximação na população. Penaliza também a complexidade do modelo
Menor que 0,05 bom ajuste. Entre 0,05 e 0,08 ajuste razoável. Entre 0,08 e 0,10 ajuste medíocre. Maior que 0,10 ajuste pobre
Lemke (2005) apud Silva (2006)
CN (Critical N) Verifica se o tamanho da amostra é adequado para o modelo
Valor deve exceder 200
Lemke (2005) apud Silva (2006)
Resíduos padronizados
Estimativa do número de desvios padrão que os resíduos observados estão do desvio zero ( modelo completamente ajustado)
Valor maior do que 2,58 é considerado grande
Lemke (2005) apud Silva (2006)
Fonte: Baseado em Silva (2006)
Em primeiro lugar verificou-se o grau de ajuste inicial do modelo. Na
Tabela 19 encontram-se os valores de RMR, GFI, RMSEA e o NFI. Os
resultados indicam bom CMINDF e GFI aceitável. O RMR de 0,056 e o RMSEA
de 0,079 encontram-se dentro dos níveis esperados.
Tabela 19- Índices iniciais de ajustamento do modelo
CMINDF RMR GFI RMSEA NFI
2,336 0,056 0,835 0,079 0,740
Fonte: Elaboração própria
Os CR dos parâmetros dos construtos podem ser visualizados na Figura
21. Pode-se observar que todos os CR dos parâmetros relacionados com os
construtos Identidade organizacional e Imagem Institucional são significativos
(>1,96). Com relação ao impacto da Identidade organizacional sobre a Imagem
Institucional, os resultados reforçam categoricamente que não existe
significância nessa relação, pois o CR obtido é de 0,336. Os CR de id1 e im10
117
não constam da Figura 21 porque existe a necessidade do AMOS atribuir o
valor de referência 1 a uma das variáveis de cada construto. No entanto, ao se
modificar as variáveis que receberiam esse valor de referência, foi possível
comprovar CR significativo para essas duas variáveis (id1 e im10).
Figura 21 – CR dos parâmetros do modelo Fonte: Elaboração própria
Também foi procedida a verificação dos resíduos padronizados na
matriz residual de covariância. No caso do modelo testado, nenhum valor
ultrapassa os 2,58 recomendados. Além disso, pode-se observar que houve
redução significativa desses resíduos em relação aos valores obtidos com a
amostra anterior. Conforme pode ser observado na Figura 22, nenhum valor
sequer atingiu o valor de uma unidade.
118
Figura 22 – Matriz residual de covariância Fonte: Elaboração própria
Os valores dos parâmetros são fornecidos pelo AMOS, conforme consta
na Figura 23. É importante mencionar que além do CR não significativo, o peso
reduzido de 0,027 contribui para se afirmar que inexiste impacto da Identidade
Organizacional sobre a Imagem Institucional.
Figura 23- Peso dos parâmetros Fonte: Elaboração própria
119
Os resultados encontrados indicam boa especificação do modelo.
Contudo, embora fossem aceitáveis, os índices de ajustamento do modelo não
chegaram a ser excelentes. Por isso, foi necessário efetuar maior análise
acerca da avaliação desse ajustamento. Isto foi realizado em duas etapas.
Inicialmente, buscou-se testar o modelo no AMOS, assinalando, na
análise de propriedades, a opção referente ao intercepto. Com esse recurso,
são consideradas funções lineares com coeficientes lineares, além de
coeficientes angulares. Nesse caso, o índice a ser avaliado no tocante ao grau
de ajustamento do modelo é o NFI. O valor encontrado para o NFI foi de 0,972,
indicando um excelente ajustamento do modelo.
Posteriormente, não considerando a opção referente ao intercepto,
observaram-se as modificações sugeridas pelo AMOS. Essas sugestões são
realizadas com base nos índices, constantes da Figura 24, que indicam a
queda mínima no χ2 caso os parâmetros sejam incluídos no modelo, sendo
livremente estimados.
Figura 24- Estatísticas de ajuste fornecidas pelo AMOS. Fonte: Elaboração própria
As sugestões de modificação não se referiam à especificação do
caminho entre as variáveis do modelo, mas sim à covariância entre os erros.
Em princípio, essas sugestões não seriam aceitas, mesmo porque, conforme
mencionado anteriormente, o NFI de 0,972 indica excelente ajustamento do
modelo. Além disso, não devem ser realizadas modificações no modelo sem
120
embasamento teórico. No entanto, observando-se os trabalhos de Tomaz e
Brito (2010) e de Schwariger (2004) verifica-se que os autores consideram a
existência de fatores que se refletem em variáveis do modelo desta
investigação.
Na pesquisa de Tomaz e Brito (2010), isso ocorre em relação às
variáveis id1, id2, id3; im2 e im10; e im4 e im5 conforme consta no Quadro 7 e no
Quadro 9. De forma semelhante, no trabalho de Schwariger (2004), esse
fenômeno se dá com as variáveis im6, im7 e im8, conforme pode ser observado
no Quadro 9. Nesse caso, a covariância entre os erros sugeridas pelo AMOS
seria a manifestação dessas variáveis latentes (que estão fora do modelo)
sobre as variáveis observadas pertencentes ao modelo. Sendo assim, não
restou alternativa a não ser efetuar algumas das sugestões do AMOS, levando-
se em consideração a participação na melhoria do ajustamento, e,
principalmente, a sua coerência, com base no referencial teórico.
Na Tabela 20 encontram-se as modificações que foram efetuadas. Na
coluna MI são listados os índices de modificação, enquanto a coluna Par
Change contém o valor da estimativa do parâmetro, caso ele seja incluído.
Tabela 20 – Parâmetros de modificação
Covariâncias MI Par
Change
e1 <-----> e3 21,325 0,211
e1 <-----> e2 23,574 0,218
e2 <-----> e3 11,742 0,124
e12 <-----> e20 16,839 -0,222
e14 <-----> e15 46,515 0,222
e16 <-----> e18 15,939 0,142
e16 <-----> e17 12,464 0,138
Fonte: Elaboração própria
121
Com a inclusão dos parâmetros de covariância entre os erros (Tabela
20), verificou-se melhoria no ajustamento do modelo. Todos os índices
alcançam resultados adequados, com destaque para o GFI de 0,901 e RMSEA
de apenas 0,047. Com isso, comprova-se o bom ajustamento do modelo.
Tabela 21- Índices de ajustamento do modelo
CMINDF RMR GFI RMSEA NFI
1,471 0,044 0,901 0,047 0,843
Fonte: Elaboração própria
4.2. DISCUSSÃO DOS RESULTADOS
A seguir será realizada a discussão dos resultados que foram
apresentados na seção anterior. A análise dos resultados, com a validação ou
não das hipóteses, será executada por construto. Posteriormente, será
discutida a relação entre a identidade organizacional e a imagem institucional.
4.2.1 Resultados da Identidade Organizacional
Os resultados acerca da identidade organizacional confirmam o
preconizado na teoria que foi a base para a elaboração do questionário
(Quadro 6 e Quadro 7). Ficou demonstrado na apresentação de resultados que
todas as dez variáveis observadas são relevantes, para refletir a identidade
organizacional. A importância dessas variáveis, contudo, são distintas, dadas
as particularidades do Exército Brasileiro (EB), que é a organização em estudo.
Por esse motivo, a seguir serão analisados os resultados, com base em
informações acerca do EB, a fim de tentar compreender melhor essas
peculiaridades.
122
4.2.1.1 Sucesso Conjunto
A variável relacionada ao sucesso conjunto foi a id1. Os resultados, tanto
com o uso do GESCA (Análise de componentes generalizados) como com o
uso do AMOS (Análise de Covariância), indicaram que a hipótese H1 – “A
percepção de sucesso conjunto reflete positivamente a Identidade
Organizacional do Exército”.
Apesar de comprovar essa relação positiva, todos os resultados indicam
que a relevância do sucesso conjunto para exprimir a identidade organizacional
ocupa o penúltimo lugar, dentre as dez variáveis observadas. O peso na
regressão no AMOS para id1 foi de 0,444. Já para o GESCA (que não
considera os resíduos) foi de 0,540.
As peculiaridades da carreira militar podem explicar, de alguma forma,
essa importância reduzida do sucesso conjunto (id1) em face da identidade
organizacional. A começar da formação, no início da carreira, os juramentos já
impõem renúncias ao militar para que a Pátria alcance o sucesso. No Quadro 1
do Anexo 1 tem-se o exemplo de alguns desses juramentos.
Conforme exposto no Quadro 1 do Anexo 1, o militar faz juramentos que
o comprometem, com a dedicação por completo ao serviço da Pátria, a se
preciso for, sacrificar sua vida e a manter-se à altura de renúncia e bravura de
heróis nacionais como Caxias. Não existe nesses juramentos a ideia de que o
sucesso da Pátria, ou do Exército, necessariamente, trará benefícios pessoais
ao militar. Afinal, o primeiro juramento conclama o militar a, se preciso for,
oferecer a sua vida em benefício da Nação.
Nos cursos operacionais que o militar realiza ao longo da carreira, essa
ideia de renúncia é reforçada. A oração do Guerreiro de Selva (Quadro 2 do
123
Anexo 1), proferida pelos militares que servem na Amazônia ou fazem o Curso
de Operações na Selva no Centro de Instrução de Guerra na Selva (CIGS), em
Manaus-AM, é um exemplo disso.
Nesse sentido, outro exemplo que existe é a Oração do Paraquedista.
Nesta oração os paraquedistas abdicam da tranquilidade, riqueza, saúde e
êxito pessoal. (Figura 1 do Anexo 1)
Esses pontos levantados não refutam a importância do sucesso conjunto
para refletir a identidade organizacional. Por um lado, as características da
missão institucional do Exército limitam a vinculação do sucesso pessoal ao
progresso da organização, conforme sugerido por Machado (2005). No entanto,
por outro lado, o próprio esforço para valorizar o sacrifício pessoal, como sendo
um objetivo do militar e não somente do Exército/Nação reforçam o fenômeno
descrito por Machado (2003). Essa busca por alinhamento de objetivos
encontra-se dentro do preconizado por Marcos e Paula (2010).
Na verdade, os resultados estatísticos da pesquisa de campo
comprovam todos os antagonismos presentes no sucesso conjunto. Isto ocorre
quando fica demonstrado o reflexo positivo da identidade organizacional nessa
variável (id1), ao mesmo tempo em que é evidenciada a baixa participação
dessa variável no construto.
4.2.1.2 Possibilidade de desenvolvimento pessoal
Conforme visto anteriormente, a variável observada possibilidade de
desenvolvimento pessoal foi a id2. As conclusões acerca de id2 guardam muitos
aspectos em comum com a id1. Os resultados no AMOS e no GESCA apontam
124
para confirmação de H2- “ A possibilidade de desenvolvimento pessoal reflete
positivamente a Identidade Organizacional do Exército”.
A maior correlação da variável id2 é com id1 (0,412), o que é
compreensível. -É de se supor que haja ligação entre o sucesso conjunto e a
possibilidade de desenvolvimento pessoal, até mesmo porque o
desenvolvimento pessoal não deixa de ser uma forma de sucesso individual.
Por este motivo, algumas observações acerca das renúncias da carreira militar
que foram realizadas acerca de id1 também são pertinentes para id2. A
relevância de id2 no construto da identidade organizacional ocupa o último
lugar entre as variáveis observadas.
Esse resultado é confirmado tanto pela MEE com análise de
componentes generalizados como pela MEE com análise de covariância. MEE
com análise de covariância do AMOS 4.0 e pelo PLS do GESCA. O peso na
regressão no GESCA (que não considera os resíduos) para id2 foi de 0,402. Já
para o AMOS foi de 0,312.
Além das peculiaridades da carreira militar que já foram citadas, pode-se
mencionar que a exigida vivência nacional para os oficiais do Exército
Brasileiro restringe a possibilidade deles realizarem cursos civis, sobretudo os
de pós-graduação strictu senso. A movimentação do oficial do Exército
Brasileiro que até 2008 ocorria de três em três anos, atualmente pode ocorrer
em apenas dois anos. Considerando que os cursos de graduação e pós-
graduação têm duração que varia entre dois e quatro anos, existe bastante
dificuldade para o militar se especializar fora do Exército.
É bem verdade que existem ações do Exército Brasileiro no sentido de
possibilitar que o militar possa desenvolver-se pessoalmente. Isto ocorre por
125
meio da promoção de cursos internos, ministrados em organizações militares,
tais como o Instituto Militar do Exército (IME), a Escola de Aperfeiçoamento de
Oficiais (EsAO) e a Escola de Comando e Estado Maior (ECEME). Existem
ainda convênios com instituições de ensino como a Universidade do Sul de
Santa Catarina (UNISUL), Universidade Federal Fluminense (UFF) e Fundação
Getúlio Vargas (FGV), privilegiando o ensino a distância para os militares.
Apesar desses aspectos que justificam a baixa participação de id2, há
que se considerar a importância dessa variável como refletora da identidade
organizacional do Exército Brasileiro. Os resultados com CR acima do crítico
indicam que os militares conseguem enxergar a possibilidade de
desenvolvimento pessoal na carreira castrense. Uma das razões para isso
pode estar relacionada com os critérios bem definidos para se alcançar os
postos.
O aluno da Escola Preparatória de Cadetes do Exército (EsPCEx), com
a idade entre dezesseis e vinte e um anos, sabe exatamente o que fazer para
galgar os postos no Exército Brasileiro (EB) até, quase sempre, chegar ao
posto de coronel e, eventualmente, chegar ao generalato. A própria rigidez do
processo de promoção, impondo restrições, aliada a meritocracia, contribui
para que o militar enxergue no EB uma possibilidade de desenvolvimento
pessoal.
O resultado da pesquisa para o desenvolvimento pessoal (id2) reforça a
validade dos desafios levantados por Leite-da-Silva et al. (2006) e Morais e
Paula (2010). Eles se referem à preocupação do militar com seu crescimento
profissional e à dificuldade de retenção de pessoal. Cabendo considerar, no
entanto, que a ascensão na carreira militar faz parte do desenvolvimento
126
pessoal do indivíduo. A própria opção profissional do indivíduo corrobora essa
visão, pois a despeito dos sacrifícios, o militar está ciente das possibilidades de
ascensão dentro do Exército Brasileiro.
4.2.1.3 Valorização do desempenho
Os resultados encontrados a respeito da valorização do desempenho
(id3) indicam a relevância dessa variável para refletir a Identidade
Organizacional do Exército. Os resultados no GESCA e no AMOS apontam
para confirmação de H3- “ A valorização de desempenho reflete positivamente
a Identidade Organizacional do Exército”.
É interessante observar que essa variável mantém correlação
significativa com todas as demais variáveis do construto a que pertence. A
maior correlação observada é com a variável id1 (0,453). Isto é compreensível,
pois é coerente pensar que se existe a valorização de desempenho, quando o
Exército tiver sucesso, o militar também seja recompensado com o sucesso
pessoal.
A importância da variável id3 é maior do que id1 e id2. O peso na
regressão no GESCA (que não considera os resíduos) para id3 foi de 0,586. Já
para o AMOS foi de 0,493. Estes dados indicam que a valorização do
desempenho é mais relevante no construto do que id1 e id2.
Existem alguns limites para a valorização do desempenho no Exército,
como a impossibilidade de se conceder bônus ou gratificações, por exemplo,
como recompensa. Apesar disso, a meritocracia instituída desde os bancos
escolares, termina por recompensar os militares com bom desempenho, na
promoção ao próximo posto, nas indicações para missões no exterior e na
127
escolha de local para servir. Isto atende ao preconizado por Rocha e Silva
(2007), que afirmam ser esta uma forma de criar identificação positiva com a
instituição.
O Exército Brasileiro criou alguns mecanismos para realizar essa gestão
de desempenho. A ficha de valorização do mérito, as avaliações semestrais, a
pontuação definida em Portaria para cursos e a fluência em idioma estrangeiro
são alguns exemplos disso. A influência positiva do Sistema de Avaliação do
Exército já foi levantada por Rosa e Brito (2010) e é comprovada por meio dos
resultados para id3.
4.2.1.4 Valorização dos símbolos
Os resultados encontrados a respeito da valorização dos símbolos (id4)
demonstram que essa variável possui expressão significativa, no tocante a
refletir a Identidade Organizacional do Exército. Os resultados no GESCA e no
AMOS apontam para confirmação de H4- “ A valorização dos símbolos reflete
positivamente a Identidade Organizacional do Exército”.
A variável id4 mantém correlação significativa com todas as demais
variáveis do construto a que pertence, exceto com a variável ligada a
possibilidade de desenvolvimento pessoal. A maior correlação observada é
com a variável id5 (0,461). Este resultado era esperado, porque a teoria
relaciona id4 e id5 como sendo aspectos da cultura. Dessa forma é de se
esperar que a valorização dos símbolos (id4) mantenha correlação com a
crença na organização (id5), pois, à medida que se valorizam os símbolos,
aumenta a crença na organização e vice-versa.
128
A importância da variável id4 é maior do que id1, id2 e id3. O peso na
regressão no GESCA (que não considera os resíduos) para id4 foi de 0,632. Já
no AMOS foi de 0,591. Estes dados indicam que a valorização dos símbolos é
relevante no construto, confirmando as investigações de Fernandes e Zanelli
(2006), Morais e Paula (2010) e Rosa e Brito (2010).
Ao analisar a vida castrense, verifica-se que os símbolos estão
presentes no cotidiano do Exército Brasileiro. Este aspecto já mencionado por
Rosa e Brito (2010) fica evidenciado pelos resultados desta investigação, que
demonstram serem os símbolos importantes no contexto da Identidade
Organizacional do Exército.
Considerando o universo dos respondentes do questionário relativo à
identidade organizacional, é importante observar que desde o início da
formação acadêmica de um oficial, existe no Exército diversificada simbologia.
Entre os exemplos disso destaca-se a importância conferida ao simbólico Pátio
Marechal Mascarenhas de Moraes (P3M), na Academia Militar das Agulhas
Negras (AMAN). O P3M dá acesso ao rancho de oficiais, onde se encontra
estampada a frase “Cadetes Ides Comandar, Aprendei a Obedecer”. É no P3M
que o cadete do primeiro ano da AMAN recebe a réplica do sabre de Caxias, o
espadim (um símbolo). No P3M há diversas regras, como a obrigatoriedade da
tropa só poder passar marchando no pátio, enquanto qualquer cadete que
estiver isolado deve permanecer em sentido, em sinal de respeito. Também há
horários diferenciados para se entrar em forma, conforme a série em que o
cadete se encontra, numa simbologia que representa os pilares da Hierarquia e
da Disciplina, que são basilares no Exército Brasileiro (EB).
129
O próprio fardamento do militar do EB é repleto de simbologia, pois lá
constam os cursos, as medalhas e a patente do integrante da instituição militar.
As continências, os sinais de respeito, as canções, os toques, as solenidades e
o culto aos patronos são alguns dos inúmeros exemplos da simbologia na vida
militar. Ela está presente em todos os militares, sendo bastante evidenciada
nos oficiais. O simples ato de apresentar armas com a espada de oficial (um
símbolo), em três tempos, subsequentes, demonstra isso. No primeiro
movimento, a espada fica em frente à boca do oficial, simbolizando que
apresenta armas, pela sua honra. No segundo movimento, a espada é erguida
aos céus, simbolizando que apresenta armas, pelo seu Deus.
Finalmente, no terceiro movimento a espada é perfilada, inclinada a um
ângulo de quarenta e cinco graus com o solo, simbolizando que apresenta
armas, pela sua Pátria.
4.2.1.5 Crença na organização
Os resultados encontrados a respeito da crença na organização (id5)
demonstram que essa variável é uma das mais relevantes, no sentido de
refletir a Identidade Organizacional do Exército. Os resultados no GESCA e no
AMOS apontam para confirmação de H5- “ A crença na organização reflete
positivamente a Identidade Organizacional do Exército”.
A variável id5 mantém correlação significativa com todas as variáveis do
construto a que pertence. As maiores correlações observadas confirmam o que
a teoria demonstra no sentido desta variável id5 expressar junto com id4 e id6,
aspectos relacionados com a cultura. Cabe ressaltar que essas correlações,
130
estão entre as maiores, em valores absolutos, existentes no construto,
alcançando com id4 (0,461) e id6 (0,475).
De fato, segundo demonstram os resultados, é plausível que a crença na
organização (id5) possa estar correlacionada com a valorização dos símbolos
(id4) e com o comprometimento dos colaboradores (id6). Não é de se esperar
que haja valorização dos símbolos (id4) e o comprometimento dos
colaboradores (id6), quando estes não acreditam na sua organização (id5).
A importância da variável id5 é demonstrada por ocupar o segundo lugar
em importância, dentro do construto Identidade organizacional. O peso na
regressão no GESCA (que não considera os resíduos) para id5 foi de 0,689. Já
para o AMOS foi de 0,645. Estes dados indicam que a crença na organização é
bastante relevante no construto, confirmando as investigações de Hernandez e
Caldas (2001), Thiry-Cherques (2008), Morais e Paula (2010) e Rosa e Brito
(2010), entre outros.
A crença no Exército Brasileiro e na Pátria é difundida no meio militar
desde o início do primeiro contato no quartel. As vitórias militares do passado,
os heróis nacionais e as formaturas comemorativas são exemplos de ações
que agem, conforme indicado por Rocha e Silva (2007), isto é criam sentimento
de superioridade da instituição. Essa prática possibilita a adoção das crenças,
segundo o estágio proposto por Hernandes e Caldas (2001).
Os resultados encontrados indicam que os militares possuem alta crença
no Exército Brasileiro e que isso expressa a Identidade Organizacional. Esta
pode ser a razão porque existe grande número de voluntários, no âmbito do EB
para realizar cursos operacionais extremamente desgastantes sem que haja
compensação financeira significativa. Entre esses cursos e estágios, pode-se
131
citar o Curso de Operações na Selva (COS), Curso de Ação de Comandos,
Curso de Forças Especiais, Estágio de Caatinga, Estágio de Montanhismo e
Estágio de Pantanal.
A permanência de alguns militares no EB, mesmo possuindo tempo para
passar a reserva, não possuindo perspectiva para promoção, ou outras
vantagens, é outro exemplo que pode ser citado. Mesmo os militares que
ingressam na reserva remunerada se identificam com o EB, comparecendo em
formaturas e festividades, além de participar de agremiações, como o Clube
Militar, por exemplo. Desta forma, esses colaboradores, mesmo na
aposentadoria, por acreditarem na instituição, buscam de várias formas
sentirem-se integrados a ela. Rosa e Brito (2010) já haviam identificado a
relevância da crença do militar no EB na formação da identidade
organizacional, conclusões reforçadas pelos resultados desta investigação.
4.2.1.6 Comprometimento dos colaboradores
Os resultados encontrados a respeito da crença na organização (id6)
demonstram que essa variável é uma das mais relevantes, no sentido de
refletir a Identidade Organizacional do Exército. Os resultados no GESCA e no
AMOS apontam para confirmação de H6- “ O comprometimento dos
colaboradores reflete positivamente a Identidade Organizacional do Exército”.
A variável id6 mantém correlação significativa com todas as variáveis do
construto, exceto com id1(sucesso conjunto) e id2 (possibilidade de
desenvolvimento pessoal). A menor correlação significativa é com id3
(valorização do desempenho). Esses resultados sugerem que o
comprometimento dos colaboradores mantém fraca relação com a Identificação
132
com os objetivos, pois id1, id2 e id3 são variáveis relacionadas com este
aspecto. Esse motivo parece expressar o desafio que a área de Gestão de
Recursos Humanos enfrenta, segundo El-Kouba et al. (2009), para promover o
comprometimento dos colaboradores com os objetivos estratégicos da
organização. De fato, parece ser difícil promover a integração entre variáveis
que, segundo os resultados demonstram, não se encontram significativamente
correlacionadas.
Por outro lado, a maior correlação observada é com id5 (0,475). Isto já
era esperado, pois id6 também pode ser considerado como um aspecto
relacionado com a cultura. Há também o senso comum de que é difícil alguém
estar comprometido (id6) com algo em que não acredita (id5), fato expresso na
correlação positiva entre as variáveis. Além disso, Fernandes e Zanelli (2006)
já haviam identificado que o comprometimento dos indivíduos aumenta quando
eles compartilham valores e crenças.
A variável id6 é relevante no construto, mantendo participação bastante
significativa, ocupando o terceiro lugar de importância. O peso na regressão no
GESCA (que não considera os resíduos) para id6 foi de 0,648. Já para o AMOS
foi de 0,608. Estes dados indicam que o comprometimento é bastante relevante
no construto, confirmando as investigações de Borges-Andrade e Pilate (2001),
Borges-Andrade e Flauzino (2008) e Morais e Paula (2010), entre outros.
Conforme visto anteriormente, é exigido dos integrantes do EB renúncia
pessoal e o comprometimento com a sua profissão. Desde a sua formação, o
militar precisa estar pronto, vinte e quatro horas por dia. Não existe, por
exemplo, o pagamento de horas extras ou limite de jornada.
133
É interessante observar que os próprios militares cobram entre si, alto
grau de comprometimento, principalmente, em missões no exterior. Os próprios
militares designados para cursos em outros países cobram de si mesmo a
obtenção das primeiras colocações, o que vem sendo alcançado. Existe uma
preocupação de se estar representando o EB e a nação Brasileira no exterior, o
que pode explicar em parte o sucesso alcançado em missões de paz, em
países como Angola e o Haiti, por exemplo.
4.2.1.7 Confluência de Princípios e Valores
Os resultados encontrados a respeito da confluência de princípios e
valores (id7) demonstram que essa variável é um importante indicador reflexivo
da Identidade Organizacional do Exército. Os resultados no GESCA e no
AMOS apontam para confirmação de H7- “ A confluência de princípios e valores
reflete positivamente a Identidade Organizacional do Exército”.
A variável id7 mantém correlação significativa com todas as variáveis do
construto, exceto com id2 (possibilidade de desenvolvimento pessoal). A maior
correlação observada é com a variável id8 (identificação com a missão),
alcançando 0,516. Esta correlação entre variáveis observadas é a maior do
construto. Confirma-se desta forma, em parte, a pesquisa de Rocha e Silva
(2007), que relaciona essas variáveis como sendo expressão da identificação
com a empresa.
A variável id7 é relevante no construto, mantendo participação
significativa. O peso na regressão no GESCA (que não considera os resíduos)
para id7 foi de 0,646. Já para o AMOS foi de 0,604. Estes dados indicam que a
confluência de princípios e valores é bastante relevante no construto,
134
confirmando as investigações de Rocha e Silva (2007), Rosa e Brito (2010),
Tomaz e Brito (2010) e Morais e Paula (2010), entre outros.
Conforme observado por Rosa e Brito (2010), a extensa formação dos
oficiais do EB, com o isolamento inicial em escolas como a AMAN, possibilita a
uniformidade de princípios e valores. A fábrica, conforme Rosa e Brito (2010)
identificam a AMAN produz peças padronizadas, ou seja, oficiais que assimilam
os valores e princípios da instituição que integram. Isto explicaria como é
possível obter certos traços comuns entre oficiais que nasceram em diversos
locais do Brasil. É como se a formação militar fosse capaz de criar
semelhanças em oficiais gaúchos, nordestinos e nortistas, fazendo com que
adquiram o jeito militar.
4.2.1.8 Identificação com a Missão
Os resultados encontrados a respeito da identificação com a missão (id8)
demonstram que essa variável possui a expressão mais significativa no
construto que reflete a Identidade Organizacional do Exército. Os resultados no
GESCA e no AMOS apontam para confirmação de H8- “ A identificação com a
missão reflete positivamente a Identidade Organizacional do Exército”.
A variável id8 mantém correlação significativa com todas as variáveis do
construto, exceto com a variável id2 (possibilidade de desenvolvimento
pessoal). A maior correlação observada é com a variável id7 (0,516), conforme
já foi mencionado anteriormente.
A variável id8 é a mais relevante no construto. O peso na regressão no
GESCA (que não considera os resíduos) para id8 foi de 0,694. Já para o AMOS
foi de 0,661. Estes resultados confirmam que a identificação com a missão é
135
uma das principais origens da identificação, conforme observado por Rocha e
Silva (2007). Ficam também confirmados os resultados das pesquisas de
Borges-Andrade e Flauzino (2008) e Tomaz e Brito (2010).
De certa forma, é fácil compreender porque ocorre a identificação com a
missão do Exército, haja vista que lida com valores comuns ao povo brasileiro,
como o patriotismo e a defesa da nação. Pode-se ousar dizer que esta
identificação com a missão ocorre, mesmo que em menor grau, antes mesmo
de o indivíduo ingressar na carreira militar. Rosa e Brito (2007) afirmam que a
possibilidade de contribuir para o sucesso da nação reforça a identificação dos
colaboradores com a sua instituição. É plausível admitir que este fenômeno
ocorra dentro do EB.
Dentro dos quartéis é conferido especial valor ao significado da palavra
Missão. Essa importância pode ser verificada por meio de lemas que são
difundidos, tais como “Não nos pergunte do que somos capazes, dê a Missão!”.
A Missão também está presente nos vários estudos de situação que são
realizados em exercícios que envolvem desde simples patrulhas até os níveis
mais elevados. Por isso, os militares conhecem com facilidade a sigla MITEME
que significa: Missão, Inimigo, Terreno e Meios.
A própria renúncia dos militares, que já foi mencionada anteriormente, só
se justifica com a identificação com a missão. É comum observar entre os
próprios militares a expressão “espírito de cumprimento de missão”. Por esses
motivos, o resultado encontrado é plenamente justificável, demonstrando que
há uma identificação do militar com a missão do EB, sendo isto o mais
relevante no construto Identidade Organizacional.
136
4.2.1.9 Relação Afetiva
Os resultados encontrados a respeito da relação afetiva (id9)
demonstram que essa variável é relevante para expressar a Identidade
Organizacional do Exército. Os resultados no AMOS e no GESCA apontam
para confirmação de H9- “ A relação afetiva dos colaboradores com o Exército
reflete positivamente na sua Identidade Organizacional ”.
A variável id9 mantém correlação significativa com todas as variáveis do
construto, exceto com id2 (possibilidade de desenvolvimento pessoal). A maior
correlação observada é com id8 (0,387). Isto parece indicar que à medida que o
militar se identifica com a missão do EB aumenta a relação afetiva com a
instituição.
Como no EB há estabilidade para os oficiais, não havendo a ameaça do
desemprego, observa-se um cenário favorável para que ocorra a relação
afetiva, conforme salientado por Marques e Carrieri (2009). Essa sensação de
segurança, segundo Machado (2003) gera afetividade que traduz uma ligação
institucional do colaborador mais consolidada. Os resultados alcançados nesta
pesquisa reforçam essa visão desses autores e também a de Rocha e Silva
(2007) que ressaltam a importância da relação afetiva no bojo da Identidade
Organizacional.
A variável id9 é relevante no construto, com resultado expressivo entre
as demais variáveis observadas. O peso da regressão no GESCA (que não
considera os resíduos) para id9 foi de 0,611. Já para o AMOS foi de 0,553.
Estes resultados indicam que a relação afetiva é relevante no construto,
conforme já foi mencionado anteriormente, confirmando a visão dos autores
que foram citados na revisão teórica.
137
Uma das formas de verificar a relação afetiva dos militares com o EB é
observar o comportamento dos militares fora do aquartelamento. Em diversos
momentos é possível observar que, mesmo nos momentos de folga, os
militares estão discutindo com entusiasmo assuntos relacionados com seu
trabalho castrense. O tom dessa conversa revela anseios, frustrações e planos
que transcendem a relação trabalhista, alcançando a área afetiva.
Esse mesmo comportamento é encontrado entre os militares que estão
na reserva. Nesse grupo, há um sentimento, quase unânime, de saudade do
tempo em que se encontravam na ativa. Até mesmo os militares que resolvem
pedir demissão do EB para assumir outros cargos públicos costumam se
emocionar nas formaturas de despedida, o que demonstra afetividade com a
instituição militar.
4.2.1.10 Ambiente de Trabalho
Os resultados encontrados sobre a variável ambiente de trabalho (id10)
demonstram que essa variável é relevante para expressar a Identidade
Organizacional do Exército. Os resultados no AMOS e no GESCA apontam
para confirmação de H10 - “O Ambiente de Trabalho reflete positivamente na
Identidade Organizacional do Exército”.
A variável id10 mantém correlação significativa com todas as variáveis do
construto. Isto parece indicar que o Ambiente de Trabalho influencia e é
influenciado por todas as variáveis do construto. A maior correlação observada
é com id3 (0,377), contudo há um certo equilíbrio com as correlações com as
demais variáveis do construto.
138
De fato é esperado que o ambiente de trabalho tenha uma relação
equilibrada com as variáveis observadas, pois isto traduz coesão interna da
equipe de trabalho, segundo Fischer e Novelli (2008). A coesão interna é vital
no EB quando se considera as atividades militares que preparam a tropa para,
se necessário for, fazer a guerra em defesa da pátria.
A variável id10 é relevante no construto, com resultado expressivo entre
as demais variáveis observadas. O peso na regressão no GESCA (que não
considera os resíduos) para id10 foi de 0,641. Já para o AMOS foi de 0,570.
Estes resultados indicam que a participação do ambiente de trabalho no
construto é significativa, conforme foi defendido por Fischer e Novelli (2008),
Borges-Andrade e Flauzino (2008), Fernandes, Marques e Carrieri (2009) e
Tomaz e Brito (2010).
É interessante observar que o ambiente de trabalho dos militares do EB,
sobretudo dos oficiais é extremamente dinâmico. Isto ocorre, porque
atualmente, os oficiais podem ser transferidos no espaço de apenas dois anos.
Em dado momento, o ambiente de trabalho do oficial é um quartel na
Amazônia, com todas as implicações do clima e soldados da região. Dois anos
depois, o oficial pode estar sendo transferido para o extremo sul do Brasil, com
características regionais totalmente diferentes da anterior. Dessa forma qual é
o ambiente de trabalho do militar?
Os resultados da pesquisa parecem indicar que a instituição como um
todo se torna no ambiente de trabalho do militar, pois há relação positiva e
significativa de id10 com todas as variáveis observadas da Identidade
organizacional. Ao chegar em determinado quartel, independente da região, o
militar encontrará o mesmo sistema de avaliação (id3), a mesma missão (id8) a
139
mesma crença (id5), os mesmos princípios e valores (id7), a mesma
camaradagem (id9) e daí por diante.
As características que refletem a Identidade Organizacional do EB
podem ser consideradas o ambiente de trabalho do militar, pois traduzem a
imagem que ele enxerga da instituição. Este talvez seja também um dos
motivos para explicar a correlação significativa e equilibrada do ambiente de
trabalho com as demais variáveis observadas no construto.
4.2.2 Resultados Imagem Institucional
Os resultados atinentes ao construto da Imagem Institucional confirmam
a validade das variáveis observadas consideradas, com base na teoria (Quadro
8 e Quadro 9). A importância das variáveis é bastante significativa para
expressar a Imagem Institucional, fato que pode ser comprovado pelo Alfa de
Cronbach elevado de 0,863.
A variável que melhor reflete a Imagem Institucional é im7 (credibilidade
da organização). O peso na regressão no GESCA (que não considera os
resíduos) para im7 foi de 0,789. Já para o AMOS foi de 0,805. Os índices
demonstram que quase toda a credibilidade do EB é explicada por sua Imagem
Institucional. Confirma-se, portanto, H17.
Esse resultado corrobora a ideia de que as pesquisas acerca da
credibilidade das instituições, ainda que não tenham valor científico, servem
para descrever momentaneamente a realidade da Imagem Institucional do
Exército (estatística descritiva). Deve-se considerar também que a credibilidade
é um aspecto ao mesmo tempo abrangente e subjetivo. Para acreditar no EB é
preciso considerar válida a sua missão, as suas ações, as suas comunicações
140
e até mesmo a sua história. No entanto, sendo a credibilidade reflexiva da
imagem, mesmo quando não se conhece com profundidade o EB, pode-se
depreender que a imagem favorável sobre a instituição preenche a lacuna. É
como se alguém soubesse pouco sobre determinado veículo, nunca ao menos
tendo entrado nele, contudo como o automóvel é daquela marca, não há como
não confiar nele.
A admiração da população em relação ao EB (im6) é a segunda variável
que mais reflete a Imagem Institucional do Exército. O peso na regressão no
GESCA (que não considera os resíduos) para im6 foi de 0,747. Já no AMOS foi
de 0,762. Este resultado demonstra que a maior parte da admiração pelo EB
pode ser explicada por sua Imagem Institucional.
A admiração é um sentimento, algo abstrato e complexo. Por este
motivo, autores como Brady e Cronin Jr (2001), Cronin Jr, Brady e Hult (2000)
e Almeida e Nique (2006), consideram a admiração como sendo o produto final
de interações com o cliente, que seriam experiências que provocariam
encantamento, ou seja, admiração. No caso da presente pesquisa, pode-se
dizer que o contato da população tem com o Exército produz um encantamento
(admiração), fruto na maior parte da imagem positiva que a instituição possui.
A variável im3 (consciência social) é a terceira a mais refletir a Imagem
Institucional do EB. O peso na regressão no GESCA (que não considera os
resíduos) para im3 foi de 0,727. Já para o AMOS foi de 0,640. Este resultado
demonstra que a maior parte da consciência social do EB pode ser explicada
por sua Imagem Institucional.
A consciência social abrange ações das organizações no sentido de
melhorar a sociedade, independente de ganhos financeiros, conforme
141
defendido por Taborda (2007). O EB tem adotado já há algum tempo o lema
“Braço Forte, Mão Amiga”, procurando destacar seu papel junto a sociedade,
transcendendo a defesa da pátria. Os resultados encontrados nesta pesquisa
parecem indicar que o EB está conseguindo atuar na área social de forma
relevante, ao mesmo tempo em que informa suas ações de forma eficaz.
Conforme visto anteriormente, segundo Serpa e Fourneau (2007), é essa ação
conjunta que possibilita ganhos de imagem. A presença do Exército em
algumas localidades da região amazônica, como única presença do Estado
Brasileiro, a participação da Força no combate à seca, na região nordeste são
alguns exemplos que podem retratar essa consciência social.
As variáveis que menos refletem a Imagem Institucional do Exército são
im4 (qualidade da direção), im1(legitimidade) e im2 (preservação do meio
ambiente). Cabe ressaltar que todas essas variáveis são expressivas, sofrendo
influência da imagem institucional, em mais de 50% de sua variância. Os
resultados no GESCA para im4, im1 e im2 são, respectivamente, onde não são
considerados resíduos são, respectivamente, 0,588; 0,584 e 0,581. Já para o
AMOS são, respectivamente, 0,502; 0,507; e 0,513. Verifica-se que os índices
das variáveis são bem próximos, tendendo para a equivalência de valores, o
que provoca pequenas divergências entre a ordem de relevância, de acordo
com o método de modelagem adotado. No entanto, estas diferenças, por
serem pequenas, não são relevantes.
Nesse contexto, é importante considerar que im1 e im2 estão ligadas à
responsabilidade social. Alperstedt, Quintella e Souza (2010) mencionam que
existem dificuldades a dar credibilidade à gestão ambiental, o que só seria
possível pela sincronização entre os aspectos internos (visão ambiental dos
142
colaboradores) com os aspectos externos (consciência ambiental da
população). Dessa forma, os resultados podem indicar baixa
percepção/interesse da população brasileira acerca dos temas ambientais.
Com relação ao baixo valor de im4, pode-se dizer que a imagem
institucional do Exército tem influência reduzida sobre a qualidade da direção
percebida pela população. Isto pode ser resultado do pouco contato com as
autoridades militares, quando comparado com os demais militares em geral.
Um dos indícios disto é que im5 (qualidade dos colaboradores) chega a
alcançar o quarto lugar de relevância, com valores no AMOS e no GESCA,
respectivamente, de 0,616 e de 0,694. A população conhece mais os militares
de menor patente hierárquica, facilitando a influência da imagem.
Finalmente, pode-se dizer que im10 (atratividade da marca), im8
(comunicação com o público externo) e im9 (atratividade sobre potenciais
colaboradores) estão em uma posição intermediária no construto da Imagem
Institucional. Os índices alcançados na MEE demonstram que existe relevância
nessas variáveis, embora elas não sejam as mais importantes.
De forma geral, pode-se dizer que as hipóteses H11 a H20 foram todas
confirmadas, sendo os resultados específicos. Todas as variáveis observadas
apresentaram mais de cinquenta por cento de sua variância sendo impactada
pela Imagem Institucional, demonstrando consistência no construto. Os
resultados confirmam a validade dos aspectos teóricos constantes do Quadro
08.
143
5. CONCLUSÕES E RECOMENDAÇÕES
Este capítulo está sendo dividido em duas seções principais. Na primeira
são expostas as conclusões deste estudo, tecendo-se considerações acerca do
teste da hipótese central da pesquisa (H0). Na segunda seção constam as
recomendações, enfatizando-se as possibilidades de investigações futuras com
a utilização do modelo elaborado e testado neste trabalho.
5.1 CONCLUSÕES
Os resultados no GESCA e no AMOS demonstram que, ao contrário do
esperado, a Identidade Organizacional do Exército não exerce influência sobre
sua Imagem. Os CR em ambos os casos são menores do que 1,96,
demonstrando que a influência entre as variáveis latentes não é significativa.
Desta forma, a hipótese H0- “A Identidade Organizacional do Exército Brasileiro
exerce impacto sobre sua Imagem Institucional” não é aceita.
É interessante observar que Martineau (1958) e Kennedy(1977) já
alertaram para o fato de que cada organização possui diferentes peculiaridades
e públicos, ocorrendo fenômenos distintos em relação à identidade e à imagem
entre as empresas. Embora na maioria dos casos haja influência da Identidade
Organizacional sobre a Imagem Institucional é admitida a possibilidade de isso
não ocorrer. Este é justamente o caso do Exército Brasileiro, conforme
resultado da pesquisa que se baseou em duas amostras.
Cristensen e Askegaard (2001) também alertaram para o fato de que a
identidade e a imagem são construtos que não são complementares. Em
alguns casos, segundo esses autores, os elementos que constituem cada
variável latente, podem até mesmo ser antagônicos. Isto ocorreria, entre outras
144
circunstâncias, quando determinada organização está experimentando
reestruturação interna substancial. Nesse caso, os conflitos internos oriundos
desse processo, abalariam a identidade organizacional, que não exerceria
influência sobre a imagem institucional. Diante disso, Vieira (2003) admite que
não se pode afirmar categoricamente que a identidade determina a imagem
corporativa.
Nesse contexto, as imagens determinam os sinais que são aceitos como representações da empresa. Tais representações são simbólicas e, portanto, convencionais em suas associações com o objeto que representam. Logo não se pode afirmar que a identidade determina a imagem corporativa (grifo nosso) (VIEIRA, 2003, p.24)
Sendo a imagem corporativa e a identidade organizacional visões de
dois grupos de stakeholders é interessante notar que atualmente o Exército
Brasileiro (EB) é avaliado positivamente tanto pelos seus colaboradores como
pela população. Isto pode ocorrer devido a possível associação do EB com
segurança, pátria, honestidade e família, ou seja, com valores classificados
como terminais na escala proposta por Lambin (2000). Esses valores terminais
são comuns tanto para os militares (colaboradores) como para a população,
por este motivo, há a formação de identidade organizacional e imagem
institucional forte, ainda que não haja influência direta entre as variáveis
latentes.
Nesse sentido, é interessante observar que o EB elegeu alguns valores
como sendo imutáveis (Figura 2 do Anexo 1). Há nesses valores componentes
que atingem diretamente os colaboradores, a população ou ambos. A
valorização dos recursos humanos, por exemplo, possui ligação com os
militares. Por sua vez, a integração com a sociedade atinge a população. Já o
145
fato de ser uma instituição do Estado Brasileiro atinge tanto os militares como a
população.
Como não há influência significativa entre os construtos, as estratégias
para melhoria de identidade ou imagem devem ser consideradas de acordo
com os resultados individuais de cada variável latente. Para a melhoria da
identidade, por exemplo, devem ser consideradas com maior atenção aspectos
tais como identificação com a missão (id8), a crença na organização (id5), o
comprometimento (id6) e a confluência de princípios e valores (id7). Já com
relação à imagem, maior ênfase deve ser conferida à credibilidade da
organização (im7), à admiração da organização (im6), à consciência social (im3)
e à qualidade dos colaboradores (im5).
É interessante observar, principalmente em relação à imagem, que
existem aspectos subjetivos difíceis de serem abordados em ações de
marketing, embora os resultados indiquem que eles são muito relevantes. Por
outro lado, existem aspectos mais concretos que permitem maior exploração
publicitária, dentro do marketing. Uma campanha para aumentar a admiração
do EB (im6) junto à população seria algo complexo. Por sua vez, demonstrar
consciência social (im3) perante o público parece ser mais fácil.
Por esse motivo, uma estratégia para melhorar aspectos subjetivos seria
agir em aspectos concretos que guardassem alta correlação com eles. Para
aumentar a credibilidade (im7) e a admiração (im6), por exemplo, pode ser
adotada estratégia relacionada ao reforço da atratividade do nome do EB
(im10).
O modelo apresentado possui variáveis observadas reflexivas, isto é,
que sofrem influência das variáveis latentes: Identidade Organizacional e
146
Imagem Institucional. Os resultados demonstraram que essas variáveis
observadas são explicadas, em grande parte por meio das respectivas
variáveis latentes. Por este motivo, pode-se afirmar que, ao melhorar
determinado aspecto, se estará também maximizando a Identidade ou a
Imagem, conforme for o caso, dadas as influências positivas que foram
comprovadas.
Considerando as peculiaridades do EB, verifica-se que os resultados
alcançados, podem estar relacionados com seu planejamento estratégico.
Verifica-se na Figura 3 do Anexo 1, que o Sistema de Planejamento Estratégico
do Exército considera aspectos importantes para a identidade e a imagem, por
exemplo, a comunicação e a avaliação do desempenho.
Com relação à comunicação, é interessante notar a diferenciação que o
EB realiza da comunicação de governo com a comunicação de estado (Figura
4 e Figura 5 do Anexo 1). A opção por esta última forma de comunicação
parece embasar os resultados encontrados na investigação, contribuindo para
a manutenção dos bons índices de imagem do EB.
É importante considerar, que embora seja sólida, a identidade do
Exército nos dias atuais não é comunicada de forma mais direta ao público
externo. Observando na história recente, verifica-se, que após o fim do regime
militar houve um certo isolamento do EB, que, por opção própria, deixou de
atuar diretamente na política brasileira.
Esse panorama parece justificar a falta de influência da identidade sobre
a imagem. No caso do Exército, sua imagem junto à população é construída de
forma independente. É plausível dizer que essa construção é realizada com
base na confiança da população no EB. A solidez da imagem do EB pode,
147
inclusive, retratar a avaliação comparativa da população, considerando o
Exército e as demais instituições brasileiras, em um cenário com diversos
casos de corrupção sendo noticiados frequentemente pela imprensa.
5.2 RECOMENDAÇÕES
O tema da investigação em tela é vasto e necessita de diversas
pesquisas. Este trabalho não esgota o assunto, mesmo no âmbito do Exército.
Com relação ao construto identidade, por exemplo, a segunda amostra
considerou apenas os capitães em aperfeiçoamento do EB. Seria proveitoso
realizar outras investigações, comparando-se as diferenças e semelhanças
entre praças e oficiais, posto que são colaboradores em posições hierárquicas
distintas, fato que pode produzir visões diferentes.
Mesmo em relação ao construto da imagem, algo semelhante poderia
ser executado, já que existem outros stakeholders, como os fornecedores e as
instituições parceiras, por exemplo. Haveria relação/influência entre essas
diversas imagens? Caso positivo, quais seriam as mais relevantes?
Ainda com relação ao construto imagem, há que se considerar que as
diferenças regionais do País ensejam a oportunidade da replicação desta
pesquisa em outros estados. É de se esperar que haja diferenças na imagem
do Exército, considerando, por exemplo, as visões das populações da cidade
de São Paulo, da região amazônica, do Nordeste e do Estado do Rio Grande
do Sul.
A forma de enxergar as instituições pode ser diferenciada de acordo com
a classe social. Por esse motivo, mesmo no Rio de Janeiro, a pesquisa poderia
ser aplicada em amostras específicas, considerando, por exemplo, as classes
A e C.
148
Embora haja peculiaridades em cada organização, o modelo
apresentado poderia ser testado em outras instituições, sobretudo as públicas.
Poderia, inclusive, ser realizada a comparação entre duas instituições, sendo
uma pública e outra privada. Isto seria útil no sentido de verificar se a natureza
da organização determina ou não a existência de influência significativa da
identidade organizacional sobre a imagem institucional.
Por fim, cabe mencionar que esta investigação soma-se às já existentes
acerca do tema envolvendo identidade e imagem. A definição do modelo foi
realizada com base nos aspectos teóricos já conhecidos, procurando-se
conferir abrangência e consistência aos construtos. Por certo, pesquisas
futuras indicarão outros aspectos que deverão ser incorporados ao modelo, no
processo do constante desenvolvimento do saber.
149
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158
GLOSSÁRIO
AGFI: É o ajustamento do GFI pelo número de graus de liberdade, penalizando a inclusão de parâmetros.
AFIT: É o ajustamento do FIT pelo número de graus de liberdade, sendo influenciado pela complexidade do modelo.
CMIN: É o valor do qui-quadrado.
CMINDF: É a razão entre o qui-quadrado e os graus de liberdade.
CR : É a razão crítica obtida pela estimativa do parâmetro dividido pelo erro padrão.
GFI: É o índice de bondade de ajustamento. Expressa a proporção de variância/covariância explicada pelo modelo.
FIT: Proporção da variância total das variáveis endógenas explicada pelo modelo especificado. É uma função da soma dos quadrados dos resíduos, que resume as diferenças entre o modelo e os dados.
NFI: Índice de comparação entre o modelo hipotético e o modelo de independência.
NPAR: É o número de parâmetros livres estimados, considerando as cargas, os pesos e os coeficientes de caminho.
RMR: É a raiz quadrada da média dos resíduos ao quadrado. Considera a média dos resíduos entre as matrizes de dados coletados e a matriz estimada.
RMSEA: É a raiz quadrada da média dos erros de aproximação. Assemelha-se ao RMR, diferenciando-se por considerar a discrepância em relação à população e não à amostra.
SRMR: É o índice utilizado pelo GESCA, semelhante ao RMR. Representa a raiz quadrada média residual, sendo tomado como referência de bom ajustamento do modelo um valor igual ou menor do que 0,08.
159
ANEXO 1- CARACTERÍSTICAS DO EXÉRCITO BRASILEIRO
Quadro 1 – Juramentos militares
Nome Conteúdo Momento Quem
Juramento
à Bandeira
“INCORPORANDO-ME AO EXÉRCITO
BRASILEIRO, PROMETO CUMPRIR
RIGOROSAMENTE AS ORDENS DAS
AUTORIDADES A QUE ESTIVER
SUBORDINADO, RESPEITAR OS
SUPERIORES HIERÁRQUICOS,
TRATAR COM AFEIÇÃO OS IRMÃOS
DE ARMAS E COM BONDADE OS
SUBORDINADOS E DEDICAR-ME
INTEIRAMENTE AO SERVIÇO DA
PÁTRIA, CUJA HONRA, INTEGRIDADE
E INSTITUIÇÕES DEFENDEREI COM O
SACRIFÍCIO DA PRÓPRIA VIDA”.
Por ocasião da
incorporação ao
serviço militar
Todos os
militares logo
assim que
entram no
Exército
Brasileiro
Juramento
do
Espadim
“Recebo o sabre de Caxias como o próprio símbolo da Honra Militar!”
Ao receber o
espadim, após
08 meses de
cadete
Cadetes da
Academia Militar
das Agulhas
Negras (AMAN)
Juramento
ao Primeiro
Posto
"PERANTE A BANDEIRA DO BRASIL
E PELA MINHA HONRA, PROMETO
CUMPRIR OS DEVERES DE OFICIAL
DO EXÉRCITO BRASILEIRO E
DEDICAR-ME INTEIRAMENTE AO
SERVIÇO DA PÁTRIA"
Ao ascender ao
primeiro posto
como 2ª
tenente.
Aspirantes de
carreira,
temporários e
subtenentes por
ocasião a
promoção para o
oficialato
Fonte: Elaboração própria.
Quadro 2 – Oração do Guerreiro de Selva
Senhor! Tu que ordenaste ao Guerreiro de Selva Sobrepujai todos os vossos oponentes Dai-nos hoje da floresta: A sobriedade para resistir; A paciência para emboscar; A perseverança para sobreviver; A astúcia para dissimular;
A fé para resisitir e vencer E dai-nos também,Senhor, A esperança e a certeza do retorno Mas se defendendo esta brasileira Amazônia Tivermos que perecer,ó Deus Que façamos com dignidade E mereçamos a vitória! SELVA!
Fonte: (BRASIL,1981).
160
Figura 1- Oração do Paraquedista Fonte: Brasil (1943).
Figura 2– Valores do EB. Fonte: Brasil (2010).
163
APÊNDICE A – QUESTIONÁRIO SOBRE IDENTIDADE ORGANIZACIONAL
Você é parte central de uma investigação de pós-graduação nível strictus sensus. Sem sua
ajuda esta pesquisa não seria possível, por favor, observe as seguintes observações:
1. Nas assertivas considere como “militar” apenas os integrantes do Exército.
2. Marque apenas uma opção por questão, assinalando um X.
Muito obrigado!
Nr Afirmação Concordo
totalmente
Concordo Não concordo
nem discordo
Discordo Discordo
totalmente
1 Quando o Exército obtém sucesso
o militar se beneficia disso.
2
O militar encontra oportunidades
de aprimoramento pessoal no
Exército.
3 O Exército valoriza o desempenho
de seus integrantes.
4 Os integrantes do Exército
valorizam os símbolos militares.
5 Os integrantes do Exército
acreditam nele.
6 O militar do Exército é
comprometido com sua profissão
7
Os militares do Exército possuem
valores semelhantes aos
preconizados pela Força.
8 O militar considera fundamental a
missão do Exército
9 Há uma relação afetiva do militar
com o Exército
10 O militar do Exército sente-se
bem no seu ambiente de trabalho
11. Considerando as demais instituições do Brasil, assinale a nota que você daria para o
Exército 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10
164
APÊNDICE B – QUESTIONÁRIO SOBRE IMAGEM INSTITUCIONAL
Você é parte central de uma investigação que está sendo conduzida pelo programa de
Mestrado em Administração da Universidade Estácio de Sá. Sem sua ajuda esta pesquisa não
seria possível, por isso, antes de preencher este questionário saiba que somos gratos por sua
colaboração. Marque apenas uma opção por questão, assinalando um X. Muito obrigado!
Nr Afirmação Concordo
totalmente
Concordo Não concordo
nem discordo
Discordo Discordo
totalmente
1 O Exército realiza ações
sociais sem segundas
intenções
2 O Exército defende o Meio
Ambiente
3 O Exército cumpre o seu
papel com consciência
4 O comando do Exército é
competente
5 O militar do Exército é
competente.
6 A população admira o
Exército
7 A população acredita no
Exército.
8 A comunicação do Exército
com a população é adequada
9
A população considera o
Exército um bom lugar para
trabalhar
10 O nome do Exército tem
valor na sociedade.
11. Qual o seu Sexo? ___________ 12. Qual a sua Idade? ________